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GRANDE ENTREVISTA
from Revista "O Hospital" | Nº 32
by APDH
do número de camas de internamento, ao Hospital de Dia de Hemodiálise e à Farmácia Hospitalar. Também a realização de obras nas enfermarias dos pisos de internamento do HFAR-PP é um projeto importante a concretizar.
No âmbito do parque de equipamentos, seria importante iniciar o processo de renovação de equipamentos pesados, nomeadamente do Serviço de Medicina Nuclear, e avançar para a concretização de um sonho já antigo de adquirir um equipamento de Ressonância Magnética Nuclear.
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No âmbito do Ensino e da Formação, estreitar os laços de cooperação com instituições das Forças Armadas, nomeadamente com o Instituto Universitário Militar (IUM) e com a Unidade de Ensino, Formação e Investigação em Saúde Militar (UEFISM) e prosseguir a política de estabelecimento de protocolos com instituições académicas externas, como são exemplos recentes os Protocolos firmados com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, com a faculdade de Ciências Médicas – Nova Medical School e o Acordo de Colaboração Institucional que vai ser assinado brevemente com a Faculdade de Medicina da universidade do Porto.
Reforçar a abertura à sociedade civil, não apenas ao nível do atendimento de utentes – disponibilizando para o efeito a capacidade sobrante do Hospital (mantendo a prioridade do atendimento aos militares, à família militar e aos deficientes das Forças Armadas), mas também através da criação de parcerias estratégicas com entidades externas, que viabilizem a existência de fontes de receitas supletivas e contribuam para a rentabilização dos recursos materiais do Hospital e para a proficiência dos profissionais de saúde.
Ao nível da qualidade, obter certificação e idoneidade formativa para um número crescente de serviços e de áreas de especialidade.
Ao nível da Comunicação Externa, otimizar a forma como o Hospital interage com o utente, comunicando através de modelos mais tradicionais e digitais, de acordo com o público-alvo, garantindo horários de atendimento alargado e alargando o leque de funcionalidades que possam ser efetuadas por telefone ou on-line
Colocar um enfoque muito particular na Inovação. Deve ser estimulado no HFAR um clima de inovação, de irreverência criativa, que constitua uma mola dinamizadora para a dinâmica renovadora que se pretende que esteja presente na cultura do HFAR.
Por falar em cultura, fazemos aqui a ponte para um objetivo menos tangível, para o qual gostaria de dar o meu contributo. A criação de uma cultura organizacional HFAR, que resulte naturalmente da simbiose entre as culturas transportadas dos ramos e que aglutine e potencie as melhores características e tradições daquelas instituições, servindo os propósitos da Missão do HFAR.
Aos utentes do HFAR, gostaria de deixar uma mensagem - este é o nosso Hospital, “um hospital de todos e para todos os militares, bem como para a família militar”, não esquecendo naturalmente o importante papel reservado para o apoio aos Deficientes das Forças Armadas e aos Antigos Combatentes (bem como aos utentes civis, que gradualmente aumentam em expressão numérica). Queremos um Hospital no qual se revejam, com políticas de melhoria da acessibilidade, capaz de Fidelizar os seus utentes.
Pretende-se um HFAR capaz de criar mais valor, que coloque o utente no centro do sistema e que saiba dignificar a sua Divisa “Que Glória Alcance Por Saber Cuidar”.
Relativamente aos profissionais de saúde, como é que estão os vossos quadros (têm o número de todos quantos precisam – médicos, enfermeiros, farmacêuticos?)
Ter um quadro de recursos humanos preenchido e dotado de elementos tecnicamente diferenciados, é uma preocupação que rotularia de transversal a qualquer dirigente organizacional.
Nas organizações de saúde, em particular, fruto da constante evolução do conhecimento científico, associada à introdução vertiginosa de soluções tecnológicas inovadoras, o corpo de profissionais que integra a organização é um elemento diferenciador e preponderante para o cumprimento da Missão.
O HFAR tem vindo a conviver com um défice significativo nos recursos humanos, tanto a nível de militares, como de civis, encontrando-se a respetiva estrutura orgânica preenchida apenas com 62% do seu efetivo total.
