NU`S

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2021

nu`s

“sonetos”


APONTAMENTO INTRODUTÓRIO

Foram as notas em rima, a que atribuo a “pomposa” linhagem de “sonetos”, escritas no decurso do ano de dois mil e vinte e um, de que se extrai temática de percurso acidentado e que redundou em três epítetos:

NU, FEMININO; NU, CAFÉS NA MEMÓRIA; NU, RETALHOS AVULSOS;

As notas citadas que compõe esta pequena publicação não refletem: •

Estado de alma ou de espirito nem tão pouco resultaram de coincidências;

Refletem unicamente a predisposição para aceitar desafios ao sabor daquilo que vi ou pensei em momentos concretos. “NU`S” são: o Feminino batismal; Cafés com a história de gerações na cidade de Braga; Retalhos avulsos escritos e descritos;

Braga, meses de janeiro a novembro do ano de 2021


Nu

FEMININO


MARIA

Eu não sei Maria Se através da janela baça nascerá um novo dia sobre o Tejo que passa

e deixa em cada margem, em cada terra ou localidade, um abraço breve, selvagem, e vai morrer na cidade,

Sulcado por cacilheiros. A ponte de carros cheia. O farol olhando Cascais.

Não sei se vens ou se vais na brisa com a lua cheia, ou nos sonhos dos marinheiros.


MARIAZINHA

Eu não sei Mariazinha se o girassol amarelo sabe por onde caminha a raiz do teu cabelo

perdida nos caracóis sulcos de brisa brejeira ou no branco de teus lençóis Secos ao Sol da eira.

Eu não sei Mariazinha Se no empedrado chão onde secam as sementes

passa a história das gentes ou a história do pão e fica toda a grainha.


ROSA

Por Rosa te chamaram aquando da boa nova e assim te batizaram, o Espírito Santo aprova.

Na Igreja da freguesia decorada com amor, missa ao romper o dia e festa até ao Sol se pôr.

A folha do alecrim com a do loureiro queimada perfumaram toda a gente

que, estando presente, deu vivas à tua chegada, em um certo dia, assim!


HELENA

Helena, é um nome nobre. Mas também é de plebeia. No arco íris se escreve com as cores da Lua Cheia.

Na cinzenta madrugada a sua trança deixou, e no raiar da alvorada, Helena mulher, nasceu.

Abriu dias com o olhar. Fomes de sorte e de vida. Deriva de sonhos apressados.

Em todos os passos dados com vontade decisiva em cada onda do mar...


NELA

Há uma luz intensa bem no centro da menina, em redor da áurea imensa de uma dor pequenina

Hoje feita, flor silvestre, no prado da alegria que ri, quando se veste com as cores de um novo dia

Há nela um riso. Orelha a orelha. Há nela uns lábio sensuais. Há nela, um laivo, de ingenuidade.

Há nela uma enorme vaidade. Há nela todas as letras dos jornais. Há nela uma brisa leve e, bela.


ETELVINA

Eu não sei Etelvina por onde é que andaste, se por detrás da cortina aonde desapareceste,

ou tão pouco se vieste aos tempos de outra menina que da alma não libertaste, Eu, não sei, Etelvina,

Eu não sei dos caminhos que bem ou mal escolheste entre todas as tempestades.

Onde raia o Sol das saudades das manhãs que deixaste na flor dos azevinhos


ALEXANDRA

Alexandra, é nome grande resistente o quanto baste tão intenso que se expande de norte a sul, este a oeste.

E vai em todos os ventos. Em todas as nuvens no céu. Povoa os melhores momentos Como se fora... um véu.

Alexandra é uma gaivota em voo perpendicular, circunda o mar ou a costa.

Não hesita, quando gosta. Para depois se enroscar no amor da sua porta.


AURORA

Nas entrelinhas dos sons Do vento na copa da árvore Um toque que toca os tons De azul mar e alma verde

Ao despontar da madrugada Cotovia saltitante Giesta brava alvoroçada Sopro do vento levante

Chuva virá, Aurora Nos trilhos dos teus amores Riso largo de criança

Horizontes de confiança Idos se foram os temores No tempo, a tua estória!


