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Traga sua poluição para Goiás
Durante a ditadura, Goiás padeceu com o modelo econômico, social e político imposto pelos militares ao País. Com uma economia que girava em torno da produção rural, com o poder concentrado nas mãos de poucas famílias latifundiárias, o impulso desenvolvimentista gerava a destruição do Cerrado.
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Leonino Caiado, de tradicional família de latifundiários goianos, foi o governador indicado pelo governo militar no final dos anos 60 e início dos 70. Dentre as principais bandeiras de Caiado, estava a luta contra a reforma agrária. As prioridades do governador eram apoiadas, segundo nos conta o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Nilton José dos Reis Rocha, por Manuel dos Reis, prefeito de Goiânia em 1974 e professor da Faculdade de Medicina da UFG.
Para se colocar contra a reforma agrária, Manuel dos Reis articulou os sindicatos rurais, ligados à família Caiado, junto com a família Ludovico, também expressiva força política no Estado.
Durante a década de 1970, Goiás foi palco de uma busca pelo desenvolvimento, comandada pelo secretário da Indústria e Comércio goiano, Azeredo Coutinho, que promoveu o slogan “traga sua poluição para Goiás”, na tentativa de trazer grandes empresas.
Segundo Nilton José, as políticas do governo estadual geraram outras várias irresponsabilidades ambientais, simbolizadas pelo projeto do pólo-industrial de Leonino Caiado. Com dinheiro emprestado de outros países, o então governador incorporou o Cerrado à fronteira agrícola do estado, dando início à ocupação desordenada do bioma, principalmente nas regiões Norte e Sudeste de Goiás.
Nesse período, a terra era vista como moeda em Goiás, como investimento financeiro prioritário, o que gerou outra forma de violência, mas dessa vez contra os chamados posseiros, urbanos e rurais.
A violência na disputa pela terra em Goiás foi tamanha, que levou a coberturas jornalísticas que renderam prêmios para profissionais goianos, como o repórter Armando
Araújo, do jornal O Popular. Araújo venceu o prêmio Vladimir Herzog, o mais importante do Brasil na área de direitos humanos, por retratar a violência no Bico do Papagaio, região localizada na divisa dos estados de Tocantins (antigo Norte de Goiás), Sul do Pará e Maranhão, que resultou na morte do padre Josimo.
Os conflitos centrados no Bico do Papagaio também chamaram a atenção do jornalista Ricardo Kotscho, que escreveu um livro sobre o assunto, Massacre de posseiros, de 1981, falando sobre a violência das Forças Armadas brasileiras contra os sem-terra na região.
[história] Poluição em Goiás [onde e quando] Goiânia (GO),anos 60 e 70 [quem conta] Nilton José dos Reis Rocha [entrevistas realizadas] Abril de 2004