Ribeirinhos
A voz da Solidรฃo
Daniele Franรงa
Daniele França
Ribeirinhos A voz da Solidão
Edição de autor 2018
Ribeirinhos - A voz da Solidão © Daniele França 2012
Projeto desenvolvido para Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do Diploma de Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Adven sta de São Paulo - Unasp - Campus Engenheiro Coelho
O !": Renato Groger F" "$: Daniele França P "% " G &' (": Andréia Moura T ) " * '" "$: Daniele França C + D , ) !": Andréia Moura R - $!": Andréia Moura
O sol se põe e parte da natureza adormece enquanto a noite desperta com o pouso frio e silente da lua no rio. A lamparina é acesa e no calar da noite uma única voz se escuta: A voz da solidão.
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Emocionado, Sebastião, relembra a perda da mãe e os maus tratos do pai, que o abandonou na selva aos 20 anos de idade. Sem ter como voltar para o Ceará, seu lugar de origem, Sebastiao conta que, apesar das dificuldades e exploração dos patrões, continuou cortando seringa. O antigo soldado da borracha nunca conseguiu se aposentar como tal. Hoje Sebastião vive sozinho em uma pequena casinha de madeira na beira da praia. Abandonado pela esposa, tem apenas seus cachorros como companhia. No entanto, diz ser uma pessoa feliz e abençoada por Deus. Seus filhos e netos vivem na cidade de Carauari e os visitam de tempos em tempos.
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O Soldado da Borracha
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Sebastião Anorato de Souza nasceu em 30 de dezembro de 1926, na cidade de Curuí- Ceará. O mais velho de oito irmãos, Sebastião foi o único que acompanhou o pai na longa viagem rumo a Amazônia. Em 1943, com apenas 17 anos, os dois deixaram a família e seguiram para a Amazônia com o objetivo de extrair borracha para os Estados Unidos da América na II Guerra Mundial. Os homens conhecidos como soldados da borracha partiram com a promessa de que após a guerra seriam devolvidos aos seus lugares de origem. Sebastião conta que seu pai ao despedir-se da esposa prometeu voltar em breve e cuidar do sustento da família. O fato é que nem o provedor do lar nem o jovem menino nunca mais retornaram para casa. Com o fim da guerra e a queda da borracha o pai o abandonou, sem ter dinheiro para pagar a passagem de volta para o Ceará, Sebastião ficou sozinho na selva. Com o passar do tempo muitos desses homens foram aposentados como soldados da borracha, mas Sebastião não recebeu os benefícios, devido à falta de alguns documentos. O velho abandonado pela esposa vive sozinho em uma pequena casinha de madeira a beira da praia tendo apenas seus cachorros como companhia e de tempos em tempos às visitas dos filhos. O antigo seringueiro chora ao lembrar-se dos maus tratos do pai, as dificuldades vividas nos seringais e das atrocidades dos patrões. Sebastião que vive na Amazônia há 69 anos diz nem mais lembrar o rosto de seus irmãos e que a mãe é a única pessoa de quem guarda lembranças.
Como forma de agradecimento pela visita, seu Sebastião, com todo carisma e simplicidade, despede-se da nossa equipe com um banho de uma colônia barata, para ele, bastante significativa. Um rádio, um violão, uma rede, um relógio de parede, algumas panelas, um pequeno motor para a canoa, uma mala como um terno surrado e algumas roupas penduradas é tudo o que o velho possui, no entanto, sem grandes ambições, Sebastião mostra-se grato e ainda ajuda amigos e estranhos. Não é difícil de encontrar pessoas que contam terem sido auxiliadas pelo velho. A velha casa, localizada à beira da praia, é conhecida por todos os moradores da região e a fama do seringueiro acolhedor é característica típica dos ribeirinhos do município de Juruá, que costumam hospedar viajantes e compartilhar do pouco que tem, sem pedir nada em troca.
