•Projeto Impresso •
Gravura em Revista
1
Projeto Impresso π
Projeto Impresso π
Coordenação: Angela Rolim Projeto Gráfico: Silvana Soriano
Coordenation: Angela Rolim Graphic Design: Silvana Soriano
Ano II Número 3 Junho 2021 Edição Projeto Impresso Uma publicação quase quadrimestral do Ateliê Projeto Impresso Rua Engo Pena Chaves 6 casa 9 Jardim Botânico, RJ Brasil Arte Contemporânea: Gravura, Múltiplos, Fotogravura,Fotografia. Todos os direitos desta edição reservados ao Ateliê Projeto Impresso ©Projeto Impresso ISBN 9798513101031
2
Year II Number 3 June 2021 Edition Projeto Impresso Publication almost quarterly of Ateliê Projeto Impresso Rua Engo Pena Chaves 6 casa 9 Jardim Botânico, RJ Brazil Contemporary Art: Printmaking, Multiple, Photogravure, Photography. All rights reserved to Atelier Projeto Impresso ©Projeto Impresso ISBN 9798513101031
•Projeto Impresso •
Sumário/ Content Editorial Evany Cardoso Francisco Maringelli Gianguido Bonfanti Malu Fatorelli Maria Tomaselli
4 6 16 24 34 44
3
Editorial Life that Bleeds: Welcome to the special edition! “We live in dark times, where the worst people have lost fear and the best have lost hope” Hannah Arendt
S
ince March 2020, Brazil has been subject to three simultaneous crises: a health crisis; an economic-social crisis, and a political crisis. Dark times in which society is guided by litigation and, above all, by hopelessness. In this perspective, the Ateliê Projeto Impresso initiative aimed to create a virtual publication centered on the production and circulation of prints, undoubtedly a step towards regaining hope. After a year - difficult and painful - of the COVID-19 pandemic and with its ongoing tragic course of development, Ateliê Projeto Impresso presents, following its three previous editions, a Special Edition. A question arises: what characterizes this fourth edition of Ateliê Projeto Impresso in Rio de Janeiro? A first element to answer the question asked is the continuity in promoting a dialogue between artists who chose printmaking as the preferred means of artistic expression. In addition to this element, I believe it is important to highlight the commitment to the selected artists’ diversity to present their works in these publications. A third element of the “Special Edition” is the scale of its five selected artists: Evany Cardoso, who, like Dionísio Del Santo, has built over the decades serigraphy of recognized artistic quality; Maria Tomaselli, who, for decades, is the author of extensive and qualified work in lithography; Francisco Maringelli, who has for some time created work that honors the best tradition in woodcut that comes from Goeldi and Abramo, and that reaches Rubem Grilo and many other contemporary recorders of absolute excellence; Malu Fatorelli, who has been developing different engraving works since the mid-1980s, including works in Frotagge - a specific printing technique infrequent among us - and, finally, Gianguido Bonfanti, an artist with extensive and varied work, which, undoubtedly, includes high-quality expressive etchings. It is no small thing. I conclude with the audacity to point out four cardinal points for the reflection and action of the Ateliê Projeto Impresso: to reaffirm the gesture, improving it; expand the constructive dialogue between artists and others interested in printmaking; qualify the panoramic record of printmaking production and, especially, regain hope now. And then. Rio de Janeiro, March 8, 2020 George Kornis
4
•Projeto Impresso •
Vida que segue: Bem-vindo Número Especial! “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança” Hannah Arendt
D
esde março de 2020, O Brasil está sob o jugo de três crises simultâneas: uma crise sanitária; uma crise econômico-social e uma crise política. Tempos sombrios no qual a sociedade se pauta pelo litígio e, sobretudo, pela desesperança. Nessa perspectiva, a iniciativa do Ateliê Projeto Impresso orientada para criar uma publicação virtual centrada na produção e circulação de gravuras é sem dúvida um passo para a reconquista da esperança. Após um ano - difícil e doloroso- da pandemia do COVID-19 e com ela ainda em trágico curso de desenvolvimento, o Ateliê Projeto Impresso apresenta, na sequência das suas três edições anteriores, um Número Especial. Uma pergunta se impõe: o que caracteriza essa quarta edição do Ateliê Projeto Impresso do Rio de Janeiro? Um primeiro elemento para responder à pergunta