Revista "O Hospital" | Nº 30

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ANO VI, Nº 30 // SET'21 - DEZ'21

Helder Mota Filipe e “as armas de combate à pandemia”.

Catarina Resende de Oliveira: “A AICIB quer promover uma cultura científica e a criação de valor económico na área da saúde”.

MARTA TEMIDO

quer uma política de saúde focada na Qualificação do acesso; Motivação dos profissionais de saúde; Investimento no SNS.


L I L L Y

A

I N O V A R

P E L A

CIÊNCIA Vivemos numa era fantástica para a medicina. Na Lilly, utilizamos a inovação na ciência para satisfazer as necessidades médicas nas áreas da diabetes, oncologia, imunologia, doenças neurodegenerativas e da dor. Estamos empenhados em utilizar os avanços mais recentes da ciência para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.

PP-LILLY-PT-0014/MAR2019

Ouça as histórias de cientistas da Lilly que estão a transformar o mundo com descobertas inovadoras, em lillyforbetter.com.

Lilly Portugal - Produtos Farmacêuticos, Lda. Torre Ocidente, Rua Galileu Galilei, n.º 2, Piso 7, Fração A/D, 1500-392 Lisboa. Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Cascais, sob o número único de matrícula e de pessoa coletiva 500165602. Sociedade por quotas com o capital social de €1.650.000,00.


Índice

04 EDITORIAL

Estamos no Inverno e quase no Natal e a Covid-19 vai fazer a passagem do ano, mais uma vez, entre nós. Motivos mais do que suficientes para uma análise sobre o cenário que temos que enfrentar e da realidade que se vive nos locais de saúde e os passos mais à frente que têm de ser dados.

06 ATUALIDADE

Catarina Resende, presidente da Agência para a Investigação e Inovação Biomédica (AICIB), dá a conhecer nesta edição os projetos que a instituição tem entre mãos, ao nível de investigação.

10 GRANDE ENTREVISTA

Marta Temido, Ministra da Saúde, é a nossa entrevistada desta 30ª edição de Hospital. Direta e frontal, como sempre, a responsável pela pasta da saúde não tem dúvidas sobre o papel importante que a sociedade portuguesa teve no combate à pandemia nestes quase dois anos, ao mesmo, tempo, reconhece que os profissionais de saúde viveram este período num autêntico espírito de missão.

17 DESTAQUE

Criar condições para o Acesso Rápido à Consulta de Oftalmologia, de forma a se poder diminuir o tempo de espera dos doentes ao primeiro contacto com o médico e, ao mesmo tempo, reduzir o número de idas ao hospital, foi o motivo que esteve na génese da Consulta Virtual de Glaucoma, implementada no CHULN.

REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR DIRETORA ANA ESCOVAL COORDENADORA MARINA CALDAS REDAÇÃO MARINA CALDAS, ANTÓNIO SANTOS, ANA TITO LÍVIO EDITORA DE ARTE E PAGINAÇÃO JOANA CÂMARA PESTANA (MYLOGO) FOTOGRAFIA DANIEL PEGO REVISÃO ANA ESCOVAL, ANA TITO LÍVIO, ANTÓNIO SANTOS, MARISA CRISTINO, SARA ROZMAN, RITA SANTOS IMPRESSÃO UE TIRAGEM 4.000 EXEMPLARES DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PERIODICIDADE TRIMESTRAL

20 POLÍTICA

PROJETO

24 INOVAÇÃO

PROPRIEDADE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR (APDH) Gabinete HOPE&IHF Portugal

30 APDH

Alameda das Linhas de Torres, 117 1769-001 lisboa Tel. 963 668 745 / 910 069 346 Email: geral@apdh.pt HOPE: hopemail@hope.min-saude.pt IHF: ihf@ihf.min-saude.pt website: www.apdh.pt

Helder Mota Filipe dá a conhecer num artigo de opinião os progressos que têm acontecido nas vacinas para a Covid-19, bem como nos medicamentos. Partindo do princípio que vacinas e medicamentos são as armas principais no combate à pandemia, o ex-presidente do INFARMED analisa cada um deles.

Muito se tem falado, nos últimos tempos, de testes e de meios de diagnóstico in vitro. Carlos Catalão, diretor de Acesso e Inovação para a Divisão de Diagnóstico in vitro da Roche, em Portugal, refere a importância destas ferramentas para a saúde de todos.

A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH) participou no 44º Congresso Mundial dos Hospitais, que decorreu em Barcelona, entre 8 e 11 de novembro. Nesta edição, damos conta de todo o trabalho desenvolvido pela delegação nacional, chefiada pelo presidente da APDH, Carlos Pereira Alves.

Rua Gomes Freire no9 A r/c 1150-175 Lisboa Tel: 213 530 719 geral@fdc.com.pt


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EDITORIAL

COVID-19: Inverno (quase)Endémico Epígrafe Vai fechar-se a roda. Repetiu-se o milagre: o cereal repousa na tulha, disponível para as mutações com que pelo ano fora afrontará a fome. Está no fim a malhada Que coroa (de espinhos) O ciclo de trabalhos, desânimos e pragas. Falta apenas o passo derradeiro E quase ritual: varrer a eira. (...) A. M. Pires Cabral (2019) Frentes de fogo: Tinta da China, p. 7

A caminho dos festejos natalícios e de ano novo, a Europa experimenta um momento do curso da COVID-19 a crescer em número de pessoas infetadas, com 67/100 no mundo, com perto de um milhão de casos a cada dois dias, onde Portugal surge a aproximadamente 26% e 8% de cada pico de número de casos e de óbitos, respetivamente, em registados em 28 de janeiro (Reuters, December 5, 2021–https://graphics.reuters.com/world-coronavirus-trackerand-maps/pt/countries-and-territories/portugal/). O controlo do surto neste momento em Portugal, face à situação mundial, coloca o país na 38ª posição com 1.157.352 casos confirmados acumulados (41ª posição com 113.976 casos por milhão de habitantes), na 40ª posição com 18.492 óbitos associados à doença (40ª posição com 1.821 óbitos por milhão de habitantes), na 36ª posição com 2.095.956 testes realizados por milhão de habitantes e na 58ª posição com 129 doentes internados em cuidados intensivos (Worldometer Coronavirus, December 5, 2021–https://www.worldometers.info/ coronavirus). Estando a monitorização da linhas vermelhas para à COVID-19, pelo relatório de 3 de dezembro, a notar uma tendência fortemente crescente da atividade do surto a nível nacional, e a indicar o reforço da vigilância epidemiológica e das medidas de controlo da doença, a montante dos hospitais, são por esta ação salvaguardadas as capacidades existentes de camas, especialmente as definidas pela comissão de acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para esta doença, atualizada recentemente para 255 camas. Mesmo sendo referido naquele relatório que a pressão sobre os serviços de saúde e a mortalidade são por ora moderados, a verdade é que a chegada insidiosa à Europa da variante Ómicron, vinda da África Austral, impôs um acréscimo de medidas restritivas adoptadas por todos os estados membros, ainda que sob modos variados, tendo


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em conta as diferenças entre os mesmos no nível de proteção imunitária e na mobilidade internacional e regional, antes, durante e depois dos períodos festivos, visando atempadamente o achatamento da curva de infeção no fim do outono e durante todo o inverno. Pois é nas regiões frias e temperadas que os vírus respiratórios, agora com o SARS-CoV-2 ainda à frente, dispõem de condições propícias ao desenvolvimento de surtos endémicos que, durante algumas semanas, aumentam de forma inusitada a frequência de urgências hospitalares e de outras unidades dedicadas às infeções respiratórias, e que pode tornar-se mesmo em surtos epidémicos, entre a segunda e terceira semana de janeiro, com a possibilidade de utilização de mais capacidade dos serviços de saúde, não raro até de rotura e com sacrifício também da restante atividade hospitalar, apesar dos planos de contingência atempadamente elaborados para lhes fazer face. Mas os sistemas nacionais de saúde do continente europeu, como os de outros, estão a braços desde o abrandamento da pandemia da COVID-19 e da sua severidade, para recuperarem a atividade assistencial sacrificada em favor da prioridade no tratamento e recuperação com demoras médias longas, no decurso dos três ou quatro picos que tiveram. O SNS em Portugal acomodou, desde março de 2020, a resposta à COVID-19 enfrentando com o estado da arte da sociotecnia profissional, construída principalmente nos últimos quarenta anos, todos os momentos, mesmo os de maior exigência, no virar do ano, entre dezembro e fevereiro, passando logo a dedicar-se às outras áreas assistenciais a ponto de algumas produções se terem já aproximado das obtidas em 2019. A Ministra da Saúde, na entrevista aqui dada, reconhece a capacidade que os serviços e os profissionais de saúde tiveram de gerar as adaptações necessárias à sensível resposta que pelos mesmos foi assumida, no atividade clínica residente e suplementar consignada aos utentes, famílias e comunidades, na inovação de novas formas de atendimento clínico em comunicação constante com os doentes e seus referentes, no controlo continuado de surtos, na vigilância clínica e testagem, na organização articulada e administração de vacinas com a excelência de resultados, agora úteis e reconhecidos pelos cidadãos e cientistas. Mas referiu, em jeito de coroação dos trabalhos a continuar, os passos que a experiência vivida demonstrou como tendo de ser dados mais à frente, como o incremento do serviço de saúde digital, no agendamento, na logística e na literacia clinica; na rede primária, em resposta integrada, por alargamento da ação dos ACeS, com espaços requalificados e equipamentos e mais atividade domiciliar e comunitária; na rede hospitalar, promover a coordenação funcional, o processo da referenciação e a gestão das urgências metropolitanas; e na saúde mental, qualificar o acesso aos cuidados e as respostas de proximidade. A DIREÇÃO


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ATUALIDADE

CATARINA RESENDE DE OLIVEIRA, Presidente da AICIB:

“O PAÍS PERMANECE AQUÉM DAS SUAS POTENCIALIDADES DE DINAMIZAÇÃO E DE COMPETITIVIDADE EM INVESTIGAÇÃO CLÍNICA” Catarina Isabel Neno Resende de Oliveira é natural de Coimbra, licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1970, e obteve o grau de doutor na especialidade de Neurologia, em 1984, na mesma Universidade. Entre os vários cargos de direção que exerceu, participou e presidiu a várias comissões na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tendo estado envolvida nas reformas curriculares desta Escola Médica e participado nos projetos pedagógicos desenvolvidos em colaboração com as Universidades dos Açores e Cabo Verde. Sendo atualmente presidente da Agência para a Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), foi o motivo principal para ouvir o que tem a dizer sobre a realidade do país ao nivel da investigaçao clínica e biomédica, assim como para ficarmos a conhecer os projetos em que a AICIB está envolvida, juntamente com outras organizaçoes e com as associaçoes de doentes.