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Introdução aos Ribeirinhos do Município de Juruá - AM Juruá é uma cidade do Amazonas localizada à margem direita do rio Juruá com uma área de 19.401 km2. O setor rural é a maior parte do município que corresponde 95% do território. Com 57 anos de existência a pequena cidade, que toma emprestado o nome do rio, possui 11.126 habitantes sendo que cerca de quatro mil são ribeirinhos - homens, mulheres e crianças que vivem às margens dos rios e subsistem da caça e da pesca -, em sua grande maioria, descendestes de imigrantes nordestinos que ocuparam a Amazônia na segunda metade do século 19. Os mais velhos são conhecidos como “Soldados da borracha” por haverem trabalhado para abastecer a indústria bélica dos países aliados, na época da Segunda Guerra Mundial. Apesar de viverem isolados sem muito contato com a cidade os ribeirinhos desta região são pessoas hospitaleiras e simpáticas com o viajante que passa. Juruá possui aproximadamente 60 comunidades ribeirinhas. As fotos a seguir foram feitas nas seguintes localidades: Joanico, Monte Sião, Araparí, Limão, Samaúma, São José do Aumento, Forte das Graças, Socó, Arati, Portelinha, Japó, Boca do Jacaré, Porto Jussara, Bom Jardim, Vale da Benção, Catite, São Francisco da Mangueira, São José do Ará, Ará, Lago do Ará, Monte Cristo, Tamanicuá, Novo Matusalém, Boa Sorte, Boca do São João do Mineruá, Idá, Bota-fogo e Antonina.
Ribeirinhos - Onde e como Vivem Os ribeirinhos do município de Juruá vivem em locais e maneiras diversas. Os que moram em área de várzea alta ou baixa optam pelas casas palafitas. Para os que vivem em terra firme a preocupação com inundações é menor. Há localidades nas quais todas as casas são flutuantes evitando transtornos na época da cheia. A vasta extensão territorial e o fato de muitos ribeirinhos optarem por viver isolados, dificulta a aplicação de projetos de assistência social e tantos outros. 95% das comunidades são desprovidas de saneamento básico. Em apenas três localidades há posto de saúde. A educação tem alcançado cada vez mais pessoas devido as lanchas escolares que transportam os estudantes para comunidades onde há escolas. Hoje 90% dessas comunidades possui energia elétrica. Os ribeirinhos de Juruá vivem da pesca, da caça, e da agricultura de subsistência.
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Um forte temporal cobre o município, que é farto em chuvas torrenciais. É costume dos moradores, quando chove, sair para jogar bola e tomar banho de chuva.
As casas não costumam ser grandes, mas possuem salas espaçosas e uma puxada nos fundos, onde fica guardado o “motor de rabeta” e outros utensílios do pescador. Para escaparem das cheias os ribeirinhos optam por casas palafitas. Quando a água alcança o assoalho, é construído um segundo piso. As cores tornam as comunidades mais alegres, com habitações pintadas pelas mãos do próprio dono. No curral embaixo da casa, as galinhas e o velho jabuti, divide o mesmo espaço. Os moradores constroem cercas para pequenas criações, podendo-se encontrar a galinha, o jabuti, o macaco e outros bichos, dados como de estimação, convivendo em perfeita harmonia. A dona de casa conta que, vez ou outra, os cercados atraem cobras e lagartos que se alimentam da criação.
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Quando a seca se aproxima, os moradores de casas flutuantes, com a ajuda de um pequeno barco, empurram as casas para o meio do rio. Se esse procedimento não for tomado todos os dias, até que o rio pare de baixar, o flutuante fica em terra, na espera da próxima cheia.
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Muitos ribeirinhos vivem em comunidades, enquanto outros optam pela tranquilidade da solidão. É comum, rio abaixo e rio acima de Juruá, encontrar casas isoladas, algumas vezes, com apenas um morador, quase sempre antigos seringueiros que já não acostumam nas cidades.
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Exemplo de comunidade moderna abaixo do município de Juruá Tamanicuá Localizada a margem direita do rio Solimões, abaixo do município de Juruá, a comunidade de Tamanicuá é construída em terra firme e possui cerca de 500 habitantes. Tamanicuá tem uma estrutura privilegiada, diante de outras comunidades, como o segundo maior colégio eleitoral, possui água encanada filtrada e o reservatório com capacidade para 300 mil litros, luz elétrica, posto de saúde, escola, campo de futebol, quadra de esporte, centro social, praça, igrejas, posto telefone, comercio varejista, bares, pousada, um posto policial e nova escola em construção e pequenas ruas. Tamanicuá é o ponto de referência para outros municípios como: Fonte Boa, Jutaí, Tefé, Tabatinga e Benjamin Constant.
