Algumas Ideias Novas Sobre Arquitetura
Obras
publicadas na Biblioteca Submersa:
Algumas Ideias Novas Sobre Arquitetura Joaquim Cardozo. Recife: Biblioteca Submersa, 2022- Volante 02 • Teoria da Arquitetura.
Igarassu • Plano Diretor Municipal & Novos Índices Urbanísticos Andrade + Raposo arquitetos. Recife: Biblioteca Submersa, 2022- Volante 01 • Legislação Urbana.
Epigramas
Paulo Raposo Andrade. Recife: Biblioteca Submersa, 2016.
A Casa Sonhada • Memórias Sobrepostas: Um Pintor e Uma Arquiteta La Maison Rêvée • Mémoires Superposées: Un Peintre et Une Architecte The Dreamt House • Overlaping Memories: A Painter and An Architect Isabel Rebello de Andrade • Prefácio: Paulo Raposo Andrade. Porto: Edições João Sá da Costa, 2016.
Casa Queira Deus • Invenção & Tradição em Arquitetura 1ª edição 2007 | 2ª edição 2016 | Paulo Raposo Andrade et al • Prefácio: Álvaro Siza • Leonor de Lencastre (ed.). Recife: Editora UFPE.
Fórum do Recife • Arquitetura & Reminiscência Andrade+Raposo arquitetos • Prefácio: Francisco Brennand. Recife: Editora UFPE 2016.
Quarto Livro Paulo Raposo Andrade. Recife: Biblioteca Submersa, 2016.
Casa Mínima e Projeto | 1ª edição 2012| | 2ª edição 2016 Mônica Raposo et al. • Prefácio: Moisés Andrade. Recife: Editora UFPE.
A Casa Ruben A. • Obra de João Andresen: Arquiteto Português do Século xx Joaquim Pedro Alpendurada • Prefácio: Moisés Andrade • Posfácio: Paulo Raposo Andrade Porto: Civilização Editora, 2009.
A Moldura Arquitetônica Paulo Raposo Andrade. Recife: Biblioteca Submersa, 2007.
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«E
ncheu-se-me de água o quarto os livros bóiam no teto... Saio à rua e não há rua que a cidade está submersa...»
—Edmir Domingues: Cidade Submersa, ou Variações sobre Tema Antigo, desde Atlântida e Lemúria, 1958.
Andrade+Raposo arquitetos (1999) et al.
Algumas Ideias Novas Sobre Arquitetura Recife: Biblioteca Submersa, 2022 • Volante 02 • Teoria de Arquitetura 24 p. • 200 x 160mm
Autor: Joaquim Cardozo
Título ▶ Algumas Ideias Novas Sobre Arquitetura Autor ▶ Joaquim Cardozo
Projeto Gráfico ▶ Andrade + Raposo arquitetos Diagramação ▶ Maria Clara Carneiro . Fotos ▶ Geraldo Santana e outros.
© 2022 Biblioteca Submersa © 2022 Andrade + Raposo arquitetos Direitos reservados, conforme a lei.
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Sumário 7
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Apresentação A+R o que faz Créditos
Apresentação
20 de dezembro de 1962
Ao entardecer daquele sábado o sino maior da Igreja da Graça do Seminário Jesuíta — em Olinda, soou o toque precursor. Logo
o severo Adro ecoou o vespertino badalo das sineiras de São Francisco, da Sé do São Salvador do Mundo, da Misericórdia, do Bonfim, Amparo, São Pedro Mártir, do Rosário e o distante som do Carmo, São Bento, São Sebastião, Guadalupe, Santa Tereza...
Claudio Marinho Cavalcanti
Dario Moncada Lizarazu
Geraldo Costa Rocha Geraldo Santana Ismael Gouveia João Borba Gomes De Melo Jorge Galvis Hennessey Jorge Vargas Soliz Jório Cruz Jose Eustácio Escobar Luiz Tapia Flórida Moisés Andrade Tertuliano Dionísio Ubirajara Galvão Zélia Lafayette, e Zenildo Sena Caldas
... ali estavam, todos atentos ao aconselhamento profissional, à fala inspiradora e à palavra seminal do seu paraninfo Joaquim Cardozo. A luz já tardava e o noturno e morno vento marinho moldurou o Engenheiro da forma e do movimento, o Poeta da palavra concreta. e algumas ideias novas sobre Arquitetura a volante mensagem que ele tatuou em todos nós.