A AICIB, enquanto agência de investigação, pretende promover, coordenar e apoiar atividades em áreas de investigação clínica e biomédica. Que passos estão a ser dados nesse sentido? A AICIB foi criada em 2018 por resolução do Conselho de Ministros e após o trabalho realizado pela sua comissão instaladora criada por designação conjunta dos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. A AICIB tem como missão promover, coordenar e apoiar as atividades nas áreas da investigação clínica e de translação e inovação biomédica, contribuindo para a otimização do potencial clínico, científico e tecnológico de Portugal. Nesta fase inicial as ações da AICIB incidem em quatro eixos de intervenção e quatro linhas de ações transversais à sua atividade, nomeadamente:

Eixo1 - Tem como objetivo estimular a investigação clínica e a inovação biomédica de natureza translacional. No ambito das ações a decorrer neste eixo, destacamos o desenvolvimento de projetos piloto com dois centros de investigação clínica em unidades de saúde e o lançamento do Premio AICIB 2021, visando promover a capacitação dos Centros de Investigação Clínica (CIC) nas unidades de saúde do sistema de saúde nacional; Eixo2 - Dedicado a apoiar o desenvolvimento dos Centros Académicos Clínicos (CAC) e à criação e implementação de um processo de avaliação externa dos CACs; Eixo3 - Focado em dinamizar a realização de estudos clínicos a nível nacional. Colaborámos no desenvolvimento do barómetro da investigação em


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saúde, em parceria com a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) e na criação de um portal para os ensaios clínicos - “Portugal Clinical Trials” - em colaboração com a APIFARMA e a IQVIA Fomos designados pelo Ministério da Saúde para assegurar a implementação, acompanhamento e monitorização, esta ultima em parceria com a PtCrin, de dois ensaios clínicos em Portugal para terapias da COVID-19 (um promovido pela OMS e outro pelo Inserm); Eixo4 - Visa apoiar a transformação digital/Big-data na Saúde. Neste domínio, participamos na co-ordenação com o INSA de um grupo de trabalho para a implementção de uma Estratégia Nacional para a Medicina Genómica (PT_MedGen). A AICIB pretende assim promover uma cultura científica e a criação de valor económico na área da saúde, garantido a sua sustentabilidade, e a adoção das melhores práticas estabelecidas a nível nacional e internacional. Qual a dimensão da investigação clínica e biomédica em Portugal, neste momento? Vários estudos realizados pelo INFARMED, pela APIFARMA e pelo Health Cluster Portugal (HCP) têm demonstrado que apesar de uma evolução positiva da investigação em saúde em Portugal, particularmente na ultima decada, o País permanece aquém das suas potencialidades de dinamização e de competitividade em investigação clínica, face a outros países europeus de dimensão populacional semelhante.

Podemos dar a título de exemplo do impacto económico da investigação clínica na área dos ensaios clínicos, os dados do estudo da APIFARMA realizado com a Pwc e publicado em 2019, que mostram que cada euro investido na área dos ensaios clínicos gera um impacto na economia portuguesa de 1,99 euros. No entanto, quando se olha para a performance do país comparativamente com países congéneres em termos de dimensão populacional e se avalia a razão entre numero de ensaios clínicos/população, obtemos uma razão de 13,3 para o país, enquanto na Suécia essa razão sobe para 30,6. Quando se procura analizar o modo de reverter esta situação, é inquestionável que, a capacitação dos centros de investigação clínica, os CICs , nas unidades de saude, a consignação de tempo dedicado à investigação clínica aos prifissionais de saúde nela envolvidos, a promoção da literacia em saúde da comunidade, a sensibilização das associações de doentes para a importância da investigação clínica e da participação em estudos clínicos, são algumas das ações cruciais em que a AICIB tem um papel importante, que estão incluidas no seu plano de atividades e algumas das quais estão já em curso. A AICIB tem como finalidade realizar atividades de interesse nacional no financiamento e promoção da investigação clínica e translacional e inovação biomédica através do apoio ao seu desenvolvimento e internacionalização. É necessário promover o trabalho em rede, a cooperação entre os diferentes grupos de investigação, unir esforços entre os diferentes parceiros, tais como a ANI, a AICEP, com o objetivo de criar as condições para que Portugal seja referenciado como


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ATUALIDADE

um país atrativo para a realização de investigação clínica e translacional e para a inovação biomédica a nível europeu, aumentando o valor criado para os doentes, para o sistema de saúde, para a academia e para a sociedade. A AICIB, pretende ser um agente ativo para a concretização destes objetivos. Salientamos que fazem parte da AICIB e desenvolvem aqui a sua atividade os pontos de contacto nacional (National Contact PointsNCPs) para os programas europeus, nomeadamente, para o Horizonte Europa, com foco na área da saúde.

Têm parceiros já definidos? A APDH é um dos vossos parceiros. Que objetivos estão já delineados com esta associação e em que áreas?

Que atividades têm em andamento para estimular os padrões de qualidade da investigação clínica e biomédica no país?

Com a APDH gostaríamos de desenvolver as áreas elencadas abaixo :

Entre as várias atividades realçamos o lançamento do prémio de incentivo à Capacitação dos Centros Investigação Clínica (CIC), o Prémio AICIB 2021, que contemplará até 15 projetos a nível nacional, bem como o projeto piloto a ser desenvolvido com 2 CICs para que estes centros se desenvolvam utilizando indicadores especificos de desempenho, de acordo com as normas de Boas Práticas Clínicas internacionais para a investigação clínca (ICH-GCP Guidelines). Hoje em dia, é necessário que existam centros de investigação clínica profissionalizados e de qualidade nos Hospitais, devendo abranger num futuro próximo os cuidados primários de saúde onde existem grandes potencialidades para o desenvolvimento de investigação clínica em ambiente de vida real. Um dos vossos objetivos passa, também, por estabelecer parcerias institucionais. O que pensa que a AICIB pode trazer de inovador nesse domínio? A grande inovação neste domínio e a cargo da AICIB será promover a articulação entre os ministérios da saúde e da ciência e tecnologia a vários níveis, de modo a tornar possivel a capacitação dos CICs, a estruturação de dados de saúde para investigação e prestação de cuidados, o lançamento de programas de investigação translacional e clínica, entre outras. Para o sucesso destas iniciativas é necessário que seja concedido tempo dedicado para a investigação clínica aos profissionais de saúde, sem prejuizo da atividade assistencial, como aliás é feito noutros países europeus. Com esta medida implementada, com a criação de uma cultura de investigação nas unidades de saúde, todas as restantes serão consequentes.

Trabalhamos em parceria com a FCT, ANI, DGS, APAH, PtCrin, EATRIS PT, INSA, entre outros. No fundo, parcerias com as instituiçoes já no terreno e a quem agora a AICIB se junta no sentido de alavancar e facilitar as atividades na área da investigação de translação e clínica e na inovação biomédica.

• Promover a cooperação entre as instituições hospitalares portuguesas e entre estas e as suas congéneres estrangeiras nomeadamente na área da investigação clínica. • Sendo a APDH a representante de Portugal na Federação Internacional dos Hospitais (IHF) e na Federação Europeia dos Hospitais (HOPE), ajudar a tornar Portugal mais atrativo na área da investigação clínica, mais especificamente na área dos ensaios clínicos nas suas diferentes fases . • Promover formação nas áreas da literacia e comunicação em saúde, focada nos ensaios clínicos académicos e/ou promovidos pela industria, trabalhando com as associações de doentes. • Promover a articulação entre os meios de comunicação das duas entidades, centrada nas atividades a que se pretenda dar visibilidade nesta área. As pessoas com doença e as respetivas associações são um dos vossos maiores focos. De que forma pretendem envolver as pessoas com patologias cronicas na dinamização da investigação clínica em Portugal? O desenvolvimento do trabalho junto das associações de doentes, com o objetivo de promover um aumento do conhecimento relativo à investigação clínica, é tambem um dos trabalhos que estamos a iniciar. Exemplo disso é o portal, Portugalclinicaltrials.pt, já em construção e que assenta em quatro pilares : • Associações de doentes / doentes • Investigadores / médicos / profissionais de saúde • Promotores • Centros de investigação clínica


9 Já realizámos um inquérito junto das associações de doentes para identificação das áreas que necessitam de um maior acompanhamento, de modo a priorizarmos as mesmas e avançarmos também nesta cooperação tao importante e crucial para o sucesso da investigação clínica : a cooperação com os doentes Neste período que estamos a viver (pós-pandemia) quais os desafios que se colocam aos investigadores em Portugal? E de que forma a AICIB pode ser a alavanca para a inovação? O início de atividade da AICIB ficou, inevitavelmente, marcado pela necessidade de responder de forma eficaz e urgente às inúmeras solicitações decorrentes de uma mobilização ágil e imediata da comunidade nacional, Europeia e global no contexto da pandemia, tendo em conta o surto do novo coronavírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19. Assim a AICIB e a FCT colaboraram no lançamento de um concurso para apoio especial a projetos e iniciativas de investigação e desenvolvimento que respondessem às necessidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na resposta a esta e a futuras pandemias num horizonte temporal muito curto, e que se traduziu pelo lançamento do concurso a projectos de investigação nesta área, o - “Research4 COVID-19”. No global, foram financiados 121 projetos de investigação, com um investimento de 3,815M. Foi ainda lançado o concurso a bolsas de doutoramento “DOCTORATES 4 COVID”, a criação do Portal “SCIENCE4COVID”, e acompanhámos a ação a nível da resposta científica coordenada pela União Europeia. Em concreto, e a pedido do Ministério da Saúde e do INFARMED, I.P., em abril de 2020 AICIB participou na implementação em Portugal de dois ensaios clínicos para investigação de tratamentos da doença COVID-19. Estes ensaios clínicos são os ensaios Solidarity e Discovery, promovidos, respetivamente, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (INSERM), tendo a AICIB sido constituída como copromotor e entidade coordenadora nacional para a realização do ensaio Solidarity e entidade facilitadora junto dos investigadores coordenadores do ensaio clínico Discovery em Portugal. O ensaio Solidarity recrutou mais de 12 000 participantes em 500 hospitais em mais de 30 países, tendo até à data incluído 10 participantes em Portugal.

