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Mineração extrativista, educação pública e resistências classistas na região do quadrilátero

ferrífero de Minas Gerais

Kathiuça Bertollo

Docente da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

E-mail: kathiuca.bertollo@ufop.edu.br

Fotos: Kathiuça Bertollo/ADUFOP

Resumo: Este artigo reflete acerca da mineração extrativista, da educação pública e das resistências classistas na região do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, território marcado pelo maior crime socioambiental do país (o rompimento/crime da barragem de Fundão em Mariana-MG), pela presença de instituições de ensino públicas (tais como a UFOP, o IFMG campus Ouro Preto e as escolas municipais de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) e pelas seculares lutas e resistências da classe trabalhadora organizada em diferentes sujeitos coletivos, especialmente via movimentos sociais, entidades sindicais e frentes amplas de atuação. Explicita as contradições próprias do modo de produção capitalista que estruturam e conformam a esfera da produção e da reprodução social e, dessa forma, o contexto da luta de classes na região, sendo a questão ambiental um âmbito central desse antagonismo classista.

Palavras-chave: Mineração Extrativista. Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Educação Pública. Resistências Classistas.

Introdução

O que dirá o mar?

Tudo escorreu pro mar

Tudo escorreu pro mar

Tudo escorreu pro mar Mariana

Tudo escorreu pro mar

O que dirá o mar

Ao ver tantas vidas marcadas?

Ao relembrar o mar

De lama tão desalmada

O que dirá o rio pro mar?

O Rio Doce amargo a vagar

Que carregou pra dentro um mar

De lama tão desalmada

O mar dirá num sopro

Que ecoará no vento

Que a injustiça dos homens

Terá contada o seu tempo

A justiça terá vida

E fará nesta terra o seu templo

Eu vou dizer pro mar

Que este meu tormento...

É tormento que findará

Pois eu trago a força e não o lamento

Nada me engana ô mar

Ouça das montanhas o penar

Desde Mariana vou gritar

Vou chamar o mundo

Pois não há dinheiro imundo

Que enterra fundo este meu cantar

(Dimir Viana)

Minas Gerais ocupa lugar destacado na história mundial, seja pelo passado colonial, diáspora e escravização do povo negro para o trabalho nas minas, seja na contemporaneidade pelos rompimentos/criminosos1 da barragem de Fundão em Mariana, no dia 5 de novembro de 2015, e da barragem B1 em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019. Separados por séculos, o que assemelha esses distintos momentos históricos é o contexto de descarte da vida humana, destruição ambiental e saqueio, situações essas que estruturam o modo de produção capitalista em nível global às custas desse território conformado pela dependência e dominação externa.

A partir desses amplos determinantes econômicos, políticos, sociais e culturais, nas linhas que seguem serão apresentadas reflexões a partir da realidade cotidiana da mineração extrativista na região do quadrilátero ferrífero de MG, onde tudo se agrava após os rompimentos criminosos das barragens de rejeitos em Mariana e Brumadinho. A disputas pelos bens naturais comuns, destruição ambiental, adoecimentos, opressões e perseguições, especialmente às mulheres lutadoras sociais, são questões que conformam a vida social na região sob os marcos do capital; no caso em tela, das mineradoras.

Também são apresentadas reflexões que abarcam o contexto da educação pública na região, onde são evidenciados alguns dilemas e paradoxos presentes

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