Dom Sebastião, O Elmo e Alcácer-Quibir

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DOCUMENTA HISTORICA

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Título Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer-Quibir Novas provas exigem Revisionismo Sebastianista Autor Rainer Daehnhardt Director Editorial Eduardo Amarante Coordenação Editorial Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Divalmeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com/atelier Ilustrações Museu Luso-Alemão Técnica da capa Divalmeida Atelier Gráfico Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt Distribuição CESODILIVROS Grupo Coimbra Editora, SA comercial@coimbraeditora.pt 1ª edição – Agosto 2011 ISBN 978-989-8447-17-3 Depósito Legal n.º 331979/11 © Rainer Daehnhardt e Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor.

Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com apeiron.edicoes@gmail.com Portimão – Algarve


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Dom Sebastião, o Elmo e Alcácer Quibir

MUSEU LUSO-ALEMÃO Dom Sebastião é uma figura histórica única, para todo o Mundo-Outrora-Português, que ainda se mantém ligado através da língua e cultura de Camões. Desde o Brasil até Macau, surge um entusiasmo crescente pelo aparecimento do elmo usado por este monarca luso, na Batalha denominada “DOS TRÊS REIS”, por, supostamente, três Reis nela terem perdido a vida. Dois foram Reis Mouros e um Português. Nunca se chegou a saber ao certo se D. Sebastião caiu em combate, ou apenas desapareceu. Facto é, que se trata do único monarca do Mundo Português perdido numa batalha. Isto teceu lendas e mitos a seu respeito, que o elevaram ao pedestal da adoração, como se de um Santo se tratasse. Há 250 milhões de pessoas no mundo que falam português. Necessitam de ser informadas sobre os espantosos resultados que os exames feitos ao seu elmo nos revelaram. Hoje, temos provas que nos esclarecem perguntas, nunca antes colocadas. Também se levantam novas questões, que futuras gerações terão de investigar. Perante os novos conhecimentos, obtidos através do estudo das feridas presentes no elmo de D. Sebastião, considero este livro uma chave de ouro, que permite o acesso a dados até há pouco desconhecidos, sendo um dever cívico compartilhá-los com todos os que com a sua lusa origem se identificam. Rainer Daehnhardt

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Dedico esta obra a um homem ímpar, Rainero Ribeiro Daehnhardt. O seu sorriso, a sua boa-disposição e disponibilidade para ajudar, conferiram-lhe um lugar especial nos corações de todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer. Em relação ao regresso do Elmo de D. Sebastião, exclamou: “Estou tão feliz por todos nós!” Cumprida a sua razão de existência, subiu a outra dimensão, onde será nosso digno Embaixador! Rainer Daehnhardt

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ÍNDICE

ÍNDICE Prefácio de Christiano Arnhold Simões

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- PRIMEIRA PARTE ENTRE A HISTÓRIA E O MITO DE DOM SEBASTIÃO Capítulo I D. Nuno Álvares Pereira e a demanda da verdade sobre Dom Sebastião

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Capítulo II O Elmo de Dom Sebastião: resgatar a nossa identidade. Eis um grande exemplo a favor de Portugal. Há esperança!

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Capítulo III “Estes Gajos Patriotas…”

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Capítulo IV Tunes e Alcácer-Quibir

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Capítulo V Resgatados em troca de armas!

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Capítulo VI Sabiam que Dom Sebastião foi “Igual-entre-Iguais”?

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Capítulo VII Uma Investigação alemã sobre o falso (?) Dom Sebastião

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Capítulo VIII Novo Mistério relacionado com Dom Sebastião

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Capítulo IX O Começo da Primavera Sebastianista

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Capítulo X Uma noite na cisterna de Mazagão

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Capítulo XI Mazagão, o berço do Sebastianismo

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Capítulo XII O Sebastianismo, a lenda messiânica portuguesa

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Capítulo XIII O Sebastianismo e o V Império

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Capítulo XIV Alma Lusa

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Capítulo XV As Cartas Régias de Dom Sebastião

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- SEGUNDA PARTE AS ARMAS E AS ARMADURAS D'EL-REI DOM SEBASTIÃO Capítulo I Os Retratos de D. Sebastião

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Capítulo II A Fénix e o Pavão Proibido

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Capítulo III A Pistola de Roda do Museu Militar encontrada em Alcácer-Quibir

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Capítulo IV Explicação da diferença entre um “Elmo” e uma “Burgonheta”

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Capítulo V O que aconteceu às Armaduras dos nossos Reis?

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Capítulo VI Armaduras Milanesas

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Capítulo VII As Armaduras de Duplo Nó

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Capítulo VIII Dois Donos da mesma “Garnitura”

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Capítulo IX As armaduras de, ou atribuíveis, a Dom Sebastião

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Bibliografia do Capítulo

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- TERCEIRA PARTE PROVAS PARA O REVISIONISMO SEBASTIANISTA Capítulo I Sinais dos Tempos

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Capítulo II À beira de um Renascimento (algo me faz tremer por dentro… e ainda não acalmou!)

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Capítulo III A Verdade acima de tudo!

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Capítulo IV Pequenos Pormenores

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Capítulo V Quantas vezes enterraram Dom Sebastião?