O ensaio Discovery recrutou até ao momento 1305 participantes em 5 países europeus dos quais 36 participantes foram incluídos em Portugal. Pensando agora no pós pandemia e sendo a AICIB responsável pela representação nacional nas estruturas de governação da área da Saúde do programa Europeu de Investigação e Inovação – Horizonte Europa, estamos a desenvolver várias ações com o objetivo de levar a um maior envolvimento dos investigadores nacionais em redes europeias. Nos próximos 7 anos (2021-2027) serão alocados de forma competitiva 8.3 mil milhões de euros para projetos colaborativos em Saúde, abarcando áreas tão importantes como a Saúde ao Longo da Vida, os Determinantes da Saúde, as Doenças Crónicas e Infeciosas, a Transformação Digital dos Cuidados de Saúde e, inevitavelmente, a Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias. Esta será uma oportunidade para as instituições portuguesas integrarem novas redes de colaboração a nível europeu e global e de alavancarem a investigação de excelência que é realizada no país. A AICIB tem como uma das suas prioridades o apoio à comunidade científica no que respeita a todos os aspetos da participação nos concursos da Saúde do Horizonte Europa, estando disponível para trabalhar com hospitais, academia, empresas e associações de doentes, entre outros.


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GRANDE ENTREVISTA

MARTA TEMIDO, Ministra da Saúde:

“Os Cuidados de Saúde que ambicionamos têm de ser entendidos numa lógica de resposta integrada.” ENTREVISTA: Marina Caldas FOTOGRAFIA: João Bica | Portal do Governo (2021)

A Ministra da Saúde, Marta Temido é a entrevistada desta edição da revista O Hospital. Direta e aberta, a responsável governamental não tem dúvidas que “a sociedade portuguesa esteve à altura do desafio que se enfrentou” com a Covid-19 e não deixa de salientar como partes positivas “o espírito de missão com que todos os profissionais de saúde, forças de segurança e tantos outros enfrentaram esta pandemia”. Mas a responsável governamental, que é também administradora hospitalar, não deixa de referir, entre as várias coisas menos boas que aconteceram, “o som constante das ambulâncias a ecoar nas ruas desertas de Lisboa e a iminência de rutura da rede de oxigénio de diversos hospitais”. Nesta conversa com O Hospital, Marta Temido analisa ainda o futuro no setor da saúde e fala das medidas que gostava de implementar ao longo da sua continuidade à frente da pasta da Saúde, deixando perceber que as verbas que podem ser alocadas à Saúde, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), podem ajudar muito em vários domínios, como por exemplo na Saúde Mental. Está tudo aqui nesta entrevista que é obrigatório ler!


“JAMAIS ESQUECEREMOS O ESPÍRITO DE MISSÃO COM QUE TODOS OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE, FORÇAS DE SEGURANÇA E TANTOS OUTROS ENFRENTARAM ESTA PANDEMIA”.

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GRANDE ENTREVISTA

Certamente que quando tomou posse como Ministra da Saúde não esperava que uma pandemia fosse marcar profundamente todo o seu trabalho. Como viveu todo o processo e o que relembra como as partes boas que nunca esquecerá? Com a chegada dos relatos da China, em dezembro, do surgimento de uma doença respiratória causada por um novo coronavírus, começaram os primeiros receios sobre uma eventual pandemia. Semanas depois, quando as autoridades chinesas perceberam que cada doente poderia infetar até quatro pessoas, tomámos consciência do risco que todos corríamos. No entanto, nesta fase, a perceção das verdadeiras proporções sanitárias, económicas e sociais ainda era distante. Talvez subsistisse a esperança de que os primeiros focos pudessem ser contidos. Parte da resposta inicial foi bastante imediata e célere. E esta é, evidentemente, uma parte muito positiva que merece registo. Neste sentido, jamais esqueceremos o espírito de missão com que todos os profissionais de saúde, forças de segurança e tantos outros enfrentaram esta pandemia. Evidentemente, há ainda a salientar, como ponto positivo, a capacidade de adaptação da sociedade portuguesa, a forma como a larga maioria dos cidadãos acolheu as orientações sanitárias que foram sendo decretadas, onde se inclui a adesão à vacinação, que permitiram iniciar a inversão desta pandemia. A sociedade portuguesa esteve à altura do desafio. E as más? Recordarei sempre alguns momentos desta pandemia. De qualquer forma, existem instantes, pela sua carga emocional, marcantes: o primeiro contágio confirmado em Portugal, a primeira morte, a decisão de encerrar as escolas ou a declaração do estado de emergência. Já tive oportunidade de o dizer, nunca pensei viver tal dia. Para além disso, nos piores dias da vaga de janeiro de 2021, o som constante das ambulâncias a ecoar nas

ruas desertas de Lisboa e a iminência de rutura da rede de oxigénio de diversos hospitais. Se não fosse a articulação que houve com os setores social e privado nunca teríamos conseguido responder. Sendo Administradora Hospitalar e sabendo-se que os hospitais estiveram diariamente nas notícias como olha hoje para eles e o que pensa que devemos consolidar e modificar no futuro? O conhecimento que detemos hoje da pandemia e o facto de termos atingido a marca de 85% da população totalmente vacinada, permite-nos retomar o nosso foco na modernização e qualificação do Serviço Nacional de Saúde. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) será um estímulo adicional para concluir a reforma do modelo de governação dos hospitais públicos e permitirá reconfigurar a rede hospitalar, promovendo a sua coordenação e controlo, enquanto operacionalizamos a reforma da gestão interna dos hospitais. Serão avaliadas eventuais alterações ao modelo de organização de urgências metropolitanas, assim como a revisão das redes de referenciação para as várias especialidades hospitalares, tudo para garantir as melhores respostas às necessidades assistenciais dos cidadãos. Naturalmente que os portugueses esperam receber, independentemente do local onde vivem, acesso a cuidados de saúde, com qualidade, em tempo e de forma tendencialmente gratuita. Depois, os Cuidados de Saúde que ambicionamos têm de ser entendidos numa lógica de resposta integrada. E parte da solução para os desafios registados, ao nível da resposta Hospitalar, passa também pela qualificação da resposta e pelo aumento da atividade dos Cuidados de Saúde Primários. Esta é também uma área à qual o PRR dedica especial atenção, tendo em vista melhorar o acesso, a qualidade e a eficiência dos cuidados prestados, o alargamento das áreas de intervenção dos ACES, a qualificação das instalações e dos equipamentos dos centros de saúde e o estímulo das respostas de proximidade, com enfoque no domicílio e na comunidade.

“O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) será um estímulo adicional para concluir a reforma do modelo de governação dos hospitais públicos e permitirá reconfigurar a rede hospitalar”.


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“SE NÃO FOSSE A ARTICULAÇÃO QUE HOUVE COM OS SETORES SOCIAL E PRIVADO NUNCA TERÍAMOS CONSEGUIDO RESPONDER”.

O processo de vacinação correu bem. Poucos são os que se atrevem a dizer o contrário. Pensa que em situações de crise é necessário um existir uma “mão militar” para resolver a situação? Assim que recebemos as primeiras vacinas, iniciámos de imediato a campanha de vacinação COVID-19. Isto foi logo no dia 27 de dezembro, não perdemos tempo.

Sem dúvida que o trabalho de equipa, de verdadeira colaboração, entre autoridades, onde incluo a Task Force, e a população, que aderiu massivamente a esta campanha, foi um importante contributo para alcançar as metas definidas para o sucesso da vacinação. A este facto é necessário acrescentar outros fatores decisivos. Portugal tem tradição de uma forte adesão


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"O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE ASSUMIU O PAPEL CENTRAL NA RESPOSTA A ESTA PANDEMIA E ISSO OBRIGOU A UMA ENORME CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO. SABÍAMOS QUE A ATIVIDADE ASSISTENCIAL SERIA AFETADA” .

