Universo Sefarad - ANO 1 - No 2 DEZEMBRO DE 2018

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ANO 1 No 2 DEZEMBRO DE 2018

A CHANUKIÁ DA

LUA VIVA

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Desejamos a todos

Chanukรก Sameach


FELIZ FESTA DAS LUZES

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Diretor/Editor Executivo Elias Salgado Editora Executiva Regina Igel Diretor de Arte e Design Eddy Zlotnitzki Diretor de Projetos Culturais Renato Amaram Athias Gestor de Projetos Ezequiel Pessaj Conselho Editorial HOMENAGEM ESPECIAL: Prof. Samuel Isaac Benchimol z”l Andre de Lemos Freixo ] Fernando Lattman-Weltman Heliete Vaitsman Henrique Cymerman Benarroch Ilana Feldman Isaac Dahan Jeffrey Lesser Michel Gherman Monica Grin Regina Igel Renato Athias Wagner Bentes Lins Editor Elias Salgado Projeto gráfico e arte diagramação Eddy Zlotnitzki Revisão Regina Igel Colaboram neste número Adriana Hernández Gómez de Molina Ana Hutz Cristina Konder Diana Epstein Henrique Cymerman Benarroch Nelson Menda Veneton Secchin

Universo Sefarad Talu Cultural Email universo.sefarad@gmail.com ediçoestalu@gmail.com

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EDITORIAL Em Chanuká cantamos entre várias músicas e louvores, uma que diz assim: “ Imei haChanuká, Chanuká, mikdasheinu, beguil ubesimchá nemalê et libenu...” (São os dias de Chanuká, da reinauguração do nosso Templo, de júbilo e alegria encheremos nossos corações”) O que era o nosso Templo? Aquele construído duas vezes em Jerusalém, profanado pelos helênicos invasores, reconquistado e reinaugurado com júbilo pelo povo judeu e seus líderes de então, os macabeus, era o centro da vida judaica naqueles dias. Mais adiante, quando a catástrofe da destruição e da diáspora parecia para alguns, ser a iminência do nosso desaparecimento na história, uma parte da nossa liderança daqueles dias sombrios, arriscou a alternativa da luta armada contra o inimigo poderoso vindo de Roma e uma outra iniciativa que parecia inocente e improvável, tomada pelo sábio tanaíta, Rabi Iochanan Ben Zakai, de criar em Iavne um centro de estudos e preservação do judaísmo, salvou nosso povo, nossas tradições e nos trouxe, de uma maneira ou de outra, até os dias de hoje. Rabi Iochanan, de lá de onde ele está, certamente é testemunha de que chegamos aos dias de hoje mais diversos e plurais, porém, os mesmos em essência. Mas sem o Templo físico, sem um centro espiritual único, como nos mantivemos um corpo espiritualmente unido? É que os judeus ao longo da sua história, souberam como poucos, recriar, localmente, em cada lugar por onde passaram, a mesma unidade que existia em torno do Templo de Jerusalém. A máxima estabelecida por nossos sábios proclama que as diversas etnias que configuram nosso corpus civilizatório, podem ser autênticas e distintas em seus costumes locais (minchaguim), mas uma única coisa não pode ocorrer: jamais se deixar distanciar do “Klal Israel”, nosso coletivo nacional. Isso foi, sem sombra de dúvida, o que nos trouxe até o dia de hoje e o que nos permite agora recitar: “...sheechianu vekiimanu ve iguianu lazman azê”( ...que nos fez viver e existir e nos fez chegar até este momento”) Feliz Festa das Luzes – Chag haOrot Sameach e boa leitura. Os editores.


ÍNDICE

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ORIENTE MÉDIO - Os bastidores da paz entre Israel e Palestina

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PRESENÇA A comunidade judaico-marroquina na Argentina: Pioneiros da diáspora sefaradi

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IDIOMAS Língua árabe

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HISTÓRIA - António Fernandes d’Elvas um mercador cristão novo típico e singular

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UNIVERSO SEFARAD Conselho Sefaradi do Brasil: uma história de sucesso

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LITERATURA Uma ideia interessante

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DO NOSSO LEITOR CRÔNICA - Uma segulá para toda a vida

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PELO NOSSO PORTAL

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MENSAGENS

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PRESENÇA

O Call barcelonês e o bairro judeu de Habana Vieja:

DOIS BAIRROS, DUAS HISTÓRIAS

Por: Adriana Hernández Gómez de Molina* - Tradução: Elias Salgado

Localização do Call na atual Barcelona 6 | USf | ANO 1 - Nº 1 | JULHO 2018


Tradicionalmente, os judeus como grupo social e religioso, se estabeleceram em bairros separados com suas próprias normas e costumes; desde tempos remotos como os séculos V – III aec, existem referências de comunidades judaicas na Babilônia, Egito e Alexandria, onde residiam as geralmente prósperas, comunidades judaicas no exílio.

Traçado do bairro judeu de Habana Vieja 7


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porém diferente da Europa e outros assentamentos no Oriente Médio, os bairros judeus do Novo Mundo foram sendo criados em datas muito posteriores, principalmente no século XIX, na medida que as diferentes ondas de imigrantes procedentes da Europa, Oriente Médio e Norte da África chegaram a cidades como Buenos Aires ou Cidade do México, ou em datas tão tardias como as primeiras décadas do século XX, como no caso do chamado bairro judeu de Habana Vieja. Dois bairros, duas histórias: o Call barcelonês e o bairro judeu de Habana Vieja, o que têm em comum e o que os diferencia? É sobre isso que refletiremos.

O Call barcelonês

Foto tirada pela autora de uma rua do Call Mayor, maio de 2018

F

oi durante a Idade Média que esta realidade se tornou mais evidente, ao surgirem a partir do século XII bairros judeus ou judiarías por toda a Europa, também denominados guetos. ou aljamas (no caso da Península Ibérica), onde a vida transcorria separada do resto da sociedade, debido, em primeiro lugar, a necessidade dos judeus das cercanías de levarem sua vida cotidiana regida pelas prescrições da halachá, porém debido, também ao status de separação do resto da sociedade cristã, imposto pela Igreja desde de 1179 no Concilio de Latran. Assim, desde finais do século XI, temos noticias da existência de um espaço urbano habitado por judeus em Barcelona, conhecido como o Call;

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Não se sabe com exatidão quando chegaram os primeiros judeus na Península Ibérica. Se tomamos em consideração a palabra hebraica Sefarad, identificada com a profecía de Abdias 1:20 para referir-se ao Ocidente ou Ibéria, esta pode referirse aos exilados de Nabucodonossor no século V aec. Outros consideram que os judeus vieram com a primeira colonização fenícia, referindo-se ao inegável vestigio hebraico em algunas de suas


mais antigas cidades como Toledo. Porém, foi a conquista romana com sua conhecida mobilidade social, que condicionou uma presença judaica, sistemática, se levamos em conta que Barcino foi uma colônia romana fundada no traçado da Via Augusta, podemos supor que haviam judeus em Barcelona desde o século I da Era Comum. A primeira referência documentada da presença judaica em Barcelona data do século IX (875-877) no tempo da dominação francesa. Se trata de uma carta de doação de Carlos o Calvo a catedral, onde se menciona um judeu chamado Judá ou Judacot que servia de mensageiro entre o monarca francês e o bispo Fodoi. Porém as referências seguintes serão muito escassas até final do século XI, que é quando temos as primeiras noticias da existência do Call, o bairro onde viviam os judeus barceloneses. A partir desse momento, existem documentos em hebraico e latim que demonstram a presença ativa dos judeus na vida da cidade e suas atividades econômicas relacionadas, principalmente, com o Oriente através do Mediterrâneo e o empréstimo de dinheiro, fundamentalmente para os empreendimentos da Coroa, entre os séculos XII e XIV.

Ao Call barcelonês afluiram ao longo dos séculos, ideias e pessoas provenientes de Al Andalus, da bacia mediterránea e do ocidente europeu. Desde finais do século XI até o sèculo XIV, o Call seria um núcleo cultural importante, com figuras intelectuais de estatura universal como o grande pensador Hasdai Crescas (1340-1410), autor da obra “ A luz do Senhor” onde polemiza com Aristóteles, Maimônides e o talmudista Levi Ben Guershon. Eram numerosos e reconhecidos os médicos, juristas e administradores, muitos deles pertencentes a corte, onde exerciam cargos oficiais ou privados para o rei e sua familia. Durante o século XV, houve uma importante escola de iluminação de manuscritos hebraicos, em especial de Hagadot de Pessach . Os vestigios materiais do Call de Barcelona são relativamente escassos se comparamos com a riqueza de informação documental conservada nos arquivos da cidade sobre a presença judaica. No entanto, as escavações arqueológicas localizaram restos de cerámica e outros materiais de uso comum em Barcelona (como palha e terracota), porém, com inscrições hebraicas; objetos rituais relacionados com diferentes festividades, como chanukiot ; cerâmicas de luxo de origem oriental 1. Vista atual de uma rua do Call Mayor 2.Casa da rua de la Fruta.

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tinham como consequência ataques aos judeus, até culminar com o ataque e saque do Call em 1391, do qual a aljama barcelonesa jamais conseguirá se recuperar e marcará o fim da comunidade judaica organizada do Call como local urbano habitado pelos judeus em Barcelona. Durante os anos 1396 e 1397 o número de judeus na cidade aumentará pela chegada dos expulsos da França em 1394, porém, medidas posteriores impedirão que renasça a outrora poderosa comunidade judaica barcelonesa (Em 1403 o rei Martin I de Aragão, o Humano, limitará sua entrada e posteriormente Afonso IV não permitirá sua permanência na cidade por mais de 15 dias). Naquele momento, a história dos judeus barceloneses já era de uma Inscrição hebraica encontrada pelos arqueólogos no Call. Corresponde a “casa” comunidade com um grande número de conversos (a maioria estabelecida no Call Menor) vinculadas à participação dos judeus no comércio mediterrâneo, assim como, instrumentos de e quando se implanta a nova Inquisição em 1487, uso comum na medicina (profissão na qual se muitos optam por deixar a cidade definitivamente. destacaram os judeus da Península Ibérica). Barcelona continuou sendo um lugar de passagem Na rua de la Fruta foram encontrados restos da para muitos judeus, até o célebre Edito de Expulsão casa de Jucef Bonhiac, judeu tecelão de velas do emitido por Isabel e Fernando em 31 de março de século XIV, lugar onde se encontra agora o Museu de 1942 que obrigou os judeus catalãos a dividiremse pela geografía mediterránea. História de Barcelona, localizado no centro do Call. O século XII e o primeiro terço do XIV foi o período de maior esplendor do Call barcelonés. A vida comunitária que até então estava dominada por um grupo das mais antigas e proeminentes famílias, os nissim, cujos membros eran médicos, administradores, secretários da corte, cede lugar à elite burguesa dos mercadores e homens de negócio abastados que logram o apoio real para o reconhecimento da autonomía comunitária, pagando impostos ao rei. Porém, a situação se tornará mais difícil na medida que surgem tempos de crise, epidemias (peste negra em 1348) e rebeliões sociais, que 10 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Configuração urbanistica do Call barcelonês Call Mayor: A primeira comunidade judaica que residia em Barcelona se assentou, principalmente, na parte nordeste da antiga quadra de Barcino (nome que os romanos deram a cidade) alé se formar o Call Mayor. Call Menor. O incremento da população judaica em meados do século XII fará com que o rei Jaime I outorgue licença para construir um segundo bairro, o Call Menor, contíguo ao primeiro, porém


Típica área do bairro judeu na Habana Vieja, rua Curazao, entre Luz e Acosta, bairro judeu de Habana Vieja.

fora do lugar da antiga muralha romana,

O bairro judeu de Habana Vieja A pesar da maioria dos estudiosos concordar que a presença judaica na ilha de Cuba data dos tempos de Cristovão Colombo, não existem conexões entre os precursores dos séculos coloniais e a comunidade judaica que se formaría – com maior grau de concentração em Havana – em principios do século XX.

