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Mineração extrativista, educação pública e resistências classistas na região do quadrilátero
from Revista Universidade e Sociedade nº 72
by ANDES-SN | Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
ferrífero de Minas Gerais
Kathiuça Bertollo
Docente da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
E-mail: kathiuca.bertollo@ufop.edu.br
Fotos: Kathiuça Bertollo/ADUFOP
Resumo: Este artigo reflete acerca da mineração extrativista, da educação pública e das resistências classistas na região do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, território marcado pelo maior crime socioambiental do país (o rompimento/crime da barragem de Fundão em Mariana-MG), pela presença de instituições de ensino públicas (tais como a UFOP, o IFMG campus Ouro Preto e as escolas municipais de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) e pelas seculares lutas e resistências da classe trabalhadora organizada em diferentes sujeitos coletivos, especialmente via movimentos sociais, entidades sindicais e frentes amplas de atuação. Explicita as contradições próprias do modo de produção capitalista que estruturam e conformam a esfera da produção e da reprodução social e, dessa forma, o contexto da luta de classes na região, sendo a questão ambiental um âmbito central desse antagonismo classista.
Palavras-chave: Mineração Extrativista. Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Educação Pública. Resistências Classistas.
Introdução
O que dirá o mar?
Tudo escorreu pro mar
Tudo escorreu pro mar
Tudo escorreu pro mar Mariana
Tudo escorreu pro mar
O que dirá o mar
Ao ver tantas vidas marcadas?
Ao relembrar o mar
De lama tão desalmada
O que dirá o rio pro mar?
O Rio Doce amargo a vagar
Que carregou pra dentro um mar
De lama tão desalmada
O mar dirá num sopro
Que ecoará no vento
Que a injustiça dos homens
Terá contada o seu tempo
A justiça terá vida
E fará nesta terra o seu templo
Eu vou dizer pro mar
Que este meu tormento...
É tormento que findará
Pois eu trago a força e não o lamento
Nada me engana ô mar
Ouça das montanhas o penar
Desde Mariana vou gritar
Vou chamar o mundo
Pois não há dinheiro imundo
Que enterra fundo este meu cantar
(Dimir Viana)
Minas Gerais ocupa lugar destacado na história mundial, seja pelo passado colonial, diáspora e escravização do povo negro para o trabalho nas minas, seja na contemporaneidade pelos rompimentos/criminosos1 da barragem de Fundão em Mariana, no dia 5 de novembro de 2015, e da barragem B1 em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019. Separados por séculos, o que assemelha esses distintos momentos históricos é o contexto de descarte da vida humana, destruição ambiental e saqueio, situações essas que estruturam o modo de produção capitalista em nível global às custas desse território conformado pela dependência e dominação externa.
A partir desses amplos determinantes econômicos, políticos, sociais e culturais, nas linhas que seguem serão apresentadas reflexões a partir da realidade cotidiana da mineração extrativista na região do quadrilátero ferrífero de MG, onde tudo se agrava após os rompimentos criminosos das barragens de rejeitos em Mariana e Brumadinho. A disputas pelos bens naturais comuns, destruição ambiental, adoecimentos, opressões e perseguições, especialmente às mulheres lutadoras sociais, são questões que conformam a vida social na região sob os marcos do capital; no caso em tela, das mineradoras.
Também são apresentadas reflexões que abarcam o contexto da educação pública na região, onde são evidenciados alguns dilemas e paradoxos presentes