Monotipia32

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Monotipia




Morganna Batista http://www.flickr.com/photos/estalarosdedos/


XXXII Os dias andam tensos, corridos. Bons, eu diria. Contudo, ainda é cedo para pergutnar como será o dia de São Jerônimo. Martins de Castro Editor Paulo Arthur (capa) http://www.behance.net/Pauloarthur @monotipia http://www.facebook.com/monotipia http://monotipia.tumblr.com monotipia@gmail.com



AndrĂŠ Lasak

https://www.facebook.com/quimeraufana


INSANIEDADES

No qual adentrei impávido No setor hipotético daquela Existência infame de minha Adolescência Soluçando impropérios silenciosos Aos malcriados momentos De revolta incoerente Perpetuando a dor do conhecimento Mais profundo velado ao Incontentamento Recendendo ao suor acre Da lida no campo ardente Das mãos corroídas Pelos calos da enxada Derramando lágrimas ocultas Na tristeza amarga da pobreza Deleitando-me quando havia um Animal atropelado na estrada Vasculhando pelas valas escuras Da humanidade Descansava sob a lua nova Como se iluminasse meu destino Caminhava desatino pelas Improbabilidades Peneirava o sangue seco Nos terreiros de briga Osculava a terra quando Sentia cheiro de chuva Masturbava uma fruta Na solidão da noite


Agradecia aos céus quando Sentia-me vivo Mesmo sentindo-me morto Perante aos mortais ditos decrépitos Mórbida existência imaginariam Os beatos quando avistassem A minha carcaça perambulando Pela campina Sabedoria plena imaginariam Os insanos quando admirassem A minha luz volitando Pela colina Esquecido por mim imaginaria Deus quando relembrasse Da minha alma se arrastando Pela marina Procurando por um porto seguro Dentro do mar revolto Continuava a minha busca interminável Pelos confins do tempo dilacerava Meu próprio tempo Implacável mergulhava nos vagalhões Da realidade e me afogava Em tua petulância salgada Repleta de areia e vida Morreria feliz em teus braços, serenidade... Mas encontrei antes a desgraça: E matei-me de raiva em tuas doces navalhas.


ANSIEZテ的DES


A constatação está no signo Incorreta interpretação caótica O espelho vislumbrando tantos ciclos Estupenda vibração esquisocrática Dela não se suga mais o vinho Degustado da membrana mais erótica Deverias visto ter a tua história Visto ser um tanto pouco mais exótica O inconsciente furta a prática Estupenda sensação alucinógena Eternismos figurados fotográficos Exibindo telas cruas panorâmicas O acaso se converte em prantos cálidos Gera o feto fere o caso se ferroa Tinge a face frente à casa dos pecados Se excita se lamenta se magoa Se da turva água bebe bravos goles Da ama seca o leite corta os foles Oriunda febre intensa em devaneios Sacros cantos contos santos seus anseios.


AndrĂŠ Caliman




MT: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinhista André Caliman: Em 2007 me formei na Belas Artes, em Curitiba e desde então trabalho com quadrinhos, ilustração, animação, caricatura, storyboard. Nos últimos meses, tenho me dedicado quase que exclusivamente à produção da minha hq “Revolta!”, que escrevo e desenho. Também dou aula de quadrinhos na gibiteca de Curitiba há alguns anos.

numa série grande para o mercado americano, chamada E.L.F., escrita pelo Jason Avery, fiz diversas revistas independentes por aqui, como a Quadrinhópole, Avenida, Rua. Lancei recentemente a hq Sequestro em Três Buracos, com roteiro do Leonardo Melo. Mas agora estou escrevendo minhas próprias histórias. E a dinâmica muda com roteiro próprio. É mais complicado, ao mesmo tempo que permite possibilidades mais interessantes, no que se refere a narrativa, ritmo.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? AC: Gosto de muitas coisas, mas como influência com certeza Hal Foster, Hugo Pratt, De la Fuente, Battaglia, entre outros.

Minha ocupação principal é fazer quadrinhos, seja dando aula, trabalhando com editoras ou em projetos próprios. Apesar de ter que trabalhar bastante em ilustrações e storyboard para me manter, continuo mantendo os quadrinhos no topo da lista.

