BP 754 - SETEMBRO 2017

Page 1

500

anos

REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 754 – Setembro de 2017

REFORMA

John Knox e o reinado das mulheres

Mary I sanguinária

Maria de Guise

Maria Stuart

Elizabeth I

Em seus escritos, John Knox, ataca o “abominável império das mulheres perversas”, como as rainhas Mary Stuart e Mary Tudor Página B3

SÍNODOS DO ESTADO DE SÃO PAULO convidam para comemoração dos

Como preparar adolescentes

Dia da ED

500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE Sessão Solene Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (Palácio 9 de Julho) 15 de setembro de 2017 10h00 Sessão Solene Câmara Municipal de São Paulo 15 de setembro de 2017 20h00 “Ações conjuntas para a Glória de Deus” SP – IPB

Conheça a história da Sagrada Escola, do seu surgimento na Inglaterra até ao Brasil Página 12

Saiba como orientar e preparar seus filhos para a vida universitária Página 7


Brasil Presbiteriano

2

Setembro de 2017

EDITORIAL

Nossa herança da Reforma

A

releitura dos eventos que integram a história da Reforma do século 16 deixa clara a importância que teve então a redescoberta, o estudo e a pregação das Escrituras. Tantas forças e acontecimentos, pessoas e instituições deram sua contribuição, sob a Providência divina, para que a Reforma acontecesse. Nada, porém, ou ninguém, fez o que a palavra pregada alcançou. Uma das áreas em que isso mais fortemente se observou foi o próprio culto cristão. A idolatria da adoração da hóstia foi abolida e um irrepetível sacrifício de Cristo foi substituído pela adoração comunitária pelo povo de Deus, com os componentes previstos na Escritura e sob sua rigorosa orientação. Não mais uma missa para a qual uma equi-

vocada Eucaristia era fundamental. Mas o que é fundamental para o culto cristão? Alguns segmentos ainda colocaram os sacramentos no centro da adoração comunitária. Outros mantiveram central a evangelização, fazendo cânticos, orações e mensagem acontecerem à sua volta. De uns tempos para cá definiu-se louvor e adoração como sinônimos de cantar e nisso passou a consistir o culto. Em alguns meios os crentes fazem referência a um cântico como sendo “um louvor” ou “uma adoração”. Essa forte ênfase musical fez aparecer, em muitas partes, a “profissionalização” da música eclesiástica. Solistas, instrumentistas, técnicos de sons, cantores e regentes de corais têm

dedicado mais tempo ao seu trabalho. Todo esse cuidado, ironicamente, não se traduziu em qualidade musical. Primeiro, porque em um tempo de cultura pop a formação clássica é desdenhada como elitista. Isso é verdade na cultura em geral – os conservatórios sumiram – e o gueto cristão só fez imitá-la. Segundo, porque, seguindo uma tendência que não é de hoje, as rasas letras cantadas não demonstram preocupação com fidelidade bíblica e nada sabem sobre normas gramaticais ou boa poesia. Também é verdade que, em muitos segmentos, a participação do crente é fundamental. E quem vai discordar disso? Ocorre que a definição dessa participação é altamente discutível. Tais grupos não se referem à

presença e ao engajamento espiritual da pessoa com a igreja reunida, expressando diante do Senhor seu reconhecimento de que ele é o único e verdadeiro Deus, enquanto canta, ora e lê as Escrituras com os presentes. Por participação entendem que o crente deve dizer algo aos outros ali, deve fazer algo como aplaudir, dançar ou rir a bandeiras despregadas. E, respeitado outro fundamento da liturgia atual, tudo será muito criativo. Mais guerras sobre o culto não resolverão. Uma reforma, porém, terá lugar se o Conselho da igreja e o pregador honrarem a palavra de Deus e mantiverem seu lugar fundamental no culto. A palavra fielmente exposta é a arma de Deus para afastar as trevas e a rebeldia. Vamos pregá-la.

Brasil Presbiteriano Ano 58, nº 754 Setembro de 2017 Rua Miguel Teles Junior, 394 Cambuci, São Paulo – SP CEP: 01540-040 Telefone: (11) 3207-7099 E-mail: bp@ipb.org.br assinatura@cep.org.br Órgão Oficial da

www.ipb.org.br Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e Publicações Conselho de Educação Cristã e Publicações (CECEP) Clodoaldo Waldemar Furlan (Presidente) Domingos da Silva Dias (Vice-presidente) André Luiz Ramos (Secretário) Alexandre Henrique Moraes de Almeida Anízio Alves Borges José Romeu da Silva Mauro Fernando Meister Misael Batista do Nascimento Conselho Editorial da CEP fevereiro 2016 a fevereiro 2018

JORNAL BRASIL PRESBITERIANO

Assinatura Anual – Envio mensal

Faça sua assinatura e/ou presenteie seus familiares e amigos.

• Individual (até 9 assinaturas): R$ 27,00 cada assinatura.

Nome CPF RG Igreja de que é membro Endereço Bairro CEP Cidade UF Email Telefone Mês inicial da assinatura Quantidade de assinaturas

Somente com depósito antecipado ou cartão VISA.

• Coletiva (10 ou mais assinaturas): R$ 24,00 cada assinatura.

Antônio Coine Cláudio Marra (Presidente) Heber Carlos de Campos Jr. Marcos André Marques Misael Batista do Nascimento Tarcízio José de Freitas Carvalho Conselho Editorial do BP fevereiro 2016 a fevereiro 2018 Alexandre Henrique Moraes de Almeida Anízio Alves Borges Clodoaldo Waldemar Furlan Hermisten Maia Pereira da Costa Márcio Roberto Alonso Edição e textos

Formas de pagamento:

Gabriela Cesário

Grátis! Depósito bancário (anexar ao cupom o comprovante de depósito) Uma assinatura para Banco do Brasil Banco Bradesco Banco Itaú pacotes de 10 ou mais C/C 2093-1 C/C 80850-4 C/C 51880-3 assinaturas. Ag. 5853-X Ag. 0119-8 Ag. 0174

E-mail: bp@ipb.org.br

Cartão VISA Nº do cartão Nome do titular

Impressão

Validade Código de segurança

Após efetuar o depósito, informá-lo pelo telefone (11) 3207-7099 ou email assinatura@cep.org.br

Diagramação Aristides Neto


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

3

GOTAS DE ESPERANÇA

ESPIRITUALIDADE DA REFORMA

A igreja fora dos portões Hernandes Dias Lopes

A

Reforma Protestante levou a igreja de volta para as Escrituras e também para fora dos seus portões. Os profetas, Jesus, os apóstolos e os reformadores pregaram nas ruas, nas praças, nas universidades, fora dos portões. Eles percorriam as cidades, as vilas, os campos. Estavam onde o povo estava. A missão deles era principalmente centrífuga, para fora dos portões. Hoje, concentramos nossas atividades no templo. Invertemos a ordem. Em vez de irmos lá fora, onde as pessoas estão, queremos que elas venham a nós, onde nós estamos. Nosso testemunho tornou-se intramuros. Nossa missão tornou-se centrípeta, para dentro. Em vez de irmos ao fundo para lançarmos as redes para pescar, estamos pescando no raso. Fazemos uma pesca de aquário. Multiplicamos nossos esforços para fazermos demorados treinamentos, mas não colocamos em prática o que aprendemos. Fazemos congressos e conferências para aumentarmos nosso cabedal teológico, mas esse conhecimento não se traduz em ação missionária. Cruzamos mares

e atravessamos fronteiras para adquirirmos o melhor conhecimento, mas guardamos isso para nós mesmos, para o nosso próprio deleite intelectual. Estamos alongando o nosso cérebro, mas atrofiando os nossos músculos. Conhecemos muito e exercitamos pouco. Sabemos

além e pregarmos a eles o evangelho. A fé vem pelo ouvir e ouvir o evangelho. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Embora nossas atividades no templo sejam ricas oportunidades para trazermos pessoas para ouvirem o evangelho, nossa agen-

nação e até mesmo ir além fronteiras. Nossas ações precisam ser deliberadamente focadas na proclamação do evangelho fora dos portões e no discipulado das pessoas alcançadas. Se não investirmos nosso tempo na obra, vamos nos distrair com coisas periféricas. Se não

muito e realizamos pouco. Reunimo-nos muito para edificarmos a nós mesmos e saímos pouco para repartirmos o que recebemos. Discutimos muito as doutrinas da graça e anunciamos pouco as boas novas do evangelho. A discussão é oportuna na defesa do evangelho, mas para alcançarmos os pecadores, precisamos ir

da não pode ser limitada apenas a essas atividades. O projeto de Deus é o evangelho todo apresentado por toda a igreja, em todo o mundo. Cada crente deve ser um missionário em sua escola, em seu trabalho, em sua parentela, entre seus amigos. Cada igreja local precisa alcançar com o evangelho o seu bairro, a sua cidade, a sua

gastarmos nossa energia no trabalho, vamos gastá-la em embates acirrados, discutindo opiniões e preferências. Crente que não trabalha, dá trabalho. Igreja que não evangeliza, precisa ser evangelizada. A igreja é uma agência missionária ou um campo missionário. Muitas igrejas hoje capitularam diante do comodismo. Fazem

um trabalho apenas de manutenção. Estão estagnadas. Não crescem nem têm propósito de crescer. Preferem criar desculpas teológicas para justificar sua covarde omissão. Há denominações históricas na Europa e nos Estados Unidos que estão perdendo cerca de dez por cento de sua membresia a cada ano. Há igrejas que já abandonaram o genuíno evangelho e perderam a mensagem. Há igrejas que já perderam o fervor e não proclamam mais, no poder do Espírito, a mensagem da graça. Há igrejas que, embora tenham uma sólida firmeza doutrinária, possuem um pífio desempenho missionário. Que Deus desperte nessa geração uma igreja fiel e relevante, uma igreja que ora com fervor e evangeliza com entusiasmo, uma igreja que edifica os salvos e busca os perdidos. Que Deus derrame sobre nós o poder do seu Espírito! Que Deus revista sua igreja de poder para viver e para pregar! Que Deus traga sobre nós paixão pelas almas e nos tire do comodismo das quatro paredes e nos leve para fora dos portões! O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

4

Setembro de 2017

TEOLOGIA E VIDA

Justificação & Santificação: Uma relação indissolúvel Hermisten Costa

N

ós, inimigos de Deus, fomos declarados justos em Cristo Jesus, nosso Senhor, encontrando, assim, a paz com Deus. Na justificação, Deus, Senhor e Rei, perdoa todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há condenação sobre nós. Estamos em paz com Deus resultante da justiça de Cristo imputada a nós (Rm 8.1,31-33). Desse modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos de Cristo, os quais são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor mudou o nosso status de condenados para declarados justos. Em seu amor eterno e insondável, Deus escolheu-nos em Cristo, transformando totalmente a nossa situação: de condenados passamos a filhos e herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo (Rm 8.17). É nesse sentido que Paulo escreve aos Romanos: “Justificados (...) mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-

nos na esperança da glória de Deus. (...) e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação” (Rm 5.1-2,11/Rm 1.7; 16.20,24; 1Co 1.3). A justificação que trouxe a paz, traz também como implicação necessária, a nossa santificação. O Senhor está comprometido também com o nosso crescimento espiritual. Paulo relembra com os crentes coríntios, qual era a vida deles antes de conhecerem a Cristo. Agora, lhes mostra que o mesmo Deus que os declarou justos também os santifica. Deus cuida de sua igreja também desta maneira, nos fazendo progredir, crescer, amadurecer em nossa fé: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). A justificação subjetiva marca o nosso novo itinerário de vida conforme o decreto eterno de Deus. Esse novo caminhar dirige-se à glorificação com o Senhor, vivendo conforme o propósito de Deus, para as boas obras, fruto da fé, preparadas pelo próprio