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Capítulo VI Dom Sebastião e a Espada de Dom Afonso Henriques

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Capítulo VII A “Questão Alemã” em Alcácer-Quibir

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Capítulo VIII Dom Sebastião e as Valquírias

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Capítulo IX A Questão Sefardita em Alcácer-Quibir

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Capítulo X A primeira fotografia tirada ao Elmo (depois de limpo) após o seu retorno a Portugal

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Capítulo XI Primeiros Apontamentos do Exame ao Elmo

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Capítulo XII Exame aos Ângulos de Ataque ao Elmo

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PREFÁCIO _____ Alguns dos meus pensamentos acerca do Sebastianismo e porque ele é importante. Temos frequentemente falado acerca do lado direito e esquerdo do cérebro, e eu gostaria de explorar em poucas linhas este assunto e como, na minha opinião, ele tem muito a ver com o Sebastianismo. Diversas culturas diferentes, incluindo a cultura ocidental, criaram o que é chamado a tríade supernatural. A razão pela qual é chamada de supernatural é porque está para além do simples alcance da lógica e das palavras; a melhor forma de descrever esta tríade é por meio do simbolismo (melhor do que a linguagem normal, por despertar emoções). A tríade supernatural é constituída por 3 partes: a primeira é não dual (fonte original), a segunda é a polaridade “positiva” e a terceira a polaridade “negativa”. Por favor tenham em mente que positivo e negativo, neste caso, não denota que uma seja melhor que a outra, pois elas provêm de partes iguais da fonte original. A parte positiva é a força que denota a vontade (habitualmente chamada de espírito) e a segunda parte é a intuição para compreender a vontade (habitualmente chamada de alma). Outra forma de interpretação é nomear a parte positiva de sabedoria e a negativa de conhecimento. Qual a diferença entre ambas? A primeira “sente” o correcto (apesar do facto de não haver experiência e conhecimento) e a segunda “sabe” o correcto (devido à experiência e aprendizagem). Os antigos, que não haviam perdido as suas raízes espirituais, afirmavam que a única forma de chegar à fonte original seria a união entre a sabedoria e o conhecimento: somente desta forma poderia alguém “compreender a vontade de Deus” e conectar-se com a não dualidade. Os chineses chamaram à tríade supernatural de Tao/ Yin/Yang, os Hindus de Brahma/Vishnu/Shiva, os herméticos de Deus/Nous/Logos, os hebreus Kether/Chokmah/Bi-nah. A lista é infindável. Culturas diferentes sempre chegaram à mesma conclusão. Apeiron Edições

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Até este momento falámos da fonte original, do espírito e da alma, mencionando que da união da sabedoria (espírito) com a interpretação da força da sabedoria (conhecimento/alma), podemos chegar à fonte original ou “à compreensão da vontade de Deus”. Por outras palavras, existe uma quarta chave que compreende a união das polaridades e é capaz de ir à fonte original. Esta quarta chave é frequentemente chamada de “filho”, e para o “filho” ser capaz de alcançar a fonte, deve ser sacrificado (sacrificado deve ser entendido como transmutação e não como o normal sacrifício). É interessante notar que na maioria das culturas existem, de facto, quatro chaves capazes de atingir o “divino” (a fonte de tudo): a primeira, a parte não dual (a presença pura do divino); a segunda, a polaridade positiva (vontade, espírito, pai); a terceira, a polaridade negativa (compreensão da vontade, alma, mãe); e, por fim, a quarta, que surge quando ambas as polaridades se encontram (o filho). Quando o filho é capaz de se transmutar e ir directamente à fonte, o sacrifício entende-se aqui como uma transmutação de um ser “inferior” (que não se conhece, e por isso, não pode tomar conhecimento da vontade de Deus) para um ser “superior” (conhece-se e, por se conhecer, toma conhecimento da vontade de Deus, bem como do seu lugar no universo e da sua missão). Por que é que isto é importante para o Sebastianismo? Há dois D. Sebastiões: o homem e o mito. O D. Sebastião homem foi um romântico (pensou demasiado com a polaridade positiva, ou o lado direito do cérebro, num mundo negativo) e ignorou a lógica e os avisos da experiência (a polaridade negativa, ou o lado esquerdo do cérebro). O D. Sebastião símbolo TENTOU e, mesmo ao falhar, mostrou aos outros o caminho da vontade. Resumidamente, na busca da própria alma portuguesa encontra-se que há a tríada supernatural: Espírito Santo/Pai/Mãe e o filho. No caso Português, o filho que se transmutou e virou um símbolo (ou arquétipo) foi D. Sebastião. O facto de D. Sebastião vir quando Portugal mais necessitar dele, numa manhã de neblina, significa realmente o acordar dos Portugueses e o reencontrar da sua alma Portuguesa, que se encontra dormente em cada Português, não nítida por causa do nevoento (não claridade da mente), esperando que a providência dissipe o nevoeiro e a desperte.

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A Alma Portuguesa foi frequentemente inclinada para a polaridade positiva (lado direito do cérebro, vontade sem constrangimentos ou lógica), o que fez os Portugueses expansivos e energéticos. Com a Alma Portuguesa, a expansão portuguesa foi sem limites, sem planeamento, feita no impulso da coragem e da vontade. Esta expansão sem lógica de ser, criou desconforto aos outros estados europeus. Com a pressão Papal e Europeia, Portugal foi obrigado a reprimir a polaridade positiva e ligar-se à polaridade negativa (parte esquerda do cérebro), o que tornou Portugal num estado reprimente e limitador, algo totalmente contra a sua natureza! Portugal tornou-se numa nação com uma alma vazia por esta não fazer a vontade do seu espírito, limitando-se somente a relembrar o seu passado glorioso. D. Sebastião tentou reverter esta situação ainda no início (tivesse tido ele sucesso, o mundo seria um local muito diferente do de hoje), mas ele compensou excessivamente para a direita, caindo nas armadilhas dirigidas a ele de forma a não ter sucesso (e havia muitos que não queriam que ele tivesse sucesso). Mas ao tentar, ele tornou-se o símbolo da transmutação Portuguesa. Se alguém aprender com o sacrifício de D. Sebastião (o homem) e compreender D. Sebastião (o símbolo), que não compensou excessivamente para a polaridade positiva (como D. Sebastião o homem fez), encontra o D. Sebastião simbólico no meio, entre a alma e o espírito de Portugal (mãe e pai). Este D. Sebastião, simbólico e arquétipo, é a chave da transmutação que levará Portugal ao V Império ou Império do Espírito Santo (o filho levará à fonte original). O VOSSO TRABALHO É MUITO MAIS IMPORTANTE DO QUE PARECE À PRIMEIRA VISTA. Christiano Arnhold Simões

