Centro de convivência e cultura em saúde mental

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CENTRO DE CONVIVÊNCIA E CULTURA EM SAÚDE MENTAL Anna Clara Barros de Sousa Lopes - 14/0016481 Orientadora: Raquel Naves Blumenshein Trabalho Final de Graduação Universidade de Brasília - FAU Brasília, dezembro de 2019 Banca Prof. Oscar Luís Ferreira Prof. Luis Alejandro Pérez Pena



SUMÁRIO

01

02

REFERENCIAL TÉORICO

OBJETO DE ESTUDO

03

04

REFERÊNCIAS PROJETUAIS

CONCEPÇÕES DE PROJETO

05

06

O PROJETO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AGRADECIMENTOS

Sou grata à todos do Instituto

De Convivência E Recriação do Espaço Social - Inverso por terem me apresentado os caminhos da Luta Antimanicomial e me ensinado tanto sobre empatia e amizade.

Agradeço eternamente a mi-

nha orientadora Raquel Blumenschein por todo o apoio, paciência e por acreditar em mim durante todo o processo.

Sou grata à minha família e a

todos que foram meus companheiros de jornada. Vocês foram a minha força! dos


REFERENCIAL TEÓRICO


2 / JUSTIFICATIVA

OBJETO DE ESTUDO

Este trabalho propõe um Centro de Convivência e Cultura em

1.1. OBJETIVOS GERAIS

Saúde Mental que funcionará de portas abertas, trabalhando prin-

cipalmente com oficinas expressivas e atividades lúdicas, gerando Localizado no Setor de Grandes Áreas Norte, na quadra 611, o

Há pouco mais de 30 anos, o Brasil ainda vivia uma ditadu-

ra. Na área da saúde mental, havia uma sequência de violações de

bem estar e autonomia às pessoas em possível sofrimento psíquico.

2.1. REFORMA PSIQUIÁTRICA

PROMOVER a escuta, o cuidado e trocas afetivas;

direitos, o confinamento, o abandono e o tratamento cruel dentro dos manicômios. A internação manicomial reforçava o preconcei-

Centro será uma Organização Não Governamental - ONG e oferecerá um espaço de acolhimento e de participação voluntária, que estimu-

FOMENTAR a discussão acerca da cidadania e dos direitos das

to e a exclusão da pessoa em sofrimento mental na sociedade.

le a ressocialização e a reconstrução da cidadania dos usuários dos

pessoas com transtornos mentais;

No fim da década de 70, muitos movimentos ligados à saú-

de denunciaram abusos cometidos em instituições psiquiátricas,

serviços de saúde mental. A ideia é que o ambiente promova a troca de experiências, a livre expressão e funcione como uma válvula de

INCENTIVAR a cultura como uma estratégia de gerar autonomia e

além da precarização das condições de trabalho. Desta forma, sur-

escape àqueles que estão saturados de ambientes clínicos.

protagonismo social aos frequentadores;

giram movimentos de trabalhadores de saúde mental, que coloca-

ram em evidência a necessidade de uma reforma psiquiátrica no

O projeto não surgirá como uma alternativa a um Centro de

Atenção Psicossocial – CAPS, uma vez que não tratará com relevân-

ATENDER todos os grupos, faixas etárias e classes sociais;

Brasil. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) – que contou com a participação popular – e o Movimento Sanitá-

cia os transtornos mentais que acometem os frequentadores. Corresponderá à um ambiente para socializar e falar de temáticas que

PROPORCIONAR um espaço lúdico que estimule a criatividade e a

rio foram dois dos maiores responsáveis por essa iniciativa.

vão muito além das doenças mentais.

ressocialização dos usuários dos serviços de saúde mental;

Em 1987, o Projeto de Lei Paulo Delgado chega ao Congresso

Nacional, configurando a entrada da Reforma Psiquiátrica na esfe-

As questões abordadas são base para uma discussão im-

portante sobre os principais caminhos a serem seguidos para que

TRAZER a arquitetura e o paisagismo como parte do processo de

ra jurídica. O Projeto discorre sobre os direitos das pessoas acome-

mudanças nos modelos manicomiais possam ser concebidas. O tra-

reintegração e adaptação dos frequentadores; e

tidas de sofrimento psíquico e da extinção progressiva dos serviços manicomiais. Após 12 anos de debates e reformulações, o PL Paulo

balho trata, principalmente, da possiblidade da arquitetura ser uma das pontes entre o usuário e a Saúde Mental.

CRIAR uma proposta mais humana, menos hierarquizada, valo-

Delgado foi finalmente aprovado no ano de 2001 sob a forma da Lei

rizando o sentimento de pertencimento e a identificação de uma

10.216, a lei da reforma psiquiátrica.

Nesse contexto, percebe-se a necessidade da construção de

uma estrutura física de qualidade e coerente com o contexto social da comunidade e que atenda as particularidades dos usuários e profissionais ali presentes.

escala de lar.

Após a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, o Brasil investiu em estratégias mais potentes de enfrentamento das situações de violação de direitos dentro dos hospitais psiquiátricos e em maiores avanços nas políticas públicas de saúde mental. Dentro deste contexto, surge a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS, uma nova política de Estado que investe no crescimento expressivo de serviços de saúde mental, chegando a mais de 2.200 Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) no ano de 2014, entre outros dispositivos que substituíram os hospitais psiquiátricos - Serviços Residenciais Terapêuticos, Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais e Unidades de Acolhimento.

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Gráfico 3 - LEITOS SUS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS POR ANO (bRASIL, 2014)

O desafio atual é garantir a sustentabilidade da Rede de Cui-

apontou que o Brasil apresenta o maior índice de depressão da Amé-

dados implantada dando sustentabilidade e equipando os serviços

rica Latina, atingindo 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população).

de forma adequada, tanto em relação aos recursos humanos, como

Já em relação a transtornos de ansiedade, o país apresenta o maior

em relação aos recursos administrativos e materiais necessários. Os

índice mundial, onde mais de 18,6 milhões de brasileiros são afe-

gráficos abaixo exibem uma série histórica realizada em 2014 da ex-

tados (9,3% da população). Apesar dos níveis alarmantes, o investi-

pansão dos serviços extra hospitalares no Brasil.

mento destinado à saúde mental representa, em média, apenas 2% do orçamento de saúde do país e, dessa porcentagem, cerca de 60% se destina a hospitais psiquiátricos.

Gráfico 1 - série histórica de expansão dos caps (bRASIL, 2014)

Sendo assim, é fundamental que a sociedade participe de

uma discussão filosófica e sociológica a respeito da saúde mental no Fonte: Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.

país, para que seja possível desenvolver estratégias saudáveis e de resiliência para o sofrimento psíquico no cenário atual.

O Terceiro Setor (ONG) também passou a investir em novas

alternativas que atendam às necessidades dos usuários dos serviços de saúde mental. Muitas iniciativas atuam sem parcerias com

5,8%

Da população brasileira possui depressão Brasil é campeão na América Latina

9,3%

Da população brasileira possui ansiedade Maior índice do mundo

o serviço público. Desta forma, os profissionais envolvidos nos projetos são voluntários e toda a renda é obtida através de diversos dispositivos de financiamento e geração de fundos, como festas, iniciativas culturais, projetos de trabalho e renda e convênios com as Fonte: Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.

universidades locais. Um exemplo da participação do terceiro setor na luta antimanicomial é o Instituto De Convivência E Recriação do Espaço Social – Inverso, fundado em 2001 no Distrito Federal.