Celebraram
o rito de diplomação dos 16 novos arquitetos pernambucanos Evaldo Bezerra Coutinho — Filósofo e Professor de Arquitetura, Newton Maia — Professor e Reitor da Universidade do Recife, Barreto Guimarães — Prefeito de Olinda, e Maria Dolores Coelho — Diretora de Administração da Faculdade de Arquitetura.
Passados sessenta anos ainda reverenciamos aquele ato. Moisés Andrade
Algumas Ideias Novas Sobre Arquitetura
1962
Aqui estamos nesta cidade de Olinda, no alto destas colinas, entre o silêncio da planície e os rumores do mar, nesta cidade implantada, talvez, no melhor trecho do litoral nordestino, assinalado pela frequência de uma arquitetura religiosa das mais importantes do país: a arquitetura dos conventos; dos conventos que, diante do mar, exibem, na luz dos dias claros, na sombra das noites tranquilas, as suas formas evocadoras e comunicativas como se estivessem sempre a repetir aos homens de agora a história dos homens de outras eras.
Uma arquitetura mosteiral que revela na feição vigorosa e exuberante dos seus frontões, na silhueta caprichosa e movimentada de suas torres, desde os conventos mais longínquos do Iguape e do Cairu, passando pelas construções admiráveis de Salvador na Bahia, até a sede da antiga comunidade franciscana na Paraíba do Norte, revela, repito, a marca fundamental de um estilo que, já é tempo de afirmar e difundir, representa uma tendência própria, uma expressão regional, um Kunstwollen, isto é, uma vontade de artes das gerações que aqui viveram, nestas terras generosas do nordeste brasileiro.
Uma arquitetura conventual que, ao lado das belas ma-
nifestações de arte barroca nas igrejas mineiras do século XVIII, documenta o que há de mais denso, de mais significativo e de mais conotativo da atividade artística e social do Brasil Colônia, mantendo, entretanto, em relação com a arquitetura das igrejas e matrizes mineiras, a diferença essencial de ter aparecido como verdadeiros têmenos, verdadeiros santuários, isto é, não mais como simples templos isolados e sim como conjunto de edificações estabelecidas num terreno, num espaço por assim dizer sagrado; nela, a igreja faz parte de uma totalidade orgânica, constituída, no caso mais geral, de cruzeiro, adro de entrada, igreja conventual, edifício do convento, igreja da ordem terceira, às vezes asilo ou hospital; uma totalidade que oferece aspectos arquitetônicos quase sempre contrastantes nos seus diversos elementos e que nos comunica uma ideia de espaço construtivo mais complexo, ao lado de uma arte mais grosseira e mais rude, como rude foi a guerra que por vários anos perdurou nestas paragens. E é nessa região, onde se encontram alguns desses espaços arquitetônicos mais complexos a que me refiro e que mereciam ser objeto de um estudo analítico fixando a sua ordem funcional, que nos reunimos agora para executar o ato final de formatura de uma nova turma de arquitetos; nesta região atravessada pelos ventos de dezembro, iluminada pela mais serena luz pernambucana, nesta cidade de Olinda. Nesta cidade de Olinda, que na hora presente recordo e do fundo da minha memoria faço ressurgir em dias já bastante
longínquos, sempre envolvida na sua luz verônica, na sua luz marítima. Vejo-me em tempos já muito passados subindo as suas ladeiras – do Varadouro, da Misericórdia, de São Francisco, assistindo às suas festas de Ano Bom e de Natal, morando numa pequena casa da antiga Praia do Farol, onde em noites de chuva ouvia cantar na sua voz eterna o meu velho amigo, o Atlântico mar. Esse mar que agora mesmo, daqui, parece que estou ouvindo, como a se desculpar de ter destruído as belas praias olindenses, destruição talvez mais proveniente da ação insensata e inconsequente dos que procuraram tolher a livre expansão das suas marés do que da habitual violência das suas correntes e ressacas. Parece que estou a ouvi-lo dizer: Não tenho culpa, Joaquim. Diante desse mar, que lá embaixo parece que se desculpa e se lamenta, nos reunimos agora para entregar aos jovens recém-formados os seus diplomas de arquiteto, para conferir-lhes o direito de exercer a atividade profissional que escolheram. Mas, neste momento, aos rumores que permanentemente frequentam os ares desta cidade, ao murmúrio das rezas que, em vésperas e matinas, vêm dos conventos, e à voz do mar, que é de todas as horas, aproveito a oportunidade de juntar as minhas palavras – sons de pouca expressão e valia diante de vozes tão poderosas – para transmitir aos novos arquitetos alguns pensamentos a respeito desta arte difícil que se chama arquitetura moderna, esta única arte eficaz no conceito de Teige.