Relativamente ao pessoal civil, apesar do diferencial não ser tão relevante como nos militares, o seu efetivo encontra-se preenchido a 78%, situação esta que se deve, às restrições orçamentais comuns à Administração Pública.
O défice de recursos humanos também se insere nos quadros especiais de saúde, e particularmente no pessoal militar, sendo de relevar as carreiras Especial Médica, de Enfermagem, Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (TSDT) e Socorristas. Destacam-se ainda outras carreiras não relacionadas com a saúde, em que o respetivo défice também é significativo, quer para o pessoal militar, quer para o pessoal civil. forma intensa, desde a 1.ª vaga.
No sentido de colmatar este défice, e para garantir a continuidade assistencial no HFAR, tem-se recorrido à contratação de Prestadores de Serviços, nas carreiras suprarreferidas, a qual representa cerca de 25% do total das existências.
No presente momento, os dois Polos do HFAR contabilizam 1386 profissionais, repartidos por 457 militares, 585 elementos do Quadro Orgânico de Pessoal Civil e 344 civis em regime de prestação de serviços.
A iniciativa de Acesso Rápido à Consulta de Oftalmologia implementada no Centro Hospitalar Universitario Lisboa Norte (CHULN), teve por objetivo diminuir o tempo de espera dos doentes até ao primeiro contacto médico, pretendendo também reduzir o número de idas ao hospital para exames ou consultas até à primeira decisão informada.
À semelhança de outras instituições de saúde, teve de se adaptar profundamente ao contexto de incerteza que se vivia a nível global, reinventando-se na sua forma de atuação e flexibilizando toda a sua estrutura, de modo a dar resposta ao incremento substancial da procura por cuidados assistenciais.
Foi necessário estabelecer circuitos específicos para profissionais, doentes, material e resíduos, reestruturar vários espaços hospitalares, como refeitórios, gabinetes de consulta e auditórios, de modo a aumentar progressivamente a capacidade de internamento para doentes COVID-19.
O Hospital viveu um momento de enorme pressão, que conseguiu superar através do brio, esforço e dedicação dos seus profissionais, consolidando a importância estratégica desta Instituição como apoio de retaguarda ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Desta forma, conseguiu-se aumentar a eficiência dos cuidados oftalmológicos prestados aos doentes.
Não obstante as limitações em recursos humanos, apraz-me registar o elevado nível de cumprimento da missão que o HFAR tem conseguido concretizar, ao qual está associado o esforço, dedicação e capacidade de desempenho dos seus profissionais, nas diferentes vertentes de atuação do Hospital – seja na área assistencial, na área do ensino e na área da formação, não descurando a participação cada vez mais intensa de profissionais do HFAR em missões de cariz operacional.
A consulta virtual foi disponibilizada de forma universal, a todos os doentes que foram referenciados à sub-especialidade de Glaucoma, garantindo a realização dos vários exames complementares de diagnóstico na mesma vinda ao hospital (“one-stop-shop” model).
A capacidade de adaptação, prontidão na resposta, liderança e facilidade de mobilização de recursos humanos e materiais, bem como a capacidade de formação de novos colaboradores, constituiu-se desde a fase inicial da pandemia, como preponderante na resposta disponibilizada à sociedade civil, seja a estruturas do SNS, seja a instituições de solidariedade social.
Como é que o HFAR viveu a Pandemia? Que ensinamentos ficaram?
O HFAR, nos seus dois Polos – Lisboa (HFAR-PL) e Porto (HFAR-PP) – vivenciou a Pandemia da COVID-19 de
Foi o primeiro hospital do país, através do Polo do Porto, a acolher doentes infetados por SARS-CoV-2 provenientes de lares – designadamente de Famalicão, Vila Real e Albergaria-a-Velha – na primeira vaga da Pandemia.
Grande Entrevista
Durante as vagas pandémicas subsequentes, houve um incremento das capacidades de internamento hospitalar para 326 camas, mantendo-se permanentemente a disponibilidade de 60 leitos em articulação com a ARS Norte (para os hospitais da região Norte), e um número superior a 200 camas disponibilizado aos Hospitais da ARS-LVT. O HFAR desempenhou, assim, um papel fulcral como estrutura hospitalar de retaguarda no apoio aos Hospitais do SNS, permitindo a libertação de camas nesses hospitais.
