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POSSIBILIDADES: SALÒ MEDS TERCEIRA VOZ

Aviso: Tudo apresentado a seguir em forma de texto é uma possibilidade que pode ser seguida, mas o importante é que não se esqueça que estamos tratando de uma experiência, a proposta de uma, então cabe a aqueles que passarem por ela decidirem o que ela será, apesar das sugestões aqui colocadas. Esta experiência condiz a uma fisicalidade política do corpo, e o caráter de transição entre os conceitos de humano, inumano e pós-humano na contemporaneidade, investigados a partir de uma situação comunicativa desgastada e entrecortada por meio das três possibilidades apontadas no escrito que estará disposto a seguir. É necessário, desta forma, que aqueles que escolham passar por aqui entendam que isto escrito é apenas uma parte, o que se vive próximo a isto, tornando-se íntimo disto, é o que se precisa encontrar para que possa ser compartilhado com outros, um público, se preferir que assim se chame, que deve também passar por aqui deixando marcas próprias do que bem lhes ocorrer, lhes acontecer.


ATO I CENA ÚNICA (Esta experiência se inicia no espaço designado para ela com a seguinte imagem, a esquerda vemos um homem aparentemente de pé numa cabine de vidro fechada por fora, dizemos aparentemente, pois na verdade o homem em questão, devido ao espaço que ocupa, não consegue nem sentar-se por causa da estreiteza da cabine, e nem ficar de pé pela baixeza do teto, nem sequer virar-se em direção a porta. Sim, há uma porta. Ela se encontra no exato ponto de impossibilidade de visão do homem trancafiado na cabine. O homem na cabine veste uma calça muito elegante e um casaco sem camisa em seu torso. Ele chama a si mesmo de Meds. Debaixo do casaco, em seu tronco, está acoplado um colete de correção postural. Um elo do colete é perceptível fora do casaco, aquele que une a viga metálica do colete a seu pescoço. No centro temos Salò. Uma caixa de madeira negra cobre Salò até a base das narinas. Deste ponto até o topo de sua cabeça um pequeno aquário de acrílico o recobre. Nas duas faces laterais da caixa existem duas lâmpadas, uma em cada. Ambas estão acesas. Sempre. A terceira lâmpada é um pouco menor e está localizada próxima a testa de Salò, pendendo da face superior do aquário acrílico. Salò está cercado em seu entorno por monitores, que supostamente mostram, para aqueles que conseguem ver, as partes de seu corpo escondidas no interior da caixa de madeira1. Os monitores ou TVs são oito. Salò também não enxerga a porta. Salò é cego. Meds é surdo, ou caminha para isto. A terceira criatura é chamada de Terceira Voz. Seu corpo se encontra espremido entre duas placas de madeira. Elas o comprimem. A madeira apenas é vazada na boca, nos mamilos, em uma das mãos, na barriga, no sexo e nos pés. Essas partes são empurradas para fora como se vazassem. Uma lata de conserva com sua tampa estufada. À frente de cada um dos orifícios, exceto pelo da mão, há uma lupa. Na

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Sugerimos que as partes do corpo de Salò mostradas nos monitores sejam totalmente incongruentes, um

braço aparentemente amputado, uma perna de alguém que pese cerca de 150 kg, a mão feminina de unhas longas, a boca de uma criança, os pés de um recém-nascido, o sexo de um ator de filme pornô, as costas de um halterofilista ou fisiculturista, o tórax de um homem muito velho ou os seios de uma mulher de idade semelhante.


barriga há três lupas, uma delas está sobre o umbigo. A mão segura um gravador. Uma grande bola maciça, presa por uma tira de qualquer coisa impede a Terceira voz de falar). Meds - Há uns cus de putas nos imensuráveis buracos da história, E por quais deles nos Metemos, Ansiando que o gozo e não a merda venha a emergir, Assim se parece cada cena, um gomo servido Por piedade ao cachorro rondando aquele que colheu o fruto. Há patentes para todas as redenções, Sejam elas obsoletas ou incomunicáveis, Beijing, Londres, Hong Kong, Los Angeles, Madrid, Paris, Estamos encurralados pelo fato de hoje não precisarmos de seus nomes, Nomes no fundo de cada copo, ou atrás de cada etiqueta, E o que é um nome, e de fato a resposta: é algo que se pode tocar, amar, é algo que pode morrer, E sim, se tivesse outro nome a rosa talvez ela tivesse sido extirpada Do jardim, expulsa do jardim, e seu perfume pouco teria a ver com sua Sobrevivência. Com o que é necessário para sobreviver além do jardim. Estamos hoje falando sozinhos Até que a baba, a hidrofobia e o mofo Levem o cérebro ao forno, Estamos hoje aos pedaços, Um quebra-cabeça cujas peças são demais para que possamos recordar da imagem que formam como um todo, E nunca houve uma cópia fora da caixa para que a lembrança da imagem inteira não se esvaísse, E assim aconteceu com ela. Esvaiu-se, esgotou-se na vontade de ser, sem jamais chagar a tanto. Aqueles que veem o mundo sabem o que viram, Aqueles que jamais tiveram a oportunidade saibam o que verão,


