Monotipia
04
Daniel Cramer
36
Jaya MagalhĂŁes
14
AndrĂŠ Lasak
38
Lielson Zeni
22
Pedro Leoneli
46
Mariana Paraizo
28
Breno Fonseca
54
HQuitanda
Google +
Tumblr
Issuu
XXXXVI Falando em longo e tenebroso inverno, finalmente estamos de volta. Martins de Castro Editor Capa: Mariana Paraizo
Assine o Boletim Calcogrรกfica
Chamada Permanente
Sobre a Monotipia
DANIEL CRAMER
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista visual/ quadrinista. Daniel Cremer: Formação acadêmica infelizmente não tenho nenhuma, me formei em gastronomia, embora ambas as áreas lidem com criação não dava para desenhar no prato. Embora quando criança cheguei a fazer um curso de quadrinhos, e acho que as dicas que eu aprendi lá me a judam até hoje.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? DC: Já me disseram que os meus quadrinhos tinham um pouco de Crumb, mas eu acredito que isso não seja verdade, acho que pode-se dizer que os meus quadrinhos tem uma coisa ou outra de Liniers, um pouco de Scott Pilgrim de vez em quando, mas não acho que meu traço seja marcante o suficiente para eu me indentificar com trabalhos mais fortes e autorais. Ainda estou descobrindo meu estilo.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? DC: Eu gostaria de trabalhar mais com materiais reais, mas como isso é fora um pouco do meu orçamento e fico no digital, uso o photoshop, mas tenho tentado usar ele para simular materiais reais, como guache, óleo, lápis de cor e tenho
feito uns experimentos para aquarela também. Mesmo eles não tendo a respeitabilidade de materiais reais ainda podem ser um desafio e divertidos também.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. DC: Eu tenho as minhas ideias anotadas em um arquivo, de lá eu faço os rascunhos em um sketchbook, de lá passo para algo mais definitivo no papel A4, artefinalizo com essas canetas bem comuns de nanquim, escaneio e coloro no computador, mas há vezes que parto direto do computador, quando eu acho que o trabalho pede isso.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs e outros trabalhos? DC: Gosto de quando as pessoas se identificam no enredo, mas para isso não é bom colocar traços mais relevantes ou fortes na situação ou personagens que vão carregar a história, mas também tem um lado bom quando você cria algo com muita personalidade, pode não ser para todo mundo, mas se torna mais real no decorrer da leitura. Mas em ambos os casos acho que o final tem que despertar algum tipo de resposta emocional.
MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais DC: Lançando uma coletânea de quadrinhos chamado Remendos via Catarse, nela há vários tipos diferentes de narrativa, desde aquela bem pé no chão, com personagens bem factíveis até aquelas com elementos fantásticos em órbita desses personagens e qual é a resposta emocional deles ao decorrer disso, mas tem desde terror, tokusatsu, romance, comédia e fantasia. Dependendo da resposta do público pensarei em fazer outros zines e quadrinhos explorando mais fundo o mundo do terror e da ficção científica.
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? DC: Além dos quadrinhos eu já estou trabalhando num livro infantil que eu mesmo escrevi e ilustrarei, é meio que um projeto sem pátria ainda, mas que fechando ele vou procurar editoras interessadas para publicá-lo, acredito muito na história e tentarei fazer ilustrações incríveis para acompanhar a história em si.
MT: Por que quadrinhos? DC: É um processo onde você exerce todo o controle sobre a obra, lá você tem mais espaço para explorar a linguagem sem muito medo. A arte sequenciada dá a
você o poder de criar pequenas janelas para fazer o leito entrar em uma imersão tão profunda quanto qualquer outro tipo de mídia, mas óbvio não é sempre que a gente consegue.
MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? DC: Eu leio semanalmente com um bom nerd os mangás que acho bacana, um deles é o Toriko que é em termos de criatividade algo sem paralelo nos dias de hoje, já na parte de ocidental do globo eu li o último MSP que saiu o Bidu Caminhos que eu achei bem emotivo e bacana, reli a pouco tempo o Heads or Tails da Lili Carré, mas isso mais para tentar aprender algo com o estilo de narrativa dela. E tenho ouvido audiobooks que aos poucos tem se tornado um vício meu, acabou ouvindo eles enquanto faço os quadrinhos. Ouvi a pouco tempo o 11/22/63 do Stephen King, que aborda o meu tema favorito que é a viagem no tempo. Mas francamente queria consumir mais quadrinhos, mas nem sempre é um hobby barato para mim. Por enquanto fico mais na produção deles mesmo.
AndrĂŠ Lasak https://www.facebook.com/quimeraufana
HOMO HABILIS
A A A A
pedra pedra pedra pedra
lascada lascada lascada lascada
corta rasga atravessa se transforma
O O O O
metal metal metal metal
forjado forjado forjado forjado
corta rasga atravessa se transforma
A A A A
p贸lvora p贸lvora p贸lvora p贸lvora
corta (vidas) rasga (carne) atravessa (corpo) explode (FINIS)
TESE
O estudo da flor revela A beleza da cor da flor: Vermelhazul rosamarela É dada à mulher com amor. O estudo do beijo revela O momento mågico do amor: No rosto, o encanto da virgem bela Na boca, o devaneio da rara flor.
VERBO
PORTA CADEIRA MESA PRATO GARFO
PLANTA TERRENO BURACO INSETO INSETICIDA
PIADA SENTIDO DADO CAMA RELAXAR
FACA
ABRIR SENTAR JANTAR TALHER COLHER
PODE
COLHER CARPIR CERZIR PISAR MATAR
SONHAR
SORRIR ANDAR JOGAR DORMIR SENTIR
PEDRO LEONELLI
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. Pedro Leonelli: Desenhar e ler sempre fez parte de minha vida. Já participei de vários cursos de desenho e oficinas. Sou formado em Desenho Industrial (design gráfico) pela UEL/PR.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? PL: É complicado falar quais movimentos ou artistas mais me influenciaram... tem muitos! Cada um mexe comigo de uma maneira diferente.Mas, no geral, minha grande influência está nos quadrinhos e desenhos animados! Comecei a ler com Turma da Mônica e a desenhar com Cavaleiros do Zodíaco. Acho que se fosse rotular meus desenhos, diria que tenho um trabalho bem cartoon, com forte influência de mangá.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? PL: No tradicional prefiro aquarela, lápis de cor e nanquim. No digital gosto muito de usar o paint tool sai e o photoshop. Mas gosto bastante de experimentar técnicas novas.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e outros trabalhos. PL: Gosto muito de pesquisar
referências sobre o que vou desenhar, para conhecer melhor sobre o assunto e dar mais credibilidade as formas. Mas, uma vez que você tem a ideia do que vai fazer, só resta sentar e produzir. Tirando as limitações técnicas, pouca coisa muda entre a ideia inicial e o resultado final.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? PL: Bem, a minha primeira preocupação é uma estética agradável. Gosto que as pessoas gostem do que faço. Busco deslocar alguns elementos de suas zonas de conforto para tentar provocar alguma reação no público... não sei se consigo...mas costumo tentar. Na história Entre Monstros e Deuses, meu traço mais estilizado fez as partes reais da história, enquanto os da Dharilya que é mais realista, fez a parte mais onírica. E ficou engraçada (a minha parte) por que os personagens, a pesar de tratarem de assuntos super-sérios, não param de fazer caretas e tem trejeitos exagerados, enquanto as cenas que a Dharilya fez são fortes, impactantes e assustadoras. Achei legal como como ficou os contrastes entre nossas páginas.
