Diego Faria
Garimpo: a extração da vida Diego Faria 2016
Projeto desenvolvido para Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do Diploma de Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo – Unasp – Campus Engenheiro Coelho.
Orientação: Profª Me. Andreia Moura Produção e tratamento de fotos: Diego Faria Projeto gráfico e diagramação: Renan Bússulo Revisão: Profª Me. Andreia Moura Impressão: Gráfica No Alvo
Este trabalho é embasado em relatos de garimpeiros, comerciantes de pedras preciosas e pessoas inseridas na realidade e no dia a dia do garimpo de Nova Era/MG. O material é fruto da pesquisa e da vivência fotográfica experimentada pelo próprio autor.
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A Cidade
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O município de Nova Era/MG está localizado a 140 quilômetros da capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. São 313 anos de história. Com cerca de 18 mil habitantes (IBGE-2016), as principais fontes de emprego desta cidade estão voltadas ao comércio, agricultura, construção civil, hotelaria e a extração de minérios de ferro e pedras preciosas. O foco da extração é em esmeraldas e águas marinhas. Ruas em paralelepípedos e, casas de arquitetura que lembram o período colonial, remetem também às épocas de grande especulação dos garimpos no país. 10
Ruas em paralelepípedos e, casas de arquitetura que lembram o período colonial, remetem também às épocas de grande especulação dos garimpos no país. 11
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Foto: Portal Prefeitura Municipal de Nova Era/MG
Nova Era é banhada pelo Rio Piracicaba, que passa pelo Centro da cidade. As águas podem ser vistas de cima da Ponte Benedito Valadares, inaugurada em 1940, pelo prefeito Nelson de Lima Bruzzi (1900-1989). A cerimônia contou com a presença do presidente da República à época, Getúlio Vargas (1882-1954) e do então governador do Estado de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro (1892-1973).
A população local costuma contar que, em 1703, dois bandeirantes estavam em uma expedição à procura de ouro e outras riquezas pelo território de Minas Gerais. Após se perderem da rota que seguiam, acabaram sem mantimentos e água. Cansados e receosos de serem atacados por animais que habitavam as matas, os dois viajantes oraram a São José fazendo a promessa de que, caso encontrassem um ponto de água para saciar a sede e sobrevivessem, fundariam no local um vilarejo. Percorridos mais alguns quilômetros, uma lagoa (Lagoa São José) foi encontrada. Ao se ajoelharem para beber a água, enxergaram no reflexo da margem a imagem do santo a que solicitaram proteção. Fundaram então o arraial de São José da Lagoa.
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Posteriormente, já em 1938, o distrito passou a ser denominado como Presidente Vargas, em homenagem ao presidente da República. Somente em 1942 o município recebeu a nomeação oficial de Nova Era, por influencia da crença no desenvolvimento prometido pelo Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas. Os vales e montanhas que circundam Nova Era são entrecortadas pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que teve as atividades de transporte ferroviário iniciadas em 1937. Com saída de Belo Horizonte/MG, os trens passam pela Estação Desembargador Drumond, com próxima parada em Itabira/MG, seguindo até Vitória/ES. Sob os trilhos são transportados minérios e também passageiros.
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Teve participação nesta construção o escultor e entalhador português Francisco Vieira Servas, contemporâneo de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
A Igreja Matriz São José da Lagoa é outro ponto histórico de Nova Era. Está situada na região central do município. Erguida no século XVIII, foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural desde 1953, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Teve participação nesta construção o escultor e entalhador português Francisco Vieira Servas (1720-1811), contemporâneo de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814). O prédio da Câmara Municipal e o Museu também reforçam a presença da arquitetura colonial encontrada na região central e nos bairros de Nova Era. 17
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Vista da regiĂŁo central de Nova Era em meados de 1980. 19
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O comĂŠrcio
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A BR-381, conhecida popularmente como Rodovia Fernão Dias, é a principal via de acesso à Nova Era/MG. Ela faz parte da antiga Estrada Real, traçada pelos bandeirantes desde o século XVII e que liga os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, em mais de 1.600 quilômetros de extensão. Em um posto de combustíveis, às margens desta rodovia, é que o comércio de pedras preciosas acontece. Por volta das 9 horas, de segunda a sábado, os compradores e vendedores se aglomeram no local a fim de conseguir um bom negócio. A pedra preciosa mais procurada é a esmeralda. Pepita de tonalidade verde, com coloração viva e marcante, chama atenção de quem a vê. Os envolvidos em uma negociação não se cansam de analisar a gema em avaliação, passando o produto de mão em mão com direito a palpites e sugestões de terceiros. O valor dado a esta mercadoria depende de muitos aspectos. É necessário que a pedra, ainda bruta, tenha cor vibrante, cristalidade (traspasse de luz), peso e tamanho notável. Após passar pelo processo de lapidação, a pedra ganha mais preço, podendo triplicar de valor quando negociada no exterior. As vendas também ocorrem em Teófilo Otoni/MG, capital das pedras preciosas, a 311 quilometros de Nova Era.