Abatedouros colossais onde se reúnem homens e mulheres e crianças e recém-nascidos e velhos, todos hoje paralisados, uma camada morta sobre o núcleo impotente de uma terra morta, Doentes devido ao fato de serem biologicamente semelhantes E sucumbíveis ao uso de armas de largo impacto. Todos hoje divulgam A novidade: quando se aceita brincar de lugares especiais com os vizinhos Em algum momento será seu próprio corpo que deverá ceder ao toque. E pensar que não há muito tempo estávamos Replicando uma pocilga infinita de caralhos e bocetas imaginárias Prontos para possuir o planeta, Exaltando cada gota expelida desse ungüento de esforço. Agora Apelamos para aqueles que com sua quota incentivam um palco putrefato Extorquido em seu proscênio pelo adestramento Marionetes orgânicas, esculpidas em esterco, O freak show da ante-sala da morte, Onde somos todos o peso inerte do apetite de continuar vivo. Apesar de tudo, A verdade é que eu preferia foder cacos de vidro A estar na sua pele. (Move irrequieto a sua cabeça como se tentasse roer o anel do colete no seu pescoço). Salò – (Abrindo os olhos e emitindo o som de um aparente longo bocejo). (Sonolento) Não há (Pausa) mais ninguém (Pausa) para amar, Pela história (Pausa) atos de sacrifício (Pausa) ou de união Tem sua base no amor. Literatura Aplicada II: A premissa romântica do futuro obscuro das mãos do outro a quem nos damos, Em que como estigmas carinhosos nos depositamos, Amor conceitual, físico, ideológico, divino, tem fundamento nas eras cristãs, onde a figura do amor romântico, onde o objeto amado torna-se inalcançável, e o enamorado


purifica-se através do sacrifício para galgar a infinita montanha que o conduzirá para seu objeto amado. É fato também que os cristãos anuíram a morte de mais de 200 milhões de índios na América Latina, anuíram a escravidão, queimaram praticantes de outras religiões, não se manifestaram sobre o holocausto nazista e fascista. Repousa sempre, nas mãos que trazem o amor inalcançável e infinito, o sangue do sacrifício com o qual se varre o chão da história. Se vale a pena, hoje, contar essa história? Talvez não. Todos nós, esses amorosos e sanguinários irmãos, somos hoje Pratos de carne servidos com toda a paciência E enquanto as larvas comem a superfície É o interior fresco que se esgota, Até que só resta para a boca ela mesma. O sacrifício... havia algo importante a se dizer Sobre o sacrifício, acho que começava assim: Nossos nomes não querem dizer nada, São apenas uma repetição, Um ato de invocação que nos traz de volta, Um contrato aceito de um plano inicial de como tudo seria, de como seríamos. O nome é uma função sintática de posse Que nos distingue como pessoa, animal ou coisa. O sacrifício é feito para algo, se o sacrifício tiver nome Tem três formas de se sacrificar, Como pessoa, como animal e como coisa, No fim das contas todos sabemos como vai acontecer. Terceira Voz – (Ligando o gravador) Teste inicial, esta fita é um brinde de nossa empresa para que você possa... (Interferência) Teste inicial, repetir do início. Teste inicial, iniciar repetição. (A luz aumenta. A luz está sempre trêmula).


Meds – Onde você está? Eu preferia não ter que lhe perguntar, mas realmente não consigo mais ouvi-lo. Salò – E isso me garante toda a sinceridade, pois você não saberá qual a resposta que lhe darei. Meds – Onde você está? Ainda não consigo ouvi-lo. (Silêncio) Onde você está? (Salò solta um grito horrendo, uma sílaba qualquer após a outra até Meds ouvir a resposta). Meds – Eu sabia que você ainda estaria aí, Não que seja uma opção, estarmos no exato ponto onde estamos, Mas com o tempo uma certa idéia de conforto se adianta, Mesmo diante de um terror absoluto é bom contar com a presença do desconforto alheio como uma marca, uma medida de sofrimento de outro que permite com que a nossa própria Não pareça de repente com um membro que sucumbiu a dormência, Algo que não mais se sente devido à posição que ocupa, ou tem de ocupar. Salò – As bombas o ensurdeceram. Estamos a cem metros da Zona Central. (Pensando) Me perdoe meu irmão inválido, havia me esquecido que estou apenas jogando uma pedra para que você saiba em que ponto do poço está. Que você só quer um ruído. Que as deixas não são necessárias.