Gráfico 2 - série histórica da habilitação de serviços residenciais terapêuticos (bRASIL, 2014)

2.2. CONTEXTO ATUAL

2%

do orçamento de saúde do país é destinado à saúde mental

De acordo com a Declaração dos Direitos Humanos, a saúde

é um direito universal. No entanto, quando se fala em saúde mental, a questão não é encarada da mesma forma. Apesar dos transtornos

Fonte: Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS.

mentais serem responsáveis por mais de um terço do número to-

tal de incapacidades nas Américas, os investimentos atuais estão

muito abaixo do necessário para abordar sua carga para a saúde pú-

de de um espaço que possua uma infraestrutura capaz de acolher

blica, segundo o relatório da Organização Pan-Americana da Saúde

e auxiliar na inserção social das pessoas em sofrimento psíquico

– OPAS (2019).

à sociedade, por meio de ações intersetoriais de cultura, educação,

No Brasil, estima-se que a cada 100 pessoas pelo menos 30

esporte e lazer. Um ambiente em que seja possível discutir sem es-

tenham ou venham a ter problemas de saúde mental. Um relatório

tigma as questões relacionadas à saúde mental e os frequentadores

publicado pela Organização Mundial da Sáude – OMS (2017),

possam receber um tratamento digno e livre de preconceitos.

Dentro deste contexto, o projeto se justifica pela necessida-

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3 / ESTUDO DE CASO

3.1. A INVERSO

O Instituto De Convivência E Recriação do Espaço Social -

Inverso é uma Organização Não Governamental – ONG em saúde mental fundada em 2001 em Brasília. É um espaço aberto às pessoas acometidas de transtornos mentais severos e intenso sofrimento psíquico, aos seus familiares e à comunidade do Distrito Federal. Situado na 408 Norte, o ambiente não conta com escritórios ou salas de terapia. A divisão remete a uma casa, com cozinha, copa e sala. A dinâmica informal contribui para a desinstitucionalização daqueles que estão saturados de internações em ambientes clínicos e confere aos participantes obrigações relacionadas à manutenção do espaço, mostrando que as responsabilidades são compartilhadas para a manutenção do ambiente e da boa convivência.

O grupo surgiu como uma tentativa de criar um espaço que

diferisse das instituições psiquiátricas do Distrito Federal, buscando a reconstrução da cidadania dos usuários dos serviços de saúde mental. A Inverso é uma entidade sem fins lucrativos do terceiro setor. Toda a renda vem de doações e dos resultados dos trabalhos produzidos durante oficinas. Dessa forma, os profissionais envolvidos no projeto (psicólogos e assistentes sociais) são todos voluntários e não possuem qualquer vínculo empregatício.

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Segundo o livro Portas abertas à loucura (2017), alguns dos

objetivos da Inverso são: A garantia do cuidado desinstitucionalizado e antimanicomial e a defesa de direitos das pessoas acometidas de intenso sofrimento psíquico; A oferta de um espaço de saúde mental e convivência, informal e aberto, e de recriação de novas formas de conviver no mundo, centrado na livre expressão, autonomia e protagonismo dos seus frequentadores; A facilitação e o estímulo dos frequentadores a gozarem de liberdade para exprimirem seus sentimentos, desejos, necessidades e projetos; A inclusão social e plena cidadania das pessoas acometidas de transtorno mental; A divulgação e conscientização da sociedade sobre a Lei da Reforma Psiquiátrica do Distrito Federal (lei nº 975/75) e Federal (lei nº10.216/2001); A luta por um rede de serviços públicos de saúde mental; e O engajamento político na luta antimanicomial.

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12

Em sua maioria, os frequentadores do grupo já foram ou são

condições de saúde não está necessariamente relacionada ao trata-

usuários dos tratamentos clínicos para saúde mental, seja na rede

mento das doenças.

pública ou particular, ainda que este não represente um pré-requisito

Entretanto, é importante frisar que a maior parte dos frequentadores

para participar das atividades.

realiza ou já realizou tratamento médico para seus transtornos, de

forma que a experiência na Inverso é vivida de forma paralela aos

O trabalho realizado na Inverso não diagnostica ou mesmo

trata com relevância os transtornos que acometem os frequentado-

procedimentos clínicos indicados para os diferentes casos.

res. Corresponde à um espaço criado para socializar e falar de temá-

ticas que vão muito além das doenças mentais. Com isso, o objetivo

criadas para proporcionar trocas afetivas e a convivência entre seus

é relembrar o participante que a doença não é o principal fator que

frequentadores. Funcionam oficinas de artesanato, informática, mú-

compõe sua identidade. A ideia é que se tenha um espaço de livre

sica, bateria, culinária, teatro, atividades físicas, intervenções urba-

convivência e de participação voluntária. Lá não existem pacientes,

nas e produção de vídeos. Também acontece a realização de eventos

mas apenas pessoas dispostas a trocar experiências e viver de forma

(comemoração de aniversários, festas juninas e até mesmo blocos de

integrada ao resto da sociedade, mostrando que a busca por melhores

carnaval).

Na Inverso, ocorrem diversas oficinas semanalmente, que são


4 / FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1. FENOMENOLOGIA

Segundo Heiddeger (1951), a essência de construir é deixar-ha-

ressalta a importância do sentimento de pertencimento, que é sentir-

bitar. Somente em sendo capazes de habitar é que podemos construir.

-se pertencente a um lugar e também sentir que tal lugar nos perten-

A palavra “habitar” – ou “habitação” – não concerne propriamente à

ce.

moradia, ou à casa – mas diz respeito a um fenômeno anterior a qual-

quer consideração sobre as diferentes formas de abrigo criadas pelo

tamento humano, o seu bem-estar e o acolhimento do espaço cons-

homem. Nesse sentido, a compreensão da conexão entre o usuário e

truído, formando uma relação simbiótica de construção e transfor-

A Fenomenologia (do grego phainesthai - aquilo que se apre-

o ambiente revela-se importante para que se tenha uma noção mais

senta ou que mostra - e logos explicação, estudo) é uma corrente de

ampla de como melhorar a construção dos espaços. Por meio desse

pensamento que nasceu na Alemanha entre o fim do século XIX e

conceito, pode-se criar ambientes que estimulam a permanência das

começo do XX. Os dois principais nomes da origem da Fenomenolo-

pessoas, uma vez que se sentem pertencentes a ele.

gia são Edmund Husserl e Franz Brentano (Bello, 2004). Consiste em uma metodologia e corrente filosófica que afirma a relevância dos fe-

4.1.2. JUHANI PALLASMAA

Esse conceito revela-se peça chave para relacionar o compor-

4.1.3. CHRISTIAN NORBEG-SHUTZ

Na obra “O fenômeno do lugar”, o arquiteto norueguês Chris-

tian Norbeg-Shutz (1994) traz a definição de “stimmung”, como a at-

nômenos da consciência. O importante para a fenomenologia não é o

mosfera, o espírito e identidade de cada lugar. Esse conceito nos dire-

mundo existente, mas o modo como o conhecimento desse mundo se

ciona a conhecer os desejos conscientes e inconscientes de cada um

dá de forma diferente para cada sujeito, e sua tarefa é revelar o mun-

Pallasmaa (1994) afirma que o movimento modernista, em

e permite criar um diálogo entre os espaços projetados e a memória

do vivido antes de significá-lo (Surdi, 2008). No campo da arquitetura,

sua grande parte, reduziu a ideia de lar a uma residência estetizada e

dos usuários. O autor coloca que o mundo, como lugar, é constituído

a fenomenologia se traduz na construção de espaços que explorem

funcional, sem levar em consideração os significados pré-conscien-

por elementos que transmitem significados. Desta forma, o paisagis-

todos os sentidos humanos. A experiência total da arquitetura pode

tes do ato de habitar. O conceito filosófico por traz da obra não foi

mo e a arquitetura não são apenas uma prática estetizante, precisam

ser atribuída ao uso da luz, da sombra e da transparência, os fenôme-

abandonado, mas foi tratado apenas nas dimensões de espaço, estru-

ser espontâneos e sensíveis em relação ao meio que se encontram.

nos cromáticos, a textura e os materiais utilizados.

tura e ordem, e não no sentido mais emocional e psicológico do que é

realmente um lar. A expressão da identidade local, padrões de vida e

Para citar alguns nomes dos discípulos do movimento feno-

menológico, temos o filósofo Martin Heidegger e os arquitetos Juhani

o cotidiano começaram a desaparecer na construção dos espaços.

