XXXIII
Setembro é um mês bacana. Mês para refletir, respirar fundo e seguir com o bom combate. “Never was a cloudy day “ é o papo. E vamo que vamo! Martins de Castro Editor Capa/ ilustra à esquerda Lorena Kaz http://www.lorenakaz.com/ Revista Monotipia @monotipia http://monotipia.tumblr.com monotipia@gmail.com https://www.facebook.com/monotipia
Prisc
Ficções, documentários e tudo que envolve o mercado audiovisual, ganha espaço por bons roteiros e qualidade de imagens, que prendem a atenção e atraem os espectadores de cinema. Com o mercado cinematográfico vasto e cheio de cineastas, se destacam os profissionais que reúnem esses diferenciais.
ci Guedes
La
A jovem cineasta Priscila Guedes, que vem conquistando cada vez mais espaço na Europa com filmes realizados em diferentes países, como nos Alpes Suíços, Portugal, Alemanha, França e Inglaterra, agora busca espaço em seu país. Carioca da gema, Priscila Guedes, nascida e criada no Rio de Janeiro, trocou a graduação em Relações Internacionais pelos estudos em Artes Visuais, na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estudou de 2004 a 2007. Em 2009, Priscila realizou o seu projeto mais famoso, o documentário Hanami, o Florescer da vida. O filme sobre parto humanizado conquistou fundos numa campanha de crowdfunding (financiamento coletivo), em que conseguiu apoio financeiro de pessoas na Austrália, Suíça, Espanha, Alemanha, Portugal, Inglaterra e Brasil. Foi distribuído no mundo inteiro e possui mais de 400 mil visualizações. Após esse período, a cineasta, sempre focada em seus projetos profissionais, se tornou exemplo para os jovens que pretendem estudar em outro
país. Morou na França, se formou em cinema na École Supérieure de Cinéma et Audiovisuel AIS Marseille, se especializou em direção de filmes e direção de fotografia com estágios de aprofundamento na PANAVISION Marseille e TSF, principal fornecedora de equipamentos de iluminação para o mercado cinematográfico francês. Priscila Guedes trabalha no mercado cinematográfico francês em curtasmetragens, canais de televisão renomados como France 3, France 2, Canal Plus e em longas-metragens, como Camille Claudel 1915, do diretor Bruno Dumont, em que a famosa atriz francesa Juliette Binoche atuou como protagonista. Atualmente, seus filmes têm características sutilmente plásticas, provocadoras, sensoriais, poéticas, filosóficas e, às vezes “emocionalmente violentas”, quando se trata de seus roteiros. Também fez parte da equipe do longa-metragem Tanagra, dirigido pelo francês Regis Musset e Saida Jawad, com a participação do consagrado ator francês Gérard Jugnot. “Na área cinematográfica não tem como mentir: ou temos competência, ou não. O produto final (filme) pode ser visto e analisado pelo mundo inteiro, então o fruto do teu trabalho está ali: competência e sensibilidade materializadas”, comenta Priscila Guedes.
Estudou e morou em países como Suíça e Portugal e, ao longo de sua carreira, realizou sete curtas-metragens de vídeo arte e ficção, um documentário de média-metragem, e participou da produção de mais de 50 filmes nacionais e internacionais de diretores no Brasil, Bélgica, Estados Unidos, Cuba e Suíça, nos quais atuou como montadora, assistente de direção, diretora de fotografia e assistente deste mesmo cargo. Em outubro Priscila Guedes vêm ao Brasil para lançar o filme Putain D’amour, o primeiro de sete curtasmetragens de ficção, da série Contos da Coceira. O projeto tem como fonte inspiradora, para a escrita dos roteiros, o polêmico escritor Nelson Rodrigues. Além disso, a cineasta também lança o clipe “Agora Nesse Momento”, que dirigiu e fotografou, do compositor Marcelo Yuka, ex-integrante da banda O Rappa. Com Yuka, Priscila também está escrevendo um longa-metragem na categoria tragédia cômica, que promete fazer muita gente rir. “Chegar ao Brasil agora, com projetos prontos pra lançar, é muito especial pra mim, porque é como contribuir culturalmente com o país onde nasci”, diz Priscila.
fonte: Efetiva Assessoria de Imprensa
Agora Nesse Momento
Um filme de Marcelo Yuka Direçao e cinematografia de Prisci La Guedes Curta- metragem - clipe - formato digital Rio de Janeiro - Brasil Participações especiais: Camila Gomes Dada Suvedananda Marcos Moraes Marina Gomes Paola Castilho Tomas PatagoniaDub Joshen
Agora nesse momento: ficção - clipe, poema ilustrado cinematograficamente, curta metragem. Autoria do poema, trilha sonora e co-roteirista: Marcelo Yuka Sinopse: “agora nesse momento, não tem o que eu me lembrei, não tem o próximo evento, nem o peso do tempo. estou ao meu redor, como estou por dentro...” assim segue este buscador da verdade. parece complicado, mas o que ele quer mesmo, é o simples. este é um poema de marcelo yuka, transformado em filme com o olhar visceral da cineasta Prisci La Guedes.