(Salò novamente põe-se a gritar sílabas sem sentido até ser ouvido). Meds – Eu sabia, ainda estamos aqui, O segundo verso é idêntico, a cacofonia de estar onde estamos, E estamos separados, é o que faz prevalecer um efeito irônico em nosso discurso. Todos os dias os passos dos soldados se aproximam Eu ouço seus gritos engraçados, nada é tão engraçado quanto Um estranho morrendo, os sons guturais Junto da respiração funda, como se toda a sua vida Fosse vazar no instante seguinte, e no final a sorte que a maioria tem de estar certo. Nessa pequena cidade ridícula Onde se bombardeiam os hospitais para ajudar o inimigo, Sim, pois parece que esse é o ridículo senso deste tempo, Não há guerras que visem a sobrevivência, própria ou alheia, Estamos isolados em grandes colônias de amputados Paralíticos e doentes, incapazes de nos movermos A uma distância maior do que o entorno da circunferência de nossa queda, Retaliando com golpes contra a continuidade do tempo Ou a linearidade da representação, essa mesma piada, Retaliando contra o fato de sermos animais sobreviventes caçados um pelo outro Não mais para nos satisfazermos, Mas para aliviarmos no outro a condição de se assemelhar a nós Pesos de papel, inválidos, Historicamente irrelevantes, seres cujos nomes não tem o menor significado aos ouvidos alheios, cujas doenças não tem nome, cujos desejos não tem nome. Fomos esquecidos, Por nossa narrativa, nossa história, consistir em se ater apenas a funções: É um cão – lata. É um soldado – estupre. É uma mulher – sirva. É uma bicha – morra.


É um estúpido – ganhe. É um retardado – escreva. É uma criança – atrofie. É um canalha – sente. Salò – Belo discurso. Realmente belo discurso. Pena que nenhuma bomba tenha nos Atingido ainda. A bomba teria gostado, parece um bom prólogo. Talvez seja apenas questão de tempo até que ela apareça Mas é o eco da satisfação Que torna cada vez mais marcial a memória da pergunta: Quando? Eu já esperei a minha cota de tempo Enquanto uma paralisia ascendente Aos poucos me transforma apenas numa fração Algo como uma figura alegórica num livro Primário de matemática, Um quarto, um terço, um meio, Porém novamente a questão: Uma fração De quê? Eu sinto esta voz E a ouço Mas há muito estou simplesmente cego E sempre que você me acorda com suas idiotices Há sempre o ensejo de reconhecer esta voz, a minha, E diante desta possibilidade o terror De me perguntar de onde ela vem E a quem pertence, É uma voz que está próxima Eu sinto que está próxima Mas isso não a faz minha


Ou o fato da minha vontade fazê-la emergir Não a faz minha, E este talvez tenha sido o erro fundamental para nós Pensar que a proximidade ou a vontade Tem qualquer coisa a ver com a posse. Perdemos A ação, simplesmente não sei mais O que está se movendo, se articulando A partir de si próprio em meu interior Indo a direção de alguma forma do mundo. (Silêncio) Esse é o fato que se sobrepõe, Quando tornamos físicos os nossos problemas com as palavras, Blocos gigantescos de falas que não conduzem a lugar nenhum. Se ao menos você pudesse me ouvir (Pausa) continuamente. Exatamente, perdemos a continuidade. Meds – Perdemos muitas coisas. Salò – O que você disse? Meds – (Permanece em silêncio) Salò – Você me ouviu sem esforço, não acredito! Meds – (Permanece em silêncio). Salò – Me responda. Vamos diga alguma coisa. Depois de tanto tempo Não tenho quase Nada para dizer, O de sempre, estou esfarelado


E dormente das narinas para baixo Talvez paralítico. E você? Meds – Você dormiu? Você ainda está aí? Salò – (Dando conta de que nada aconteceu, faz uma pausa. Faz um grande esforço como se tentasse chorar. Repete o grande esforço. Nada. Grita uma sílaba incompreensível). Meds – Eu sabia que ainda estava aí. (Durante a fala de Meds, Salò continua repetindo seu esforço anterior) A última coisa de que me lembro Não é muito importante, mas ela fica martelando na minha cabeça. Antes dos soldados me encontrarem Um homem me deu uma nota de dez Depois de horas sem ninguém me dar nada, Ele derrubou no chapéu um embrulho que trazia e um chumaço de cabelos Saltou para fora, havia cacos de vidro nele, Eu olhei para ele aterrorizado e ele sorriu para mim, Desejou sorte com as esmolas, pegou o embrulho O limpou com cuidado, e antes de fechá-lo cheirou os cabelos E os beijou, e logo depois os colocou de volta no embrulho. Salò – (Aos gritos) E? Meds – Na nota que ele me deu estava escrito: Agora você está morta sua vaca, sonhos não pagam suas dívidas, A vida para você foi só o papel pega mosca de um round perdido.


Salò – (Aos gritos) E? Meds – É a última coisa da qual consigo me lembrar, Não aos pedaços, ou pequenas sensações, Tudo, eu consigo me lembrar de tudo. Salò – (Aos gritos) E? Meds – Tudo se perdeu, mas isso parece um alvo no meio do meu pensamento. Salò – (Aos gritos) E? Meds – A nota nem era verdadeira, eu fui pego pelos soldados No posto de vacinas, barganhando uma dose de antitussígeno Com o balconista, ele gritou comigo porque a nota era falsa e Então os soldados me levaram a pedido dele, apenas pela nota. Salò – (Aos gritos) E? Meds – Acho que não é preciso continuar. Eu preferia não continuar. Assim não. Salò – (Aos gritos) E? Meds – Vai se foder sua bolota de merda, Você ouviu uma única palavra do que eu disse? (Grande silêncio) Meds – (Desesperado) Não, por favor. Não. Desculpe-me, eu juro que não vai se repetir


Não vai se repetir Eu prometo Não vai se repetir Eu prometo. Você ainda está aí? Salò – (A fala segue em tom crescente, até que esteja falando aos gritos na vogal final). AAAAAAAAA.