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? (Se sim, quais? Se não, por quê?) AC: Eu trabalho com nanquim e papel. Acabei de desenhar uma hq inteira no photoshop, que vai entrar numa coletânea de Zumbis em breve. Gostei da experiência. Talvez eu rume para o photoshop nos próximos trabalhos. MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. AC: Bom, já desenhei muitos roteiros de outras pessoas. Trabalhei

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? AC: Eu sempre escrevo o roteiro antes de qualquer coisa. Incluo idéias de narrativas e diálogos bem resolvidos. Só então desenho. Não faço esboços em pedaços de papel, vou direto para a página A3 e deixo que a construção dos quadros interfira um pouco no roteiro, de forma que a narrativa surja como resultado de roteiro e diagramação. Embora muitos digam que isso acontece plenamente entre roteiristas e desenhistas (cada um em sua função), acho difícil. Para mim, trabalhar eu


mesmo nos roteiros e nos desenhos me ajuda a criar narrativas mais precisas. MT: Fale sobre seu novo projeto, que está em campanha no catarse. AC: Há quase um ano eu publico capítulos mensais da minha hq “Revolta!”, no blog (http://revoltahq. blogspot.com.br/) e agora pretendo lança-la na íntegra em formato livro. Pra isso, estou com um este projeto no Catarse (http://catarse.me/revolta). Quem contribui, já faz uma compra antecipada do livro e recebe ele em casa a partir de dezembro, além de outras recompensas que variam de acordo com o valor da contribuição. Até agora a hq tem 11 capítulos, mas o livro terá 20 capítulos, totalizando 160 páginas, mais alguns extras. MT: Por que quadrinhos? AC: Porque é complexo e simples ao mesmo tempo. É viável e permite ideias variadas e autorais, além de ter um alcance grande sem precisar ser bobo. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? AC: Tenho lido tudo o que consigo do Joe Sacco. Também Cyril Pedrosa, Craig Thompson, ao mais autorais. O “Deus, essa gostosa” do Rafael Campos Rocha achei muito bom.




Luciano Salles


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinhista. Luciano Salles: Sempre que me fazem essa pergunta acabo com um sorriso meio que sem graça. Não tenho formação específica alguma. Aliás, minhas formações divergem, e muito, das bandas desenhadas. Sou formado em Engenharia Civil e Engenharia de Segurança no Trabalho. Trabalhei alguns anos como Engenheiro e em uma instituição financeira por bastante tempo. Ao todo, foram quase 20 anos sem trabalhar com quadrinhos. Entretanto, durante todo esse tempo, sempre li muito, desenhei muito, me envolvi com música durante 15 anos e somente agora, com 37 anos, decidi deixar tudo para somente fazer o sempre amei: Quadrinhos. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? LS: Sempre fui fã de Moebius. Lia, relia e ficava olhando cada traço de Garagem Hermética, quando saiu no Brasil, muito tempo atrás. Acho a arte de Moebius aquelas que nunca vão envelhecer. Não é um desenho datado. Enfim, identifico Moebius como minha maior influência. Li muita HQ de herois também, mas destacos alguns desenhista como John Romita, John Romita Jr. e Frank Miller. Nacionalmente falando, sempre gostei muito de Mutarelli e Marcatti. Alan Moore, Neil Gaiman e Jodorowsky, fazem minha trinca favorita de roteiristas. Mas identifico muito cinema nos meus trabalhos. Não tenho como deixar de citar alguns cineastas que adoro. David Lynch, Ridley Scott, Darren Aronofsky, Chanwook Park, Stanley Kubrick, Lars Von Trier, Danny Boyle e muitos outros.

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? LS: Sou um velhote. Gosto do milenar papel e nanquim. Gosto muito do PB mas o mercado de ilustrações me fez conhecer o Photoshop. Aprendi o básico em tutoriais na internet. Enfim, gosto muito de papel da Winsor & Newton. Ultimamente tenho utilizado pincel para alguns tipos de arte final. MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. LS: Minha nova HQ O Quarto Vivente seguiu a métrica: Lápis básico, arte final em nanquim, escaner e cores no Photoshop. Já tentei desenhar direto em tablet mas não me sinto confortável. Nem tenho aquelas mesas digitalizadoras. Vergonhoso...rs. MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs (e, especificamente, como é o processo nos seus zines, e como foi a produção do Quarto Vivente)? LS: Acho que o primordial de qualquer narrativa gráfica é: nunca subestime o leitor. O leitor não é burro. Às vezes percebo preocupações que não devem ser, ao mínimo, cogitadas. Acredito que os quadrinhos são, de modo peculiar, a experiência mais intimista no jeito de se contar um história. Minhas preocupações narrativas começam por esses âmbitos. Sempre faço, antes de qualquer traço ou sketch, um roteiro bem elaborado, como cada cena deve ser desenhada, o intento do personagem, o cenário, onde devem ficar os balões, viradas de páginas, enfim, faço um roteiro que é



uma mapeamento de toda HQ. Sempre trabalho com esse roteiro impresso ao meu lado. Após o roteiro pronto, faço alguns sketches dos personagens. Geralmente já tenho todos os detalhes na cabeça. Outro aspecto que gosto de esmiuçar é onde devem ser colocadas as “câmeras” que farão as ‘tomadas’ do quadro. Na minha nova HQ, O Quarto Vivente, o processo foi bem esse que citei. Já na minha HQzine Luzcia, a Dona do Boteco foi um trabalho mais intuitivo. Uma história curta, simples que decidi colocar no papel. MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? LS: Escrevi um roteiro de uma HQ chamada O Submarino de Pâmela. Nesse roteiro fui tão minuscioso que percebi que havia escrito um livro...rs. Decidi então ajustar o roteiro para deixar em um formato de romance. Deu certo e estou em processo de melhor, elaboração e extensão, do texto. Dessa forma pretendo ainda lançar isso em 2014. Também, como disse que já me envolvi muitos anos com música, às vezes faço algumas músicas ou trilhas para espetáculos. Minha última contribuição foi compor dez músicas para um espetáculo de Ballet chamado D.R.O.P.E.S (Dança Randomicamente Organizada Para Espaços e Situações). No mais, faço algumas ilustrações e tento tocar meu trompete dodecafonicamente.

MT: Por que quadrinhos? LS: Pois eu defendo que as bandas desenhadas são a experiência mais intimista e de cunho pessoal que uma obra literária pode ter com o leitor. Posso ser execrado por defender isso mas que é assim, isso é! Os quadrinhos passam a emoção de um filme, mas você, no caso o leitor, tem um maior controle do tempo. Os quadrinhos sempre me acompanharam, desde minha alfabetização. Como adorava desenhar, minhas primeiras experiências literárias foram com os gibis. Entre tudo que já fiz na vida, sempre, os quadrinhos, estiveram ao meu lado. Fui uma criança que lia Turma da Mônica, um adolescente que lia The Spirit, um universitário que lia Sandman, um engenheiro que lia Vertigo, um bancário que lia O Dobro de Cinco e agora, um quadrinista que realizou seu sonho. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? LS: Li muita coisa ultimamente, e aqui vou citar as coisas que gostei muito. De HQ posso destacar Pinóquio, O Gosto do Cloro, 100% e Três Sombras. Para além dos gibis, li Dois Irmãos de Milton Hatoum, Miguel e seus Demônios do Lourenço Mutarelli, estou relendo, em uma edição linda, Clockwork Orange e Barba Ensopada de Sangue de Daniel Galera.



Pular

Ana Racalde http://anarecalde.blogspot.com.br/


Ela estava lá ao que parecia ser uma semana inteira, mas nem tinham se passado alguns minutos. E quanto mais olhava para baixo, mais dava medo. Como seria arriscar e pular? Outras vezes já tinha tentando e no final, apesar da queda e a sensação de voar, a chegada tinha sido dolorosa. Pular de tão alto tinha suas consequências. E ela continuava lá, parada no terceiro andar do trampolim. Seu irmãozinho gritava, “menininha, meninha”, mas no alto de seus 12 anos, não era isso mesmo que ela era? Uma menina. Mas no que isso fazia dela menos corajosa? E como ela estava com medo agora. E quanto mais olhava para baixo, mais medo tinha. A ansiedade e a lembrança de cair de mal jeito ainda eram fortes, mas e voar? A sensação do vento em seu rosto era melhor que qualquer dor. “Quer sabe? Que se dane!” E pulou. Enquanto caía, ela só pensava no quanto amava aquilo.


Morganna Batista http://www.flickr.com/photos/estalarosdedos/




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