Construção da nova escola com 10 salas de aula e quadra de esporte
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A Cheia Em Juruá, estações como a primavera e outono passam despercebidas. Os moradores nomearam suas próprias estações. Verão com chuva que vai de janeiro a junho trazendo a cheia. E verão sem chuva que vai de julho a dezembro, época da seca. Em 2009 os ribeirinhos desta região sofreram com o que, até então, eles consideram a maior cheia da história do município. Famílias de diversas localidades tiveram suas casas levadas pelas chuvas. Em 2010 mais uma vez as comunidades foram fortemente atingidas. Já em 2011 a chuva chegou com menor proporção. Em 2012 o município novamente declarou estado de emergência. Quando isso acontece, as localidades de várzea são as primeiras a serem atingidas, mas nos últimos tempos as cheias têm sido tão violentas que até mesmo as comunidades de terra firme vêm sendo fortemente alcançadas.
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Com a madeira retirada da própria natureza, o homem ribeirinho, constrói a sua casa. A floresta oferece inúmeras opções de paus apropriados para a construção
Interior de casas ribeirinhas As casas costumam ser grandes, com salas espaçosas e poucos móveis. É nesse cômodo onde a família se reúne a noite para assistir novelas e jornais, aproveitando o horário em que o gerador de energia é ligado. Para escapar do calor, há sempre uma rede atada no canto da casa, na varanda, ou no quintal. A cozinha geralmente é aberta e arejada. É costume para as famílias, comer em grandes rodas, sentados no chão. Mesmo nas casas onde há mesas é normal serem usadas para outros fins. O fogão é a gás ou à lenha. Na despensa encontramos apenas o açúcar, o café, o sal, a pimenta do reino, o coloral e, a
farinha, alimento indispensável, na dieta do ribeirinho amazonense. O sabão em pó, o sabão em barra, a palha de aço e o creme dental, são guardados na mesma despensa. O sabão em barra é usado tanto para lavar roupas e vasilhas quanto para tomar banho. A água, retirada do rio, é conservada em potes e ingerida sem qualquer tipo de tratamento. Nas comunidades, onde há energia 24h, alguns moradores possuem geladeiras, do contrário, o peixe é conservado a base de sal. Frutas, como a banana, ficam penduradas pela casa, dividindo espaço com, flechas, malhadeiras, tarrafas e outros utensílios do pescador. A
espingarda fica encostada em algum lado. De acordo com os pais, o objeto não desperta a curiosidade das crianças, no entanto, em algumas comunidades do município, há relatos de acidentes fatais com a arma de fogo. A casa não possui muitos quartos e, os filhos dormem juntos em um só colchão quase sempre largado no assoalho. Os mais velhos, dormem em redes, da mesma forma os pais. O mosqueteiro é fundamental, devido o carapanã, pernilongo presente durante toda época do ano. As roupas de festa são guardadas em malas e as do dia-a-dia ficam em uma prateleira de madeira sem luxo algum. O banheiro é o
próprio rio e as necessidades fisiológicas são feitas no mato, ou, para àqueles que vivem em casas flutuantes, o sanitário é um pequeno compartimento de madeira com um buraco aberto no chão. O que chega a ser um grande problema, uma vez que as fezes caem diretamente na água e logo ao lado fica o pranchão onde o ribeirinho se banha e a mulher trata o peixe para preparar a comida. Para os que vivem em terra, o banho é tomado no fim do dia à beira do rio. As crianças e os pais descem e sobem juntos desfrutando do ritual passado de geração em geração.
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SequĂŞncia de fotos mostrando o interior da casa ribeirinha
Banheiro de casa flutuante. Do lado dir.: Potes onde a ĂĄgua ĂŠ conservada. Acima: Ă gua retirada do rio e usada para o consumo sem tratamento.
A Troca Penduradas na parede a coleção de panelas da mulher ribeirinha mostra que o regatão, figura quase extinta na região, deixou um costume que perdura ainda hoje. Sem dinheiro para comprar a mercadoria da cidade o ribeirinho em troca de panelas, espelhos, roupas de cama, produtos de higiene pessoal, alimentação e outros produtos, entrega ao viajante que passa ou negociantes as riquezas da floresta. Muitas vezes, pela falta de conhecimento, o ribeirinho acaba sendo lesado. A troca se dar na própria casa do caboclo que se ver satisfeito com a negociação.
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40 Amanhecer agitado no rio Solimões. O ribeirinho acorda cedo e sai para mais um dia de trabalho. Às vezes, a mulher fica em casa cuidando dos afazeres domésticos, mas também é comum os dois saírem para a labuta com os filhos mais velhos, enquanto algumas das crianças vão para a escola e outras ficam em casa cuidando dos irmãos.