MT: Conte-nos sobre "Entre monstros e deuses", HQ publicada na Henshin Mangá 2014 PL: A ideia da obra em si era nosso desafio...Juntar dois desenhistas com estilos diferentes em uma única história. Sempre quis fazer um trabalho em parceria com a Dharilya, mas não queríamos dividir o trabalho da maneira fordista que costuma acontecer nos quadrinhos americanos, cada um com uma das etapas de produção. Queríamos dividir o trabalho de maneira que ambos pudêssemos apresentar nossas interpretações da história. Discutimos bastante sobre como desenvolveríamos o quadrinho, mas sempre concordamos que queríamos transmitir alguma reflexão com ele. Este foi o quadrinho mais longo que já finalizei, por isso aprendi muito com ele. Fazer quadrinho é mais difícil do que parece, manter a qualidade por muitas páginas, criar situações pertinentes, desenvolver os personagens e principalmente trabalhar em equipe! Mas foi realizador! o resultado ficou melhor do que eu esperava. Quero produzir mais dessa maneira.
MT: O que você tem produzido para além de "Entre monstros e deuses"? PL: Junto à Dharilya estamos com um novo projeto e com aspecto visual bem diferente de “Entre Monstros e Deuses”, mas com mensagens bem semelhantes... trabalhar temas da realidade camufladas em universos fictícios talvez seja um dos nossos principais objetivos.
MT: Por que quadrinhos? PL: É difícil explicar o porquê...adoro quadrinhos! Desde que me conheço por gente leio (e coleciono). Comecei com Turma da Mônica, passei para Super-Heróis, Mangás, Europeus, Autorais, Independentes... Realmente gosto de gibis, se desenho hoje é por que amo ler.
MT: O que você tem lido ultimamente? PL: Leio mais gibis... para valorizar o trabalho nacional indicaria a série Graphic MSP, São jorge (do Danilo Beirutti), Valente (do Vitor Cafaggi) e Portais (do Pietro Antognioni e do octavio cariello) são os melhores que li recentemente!
BRENO FONSECA
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. Breno Fonseca: Bem, iniciei meus desenhos bem cedo, por volta dos 7-8 anos de idade. Naquela época já fazia alguns quadrinhos (todos com um assunto muito bobo), e era fortemente influenciado pelos trabalhos do Maurício de Sousa e outros quadrinistas famosos no BR. Alguns anos mais tarde, comecei a desenvolver gosto pelo mangá, quando li alguns volumes de Naruto e Dragon Ball (até mesmo Card Captors esteve presente nas minhas leituras), e me interessei tanto que decidi focar melhor no assunto e tentar aplicar ao meu traço. Depois disso, fiz muitos mangás curtos, muitos mesmo! Porém, eram curtos demais, eu me desapegava da história muito fácil, não escrevia roteiros e etc. Só desenhava, página por página, pensando somente nela, no agora. Cheguei a fazer um curso de Desenho Industrial, que me deu noções de certas coisas das quais eu ignorava completamente, mas foi ensinado apenas o básico, não me especializei. Isso me traz onde estamos hoje, criando quadrinhos e treinando árduamente pra provar que teremos um lugar ao sol.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? BF: Como citado anteriormente, tive fortes influências dos mangás e citaria autores como Katsura Hoshino (D. Gray-Man), Yoshihiro Togashi (Hunter X Hunter) e Kentaro Miura (Berserk). Sempre gostei de histórias com temas fantasiosos e pitadas de terror. Isso criou em mim um gosto pela arte carregada e posso dizer que sou adepto do movimento Realista também.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? BF: Sim, gosto de trabalhar com bico de pena G e tenho paixões por hachuras, por isso fazendo bastante uso de canetas nanquim de ponta fina. Tenho muito apreço pela arte tradicional, mas tenho feito muitos trabalhos no digital também. É difícil, um artista tem que tentar ser eclético quanto a seus materiais, ou perde muita coisa nos vícios.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e outros trabalhos. BF: Quando desenho ilustrações ou páginas de quadrinhos penso, primeiramente, na construção do visual, na distribuição dos elemen-
tos. Nem sempre isso funciona, mas clareia minha mente na maioria das vezes. Gosto de fazer os esboços com grafites coloridos, mas ultimamente tenho feito apenas com 0.3 comum e um lápis HB. Trabalho sempre com esquadros e réguas, facilitando meu serviço em 100%. Depois de terminar o sketch, posso escolher entre a arte-final com bico de pena G e nanquim, também outros materiais, ou com a mesa digital, que me leva a programas como Manga Studio EX, Paint Tool SAI e Photoshop CS6.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? BF: Creio que "foco" aquilo que toma mais atenção na página. Vejo elas como se tivessem um quadro principal, um que chamasse o leitor e servisse de guia para os outros quadros, auxiliando a entender melhor a narração.
