Ô, raça! Má notícia é a maior diversão

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ô, raça! má notícia é a maior diversão

o humor de tutty vasques na internet

seleção e organização/Fábio Rodrigues capa e ilustrações/Pojucan

1ª edição

Rio de Janeiro 2015


VII apresentação 11 Fatos irrelevantes 127 Diário de bordo 291 Retratos Falados 349 índice onomástco


VI


Má notícia é a maior diversão! T u t t y Va s q u e s

Jornalista metido a humorista – e vice-versa –, estabeleci com a má notícia uma convivência feliz e duradoura. Estamos juntos há quase três décadas, virados na internet desde a virada de 2000. Quanto mais assustadora a crônica que a imprensa faz de nossos dias, mais a parceria com o humor se justifica como estratégia de sobrevivência coletiva ao tsunami de aborrecimentos na leitura da vida como ela web nas plataformas de informação. Ô, raça! (o livro) celebra os últimos 15 anos desse meu lobby obsessivo pelo rebaixamento da nota de classificação de risco das más notícias para a categoria “fatos irrelevantes” de um século ainda adolescente. Esta coletânea nasceu com a pretensão de buscar em mais de 30 mil notas e crônicas dispersas na blogosfera um conjunto de textos que desse sentido próprio à existência do livro. A edição privilegiou assuntos recorrentes no conjunto da obra: a evasão de privacidade, a política aloprada, a cultura do desaforo, a economia idiota, a poção bizarra do ser humano – ô, raça! –, sem contar o fim do mundo no sentido literal da expressão climática. O jornalista Fábio Rodrigues, parceiro da vida inteira dentro e fora da profissão, foi o primeiro a meter a mão na massa para separar o trigo do joio na saraivada de exclamações que atirei para todos os lados que a mídia apontou o nariz entre 2001 e 2015. Optamos por indicar a data (ao menos o ano) de publicação em tudo que selecionamos para localizar o leitor no tempo: há textos de 2002, por exemplo, que parecem da safra 2015 – e vice-versa. Notícia enguiçada, descobrimos isso agora, prolonga a vida útil da piada jornalística, perecível pela própria natureza da velocidade da informação. VII


Quase tudo parece besteira em Ô, raça!, quase sempre é mesmo, mas – acredite! – quase toda palhaçada que você ler aqui foi assunto sério durante dias, semanas, meses ou anos nas rodas de gente bem informada. Nem tudo nesta publicação é verdade, mas experimenta só “dar um Google” quando se deparar com algum registro de notícia fora da curva de tolerância do absurdo. Capaz de você se surpreender! Das três partes que compõem o livro, as duas primeiras (“Fatos irrelevantes” e “Diário de Bordo”) têm o noticiário como matéria-prima exclusiva da brincadeira. “Retratos Falados” fecha a tampa com uma série de perfis pessoalíssimos que fiz com gente muito especial que encontrei pelo caminho. São meus malucos de estimação! Se quiser, comece a leitura por uma página qualquer do meio do livro, recue ao início, dê um pulo lá no fim. Ô raça! permite leituras homeopáticas e é recomendado em especial para aqueles momentos em que não dá mais pra aguentar tudo-isso-que-aí-está. Acalma!

Os textos deste livro circulam na web originalmente publicados entre 2001 e 2015 nos seguintes veículos: No., NoMínimo, AOL, O Estado de S. Paulo, Época, Veja-Rio, piauí, Lance!, Criativa, Consumidor Moderno, Ser Médico, Oi Bazar , Facebook e o escambau.

VIII


IX


X


2001 (o fim do mundo que não acabou) A retrospectiva do século 21 dirá que 2001 caiu numa terça-feira, 11 de setembro, junto com as torres gêmeas do World Trade Center! O ano teria começado às 8h45 com aquele primeiro avião entrando pela janela norte, e acabado 65 minutos depois sob uma densa nuvem de poeira que se espalhou pelo sul da ilha de Manhattan! Nada mais que digam em 2100 sobre esse iniciozinho de milênio terá qualquer importância histórica: 2001 será por muito tempo tão somente o ano em que o mundo quase acabou! Mas um dia, quem sabe, os arqueólogos do futuro – ô, raça! – conseguirão resgatar dos escombros da tragédia os fatos irrelevantes que marcaram 2001 como um ano ridículo tal qual outro qualquer, a saber: Foi inventada na Inglaterra a torradeira elétrica que, acoplada à internet, imprime a previsão do tempo no pão; O ministro da Saúde José Serra ameaçou proibir o Elixir Paregórico; Quase acaba em tragédia o almoço que a prefeita Marta Suplicy ofereceu aos sem-teto de São Paulo logo no primeiro dia do seu governo! Parecia boca-livre organizada pelo Eurico Miranda; Descobriram no Pará o ranário da mulher do Jader Barbalho; Tiazinha cruzou com um disco voador na Marginal Pinheiros; Gerald Thomas foi eleito “celebridade do ano” pela revista Caras; Gugu Liberato assumiu “namoro sério” com a “garota da banheira” de seu programa no sbt . A mãe do apresentador quase teve um troço;