A mulher ribeirinha A mulher lava a roupa, as vasilhas, limpa a casa, trata o peixe, faz comida, cuida do filho pequeno, trabalha na roça, carrega a lenha, capina o quintal. É a primeira a despertar pela manhã. Põe a água no fogo e prepara o café para o marido que parte antes do sol nascer. Muitas vezes acompanha o homem no trabalho pesado, outras vezes fica em casa, cuidando dos afazeres domésticos. Por vezes limpa a casa, com o menor agarrado à suas pernas. Desce para o pranchão, coloca o pequeno dentro da bacia e faça sol ou faça chuva ela cumpre sua agenda. Em outros casos, é a filha mais velha quem olha o menino enquanto a mãe trabalha. Simpática e hospitaleira, a mulher ribeirinha juntamente com o marido, ainda atende ao viajante que passa como se fosse parte da família.
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O pequeno banco de madeira, a escova e o cacete- pau usado para bater roupa- retrata o cenรกrio da lavadeira ribeirinha
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SequĂŞncia de fotos que mostram mulheres ribeirinhas desenvolvendo trabalhos domĂŠsticos
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Mulher ribeirinha lava o pirarucu com o limão para o jantar da família
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O olhar firme é característica da mulher ribeirinha que, fielmente, cumpre seu papel de esposa, mãe, dona de casa e ainda acompanha o marido no serviço pesado do dia-a-dia. É para ela que todos correm diante de uma enfermidade e são curados com o milagroso caldo de caridade. É a ela que o marido confia a educação dos filhos e com ela que ele partilha suas lutas diária.
A criança ribeirinha A infância é vivida de maneira simples. Desde muito cedo, todos ajudam a mãe em alguma atividade doméstica; cuidam dos irmãos, ou saem com o pai para o roçado ou pescaria. Assim como os adultos, as crianças despertam cedo. Pedem a benção dos pais- tradição forte em toda a região- sentam em uma grande roda para o desjejum e, empolgadas, começam mais um dia. Os pais não exigem muito dos pequenos, que mais se divertem do que trabalham. É de impressionar a criatividade que eles possuem em criar brincadeiras com os poucos brinquedos que conhecem. Os irmãos estão sempre juntos e antes do sol se pôr se reúnem
com os amigos da comunidade. A boneca ainda é o brinquedo preferido da menina, enquanto o menino se diverte com o arco, a flecha, ou a baladeira. As danças de roda são preservadas e no fim do dia podemos ouvir suas cantigas. Nadar no rio é uma festa e brincar com a terra branquinha do quintal é o motivo perfeito para reunir os amigos. O cachorro, o macaco, o papagaio, o periquito, o pequeno jabuti, são bichos de estimação das crianças que dão nome aos animais e os carregam para todos os lados. A escola é levada a sério pelos pequenos, no entanto, sobre este tema, há outros problemas que veremos mais a adiante.
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O sorriso aberto dado a uma estranha retrata a receptividade da pequena ribeirinha que não se intimida com a presença de gente nova
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Com suas pequeninas mãos, Raísa de apenas 5 anos, segura o timão e, com a autorização da prima, toca a conoa rumo a praia. A menina, que mudou para a cidade há pouco mais de um ano, diz sentir falta da pequena comunidade e que todas as férias pede a mãe para visitar as primas
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Quando aparece visita em casa, as crianças atendem e explicam que os pais não estão, para que os estranhos voltem depois. Muitas vezes todos saem para a roça deixando os pequenos sozinhos.
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Por outro lado, com a ausência dos pais, as crianças que são deixadas em casa durante o dia, ficam desorientadas, dependendo das orientações da irmã mais velha, que na maioria das vezes, não tem mais que 12 anos. Com apenas 8 anos, Isabele atravessa um lago para ir a procura do pai no roçado. Há pouco menos de uma semana, seu avô foi atacado por um jacaré no mesmo local.
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Os jovens Para os maiores, com um pouco mais de responsabilidade, o dia corre com mais dureza e a diversão fica para o pôr-do-sol. Com apenas 14 anos, Márcia cuida da pesca da casa, dos afazeres domésticos e de seus irmãos menores. Sua habilidade com a malhadeira impressiona. De acordo com o pai, é a própria filha quem pede para pescar. Márcia sai a hora que deseja, sem obrigação alguma, ata a sua malhadeira e volta no fim do dia para buscar o pescado. Com os irmãos menores ela escolhe os peixes do gosto da família e atira de volta na água aqueles que não os agrada. A menina, que estudou apenas até o quarto ano do ensino fundamental, sonha em ser jornalista. O encanto pela terra e o costume com a solidão já não é o mesmo gosto desenvolvido pelos pais. Ao contrário dos mais velhos os jovens sonham em viver na cidade e ter uma profissão.