IDIOT

Meds – Eu sabia que você ainda estaria aí. Não que seja uma opção. Salò – Eu me lembro de quando começou. Uma doença ou uma praga antiga, Algo imbatível, que atacava o sistema nervoso E o sangue, as pessoas começaram a lotar os hospitais O que depois nos levou ao grande saque, onde pessoas desarmadas Saquearam os hospitais sob rajadas de tiros, Na fuga os vivos carregavam os corpos nas costas para Se proteger dos tiros e depois também roubá-los, Todo o mundo queria saquear a si mesmo, E todos morriam rapidamente, então a guerra que sobreveio Foi uma guerra de poucos, com tantas mortes a política se desintegrou, Sobre o local que antes ocupava o controle de qualquer ordem Sentou-se a sobrevivência, como na época da peste negra, Os corpos mortos eram retirados da rua como lixo, Levados em grandes caminhões até os lixões, onde eram queimados. As forças militares tinham grandes reservas de vacina Sobretudo com a constante diminuição de usuários, afinal os mortos que escapavam do Serviço de saneamento, Apodreciam intocados, nem mesmo as larvas se aproximavam deles,


O próximo confronto foi interno, os sobreviventes fizeram contra as forças militares da mesma forma que haviam Feito com os hospitais, se eles conseguissem seguiriam vivos, se não Conseguissem pelo menos haviam tirado o controle da decisão de suas mãos Colocando-se ao alcance das balas e explosões, Foi dessa maneira que então todos os escudos e barreiras foram abaixados E os poucos ainda não tocados pela doença Lançaram a si mesmos no ar, seus aviões e as bombas, Uns em direção aos outros, os alvos eram os grandes prédios, e assim o impacto de luz. Lançaram a si mesmos no ar, seus aviões e as bombas, uns em direção aos outros, Retirando o peso do controle sobre suas mortes deles mesmos, O melhor presente de todos. Meds – Imagine só, que cabeça. Salò – Você está falando de mim? Meds – Eu gostaria de sair... Como assim você prefere que eu fique querida... Não há mais tempo para isso... Do outro lado da cidade ainda há vacinas... Eu sei como está nossa casa! Você acha que eu sou um merda de um cego, nossa casa está como todas as outras, com um cheiro de merda insuportável, sem piso, para podermos enterrar nossas fezes, as paredes têm marcas de dentes por tentarmos roer a tinta para passar a fome, nossa filha está enterrada embaixo da porra da nossa cama, no nosso quarto, e pensar que fomos nós que a matamos, por piedade, por ela chorar como um porco envenenado, se contorcendo, tem vidro quebrado por todos os lados das ampolas da vacina, uma bolha de mofo imensa na privada porque ela está seca e nós vomitamos nela quando tivemos a crise de abstinência da vacina, essa porra dessa vacina, uma porra de um cheiro de mijo em todas nossas roupas, que não dá pra lavar, e as convulsões sempre nos fazem mijar


nas calças, tem umas quarenta fraldas descartáveis do bebê cheias de merda que você guarda, e que às vezes de noite quando eu acordo eu te vejo embalando, como nosso bebê, e eu sempre te abraço desesperado e entre nós aquele pacote de merda podre e infectada, espremido entre nossos peitos, eu te entendo, guardar essas fraldas é como uma apólice do futuro que nós a negamos sofrer, uma apólice de que algo conseguiu sair certo depois que isso começou., há ferrugem em toda parte, nosso suor no colchão por causa da droga da febre já o encharcou, a espuma dele está apodrecendo há mais de seis meses, as manchas meladas de quando nós usávamos ele para foder ficam cada vez mais vivas enquanto ele apodrece, e sempre que eu vejo isso eu tenho nojo de nós dois. Então eu sei como está nossa casa querida, estamos trancados porque apesar da vacina ter acabado ainda temos algo que todos querem, temos algumas pedras de crack, e mesmo que um de nós saia o outro tem que ficar, ou vamos ficar aqui dentro os dois, porque apesar de tudo quando abro a janela e olho para fora tudo que penso, e faço o melhor que posso para não esquecer, é: Até que não estamos tão mal Até aqui. (Grande silêncio). (O terceiro homem liga seu gravador, ouvimos passos em marcha e tiros). Salò – (Grita reiteradamente a plenos pulmões a palavra soldados). Meds – Não consigo vê-los. Não consigo vê-los. Por favor, se houver mais alguém nessa sala, eu imploro que venha até próximo Dos meus olhos Ou diga alguma palavra. (Longo silêncio). Por favor, atire em mim, não quero mais nada do senhor ou senhores, Apenas uma bala, por favor, me dê essa bala, eu preciso dela. Juro senhor, ou senhores, que não lhes pedirei mais nada, mas me dêem isso. Estamos fora do alcance da pulverização e as explosões não conseguem fazer nada,