formulada é a continuidade na promoção de um diálogo entre artistas que elegeram a gravura como meio preferencial de expressão artística. Além desse elemento, creio ser importante destacar o compromisso com a diversidade dos artistas selecionados para apresentar sua produção em arte nessas publicações. Um terceiro elemento do “Número Especial” é a envergadura dos seus cinco artistas selecionados: Evany Cardoso que, tal como Dionísio Del Santo, constrói ao longo de décadas uma serigrafia de qualidade artística reconhecidamente qualificada; Maria Tomaselli que, por décadas, é autora de ampla e qualificada obra em litografia; Francisco Maringelli que, há tempos, constrói uma obra que honra a nossa melhor tradição em xilogravura que vem desde Goeldi e Abramo e que chega a Rubem Grilo e outros tantos gravadores contemporâneos de excelência absoluta; Malu Fatorelli que desenvolve desde meados dos anos 1980 distintos trabalhos em gravura, entre os quais estão obras em Frotagge – uma técnica específica de impressão pouco frequente entre nós - e, finalmente, Gianguido Bonfanti, artista com extensa e variada obra o que, certamente, inclui gravuras em metal de alta qualidade expressiva. Não é coisa pouca. Finalizo com a ousadia de apontar quatro pontos cardeais para a reflexão e ação do Ateliê Projeto Impresso: reafirmar o gesto, aprimorando-o; ampliar o diálogo construtivo entre os artistas e demais interessados em gravura; qualificar o registro panorâmico da produção em gravura e, especialmente, recuperar a esperança agora. E depois. Rio de Janeiro, 08 de março de 2020 George Kornis 5
Evany Cardoso “Dionísio Del Santo was, without a doubt, the founder in Brazil of artistic creation based on the ancient silkscreen technique. Evany, for her turn, is the dear disciple who, together with her master, contributed decisively to the development of the graphic language through the continuous innovations incorporating new approaches within the scope of this technique”. George Kornis, curator and collector.
S
ince 1990 I only use screen printing in my work. I started printing on paper. However, I added images on various supports: metal (aluminum and stainless steel), wood, acrylic, and felt. My first themes are taken from nature: clouds and stones. Stones that can be printed flat on paper or loose stones around an aluminum plate - Narcissus; or stones stacked in several screen-printed sizes in stainless steel with carborundum application. The clouds are always acrylic. At the Cosmogonia exhibition, I made a large cube of serigraphs black wood blank that was placed in the center of a large bright room with clouds silvery on acrylic as opposed to a narrow dark room with stainless steel stones. Emphasize the contrast of hardness and lightness, the stone and the clouds, and counterbalance the wood of the cube. Then, I went back to working with wood on the project called Anfion`s Wall. I also made draperies on felt that resemble bodies like a second skin.
6
Planeejamento 3 Serigrafia sobre feltro Serigraphy on felter 2 X 0.9 m 2017
•Projeto Impresso •
“Dionísio Del Santo foi, sem dúvida alguma, o founding father no Brasil da criação artística com base na técnica milenar da serigrafia. Evany, por seu turno foi a discípula dileta que unida ao seu mestre contribuiu de modo decisivo para o desenvolvimento da linguagem gráfica através da incorporação contínua de inovações no âmbito dessa técnica”. George Kornis, curador e colecionador.
D
esde 1990 só utilizo serigrafia em meus trabalhos. Comecei imprimindo sobre papel, porém fui acrescentando imagens sobre vários suportes: metal (alumínio e aço inox), madeira, acrílico e feltro. Meus primeiros temas são tirados da natureza: nuvens e pedras. Pedras que podem ser impressas chapadas sobre papel ou pedrinhas soltas em volta de uma placa de alumínio – Narciso; ou pedras empilhadas em vários tamanhos serigrafadas em aço inox com aplicação de carborundo. As nuvens são sempre sobre acrílico. Na exposição Cosmogonia fiz um grande cubo de madeira negro serigrafado em branco que foi colocado no centro de uma grande sala clara com nuvens prateadas em oposição a uma sala estreita escura com pedras em aço inox. A oposição da dureza das pedras com a leveza das nuvens em acrílico e a contraposição em madeira do cubo. Voltei a trabalhar com madeira no muro de Anfion. E fiz planejamentos sobre feltro que lembram corpos – uma segunda pele.