Pallasmaa, Christian Norbeg-Shutz e Steven Holl.

É importante que os projetistas compreendam as reais ne-

cessidades dos ocupantes, para que assim consigam entender como

4.1.1. MARTIN HEIDEGGER

é possível fortalecer a relação de cada frequentador com o espaço.

Juhani Pallasmaa em seu escritório em Tehtaankatu, Helsinki. Fonte: Instituto Finlandês, 2018.

Christian Norberg-Shutz, Roma. Fonte: Anna Ulrikke Andersen, 2015.

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4.1.4. STEVEN HOLL

4.2. ARQUITETURA PSIQUIÁTRICA NA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA:

“A coisa era muito pior do que parece. Havia um total desinteresse pela sorte. Basta dizer que os eletrochoques eram dados indiscriminadamente. Às vezes, a energia elétrica da cidade não era suficiente para aguentar a carga. Muitos mor- riam, outros sofriam

4.2.4. O HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

fraturas graves.” (Arbex, D. 2013)

Tendo o Hospital Colônia de Barbacena como modelo, esta realidade se expandiu para outros pontos do país, sendo os principais alvos as

Um caso muito importante para o entendimento do proces-

cidades mineiras vizinhas, que formavam o famoso corredor da lou-

so de institucionalização da loucura no Brasil é o Hospital Colônia

cura, composto por Barbacena, Juiz de Fora e Belo Horizonte. “Nesse

de Barbacena, em Minas Gerais. Deixou a sua marca por ter sido o

período, as três cidades concentravam 80% dos leitos da saúde men-

maior hospício do país e com o maior número de denúncias quanto

tal [...] A cada duas consultas e meia, uma pessoa era hospitalizada

ao alto índice de mortalidade e maus tratos.

em Minas Gerais.” (Arbex, D. 2013).

Inaugurada em 1903, a edificação foi pensada para abrigar

200 leitos, porém anos depois já abrigava 5 mil pacientes - frutos da Steven Holl na cerimonia para Hunters Point Community Library, Nova Iorque. Fonte: Phaidon, 2017.

internação desenfreada de pessoas que a sociedade não sabia como lidar. A superlotação era uma situação que agravava as condições

Steven Holl (2011) questiona como vivemos nossas vidas em

espaços construídos, rodeados de objetos físicos, mas não somos plenamente capazes de obter prazer de nossas percepções. A arquitetura tem o poder de transformar nossa existência do dia-a-dia. O ato cotidiano de agarrar a maçaneta de uma porta e abrí-la a um campo banhado de luz pode se converter num ato profundo se o experimentamos com uma consciência sensibilizada. Quando explora-se a experiência da luz cambiante com o movimento, o cheiro e os sons que ecoam no espaço e as relações corporais de escala e proporção, é possível criar espaços que sejam inspiradores e resilientes.

de vida a que os ditos doentes eram expostos entre os muros do hospital. Cenário muito recorrente nas instituições psiquiátricas da época. (Arbex, D. 2013).

Apesar do tamanho, o complexo de mais 8 milhões de me-

tros quadrados não podia ser visto do lado de fora, devido às grandes muralhas de proteção; mas quem o conhecia por dentro, vivenciava uma triste realidade entre os corredores cinzentos e malcheirosos, ocupados por leitos de palha no chão - uma forma de driblar o problema do excesso de gente e falta de espaço - que compunham os prédios cheios de portas e janelas gradeadas. Fica claro que a intenção na concepção do edifício e no sistema de acolhimento ao louco, neste caso, não visava o tratamento e a cura das doenças. (Albuquerque, L. 2015).

Os depoimentos também contam episódios de terror sobre

as sessões de eletrochoque, castigos físicos, torturas, confinamento e aplicação de medicamentos sem finalidade terapêutica - medidas utilizadas para conter e intimidar os pacientes. Cerca de 60.000 pessoas morreram no Colônia. Como testemunha deste verdadeiro holocausto, o médico Ronaldo Simões Coelho diz que, de perto, o horror era ainda maior.

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OBJETO DE ESTUDO 15


5 / DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO 5.1. Localização

O terreno escolhido localiza-se no Setor de Grandes Áreas

Norte - SGAN, na quadra 611 Norte, na região do Plano Piloto de Brasília. O terreno possui aproximadamente 16.570 m² de área livre e situa-se em local destaque e de fácil acesso.

Segundo a Norma de Edificação e Gabarito – NGB para o

SGAN, o setor compreende os lotes destinados a órgãos da administração pública direta e indireta, no âmbito federal, estadual e municipal, bem como instituições beneficentes, educacionais, religiosas e associações e estruturas de saúde.

O entorno do terreno é amplamente arborizado e é caracte-

rizado pela presença de uma grande área residencial, constituída pelos conjuntos das superquadras (210, 410, 211, 411, 212 e 412 Norte), pelas áreas comerciais das entrequadras e também pela Colina, o conjunto habitacional dos professores da Universidade De Brasília. Localiza-se aproximadamente a 1,0 km do Campus Darcy Ribeiro e cerca de 6,0 km da Rodoviária do Plano Piloto.

A escolha do terreno foi condicionada pelo fato do Centro de

Convivência e Cultura em Saúde Mental ter como principal objetivo acolher e integrar as pessoas acometidas de sofrimento mental na sociedade.

Deste modo, é importante que o projeto esteja inserido no

meio urbano e que atenda uma demanda não só do Plano Piloto, mas também das Regiões Administrativas próximas da região, como Sobradinho e Planaltina. Sendo assim, o projeto do Centro surge não somente como pólo de referência na conscientização da saúde mental, mas também como ponto de consolidação das políticas de inclusão social e superação do preconceito.

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Área geral do Setor de Grandes Áreas Norte dentro do contexto do Plano Piloto.


O terreno escolhido, margeado pelas vias L2 e L3, está locali-

zado no final da área urbana da Asa Norte, logo apresenta um fluxo relativamente mais local e menos intenso e é configurado pelos habitantes das áreas próximas e por usuários dos serviços que se encontram nas zonas adjacentes. Para o projeto, essa característica é vantajosa, uma vez que deve localizar-se em uma região mais tranquila e sem muita poluição sonora, mas ainda inserida no contexto urbano e de fácil acesso.

A grande quantidade de áreas verdes no entorno também é

positiva, principalmente a região do Parque Olhos D’água, uma vez que o maior contato com a natureza pode causar efeitos restauradores e de bem-estar aos frequentadores do espaço.

O fluxo de transporte público urbano é regular e existem 4

pontos de ônibus próximos ao terreno. Este fator é importante para que o Centro possa ser um local acessível e que atenda a todos os grupos, faixas etárias e classes sociais

Localização da área do projeto e principais serviços existentes no entorno.

LEGENDA 1 - pARQUE OLHOS D’ÁGUA 2 - ASSOCIAÇÃO RENOVAÇÃO CARISMÁTICA 3 - ASSUNÇÃO CASA DE RETIROS 4 - CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL Nº1 DE BRASÍLIA 5 - fACULDADE TEOLÓGICA BATISTA 6 - ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS DA LÍNGUA JAPONESA 7 - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE BRASÍLIA 8 - hospital veterinário unb

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5.2. MAPA viário e ACESSOS

5.3. Fotos do terrENO MAPAS DE indicação de vistas

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5.4. cONDICIONANTES AMBIENTAIS

O terreno escolhido é relativamente plano e apresenta um

desnível de 2,35% no sentido L2 à L3 e Lago Paranoá. Compreendido entre as cotas 1030m e 1040m, sua topografia com baixa inclinação facilita a execução do projeto e dispensa terraplanagem e grandes movimentos de terra.