MT: Conte-nos sobre "[Re]fabula", HQ publicada na Henshin Mangá 2014 BF: Inicialmente, [Re]Fabula foi um mangá construído pelo Dan (Takagi/ Ivys Danilo, roteirista), que teve a ideia principal da corrida do zodíaco e que transformou no
roteiro que utilizamos. Logo depois deste, ganhei carta branca da parte dele pra fazer o visual como eu bem quisesse, para que depois pudéssemos discutir 'o que deixar', 'o que tirar'. Então, desenvolvi os personagens pensando numa melhor dinâmica de ação e num visual que combinasse com as personalidades que se apresentaram. Continuei meu trabalho desenhando as páginas a lápis e, depois de mexermos em algumas, levei para a finalização, onde utilizei o meio digital para atingir o resultado esperado. Foi depois de terminarmos o quadrinho que tivemos alguns problemas, como o de redimensionamento das páginas. Nossa, isso sim me deu uma grande dor de cabeça! (XD) Também tivemos certos problemas anteriores aos da produção de [Re]Fabula, na época em que ainda estávamos em brainstorm: tivemos umas ideias que não encaixaram e acabamos nos desesperando pra produzir algo bom que encaixasse no tempo que tínhamos. Posso dizer que cresci muito como autor depois da produção desse quadrinho. Ouvir as opiniões de diversas pessoas, profissionais ou não, me fez perceber que muita gente se interessou pelo tema e
que poderíamos tê-lo feito melhor proveito para com uma série. Também compreendi muitos conceitos sobre a produção de quadrinhos em si, pois este foi, como Nameru Hitsuji, apenas meu segundo. No mais, ganhei muito pra arte tendo treinado enquanto desenhava as páginas, posso dizer que aprendi muitos novos truques no digital.
MT: O que você tem produzido para além de "[Re]fabula"? BF: Um pouco antes do lançamento do BMA, postamos online um outro oneshot que estávamos produzindo. Chama-se "The Game of Pangeia" e pode ser baixado e lido gratuitamente seguindo a nossa página no Facebook, ou adquirido por um valor com produtos bônus. Também chegamos a participar de alguns concursos a mais, produzimos alguns pôsteres e preparamos algumas surpresas. Mas bem, não dá pra contar se são surpresas, né? xD
MT: Por que quadrinhos? BF: Eu amo contar e ler histórias. Amo. Dentre as diversas formas de se fazê-lo, escolhemos os quadrinhos por ser um espaço mais dinâmico e por ter um grande alcance com a cultura popular atual. Eu escolhi os quadrinhos por ser apaixonado por eles descaradamente. Desde criança leio muitos e isso me tendenciou fortemente a continuar nesse caminho. Apenas me envolvi e hoje sei o que quero.
MT: O que você tem lido ultimamente? BF: Bastante mangá. Porém, além dos títulos citados anteriormente, tenho lido muitos outros, às vezes por diversão e às vezes por estudo. Também tenho lido alguns livros, como O Iluminado (Stephen King) e a série A Torre Negra, do mesmo autor. De resto, alguns artigos e notícias na internet.