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PRIMEIRA PARTE ENTRE A HISTÓRIA E O MITO DE DOM SEBASTIÃO

Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes fundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos de criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independente-mente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação, o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião. Fernando Pessoa



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CAPÍTULO I ______ D. NUNO ÁLVARES PEREIRA E A DEMANDA DA VERDADE SOBRE DOM SEBASTIÃO O ano de 2010 terminou com algo inesperado, mas intimamente desejado: A REDESCOBERTA E AQUISIÇÃO DO ELMO DE BATALHA DE D. SEBASTIÃO! O ano de 2011 começou com O REGRESSO DO ELMO, motivo de alegria e reflexão. Não há outro monarca luso que tão vasto leque de opiniões suscite. Para uns é mental ou fisicamente defeituoso, a ponto de acharem preferível que tivesse morrido à nascença. Para outros, é um Anjo Salvador, que regressará algum dia. Penso ter chegado a altura do povo separar o trigo do joio e colocar os pontos nos “is”, para se saber, com maior grau de certeza, quem foi D. Sebastião e por que razão fez o que fez. Os últimos tempos ofereceram diversos sinais que, de certa forma, nos chamam a rever tudo o que se disse, escreveu ou alegou, acerca desta figura mítica e lendária, atacada e amada, que tão profundamente se encontra ancorada na alma do Mundo Português. Tudo começou quando, contra a vontade de muitos, um Papa Alemão canonizou um Marechal General, herói nacional, que não morreu de martírio. Trata-se do NOSSO CONDESTÁVEL, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Em Portugal, desde o século XV que é tratado como nosso SANTO CONDESTÁVEL. Sob o ponto de vista da Igreja, nem monge foi. A sua recente canonização foi de tal modo contestada a nível internacional, que chegou mesmo a ser negado o mais humilde reconhecimento pelo órgão do estado a quem isso competia. Quem sistematicamente procura denegrir os Chefes da Igreja Católica, reencontrou logo no passado da juventude do Papa (o cumprimento do serviço militar e a ascendência de D. Nuno Álvares Pereira, pelo lado materno, ligado à Casa Real Germânica, na Lombardia), a razão “obscura” desta canonização. O Papa, porém, não deixou nada obscuro. Não apenas canonizou o HeApeiron Edições

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rói Nacional Luso, como até deu, por pergaminho, a BENÇÃO PAPAL A TODOS OS INFANTES DE PORTUGAL, algo que não acontecera desde que D. Afonso V assumiu a cruzada contra o Islão. Esta bênção papal esteve exposta na sala elíptica (a sala de honra) da Escola Prática de Infantaria, no Palácio de Mafra. Foi belo verificar que, na homenagem que a EPI prestou ao Santo Condestável (seu patrono), tanto as entidades museológicas como as eclesiásticas trabalharam em conjunto com as militares, para prestar a homenagem devida. Na sala de honra estavam em grande destaque, não apenas as relíquias do Santo, manuscritos por ele assinados, que a Torre do Tombo tinha cedido, belos quadros de D. Nuno do Museu Nacional de Arte Antiga, como a grande estátua do Condestável a pé, segurando o seu famoso martelo de armas (chamado “Bico de Corvo”). Estátua idêntica encontra-se na Sala de Aljubarrota do Museu Militar de Lisboa e as suas representações repetem-se em grande parte da iconografia que existe do Santo Condestável, desde o século XVI. Pode e deve-se perguntar: o que isso tem a ver com D. Sebastião? Inaugurou-se recentemente, num Museu de Zurique, uma exposição sobre marfins do Ceilão, onde figura um quadro representando D. Sebastião aos oito anos de idade. Este esteve erradamente classificado, num palácio austríaco, sendo por isso desconhecido, desde o século XVI. Ao fim e ao cabo trata-se de um Neto Rei do Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano de Nação Germânica. Os Soberanos costumam ser representados com os seus atributos régios, isto é, a coroa, o ceptro e a espada da justiça. Por vezes, apenas são representados com um simples bastão de comando. O nosso monarca deixou-se representar em armadura (uma de Augsburgo, entretanto desaparecida), segurando na mão o MARTELO “BICO DE CORVO” de D. Nuno Álvares Pereira. Como é possível que um monarca se deixe representar com uma arma de comando de infantaria, quando a arma nobre da altura era a da cavalaria? Como é que o nosso monarca escolheu o símbolo de um Herói Nacional falecido há muito, que liderou o povo, o peão, no combate contra a cavalaria castelhana e francesa, tornando-se Herói e Santo Salvador da Pá-