“A Priscila foi uma grande novidade na minha vida, trabalhar com ela no projeto Agora nesse momento é deslumbrar uma cumplicidade que só experimentei com meus amigos Paulo Lins e Katia Lund (respectivamente, roteirista e codiretora do filme Cidade de Deus) em projetos como os vídeo-clipes Minha alma e O que sobro do céu (até hoje os mais premiados do Brasil), com um adendo a mais que é a sua habilidade fotográfica de muito bom gosto e criatividade. O projeto do longa-metragem O azar traz sorte é uma outra faceta de nosso encontro. Nesse filme nos envolvemos mais profundamente no roteiro propriamente dito, o que está me trazendo um prazer grande pelo desprendimento formal com que conduzimos esse trabalho e me parece algo realmente criativo e instigante.” - Marcelo Yuka, fundador e exintegrante da banda O Rappa.
Fernanda Nia
MT: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinhista Fernanda Nia: Sou formada em Publicidade e Propaganda, mas ilustrar sempre foi uma paixão minha. Depois de uma vida inteira lendo quadrinhos, foi quase inevitável eu criar o meu também mesmo que no início fosse só uma brincadeira. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? Nia: Sempre fui fã de artistas que brincam com exageros e comparações dramáticas, como o site The Oatmeal, a autora Meg Cabot e alguns colunistas do site Cracked, e isso acabou influenciando bastante a forma como eu escrevo e exponho minhas ideias. Visualmente, acho que o Como eu realmente é uma salada: apesar de as cores claras e traços simples virem de desenhos infantis e femininos (como os da autora do site Cat versus Human), às vezes incorporo elementos visuais de mangás (balões, onomatopéias e até enquadramentos) e exagero nas proporções como nos bons desenhos clássicos do século passado. Por fim - e sei que isso vai soar estranho -, Machado de Assis. Deixa eu explicar: sempre achei impressionante a sinceridade das suas obras, que admitem exatamente o que o personagem está sentindo por mais esquisito ou maldoso que isso seja. Inspirada nele, prezo sempre pela sinceridade e honestidade com o leitor em todos os meus trabalhos.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? Nia: O Como eu realmente sempre foi 100% digital, e a única vez que desenhei a Niazinha à lápis foi quando a rabisquei na toalha de papel de um rodízio de pizzas (risos). E gosto muito do formato assim. Fazer a arte pelo computador me permite níveis altíssimos de padronização nos personagens e cenários, e o formato vertical por causa da barra de rolagem ajuda a surpreender o leitor ao ir mostrando a tirinha aos poucos, conforme ele rola. Além disso tudo, posso quebrar barreiras e brincar com os limites dos quadrinhos, experimentando formatos de diagramação e até adicionando movimentos e sons. Sem falar no canal direto de comunicação com o público e o seu feedback instantâneo, né. Às vezes até altero a imagem de acordo com a sua repercurssão. A tirinha vira quase uma criatura viva, multisensorial e em mutação constante. MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. Nia: Primeiro vem a ideia, que surge de basicamente qualquer coisa. Mesmo que eu não vá fazê-la no futuro próximo, ou não esteja bem resolvida ainda, anoto tudo em um documento digital. Quando quero fazer tirinhas, vou nele e escolho a ideia que eu estiver mais no clima de fazer e parto para o Adobe Flash,
que é o programa que eu uso pela sua facilidade em lidar com arte vetorial rápida. Não tenho esboço, e é tudo feito 100% digital com mesa digitalizadora. Tirinhas mais simples levam em média uma hora e pouco para fazer, e as maiores e mais complicadas podem levar até um dia inteiro – mesmo que eu reaproveite cenários e personagens já desenhados anteriormente. MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? Nia: A harmonia das cores normalmente é a minha maior preocupação (e dificuldade). Como os cenários e personagens são simples, as cores têm o papel importantíssimo de dar o clima certo à tirinha, tanto emocional quanto espacial. Além disso, preciso ter cuidado na escolha dos tons porque são eles que coordenam a leitura e os níveis de importância das informações expostas em cada quadrinho. MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? Nia: Fora desse maravilhoso universo visual, tenho me aventurado bastante na escrita. Terminei recentemente uma história de ficção com fantasia, romance e comédia e estou correndo atrás da sua publicação. Desejem-me sorte!
MT: Por que quadrinhos? Nia: É uma das linguagens mais deliciosas que existem! Você tem uma infinidade de elementos ao seu dispôr para passar a mensagem ou sentimento que quiser na sua história. Imagem, texto, cor, diagramação, velocidade, luz. No formato digital, dá até para colocar algum movimento e som também. E isso tudo ainda deixando aquele espacinho semântico em branco para que o leitor complete a história com a sua própria imaginação, do seu próprio jeito. É quase magia! MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? Nia: Acompanho alguns títulos de mangás desde que me entendo por gente, mas ultimamente tenho desprendido muito mais atenção a quadrinhos online independentes e de autores nacionais. Sou super fã do Ricardo Tokumoto, do RyotIras, e do Will Leite, do Will Tirando, além de ler inúmeros outros autores e autoras talentosíssimos. Além de quadrinhos, tenho lido muitos livros de fantasia mais desconhecidos que escolho passeando pelas estantes de ficção das livrarias. Tantos universos diferentes e interessantes abrem a minha cabeça e me inspiram.