De acordo com a classificação proposta por Koppen, o clima

da região do Plano Piloto é predominantemente Tropical de Savana, com verão quente e inverno seco. No período de outubro a abril, ocorre a estação chuvosa, que concentra aproximadamente 84% do total da precipitação pluviométrica anual. Já a estação seca, acontece no período de maio a setembro. O trimestre mais árido (junho/ julho/setembro) concentra apenas 2% da precipitação anual, em que a umidade relativa do ar chega a atingir valores inferiores a 20%.

A temperatura, durante todo o ano, varia em média de 18ºC

a 22ºC. Setembro é considerado mês mais quente do ano, com uma temperatura média de 21.7°C. Já o mês mais frio é julho, com a temperatura média de 18.3ºC.

Durante a estação chuvosa, a predominância dos ventos é do

quadrante Norte, com variação Nordeste e principalmente Noroeste. A partir do mês de março, predominam os ventos de direção Leste. Durante o período de estiagem aumenta a incidência dos ventos de Sul e Sudeste.

Topografia do terreno, compreendido entre as curvas de nível 1030m e 1040m, com declive de 2,35%.

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As cartas solares foram geradas através do software SOL-AR,

de acordo com a orientação do terreno. Desta forma, foi possível analisar os períodos de insolação referentes às orientações (noroeste, nordeste, sudoeste e sudeste) das quatro fachadas. Todas as fachadas foram consideradas livres de obstáculos ou proteções externas.

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- FACHADA NOROeSTE

- FACHADA SUDESTE

Recebe incidência solar o dia inteiro, durante praticamente

Consiste na fachada que recebe relativamente menor incidên-

Caso opte-se por uma janela com uma ou duas folhas de

todo o período do ano, o que representa um ponto crítico para o ga-

cia solar durante o ano, sobretudo no período de inverno, limitando a

abrir, a ventilação será integral. Já uma janela com duas folhas de

nho de calor excessivo do projeto. Durante o solstício de verão (22 de

exposição ao sol somente durante o período da manhã.

vidro de correr, apresenta apenas 50% de abertura.

dezembro), a fachada recebe sol apenas a partir das 14h, enquanto

no solstício de inverno (22 de junho), este período de insolação se

dá desde as 6h da manhã até as 13h e novamente das 17h às 18h. É

estende das 6h às 18h.

importante que os raios solares sejam filtrados neste período de acor-

Durante o período quente e úmido, a proveniência dos ventos

do com as atividades que ocuparão os espaços do centro educacional

se dá a partir deste quadrante, o que gera uma estratégia de ventila-

e também de acordo com as necessidades dos usuários, para garantia

ção natural bastante favorável para a garantia de conforto térmico

do conforto térmico dos ambientes internos.

Durante o solstício de verão (22 de dezembro), a insolação se

- BARREIRAS

aos ambientes internos da edificação.

- FACHADA NORdeSTE

5.4.1. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS

Barreira vertical interna. Desenho autoral.

- BRISES

Recebe insolação direta durante o período matutino, ao lon-

Cobogó interno. Desenho autoral.

Barreiras também exercem um papel importante no con-

go de todo o ano e, durante o solstício de inverno, estende-se um

forto interno. Os desenhos acima mostram duas situações, no pri-

pouco durante à tarde (22 de junho). No período mais frio do ano,

meiro caso, a parede central age como uma barreira na direção dos

é preferível que haja maior radiação solar, então deve-se explorar

ventos. Já no segundo exemplo, houve a troca da alvenaria por um

a estratégia do aquecimento solar passivo - utilização da radiação

elemento vazado - cobogó, permitindo maior ventilação interna.

solar direta para aquecimento ambiental da edificação. Este tipo de

aquecimento pode ser direto ou indireto.

peitoril, painéis ou mobiliário) dispostas pelo espaço também in-

É necessário considerar também que a ventilação cruzada é

mais acentuada a partir de Leste durante grande parte do ano, fator importante para o projeto de arquitetura.

Exemplo de brise (cobogó). Desenho autoral.

Exemplo de brise (aletas verticais). Desenho autoral.

As diferentes alturas das aberturas e barreiras (paredes,

fluenciam diretamente no nível e velocidade dos níveis de ventila-

Brises permitem maior ventilação natural e, além do con-

trole lumínico e solar, se posicionados corretamente em união

- FACHADA SUDOESTE

às situações solar e dos ventos locais, podem garantir excelente qualidade térmica interna.

A fachada recebe sol durante a faixa horária da tarde, de 12h

às 18h, ao longo de todo o ano. Durante o solstício de verão, este perí-

- ESQUADRIAS

odo aumenta e é reduzido no período de inverno. Isto pode provocar ganhos térmicos excessivos durante a estação mais quente do ano.

Pode-se adotar estratégias como o uso de proteções solares,

que gerem sombreamento da fachada, bem como estratégias de ventilação natural, resfriamento evaporativo e inércia térmica, evitando a manutenção de uma massa de ar quente. Esquadria com apenas uma folha. Desenho autoral.

Esquadria com duas folhas. Desenho autoral.

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5.5. PARÂMETROS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O documento NBG 01/86 do Governo do Distrito Federal apre-

senta as normas de edificação, uso e gabaritos que regulam todos os lotes do Setor de Grandes Áreas Norte. A destinação de uso destes lotes, conforme citado anteriormente, possibilita a construção de instituições beneficentes, como é o caso do Centro de Convivência e Cultura em Saúde Mental.

A NBG afirma que a taxa máxima de ocupação, equivale a

40% do total do lote e, somada com a área pavimentada, não deverá ser superior a 70% da área do terreno. O gabarito máximo é de três pavimentos, não considerando a cobertura e nem o subsolo, com altura máxima de 9,5m. Essa altura pode ser aumentada a critério da Divisão de Licenciamento e Fiscalização de Obras – DLFO. Casas de máquina e caixa d’água são elementos não inclusos na altura máxima permitida. Pelo fato do terreno possuir uma dimensão consideravelmente grande, pode-se explorar o potencial de crescimento horizontal da área.

A previsão de uma área de estacionamento é obrigatória, de-

vendo ser calculada proporcionalmente à área construída (1 vaga de 25m² para cada 100m² de área construída), que quando arborizada, pode ser computada no cálculo da área verde.

Já a área verde, deve ocupar uma proporção de 30% da área

total do terreno. A divisão entre os lotes pode ser cheia ou vazada, estando a critério do cliente. No entanto, o cercamento deve apresentar uma altura máxima de 2m.

Anteriormente, na NGB estava previsto que a cobertura, ele-

mento opcional no projeto, para fins que englobam salas de reuniões, restaurantes, salas de exposições, jardins ou terraços, poderia ultrapassar somente 40% da área utilizada pelo projeto. No entanto, em 18 de abril de 2000, este total foi alterado pela Lei Complementar nº290, que permite que a cobertura possa ter até 80%. Já a sua altura pode avançar 3m a mais do total do gabarito, não sendo computados nesse avanço nem a caixa d’água e nem a casa de máquinas. A área máxima de construção é calculada também com a área da cobertura.