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tria? Terá sido por influência patriótica do seu professor, Damião de Góis? Como se pode permitir que se represente um jovem Rei, em 1562, com uma arma de 1385? Isto seria o equivalente a colocar uma arma das invasões napoleónicas nas mãos de um comandante supremo actual! Algo descabido, que dá que pensar! Sabemos que D. Sebastião mandou abrir os túmulos dos seus antepassados e daí retirou as suas espadas para estas lhe servirem de talismã na sua campanha africana. Até levou o elmo de Carlos V com que tomou Tunes. Será que D. Sebastião também mandou abrir o túmulo do Santo Condestável, no Convento do Carmo, em Lisboa e lhe tenha pedido de empréstimo o seu Martelo de Armas? Grande parte do que diz respeito a D. Sebastião ainda hoje se encontra envolvido em secretismo. O aparecimento do quadro de D. Sebastião com o Martelo de Armas do Santo Condestável e do Elmo de Batalha, são como badaladas de um sino da História, que nos acordam para o cumprimento de um dever: DESCOBRIR A VERDADE ACERCA DE D. SEBASTIÃO! Para isso, devemos reunir tudo, mas mesmo tudo, que nos possa oferecer luz. A grande maioria das obras dos nossos cronistas e historiadores peca por ter tido “donos”. Estes não se preocupavam com a verdade, mas apenas com a apresentação da vertente mais conveniente para os seus interesses. Isto anula parte da fidelidade dos seus relatos. Devemos estudar documentos originais, que nunca foram estudados ou interpretados. Existem, mas precisam ser encontrados. No século XVI enforcaram-se os padres franciscanos que ousavam levantar dúvidas acerca da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. Os dominicanos trabalharam com o Santo Ofício e este com o poder entronizado. Não havia vontade de se saber algo mais concreto sobre D. Sebastião. As diferentes obras publicadas acerca de relatos da batalha careciam sempre da concordância do Santo Ofício, o que anulava qualquer divulgação de conhecimentos não condizentes com a versão oficial. Os primeiros a lançar pesquisa sistemática acerca do que acontecera foram os alemães. Era do neto do seu Imperador Apeiron Edições

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que se tratava. Até enviaram pesquisadores a Veneza, porque existia uma grande convicção de que o chamado “3º Falso Sebastião” – o que apareceu em Veneza logo após a morte de Filipe II de Espanha – tenha sido o verdadeiro. Aos Filipes não convinha que D. Sebastião voltasse! Aos fanáticos dentro da Igreja também não! Aos proponentes da Casa Ducal de Bragança como nova Dinastia Lusa também não! Então, quem é que queria saber a verdade? Apenas alguns estudiosos estrangeiros? NÃO! O povo sempre quis saber a verdade e duvidou das explicações oficiais. O POVO SEMPRE SENTIU ESTAR MAIS PERTO DA VERDADE, EMBORA NÃO O SOUBESSE EXPLICAR OU EXPRIMIR! Apenas em Portugal existe um majestoso mosteiro (o dos Jerónimos, em Lisboa, à antiga beira do Tejo), onde se apregoa algo incompreensível aos cérebros lógicos e racionais. Mostram-se três sarcófagos imponentes mas “enganosos”. Um é o de D. Sebastião, com a inscrição (traduzida do latim): “SE É VERA A FAMA, AQUI JAZ SEBASTIÃO, VIDA NAS PLAGAS DE ÁFRICA CEIFADA. NÃO DUVIDEIS QUE ELE É VIVO, NÃO! A MORTE LHE DEU VIDA ILIMITADA”. Outro é o de Vasco da Gama, que nunca nele entrou e o terceiro é o de Luís de Camões, que, na realidade, acabou por ser enterrado em vala comum! Os três túmulos albergam alguns dos mais significativos capítulos escritos pela alma lusa, algo que apenas quem ama Portugal compreende. Tudo o que temos acerca de D. Sebastião é uma longa lista de perguntas por responder:  Terá de facto trocado de cavalo e armadura com o seu escudeiro em plena batalha?;  Foi o seu escudeiro que morreu em vez dele?;  Os nobres lusos, prisioneiros dos marroquinos, que foram reconhecer o seu corpo fizeram-no devido ao elmo, pois tinha a cara desfeita. Quando o incluíram na negociação do seu resgate e o trouxeram de volta a Portugal, sabendo que era a personagem errada, fizeram-no a fim de evitar o levantamento de dúvidas, para que se deixasse de procurar o Rei?;

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Terá D. Sebastião de facto regressado ao Algarve e, caído em si de vergonha, pela desgraça causada à nação, ter-se-á escondido numa cabana de um pescador?; Terá D. Sebastião tido o tal encontro na fronteira de Espanha com o seu tio, Filipe II, combinando os dois o regresso de D. Sebastião, quando as “coisas do Estado” estivessem restabelecidas e a ocasião fosse propícia? O que é um facto é que o comportamento de Filipe I de Portugal, para com o Mundo Português e a lusa gente, foi significativamente diferente daquele depois aplicado pelos seus sucessores, que consideravam Portugal um feudo ou colónia; O facto do “3º Falso D. Sebastião” se ter pronunciado como verdadeiro, precisamente após a morte de Filipe I, dá que pensar; E as tenças pagas pela Casa de Bragança aos herdeiros de D. António Prior do Crato, nomeando-os embaixadores de Portugal (intervieram no Tratado de Utrecht), sem autorização para pisarem terras lusas? O mesmo aconteceu a uma família do norte de África, supostamente descendente de D. Sebastião; O próprio filho de D. António Prior do Crato foi a Veneza e reconheceu D. Sebastião como seu Rei!; Qual a razão do forte desentendimento entre D. Sebastião e seu tio, o Cardeal D. Henrique (Inquisidor Mor), ao ponto do Rei lhe proibir entrar no Palácio e de impedir que funcionários seus aceitassem cartas do Cardeal a si dirigidas?; Como se entende a alegria manifestada todos os anos na data da batalha de Alcácer-Quibir pelos sefarditas de Tânger, que festejam a morte do nosso Rei, quando foram os Cristãos-Novos de Lisboa que pagaram metade dos custos da campanha?; Como se explicam as “estranhas” mortes dos 9 filhos de D. João III, incluindo a do Infante D. João, pai de D. Sebastião, que faleceu poucos dias antes do nascimento do filho?; Como se explica a estranha libertação de Damião de Góis dos calabouços do Santo Ofício e o seu assassinato

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numa albergaria quando ia a caminho para falar com D. Sebastião?; Como se explica a partida para Marrocos, em pleno Verão, fortemente desaconselhada ao jovem monarca por todos os conselheiros militares?; Por que razão quase nunca se menciona que D. Sebastião já se tinha deslocado ao norte de África anteriormente e aí entrado em combate?; Por que não se menciona quem ordenou a aniquilação da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, transformando-a em mera ordem monástica?; Por que não se menciona que D. Sebastião pediu ao Papa a restauração da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, e que foi por este impossibilitado?