Tomara. Jaya Magalhães
Tomara que caia o meu vestido quando teus olhos descerem em meu corpo. Questione o suor da minha pele, derrube beijos nos meus lábios entreabertos, desenhe meus seios em tuas mãos, peça por vagabundagem, estude meus gemidos, arrisque uma mordida, me provoque com teu cheiro, deixe o meu carinho trançar teus cílios, atravesse tuas vontades. Não programe nada. Prefira as coisas irregulares, diga que me quer, ria da minha falta de habilidade, caia comigo no chão, na vida, nas interrogações. Feche os olhos, menino. Invente alguma música enquanto eu peço uma dose a mais, fale sobre suas horas, finja algum interesse sobre as minhas, esquente, revolte-se, bagunce meus cabelos, me empreste seu travesseiro, deixa eu te proteger. Sejamos doces. Faça minha bochecha permanecer corada, fale baixinho, me ensine a ir além, mantenha meu copo sempre cheio, não se assuste ao me ver chorar, caminhe descalço em minhas estradas e façamos um brinde aos sentimentos desaparecidos, deixando que nossos peitos explodam coisas lindas ausentes de conceitos. Sorria alguns adjetivos que me arrepiem e deixe que eu te cubra com paredes estruturadas de loucuras antigas.
Pulo, se você pular. Completo tuas frases, durmo no teu abraço, te ensino a caminhar entre as estrelas, a ler minha camisa, a desabotoar meu coração. Diga que não entende meu jeito de fantasiar, abra suas malas, observe meu jeito de chegar, perceba minha maneira de ficar quando você precisar ir. Fica, menino. Esqueça sua voz em meus ouvidos e me queira bem. Insista. Deite ao meu lado no sofá, delicado, inesperado. Jogue minhas roupas para o alto e me sinta tremer, beije meus medos, meu gosto, meus desejos. Me engole devagar. Diga que está apaixonado, quebre a garrafa de vinho ao me ver confusa, me leve para sua casa, aceite meu convite para sair no meio da noite, com toda aquela chuva. Ao amanhecer, comente sobre ter me achado dentro de um sonho teu. Deixa cair o sol, se houver lua. Abra a porta do carro e gesticule ao me ter ao seu lado. Solte palavras desconexas, deixe que elas preencham o ambiente, mude a marcha, aceite meus lábios no sinal vermelho, resmungue. Sente comigo na calçada, perceba como fico gelada ao sentir a ternura me invadindo para ser tua, dê um bom motivo para minhas olheiras. Plante uma árvore para mim enquanto despetalo flores pensando em você. Eu não carrego nada nos braços,
menino. Não falo de amor, não sou tão profunda assim, mas tenho uma demência tão poética que me atiro nas letras desmistificando todos os meus cantos, lentamente dissipando o caos. Venha me buscar. Deixa eu subir em tuas costas, sintonizar nossa temperatura, falar de azul e branco, inventar palavras só nossas e colocar nos teus ombros raspas da minha fragilidade. Clareia o meu sorriso, e tudo bem. Me pegue para você antes que o primeiro foguete parta. Esconda tuas tristezas nos pelos arrepiados dos meus braços, eu seguro. Vivamos de clichês, coisas rasas, ausência de fôlego, lençóis. Deixe as vírgulas de lado, escrevo para você não ler. Aprendo a dançar as palavras para que você transforme em notas. Movimente-se enquanto assumo essa porção de irracionalidades vermelhas e jogo em cima da mesa. É preciso que uma felicidade esteja passando distraída e resolva ficar ao nos abraçarmos em sua frente. É preciso uma coisa quente desenhada na retina, um pouco de fumaça, uma violência sutil nos gestos. Que caia o meu vestido quando teus olhos descerem em meu corpo. Tomara, menino, que você caia. Em mim.
