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Terra e resistência: o MST e o projeto de agroecologia nas escolas do campo
from Revista Universidade e Sociedade nº 72
by ANDES-SN | Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
Fábio José de Queiroz Professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail: fabioqueirozurca@gmail.com
Eduardo Chagas Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) E-mail: ef.chagas@uol.com.br
Nericilda Bezerra da Rocha Doutoranda da Universidade Federal do Ceará (UFC) E-mail: nericilda@hotmail.com
Resumo: Este artigo trata das inter-relações entre o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem-Terra (MST), seu programa, suas ações de resistência e as questões inerentes à educação e ao meio-ambiente, traduzidas nas noções de escola do campo e agroecologia. Fundado em 1984, o MST tornou-se amplamente reconhecido por sua luta pela mudança da estrutura agrária do país, partindo da bandeira da reforma agrária, mas, ao longo do tempo, o movimento mostrou-se um agente ativo em defesa da educação pública, que, com o passar dos anos, ganhou materialidade nas escolas do campo. Nesse ponto, fez uma definição metodológica e teórico-prática pela agroecologia, assumindo vívido compromisso pela preservação ambiental dos territórios e produção de alimentos saudáveis, temas com os quais este artigo apresenta um relacionamento imediato.
Introdução
A história do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Terra (MST) confunde-se com a luta pela terra no Brasil da virada do século XX para o XXI. Fundado em 1984, quando a Ditadura Militar se preparava para sair pelas portas dos fundos, o movimento, passados quase 40 anos de sua gênese histórica, exibe uma inequívoca vitalidade social e ideológica.
Diretamente relevante para nós é que, ao longo de seu percurso, o MST nunca deixou de se inovar como movimento social. Em sua continuidade através dos anos, tornou-se mais complexo pedagogicamente e, por fim, redesenhou as suas relações com o meio ambiente. Sob esses aspectos, na virada do século, o MST, partindo das experiências pedagógicas dos assentamentos, avançou para a constituição das escolas do campo, ligadas à ideia de uma educação do e no campo. Mas, para tornar-se um exemplo típico de escola, o modelo proposto pelo movimento associou-se ao projeto da agroecologia.
Nesse sentido, este artigo corresponde a um esforço de mapear e analisar o programa com o qual o MST adentrou o século XXI, objetivamente assentado na luta pela terra, pelo direito a uma educação do/no campo e pela necessidade da adoção da agroecologia como mecanismo irrenunciável a serviço da proteção da terra e de uma agricultura saudável.
Sociedade e natureza no contexto da luta pela terra
O modo de produção capitalista na agricultura e a forma fundiária que lhe corresponde, conforme descreve Marx (2017) no livro III de O Capital, são categorias históricas e, portanto, à maneira Goethiana, merecem perecer. O MST, entendendo a historicidade desse sistema socioeconômico que transforma a terra em mera mercadoria e a dilapida impiedosamente, nasce questionando não apenas sua estrutura fundiária, mas a própria lógica de sua dinâmica agrícola. Nessa perspectiva, o MST é encarado pelos