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crise ecológica e socioambiental

A partir de toda modificação imposta às suas vidas, em que se tornaram de uma hora para outra atingidas diretas do maior crime socioambiental do país, as mulheres inseriramse cada vez mais na dinâmica das lutas sociais na região e nos espaços institucionais e políticos de enfrentamento à mineração extrativista, às mineradoras causadoras do rompimento/ crime e à própria Fundação criada para fins de reparação, considerando sua questionável atuação. E, nos territórios que estão sob a iminência de novos rompimentos criminosos de barragens de rejeitos, as mulheres inspiramse nessas posições e potencializam e articulam suas lutas a fim de denunciar a condição a que suas comunidades estão submetidas, bem como de reivindicar procedimentos técnicos por parte das mineradoras para a não repetição de crimes da mineração nessa região dolorosamente marcada a “sangue e lama” (BERTOLLO, 2023, p. 303).

Importa, ainda, evidenciar que as mulheres são requisitadas nas atividades laborais nos complexos produtivos da mineração extrativista, ambiente ocupado predominantemente por homens e que impõe às mulheres situações de assédio, perseguições e demissões. Nesse sentindo, ganha relevância a atuação político-sindical das trabalhadoras e das entidades sindicais deste ramos de atuação.

Barragens, iminência de novos rompimentos/crimes, expropriação territorial e não reconhecimento das comunidades e modos de vida tradicionais: Onde há barragens de rejeitos da mineração há a iminência de rompimentos/crimes. Por mais que as estruturas estejam atestadas como seguras, os rompimentos da barragem de Fundão e da barragem B1 comprovam que laudos podem ser emitidos desconsiderando a real situação das estruturas, gravidade dos danos ambientais e mortes/assassinatos causados por esse tipo de crime socioambiental. Ao que se refere às estruturas de armazenamento dos rejeitos da mineração, existem diferentes tipos de barragens, sendo que as a montante são consideradas menos seguras em relação às barragens a jusante. No entanto, devido ao custo de alteamento, as mineradoras optam pelas estruturas a montante, mesmo que sejam menos seguras e sensíveis à vibração.

Destacamos que Minas Gerais possui um histórico de rompimentos/crimes de barragens de rejeitos da mineração em diferentes municípios (BERTOLLO, 2021). Após os rompimentos criminosos ocorridos em Mariana e em Brumadinho, pode-se dizer que uma preocupação ampla e generalizada se disseminou nas comunidades próximas às estruturas ou “no caminho dos rejeitos”. Nesse contexto, merecem destaque duas situações que impõem um conjunto de inseguranças, incertezas e inúmeras violências e violações de direitos.

No município de Barão de Cocais, distante cerca de 49 km da comunidade de Bento Rodrigues, destruída imediatamente com o rompimento da barragem de Fundão, a mineradora Vale S.A. construiu um muro de cerca de 35 metros de altura, a fim de “evitar maiores danos” em caso de rompimento da barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco. Concomitante à construção dessa megaestrutura, famílias de quatro comunidades foram retiradas do território e alocadas em hotéis no centro da cidade, situação que mudou de forma abrupta e drástica suas existências e modos de vida. “A estrutura não se rompeu, mas as pessoas seguem sem acesso a suas casas, hortas, trabalho e renda” (PROJETO MANUELZÃO, 2021). É relevante mencionar, ainda, que a remoção das famílias ocorreu cerca de 15 dias após o rompimento/crime de Brumadinho, momento em que as famílias removidas estavam em fragilidade emocional e mais vulneráveis ao medo e angústias por residirem no entorno de uma barragem de rejeitos em risco de romper e em processo de descaracterização, o que evidencia que o modos operandi das mineradoras, além de não considerar o aspecto material, uma vez que “tudo precisou ser deixado pra trás”, também desrespeita qualquer âmbito da subjetividade das populações atingidas, direta ou indiretamente, pelos seus empreendimentos.

Outra situação a ser evidenciada ocorre no distrito de Antônio Pereira, pertencente ao município de Ouro Preto, também localizado muito próximo a Bento Rodrigues (cerca de 15 quilômetros). Nesse distrito tricentenário, com imensa riqueza cultural e natural está instalada a barragem do Doutor, de propriedade da Vale S.A., que, desde março de 2020, está em processo de descaracterização, o que acarreta à comunidade remoções forçadas ou morosidade nas remoções das famílias que residem nas “zonas de

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