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A estimativa paga em cada grama de uma esmeralda pode variar, se iniciando em R$ 10 e podendo chegar a R$ 100 o grama. O valor depende também da demanda de oferta e procura, da necessidade de quem vende e da generosidade de quem compra. As pedras de esmeraldas mais caras, cada vez mais famosas entre os comerciantes do produto, variam de R$ 1 milhão a R$ 7 milhões. Mas o comércio de pedras preciosas de Nova Era não se restringe apenas a esmeralda como produto de mercado, existem outras qualidades de gemas circulando pelo ponto de compra e venda do município. A turmalina verde e o topázio imperial são alguns exemplos. Apesar de terem preços inferiores ao da esmeralda, interessados em adquirir estas preciosidades é o que não falta. Chineses, indianos e americanos também costumam visitar o município por indicação dos negociadores locais, que mantem contato com pessoas de dentro e fora do país. São conhecidos como bons pagadores, que arrematam lotes de pedras a vista.
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A pedra preciosa mais procurada é a esmeralda. Pepita de tonalidade verde, com coloração viva e marcante, chama atenção de quem a vê. Abaixo pedras de turmalina verde e topázio imperial.
É comum notar os moradores de Nova Era adornados de colares, brincos e anÊis revestidos com pedras de esmeraldas das mais variadas tonalidades e tamanhos. As joias tambÊm costumam permanecer cuidadosamente guardadas, a espera de uma ocasião especial para o uso. 25
O lapidador Saulo Miranda da Silva, de 44 anos, iniciou-se no ofício aos 17. Ele e o irmão Isaque mantêm um pequeno ateliê em frente ao ponto de venda e compra de pedras preciosas, às margens da BR-381. Na bancada de lapidação, Saulo transforma as pedras em verdadeiras peças de arte.
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Coladas com uma espécie de goma em uma haste de madeira, chamada de “caneta”, ele esfola as pepitas no disco da máquina, até que elas ganhem forma e brilho. Mesmo pequenos pedaços de pedra, com pouco valor no mercado, costumam ganhar maior valia após o trabalho finalizado. Saulo acredita que é necessário gostar do que faz para que o trabalho fique bem feito. Além da esmeralda, o lapidador costuma trabalhar com diversos tipos de pedras como águas marinhas, topázio, ametista, olho de tigre, entre outras. 27
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Coladas com uma espécie de goma em uma haste de madeira, chamada de “caneta”, ele (Saulo) esfola as pepitas no disco da máquina, até que elas ganhem forma e brilho. 31
AlĂŠm da esmeralda (verde), o lapidador costuma trabalhar com diversos tipos de pedras como ĂĄguas marinhas (azul), topĂĄzio (amarela), ametista (roxa), olho de tigre (marrom), entre outras.
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O GARIMPO
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A área de garimpo em Nova Era está localizada no Bairro Capoeirana, 13 quilômetros da região central do município. Ali, em ruas estreitas de pedras sextavadas e de terra, residem aproximadamente 300 pessoas. Na maioria, famílias que exercem atividades de trabalho diretamente ligadas ao garimpo. Os acampamentos de lona e barracos de madeira construídos no fim da década de 80, período de início da exploração, deram lugar a casas de alvenaria.
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Os acampamentos de lona e barracos de madeira construídos no fim da década de 80, período de início da exploração, deram lugar a casas de alvenaria.
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Ao garimpo se agregaram pessoas de diversas cidades do Estado da Bahia. Campo Formoso, Carnaíba, Irecê, Capim Grosso, Jacobina, Umburanas, Novo Horizonte. Além dos municípios mineiros de Gouveia, Rio Piracicaba, Itabira e algumas outras localidades onde o garimpo faz fama.