AndrĂŠ Lasak
https://www.facebook.com/quimeraufana
LAMENTO DO MONTE
No alto do monte Sรณ o monte observa O que estรก por trรกs Do tempo em que ele Se esconde atrรกs Das nuvens negras Do alto do monte Sรณ o pastor observa O que estรก por trรกs Da obrigaรงรฃo em que ele Se esconde atrรกs De simples ovelhas No alto do monte Sรณ o arbusto observa O que estรก por trรกs Do vento em que ele Se esconde atrรกs Das silenciosas pedras Do alto do monte Sรณ o eco observa O que estรก por trรกs Da tentativa em que ele Se esconde atrรกs De amargos lamentos
MERCHANDISING NO POEMA
SEPARAR
JUNTAR
SE
JOIO
A
QUEBRAR
DO
COR
SUPERBONDER
MILHO
CINZA
SE
CICA
E
SUJAR
VERDE
BRANCA
OMO
OLIVA
E
LAVA
AZEITE
DUREPOXI
MAIS
MARIA
VIRA
BRANCO
SAI
CINZEIRO
DE
DA
PORTA-ISQUEIRO
MEDO
LATA
MARICA
DE
DE
PRA
BARATA
MANTEIGA
FUMAR
USE
AVIAÇÃO
E
DETEFON
COM
DEPOIS
MATA
SAL
UM
TUDO
CISNE
DROPS
É
AGOSTO
KIDS
MERCHANDISING
DO
HORTELÃ
ATÉ
FREGUÊS
REFRESCANTE
POEMA.
Cara, a MarĂlia ĂŠ legal
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustradora e quadrinhista. Marpilia Bruno: Então, é engraçado. Não sei se eu me considero “quadrinista”, ainda. apesar, né, de já estar fazendo… mas sei lá, eu só tenho esse (o “Cara, eu sou legal”) e eu participei de um coletivo (23,5 #1) e tem tanta gente boa por aí, né? Eu acho isso é estranho, porquê eu ainda tenho aquela coisa de meio que me diminuir e falar “eu não sou quadrinista”. Tô brincando ainda, estou engatinhando no meio dos quadrinhos. é porquê realmente tem muita gente boa mesmo, mas é bom, porquê isso me impulsiona mais. Em relação à minha formação, eu acabei de terminar a UFRJ. Eu me considero designer e ilustradora (já posso me considerar ilustradora, agora já tenho alguns livros publicados e estou finalizando outros). sei lá, eu sempre curti muito essa coisa de livro, eu sempre adorei olhar capa, então, quando eu entrei em design, já era bem certo o que eu queria fazer. Só que o design tem um milhão de ramos aí dentro é que eu fui me direcionando, e o quadrinho que foi uma dessas direções que o design acabou me dando. mas eu não sei se me considero quadrinista. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? MB: Ih, gente! Vários. Tem o Renato Alarcão. Eu gosto muito dele, que eu acho que ele já tem um toque de contemporaneidade que é muito legal. Estou até olhado minha pastinha de ilustradores que eu gosto pra não me perder, tem uma francesa chamada Antoinette Fleur, ela faz umas coisas com caneta colorida. eu gosto muito dessa mistura, dessas coisas modernas. Tem o Alex T. Smith, que eu coloquei na minha monografia como uma
das referências de traço. Ele tem um traço muito maneiro, ele faz muita coisa infantil também. Tem a Gemma Correll, também. De quadrinistas, tem o Liniers, a Maitena, uma galera de independentes aqui no brasil que eu admiro muito, tanto em relação ao traço, quanto em relação à forma com que contam histórias. O pessoal de BH (a Lu Cafaggi e o Vitor) o jeito que eles o contam histórias é muito legal. O Gustavo Duarte, a forma com que ele consegue contar o roteiro dele. Acho que é isso que eu fico analisando mais que o traço exatamente. Acho que eu gosto de pegar coisas mais soltas mesmo. Às vezes eu vejo de uma foto aleatória que não sei nem de quem é e eu salvo aqui sem nome... eu não sei dizer quem são os artistas na minha lista, porquê é muita coisa. Às vezes um grafite que você vê na rua e acha maneiro. É isso, um pouco de tudo. Você vai num festival de animação, e vai não sei aonde e vê o cartaz de um filme e como eu trabalho com capa de livro, sempre que eu vejo capa e cartaz de filme eu fico olhando muito admirando. eu nem sei quem fez, porquê nunca tem crédito. Também tem isso. eu me influencio muito por coisas que não dá pra saber quem fez. Capa de livro você tem de abrir, olhar na ficha catalográfica e nem sempre você pode, as vezes você só vê na internet, as vezes você não tá com tempo. isso é bom e ruim, porquê eu não fico marcada por nomes mas também as vezes eu queria saber quem é o artista e não consigo saber. MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? MB: acho que eu vou ter de falar “livro”, mesmo. eu gosto muito de livro tanto pela parada de você pegar, do manual de você passar a página, sentir a textura da folha e eu acho que tem muito isso do papel em que você imprime influenciar o que você está vendo. Po, eu já vi