Estamos, de certo modo, na época atual, diante de uma dessas situações que são frequentes nos movimentos artísticos, aquela em que a força criadora se relaxa, perde a sua tensão e se reduz à condição de simples formalismo; é fácil constatar o fenômeno através da história da arte, é fácil, através do tempo, assinalar os momentos em que a arte se reduz ao conformismo de certas formulas instituídas a priori como o bom, como o certo, como o belo. E é sempre nesses instantes também que, reagindo contra os fáceis e cômodos preceitos aparecem novas ideias e novas concepções; a arquitetura moderna que foi aos poucos se anquilosando na forma simples de fachadas retilíneas, num predomínio das esquadrias sobre a massa total do edifício, na eliminação das superfícies como elementos estruturais, se exaurindo num “mondrianismo” já por si dotado de poucos recursos, a arquitetura, digo, agora se esforça para romper essa nova estagnação, para ultrapassar esta limitação que assume, em certos casos, a dogmática expressão de exclusivismos e facções. Cada artista, na hora presente, possui o seu slogan, rotula as obras que compõe com a etiqueta correspondente a uma pseudopesquisa – numa associação quase sempre inexata e improcedente, com pesquisas cientificas. Ao lado de legitimas sensibilidades de artista floresce então uma legião de aventureiros, pouco escrupulosos, levados pela ambição de aparecer, muitos deles exercem uma arte efeminada, uma espécie de haute couture para fins imediatos e passageiros.
No campo da arquitetura essas mesmas manifestações tomam a forma de discursos estéreis e ingênuos em torno de racionalismo, organicismo, funcionalismo etc., num desconhecimento evidente e lamentável do significado dessas palavras e de seu exato sentido histórico e filosófico. Para assinalar o absurdo e a improcedência de tais especulações basta citar aqui as palavras do arquiteto Lucio Costa respondendo a um inquérito da revista Guanabara: “Toda arquitetura digna do nome é a um tempo orgânica e racional”, evidentemente. Mas, no meio dessa confusão de conceitos e diretrizes é que surge a semente de ideias mais válidas e convincentes. Essa ordem de ideias na arquitetura consiste em examinar com mais realidade e dignidade, com mais clareza e experiência, as constantes ou parâmetros que definem a função arquitetônica fugindo de considerações mesquinhas e unilaterais de discussões inúteis e improdutivas em torno de termos que, fazendo parte da filosofia da criação artística, não podem ser examinadas de forma estrita e parcelada; todos os valores compatíveis com a realização da forma arquitetônica deverão ser julgados no seu conjunto, isto é, evitando-se a imposição de relevo a este ou aquele atributo, definindo-se o complexo de atributos que constitui a arquitetura como um espaço de configuração, como um espaço organizado e metrisado, composto de elementos intrínsecos e auto constituintes. Observem-se alguns desses atributos: aqueles, por exemplo, que implicam a realidade geométrica da com-
posição, uma vez que a arquitetura sempre foi em todos os tempos um problema de realidade geométrica; o que se pressente a este respeito nas mais recentes criações arquitetônicas? Pressente-se, respondo, uma tendência para fuga, para o abandono dos antigos compromissos com as curvas e superfícies algébricas, para situar no campo da geometria finita – expressão esta que se deve a Darboux – ou melhor dizendo, para se voltar, à intuição de uma geometria natural, valendo pelas suas qualidades imanentes e não por dispositivos sobre ela construídos. Não mais uma geometria cartesiana – dominada, conduzida pelo formalismo algébrico – porém uma outra mais moderna, emancipada desses sistemas que lhe vêm de fora e lhe restringem o campo da existência.