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O presidente da Petrobras, Henry Philippe Reichstul, tentou mudar o nome da empresa para PetroBrax; A festa de casamento da Madonna na Escócia foi tão animada quanto a primeira comunhão do Elvis Presley; O presidente fhc levou 50 horas de voo, com direito a escala no Timor Leste, para passar um fim de semana em Bali! Qualquer surfista estúpido conhece caminho melhor; A cantora mexicana Gloria Trevi se reproduziu em cativeiro no Brasil; Michael Jackson fez palestra sobre o bem-estar infantil na Universidade de Oxford; Roubaram o violão de estimação do Caetano Veloso; __________________________________________ “Vou ver The Sun nascer quadrado!”, RONALD BIGGS, decidido a voltar para Londres ___________________________________________ A Casa Branca trocou de cachorro: saiu Buddy, o labrador de Bill Clinton, entrou Spot, a springer spaniel inglesa de George Bush; Cientistas chineses anunciaram o implante do tecido da bexiga de um cachorro nas costas de um rato; O Vaticano pediu sinceras desculpas aos aborígenes australianos; Foi aprovado na Câmara dos Deputados projeto de lei proibindo empinar pipas em todo o país;

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2002 (penta que o pariu)

O que mais impressionou a top model Naomi Campbell no réveillon de Trancoso, na Bahia, foi o tamanho do nariz do Luciano Huck! Bezerra da Silva entrou para a Igreja Universal do Reino de Deus; Chegou ao Brasil o papel higiênico úmido Neve Fresh; Michael Jackson sacudiu seu filho ainda bebê, encapuzado, para fora da sacada do quinto andar de um hotel de Berlim; Felipão comparou Denílson a Garrincha; A prefeitura do Rio pagou o fardão de posse de Paulo Coelho na

abl .

Resultado: faltou dinheiro para a construção do Museu Guggenheim na cidade; A milagrosa Centelha Asiática contra celulite foi proibida no Brasil; Sequestraram o ex-assessor de imprensa do ex-prefeito Celso Pitta! Deve ter sido engano, né? Ana Paula Arósio torceu o tornozelo em acidente de trabalho que quebrou um dente de Reynaldo Gianecchini durante as gravações da novela Esperança; Leonel Brizola voltou a lamentar as “perdas internacionais”: não se conformou, dessa vez, com a decisão da Rodhia de acabar com o tergal;

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O que mais impressionou no vídeo erótico que uma stripper gravou com Mick Jagger foi o tamanho da mentira que nos contava a Luciana Gimenez sobre a intimidade do vocalista; Drauzio Varella ganhou um argumento definitivo para convencer o brasileiro a parar de fumar: a Souza Cruz cancelou a décima sétima edição do Free Jazz Festival; Durou 24h o período de abstinência do ministro Pedro Malan ao gel! Yves Saint Laurent aposentou-se; __________________________________ “Ele tem aquilo rosa!”, VERA FISCHER, dando uma pista do nome de seu novo namorado, Murilo Rosa __________________________________ Oito vendedoras da Avon – ô, raça! – foram sequestradas por membros de uma guerrilha mulçumana nas Filipinas; Elias Maluco, o assassino de Tim Lopes, reclamou da falta de privacidade na cela do Batalhão de Choque da

pm

carioca;

O preço do acarajé no tabuleiro das baianas de Salvador subiu 66,6% nos primeiros dias do ano; O presidente fhc disse em Moscou que “o Brasil é uma Rússia tropical”; Barbara Bush passou o Carnaval no Rio; A calça rasgada deixou de ser privilégio do mundo fashion depois que Marta Suplicy lançou a moda na periferia de São Paulo ao se acidentar com um prego na subida do Morro do Sabão;

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Queda do dólar encareceu estadia de líderes estrangeiros esperados para a posse de Lula. Em cima da hora, acordo com o

fmi

confirmou: vai haver 2003!

2003 (mostra sua Caras) Luana Piovani admitiu que fuma maconha para relaxar, mas nunca na frente de sua mãe; José Genoíno foi salvo de um sequestro por uma escova de cabelo que ele voltou para buscar segundos antes da ação que tinha ele como alvo; Deborah Secco tatuou nas costas a frase “Livrai-me de todo mal. Amém”; O Brasil tornou-se o primeiro fabricante de calcinha com fio de soja do mundo; O cantor Prince virou testemunha de Jeová. Não ficou claro se de defesa ou de acusação; Paloma Duarte trocou Rodrigo Santoro por Oswaldo Montenegro – elas por elas; O último vexame de Mike Tyson no ringue fez Maguila lembrar os bons tempos de sua carreira; Gerald Thomas mostrou o rabo para a plateia que vaiou sua ópera no Teatro Municipal do Rio;

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Frei Betto foi nomeado assessor especial de Lula. Terá no governo mais ou menos as funções de João Paulo

no Vaticano;

ii

Ignácio Cano, professor de Sociologia da

uerj ,

foi para Bagdá servir

de escudo humano. Não deixa de ser uma forma de entrar para a História pelo próprio sobrenome; Tony Ramos voltou à tv mais peludo que de costume. Nas costas, então, parece megahair; Imperdoável: Hector Babenco, diretor de Carandiru, não levou Rita Cadillac ao Festival de Cannes. Resultado: Nicole Kidman brilhou sozinha no festival ; Viva: Gisele Bündchen trocou Rico Mansur por Leonardo DiCaprio; O ano começou do jeito que terminou: com a Globeleza grávida!