Pois as paredes são muito grossas, por favor, Mesmo que seja apenas um, que não seja soldado, Apenas quebre a trava da cela para que possamos bater com a cabeça Contra o chão, contra A quina pontuda de qualquer rodapé ou degrau. (O gravador é desligado). Salò – Acho que se foram. (Berrando cada palavra da frase cerca de seis ou sete vezes) Você conseguiu ver algo? Meds – Talvez, mas não confiaria nos meus olhos. Que merda! Escuta aqui figura de presépio, Da próxima vez que achar que ouviu algo tenta ter certeza. Seria a primeira vez em tantos anos que eu veria outro alguém, outra coisa, alguém que não fosse... Alguém. Não apenas um ruído arranhando minha cabeça, Afundando no salão central do meu pensamento, como o cano de uma arma na boca de um recém nascido. As velhas imagens, Como não poderia lembrar Kosovo, Golfo, Xexênia, Saigon, Sarajevo, Mogadishu, Que foram uma dose do mundo civilizado, Forjadas pelas provisões que ele mesmo lançava no ar sobre elas. Cadáveres são sempre um bom fertilizante, E o fertilizante serve para dois fins: O primeiro e mais óbvio, produzir mais facilmente condições para a geração de frutos, legumes, qualquer coisa que se plante na cara da terra, Segundo e mais importante para a construção de bombas, Pois pertence e é dada a cada um de nós a herança de cada cadáver em dois aspectos, A fertilidade


De uma vida que cresce alimentando-se dos frutos, mas que ignora tais fatores engolindo-os, digerindo-os, Apagando pistas, com o ácido do estômago, dos cadáveres que frutificaram aquela refeição. E segundo, a possibilidade de produzir em massa a matéria cadavérica que nos alimenta. Produção e consumo, mate mais imbecis com bombas maiores para poder colher mais frutos... Salò – Só para você achar que eu estou te ouvindo, ou te respondendo O que quer que você prefira acreditar, Isso que você acabou de falar me lembrou algo, Algo que há muito tempo eu não lembrava, Uma história, e nesse caso uma confissão propícia Para um canalha, afinal nos nossos pensamentos sempre nos confessamos Diante de certa liberdade porque imaginamos que o resto do mundo é surdo Neste espaço, E nada é mais irônico do que esse momento Para acreditar nessa ideia. É um fato, ao menos para mim, que nos espalhamos como um câncer, Um tumor dentro de nossas próprias vidas, existimos nesse mundo, antes do que nos aconteceu, no definindo por aquilo que nos pertence, do que é apenas nosso, A razão central de um tumor cuja única perspectiva de experiência É aglomerar-se ao redor de si. Bem, em todo caso, a história é a seguinte, Eu tive um cachorro, há muito tempo, Não era exatamente um cachorro, era uma cadela, Eu a mantinha num pequeno beco de chão cimentado, Uma espécie de quintal, cuja única entrada e saída era uma porta velha de madeira, Certo dia a cadela que vivia solta pela rua ficou prenha, E certo tempo decorreu até o centro da minha estória, que é precisamente o parto.


Quatro filhotes nasceram dela, e mamaram dela, E a primeira noite passou, no dia seguinte nada de água Ou ração, Ela comeu e bebeu o que lhe restara, Ao amanhecer o primeiro dos filhotes morreu, Como uma grande mãe, maior que ela mesma, Como se já houvesse há muito tempo ouvido sobre o que era necessário, Ela abriu sua mandíbula sobre a pequena cabecinha dele e a comeu, Fatiando a pele com seus caninos e puxando numa mordida mais severa Ela para fora, apoiando-se com uma pata no pescoço do pequeno cadáver, Eles novamente vieram sobre ela e mamaram dela, E com o focinho sujo de sangue ela os ignorou até que estivessem satisfeitos. No dia seguinte nada de água Ou ração, o fedor do cadáver passou a ser um incômodo Ela veio até a porta duas ou três vezes e latiu, E latiu, o suficiente para que eu pudesse ouvir do lado de dentro A respiração exausta dela, Eles vieram sobre ela e mamaram dela. No dia seguinte nada de água Ou ração, eles vieram sobre ela E ela os empurrou com as patas, eles insistiam Dançando sob suas patas e tentando mordê-la para... Ela começou a latir, abaixando o focinho ao nível deles, Eles insistiam, ela os atacou matando dois deles à mordidas, O terceiro filhote recuou e latiu por toda à noite, No dia seguinte nada de água Ou ração, ele tentou se aproximar dela, ela o empurrou com a pata, Ele vagou por todo o dia até que de repente se aproximou de um dos irmãos, já começando A feder, e comeu a carne de sua cabeça, ao menos o que conseguiu arrancar, A noite foi toda um grande silêncio.