Panejamento 2 Serigrafia sobre feltro Serigraphy on felter 2 X 0.9 m 2017
7
Evany Cardoso
Cosmogonia - Cubo 2 1.9 X 1.9 X1.9m 2014
8
•Projeto Impresso •
9
Evany Cardoso
10
Anfion serigrafia sobre madeira 1,30 m x 2,00 m 2015
•Projeto Impresso •
11
Evany Cardoso
12
•Projeto Impresso •
Pedras serigrafia sobre papel 0,7 m x 0,5 m 1993
13
Evany Cardoso
Narciso Serigrafia sobre alumínio Screenprinting on aluminum Serigrafia - 0,6 m Raio de 0,5 m de alumínio 2004
14
•Projeto Impresso •
Nuvens – teoria dos contrastes Serigrafia (grafite e prata) sobre acrílico Screen printing (graphite and silver) on acrylic 10 cm x 20 cm 2017 15
Francisco Maringelli
T
heRelief prints presented characterize my production in recent years, divided into three aspects. A largescale woodcuts (Mingo, Putto and “Corisco”) designed to occupy both the protected spaces of galleries and to be pasted on the city walls. The themes touched by these xilos, respectively, allude to football, to the figure that embodies the fusion of the profane and sacred and to the urban alienation incarnated by the old cangaceiro ( bandit from the Northeast in Brazil) compared to the bulk of my production on smaller scales. The woodcuts in size of big posters: “Gravura, Carne, Tinta e Unha”, SP 464 and “Gráfica Ordinária em Tempos Bicudos” made in Duratex matrix originated from the feeling of opposition to political arrogance and the perception of the individual who lives in a house in ways to be undermined and replaced by another construction. In fact, “Gravura, Carne, Tinta e Unha” is an open series based on objects and casual situations that arose in studio works. The other prints belong to the “Contragolpes” (counterattacks) series, which integrated the collective of the same name with works by Biba Rigo and Cláudio Caropreso in 2018, images that are divided between the playful lyricism of football and the insidious presence of the violent present that characterizes Brazilian society embodied in “ “Balas de Sangue, Temperadas de Chumbo”. (Blood Bullets Lead Seasoning). Finally, I emphasize the presence of typography in almost all the woodcuts, regardless of the poetics investigated, a natural consequence of the importance of the titles in my engravings since the beginning.
16
Cangaceiro Xilogravura Woodcut 1,60 X 55 cm 2017
•Projeto Impresso •
A
s estampas de gravura em relevo apresentadas caracterizam a minha produção dos últimos anos, que se divide em três vertentes. As xilogravuras em grande escala foram concebidas para ocuparem tanto os espaços protegidos de galerias quanto para serem coladas nos muros da cidade. Os temas tocados respectivamente por estas xilos aludem ao futebol, ao amorino, figura que encarna a fusão do profano e sagrado e à alienação urbana encarnada pelo velho cangaceiro. As xilos em grande escala permitem explorar a gestualidade do ato de gravar, consistindo assim num importante contraponto em relação ao grosso de minha produção em escalas menores. As gravuras cartazes: “Gravura, Carne, Tinta e Unha”, SP 464 e Gráfica Ordinária em Tempos Bicudos realizadas em matrizes de Duratex, originaram-se a partir do sentimento de oposição à prepotência política, a estampa “SP 464”, tenta traduzir a percepção do indivíduo que habita uma casa em vias de ser solapada e substituída por outra construção. Aliás, “Gravura, Carne, Tinta e Unha” é uma série em aberto calcada nos objetos e situações casuais surgidas nos trabalhos de ateliê. As demais estampas pertencem à série Contragolpes , que integrou a coletiva homônima com obras de Biba Rigo e Cláudio Caropreso em 2018, imagens que se dividem entre o lirismo lúdico do futebol e a presença insidiosa do presente violento que caracteriza a sociedade brasileira consubstanciado em “Balas de Sangue, Temperadas de Chumbo”. Enfim, ressalto a presença da tipografia em quase todas as gravuras, independentemente das poéticas investigadas, consequência natural da importância dos títulos nas minhas gravuras desde os inícios.