Deus para o seu povo (Ef 2.10). A justificação é frutuosa. A graça justificadora jamais é estéril. A justificação implica necessariamente santificação. A santificação pressupõe essencialmente a justificação. Não ousemos dividir o indivisível. A separação dessas duas verdades de nossa salvação, propicia

“A justificação que trouxe a paz, traz também como implicação necessária, a nossa santificação.”

cair no danoso equívoco da anomia, declarando que já não há mais lei; portanto, não precisamos de santificação visto que, considerados salvos, podemos fazer o que bem entendermos. No entanto, a verdade bíblica é outra: somos declarados justos para vivermos em santidade. Portanto, insisto, a nossa real justificação tem implicações éticas. A santificação é a grande evidência de nossa nova relação com

Deus. A nossa justificação (subjetiva) nos dá o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14). O desafio para nós hoje é viver em harmonia com a nossa nova natureza e condição, andando nas obras preparadas por Deus para nós (justificação demonstrativa) (Ef 2.8-10). A santificação é um processo que tem início no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para crescermos, progredirmos em nossa fé (santificação). O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/ Jo 17.17). O mesmo Espírito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante essa mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito não somente testifica que somos filhos de Deus, mas, também, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14), desenvolvendo nos cristãos o caráter de Cristo que consiste no fruto do Espírito.

Em sua graça, Deus chama eficazmente o seu povo, o congregando, constituindo assim, a sua igreja. A esses, Deus confirma em sua fé, os fazendo amadurecer, crescendo de forma progressiva até à consumação da sua obra em nós. Considerando a história da Igreja de Corinto, que ele mesmo iniciara, Paulo dá graças a Deus pelo progresso dos fiéis em sua caminhada de fé, aguardando o regresso glorioso de Cristo (1Co 1.4-9). A certeza quanto à firmeza da igreja, repousava na sua convicção de que o Senhor nos confirma até o fim. Os que creem são confiados ao Senhor, visto que ele mesmo começou a obra da salvação em nós, regenerando-nos, concedendonos o arrependimento e a fé. O próprio Senhor concluirá em nós a sua obra salvadora (Fp 1.6). Dirigindo-se à igreja de Tessalônica que vivia sob pressão, Paulo a consola e estimula na certeza do cuidado preservador de Deus: “(...) o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno” (2Ts 3.3). O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa integra a equipe de pastores da 1ª IP de São Bernardo do Campo, SP, e é Pastor-Efetivo da IP do Jardim Marilene, Diadema, SP.


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

5

EVANGELIZAÇÃO

Impacto evangelistíco no Anhangabaú – São Paulo “Fora dos portões”, presbiterianos comemoram os 158 anos da IPB na cidade de São Paulo Amanda Amorim

E

m meio ao caos diário do centro da capital paulistana, o Vale do Anhangabaú é o ponto onde vegetação e concreto convivem em relativa harmonia. É lugar de descanso, lazer e agora, também de evangelização. No dia 12 de agosto, o Anhangabaú recebeu a segunda edição do “Impacto Evangelístico” projeto idealizado pela APECOM – Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação, que nesta edição contou com a parceria dos Sínodos do Estado de São Paulo. Foi um culto evangelístico com ênfase nos 158 anos de Igreja Presbiteriana do Brasil e 500 anos da Reforma Protestante.

PREGADOR O evento teve o rev. Hernandes Dias Lopes como preletor e contou com a participação do ministério de música da Igreja Presbiteriana da Moóca. Além disso, um grande coral formado por integrantes dos Sínodos do Estado de São Paulo cantou e evangelizou em frente ao Teatro Municipal. “Estamos gratos por esta grande oportunidade de trazer a igreja para fora de seus portões. A missão da igreja é ir aonde as pessoas

estão e não esperar que elas apenas venham onde nós estamos. Quando o evangelho é proclamado, resultados surgem. Pessoas são salvas. A palavra de Deus não volta para ele vazia. A nossa alegria é ver as pessoas vindo e sendo alcançadas com a salvação em Cristo aqui nesta praça”, afirmou o pregador, rev. Hernandes. PÚBLICO O “Impacto evangelístico” alcançou milhares de pessoas considerando a pequena multidão que participou do início ao fim da programação bem como os que passavam pelo local ou assistiam de lugares mais afastados. Enquanto o evento ocorria, 100 voluntários de várias Igrejas Presbiterianas distribuíam folhetos e compartilhavam sobre o amor de Deus com os passantes. “Deus disse ‘ide e pregai a toda criatura’, então é maravilhoso cumprir o requerimento dele,” afirmou o voluntário Vitor Sarkis da Congregação Presbiteriana de Jardim Nazaré. ESTRUTURA Para que tudo ocorresse como o planejado, o evento precisou de uma grande estrutura como palco, iluminação, gerado-

res, banheiros químicos e ambulâncias com profissionais da área de saúde de plantão. O “Impacto” também teve a segurança reforçada pela Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana e alguns integrantes do Corpo de Bombeiros. O evento contou com o apoio do Instituto Presbiteriano Mackenzie e da Prefeitura Municipal de São Paulo. “A complexidade do evento envolve muitas questões humanas, estruturais, legais, físicas e materiais. A contratação de banheiros químicos, som, iluminação, palco e outros. Graças a Deus, este ano tivemos grande ajuda de uma comissão formada por pastores dos Sínodos de São Paulo e muitos voluntários principalmente das igrejas do Sínodo Leste de São Paulo”, explicou o coordenador administrati-

vo da APECOM, Diácono José dos Anjos. CULTO AR LIVRE O culto ao ar livre ou “Impacto Evangelístico” faz parte dos projetos da APECOM e esta edição teve o formato um pouco diferente do realizado em 2016. Segundo o executivo da Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação, rev. Ricardo Mota, “a mudança de local – do estacionamento da Arena Corinthians para o Vale do Anhangabaú – ocorreu para facilitar o acesso das pessoas e por se tratar de um lugar estratégico para se alcançar pessoas ainda não alcançadas com o evangelho da graça de Deus indo ao encontro das pessoas. Este evento é importante e significativo por se tratar de uma denominação religiosa que

desde 1859, compartilha os valores do Reino de Deus, evangelizando o Brasil”. ANHANGABAÚ Anhangabaú é uma palavra indígena que significa “rio dos malefícios do diabo”. Em agosto, mês de missões, conforme calendário da Igreja Presbiteriana do Brasil, o vale foi lugar de transformar vidas pela pregação da Palavra de Deus. Muitas pessoas se decidiram por Cristo após a pregação e receberam uma Bíblia comemorativa dos 500 anos da Reforma Protestante. Conforme a equipe de organização, no dia 11 de agosto de 2018, haverá outro “Impacto Evangelístico” no mesmo lugar, no Vale do Anhangabaú. Amanda Amorim é estagiária na APECOM sendo atualmente aluna do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo.


Brasil Presbiteriano

6

Setembro de 2017

EDUCAÇÃO

Universidade Presbiteriana Mackenzie PROATO: confessionalidade e dificuldades de aprendizagem na Universidade Gildásio dos Reis

M

uitos jovens, quando chegam ao ensino superior, apresentam dificuldades que comprometem seu rendimento acadêmico. Pensando nisso é que em 2015 o Conselho Universitário da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob a direção do Reitor Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto, aprovou a criação do PROATO (Programa de Atenção e Orientação ao Discente da UPM). A universidade configura-se um universo de possibilidades que, amparada no tripé ensino, pesquisa e extensão, oferece ao aluno um vasto leque de novas oportunidades e o insere em um campo de competitividade. Não são poucos os que apresentam dificuldades de se adaptar a esse novo contexto e começam a apresentar sinais de insucesso na vida acadêmica que, em alguns casos, gera desânimo tal que acaba por levar ao abandono do curso. É exatamente aqui que uma universidade cristã, confessional, pode fazer uma grande diferença na vida e no futuro de um jovem estudante. A Universidade Presbiteriana Mackenzie é de

natureza confessional. Isso significa que adota uma confissão de fé. Em razão disso, cumprimos nosso caráter confessional quando nos preocupamos com nossos alunos e, buscamos formas de ajudá-los em suas dificuldades acadêmicas. Por meio do PROATO envidamos todos os esforços para promover condições para o desenvolvimento integral de nossos discentes, buscando desenvolver suas potencialidades ao máximo para que alcancem um nível de excelência pessoal e acadêmica. Dessa forma, estarão preparados para exercerem um papel pessoal e profissional na sociedade. O Mackenzie olha para o aluno de forma diferenciada e acolhedora, desde o seu ingresso, pois à semelhança daquilo que acontece nas transições em etapas anteriores da vida, o primeiro ano de graduação é um período crítico para o seu desenvolvimento e ajustamento acadêmico. Quando tratamos especificamente das dificuldades de aprendizagem verificamos que diversos fatores contribuem para seu aparecimento. Em linhas gerais, podemos citar como causas: 1) escolha errada do curso. Alguns

decidem fazer determinado curso por decisão dos pais e familiares, influenciados por amigos, por ser o curso da moda, do momento. 2) má formação no ensino médio. 3) distanciamento na relação entre docentes e discentes. 4) desajustes familiares e

“Por meio do PROATO envidamos todos os esforços para promover condições para o desenvolvimento integral de nossos discentes, buscando desenvolver suas potencialidades ao máximo para que alcancem um nível de excelência pessoal e acadêmica.” outros problemas pessoais. 5) dificuldades decorrentes de déficits cognitivos, que tornam alguns conteúdos muito complexos e prejudicam a aquisição de conhecimentos. Por meio do atendimento, o PROATO acolhe e identifica esses e outros

problemas e orienta o aluno em busca do auxílio necessário. Com isso, entendemos que, ao ser acolhido e orientado, o aluno compreende e pode atuar sobre as situações que o perturbam, permanecendo em seu curso. Processo que mostra que a Universidade Presbiteriana Mackenzie, como universidade confessional, cumpre seu papel atendendo a formação integral do educando. Então, considerando a complexidade e os problemas inerentes ao ser humano, os quais têm seus desdobramentos e reflexos no processo de ensino-aprendizagem, é que a abordagem e orientação ao aluno não pode ser feita por um único profissional ou uma área do conhecimento de maneira isolada. A equipe de atendimento precisa ter como requisito obrigatório a constituição multidisciplinar. Ou seja, é necessária uma equipe composta por integrantes que atuam em diferentes áreas do conhecimento e que, complementarmente, ajudem o aluno. Exatamente por isso, o PROATO tem uma equipe formada por professores do curso de psicologia, pedagogia, educação física, psicopedagoga, e por um capelão universitário.