No dia seguinte, ao amanhecer, ele estava mamando nela, Ela estava morta, deve ter acontecido durante a madrugada, Quando ele dormiu, eu o servi comida e água. Porque exatamente eu fiz isso eu não sei, Foi apenas divertido ver até onde eles chegariam sob certas condições, (Para o público) E se você não acha isso motivo suficiente levanta a bunda e se manda, ou sai por aí queimando Os teatros, as escolas de balé, os ateliês de pintura, Todo o tipo de escola de artesãos retardados, Devolve o ingresso e vai dormir. (O terceiro homem liga seu gravador). Salò – (Repetidamente aos gritos) Sol-da-do-de-no-vo. Terceira voz – Comando aqui é ômega, estamos chegando ao centro da cidade, já recebemos avisos do norte e leste relatando êxito. Interceptamos um may-day do inimigo há quinze minutos, rastreamos o sinal e estamos indo em sua direção. (Forte interferência) Há uma aeronave não identificada sobrevoando nosso espaço aéreo no terceiro quadrante. (Forte interferência) Os civis estão saindo de seus esconderijos, estão todos correndo para a avenida... disparar, disparar (ouvimos tiros). Senhor estamos sendo obrigados a disparar contra os civis, estamos atropelando eles também, todos estão correndo para os prédios centrais (Curto silêncio). Confirmado comando, são as torres mais altas na cidade e a aeronave não reconhecida está se encaminhando para eles. Eles planejam alguma forma de resgate. O sinal do may-day inimigo aponta para os prédios para onde se encaminham os civis, (Forte interferência. A luz no palco gradativamente se torna mais forte, e refletores posicionados para o público aumentam cada vez mais sua intensidade, cegando qualquer ponto de vista possível, ouvimos impactos de graves2, e apenas destes, nas caixas de som). O avião está seguindo em 2

Recomenda-se que o uso dos graves seja estudado com relação a sua potência, pois possui dois intuitos

nesse específico momento, alterar o centro de visão do público através do impacto, assim como compor um


direção ao prédio, leste e norte indicam atividades semelhantes em vários setores. (Interferência) Nenhuma manobra de pouso detectada. Comando, acreditamos que ele vá se chocar contra... (Estática). (Apenas interferência, os graves desaparecem subitamente, dando lugar a uma microfonia potente, os refletores direcionados para o público alcançam todos sua potência máxima 3, permanecendo assim até o final desta experiência). (Nesse espaço de tempo a cortina é fechada, adentram o espaço do corredor de acesso as cadeiras do público seis tabuletas com rodinhas, formadas em sua parte superior por uma chapa de alumínio, que possui logo abaixo de si um aparato com doze velas acesas. Sobre a placa de alumínio estão posicionados soldados de plástico de brinquedo em formação de batalha. As seis tabuletas são posicionadas no espaço entre a ação e o “público”. No fundo do espaço uma TV junto a uma cesta de maçãs é trazida e colocada, no vídeo explicasse o princípio da maçã-mundo). Narração na TV – A noção é simples, em primeiro lugar tome uma maçã entre as mãos, assuma que sua função óbvia é ser mordida, ou comida, como preferir. Tente desenhar com mordidas o mapa-múndi na maçã. Claro que não exigimos perfeição, mas, com certeza, certo cuidado para que a tarefa não se torne de toda irreconhecível. Comece então, arranque os pedaços. Para facilitar seu trabalho lembraremos rapidamente de que ele se constitui. Primeiro o continente europeu, atente para o fato de que ele é pequeno, minúsculo em comparação com os demais, mas ele deve parecer altivo e as mordidas devem ser generosas, em seguida o continente africano, uma mordida grosseira e rápida deverá dar conta dos cuidados necessários para dar forma a este continente, logo após o continente asiático, pequenas mordiscadas umas seguidas das outras até que uma área muito grande e estranha se forme devem dar conta deste, posteriormente o continente americano, na parte superior modele seguindo as instruções referentes ao continente efeito de estremecimento crescente nos corpos das pessoas que compõem o público. 3

Sugere-se que a luz não seja direcionada apenas do palco para o público, mas também das laterais e da parte

traseira do espaço reservado a este, não apenas criando um incômodo visual, mas provocando uma alteração climática de aquecimento do ambiente.


europeu, todo o resto pode ser feito como se quiser, pequenas ou grandes mordidas, mais ou menos fundas, bem traçado ou não, para melhor desenvolvimento desta parte do projeto buscar seguir parâmetros estabelecidos com relação ao continente africano, por fim a Oceania pode ser cortada com uma pequena faca, apenas um lascão simétrico e pouco expressivo, não esquecendo que os pólos já estão definidos pelo topo e fundo da maçã. Agora olhe para a maçã, o princípio de nossa experiência já deve ter começado a se apresentar, onde mordemos primeiro a superfície da maçã rapidamente começa a escurecer, apresentando pequenos sinais semelhantes ao momento de seu apodrecimento, tornando-se mais macia e escurecida, de forma que quanto mais tentamos manter a situação inicial de igualdade entre as superfícies mordidas mais afundamos em direção ao esgotamento da carne da própria maçã, mordendo-a cada vez mais, sem alcançarmos o resultado pretendido. Assim rapidamente se revela a natureza da igualdade entre os vivos, as faces uma a uma através do contato com os dentes e a saliva começam a apodrecer, e sem instruções apropriadas continuar-se-ia mordendo a maçã em pontos indiscriminados apenas pela possibilidade de satisfação, esgotando toda a matéria. Esperamos que este primeiro resultado de nossa experiência tenha contribuído para o seu objetivo principal, que é o estudo dos hábitos alimentares. Obrigado e delicie a si mesmo com uma fabulosa maçã.