cartõezinhos de visita incríveis porquê eram num papel fodão de textura não-sei-o-quê-de-bambu e o cara só “silkou”, e ficou lindo, foi incrível. Não precisou de cor especial, laminação, de nada, porquê o próprio suporte já é incrível. Então, com certeza em relação a quadrinhos, principalmente, eu gosto de coisas impressas. Acho que a coisa impressa te dá uma possibilidade que é muito mais envolvente que o manual. No impresso você pode colocar uma dobra, pode colocar coisa dentro de um envelope legal, você tem essa coisa do papel, cheiro.. você quer olhar uma coisa, você está em casa, você quer olhar a referência você vai na sua estante, abre, olha. O digital, tudo bem, te dá possibilidade de jogo, de animação... mas nunca me atraiu tanto assim. Tanto que eu não sou muito de, sei lá, ver desenho essas coisas quer dizer, eu vejo filme e serie como todo mundo, mas eu não tenho um olhar tão clínico em relação a coisas digitais. Meu namorado fica revoltado porquê eu tenho canais hd e eu fico vendo canal normal e eu falo que “po, eu não sinto diferença nenhuma”, ele fica revoltado “como assim não sente diferença? meu deus coloca em hd”. Eu to meio cagando, mas se eu pego uma coisa impressa que tá pixelada, que tá borrada, eu olho aquelas letrinhas assim (N.E: ela espremeu os olhos e fez um olhar de reprovação) e falo “isso aqui saiu do registro, hein? olha aqui, saiu do registro” então é engraçado mesmo. Eu tenho um olhar mais clínico pra isso. Também como eu trabalho com livro, eu acabo tendo uma empatia maior. MT: Essas deformações profissionais são sempre divertidas MB: essa coisa de papel, de cor é um vício do ramo que você acaba pegando e não consegue largar. aí, sempre que você olha alguma coisa você já vai no tipo da impressão, já olha de pertinho pra ver se deslocou ou não.. (risos)
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações (e HQs). MB: Eu prefiro fazer no papel. Eu sou muito mais rápida desenhando no papel. Até to começando a aprender a pintar digital, e o bom é que as vezes você quer mudar uma corzinha ou nãosei-que que ficou borradinho aí você apaga digital bem mais fácil, mas a base do desenho mesmo e, principalmente no momento do rascunho eu tenho de fazer no papel, senão não dá, não sai nada. Até porquê eu não sei mexer com tablet. O que eu pinto, eu pinto com mouse, eu já tentei me entender com a tablet, não consigo, mas eu prefiro mesmo (o papel). Geralmente eu faço o esboço, aí escaneio, só pra não perder e depois eu finalizo com caneta nanquim, qualquer coisa assim, a mão mesmo… aí eu escaneio, trato pra tirar o esboço que estava embaixo, de lápis azul, aí só pinto digital. Aí é isso, eu realmente prefiro trabalhar com suporte de papel mesmo. eu só passo pro computador porquê tem de passar, porquê pra passar pra gráfica e diagramar tudo e tal não tem muito como fugir. MT: como está sendo a construção do “cara, eu sou legal”? MB: Gente, eu to muito nervosa com isso de fazer direitinho e não dar nenhuma zica na impressão, entregar tudo direitinho pra todo mundo. Aliás essa é uma coisa que até que eu falei antes que eu não me sinto não-sei-oquê, que eu fiquei muito insegura com a coisa do catarse, aí eu sabia que a impressão ia dar mais, mas eu fiquei com medo de pedir mais, porquê a ideia era eu ter pedido cinco, pra pagar tudo eu vou precisar de cinco, mas eu fiquei com medo e decidi pedir três, e o resto eu coloco do meu bolso, eu não vou conseguir, eu não sei nem se eu vou conseguir três e acabou que, sei lá, está sendo bem legal.
MT: Como foi a participar do primeiro 23,5? MB: Bom, naquela eu tive muito mais dificuldade incrível, porquê apesar de ter sido muito menos paginas, foram umas seis, eu ainda estava entendendo mesmo. A gente fez em 2011, então eu ainda estava me entendendo no mundo do quadrinhos e entendendo as criações em volta, mas de qualquer forma, ter feito e ter ido pro FIQ foi muito bom, peguei muita referência, comecei a conversar com as pessoas, comecei a acompanhar coisa em blog, em fanpage e isso me fez crescer em relação a tudo. Aí quando chegou na época do TCC que eu fui fazer o “cara”, realmente foi muito mais fácil, porquê eu estruturei muito melhor o personagem, eu desenhei várias carinhas dela antes num papel grande para eu ter alguns rostos de referência, uma base de expressões, sabe? que é uma coisa que eu não tinha feito no outro, então, acho q de certa fora o 23,5 me ajudou a crescer, ver o quanto eu estava ruim, aí eu tive de melhorar, sabe? (risos) Acho que foi mais ou menos isso.
MT: Interessantíssimo MB: pois é, eu até queria levar isso pro mestrado, só que eu não to me entendendo com o mestrado da UFRJ, porquê tem professor que fala que a prova é “assim”, tem professor que fala que a prova é “assado” e no site da EBA não tem ainda o cronograma do próximo mestrado como vai ser aí tá meio sinistro. e eu queria mesmo levar isso de quadrinho pro mestrado que, bom, pelo menos pelo até onde pesquisei, não vi ninguém fazer esse tipo de pesquisa, porquê quando eu estava fazendo o meu TCC, algumas pessoas meio que desacreditavam “ah, quadrinho? coisa fácil. tu vai lá desenha pronto acabou”, então é isso, cara, quadrinho é muito mais que isso. Tem toda uma contexto histórico e os quadrinhos atuais, nossa, completamente diferentes do que eram 10 anos atrás, as experimentações que as pessoas fazem, a coisa da mídia de apoio… tipo o projeto do Crumbim, sabe? Aí você tem o quadrinho, e você tem o jogo... po, isso é muito foda. É uma coisa que pode render uma pesquisa acadêmica muito boa.