É pelo emprego dessa realidade geométrica, as vezes com boa parte de ação consciente, as vezes apenas pela intuição divinatória, que atingimos nos tempos que correm a um critério de molduração ou de modenatura não mais utilizando congruências de linhas retas e paralelas, ou arranjos e justaposições de prismas retos, como se fazia por volta das três primeiras décadas deste século, mas uma molduração mais intrínseca às linhas, superfícies e volumes que constituem o espaço arquitetônico e se define no emprego dos campos de tangência, de curvatura ou de contatos de ordem mais elevada entre aqueles seres geométricos. Exemplifiquemos: um elemento arquitetônico pode ser limitado por uma linha composta de vários arcos de circunferência tangentes
entre si, se constatará que a tangente desta linha varia continuamente, mas o seu raio de curvatura apresenta descontinuidade na sua variação, e este fenômeno é visível, é sensível à vista de um observador perspicaz, a linha pode ter tangente e raio de curvatura de variação contínua e, entretanto, oferecer descontinuidade no seu contato com a linha reta, contato de uma ordem superior à segunda, e este fato será notado por um observador de vista boa como os quartos de tom, na música, podem ser percebidos por um ouvinte de bom ouvido; este exemplo é o mais banal entre muitos que podem ser conseguidos num exame de composição arquitetônica, pois os contatos entre dois entes geométricos são sempre possíveis não apenas entre curvas regulares e a linha reta, mas entre curvas de um modo geral, regulares ou possuidoras de pontos singulares. Por aí se vê a riqueza dessa molduração.
Os projetos de Torroja, de Nervi, de Candela, certos projetos de Le Corbusier (Capela de Ronchamp, Chan-
digarh), examinados do ponto de vista de sua molduragem, dariam como resultado o conhecimento mais claro dessa análise; nas construções de Brasília onde há mais harmonia, onde há mais sentido estético de escolha, de refinamento de proporção do que nas obras dos arquitetos mencionados, o sentido de moldurarão foi intuitiva e perfeitamente alcançado pelo arquiteto Niemeyer; notem-se os campos de tangência e de curvatura que, pela imaginação, podem ser definidos nas fachadas dos Palácios da Alvorada, da Justiça e do Planalto, numa espécie de irradiação geométrica, possuindo sua fonte nos pilares cujas formas e disposição foram criadas para este efeito de modenatura que, como a antiga, a clássica, também produz jogos de luz e sombra. Dentro ainda dos atributos geométricos cumpre salientar, na arquitetura mais atualizada, o emprego frequente de superfícies como elemento de sustentação, isto é, como partes intimamente ligadas à estrutura do edifício, constituindo as peças fundamentais do seu equilíbrio, constituindo as peças fundamentais do seu equilíbrio; são superfícies de largas e variadas formas, de curvaturas positiva ou negativa, de dupla curvatura: são elipsoides, paraboloides, conoides, paraboloides-hiperbólicas e tantas outras, exibindo a pureza das suas coordenadas intrínsecas e a vigência das suas “formas fundamentais“, habitualmente expressas pela síntese admirável dos tensores. Pois são essas superfícies construídas como “cascas delgadas“, e cuja deformação pode
se exprimir, nos casos mais simples, por uma equação diferencial de quarta ou de quinta ordem, que dão a tonalidade da arquitetura de hoje, como as vigas de ferro em treliça foram no século XIX a nota principal, pela sua originalidade na época, dos grandes espaços construídos (como pavilhões de exposições mercados, gares, etc.) e como também nos tempos já profundamente históricos da Idade Média foram as ogivas e as abóbodas claustrais que deram o ritmo da arquitetura gótica; mas, atingindo este ponto das minhas apreciações sobre o assunto, que, muito embora estas formas construídas em “casca delgada“, essas coberturas superficiais, e as vezes pênseis, sejam novas e arrojadas, ainda são expressões algébricas e o seu equilíbrio ainda é alcançado mediante a/e em virtude da sua analiticidade ao passo que o que há de mais novo nesse domínio – basta considerar-se o Clube Tachira da Caracas, de Torroja – é a exibição de formas arbitrárias, de superfícies imaginadas e sentidas como simples e originais expressões estéticas, formas independentes, emancipadas e puras, formas intuitivas e belas. São elas criações impetuosas, sem compromissos de qualquer espécie contra expressão clássica, espacial e plástica, criações livres e espontâneas, surgidas de um impulso que pode ser associado ao que animou o analista Lebesgue quando, ainda estudante, lançou sobre a mesa um lenço amarfanhado indagando aos seus condiscípulos se aquela superfície era planificável. De modo quase análogo estão sendo propostas as formas
arquitetônicas.
