Monotipia34

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Mono tipia


Papo com Chico Shiko, autor de “Piteco - Ingá”

Conversamos com Dalts, Go Carvalho e Magenta King, os 3 ilustradores que fazem quadrinhos usando os poderes mágicos do Himalaia.

André Lasak traz nosva poesias para esta edição


XXXIV

“Todos os sentidos se alteram com a aceleração, porque todos os padrões da interdependência pessoal e política se alteram com a aceleração da informação”. Porque é sempre bom ter em mente o bom e velho McLuhan. Martins de Castro Editor Chico Shiko (capa) http://monotipia.tumblr.com http://facebook.com/monotipia monotipia@gmail.com @monoitpia

Chamada permanente: Traga seus trabalhos para a Monotipia!

Lançamentos de quadrinhos: Publicou (ou ainda vai publicar) seu quadrinho em 2013? Conta pra gente!

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AndrĂŠ Lasak

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BORBOLETA DO TEMPO


De grão em grão A ampulheta marcou o tempo De tempos em tempos O escriba virou a ampulheta A ampulheta-borboleta do tempo Sobrevoou pelas montanhas Até pousar na mão do escriba No interior da ampulheta havia sangue No interior do escriba havia areia A união dos dois resultou Na recombinação dos termos Inexatos da sabedoria exata A desunião dos dois resultou Na devastação dos conceitos Incertos da realidade certa O escriba virou borboleta A ampulheta virou pó Do pó renasceu o tempo.


RELÓGICO


O Rel贸gio TIC TAC Marca horas TIC TAC Marca fatos TIC TAC Prende pessoas dependentes de TIC TAC TIC TAC Reprime movimentos de TIC TAC Marca tempos TIC TAC Marca passos TIC TAC O Rel贸gio


DO TEMPO


Do tempo em que nada Era mais do que simples Experimento Empiricamente ilimitado Dentro de seus inexplicáveis Segredos e intrincados Acontecimentos. Do tempo em que tudo O que se esperava eram Meros meios e enfins Desmembrados em teses E antíteses que de novas Sínteses mostravam suas Verdadeiras faces. Do tempo em que tempo Era tudo o que se tinha À mão para se perder Com ideias e ações Ou simplesmente falta do Que se perder. Do tempo em que o tempo Era apenas o tempo em Que se tinha tempo Para ao menos Crescer. Do tempo em que o tempo Era o tempo nosso de Cada dia O tempo nosso Do mais esperançoso Amanhecer.


Dalton dรก o tom

http://www.flickr.com/photos/dalton_soares/


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinhista. Dalts: Sempre fui apaixonado por quadrinhos, tanto que chegou um ponto em que ler passou a não ser mais o suficiente, queria de alguma forma fazer parte daquilo, desenhar, escrever, editar, o que fosse. Na busca por fazer quadrinhos acabei descobrindo o design e a ilustração, o que acabou, me levando a fazer faculdade de Artes Plásticas, onde aprendi um pouco de tudo, escultura, gravura, pintura e por ai vai. Acho que esse período de formação, na verdade, nunca tem um fim, mesmo hoje faço cursos na Quanta e sempre converso com os colegas dos quadrinhos e da ilustração para aprender coisas novas. Essa troca de informações e referencias entre os artistas vale ouro.



MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? Dalts: É difícil me classificar em um movimento artístico, acho que sempre tem um pouco de várias coisas e mesmo os artistas que admiro algumas vezes não seguem um estilo tão definido em uma comparação entre eles. Acho que para mim existe uma tensão entre um desenho de precisão, com caneta, super definido e o pincel mais solto e expressivo. Das artes plásticas, gosto do Munch, Toulouse-Lautrec, Gustave Doré, entre outros. Dos quadrinhos, minha influencia maior é o Moebius, seguido do Otomo, Geof Darrow, Frank Quitely, Paul Pope e Sean Murphy. Gosto muito do Mcbess e Tomer Hanuka, ambos da ilustração. Vale a pena dizer, que além dos monstros consagrados da arte e dos quadrinhos, sou muito influenciado pelos meus colegas e amigos quadrinistas, caras que eu vejo trabalho quase todos os dias e admiro, o próprio Magenta, o Go, os Gemeos Costa, Amilcar, Santolouco e muitos outros. Todos tem sua parcela de influência.


MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? Dalts: Em geral, gosto de desenhar no maior formato possível, isso por conta da quantidade detalhes (pontinhos). Quando trabalho com papel é no tamanho A3 (A4 para testes), quando é digital, é A2 ou maior. Pessoalmente prefiro desenhar no papel, costumo usar lápis azul ou vermelho para estruturar tudo e depois entram canetas bem finas e pincel e nanquim. Na maior parte das vezes, quando uso tablet, é por conta da velocidade no trabalho, ela corta varias etapas do processo (escanear, tratar imagem, etc...)




MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. Dalts: Quando é ilustração comercial, gosto de conversar bastante com o editor ou designer envolvido no projeto para pegar o máximo de dados possíveis. Nessa etapa, quanto mais referencias melhor, gasto um bom tempo com pesquisa (as vezes o editor de arte tem uma visão bem clara do que quer e já manda uma pesquisa com base no que

eu faço). Depois da pesquisa faço um esboço geral do que vai ser a ilustra e envio para o cliente, aprovando, parto para finalização. Nesses trabalhos, devido aos prazos que costumam ser pequenos, faço tudo na tablet. Nos quadrinhos, gosto de dividir bem as etapas de trabalho. Primeira parte é escrever. Nessa fase gosto de esquecer que desenho e pensar como roteirista, isso ajuda no sentido que proponho

desenhos que não necessariamente são o meu forte, isso evita que eu me acomode fazendo o que é mais fácil para mim. Na segunda etapa, começo a planejar as paginas , fazendo esboços e thumbnails, é nesse momento que começo a pesquisar elementos visuais também. A terceira etapa é fazer a pagina. Com tudo definido rabisco com lápis azul tudo e depois parto para finalização com caneta e nanquim. (as vezes tablet também)



MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? Dalts: Independente de ser uma narrativa mais clássica ou mais ousada, a regra é que precisa fazer sentido para o leitor. É importante construir os elementos narrativos com base, claro, na sua vivencia e também na experiência de vida do leitor, é ele quem completa a historia , ele quem cria sentido de um quadro pra outro. Acho que o maior esforço na narrativa é esse: encontrar o ponto em comum entre leitor e autor, é ai que se estabelece comunicação e é ai que você prende a atenção do publico.

MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? Dalts: Quadrinhos tem tomado uma boa parte do meu tempo, mas o que posso falar é que tenho participado na criação de vários jogos e infografias para revistas e internet, infelizmente ainda não dá pra entrar em detalhes pois são trabalhos em andamento. Outra coisa bacana é que pretendo fazer mais grafite, algo que é novo para mim mas já me apaixonei pela arte! Atualmente o Leelo está fazendo uma das paredes da fachada da O2, e esta sendo, acredito que para todos nós, uma experiência fantástica!


MT: Por que quadrinhos? Dalts: Eu acho que li tantos quadrinhos, mas tantos e de tudo que é tipo que eles contaminaram minha cabeça de uma forma que quando tenho ideias elas meio que se manifestam como quadrinhos. Tem coisas que eu gostaria de falar para as pessoas e não sei verbalizar, mas sei que se fizer um quadrinhos delas, vai fazer sentido. Acabou virando um jeito de me comunicar, e como eu não quero morrer como uma ilha, virou uma necessidade, não dá pra não fazer. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? Dalts: De quadrinhos, ultimamente tenho lido o Unwritten (O Inescrito), Punk Rock Jesus e o Buildings do Chris Ware. Também tenho feito pesquisa para um trabalho novo em quadrinhos, então tenho gastado um tempo relendo os livros que tenho do Kurt Vonnegut, em especial “Café da manhã dos Campeões”.



Go, Go


o! Go!

http://www.flickr.com/photos/gocarvalho


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinhista. Go Carvalho: Minha formação na verdade começou com desenho técnico, quando era criança aprendi com meu pai que era projetista de maquinas, depois com o tempo estudei arte, pintura com aquarela, óleo, quadrinhos, animação 2d, desenho de anatomia, e fotografia entre outras coisas. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? GC: Como já disse na primeira resposta, tenho muita influencia de desenho técnico, mas se tratando do lado mais artístico não tem uma escola ou movimento que me identifico ou