No período mais crítico de atividade pandémica, contabilizaram-se mais de 200 doentes internados em simultâneo, a saber, cerca de 150 no HFAR-PL e 55 no HFAR-PP.
Decorrente da necessidade de reforço de recursos humanos para dar resposta ao esforço no tratamento de doentes no âmbito da pandemia do COVID-19, o HFAR recebeu pessoal de saúde proveniente dos ramos das Forças Armadas, num verdadeiro esforço sinérgico de capacitação.
Contabilizaram-se, no período de esforço máximo, 513 Militares dos Ramos, designadamente 56 Médicos, 168 Enfermeiros, 181 Socorristas, 4 Farmacêuticos, 2 TSDT de Farmácia, 5 TSDT de Fisioterapia, 2 TSDT de Análises Clínicas e 95 Militares para a área de apoio.
Esta capacidade de reforço de pessoal das Forças Armadas possibilitou, no âmbito do combate à pandemia pelo SARS-CoV-2, para além do aumento da capacidade hospitalar de internamento, a diversificação do apoio à população militar e à população civil, por outras tipologias de atividades.
Destacou-se, a este nível, o papel desempenhado pelo Centro de Epidemiologia e Intervenção Preventiva (CEIP) do HFAR, designadamente no apoio à campanha de vacinação do SNS, com a abertura de 1 posto de vacinação no HFAR para os utentes do HFAR, para altas entidades do Estado e como reserva estratégica do SNS, e, a implementação da linha COVID para apoio à doença, rastreabilidade de surtos, triagem, dúvidas e apoio psicológico.
A título de súmula informativa referente ao internamento de doentes COVID no HFAR, no conjunto dos anos 2020 e 2021, esteve internado no Hospital um total de 1.065 doentes – 800 do SNS (oriundos de 25 hospitais da área Metropolitana de Lisboa e do Porto) e 265 militares ou do universo da família militar e das forças de segurança.
No ano de 2022, até ao momento presente, contabilizaram-se 302 internamentos COVID – 110 doentes do SNS, 137 militares ou elementos da família militar e 55 das Forças de Segurança.
O quadro pandémico vivido representou uma ameaça para as instituições de saúde, mas, como elemento novo e disruptivo, constitui-se também como uma enorme oportunidade de aprendizagem e como uma via para a otimização ou implementação de novos procedimentos e formas de atuação.
Ao nível dos ensinamentos, observou-se que o processo de organização e decisão militar é adequado para dar resposta a situações de exceção, no âmbito do combate à pandemia pelo SARS-CoV-2, tendo ficado bem patente a importância do HFAR e da Saúde Militar.
Nesta assertividade na capacidade de resposta foi fundamental a Centralização da Gestão dos Recursos Humanos numa única entidade - a Direção de Saúde Militar - que é aliás um dos desígnios da Reforma da Saúde Militar em curso.
A centralização da gestão dos recursos humanos possibilitou uma maior flexibilidade, rapidez e eficiência na sua mobilização, garantindo a capacitação do HFAR com pessoal proveniente dos Ramos, que assim atuaram de forma sinérgica, fundamental para suplantar esse momento de “crise sanitária”.
De entre as lições aprendidas, importa salientar também a necessidade da existência a nível nacional (em particular nas Forças armadas) de reservas estratégicas de internamento, de medicamentos, e de equipamentos de proteção Individual (EPI).
Como ensinamento, releva-se ainda a necessidade de promover uma melhor articulação e colaboração futura entre o SNS e o Sistema de Saúde Militar, que permita a rentabilização e otimização dos recursos disponíveis e a sinergia de esforços.
Não poderia deixar passar esta oportunidade sem mencionar o acelerador de mudança que a Pandemia representou na adoção de práticas de trabalho remoto, nomeadamente a validação da Teleconsulta, que foi relevante na Pandemia, e que era até então menos consensual no seio dos utentes e dos próprios profissionais de saúde.
Por último, julgo que seria importante mencionar que este período nos obrigou a revisitar e rever os procedimentos associados à cadeia de abastecimento logístico, e evidenciou a importância de dotar as instituições da capacidade de planeamento flexível, por forma a aumentar a sua resiliência e a incrementar os níveis de adaptação a desafios futuros que exijam um reajustamento do seu modelo de atuação.
