Monotipia
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Alberto Benett
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João HR Castro
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Sandro Menezes
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André Lasak
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XXXXI Vivemos uma sucess達o de dias interessantes. Vem ver ;-) Martins de Castro Editor Sandro Menezes (Capa)
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Sobre a Monotipia
Benett http://amokcomics.tumblr.com/
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista/ artista gráfico. Bennet: Acho que o jornalismo é a minha formação principal. Meu trabalho foi se desenvolvendo em redações de jornal, trabalhando com horário de fechamento, pautas, o que fez com que meu desenho, de traço simples, funcionasse quase como um complemento da ideia. É cartum, econômico nos detalhes mas tentando ser muito expressivo no texto. Meu desenho é coadjuvante da ideia.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? Bennet: Tenho gostado muito de ilustradores dos anos 60 e 70, com aquele estilo de linhas que valorizavam o espaço em branco. Acho que o Millôr do Pif-Paf e Steinberg, Siné, Fortuna e Jaguar, dos tempos da Isto É. Na verdade essas influências somam-se a outras que tive e que virão e que contruibuem para que meu traço continue em permanente desenvolvimento. No entanto, acredito que meu forte são as tiras e charges, apesar de que tenho feito muito mais ilustrações. Nas tiras e charges, o humor de caras como Woody Allen, Groucho Marx e Matt Groening me influencia desde
sempre. MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? Bennet: Pincel e nanquim sobre sulfite. Não é bem uma predileção, é que não sou bom com cores e nem tenho tempo de colorir ou experimentar. Acho que, pela urgência do trabalho diário, pincel e nanquim se adequam melhor ao meu propósito. E ainda por cima não tenho a sofisticação e suavidade para trabalhar com aquarela, por exemplo. Muito menos paciência.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. Bennet: Bem, quando tenho que fazer charges concentro-me somente nisso e inteiramente nisso, o dia todo. Desde manhã permaneço mergulhado nos jornais e sites de notícias, correndo para a prancheta rabiscar ideias. É meio tenso e um pouco estressante, especialmente se não consigo uma ideia boa. Quando tenho que fazer tiras, escolho um dia da semana para rabiscar um monte de ideias para, nos dias seguintes, ir selecionando qual ficará legal para eu desenhar e mandar para o jornal. Nesse meio de processo, entram filmes, desenhos animados e especialmente livros. Eu diria que Salinger e Cioran inspiram muito mais do que outros autores, como os de quadrinhos, por exemplo.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs e demais ilustrações? Bennet: As minhas tiras são normalmente gags visuais ou aqueles clássicos diálogos de três quadros. A minha preocupação é em não fazer humor cretino e ter um desenho que não se sobreponha ao texto. Não consigo criar ângulos inusitados nem narrativas muito elaboradas. Acho que, no caso dos quadrinhos - ou das tiras, que é o que desenho- minha escola é Johnny Hart, Dick Browne, Mort Walker e seriados de TV. Nada muito pretensioso, como disse.
MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais. Bennet: Em breve devo começar a produzir mais tiras do Amok, meu principal personagem de tiras em quadrinhos. É para um segundo livro, que deve sair no próximo ano. Então, quando começo esse tipo de trabalho, mergulho nele e fico exclusivamente nisso. Se um livro precisa de 200 tiras, desenho 300 ou 400. É um trabalho estafante e meio neurótico. É como se eu entrasse num porão e permanecesse por lá uns seis meses e, ao sair, estivesse todo esfarrapado, rastejando e falando coisas sem sentido.
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? Bennet: Minhas atividade se resumem em três frentes: tiras em quadrinhos, charges políticas e textos de humor. Quando não estou fazendo uma coisa, estou fazendo outra. E acho que os três se complementam muito bem e, de certa maneira, me satisfazem. Não gostaria de ser ator ou dirigir uma animação ou um curta. Claro que não descarto essa possibilidade, mas sinto-me mais confortável da maneira que estou.
MT: Por que quadrinhos? Bennet: Juro que tentei outras coisas, mas no final, essa foi a mais fácil que surgiu.
MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? Bennet: Eu sou uma lástima para ler quadrinhos. Acho que gosto somente de ler tiras em quadrinhos. De preferência como aquelas que Stuart Hample desenhou e publicou num livro chamado O Nada e mais alguma coisa.