Mingo, meu pai Xilogravura em madeira compensada Woodcut 160 X 55cm 2017
17
Francisco Maringelli
Figurão do Jango Gravura em relevo sobre duratex Relief engraving on duratex 101 X 73cm 2018 18
•Projeto Impresso •
O Árbito Parcial Gravura em relevo sobre duratex Relief engraving on duratex 77,8 X 55,5 cm 2018
19
Francisco Maringelli
20
Putto Xilogravura em madeira compensada Woodcut plywood 101 X 73cm 2018
•Projeto Impresso •
O ursinho atônito Gravura em relevo sobre duratex Relief engraving on duratex 41,5 X38 cm 2018
Fruto das Balas Sabor de Sangue e Chumbo Gravura em relevo sobre duratex Relief engraving on duratex 44,5 X 46,5cm 2018
21
Francisco Maringelli
Gráfica Tempos Bicudos Gravura em relevo Relief engraving 61 X 35 cm 2018
Gravura , Carne, Tinta e Unha Gravura em relevo Relief engraving 61 X 35 cm 2018 22
•Projeto Impresso •
SP 464 Gravura em relevo sobre duratex Relief engraving on duratex 58 X 43,5cm 2018
23
Gianguido Bonfanti
T
he visual arts in Rio de Janeiro during the 1960s and 1970s were marked by the strong presence of metal engraving. MAM-RJ, at the beginning of the sixties, inaugurated its printmaking studio, where several important printmakers passed that left a great legacy. My training as an artist was influenced by this generation of printmakers. It included Poty Lazzarotto, who was my master in his teens and introduced me to metal engraving and its techniques. Anna Letycia Quadros, Rossini Perez, Thereza Miranda, Darel Valença Lins, and Marília Rodrigues, with whom I studied for four years in a course taught at the Escolinha de Arte do Brasil (1973-1977), were some of the engravers of that period that influenced me to learn this technique. I knew some of them well. Darel was a friend, Thereza Miranda was teaching Photo-Engraving at the same time I was teaching metal engraving at the Pontifical Catholic University (PUC-RJ) Going back a little bit in time: I left Brazil in 1971 to study in Rome, Italy, at the Accademia di Belle Arti di Roma, where I made the first engravings in metal. As soon as I arrived in Rome, I visited an art gallery located in the basement of Piazza del Panteon. The current exhibition was from Picasso’s series of metal engravings from the 1930s. This exhibition was a definitive milestone and established the basic parameters that I would use as an engraver: the plates should reproduce only what was engraved, cleaning the polished surface to exhaustion, without leaving any stain or layer that was not engraved. This would give the most intense contrast between the engraved black or gray and the polished surface that would result in the clear white of the paper. For the printer who came to print my works, it would be enough to follow this principle to obtain the same impression as me. I started teaching metal engraving in 1978 at Parque Lage, where I set up a system for transferring photographic images in acetate to metal. I taught printmaking classes for many years. A problem that bothered me was the fascination that the techniques, almost alchemical, of the engraving generated in the students, causing many of them to have the technique as an end and not as a means of building a graphic language.
24
Sem título/Untitled Água tinta e Ponta Seca Aquatint and Drypoint 45x60cm 1975
•Projeto Impresso •
A
s décadas de 1960 e 1970 nas artes plásticas do Rio de Janeiro foram marcadas pela forte presença da gravura em metal. O MAM-RJ, no início dos anos sessenta, inaugurou seu ateliê de gravura por onde passaram vários gravadores de peso que deixaram grande legado. Minha formação como artista foi influenciada por essa geração de gravadores. Dela fazia parte Poty Lazzarotto que foi meu mestre na adolescência e me apresentou a gravura em metal e suas técnicas. Anna Letycia Quadros, Rossini Perez, Thereza Miranda, Darel Valença Lins e Marília Rodrigues, com quem estudei por quatro anos em curso ministrado na Escolinha de Arte do Brasil (1973-1977), foram alguns dos gravadores desse período que me influenciaram ao aprendizado dessa técnica. Conheci bem alguns deles. Darel foi amigo, Thereza Miranda dava aulas de Foto-Gravura no mesmo período em que eu dava aulas de gravura em metal na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Voltando um pouco no tempo: saí do Brasil em 1971 para estudar em Roma, Itália, na Accademia di Belle Arti di Roma, onde fiz as primeiras gravuras em metal. Logo que cheguei em Roma visitei uma galeria de arte situada no subsolo da Piazza del Panteon. A mostra em curso era da série de gravuras em metal dos anos 1930 de Picasso. Essa exposição foi um marco definitivo e estabeleceu os parâmetros básicos que eu passaria a utilizar como gravador: as chapas deveriam reproduzir somente o que fora gravado, limpando a superfície polida à exaustão, sem deixar qualquer mancha ou camada que não fosse gravada. Isso daria o mais intenso contraste entre o preto ou cinza gravado e a superfície polida que resultaria no branco límpido do papel. Para o impressor que viesse a imprimir minhas gravuras bastaria seguir esse princípio para obter a mesma impressão que eu. Comecei a lecionar gravura em metal em 1978 no Parque Lage, onde montei um sistema de transferência de imagens fotográficas em acetato para o metal. Dei aulas de gravura por muitos anos. Um problema que incomodava era o fascínio que as técnicas, quase alquímicas, da gravura geravam nos alunos, fazendo com que muitos deles passassem a ter a técnica como fim e não como meio de se construir uma linguagem gráfica. Sem título/Untitled Água tinta e Ponta Seca Aquatint and Drypoint 60x45,5cm. 1975
25
Gianguido Bonfanti
Cromomicose Água tinta Aquatint 60x45cm 1977
T
he selection of prints presented here, started at the apprenticeship period at Escolinha de Arte do Brasil, under the guidance of Marília Rodrigues, two prints from that period (previous page).
