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do farmacêutico especialista

RUI MANUEL PINTO

Farmacêutico especialista em análises clínicas e em genética humana pela Ordem dos Farmacêuticos; membro da direção nacional da Ordem dos Farmacêuticos

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As análises clínicas, onde se inclui a genética humana, enquanto meios complementares de diagnóstico, influenciam em cerca de 70% das decisões clínicas, fornecendo informação crucial e com benefício direto no bem-estar e qualidade de vida dos utentes. Esta informação permite uma intervenção muito além do diagnóstico, dado o enfoque cada vez mais relevante na predição e prevenção, prognóstico, e monitorização de patologias, bem como na personalização dos tratamentos. A assertividade na obtenção e transmissão desta informação tornou-se, por isso mesmo, um dos principais objetivos dos Serviços de Análises Clínicas/Patologia Clínica e de Genética Humana. Nos laboratórios do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os farmacêuticos especialistas em análises clínicas e em genética humana têm desenvolvido um trabalho de complementaridade e parceria com os médicos patologistas clínicos, que se tem revelado de grande importância, por contribuir para a promoção e consolidação de um serviço de excelência nestas áreas laboratoriais. Contudo, a evolução do conhecimento a que estamos a assistir diariamente no campo das análises clínicas requer um compromisso sério dos especialistas com a atualização e desenvolvimento profissional contínuo, mantendo assim um papel preponderante no processo de decisão clínica.

As evoluções científicas e tecnológicas ocorridas nas últimas décadas, associadas às transformações económicas, estão a promover mudanças substanciais nos meios complementares de diagnóstico, em particular na área das análises clínicas. Apesar de estarmos a viver uma fase de grande progresso nestas áreas, os especialistas confrontam-se com questões relacionadas com a sua intervenção no futuro dos laboratórios clínicos, já que algumas tarefas podem ser realizadas (se já não são), por modernos equipamentos

“auto-suficientes”, que produzem resultados com um rigor e rapidez compatíveis com os mais exigentes padrões de qualidade. Esta visão pessimista sobre o papel do farmacêutico especialista no laboratório clínico tem sido mitigada por alguns autores que se têm dedicado ao estudo da medicina laboratorial no século XXI. Desmond Burke, um reputado investigador e patologista clínico, assegurava que a investigação laboratorial irá predominar nas próximas décadas. O advento de novas metodologias de diagnóstico em patologia clínica iria exigir dos especialistas novas aprendizagens para manterem os seus serviços competitivos.

A evolução no campo da medicina laboratorial tem sido tão evidente que alguns autores já têm publicado estudos que mostram que alguns clínicos que prescrevem testes laboratoriais fora da sua área de especialidade têm dificuldade na escolha dos testes mais adequados para a situação clínica em estudo, revelando igualmente problemas com a interpretação dos resultados associados a alguns testes. De facto, para melhorar os cuidados de saúde, evitar erros médicos e reduzir custos, um outro reputado médico patologista de nome Mauro Panteghini, ex-presidente da Federação Europeia de Química Clínica e Medicina Laboratorial, sugere que o laboratório clínico deve apostar num serviço de consultadoria prestado por especialistas que inclua, entre outros aspetos, um comentário aos resultados analíticos e a indicação, sempre que se justifique, de um protocolo que apoie o clínico na sua decisão.

Se diferentes autores mostram, como ficou atrás ilustrado, que a presença dos especialistas continua a ser insubstituível no laboratório do futuro, também não devemos esquecer que a formação de base dos farmacêuticos constitui, desde logo, uma mais-valia para o desenvolvimento e consolidação de novas valências nas análises clínicas. Com efeito, a sólida formação académica do farmacêutico em farmacologia, métodos e técnicas laboratoriais, permite ao especialista apostar em novas áreas emergentes dentro do laboratório, como a farmacogenómica, novas técnicas para identificar e monitorizar biomarcadores associados a tratamentos com fármacos inovadores ou medicamentos biológicos, entre outros. Deste modo, o trabalho dos farmacêuticos especialistas em Análises Clínicas e/ou em Genética Humana está longe de se resumir a valências clássicas destas áreas laboratoriais, como a Bioquímica, Microbiologia, Hematologia, entre outras. Assume-se assim que os especialistas não podem ser simplesmente substituídos por equipamentos e devem cultivar uma atualização permanente de conhecimentos para aplicação na atividade laboratorial.

A convicção de que os farmacêuticos especialistas em análises clínicas e/ou em genética humana vão estar presentes nos laboratórios do futuro não pode, contudo, esbater numa significativa redução no número de farmacêuticos a exercer atividade nestas áreas laboratoriais, que se tem verificado ao longo dos últimos anos e que importa resolver. A recém-criada Residência Farmacêutica, que se iniciará, pela primeira vez, em janeiro de 2023, será uma oportunidade de excelência para formar jovens farmacêuticos na área das análises clínicas e da genética humana. Apostar na formação qualificada de jovens trará benefícios não só para o SNS, que ficará mais rico em recursos humanos altamente qualificados, como também para a sociedade, que terá, certamente, acesso a melhores cuidados de saúde. Contamos para este efeito com todos especialistas envolvidos na formação destes farmacêuticos, pois são eles os responsáveis pela qualificação e motivação de uma nova geração de especialistas.

Nas próximas décadas, os farmacêuticos especialistas em análises clínicas e/ou em genética humana vão continuar a ter um papel nuclear na medicina laboratorial. As universidades, os laboratórios e institutos públicos, mas também do setor privado e social devem continuar a apostar numa atividade eminentemente farmacêutica, que fornece informação essencial para os cuidados de saúde prestados aos cidadãos e que a todos interessa defender e presevar, hoje e amanhã.

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