à vacinação, em resultado de um programa nacional de vacinação reconhecido há mais de 55 anos, e um valioso lastro de confiança na ciência, nas vacinas e seus benefícios, da qual não podemos dissociar o profissionalismo das autoridades e serviços que dão corpo ao Serviço Nacional de Saúde. Existe no país, há mais de quatro décadas, um suporte que é a fundação deste sucesso: um Serviço Nacional de Saúde com excelentes profissionais. Foi também implementada uma estratégia eficaz, com recurso a estruturas de grande capacidade – os Centros de Vacinação COVID – onde foi essencial a disponibilidade de enfermeiros e médicos de família, para ajudar ao sucesso de uma grande operação logística, que contou ainda com a colaboração do Exército e dos Municípios. Por fim, desenvolvemos novas plataformas e soluções tecnológicas para responder a este desafio. Por exemplo, o SUCH - Serviço de Utilização Comum dos Hospitais, criou um dispositivo tecnológico que permitiu rastrear as entregas de vacinas em tempo

real, o que simplificou todo o processo. Fortalecemos os sistemas de informação para fazer face ao enorme aumento de registos necessário à campanha de vacinação e desenvolvemos novas formas de ligação com os cidadãos, como o Portal de Agendamento Online para vacinação contra a COVID-19, que permitiu a mais de 3,6 milhões de cidadãos realizarem o seu auto-agendamento. Há quem diga que os profissionais de saúde não foram, ainda, devidamente agraciados, pelo que fizeram e pela postura que tiveram durante os períodos piores da pandemia. Acha que faz sentido homenageá-los? Existe hoje um enorme sentimento de gratidão, transversal a toda a sociedade, para com os profissionais de saúde e todos aqueles que estiveram na primeira linha do combate a esta pandemia e nesse sentido faz todo o sentido homenageá-los e agradecer-lhes. E nunca o faremos vezes suficientes, nem isso será suficiente face ao esforço que realizaram.


15 Estamos a entrar numa nova fase em que é necessário encarar com um novo dinamismo tudo o que ficou por fazer, na saúde, durante a pandemia. Qual o cenário que temos pela frente? Como o devemos enfrentar? O acompanhamento da atividade assistencial não-Covid-19 e a sua coexistência com a resposta às necessidades assistenciais decorrentes da pandemia foi uma das preocupações essenciais do Ministério da Saúde ao longo do último ano e meio. É por isso que, pese embora a dimensão do desafio, os dados mais recentes demonstram o percurso de recuperação da atividade do Serviço Nacional de Saúde, que já está alinhada com a realizada em igual período de 2019, ano em que se verificou o volume assistencial mais elevado no SNS. Nos Cuidados de Saúde Hospitalares, os dados provisórios acumulados a agosto de 2021, revelam que foram feitas mais de 8 milhões de consultas, mais 25 mil que em igual período de 2019. Foram realizadas mais de 460 mil intervenções cirúrgicas nos primeiros oito meses do ano, um acréscimo de mais 5 mil em relação a 2019. Tem medo que pelo facto de termos ficado centrados na pandemia, o que ficou por fazer possa ser muito pior do que o que conhecemos? Sejamos claros: seria irrealista assumir que a área da Saúde poderia viver numa realidade extrínseca ao fenómeno pandémico. Pelo contrário, o Serviço Nacional de Saúde assumiu o papel central na resposta a esta pandemia e isso obrigou a uma enorme capacidade de adaptação. Sabíamos que a atividade assistencial seria afetada. Por isso, numa fase inicial tomámos decisões racionais face ao que conhecíamos a depois decidimos retomar a atividade assistencial de forma firme e segura. Soubemos preservar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde e, no momento certo, adotámos mecanismos de incentivo à recuperação da atividade assistencial e aprofundámos o trabalho em rede. Neste momento, registamos uma tendência de recuperação da atividade assistencial e dos cuidados

de saúde que prestamos aos portugueses, condição essencial para retomarmos, dentro do possível, algum do nosso quotidiano. Muitas pessoas têm alertado para o facto de se ter em atenção a saúde mental porque ela está a influenciar o estado geral dos portugueses. Tem noção de que, a esse nível, não estamos bem? Como dar a volta a esta situação? A Saúde Mental nunca deixou de ser uma prioridade da nossa ação. Naturalmente, a pandemia reforçou a atenção que atribuímos a esta área, não só na vertente de Saúde Pública, mas também colocando nesta equação as profissões do setor da saúde, muito exigentes, e que devem ser enquadradas à luz desta resposta. Está em curso um programa de qualificação da forma como se acede aos cuidados de saúde mental e estamos a reforçar as respostas de proximidade. Garantir respostas de proximidade permite não só aprofundar a intervenção comunitária, mas sobretudo intervir cada vez mais precocemente. Neste contexto, o PRR será um importante instrumento para concluir a Reforma de Saúde Mental e da Implementação da Estratégia para as Demências, através da intervenção em eixos como a criação de respostas residenciais na comunidade, a conclusão da cobertura nacional de Serviços Locais de Saúde Mental, o alargamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados na área da Saúde Mental, o robustecimento da área da psiquiatria forense, qualificando internamentos e construindo novas unidades, e criando Planos Regionais de Saúde para as Demências. A Saúde Mental é um investimento largamente compensado pelos ganhos em saúde e pela diminuição dos custos diretos e indiretos associados. O Serviço Nacional de Saúde tem a competência e a capacidade para liderar na articulação com as respostas já existentes, com uma nova abordagem mais humana e completa. É esta a nossa aposta.

“Está em curso um programa de qualificação da forma como se acede aos cuidados de saúde mental e estamos a reforçar as respostas de proximidade. Garantir respostas de proximidade permite não só aprofundar a intervenção comunitária, mas sobretudo intervir cada vez mais precocemente”.


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GRANDE ENTREVISTA

O que pretende fazer, ainda, durante o seu mandato pela saúde dos portugueses? Não tenhamos ilusões: a saúde é um projeto em permanente construção e que requer foco e antecipação constantes. Quando não estamos a resolver um problema imediato, estamos a antecipar e a planear o futuro. O desafio da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, o aumento da longevidade da população e a crescente necessidade de cuidados de saúde, as legítimas expetativas dos cidadãos, continuarão a requerer toda a nossa atenção.

e, claro, promovendo uma política de avaliação dos resultados. É imperativo continuar o caminho de tornar o Serviço Nacional de Saúde mais justo e inclusivo, com respostas de proximidade, mais ajustadas às necessidades da população. Isto implica, entre outras medidas de ação, aprovar o Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, materializando os princípios e orientações da Lei de Bases, conferir prioridade à afetação de mais recursos para o SNS e continuar uma política focada nas pessoas e em três vértices: qualificação do acesso, motivação dos profissionais de saúde e investimento no Serviço Nacional de Saúde.

Vamos prosseguir o Programa do Governo, garantindo a correta aplicação, de forma sustentável, de recursos,

"O desafio da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, o aumento da longevidade da população e a crescente necessidade de cuidados de saúde, as legítimas expetativas dos cidadãos, continuarão a requerer toda a nossa atenção”


DESTAQUE

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Na foto, os autores do artigo: DIOGO BERNARDO MATOS Médico do Serviço de Oftalmologia do CHULN LUÍS ABEGÃO PINTO Coordenador do Departamento de Glaucoma do CHULN ANA PAULA MENDES Coordenadora Técnicos de Diagnóstico do Serviço de Oftalmologia do CHULN WALTER RODRIGUES Diretor do Serviço de Oftalmologia do CHULN

ACESSO RÁPIDO À CONSULTA DE OFTALMOLOGIA

CONSULTA VIRTUAL DE GLAUCOMA A iniciativa de Acesso Rápido à Consulta de Oftalmologia implementada no Centro Hospitalar Universitario Lisboa Norte (CHULN), teve por objetivo diminuir o tempo de espera dos doentes até ao primeiro contacto médico, pretendendo também reduzir o número de idas ao hospital para exames ou consultas até à primeira decisão informada. Desta forma, conseguiu-se aumentar a eficiência dos cuidados oftalmológicos prestados aos doentes. A consulta virtual foi disponibilizada de forma universal, a todos os doentes que foram referenciados à sub-especialidade de Glaucoma, garantindo a realização dos vários exames complementares de diagnóstico na mesma vinda ao hospital (“one-stop-shop” model).

Deste modo, garantiu-se um menor número de contactos hospitalares, bem como um menor tempo total de permanência nas instalações hospitalares para cada doente, um desígnio que se reveste de particular importância ao ser aplicado no contexto pandémico. Os resultados destes exames complementares foram subsequentemente avaliados em contexto não-presencial por um médico especialista, que produziu um relatório para cada um dos doentes onde constava o estadiamento da doença, a terapêutica e o agendamento da próxima consulta em função das necessidades individuais de cada doente, de acordo com o cumprimento das guidelines da National Institute for Health and Care Excellence (NICE), garantindo deste modo a manutenção dos mais elevados padrões de qualidade.


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ATUALIDADE

O modelo da consulta virtual universal garante ao doente uma visita única para a realização do mesmo número de exames, diminui o tempo de espera desde a referenciação até ao primeiro contacto médico e garante que a primeira decisão médica é baseada em exames atualizados, não só diminuindo o erro inerente ao processo de decisão quer por outro lado evitando assim a repetição dos mesmos pela caducidade dos respetivos resultados. A escolha da sub-especialidade de Glaucoma para iniciar este modelo decorreu de várias situações. É a principal causa de cegueira no mundo ocidental, sendo que mais de 200.000 portugueses estão a ser seguidos por esta patologia. Esta sobrecarga nos serviços de saúde hospitalar – os únicos apetrechados com os equipamentos e recursos humanos para este seguimento – é um entrave à garantia de qualidade dessa assistência. Por outro lado, os exames auxiliares de diagnostico disponíveis para esta patologia conseguem neste momento uma caracterização detalhada e estrutural dos fatores de risco para esta

doença, permitindo uma monitorização eficaz da mesma. Um tratamento eficaz desta doença é sem dúvida uma prioridade nos cuidados oftalmológicos na medida em que poderá detetar e tratar precocemente os doentes com patologia mais grave. Ao recorrer a plataformas digitais para executar todos os processos da consulta virtual, este modelo permitiu optimizar a disponibilidade e acessibilidade da informação clínica para o médico especialista no momento das tomadas de decisão, decidindo de forma mais célere e garantindo mais tempo à explicação das várias opções terapêuticas disponíveis para o doente. Adicionalmente, foi também um momento de extensa transição digital, uma vez que todos os dados recolhidos, prescrições médicas, relatórios e agendamentos de consulta foram realizados através do registo médico eletrónico do doente em vigor no Hospital Santa Maria – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.