O início de uma comunidade judaica organizada em Cuba se dá desde 1904, quando se criou a United Hebrew Congragation (UHC) pelos chamados “americanos”, em realidade judeus de origen europeia naturalizados estadounidenses, que chegaram a ilha a partir de 1898. Após 1908 chegaram os sefaraditas provenientes da África do Norte e da bacia mediterránea do que outrotora fora o Império Otomano, seguidos da chegada massiva de ashkenazitas da Europa do Leste após 11


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Un comerciante judeu na “Placita” de Habana Vieja,vendendo productos típicos judaicos a outro membro da comunidade.

a Primeira Guerra Mundial. Uma quarta e última leva chegou em fins da década de 30 e primeira metade de 40. Eram refugiados do nazi-fascimo, fundamentalmente, alemãs, austríacos e belgas, que em geral findaram por trasladar-se para os Estados Unidos, ao final da guerra. A pesar da diversidade das imigrações, subsistem entre os judeus cubanos duas denominações principais com as quais se sentem identificadis: - Sefarditas: os que originalmente emigraron do Império Turco entre 1908 y 1917 descendentes 12 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

daqueles que por sua ascendência e cultura se relacionam com os antigos judeus da Península Ibérica e cuja língua vernácula é o judeo-español ou ladino. Em Cuba são conhecidos como “turcos” ou “mouros” - Ashkenazitas: provenientes da Alemanha Central e Oriental e a grande maioria dos judeus “americanos” estabelecidos em Cuba desde 1898, cuja língua vérnacula é o iddish. Chegaram massivamente na década de 20, principalmente da Polônia, Lituania e Rússia, sendo conhecidos


em Cuba como “polacos”, independentemente do seu lugar de origen. Foi Habana Vieja que abrigou o bairro judeu, tanto dos sefaraditas como dos ashkenazitas, irónicamente, em ruas denominadas, Inquisidor, Santa Clara, Picota, Egido, Mercadores, entre outras, próximas ao porto e a via férrea, zona urbana que oferecia posibilidades de alojamento económico e facilidades para as atividades comerciais. Com o tempo, o bairro judeu de Habana Vieja se converteu num foco comercial de grande popularidade, ambiente dos mascates (profissão a qual a maioria dos imigrantes judeus se dedicou no início) onde tenderam a reproduzir seus ambientes de procedência através de suas sinagogas, colégios, sociedades de ajuda e padarias típicas, bodegas, cafés, açougues, lojas e restaurantes. Depois, na medida que se posicionam em novos segmentos de mercado e ocupam locais abandonados pelos espanhóis e cubanos durante a crise de 1920, vão adentrando mais para o centro da velha cidade, já como pequenos comerciantes, até formar a área espacial que definitivamente os distinguiu como coletividade nas ruas Acosta, Cuba, Merced, Luz, San Ignacio e Muralla, de onde começaram a expandir-se – principalmente em meados dos anos 50 – em direção as zonas mais destacadas da capital. Ainda hoje, permanece a marca da presença judaica no centro histórico da cidade, nos prédios do que foi a primeira sinagoga sefaradita Shevet Achim, fundada em 1914, ou no local abandonado do outrora próspero restaurante Moshé Pipik; na padaria Flor de Berlim, o Café Lily, ou o açougue kasher, ainda em funcionamento para a comunidade judaica cubana atual.

Dois momentos históricos, duas circunstâncias… O Call barcelonês e o bairro judeu de Habana Vieja são fundados em momentos equidistantes na

história e por razões e circunstancias distintas. A kehilá de Barcelona está documentada desde o século IX a partir de um livro de orações escrito na Babilônia “seguindo o pedido do rabino de Barcelona” e em linhas gerais sua localização segue a norma das demais judiarias européias: garante a dimensão coletiva e comunitária própria da cultura judaica num espaço urbanístico determinado que serviu para a separação teológica e espacial resultante do enraizamento do cristianismo e da evolução económica e social do mundo medieval e sua débil formação urbana. O bairro judeu da Habana Vieja, data do século XX e é resultado do assentamento daqueles judeus que chegaram de todas partes do mundo a Cuba em busca de uma nova vida, ou simplesmente de uma via de trânsito para os Estados Unidos, porém findaram permanecendo, formaram famílias, cresceram, educaram filhos, reproduzindo com suas sinagogas, escolas, armazéns e açougues, a organização espacial de seus lugares de origen. A partir desta premissa, se pode constatar aspectos que os diferenciam e outros que os tornam semelhantes.

Diferenças: Estatuto jurídico diferente. O Call barcelonês tinha - como quase todas as aljamas dos reinos catalãs e em geral, as judiarias européias - o “privilégio” de ser autônomo em sua organização e administração, regendo-se internamente pela lei judaica (a halachá). Jaime I (1213-1276) foi quem concedeu a autonomía comunitária aos judeus catalãs através do privilégio real de 1241 que les outorgava o direito de eleger um Conselho comunitário que era o encarregado de arrecadar os impostos para o rei. A pesar de não estar escrito em nenhuma, parte até 1176, era uma prática comum que os reis se sentissem proprietários dos judeus. A comunidade judaica assentada na Habana Vieja – em geral as do Novo Mundo – não tiveram um status jurídico diferenciado do restante 13


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Placa da primeira sinagoga sefaradita Shevet Ahim , fundada em 1914 no bairro judeu de Habana Vieja

da sociedade. A comunidade judaica cubana da primeira metade do século XX era regida pela Constituição vigente, com suas respectivas disposições. Tanto para cidadãos cubanos, como para estrangeiros residentes ou de passagem pela ilha, sujeitos estes últimos às leis referentes a estrangeiros, imigrantes e de nacionalização. Recinto amuralhado. Como a maioria da judiarias européias da Idade Mádia, o Call Mayor de Barcelona estava dentro do recinto da antiga muralha romana e até mesmo no lado norte menos delimitado, onde havia casas judaicas situadas frente a casas cristãs, se levantava um muro de separação para que não houvesse nenhum contato. È somente em meados do século XIII que 14 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Jaime I outorga licença para criar um novo bairro judeu na outra parte do Castell Nou, o Call Menor, fora do espaço amuralhado. Já o bairro judeu de Habana Vieja, a pesar de estar localizado dentro do que se conhece como a cidade intramuros , foi lugar de assentamento, tanto de judeus, como de cubanos. O fato de que os judeus escolheram a Habana Vieja e as cercanías do porto para um primeiro assentamento se deve, principalmente, ao baixo custo dos aluguéis e a facilidade para o comércio e segue a tradição que os distingue como grupo imigratório: estabelecer-se nas redondezas do porto por onde desembarcaram. Ataques antissemitas. Como quase todas as ju-


diarias da Idade Média o Call barcelonês sofreu múltiplos ataques em datas muito concretas: como motivo da peste negra de 1348, o levante e assalto de 1391 que marcou a decadência definitiva da aljama, a disputa de Tortosa (1413 – 1414) e finalmente a expulsão de 1492 Estes acontecimentos trouxeram consigo mortes, saques, êxodo de muitos e conversão de outros, fatos que corroeram a relativa “boa convivência” que eventualmente poderia existir entre judeus e cristãos na sociedade medieval europeia. Em Cuba, ao contrário, a pesar de que em determinados momentos dos quais Fernando Ortiz chamou “correntes de racismo…promovida por insanas gestões estrangeiras, não existiu antissemitismo nem pogroms, ao contrário, os judeus sempre foram tratados com cordialidade e respeito. Como aponta a investigadora Maritza Corrales, “com o tempo e a característica hospitalidade dos locais…fizeram um milagre…a existência dos judeus cubanos, não mais dos judeus em Cuba”. Tampouco existiu antissemitismo posterior a 1959. Abandonados por diferentes razões. A pesar de que a aljama barcelonesa vinha em franco declínio desde os tumultos de 1391, a expulsão de 1492 foi um fato trágico que provocou o éxodo massivo ou a conversão das poucas famílias que ficaram. Em geral se espalharam pela geografía mediterrânea e europeia, graças aos vínculos comerciais que possuíam: uns no Norte da África, outros pelos estados e repúblicas da Península Itálica e outros pelo Império Otomano, deste último muitos emigraram séculos depois para Cuba. Por outro lado, o deslocamento residencial do núcleo judaico original de Habana Vieja corresponde ao deslocamento comercial que vivenciaram como grupo social e o grau de inserção no contexto socio-econômico da época: primeiro de peddlers a comerciantes in situ para o centro da cidade velha, e dalí para regiões mais exclusivas como Santo Suárez, o Vedado e Miramar, mesmo

quando o grupo mais religioso e econômicamente menos bem sucedido permaneceu relalivamente concentrado em Habana Vieja.

Semelhanças Condicionados pela necessidade de vizinhança comunitária: Os judeus, por imperativo de suas práticas religiosas, normas alimentares e observância de determinadas festividades, têm necessidade de viver juntos em determinados espaços urbanos, perto de suas sinagogas como centro espiritual orientador e rodeados de toda uma rede de instituições e comércios próprios, como açougues kasher, padarias, tabernas, que tornam possível a experiência de uma coletividade, resultado da “bagagem étnico cultural comum” que os distingue como povo. Um jornalista cubano da época se referia ao “típico cheiro de cebolas, batatas e couros curtidos”. No bairro judeu de Habana Vieja, o mesmo que – com suas variações – deve ter existido no Call barcelonês. Tendência a criar mais de uma sinagoga: “dois judeus, três sinagogas” uma piada comumente aceita para ilustrar a tendência entre os judeus de criar novas sinagogas num mesmo espaço urbano, fato que se dá, fundamentalmente, pela variedade de suas tradições – as mais marcadas entre os ashkenazitas e sefaraditas – o grau de observância e o crescimento populacional. Foi a necessidade dos sefaraditas de ter seu próprio espaço religioso o que levou a fundação, em 1914, da União Israelita Shavei Ahim, primeira sinagoga ortodoxa e centro social dos sefaraditas em Cuba, a pesar de que desde 1904, existia o templo Beth Israel (no bairro do Vedado) afiliado a UHC (Union Hebrew Congregation). Mais tarde os ashkenazitas da Europa do leste acrescentaram uma variante mais pura de ortodoxia com o estabelecimento da sinagoga 15