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5.6. PROGRAMA DE NECESSIDADES

Desta forma, a construção do programa de necessidades do

A flexibilidade se dá através da presença de Ambientes de usos fle-

Centro foi baseada nessas semelhanças e também no programa do

xíveis, o que potencializa o caráter permeável e acessível dos es-

Não existe uma legislação específica que trate diretamente de

Instituto De Convivência E Recriação do Espaço Social – Inverso,

paços.

estabelecimentos voltados à saúde mental sem a presença de leitos

ONG em saúde mental, que consiste em uma estrutura simples com

de internação. No entanto, em 2004, o Ministério da Saúde lançou a

apenas cozinha, copa, sala e banheiro.

demandas que possam surgir, às atividades terapêuticas não con-

publicação Saúde Mental no Sus: os centros de atenção psicossocial,

vencionais – oficinas de música, dança, costura, pintura e desenho,

em que fala especificamente da Rede CAPS e apresenta os aspectos

SOLUÇÃO-RDC Nº 50 - Regulamento Técnico para planejamento,

meditação e etc.

da sua funcionalidade. Apesar do objeto de trabalho não exercer a

programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabele-

função do CAPS de realizar tratamentos psicológicos aos frequenta-

cimentos assistenciais de saúde.

e/ou Jardins, visto que uma das estratégias do Centro é trazer o con-

dores, apresenta algumas semelhanças em seu programa como:

A partir dos conceitos trazidos pelos parâmetros da Arquite-

tato com a natureza como parte da dinâmica terapêutica. As varan-

tura Humanizada, foi possível criar ambientes pensados para esti-

das externas auxiliam na transição entre arquitetura e paisagismo.

Já o dimensionamento dos ambientes teve como base a RE-

Tais ambientes foram propostos para se moldarem às novas

Também é importante observar a presença de Áreas Verdes

Salas para atividades grupais

mular o sentimento de pertencimento dos usuários em relação aos

Parte da circulação se faz pelo lado de fora, em contato mais próxi-

Espaço de convivência

espaços e possibilitar novas atividades que integrem os frequenta-

mo com o jardim.

Oficinas

dores.

• Sanitários

a flexibilidade das ocupações e a valorização das áreas verdes.

Área externa para recreação e atividades físicas

Outro aspecto importante para a definição do programa é

23


Base para o programa de necessidades

Área aproximada

Base para o programa de necessidades

Área aproximada

Terapêutica

Recepção Espera

40m²

Ateliê de música

104,7m²

Recepção

23,3m²

Ateliê de costura

104,7m²

Administração

31,2m²

Ateliê de artes plásticas

104,7m²

Cozinha terapêutica

104,3m²

Convivência Atendimento Sala de estargeral

56m²

Dispensa

17m²

Espaço de reunião

20,7m²

Refeitório

62,14m²

Sala de atendimento familiar

29,7m²

Sala de meditação

75,6m²

Sala de atendimento jurídico

35,4m²

Externa

Almoxarifado

8,3m²

DML

7,9m²

Biblioteca

100m²

Sala de informática

242m²

Banheiro feminino/ masculino (2)

30m²

Banheiro PNE

8,2m²

Pátio de acolhimento

790m²

Jardim terapêutico

724m²

Horta

442m²

Estacionamento

1066m²

Comunidade

24

Galeria / espaço para eventos

277m²

Banheiro feminino e masculino (2)

37,5m²

Auditório

456m²

Banheiro feminino e masculino (2) Área externa

39,6m²

TOTAL

3972m²


5.7. PERfil dos frequentadores

O Centro acolhe aqueles que apresentam intenso sofrimen-

to psíquico e encontram dificuldades em realizar seus projetos de vida. Podem ser pessoas com transtornos mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo etc, como também pessoas com transtornos relacionados às substâncias psicoativas (álcool e outras drogas).

Os frequentadores do Centro podem ter tido uma longa his-

tória de internações psiquiátricas, podem nunca ter sido internados ou podem já ter sido atendidos em outros serviços de saúde (ambulatórios, CAPS ou consultórios particulares). O importante é que essas pessoas saibam que serão bem recebidas e livres para expressarem sua individualidade no Centro.

O projeto consiste em um ambiente social e cultural, que seja

um espaço na cidade onde se desenvolve a vida quotidiana não só dos usuários, mas dos familiares e amigos também. Uma das estratégias do Centro é aproximar a comunidade da discussão sobre saúde mental e a reforma psiquiátrica no Brasil.

É importante frisar que a doença não é o principal fator que

compõe a identidade dos participantes. A ideia é que se tenha um espaço de convivência e de participação voluntária. Lá não existem pacientes, mas apenas pessoas dispostas a trocar experiências e viver de forma integrada ao resto da sociedade, mostrando que a busca por melhores condições de saúde não está somente relacionada ao tratamento das doenças.

Desta forma, os perfis dos personagens fictícios ilustrados a

seguir não focam no transtorno mental em questão e sim no estilo de vida de cada um dos frequentadores. Os personagens foram inspirados em pessoas que visitam o CAPS e outros serviços de saúde existentes.

25


6 / Particularidades do objeto

f) Cultivar clima e ambiente de trocas afetivas: o coletivo da Inverso é aberto e receptivo a novas pessoas (estagiários, voluntários e visitantes). O clima, em geral, é alegre, espontâneo: aprecia-se conversar, rir,

6.1. DESINSTITUCIONALIZAÇÃO

dançar, tocar violão, ler poesias e festejar.

6.2. Acessibilidade

Para entender quais são as particularidades do Centro de Con-

vivÊncia e Cultura em Saúde Mental, usou-se como referÊncia o trabalho realizado pela ONG Inverso.

A Inverso tem como um de seus objetivos a desinstituciona-

lização, que seria a desconstrução dos manicômios, acabando com as suas estruturas físicas e de poder e com a negação dos direitos e autonomia das pessoas acometidas de intenso sofrimento psíquico.

Segundo o livro “Portas abertas à loucura” (2017), os princípios

e práticas desinstitucionalizadas que guiam o trabalho da Inverso são:

De acordo com o levantamento realizado pelo IBGE em 2018,

45,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, um percentual de 23,91% da população. Apesar disso, a acessibilidade ainda é um tema distante da realidade de muitas dessas pessoas, com dificuldades básicas como o direito de ir e vir, graças às inúmeras barreiras encontradas nas cidades. Os números chamam a atenção para a necessidade do planejamento de espaços cujo acesso seja garantido a qualquer usuário, com autonomia e independência.

Em 1985, foi publicada a NBR 9050 - Acessibilidade a edifica-

ções, mobiliário, de espaços e equipamentos urbanos, da Associação a) Colocar a doença em “parênteses”: os diagnósticos dos frequenta-

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), revisada pela primeira vez

dores não os definem como pessoas;

em 1994. Em 1988, a Constituição Federal já se referia ao direito à acessibilidade aos portadores de deficiência sem, no entanto, cobrar

b) Adotar o poder democrático: construir instâncias de poder demo-

o seu cumprimento. Só em 2000, 12 anos depois, o assunto originou as

crático e igualitário nos locais onde ocorre o cuidado, estimulando e

Leis Federais 10.048 e 10.098.

garantindo aos usuários o empoderamento, autonomia e o pertenci-

mento ao coletivo;

em 2004, que passou a considerar não só as pessoas com deficiên-

O impulso para a aplicação das leis foi a revisão da NBR 9050

cia, mas também quem tem dificuldades de locomoção, idosos, obec) Oportunizar e estimular a livre expressão: espaços que estimulem

sos, gestantes etc., e ressaltando o conceito de desenho universal.

a criatividade, valorizando as subjetividades, as histórias de vida e a

No mesmo ano, as leis 10.048 e 10.098 foram regulamentadas pelo ¹

singularidade dos frequentadores;

Decreto 5296, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade.

d) Promover trocas sociais e inclusão social: na Inverso, funcionam

oficinas concebidas como meio de proporcionar convivência entre

ciais para o lançamento dos conceitos e diretrizes do edifício e sua

seus participantes;

consequente implantação no terreno analisado. É importante bus-

Desta forma, a NBR 9050 e o Decreto 5296 serão essen-

car a inclusão das pessoas nos diversos segmentos sociais, por meio e) Exercer a cidadania plena por meio da intersetorialidade: as pesso-

da facilitação de uso de produtos, meios, espaços e ambientes, em

as acometidas de intenso sofrimento psíquico ou transtorno mental

concordância aos Direitos Humanos. Este objetivo pode ser atingido

têm pleno direito de cidadania, o que implica acesso a todas as polí-

através de uma locomoção confortável e de baixo esforço; dimensões

ticas públicas; e

apropriadas dos cômodos; mobiliário favorável ao uso universal etc.

