1 minute read

Análise de conflitos ambientais em torno de empreendimentos petroleiros: legados para a luta ambiental

Resumo: Este artigo tem como foco as disputas de poder que envolvem questionamentos ambientais a atividades extrativas de petróleo. Propõe-se: identificar conflitos socioambientais entre a Petrobras e outros sujeitos coletivos, em um município estratégico da Bacia de Campos, nos anos 1980 e 1990; pensar em como esses conflitos se inserem no contexto do extrativismo brasileiro; e, por fim, compreender os legados desses conflitos para as lutas ambientais. Entende-se que, a partir dos casos estudados, podem ser feitas reflexões mais gerais sobre lutas ambientais, fundamentais em tempos de crise ecológica. A pesquisa, de caráter qualitativo, coleta dados por meio de pesquisa documental e entrevistas com ambientalistas e as analisa pela perspectiva da Economia Política e da Ecologia Política. Identificam-se três conflitos, nos quais o modelo extrativista não é questionado, mas sim situações com riscos e impactos ambientais especialmente nocivos. As correlações de força e os desfechos variam, a favor dos empreendimentos ou contra eles, em cada um dos conflitos. Como legados para a luta ambiental, destacam-se a identificação de alguns elementos que a favorecem, como o estabelecimento de alianças e a publicização dos conflitos, e o fortalecimento da pauta ambiental na região.

Introdução

Extrair petróleo é uma das atividades que está no centro de um modelo político-econômico historicamente dominante no Brasil, assim como em outros países latino-americanos. Trata-se de um modelo centrado no extrativismo de recursos naturais voltados primordialmente para a exportação. De acordo com Svampa (2016), tem sido reservado historicamente aos países da América Latina o papel de exportar a natureza: ao longo de sua história, pratica-se largamente a extração de recursos naturais não renováveis como opção política e civilizatória. Como consequência, temos um vertiginoso aumento de conflitos socioambientais, especialmente por parte de movimentos indígenas e camponeses (SVAMPA, 2016). Mas essas atividades, como a extração de petróleo, atingem outros setores da sociedade. Por exemplo, o vazamento de óleo atinge também populações urbanas que usufruem da praia para turismo, lazer e atividades comerciais; além disso, o neoextrativismo atinge a sociedade de modo mais amplo com a reprimarização e, portanto, fragilização da economia dos países exportadores de recursos naturais.

Por isso, assumimos o pressuposto de Svampa (2016, p. 143) de que “a análise dos conflitos socioambientais é uma janela privilegiada para abarcar duas questões tão imbricadas, tão complexas e intimamente associadas, como são na atualidade o desenvolvimento e o meio ambiente”. Na definição dos rumos que as atividades econômicas tomam, e mais amplamente dos modelos de desenvolvimento em que se inserem, os conflitos travados são fundamentais. Comunidades tradicionais são importantes nesses conflitos, assim como, em muitos casos, ambientalistas urbanos.

This article is from: