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MON OTI PIA XX Monotipia



Rio. on. Comics O guia cultural dos Quadrinhos cariocas

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Mariana Waechter

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Caio Yo

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AndrĂŠ Lasak

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XXXIX Já começou. Consegue ouvir? Martins de Castro Editor Caio Yo (Capa) Mariana Waechter (ilustração - pags. 4/ 5)

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Sobre a Monotipia


Mariana Waechter http://marianawaechter.tumblr.com



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. MW: Comecei a fazer quadrinhos mais seriamente a partir de 2012, quando entrei no coletivo Sáfaro para adaptar para HQ nossa montagem do mito de Medeia para o teatro. No meio do caminho, participei de oficinas com o Lourenço Mutarelli - que acabou observando a produção de Medeia remotamente e deu algumas opiniões. A partir desses episódios, continuei fundo, foi um processo prático. Antes disso, nenhuma formação específica, mas desde 2009 trabalho com ilustração, diagramação e animação, aqui e ali. Agora consegui uma bolsa para estudar arte, vamos ver como vai ser.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? MW: Os situacionistas foram importantes nas discussões do Sáfaro e um pouco também no Projeto BILL, idealizado pelo João Pinheiro, sobre o universo do Burroughts - onde isso aparece no fluxo de pensamento e no método cut up. Mas ainda estou digerindo isso no meu trabalho, sou pouco teórica. Pedro Franz, Charles Burns, Odyr, Berliac, Jorge Gonzalez, Lourenço Mutarelli, Manuele Fior, Austin Osman Spare, Jack London, ocultismo e simbologia têm sido alguns pontos constantes no horizonte.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? MW: Me dou bastante com lápis e nanquim, por hábito. Em Medeia, usei muito aguada. Agora, estou começando a experimentar mais tintas e cores.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. MW: Não sou muito pragmática. Geralmente esboço thumbnails conforme as ideias vão surgindo - a partir de trechos de leituras, dicionários, anotações em cadernos, pesquisas pela internet - nada muito parecido com um roteiro estruturado. Tenho bastante interesse por sincronicidades, estabelecer relações entre as coisas nesses estudos. Isso serve de apoio pra ir fazendo as páginas. Quando eu estava começando, o Odyr me sugeriu um esquema para diminuir a diferença de qualidade entre as primeiras e últimas páginas de uma mesma história - porque é impressionante a melhora e assertividade que vamos alcançando com a prática. Consiste em finalizar as páginas fora da ordem de leitura para o desenvolvimento ser percebido de forma mais diluída. Isso me foi bastante útil. Fora isso, é mesa bagunçada, originais embaralhados na gaveta e prazos, que sempre a judam.




MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas Hqs? MW: Tento prestar atenção às viradas de página, como ficarão as duplas, coisas do tipo. Isso foi aparecendo na observação dos resultados. Como disse, pro bem e pro mal, rola um desleixo intuitivo.

MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais MW: Medeia foi realizado dentro do Sáfaro, e o processo foi um quebra-cabeça a partir do mito grego original, do texto teatral de Eurípedes, de referências de diversos artistas contemporâneos e dos ensaios e experimentos do grupo. Tudo foi traduzido para uma narrativa própria, relacionando o mito ao tema de pesquisa do coletivo: o discurso do terrorismo como possibilidade no Brasil. Na época, esse assunto não estava tão em pauta.


Depois vieram as histórias mais curtas, que começaram com Jonas, o escafandrista nu, publicada recentemente no Zine XXX, baseada em um sonho e medos irracionais antigos. Bestiário tem como ponto de partida outro texto teatral, Helena - Eurípedes de novo - onde relacionei a fertilidade abundante como desencadeadora da guerra. Está para sair, na coletânea Inverna, uma história nova de oito páginas onde o tema é "mulheres brasileiras", e quis abordá-lo sob um ponto de vista menos generalista. Ali há também uma experimentação formal, bem diferente dos meus outros trabalhos, tanto na estrutura quanto na narrativa. E estou viabilizando Medeia para esse ano, finalmente.



MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? MW: Ilustrações e periodicamente oficinas de quadrinhos para o público infanto juvenil.

MT: Por que quadrinhos? MW: Tempestades solares.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? MW: O último quadrinho que li foi Noturno, do Salvador Sanz, não gostei. Já Habibi, do Craig Thompson, é impressionante. Terminei recentemente O homem e seus símbolos, organizado pelo Jung, e comecei a ler o Bestiário do Cortázar - que descobri só depois de fazer o quadrinho de mesmo nome.



AndrĂŠ Lasak https://www.facebook.com/quimeraufana



É...