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Gilton Oliveira Silva, de 65 anos, trabalhou em garimpos da Bahia, Goiás e no garimpo de Serra Pelada, no Pará. O antigo proprietário de uma das minas do garimpo de Capoeirana lembra quando o primeiro vestígio de esmeralda foi descoberto. Ele aponta ao longe a própria fazenda onde tudo aconteceu, uma propriedade na qual ainda funciona um ponto de extração. Em meados de 1985, o produtor rural da fazenda que havia naquele local, conhecido como Juarez, mantinha na propriedade uma pequena criação de porcos. Em uma manhã de chuva, ao servir comida para os animais, notou uma pedra de cor esverdeada, que tinha brotado da terra após os suínos revirarem o solo. Ao apresentar o material para alguns mineradores da região, constatou-se que se tra-
Ele aponta ao longe a própria fazenda onde tudo aconteceu, uma propriedade na qual ainda funciona um ponto de extração.
tava de uma pedra de esmeralda. Iniciou-se na fazenda de Juarez o primeiro garimpo de esmeraldas de Nova Era. Em 2016 já somam-se doze áreas de exploração, mas apenas seis delas se encontram em funcionamento. As demais áreas foram abandonadas por alguns fatores: falta de segurança devido à escavação excessiva e degradação do solo, dificuldades financeiras dos proprietários, ou ainda a queda na extração de esmeraldas. Aproximadamente 18% do que é produzido em cada mina deve ser destinado como imposto ao Governo. No início, a esmeralda era mais fácil de ser encontrada, mas com o passar dos anos, tem se tornado concorrido o lucro em decorrência da escassez. 39
Um dos garimpos que pode ser encontrado em Capoeirana estรก encrustado em uma montanha, com apenas uma entrada de acesso. Em funcionamento desde 1986, cerca de 30 pessoas trabalham ali. 40
O túnel de entrada tem 60 metros de comprimento, por 1 metro de largura e cerca de 1,60 metros de altura. É escorado por grossas toras de madeira, mas que com a ação do tempo, ficam úmidas e desgastadas.
Um dos garimpos que pode ser encontrado em Capoeirana está encrustado em uma montanha, com apenas uma entrada de acesso. Em funcionamento desde 1986, cerca de 30 pessoas trabalham ali. O túnel de entrada tem 60 metros de comprimento, por 1 metro de largura e cerca de 1,60 metros de altura. É escorado por grossas toras de madeira, mas que com a ação do tempo, ficaram úmidas e desgastadas. No final do túnel está localizada a primeira descida de acesso à área de extração. O guincheiro, responsável pelo transporte dos garimpeiros e do material retirado da mina, controla a máquina utilizada para a função. Ele é considerado o pai dos garimpeiros, pois dele depende boa parte da segurança durante o trabalho. 41
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O turno dos trabalhadores inicia-se às 8 horas. De três em três os trabalhadores descem à mina para mais um dia na rotina do garimpo. Os que permanecem na plataforma aguardam pela vez de descer enquanto conversam. Após ser conduzido 120 metros abaixo do nível do solo, sustentado por um cabo de aço com capacidade para 2 toneladas, preso a um cinto, o trabalhador chega ao segundo túnel, com mais 60 metros de comprimento. Lá embaixo, uma rede de energia elétrica garante a iluminação do local. Um duto de ar manda a pressão de um gerador para o fundo da mina, o que faz funcionar o “martelo”, espécie de furadeira usada para perfurar a parede de xisto no momento do processo de extração das pedras de esmeralda. Outra tubulação dirige a água infiltrada no subsolo da mina para a superfície com a ajuda de um sistema de bombeamento.
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ApĂłs ser conduzido a 120 metros abaixo do nĂvel do solo, sustentado por um cabo de aço com capacidade para 2 toneladas, preso a um cinto, o trabalhador chega ao segundo tĂşnel, com mais 60 metros de comprimento. 47
Lá embaixo, uma rede de energia elétrica garante a iluminação do local. 48
Um duto de ar manda a pressão de um gerador para o fundo da mina, o que faz funcionar o “martelo”, espécie de furadeira usada para perfurar a parede de xisto no momento do processo de extração das pedras de esmeralda.
Outra tubulação dirige a água infiltrada no subsolo da mina para a superfície com a ajuda de um sistema de bombeamento. 49
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Ao fim do segundo túnel, está a postos outro guincheiro. Ele efetua a descida dos trabalhadores mais 80 metros até o túnel seguinte, que leva à galeria de extração. No percurso é possível notar algumas roupas e objetos que os garimpeiros costumam deixar pelo caminho. No final, a 200 metros de profundidade, fica a frente de trabalho do garimpo de esmeraldas. Em 2014 um homem morreu dentro de uma mina em Nova Era de forma instantânea após ser soterrado com o desabamento de uma grande pedra. No ano seguinte, outro garimpeiro faleceu após tentar descer com um cabo de aço uma mina desativada há 10 anos. Ele despencou de 130 metros de altura, pois o cabo cedeu por decorrência da ferrugem provocada pela ação da água e do tempo.
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Ao fim do segundo túnel, está a postos outro guincheiro. Ele efetua a descida dos trabalhadores mais 80 metros até o túnel seguinte, que leva à galeria de extração. 53
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A parede é formada por xisto, minério de aspecto arenoso, escuro e brilhoso. No período da manhã são armadas e detonadas as dinamites. A explosão, feita com até 30 unidades de dinamite por vez, acontece após todos os trabalhadores terem deixado a área. Depois da execução desta etapa, inicia-se a procura pelas esmeraldas de forma manual. Com o auxílio de uma enxada, o garimpeiro vasculha o solo em meio ao material implodido, na intenção de encontrar as jazidas verdes. O trabalho acontece sob a vista dos demais garimpeiros e de um, ou mais, fiscais de confiança, que supervisionam a extração a mando do proprietário. Quando uma pedra é encontrada, todos param o que estão fazendo para avaliar o material adquirido do solo. Nessas ocasiões os garimpeiros são tomados por euforia.
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Com o auxílio de uma enxada, o garimpeiro vasculha o solo em meio ao material implodido, na intenção de encontrar as jazidas verdes. O trabalho acontece sob a vista dos demais garimpeiros e de um, ou mais, fiscais de confiança, que supervisionam a extração a mando do proprietário. 58
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Quando uma pedra é encontrada, todos param o que estão fazendo para avaliar o material adquirido do solo. Nessas ocasiões os garimpeiros são tomados por euforia. 60
A esmeralda, chamada de berilo quando ainda está em formação, se constitui dentro do cristal branco - mineral presente em solo de xisto - até que adquira os aspectos necessários para se tornar uma pedra preciosa. Uma faixa de cristal branco com um pequeno vestígio de cor verde indica a presença de pedras grandes de esmeraldas naquela região do solo. A furadeira, com uma ponteira de 1,20 metro, chamada de “martelo”, também contribui para o garimpeiro detectar a esmeralda. Caso a poeira verde seja espirrada para fora durante a perfuração do xisto, constatam-se esmeraldas à vista.
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Pedras soltas encontradas no chão são quebradas com martelos e marretas, na esperança de que uma pepita seja encontrada. Conta-se que uma pedra de 7 quilos já foi encontrada em uma mina de Nova Era e salvou da falência o proprietário do garimpo que estava na última semana útil de exploração. A pepita foi vendida a R$ 7 milhões no exterior.
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Os garimpeiros exibem anéis e colares com pedras de esmeraldas, mas na verdade, almejam mais do que isso dentro das minas. Ao serem questionados sobre qual o objetivo e expectativa diante da profissão, a resposta é unânime: “encontrar uma esmeralda de bom valor e vendê-la, comprar uma casa, um carro e garantir conforto para a família”. O objetivo, quando buscado com persistência pode ser alcançado, embora a má administração e o envolvimento com vícios impeçam muitos deles de obterem êxito. É considerado um bom garimpeiro aquele que atua em diferentes áreas de trabalho. No guincho, na extração ou na manutenção. Os mais novatos são chamados de “barrigas d’água”, termo que indica pouca experiência.
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De vez em quando a luz no fundo da mina costuma apagar. Os garimpeiros então aproveitam para descansar, fumar e se descontrair para apressar a passagem do tempo. É comum o uso de bebidas alcóolicas, entre outras substâncias, para amenizar os efeitos da fadiga do ofício. Caso a luz não seja reconstituída, o expediente pode ser suspenso por questões de segurança e normas técnicas. Sem a luz elétrica o garimpeiro não tem a visão necessária para que a extração aconteça. Em situações de emergência, dutos que são interligados com outras minas e obstruídos por grades, são abertos para os garimpeiros poderem deixar as galerias. Essas passagens também têm a função de fazer com que o ar circule, evitando que o ambiente permaneça abafado.