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Adath Israel, em 1925, a partir da qual se formaría a Kneset Israel em 1929. O aumento de população do Call barcelonês se traduzia, também, em aumento do número de suas sinagogas. Avançando o século XIV haviam cinco: a sinagoga Mayor, a sinagoga das Mulheres (anexa a sinagoga Mayor), a sinagoga dos franceses, construida para os refugiados da França à raíz da expulsão de 1306; a sinagoga de Massot (pertencente a Massot Avangema, um notável da aljama), e a sinagoga Poca o Chica. Também no Call Menor existia uma sinagoga que foi demolida em 1935 para criar o convento da Trindad. Não possuem um estilo arquitetônico próprio, a identidade judaica se manifesta em símbolos: Aquiles Capablanca, arquiteto cubano que nos anos 50 realizou o projeto de construção do Patronato de la Casa de la Comunidad Hebrea de Cuba, afirmou que “a dispersão do povo judeu…foi a causa de não existir uma arquitetura judaica própria…A sinagoga na história, expressou o lugar e a época em que foi levantada” – no entanto, assinalou, também, que “o novo templo levaría o selo da espiritualidade judaica”…”uma mensagem espiritual feita de pedra”. Sara Blumenkrantz, arquiteta judía cubana que participou da restauração realizada nos anos 90, sugeriu incorporar a Estrela de David como símbolo do povo judeu à fachada da sinagoga. Investigações atuais determinaram que o único edificio do Call com as características adequadas para ter abrigado a sinagoga Mayor é o situado na rua das Carnisseries, atualmente, San Doménec, esquina com Marlet, que tem duas janelas e um muro voltado para Jerusalém 106 graus; outros símbolos judaicos foram encontrados em antigas construções do Call. Abrigaram personalidades notáveis: Desde fins do século XI até o século XIV, o Call barcelonês foi um núcleo cultural de primeira ordem. Floresceu alí a escola talmúdica de Barcelona e se destacaram, entre outros, o último e grande pensador 16 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

judeu, Hasdai Crescas(1340-1410), considerado um dos poucos sábios judeus que se atreveram a abrir novos caminhos dentro da filosofía. O bairro judeu da Habana Vieja também foi berço de renomadas persolalidades da vida nacional cubana, desde Avreml Grobart Mankowska (Fabio Grobart, 1905 – 1994), o “a massa cinzenta do comunismo em Cuba”, até Abraham Marcus Matterin, “o judeu mais integrado” de Cuba, na opinião de uma grande conhecedora. Bibliografía: Enciclopédias. - Enciclopedia Judaica Castellana, México, 1951.Crónica del Holocausto. Editorial LIBSA, 2002.- Encyclopedia of Latin American Religions. Edited by Henri Gooren ISBN: 978-3-319-08956-0, Springer International Publishing Switzerland, 2016, disponible desde Internet en http//meteorspringer. com, http://springer.spibooktrack.com/FrmProcess.aspx?Code=ikpHC1SpIPc$@MfAJQo1noExFnb1kP/uYVg$$ Periódicos - Almanaque Hebreo Vida Habanera, Tomo Decimoséptimo Octubre 1959, pp. 33-39. AHOHC, Fondo Marcus Matterin, Legajo 269, Expediente No.2. - Almanaque Hebreo Vida Habanera, Septiembre 1943, Editorial Vida Habanera, La Habana, pp. XIXIII. - Suplemento Pueblo “Los judíos en Cuba”, AHOHC, Fondo Marcus Matterin, Legajo 286, Exp. 14, s.f. - Diario de la Marina, La Habana, 10 de julio de 1939, Año VI- no. 27. Documentos - Abraham Marcus Matterin “Breve historia de los hebreos en Cuba (Desde el descubrimiento hasta 1969)” (Mecanuscrito inédito), AHOHC, Fondo Marcus Matterin, Legajo 3. - Der Gruntshteyn (La Primera Piedra) Edición Extraordinaria Conmemorativa a la Colocación de la


Primera Piedra de la Casa de la Comunidad Hebrea de Cuba. Editado por Patronato de la Casa de la Comunidad Hebrea de Cuba, La Habana 17 de junio de 1951, AHOHC. Fondo MM, Legajo 271, exp. 22. Outra bibliografía -Adriana Hernández Gómez de Molina. El antisemitismo en Europa. Editorial Ciencias Sociales, La Habana, 2016. -Adriana Hernández Gómez de Molina, “La cuestión judía en Cuba y el impacto del antisemitismo en la época del nazismo; una visión desde el periodismo cubano: 1936- 1939”. Iberoamérica global, Vol. 5, No. 2 2012/2013, Universidad Hebrea de Jerusalén, ISSN 1565- 9615. -“Call /BCN Guia D´História Urbana”. MUHBA, Ajuntament de Barcelona, 2016. -Gustavo Perednik. Judeofobia. Colección de Libros de la Facultad de Humanidades (T III), Universidad de Panamá, 1999. - Historia de las Religiones. Formación de las Religiones Universales y de Salvación. Siglo XXI Editores, España, 1972. - Jesús Guanche y José A. Matos A. (compiladores y notas al pie) “Fernando Ortiz contra la “Raza” y los Racismos, PDF. - Judith Laikin Elkin. The Jews of Latin American. The Lynne Rienner Publishers, INC, USA, 2014. - Judith Bokser L., “El antisemitismo: recurrencias y cambios históricos”, Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, Universidad Autónoma de México (UNAM) D. F, mayo- diciembre de 1001, año/vol. XLIV, núm. 182- 183. - María Josep Estanyol Fuentes. Los judíos catalanes. PPU, S.A., Barcelona, 2011. - Maritza Corrales C., La isla elegida. Los judíos en Cuba. Editorial Ciencias Sociales, La Habana, 2007,

- Maritza Corrales C., “Cuba, paraíso recobrado para los judíos”, ¿De dónde son los cubanos? Graciela Chailloux Lafitta (coordinadora), Editorial Ciencias Sociales, La Habana, 2007. - Maritza Corrales C. “Comportamiento económico y espacial de los comercios e industrias judíos en La Habana: 1902- 1959”. Judith Bokser Liwerant y Alicia Gojman De Backal (Coordinadoras), Hellen Soriano (Compiladora) Encuentro y Alteridad. Vida y cultura judía en América Latina. Fondo de Cultura Económica, México, 1995. - Margalit Bejarano La comunidad hebrea cubana, la memoria y la historia, Capítulo primero: “Polacos y turcos”. Instituto Avraham Harman de Judaísmo Contemporáneo Universidad Hebrea de Jerusalén, 1995, s.p (PDF). - Margalit Bejarano: “Polacos” – las significaciones del apodo de los judíos en Cuba”, Comunidades de ascendencia centro oriental europea en América Latina al advenimiento del siglo XXI: sus roles y funciones locales e interculturales, Simposio SOC- 3 50 Congreso Internacional de Americanistas, Editores Mariusz Milianoswski y Wladyslaw T. Miondunka; julio 10- 14, Varsovia: Centro de Estudios Latinoamericanos, 2001. - María Elena Martín Zequeira y Eduardo Luis Rodríguez Fernández, Guía de Arquitectura La Habana Colonial (1519- 1898), Dirección Provincial de Planificación Física y Arquitectura, Consejo de la Administración Provincial Ciudad de La Habana, La Habana- Sevilla, 1993. - Rosalí Morales La Rosa. “El Patrimonio Etnográfico de la Comunidad Hebrea de La Habana. Catálogo de Estudio” (Tesis de grado), Colegio Universitario San Gerónimo de La Habana.

________________________ * Msc Adriana Hernández Gómez de Molina é professora no Colegio Universitario San Gerónimo de La Habana, Cuba. email adriana@sangeronimo.ohc.cu

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IDIOMAS

A Alhambra de Granada - Andaluzia, Espanha 18 | USf | ANO 1 - Nยบ 2 | DEZEMBRO 2018


LÍNGUA ÁRABE Ao abordarmos a língua ou a cultura árabe hoje em dia, imediatamente a associamos à religião islâmica ou a questões geopolíticas e conflituosas como terra e petróleo ligadas ao Oriente Médio ou norte da África (Magreb) Por Veneton Secchin*

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IDIOMAS

Manuscrito medieval em língua árabe

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á tempos atrás, o que vinha a nossa memória eram as mágicas histórias de ficção literária como ‘Aladim’, ‘As mil e uma noites’, ‘Simbá, o marujo’, ‘Ali Babá e os quarenta ladrões’ ou pensaríamos num comerciante libanês, em geral ligado à venda de tecidos ou quitutes típicos como quibe e esfirra. Separada em duas partes, a língua árabe hoje falada por 280 milhões de pessoas no mundo, é composta basicamente pelo árabe clássico (padronizado) e o popular, com suas variações – muitas consideradas dialetos- que se estendem por cinquenta e oito países, sendo oficial em vinte e seis. Em alguns deles, o idioma torna-se quase incompreensível para um cidadão árabe de 20 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

outra região. Por exemplo, o árabe marroquino se distingue do árabe iemenita e este último do árabe libanês, um país relativamente mais próximo. Classificadas, essas variações ou dialetos se dividem primeiramente em dois grupos: o dos árabes falados no Magreb e o dos falados no Oriente Médio e, numa subclassificação em quatro grupos: Árabes magrebinos, Árabe egípcio e sudanês, Árabes dos Estados do Golfo e Dialetos árabes orientais. De todos, o dialeto mais falado é o egípcio. A popularização da língua árabe deve-se principalmente ao surgimento e expansão do Islã no século VII, pois segundo a fé islâmica, a leitura do Alcorão não deve ser traduzida. Seu alcance


se deu principalmente na África, Leste Europeu (Balcãs), Ásia Central e Sudeste Asiático, com a Indonésia como o país de maior população muçulmana do mundo, o que explica que nem todo muçulmano é árabe. Da mesma forma, até poucas décadas o Líbano era um país árabe de maioria cristã, provando que nem todo árabe é muçulmano.

Origem e influências Pertencente à família das línguas afro-asiáticas, o árabe possui a mesma origem semítica que o hebraico e o aramaico, e seu alfabeto -o segundo mais usado no mundo atrás apenas do latino- é utilizado também pelos povos persas, berberes e hauçás (africanos), urdus (Paquistão), pachtuns (Afeganistão) e em alguns países da Ásia Central. Dentre os idiomas que já utilizaram o alfabeto árabe estão o albanês, o servo-croata e o turco. E as línguas mais influenciadas pelo árabe foram as da região do Mar Mediterrâneo.

Fonte antiga numa medina marroquina

sive registros de cristãos-novos da mesma região trazidos por Marquês de Pombal quatro décadas antes. Posteriormente, podemos citar também os escravos africanos malês, de fé muçulmana -e alfabetizados- que ficaram conhecidos por um levante na Bahia em 1835, denominado de Revolta dos Malês. Neste caso, o árabe era utilizado apenas para rezas, sendo lido e escrito, pois seu

No Brasil A prática do idioma árabe no Brasil data de mais de dois séculos e sua entrada passa quase despercebida. Ao contrário do que muitos pensam, os responsáveis por introduzi-lo não foram os sírio-libaneses que chegaram no final do século XIX, mas judeus marroquinos que chegaram à Amazônia a partir de 1810, atraídos pelo início da exploração da borracha (estes também falavam espanhol e o dialeto haquitía). Há inclu-

Família de descendentes de árabes – Cantagalo, Rio de Janeiro 21


Sefarad Universo

IDIOMAS

idioma principal era o iorubá. Já em 1860, iniciou-se a entrada de libaneses e sírios no Brasil pelas cidades fronteiriças do Rio Grande do Sul. A partir daí houve um aumento gradual e contínuo destes imigrantes por todo o país, com um fluxo significativo a partir de 1880, motivado pelo êxodo dos árabes cristãos da Palestina e regiões vizinhas, oprimidos pelo Império Otomano (12991922) que os dominava e tentava lhes impor o islamismo e o idioma turco. A partir de 1948 o país recebeu levas de judeus egípcios, iraquianos, sírios e libaneses, expulsos de seus respectivos países como retaliação pela criação do Estado de Israel e de árabes palestinos dispersos devido a Guerra árabe-israelense neste mesmo ano. Todos estes falavam o árabe como língua materna. Já os últimos fluxos migratórios ocorreram em consequência da Guerra Civil no Líbano (1975-1990) e da atual Guerra Civil Síria, iniciada em 2011, além de conflitos em países africanos, com refugiados que falam árabe. Em geral, os imigrantes árabes começa-

Mascates de Bicicleta – (Coleção Brasil – Líbano, De Roberto Khatlab)

Vendedor ambulante árabe – anos 40

ram e fizeram fama como mascates, evoluindo para o comércio varejista e atacado, concentrando-se em São Paulo e nas regiões Sul e Oeste do país, deixando como legado além das famosas iguarias, geração de empregos com seus comércios crescentes, a arte da negociação e o valor à família. Enfim, sua maior riqueza também está em nós. Pelo árabe que convive com a língua portuguesa desde a Eu22 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018


INIMIGA, SÓ QUE NÃO Por Michel (Dana) Gherman

Mascate árabe – Foto de Marc Ferrez

Em casa a língua primeira era aquela. As comidas, a visita da avó, as músicas, era tudo naquela língua. O cansaço (taban), a fome (joan), a imposição de mais comida (ma bidak?), Eram todas questões ditas naquela língua. Se me perguntassem qual a língua judaica, eu diria que era a língua de casa. Um dia um amigo veio visitar e viu minha mãe conversando com minha vó na língua do "inimigo". Pediu para a mãe buscá-lo na minha casa. Não entendi nada, o árabe era a língua da minha avó. Ela era inimiga?

ropa com os portugueses e que acrescentou ao nosso vocabulário mais de seiscentas palavras, enriquecendo ainda mais nossa língua. Portanto, procura seu Salim que a conversa vai ser boa, mas por favor: gasta nu lojinha e não o chame de turco, é libanês! Libanês!