19 RESULTADOS E MAIS-VALIAS EM SAÚDE Com a implementação desta iniciativa, foi possível alcançar os seguintes resultados: • Redução de aproximadamente 25% no tempo de espera entre a referenciação e o primeiro contacto médico; • Diminuição de mais de 180 dias o tempo entre a realização de exames e a sua interpretação e respetivas decisões médicas; • Diminuição de 83% do tempo entre a realização até à interpretação dos resultados dos exames; • Diminuição em 63.6% o número total de consultas de glaucoma para se atingirem os mesmos resultados de decisão clínica; • Não houve lugar a quaisquer gastos adicionais em termos de recursos técnicos ou humanos, apenas alteração da organização dos mesmos

Imagem 1 – Sistema pré implementação da consulta virtual

REFERENCIAÇÃO

Glaucoma

Glaucoma

Glaucoma

Exames

Exames

O eixo horizontal representa o tempo percorrido entre cada contacto médico do doente, representado pelo círculo azul.

Imagem 2 – Sistema após implementação da consulta virtual

REFERENCIAÇÃO

Exames + consulta virtual

Urgente

Moderados

Ligeiros

Glaucoma

Glaucoma

Glaucoma

Exames

Sem critérios O eixo horizontal representa o tempo percorrido entre cada contacto médico do doente, representado pelo círculo azul.


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POLITICA

HELDER MOTA FILIPE Professor associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; membro da comissão executiva da CEIC

Progressos nas vacinas e os medicamentos para a Covid-19 ARMAS FUNDAMENTAIS NO COMBATE À PANDEMIA. “A existência das vacinas levantou, e continua a levantar, um conjunto de questões relacionadas ao processo de vacinação: quais os grupos prioritários a vacinar, que vacinas serão as mais adequadas para cada grupo, as crianças devem ser vacinadas, a vacinação deve ser obrigatória. Estes são apenas alguns aspetos que vão sendo discutidos e onde se misturam argumentos científicos, clínicos e de oportunidade política”.


21 A 31 de dezembro de 2019 foi conhecido o surto de pneumonia provocado por uma nova espécie de coronavírus em Wuhan, na China. O vírus tomou o nome de SARS-CoV-2 e a doença passou a ser oficialmente denominada COVID-19, do inglês Corona Virus Disease 2019.

formalmente aprovados para outras indicações terapêuticas foram usados em off-label, isto é fora das indicações formalmente aprovadas pelas agências reguladoras, na tentativa de tratar os doentes mais graves com Covid-19, na maioria dos casos em unidades de cuidados intensivos.

Nessa altura era difícil antever a dimensão da pandemia provocada por esse vírus. Em novembro de 2021, conta-se já com mais de 250 milhões de pessoas infetadas e mais de 5 milhões de mortes em todo o mundo, com o número de infeções e mortes continuamente a aumentar diariamente, apesar da existência relativamente recente de vacinas e, mais recentemente ainda, de medicamentos. Embora na maioria dos casos a infeção seja assintomática ou com sintomas ligeiros (cerca de 85% dos casos), das pessoas que desenvolvem sintomas estima-se que cerca de 80% apresentem doença ligeira, 14% doença grave e 5% tenham que ser internados em unidades de cuidados intensivos, estes últimos com uma muito elevada taxa de mortalidade.

Evidência e negacionismo

O tratamento dos doentes, pelo seu número e pela gravidade que reveste parte dos casos, tornou-se um enorme desafio para os sistemas de saúde e para os seus profissionais. Desde o início da pandemia temse assistido a inúmeros casos, em diversas geografias, de falências mais ou menos transitórias, de acordo com as sucessivas vagas da infeção, da capacidade de prestar os cuidados de saúde adequados, com consequente aumento do número de mortes. Apesar do pouco tempo volvido (menos de dois anos), muitos progressos têm vindo a ser conseguidos na gestão da doença e dos doentes e no desenvolvimento de vacinas e outros medicamentos para prevenção e tratamento da COVID-19. Pelo caminho diversos desafios foram aparecendo e sendo, alguns deles, ultrapassados e nem sempre da maneira mais correta. No início, naturalmente, quase nada se sabia sobre a fisiopatologia desta nova doença pelo que os cuidados se limitaram ao tratamento sintomático e de suporte associados às alterações a nível respiratório e metabólicas. Desde cedo, houve também a utilização de medicamentos que, por alguma razão, pareciam ter potencial para tratar a infeção ou melhor gerir as alterações provocadas pela doença. Diversas equipas médicas em todo o mundo começaram a praticar o “reposicionamento terapêutico” ou, em inglês, “repurposing”. Ou seja, muitos medicamentos

Embora estas utilizações tenham dado origem a publicações em revistas com arbitragem, não foram desenvolvidas em ambiente controlado levantando questões relativamente à validade dos resultados reportados e à observância dos princípios éticos mais fundamentais para a proteção dos doentes sujeitos a essa experimentação. Sabemos que os medicamentos utilizados desta forma podem envolver riscos desconhecidos para os doentes, acrescendo ainda a falta de garantia de que lhes tenha sido administrado um formal e adequado consentimento esclarecido tendo em consideração as condições críticas em que estes doentes se encontravam, frequentemente sujeitos a suporte respiratório invasivo, sedados ou mesmo em coma. Os resultados obtidos nestas condições poderão estar, assim, afetados de um conjunto de fatores que põem em causa a sua validade científica e a sua utilidade clínica. No entanto, com alguma frequência, estes resultados serviram de base para a introdução de diversos desses medicamentos nos protocolos terapêuticos de outros centros clínicos. Foram também utilizados por políticos para promoverem o uso massificado de alguns desses medicamentos como aconteceu com a cloroquina, a hidroxicloroquina, a azitromicina ou, mais recentemente, a ivermectina ou a proxalutamida. A este movimento de geração de evidência de fraca qualidade e sem garantia de avaliação e aprovação ética adequada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reagiu recomendando, aos médicos e respetivas associações profissionais, a não utilização de medicamentos sem evidência suficiente em doentes COVID-19. De forma a contribuir para a produção de evidência adequada, a OMS promoveu um ensaio clínico internacional, randomizado, denominado Solidarity, com o objetivo de identificar tratamentos eficazes para a COVID-19. Este ensaio clínico, adaptativo, é já um dos maiores ensaios realizados, envolvendo mais de 12000 doentes e cerca de 500 hospitais em mais de 30 países. Os primeiros resultados do Solidarity foram


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POLITICA

demonstrando que fármacos que tinham sido descritos como apresentando resultados positivos nos estudos referidos anteriormente, não viram esses resultados confirmados. Foi o caso da hidroxicloroquina, por exemplo, que não provou ser eficaz na prevenção da mortalidade, na necessidade de suporte ventilatório ou na duração do internamento por COVID-19. A nível europeu foram também iniciados os ensaios clínicos Recovery e Discovery, com princípios e objetivos semelhantes aos do Solidarity. Atualmente, consultando a base de dados clinicaltrials. gov, estão registados quase 7000 estudos, em diferentes estádios de implementação e em diversas fases, com o objetivo de estudar abordagens terapêuticas para a COVID-19. Passado este tempo parece estar claro que abordagens, baseadas no princípio do uso compassivo, que consistiam em testar potenciais terapêuticas fora do contexto dos ensaios clínicos não é aceitável do ponto de vista ético e científico. Atualmente existem alternativas expeditas que permitem incluir essas terapêuticas potenciais num dos diversos ensaios clínicos adaptativos aprovados e ativos.

Novos alvos terapêuticos Toda a investigação que, entretanto, se foi desenvolvendo tem vindo a possibilitar saber mais sobre os mecanismos de desenvolvimento da doença e sobre a resposta do organismo humano à infeção, permitindo identificar novos alvos terapêuticos, nomeadamente os relacionados com a modulação da resposta inflamatória, como atestam os mais recentes ensaios clínicos registados no clinicaltrials.gov. As medidas não farmacológicas, fundamentais para diminuir o potencial de contágio, estão identificadas desde o início da pandemia: lavagem ou desinfeção das mãos, distanciamento social e uso adequado da máscara. No entanto, o passo mais importante foi dado com o desenvolvimento e aprovação das primeiras vacinas contra a COVID-19, seguras e com elevada eficácia. Na Europa, a primeira vacina foi aprovada a 21 de dezembro de 2020, menos de um ano após o conhecimento do primeiro surto de coronavírus. Este sucesso deveu-se à conjugação de um conjunto de fatores, entre os quais o estágio das plataformas tecnológicas de desenvolvimento de vacinas, incluindo uma nova tecnologia baseada no ARN mensageiro ou mRNA,

o esforço financeiro colocado por diversas entidades públicas e privadas, a estreita colaboração entre a indústria farmacêutica e a academia e elevada prevalência de infeção que permitiu rápidos resultados sobre a eficácia e segurança das vacinas. Atualmente estão aprovadas, pelo sistema europeu de medicamentos, 4 vacinas: Comirnaty (BioNTech/Pfizer), Spikevax (Moderna), Vaxzevria (AstraZeneca) e COVID-19 Vaccine (Janssen). Todas apresentam elevada eficácia e um bom perfil de segurança. Para além disso estão diversas outras a ser avaliadas pela Agência Europeia do medicamento. Mas, a existência das vacinas levantou, e continua a levantar, um conjunto de questões relacionadas ao processo de vacinação: quais os grupos prioritários a vacinar, que vacinas serão as mais adequadas para cada grupo, as crianças devem ser vacinadas, a vacinação deve ser obrigatória. Estes são apenas alguns aspetos que vão sendo discutidos e onde se misturam argumentos científicos, clínicos e de oportunidade política. A ponderação destes diversos aspetos em cada país europeu faz com que, para as mesmas vacinas aprovadas em toda a comunidade europeia, cada Estado-Membro tenha uma política específica de vacinação. Esta realidade pode ter como consequência a diminuição da confiança no sistema europeu, centralizado na Agência Europeia do Medicamento (EMA), por parte dos cidadãos europeus com consequências que extravasam a confiança nas vacinas contra a COVID-19 e que podem servir de argumentos às grupos anti-vacinação. Outra discussão relevante e correlacionada é a que se tem desenvolvido sobre a existência do certificado de vacinação europeu e as regras para a sua utilização em cada estado-membro da UE.