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Sem muita informação e cuidados com a prevenção, algumas adolescentes engravidam cedo e sentem-se na obrigação de trabalhar para o sustento do filho. Sem ter com quem deixar o pequeno, o laboro torna-se ainda mais difícil uma vez que a mãe precisa levar o menino consigo. O estudo, que já não é fácil, fica ainda mais complicado e muitas das jovens acabam abandonando a escola.
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Às margens do rio Juruá as crianças da localidade Arati aproveitam o fim do dia para brincar com os amigos. Correr, passear de canoa, nadar e cair na lama gelada da prainha de terra é quase sempre a recreação preferida pelos pequenos da comunidade. Acostumados com os perigos do rio e da floresta todos brincam sem a supervisão dos pais.
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O homem ribeirinho A mulher desperta cedo e faz o quebra jejum para o marido que sai para mais um dia de trabalho; café preto com peixe frito e\ ou açaí, farofa de ovo ou de carne. As crianças comem macaxeira, pupunha cozida, tapioca, cará, batata doce, fruta-pão, açaí, tucumã e outras qualidades de comidas e frutas típicas da região. Há quem tome café com farinha ou rosca. Ainda acostumado com a rotina dos seringais, o homem ribeirinho sai de casa bem antes de o sol nascer. Com o terçado na mão, o isqueiro, o sal, a farinha e a malhadeira para pescar o almoço, ele sai para o roçado onde cuida da pequena plantação. Alguns vão para a casa-de-farinha enquanto outros caçam, pescam ou serram madeira para pequenas construções. Com pouca ambição o homem ribeirinho vive dia pós dia preocupado em prover o sustento diário para a família.
Pescadores de comunidades do rio SolimĂľes aproveitam o sol matutino para a pescaria do peixe liso. Com o arrastĂŁo apropriado para a captura do peixe os homens terminam a tarefa antes do meio dia.
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SequĂŞncia de fotos que retratam parte do dia do homem ribeirinho
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Enquanto recolhe a malhadeira, ribeirinho almoça o peixe capturado pela manhã
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Magro e forte seu Manoel possui características e traços típicos do homem ribeirinho que em geral é um pouco mais baixo. Com orgulho o ele exibe a farinha produzida por toda a família.
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A dieta ribeirinha A dieta ribeirinha é basicamente o peixe e a farinha de mandioca. O gosto por legumes e verduras não foi desenvolvido. Devido a preocupação constante com o plantio da mandioca o ribeirinho que acostumou sem muita variedade e cores à mesa diz não sentir falta de legumes. O peixe é temperado com o cheiro verde e a pimenta. A carne do mato é preparada apenas com o colorau e a pimenta do reino. As frutas mais comuns na mesa desses povos são: banana, açaí, buriti, patoá, cupuaçu, tucumã, melancia, abacate, goiaba, caju, cacau, jambo, abacaxi, bacuri, e mais algumas espécies típicas da região. Vale lembrar que cada uma é colhida apenas em determinada época do ano e nas comunidades de várzea apesar de ser solo mais fértil que terra firme a inconstância é ainda maior por conta da impossibilidade de cultivo perene causada pela cheia.
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Caldeirada de pacu. Cozido com bastante ĂĄgua esta ĂŠ a forma mais comum de o ribeirinho preparar o peixe
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Bife de caju. Feito da carne da fruta o bife ĂŠ temperado com sal, alho, colorau e pimenta do reino e acompanhado com arroz.
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A farinha de mandioca A farinha de mandioca é considerada pelos ribeirinhos como o principal elemento na sua dieta. Praticamente tudo que se come por eles é acompanhado pela farinha; Peixe, carne, sopa, açaí, buriti, patoá, tucumã, abacate, abacaxi, melancia, banana, mamão, mel de cana, há até quem tome café preto com “acompanhante indispensável”. A localidade Antonina é o maior produtor de farinha da região e apesar dos poucos recursos a comunidade já trabalha profissionalmente com o negócio.
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O Açaí
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Apesar de aparecer em apenas alguns meses do ano, neste período o açaí é a fruta mais presente na mesa do ribeirinho, podendo substituir refeições como o desjejum e a janta. O vinho é tomado de diferentes maneiras tendo em todas as forma a farinha de mandioca como acompanhante indispensável. O mais comum é consumo do vinho puro com farinha. Alguns tomam com carne ou peixe-frito enquanto outros optam por farinha e açúcar. Há quem tome o vinho com limão, farinha e sal. O açaí é também uma fonte de renda considerável para ribeirinhos de comunidades com uma população significativa. O palmito do açaizeiro, apesar de poder ser colhido durante todo o ano, não é algo muito valorizado pelos ribeirinhos do município de Juruá.