Bibliografía: PROCHÁZKA, S. “Arabic”. Encyclopedia of Language and Linguistics 2ª ed. 2006 VERSTEEGH, Kees The Arabic Language: Edinburgh University Press.1997 DURAND, O., Introduzione ai dialetti arabi, Centro Studi Camito-Semitici, Milão. 1995

NOVINSKY, A. Ibéria judaica: roteiros da memória, EDUSP, São Paulo. 1996 WOLFF, Egon e Frieda, Sepulturas de Israelitas III: As Mishpakhot de Belém Rio de Janeiro: IHGB, 1987 pág.10 HELLER,, R, J., Los Nuestros - Os marroquinos na Amazônia http://www.morasha.com.br/brasil/ los-nuestros-os-marroquinos-na-amazonia. html acesso em:01/0818

________________________ * Pesquisador e bacharel em Relações Internacionais

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HISTÓRIA

A Comunidade Judaico Marroquina na Argentina:

PIONEIROS DA

DIÁSPORA SEFARADI

Familia Azzarrad - Zagury

Os primeiros judeus sefaraditas que imigraram para a Argentina provinham do Marrocos. Este grupo, que começou a instalar-se naquele país durante as últimas três décadas do século XIX, foi chegando em pequenos fluxos até 1930. Posteriormente, durante a década de 1960, chegou também uma pequena corrente de imigrantes, vinculada a problemas políticos na sua terra natal. Por Diana Epstein* (Fonte: “Estampas de Buenos Aires”)

24 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018


P

aralelo a estes dois grupos imigratórios, senvolveu uma modalidade particular do judeo chegou um grupo de professores enviados español denominada haquetía que seguiram utiao país com uma clara “missão”: ensinar lizando entre eles, como uma forma familiar de os filhos de imigrantes judeus instalados em comunicação. A Aliança desenvolveu com eles sólidas relacolônias do interior do país. Estes professores chegaram entre 1892 e 1918, de maneira que, ções sociais primárias. No âmbito da criação temporariamente, se superpuseram com o destas redes sociais, impulsionava-os a emiprimeiro grupo. De dimensões reduzidas, a grar. Assim, estimularam a chegada de novos chegada dos docentes marroquinos esteve imigrantes norte-africanos à Argentina. vinculada com uma intercedência realizada pela Em relação as pautas matrimoniais seguidas Jewish Colonization Associaton junto junto à por este grupo, uma análise das Actas MatrimoAliança Israelita Universal para que auxiliassem niales consultadas no Archivo del Registro Civil na “missão” de ensinar castelhano aos filhos de la Ciudad de Buenos Aires, demonstra um dos primeiros colonos provenientes da Europa comportamento altamente endogâmico entre Central e Oriental, nas escolas criadas nas seus imigrantes. O estudo foi realizado somente para a cidade de Buenos Aires(6). colônias do interior(1) Este trabalho tem por objetivo analisar, breSegundo relatam entrevistados, este comporvemente, as características do primeiro fluxo tamento endogâmico se estendeu até meados migratório, destacando suas peculiaridades e o do século XX. grau de interação com a sociedade local. Quanto à sua distribuição espacial, alguns opEm comparação com os demais grupos sefaraditas, a imigração marroquina foi a mais reduzida. Se calcula que até 1930, chegaram somente várias centenas de famílias. A causa desta migração estava vinculada com a profunda crise econômica e social que sofreu o Marrocos em meados do século XIX. Sendo assim, foi a procura de melhores oportunidades econômicas, que os atraiu ao país(2). Chegaram do norte do Marrocos, especialmente de Tetuan e Tânger e portanto, sua língua era o espanhol. Joseph Bengio assinala que este fato favoreceu sua rápida integraPrimeiro cemitério judeu do páis ção ao país, reforçada por seu nível cultural(3), já que muitos deles haviam sido alu- taram por permanecer em Buenos Aires, espenos das escolas da Aliança Israelita Universal(4). cialmente no sul, nos arredores dos bairros de Assim, “toda a corrente imigratória para a Ar- San Telmo, Concepción e Monserrat, outros se gentina passou pelo sistema educativo da dispersaram e se dirigiram para centros urbaAliança”(5). No entanto, na África do Norte se de- nos do interior do país. 25


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HISTÓRIA

Quanto à sua atividade profissional, no princípio a venda ambulante era a principal ocupação, posteriormente, muitos deles puderam abrir lojas de varejo, comércios de atacado e finalmente algumas indústrias(7). Um grande percentual da segunda geração se dedico as profissões liberais. Neste contexto, lograram inserir-se positivamente no aspecto econômico. Esta situação facilitou sua rápida integração dentro da sociedade local, favorecidos por seu idioma e seus sobrenomes que na Argentina os ocultava como judeus. Assim, do ponto de vista econômico e social, um grupo foi incorporando-se à classe média ou classe média alta. Destas famílias surgirá uma elite que impulsionará a criação de suas associações. De modo que logo se associaram com o objetivo de ajudarem-se mutuamente e para gerar estruturas de ajuda e assistência. Em 1920 já haviam fundado todas suas instituições comunitárias: o clube Alianza, seu próprio cemitério, que foi o primeiro cemitério judeu do país, localizado na região de Avellaneda e o Templo da rua Piedras, organizações que, a princípio funcionaram de maneira independente. No aspecto cultural, a comunidade marroquina se destacou por haver fundado na Argentina o primeiro jornal em espanhol dirigido por judeus sefaraditas. Em 1917, Samuel de A. Levy e Jacob Levy, irmãos de origem marroquina, editaram “Israel”, que foi publicado até a década de 1970. Em 1860, quando começou a chegar à Argentina esta população judaica do norte da África, o grupo havia tentado recriar um ambiente que compensasse suas necessidades religiosas essenciais. Os mais praticantes, tiveram que se adaptar a situações desconhecidas e criar instituições similares às de suas cidades de origem, que lhes permitissem cumprir suas práticas religiosas. Porém, apesar de que os pioneiros eram mui26 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Sinagoga marroquina - San Telmo

to observantes e tentaram preservar suas tradições, tanto religiosas como sociais e econômicas, este grupo, de fala hispana, proveniente de um país árabe, experimentou uma rápida integração ao meio e seus primeiros descendentes argentinos foram mais flexíveis no aspecto religioso. Muitos deles abriam seus comércios aos sábados, descuidavam-se de algumas festas religiosas e não cumpriam estritamente com as prescrições dietéticas (kashrut)(8). Esta moderada observância vai diferenciando-os do resto das comunidades sefaraditas, principalmente as sírias, de fala árabe, que iam chegando ao país(9). No âmbito educacional, a comunidade marroquina não logrou instalar uma escola confessional duradoura, nem tampouco uma escola integral. A pesar do empenho para erguer estabele-


cimentos educativos, as tentativas fracassaram e seus filhos, em geral, frequentaram a escola pública. Em síntese, neste breve trabalho, tentamos destacar um conjunto de características que facilitaram a integração deste grupo étnico na sociedade local. Entre elas, destacamos o uso do espanhol, a rápida diminuição de suas práticas religiosas, sua inserção favorável no aspecto econômico, a ausência de uma escola e a ida dos filhos para a escola pública, que aprofundou uma maior identificação com a argentinidade. A pesar destas circunstâncias, a criação de suas associações comunitárias logrou coesão desta comunidade e lhes brindou, durante anos, sentido de identidade e pertinência. Porém, esta afinidade foi lentamente mudando e na atualidade a comunidade sofre uma forte dispersão. Porém, essa é outra história.

Notas 1) DIANA EPSTEIN, Maestros Marroquíes. Estrategia educativa e integración, 1892-1929 en Anuario IEHS 12, Universidad Nacional del Centro de la Pcia. De Buenos Aires, Tandil, 1997. 2) Sobre a comunidade marroquina na Argentina e suas instituições ver MARGALIT BEJARANO Los Sefaradíes en la Argentina: Particularismo étnico frente a tendencias de unificación en “Revista Rumbos”, 17-18. Também VICTOR A. MIRELMAN, En Búsqueda de una identidad, Ed. Mila, Buenos Aires, 1988, Presencia Sefaradí en la Argentina, Centro Educativo Sefaradí, Buenos Aires, 1992; JOSEPH BENGIO, Les juifs marocains en Argentine en “Mosaiques de Notre Memoire. Les Judeo Espagnols du Maroc, comp.Sarah Leibovici, Centre d`´etudes Don Isaac Abravanel UISF, París,1982. DIANA EPSTEIN, Aspectos Generales de la inmigración judeo-marroqui a la Argentina, 18751930 en Temas de Africa y Asia 2, Seccion de Estudios de Asia y Africa, Facultad de Filosofia y Letras, UBA, 1993. 3) JOSEPH BENGIO, Juifs marocains et autres

communautés sefarades en Argentine em “Yol, Revue de Etudes Modernes et Contemporaines Hébraïques e Juives” V. fasc.2, París, 1980. Aponta que o nível de educação os diferenciava de muitos imigrantes do campo, espanhóis e italianos, que haviam chegado no país, em geral analfabetos. 4) Instituição beneficente fundada em Paris em 1860, cujo objetivo era alcançar o progresso da população judaica por meio da educação, em seus lugares de origem. Para isso promoveu a criação de uma rede de escolas que divulgaram a instrução europeia. A primeira escola da Alliance foi fundada em Tetuan. 5) Fonte: Un Orgullo de cien años, publicación de ACILBA, dedicado a centenário da comunidade judeu marroquina na Argentina, p.6 6) Ver DIANA EPSTEIN, Los judeo marroquíes en Buenos Aires: pautas matrimoniales. 1875-1910 en “Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe,” E.I.A.L., Vol .6-Nº1, Escuela de Historia, Universidad de Tel Aviv, 1995. 7) JORGE BESTENE descreve uma evolução similar para o grupo de sírio-libaneses. Formas de Asociacionismo entre los sirios libaneses en Buenos Aires, 1900-1950 en F.Devoto y E.J.Miguez (comp), “Asociacionismo, Trabajo e Identidad étnica”, Buenos Aires, 1992. Ver também JORGE BESTENE, La emigración sirio-libanesa en la Argentina. Una aproximación en “Estudos Migratorios Latinoamericanos, año 3, agosto 1988, Nº9. 8) VICTOR MIRELMAN, En Búsqueda de una identidad. Los inmigrantes judíos en Buenos Aires. 1890-1930, Ed. Milá, Buenos Aires, 1988. 9) SUSANA RODGERS, Los Judios de Alepo en Argentina: Identidad y organización comunitaria (1900-2000), Asociación Israelita Sefardi Argentina, Ediciones Nuevos Tiempos, 2005.