Entendemos que a preocupação da Universidade Presbiteriana Mackenzie com seus alunos vai além do desenvolvimento acadêmico. Para Deus, toda pessoa e a pessoa toda é importante e pode ser modificável. Por isso, como universidade confessional reconhecemos nossa responsabilidade com a educação numa perspectiva ampla e, sobretudo o privilégio que Deus nos concede em procurar entender as diferenças e dificuldades individuais de nossos alunos, aceitando-os amorosamente e buscando, portanto, maneiras de apoiá -los na superação de suas dificuldades acadêmicas e, assim, conquistarem um futuro melhor. Valorizamos, sim, as formalidades da vida acadêmica, mas sem desprezar os aspectos individuais, pessoais, emocionais e familiares dos nossos discentes. Nosso objetivo é buscar meios de educar nossos alunos, sempre, na base cristã com vistas à glória de Deus conforme definido na Escritura Sagrada. Gildásio dos Reis é ministro presbiteriano, formado em psicanálise clínica, mestre em educação cristã, mestre em ciências da religião e doutorando em ministério pelo CPAJ. É capelão universitário na UPM e integra a equipe do PROATO.


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

7

EDUCAÇÃO CRISTÃ

Como preparar o adolescente para a faculdade Cínthia Vasconcellos

M

uitas são as convenções em nossa sociedade. Quando uma garota completa 15 anos, uma festa com uma cerimônia especial é o rito de passagem que marca a transformação de uma menina em mulher. Quanto aos garotos, é comum comemorar-se a maioridade, mas as possibilidades estão em aberto. Ritos à parte, para alguns desses jovens a universidade é a porta de entrada para a liberdade, onde serão “donos de si mesmos”, farão o que quiserem e ninguém os poderá impedir. Existe a pressão da sociedade que os empurra para a frente de um modo negativo com o pensamento de que “se não entrar na faculdade logo que terminar o ensino médio, o jovem ficará para trás” levando muitos adolescentes a escolherem um curso sob pressão, o que, posteriormente, pode-

rá levá-los à desistência e frustração. A universidade é, sem dúvida, um passo muito importante na vida dos que a frequentam. Há os que deixam seus lares para seguirem com os estudos em outras cidades, estados e, até mesmo, outros países, mas concluir o ensino médio não significa estar apto para a vida universitária. Espera-se que os alunos tenham absorvido todo o conteúdo ensinado até então para, assim, acompanharem o ensino superior, mas o ambiente universitário vai muito além da sala de aula. É na época da universidade que muitos jovens frequentam bares e baladas, experimentam drogas e praticam relações sexuais promíscuas. Muitos se deixam levar pela necessidade de se sentirem parte de um grupo, outros que se sentiam fortes o suficiente para resistir, acabam sucumbindo ao apelo dos colegas.

Essa questão envolve tanto adolescentes cristãos quanto não cristãos. Mas o que as famílias cristãs e as igrejas podem fazer para preparar melhor seus adolescentes para a vida universitária? Penso que se dedicar à vida espiritual de um filho seja o melhor investimento que um pai pode fazer. Tive a oportunidade de estudar no Seminário Bíblico Palavra da Vida e fazer o Curso de Liderança e Discipulado, especialmente elaborado para preparar adolescentes e jovens para a faculdade, logo depois de eu ter terminado o ensino médio. Eu me mudei para a cidade de Atibaia/SP e estudei em regime de internato por um ano. Cresci no conhecimento da Palavra de Deus, aprendi a me relacionar com as pessoas com quem dividi o quarto e além disso, aprendi a lavar e passar minhas roupas, ótimo para quem terá de morar sozinho na faculdade. Esse curso fez

uma diferença enorme na minha vida. É bem verdade que parar um ano para se dedicar ao estudo da Bíblia antes de entrar na faculdade, para muitos, não é uma opção. Por isso as igrejas deveriam criar cursos próprios para seus adolescentes pré-universitários envolvendo apologética, estudos bíblicos com aplicações voltadas para a realidade universitária, reuniões de oração, debates de temas atuais, entre outras programações que os fortalecessem na fé e os preparassem para o confronto, além de ter sempre líderes disponíveis que se envolvam efetivamente na vida dos adolescentes e sejam aptos para aconselhamento. Mas nenhuma das opções citadas acima exclui a responsabilidade dos pais serem sempre presentes na vida de seus filhos. Por isso, incentivo o aconselhamento criativo dos pais. As refeições em família podem

se tornar momentos importantes de discussão sobre assuntos polêmicos em sala de aula, as idas ao supermercado podem render longas conversas sobre a vida social de seus filhos, uma ida de carro até a escola pode encorajá-los a serem sal e luz da terra. Esforcemse para realizar os cultos domésticos, orem juntos, criem um relacionamento forte entre os membros da família e com Deus, de maneira que valores mundanos e influência externa alguma possa arrebatar de seus corações as verdades bíblicas. Ser adulto é mais do que ter liberdade e escolher uma profissão para o futuro, envolve muitas responsabilidades. Crie filhos para serem adultos comprometidos com Deus, responsáveis, e que suas escolhas estejam sempre em sincronia com as do Senhor. Cínthia Vasconcellos é membro da IV IP de São Bernardo do Campo e colaboradora da Cultura Cristã.

FALECIMENTOS

Daniel Eduardo Eller O Presb. Eduardo Eller Daniel, da IP de Porto Velho-RO, partiu para o descanso eterno em 22/06/17. Incansável na obra de evangelização, visitação, aconselhamento e pregação. Nascido em Inhapim-MG, em 08 de agosto de 1926, casou-se com Maria Teixeira Eller em 07 de abril de 1947. Tiveram oito filhos: Davi, Diógenes, De-

móstenes, Dalva, Denoel, Daniel Júnior, Dênio e Marcial, 21 netos e nove bisnetos. Criou os filhos na região rural de Dom Cavati, onde foi vereador e respeitado prefeito. Atuou também como secretário escolar, tanto em Dom Cavati, quanto em Governador Valadares. Mudou-se para Rondônia em 1988, terra que passou a amar. Estudante assíduo da Palavra de Deus, leu a Bíblia inúmeras vezes. Era presbítero emérito da IPB. Deixa cinco filhos, vinte netos e oito bisnetos, além de

três para chegar. Foi exemplo de dedicação, compromisso, amor e retidão, inspirando toda a família, bem como inúmeras pessoas que com ele conviveram, a viver para Deus. Amava o trabalho da UPH, tendo sido presidente da Federação, eleito em 2013 pela CNHP como Homem Presbiteriano Padrão, pelo que foi homenageado em 01/02/2014. A família se entristece nessa hora, pois reconhece o tamanho da perda, mas encontra serenidade na esperança da vida eterna.


Brasil Presbiteriano

8

Setembro de 2017

CELEBRAÇÃO

IP Franca completa 90 anos de organização Eduardo Chagas

N

o último dia 12 de julho, a IP de Franca (SP) completou 90 anos de organização e de testemunho reformado na “Cidade das Três Colinas” e região. A igreja conta, atualmente, com 175 membros comungantes e 50 menores, e é pastoreada pelos Revs. Allen Borges (titular) e Eduardo Chagas (auxiliar), além de contar com a colaboração da evangelista Francisca Célia na coordenação dos trabalhos infantis. Da “Central”, como é carinhosamente apelidada, nasceram as demais seis igrejas presbiterianas organizadas em nossa cidade e, em regime de parceria com outras igrejas e o Presbitério, temos apoiado a plantação de mais uma con-

gregação, cuja organização se aproxima. Ao longo de nossa história, fomos privilegiados em ter como pastores importantes nomes do presbiterianismo nacional. Dentre eles podemos destacar os Revs. Theodoro Henrique Maurer Jr., Basílio Braga, Júlio Andrade Ferreira, Nephtali Vieira Jr., Nicanor Xavier da Cunha e Oscar Ihms de Faria, os quais dispensam qualquer apresentação. O pastor fundador da Igreja, Rev. João Trentino Ziller é responsável por uma tradução crítica da Divina Comédia de Dante Alighieri até hoje republicada e considerada um marco no campo das Letras. Nossos presbíteros, igualmente, têm uma longa tradição de atuação e relevância dentro da socie-

Templo antigo da IP Franca

dade francana, principalmente no campo da educação. Nossa igreja foi pioneira no campo da ação social protestante em Franca, tendo nascido entre seus membros a “Associação Assistencial Presbiteriana Bom Samaritano”, responsável por duas creches em nossa cidade e mantenedora de uma escola confessional que é referência na cidade.

Vista do novo templo

A comemoração marca também o início dos preparativos para o Centenário, e temos muitos projetos e sonhos que, com a graça de Deus, pretendemos alcançar nos próximos dez anos: a inauguração de nossa Galeria de Pastores; a revitalização de nossa Escola Dominical e das Sociedades Internas; a criação de uma orquestra e aquisição de um órgão clássico; a plan-

tação de três novas igrejas; a publicação da história de nossa Igreja, a reforma de nosso templo e a aquisição de uma nova casa pastoral, entre outros. Rendemos graças a Deus pelos nossos 90 anos, e rogamos que continue a nos agraciar e confirmar nossa obra e testemunho na cidade e região de Franca. O Rev. Eduardo H. Chagas é o pastor titular da IP de Franca.

38 anos de organização da IP de Jacupiranga Marcos de Souza e Silva

A

IP em Jacupiranga, SP, tem suas raízes nos primórdios da evangelização do vale do Ribeira, quando pastores, evangelistas e missionários de passagem pregavam o evangelho a famílias que, por mudanças, iam atingindo outros locais inclusive Jacupiranga. Pertencendo a Igreja de Pindaúba, de 1947 em diante, havia reuniões de vez em quando na casa do irmão

Elias Felisbino, com seus familiares e alguns visitantes. Em 1965, na mesma residência, teve início um ponto de pregação, agora da IP de Cajati, sob a liderança do Rev. Orlando de Oliveira Rosa. Dentro de algum tempo foi organizada uma escola dominical com apenas duas classes (adultos e crianças). As famílias que iniciaram o trabalho foram as de Elias Felisbino, Oilis Pedro e de Félix Marques da Silva. Vários

irmãos cooperaram, dentre os quais destacamos Luzio Carriel, Eurípedes Carriel, Manoel Xavier e Dionísio Sales. O Rev. Orlando Rosa e alguns irmãos planejaram a construção de um salão. Com esforço e dedicação foi concluída a obra e teve sua inauguração no dia 13 de agosto de 1967, na Vila Elias. Com a chegada de irmãos de outras localidades o trabalho foi se reforçando e crescendo e logo outras pessoas foram abraçando o

evangelho de Cristo. Pela graça de Deus o trabalho cresceu tanto que houve a necessidade de construir um templo maior. No pastorado do Rev. Francisco José de Carvalho, com a ajuda valiosa do irmão Elias Felisbino, foi construído na mesma rua um novo templo, inaugurado no dia 20 de novembro de 1977. A pedido da congregação e do Conselho da IP de Cajati o Presbitério de Juquiá (hoje Presbitério do Vale do

Ribeira – PVRB), resolve organizar a IP de Jacupiranga no dia 27 de maio de 1979. Foram arrolados 54 membros comungantes e 33 membros menores. Hoje a IP de Jacupiranga conta com cerca de 118 membros comungantes e 24 membros menores, e uma congregação no bairro do Botujuru. Podemos dizer nestes 38 anos que “Até aqui nos ajudou o Senhor”. O Rev. Marcos de Souza e Silva é o pastor desde 2007.