26

¹ Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 - Regulamenta as Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.


RefĂŠncias projetuais 27


casa experimental

STENO DIABETES CENTER

FUNDAÇÃO BRADESCO CANUANÃ

Localização: Muuratsalo, Finlândia

Localização: Copenhague, Dinamarca

Localização: Tocantins, Brasil

Ano de projeto: 1953

Ano de projeto: 2016

Ano de projeto: 2017

Projeto: Alvar Aalto

Projeto: Vilhelm Lauritzen Architects, Mikkelsen Architects

Projeto: Rosenbaum + Aleph Zero

Fonte: Archdaily

A residência representa um estúdio experimental da mate-

Fonte: Fundação Bradesco.

Fonte: Archdaily

A Canuanã é uma escola rural em regime de internato

rialidade, da construção da arquitetura e da filosofia. A natureza do

mantida pela Fundação há quase 40 anos. Um espaço que acolhe

experimental é representada pelas paredes do pátio central, cons-

crianças e jovens entre 7 e 18 anos e que, durante todo esse tempo,

truída com mais de cinquenta tipos diferentes de tijolos, dispostos

cumpre vários papéis: é casa, família, abrigo, laboratório e sala de

em diversos padrões.

aula. Houve a mudança do conceito de alojamento para o conceito

Uma das características usadas como referência é o seu es-

de morada, através do uso da tecnologia social desenvolvida pelo

quema de pátio, concentrado no interior, mas que garante as vistas

Instituto A Gente Transforma, o Design Essencial, que entende a

direcionadas ao lago Päijänne. Através da expressividade das pa-

arquitetura como uma ferramenta de transformação social, capaz

redes, Aalto permitiu testar a estética dos diferentes arranjos e ao

de conectar as crianças e jovens com os saberes dos seus antepas-

mesmo tempo criar uma atmosfera acolhedora.

sados.

O contexto natural desempenha um papel importante na ex-

periência da arquitetura também. Rochas e pedras, que estão cober-

Fonte: Archdaily

A estrutura de Madeira Laminada Colada (MLC) foi produ-

zida com madeira 100% de florestas de reflorestamento, tecnologia com baixo impacto ambiental. O paisagismo cria nos pátios o mi-

tas de musgo contrastam com o tijolo e a cor branca da casa. Também foi inserida uma lareira no centro do pátio, convertendo-o num

Baseado na ideia de criar uma conexão com a natureza, o

croclima resultante do encontro de 3 biomas – Cerrado, Amazônia

espaço de reunião.

Centro de Diabetes entrelaça o interior e o exterior, a fim de estimu-

e Pantanal e reconecta as crianças com a biodiversidade do local.

lar e nutrir pacientes e visitantes. A entrada principal do projeto está voltada para o sul, garantindo a iluminação natural e evidenciando uma paisagem ondulada que leva para o interior.

A área é projetada com o objetivo de despertar a curiosidade

- desde o início pacientes e visitantes devem sentir-se bem-vindos e seduzidos a explorar. Os pisos e forros são feitos de madeira clara, assim como as fachadas voltadas ao jardim interno, e em todo o ediFonte: Archdaily

28

fício você sente a natureza como um elemento central.

Fonte: Fundação Bradesco.


CASA TERRA Localização: Tocantins, Brasil Ano de projeto: 2017 Projeto: Rosenbaum + Aleph Zero

O projeto CASA TERRA busca a viabilidade do desenvolvi-

mento de construções sustentáveis como uma resposta eficaz frente ao desafio atual de re-construção do nosso planeta. Uma iniciativa que tem como meta a expansão da construção civil sustentável pautada na efetiva redução dos impactos ao entorno e meio ambiente, sempre em sintonia com as necessidades humanas.

A residência inova aplicando três sistemas construtivos si-

multâneos em uma única obra, alcançando eficiência sustentável e viabilidade econômica mais atrativa do que a realizada nos sistemas tradicionais. A associação do sistema construtivo, terra, woodframing e aço contribuiu para a redução do custo por m2 construído, tempo de obra, resíduos, melhoria da eficiência térmica e acústica, controle da umidade relativa dentro do edifício, qualidade do ar interno, resgate de carbono, impacto no entorno, requalificação e formação de mão de obra especializada.

Fonte: Fundação Bradesco.

Fonte: Fundação Bradesco.

29


CONCEPÇÕES DE PROJETO 30


7 / conceitos

8 / diretrizes

Para embasar as diretrizes de projeto, alguns conceitos fo-

O projeto se estrutura com diretrizes que levam em consideração os princípios

ram propostos como norteadores de ideias para o desenvolvimento

da Reforma Psiquiátrica e às particularidades daqueles que o utiliza: os usuários, os

do Centro. Eles abrangem não apenas questões arquitetônicas, mas

familiares e os profissionais, em consonância com a comunidade. O objetivo é propor

também condutas sociais, ecológicas, interpessoais e ideológicas

um Centro que valorize o protagonismo e o sentimento de pertencimento dos usuários

que impulsionam o projeto a ser funcional e fazer parte de uma mo-

e enalteça a importância das relações frequentadores-profissionais-comunidade. As

vimentação a favor de melhorias para a sociedade.

diretrizes abaixo foram fundamentadas como alicerces para a concepção do projeto:

31


AMBientes flexíveis

PORTAS ABERTAS

ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS

O uso de ambientes flexíveis no projeto pode potencializar o

Afirmação da perspectiva de serviços de “portas abertas”, um

Pode-se adotar algumas estratégias bioclimáticas visando

caráter permeável e acessível dos espaços. Através da flexibilida-

Centro que seja aberto a todos os grupos, faixas etárias e classes so-

o conforto: ventilação cruzada por meio de aberturas zenitais, uso

de, os espaços se moldam às novas demandas que possam surgir e

ciais. Espaços que sejam convidativos e possibilitem o desenvolvi-

de vegetação, cobogós e coberturas para sombreamento, placas

abrem espaço para novas possibilidades e ideias de atividades den-

mento de laços afetivos e suporte humanizado.

solares e sistema de captação de águas pluviais.

tro da edificação, inclusive vindas dos usuários.

Projetos que adotam estratégias de flexibilidade espacial per-

recer o sentimento de pertencimento das pessoas, principalmente

tante, podendo ser utilizado no projeto um sistema de reuso da

mitem maiores possibilidades de readequação e adaptação dos edi-

quanto à flexibilidade de usos e ao suporte à interação social, seja

água da chuva para o aproveitamento na irrigação de gramados

fícios, o que assegura qualidade e estende o desempenho da cons-

nos ambientes externos (da praça comunitária) ou nos ambientes

e limpeza das áreas. Uma solução seria o desenvolvimento de um

trução ao longo da sua vida útil.

internos (do edifício). Ambientes que apresentam uma escala mais

projeto paisagístico de sistema artificial de retenção temporária

humana e transmitem um sentimento de aconchego valorizam a in-

das águas da chuva, através de canteiros drenantes, canaletas e

tegração e unificação.

cisternas de água.

Pátio da Casa Experimental de Alvar Aalto, projetada em 1953, Finlandia. Fonte: Nico Saieh.

Green street project - Jardins de captação de chuva, Estados Unidos. Fonte: Departamento Municipal de Oregon.

HUBB – Learning Environments, Holanda. Fonte: Mecanoo architecten.