Sabemos que o HFAR faz parte da APDH. Qual a importância de estar integrado nesta associação?
A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), ao longo dos seus 20 anos de existência, tem pugnado por desenvolver, apoiar e participar ativamente nas iniciativas e atividades que contribuem para a promoção do desenvolvimento dos hospitais e das organizações de saúde.
A existência de organizações como a APDH é, naturalmente. o garante de um contributo efetivo para a partilha e criação de conhecimento, para a implementação da adoção de boas práticas e de modelos de governação adequados nas instituições de saúde, nomeadamente Hospitais, que partilham dos seus valores.
Num mundo de grande volatilidade e incerteza, com desafios múltiplos e constantes, potencialmente causadores de vulnerabilidade e disrupção nas diferentes tipologias de organizações, ser membro integrante de um grupo que assume preocupações nesta matéria, reforça a nossa capacidade de atuação e a capacidade de resposta adequada e atempada aos referidos desafios.
Para a afirmação do HFAR no seio do Ecossistema da Saúde em Portugal, é fundamental ter assento nos grandes fóruns de discussão sobre as temáticas atuais da saúde, poder beneficiar da partilha de conhecimentos, ter a possibilidade de beber de soluções inovadoras. É também crucial conhecer com proximidade os atores do universo da saúde, estreitar laços de cooperação e estabelecer parcerias estratégicas.
O HFAR revê-se nas preocupações da APDH com o desenvolvimento de políticas de inovação no âmbito da gestão, organização e atividade dos hospitais, bem como na promoção do incremento da humanização dos cuidados de saúde.
O HFAR tem vindo gradualmente a concretizar os seus desígnios, assentando a sua atuação em três eixos – Assistencial, Ensino e Investigação – definindo objetivos que intersetam os valores e objetivos da APDH para a Atividade Assistencial, Investigação e Formação em saúde.
A Pandemia veio demonstrar a importância de explorar sinergias e reforçar políticas de atuação conjunta entre a Saúde Militar e o SNS. A presença do HFAR na APDH poderá contribuir para reforçar os laços de proximidade entre estas instituições.
Por todas as razões anteriormente elencadas o HFAR entende como relevante fazer parte integrante deste conjunto de atores da saúde nacional.
Francisco Gamito
Francisco Manuel Gamito Ferreira Quaresma Guerreiro é Licenciado em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, da Universidade do Porto. Efetuou a especialidade de Pneumologia no Hospital Pulido Valente, e posteriormente adquiriu o grau de Consultor na área profissional de Pneumologia. Possui ainda Competência em Medicina Hiperbárica e Subaquática, pela Ordem dos Médicos, tendo efetuado também o Curso de Medicina Aeronáutica.
Efetuou o Executive Master em Gestão de Serviços de Saúde no INDEG-ISCTE Executive Education, sendo pósgraduado em Gestão de Serviços de Saúde. Ingressou por Concurso Público no Quadro Permanente dos Oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa, Classe de Médicos Navais, em setembro de 1994.
Presentemente tem o posto militar de Comodoro. Desempenhou os cargos de Diretor Clínico do Hospital da Marinha (período de 2011- 2012) e Diretor do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica (2011-2020).
Desde 22 de dezembro de 2021 desempenha o cargo de Diretor do Hospital das Forças Armadas (HFAR). No âmbito da sua carreira de médico militar, frequentou vários cursos, nomeadamente o Curso de Promoção a Oficial General. É docente convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e membro da Comissão Científica do Mestrado em Medicina Hiperbárica e Subaquática (organizado em parceria entre a Escola Naval e a FMUL). Integra a Direção da Comissão da Competência de Medicina Hiperbárica e Subaquática da Ordem dos Médicos.
Tem várias publicações como autor ou coautor em Revistas Científicas nacionais e internacionais, sendo co-autor de dois livros. É membro associado do Centro de Investigação Naval (CINAV). É membro de diferentes Sociedades Científicas, nomeadamente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da European Respiratory Society e da European Underwater and Bar medical Society