ISABEL

Isabel, dizem: é nome de rainha. Não sei. De mulher é, com certeza. Tão escorreito quanto a grainha em mosto se mostra já não presa.

Menina, mulher, madura. Filha, mãe, avó, ou bisavó o seja. Vê-se-lhe nos olhos a candura de mulher rochedo, sem brecha!

Isabel é vento suão. É bátega batida. Forte. É fogo. É uma chama imensa.

Que alastra de forma intensa o perfil de fino recorte da côdea que veste o pão.


IDALINA

De abril, ficou-te o cheiro; a liberdade e a alegria; a forma, a vida, o ribeiro; o sonho; o riso e a fantasia;

Em abril te batizaram, e como nasceste menina, no assento apuseram o teu nome: Idalina!

Com abril cresceste rebelde como o vento bela como a maresia.

Sol no ocaso, fim de dia, onde nasce o sedimento com que a vida te veste.


HELENA

És uma espécie de pradaria sem limites no horizonte com uma mão, espalhas alegria com a outra, dás água de nascente.

Em teu riso largo os sonhos de sempre; em teu cabelo solto, suspiros; nas ondas da vida olhas a gente; nas ondas do mar a esfinge dos lírios.

Helena, é mulher assumida. Em cada contorno, escultura; de olhar intenso, penetrante;

um certo ar, equidistante; onde paira a aventura, e raia o Sol, de toda a gente...


SUZANA

Diz-me tu, Suzana, se a semente do Sol é claridade, ou chama? 0u cambraia de lençol?

Diz-me, se a noite escura, é o pecado original que transforma a candura, em alma? ou é só espiritual?

Diz-me tu, Suzana, do vento arredio sobre onda armada

onde te sentes amada em chama no pavio de uma tarde serena?


nu

retalhos

avulsos


PONTAS

Trago na ponta dos dedos aroma cálido, com suor, por onde correm os medos, as lágrimas, o riso, o amor.

Correm também fantasias,

todas elas, desde moço, são a essência dos dias mesclados, sem alvoroço.

Trago as pontas de tudo aquilo que pontas tem no traço fino das coisas.

Era o giz. Era a lousa. Era o gesto. Vai e vem. Era a vida que ora repousa.


SOMBRAS

Na sombra daquele Carvalho despontam cogumelos que tudo devem ao orvalho ao Sol e ao Luar. Como são belos.

São, por cada grupo, três; com pleura clara, cinza, e tom de castanho, talvez... na estória que o regato giza.

Em cada sombra o efeito perfuma-lhe o jeito suave em sonhos idos da gente,

lavrados no tronco, somente, em um toque, ao de leve... num sonho lindo. Perfeito!


BRASIL

Além Atlântico no Brasil distante a dor, o choro e o pranto abalam um povo resistente…

De além Atlântico. De além mar Oceânico. Aonde a dor substituiu o canto de um povo com um amor titânico…

Na América, Continente aonde a língua é o Português há famílias enlutadas.

Há tantas lutas travadas. Uma delas; é acabar de vez com o COVID na gente...


O AMOR

Com o devido respeito pelas raras exceções o amor é um momento, tudo o resto, são emoções.

É uma bela melodia, ou uma canção de embalar. Uma bela fantasia, ou a memória a inventar…

E assim, tudo fica registado. Um, ou os vários momentos de toda a volúpia mental

em uma orgia visceral confusa nos sentimentos. Ora presente. Ora passado.


PÁSCOA

Não haverá compasso pascal nas ruas, avenidas ou lugares, nem sequer a bênção usual das novas casas. Novos lares.

Não haverá o toque do sino na freguesia: saiu a cruz. Ao ritmo do andar do menino; do leigo; da mensagem; da luz.

Fica assim Jesus crucificado, dores das civilizações, amores de famílias dispersas.

... No vento soam conversas. ... Nos silêncios, emoções. ... Nas memórias, o que há guardado.


AO VENTO

48 anos depois da nossa vontade firmada, aqui estamos, os dois, abril, e a madrugada.