Medicamentos eficazes Apesar do favorável perfil de eficácia e segurança das vacinas aprovadas na Europa e da sua comprovada utilidade na diminuição de casos de doença grave e de morte, continua a ser importante dispor de medicamentos para tratar de forma eficaz os doentes que desenvolvem Covid-19. Ao contrário das vacinas, o desenvolvimento e aprovação de medicamentos com essa indicação não tem acontecido tão rapidamente. No entanto, nos últimos tempos têm sido efetuados progressos significativos. Em julho do ano passado foi aprovado o primeiro medicamento, o Veklury


23 (remdesivir) com indicação para o tratamento de adultos e adolescentes com pneumonia que necessitem de oxigénio suplementar ou ventilação não invasiva. Não sendo um medicamento com elevada eficácia, foi um contributo importante numa situação sem alternativas terapêuticas. Mais recentemente, em novembro deste ano, foi dada opinião positiva da EMA para a entrada no mercado de dois novos medicamentos, o Regkirona (regdanvimab) e o Ronapreve (casirivimab/imdevimab), indicados para doença ligeira a moderada em doentes com risco de desenvolver doença grave. Para além destes medicamentos há ainda mais alguns com elevado potencial terapêutico que estão em processo de avaliação na Agência Europeia do Medicamento. Relativamente a arsenal terapêutico (vacinas e medicamentos) para tratamento dos doentes covid-19, o panorama parece agora mais animador. A covid-19 é uma pandemia provocada por um vírus com elevada capacidade de sofrer mutações dando origem a novas variantes, geralmente mais infeciosas que as anteriores, que podem provocar infeções mais graves. Acresce o risco dessas novas variantes poderem vir a resistir à proteção das vacinas disponíveis. Tendo em consideração que, mesmo com medicamentos

que permitam tratar os doentes infetados, as vacinas continuarão a ser a chave fundamental para o combate à pandemia a nível global, esse combate será tanto mais eficaz quanto mais rapidamente for possível a vacinação global. Sendo ainda limitado o número de vacinas disponíveis, é importante assumir a prioridade de contribuir de forma efetiva para a vacinação dos países mais desprotegidos. Assim, decorridos quase dois anos da eclosão da COVID-19, parece ser de concluir que não é aceitável a experimentação de potenciais terapêuticas fora do contexto de ensaios clínicos e que deverá continuar a ser fomentada uma estratégia que promova e crie condições para investigação científica e clínica com vista à descoberta de tratamentos eficazes para a COVID-19. Por outro lado, resultado de uma estratégia concertada a nível internacional, foi possível criar condições para o desenvolvimento e aprovação de vacinas, eficazes e seguras. É agora importante uma discussão sobre a melhor utilização dessas vacinas tendo em consideração o interesse de cada um dos países, não perdendo o foco do combate global a uma pandemia provocado por um vírus com elevado potencial de originar novas variantes mais infeciosas e mais resistentes às vacinas disponíveis.


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INOVAÇÃO

CARLOS CATALÃO Diretor de Acesso e Inovação para a Divisão de Diagnóstico in vitro da Roche em Portugal

CARLOS CATALÃO SOBRE TESTES E DIAGNÓSTICOS IN VITRO:

“A importância destas ferramentas não se limitam à pandemia.” Os testes de diagnóstico influenciam em larga escala as decisões clínicas e, recentemente, com o aparecimento da pandemia por SARS-CoV-2 percebemos a sua importância e como é essencial ter acesso a um diagnóstico precoce, como forma de obter resultados positivos. Este foi um dos motivos que levou O Hospital a uma conversa sobre o tema com Carlos Catalão, licenciado em Ciências Farmacêuticas e pós-graduado em Medical Marketing e atual diretor de Acesso e Inovação para a divisão de diagnóstico in vitro da Roche, em Portugal. Nesta entrevista o responsável da Roche refere que “a testagem teve e continuará a ter um papel muito importante na situação de pandemia que ainda vivemos”, e que os últimos meses “representam um período muito rico em termos de avanços científicos e de inovação, mas também muito importante no que respeita à perceção sobre o valor do diagnóstico”. Apesar desta importância, refere ainda Carlos Catalão, “um estudo recente mostrou que há ainda uma perceção errada ou um desconhecimento sobre o modelo de negócio dos diagnósticos, nomeadamente no que concerne à forma como a inovação é avaliada, o acesso é discutido e a aquisição é realizada” e que, neste sentido “a contribuição extraordinária sobre a área de dispositivos médicos e onde se incluem as companhias de diagnósticos aprovada no Orçamento de Estado de 2020 é um exemplo deste desconhecimento e penaliza fortemente as empresas que investem em inovação”.


INOVAÇÃO Quando falamos em inovação em saúde pensamos e falamos muitas vezes em medicamentos e poucas vezes na importância dos testes de diagnóstico, apesar de se saber que eles influenciam 70% das decisões clínicas. De que forma se pode ter um conhecimento mais aprofundado desta vertente até para entender melhor os procedimentos? Os resultados dos testes de diagnóstico In-Vitro (DIV) são uma fonte crítica de informação objetiva para melhorar as decisões de saúde e desempenham um papel essencial ao longo de quase todo o continuum dos cuidados de saúde. No essencial, podemos afirmar que o potencial e o valor dos diagnósticos modernos reside no valor da informação e conhecimento que geram. Ou seja, o verdadeiro valor clínico do diagnóstico reside na sua capacidade de facilitar a tomada de melhores decisões de saúde - decisões clínicas, decisões laboratoriais e, em última análise, decisões em termos de Saúde Pública (da qual a estratégia de testagem para evitar cadeias de transmissão de SARS- CoV-2 é um dos mais recentes exemplos). De forma sucinta, as soluções de diagnóstico podem ajudar os profissionais de saúde a reduzir os internamentos, permitir estratégias de tratamento direcionadas e melhorar a gestão de doentes crónicos - está presente em cada etapa do percurso dos doentes desde o rastreio, passando pelo diagnóstico, até à gestão da doença. O diagnóstico precoce e preciso é essencial para ajudar a obter desfechos positivos para os doentes, para manter a saúde, para ajudar a prevenir a doença e permitir identificar os doentes com maior probabilidade de resposta a terapêuticas dirigidas e assim contribuindo para a redução da carga das doenças que mais nos afetam. Os meios complementares de diagnóstico podem desempenhar um papel de liderança na prevenção e gestão de doenças e ir de encontro aos desafios de saúde cada vez mais complexos. A título de exemplo, uma avaliação económica recente cujos resultados foram recentemente partilhados revelaram que a introdução de um teste rápido para doseamento dos péptidos natriuréticos nos Cuidados de Saúde Primários, permitiria poupar cerca de 3 milhões de euros/ano ao Serviço Nacional de Saúde por redução de consultas e exames desnecessários e iniciação mais célere da terapêutica em doentes com Insuficiência Cardíaca, que é uma das maiores causas de internamento e de custos hospitalares no nosso país. Apesar deste e doutros exemplos e de se saber que os diagnósticos

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In-Vitro influenciam aproximadamente dois terços de todas as tomadas de decisão clínica, representam apenas cerca de 2% do investimento feito nas despesas totais com cuidados de saúde, o que demonstra como são significativamente subvalorizados.

Responsabilidade partilhada para tratar melhor Além disso, realçar que o papel dos diagnósticos In-Vitro (DIV) continua em desenvolvimento e a suportar, como já referi, a Medicina Personalizada para que os doentes possam beneficiar de tratamentos direcionados com base na deteção da presença de defeitos genéticos específicos ou biomarcadores detectáveis no sangue ou em tecido humano. Os DIV têm também um papel forte na eficiência de Investigação e Desenvolvimento, identificando os doentes mais adequados para inclusão em certos ensaios clínicos. É importante também destacar o facto de um laboratório central integrado permitir uma vasta expansão da eficiência, o âmbito e a qualidade das capacidades de diagnóstico no laboratório, ao permitir consolidar e integrar uma vasta gama de plataformas que abrangem testes de química clínica, imuno-ensaios, testes de coagulação, hematologia, testes de PCR integrando também os resultados dos testes realizados à cabeceira do doente (point of care). Isto significa uma entrega mais rápida de resultados e um diagnóstico mais rápido para os doentes que inclui uma cada vez maior importância atribuída à área de Saúde Digital e à Inteligência Artificial como formas de otimizar o percurso clínico do doente e melhorar a gestão dos nossos recursos de saúde. Como podemos melhorar o conhecimento nesta área? Penso que deve ser uma responsabilidade partilhada pelas próprias empresas de diagnóstico que devem apostar em mais educação médica nas áreas em que há inovação, sem no entanto, descurar o papel fundamental que o ensino superior e as sociedades científicas têm nesta matéria. No que respeita à Roche temos feito um esforço considerável para melhorar o conhecimento específico sobre os DIV.


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INOVAÇÃO

A pandemia que ainda estamos a viver abriu sem dúvida os nossos sentidos para a importância dos testes de diagnóstico. De que forma é que a Roche Diagnósticos viveu estes últimos meses? A testagem teve e continuará a ter um papel muito importante na situação de pandemia que ainda vivemos. Os últimos meses representam um período muito rico em termos de avanços científicos e de inovação, mas também muito importante no que respeita à percepção sobre o valor do diagnóstico. Nunca antes se ouviu falar tanto da importância da testagem como nestes últimos 2 anos e que, pelas tendências que temos observado, se irá manter fazendo com que esta continue a ser uma ferramenta essencial para a monitorização e gestão das infeções.