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Carnes de animais como a anta, paca, veado, tatu, capivara e aves como o mutum, ajudam a variar um pouco o cardápio ribeirinho, escasso de legumes e verduras, devido a dedicação contínua com o plantio da mandioca. A carne do mato, como é chamada, é consumida fresca ou conservada no sal podendo passar vários dias em perfeito estado. O jacaré como vemos na foto ao lado não é um alimento comum para os ribeirinhos juruaenses exceto na localidade Joanico onde carne do bicho é mais valorizada. No entanto o prato preferido desse povo é o tracajá, o iaçá e a tartaruga, quelônios ameaçados de extinção e proibidos na região.
As refeições são feitas com toda a família reunida e é um momento de grande confraternização da parte dos pais para com os filhos. Sentados em uma grande roda, a comida é servida pela mãe que primeiramente atende o marido servindo as crianças em seguida. Apesar de não ter muita variedade de alimentos, os ribeirinhos do município de Juruá não passam fome. De acordo com os pais de família da região, os rios são fartos e o peixe e a farinha são suficientes para o mantimento da casa.
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Os quelônios conhecidos no Amazonas como bicho de casco é o prato preferido do ribeirinho de Juruá e está entrando em extinção devido os barcos pesqueiros que invadem os rios e praias do município levando o bicho ilegalmente. O fato de o quelônio ter um valor significativo na cidade faz com que os pescadores se arrisquem nas praias da região. Em agosto de 1999 no município de Juruá, houve a maior apreensão de quelônios, já ocorrida no Brasil. Mais de 38 mil animais entre tracajás, iaçás e tartarugas foram devolvidos às aguas. A carne do animal é saborosa e macia e juntamente com os ovos são tradicionalmente apreciados pelo amazonense tanto da cidade quanto do interior.
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Batida de tracajรก temperada com pimenta do reino, colorau e alho. Cozida na brasa com a carne dentro do casco do animal
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Um projeto desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) envolve a comunidade na preservação dos quelônios aquáticos. Os moradores voluntariamente se candidatam a agente de praia e com o apoio do ICMbio trabalham para manter viva a espécie ameaçada de extinção. Todos os quelônios apreendidos são devolvidos às águas e os ovos são plantados na praia por um dos agentes voluntários que monitora todo o processo. O trabalho do agente é árduo. É preciso vigiar a praia durante dia e noite para que a mesma não seja invadida. Os invasores levam tanto a espécie quanto os ovos o que impede que o animal se reproduza.
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Praias monitoradas pelos agentes estĂŁo sempre repletas de gaivotas
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) o pirarucu encontra-se em situação ainda pior que a dos quelônios e os motivos são os mesmos. Pescadores de barcos pesqueiros ilegais capturam o animal ainda filhote e levam para vender na capital. O peixe quase já não é visto nas águas da região exceto próximo às reservas ponto estratégico para os pescadores. Com a última inundação que teve muitos filhotes saíram da reserva
e foram capturados pelos barcos pesqueiros. O ICMBio conta com a ajuda dos moradores das comunidades para o mantimento e vigilância das reservas. A parceria tem dado certo, mas apesar de beneficiar a própria comunidade, são poucos os moradores que se envolvem com o projeto. Acima: Manejo do pirarucu na comunidade do Bota-fogo
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O sol cor de laranja reflete nas águas do rio Juruá, avisando ao homem ribeirinho que é chegada a hora de retornar para casa. É na tranquilidade do rio que o homem trafega e de volta para o lar. Na pequena canoa de madeira vai o pescado que servirá de janta para toda a família. O pôr-do-sol encerra mais um dia dando lugar a lua que dentro de pouco tempo ocupa o mesmo céu e ilumina a noite calada do ribeirinho.