2004 (deu no New York Times) Paulo César Pereio foi categórico: “Eu não comi a Sônia Braga!” Maria Rita ganhou o Grammy de Melhor Filha de Elis Regina; Jovem alemão morreu no cinema asfixiado com pipocas; Marcos Pasquim fez papel de Jesus na Via Sacra de Cabo Frio;

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Correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter abriu discussão na imprensa sobre o consumo de álcool do Lula, mas nenhum jornal do mundo tocou no ponto crucial da questão: quantos quilômetros o presidente andou fazendo por litro em 2004? My Life, autobiografia de Bill Clinton, confirma: o que o ex-presidente fez com Monica Lewinsky foi sexo da pior qualidade; Bob Dylan revelou em sua autobiografia que tinha horror aos hippies nos anos 60; Soco de Chorão em Marcelo Camelo no aeroporto marcou as comemorações no Brasil dos 50 anos de rock’n roll; Reportagem da Folha de S. Paulo adverte: “Cheiro de carro novo faz mal à saúde.” Ou seja, pobre reclama de barriga cheia; Inspetores da

onu

deixaram as instalações nucleares de Resende con-

vencidos de que o urânio talvez seja a única coisa cujo enriquecimento no Brasil não é ilegal; Arnaldo Jabor comprou um mandacaru de 1,60m; Benedita da Silva abandonou o visual retrô africano; Nicole Kidman ganhou 3,5 milhões de dólares para beijar Rodrigo Santoro em um comercial de perfume; Cientistas britânicos – ô, raça! – estabeleceram o elo entre o desodorante e o câncer de mama; O Carnaval na Bahia arrebentou: nem a cantora islandesa Björk conseguiu estragar a festa em Salvador;

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O jornal britânico The Independent comparou Chico Buarque a uma mistura de Jorge Luis Borges com Sofia Coppola. Os olhos verdes, imaginam os ingleses, são lentes de contato; Mera coincidência: uma semana após o tombamento do acarajé, Caetano Veloso confirmou sua separação de Paula Lavigne; Desabafo de Guga após sua eliminação na primeira rodada em Roland Garros: “Feliz é o Rubinho que pode por a culpa no Schumacher”; Um mês após a convenção do

pmdb

ainda não estava muito claro se o

partido saiu pra dentro ou entrou pra fora do governo; A revista Isto É deu a José Dirceu o título de “Brasileiro do Ano”; Roberto Carlos pediu Ivete Sangalo a Papai Noel; Sequestraram a mãe do Robinho;

2005 (o ano do Brasil na França) Deu na revista científica Nature: “Morcego faz sexo com a sogra pelo bem da evolução da espécie”; Hospedados no spa particular que Boni montou em sua casa de Angra dos Reis, Ricardo Amaral e Bebel Sued engordaram três quilos cada;

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Aconteceu de tudo um pouco, inclusive incêndio, ao longo do ano na mansão de Ozzy Osbourne. Vizinhos do ex-roqueiro – ô, raça! – disseram que os acidentes em série começaram depois que a família largou as drogas; Soldados americanos viciaram Saddam Hussein em Doritos na cadeia; Chiquinho Scarpa pegou catapora; Acabou, sem mais nem menos, o pregão viva voz da Bolsa; Árbitro-geral de Wimbledon recriminou os gemidos da russa Maria Sharapova nas quadras; O cerimonial do Palácio do Planalto alertou Lula às vésperas da viagem oficial do presidente a Edimburgo: “Cuidado com as bebidas típicas escocesas”; O ministro Roberto Amaral, da Ciência e Tecnologia, cismou que o Brasil precisa de bomba atômica; Foi uma tristeza a lua de mel de Ronaldinho e Daniella Cicarelli. Ainda bem que passou rápido; A cobertura da morte do papa pela

tv

Globo deixou uma pergunta no

ar: quantos cachecóis, afinal, tem o guarda-roupa da correspondente Ilze Scamparini? A Grã-Bretanha respirou aliviada: ao contrário de todas as previsões, o príncipe Charles não se machucou na lua de mel; Notícias sobre cuidados com a prisão de ventre de Rosinha Garotinho quase provocam motim em Bangu 1;

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Horóscopo Chinês: o Atlético Mineiro caiu para a segunda divisão justo no Ano do Galo; O melhor que se pode dizer de 2005, especialmente para quem não foi a Paris, é que foi o ano do Brasil na França.

2006 (Limbo nunca mais!) Dick Cheney, vice-presidente dos

eua ,

mirou sua escopeta num pato e

acertou um velhinho atrás da relva; Médico que operou cérebro de Keith Richards ficou chocado com o que viu durante a cirurgia; Paulo Coelho passou o réveillon com José Dirceu na França; Rolou recall de tudo no Brasil, inclusive de Barbie, Toddynho e Cornetto Chococo; Foi leiloada por 25 dólares na internet uma pedra extraída do rim do ator que interpretou o Capitão Kirk original na série Jornada nas Estrelas; Evo Morales quebrou o nariz no Dia Internacional do Orgasmo; O papa Bento 16 acabou com o limbo por decreto; Tom Cruise comeu a placenta da mulher após o parto da filha? Há controvérsias;

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Os 400 vestidos de alta-costura doados por um estilista – ô, raça! – à primeira-dama Lu Alckmin deixaram o marido na maior saia justa; O brasileiro médio pediu a Papai Noel que desse modos à sua mulher no show de Chico Buarque; Gerald Thomas trocou a festa do centenário do dramaturgo irlandês Samuel Beckett pelos encontros em prol da salvação da Varig; Uma coisa chamou atenção no velório festivo de James Brown: Michael Jackson aparentava estar mais doente que o próprio ídolo falecido; Apêndice de jovem noivo de Suzana Vieira deu problemas em plena lua-de-mel; Luana Piovani começou a circular por aí com Dado Dolabella; De Zagallo, resignado após nova eliminação do Brasil para a França em copas do mundo: “Puta que o pariu também tem treze letras”; 2006 merecia o mesmo destino de Saddam Hussein: foi um ano para se enforcar. Quem o passou na praia não perdeu nada!