AndrĂŠ Lasak https://www.facebook.com/quimeraufana
ENSAIO PARA UMA FLOR
A flor nasce Da semente De uma flor anciã Que vendeu sua vida Por um grão de vento A semente Voa Entre Outras Sementes E Termina Seu Voo Na Areia quente O areal árido Não germina A flor, que Morre antes de Apresentar sua beleza A flor floresce da água A água germina a semente A semente canta vitória ao deflorar Na terra dormente Flor Terra Água Para completar inventaram A semente.
ENSAIO PARA OUTRA FLOR
Dentre as curvas simétricas Desabrocha uma flor rósea No meio de uma Floresta de pelos Nudez da Musa Uma flor desejada por caçadores Que apreciam rara beleza Tão rara que a morte É presenteada Se ao caçador Na flor for tocada Nudez da Musa Os únicos beneficiados Porém os poetas Na flor nunca tocaram A eles Sua dádiva de contentamento Percorre a mente Acende a chama Perturba o Pensamento.
BEIJA-FLOR
O beija-flor Beija a flor Me deixa a cor Me toca a dor Encanta o amor Me beija O beija-flor Toca a flor Me beija a cor Me encanta a dor Deixa o amor Me toca O beija-flor Deixa a flor Me encanta a cor Me beija a dor Toca o amor Me deixa
Monotipia: Fale sobre sua formação. João HR Castro: Estou cursando Belas Artes na UFRJ, precisamente (NE: licenciatura em)artes plásticas. Cheguei a fazer um curso de desenho quando mais jovem que foi de grande a juda para minha carreira como ilustrador e quadrinista. Mas acredito que a minha verdadeira formação se deu na prática mesmo, desenhando de maneira autônoma, nas horas que posso.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,v ocê identifica no seu trabalho? JH: Eu sou muito influenciado pelo Cubismo e Surrealismo, mas encontro elementos de artistas dos mais diferentes tipos no meu trabalho de uma forma geral, para citar alguns: Jon Burguerman, Patrice Killoffer. Pablo Picasso, Keith Haring, Louise Bourgeois, Laerte... são muitos. MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? JH: Sim. Eu sempre mexi com caneta nanquim e aquarela. Agora tenho explorado outros materiais e técnicas. Acho que é importante variar. Eu perco muito do interesse e do prazer de desenhar se não inovar, tanto
no material quanto no formato.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. JH: Em muitas das minhas produções eu costumo seguir três etapas. A primeira é selecionar uma idéia dentre as outras, não tenho problema em tê-las, mas acabo descartando a maior parte. A segunda é me apaixonar por essa ideia e pensar na forma que mais me atrai realiza-la. Por ultimo, passo para o papel/ photoshop. Nessa parte final, tudo o que eu pensei pode acabar tomando outros rumos. Durante esse processo as idéias sofrem grandes transformações. A criação tem dessas coisas.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? JH: Eu não costumo me preocupar com um ritmo visual. É algo que se aparecer nos meus trabalhos, é porque surgiu de forma natural. Só costumo tomar cuidado para que cada trabalho termine na mesma “língua” que começou.
MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais JH: Acho importante que eu fale da minha página, Bicho Homem, eu a criei em 2012 e tem sido muito importante para esse meu início
como quadrinista. Foi a primeira experiência que tive expondo minhas ideias publicamente e acabou tendo uma receptividade acima das minhas expectativas. Acho que evolui muito com ela. No começo havia só uma sequencia de quadrinhos, também de nome “Bicho Homem”, em preto e branco. Aos poucos fui introduzindo novas idéias, criando diferentes séries e utilizando diferentes técnicas. Estou sempre tentando inovar no que posto por lá. Mas agora estou trabalhando em um quadrinho maior, algo novo, diferente do que eu venho fazendo. Isso tem sido bastante interessante e motivador para mim. Acho que é bom explorar novos rumos quando se trata de arte.
MT: O que você tem produzido para além deles? JH: Tirando o novo projeto que eu mencionei na pergunta acima, também estou bolando, junto de um amigo, uma página de quadrinhos que irá funcionar de forma um tanto incomum. Mas prefiro não falar muito sobre isso para não acabar dando azar!