500

Setembro de 2017

anos

REFORMA 1517 - 2017

Brasil Presbiteriano

Brasil Presbiteriano

O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 754 - Setembro de 2017

9

B-1

A Reforma Protestante – 2a Parte

A Reforma continua Alderi Souza de Matos

3.2 – A Reforma na Escócia O protestantismo começou a ser difundido na Escócia por homens como Patrick Hamilton e George Wishart, ambos martirizados. Todavia, o presbiterianismo foi introduzido graças aos esforços do reformador John Knox (†1572), um discípulo de Calvino que, após passar

Knox

alguns anos em Genebra, retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o parlamento escocês criou a Igreja da Escócia (presbiteriana). Knox fez oposição tenaz à rainha católica Maria Stuart (1542-

1587), prima de Elizabeth, que viveu na França (1548-1561) e voltou à Escócia para tomar posse do trono. A aceitação do protestantismo ocorreu no contexto da luta pela independência do domínio francês. Alguns anos mais tarde, Maria Stuart teve de fugir e buscar refúgio na Inglaterra, onde foi executada por ordem de Elizabeth em 1587. Foi na Escócia que surgiu o conceito político-religioso de “presbiterianismo”. Os reis ingleses e escoceses sempre foram firmes defensores do episcopalismo, ou seja, de uma Igreja governada por bispos. A razão disso é que, sendo os bispos nomeados pelos reis, a Igreja seria mais facilmente controlada pelo estado e serviria aos seus interesses. À luz das Escrituras, os presbiterianos insistiram em uma Igreja governada por oficiais eleitos pela comunidade, os presbíteros, tornando assim a Igreja livre da tutela do Estado. Foi somente após um longo e tumultuado processo que o presbiterianismo implantou-se definitivamente na Escócia.

3.3 – A Reforma na França O movimento reformado francês surgiu na década de 1530. Inicialmente tolerante, o rei Francisco I

Gaspar de Coligny

(1515-1547) depois mostrou-se hostil contra os reformados. Henrique II (1547-1559) foi ainda mais severo que o seu pai. Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França, que aprovou a Confissão Galicana. Em 1561, havia duas mil congregações reformadas no país, compostas de artesãos, comerciantes e até mesmo de algumas famílias nobres, como os Bourbon e os Montmorency. Os reformados franceses, conhe-

cidos como huguenotes, estavam concentrados principalmente no oeste e sudoeste do país, e recebiam decidido apoio de Genebra. Ao norte e leste estava a facção ultracatólica liderada pela poderosa família Guise-Lorraine. No reinado de Francisco II (1559-1560), os Guise controlaram o governo. Quando Carlos IX (15601574) tornou-se rei, sendo ainda menor, sua mãe Catarina de Médici assumiu a regência, mostrando-se inicialmente tolerante para com os huguenotes. Tentando conciliar as duas facções, ela promoveu um encontro de católicos e protestantes, o Colóquio de Poissy, em 1561. Com o fracasso desse encontro, houve um longo período de guerras religiosas (15621598), cujo episódio mais chocante foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572). Centenas de huguenotes achavamse em Paris para o casamento da filha de Catarina com o nobre protestante Henrique de Navarra. Na calada da noite, os huguenotes foram assassinados à traição enquanto dormiam, entre eles o seu principal

líder, almirante Gaspard de Coligny. Nos dias seguintes, muitos milhares foram mortos no interior da França. Mais tarde, quando o nobre huguenote tornou-se rei, com o título de Henrique IV, ele promulgou em favor dos seus correligionários o Edito de Nantes (1598), concedendo-lhes uma tolerância limitada. Esse edito seria revogado pelo rei Luís XIV em 1685, dando início a um novo período de duras provações para os reformados franceses. 3.4 – A Reforma nos Países Baixos Os Países Baixos eram parte do Sacro Império Germânico e depois ficaram sob o domínio da Espanha. Durante o reinado do imperador Carlos

Canons of Dort


Brasil Presbiteriano

B-2 10 V, surgiram naquela região luteranos, anabatistas e principalmente calvinistas, por volta de 1540. Desde o início foram objeto de intensas perseguições, tendo a repressão aumentado sob o rei Filipe II (1555) e o governador Duque de Alba (1567). A revolta contra a tirania espanhola foi liderada por Guilherme de Orange, grande defensor da plena liberdade religiosa, que seria assassinado em 1584. Eventualmente, os Países Baixos dividiramse em três nações: Bélgica e Luxemburgo (católicas) e Holanda (protestante). A Igreja Reformada Holandesa foi organizada na década de 1570. No início do século 17, surgiu uma forte controvérsia por causa das idéias de Tiago Armínio. O Sínodo de Dort (16181619) rejeitou as idéias de Armínio e afirmou os chamados “cinco pontos do calvinismo”, cujas iniciais formam em inglês a palavra “tulip” (tulipa): Depravação total (Total depravity), Eleição incondicional (Unconditional election), Expiação limitada (Limited atonement), Graça irresistível (Irresistible Grace) e Perseverança dos santos (Perseverance of the saints).

John Knox e o reinado das mulheres Marcone Bezerra Carvalho

Se o livro mais importante de John Knox (15141572) foi A História da Reforma na Escócia, não cabe dúvida que o seu escrito mais famoso é O primeiro toque da trombeta contra o monstruoso governo das mulheres, publicado em 1558. Seu plano era publicar posteriormente o segundo e o terceiro “toques da trombeta”. O texto contém pouco mais de 40 páginas e é um ataque ao “abominável império das mulheres perversas”. A tese de Knox não tinha a ver com a religião professada pela rainha, mas com o ensino bíblico segundo o qual as mulheres não devem exercer domínio sobre os homens. Após sua conversão (c.1545), a vida do ex-padre escocês esbarrou no governo de mulheres com as quais ele teve uma relação conturba-

Mary I sanguinária

da. Nessa época, a Escócia era comandada por Mary Stuart, filha da rainha Maria de Guise, ambas católicas. Em 1551, enquanto vivia na Inglaterra, Knox tornouse capelão do rei protestante Eduardo VI. Com a morte do monarca, assumiu a coroa Mary Tudor, “a sanguinária”, rainha que empreendeu feroz perse-

Continua na próxima edição: 3.5 A Contra-Reforma

Rev. Alderi Matos é historiador da IPB e colaborador regular do BP

Setembro de 2017

Maria Stuart

Elizabeth I

Maria de Guise

guição aos protestantes em sua tentativa de restabelecer o catolicismo. Por conta disso, Knox buscou exílio na Suíça, onde foi influenciado por Calvino. Em 1557, ao tentar obter permissão para regressar à Escócia, teve seu pedido negado por Maria de Guise, então rainha regente. Foi nesse contexto que ele escreveu O primeiro toque

da trombeta contra o monstruoso governo das mulheres, dirigido à Maria de Guise, Mary Stuart e Mary Tudor. O livro desagradou a elas e também à rainha Elisabeth I, que, no final de 1558, assumiu o trono em substituição à Mary Tudor, razão pela qual, por repetidas vezes, Knox não teve permissão para regressar à Inglaterra. Ele finalmente conseguiu voltar à Escócia em 1559 e, até o final da sua vida (1572), foi o líder do movimento reformista, logrando a consolidação do protestantismo em sua pátria. Quanto ao segundo e ao terceiro toques, ele parece ter mudado de ideia e nunca chegou a publicá-los. Um toque da trombeta já lhe havia causado suficiente dor de cabeça. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago, Chile, e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

B-3 11

Inspirados pela Tradição: uma resposta à nossa geração! Geovani Antônio Cesário

Jaroslav Pelikan, teólogo luterano, disse certa vez que “Tradição é a fé viva daqueles que já morreram. Tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem”. Sou reformado, herdeiro desta tradição maravilhosa, me encho de orgulho em olhar para trás e ver o rico legado que nossos pais nos deixaram! Os reformadores responderam à sua geração, aplicaram o evangelho à realidade daquele tempo. As Escrituras foram a base, o evangelho a grande inspiração daqueles heróis e Cristo foi o centro de tudo

mas anunciando o conteúdo com formas que alcancem esta geração! Uma igreja herdeira da Reforma aplica a tradição de seus pais, encarna o evangelho, ousa na vivência desse evangelho e a exemplo de seu Senhor, ama, acolhe, relaciona, se envolve. Entende a sua urgência de amar a Deus amando as pessoas, servindo à comunidade! Que o legado reformado inspirado nas Escrituras (2Ts 2.15-17) nos inspire a sermos cada vez mais uma igreja que responda e impacte a nossa geração! Soli deo gloria!

o que construíram. Essa é a tradição reformada, pois todos os pressupostos de que dela surgiram tiveram suas origens nas Escrituras, no evangelho e em Cristo! A coragem, ousadia, piedade, a hermenêutica lúcida e coerente tanto da vida como das Escrituras, tudo isso me inspirou e ainda me inspira a ser a cada dia continuador desta história... na minha geração, no meu contexto, sem tradicionalismo, com formas e não fôrmas, continuador e não um mero guardião de algo cristalizado, não usando fôrmas do século passado para falar a geração presente,

O Rev. Geovani Antônio Cesário é o pastor da IP Guaranésia – MG.

Bíblia Comemorativa

Inseparáveis: a Bíblia e a Reforma Como parte das comemorações pela passagem dos 500 anos da Reforma Protestante do século 16, a Igreja Presbiteriana do Brasil lança sua Bíblia Edição Comemorativa 500 anos da Reforma, com um caderno especial recontando a história dessa ligação

definitiva – Escrituras e Reforma –, desde os séculos 15 e 16 até sua chegada ao Brasil, franqueada ao povo em geral para sua leitura e estudo. Isso além do caderno com o hinário presbiteriano, Novo Cântico, que regularmente acompanha as edições da

Bíblia comercializadas pela Casa Editora Presbiteriana. Como denominação confessional e tendo adotado como símbolos de fé a Confissão e os Catecismos de Westminster, a IPB honra essa história e empenha-se em manter com a Escritura a mesma rela-

ção, repudiando desvios que neguem a Escritura e descaracterizem nossa fé bíblica, resgatada pela Reforma. Os interessados em adquirir um exemplar dessa edição comemorativa podem acessar o site www. editoraculturacrista.com.br