The second set of prints, now on Tropical Diseases, was made shortly after I left the Escolinha de Arte do Brasil. They were printed in my studio, I had bought the press that belonged to Mario Carneiro. He had studied with Iberê Camargo and the two used this press. Later Mario Carneiro started his career as a cinematographer and sold the idle press, I was lucky enough to buy it. In order to carry out the Tropical Diseases series, I did research on the archives of the Rio de Janeiro Institute of Tropical Diseases, UFRJ. The images are faithful reproductions of the slides of diseases treated at the Institute. The intention was to denounce the reality of public health in Brazil.
26
•Projeto Impresso •
Elefantiase Água tinta Aquatint 60x45cm 1976
A
seleção de gravuras tem início no período de aprendizado na Escolinha de Arte do Brasil, sob orientação de Marília Rodrigues, as duas gravuras desse período (pagina anterior).
A segunda dupla de gravuras, agora sobre Doenças Tropicais, foi realizada logo depois que deixei a Escolinha de Arte do Brasil. Foram impressas no meu ateliê, havia comprado a prensa que pertencia a Mario Carneiro. Ele havia estudado com Iberê Camargo e os dois utilizaram essa prensa. Mais tarde Mario Carneiro inicia sua carreira de fotógrafo de cinema e vende a ociosa prensa, tive a sorte de comprá-la. Para realizar a série de Doenças Tropicais fiz pesquisa nas imagens do arquivo do Instituto de Doenças Tropicais do Rio de Janeiro, UFRJ. As imagens são reproduções fieis dos slides de doenças tratadas no Instituto. A intenção era denunciar a realidade da saúde pública no Brasil.
27
Gianguido Bonfanti
A
fter the Tropical Diseases, a marriage crisis led to the end of the 10-year relationship and an intense personal crisis led me to start treatment in psychoanalysis. A few years later I returned to the theme of engravings prior to the Tropical Diseases, with more freedom and control.
Sem Título,/ Untitled Água Forte e Ponta Seca Etching and Drypoint 47x60cm
28
•Projeto Impresso •
D
epois das Doenças Tropicais uma crise de casamento levou ao fim da relação de 10 anos e uma crise pessoal intensa me levou a iniciar um tratamento na psicanálise. Alguns anos depois retomo o tema de gravuras anteriores às Doenças Tropicais, com mais liberdade e domínio.
Sem Título,/ Untitled Água Forte e Ponta Seca Etching and Drypoint 50x60cm
29
Gianguido Bonfanti
F
rom the beginning of the 1980s, painting became the focus of my research, which required a lot of effort to have some mastery of this technique. For more than a decade I have not used print to express myself. I returned to printmaking two decades later, now in a dialogue between painting and printmaking, resolving the same issue in both languages, maintaining the characteristics of the graphic world in printmaking and pictorial in painting.
Sem Título,/ Untitled Água Forte e Ponta Seca Etching and Drypoint 52,5x60cm 2001 30
•Projeto Impresso •
A
partir do início dos anos 1980 a pintura passa a ser foco da minha pesquisa, o que me demandou um grande esforço para ter algum domínio dessa técnica. Por mais de uma década não usei a gravura para me expressar. Voltei à gravura duas décadas despois, agora em diálogo entre a pintura e a gravura, resolvendo nas duas linguagens o mesmo assunto, mantendo as características do mundo gráfico na gravura e pictórico na pintura.