me influencia mais ou menos, gosto bastante de pesquisar coisas novas e até incomuns, se for ajudar de algum jeito no meu trabalho, mas se for pra citar coisas que tem uma forte influencia no meu trabalho alen do desenho técnico, acho que tambem, posso falar de alguns pintores que eu gosto muito, como Salvador Dali, Van Gogh e Nara Yoshitomo, na parte da fotografia gosto muito de Robert Capa e Man Ray, quanto a quadrinhos, tenho uma influencia obvia em mangá e arte tradicional japonesa, no quesito quadrinho /mangá, são poucas coisas que eu realmente gosto, como Dr Slump, do Akira Toriyama, Maakies do Tony Milionaire, Peanuts do grande Charles Schulz, tambem gosto muito daqueles desenhos preto e branco bemm antigos tipo coelho oswaldo e essas coisa toscas bem antigas.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? GC: Gosto muito de desenhar en formatos pequenos, um tamanho A4 já é desconfortavel pra mim, gosto bastante de formato A5 e coisa um pouco menores não me sinto a vontade desenhando en folhas grades e coisas assim, tenho tambem o habito (adquirido com meu irmão Magenta) de desenhar en cadernos, então sempre tenho um caderno de desenho e algumas canetas comigo seja onde for. Sempre gostei muito de desenhar com bico de pena e nanquim, tenho um certo fetixe por nanquins e tenho até uma pequena coleção, tenho mais do que conseguiria usar …mas apesar de gostar muito de bico de pena, por não ser nada pratico só uso en casa, raramente uso em outros lugares, ultimamente adquiri outro habito com o Magenta que é desenhar com canetas de ponta fina de péssima qualidade, aquelas chinesas de 2 reais mesmo que não dura nada e agente compra de dúzia, que apesar de serem de qualidade duvidavel acabei meu acostumando e gostando dos resultados. Quanto a cor eu normalmente uso aquarela, mas ja usei muito acrilica, as vezes até arisco no óleo, e recentemente começei a fazer mais coisas digitalmente na verdade a técnica e o material varia muito do estado de espirito.



MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. GC: Em ilustração normalmente é muito de improviso, vejo alguma imagem, foto ou alguma situação que me agrada e acabo transformando em uma ilustração. Quanto a quadrinho é mais complicado normalmente tenho uma ideia definida bem basica sobre o tema da historia, depois tento trabalhar mais encima daquilo, mas normalmente meu metodo de fazer roteiro é bem desorganizado, não faço esboço das paginas nem escrevo detalhadamente o que cada uma vai conter, é mais ou menos assim pag 1 - garoto correndo, garoto tropeçando, garoto chorando. ai no caso cada observação é um quadro, mas não me prendo em como será o plano de camera ou se tiver fala o que será dito, é tudo meio que nas coxas. hahahaha


MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? GC: Não tenho nenhuma preocupação nesse sentido, só vou fazendo, o que sair, saiu, eu sou bem relapso nesse sentido, pra mim é meio intuitivo , se eu gostei do desenho e da pagina como um todo( desenho narrativa, arte final etc), otimo, se quando eu acabar não gostei, rasgo e faço outra, não me importo não.



O que você tem produzido para além dos quadrinhos? GC: Segredo... MT: Por que quadrinhos? GC: Boa pergunta … na verdade eu ja tinha feito um zine de 3 edições em 2001, 2002 e 2003, e depois nunca mais fiz, nessa mesma epoca conheci o Magenta, e sempre fizemos coisas juntos, e algum tempo ele e o Dalton tiveran essa ideia do Leelo, e acabaram me chamando, como eu tinha acabado de voltar a desenhar ( fiquei um periodo sem desenhar quando começei a me dedicar a fotografia ) achei que seria interesante e me ajudaria a pegar o ritmo de novo… funcionou MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? GC: De quadrinho estou lendo Solanin do Inio Asano, V de vingança (décima vez ), e estou lendo alguns livros, Eram os deuses astronautas, alguns do Julio Verne, A historia da arte do Gombrich e o Senhor das moscas, na verdade acho que leio mais livros que quadrinhos…


Magenta http://www.flickr.com/photos/magentaking/



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinhista. Magenta King: Por meu pai trabalhar e dar aula na área, eu sempre estive em contato. Trabalhei muito tempo como designer, mas sempre quis partir pra ilustração e quadrinhos, desde pequeno. Mais ou menos 2 anos atrás eu resolvi sair do estúdio onde estava e me dedicar a ilustração. Acabei estudando ilustração e quadrinhos minha vida toda, fiz curso na Impacto Quadrinhos, com professores como Luke Ross, Manny Clark, Fábio Laguna e Klebs Jr.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? MK: Não conseguiria identificar movimentos artísticos, mas talvez alguns artistas que admiro, como Leonardo DaVinci, Basquiat, M. C. Escher, Alphonse Mucha, entre outros. De quadrinhos, os mais evidentes são Paul Pope, Taiyo Matsumoto, Nemiri, Bengal. São muitos, e cada dia cresce mais, porque cada um que conheço, influencia de alguma maneira meu trabalho.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? MK: Eu já fui muito ligado a materiais. O papel certo, a lapiseira certa, coisa de não conseguir desenhar se não tivesse com elas por perto. Mas hoje, de verdade, uso o que tiver a mão. Prefiro lapiseira a lápis, mas de resto, uso qualquer papel e material disponível. Se o trabalho não exigir certos materiais, eu gosto de ir experimentando coisas novas e ver o que rola de resultado.

Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. MK: Nas ilustrações, quando são comerciais, eu normalmente começo com um sketch rápido e bem pequeno, pra poder colocar as idéias em ordem. Depois disso, faço um sketch mais trabalhado, mando pro editor, e uma vez aprovado, faço a linha (ou direto na caneta, pincel, ou lápiseira mesmo) e faço a cor (na maioria das vezes digital). Nos quadrinhos, ou ilustrações pra pessoais, tenho a etapa de fazer um sketch pequeno pra colocar as idéias em ordem também, e depois a produção é mais confusa. Muitas vezes as partes da ilustra ou da página são divididas em diversas folhas diferentes, que depois são reunidas digitalmente. Nos quadrinhos prefiro fazer a letra manualmente, pra ser mais orgânico mesmo. Hoje em dia estou usando muito a aquarela azul pra dar volume no meu traço, que acaba ficando bem solto.




MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? MK: Eu sempre me preocupo com o entendimento do leitor, de os quadros passarem realmente o que devem e não ficar confuso. Tento também deixar a imagem falar por si. O texto deve ser um complemento, não descrever o que estamos vendo. Então gosto de usar as vezes quadros desconexos com o texto, pra dar uma leitura mais dinâmica. MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? MK: Estou ultimamente gostando muito de fazer videos de processo das ilustrações e sketches. Estou com esse projeto diário de fazer sketches e filmar em timelapse. É legal pra mostrar a “mágica” que tem por trás. Fora isso, estou começando a trabalhar com artes para música, que é uma coisa que sempre quis fazer. Posters, capas, logos. Coisas assim. Tento deixar sempre bem diferenciado e amplo o meu leque de opções quanto a trabalhos. Estou agora, devagar, tentando fazer algumas coisas com animação. Então fiquem de olho que em breve teremos algumas novidades de animação no Leelo.



MT: Por que quadrinhos? MK: No meu caso, eu sempre li muito quadrinho. Desde pequeno, e sempre foi mais pra super heróis. Ainda é um sonho remoto querer trabalhar com alguma editora gringa e desenhar algum personagem que sempre adorei ler. Mas o principal motivo é que queria contar minhas histórias, e pra isso achei que quadrinhos seria a mídia perfeita, pois posso fazer do começo ao fim, sem interferência nenhuma, e sem grandes custos (principalmente hoje com a internet). MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? MK: De quadrinhos, tenho relido alguns antigos do Moebius e coletâneas, alguns mangás velhos como GeGeGe no Kitaro, Hellboy e qualquer coisa que saia do Chris Ware. De livros, estou viciado em Murakami, e estou lendo o antigo, mas sensacional, Senhor das Moscas, de Wilham Golding.



Chico http://www.flickr.com/photos/derbyblue/

Shiko


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinista. Chico Shiko: Comecei desenhando pequenas HQs para fazer meu próprio fanzine. Foi essa a minha escola como quadrinista e ilustrador.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? CS: Eu tenho muito interesse em tatuagem, ilustração, cinema, música, fotografia e quadrinhos, claro. Tudo isso se mistura e é difícil saber o que influência mais diretamente. Acho que cada trabalho filtra influências diferentes. Ah, a literatura talvez seja a coisa que mais me enche de idéias.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? CS: Para quadrinho, acho que o nanquim me basta. Gosto muito de quadrinho preto & branco, caras como Muñoz, Brecia, Altuna e todos aqueles argentinos que se seguiram a passagem de Hugo Pratt por lá, uns mangás como Akira e Preto e Branco, Recentemente descobri outros dois caras geniais, Manu Larcenet e Manuelle Fior, O Italiano Gipi, o velho Sergio Toppi... esses caras me dizem que a cor, quase sempre é um

recurso supérfluo. Salvos os casos que a narrativa realmente pede cor. Aí meu amor é pela aquarela. E nesse ponto o Lélis é quem mostra até onde se pode chegar. Pra ilustrar eu quero usar tudo que eu conheça. todos os lápis, as tintas e os suportes que encontrar, porque cada ilustração é uma história diferente e pede texturas diferentes.