Brasil Presbiteriano

B-4 12

Setembro de 2017

A Igreja como expressão e agente da Glória do Deus Trino Hermisten Costa

A

glória de Deus permanece eternamente inalterada em todas as circunstâncias. Ele criou todas as coisas, inclusive a igreja, para a sua glória, que não lhe é atribuída, acrescentada, diminuída ou mesmo esgotada em sua complexidade; é-lhe totalmente intrínseca. Ele é o Rei, o Senhor e Pai da Glória (Sl 24.7-10; At 7.2; Ef 1.17) que, por meio de seu Filho “vestido de nossa carne, se revelou agora para ser o Rei da glória e Senhor dos Exércitos” (J. Calvino). (1Co 2.8; Tg 2.1/Jo 1.14). Portanto, o alvo final de todas as coisas é a glória Deus. Nada é mais elevado ou importante do que o próprio Deus. Aqui temos um desafio para cada um e para a igreja como todo: abrir mão de nossos interesses aparentemente mais relevantes pelo que, de fato, é urgentemente relevante em sua própria essência. Jesus Cristo desafia a igreja a assumir a sua identidade, não uma máscara periódica: viver já nesta era como agente da glória de Deus (Mt 5.14-16). O modo como pregamos o evangelho reflete o nosso conceito de Deus. Quando perdemos a dimensão de quem ele é, as demais coisas são descaracterizadas. Somente a compreensão correta de quem é Deus pode conferir sentido à nossa existência e a todo o nosso

labor missionário. Diante da majestade de Deus todas as demais coisas tornamse aos nossos olhos, o que realmente são, pequenas. A perda da dimensão correta da Majestade divina tem como causa primeira, o descrédito para com a sua Palavra. Quando não conhecemos (cremos) nas Escrituras, também não conhecemos a Deus (Mt 22.29/Os 4.1,6). A mensagem que anunciamos jamais será o evangelho se consistir apenas numa mensagem de alívio para as supostas necessidades do homem. Quando proclamamos o evangelho, estamos glorificando a Deus por meio de nossa obediência ao seu mandamento de anunciar a mensagem de redenção a todos os homens. Contudo, devemos também ter em mente que o nosso propósito em assim fazer deve ser o de glorificar a Deus no anúncio de sua mensagem redentiva. Deus é glorificado não somente por intermédio dos que creem, quando a sua misericórdia resplandece, mas, mesmo através daqueles que rejeitam a mensagem, sendo glorificada a sua paciência e justiça (Rm 9.22-24) que são tão santas como o seu amor e misericórdia. Portanto, a Igreja de Deus, no seu ato essencial de proclamar as virtudes divinas (1Pe 2.910), tem como objetivo final a glória de Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31). A evangelização visa glorificar a Deus

por meio do anúncio da sua natureza e de sua obra eficaz efetivada em Cristo Jesus. Ousamos dizer, que a evangelização tem fundamentalmente como alvo final, glorificar a Deus; e ele é glorificado através da salvação de seu povo (Is 43.7; Jo 17.6-26; Ef 1.7/2Ts 1.10-12) e a consequente confissão de sua soberania (Fp 2.5-11). A glória de Deus é muito maior do que a nossa salvação. Mas também sabemos que Jesus Cristo é glorificado na salvação de seus discípulos. O Espírito dirige a Igreja na glorificação de Cristo, ensinando-lhe a obediência proveniente da fé. Para isso, temos no Filho o próprio paradigma a ser seguido. Foi justamente na obediência perfeita ao Pai, que o Filho o glorificou. “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4). Quando evangelizamos estamos revelando o nosso amor a Deus e ao nosso próximo, glorificando a Deus, sendo-lhe obedientes na vivência de nossa natureza de proclamação e serviço (Jo 14.21). A obediência é fruto da genuína fé. Na obediência a Cristo, a igreja o glorifica. O Espírito que cumpre seu ministério obedientemente (Jo 16.1314), conduz a igreja a ser a glorificação de Cristo em sua obediência (Jo 17.9-10). Se pudéssemos imaginar na eternidade alguém perguntando sobre os frutos da obra do Pai, do Filho e do

Espírito Santo, encontraríamos a resposta na indicação jubilosa da igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue e preservou até o fim (At 20.28/Is 43.7/ Ef 1.3-14; 2.6-7). O evangelho deve ser proclamado em sua inteireza a todos os homens e ao homem todo. A Teologia oferece solidez na transmissão dessa verdade, mostrando quem é Deus e a real necessidade do homem. Quando a evangelização se transforma apenas em questão de estatística ― número de membros, tamanho do edifício, arrecadação, relevância social das pessoas que frequentam os cultos, etc. ―, há muito deixamos de compreender o genuíno significado do evangelho. A grandeza e importância da Igreja está em seu Senhor; as demais coisas são periféricas. A mensagem do evangelho propõe-se a anunciar a Deus na beleza de sua santidade, sabendo que Deus será glorificado por meio de nossa fidelidade à sua Palavra. O livro de Atos se constitui no maior relato da glorificação de Cristo pelo Espírito: a expansão missionária e a edificação dos crentes. Quando cristãos sinceros pregavam o evangelho, e homens e mulheres eram transformados pelo seu poder, Cristo estava sendo glorificado. E esse ainda é o modo efetivo de glorificar a Deus obedecendo aos seus mandamen-

tos. Quando a liderança da Igreja de Jerusalém foi convencida por Pedro ― como ele também o fora pelo Senhor ― de que a mensagem do evangelho era para todos, sem exceção; com alegria glorificaram a Deus (At 11.18; 13.48; At 21.20). Notemos que em todas essas manifestações, Deus e a sua mensagem é que eram engrandecidos: a glória pertence unicamente a Deus. A Igreja prega o evangelho e ora para que Deus, somente Deus seja glorificado por meio de sua missão (2Ts 3.1). De fato, Deus o será todas as vezes que a igreja lhe for fiel. A Teologia Reformada enfatiza que a Glória de Deus deve ser o alvo de todo o nosso labor. A partir dessa perspectiva teocêntrica é que todas as demais coisas encontram a sua devida relevância. Por sua vez, quer aqui, quer na eternidade a igreja permanecerá como testemunho, inclusive para os anjos, das diversas perfeições de Deus que se agenciam em perfeita sabedoria para constituir, santificar e preservar a igreja: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais” (Ef 3.10). O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa integra a equipe de pastores da 1ª IP de São Bernardo do Campo, SP, e é Pastor-Efetivo da IP do Jardim Marilene, Diadema, SP.


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

9

FORÇAS DE INTEGRAÇÃO

As Sociedades Internas e o Sistema Presbiteriano Jedeías Duarte

O

Sistema Presbiteriano, mais que um Sistema de Governo, é um modelo teológico. Uma das fragilidades encontradas no Sistema Federativo é a dificuldade de re-plicá-lo na geração seguinte. Consequentemente, ele pode se tornar Episcopal ou Con-gregacional. A Igreja Presbiteriana do Brasil é definida por sua Constituição como “uma federação de Igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve... (Artigo 1, CI-IPB). Como federação de Igrejas locais, a autonomia e sobrevivência da denomina-ção pressupõe alguns princípios; entre outros, o treinamento de membros na capaci-tação teológica e moral (caráter e discipulado) e na caminhada dentro da estrutura da deno-

minação. Agindo assim é possível buscar uma multiplicação de lideranças na sua geração e nas seguintes. Dentro de uma denominação a coluna central é a Teologia, que é derramada na vida e no crescimento integral dos crentes que são treinados. Esse é um fator importante para o crescimento das igrejas. No funcionamento federativo, acontece na Igreja o exercício da Comunhão dos Santos (externado pelo Discipulado mútuo); a Integração dos crentes em ambientes e relacionamentos saudáveis; a Evangelização ao redor e as conexões com os movimen-tos missionários existentes. Com a preparação de crianças, adolescentes, jovens, mu-lheres e homens para o pleno exercício dos seus dons espirituais numa atuação comu-nitária local, regional, nacional e universal, por outro lado, avançam no Sistema Fede -rativo, aprendendo como interagir com as autoridades e com os concílios da Igreja

de Cristo a partir de sua própria denominação. O exercício dos dons espirituais na Igreja local pode acontecer através das Soci -edades Internas, em que os papéis e funções estabelecidas pelas Escrituras são desen-volvidos e a estrutura denominacional se torna instrumento de crescimento espiritual. As Sociedades Internas, chamadas desde um passado recente de Forças de In-tegração, constituem trilhos sobre os quais uma criança inicia sua jornada na IPB, re-cebe treinamento, aprende o funcionamento da Igreja, desperta para a existência e aprende como trabalhar em conexões e relacionamentos saudáveis, ingressa na vida com amizades seguras e amadurece no convívio com outros pares em sua caminhada. Não precisamos experimentar outros modelos de funcionamento denominaci -onal, uma vez que o nosso é dinâmico e pedagógico. Não é perfeito, mas pode ser

aperfeiçoado. Resgatando princípios bíblicos, teremos uma longa caminhada, teremos ferramentas úteis, atualizáveis e potencializadoras para as futuras gerações de presbi-terianos no Brasil. Por fim, lembro os textos da Constituição da IPB que apontam as obrigações dos Concílios no cuidado com as Sociedades Internas: Conselho: Art. 83 – h) supervisionar, orientar e superintender a obra de educação reli-giosa, o trabalho das sociedades auxiliadoras femininas, das uniões de mocidade e outras organizações da Igreja, bem como a obra educativa em geral e quaisquer ativida-des espirituais. Sínodos: Art. 94 – c) superintender a obra de evangelização, de educa-ção religiosa, o trabalho feminino e o da mocidade, bem como, as instituições religio-sas, educativas e sociais, no âmbito sinodal, de acordo com os padrões estabelecidos pelo Supremo Concílio. Supremo Concílio: Artigo 97 –

l) superintender, por meio de secretarias especializadas, o trabalho feminino, da mocidade e de educação religiosa e as atividades da infância. Se desejamos uma Igreja local, regional e uma denominação multiplicadora, não podemos esquecer as Sociedades Internas. É possível que pequenas adaptações sejam necessárias numa ou em outra região. Mas, certamente, temos a melhor escola de líderes, o bom ginásio para exercício dos Dons Espirituais e um excelente ambiente de desenvolvimento saudável dos relacionamentos interpessoais e desenvolvimento da masculinidade e da feminilidade nos padrões das Escrituras. Que Deus nos ajude! O Rev. Dr. Jedeias de Almeida Duarte é Professor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Revitalização e Multiplicação de Igrejas (CPAJ/Mackenzie); Presidente do Sínodo Sul do Brasil; SE do PMCIPB (Plano Missionário Cooperativo); Pastor Auxiliar da Igreja Presbiteriana de Canoas, RS.

Encontro de Líderes

Rev. Roberto Brasileiro e participantes do Encontro de Líderes

A IP de Varginha realizou no dia 22 de junho um Encontro de Líderes, aberto para todos os membros da igreja. O evento incluiu palestra e culto, ambos com a palavra do Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do Supremo Concílio. Os participantes aproveitaram a presença do Presidente para tirarem suas dúvidas sobre os assuntos da IPB e liderança. Além da igreja de Varginha, também compareceram as igrejas de Alfenas, Três Corações, Três Pontas, Campanha, Perdões, Carmo da Cachoeira e a 2ª de Varginha.