É sórdido Ser simplesmente MÓRBIDO

É estranho Ser simplesmente TACANHO

É inconstante Ser simplesmente ITINERANTE É incerto Ser simplesmente CERTO É inexato Ser simplesmente EXATO É concreto Ser simplesmente TETO É tocante Ser simplesmente ERRANTE É espaçoso Ser simplesmente RANCOROSO É especial Ser simplesmente NORMAL É conexo Ser simplesmente SEXO É importante Simplesmente SER


DESPERTAR


Descrevo em tempo o torpor caótico Da sensação inconsciente do Desconhecido Desculpo o vento pela velocidade Amarga da vela Da vela Que me leva cada vez mais longe Do meu Destino Desconsidero o futuro desta viagem Desconsidero o futuro Desconsidero Desesperado somente Desperto


O JULGAMENTO DA HUMANIDADE


Tributo mórbido ao desespero É acender uma vela de gordura Humana ao santo das causas Urgentes... Será que ele atenderá ao Desesperado ou à alma Que doou o lume? Quem está certo? Quem está errado? É errado comer a carne Do seu inimigo para adquirir Sua força? É certo dizimar uma religião Em favor de outra? É certo destruir uma raça Julgada impura por Outra raça? É errado preservar uma vida Em detrimento de outrem? O ponto de vista é algo perigoso. O que é certo para você é Errado para seu próximo... Quem detém a verdade? O que nos faz racionais? Só o tempo julgará os incautos... E quando isso acontecer, Ninguém de nós será Perdoado.


Caio Yo



Monotpia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. Caio Yo: Desenho desde criança, mas foi aos 13/ 14 anos que comecei a fazer aulas de desenho e que decidi trabalhar com isso. Conheci os possíveis mercados de trabalho de ilustração nas minhas primeiras aulas, que foram de Desenho Artístico e, depois Mangá. A partir daí não parecei mais. Optei por focar minha formação com cursos livres. Já fiz muitos, de aquarela e estilização até pintura acadêmica... Gosto também de fazer cursos mais abertos, como caligrafia e História da Arte. É bom para manter a gente sempre treinando, e fazer a gente nunca se acomodar numa zona de conforto.



MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? CY: Meu trabalho é bastante estilizado, e estou buscando ter um traço cada vez mais rápido e espontâneo. Foco muito também na importância das cores e das atmosferas cromáticas nos meus trabalhos... Por isso costumo usar como referência constante alguns dos mestres das cores, como Monet e Van Gogh... Também outros como Giovanni Boldini, Mucha e Hokusai. A influência do mangá e do cartum moderno no meu traço são bem claras, também. Desenhistas como Jamie Hawlet, Akira Toriyama, Mignola, Sean Gordon Murphy e Hayao Miyazaki não saem da minha prateleira preferida.


MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? CY: Meu dia-a-dia de trabalho com ilustrações é dominado pelo computador. Quase tudo que faço como freelancer é digital. É mais rápido e mais fácil de trabalhar em cima do que os clientes pedem. Mas gosto mesmo é de me sujar usando pincéis, tinta e canetas, e tenho cada vez mais gostado de trabalhar com guache, bico-depena e marcadores. Mas costumo usar esses materiais somente em trabalhos autorais.



MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. CY: Geralmente esboço no computador, usando uma Intuos. Ali encontro liberdade para compôr as ilustrações/páginas da forma que mais me agrada. Quando é um trabalho freelance, todo o acabamento também é digital. Mas se for algo autoral, costumo trabalhar um pouco mais à mão, com materiais mais tradicionais... Quando produzo quadrinhos, costumo começar o esboço no computador, imprimí-los e finalizar à mão, também.

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? CY: Cada vez mais tenho me preocupado com a construção de um roteiro bem formulado, para depois dar vida visualmente à história. Aprendi muito em um curso recente de Narrativa, com o mestre Octavio Cariello. Li, também, o Poder do Mito do Joseph Campbell e (em parte) o Story, do Robert Mckee, e agora passei a tratar o que faço mais como um veículo para contar histórias, e menos como somente experiências visuais.


MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? CY: Na verdade produzo quadrinho no meu tempo livre. O maior volume dos meus trabalhos é para games, vídeos e mercado publicitário. Gosto de produzir ilustrações autorais e fanarts como diversão, também.




MT: Por que quadrinhos? CY: Por que não? Desde a minha adolescência passo muito tempo lendo quadrinhos... é uma mídia em que me sinto confortável. A junção de imagem e texto parece ser a forma ideal para contar as histórias que imagino... mas ainda preciso praticar muito para chegar um pouco mais próximo do que eu gostaria.


MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? CY: Tenho lido muito quadrinho nacional... Dama do Martinelli (Jefferson Costa), Rei Lear (Octavio Cariello), Remy (Julia Bax), Quad (Diego Sanches, Aluísio Santos, Eduardo Ferigato e Eduardo Schaal), entre outros. Estou tentando, como estudo, reler alguns autores internacionais, como Becky Cloonan, Mike Mignola, Sean Gordon Murphy, Jiro Taniguchi, Eric Canete, Katsuhiro Otomo, Akira Toriyama… Estou tentando abrir um pouco o meu repertório de livros, com alguns autores que sempre "difíceis" demais para mim, como Humberto Eco (O Nome da Rosa). Estou lendo também algumas coisas de ficção científica, como pesquisa para uma história (2001, O Cair da Noite, 1984).




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