Tudo isto e muito mais merece ser estudado. Se o elmo pudesse falar, o Portugal dos nossos netos não sucumbiria a estatísticas incolores, mas mostraria a sua presença de velas enfunadas, bem-vindas por todo globo!

- Fig. 1 A mais antiga gravura que se conhece da BATALHA DE ALCÁCER-QUIBIR. Publicada num panfleto alemão, de 1578. Gravada em bloco de madeira (xilogravura) por Hans Rogel e impresso por Philipp Ulhart, na cidade imperial de Augsburgo, revela as primeiras notícias da batalha. Menciona a morte de 4.000 espanhóis, 800 italianos e 2.300 alemães, que combateram ao lado dos portugueses.

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CAPÍTULO II ______ O ELMO DE DOM SEBASTIÃO: RESGATAR A NOSSA IDENTIDADE. EIS UM GRANDE EXEMPLO A FAVOR DE PORTUGAL. HÁ ESPERANÇA! É dia 24/11/2010 e são 11 horas. Começa um leilão de obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem objectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devidamente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado internacional, este elmo rapinado pelos duques espanhóis em Lisboa, em 1582. Espero que passe despercebido! Em tempos já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classificada como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (filho da Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26 anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião. Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Sebastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As nossas “Entidades Oficiais” não iriam mexer um dedo para o recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de armadura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos, 10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20 vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de nevoeiro ou não. Estando o Desejado nele ou não! Se alguém descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encontro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender Apeiron Edições

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o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz-me: “O ELMO DE D. SEBASTIÃO TEM DE REGRESSAR A PORTUGAL!” Não fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem. Pedi para a leiloeira me telefonar. Em Londres já estão a vender as primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos, sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os berros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos media, vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que realmente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D. Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas do trabalho. Se eu tiver sorte, nem o Musée de l‟Armée de Paris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia – visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura, desejando certamente completá-la –, se darão conta de que este elmo lhes faz muita falta. Ainda assim é necessário ultrapassar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí, tenho a “sorte” do elmo ter um pequeno furo (menor do que uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o quererem. Este buraquinho não altera em nada a importância histórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comercial, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI! Tenho os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instantes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM DE VOLTAR! Não vai haver férias nem presentes de Natal, e mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM DE VOLTAR! O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma ordem: “COMPRE!” O martelo do leiloeiro bateu! O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL.

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CAPÍTULO III ______ “ESTES GAJOS PATRIOTAS…” “ESTES GAJOS PATRIOTAS SÃO LOUCOS! AGORA ATÉ VÃO ACORDAR O FANTASMA DE DOM SEBASTIÃO! SÓ NOS FALTAVA ESSA!” Foi esta a resposta de um membro da Assembleia da República à notícia da vinda para Portugal do Elmo de batalha de D. Sebastião. Não fiquei nada surpreendido por “pessoas cerebralmente aleijadas” não nos poderem compreender. Quem apenas se serve do lado esquerdo do cérebro – o que se move nas limitações do raciocínio lógico, materialista, racional –, deixou murchar o lado direito a ponto de não ter mais acesso às emoções do coração e à porta do subconsciente. São pobres vassalos dos diabos sem horizontes nem esperanças. Agora, carimbarem-nos de “PATRIOTAS LOUCOS”, não me abala nada. Bem pelo contrário, apenas classifica quem assim nos classificou. Tentando seguir o caminho lógico racional que lhes resta, chego à conclusão de que consideram SER PATRIOTA e SER LOUCO uma espécie de doença infecciosa, que uma vez interligadas podem causar inconveniências ao “bem-estar” desejado. Responderei com a pergunta:  E D. Afonso Henriques? Não era também um PATRIOTA LOUCO, que não apenas conquistou Portugal aos mouros, mas até se levantou contra a mãe e quebrou sua vassalagem ao Reino de Leão para criar uma Pátria para os Portugueses?;  E Afonso de Albuquerque? Não era um PATRIOTA LOUCO, quando, com um pequeno punhado de homens decididos, arrancou parte da Ásia ao Mundo Muçulmano? Tantos exemplos de PATRIOTAS LOUCOS poderia dar, que apenas os incluo num grito de VIVA aos PATRIOTAS LOUCOS! Apeiron Edições

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Afinal foram, e sempre serão, eles, que escrevem a história dos povos e não os vermes apologistas do lamber das botas a qualquer agência de ratings.

