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O papel do Enfermeiro na Educação para a Saúde -

o exemplo do Hospital de Dia na DII

CARINA CRUZ

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Enfermeira especialista em doença Inflamatória Intestinal, Hospital Garcia de Orta, Almada

O que é a DII?

A Doença Inflamatória Intestinal (DII), na qual se inclui a Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn, é um problema de Saúde Pública, cuja prevalência tem aumentado ao longo dos anos, prevendo-se que tal se continue a verificar.

Trata-se de um grupo de doenças crónicas e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças crónicas são a principal causa de morte e incapacidade no Mundo. Constituem um problema de grande relevância na sociedade moderna pois tendem a ser progressivas e a afetar cada vez mais diferentes aspetos do quotidiano do doente.

Apesar da etiologia destas doenças não estar ainda esclarecida, acredita-se que a sua fisiopatologia resulta de uma interação entre uma predisposição genética, alterações da resposta imunológica, disfunção do epitélio intestinal e da microbiota, bem como de fatores ambientais.

Estas doenças crónicas são clinicamente caracterizadas por períodos de exacerbação e de remissão e afeta de forma impactante a vida dos doentes.

Afeta maioritariamente jovens adultos em idade ativa, o que contribui para o impacto acentuado na qualidade de vida dos doentes e das suas famílias.

Como tratar?

Os objetivos do tratamento estão centrados no controlo sintomático, na modificação do processo da doença e na promoção de qualidade de vida, tentando minimizar o impacto da DII na vida dos doentes.

O acompanhamento e tratamento destas doenças é realizado por uma equipa multidisciplinar composta por médicos de Gastrenterologia, médicos de Cirurgia Digestiva, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, coadjuvados por médicos de Anatomia Patológica, imagiologistas e farmacêuticos.

Nesta equipa multidisciplinar o enfermeiro assume um papel fundamental no apoio e cuidado ao doente com Doença Inflamatória do Intestino, sendo uma figura de referência na gestão global dos cuidados prestados.

Importa referir que, sendo o enfermeiro o elemento que passa mais tempo junto do doente neste processo, desenvolve uma relação de maior proximidade e confiança, fomentando um elo de ligação entre o doente e a equipa multidisciplinar.

O acompanhamento em consulta de Gastrenterologia é programado desde o momento do diagnóstico e, em conformidade com as necessidades especificas de cada doente, muitos são também seguidos em contexto de Hospital de Dia.

Como funciona o Hospital de Dia?

O Hospital de Dia é uma unidade de saúde com um espaço físico próprio, onde se concentram meios técnicos e humanos qualificados e se realizam procedimentos clínicos, diagnósticos e terapêuticos, de forma programada, a doentes de ambulatório.

Oferece mais conveniência, segurança e economia aos doentes e, além disso, proporciona um atendimento mais humanizado.

Quando encaminhado para o Hospital de Dia, é feita uma consulta de enfermagem de admissão, prévia ao início do tratamento. A consulta pressupõe a apresentação da equipa e acolhimento ao doente/ família, colheita de dados e identificação das principais preocupações e necessidades do doente, fornecimento de informação para uma melhor capacitação na adaptação à doença e o direcionamento para grupos de apoio quando necessário.

Note-se que esta proximidade e demonstração de disponibilidade para o doente e a sua família promove igualmente uma melhor gestão e adesão ao regime terapêutico.

A atividade do Hospital de Dia prende-se com a administração e monitorização de terapêutica biológica, por via endovenosa e/ou subcutânea; com o ensino relativo a administração de terapêutica biológica via subcutânea; administração de hemoderivados e ferro endovenoso; vigilância da evolução do perfil sintomático de todos os doentes com Doença Inflamatória Intestinal e realização de ensino - nomeadamente acerca da gestão do regime terapêutico, da adoção de estilos de vida saudáveis e técnicas de autocontrolo do stress, uma vez que os fatores emocionais têm um impacto acentuado no controlo sintomático da doença.

O ensino e treino relativamente à administração de terapêutica biológica subcutânea decorre em contexto hospitalar até que os doentes se encontrem autónomos na administração e na gestão do fármaco no domicílio. Posteriormente, é ainda realizado um contacto telefónico de monitorização da administração do fármaco no domicílio até o doente se sentir totalmente autoconfiante.

Todos os doentes podem aceder diretamente à equipa através da via telefónica ou por email.

Como é feita a avaliação?

Em cada sessão de hospital de dia o doente é submetido a uma anamnese realizada pelo enfermeiro, com foco na avaliação da atividade da doença e na deteção de possíveis complicações, investigando a existência de dor abdominal, febre, tosse, queixas urinárias, emagrecimento, astenia, sudação nocturna, alterações cutâneas, alterações articulares, alterações perianais, adenopatias periféricas, existência de tumefação abdominal e o número e características das dejeções.

É também realizada uma avaliação analítica periódica, sempre que a situação clínica do doente o justifique, sendo igualmente realizada a monitorização de imunogenicidade de anti-TNF.

Durante a administração do fármaco biológico endovenoso o doente permanece em repouso no cadeirão, sob monitorização de parâmetros vitais e vigilância de possíveis reações adversas ao fármaco em perfusão. Em caso de reação adversa a intervenção deverá ser imediata por parte da equipa de enfermagem e médica, existindo um protocolo de atuação estabelecido.

Assim, e como se percebe, o enfermeiro assume um papel fundamental no acompanhamento destes doentes, pois o facto de ser o elemento da equipa de saúde que passa mais tempo junto dele e da família torna-o, inevitavelmente, no mais capacitado na abordagem holística do mesmo e na construção de uma relação consolidada a qual, a médio prazo, se traduz em ganhos para a saúde através da prevenção de complicações e da educação e empowerment do doente na gestão da sua doença.

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