2007 (por que não se calam?) Lula começou o ano com o pé esquerdo: o direito estava machucado! O presidente deu mil mancadas na posse do segundo mandato;

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Boato infame: não é verdade que a chuva no réveillon do Rio tenha sido decidida em Bangu 3, como quase tudo de ruim que iria acontecer ao longo do ano na cidade; O curitibano – ô, raça! – ficou em sexto lugar no ranking de pedestres que andam mais rápido no mundo; Luana Piovani feriu o estatuto do idoso ao chamar Caetano Veloso de “banana de pijama”; Tati Quebra-Barraco tirou uma costela numa lipo para diminuir a cintura; A proposta de cercar o vão livre do

masp

com grades foi, de longe, a

ideia de jerico do ano; Vavá, irmão de Lula, desmoralizou o lobby; Teve mosquito que fugiu para Miami depois que São Paulo adotou o método cubano de combate à dengue; O Brasil virou o quinto maior produtor de spam do mundo; ______________________________________ “Por qué no te callas?”, REI JUAN CARLOS, da Espanha, na lata de Hugo Chávez (frase do ano) _______________________________________ A Virgem Maria fez aparição numa fôrma de pizza em Houston, nos eua ; Ivete Sangalo revelou em entrevista que usa uma espécie de cone de papel descartável para fazer xixi em pé;

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Roubaram a bolsa de Naomi Campbell no show do Led Zeppelin em Londres; Ronaldo Fenômeno atuou em 14 partidas no ano. Isso quer dizer o seguinte: jogou menos que Chico Buarque em 2007; Primeiro na Bahia, depois em Brasília, Marta Suplicy esteve duas vezes com a tocha do Pan nas mãos, mas não foi nessas ocasiões que a ministra do Turismo virou notícia com o comentário “relaxa e goza”; Teve gente que passou o Natal no aeroporto! O novelista Aguinaldo Silva tirou aquele acaju ridículo da cabeça: vai virar o ano com o cabelo branquinho, branquinho; A exemplo do Police, do Pink Floyd e do Led Zeppelin, Sandy e Junior já planejam voltar em 2008!

2008 (Obamamania adia fim do mundo) Paulo Coelho contou em sua biografia que fez sexo com uma namoradinha na frente de uma tia muda e paralítica da garota; O divórcio custou a Paul McCartney 32 milhões de euros (8 milhões por cada ano de casado, 20.273 euros por dia de convivência, 844 euros por hora de relacionamento); Choveu água viva no litoral de São Paulo;

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José Dirceu implantou 6.710 fios de cabelo testa acima; Uma tal “pílula antibarriga” foi recolhida às pressas das farmácias de todo o planeta, após a descoberta do suicídio como um de seus efeitos colaterais; O ator Pedro Cardoso esteve à frente de uma cruzada artística contra a ditadura da mulher pelada no cinema e no teatro brasileiros; Zeca Pagodinho voltou de Bariloche com a ideia de construir uma estação de esqui em Xerém. Jurou que de Aerolineas Argentinas ele não voa nunca mais; ______________________________________________ “La presidenta soy yo, carajo!”, CRISTINA KIRCHNER, numa D.R. com seu marido Néstor, nos aposentos do casal na Casa Rosada _________________________________________________ Nicolas Sarkozy comparou a conquista de Carla Bruni à batalha de Austerlitz, considerada o maior feito de Napoleão; Bateram a carteira de Eduardo Suplicy na missa de aniversário de São Paulo; Naomi Campbell bateu em um policial no aeroporto de Heathrow, em Londres; O empresário brasileiro Eike Batista decidiu: quer ser mais rico que o Bill Gates; A Bahia elegeu um Rei Momo de 58 quilos; Ultrassonografia pode ter localizado o ponto G;

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Obama decidiu levar a sogra para a Casa Branca; Caiu em 60% a procura pela chamada “depilação brasileira” em Nova York; A barrinha de cereal sumiu do cardápio de bordo da Gol; O trema saiu de cena, tranquilo, tranquilo; Em defesa da Abin pode-se argumentar que a inteligência no Brasil esteve em crise de uma forma geral este ano; Lula comparou o Brasil de 2008 ao de 1958. Isso quer dizer o seguinte: o presidente não entende nada de futebol; Justiça seja feita ao ex-ministro, o implante de cabelo de José Dirceu foi, a rigor, a única coisa que deu certo na esfera governamental em 2008.