Brasil Presbiteriano

10

Setembro de 2017

EVANGELIZAÇÃO E MISSÕES

O desafio da Missão Caiuá “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!”(Is 52.7). Gecy de Macedo

O

Sínodo Sudoeste Paulista tem obedecido ao “Ide” de Cristo, apoiando o trabalho da equipe que trabalha na Missão Evangélica Caiuá, com índios de diferentes etnias, sob a direção e coordenação do Rev. Benjamim Benedito Bernardes e Dna. Margarida Gennari Bernardes. Nos dias 14 a 17 de junho, como acontece há mais de dez anos, o Sínodo enviou à Missão uma equipe de líderes de várias igrejas de

seus presbitérios e membros de igrejas de outros Sínodos que apoiam o trabalho promovido pelo SDP. Desta vez, éramos 73 voluntários, formando oito equipes de trabalho visitando a aldeia indígena de Taquara, promovendo o Mackenzie Voluntário. Foram realizadas as seguintes ações: corte de cabelos, maquiagens, gincanas, futebol com as crianças, histórias bíblicas. Foram distribuídos 2.857 peças de roupas, 270 bolas 380 pares de calçados, e servidas 400

refeições. Foram realizadas 941 ações. Para o hospital da Missão “Porta da Esperança”, foram entregues 2.358 fraldas, 1.051 seringas descartáveis, outros materiais hospitalares 261. Para distribuição pela Missão: 93 peças de roupas de cama/mesa/banho; 25 latas de leite em pó,; 47 brinquedos, 75 bolsas, 26 cintos, 270 bolas. Ao todo, 4.249 itens. Segundo seu presidente, Presb. Clodoaldo Waldemar Furlan, o Sínodo tem apoia-

do o trabalho da Missão na construção de templos, casas pastorais, nas aldeias indígenas, e está fazendo mais uma campanha para construção do templo e da casa pastoral na aldeia de Taquara, que foi visitada nessa ocasião. Registra-se, também, o apoio do Instituto Presbiteriano Mackenzie; do Conselho de Ação Social da IPB (CAS), na pessoa do seu presidente, Presb. Clineu Aparecido Francisco; das Confederações Nacionais de SAFs e UPHs. Estiveram, também, presen-

tes, membros da Federação de Ribeirão Preto. Em novembro, nos dias 1 a 5, o Sínodo retornará à Missão com mais donativos, e quatro ônibus com voluntários para realização do Mackenzie Voluntários. A Missão Caiuá, localizada no município de Dourados, MS, é uma entidade da IPB em parceria com a IPI, para alcançar os povos indígenas com o evangelho de Cristo. O Rev. Gecy Soares de Macedo é Secretário Executivo do Presbitério de Itapeva e Pastor Auxiliar na IP Central de Itapeva.

AÇÃO SOCIAL

AEB assume projeto de atendimento emergencial No dia 13 de julho, a Associação Evangélica Beneficente, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, assumiu a terceira unidade de Atendimento Diário Emergencial (ATENDE 3) destinada ao tratamento e reinserção para pessoas com dependência química nas aglomerações da Cracolândia. Na ocasião, a Orquestra do Projeto Criar&Tocar também esteve presente para celebrar o momento.

O

convite à AEB se deve ao seu destaque e referência no atendimento realizado à população em situação de rua, na cidade de São Paulo, através da Casa Porto Seguro,

O Secretário da SMADS, Filipe Sabará, apresentou a proposta de serviços do ATENDE 3. Segundo o site da prefeitura de São Paulo, ele acredita no equipamento

como um meio de transformação para os atendidos. “Oferecemos serviços para que sejam realmente uma porta de entrada para outra realidade”, afirmou. A estrutura do projeto conta com espaços de descanso, banheiros, refeitório, consultórios de atendimento psicossocial, cabeleireiro e barbearia. Além disso, ele também oferece oficinas e atividades com foco na reinserção social dos conviventes. Trinta profissionais foram contratados através

de um grande processo seletivo realizado no dia 10 de julho, na sede administrativa da AEB. Entre as pessoas contratadas estão, assistente técnico, assistente social, psicólogo, orientador social e agente operacional. O cargo de Gerente de Serviços ficou com Dinei Spadoni, o ex-gerente da Casa Porto Seguro. O presidente da AEB, Marcelo Custódio de Andrade, entende o projeto como uma oportunidade de ajudar a situação deli-

cada da Cracolândia em São Paulo, atualmente. “Nós estamos realmente muito felizes com essa parceria, mas não deixa de ser um grande desafio. Nós estamos falando de pessoas que estão em dependência química, que estão sendo desacreditadas por muitos, mas a AEB tem confiado no poder de Deus e na Sua providência, e sabemos que estamos aqui pela mão dele”, contou. Press Release AEB


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

11

PRESBITERIANISMO EM FOCO

O Internato Presbiteriano de Parnaíba (PI) Marcone Carvalho

D

e 1959 a 1987, na cidade de Parnaíba, Piauí, funcionou o Internato Presbiteriano. Criado pelo casal Robert e Phyllis Marvin, esse pensionato foi a casa de dezenas de adolescentes e jovens do interior do Maranhão e Piauí. Os internos eram egressos de igrejas presbiterianas e não pagavam pela moradia. Muitos deles vieram a ser pastores, evangelistas e membros atuantes nas igrejas da região. O Internato Presbiteriano foi umas das frentes de trabalho de Robert e Phyllis, norte-americanos que vieram ao Brasil como missionários da PCUS, em 1956. No ano seguinte, o casal instalou-se em São Luís – MA. Nessa época, havia somente duas igrejas presbiterianas no Maranhão e uma no Piauí. No interior, congregações e pontos de pregação careciam de assistência regular. Os deslocamentos eram precários e dificultosos. Na faixa territorial entre São Luís e Parnaíba, a obra presbiteriana já havia sido iniciada em alguns lugares. Em outros, a evangelização foi iniciada nesse período. Devido à posição de Parnaíba, o casal Marvin decidiu instalar sua base ali, passando a dar assistência à congregação local e às demais da região. Percebendo a necessidade que os filhos dos crentes tinham de realizar seus estudos, decidiuse iniciar o internato para

mulheres na residência do Presb. Francisco de Mattos e de sua esposa Oyamir Chagas. Depois de 1960, com a mudança dos Marvin de São Luís para Parnaíba, foi alugado um imóvel próprio para o pensionato feminino. Em 1962, foi iniciado o internato masculino. Os primeiros moradores foram hospedados na casa do Rev. Luiz Bernardo de Oliveira, pastor da congregação de Parnaíba. Com a chegada de mais rapazes, ainda na década de 1960, alugou-se uma casa para ser o pensionato masculino. O número de residentes (homens e mulheres) oscilava entre 15 e 25 pessoas, com idade entre 13 e 27 anos. A rotina de segunda a sexta era caracterizada pelas compras feitas pelos rapazes, antes das 6 da manhã. As refeições eram servidas no internato feminino. Os serviços domésticos ficavam por conta dos estudantes. Todos deviam seguir as regras de conduta, dedicar-se aos estudos e, à noite, fazer-se presentes nos dias de atividade da igreja local. Algumas internas, especialmente as que cursavam o magistério, ensinavam na escola fundada pelos Marvin. Dessa iniciativa nasceu a atual Escola Presbiteriana Rev. Erasmo Martins Ferreira. Nos fins de semana, os internos cooperavam na obra eclesiástica. Em Parnaíba ou em alguma cidade interiorana, os jovens pregavam, tocavam e davam aulas de Escola Dominical.

Rev. Marvin, que dispunha de avião monomotor, barco, jipe e Kombi, no sábado à tarde ou no domingo bem cedo, distribuía alguns rapazes e moças em certas localidades. Eles dormiam nas casas dos membros das congregações e eram buscados ainda no domingo ou na segunda de manhã. Durante as férias escolares, alguns jovens chegavam a passar semanas nesses interiores. Dessa maneira, eles eram treinados para o trabalho evangelístico, as congregações recebiam assistência e os povoados eram evangelizados. Foi assim que várias igrejas nasceram ou se desenvolveram. A senhora Phyllis capacitava as moças em educação religiosa e música, e o Rev. Marvin fazia o mesmo com os rapazes. Ao longo dos anos, o Internato Presbiteriano foi se consolidando como um local de apoio para as famílias presbiterianas da região e veio a ser um meio utilizado por Deus para servir às igrejas do Maranhão e Piauí com obreiros(as) e pastores. Entre os residentes, era comum a permanência de sete anos no internato, período que cobria as séries do primeiro e segundo graus. Para impulsionar a formação de obreiros, de 1982 a 1985, nas dependências da Igreja Presbiteriana Central (IPC), foi estabelecido o Instituto Bíblico 12 de Agosto, do qual alguns residentes do pensionato foram alunos. Outro aspecto que também caracterizou a vida

dos internos foi a recreação social. Esporadicamente eram proporcionados passeios e diversão em um sítio ou na praia. O casal Marvin permaneceu em Parnaíba até 1985. Antes de mudar-se para Pelotas – RS, havia transferido a administração do Internato Presbiteriano e do Instituto ao Rev. Robert Allen Clark e à sua esposa, Janet. Com a morte repentina de Clark, em 1986, e também devido à abertura de escolas em regiões antes desprovidas, o internato enfrentou dificuldades para seguir funcionando e encerrou suas atividades em 1987. Além de servir de casa para adolescentes e jovens durante seus estudos, o Internato ensejou a obra de evangelização e consolidação do presbiterianismo nesse rincão nordestino. Localidades

como Tutoia, Porto de Areia, Lagoinhas, Frexeira, Tingidor, Barreirinhas e Araioses, no Maranhão; e Parnaíba, Piripiri, Buriti dos Lopes, Piracuruca e Campo Maior, no Piauí, devem muito a esse empreendimento. Dele saíram alguns pastores da IPB: Oséas Pereira, Izaias da Silva, José de Arimatéia, Rubem Campos, Antônio José Campos, José Neris, Irineu da Silva Neto, Silvio Rodrigues, Manoel de Jesus, Altonildon Sousa, Herbete de Jesus, João Batista dos Santos e Silvarlem Paz. Entre as mulheres, a egressa mais conhecida foi Darcy Veras de Azevedo, que ocupou o posto de tesoureira da Confederação Nacional da SAF, de 1998 a 2002. O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago, Chile, e colunista regular do Brasil Presbiteriano.