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. Lielzon Zeni: Tenho convivência constante com as HQs desde pequeno e até hoje leio materiais bastante diversos, mas dou preferência pros independentes (ou pelo menos não mainstream) brasileiros e americanos. Eu me dei conta recentemente que estou cercando as HQs por todos os lados que eu posso: além de ser leitor, eu escrevo resenhas no Universo HQ, sou pesquisador acadêmico (tenho mestrado sobre adaptações literárias em quadrinhos e vou pra argentina apresentar um artigo lá em outubro), sou editor-assistente na Mauricio de Sousa Produções, professor de Pós-Graduação de quadrinhos e tenho escrito roteiros.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? LZ: Bem, vamos tentar pensar nisso tudo por partes: enquanto pesquisador e crítico, sou bastante influenciado pelo modo ensaístico de escrita e busca de ideias, num sentido de que a pergunta vale mais do que a resposta; já pensando pelo lado
de autor e falando especificamente de quadrinhos, minhas influências são Lourenço Mutarelli, Rafael Sica, Chris Ware, Dash Shaw, Will Eisner, Art Spiegelman, Laerte, Alan Moore, Kazuo Koike, Harvey Pekar, Alberto Breccia, Jim Steranko, Daniel Clowes, Giancarlo Berardi, Alison Bechdel, Jason (vou cortar a lista aqui, mas dava pra continuar). Sofro, porém muita influência no processo criativo, seja de HQ, seja literário, de Jean-Luc Godard, Jim Jarmusch, Monty Python, Valêncio Xavier, James Joyce, Manoel Carlos Karam, Campos de Carvalho, Radiohead, Sofia Coppola, Luis Sergio Person, Rogerio Sganzerla, Mutantes, Cat Power, Morphine, Pieter Bruegel, Bosch, Miró, Ginsberg, Federico Fellini (chega!).
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? LZ: Não sei se é uma predileção por formato, mas sim uma preocupação. Acho que cadaideia pode ser mais bem explorada num meio específico. Algumas coisas viram HQ, porque me parece melhor que virar filme ou prosa de ficção. E se optei por HQ, se ela vai ser impressa é uma narrativa, se é pra ser lida na tela, é outra.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das seus trabalhos. LZ: Tudo acontece muito parecido: tenho ideias a qualquer momento e as que considero decentes, anoto num caderninho. Algumas são só direções outras já sei que deveria fazer uma HQ ou um conto. No caso da HQ, penso entre os desenhistas que conheço quem gostaria de trabalhar com aquela ideia e aí entro em contato. Se o cara puder/ quiser fazer, preparo um roteiro completo, com bastante detalhe, mas aberto a sugestões. Depois de tudo pronto, a gente vê como publicar. No caso do BMA, Francis e eu trabalhamos pra aprontar Crishno para o concurso.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? LZ: No caso da literatura, eu procuro formatos que conversem com o que quero contar. Com as HQs, é mesma coisa. Eu sempre evito imagens e textos que tenham a mesma informação, buscando um modo de casar os dois fatores ao mesmo tempo, justapondo-os pra criar um sentido possível somente por aquela aproximação específica. Tendo também a deixar a imagem trabalhar bastante e pensar na distribuição dos quadros e nas
transições de um pro outro, virada de páginas, uso de onomatopeia, tipos, balão, recordatório. Cada elemento da página de HQ narra, é importante pensar em cada um deles.
MT: Conte-nos sobre "Crishno: O Escolhido", HQ publicada na Henshin Mangá 2014 LZ: O Crishno surgiu porque queríamos participar do concurso BMA. Eu tinha uma ideia que percebemos ser longa demais pra caber nas 32 páginas que tínhamos. Aí chegamos à conclusão que queríamos brincar com o estereótipos de histórias, tipo o escolhido. A isso juntou-se uns monstros-árvore que o Francis tinha criado um tempo atrás. Pensei numa voz narrativa que comentasse e desnudasse o processo e as saídas facilitadoras do roteiro. Aí o Francis sugeriu em personificar essa voz narrativa como um passarinho e ficou muito bom. Visualmente pensando na narrativa, tentei me aproximar de uma coisa meio ação-pausa-açãopausa, por isso a opção decomeçar a HQ in media res. Crishno é uma trollada sobre as saídas fáceis de histórias de aventura. Do ponto de vista do processo, eu indicava todos os quadros que achava importantes (mas o Francis podia
mexer o quanto quisesse na hora de desenhar) e outras páginas e só colocava “4 páginas de combate contra os monstros-árvore”.