De vez em quando a luz no fundo da mina costuma apagar. Os garimpeiros então aproveitam para descansar, fumar e se descontrair para apressar a passagem do tempo. 64
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O horário de intervalo para o almoço logo chega. Os trabalhadores costumam fazer as refeições embaixo de árvores, saboreando a comida de casa que levam nas marmitas. O momento é de descontração.
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Vendedores informais, na maioria mulheres e adolescentes, costumam vender sobremesas servidas em copos descartáveis para os trabalhadores do garimpo durante o almoço, uma forma de obterem renda extra.
O horário de intervalo para o almoço logo chega. Os trabalhadores costumam fazer as refeições embaixo de árvores, saboreando a comida de casa que levam nas marmitas. O momento é de descontração. Conversas sobre o trabalho ficam de lado. A brincadeira com os colegas, o descanso, o resultado do futebol, a notícia vista no jornal da noite ou as negociações feitas no comércio de esmeraldas são temas mais interessantes. Vendedores informais, na maioria mulheres e adolescentes, costumam vender sobremesas servidas em copos descartáveis para os trabalhadores do garimpo durante o almoço, uma forma de obterem renda extra. O dinheiro ajuda a cobrir os gastos de casa. 67
De volta à mina, o serviço continua. Enquanto alguns procuram por esmeraldas no material implodido, outros se encarregam de retirar todo o xisto da mina. O ofício, feito com pás, é um trabalho em equipe. De mão em mão o material segue o rumo contrário das galerias, até ser depositado fora da mina. As pedras calcárias encontradas pelo caminho são quebradas com a ajuda de marretas a fim de conferir se há uma esmeralda ainda escondida. Os montes da areia de xisto também são vasculhados na tentativa de encontrar qualquer pequena forma de lucrar, mesmo que pareça improvável. O lucro individual pode surgir quando uma pedra é encontrada de forma discreta na mina, sem ter passado pela supervisão dos fiscais. Esta é a oportunidade que o garimpeiro espera para lucrar sozinho com a esmeralda. 68
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De volta à mina, o serviço continua. Enquanto alguns procuram por esmeraldas no material implodido, outros se encarregam de retirar todo o xisto da mina. 70
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As pedras calcĂĄrias encontradas pelo caminho sĂŁo quebradas com a ajuda de marretas a fim de conferir se hĂĄ uma esmeralda ainda escondida. 72
Os montes da areia de xisto também são vasculhados na tentativa de encontrar qualquer pequena forma de lucrar, mesmo que pareça improvável. 73
Nenhum dos garimpeiros atua com Carteira de Trabalho assinada mediante as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Eles trabalham de segunda à sexta-feira, das 8 às 17 horas, com intervalo de uma hora de almoço. O salário é compatível a R$ 250 por semana. Aos sábados, eles permanecem em atividade até o meio dia e, todas as esmeraldas encontradas, são dividias em 50% para os donos das minhas (administradas por sócios) e a mesma percentagem oferecida aos trabalhadores presentes. Entre os trabalhadores correm comentários de uma pedra avaliada em R$ 1 milhão que teria sido encontrada no sábado. Na ocasião, o valor foi dividido entre o proprietário (50%) e três funcionários (50%).