MT: Então você se preocupou mais com a preparação pra fazer a “cara, eu sou legal” MB: Foi, foi. Até como foi pra faculdade, tive de fazer realmente uma coisa bem mais estruturada e certinha, pra não chegar pra banca e dizer “olha, eu fiz um quadrinho bonitinho e é isso aí”. Precisava apresentar um projeto bem estruturadinho mesmo, até em relação a pesquisa, que eu gostei incrivelmente de fazer. Achei que eu fosse achar chato, mas eu gostei muito da parte de pesquisa histórica, de referência e explicar sobre quadrinho.. eu gostei assim.
MT: concordo. parte da razão de ser dessa série de entrevistas na monotipia é traçar um retrato é dos quadrinhos de janeiro de 2011 até, sei lá, eu cansar de fazer isso. MB: Nossa, que importante! eu estou participando disso =D engraçado que depois que eu comecei a fazer, comecei a pensar em umas histórias já. eu tenho uma historinha que se divide em 3 partes na minha cabeça, ma poderiam se dividir até em mais e eu fico doida pra desenhar, mas não sei aonde eu encaixaria isso, porquê daria umas 20 páginas. Eu não vou fazer um livreto de 20 páginas não vale a pena. então ou eu aumento isso ou eu jogo pra alguma revista. Ainda estou pensando.
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? MB: Eu fiz “a menina e o mendigo”, que eu fiz todas as ilustrações internas e a capa, mas eu não diagramei, e também um chamado “Vovó Benuta”, mas ele não é bem ilustrado. Eu fiz colagens, como se ele fosse um diário da menina contando a história e tal. Agora eu estou fechando um com a Panda Books em que eu fiz todas as ilustrações internas e a diagramação e eu to fechando um também da Sylvia Orthof, com a Nova Fronteira, que também não é bem ilustração, é mais uma mistura de tipografia, colagens, umas coisas meio birutas e tal. É que é um livro de história grande, são 120 páginas, não é infantil, mas eu também não fica texto corrido, eu fui mexendo com tipografia, e tem umas horas em que ela fala alguma coisa e aí vira um balão de fala e não-sei-oquê. eu não sei definir o q q eu fiz, mas eu estou gostando e a editora também, então =D. Eu também fiz outro pra Record. que é um do Malba Tahan, um conto dele. Mas esse eu também não diagramei, só fiz as ilustrações. MT: Por que quadrinhos? MB: porquê eu acho que hoje em dia quadrinhos vai muito além do quadro a quadro, literalmente. hoje as pessoas conseguem contar histórias como se fosse um livro de artes. uns painéis, umas coisas incríveis. o V.I.S.H.N.U., do Fábio Cobiaco, é isso pra mim. o formato, aquele livrão enorme e uns painéis lindos, coisas diferentes aí o pessoal também faz colagem, faz não sei o que. acho que isso me chamou a atenção pra fazer quadrinho atualmente. talvez, se eu tivesse começado com isso a 10 ou 15 anos, porquê não ia me chamar tento a atenção
MT: Então essa multiplicidade de formas, plásticas e estéticas foi o que te chamou à atenção MB: foi o que me chamou à atenção e é o que eu gostaria de fazer. no “cara, eu sou legal” não é tão assim experimental. mas só o fato de eu usar preto e rosa, e alguns cenários são abertos, e o livro é quadrado, então eu já consegui brincar um pouco mais com isso, que eu achei bem legal. é o que eu chamei na minha monografia de “quadrinho de livraria”. pra mim isso é obra de arte, sabe? não é mais pra em vender em banca de jornal. quadrinho hoje em dia é artigo de estante, livraria MT: O que você tem lido ultimamente? MB: ih, pior que ultimamente eu estou meio parada nos quadrinhos, justamente porquê eu estou esperando o FIQ no final do ano pra comprar tudo. Mas eu cheguei a comprar o Laços, dos Cafaggi, que eu achei uma gracinha é chover no molhado elogiar o negócio, mas o traço é incrível e a historinha é linda. e eu comprei o 3 sombras, do Cyril Pedrosa, que desde o outro FIQ que eu não tinha comprado e, meu deus, me apaixonei pelo negócio, é lindo. e, ah, esse é um bom exemplo de quadrinhos que brinca com as formas, brinca com a coisa de abrir a página e tal, é lindo e é tudo no preto, ele nem usa cor. e é foda. e dos outros eu to parada mesmo porquê eu estou esperando o final do ano pra chutar o balde e comprar milhões de coisas. Em relação a outros livros, eu tenho lido livros de fantasia, normal, mesmo, como sempre gosto de fantasia meio juvenil. eu li o castelo animado já a um tempo, aí eu comprei o que vem em seguida, que o castelo no Ar e a casa de muitos caminhos. aí eu estava lendo esses dois.