Sem Título,/ Untitled Água Forte e Ponta Seca Etching and Drypoint 50x54cm 2003 31
Gianguido Bonfanti
32
Auto Retrato Self Portrait Água Forte e Ponta Seca Etching and Drypoint 50x54cm 2002
•Projeto Impresso •
Retrato Marisa Maia Água Forte Etching 60x48 cm 2006
33
Malu Fatorelli
Coluna do MAM Frotagem e encáustica sobre tela Frottage and encaustic on canvas 170 x 180 cm Ano 2001 Foto Luciano Bogado 34
•Projeto Impresso •
Arquitetura Gráfica
N
a arte contemporânea os meios, materiais e técnicas são articulados a partir de linguagens artísticas ou podemos mesmo dizer que constituem, nos seus diferentes usos, parte do processo artístico. Ao refletir sobre minha formação encontro a gravura e a presença da marca, do relevo e do múltiplo como referências importantes presentes na relação que a obra estabelece entre arte e arquitetura. A utilização da frotagem como técnica permite uma transversalidade no uso da imagem, da marca e sua repetição que reverberam entre a gravura, o desenho e a grafia estabelecendo um campo de contaminações. A escolha da frotagem no meu trabalho permite a captura de imagens diretamente sobre elementos arquitetônicos que transformam o espaço numa espécie de matriz gráfica para obter assim, uma imagem mediada pelo gesto e consolidada entre diferentes processos. A frotagem é uma técnica muito antiga de origem chinesa, anterior a xilogravura. Entre nós é também uma memória de brincadeira infantil que registra com lápis e papel de seda as marcas e relevos de uma moeda ou de uma folha de árvore. Em algumas obras e instalações que realizei, a captura da imagem em relevo através da frotagem tornou possível a utilização de diferentes suportes, escalas e também a sobreposição de imagens recolhidas em dimensões ampliadas de arquiteturas. O registro de algumas obras mostra aspectos desse processo: “NONA”(fig.1), uma coluna realizada durante uma residência artística no “Headlands Center for the Arts”, foi construída a partir de frotagens de elementos decorativos recolhidos no Brasil e nos Estados Unidos. Uma série instalada no MAM do Rio de Janeiro (fig.2), com frotagens realizadas em suas colunas, trazem marcas do concreto que moldou o museu. Uma outra série foi desenvolvida durante vários anos com base no relevo da paisagem carioca. Essas imagens foram utilizadas para talhar o segredo de duas chaves: “Chaves da Cidade para Elida Tessler” (fig.3) Os objetos de cobre se transformam em matrizes gráficas que vão se desdobrar em relevos secos, desenhos e instalações. A paisagem da cidade é modulada em escalas, proximidades e distanciamentos, da mesma forma que os procedimentos da gravura se afastam e retornam no percurso do meu processo de trabalho.
35
Malu Fatorelli Graphical Architecture
I
n contemporary art the means, materials and techniques are articulated from artistic languages. We can even say that they constitute, in their different uses, part of the artistic process. When reflecting on my artistic process I find that engraving, the presence of the mark, the relief and the multiple are important references present in the relationship that my work establishes between art and architecture. The technique of rubbing (Frottage) allows a transverse approach in the use of an image where its marks and repetitions reverberate between engraving, drawing, and writing in an interwoven field. Using rubbings in my work allows the capture of images directly on architectural elements and that capture transforms the space into a kind of graphic matrix to obtain thus, an image mediated by gesture and consolidated between different processes. Rubbing (Frottage)is a very old technique of Chinese origin, prior to woodcut. Among us is also a childhood play memory that records with pencil and paper the marks and reliefs of a coin or a tree leaf. In some works and installations that I carried out, capturing the image of decorative elements made possible the use of different supports, scales and also the overlap of images collected in enlarged dimensions of architectural spaces. The record of some works shows certain aspects of the process: “NONA”(1), a column created during an artistic residency at the “Headlands Center for the Arts”, was built from rubbings of decorative elements collected in Brazil and the United States. A series of works installed in the Museum of Modern Arte of Rio de Janeiro, shows rubbings that bring to the work marks of the concrete that molded the museum (2). Another series was developed for several years based on the skyline of Rio de Janeiro landscape. These images were used to carve out the secret of two keys: “Keys of the City for Elida Tessler”(3). Copper objects become graphic matrices that will be used in dry reliefs, drawings and installations. The landscape of the city is modulated in scale, proximity and distances, in the same way the process of engraving moves away and returns in my working process.