- Fig. 2 Os Reinos de Fez e Marrocos. Mapa gravado, a cobre, por Johannes Mercator (1562-1595). Mostra os Algarves Aquém e Além-Mar, desde o Cabo de S. Vicente até ao Cabo do Bojador. Indica as praças portuguesas de Ceuta, Tânger, Arzila, Azamor e Mazagão (esta, frente à Ilha do Porto Santo). | Museu Luso-Alemão

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CAPÍTULO IV ______ TUNES E ALCÁCER-QUIBIR Não se deve ver a batalha de Alcácer-Quibir como um acto isolado de um jovem Monarca órfão, fanatizado por uma educação jesuíta e um mundo de sonhos de glórias ancestrais. Qualquer momento da história deve ser visto no enquadramento do seu tempo. Para isso, devemos aproximar-nos dos momentos mais significativos que o antecederam. Só assim é que nos é dado acesso a partes do pensamento, que justificaram no jovem Monarca luso as tomadas de decisão, que acabaram por levar a nação ao descalabro. Diversos pesquisadores da história de Portugal fazem referência à entrega a D. Sebastião do elmo usado por Carlos V, durante a sua tomada de Tunes (1535). Foi seu tio, Filipe II de Espanha, quem ordenou a entrega deste talismã, sabendo que D. Sebastião sempre mostrou um respeito especial pelo Imperador Carlos V, seu avô. Devemos, por isso mesmo, debruçar-nos um pouco sobre a actuação de Carlos V em solo africano, para reencontrar as razões de D. Sebastião.  Carlos V interveio em África para recolocar um soberano muçulmano no trono; D. Sebastião interveio em África para recolocar um outro soberano muçulmano, ao qual tinha sido tirado o trono;  Carlos V formou uma aliança, juntando ajuda militar portuguesa, alemã e italiana às suas tropas espanholas, tiradas de Espanha e dos Países Baixos, que lhe estavam submetidos; D. Sebastião formou uma aliança, juntando ajuda militar espanhola, alemã e italiana às suas tropas lusas, tiradas de Portugal e das Praças Lusas do Norte de África;  Carlos V pediu ajuda militar à França, mas esta não só não a concedeu, como forneceu armas e munições ao Apeiron Edições

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Heyreddin (Barbarossa), que tinha tomado Tunes ao Muley Hasan e que, de novo, as utilizou contra as forças do Imperador do Sacro Império. A França até foi mais longe e mandou um embaixador permanente (Jean de la Forêt), ao Grande Turco, em Constantinopla; D. Sebastião pediu ajuda à França e concordou até em casar com uma Valois, mas não recebeu nem a noiva nem o exército. Bem pelo contrário, descobriu que a França havia enviado um embaixador ao Rei de Marrocos, para o aconselhar na sua Guerra contra os Portugueses; Heyreddin tomou Tunes em 16 de Agosto de 1534, ou seja, em pleno Verão; Carlos V começou a sua Tomada de Tunes em Junho de 1535, desenrolando-se a sua campanha Africana em pleno Verão; D. Sebastião saiu de Lagos a 27 de Junho de 1578, levando a efeito a sua campanha africana em pleno Verão, com o desfecho trágico que se conhece, a 4 de Agosto; Carlos V foi aconselhado a não escolher esta altura do ano para o seu ataque aos mouros e turcos; D. Sebastião recebeu precisamente os mesmos conselhos; Carlos V foi aconselhado a não tomar pessoalmente parte nesta arriscada empresa africana. Porém, decidiu participar; D. Sebastião foi mais longe: ou se fazia a campanha com ele a liderar, ou não se fazia de todo!

Pelo acima exposto, já se pode verificar o grande grau de semelhança entre a campanha africana do avô e a do neto. Se a escolha do Verão para a campanha foi sempre tida como sinal de insensatez do jovem Monarca luso, chegando-se ao ponto de o considerar “louco”, por não seguir os conselhos dos seus militares muito mais experimentados, deveríamos usar o mesmo critério em relação a Carlos V. Por que razão ninguém se atreve a tal? Por uma razão muito simples: Carlos V saiu vitorioso da sua contenda e D. Sebastião desapareceu na dele.

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Há, porém, pormenores pouco conhecidos nestas campanhas, que dão que pensar. 1º. Carlos V libertou 20.000 escravos cristãos, em posse do Heyreddin, que este sequestrou nas costas cristãs do Mediterrâneo; 2º. Carlos V tinha na sua armada 74 galés, cujos remadores eram cristãos protestantes calvinistas e zwingliistas, aprisionados nos Países Baixos. Não consta que tenham sido libertados; 3º. Carlos V conseguiu juntar forças substancialmente maiores das que D. Sebastião juntou. Os números apresentados divergem entre os 25 mil e os 50 mil homens; 4º. Porém, não foi apenas o número de forças à disposição de Carlos V que foi substancialmente maior: a qualidade também foi bem superior; 5º. 30 % da armada de Carlos V era composta por auxílio português. Neste, destacou-se o maior galeão de guerra então existente no mundo ocidental. Chamava-se GALEÃO SÃO JOÃO BAPTISTA, mais conhecido pela sua alcunha “O BOTA-FOGO”. Era uma fortaleza flutuante, com 366 peças de artilharia de bronze, da melhor qualidade e de maior alcance; 6º. Quem comandou esta maravilha da técnica lusa, foi o Infante D. Luís, filho de D. Manuel I e pai de D. António I (o Prior do Crato); 7º. Tunes situa-se numa lagoa interior, protegida do mar por uma terra estreita, e defendida por uma fortaleza impressionante, La Goleta. Esta vigiava a entrada de um canal de ligação da Lagoa de Tunes ao Mediterrâneo; 8º. La Goleta, muito bem apetrechada de artilharia otomana (e também francesa, o que depois da tomada se veio a verificar), fechou o canal com uma corrente de ferro de elos gigantes o que, para a época, significava a impossibilidade da entrada de qualquer embarcação inimiga no canal; 9º. D. Luís, com o seu experimentado comandante, António de Saldanha, e os artilheiros alemães de Lisboa, aceitou o desafio. Bombardeou não apenas as duas Apeiron Edições