Maria Paula http:// mariapaula.art.br
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Eduardo Ferigato
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinhista Eduardo Ferigato: Minha formação em quadrinhos foi na Quanta Academia de Artes. Fui aluno do Marcelo Campos, do Greg Tocchini e do Otavio Cariello. Estudei lá por 4 anos mais ou menos. Lá podia conviver em interagir com pessoas que estavam atuando no mercado, além de serem artistas formidáveis. Isso foi o grande impulso que eu precisava para fazer quadrinhos. Não cursei nenhuma faculdade. Mas em desenho comecei bem pequeno, com 6 anos já sentava na frente da TV e desenhava o que assistia. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? EF: Os artistas que mais me influenciaram no começo foram Greg Capullo, Roger Cruz, Marcelo Campos, Mignola, Frank Miller e Kevin Nolan. Mais recentemente Eric Canete e a descoberta dos desenhistas com traço mais clássico, com massas de preto chapado começaram a me atrair mais. Estou fascinado pelo Goran Parlov, o Ivo Milazzo, o Bernet e toda galera que segue essa linha.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? EF: Eu praticamente só tenho trabalhado na minha Cintiq 12 da Wacom. Faço tudo nela. Sei que existe a desvantagem de não ter um “original”, mas tenho conseguido resultados muito interessantes com ela e ela facilta muito meu trabalho. Não preciso mais escanear, passar na mesa de luz ou imprimir em azul na gráfica pra arte final. Ganha-se horas de trabalho com isso. Se preciso fazer na mão uso a caneta Zebra pra linhas finas, pois ela dá uma mudança na espessura do traço naturalmente e pra chapar de preto e marcar sombras uso marcador mais grosso. Pro layout vou de lapiseira pentel 07 com grafite 2B. MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. EF: Bom, começo fazendo a ilustração/ página bem pequena, no tamanho de meio A4 mais ou menos, isso me permite a visualição da imagem como um todo e um controle maior da composição. Depois aumento o layer e deixo ele com uns 30% de visibilidade. Aí começo a arte final, evitando ao máximo trabalhar com zoom muito grande para não detalhar demais. Procuro deixar a imagem no tamanho A3, no máximo A2. Isso evita que eu faça detalhes desnecessários. Depois da imagem em PB pronta, parto para um cor chapada com algumas texturas bem suaves dependendo do trabalho.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? EF: Eu gosto que a narrativa visual tenha seu próprio ritmo, prefiro quando o roterista me manda o roteiro aberto, permitindo que eu trabalhe a sequencia de um modo que faça sentido para mim sem os textos. Procuro não poluir muito a página com detalhes no caso dos quadrinhos, para que a leitura seja mais suave e fluida. Na minha opinião, páginas com muito detalhe atrapalham demais a narrativa visual. MT: Fale sobre seu novo projeto, QUAD-HQ, que está em campanha no catarse. EF: O QUAD é um projeto que estou fazendo, junto com Diego Sanches, Aluísio Cervelle Santos e com o Eduardo Schaal. Será uma hq de ficção científica com 4 histórias com cada um fazendo o roteiro e os desenhos. Todas elas se passam dentro do mesmo universo, embora sejam independentes umas das outras. Estamos tocando o projeto para publicar no mercado indepentende e lançar no FIQ de 2013. Por isso tivemos a idéia de recorrer ao Catarse. Site que permite uma pré-venda da HQ para nos ajudar nos custos de gráfica. Existem mais detalhes do projeto no próprio site: (http://catarse.me/pt/QUAD)
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? EF: Tenho feitos ilustrações para a revista Mundo Estranhoe Men´s Health da Abril, estou fazendo as capas da segunda fase da coleção 39 Clues para a editra Ática e trabalho como artista 2D em uma empresa de jogos para Mobile. MT: Por que quadrinhos? EF: Quadrinhos é a melhor forma de alguém sem muito dinheiro, criar universos e contas suas histórias. Agora que estou fazendo o QUAD, tenho curtido muito trabalhar fazendo algo como eu sempre quis fazer, sem a influencia de outras pessoas alterando minhas idéias. Quando se trabalha para editoras ou roteiristas, devemos respeitar a visão deles sobre seus personagens e histórias, no caso do QUAD, é divertido e desafiador ser além do artista. O roteirista e o editor do projeto. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? EF: Curti muito a fase Max do Justiceiro e do Nick Fury, com desenhos do Goran Parlov e roteiros do Garth Ennis. A HQ Scalped também é espetacular, de longe uma das melhores histórias que li em muito tempo. Além de sempre acompanhar o Hellboy. De Super Heróis faz anos que não leio nada. Além disso tenho assistido as séries Game Of Thrones , Breaking Bad e Justified.