32

A presença de espaços humanizados é importante para favo-

A questão do uso sustentável da água é um fator impor-


CONEXÃO COM A NATUREZA

Bioconstrução

desenvolvimento horizontal

As áreas verdes nos arredores do edifício, favorecem o con-

Construção de ambientes sustentáveis por meio do uso de

O terreno escolhido apresenta um grande potencial de cres-

forto higrotérmico, luminoso, acústico e a qualidade do ar. A variação

materiais de baixo impacto ambiental, adequação da arquitetura ao

cimento horizontal. Com uma área de 16.570m², é possível projetar

de cores, texturas e portes da vegetação podem despertar diferentes

clima local e tratamento de resíduos. É a busca por um ambiente

um centro que possua uma relação harmônica com o seu entorno

reações e ter um impacto positivo no campo físico e emocional do

sustentável, que satisfaça as necessidades presentes de moradia,

natural e respeite o gabarito máximo de 3 pavimentos.

usuário. Desta forma, é interessante adotar a natureza como uma

alimentação e energia garantindo que as gerações futuras tenham

dinâmica terapêutica no Centro.

como satisfazer as mesmas necessidades.

apresente uma escala mais humana, característica que aumenta a

A adoção de materiais locais é uma das características da

sensação de protagonismo do usuário em relação ao ambiente. Os

do local, além de proporcionar mais um espaço de uso flexível para

bioconstrução. Como alternativa ao concreto e ao aço, pode-se usar

limites visuais concentram-se em um plano horizontal que convida

o desenvolvimento das atividades terapêuticas e lazer da população.

a madeira local como elemento estrutural, por ser um material na-

o usuário a apropriar-se do espaço.

A adoção de espécies nativas do cerrado no projeto paisagís-

tural e renovável. A terra também é um material que gera menor

tico é uma estratégia interessante, uma vez que gera maior afinidade

impacto ambiental, uma vez que existe em grande quantidade e em

dos cidadãos com a flora e fauna locais e valoriza as riquezas natu-

diferentes locais. Pode ser usado de diversas formas, como paredes

rais.

de taipa, adobe, entre muitas outras.

Sítio Roberto Burle Marx projetado em 1973, localizado em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Fonte: desconhecido.

Catton House projetada pelo arquiteto Arthur Erickson em 1967, Vancouver. Fonte: Arthur Erickson Foundation.

Áreas aquíferas favorecem a umidificação e o resfriamento

Através da horizontalidade, é possível criar um espaço que

Ilustração de duas situações: crescimento horizontal e vertical. Fonte: desconhecida.

33


DESENHO UNIVERSAL

PADRONIZAÇÃO

permeabilidade visual

Há o objetivo de criar maior permeabilidade visual através

É interessante pensar na padronização dos sistemas cons-

das varandas de estar e das áreas de circulação. Desta forma, dimi-

barreiras”; ambos trazem o foco de tornar possível a realização de

trutivos, na qual o ganho na repetição ocorra na industrialização de

nui-se o impacto opressor do ambiente no psicológico dos frequen-

práticas e atividades cotidianas de todo ser humano em comunida-

componentes modulares. As soluções utilizadas deverão ser produ-

tadores e cria-se maior conexão com a natureza do espaço.

de. A busca

zidas de acordo com os princípios da pré-fabricação, a fim de facili-

é pela inclusão das pessoas nos diversos segmentos sociais que

tar a sua produção, transporte e montagem, assim como diminuir a

podem ser sensíveis ao excesso de iluminação e de sons externos,

compõem a vida, por meio da facilitação de uso de produtos, meios,

produção de resíduos ou danos no local.

sendo também necessária a criação de ambientes de permanência

espaços e ambientes, em concordância aos Direitos Humanos.

mais fechados, com a entrada de luz e sons controlada.

Ambientes e produtos acessíveis devem ser usados por todos,

síduos produzidos para o emprego de produtos derivados como pla-

na sua máxima extensão possível, sem necessidade de adaptação

cas de aglomerados. Mesmo depois da demolição de edifícios, existe

ou projeto especializado para pessoas com deficiência - considera-

a possibilidade de reaproveitamento da madeira, assim tornando a

-se também aqueles que possuem dificuldades de locomoção, ido-

madeira um material biodegradável e reciclável.

Casa Rampa studio MK - Projeto de Márcio Kogan. São Paulo, Brasil. Fonte: Fernando Guerra.

Instalação de vigas de madeira pré-fabricadas. Fonte: Archdaily.

34

O conceito do desenho universal vem das ideias de “livres

A madeira pré-fabricada possibilita o aproveitamento dos re-

No entanto, é importante destacar que existem pessoas que

Comparativo entre um espaço sem aberturas, um com grande permeabilidade visual e outro com brise móvel. Desenho autoral.


O PROJETO 35


36


9 / o partido

O partido foi desenvolvido através das concepções de projeto,

que definem os conceitos, diretrizes e análise do terreno escolhido. Foi necessária também a compreensão da luta antimanicomial e do processo de desinstitucionalização, que prioriza a autonomia por parte das pessoas em sofrimento psíquico.

Desta forma, foram elaboradas algumas estratégias para a

definição do partido. A primeira é a valorização da relação entre os frequentadores e a natureza. Essa estratégia possui raízes antimanicomiais, em que a valorização de espaços livres e verdes se torna um meio de fortalecer o processo de reinserção do usuário à sociedade. A implantação do jardim terapêutico e da horta comunitária é apresentada como eixo regulador entre a diversidade de espaços e usuários.

Busca-se também fortalecer a relação entre o edifício e a ci-

dade por meio da criação de um pátio de acolhimento. Desta forma, o pátio é a área com maior interação com a cidade e convida a comunidade a conhecer o trabalho feito pelo Centro. A ideia é a praça seja absolutamente acessível aos frequentadores do Centro e ao restante da população, provocando justamente a interação entre todos. Neste contexto, é importante que os eixos do edifício abracem esse espaço do pátio de acolhimento.

A plasticidade do edifício foi pensada de maneira que respei-

tasse a linguagem e as proporções do entorno. Desta forma, desenvolveu-se uma volumetria térrea e mais horizontal que aproxima-se mais da escala humana e favorece o sentimento de pertencimento dos frequentadores.

LEGENDA Acesso carga e descarga

área do jardim terapeutico

Traço do edifício

área da horta

Fluxos

ESTACIONAMENTO

37


10 / ZONEAMENTO do edifício

A partir das diretrizes definidas para o projeto e dos conceitos

que busca fornecer ambientes receptivos e acolhedores, conduzindo os usuários às areas terapêuticas de aprendizagem e com foco no desenvolvimento das relações humanas e no contato com a natureza, valorizando o protagonismo e apropriação dos espaços pelos usuários.

A edificação se divide em 4 zonas. A primeira zona corres-

Acolhimento que os convida a conhecer o Centro de Convivência. Já a segunda zona abriga a parte Comunitária do edifício. Os

ambientes deste módulo (Auditório e Galeria de arte) são um importante convite à comunidade para conhecer o trabalho que é pro-

OMUNIDADE

espera. Os usuários são conduzidos à recepção através do Pátio de

C

ponde ao módulo de recepção, que abriga a área de administração e

RECEPÇÃOC

trazidos pela Reforma Psiquiátrica, desenvolveu-se um zoneamento

duzido pelos frequentadores do Centro, assim como para promover de mental.

A terceira zona corresponde ao módulo de convivência, que

abriga as áreas de apoio e ressocialização dos usuários dos serviços de saúde mental, onde todos podem criar laços e compartilhar experiências. O módulo terapêutico concentra as atividades realiza-

CONVIVÊNCIA

eventos voltados à conscientização da população em relação à saú-

das pelas oficinas, com foco no crescimento individual, desenvolvi

As zonas de convivência e terapêutica interagem entre si a

partir de uma ampla varanda que conecta as áreas verdes do projeto com o interior do edifício, favorecendo um agradável passeio pelas áreas internas do Centro. Durante o passeio pela varanda, os frequentadores desfrutam de uma bela vista para o Jardim Terapeutico.