36
•Projeto Impresso •
Coluna do MAM Frotagem, texto e encáustica sobre tela Frottage and text on canvaS 170 X 360 cm 2001
37
Malu Fatorelli
Desenho da Série Objeto Paisagem Relevo seco e fio de cobre sobre papel Dry relief and copper wire on paper 30 x 40cm 2008 Foto Luciano Bogado
38
•Projeto Impresso •
Desenho da Série Objeto Paisagem Relevo seco e fio de cobre sobre papel Dry relief and copper wire on paper 30 x 40cm 2008 Foto Wilton Montenegro
39
Malu Fatorelli
Instalação 2000 -Exposição Recent Works Técnica serigrafias sobre papel de seda Screenprinting on tissue paper Meridian Gallery São Francisco,Ca.2000
40
•Projeto Impresso •
Nona Instalação Papéis frotados com elementos de arquiteturas brasileiras e americanas. Frottage with elements of Brazilian and American architecture. 1999 Headlands, Ca. 41
Malu Fatorelli
Chaves da Cidade para Elida Tessler Chaves de aço com banho de cobre Copper-plated steel keys 2,5 X 7,5 cm Foto Wilton Montenegro.
42
•Projeto Impresso •
Cartografia de uma Coleção Museu do Açude Fundação Raimundo de Castro Maia RJ 1999
43
Maria Tomaselli
Oficina Guaianases Lithografia Lithography 1980
44
•Projeto Impresso •
“V
ai ficar assim, porque é assim que sou” foram as primeiras palavras de Maria Tomaselli ao me enviar um áudio sobre seu trabalho, modo de vida e de entendimento da arte. “Odeio regulamentos, burocracia, numerar os trabalhos, fazer tiragem, e na sua maioria sem título, sem data e sem catalogação. Por isso não faço identificação nem numeração nas gravuras comme il faut. A gravura serve para experimentar, para brincar, para aventurar-se nas imagens. (Com ela não se ganha dinheiro). A gravura em metal é a minha paixão.” Fundou o Atelier de lithografia MAM/Porto Alegre com Marta Loguércio e Anico Herskovits. A sigla é composta das iniciais MartaAnicoMaria, vez que não existe museu de arte moderna no Rio Grande do Sul. “Fiz algumas poucas tiragens que foram absolutamente úteis para escambos quando eu precisava levar avante a construção das ocas com a contribuição da população”. A oca maloca e a oca das calças jeans (vale uma pesquisa sobre as ocas) são trabalhos que discutem a arte e o fazer coletivo. “São o abrigo do corpo e do espírito”. Iniciou seus trabalhos de arte na pintura com Iberê Camargo. Aprendeu técnicas de serigrafia, de escultura com Xico Stockinger, de gravura em metal, com Eduardo Sued e Anna Letycia Quadros e de lithografia, que aprendeu com Danúbio Gonçalves. A atração pela litho foi por ser uma técnica próxima à pintura e à aquarela. Em Olinda, por volta dos anos 80, onde morou por longo período, conviveu com João Câmara na Oficina Guaianases, que era um ativo polo de lithografia. Com a inestimável colaboração dos magníficos impressores Alberto Barros e Hélio Soares. Eles traziam seu profundo conhecimento técnico da lithografia profissional, muito usada na impressão de rótulos para pequenas indústrias. O atelier promovia cursos e exposições, editava livros e cartazes na arte da lithografia. Hoje, a Universidade de Recife preserva o acervo da oficina. Outros grandes impressores muito contribuíram para dar voz aos trabalhos dos artistas. No Museu do Trabalho em Porto Alegre os artistas contam com o brilhante impressor Paulo Chimendes. Em Affenhausen, na Áustria, contava com a excelência do atelier Stecher&Stecher com Walter e Günther Stecher. Deixo aqui registrado a importância em sua carreira de seu grande muso e companheiro de toda a vida, seu marido o filósofo Carlos Cirne Lima. Maria Tomaselli nasceu em 1941 em Innsbruck, Tirol, Áustria. Doutora em filosofia pela Leopold Frantzens Universität em Innsbruck, na Áustria em 1965. Ano em que veio para o Brasil.