Agora poder-se-á perguntar: e as soluções de equilíbrio para essas formas? São dadas pela física experimental, pela ótica dos estados reológicos, pela fotoelasticidade; entre o polarizador e o analisador aparecerão as linhas dos esforços e das deformações, sobretudo as isoclínicas, isostáticas e isocromáticas, três famílias de curvas que são o exemplo natural daquele objeto geométrico descoberto por Veblen e que se enquadram também no domínio da geometria doa tecidos (Geometrie der Gewebe), isto é, a geometria têxtil criada por Blaschke. O exame dessas famílias de curvas condicionará o equilíbrio da forma, tornará possível a sua realização no espaço. Essas superfícies obtidas pela gratuidade da imaginação, pelo devaneio do espírito, libertadas dos esquemas construtivos dados a priori, não mais sujeitos às receitas dos formulários, serão realizadas, e o equilíbrio pode ser calculado ou constatado em modelos reduzidos pela fotoelasticidade, pode ser... pode ser intuído como já o é, em muitos casos, a função do esforço, a chamada função de Airy, pode ser... pode ser... também sonhado. Se atentarmos para o fenômeno psicológico na arquitetura, enfrentamos um problema cuja solução se vem deixando de parte, problema que se vem deixando quase relegado às satisfações isoladas das aspirações de relativamente poucas pessoas ricas; a casa de habitação construída para atender, com verdadeira adequação ao conforto e às necessidades humanas, na sua quase infinita
variedade, fica assim limitada a um pequeno número de privilegiados; somente nestes casos, o arquiteto procura associar as disposições formais de seu projeto às condições do gosto e da vontade do morador, pois a maioria, a grande maioria dos habitantes de uma cidade moderna, vive em edifícios de apartamentos, de vários andares, onde espaços habitáveis de que dispõe nada têm a ver com os seus hábitos e muito menos com o modo de vida íntima e doméstica que lhe seria mais desejável.
A consideração do problema psicológico na habitação moderna conduz a resultados desalentadores, pois é problema dos mais difíceis; orientados e dominados os construtores pelas circunstâncias econômicas e político-sociais, o problema que resolvem é somente econômico; o objetivo principal é construir barato, e nenhum deles cuida, nenhum deles observa a existência de um processo de individualização que está na base da condição humana; porque era econômico, construíram-se vilas operárias sistematizadas e estandardizadas; porque são mais econômicos ainda, constroem-se inteiros pré-fabricados, onde os homens são alojados como se arrumam fichas num fichário ou se guardam mercadorias nas prateleiras; da personalidade, da natureza intima e particular dos habitantes desses edifícios muito pouco se procura saber, pois os mesmos serão enlatados de qualquer maneira para honra e glória do mundo livre ocidental e para a grandeza das repúblicas socialistas. Estes são os pensamentos que achei por bem transmitir
Foto com Oscar Niemeyer, Joaquim Cardozo e Paulo Werneck.
aos jovens que há pouco se diplomaram neste dia feliz de formatura, inundado de luz, de regozijo e de esperança. Aqui terminam as minhas palavras, as minhas pobres e simples palavras, proferidas em lugar tão prestigioso, em lugar tão próximo do recinto onde foram ouvidas as do padre Antônio Vieira.
Aqui terminam as minhas palavras, e o vento de dezembro que passa agora entre as palmeiras deste Seminário, deste antigo Colégio dos Jesuítas, as leve para a distância, entre murmúrios de rezas e rumores de mar, propagando o meu mais alto e sincero desejo, que é o de sucesso e bom êxito na vida para os jovens arquitetos de hoje.
Discurso proferido pelo engenheiro Joaquim Cardozo na solenidade de colação de grau dos concluintes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Recife, solenidade que se realizou, ao ar livre, no adro da igreja do antigo Colégio dos Jesuítas, em Olinda, em 20 de dezembro de 1962.
...o que faz...
e x
libris
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oteca submers
Esta volante 02 composta com famílias tipográficas criadas por Martin Majoor foi concluída no dia primeiro do mês de dezembro de 2022.
200° ano da Proclamação da Independência do Brasil; 100° ano da Semana de Arte Moderna de São Paulo; 60° ano da Cerimônia de Graduação dos Arquitetos da Universidade Federal de Pernambuco.