Brasil Presbiteriano

12

Setembro de 2017

DIA DA ESCOLA DOMINICAL

Vamos todos à Escola Sagrada A iniciativa histórica de Robert Raikes, fundando na Inglaterra a Escola Dominical, nasceu do seu desejo de alcançar as crianças pobres que vadiavam pelas ruas de Gloucester aos domingos. Ele as reuniu em julho de 1780 no único dia em que não trabalhavam. A ideia, porém, ampliou-se de modo não imaginado. Cláudio Marra

A

pós algum tempo, as igrejas adotaram o movimento, deram-lhe orientação doutrinária e passaram a alcançar crianças e adultos de diferentes níveis sociais. A Escola Dominical tornou-se uma agência da igreja para o ensino de seus membros. Depois de metodistas e congregacionais, no século 19 os presbiterianos passaram do antigo modelo para a Escola Dominical. O modelo antigo Reformado consistia de visitação às famílias por pastores e presbíteros, com a catequese sendo conduzida nas casas. Os primeiros missionários protestantes trouxeram a Escola Dominical para o Brasil. Apenas quatro meses depois da chegada do metodista Rev. Spaulding (29 de abril de 1836), já existia uma animada Escola. Esse trabalho foi suspenso em 1841, com o retorno do Rev. Spaulding aos Estados Unidos, mas a 10 de maio de 1855 chegaram os congregacionais. O médico e pastor escocês Dr. Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley, iniciaram a sua Escola Domi-

nical. A 8 de junho de 1856, além dos adultos, a Escola contava com dez crianças. Em julho já alcançava treze alunos. Em outubro ficou entre vinte e vinte e cinco, e sempre crescendo. O casal mudou-se para o Rio de Janeiro e a escola passou a funcionar em sua nova casa, sendo descontinuado o trabalho em Petrópolis. Simonton iniciou esse trabalho no Rio de Janeiro a 22 de abril de 1860, apenas oito meses após seu desembarque. As classes para adultos começaram em 1861. A primeira Escola Dominical em São Paulo foi organizada por Alexander Blackford a 17 de abril de 1864, com sete alunos, só crianças. Em Brotas, no estado de São Paulo, a Escola Dominical foi organizada pelo Rev. Robert Lenington. No Rio de Janeiro ela veio a ser chamada de “Escola de Domingo” e logo tinha classes para todas as idades; em Rio Claro, a Escola crescia com entusiasmo; como em Rio Novo, em Campinas e Sorocaba. Na 2ª Igreja Presbiteriana de São Paulo, a Escola foi organizada a 18 de outubro de 1893, e havia classes sob a direção das professoras da Escola

Americana. Por volta de 1868, havia apenas três Escolas Dominicais organizadas no país todo, mas em 1886, com catorze escolas no país, o jornal presbiteriano Imprensa Evangélica começou a traduzir e a publicar as Lições Bíblicas Internacionais. A Escola Dominical fez parte da preocupação dos líderes desde o começo. Mesmo sem programas regulares para treinamento de professores, lá estava ela. A Igreja Unida em São Paulo construiu um prédio maior e mudou-se em 1915. A Escola Dominical registrava oitenta alunos. Após seu surgimento no século 18 na Inglaterra, a Escola Dominical migrou para o Novo Mundo e daí para campos missionários. No Brasil, os presbiterianos não adotaram o antigo modelo Reformado de catequese e instrução das famílias conduzido por pastores e presbíteros, trocando-o pela Escola Dominical. Conquanto a Escola Dominical tenha vindo para ficar, a falta de professores treinados tem sido uma séria dificuldade desde o começo. A publicação de

um currículo e a organização de congressos periódicos foram (e ainda são) boas medidas para ajudar a resolver o problema. Mas nada disso supre a falta de treinamento regular de professores nas igrejas locais, o que se depreende do clamor por professores capacitados que se ouve na maioria das igrejas. Engajada na tarefa de discipular ensinando a Escritura, além dos congressos promovidos pelo CECEP, a

Editora Cultura Cristã tem publicado seu currículo para a Escola Dominical e suas equipes têm visitado igrejas em todo o país promovendo o treinamento de professores. Para participar desse programa, líderes locais devem entrar em contato com o Editor (claudiomarra@cep. org.br). Vamos valorizar essa herança. O Rev. Cláudio Marra é o Editor do Currículo Cultura Cristã e autor do livro A Igreja Discipuladora.


Setembro de 2017

Brasil Presbiteriano

13

EDUCAÇÃO CRISTÃ

Professor que é professor mantém a forma espiritual Cláudio Marra

1. Alimenta-se bem. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Dt 8.3; Mt 4.4). O objetivo divino ao dar aos israelitas o maná não foi primeiro alimentá-los: “(...) ele te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca de Deus viverá o homem. “Nosso problema é não ter pão neste deserto”, choramingavam os israelitas. Mas o problema deles era outro e, mesmo tendo recebido o maná durante quarenta anos, ainda assim não entenderam que nem só de pão viverá o homem. O problema era a incredulidade. O professor que é professor mesmo cuidará de sua saúde com uma alimentação diária bem equilibrada, mas entenderá que sua maior necessidade é alimentar-se da Palavra de Deus. 2. Medita na Palavra. O professor bem-aventurado tem prazer na lei do Senhor e nela “medita de dia e de noite” (Sl 1.2). Um exemplo sempre lembrado ao se tratar da meditação é o dos ruminantes que, depois de uma mastigação inicial e ingestão do alimento, dedicam-se a “rever” o que ingeriram. Na verdade, usamos o verbo “ruminar” como sinônimo de reflexão e avaliação. O professor não apenas lê e memoriza, mas também, e principalmente, medita na Palavra, aprofundando seu entendimento dela e captando as mais amplas possibilidades de sua aplicação.

3. Relaciona-se com o Senhor pela oração. “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós” (Tg 4.8b). Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Com a Queda, essas imagem e semelhança ficaram bastante distorcidas, mas não se perderam inteiramente. Um dos aspectos da imagem de Deus em nós é o fato de sermos seres relacionais. As pessoas da Deidade relacionam-se por toda a eternidade – Pai, Filho e Espírito Santo. Deus nos fez para o relacionamento com ele, primeiro, e depois conosco mesmos e com o nosso próximo. O Santo Senhor esconde o seu rosto do pecado, mas Jesus, com seu sacrifício expiatório, tornou o Pai Justo favorável aos que ele escolheu e, graças ao ato propiciatório de Cristo, voltamos à comunhão e comunicação com Deus. Por essa razão, o professor não se dedicará regularmente à oração apenas para apresentar ao Senhor a sua lista atualizada de pedidos e reivindicações – o que é bíblico e devemos com insistência fazer em nome de Jesus. Mais do que isso, porém, sua oração será um meio de expressar sua gratidão e alegria no Senhor, seu prazer no relacionamento com ele. Como é bom falarmos com quem amamos! 4. Valoriza a companhia dos irmãos. “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.25). A vida comunitária cristã é uma das consequências de termos Jesus como nosso sumo sacerdote e termos acesso à presença de Deus. Com o

caminho aberto, vamos nos achegando a Deus e aos irmãos. É que antes éramos estranhos, inimigos, agora somos da mesma família. Vamos nos congregar com os irmãos porque isso agora é possível, mas também porque é necessário. Precisamos das palavras de admoestação e de orientação da parte deles, e eles precisarão das nossas. Vamos suportar uns aos outros, isto é, vamos praticar apoio mútuo generalizado que impede a queda.

Para isso, o professor não poderá ser um paraquedista que só pode ser visto nos momentos de aula. Ele precisará do convívio regular com a turma para desenvolver e aprofundar relacionamentos, de modo a conquistar a confiança dos seus alunos e conhecê-los a ponto de poder dizer uma palavra orientadora que é pertinente e que será bem recebida, por ser respeitada, e até aguardada. O Rev. Cláudio Marra é o Editor do Currículo Cultura Cristã e autor do livro A Igreja Discipuladora.


Brasil Presbiteriano

14

Setembro de 2017

NO BRASIL E NO MUNDO

Qual é a religião da Coreia do Norte? Pyongyang já foi conhecida como a Jerusalém do Oriente. Hoje, quem entrar com uma Bíblia no país é preso Duda Teixeira

A

capital da Coreia do Norte, Pyongyang, já foi conhecida como a “Jerusalém do Oriente” até Kim Il Sung, o avô do ditador Kim Jong-un, tomar o poder. Desde meados do século 19, vários missionários norte-americanos foram para a Coreia, que ainda era um único país, para tentar converter seus habitantes. Até então, eles seguiam o budismo, o confucionismo e o xamanismo. Além de levar a sua crença, os norte-americanos também influenciaram bastante a educação, por meio de colégios religiosos, e a vida intelectual. Ainda que os norte-americanos tenham chegado primeiro em Seul, atual capital da Coreia do Sul, eles se deram melhor no norte do país, principalmente em Pyongyang,

onde abriram várias igrejas. Esses cristãos missionários tiveram um papel importantíssimo na Coreia, pois participaram ativamente dos movimentos de independência, depois que a península entrou sob domínio do Japão, em 1905. Dos 33 integrantes do movimento de independência Primeiro de Março, dezesseis eram cristãos, sendo que dez deles eram do norte do país. Nos anos 1940, quando uma guerra entre os países aliados contra o Eixo (Japão, Alemanha e Itália) era iminente, os Estados Unidos retiraram seus religiosos da Coreia dominada pelos japoneses. Kim Il-Sung, o avô do atual ditador, é de uma família cristã, mas entendeu que precisava eliminar essa influência do cristianismo para governar soberano. Quando ele assumiu o poder nos anos 1940, com

a ajuda da União Soviética, todas as religiões foram banidas, assim como em outros países socialistas. Templos e igrejas foram fechados. Livros sagrados foram destruídos. Os cristãos norte-americanos então foram perseguidos e amaldiçoados pela propaganda oficial. Eles passaram a ser vistos como símbolo do Ocidente e da influência externa. Entre os quase 1,5 milhão de refugiados que fugiram da recém-criada Coreia do Norte, muitos eram cristãos. Em 1955, em um discurso público, Kim Il-Sung começou a propagandear sua própria ideologia, a juche. A julgar pelo seu caráter personalista, pela exigência de fidelidade total e pela execução de rituais, a juche constitui outra religião. Kim Il Sung, que hoje aparece em 40 mil estátuas no país, é considerado como um ser divino e infalível. Mesmo depois de ter morrido, ele continua sendo considerado como o “eterno presidente” do país.

Lá, os anos são contados a partir do seu nascimento. O ano de 2017, por exemplo, é o Juche 106, porque o avô Kim estaria fazendo 106 anos. A narrativa oficial conta que, quando seu filho Kim Jong Il nasceu, em 1942, um arco-íris duplo apareceu no céu e uma nova estrela surgiu. É quase que uma reedição do nascimento de Jesus Cristo. Todas as casas obrigatoriamente precisam ter uma foto de Kim Il Sung e de seu filho, Kim Jong-il. Patrulhas policiais costumam invadir a casa das pessoas para ver se a regra está sendo respeitada. Os retratos precisam estar sempre limpos e bem localizados. “Se um incêndio começa em um prédio, as pessoas devem mostrar a sua fidelidade correndo em direção para pegar os retratos”, disse um exilado norte-coreano para o livro Persecuted: de Global Assault on Christians, de Paul Marshall, Lela Gilbert e Nina Shea (Thomas Nelson, 2013). Também é preciso depositar flores em frente às

estátuas de Kim Il-Sung no início de cada ano. Para os que seguem à risca as normas governamentais, é prometida a vida eterna. Quem for pego rezando para outro deus, fora da linhagem sagrada oficial, ou for flagrado com uma Bíblia, pode ser mandado para os campos de trabalhos forçados ou ser executado. Seus familiares também podem desaparecer e podem ser punidos por três gerações. Impedidos de se reunir em igrejas, cristãos rezam sozinhos ou com alguns poucos familiares, secretamente em suas casas. Na constituição da Coreia do Norte, está escrito que a liberdade de religião é permitida. Pura mentira. Há cinco igrejas no país, mas elas existem apenas para enganar turistas. Não há padres e, portanto, não se pode dar a comunhão. O país é o que mais persegue cristãos em todo o mundo, segundo a ONG Open Doors. Duda Teixeira para Veja.com

“Não posso negar que minha filha esteja entre os cristãos” Família de origem muçulmana é pressionada após a conversão de uma menina de 12 anos; a mãe também se converteu recentemente.