45
Maria Tomaselli
“I
t will be like this, because that is how I am” were Maria Tomaselli`s first words when she sent me an audio about her work, way of life and understanding of art. “I hate regulations, bureaucracy, numbering jobs, doing print runs, and most of them without a title, without a date and without cataloging. That is why I do not make identification or numbering in the engravings comme il faut. The print serves to experiment, to play, to venture into the images. (Money is not earned with it). Engraving is my passion. ” She founded the lithography studio MAM / Porto Alegre with Marta Loguércio and Anico Herskovits. The acronym is made up of the initials MartaAnicoMaria, since there is no museum of modern art in Rio Grande do Sul. The “ Oca Maloca” and the “ Oca das calcas jeans” (worth researching the hollow) are works that discuss art and collective doing. “They are the shelter of the body and the spirit”. She started her art work in painting with Iberê Camargo. She learned silk screening techniques, sculpture with Xico Stockinger, metal engraving, with Eduardo Sued and Anna Letycia Quadros and lithography, which she learned from Danúbio Gonçalves. The attraction for litho was because it is a technique close to painting and watercolor. In Olinda, around the 1980s, where she lived for a long time, she lived with João Câmara at Oficina Guaianases, which was an active lithography pole. With the invaluable collaboration of the magnificent printers Alberto Barros and Hélio Soares. They brought their deep technical knowledge of professional lithography, widely used in the printing of labels for small industries. The atelier promoted courses and exhibitions, edited books and posters in the art of lithography. Today, the University of Recife preserves the collection of the workshop. Other great printers contributed a lot to give voice to the works of the artists. At the Labor Museum in Porto Alegre, the artists count on the brilliant printer Paulo Chimendes. In Affenhausen, Austria, she had the excellence of the Stecher&Stecher studio with Walter and Günther Stecher. I leave here the importance in her career of her great muse and companion of all life, her husband the philosopher Carlos Cirne Lima. Maria Tomaselli was born in 1941 in Innsbruck, Tirol, Austria. PhD in philosophy from Leopold Frantzens Universität in Innsbruck, Austria in 1965. Year in which she came to Brazil.
46
•Projeto Impresso •
Museu do Trabalho Lithografia Lithography 2015
47
Maria Tomaselli
Sem Título Untitled Lithografia Lithography
48
•Projeto Impresso •
Sem Título Untitled Lithografia Lithography
49
Maria Tomaselli
Álbum 4 Cantos 4 Posições Assinadas Lithografia Lithography
50
•Projeto Impresso •
Álbum 4 Cantos Oficina Guaianases Lithografia Lithography
51
Maria Tomaselli
Atelier Stecher&Stecher em Affenhausen Tirol Austria Lithografia Lithography 1998
52
•Projeto Impresso •
Atelier MAM Lithografia Lithography 45 x 50 cm 1992
53
Maria Tomaselli
Oficina MAM Lithografia Lithography 1980
54
•Projeto Impresso •
Oficina 11 Porto Alegre Lithografia Lithography 55 x 39 cm 1993
55
Gravura em Revista #0 08/2020 Artistas participantes/ Artists Angela Rolim Ana Tereza Prado Célia Cotrim Claudia Tebyriçá Claudio Roberto Castilho Cynthia Dreyer Eliane Avellar Grazi Fernasky Marcia Rommes Silvana Soriano Sonia Távora Teresa Stengel Zula
#1 12/2020 Artistas participantes/ Artists Bia Sasso Marcia Rommes Ethel Presser Zula Leonor Décourt Angela Rolim Nestor Goyanes Teresa Stengel
#2 04/2021 Artistas participantes/ Artists Nena Balthar Claudia Tebyriçá Guillaine Querrien Claudio Roberto Castilho Edson Silveira Cynthia Dreyer Nkosana Nhlapo Eliane Avellar
56
•Projeto Impresso •
Artists Contacts Projeto Impresso https://www.instagram.com/projetoimpressoo/ Evany Cardoso evany.cm@gmail.com Francisco Maringelli maringelli@gmail.com Gianguido Bonfanti bonfanti@centroin.com.br Malu Fatorelli malufato@gmail.com Maria Tomaselli maria.tomaselli@gmail.com
57
•Projeto Impresso •
Ano II Número 3 Junho 2021 Edição Projeto Impresso Uma publicação quase quadrimestral do Ateliê Projeto Impresso Rua Engo Pena Chaves 6 casa 9 Jardim Botânico, RJ Brasil Arte Contemporânea: Gravura, Múltiplos, Fotogravura,Fotografia. Todos os direitos desta edição reservados ao Ateliê Projeto Impresso ©Projeto Impresso ISBN 9798513101031 Year II Number 3 June 2021 Edition Projeto Impresso Publication almost quarterly of Ateliê Projeto Impresso Rua Engo Pena Chaves 6 casa 9 Jardim Botânico, RJ Brazil Contemporary Art: Printmaking, Multiple, Photogravure, Photography. All rights reserved to Atelier Projeto Impresso ©Projeto Impresso ISBN 9798513101031
58