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O fogo aceso espera o pescado trazido pelo provedor do lar. A janta é servida cedo. A família come com pressa, alguns debaixo do mosqueteiro, por conta do carapanã. O pernilongo costuma aparecer ainda em maior quantidade durante a noite
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Após o dia de trabalho homem brinca com o macaco. É costume aproveitar o restinho da claridade do dia para recreação
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A família
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A família é o único e verdadeiro legado para o ribeirinho. Para com ela todos têm uma sincera dedicação e respeito. Os mais velhos ditam as normas que são levadas a sério pelos mais jovens. O pai é temido e respeitado. A mãe é quem protege e mima os pequenos. O fim do dia e as refeições são os momentos de maior confraternização entre eles. A mãe senta no assoalho da casa e com uma faca na mão tira os espinhos dos pés de toda a família enquanto o pai conta histórias e lendas típicas da região. Devido o costume de andar descalço, a tarefa já virou quase uma tradição para eles. O pai remenda os buracos na malhadeira. Brinca com algum animal; macaco, cachorro, papagaio e outros. Os mais jovens jogam futebol ou nadam no rio. As crianças brincam de roda, arco e flecha, boneca, pegapega e outros jogos. Todos fazem algum tipo de recreação e apesar da falta de variedades a diversão é garantida.
Quando a noite chega, a família se reúne para assistir televisão. O pai fica atento às noticias e faz comentários inocentes sobre o mundo lá fora. Tragédias ou cenas de violência comovem todos na sala. Não é nada incomum vê-los chorando durante as novelas e falando dos personagens como se fosse parte da família.
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124 As famílias são grandes e as casas estão sempre cheias. O pai é respeitado e temido. A mãe é a dona de casa que cuida da comida, das roupas e ajuda o marido no roçado. Os filhos fazem o mesmo, as meninas ajudam a mãe nos afazeres domésticos enquanto os meninos saem à roça ou à pesca com o pai
Meio de Transporte O meio de transporte ribeirinho ĂŠ fluvial. Barcos recreios que trafegam pelos rios JuruĂĄ e SolimĂľes fazendo o transporte dos habitantes de pequenas cidades interioranas param nos portos das comunidades ribei-
rinhas pegando e deixando passageiros. Barcos pesqueiros também são usados em caso de emergência. Há famílias que possuem pequenas embarcações cobertas ou canoas com um motor e viajam por conta própria.
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Homens ribeirinhos fazem os últimos acabamentos da canoa. A embarcação é indispensável para a família
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Educação
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O fato de os ribeirinhos viverem isolados e não apreciarem a ideia de um ajuntamento das comunidades faz com que dificulte a aplicação de projetos voltados para a educação e outros. Cada localidade quer possuir sua própria escola, sendo que muitas delas possuem menos de 30 habitantes. De acordo com Tabira Ferreira, prefeito da cidade de Juruá, a instalação e manutenção de várias escolas faz com que a qualidade do ensino tenha uma queda significa va uma vez que não é possível inves r em uma boa infraestrutura para todas as localidades. É preciso manter a escola com um ou dois professores em cada comunidade e segundo o prefeito não há verba suficiente para isso. Os ribeirinhos se recusam a viver em grandes polos sendo assim outras estratégias foram desenvolvidas como, por exemplo, as lanchas escolares que transportam os estudantes para comunidades próximas onde há escolas.
Com a falta de infraestrutura da única escola da comunidade, professora da localidade Lago do Ará dar aulas em seu próprio quarto
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Devido o racionamento da luz alunos da localidade TamanicuĂĄ tem aulas apenas com a luz do dia. A falta de janelas deixa as classes ainda mais escuras.
O tênis jogado ao lado, mostra a falta de hábito dos pequenos que calçam os pés apenas para ir à escola. É costume ribeirinho andar sem calçado. O pai, sem receio algum, caminha na mata com os pés desprotegidos. A mãe, com fidelidade, transmite a cultura ao menino que, desde cedo, corre livre no quintal.
Transporte escolar As lanchas escolares chegaram para facilitar a vida dos estudantes ribeirinhos. Para os que não possuem escolas nas comunidades onde vivem, as lanchas levam e trazem os alunos durante todo o ano. Para os que estudam a noite as viagens são um pouco mais longas, devido os cuidados que é preciso tomar com risco de trafegar nas águas
escuras do rio Juruá especialmente na volta para casa. Nos dias de chuva o cuidado é duplicado e muitas vezes é preciso parar na comunidade mais próxima e seguir o trajeto após a tempestade. O projeto facilitou a vida de muitos estudantes, mas nem todas as comunidades foram beneficiadas.
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Alegria de quem mudou para a cidade e teve a oportunidade de concluir os estudos. Com traços e costumes típicos de ribeirinha a jovem conta se orgulha de dizer aos amigos de onde veio e que todo ano visita a família na antiga comunidade onde cresceu.