Lorena Kaz
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustradora e quadrinhista. Lorena Kaz: Sou formada em design de produto pela PUC-Rio. Tenho pai e mãe designers e apesar de sempre ter gostado muito de desenhar e de todos os comentários “você deveria ser desenhista” eu nunca quis fazer design para não imitar meus pais, na época da faculdade, porém, por falta de certeza acabei fazendo design por ser s opção mais óbvia. Hoje acho que deveria ter feito artes plásticas. Trabalhei com pintura na época da faculdade e depois com design e ilustração de jóias, o trabalho que fosse, sempre estava ligado a ilustração. Os primeiros retratos foram os dos professores durante as aulas no ginásio, passava muito tempo das aulas desenhando os professores ou falando pelos cotovelos. O primeiro personagem foi inspirado em um ex-namorado e o chamei de “cuco chacaco”, o desenhei desempenhando uma infinidade de atividades que depois viraram camiseta. O segundo personagem veio junto e foi a autobiográfica Lokáz que surgiu em uma “versão rudimentar” por volta de 2001. Sempre fiz charges, desenhos e anotei ideias em folhas soltas e muito desorganizadamente, acho que o primeiro caderno com cara de sketchbook e vontade de criar uma
historia continua surgiu no ano de 2006, em uma viagem para a Índia. Eu já fazia tirinhas, acho que desde 2005, algumas com a própria Lokáz, mas acho que a partir da India tudo ficou ainda mais auto-biográfico. As tiras autobiográficas continuaram enquanto morei na Espanha e na Sérvia e ainda inspiram a maior parte da minha produção (o tema são especialmente as relações afetivas). O blog de tirinhas que ainda existe (www.lokaz-tirinhas.blogspot.com) começou por volta de 2005 mas em algum momento “limpei” os desenhos antigos e deixei as tiras postadas apenas a partir de 2007, que já tinham um estilo mais definido. Meu traço vive mudando e gosto muito que haja variedade visual. Acho que meu estilo é uma metamorfose ambulante assim como eu, logo, ele reflete bastante do meu momento e estado de espirito. Sou uma pessoa caótica e também muito transparente, o que eu sinto, eu demonstr. Acho que não conseguiria ter um traço polido. Hoje em dia tenho dois estilos básicos, um mais fofinho em que geralmente uso para piadinhas despretensiosas ou para retratar situações engraçadas que me acontecem ou que me contam, sem muito julgamento e outro mais tosco que uso para as tiras que tem algum conteúdo de crítica.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? LK: Aprendi o que era historia em quadrinhos com a turma da Mônica. Fico muito impressionada em pensar como toda a formação e o entendimento do que é quadrinho, especialmente para os mais leigos, passa pelo trabalho do Mauricio de Souza. A forma como as historias são contadas, ordem de quadros, balões, onomatopéias… a turma da Mônica foi o primeiro que aprendemos e de certa forma fica como base ou como o “jeito certo” de vermos quadrinhos para o resto da vida. Até mesmo inovar fica dificil e estranho, pois a criança Brasileira normalmente não vai ter muitas referências de historias em quadrinhos além da Turma da Mônica, do mesmo modo que pode ser uma crítica, a Turma da Mônica tem um valor inestimável por desempenhar este papel de “escola de quadrinhos”. Na infancia também gostava dos quadrinhos do Garfield, Mafalda ou Snoopy que via raramente, talvez em algum jornal ou álbum de figurinhas. Os quadrinhos, além da turma da mônica, mais antigos de que me lembro (e de uma forma acabam sendo os mais importantes) são os da Revista MAD, o Goomer e 13 Rue del Percebe (dois quadrinhos espanhois que li por volta dos 6 e 7 anos, em Madrid, onde morava meu pai). Da revista MAD lembro que nem sabia ler ainda, apenas folheava e olhava as figuras e me divertia muito com o desenho Tosco do OTA e as
mulheres e homenzinhos pelados, achava divertido, mas também achava que estava fazendo algo proibido e “lia” as revistas escondida do meu irmão mais velho. Na pré-adolescencia e com o interesse no universo feminino não tinha mais paciência para a turma da mônica, só queria ler as historinhas da Tina e conheci as historinhas da Kika, feitas pelo Airon, acho que era veiculada na revista Querida. Nessa época meu sonho se tornou ilustrar as colunas de perguntas sobre sexo das revistas adolescente, tipo a “Atrevida” ou “Capricho”, eu lia as revistas apenas para ver as ilustrações. Mais tarde também conheci a Maitena e amei a ainda mais a mistura de desenho, humor, cotidiano e universo feminino. Mais tarde também conheci a Nemi Nur, uma historinha escandinava que lia em espanhol pelo fotolog, era dificil de achar, mas eu amava a personalidade da protagonista que era uma metaleira, maria-cabelo, com quem me identificava. Já mais velha conheci outro quadrinistas que admiro. O mais especial é o Liniers, mas também tem vários brasileiros como o Laerte, Adão Iturrusgaray, Dahmer, Alan Sieber e outros ainda mais novinhos como a Chiquinha, Bruno Maron, Caio Gomez, Ricardo Yoshio, Rômolo e uma grande quantidade de ótimos artistas e amigos.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? LK: Gosto de fazer tiras de 3 quadros porque tenho preguiça de ler hqs grandes e acho que as outras pessoas também vão ter. Um pouco de preconceito meu que nunca tiva paciencia para graphic novels de super herois ou mangás e um pouco de realidade porque as tiras de 3 quadros realmente atingem mas rápido e mais fácil. Acho que as tiras de 3 quadros são melhores para o humor e o que eu gosto é humor, pode ser charge, pode ser crítica, mas gosto quando é simples e de preferência impactante ou inesperado. Também gosto do politicamente incorreto. Não tenho interesse em ilustrar historias longas, até porque, o que eu gosto mesmo é de pensar em uma piada e poder tê-la pronta rapidinho. Se eu demorar pra desenhar a piada perde a graça para mim e acho que não vale a pena desenhá-la. Na maioria das vezes as melhores piadas ficam com os desenhos mais toscos. Eu gosto muito do traço sujo e tosco, acho que confere a emoção do momento à ideia. Não gosto do traço super medido e controlado, bom assim como não gosto de nada controlado na vida, em geral. Desenhar para mim, as vezes é mais uma obrigação do que um prazer pois gosto mais de ter a ideia e as vezes queria muito ter um ilustrador trabalhando para mim. Hehehe. Seja como for, não deixo de admirar autores de graphic novel con incríveis desenhos e incríveis doses de paciência e perceverança, tais como a Marjane Satrapi, Art Spiegelman, Craig Thompson, Cyril pedrosa e Aline Kominky-Crumb, entre outros, mas cada um com suas qualidades e formas totalmente distintas de contar historias. O trabalho de arte e ilustração que mais gosto no mundo é o de David Shrigley (desenho de David a esquerda). A direita, minha tatuagem em homenagem a seu trabalho conceitual.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações (e HQs). LK: Hoje em dia faço assim, quando tenho uma ideia escrevo no caderninho. No próximo momento que der para parar para desenhar eu leio a ideia, se ainda parecer engraçada eu desenho se já não tiver graça, fica abandonada. Ando para cima e para baixo de mochila nas costas , caderno e estojo, igual a um estudante. Os dias em que por ventura não posso carregar o caderno a algum lugar, são os dias que tenho mais ideias, e como não tenho como anotar esqueço tudo. Depois fico me martirizando “nossa, tinha tido uma ideia incrível, mas não lembro”. Certamente eu só acho que era tnao genial porque não lembro dela. Então eu faço o desenho, charge, tira ou o que for e publico no facebook e as vezes no blog. A internet é o único lugar onde publico ultimamente. Já publiquei em diversos números da revista pilotis (a revista da PUC) ha muitos anos atrás e participei de vários zines, entre eles o Subversos, de SP. Também tenho cerca de 80 tiras que vão sair em um livro em conjunto com o OTA…Só precisam esses dois doidos (eu e ele) se organizarem e lançarem. Do jeito que enrolamos, acho que no dia que lançarmos haverá feriado nacional com fogos de artificio.