2009 (Woody Allen careta, Lula analfabeto, Camille Paglia de graça...) O ex-velocista Robson Caetano explicou na delegacia que arrombou a porta do quarto de sua mulher porque o poodle dela fez xixi na camisa dele; Erasmo Carlos disse no programa Irritando Fernanda Young (gnt ) que, até aquela data, havia levado 1.150 mulheres para a cama;

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O meio-irmão de Barack Obama preso no Quênia com maconha ganhou apelido no Palácio do Planalto: Meio-Vavá; A cantora Rihanna fechou acordo com o namorado Chris Brown: a próxima surra que ele der nela custará 10 milhões de dólares ao rapper; Contemporâneos: Zeca Pagodinho comemorou 50 anos junto com a Barbie; Ronnie Von, o “Príncipe” da Jovem Guarda, trocou de assessoria de imprensa; A atriz Stephany Brito, dona do coraçãozinho de Alexandre Pato, voltou para o craque do Milan com seios novinhos em folha; O galã George Clooney disse à revista People que prefere exame de próstata a entrar no Facebook; Caetano Veloso chamou Woody Allen de careta, cafona e reacionário; Lambança: caveirão do Bope colidiu com helicóptero do governo do Rio no pátio do Batalhão de Choque da

pm ;

___________________________________ “A senadora Ideli Salvatti cisca pra dentro”, FERNANDO COLLOR, senador _____________________________________ Suzana Vieira, Jean-Claude Van Damme e Sylvester Stallone dividiram o mesmo camarote de cervejaria no sambódromo carioca; Nizan Guanaes pagou cachê para Naomi Campbell passar o Carnaval em Salvador;

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Apareceu um novo suposto filho biológico de Michael Jackson na fila do exame de

dna

dos tribunais de Los Angeles: Prince Michael

Malachi Jet Jackson levou 24 anos pra se dar conta por que lhe deram esse nome; O governador André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul, manifestou desejo de estuprar o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, em praça pública; José Saramago fechou, enfim, seu blog; stf

não concedeu liminar a Roger Abdelmassih com receio de que o médico pudesse fazer mal ao habeas corpus em sua clínica;

O mundo do marketing esportivo tomou um choque: Fidel Castro rompeu com a Adidas ao reaparecer na

tv

cubana com agasalho

da Puma; Entreouvido numa conversa reservada que reuniu os três filhos de Michael Jackson após a morte do pai: “Eu acho a tia La Toya mais doida que o vovô Joe”; Dona Canô ralhou com Caetano: “O Lula não é analfabeto!”

2010 (rabada com ovo de codorna e outras milongas mais) Mike Tyson assinou contrato com o canal Animal Planet para comandar um programa de corridas de pombos;

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Fracassou a campanha para Chico Buarque devolver o Prêmio Jabuti de literatura; O ator Nicolas Cage decidiu só comer animais que fazem “sexo digno” – ô, raça! O que mais assustou o príncipe Charles no ataque de estudantes à sua limusine, em Londres, foi a expressão de pânico da Camilla Parker-Bowles; Pai de Michael Jackson comeu rabada com ovo de codorna no Pelourinho, em Salvador (BA); A japonesa Chizuko Kuwamoto venceu o Campeonato Mundial de Tango; Vera Fischer diz que passou mais um ano sem praticar sexo, mas que, em compensação, escreveu 10 romances em 2010; A Justiça Federal negou a Ziraldo pensão mensal de anistiado igual à de Carlos Heitor Cony; A micro fantasia da rainha de bateria Paola Oliveira foi confeccionada com crina de cavalo, cristais austríacos, penas de faisão, rabo de galo e pele de chinchila; Evo Morales disse na Conferência Mundial dos Povos Sobre Mudanças Climáticas que o frango bombado de hormônio estimula a homossexualidade e a queda de cabelo; O governador de Nova York, David Parson, foi multado em US$ 62 mil dólares por pedir e aceitar entradas para jogos de beisebol do seu time, o New York Yankees;

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2011 (entre a disfunção erétil e o chimpanzé no cio) O jornal britânico The Guardian incluiu Dilma Rousseff na lista de “mulheres mais inspiradoras da atualidade”; O humorista Rafinha Bastos começou o ano à frente de Lady Gaga, Justin Bieber, Britney Spears e Barack Obama no ranking New York Times de celebridades mais influentes do mundo no Twitter; Eike Batista chegou ao oitavo lugar no ranking da revista Forbes dos homens mais ricos do mundo; Cientistas britânicos descobriram que o pênis humano já teve espinhos. Ou seja, a vida já foi muito mais difícil pra todo mundo; Gilberto Kassab registrou endereço na internet com iniciais

jk ;

A presidente Dilma fez o pior omelete da história dos omeletes, ao vivo no programa da Ana Maria Braga; No embalo da lua-de-mel do mundo árabe com a internet, um egípcio deu à sua primeira filha o nome Facebook; Propaganda da Sociedade Brasileira de Urologia aconselhou: “Não vire as costas para a disfunção erétil.” Vai que de repente ela passa, né? Uma produtora pornô americana mandou carta a Pippa Middleton oferecendo US$ 5 milhões para ter a primeira-cunhada do príncipe William em uma única cena de filme erótico;

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João Gilberto superou Tim Maia em número de shows cancelados numa única temporada; Obituário: Sérgio Britto, Stevie Jobs, Christopher Hitchens, Joãosinho Trinta, Vaclav Havel, Cesária Évora, Kim Jong-il... Deus andou chamando a esmo no quarto trimestre! Ao se dar conta de que a soja estava destruindo o cerrado, a atriz Letícia Sabatella voltou a comer carne; A Grécia acabou três vezes ao longo do ano!

