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Entrevista

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Criatividade

Criatividade

Conversa Com Bela Silva Artista Internacional

Keramica – Fale-nos um pouco do seu percurso profissional e o início da sua ligação à cerâmica e o seu trajeto no universo da cerâmica.

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Bela Silva - Iniciei a cerâmica muito jovem. Em criança já brincava com o barro, mais tarde nas Belas Artes dei continuação a este paixão que desenvolvi em seguida no ARCO, onde participei em vários workshopa com artistas estrangeiros convidados. Não foi um percurso simples porque na altura a cerâmica era considerada uma forma artística menos atrativa, até menor. Era pouco estimulada e apoiada. Vejo com grande satisfação que essa realidade mudou completamente.

Kéramica - A maneira como trabalha a cerâmica, no design das peças, na conjugação das formas tridimensionais simples, fazem com que o seu trabalho seja um trabalho mais artístico para projetos arquitetónicos ou de design de interiores?

Bela Silva - O meu trabalho tem várias vertentes. Tudo depende do projeto. Faço obviamente peças escultóricas de maneira mais livre para exposições em galerias e museus. Mas também desenvolvo projetos com arquitetos, em escalas naturalmente maiores. Estes são projetos de que gosto imenso, para além dos desafios que constituem, obrigam-me a sair do atelier e ir ao encontro das pessoas. São verdadeiros trabalhos de equipa o que é muito gratificante e enriquecedor.

Keramica – O seu trabalho será sempre um «fato feito por medida» ou antevê que ele possa ganhar a dimensão da grande produção industrial?

Bela Silva - Tudo depende muito do projeto e do que se pretende. Tenho um trabalho artístico próprio, tanto no desenho como na escultura, mas também trabalhei com várias marcas, onde a produção é um pouco mais industrial. Criei em 2018 um Carré de Soie para a Hermes, fiz uma grande colaboração com a Monoprix e com a Serax. Este tipo de projetos dão-me particular satisfação porque é uma maneira de expor o meu trabalho a públicos diversos.

Keramica - Portugal é também conhecido pelo património cultural exposto nas fachadas de edifícios e monumentos, nomeadamente com os azulejos. Acha que este património poderá estar em risco ou identifica alguma capacidade regeneradora em novos ceramistas e designers?

Bela Silva - Penso que durante muito tempo esse património esteve de facto em risco, mas recentemente houve uma tomada de consciência da riqueza e importância da azulejaria. Neste momento assistimos a um ressurgimento destas práticas com novos talentos e novas estéticas, o que considero muito positivo.

Keramica – Há mais de 20 anos a trabalhar como artista-residente na Fábrica Viúva Lamego, uma fábrica centenária e com uma vasta história e reputação. Na sua perspetiva, qual a importância desta ligação? O que poderá resultar dessa colaboração?

Bela Silva - A Viúva Lamego permite-me desenvolver projetos de outra dimensão. Esta longa colaboração permitiu-me encontrar artistas que por lá passaram tais como Querubim Lapa, Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Bartolomeu Cid dos Santos ou Rogério Ribeiro. Outro ponto importante foi desenvolver uma relação de proximidade com os funcionários da fábrica, pessoas de muito talento e conhecimento, que são de facto o motivo da reputação e qualidade da Viúva Lamego. O património humano.

Keramica – Sente o crescimento do interesse dos jovens pela cerâmica? Qual o perfil do aluno que estuda/ trabalha este material? Acha que a formação existente em Portugal está adequada às necessidades?

Bela Silva - Confesso que já saí há muitos anos de Portugal e estou afastada um pouco do ensino. Não tenho portanto uma opinião formada sobre esse assunto. No entanto posso dizer algo que acaba por ser uma generalidade, qualquer formação por muito boa que seja necessita de prática, disciplina e muita pesquisa individual.

Keramica – Que fatores contribuíram para o reconhecimento internacional, do seu trabalho?

Bela Silva - No meu caso prende-se por ter vivido muitos anos fora de Portugal. Partindo de uma base de ensino em Lisboa e no Porto, o facto de viajar e de ter integrado o Chicago Art Instituite, aprender outras práticas, outras formas de fazer as coisas. O meu interesse não só pela cerâmica ou o desenho mas também pela joalharia, a moda, a fotografia, a fundição, a gravura. A multidisciplinaridade permitiu-me ampliar conhecimentos e deu-me ferramentas para continuar a explorar técnicas e temáticas.

Keramica – Quais as temáticas com que mais se identifica na sua obra?

Bela Silva - A natureza é certamente o meu tema de predileção. De facto na natureza há de tudo: cor, forma, textura, proporções. É uma questão de observação.

Kéramica – Acha que o design português é bem percecionado lá fora? E a cerâmica portuguesa?

Bela Silva - Penso que ainda há muito a fazer nesse campo. Deveria haver um maior investimento na promoção dos talentos nacionais.

Keramica – Para terminar, identifique uma obra que pessoalmente a impressiona na arquitetura ou no design português, em que os elementos cerâmicos são claramente marcantes.

Bela Silva - Sem sombra de dúvida a chaminé da cozinha do Mosteiro de Alcobaça.

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