* Socióloga formada pela Universidade de Buenos Aires. Professora de História Social da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA. Autora de “Los marroquíes judíos en la Argentina, 1860-1970“. Editorial Biblos, 2016

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ORIENTE Mร DIO - OSLO

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Os bastidores da paz entre Israel e Palestina Vinte e cinco anos depois dos acordos de Oslo, dois negociadores israelenses rompem o silĂŞncio e revelam os segredos Por Henrique Cymerman Benarroch (Fonte: La Vanguardia) 5:01 8102/90/31a odazi lautcA71:00 8102/90/31

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ORIENTE MEDIO

V

inte e cinco anos depois dos históricos e polêmicos acordos de paz de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), alguns dos protagonistas, que até hoje tinham evitado revelar os segredos da negociação e do duelo em torno da mesa de negociações, decidiram romper o silêncio e contar tudo. Yossi Beilin, impulsionador das negociações secretas com os palestinos, revelou que cinco dias antes do assassinato do general da paz e primeiro ministro trabalhista Yitzhak Rabin, 30 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

chegou num acordo com o dirigente palestino Mahmud Abbas, no qual resolviam “todos os problemas” do conflito. Em um acordo histórico de intercâmbio de territórios, Israel anexaria 4,5% do território palestino (especialmente três grandes blocos de assentamentos judeus na Cisjordânia), e, em troca, ampliaria o território da faixa de Gaza, que incluiria a área de Jalutsa. Uma comissão especial debateria sobre um acordo definitivo para Jerusalém, em que Al Quds (nome da cidade santa em árabe) seria a


capital do Estado palestino. Abbas, que então era o número dois da liderança palestina e substituiu Yasser Arafat em 2004, aceitou então que o novo Estado não teria exército e seria totalmente desmilitarizado.

“Os acordos de segurança foram o assunto mais claro e simples, e não houve nenhuma polêmica em torno deles”, revelou Beilin Em relação aos refugiados palestinos, ambas as partes aceitaram que Israel permitiria seu retorno a território israelense apenas baseado num acordo humanitário ou de reunificação de famílias. “Em 31 de outubro de 1995 encontramos soluções para todos os problemas, e tinha programada uma reunião com o primeiro ministro Rabin de duas horas de duração para o 11 de novembro. Mas foi tarde demais”, contou Beilin. Uma semana depois do assassinato de Rabin pelas mãos do radical judeu Yigal Amir, a reunião de Beilin foi com seu substituto, Shimon Peres, que estava com ele na Praça dos Reis de Israel nos minutos precedentes ao magnicídio e que viu como o assassino passou ao seu lado antes de dirigir-se em direção a Rabin. “Shimon estava totalmente quebrado. Quebrado e traumatizado. Eu disse para ele que tínhamos maioria na opinião pública para aprovar o histórico acordo, mas Peres preferiu ir primeiro a eleições gerais, fez todos os erros políticos possíveis e, um ano depois do assassinato, perdeu frente a Beniamin Netanyahu por 30.000 votos”, relembra o exnegociador.

Esse rascunho de acordo de 1995 foi possível graças ao acontecido dois anos antes, nas negociações secretas de Oslo, que durante nove meses mantiveram as equipes de Beilin e de Abbas. O homem de Rabin nas negociações foi o advogado Israel Zinger, assessor legal que depois do magnicídio se foi aos Estados Unidos e que, recentemente, falou pela primeira vez sobre o assunto ao jornal israelense Haaretz, onde contou o que, em sua opinião, foram os grandes fracassos e as conquistas da negociação. Rabin enviou o advogado para Oslo para que “trouxesse de volta para a terra os arquitetos de uma paz que até então parecia impossível”. Um dia, Beilin, então vice-ministro de Exteriores, o pediu que voltasse para Israel, já que Rabin queria mostrar-lhe um documento ultra-secreto. Tratava-se do conteúdo de todo o pactuado em Oslo: “Achei como uma torta meio crua ainda, e Rabin me pediu que me transladasse a Oslo para falar com os representantes da OLP”. Segundo Zinger, um dos grandes erros foi a negativa israelense de congelar os assentamentos na Cisjordânia, já que nesse momento tinha na área perto de 100.000 colonos israelenses, e hoje são 400.000. “Um dos problemas foi que os acordos de Oslo criaram a dinâmica na qual movimentos israelenses sentiram a necessidade de se assentar rapidamente na Judéia e na Samária (nome bíblico da Cisjordânia), já que em um máximo de cinco anos, segundo o pactuado, as fronteiras se afixariam definitivamente”. Houve propostas de deixar parte dos colonos em território palestino, da mesma forma que uns 20% da população de Israel são cidadãos árabes palestinos. Zinger se opôs, já que segundo seu critério “seria como criar cantões com uma guerra civil eterna”. Em sua opinião, o segundo grande erro foi 31


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ORIENTE MEDIO

entregar imediatamente a responsabilidade da segurança interna à recém criada Autoridade Nacional Palestina (ANP): “Propus para Rabin que nos primeiros anos a segurança ficasse nas mãos de Israel, já que não acreditava que Arafat fosse capaz ou quisesse lutar contra o Hamas e a Jihad Islâmica”. Rabin pensou que era importante que os próprios palestinos lutassem contra o Hamas, mas logo depois se comprovou que não tinham motivação para isso. 32 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

“Pensávamos que Arafat tinha mudado e que lutaria contra os radicais. Mas não”, diz o advogado Zinger


Abbas disse para mim: “Esta é minha cadeira, e aqui vossos serviços de inteligência colocaram um microfone”.

O assassinato de Rabin abortou um acordo com os palestinos sobre fronteiras, Jerusalém e os refugiados

O terceiro grande erro para o advogado enviado a Oslo foi o que ele define como “uma confiança exagerada em Arafat”. E relembra Israel Zinger: “Pensávamos que tinha mudado totalmente, e que lutaria contra os radicais. Mas realmente não fez isso. Uma vez encontrei num quarto de hotel com Arafat, sentado na cama junto com ele e rodeado de altos mandos da OLP, sendo eu o único israelense. Numa outra ocasião, viajei ao então Estado Maior da OLP na Tunísia, e

Segundo Zinger houve três grandes conquistas em Oslo, sobre as quais se fala menos, e que “é importante salvaguardar”: o reconhecimento mútuo sem precedentes entre a OLP e Israel; a abertura de um processo de normalização diplomática entre Israel e o mundo árabe; a implantação dos alicerces de um futuro acordo de paz. “Oslo teve conquistas e teve fracassos, mas não acredito que tenha alternativas. Tem que continuar construindo novos andares neste edifício da paz, depois de que as circunstâncias mudem. Não precisa dar uma martelada desde cima para que tudo caia. Devemos mantê-lo vigente, para manter a discreta cooperação em segurança e continuar avançando”. O homem de Rabin, que manteve um silêncio de 25 anos e que diz estar ainda num estado “pós-traumático” pelo assassinato do seu líder pelas mãos de um judeu, reconhece algo que pode lhe custar fortes críticas no seio do setor mais nacionalista israelense: “Me reuni tantas horas com palestinos da OLP, viajamos para Oslo, Londres, Paris ou Cairo, e descobri que ríamos das mesmas piadas, comemos a mesma comida e fofocamos sobre nossos chefes do mesmo jeito. Em algum momento pensei que, talvez, há 2.000 anos éramos o mesmo povo. E eu me sentia mais em casa com eles que quando estava com norte-americanos e noruegueses”. E finalizou: “Neste momento somos inimigos, mas somos tão parecidos... Talvez alguns israelenses me chamarão de traidor, mas como advogado posso afirmar que entre irmãos, as disputas são as mais terríveis”.

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UNIVERSO CRISTÃO NOVO

Gaspar de Guzmán, O Conde Duque de Olivares, ministro do Rei Felipe IV e grande protetor dos judeus . Pintura a óleo de Diego Velázquez, Museo de Arte, São Paulo, Brasil 36 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018


António Fernandes d’Elvas

Um Mercador Cristão Novo Típico e Singular O personagem que trazemos à luz nesse artigo foi um cristão novo ao mesmo tempo típico e singular. Típico porque incorporou as características que julgamos serem definidoras da identidade dos cristãos novos, em particular no século XVII. Singular, porque foi o maior traficante de escravos do seu tempo e homem de negócios extremamente bem sucedido e bem relacionado Por Ana Hutz

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UNIVERSO CRISTÃO NOVO

A

identidade cristã nova é, sem sombra dúvidas, uma identidade inicialmente imposta de fora da comunidade, pela pressão dos estatutos de “limpeza de sangue” e pela perseguição inquisitorial. Contudo, pela própria necessidade de sobrevivência, não somente física, mas sobretudo social, os cristãos novos acabaram desenvolvendo características que vieram a reforçar uma identidade própria, que os diferenciava dos demais. Os principais traços de identidade que julgamos encontrar nos cristãos novos podem ser sumarizados em mobilidade, flexibilidade, capacidade de negociação e

deses, em franca insurreição e posteriormente guerra, com os Filipes. A tríade: cristãos novos, Coroa espanhola e Inquisição era, portanto, muito complexa e repleta de contradições. Tão logo Filipe II se tornou também rei de Portugal, os cristãos novos tentaram uma aproximação com a Coroa, na tentativa de angariar um Perdão Geral por seus supostos pecados como judaizantes. Esse reinado terminou em 1595 sem que o Perdão fosse concedido, mas outro tipo de aproximação sem dúvida floresceu. Durante esses 15 anos, os cristãos novos mantiveram sua posição em

Mapa ilustrativo da área de atuação dos negócios de António Fernandes D’Elvas

diversificação em suas estratégias de negócio. Durante o período da União Ibérica (1580-1640) em que Portugal e Espanha estiveram unidos sob os Filipe, as contradições inerentes à condição de cristão novo se acirraram sobremaneira. Os cristãos novos eram descendentes de judeus e suspeitos de professar a “heresia” judaica e a Monarquia Católica perseguia com fúria os considerados hereges. Os cristãos novos eram portugueses, portanto considerados estrangeiros e ameaçadores da unidade dessa mesma Monarquia Católica. E, para completar o quadro de tensões, eram muito próximos dos holan38 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

contratos com a Ásia e o Brasil e, ainda mais importante, conseguiram os contratos para o fornecimento de mão de obra escrava africana para as Índias de Castela. Com Filipe III, os cristãos novos se aproximaram ainda mais da Coroa, em particular do valido do rei, o duque de Lema. Depois de sete anos de negociação, finalmente lograram conseguir um Perdão Geral para os cristãos novos em 1605. No campo dos negócios, temos a consoli-


A Sinagoga de Elvas, a maior da Idade Média em Portugal é hoje o Açougue Municipal da cidade

dação e o sucesso dos cristãos novos enquanto traficantes de escravos para a América espanhola e intensos intercâmbios comerciais com o Brasil, em particular em Pernambuco[1]. Esse sucesso, naturalmente, atraiu os olhares da Inquisição, que voltou seus olhos e garras para os cristãos novos nas Américas portuguesa e espanhola. Foi com Filipe IV, contudo, que o grande estreitamento entre cristãos novos e a Coroa espanhola ocorreu, e com isso, também os maiores problemas e perseguições. Sob esse rei os conversos passaram da condição de comerciantes para a condição de financiadores da Coroa. O valido do rei, o Conde Duque de Olivares tinha grande apreço pelos conversos, pois acreditava que os mesmos representavam uma forma de criação de riqueza para a Monarquia hispânica. Como observamos em trabalho anterior, Olivares propôs a concessão “de honras especiais a homens que tivessem servido ao rei em armadas, ou que tivessem dedicado sua vida ao comércio". Além disso, teria procurado modificar os estatutos de “limpeza de sangue” de modo que um histórico de serviços militares ou mercantis pudesse anular uma eventual impureza de sangue e desse acesso a títulos de nobreza. Essas propostas foram duramente rechaçadas pelo Consejo de Castilla.”[2]