2012 (respirar nunca pareceu ser tão redundante) Padre Marcelo Rossi confessou em entrevista a Jô Soares que já foi chegado a anabolizantes: “Tomei até o pior de todos, o de cavalo”; A ex-bbb – ô, raça! – Renata Dávila posou pelada chupando o dedão do pé em foto de página inteira da Playboy; Uma feira de livros em Ribeirão Preto (SP) terminou em conflito com a polícia; José Genoíno parou de fumar. Dizem os amigos – ô, raça! – que foi a melhor coisa que ele fez nos últimos 50 anos; O marido de Ana Hickmann chamou o marido de Adriane Galisteu de frouxo, e ficou por isso mesmo;

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Caiu a obrigatoriedade do visto de entrada para brasileiros nos seguintes países: Letônia, Malta, Chipre e Estônia; Sair de Cuba ficou mais fácil que entrar nos

eua ;

O calcanhar de Aquiles subiu à cabeça de Adriano quando ele se transferiu do Corinthians para o Flamengo; Luana Piovani aproveitou o finalzinho de sua gravidez para bater boca pelo Twitter com o sujeito pelado da capa da revista G Magazine; Um vibrador de ouro avaliado em oito mil reais foi roubado de uma sex shop de Brasília; Cientistas israelenses desenvolveram um tipo de maconha que não dá barato, mas conserva a larica, que é a parte mais doce do vício; O Rio promoveu sua cachaça à categoria de patrimônio histórico e cultural do Estado; Quando ninguém mais lembrava nem no Clube da Esquina de que um dia haviam brigado, Milton Nascimento e Toninho Horta fizeram as pazes; ______________________________________________ “Sempre estou bêbada na primeira transa com alguém”, SABRINA SATO, em entrevista à Marie Claire _______________________________________________ Mário de Andrade atingiu, salvo engano, a marca da milésima carta publicada em livros;

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Luiza Possi desmentiu relacionamento íntimo com Maria Gadú; O Senado criminalizou o cheque-caução; Um turista americano deu cano de 270 caipirinhas consumidas em 15 dias de hospedagem num hotel de Copacabana; A presidente Dilma Rousseff pediu “um

pib ão

grandão” a Papai Noel;

Luis Fernando Verissimo saiu do hospital a tempo de alegrar o réveillon de um ano quase terminal.

2013 (conquistas feministas: recall de O.B. e direito a cirurgias de próstata para mulheres)

Cientistas da Universidade de Oxford concluíram que mulher de bumbum grande e cintura fina – ô, raça! – é mais inteligente que a média; O cantor Fiuk deixou de ser “filhinho de papai” depois que passou a andar com MC Sapão e Rappin Hood; O “carro inteligente” brasileiro que atropelou Ana Maria Braga ao vivo no Mais Você decerto preferia ser apresentado ao público mais qualificado do Manhattan Connection, mas nada justifica ter perdido a paciência daquele jeito com a apresentadora!

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Levantamento em clínicas de cirurgia plástica da Grã-Bretanha revelou que, em matéria de padrão de beleza, as britânicas não sabiam o que queriam, se o nariz da Kate Middleton ou o bumbum da irmã dela. Depois de quatro anos cumprindo agenda de secretária de Estado em visitas a 112 países, Hillary Clinton acordou sem ter nada pra fazer em casa; Aloizio Mercadante esteve internado em Brasília com “apendagite epiploica”; Encontrado sob o asfalto do estacionamento de um shopping em Leicester, na Inglaterra, o esqueleto do rei Ricardo III; A rede americana de notícias cnn elegeu Daniela Mercury a “Madonna brasileira”; Como os gols de Zico, o Engenhão pode virar patrimônio imaterial do Rio! O estádio, sabe-se agora, não tem a mínima consistência material; Ideli Salvatti deu a Aécio Neves o segundo pedaço de seu bolo de aniversário; A nova era Felipão começou praticamente junto com o Ano da Serpente no horóscopo chinês; Cientistas americanos concluíram que os homens que assistem a mais de 20 horas de

tv

por semana têm produção de esperma redu-

zida quase pela metade; Depois de colocar à venda seu iate e seu jatinho, Eike Batista quase precisou se desfazer de sua coleção de botinhas de salto carrapeta para cobrir dívidas;

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Pablo Neruda juntou-se a Tim Maia e a Yasser Arafat no hall de celebridades que foram recentemente exumadas à toa; A polícia da Islândia matou um cidadão pela primeira vez em sua história; A

usp

entrou para o ranking das dez universidades públicas com mais piolhos de pomba na América Latina;

Marina, a portentosa filha do ministro Guido Mantega, chegou a usar sutiã 46 antes de reduzir as próteses de silicone para o tamanho 38; O Congresso brasileiro não mandou comitiva parlamentar ao funeral de Ronald Biggs; Renan Calheiros respirou aliviado: o goleiro Rogério Ceni foi a maior vítima de bullying nas redes sociais em 2013.