MT: O que você tem produzido para além de "Crishno: O Escolhido"? LZ: Lancei um livro ano passado – Lado B (ou uma história de amor para walkman) e fiz uma sessão de autógrafos este ano, em Curitiba. Fiz um conto extra pro livro que distribuí gratuitamente pros primeiros 25 (junto de um CD com músicas que eu gosto). Também tenho escrito alguns contos, e vários deles têm algumas inserções visuais (tem um deles na revista Flaubert # 6), tentando juntar tudo num livro e tem feito quinzenalmente minhas experimentações visuais no São Paulo S/A. AH, também saiu um livro acadêmico com um artigo meu (Quadrinhos & Literatura: Diálogos possíveis. ART CAMARGO, 2014)
como cinema, teatro, dança, música etc).
MT: O que você tem lido ultimamente? LZ: Acabei de ler A rainha dos cárceres da Grécia (Osman Lins), e hoje mesmo estava lendo Circuito Fechado (Ricardo Ramos), além de HQs argentinas, como Eternauta e Ernie Pike. Também li recentemente o excelente Cumbe, de Marcelo D’Salete.
___ Lado B http://mojobooks.com.br/shop/lado-b-de-lielson-zeni/
Conto na Flaubert http://issuu.com/revistaflaubert/docs/flaubert006/62
São Paulo S/A http://avacavoadora.tumblr.com/tagged/s%C3%A3o-paulos%2Fa
Um corpo estendido no chão (versão menor) http://issuu.com/cafeespacial/docs/cafe_hqextra
MT: Por que quadrinhos? LZ: Porque acredito no McLuhan e acho que cada meio interfere na mensagem que transmite, o que levado a um extremo quer dizer que só as HQs podem contar as coisas do jeito que fazem (assim
Outra HQ que escrevi http://lielson.wordpress.com/2013/03/28/ontem-e-hoje/
Ma
Z么
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista gráfica e quadrinista. Mazô: Sou ex-aluna de Letras Inglês na PUC-Rio, mas sempre fui envolvida com coisas relacionadas às artes. Fiz algumas aulas de desenho quando era adolescente, eu vivia desenhando em todas as aulas da escola, mas só fui me aprofundar mesmo quando comecei as aulas do (André) Dahmer de modelo vivo no Centro Maria Tereza Vieira. Depois de um tempo eu já não conseguia mais prestar tanta atenção nas aulas de linguística da faculdade e cada vez mais meus interesses eram voltados para a produção gráfica, ilustração, animação e principalmente os quadrinhos. A partir disso, nas aulas de literatura da faculdade, eu sempre dava um jeito de meter as graphics ou adaptações no meio das discussões. Uma hora eu decidi largar Letras e me meter em Gravura na EBA-UFRJ. Simultaneamente, comecei o curso Fundamentação do Parque Lage. Agora estudo fotografia, gravura em metal e história da arte contemporânea brasileira lá também.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? Mazô: Não saberia definir exatamente o que me influencia, quem faz sabe que isso é um amalgama quase inconsciente. Sei que gostaria de chegar no mesmo nível do Pedro Franz desenhando com grafite, na linha do Rafael Coutinho, na força da Gabi Lovelove6, na pertinência do Winshluss, etc. Quanto à arte contemporânea, me identifico um pouco com Robert Smithson, gosto muito da Lygia Pape, e basicamente qualquer coisa que envolva mapas me interessa, por motivos óbvios.
MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? Mazô: Gostaria muito de saber fazer um trabalho mais computadorizado, mais seco, usando o illustrator, mas atualmente eu não vivo sem grafites bem grossos, que deixam muitas marcas, os conté também. Formatos muito grandes me deixam com vertigem, mas é questão de tempo, porque estou muito acostumada aos sketch books e papeis menores que A2.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e outros trabalhos. Mazô: Funciono mais à noite e estou sempre pesquisando e lendo coisas para produzir. Às vezes a ideia surge do nada, mas isso não acontece sempre. Quando tenho que fazer uma ilustração, penso muito no assunto até chegar numa percepção da coisa que me agrade, alguma perspectiva que me pareça inusitada. MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? Mazô: Sinto que tenho uma tendência a ser um pouco confusa. Gostaria de criar mais climas ao criar quadrinhos longos, cinematográfico como a Coppola. Não sei, ainda não experimentei muitas coisas. O que eu gosto mesmo é de pensar nos tamanhos, aberturas e etc. dos requadros.