MT: Por que quadrinhos? JH: A vontade de criar quadrinhos surgiu de forma bem natural para mim, eu sempre gostei muito de inventar e desenhar histórias e “HQs” sempre me foram bem acessíveis, então, não foi nada que eu tenha planejado, fui sendo levado aos poucos pela ideia. Na verdade, tenho outros projetos que quero realizar em outras mídias. Eu gosto é de transmitir minhas idéias e quadrinhos foi uma ferramenta que encontrei para isso. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? JH: Recentemente terminei de ler The Nikopol Trilogy do Enki Bilal e logo depois comecei (finalmente) a ler Sandman. Venho também acompanhando os quadrinhos do The Walking Dead (recomendo todos eles!). Agora, sem ser quadrinhos, estou lendo o Homem Duplicado do Saramago e O MalEstar na Civilização do Freud.
Sandro Menezes
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista/ artista gráfico. Sandro Menezes: Cresci trancado no quarto sozinho, desenhando e lendo. Depois aprendi muita coisa com o Ofeliano de Almeida, desenhista do Leão Negro, nas aulas que ele dava na casa dele, no Gra jaú. Narrativa, decupagem, técnicas de nanquim, tudo. Me formei em design na Escola de Belas Artes da UFRJ.
MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? SM: Aprendi a ler em casa com Asterix e aqueles Gibis gigantes da RGE, que meu pai colecionava. Não podia ser melhor, Will Eisner, Milton Caniff, todas as tiras clássicas, tava tudo ali. Cresci obcecado por qualquer tipo de quadrinho e fiz um caminho comum pra minha geração de leitores: Marvel (Kirby, Romita)> graphic novels e europeus (V de Vingança, Moebius)> underground americano (Crumb e cia) e underground brasileiro (Chiclete, Circo, Laerte). Mas o que mudou minha cabeça mesmo foi a revista Animal, pois me deparei com as Locas do Jaime Hernandez e com a música punk ao mesmo tempo. Sendo assim, acho que minhas maiores influências são o punk e o Jaime. O próprio conteúdo das aventuras de Maggie já me apresentou a temas que eclodiram no meu trabalho atual: cultura de rua, arte de protesto, feminismo, anarquismo, questões de opressão racial e econônica, liberdade sexual e o pensamento libertário em geral. Hoje em dia gosto muito da arte de rua contemporânea, principalmente do Banksy. Tenho um outro traço mais fofo e pessoal, que vem muito das tiras clássicas, Peanuts principalmente, com histórias mais melancólicas, herdadas da minha adolescência solitária.
MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. SM: Comecei quando não tinha computador, usava pincel, bico de pena e nanquim. Hoje desenho no lápis, digitalizo e faço as tintas no computador, tentando imitar o nanquim. Pinto com texturas de retículas offset pra lembrar os gibis antigos. A série V de Vinagre já é diferente. Faço uma diagramação usando fotos dos acontecimentos e frames de vídeos do youtube, feitos por quem está nas ruas, e pinto por cima com a caneta digital. Improviso e aumento as expressões e sombras pra dar mais personalidade, resultando numa mistura de desenho vetorizado automaticamente com quadrinhos feitos com nanquim.
MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs e demais ilustrações? SM: O ritmo maior tento dar no roteiro, estudo bastante técnicas de construção de histórias. Nos desenhos acho que minha formação de consumidor voraz de cinema, quadrinhos e design vai naturalmente me guiando. Tenho muito mais problemas com anatomia e fluidez no traço, por ter parado de desenhar muito tempo, do que com diagramação e narrativa.
MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais SM: Comecei fazendo ilustrações e charges para sindicatos e movimentos sociais, quando tinha 17 anos. No início da faculdade participei da 2a Bienal de Quadrinhos e desenhei uns gibis de terror pra Ediouro, mas, se hoje já é difícil ser cartunista, ilustrador, etc, imagina na década de 90. Interrompi minha carreira precocemente, pois trabalhava como designer pra vinhetas de TV, sem horário pra chegar em casa. A partir de 2003 fui voltando aos poucos, primeiro na MOSH! onde fazia a série Fotolog, depois na Jukebox fazendo a série Velória. Ainda estava me debatendo com os temas e com a técnica, não gosto de nada meu dessa época. Iniciei em 2011 a tira online Subsolo Discos, que teve certa repercussão e era muito legal de fazer pois eu aproveitava pra divulgar algumas bandas alternativas, com lançamentos de discos reais nas hqs sobre uma loja ficitícia. Mas o trabalho chamou novamente e parei logo antes dos compartilhamentos do Facebook mudarem o cenário, tornando as redes sociais uma ótima forma dos quadrinhos alcancarem um público maior e mais legal. Identificar o público de quadrinhos no Brasil sempre foi um problema pra mim, então fiquei bem ligado nesse fenômeno
do compartilhamento, até porque já tinha criado uma imagem viral em 2008, o Obamis, que se multiplicou em blogs e camisetas por todo país em fração de segundos. Voltando aos quadrinhos autorais, acho que eles acabam sendo consumidos somente pelos próprios cartunistas, ou por quem gosta de quadrinhos, independente do tema. Isso sempre me incomodou, acho que ,os quadrinhos poderiam ser como a literatura ou cinema, todo mundo deveria ter esse hábito, mas não porque é quadrinhos e é cult e tal e sim pelo conteúdo. A Chiclete com Banana tratava de assuntos mais populares, era muito barata e chegava nos punks, nas pessoas comuns, nas esquinas. A linhagem de cartunistas autorais que vem depois deles foi pelo caminho contrário, das livrarias e edições independentes luxuosas. Já o boom do Facebook trouxe de volta coisas mais ácidas e menos elitizadas, acho que está surgindo uma ótima cena, de conteúdo extraordinário. Em 2012 eu já tinha me ligado no potencial da rede de ser uma ferramenta de mobilização social quando retomei o lado político do meu trabalho com um desenho sobre o Massacre de Pinheirinhos. Continuei pesquisando essa linha e fiz algumas matérias em quadrinhos pra algumas revistas online, até que veio junho de 2013.
Quando presenciei in loco a violenta repressão do estado contra os manifestantes no dia 20, e a subsequente farsa que a mídia criou pra escondê-la, decidi contar minha versão. Coloquei online e a receptividade foi muito boa. Segui escrevendo e tentando negociar a publicação dos próximos capítulos com algumas revistas que se interessaram, mas não rolou nada ainda. Fui soltando desenhos no mesmo estilo até que o genial Carlos D me chamou pra participar de uma página, o Ñ Coletivo, onde transformei o V em uma série de imagens virais comentando o que ia ocorrendo durante manifestações e outras ocasiões onde os direitos humanos são ignorados no Rio e no Brasil. Algumas imagens foram bastante compartilhadas. Essa série culminou no Álbum de Figurinhas Ñ Vai Ter Copa, com personagens das manifestações. É uma espécie de apêndice sobre tudo que ocorreu desde o dia 20 até hoje. Criei todo um entorno que mistura artivismo, arte de rua, vandalismo, charge política, design, quadrinhos, ilustração, memes e etc, mas o ponto central é a V de Vinagre, que volto a publicar em capítulos depois de Junho de 2014. É um documentário em quadrinhos.
MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? SM: Escrevi os 13 primeiros episódios da animação que passa no Cartoon Network, Tromba Trem, em parceria com o Zé Brandão, criador da série, e o longa metragem dos mesmos personagens, também em parceria com ele. Estou escrevendo outros argumentos de séries e longas também, mas nada consolidado. Também faço storyboard (fiz pro Tromba Trem e pra Turma da Mônica), tanto de animação quanto de live action, e ilustrações pra capas de revista, essas coisas.
MT: Por que quadrinhos? SM: Acredito no poder da narrativa em três atos, porque ela imita a vida. Nascemos, crescemos e morremos. Acordamos, existimos e vamos dormir, todos os dias. E acredito também no poder da narrativa visual, pois é assim que nos lembramos das coisas, através de imagens. Então pra mim a melhor, mais forte, mais pregnante, mais essencial maneira de se contar uma história é através de quadros em sequência.
MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? SM: Building Stories do Chris Ware, T.A.Z. do Hakim Bay, Abutre do Gil Scott Heron e A Confederacy of Dunces do John Kennedy Toole.
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