Com relação à mudança estratégica na posição dos cristãos novos, essa foi uma resposta de Olivares ao caso monetário em que a Monarquia Hispânica se encontrava. Até o início de o século XVII os banqueiros genoveses eram os responsáveis pelo financiamento da Coroa espanhola, mas com a deterioração da capacidade de pagamento do reino, Olivares enxergou uma oportunidade de substituir esses empréstimos pelos empréstimos de vassalos da Coroa e suspendeu os pagamentos aos genoveses na bancarrota de 1627. Os cristãos novos portugueses, em particular, um consórcio composto por Manuel Rodrigues d’Elvas, Diaz, Duarte Fernandes, Manuel de Paz, Simón Suarez e João Nunes Saraiva seriam os primeiros banqueiros dessa nova fase. A despeito da evidente aproximação comercial entre Portugal e Espanha e o importante papel que os cristãos novos portugueses desempenharam nela, a perseguição inquisitorial não arrefeceu. De fato, o que se nota é que em diversos momentos a fúria Inquisitorial coincide com questões sociais ou políticas que derivavam diretamente das condições impostas 39


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UNIVERSO CRISTÃO NOVO

pela Monarquia Dual. Citaremos aqui dois exemplos: as perseguições na América espanhola, em particular, a Grande Cumplicidade na América espanhola e a onda de perseguições aos conversos em 1650, na Espanha. A Grande Cumplicidade de Lima e de Cartagena ocorreu em 1636 e 1638 respectivamente. No contexto da época, os espanhóis que se estabelecerem na América consideravam que “português” era praticamente sinônimo de “cristão novo” (e judaizante) e havia numerosas recla-

foram basicamente cristãos novos e homens de negócio de médio e alto escalão que pouco tempo antes eram muito bem relacionados com o governo de Filipe IV, muitas vezes atuando como financiadores da endividada Coroa. Nessa onda de perseguições, importantes casas comerciais caíram.[3] Os cristãos novos que conseguiram escapar à sanha inquisitorial, fugiram da Espanha e, muitos deles, se dirigiram a Amsterdam. Um observador contemporâneo, Barrinuevos, cita cerca de duzentas famílias cristãs novas em fuga após o auto de fé de

Quadro de Johann Moritz Rugendas (1802-1858) retratando o interior de um navio negreiro

mações contra esses homens de negócios que paulatinamente foram se tornando os comerciantes mais expoentes nessas cidades. Em ambas as cidades os portugueses foram alvo preferencial da Inquisição. O cunhado e agente de António Fernandes d’Elvas, Francisco Rodrigues Solis, que na época já pertencia à elite financeira local, teve seus bens confiscados e foi preso pela Inquisição de Cartagena. A motivação para sua prisão certamente relaciona-se a sua dupla condição de negociante e cristão novo português. No segundo caso, a perseguição da década de 1650, ela ocorre no contexto da Guerra de Restauração e só após a queda do conde duque de Olivares. Os perseguidos pela Inquisição 40 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Cuenca em 1654.[4] Sabemos que no Antigo Regime o casamento era utilizado como estratégia de fortalecimento família. Essa estratégia foi utilizada largamente pelos cristãos novos, em parte porque isso também permitia que os negócios da família ficassem entre pessoas de confiança. António Fernandes d’Elvas não fugia a essa regra e forjou para si e para seus filhos alianças com famílias de cristãos novos proeminentes no mundo


dos negócios. António casou-se com Elena cunhado, Francisco, foi processado em CartaRodrigues Solis, filha de seu principal parceiro gena enquanto tentava liquidar os negócios do de negócios, Jorge Rodrigues Solis. Entre seus já falecido António. Já com relação aos seus negócios e suas parceiros comerciais, podemos mencionar outros membros da mesma família, como seu estratégias temos farta documentação. O cunhado, Francisco Rodrigues Solis. O casal nome de António Fernandes d’Elvas aparece António e Elena, casou ainda sua filha com pela primeira vez na lista dos distribuidores da Francisco Dias Menes de Brito, de um dos clãs pimenta de seu sogro, Jorge Rodrigues Solis. de cristãos novos mais poderosos, os Mendes Solis era contratador da pimenta e foi com esse de Brito. Por fim, seu filho Jorge Fernandes negócio que sua fortuna foi alavancada. Esse d’Elvas, casou-se com a filha do conselheiro de alvorecer para o mundo dos negócios de Solis a partir da Carreira das Índias e do negócio da Filipe IV, o banqueiro Duarte Gomes Solis. Em sua própria família e também nas famílias com quem António se uniu via matrimônio de seus filhos havia uma série de fidalgos e figuras de destaque no mundo ibérico. Seu avô e homônimo, António Fernandes, o Surdo, obteve foro de fidalgo da Casa Real ainda em 1533. O sogro de António Fernandes d’Elvas, Jorge Rodrigues Solis, foi um dos procuradores a negociar com os ministros e assessores do Duque Entrada da Sinagoga de Elvas de Lerma. Existem poucos registros a respeito da bio- pimenta, se deu ainda com outras sobressalente grafia de António Fernandes d’Elvas. Além de famílias de cristãos novos, como os Ximenes seu casamento e do casamento de seus filhos, d’Aragão, Gomes d’Elvas, Mendes de Brito, sabe-se que teria falecido de uma doença infec- Coronel, Rodrigues d’Évora e Veiga, Caldeira. [5] ciosa em 1623. Não existem registros nem de Poucos anos depois e, acompanhando os ritmos que António teria sido processado pela Inqui- maiores do mercado global, temos o ápice dos sição e nem considerado judaizante. Sua famí- negócios de António Fernandes d’Elvas. Ele viria lia, contudo, não teve a mesma sorte. Tanto os a se tornar o maior traficante de escravos do Mendes de Brito foram processados em dife- seu tempo. Sob sua responsabilidade ficavam rentes momentos em Madrid, como seu próprio a captura, o transporte e a comercialização 41


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UNIVERSO CRISTÃO NOVO

de africanos trabalharem como escravos nas colônias espanholas e portuguesas. Embora a maioria dos traficantes de escravos fossem portugueses e, ainda que fosse proibido aos estrangeiros comercializarem com as Índias de Castela, a superioridade dos portugueses nesse negócios fez com que eles fossem os grandes monopolistas no tráfico de escravos para as Américas espanhola e portuguesa entre o final do século XVI e a primeira metade do século XVII. Poucos anos após o estabelecimento da União das Coroas, os cristãos novos passariam a

Um Tribunal da Inquisição

deter tanto os contratos de asiento com a Coroa espanhola, como as licenças que decorriam desses contratos. Muitos conversos estavam ainda envolvidos no transporte dos escravos e na revenda local dos escravos. O sucesso de Elvas deveu-se, sobretudo, ao fato de que ele possuía tanto o direito de navegar escravos para as Índias de Castela, como também o direito de comprar os escravos nas feitorias africanas. Elvas foi o primeiro contratador a arrematar simultaneamente os contratos de Guiné e Angola. Deteve o primeiro contrato entre 1615 e 1623 e o segundo entre 1616 e 1623. Tentara ainda adquirir o contrato das Ilhas de São Tomé utilizado para isso o nome 42 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

de seu sogro, mas a Junta de Fazendo percebeu que a tentativa de monopólio.[6] O contrato para fornecer escravos às Índias de Castela é de 1615 e 1623 e, nessa mesma época, Elvas era o responsável por enviar escravos ao Brasil.[7] O asiento de António Fernandes d’Elvas foi extremamente bem sucedido do ponto de vista dos escravos entregues nas Índias de Castela. Junto com os escravos comercializados legalmente, porém, muitos outros escravos embarcariam ilegalmente e, a despeito da vigilância das autoridades castelhanas, o controle se tornou cada vez mais difícil. O sucesso de Elvas também incomodou outros comerciantes de modo que seu contrato foi declarado falido em 1622. Contra ele pairavam acusações pesadas de contrabando. Nessa mesma época, porém, Elvas faleceu e sua mulher passou a ser a responsável por administrar seus negócios, contando para isso com a ajuda de seu irmão, Francisco Rodrigues Solis, que foi a Cartagena e deu continuidade aos negócios até ser preso pela Grande Cumplicidade em 1638. O papel singular e de grande destaque que António Fernandes d’Elvas obteve no mundo dos negócios, é exemplar da situação geral dos cristãos novos portugueses. Os conversos foram um grupo fundamental na execução do capitalismo comercial, atuando na compra e venda de mercadorias em escala global (pimenta, escravos e muitas outras mercadorias); na navegação, carregamento e recepção de navios, na negociação de dívidas; no empréstimo


de dinheiro a particulares e à Coroa; entre outras atividades. Eram extremamente ativos comercialmente e viajavam o mundo em busca de diversificação e de novas oportunidades de negócios. As famílias cristãs novas, contudo, viviam na dupla condição de serem agentes fundamentais do capitalismo comercial e ao mesmo tempo perseguidos socialmente pela Inquisição e pelos estatutos de “limpeza de sangue”.Fundamentais por um lado. Suspeitos por serem portugueses e cristãos novos, por outro. António Fernandes d’Elvas e sua família fizeram fortuna na pimenta e no tráfico de escravos. Alguns membros da família chegaram a financiar e aconselhar Filipe IV. Outros eram donos de morgadios e pertenciam à Santa Casa de Misericórdia. Ainda assim, Elvas foi acusado de ser contrabandista e membros de sua família foram processados pela Inquisição e tiveram seus bens confiscados e suas redes comerciais devastadas. Demonstram, portanto, que, a despeito de qualquer poder econômico que os cristãos novos pudessem alcançar, não estariam, por um bom tempo, seguros nas sociedades ibéricas do Antigo Regime.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ASSIS, Angelo Adriano Faria de, João Nunes, um rabi escatológico na Nova Lusitânia : sociedade colonial e Inquisição no nordeste quinhentista. São Paulo: Alameda, 2011. BOYAJIAN, James C., Portuguese trade in Asia under the Habsburgs, 1580-1640. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1993. HUTZ, Ana, Homens de Nação e de Negócio: redes comerciais no Mundo Ibérico - (15801640). Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014.

KAMEN, Henry Arthur Francis, The Spanish Inquisition : a historical revision. New Haven, Conn. ; London: Yale University Press, 1998. LÓPEZ BELINCHÓN, Bernardo, Honra, libertad y hacienda : hombres de negocios y judíos sefardíes. Alcalá de Henares, Espanha: Instituto Internacional de Estudios Sefardíes y Andalusíes, Universidad de Alcalá, 2001. MELLO, José Antônio Gonsalves de, Gente da nação : cristãos-novos e judeus em Pernambuco, 1542-1654. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1996. ________________ [1] O clássico Gente de Nação é uma referência nesse sentido. José Antônio Gonsalves de MELLO, Gente da nação : cristãos-novos e judeus em Pernambuco, 1542-1654. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1996. Ângelo Assim estudou um proeminente cristão novo que iniciou seus negócios no Brasil, João Nunes Correa. Angelo Adriano Faria de ASSIS, João Nunes, um rabi escatológico na Nova Lusitânia : sociedade colonial e Inquisição no nordeste quinhentista. São Paulo: Alameda, 2011. [2] Ana HUTZ, Homens de Nação e de Negócio: redes comerciais no Mundo Ibérico - (1580-1640). [3] Ver como exemplo o importante trabalho de Belinchón a respeito da família Montesínos. Bernardo LÓPEZ BELINCHÓN, Honra, libertad y hacienda: hombres de negocios y judíos sefardíes. Alcalá de Henares, Espanha: Instituto Internacional de Estudios Sefardíes y Andalusíes, Universidad de Alcalá, 2001. [4] “No one trusts the Portuguese financiares any more. They are going bankrupt and fleeing from the Inquisitions. I have been assured that after the auto at Cuenca over two hundred families took to flight during the night. This is what fear can do”Henry Arthur Francis KAMEN, The Spanish Inquisition : a historical revision. New Haven, Conn. ; London: Yale University Press, 1998, pp. 293. [5] James C. BOYAJIAN, Portuguese trade in Asia under the Habsburgs, 1580-1640. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1993, pp. 2-9. [6] AGS - Secretarias provinciales - Portugal - libro 1516 - fl 159v - 160 - Ano de 1618. [7] AGS - Secretarias provinciales - Portugal - libro 1516 - fl 4 - Ano de 1618. 43