ATO II CENA ÚNICA (As luzes na Área de Contenção se acendem, temos uma grande modificação em seu aspecto inicial. Meds agora está encostado a uma moldura de madeira preso com um espesso aro de metal pelo seu pescoço de perfil, de cada lado da moldura, próximo ao seu corpo, existem quatro buracos e de cada um deles sai um braço, cada braço está preso a uma corda, e todas as cordas se unem após dois metros de comprimento, formando uma grande corda no chão na direção do público, a essa grande corda se une mais uma corda menor que está presa aos pés de Meds – este dispositivo deve funcionar da seguinte forma:


sempre que as mãos forem afastadas de Meds seus pés também são puxados. A figura de Salò agora não mais existe como presença real, dentro de seu espaço, no lugar que ocupava sua cabeça um monitor com um grande olho em preto e branco, o seu próprio, através do qual agora se comunicará em código Morse apenas piscando, formando palavras nos monitores ao seu redor que não transmitem mais espaços de seu corpo, mas sim as seqüências, uma palavra por monitor do que ele deseja falar. Cada minuto que se seguir deste ponto em diante será marcado pelo alarme 4 de um dos vinte e quatro despertadores elétricos postos ao redor da figura da Terceira Voz). Meds – (Despertando) Não, não, não... não... (Longo silêncio, ele olha para o chão há um copo de água e pão, ele se esforça para tentar pegá-los, mas não consegue se abaixar, e percebe que o gancho também não o permite ficar totalmente de pé. Grita algo incompreensível. As mãos parecem despertar e começam a tateá-lo. Ele tenta se esquivar. As mãos começam a espancá-lo. A dor é real). Não, não assim, que merda! Vocês são cegos, o que vocês acham que estão fazendo, agora que vocês estão aí assistindo, vocês acham que se ensaia uma coisa como essa, que estão dando golpes falsos em mim, no que porra vocês acreditam agora, dor... dor... Vocês não vão fazer nada, o que vocês pensam que está acontecendo, que eu ainda estou no enredo, na trama, no drama, em qualquer merda que vocês gostam de por os olhos, a dor pode ser real... pode... (tira sua roupa) e a espera também, seus desgraçados sem bolas, (Tocando seus genitais) eu estupraria vocês sob o fio de uma faca e vocês nem se moveriam, não 4

O alarme pode ser a sirene sonora comumente encontrada nestes despertadores, ou outra opção comum a

este tipo de despertador que é o alarme sonoro de sintonia numa rádio pré-definida. Uma terceira sugestão seria a de que confissões recolhidas das pessoas que compartilharam esta ação em outro momento fossem acionadas, para tanto indicaríamos o uso de uma instalação, semelhante a uma cabine negra, onde antes do início ou após o fim, ou durante o transcorrer de todo o espetáculo as pessoas, sem qualquer identificação, pudessem gravar confissões sobre si mesmas, segredos que pertencem apenas a elas. Claramente no processo de passagem entre uma experiência e outra deveriam ocorrer pequenas modificações na tonalidade das vozes (sem qualquer exagero como os realizados nas entrevistas anônimas apresentadas em telejornais), apenas nuances que retirassem a possibilidade direta de reconhecimento, permitindo uma maior noção de anonimato ou inaudibilidade de uma voz autoral.


fazem nada, e faria o mesmo com o resto da familiazinha, e nada, e os costuraria um ao outro pelo sexo usando um anzol, e nada ainda. (Gritos de dor) Vocês têm o quê a dizer sobre isso, o que porra vocês estão fazendo. (Concentra-se profundamente ainda sobre o impacto dos golpes, se o público não tiver puxado a corda). 1: socorro... 2: socorro... 3: socorro... 4: socorro... 5: socorro (A contagem deve prosseguir até que o público reaja pegando a corda e puxando-a para cessar os golpes das mãos. Se isso não ocorrer o único texto da possibilidade Meds até o final de tudo será a evolução desta reiteração). Salò-Olho – Completamente Sem Sentido Agora Vida Eu Sinto Corpo Eu Te Amo Me Abrace Eu Prometo Um Beijo Me Sirva Comida Mate Todos Ninguém


Nunca Me Tocou Como Você Eu Sabia Eu Sou Eu Disse Nunca Implorar Ter Controle Escolher A Morte A Própria Morte Quando De-quê São Questão De Tempo O Tempo Da Própria


Morte Sem Acidentes Nem Mérito Viver Como Um Doente Que Se Recupera Um Pouco A Cada Dia Até No Fim Estar Sadio Para Morrer Fim ? A Palavra Sem Fato Até