Um desafio enorme chamado COVID-19 Mas é necessário reforçar que a importância da realização de testes e dos DIV não se limita à pandemia. O seu papel vai muito além da Covid-19, conforme referi na resposta à pergunta anterior, e o seu valor e impacto socioeconómico tem de ser devidamente valorizado pelas autoridades competentes. Esperamos que a pandemia possa ter contribuído para aumentar este conhecimento por entre os decisores políticos e responsáveis em saúde. Mas sim, a pandemia da COVID-19 foi um dos maiores desafios que alguma vez enfrentámos e a nossa resposta foi uma das nossas maiores realizações. Nestes meses criámos um portefólio de 19 testes e soluções para a COVID-19, a grande maioria disponível em Portugal, para ajudarmos os Governos e a sociedade a enfrentar um desafio global totalmente inesperado. A título de exemplo, apenas em 2020 foram realizados mais de 314 milhões de testes com as nossas soluções no diagnóstico de infeções ativas por SARS-CoV-2 ou na medição de anticorpos. E se no início havia apenas soluções de testagem molecular, de utilização laboratorial, hoje o portefólio de soluções para a pandemia é muito alargado. Desde testes de diagnóstico moleculares laboratoriais ou em point of care capazes de identificar a presença de SARSCoV-2 em simultâneo com a do vírus Influenza A/B (vírus que causa a gripe) e capazes de determinar se os sintomas presentes na pessoa se devem à presença

do vírus que causa a Covid-19 e/ou do vírus que causa a gripe; passando pelos testes de antigénio que podem ser realizados por um profissional de saúde ou em regime de autoteste; até diferentes testes para avaliação da resposta imunitária aos SARS-CoV-2 e capazes de avaliar se o organismo esteve exposto ao vírus ou mesmo sobre a produção de anticorpos após a administração da vacina. Por outro lado, é de enaltecer o esforço das nossas equipas globais e locais e o trabalho desempenhado 24 horas por dia para o desenvolvimento e disponibilização de testes de diagnóstico para a pandemia. Em Portugal, por exemplo, o elevado sentimento de compromisso fez com que em apenas três dias as equipas trabalhassem noite e dia para que os laboratórios de alguns dos maiores hospitais públicos pudessem ter os equipamentos preparados para a realização de testes de PCR em sistemas automatizados e de elevado volume, um trabalho que habitualmente leva cerca de três semanas. Esta é a concretização da nossa visão: dedicação máxima para que as pessoas possam ter acesso aos melhores cuidados de saúde.

Capacidade de produção elevada ao extremo Em algum momento foi difícil encontrar soluções para acudir aos pedidos dos hospitais? Que soluções foram adotadas? Quando enfrentamos uma situação de pandemia como a que ainda estamos a viver, é de esperar que haja uma procura global exponencial não só de testes, mas como de outras partes essenciais para a gestão desta crise de saúde pública. A nossa capacidade de produção global foi levada ao extremo, algo possível pelo enorme compromisso das nossas equipas, mas mesmo assim no que tem de ser visto como uma capacidade linear ao nível de produção. Porém, e independentemente das dificuldades globais, Portugal foi um dos países que mais testou (em função do número de habitantes) neste período pandémico no resultado de um contributo da Roche e de outras companhias de diagnóstico, com um mesmo objetivo: ajudar o Governo, autoridades de saúde, profissionais de saúde e os cidadãos na luta contra a pandemia. Mas a capacidade de resposta a esta crise de saúde pública global começou antes também como fruto da aposta e do investimento de milhões de euros da


27 Roche ao SNS através da instalação de equipamentos, pré e durante a pandemia, o que permitiu uma rápida resposta por parte do sistema de saúde no diagnóstico de casos ativos, bem como a assistência 24 horas por dia, de forma a garantir a continuidade e aumento da capacidade de testagem laboratorial. Durante a pandemia houve sempre uma estreita colaboração e diálogo entre a Roche com o Governo, autoridades de saúde e os profissionais de saúde dos hospitais de forma a trabalhar em conjunto nas melhores respostas e soluções possíveis para fazer face às necessidades. E mesmo quando houve dificuldades existiu sempre transparência e abertura entre todos para se trabalhar em conjunto na melhor estratégia, na melhor abordagem. Recentemente foi criada uma contribuição extraordinária sobre os testes de diagnóstico. Como encara esta medida e faz sentido no momento atual? Um estudo recente mostrou que há ainda uma percepção errada ou um desconhecimento sobre o modelo de negócio dos diagnósticos, nomeadamente no que concerne à forma como a inovação é avaliada, o acesso é discutido e a aquisição é realizada. Por outro lado, é verdade que o Estado, através de mecanismos concursais tem conseguido manter constantes os custos com DIV sem que o parque tecnológico do SNS tenha perdido qualidade ou actualização. A contribuição extraordinária sobre a área de dispositivos médicos e onde se incluem as companhias de diagnósticos aprovada no Orçamento de Estado de 2020 é um exemplo deste desconhecimento e penaliza fortemente as empresas que investem em inovação. Portugal é o único Estado Membro com uma medida desta natureza na UE. A aplicação da contribuição extraordinária conforme está aprovada no Orçamento de Estado pode trazer implicações para o país e para as instituições públicas. Por exemplo, a atratividade do país pode diminuir e pode dificultar a colocação no mercado de soluções inovadoras. Além disso, num período social e economicamente desafiante para a sociedade permanece uma grande preocupação das empresas do setor face às recentes alterações das condições de competitividade no país, onde a aplicação de uma taxa de contribuição a estas empresas terá impacto num sector que tanto tem contribuído num esforço conjunto de luta contra a pandemia. E lembrar que se Portugal foi um dos países que mais testou (e continua a testar) neste período pandémico

tal é fruto da aposta e do investimento das empresas de diagnóstico realizado, em milhões de euros cedidos pelas empresas de diagnósticos ao SNS, cuja amortização não está assegurada, através da instalação de equipamentos, pré e durante a pandemia, o que permitiu uma rápida resposta por parte do sistema de saúde no diagnóstico de casos ativos e de um esforço de assistência 24 horas por dia, de forma a garantir a continuidade e aumento da capacidade de testagem laboratorial.

Os diagnósticos na linha da frente das decisões em saúde Há medidas que podem ser consideradas para que seja reposta alguma paridade na forma como esta contribuição é aplicada e que foram inclusive debatidas em julho aquando da apresentação do relatório da NOVA-IMS sobre “Valor em Saúde: Caso de Estudo dos Diagnósticos In Vitro”. A título de exemplo: uma aplicação progressiva (à semelhança do que é feito, por exemplo, no IRS), a possibilidade do valor pago pelas empresas de diagnóstico ficar alocado às instituições de saúde de forma a que possam fazer uma dedução na dívida hospitalar às empresas, a aplicação da contribuição extraordinária sobre 70% do valor da fatura em que os restantes 30% não estejam sujeitos à contribuição de forma a incluir o equipamento e os serviços complementares. Porém, na verdade, aguardamos até hoje a possibilidade de negociação de um protocolo com o Governo e com a APIFARMA, enquanto associação que representa as companhias de diagnósticos In Vitro. Há ainda um caminho a percorrer e a pandemia veio de certa forma ajudar a elevar esta necessidade de educação para a área dos diagnósticos, que seja em conformidade com o contributo positivo que traz para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e para o cidadão. É altura de tirar os diagnósticos dos bastidores para os colocar na linha da frente das decisões estratégicas em saúde de forma que a promoção da saúde e prevenção da doença, por exemplo, sejam uma realidade e uma verdadeira aposta para que os sistemas de Saúde sejam sustentáveis e permitam responder à nossa ambição de aumento da esperança de vida com efetiva qualidade.


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INOVAÇÃO

HELENA COUTINHO Business Unit Head de GI/DRM/AEH , Takeda

NA TAKEDA CADA DOENTE CONTA Liderar a unidade de negócio da Takeda que aglomera as Doenças Gastrointestinais, as Doenças Raras Metabólicas e o Angioedema Hereditário é uma honra e um privilégio, particularmente numa companhia que trabalha há 240 anos para fazer o melhor pelos doentes. São áreas onde ainda não falamos de cura, mas falamos de redução de sintomas e remissão clínica das doenças.

As fístulas perianais são uma complicação grave e incapacitante da Doença de Crohn (DC), uma doença inflamatória crónica que afeta principalmente o trato intestinal e que está associada a uma diminuição da qualidade de vida dos doentes. Em pessoas adultas com DC, a incidência cumulativa de fístulas perianais estima-se que seja 15%, 21-23% e 26-28% após cinco, 10 e 20 anos, respetivamente.

Como são doenças para a vida, na Takeda focamo-nos em melhorar a qualidade de vida dos doentes, desenvolvendo e trazendo para o mercado alternativas terapêuticas realmente inovadoras e com grande impacto para estes doentes. Todas as doenças que tratamos dentro destas áreas são importantes devido às necessidades por colmatar dos doentes por elas impactados e dos médicos que as tratam.

A síndrome do intestino curto com falência intestinal é uma insuficiência orgânica importante, altamente complexa, debilitante e potencialmente fatal, na qual os doentes não conseguem absorver nutrientes e fluidos suficientes através do intestino. Os doentes têm de ser mantidos com suporte parentérico, ou seja, nutrição parentérica e/ou fluidos intravenosos.


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As doenças raras metabólicas são um vasto grupo de doenças genéticas, crónicas, de diagnóstico muitas vezes tardio e tratamento complexo, no qual se inclui a doença de Fabry, doença de Gaucher e síndrome de Hunter. Estas doenças têm um grande e variado impacto na vida destes doentes e das suas famílias. O angioedema hereditário (AEH) é uma doença genética rara. Pensa-se que afeta cerca de 1 em 50.000 pessoas. O AEH pode causar edema doloroso e súbito em qualquer parte do corpo. As crises de AEH podem acontecer sem aviso e durar dias. A dor e o edema de uma crise podem ser incapacitantes, fazendo com que não seja possível realizar tarefas quotidianas. Isto pode fazer com que a vida de uma pessoa com AEH seja física e emocionalmente desafiante. As crises podem ocorrer em qualquer parte do corpo, mas os locais mais comuns dos edemas incluem abdómen, rosto, garganta, genitais, mãos e pés. O edema da orofaringe pode tornar-se potencialmente fatal porque pode levar à asfixia.