2014 (brasileiro imaginou de tudo na Copa, menos o 7 a 1) Beth Carvalho foi o Paulinho da Viola da vez: ganhou um terço do cachê de Lulu Santos e Carlinhos Brown para, como eles, se apresentar no réveillon de Copacabana; A diferença de sensação térmica entre o Rio e Nova York chegou a quase 70 graus;

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Os shoppings não foram escolhidos por acaso para palco dos rolezinhos de verão: o ar condicionado foi determinante; O físico britânico Stephen Hawking cismou dessa vez que o buraco negro não existe; Preso que não conseguiu enganar Eduardo Suplicy em golpe do celular sofreu bullying na cadeia; Bill Gates previu o mundo sem pobres em 2035, mas não explicou se, para isso, vão usar armas químicas; Especialistas japoneses descobriram no Egito a tumba de um chefe de fábrica de cerveja – ô, raça! – da época de Ramsés II; O Cristo Redentor teve seu dedo polegar da mão direita mutilado por um raio; A Anvisa proibiu a venda em todo território nacional do “Anel para Ronco”; Fila para comprar maconha legal no Colorado fez muito maluco de Denver pensar até em largar o vício; Sempre à frente de seu tempo, o crime organizado carioca pôs em prática uma nova modalidade de empreendedorismo marginal: o arrastão em estacionamento de hospital: Mike Tyson ameaçou no New York Times se manter sóbrio em 2014; O ex-astro da

nba

Dennis Rodman foi a Pyongyang cantar “happy

birthday to you” para o líder norte-coreano Kim Jong-un;

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2015 (quem lê tanta notícia?) A internet do século 21 incluiu no velho mundo da notícia conteúdo suficiente para alimentar uma rádio relógio da era digital com um misto de humor negro, bizarrices e cultura inútil. “Você sabia?” Confira abaixo uma seleção de acontecimentos postados este ano nos portais de informação: Tudo, enfim, esclarecido: humanos surgiram após uma porca ter acasalado com um chimpanzé, diz cientista; Rapaz foi retirado de “pedalada pelada” após ereção; Laboratório descobriu espécie de rato – ô, raça! – que faz “orgias” de 14 horas e morre; Paciente tocou violão durante cirurgia no cérebro; Touro “gay” salvo do abate mostrou interesse pelo sexo oposto; Homem invadiu velório e atirou contra caixão de jovem em João Pessoa; Médica fez sucesso na internet espremendo cravos; Peixinho dourado com câncer foi operado pela 3ª vez para retirada de tumor; Câmeras de segurança flagraram homem fazendo sexo com Porsche na garagem de um prédio; Túmulos para obesos em cemitério do Rio foram um sucesso de vendas;

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Mãe alegou que filho saiu ferido de abraço no Pluto na Disney; Romena morreu eletrocutada ao tentar fazer selfie; Cristiano Ronaldo tem agora três bolas de ouro! Como dizem as portuguesas, “ai, Jesus!” Modelo usou espartilho 6h por dia para ter menor cintura do mundo; Ginecologista esqueceu celular no abdome de paciente após cesariana; Com filho pequeno, Ivete explicou como faz para transar com marido; _________________________________________ “As mulheres adoram sexo anal”, CLEO PIRES, atriz ________________________________________ Ex-palhaço Bozo revelou que já usou 30 pedras de crack por dia; Número de cachorros de estimação superou o de crianças no Brasil; Confirmado: filho desobediente tem mais chances de se tornar

ceo

de

empresa; Estudo concluiu que chimpanzés têm capacidade cognitiva de cozinhar; Pesquisa apontou mexicano como o povo mais feliz do mundo com a própria aparência; Iniciado no Japão estudo para instalação de banheiro e bebedouro em elevadores;

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nonsense news 127 evasĂŁo de privacidade na era do desaforo 153 a vida como ela web 172 economia idiota 204 politicĂĄlia no paĂ­s dos indignados 224 volta olĂ­mpica 259 fim do mundo in progress 275 126


NONSENSE NEWS Notícia é um troço estranho! Quanto mais ampla a cobertura jornalística, mais provinciano é o noticiário. Taí a internet que não me deixa mentir! Quem tem o hábito doentio de acompanhar a informação em tempo real na web me entende. Qualquer atropelamento em Macapá ou tremor de terra nas ilhas Curilas mexe com a gente. Notícia ruim, quando não consome papel de imprensa ou tempo de rádio/tv, ultrapassa as fronteiras do interesse coletivo e chega rápido onde não importa a mínima. A onda da informação desnecessária é uma espécie de vírus ainda sem vacina na rede mundial de computadores. A ideia de que quanto mais informação melhor – e espaço na rede não custa nada – trouxe para a vida inteligente a possibilidade de acesso rápido ao bestialógico. É o que chamam de “conteúdo”. O pequeno drama distante, a polêmica exótica, a trilha sonora do fim de semana, a mulher que amamenta cachorros, a sexualidade como ela é em qualquer esquina do mundo, tudo o que não interessa está ali ao nosso alcance, basta ligar a máquina. (17/03/2001) Um tapinha não dói O jornalista e escritor Zuenir Ventura confessa em seu artigo desta semana no site “No.” que fumou maconha uma única vez em 1968. Ou seja, tá explicado por que, para ele, o ano em questão não terminou! (07/08/2001) Boechat, o anjo pornográfico! As tragédias que se abateram esta semana sobre o jornalismo brasileiro confirmam aquela velha tese: jornalista bom é jornalista morto! Ricardo Boechat está vivo, coitado! “Vivo demais!” – sugere o fla127