Foto do desenho ao vivo no show da Banda “Máquina”
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? LK: No inicio de 2012 eu trabalhava em um escritório de design e fazia capas de CD mas saí para ser totalmente autônoma, passei dois meses e meio em NY fazendo um curso na SVA (school of visual arts) e lá conversei bastante sobre livros infantis. Na volta da viagem levei o portfólio a algumas editoras e no fim de 2012 consegui o meu primeiro contrato para ilustrar um livro infantil pela globo livros. Era um livro do Monteiro lobato, chamado “O museu da Emilia” que já foi lançado e adorei fazer. Agora estou terminando uma coleção de 7 livros infanto-juvenis para a ed. Garamond e em seguida já tenho mais dois livros infantis engatilhados, mas não deixei de fazer as ilustrações de revistas (ilustro para Recreio) e jornais ou particulares, faço o que aparece. MT: Por que quadrinhos? LK: Por que quadrinhos? Acho que a pergunta não é bem essa e sim: Por que desenho? Por que humor? Por que critica? Por que o dia a dia? E se você colocar todos estes interesses reunidos vai ver que o quadrinho é um quase uma síntese. O quadrinho é um meio que encontrei de juntar muitos interesses, mas há ainda muitos interesses e paixões que os quadrinhos não dão conta de conter. A música, por exemplo, sou muito apaixonada por música e tenho projetos de livros de ilustração de letras de músicas, também desenho em fundos de shows de amigos (projetamos os desenhos feitos ao vivo no fundo do palco, durante a apresentação). Mas e quadrinhos e música? Será que tem como juntar? Eu quero…
Um quadrinho de 2005 inspirado em uma letra de mĂşsica de Morrissey
MT: O que você tem lido ultimamente? LK: Auto-ajuda!! Estou convencidade de que o ser humano autônomo, free lancer, precisa de auto-ajuda para funcionar. É muito difícil passar o dia todo sozinho em casa, ter suas ideias, vendê-las, concretizá-las, tudo sozinho, sem prazos, apenas você e sua organização e força de vontade. Mas e se você não tem organização natural ou paz de espirito? Como eu…Eu estava quase ficando louca, quando resolvi trabalhar sozinha em casa e comecei a procurar saídas, grupos, co-workings mas encontrei algo mais básico; meditação. A meditação, auto-ajuda e momentos na natureza se tornaram extremamente importantes para mim, brinco com meus amigos que “encontrei jesus” porque muitas vezes encho o saco deles com essa historia de medita e se descobrir. Inclusive agora estou começando a pensar em projetos próprios de livros ilustrados na área de “auto-ajuda, comecei a me interessar especialmente pela área de educação e como fazer livros infantis comprometidos com o bem estar real da criança e não apenas um projeto qualquer que pareça rentável. O livro que estou lendo no momento é muito bom e se chama “O corpo tem suas razões”, o da semana passada foi “O manual dos tímidos” do Bruno Maron e o anterior foi “Visível escuridão” do William Golding (eu sei, uma salada mista). O que está encima da mesa para quando o atual acabar é a graphic novel “Fun Home” de Alison Bechdel e ontem já peguei 3 livros novos num encontro de troca de livros com amigos, ser freela me dá muito tempo em casa para ler e ficar fuçando a internet incansavelmente em busca de referencias de ilustração.
Minha mesa nesse exato momento que acabei de escrever o texto.
“Eu te amo” Ana Recalde http://anarecalde.blogspot.com.br
Ela estava olhando para aquele papel há duas aulas e estava pensando no que faria. Não, ela não tinha recebido aquela declaração. Nem mesmo sabia se a entregaria, era arriscado demais. Os dois eram amigos. Certo, o professor estava saindo, era o início do intervalo, ele ainda não tinha levantado da carteira. Ela fechou os olhos, respirou fundo, pegou o papel, o dobrou e levantou… apenas para ver “a outra” conversando com ele toda animada. Ele também, como sempre. - Queria falar comigo? - Não, não… bobagem.