Com vontade desfraldada, em bandeira, ao vento. De uma Nação libertada, Dos grilhões, desse tempo.

48 anos de conquistas.

Muitas lutas e batalhas, sem perder a confiança.

O futuro? É da esperança. Resistentes as muralhas dos ideais socialistas!


A ESTE

Aqui, nasce o Rio Este, joia da coroa da cidade, água memória que veste o imaginário, a identidade.

Aqui, nasce o Rio Este, entre os Picos e o Carvalho, onde os sonhos que tiveste são as vestes do orvalho.

Mas também de toda a luta no berço da ecologia início de um ciclo importante,

onde a vontade a montante faz da biologia: Homem; semente; fruta;


O TEJO

O Tejo corre ligeiro como correm os teus pés solto em sorriso brejeiro que desliza nas marés.

Corre ligeiro na brisa fresca da maresia onde transpira o cheiro do que voa na fantasia.

Ah!... O Tejo espraiado a levante por colo macio perfumado

ao seio enfeitiçado cálido e inebriante, fugaz como um beijo...


RETALHOS

De mim, nunca te esqueças: em cada curva no caminho; em cada árvore que conheças; na giesta no maninho;

na água afagando rochedo; no rego afora, cavado; na ansiedade e o medo; no monte, campo lavrado;

Porque de ti eu trago no peito: a juventude de sempre estribada na vontade,

força agreste, na mão, suave, de um leito que na corrente tem sempre um amor perfeito.


FAROL

Eu sei que andas por aí. Acredita, eu ando por aqui. Não sei se o pó se foi, daí. ou se o vento saiu, dali.

Se as nuvens cobrem o mar de afagos suaves, acetinados. Ou se no brilho do luar voam os sonhos, enamorados.

Eu sei que andas por aí sentada num raio de Sol ou no que resta da neblina.

Na dança da serpentina Intermitência de um farol De um suspiro... um ai.


OUTONOS

Diz-me tu, Outono, das novas sobre o estio, por aonde passa o sono, e se o sonho já lhe sente o frio.

Diz-me tu, Outono, novas dos novos tempos, por onde anda o menino e sopram todos os ventos.

Diz-me tu, Outono, da vida que no tempo corre por entre as novas neblinas.

Dos sonhos idos das meninas no som do sino na torre, ou no pregão das varinas.


SILGAR

Só tenho um punhado de mar, to dou como se fora uma flor, plantada na praia de Siglar, nas rochas emersas no amor.

Onde os cantos do imaginário, navegam à vela, sempre solta, em ondas de vento, solitário, o corvo marinho vai e volta.

E o punhado de mar por areia se espraiando deixou espuma e rumores.

Escreveu todos os amores nas ondas que, os cantando, são a vida de Silgar.


ROCHEDOS

Perdi o olhar no teu decote rasgado por entre os seios de um traço fino no recorte, serrano, entre os rochedos.

Foi de um arrepio colossal mar adentro, serra afora, demandas de um mortal que não sabe aonde mora.

Se, por ventura, no regaço, ou nas ondas de um novelo feito ao sabor do estio.

Ou em uma noite de frio espesso caracol no cabelo solto, sem qualquer embaraço.


Há o céu e há o mar Há um banco na avenida Há pássaros a saltitar Há a procura de comida.

Há gaivotas voando Há a brisa matinal Há ondas se enroscando Há pessoas no areal

Há vozes na esplanada Há cadeiras arrastadas Há cães mijando os trepos

Há missa em todos os credos Há pressa nas caminhadas Há um tudo e há um nada!


TALVEZ

Lembrei - me de ti no lampejo de um olhar, no riso solto que ouvi em uma lufada de ar

No comboio que saiu da pequena estação Na cadeira onde sentou o descanso; a emoção.

Hoje lembrei-me de ti como se uma vez fora de que nunca esqueci

tudo aquilo que senti na casa aonde mora: O sim. O não. O talvez.


NU

CAFÉ as MEMÓRIAS


A BRASILEIRA

Da arte sobressai tela de mulher atenta na luz que entra e sai e a uma mesa se senta.