Com um notebook na mão a jovem ribeirinha de 13 anos que sonha em ser médica digita sem pressa a tarefa passada pelo professor. O computador foi presente do prefeito da cidade que realizou o sonho da menina que conhecia o eletrônico apenas pela televisão. A ribeirinha espera pelo dia em que a escola onde estuda possua internet. Conhecida pela menina como uma televisão que conhece viaja pelo mundo todo.
As irmãs com 14 e 15 anos, cursam a 4 série pela terceira vez. As meninas moram em uma pequena localidade da família onde há apenas uma escola com aulas de 1 à 4 série. O transporte escolar não alcança a comunidade onde as meninas vivem o que dificulta a locomoção para outra escola. A mãe conta que se deixar as duas dorme com os livros.
Daniele Franca
Saúde
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Os ribeirinhos do município de Juruá possuem apenas três postos de saúde localizados na comunidade de Tamanicuá, Ará e Forte das Graças. A infraestrutura não é das melhores e os ribeirinhos sofrem com a falta de medicamentos e profissionais bem treinados. Nas outras localidades a comunidade é atendida por um agente de saúde da comunidade mais próxima. Em casos de emergência o paciente é levado até o município de Juruá e dependo da gravidade, encaminhado para a capital do estado. A distancia entre as comunidades rurais e o município, a falta de transporte apropriado e em alguns casos a falta de comunicação tem sido um agravo no caso dos pacientes que muitas vezes chegam ao município sem vida.
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Fotos do interior do posto de saúde da comunidade de Tamanicuá
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Senhora da localidade Socó conta alarmada sobre o número de pessoas que adquiriram a malária na comunidade onde vive. A doença causada por protozoários parasitas e transmitida pela picada do mosquito do gênero Anopheles fêmea é uma das mais comuns na região.
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A falta de saneamento básico também é um fator nega vo para a saúde ribeirinha. Sem um tratamento de água adequado, higiene do ambiente onde vivem, ausência de fossas sép cas e outros itens importantes para uma saúde básica expõe o ribeirinho a inúmeras doenças. A falta de saneamento básico torna impossível a garan a de melhores condições de saúde para esses povos que são constantemente afetados pela falta dessas medidas importantes. As crianças são na maioria das vezes as mais a ngidas por serem ainda mais expostas aos riscos que os adultos.
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A ĂĄgua conservada em potes ĂŠ consumida pelo ribeirinho sem tratamento algum.
O pão caído e juntado do chão por várias vezes é consumido pela criança que em sua inocência ignora os riscos
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148A voz calada chora com os olhos e lágrima alguma é vista cair. Da boca não se ouve uma única palavra. Sorrisos são guardados apenas para o magro cachorro. O quintal em que brinca é dividido com os porcos e mais quatro crianças são vistas na região. Na inocência da pequena ribeirinha a nua solidão é exibida. A boca fechada dá lugar aos sentimentos transmitidos por olhos singulares: Os olhos da solidão.
Quando o relógio desperta O seringueiro se alerta Levanta faz o café Toma um pouco com farinha Bota o resto na latinha Da até logo pra mulher. Quando da a Sexta feira Ele vai no Barracão Vai se tremendo todo de medo Da carranca do patrão Põem a pele na balança O empregado vai pesar Tira quatro quilos e meio Você venha se aviar. Eu quero 01 quilo de açúcar E uma lamina de gilete Uma barra de sabão E um cachimbo pra mulher. Ele diz mais seu menino Você ta muito atrasado Com a doença que teve Lá no mês próximo passado Sua borracha já tá pouca E o verão tá terminando Ele baixou a cabeça Pegou a imaginar Bota o saco na costa Tratou de se retirar Pra cedo, chegar em casa E cuidar de pescar Quando pega um surubim Ou causar admirar As crianças batem palmas De alegria pro ar Quando dá mês de janeiro Que começa o chuveiro Seringueiro entra na mata Só se ver o aguaceiro Só escuta grito de sapo E do pássaro bandoleiro. Letra da música O seringueiro de Milton Ferreira Batista - Caneco
Daniele França nasceu em Manaus/AM, mas a maior parte de sua infância foi vivida em Juruá, cidade no interior do estado. Desde muito cedo, iniciou uma forte relação com os livros e a escrita. Apaixonada por fotografias, durante o período em que estudou Jornalismo teve a ideia de produzir uma obra que explorasse o estilo de vida dos Ribeirinhos da região onde cresceu. Um povo que conhece profundamente. Foi assim que surgiu Ribeirinhos - A voz da solidão. Uma obra que juntou suas duas paixões: a escrita e a fotografia. Atualmente, Daniele se dedica ao trabalho fotográfico (documental e artístico).