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CONSELHO SEFARADI DO BRASIL: UMA HISTÓRIA DE SUCESSO

Logo do Confarad, by Daniel Azulay

Os participantes da reunião de fundação do Conselho Sefaradi do Brasil, naquele 08 de maio de 2000, na cidade do Rio de Janeiro, no escritório do saudoso Alberto Nasser z’l podem se orgulhar do que se tornou a entidade que criaram naquele dia

CONFARAD:

COMO TUDO COMEÇOU No final de novembro de 1999, o Programa de Estudos Judaicos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) realizou seu Segundo Encontro Brasileiro POR NELSON MENDA (Fonte: eSefarad)

P

or sugestão, na realidade quase uma imposição, da Professora Rachel Mizrahi, da Universidade de São Paulo (USP), eu já andava atolado até o pescoço realizando minuciosa pesquisa sobre a coletividade sefaradi do Rio Grande do Sul, de onde minha família é originária. Era um trabalho de formiguinha, que exigiu mais de uma ida a Porto Alegre para consultar os arquivos do Instituto Marc Chagall e a leitura do Livro de Atas do Centro Hebraico Riograndense, que se orgulha em ser a única Sinagoga Sefaradi

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do Sul do Brasil. Por sorte, tanto os arquivos do Marc Chagall, por sinal uma instituição modelar, quanto o Livro de Atas do Kal, como chamamos, carinhosamente, nossa Sinagoga, registravam entrevistas e informações preciosas sobre os primórdios da presença sefaradi no Rio Grande do Sul. Muito me auxiliaram, também, as pesquisas realizadas por meu tio Aron Menda, Z”l e o escritor, colega e amigo Moysés Eizirik, Z”l. O Livro de Atas do Centro Hebraico, cujas páginas iniciais mesclavam o português com


Foram muitos os homens e mulheres que, ao longo destes 18 anos, estiveram e ainda estão empenhados na preservação daquela magnífica ideia que hoje é uma potente e vibrante entidade. Devemos reverenciar a todos, mas há um deles que merece uma homenagem especial: Nelson Menda, idealizador, mentor, executor e grande entusiasta deste projeto ora realidade, que deixou e segue deixando sua marca na história do judaísmo brasileiro e mundial. Para lembrá-lo uma vez mais (e nunca o bastante), apresentamos um artigo por ele escrito e publicado no site eSefarad, de Buenos Aires.

UERJ. Para minha surpresa, descobri que não existia tal mesa. Surpresa que deu lugar ao espanto, pois nunca tinha havido uma mesa, em ocasiões anteriores, com trabalhos que enfocassem, especificamente, a coletividade judaica de origem mediterrânea. Ou seja, a cultura e a tradição dos judeus de origem ibérica e oriental, por sinal riquíssima, estava confinada aos ambientes de oração. Não adiantava constituirmos praticamente a metade das congregações do Rio e de São Paulo e a maioria absoluta das de Manaus e Belém.

Centro Hebraico Riograndense

o ladino, encontrava-se em bom estado de conservação e registrava todas as Assembléias da coletividade, inclusive as que precederam à própria fundação da Sinagoga, em 8 de outubro de 1922. Concluída a pesquisa e redigido o texto, era preciso inscrevê-lo, obviamente, em uma das mesas sobre temas sefaradis do evento da

Enquanto não divulgássemos nossa existência para o restante da coletividade judaica e a própria sociedade maior, só existiríamos, do ponto de vista prático, para nós mesmos. E isso não era o bastante em uma sociedade que se vangloriava de estar vivendo a era do conhecimento e assistindo, meio sem entender direito, aos primórdios da revolução provocada pela Internet. Solicitei à organização daquele encontro a realização de uma mesa dedicada à temática sefaradi – e fui atendido. A ela 45


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Documento histórico: Ata de fundação do Conselho Sefaradi – CONFARAD – 08 de maio de 2000 – Rio de Janeiro

Alberto Nasser z”l, Luiz Benyosef, Rachel Miazrahi

compareceram, a bem da verdade, meia dúzia de gatos pingados. Mas gatos importantes e com intensa atividade comunitária. Face à relevância da presença sefaradi na história do povo judeu e a quase total ausência de trabalhos acadêmicos sobre o tema, à época, cheguei à conclusão de que estava mais do que na hora de realizarmos um Congresso Sefaradi. Diane Kuperman, a quem fui apresentado na ocasião, dinâmica ativista comunitária, me procurou após a palestra e disse que a sugestão era oportuna. Para viabilizá-la, segundo ela, era preciso conquistar o apoio de uma importante liderança comunitária, a do Sr. Alberto Nasser. Se conseguíssemos convencê-lo, transformaríamos em realidade o que, até então, parecia um sonho distante. Nasser abraçou a ideia desde a 46 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

primeira hora e começou a organizar reuniões-almoço em seu escritório do Edifício de Paoli, no centro do Rio, para as quais eram convidadas lideranças das diferentes entidades sefaradis da cidade, juntamente com seus rabinos. Estava formado, a partir daquele momento, o Conselho Sefaradi (na atualidade, presidido pelo líder comunitário Samuel Benoliel). Nossa proposta seria a de aproveitar o modelo dos congressos médicos, a que assistia com


Esse Primeiro Confarad foi realizado em novembro de 2000 no Atlântica Business Center, que acabara de ser inaugurado e que recebeu, além de amplo destaque no noticiário da grande mídia, numeroso e selecionado público.

Nelson Menda (centro), grande mentor da criação do CONFARAD, com Leila Velger e Moisés Balassiano

regularidade, para montarmos um programa que reunisse em um mesmo evento mesas de temas livres, fóruns com assuntos específicos sobre a cultura e a tradição sefaradis e palestras a cargo de nomes de prestígio da coletividade. Começamos, então, a organizar a programação do Primeiro Congresso Sefaradi do Brasil, que recebeu o sugestivo nome de Confarad.

E não era para menos. Jairo Fridlin, da Editora Sefer, de São Paulo, praticamente transferiu para o Rio o acervo completo de sua livraria. Do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, acompanhada pela Arqueóloga Rhoneds Perez, veio a Torá mais antiga do mundo. Tinha pertencido ao Imperador Pedro II e foi exposta ao lado de outras relíquias da cultura judaicosefaradi. Da Espanha chegou o músico e cantor Paco Díez, especialista no cancioneiro medieval sefaradi em ladino. A Professora Anita Novinsky, da USP, trouxe de São Paulo um time completo de pesquisadores acadêmicos, que encantou o público com sua erudição e cultura. Ficamos sabendo, na ocasião, que o Brasil havia sido descoberto e povoado por cristãos-novos, muitos dos quais tinham mantido secretamente e por razões de sobrevivência, sua condição judaica. Contamos, nesse Primeiro Confarad, com a realização do Primeiro Fórum de Rabinos Sefaradis, com grande afluência de público. O primeiro Confarad, logo seguido pelo segundo, realizado na cidade de São Paulo, serviu tanto para resgatar a tradição dos judeus de origem mediterrânea quanto aproximar pessoas e entidades.

VII Confarad – Rio 47


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O CONFARAD NA ATUALIDADE Após 18 anos de sua fundação, o Confarad acaba de realizar, de 20 a 22 de outubro passado, com o mesmo sucesso dos doze eventos anteriores, o XIII Confarad, com jantar de abertura na esnoga Edmond J. Safra, em Ipanema. O evento abrangeu palestras, encontros e apresentações culturais no Hotel Pestana Rio Atlântica, no Rio de Janeiro. Vida longa à preservação da cultura sefaradi no Brasil! Vida longa ao Confarad!

O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, homenagem Orgulho Sefaradi, acende a vela da cerimônia de Avdalá

Da esquerda para a direita: Elias Salgado e Renato Athias, diretores da Editora Talu Cultural

O editor e historiador Paulo Geiger, apresenta palestra sobre o tema: A nova Lei Básica do Estado de Israel

Elias Salgado, Editora Talu Cultural e Jacques Levy, presidente do Instituto Histórico Israelita Mineiro

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AINDA SOBRE O XIII CONFARAD: CECÍLIA A ESTRELA MAIOR DO EVENTO Por Elias Salgado

Que o evento tem sua importância, não se discute. A razão maior é uma só: ele centraliza e potencializa todos os esforços que são feitos no Brasil objetivando o resgate e a preservação da cultura, da história e da tradição judaico-sefaradita. Ter participado de sua criação é um dos marcos de minha trajetória. Com altos e baixos, o evento tem trazido alguns gigantes dos estudos e pesquisas deste segmento étnico judaico. Este ano, em minha humilde opinião, os destaques vão para: Paulo Geiger, Henrique Samet e Monique Sochaczewski Goldfeld. Porém o prêmio de honra vai para a professora Cecília Fonseca da Silva. Professora de espanhol por formação e prática, ela me contou que descobriu, com imensa surpresa, a existência dos idiomas judaico-sefaraditas e mergulhou fundo no estudo do tema. Sua apresentação no XIII CONFARAD foi um marco e fechou o evento com chave de ouro. Ela discorreu sobre o tópico “Do castelhano ao ladino: Uma viagem mágica através do tempo” conduzindo o público magistralmente através de uma viagem rica, agradável e inovadora. Sua apresentação foi realizada em parceria com o Coral Angeles y Malahines, sob a batuta do maestro José Behar. Cecília baseou suas análises linguísticas em letras de coplas e romansas medievais e, para a surpresa do público, também em

canções atuais. A cada letra analisada, uma apresentação irretocável do coral. Cecília trouxe seu livro Caminhos de Sefarad - uma língua e sua história para o evento e teve todos os exemplares vendidos. Por isto, inúmeros participantes ficaram sem seu exemplar. A Talu Cultural, visando apoiar a divulgação e a venda do livro, colocou seus serviços de promoção a serviço da querida Cecília e sua preciosa obra: Os interessados devem contatar Cecília Fonseca da Silva pelo e-mail: ceciliafonsecadasilva@gmail.com ou a Talu Cultural: edicoestalu@gmail.com

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LITERATURA

Uma ideia Interessante

Uma ideia interessante. Um livro quase no formato de um smartphone, com textos curtos, agradáveis, fáceis de ler. Não é o que a nova geração gosta? Pois aí está! Um livro de bolso. Ou de bolsa. Fácil de guardar. Dá pra ler em pé, no metrô. Eu experimentei Cristina Konder. Colunista de Literatura / Especial Para Universo Sefarad

É

a nova coleção Postagens Sagazes, da Editora Talu Cultural. A proposta dos Editores é “organizar e publicar os melhores posts de autores da Internet”.