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fortalezas de La Goleta, ao ponto de desabarem, como danificou a corrente com tiros certeiros, a ponto de o grande esporão do galeão acabar por a cortar ao primeiro embate; Foi o “BOTA-FOGO” português que entrou na Lagoa de Tunes. Com ele, veio parte da armada de Carlos V e a vitória. O saque e a matança de 30 mil muçulmanos que se seguiu, não honram ninguém; D. Sebastião sabia de tudo isto. Deve ter lamentado já não ter o “BOTA-FOGO”, nem nenhuma outra embarcação comparável em poder de fogo. A Ordem de Cristo que os mandara construir, tinha sido condenada ao desaparecimento da vida militar, comercial, cientista e missionária, acabando em mera ordem monástica. Talvez tenha sido precisamente a construção do “BOTA-FOGO” e a coragem do seu emprego, que tiveram peso na decisão papal; O que D. Sebastião talvez não soubesse foi quem financiou a campanha africana do seu avô. Uma frota de ouro tinha acabado de chegar do Mundo Novo, com o “resgate” pago por um povo indígena, para reaver o seu soberano, preso por forças castelhanas. Encheram uma sala com objectos de ouro, mas a sede do ouro foi insaciável e o soberano foi mesmo morto; D. Sebastião não optou por tais recursos. Lançou pesados impostos no Reino e aceitou a ajuda financeira dos Cristãos Novos. Interveio a seu favor, pedindo ao Papa que não fossem perseguidos pelo Santo Ofício, durante um prazo de dez anos.

Concluindo, devem-se ter em conta também estes dados ligados à campanha africana do seu avô, Carlos V, para se poder começar a compreender D. Sebastião!

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CAPÍTULO V ______ RESGATADOS EM TROCA DE ARMAS! Os luteranos que combateram ao lado de D. Sebastião não foram os únicos cristãos deixados nas masmorras africanas por intolerância inter-cristã. D. Sebastião aceitou a ajuda dos luteranos, que por ele e por Portugal deram as suas vidas. Os que foram presos não foram resgatados. Já não era D. Sebastião que reinava; era o seu tio, Cardeal-Rei, D. Henrique, o Inquisidor-Mor. A protecção aos luteranos terminou com o desaparecimento de D. Sebastião. Os sobreviventes portugueses, espanhóis e italianos foram resgatados por uma ordem religiosa papal, instaurada precisamente para resgatar cristãos aos “infiéis”. Como o Concílio de Trento proibiu qualquer contacto entre cristãos (fiéis ao Papa) e “hereges” (cristãos não mais reconhecidos como tais, por se negarem a aceitar o Papa como intermediário entre Deus e os homens), nada se fez para trazer de volta à Europa os combatentes nórdicos ou suas famílias. Os que sobreviveram, mas ficaram feridos, nada valiam no mercado dos escravos. Assim, nem sequer mereciam ser alimentados! Por esta razão, foram passados a fio pelos sabres mouriscos. Os que se apresentavam capazes de servir foram leiloados como escravos. As mulheres foram vendidas como escravas. As crianças femininas foram para os bordéis. As crianças masculinas foram vendidas ao sultão, para servirem como janízaros, uma força de elite militar recrutada entre crianças cristãs, raptadas ou compradas, que eram educadas em fanatismo religioso anticristão. Os janízaros foram a primeira força militar a criar atiradores especiais. Primeiro de arco, depois de espingarda. Eram Apeiron Edições

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tão dextros no seu manejo que, a certa altura, um sultão ficou com medo deste seu exército. Convidou todos os comandantes para um grande jantar de homenagem, durante o qual foram assassinados. Na mesma altura, mandou cercar as forças janízaras nos seus aquartelamentos e incendiar os mesmos, sem os deixar sair. Destes destinos não se fala, como se de tabus se tratasse. Porém, foram realidades e bem tristes. Não foi apenas em Alcácer-Quibir que muitos “hereges” caíram em mãos muçulmanas. Décadas mais tarde, já no século XVII, galeões holandeses de retorno da Ásia foram capturados por uma esquadra de muçulmanos norte-africanos. Os holandeses eram calvinistas e, de novo, a ordem religiosa incumbida de tratar das negociações de resgate de cristãos em mãos de “infiéis”, negou-se a fazê-lo. - Fig. 3 Cálice português do 3º quartel do século XVI. Também o clero luso acompanhou D. Sebastião para África. Poucos voltaram. | Museu Luso-Alemão

As notícias dos horrores que os alemães – e, entre eles, também bastantes holandeses – passaram, após a batalha de Alcácer-Quibir, ainda estavam bem patentes nas praças dos Países Baixos. Resolveram, então, negociar o resgate de centenas de holandeses em masmorras norte-africanas, em troca de espingardas. Os muçulmanos usavam até então espingardas de mecha. Os holandeses já utilizavam armas de pederneira, concretamente, de chenapan. Entregaram milhares destas armas aos norte-africanos, que as usaram durante séculos, aprendendo a restaurar todas as peças dos mecanismos e a copiá-los na íntegra. Na foto junta abaixo vê-se, na parte de cima, um mecanismo de ignição chenapan solto, proveniente de uma espingarda holandesa do século XVII; em baixo um pormenor de uma es-

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pingarda norte-africana do século XIX com mecanismo quase idêntico. O caso dos alemães não resgatados depois de Alcácer-Quibir e o dos holandeses trocados por espingardas tiveram peso nas futuras decisões da separação dos poderes dos Estados em - Fig. 4 relação à Igreja. Em cima: fecho chenapan holandês. Em Os Papas tiveram exérci- baixo: espingarda norte-africana com cópia de fecho holandês. | Museu Luso-Alemão tos e marinha de guerra até meados do século XIX, mas, quando se tratava de resgatar cristãos não submetidos a Roma, passaram os próprios governos a tratar destes assuntos, não recorrendo mais à ordem religiosa papal para este efeito criada. A primeira organização independente a tratar de trocas de prisioneiros surge durante a Guerra da Crimeia. É a Cruz Vermelha, que trouxe imenso Bem para a humanidade. Se alguém perguntar o que é que a Guerra da Crimeia tem a ver com a batalha de Alcácer-Quibir, responderei: à primeira vista nada! À segunda vista imenso, porque a história é como uma perfeita teia de aranha: está tudo interligado!