38

TERAPÊUTICA

mento interpessoal e na interação com a natureza.


11 / IMPLANTAÇÃO

Planta de implantação 1:1000

39


40


12 / materiais

ESTRUTURA

Pilares vigas

VEDAÇÃO

MADEIRA LAMINADA COLADA - MLC (EUCALIPTO)

Cobogó mLC

Vidro

PISO

WOOD FRAME

COBERTURA

MADEIRA LAMINADA CRUZADA - CLT

OSB COM MANTA ASFÁLTICA

41


13/ ESTRUTURA

Para a estrutura do projeto, optou-se pelo trabalho com mate-

riais ecológicos e que impactassem menos o meio ambiente. Desta

VIGA MLC 10x40 cm

forma, foi escolhida a madeira laminada colada - MLC com madeira de reflorestamento de Eucalipto.

Além dos benefícios da própria madeira, como valor estético

e propriedades termoacústicas, a MLC se destaca pela alta capacidade de carga e baixo peso próprio, permitindo grandes envergaduras e formas mais flexíveis. Além disso, apresenta alta resistência ao fogo e estabilidade dimensional, características decorrentes do seu processo de fabricação. Por sua vez, o processo de fabricação da MLC consome pouca energia em relação aos outros materiais construtivos.

O pilar em I apresenta tanto valor estético, como também de

permitir um encaixe para as vigas, diminuindo a necessidade de muitos encaixes metálicos e parafusos. Já a matéria-prima utilizada para fabricar a MLC vem das florestas plantadas ou manejadas e funcionam sob o princípio da sustentabilidade para as gerações. Assim, não só o nosso material bruto está sempre disponível, mas também cresce de forma constante.

42

VIGA MLC 20x40 cm

PILAR MLC 20x20 cm


PILARES Tipo P1 P2 P3

Dimensões (m) Larg. 0,20 0,20 0,20

Comp. 0,20 0,20 0,20

VIGAS Quantidade

Alt. 6,00 4,00 5,00

Dimensões (m) Comp. Larg. 12,00 ,20 12,0 0,10 10,4 0,20

Tipo

6 18 12

Quantidade Cobertura Subsolo 54 18 30 10 1-

Alt. 0,40 0,40 0,40

P2 P2 P2

m

108,0

P2 P2 P2

P2

P2

P2

P2

P2

P2

P2

P2 P2

12,0m

P1 P1 P2 P2 P2

P1 P1 P3

m

23,8

P3

P3

P1

P3

P1

P3

P2 P3 P3 P3 P3

0 12,

P3

0m 72,

m

P3

P3

43


13.1/ detalhamento de estrutura

cONEXÃO PILAR - VIGA VIGA MLC 20x40 cm

VIGA MLC 10x40 cm PILAR MLC 20x20 cm CANTONEIRA METÁLICA

40cm

PILAR MLC 20x20 cm

VIGA MLC 10x40cm/ 20x40cm

44


COBERTURA de OSB com manta asfáltica

PLACA OSB CALÇO i=1% ISOLAMENTO BARREIRA DE VAPOR PLACA OSB

ARREMATE DE COBERTURA MLC (ITA)

MANTA ASFÁLTICA RUFO METÁLICO

40cm

TABEIRA MLC BARROTE MLC VIGA MLC 20x40 cm

45


BB

1 08,5

23 19

14 11 9

10 12

15 18 16 17

13

20

25

27

26

24

22 21

60,1

LEGENDA

1 36,1

2

36,1

AA 24,1

6 7

8

3

4

72,1

AA

BB

5

PLANTA TÉRREO - ESCALA 1:350

46

1 - Administração 2 - Recepção 3 - Galeria de arte 4 - Banheiro feminino 5 - Banheiro masculino 6 - Banheiro feminino 7 - Banheiro masculino 8 - Auditório 9 - Biblioteca 10 - Sala de informática 11- Sala de atendimento familiar 12 - DML 13 - Depósito 14 - Sala de atendimento jurídico 15 - Almoxarifado 16 - Banheiro PNE 17 - Banheiro feminino 18 - Banheiro masculino 19 - Sala de reunião 20 - Sala de estar 21 - Refeitório 22 - Cozinha terapêutica 23 - Dispensa 24 - Ateliê de música 25 - Ateliê de dança 26 - Ateliê de costura 26 - Sala de meditação


47


2%

10%

10%

2%

PLANTA DE COBERTURA - ESCALA 1:350

48


49


14. FACHADAS

VISTA FRONTAL eSCALA 1: 350

VISTA POSTERIOR eSCALA 1: 350

50


VISTA lateral 1 eSCALA 1: 350

Vista lateral 2 eSCALA 1: 350

51


15. CORTES

CORTE AA eSCALA 1: 350

CORTE BB eSCALA 1: 350

52


53


16. Paisagismo

O paisagismo foi pensado de modo a cumprir com algumas

VEGETAÇÃO

apenas massas de vegetação, ornamental ou não, neste projeto, têm funcionalidade e papéis de suma importância para o desenvolvimento das atividades diárias dos frequentadores e dos ideiais que

HERBÁCEA

funções na dinâmica terapêutica e social do Centro. O que seriam

norteiam este projeto. Por meio dos extensos jardins do projeto, cria-se uma pos-

sibilidade dos frequentadores terem maior contato com a natureza e sentirem-se mais humanos. A composição de diferentes cores, texturas e formas da vegetação, transforma a percepção do espaço e desperta diferentes sentimentos em relação à paisagem. Já a ado-

CAPIM LIMÃO Cymbopogon citratus

RUIBARBO Trimezia cf. juncifolia

ORELHA-DE-ONÇA Pleroma heteromallum

Cajuzinho-do-campo Anacardium humile

Amendoim-bravo Chamaecrista desvauxii

PAU-DOCE Vochysia tucanorum

PEROBA DO CERRADO Aspidosperma tomentosum

SUBARBUSTIVA

CAPIM SAPÉ Imperata cylindricased

ação de algumas espécies nativas do cerrado fomenta uma consciAtravés da criação das áreas externas - Pátio de acolhimen-

to, jardim terapêutico e horta comunitária, busca-se fortalecer a relação frequentador - comunidade, frequentador - natureza e frequentador - frequentador.

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PALMEIRA

ARBUSTIVA

ência ecológica a respeito das paisagens locais.

BURITI Mauritia flexuosa

BUTIÁ DO BRASIL Butia capitata


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CONSIDERAÇÕES FINAIS 58


O Centro surgiu da necessidade de oferecer um espaço digno e de quali-

dade às pessoas em possível sofrimento psíquico. Desta forma, ao longo de todo o processo projetual foi essencial compreender a loucura em sociedade e de que forma podemos criar espaços que atendam às demandas de acolhimento psiquiátrico.

O design biofílico foi um importante guia para o projeto, buscando sempre

uma maior integração entre os frequentadores e a natureza para, desta forma, criar uma relação simbiótica de construção e transformação entre a paisagem e usuário. Acredito que o trabalho buscou mostrar também a importancia da arquitetura humanizada e do desenho universal para a construção de espaços que busquem o bem estar e autonomia dos frequentadores.

O projeto trouxe um pouco do debate sobre a evolução da loucura em dife-

rentes contextos e sobre a construção de uma relação mais igualitária entre o louco e a sociedade. A ideia foi trazer uma reflexão acerca das diferentes formas de edificar os espaços da loucura e apresentar a importância da implementação de uma Arquitetura, como ponte eficiente entre a Saúde Mental e o usuário, que se relacione diretamente com o indivíduo, principalmente no quadro de Reforma Psiquiátrica atual.

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17 / referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário,

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Gili, 2017.


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