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Criatividade
DESCONSTRUÇÃO E REINVENÇÃO.
por Duarte Galo, Designer Industrial.
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Partimos com a ideia que a ponte (o design) para uma nova cerâmica, a dos dias de hoje, tem como alicerces estes dois princípios.
Faço deles o mote para a criação do meu trabalho, nunca esquecendo a Cor como protagonista – na tentativa de criar uma premissa que assenta na harmonia entre forma e cor – onde existe o apreciar e gostar fácil com formas simples de peças que são quotidiano, mas também a desconstrução literal de um objecto intemporal, com o propósito de o destacar, de fazer com que seja notado, ao contrário do que acontece em diversas ocasiões preterindo a sua importância pelo seu conteúdo (garrafa de vinho).
O meu percurso na cerâmica começa numa tentativa falhada de conhecer o material, mas que ganhou outros contornos aquando da entrada na instituição de ensi- no cerâmico, o Cencal – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica – onde sem esperar surge uma paixão por esta arte mutável e única.
Na incessante busca pelo diferente, sabendo à partida que nada será inventado, desconstruindo invenções, esmiuçando referências e influências artísticas de pessoas e lugares, que originou na criação da marca DuarteGalo Ceramics.
A cerâmica de hoje será sempre igualmente boa ou melhor que a de ontem, penso que a evolução dos tempos agrega a si própria essa descoberta positiva, não pelo que é melhor, mas sim pelo que é diferente. Desmistificando a ideia de que, o que é a cerâmica tem de ser feito na roda de oleiro, transmitindo erradamente a ideia de que qualquer peça feita principalmente por molde ou qualquer outra técnica tem o seu valor imaterial reduzido, não tendo a percepção nas infinitas possibilidades não só técnicas, mas de pensamento criativo associados às mesmas.
Vivemos tempos cerâmicos promissores que ao mesmo tempo parecem inquietantes para quem trabalha em pequena escala, e é de fácil conhecimento a dimensão que esta arte singular alcançou nos últimos anos, muito por boa culpa do mundo digital catapultando-a para outros públicos, de onde surgiu uma vaga de recentes artistas, designers, pequenos produtores que de uma ou outra forma foram reinventando e realçando as potencialidades da arte.
O termo inquietante sugerido anteriormente não surge por mero acaso, vamos partir do princípio de que a cerâmica é um infinito universo de possibilidades e de conhecimento total inalcançável mesmo para o mais sábio mestre. E fazendo a relação com os novos ceramistas está o conhecimento real e o entender dos princípios base que esta arte tem e da errada passagem dos mesmos a quem quer aprender a usá-los de forma correcta, não diremos que as regras e leis técnicas associadas a ela deverão ser cumpridas, até porque o desconhecido pode levar-nos a novos caminhos, mas os princípios teóricos são fundamentais para tirar o máximo de proveito e compreender o que de melhor a cerâmica nos pode dar para chegar a uma maior diversidade.
E essa diversidade de produtos cerâmicos vistos nos últimos anos são a prova disso mesmo, consequência das constantes mudanças de tendências positivas a nível estético e visual tem enriquecido o nosso saber.
O design muito contribui para este acontecimento veloz de reinvenção temporal e material. É inegável a influência no nosso inconsciente de ceramistas como Bordallo Pinheiro, de Querubim Lapa, Ferreira da Silva e da própria referência que é Daciano da Costa, entre outros, mas também de quem lá fora faz fruto desse mesmo tsunami digital que nos engole diariamente, seja a influência holandesa através da cor, japonesa da intemporalidade ou escandinava pela simplicidade e naturalidade.
A verdade é que há muito que se nota o destaque de Portugal no que toca à inovação, mesmo que haja ainda uma grande lacuna na contratação de jovens designers por parte de fábricas do sector, existe um notório talento em Portugal que por vezes infortúnio dos tempos ou condições, é sujeito a reprimir as suas qualidades devido à má interpretação de quem contrata. Tem de existir uma maior consciencialização das capacidades e ferramentas que as fábricas possam oferecer, é sabido que muitas fábricas só produzem para externos e há pouca aposta na criação de gabinetes criativos internos para não depender só de terceiros.
O surgimento de novos designers, ceramistas, artistas tem ajudado também na promoção e de um maior alcance do melhor que se faz em Portugal.
O foco no ensino, mas também de escolas especializadas, como o Cencal – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica – e na partilha de conhecimentos entre homólogos. Tem sido fundamental para a promoção e a cada vez maior criação de trabalhos diversificados que despontam por todas as cidades.
E é importante que estas vagas de novos caminhos continuem a emergir cada vez com mais frequência, influenciado e ditando novas desconstruções daquilo que se daria por esquecido.