E olha a luz das lâmpadas, em cada quadrado, quatro, nos dourados vê estampas, nos espelhos, ouve o fado.

De vida de cada pessoa, que se senta e se levanta, porta adentro, sobremaneira.

É o fado de A Brasileira. O charme que se lhe encanta seja má, ou seja boa.


O VIANA

O Viana dos negócios e também ponto de encontro de gente com múltiplos ócios por entre as biscas no ponto

Mesmo debaixo da Arcada a qualquer hora do dia sobre tudo e, sobre nada,. se falava, acertava ou discutia.

Deixou de ser o Viana para Vianna ser. sinais de um outro tempo.

Onde se vive cada momento, devagar ou a correr, dentro de uma cataplana.


O ASTÓRIA

Gemia-se-lhe o soalho depois de a porta entrar, aos gonzos deu trabalho e à mesa se foi sentar.

A cadeira também gemeu, o fumo, vagueou pelo ar, das elites que acolheu, pouco ou nada, sabe contar…

É o Astória na Arcada, onde o cheiro ao bafio mais o pó que nele assenta,

deixaram notas na sebenta das frinchas no tempo, frio, e névoas na peugada...


O CINELÂNDIA

O Cinelândia dos amores, platónicos, ficou no tempo. Guardadas estão as flores, os olhares, e cada momento.

Guardadas estão também desses tempos, nas memórias, tudo aquilo que a vida tem, das silvas bravas, as amoras.

Nele, o verde da esperança, verde musgo dominante, desde a porta da entrada.

Era a luz que mais brilhava no olhar do estudante quando a aula se acabava!


O SPORTING

Do Sporting, café, trago o cheiro na roupa, do tabaco. Do rapé, tenho-lhe o travo na boca.

Do frenesim noturno nos cubículos da cave só as espirais de fumo contam o que se deve.

Já o snooker; o bilhar, com os jogadores à volta, e a gateira para a avenida,

dão o mote de saída para a cavaqueira solta ao balcão, para pagar.


A LUSITANA

Da eterna Lusitana com o pessoal a rigor, onde a moda e a fama se juntavam com calor.

Ao sabor de um chá frio com os perfeitos amores, do Santa Bárbara no estio, das rosas e outras flores.

Que por de trás os arcos e demais pedras avulso contam da cidade estórias.

Da Lusitana, as memórias, nas "gavetas" sem rebuço das mini saias e dos cardos...


A BENAMOR

Uma tremenda elegância, talvez mesmo, assustadora, a Benamor foi fragrância, foi cavalheiro, foi senhora!

Até ao fim, resplandeceu nos dourados e cristais. Nas suas cores envolveu os amores dos casais.

Mas também soube cuidar os sonhos de juventude de uma casta diferente.

Não era povo. Era gente. Preferência? Ou virtude? Na Benamor a coscuvilhar...


O PENINSULAR

Encostado à Igreja da Lapa Mesmo no centro da Arcada O Peninsular foi a capa a bainha e a espada.

Foi um traço na rebeldia estoica e pertinente de uma juventude que queria ser livre e independente.

Do ar fresco foi lufada num tempo sempre a correr que com a idade se esfuma.

Do futuro foi a bruma. Luz de vida por viver. E, os claustros da Arcada...


O CHAVE D’OURO É um frenesim constante de vida solta, rebelde,

de juventude, estudante, que aqui também aprende. No Café Chave D’Ouro da sala à esplanada,

até o semblante maduro se mistura com a gargalhada. De estudante estouvado e amores desavindos,

nele alonga a sala e a causa. Onde o professor faz pausa mesmo em dias findos ou em outro, já iniciado.


O NOSSO CAFÉ O Nosso Café foi sangue feito cidade das gentes

desde a aldeia mais distante até ao fruto, e deu semente. Eram rapazes aos bandos e raparigas também,

vindos de todos os lados num constante vai e vem. Sebastião, um Senhor, com idade quanto baste

e a bandeja na mão. Falava da Revolução, da Diana sem a veste, e o Maio do trabalhador!



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