Tratar a doença perianal fistulizante refratária de forma eficaz e prolongada no tempo com células estaminais, reduzir a necessidade de suporte parentérico na síndrome do intestino curto com falência intestinal ou controlar as crises do angioedema hereditário têm sido algumas das recentes inovações que temos e que permitem maior autonomia e mais qualidade de vida destes doentes. E o que representa terem autonomia e qualidade de vida? Significa que as pessoas com estas doenças e as suas famílias já podem recomeçar a viver e recuperar as suas vidas: fazer planos, poder sair de casa, viajar, trabalhar, conviver com família e amigos. Atividades que estavam limitadas pelas doenças que têm. A abordagem da Takeda está centrada na medicina personalizada. Desde a nossa origem que trabalhamos com doenças raras e sabemos a importância de trazermos inovação individualizada e adequada a cada um dos nossos doentes, realmente diferenciadora e que representa uma verdadeira mudança no paradigma de tratamento destas doenças.


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APDH

Atividades APDH PARTICIPAÇÃO DA APDH NO 44.º CONGRESSO MUNDIAL DOS HOSPITAIS

A nível internacional, a APDH destaca a sua participação, enquanto membro de Pleno direito da Federação Internacional dos Hospitais (IHF), no 44.º Congresso Mundial dos Hospitais, que decorreu de 8-11 de novembro de 2021, em formato híbrido, com participação presencial em Fira Montjuïc, Barcelona e à distância. O evento, organizado pela IHF e La Unió Catalana d’Hospitals, sob o tema geral: “People on Board: Transforming healthcare by blending agility, responsiveness, and resilience”, foi um dos primeiros eventos de gestão e liderança em saúde a decorrer presencialmente na Europa desde o surto da COVID-19.


31 1.500 participantes de 71 países tiveram assim a oportunidade de assistir a mais de 70 sessões, com mais de 300 oradores e ver mais de 200 posters, preparados sob uma das seguintes temáticas do congresso: 1. Digital and Technology Driven Transformations; 2. Towards an Integrated Concept of Health and Care Services Model: Value Driven Transformations; ou 3. People at the Center of Healthcare System Transformations. Foi um fórum único que reuniu membros da IHF, líderes executivos de hospitais, bem como de serviços e organizações de saúde, para discutirem os principais fatores motivadores de políticas nacionais e internacionais, de gestão, de tendências financeiras e soluções.

Foram eleitas, pela Assembleia Geral, a nova Presidente da IHF – Deborah J. Bowen, a assumir funções de dois anos no encerramento do congresso, e a nova Presidente designada para o próximo mandato – Muna A. Tahlak. A APDH expressa felicidades e votos de sucesso a ambas e deseja que seja mantida a boa colaboração com a IHF. Agradece também a Risto Miettunen pelo trabalho desenvolvido durante a sua presidência e pela estreita colaboração com a APDH, nos últimos dois anos.

Ao longo de quatro dias de congresso, foram facilitados momentos de troca multidisciplinar de conhecimento, de técnicas e de experiências, juntamente com diálogos sobre melhores práticas de liderança em contexto hospitalar, gestão em cuidados de saúde e prestação de cuidados. O evento contou com a participação ativa da APDH em vários níveis. No primeiro dia, a 8 de novembro, reuniram os membros do Governing Council e da Assembleia Geral da IHF. A representação da APDH nas reuniões foi assegurada por Margarida Eiras, Vogal da Direção da APDH e membro do Governing Council da IHF.

No decorrer do primeiro dia, os Young Executive Leaders (YEL) da IHF de 2021, participaram num workshop, para assinalarem o seu trabalho, desenvolvido em quatro subgrupos durante vários meses através de vários artigos e podcasts e terminado no dia seguinte numa sessão paralela, intitulada “Local perspectives, global exchange: The 2021 IHF Young Executive Leaders”.


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APDH

Atividades APDH O grupo de YELs de 2021 foi constituído por 33 jovens líderes de 19 países, entre os quais três portugueses: Cátia Ferreira do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira; Leandro Luís do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central; e Márcio Reis do Centro Hospitalar Universitário do Porto. Os membros do grupo foram selecionados por um Júri Internacional, do qual fez parte Margarida Eiras, pela APDH.

Ao amanhecer do terceiro dia do congresso, Carlos Pereira Alves, Presidente da Direção da APDH, participou numa reunião de pequeno-almoço da iniciativa “IHF Association Leaders Circle” (ALC), uma plataforma exclusiva para líderes de associações do setor hospitalar e da saúde, oferecendo-lhes a oportunidade para a troca de ideias, partilha de conhecimentos e boas práticas, e debate sobre os atuais desafios na saúde.

Nesta reunião inaugural da ALC, representantes de 20 organizações debateram sobretudo os desafios dos profissionais de saúde nos seus países e o que estes estão a fazer para estimular a resiliência e mitigar o burnout durante a atual pandemia.

Decorreu igualmente com sucesso uma sessão paralela da APDH, intitulada “Health professionals as the turning point of the COVID-19 pandemic”, moderada por Carlos Pereira Alves e que contou igualmente com a participação de Margarida Eiras, a qual apresentou uma análise das mudanças em tempos de pandemia, preparada pela APDH.

A APDH convidou quatro sócios institucionais a apresentar as suas experiências durante a pandemia, tendo sidos representados pelos seguintes oradores: Vanessa Ribeiro da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS),


33 que indicou na sua apresentação as ações a nível nacional para apoiar a gestão da pandemia; Miguel Paiva do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV), que apresentou o Projeto “CADCOZ” e a sua importância na mitigação dos efeitos da pandemia por COVID-19; Patrícia Pacheco do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (HFF), que apresentou o Projeto “Uma linha de apoio como ferramenta no controlo intra-hospitalar da pandemia”; Rita Coelho e Carlos Cortes do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), que explicaram a experiência do Serviço de Patologia Clínica do CHMT na era da pandemia COVID-19 e a sua importância para a região.

Ainda no terceiro dia, foram anunciados, numa cerimónia especial, os vencedores dos Prémios da IHF de 2021, que representam boas práticas e projetos excecionais e inovadores de hospitais e prestadores de serviços de saúde em todo o mundo. O Presidente da IHF, Risto Miettunen e os membros do Júri Internacional, no qual Carlos Pereira Alves participou, teve o prazer de entregar as distinções de Ouro (Gold), Prata (Silver) e Bronze, bem como as menções honrosas, aos melhores projetos nas seguintes categorias: 1. Dr. Kwang Tae Kim Grand Hospital Award 2. Excellence Award for Corporate Social Responsibility 3.Austco Excellence Award for Quality and Patient Safety

4. American College of Healthcare Executives Excellence Award for Leadership and Management 5. Ashikaga - Nikken Excellence Award for Green Hospitals 6. Sultanate of Oman Excellence Award for Health Services During Crisis

Com o seu projeto “Home Based Care in Covid Management: Telemonitoring using self-reporting and health professional surveillance”, o Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), Sócio Institucional da APDH, recebeu uma menção honrosa na categoria Austco Excellence Award for Quality and Patient Safety, o qual a APDH felicita.


34 Atividades APDH Este ano foram submetidas 250 candidaturas de 38 países/territórios – um recorde desde que os Prémios foram criados em 2015. O rigoroso processo de revisão foi feito por um Júri Internacional, composto por 32 peritos da área da saúde, incluindo Carlos Pereira Alves como representante de Portugal. O último dia do congresso começou com uma reunião de pequeno-almoço preparada para o lançamento oficial do “IHF Women in Leadership Forum”, dedicado às mulheres líderes sénior, que procuram trabalhar em rede sobre as questões que estas enfrentam, ao mesmo tempo que amplificam o impacto das mulheres a nível global. As convidadas, incluindo Margarida Eiras, partilharam as suas aspirações, desafios e oportunidades para construir um local de trabalho mais equitativo e inclusivo, assim como partilharam as suas próprias “experiências vividas”, retirando novas ideias e estabelecendo uma rede com outras mulheres executivas do sector da saúde.

Em seguida, ambos os membros da Direção participaram como moderadores em duas sessões. Margarida Eiras moderou a sessão paralela “Paper Presentations: Dynamic visions of adding value to go beyond healthcare service delivery”, cujas breves apresentações inspiraram o público com os seus programas, projetos e boas práticas inovadoras de várias organizações.

Carlos Pereira Alves moderou, em conjunto com Aigul Kulmukhamedova do Cazaquistão, a sessão paralela “IHF Awards Session – Showcasing best practices from around the world”. Nesta sessão os vencedores dos Prémios de Ouro de 2021 apresentaram o motivo pelo qual se destacaram como os melhores dos melhores de todo o mundo na inovação e excelência dos sistemas de saúde.

O congresso terminou com a Sessão de Encerramento e o seu debate sobre atualidade e sustentabilidade na saúde, seguindo-se a passagem de testemunho do Congresso Mundial dos Hospitais à Autoridade da Saúde do Dubai, que será a anfitriã da 45.ª edição a decorrer em 2022 no Dubai, tendo a nova Presidente da IHF, Deborah J. Bowen encerrado o evento.



A INOVAÇÃO GUIA A NOSSA CIÊNCIA. A HUMANIDADE GUIA A NOSSA EXISTÊNCIA. Para enfrentar os desafios dos cuidados de saúde em todo o mundo, unimos o espírito da biotecnologia à força de uma empresa farmacêutica de sucesso. O resultado é uma empresa biofarmacêutica que combina ciência, paixão e experiência para melhorar de forma inovadora a saúde e os cuidados de saúde. Assegurar um impacto notável na vida das pessoas é mais que a nossa promessa. É a nossa existência.

abbvie.pt


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