MT: Conte-nos como é a dinâmica de produção das suas HQs. CS: Minha dinâmica... rapaz, sei não. É o caos. Acho que vou fazendo anotações, linkando idéias, guardando esboços e talvez aquilo tudo se junte e se transforme num quadrinho. Mas quase tudo acaba morrendo na gaveta mesmo. Isso falando do meu trampo de autor.



MT: E quanto aos trabalhos não autorais? CS: Quando sou contratado por uma editora para um trabalho específico, como O Quinze ou o Piteco, aí eu tenho que colocar alguma ordem. Trabalho um primeiro tratamento de roteiro, meio solto. se aprovado eu desenvolvo a história já trabalhando um primeiro esboço do quadrinho e dai uma terceira

etapa pra finalizar as páginas. mas nada está plenamente resolvido até finalizar a última página. quero voltar atrás , mudar uma coisa... as vezes dá tempo. Às vezes vai como está. É importante também saber abandonar a coisa, não ficar punhetando um projeto tempo demais. Seguir em frente.


MT: Ainda sobre O Quinze e Piteco, quais diferenças você identifica entre produzir uma adaptação literária e um trabalho inédito? CS: Primeiro a necessidade óbvia de estar preso a um texto já conhecido, no caso da adaptação. Você pode optar por uma adaptação menos literal, pode subtrair ou acrescentar um elemento, mas não pode ir longe demais do original. Pelo menos não nesse esquema de adaptações que se firmou no Brasil. Com o texto inédito a liberdade e possibilidade de invenção é bem maior. Aliás, esse modelo de adaptações para o PNBE está marcando a adaptação de literatura para as HQs com uma bela de uma má fama. Você ouve o cara falar que está fazendo uma adaptação e já olha torto. O que é uma pena. Há propostas incríveis como o projeto ‘’domínio público’’ da Ragu lá de Recife.



MT: Má fama? como assim? CS: Porque o que a editora quer é vender aquilo pras bibliotecas, escolas, então claro que tem que ser um negócio meio careta. uma leitura fácil. Eu li umas 3 ou 4 e não gosto de nenhuma, a minha eu não consigo ter distanciamento pra opinar com clareza, mas meu primeiro impulso também é o de não gostar. Mas aí o André Diniz fala que está fazendo ‘’O Idiota’’ todo sem texto e você volta a ter crença nas adaptações. Mas será que o PNBE adotar um livro assim ? vão entender que uma HQ sem texto é pra ser lida? Que tem profundidade e conteúdo nessas ‘’figurinhas’’. Enfim, a adaptação virou um negócio editorial de bom retorno. Logo, não é um lugar para ser criativo.




MT: Entendo... CS: Além do que só entra ‘’clássico’’. Esse clássico com mais de cem anos. Queria ver entrar um João Antonio, um Rubem Fonseca... MT: Em Piteco - Ingá, a escolha do personagem e desenvolvimento da trama são seus? CS: o personagem foi escolhido por eles. daí em diante eu tive liberdade. Mas é aquela liberdade, né? Você tá fazendo um personagem do Maurício. Então você já se coloca dentro daquelas balizas.



MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? CS: Tenho ilustrado campanhas publicitárias e alguns livros. Estou finalizando um livro infantil em parceria com Chico César, que é um amigo. Fui convidado pra passar o mês de outubro numa residência artística em Portugal que deve resultar numa exposição no início de novembro. Depois volto para

a Paraíba para finalizar meu segundo curta metragem como diretor. E tem um livro/ catálogo com um apanhado do graffiti de João Pessoa que pretendo mandar para a gráfica em breve. Tá atrasado aqui o story board do filme de um amigo... e a ilustra do convite da festa de aniversário da minha sobrinha. =)



MT: Por que quadrinhos? CS: É uma linguagem que prende minha atenção, desde menino. Nesse sentido não foi uma escolha. Não é que eu escolhi entre isso ou aquilo. Antes de saber ler já tinha um gibi ali. Antes de saber desenhar já sabia que podia fazer aquilo. É muito mais próximo daquilo que seria possível pra uma criança no sertão da paraíba nos anos 80. Veio antes de eu ser capaz de pensar que poderia fazer cinema, ou teatro, ou literatura.Aí depois chegou às bancas a revista Animal, Paralelas, Mutarelli...e descobri que meu negócio era mesmo por ali.



MT: O que você tem lido ultimamente? CS: Barba ensopada de sangue, do Galera. Akira (completo), Encruzilhada, do D’Salete, muita coisa de Muñoz e Sampayo e acabei de voltar da livraria com Portugal do Cyril Pedrosa.



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