Agora Avanço Isso Assim Prometa Natimortos Gorados Pecos Silêncio Silêncio De Novo Me Salve. (Apesar das sugestões aqui colocadas, gostaríamos de evidenciar que durante as demais ações escritas aqui para os outros, o olho pode permanecer falando deliberadamente 5, o que ele fala é deliberadamente uma escolha de quem ele é, ou de quem é ele. Sugerimos também que palavras-chave sejam repetidas quando não houver qualquer coisa a dizer). Meds – Você ainda está aí ? 5

O esforço do olho pode possuir duas formas de acontecimento, na primeira delas o olho age e pensa ao vivo,

sendo necessário que um interpretante seja responsável pela escritura de suas palavras no monitor. A segunda possibilidade condiz ao registro prévio do que o olho dirá, funcionando como um vídeo-arte, nesse sentido sugerimos que o fator da mensagem gravada superar a ação do olho, colocando palavras não pronunciadas por ele, algumas destas ditas posteriormente pelo olho numa tentativa exasperada de ultrapassar o ritmo da mensagem voltando a dominá-la e conseguindo em certos momentos, mas logo em seguida voltando a ser subjugado. Ainda sobre a segunda possibilidade apresentada, sugerimos que um dos monitores seja controlado ao vivo por aquele que é o olho, fazendo parte dessas vozes que fogem e retornam ao controle do olho, apresentamos como caráter de diferenciação das partes da mensagem que fogem ao controle do olho, a mudança de cor da fonte utilizada (uma possibilidade interessante seria o uso de cores primárias), ou ainda a entrada gradual das letras que formam as palavras do olho em contraponto com a entrada súbita de palavras inteiras, das vozes contidas em sua voz, mostrando um jogo entre passado e devir, presença e virtualidade.


Alguém. Alguém. Terceira Voz – (Eclesiástico) Ele estava aqui, mas de alguma forma Agora só parte dele Está conosco. Uma vez ao olhar para suas costas Um homem perdeu sua voz Ou seus olhos, Hoje sem a palavra nós não nos recordamos tão bem. (Longo silêncio) (Voz Marcial) O inferno A paciência necessária para se construir um inferno Ou a porra de um paraíso, É exatamente disso que vocês precisarão Quando eu tiver acabado com vocês, Os imbecis e o resto São controláveis por um fator impulsivo, Primeiro lhes daremos as ordens, não há vontade nesse território, Vocês devem obedecer, Porque estão presos a essa situação, depois para Se acostumarem com a idéia, atacamos os princípios básicos, Vocês passarão fome Vocês mal poderão respirar (Curto silêncio) (Voz professoral) Assim indicamos qual o uso correto da palavra mal Contrapondo a ela a palavra bom Ou bem Temos finalmente a resposta sobre que forma de mal


Deve ser assumida, Podendo desta forma ser utilizada com precisão Sem quaisquer correções nas Situações necessárias No dia a dia Ou nos testes pelos quais Vocês venham a passar, Posso lhes garantir que com esse pequeno truque De substituição das palavras tudo se tornará Mais claro. A mesma coisa pode ser feita na proporção inversa Assim: bem e mal Assim: bom e mau Apenas nos utilizando desta inversão Retiramos toda a dúvida Em qualquer problema com o qual nos depararmos. Salò-Olho – O Homem Dentro Da Baleia O Homem Atrás Da Cortina O Homem De Ferro


O Homem De Lata O Homem Biônico O Homem Invisível Todos Eles Mate Todos Mortos Por Minha Culpa Eu a baleia, a cortina, o metal, o híbrido, a luz, Finalmente a luz. (A tela onde está o olho muda constantemente como se alguém pulasse de canal em canal procurando alguma outra coisa, vemos novamente as partes do seu corpo como se ainda estivesse lá. As telas periféricas se enchem rapidamente de escritura: confissões, diários, textos de jornal, receitas, verbetes de dicionário, etc. na tela do olho vemos finalmente sintonizado uma endoscopia enquanto ouvimos no próprio monitor o áudio de algum filme pornográfico. Nesse momento as mãos e braços que cercam Meds desaparecem pelos orifícios que ocupavam, e de diversos pontos não visíveis na parte alta do espaço são disparadas reiteradas balas de tinta branca sobre ele).


Meds – Finalmente a luz, ou algo melhor. (O objeto que prende seu pescoço subitamente de desgarra da parede). Não, não assim. Por favor... este não. (Meds começa a chorar como uma criança, aos berros como uma criança. Caído no chão urina em si mesmo e se debate sob a saraivada de tiros mais intensa). Ou algo melhor. (Meds morre). Terceira-Voz – (Ligando o gravador). Os grupos de extermí... Os exérci... As milíci... As gang... As políci... Os vigilan... Os matador... Os cruzad... Os homici... Os guerrilhei... Teste inicial, repetir do início... Teste inicial, repetir do início... Teste inicial, repetir do início... Teste inicial, repetir do início... Iniciar repetição.






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