- Fig. 5 A esquadra do avô de D. Sebastião, Carlos V, na travessia do Mediterrâneo, para a sua Campanha Africana, em pleno Verão de 1535. Um terço da esquadra era composta pela ajuda portuguesa, incluindo o grande galeão “BOTA-FOGO”, cujas peças de artilharia foram decisivas na Tomada de Tunes. | Museu Luso-Alemão

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- Fig. 6 O desembarque e o levantamento das tendas na costa africana. | Museu-Luso-Alemão

- Fig. 7 O Imperador Carlos V recebendo os primeiros prisioneiros mouros e as cabeças decepadas de turcos, contra os quais se encontrava em guerra, e que estavam a auxiliar os mouros de Tunes. | Museu-Luso-Alemão

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CAPÍTULO VI ______ SABIAM QUE DOM SEBASTIÃO FOI “IGUAL-ENTRE-IGUAIS”? Foi difícil para D. Sebastião ter nascido órfão de pai. Sua mãe teve de o deixar em Portugal e voltar para Espanha, por razões de Estado. Assim, cresceu D. Sebastião sem pais que o pudessem amar e proteger das intrigas políticas, nacionais e internacionais. O Menino-Monarca cresceu, porém, com o conhecimento de que tinha mãe e que esta se preocupava com ele. A troca de correspondência entre os dois manteve vivo o cordão umbilical. - Fig. 8 A mãe de D. Sebastião. Gravura a aço intitulada “Jeanne d’Autriche Princesse de Portugal + 1578” (Obviamente, trata-se de um erro na indicação da data da sua morte, que ocorreu em 1573). | Museu Luso-Alemão

Estando o Desejado em Sagres, recebeu a notícia do falecimento da sua mãe, Princesa Joana de Portugal, da Casa de Habsburgo, de boa memória. Nesse momento é que D. Sebastião se sentiu totalmente só. Fechou-se, durante três dias de nojo, no Mosteirinho do Cabo de São Vicente (local onde planeava criar a nova sede da Ordem de Cristo). O seu avô, D. João III, decidiu, em 1555, que o lugar de Grão Mestre de cada uma das três Ordens Religiosas Militares Portuguesas (Cristo, Aviz e Santiago), futuramente, apenas devia ser preenchido pelo monarca de Portugal. Assim, D. Sebastião foi Grão-Mestre da Ordem de Cristo. Apeiron Edições

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Porém, o que resolveu fazer durante os três dias de retiro? ARMOU-SE A SI PRÓPRIO CAVALEIRO DA ORDEM DE CRISTO. Assim sendo, estaria IGUAL ENTRE IGUAIS, com todos os outros cavaleiros e como eles estaria pronto a dar a vida pela Pátria e pela Fé. Um gesto pouco conhecido e sem igual!

- Fig. 9 A mãe de D. Sebastião. Gravura a cobre intitulada “Jeanne d’Austriche Royne de Portugal Fille de l’Empereur Charles V”. Deve-se chamar a atenção de que foi Princesa de Portugal (não Rainha), mas Regente de Espanha. É interessante saber-se, que foi grande defensora dos franciscanos em Portugal e que, em Espanha, se correspondeu com Ignácio de Loyola e com o Papa, acabando por ser a única mulher jesuíta do seu século. | Museu Luso-Alemão

- Fig. 10 A escultura, em bronze, no túmulo da mãe de D. Sebastião. Gravura água-forte, intitulada “Tombeau de la Princesse Juanna” (convent des descalzas Reales à Madrid). | Museu Luso-Alemão

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Fig. 10 A escultura, em bronze, no túmulo da mãe de D. Sebastião. Gravura águaforte, intitulada “Tombeau de la Princesse Juanna” (convent des descalzas Reales à Madrid). Museu Luso-Alemão

- Fig. 11 Frontispício de uma carta régia, em pergaminho iluminado, passada em nome de Carlos V e assinada pela mãe de D. Sebastião, na qualidade de Regente do Reino de Espanha, na ausência do pai, Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano da Nação Germânica, Carlos I, Rei de Espanha. A carta é datada de 1555, um ano após o nascimento de D. Sebastião. Pouco depois, a Princesa Joana entrou no Convento das Descalças, do qual não mais saiu. É interessante verificar que a temática escolhida para a iluminura é a de uma noviça a vestir o hábito. | Museu Luso-Alemão

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CAPÍTULO VII ______ UMA INVESTIGAÇÃO ALEMÃ SOBRE O FALSO (?) DOM SEBASTIÃO Quando, devido ao desaparecimento de uma personagem líder, um país inteiro entra em choque, cresce, de forma inexplicável, um estado emocional saudosista. Os ingleses tiveram o seu Rei Ricardo Coração de Leão; os alemães o Imperador Barba-Roxa e os portugueses D. Sebastião. À sua volta criaram-se mitos e lendas, cantados por todas as aldeias e burgos dos seus reinos, facilmente ganhando atentas audiências. A vontade de aceitar estas personagens (desde que voltassem) era tanta, que bastava apenas surgir alguém que se apresentasse como tal, para rapidamente obter uma corte de seguidores. Assim, no caso de D. Sebastião, que com 24 anos de idade desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir (1578), surgiram, por quatro vezes, pessoas aclamadas como sendo “O DESEJADO”, que finalmente voltara de África.

- Fig. 12 Pormenor dos embutidos de latão numa besta dos ginetes de D. Sebastião. Obra portuguesa, cerca de 1570. | Museu da Coudelaria Real, ex-colecção Rainer Daehnhardt

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