K

adidja é uma menina cristã de 12 anos, que vive no norte de Camarões, África, com sua mãe e três irmãos mais novos. Sua região é dominada pelos muçulmanos. O pai da garota faleceu um tempo atrás e, desde então, sua mãe tem

lutado para seguir em frente. A situação ficou mais difícil quando Kadidja foi diagnosticada com cirrose hepática. Até agora não se sabe como ela contraiu a doença. Os médicos dizem que pode ter sido causada por uma

infecção viral por hepatite A ou B ou ainda por exposição a produtos químicos, entre outras possibilidades. A doença a faz sentir fraqueza e cansaço o tempo todo, além de apresentar manchas doloridas pelo corpo. Regularmente, ela precisa ir ao hospital para tratamento especializado. Desde o seu diagnóstico, Kadidja entrou em contato com vizinhos cristãos e se

converteu ao cristianismo. A partir daí, ela aproveitou todas as oportunidades para comparecer à igreja e ter comunhão com os irmãos na fé. “Quando estou na igreja, sinto-me à vontade, apesar de estar com o corpo doente”, confessa. A comunidade muçulmana não está feliz com isso e tem pressionado sua mãe, Haoua. Ela também recebe ameaças. Mas Kadidja está deter-

minada. “Sua fé é notável”, disse um líder cristão local. “Não posso negar que minha filha esteja entre os cristãos, eles são tão bons para ela. Deram apoio espiritual e até material. Por tudo o que vi, eu também decidi entregar minha vida a Jesus. Cheguei a pensar que não veria minha filha em pé novamente, mas ela está melhorando a cada dia”, conclui a mãe.


Brasil Presbiteriano

Setembro de 2017

15

VIDA DEVOCIONAL

Orando com os salmos de lamento “Meu Deus, meu Deus, por que tu me abandonastes?” Wilson de Angelo Cunha

A

Bíblia registra diferentes tipos de orações e dentre elas se encontra o gênero chamado “lamento” ou “lamentação.” De fato, a maior parte das orações encontradas na Bíblia são orações de lamento. Embora eruditos discordem sobre quais salmos devam ser categorizados como lamento, pode-se dizer com segurança que quase metade dos salmos encontrados no Saltério são salmos de lamento. De modo sucinto, o lamento mais comum encontrado na Bíblia é a oração por ajuda em tempos de aflição pessoal ou comunal (veja, por exemplo, Salmo 13; 74) ou como um protesto contra as injustiças desse mundo (veja, por exemplo, Salmo 10). As partes principais de uma oração de lamento podem ser exemplificadas com o salmo 13 e elas são: (a) queixa (Salmo 13:1-2); (b) Petição (Salmo 13:3-4); (c) Expressão de confiança em Deus (Salmo 13:5); e (d) voto de louvor ou louvor no caso da oração ter sido atendida (Salmo 13:6). Contudo, essas partes não precisam ser encontradas nessa ordem e nem sempre elas todas aparecem em uma única oração de lamento. Existem dois tipos de lamento na Bíblia: (a) lamento pessoal, sendo a oração de um indivíduo; e (b) lamento comunal, sendo a oração da comunidade. A quantidade alta de lamento na Bíblia indica que elas

desempenharam um papel importante na vida de fé do povo de Deus. Orações de lamento não são encontradas somente nos salmos, mas estão espalhadas pelo Antigo Testamento inteiro (veja, por exemplo, Habacuque 1). No Novo Testamento, também as encontramos, sendo a mais conhecida a de Jesus na cruz: “meu Deus, meu Deus, por que tu me abandonastes?” (Mateus 27:46). A Igreja também é vista praticando o lamento em Apocalipse 6:9-10. Mas por que prestar atenção às orações de lamento? Em primeiro lugar, orações de lamento oferecem a oportunidade para exercitarmos a nossa fé diante de aflições pessoais ou comunais e diante das injustiças desse mundo. Essas orações geralmente se dirigem a Deus como “meu Deus” (veja, por exemplo, Salmo 22:1), testemunhando do relacionamento pactual entre Deus e o seu povo. Elas também se referem a Deus como pastor (veja Salmo 74:2), rei (veja Salmo 5:3; 74:12), e pai (veja Isaías 63:16; 64:8). Essas expressões mostram que as orações de lamento são expressões de confiança na fidelidade pactual do Senhor. Adicionalmente, orações de lamento, especialmente de lamento comunal, geralmente fazem referências aos atos redentivos de Deus no passado. Por exemplo, no Salmo 22, o salmista menciona como Deus havia respondido as orações de seus ancestrais: “Em ti

nossos ancestrais confiaram, e tu os salvastes... a ti eles clamaram, e foram salvos...” No Salmo 74:12-17, os atos redentivos de Deus no passado (74:12-17), que aqui são a sua criação do mundo, funcionam como a seção central do salmo inteiro. Ou seja, o Deus que agiu no passado e que destruiu o caos e a desordem é o mesmo Deus que pode agir no presente e que pode pôr um fim ao caos e a desordem na vida de seu povo. Em segundo lugar, as orações de lamento não escondem a dor e o sofrimento; antes, elas os trazem à tona. Elas não fingem que a vida está caminhando bem e elas não escondem as desordens que nos assolam tanto pessoalmente quanto comunalmente. Tempos de aflições podem dar a impressão de que Deus está escondido ou de que ele está indiferente para com o sofrimento e os problemas de nosso mundo. Por essa razão, as orações de lamento apresentam queixas frequentes como “por que tu escondes a tua face de mim?” (Salmo 13:1) ou “por que eu clamo de dia, mas tu não respondes?” (Salmo 22:2). O salmo 10, que é um salmo de lamento contra os arrogantes que oprimem o inocente, questiona a “absência” divina em face de tal situação e pede que Deus julgue o arrogante corretamente (Salmo 10:12). Interessamente, o verso 14 declara que “mas tu de fato vês aquele que inflige o

sofrimento e a aflição... tu és uma ajuda ao desventurado e órfão.” O lamento nos ajuda a ver que Deus está, de fato, presente e que ele não está indiferente aos problemas que nos assolam. Por último, essas orações oferecem um corretivo a práticas cultuais que só têm lugar para celebrações e, em muitos casos, celebrações superficiais que raramente trazem à tona os atos criativos e redentivos de Deus, os quais são os temas principais da teologia da Bíblia. A prática do lamento comunal pode oferecer à Igreja a

oportunidade de enfrentar as aflições e males que nos afligem, sem negá-los. Como vimos, muitos lamentos terminam com uma expressão de louvor. As orações de lamento nos ajudam a caminhar da dor ao louvor e elas nos oferecem esperança de que o Deus que agiu no passado é o mesmo Deus que agirá no futuro e que colocará um fim a todo mal e sofrimento. “Até quando, ó Senhor?” Wilson de Angelo Cunha é Pastor Presbiteriano e professor de Antigo Testamento na Letourneau University, Texas.


Brasil Presbiteriano

16

Boa Leitura Oráculos de Deus T. H. L. Parker

16 era uma necessidade. A igreja evangélica de hoje não precisa também de uma reforma? O pragmatismo e consumismo; a dependência doentia de ídolos modernos tais como política, sociologia, marketing e psicologia para efetuar mudança nos indivíduos e na sociedade, tudo isso diz que sim. Reforma Hoje chama as igrejas a que retornem à autoridade da Bíblia e dela façam uso fiel em seu culto, seu ministério, seu posicionamento, sua vida e sua evangelização.

O livro de T. H. L Parker apresenta a pregação do reformador João Calvino, que afirmava: “Aqueles que ensinam devem alegar com toda a verdade que é Jesus Cristo quem fala pela boca deles”. Nesta obra é possível entender um pouco de onde vem a grande força da pregação – tarefa principal no ministério – de João Calvino, essa que era serva da Palavra eterna que Deus uma vez “pronunciou” e da qual foram testemunhas as palavras dos profetas e dos apóstolos.

Renascimento Os Guinness

Reforma Hoje David Wells, James Boice, Michael Horton, Sinclair Ferguson e Albert Mohler Jr.

A fé cristã pode mudar o mundo. Neste livro, Guinness compartilha oportunidades para os cristãos transformarem, por meio do poder do evangelho, os tempos sombrios em que vivemos. A modernidade tornou o pensamento cristão irrelevante e impotente, mas a igreja pode tornar-se uma força renovadora na sociedade e mudar esse cenário. Basta atender o chamado a um novo renascimento cristão. Encontre nesta obra encorajamento para a busca da mudança social, assim como perguntas instigantes para discussões no final de cada capítulo.

Reformar a igreja do século

Sobre esses e outros títulos acesse www.editoraculturacrista.com.br ou www.facebook.com/editoraculturacrista ou ligue 0800-0141963

Setembro de 2017

Entretenimento e reflexão O Brasil Presbiteriano não necessariamente endossa as mensagens dos filmes aqui apresentados, mas os sugere para discussão e avaliação à luz da Escritura.

Lutero

Cromwell, o Homem de Ferro

Santos e Estranhos

(2003)

(1970)

(2015)

A superprodução alemã retrata a vida de Martinho Lutero, como ele desafiou as autoridades políticas e religiosas do seu tempo. Após quase ser atingido por um raio, Lutero ingressa em um monastério e prossegue sua busca da verdade sobre a justiça de Deus. Em contato com a Esxcritura e com a realidade da igreja, observa práticas da Igreja Católica contra o evangelho. O monge então escreve 95 teses denunciando a venda das indulgências. Pressionado publicamente para que negue suas teses, Martinho passa a ser perseguido pela Igreja e é excomungado. Inicia sua batalha para difundir a doutrina bíblica da justificação pela fé somente. Um filme histórico. Um longa que conta o início da nossa história.

Oliver Cromwell foi um militar e líder político protestante que se destacou na Inglaterra do século 17 como líder na Guerra do Parlamento. Em 1640, a Inglaterra se encontra no meio de uma crise econômica, política e religiosa. O parlamento inglês, depois de 12 anos fechado por ordens do rei Carlos I, reabre. Dentre os seus membros está Oliver Cromwell, que decide enfrentar o rei visando o fim do absolutismo. Isso desencadeia uma guerra civil. O vencedor governará, e o perdedor será executado. No longa, notamos uma visão diferente da história conhecida sobre Oliver, nos deparando também com um material peculiar sobre os acontecimentos do século 17 na Inglaterra.

Dividido em duas partes – como uma minissérie –, Santos e Estranhos mostra o período de colonização dos Estados Unidos, desde a partida do Velho Continente até a fundação dos EUA. Com foco principal nas relações entre colonos e povos indígenas, a série é cercada de guerras, surpresas e muito aprendizado. É desse relacionamento conturbado entre os dois povos que surge o Dia de Ação de Graças. A superprodução ainda aborda os dilemas da fé cristã dos colonos. Fugidos da Inglaterra por causa da perseguição religiosa, eles se deparam com situações extremas, precisando escolher entre seguir com os princípios e ensinamentos de sua fé ou se adaptar para sobreviver ao Novo Mundo.

Curta nossa página no facebook e receba notícias do que está sendo realizado pela IPB.

www.facebook.com/jornal.brasilpresbiteriano


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.