MT: O que você tem produzido para além deles? Mazô: Estou aprendendo (finalmente!) a fazer xilogravura, fora isso tenho deixado o desenho no papel um pouco de lado para fazer fotografias... Construí minha pin hole hoje, tenho alguns projetos e
nenhum trabalho finalizado. Decidi me permitir mais tempo para terminar meus trabalhos, parar com o ritmo insano de tirinhas/semana ou zines/4meses. Não faz bem pra mim, não deixa respirar.
MT: Por que quadrinhos? Mazô: Porque me interessavam. Porque passava noites lendo eles. Porque eu percebia que eles eram especiais, como eram bem feitos (os que eu gosto), porque me deixavam impressionada, porque eram lindos, porque eram envolventes, porque tem muito potencial, porque são possíveis com muito pouco, ... porque são arte também, e ser artista é uma questão de se apaixonar pelo que você está fazendo no momento - paixão nos ódios também, na intensidade.
MT: O que você tem lido ultimamente? Mazô: Estou lendo Maria da Estela Miazzi e a Antologia da Literatura Fantástica da Cosac Naify.
HQuitanda Quadrinhos para ter. Comprar gibi é o que há. Histórias em quadrinhos são o melhor presente de natal, páscoa, aniversário, amigo secreto, dia dos namorados, dia da avó. Melhor presente para dar “pq sim”. E receber também, claro. Se for quadrinho brasileiro, com toda sua diversidade de temas, estilos, faixas etárias, plataformas então, melhor ainda. Nas próximas páginas você vai encontrar links para vários quadrinhos da Balão Editorial e para a loja de quadrinhos digitais +Gibis. Parte do que há de melhor na atual safra dos quadrinhos está aqui.
Se você é autor, editor ou lojista e quer trazer seu catálogo para a Monotipia, envie um e-mail para monotipia@gmail.com e descubra como é simples.
http://www.balaoeditorial.com.br/pobre-marinheiro.html
http://www.balaoeditorial.com.br/lobisomem-sem-barba.html
http://www.balaoeditorial.com.br/o-amor-infinito-que-tenho-por-voce.html
http://www.balaoeditorial.com.br/ciranda-da-solidao.html
http://www.balaoeditorial.com.br/todo-mundo-e-feliz.html
http://www.balaoeditorial.com.br/mary.html
http://www.balaoeditorial.com.br/o.html
https://maisgibis.com.br/gibi/combo-rangers-somos-herois/
https://maisgibis.com.br/editora/editora-draco/
https://maisgibis.com.br/editora/balao-editorial/
https://maisgibis.com.br/gibi/lost-kids-1-de-8/
https://maisgibis.com.br/gibi/gibao-01/
https://maisgibis.com.br/gibi/o-clube-dos-monstros-dos-bairros-distantes/
https://maisgibis.com.br/gibi/maquina-zero/
https://maisgibis.com.br/gibi/manual-da-autodestruicao-02/
https://maisgibis.com.br/gibi/duotone/
https://maisgibis.com.br/gibi/duas-luas/
https://maisgibis.com.br/gibi/pieces-01/
http://andreducci.art.br/
https://maisgibis.com.br/gibi/a-entediante-vida-de-morte-crens/
https://maisgibis.com.br/gibi/morro-da-favela/
https://maisgibis.com.br/gibi/dies-irae-1/
https://maisgibis.com.br/gibi/gibi-quantico-01/
http://gordoseboso.iluria.com/
Revista
Z Cultural Revista virtual do PACC - UFRJ Programa Avançado de Cultura Contemporânea