A temática será diferente, “uma seleção variada entre aqueles que entendemos ser os melhores representantes desta nova linguagem, deste novo tipo de escrita e desta nova plataforma de comunicação e leitura”. E a coleção começa muito bem. Nada mais sagaz do que o livro Certas Certezas e muitas Incertezas, do Michel Gherman. Michel Gherman é historiador, professor e coor50 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

denador do NIEJ – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes do IFCS/UFRJ. É também um dos mais conceituados intelectuais do meio acadêmico e da comunidade judaica. Um combativo sionista-humanista e progressista. Seu conhecimento é grande e profundo. Os temas sobre os quais escreve ou que explica o tornariam um acadêmico clássico. A profundidade de seus conhecimentos o tornaria também um intelectual clássico. Mas estes rótulos não se ajustam a ele porque a forma e a linguagem que usa são simples e acessíveis. Ele quer que entendam suas ideias, sua maneira de pensar e de lutar. Ele quer convencer e não apenas vencer


as discussões. São poucos os intelectuais que trabalham dessa maneira. Em geral, vaidade e insegurança com relação a seu conhecimento não permitem que ajam de maneira simples. Parecem achar que não “dando moleza” a seus leitores estão se valorizando. Neste livro, você vai entender a que me refiro. Você vai se emocionar com textos como “Chorando por crianças mortas”, “Acabei de falar com um ex-aluno meu”. Vai aprender com “Eu entendo” e se emocionar com a poesia da descrição da cidade de Jerusalém, no texto “Um gosto de sol, ou: chorando por Har Hadar”. Você vai aprender sobre a empatia no texto a respeito de Chico Buarque; sobre médicos bem e médicos do mal em “Os médicos e monstros”; você vai perceber que se vive limite como judeu ou palestino em Israel, texto “O dia em que fui palestino”.

sobrevivente de um campo de concentração que impede um grandalhão de bater num menino negro. Você reconhece a solidariedade dos mais pobres na defesa do amigo no belo texto “Judeus e a intolerância religiosa”. E toma conhecimento dos mendigos/profetas que existem em Israel no post “Os mendigos de Jerusalém”. O irracional convivendo com o racional, como dois irmãos... E mergulhamos na poesia de Jerusalém no inspirado “06/12/2017: Dia em que Donald Trump declara Jerusalém capital de Israel”.

do os no no

Você aprenderá muito sobre antissemitismo em “Eu sei que é textão, mas tenta ler”, e em “Os novos antissemitas”; e sobre maledicência, em “Lashon hara”.

“Sobre Fanáticos” nos mostra que existem louquinhos em toda parte. E que o Brasil não é uma exceção. O livro do Michel Gherman é uma viagem por lugares, pessoas, acontecimentos e modo de pensar ou de agir. Embarque em Certas Certezas e muitas Incertezas. Você vai gostar. Com certeza!

Em “Acabei de ver” você se emociona com o 51


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CRÔNICA

Uma Segulá* para toda a vida Finalmente, após cerca de18 anos, Luna veio acender a “sua” chanukiá**. a “ Chanukiá da Lua Viva”. Esta é a tradução para o português, do nome hebraico de Luna: Levana Chaia Por Elias Salgado

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T

al chanukiá, minha caçulinha fez de presente para o papai na escola, ainda no infantil, quando tinha cerca de 5 anos. Sua base é um azulejo pintado por ela. Os lugares de colocação das 8 velas e do shamash*** são minipotinhos feitos de massinha, tão pequeninos que só cabem neles, velinhas de aniversário. Por todos estes anos eu a guardei e cuidei com mais afinco do que guardaram muitos sefaraditas, a chave de suas casas, ao serem expulsos de seus lares em Espanha e em vários outros lugares da enorme diáspora formada após 1492. Creio que a comparação é realmente pertinente: guardar a chanukiá de Luna é para mim como preservar algo interrompido no passado, eternizá-lo e levar comigo vida afora. Jamais me ocorreu possuir uma outra chanukiá. Todos os anos em Chanuká, eu acendo as suas 8 velinhas, cada uma de uma cor. Pois, assim como multicolorida é a chanukiá de minha Lua Viva, também é toda de luzes e festa, esta eterna reinauguração em mim. eter

Foi um inicio de noite encantador. Comentei isso com Mariza. Aliás, ver as duas juntas é bálsamo para o coração: se abraçam longamente e conversam como duas velhas amigas. Pensei comigo: “é, realmente, a vida é uma eterna construção e cada um de nós pode tocar sua obra como bem quer. O segredo para construir uma sólida e aprazível morada é saber equilibrar tempo e paciência com uma boa dose de persistência". No dia seguinte, esbarrei na internet com uma lista de segulot**** de Chanuká. Uma delas dizia que era super importante, após acender as velas, permanecer próximo a chanukiá, falar sobre coisas interessantes e agradáveis. Evitar conversas e situações estressantes... Tive, então, a nítida sensação de que tal segulá foi pensada para o meu encontro tão alentado com Luna.

Este ano, como faço anualmente, convidei Luna para acender sua chanukiá. Por diversas razões da rotina, este dia foi adiado por tantos anos. Mas finalmente aconteceu. Ela veio acender a primeira vela.

* Remédio ou proteção espiritual ** Candelabro de oito braços que se acende na festa judaica de Chanuká *** Auxiliar ou servidor. É a nona vela da chanukiá e serve para acender as oito velas da festa. **** Plural de segulá

Ou mais ainda, que é ela, esta Lua Viva, a minha eterna segulá. ________________________

Empolgadíssimo em receber sua visita, preparei para ela com carinho, um pavê de cupuaçu, minha nova especialidade. Ela chegou radiante como sempre. Cansada, mas linda, doce e firme, como só ela sabe ser. 53


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DO NOSSO LEITOR

Parabéns por esta magnífica revista! Maravilhosa! Extraordinária! PhD Regina Igel – Maryland University USA

Obrigada, Elias! Ficou linda! Deu vontade de ler no papel... Samira Feldman Marzochi – São Paulo,SP

Prezado Elias, Eu gostei muito de saber que teremos uma revista dirigida a comunidade Sefarad do Brasil. Parabéns, espero que a publicação seja um sucesso. Cordialmente Isaac Jamil Sayeg – São Paulo, SP

Linda a revista, Kol Hakavod e longa vida! Rabino Uri Lam – Belo Horizonte, MG

Conheço Elias Salgado virtualmente há tempos e pessoalmente há poucos meses, e sou muito fã dele. Descendente de judeus sefaradim marroquinos que foram para a Amazônia, vem se dedicando a publicações a respeito, como a revista “Universo Sefarad”. Contribuí no número recente com textinho sobre os judeus otomanos e o Brasil, e desejo largo sucesso à suas empreitadas. E para os que já estão inscritos no walking tour “Rio Judaico”, no próximo sábado, fica já essa dica de leitura prévia. Monique Sochaczewski Goldfeld – Rio de Janeiro, RJ

Muito bom! Parabéns por tantas realizações.

Sharon Den Adel olha que maravilha!! Raquel Garson Eu quero! E se quiser uma correspondente internacional diretamente da Inglaterra , estamos aqui! Cecilia Keuffer Sterk - Londre, Inglaterra Oi Elias, Gostei muito da revista. Tem leveza, boa estética e os artigos pelos títulos parecem ótimos. Monica Grin -PhD . UFRJ/ Coordenadora do NIEJ – Rio de Janeiro, RJ

Rafaela Fachetti – Petrópolis - RJ Espetacular a abordagem das revistas. Andre Levy 54 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018


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PELO NOSSO PORTAL

Boa tarde, preciso de uma informação urgente para um artigo que estou elaborando: os primeiros judeus marroquinos que chegaram na Amazônia falavam árabe ou apenas o judeu marroquino (mistura de espanhol com árabe e hebraico)?

Boa tarde, estou interessado em conhecer mais sobre a Torá, tenho lido mas tem trechos que precisa de um ajuda. Gostaria de saber se na sinagoga tem algum grupo de ensino para não judeus. Marcio Leal

Veneton Secchin

Olá, Gostaria de saber se a comunidade israelita do Pará poderia me fornecer informações sobre a data de falecimento de 2 pessoas. Alegria e José Joaquim Pazuello (ambos marroquinos de Tetuan) Não sei o sobrenome de solteira de Alegria, porém acredito que possua o sobrenome Pazuello também, seu pai se chamava Mohluf. Estou montando a árvore da família , e queria saber se vocês têm esses registros. Yaeli Abecassis

A história do David D’Israel é errónea. David D’Israel é meu bisavô. Ele nasceu em Marrocos. Sua história é complicada. Os filhos de David, todos nascidos em Marrocos, são: Aurora, Rica e Michel (meu avô). Ele deixou o Marrocos e chegou ao Amazonas, Brasil. Meu primo foi a Guajará-Mirim junto com quem fez essa reportagem para esclarecer a história. Estamos cientes que David D›Israel tem documentos brasileiros (supondo que tenha obtido para poder ficar no Brasil). Por outro lado nós temos documentos e fotos. Daniel Rotholz 56 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Olá boa noite ! Meu nome é Gabriel eu sou da cidade de Manaus, mas moro em Jundiai - SP. Eu visitei seu site umas duas vezes e achei... de saber se meu sobrenome é judeu. O sobrenome Miranda é judeu? Gabriel Miranda de Arruda Junior

Boa tarde, estou à procura de registros de meu bisavô Diogo Carvalho Pinto de Souza, filho de Augusto Cesar de Almeida Pinto de Souza e de Branca Carvalho Pinto de Souza, judeu português que migrou para Belém/PA. O senhor poderia ajudar? Muito grata pela atenção. Ana Borges

Boa tarde, me chamo William Lebrego moro em Belém e tenho forte intenção em conversão ao judaísmo. Gostaria de saber que procedimento devo tomar, pois não conheço pessoas que façam parte da comunidade judaica aqui de Belém. Desde já obrigado. Allan William


Boa tarde, estou à procura de registros de meu bisavô DIOGO CARVALHO PINTO DE SOUZA, filho de AUGUSTO CESAR DE ALMEIDA PINTO DE SOUZA e de BRANCA CARVALHO PINTO DE SOUZA, judeu português que migrou para Belém/PA. O senhor poderia ajudar? Muito grata pela atenção

Olá! Acabei de receber o e-mail da Pletz falando da publicação Universo Safarad. Gostaria de obter, por favor, informações sobre o número de publicações e área de circulação. Obrigada. Ana Addobbati – Marketing, Museu Judaico de São Paulo

A.C.B. Borges Meu bisavó era judeu, como faço pra me torna judeu também? Boa tarde, me chamo William Lebrego moro em Belém e tenho forte intenção em conversão ao judaísmo. Gostaria de saber que procedimento devo tomar, pois não conheço pessoas que façam parte da comunidade judaica aqui de Belém. Desde já obrigado

Weiller Dray Gostaria de conhecer ou aprender o hebraico bíblico. Ebenézer Melo da Silva

Olá! turma do Portal Amazônia Judaica. Venho por meio desta solicitar informações sobre três artigos presentes na página, pois necessito coloca-los nas referências do meu trabalho. Os artigos, são: História dos Judeus do Pará. de Rubens David Azulay. Histórias das Comunidades “Los Nuestros” Os Marroquinos na Amazônia, de Reginaldo Jonas Heller e Presença Judaica na Amazônia – Preservação e Aculturação Um estudo através do caso os Elmaleh/ Salgado, de Elias Salgado. Necessito referenciar os artigos citados acima e preciso do ano de publicação. Por estimo e apreço, agradeço a atenção e espero ter a solicitação atendida. Wagnael Da Cruz Tarcísio Linhares

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MENSAGENS

Desejamos a todos

Feliz Festa das Luzes Sergio Benchimol e família

Que este Chanuká traga muita luz a todos. Chag Urim Sameach Família Ferreira Chocron - Iria, Manoela e João 58 | USf | ANO 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2018

Chag HaChanuká Sameach à nossa querida comunidade de Manaus. São os votos de

Jaime, Anne e José Benchimol Rebeca, Joshua, Benjamin e Daniel Neman


Chanuká Sameach a todo o povo de Israel Moisés Salgado e família

Feliz Chanuká aos membros de nossa amada kehilá de Porto Velho Diretoria da Sinagoga Isaac Bennesby

Que as luzes de Chanuká iluminem a todos e sejam prenúncio de dias de Paz. São os votos da turma de pós-graduados do Senior Educators Program, da Universidade Hebraica de Jerusalém, 1997-8 59


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