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Os corredores, no fundo da mina, têm o solo molhado e escorregadio. A água infiltrada pelas paredes escorre, deixando o local ainda mais úmido. Ferramentas e equipamentos usados no trabalho são vistos por todos os lados. O uso de lanternas nas mãos ou em capacetes facilita o trânsito do garimpeiro em trechos onde há pouca incidência de luz. 75
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A comunicação dos garimpeiros com os que estão do lado externo da mina, responsáveis pela manutenção e suporte aos trabalhadores, acontece através de um rádio ligado a pequenos e precários alto-falantes. Com uma carriola, o material continua a ser retirado da galeria de extração. Ao ser depositado em caçambas redondas de borracha que carregam até 500 quilos, o xisto é içado para os andares superiores, rumo à superfície. Colocadas em carrinhos, as caçambas seguem em cima dos trilhos para o pátio da propriedade. Por fim, toda a terra de xisto é amontoada pelos trabalhadores externos da mina. O restolho é chamado de sieba. 78
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Colocadas em carrinhos, as caรงambas seguem em cima dos trilhos para o pรกtio da propriedade. 83
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Por fim, toda a terra de xisto ĂŠ amontoada pelos trabalhadores externos da mina. O restolho ĂŠ chamado de sieba. 87
O próximo passo é peneirar o xisto. Por se tratar de uma função mais leve se comparada à extração dentro da mina, as mulheres (na maioria) é quem executam esta parte do trabalho. 88
O próximo passo é peneirar o xisto. Por se tratar de uma função mais leve se comparada à extração dentro da mina, as mulheres (na maioria) é que executam esta parte do trabalho. É possível notar trabalhadoras entre 17 e 60 anos nesta função. Algumas delas insistem no ofício, mesmo grávidas. O calor castiga e a pele fica queimada pelo sol. As siebeiras, assim chamadas, se queixam de dores nas costas devido o arrastar e o levantar das pás e, também, o chacoalhar das peneiras pesadas carregadas de pedras. O não cumprimento dos direitos trabalhistas rouba dos trabalhadores os benefícios garantidos pela CLT. Entre os garimpeiros existe o relato de um siebeiro que encontrou uma pedra de esmeralda que foi vendida por R$ 100 mil. Uma das mulheres que também trabalhava na peneira do garimpo certo dia encontrou uma pedra e, ao entrega-la ao patrão, recebeu uma comissão avaliada em R$ 5 mil. Essa pode ser a única oportunidade de alguém sem estudo receber mais que o esperado no mercado de trabalho convencional.
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É possível notar trabalhadoras entre 17 e 60 anos nesta função. Algumas delas insistem no ofício, mesmo grávidas.
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Os homens que insistem em encontrar uma esmeralda dentro do material de rejeito martelam os minérios na ânsia de obterem sorte. As histórias de lucro ouvidas por eles alimentam ainda mais o sonho de riqueza. Quando os vestígios de esmeraldas são encontrados, mesmo que de baixo preço de mercado, são coletados e vendidos para a confecção de bijuterias e acessórios.
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Os homens que insistem em encontrar uma esmeralda dentro do material de rejeito martelam os minÊrios na ânsia de obterem sorte. As histórias de lucro ouvidas por eles alimentam ainda mais o sonho de riqueza. 94
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No final da tarde os garimpeiros dentro da mina embalam com uma fita adesiva a sacola com todas as esmeraldas extraídas durante o expediente. Em um dia relativamente fraco de trabalho é possível extrair cerca de R$ 500 mil em pedras preciosas. Antes de ser entregue ao dono da propriedade, o embrulho é assinado por todos os encarregados e fiscais da mina, para certificar que o lote está conferido. Há, no entanto, períodos de extração em baixa. No garimpo podem passar dias, semanas, até meses sem que nem mesmo uma só esmeralda seja encontrada. 97
Com o fim do dia de trabalho os garimpeiros são transportados para o alto da mina. Vão do “Japão” ao “Brasil”. É como, ironicamente, comparam os dois extremos. A sensação é de dever cumprido. Para o dia seguinte, fica o sentimento ambicioso de fazer fortuna, ter conforto e, quem sabe, se tornar dono de um ponto de extração de esmeraldas também. Pouco a pouco os garimpeiros se dispersam pelas ruas de terra de Capoeirana, deixando junto com os passos, apenas a poeira no ar e a esperança pelo caminho por onde passam.
Com o fim do dia de trabalho os garimpeiros são transportados para o alto da mina. Vão do “Japão” ao “Brasil”. É como, ironicamente, comparam os dois extremos. 98
Pouco a pouco os garimpeiros se dispersam pelas ruas de terra de Capoeirana, deixando junto com os passos, apenas a poeira no ar e a esperanรงa pelo caminho por onde passam. 99
Diego Faria é natural de Campinas/SP, nascido em fevereiro de 1987. Desde criança desenvolveu o gosto pela fotografia por influência dos álbuns de foto da família. Mais tarde, afeiçoado com a produção de artes visuais, obteve formação técnica em fotografia e, durante a faculdade de Jornalismo, se interessou em documentar em fotos o trabalho dos garimpeiros de esmeraldas do interior de Minas Gerais. Desta experiência foi criado o foto-documentário Garimpo: a extração da vida. Na obra, o autor apresenta um pouco do dia a dia no garimpo, as ambições dos trabalhadores e o ofício da profissão documentada.