grante que lhe deram ao telefone, mostrando sua matéria para outro homem, qual um anjo pornográfico! Que vergonha! Nem Chiquinho Scarpa experimentou tamanha humilhação quando aquela maluca saiu por aí dizendo em programa de auditório que o tinha visto em outro tipo de programa, igualmente com um monte de gente, só que na cama! Mais chocante no caso do jornalista talvez seja o fato de que nada que se diga contra o playboy paulista poderá demiti-lo do emprego, até porque ele não trabalha! Retomando o fio da meada, se alguém puxar a ponta do iceberg que Boechat deixou à mostra, vai dar pra ver a bunda da imprensa gasta de tanto que lhe passam o osso em troca do filé mignon de um escândalo graúdo! Atire a primeira pedra o medalhão de grande jornal ou revista que nunca entubou um pinto para comer a galinha! Toda boa redação tem um “time de bandidos” considerável! “Time de bandidos”, bem entendido, no sentido que Ricardo Teixeira – o inventor da expressão – jamais alcançaria! É gente que cria calo no ouvido de tanto conversar com o demônio para denunciar o inferno! Chamar urubu de meu louro é com eles mesmos! Ou seja, são uns doentes! Vítimas da sociedade ávida pelo conhecimento de falcatruas, adultérios e métodos de dieta alimentar – tudo o que o povo gosta de ler é ilegal, é imoral ou emagrece –, resta aos velhos combatentes da informação meter o nariz onde não são chamados, embora sempre bem recebidos! Deus sabe onde um homem é capaz de se enfiar quando quer um furo, ainda que seja o do ranário da mulher do Jader Barbalho! A brincadeira funciona assim: quem botar primeiro o dedo na ferida ganha! Em terra de pústulas, quem conhece a (o) maior é rei! Muniz Sodré diz que esse tipo de comportamento sugere a discussão da questão da “deontologia”, mas isso é frescura de teórico! O negócio é o seguinte: não dá mais para fazer nada sério no Brasil – não precisa nem ser jornalista – sem tratar com esse pessoal que detém, além de informação, dinheiro, poder, emprego, prestígio e tudo mais que o capitalismo moderno esteja levando no rodo! 128


Ou seja, à exceção do Ricardo Boechat, que nunca foi certo, tá tudo errado! O Brasil caminha a passos largos para produzir a manchete que corre à boca pequena dos grandes jornalistas – falta ainda ousadia para publicá-la: “Fodeu tudo”! O resto é bobagem. Ao contrário do que me disse certa vez um editor fariseu, jornalista não é como mulher de César coisa nenhuma! Não tem que parecer honesto, basta sê-lo! E o Boechat é! (28/06/2001)

Deus é Abravanel! Fosse no Show do Milhão, melhor seria pular a pergunta sobre as circunstâncias em que Patrícia Abravanel se livrou do cativeiro em São Paulo. Como a versão dos sequestradores ainda não é conhecida, restariam as alternativas do pagamento do resgate (sustentada pela polícia), da eficiente atuação da polícia (elogiada pela família) e do poder libertador de Deus (evocado pela vítima). Seria muito arriscado, no caso, pedir ajuda aos universitários ou às placas. Melhor pular! Mas a imprensa, pelo visto na tarde de terça-feira, não conhece muito bem as regras desse jogo! Teve jornalista pulando feito louco para alcançar o que Patrícia dizia na sacada do segundo andar da mansão dos Abravanel, no Morumbi, a respeito de seu cativeiro. Como evangélico alegre é tudo igual – seja ele vítima de sequestro em São Paulo ou governador no Rio de Janeiro –, a cena logo se transformou num misto de culto religioso e programa de auditório! Lá em cima, Patrícia pregava Deus como um daqueles pastores da Rede Record! Lá embaixo, os jornalistas se comportavam como as “colegas de trabalho” de Silvio Santos durante o quadro “Vocês querem dinheiro?” Só não saiu briga no andar térreo porque Deus não quis! Cada pergunta era um berro sobre as condições da clausura, o convívio com os sequestradores ou a vida daqui pra frente! As melhores respostas foram: “Deus é poderoso, meu!”, “Deus está em mim!”, “é impossível viver sem Deus” e “ponham Deus em vocês também” – não necessariamente nesta ordem. O sorriso que vinha de cima era 129


desconcertante para quem, lá embaixo, tentava apurar o sofrimento da sequestrada! Patrícia Abravanel foi bem tratada, tinha um quarto só para ela numa boa casa, assistia à Rede Gospel na tv, lia a Bíblia e chegou a jogar cartas com seus sequestradores! “Quem ganhou o jogo?” – quis saber um jornalista, apostando que alguma coisa ela deve ter perdido nos sete dias que passou no cativeiro! Não houve tempo para resposta. A pergunta coincidiu com a chegada de Silvio Santos à sacada. Raraaai! É com você Silviô: “Se eu soubesse que ela ia voltar tão bem assim, teria pedido aos sequestradores que ficassem mais tempo com ela!” Nunca tinha visto a filha feliz daquele jeito! “Ponha Deus em você também, pai” – sugeriu Patrícia. Se a cena for ao ar no programa do Gugu, no domingo, mata de vez o Domingão do Faustão! Momentos após o “Show da Sacada”, a polícia apresentou à imprensa dois dos sequestradores de Patrícia Abravanel. Como chegou a eles? Deus, decerto, os dedurou! (28/08/2001)

Coisa de doido Parece mentira, mas o noticiário garante que a Assembleia Legislativa do Rio aprovou projeto de lei que obriga boates, teatros e cinemas a manter em suas instalações guarda-volumes apropriados para o depósito de armas de fogo de seus frequentadores! A ideia de jerico é do deputado Wolney Trindade, do pmdb. (30/10/2001) * * * A propósito, mais ou menos na mesma época, a Câmara de Vereadores de Esperantina, no Piauí, criou o Dia Municipal de Debate Sobre Orgasmo – aí incluído o método Mão Santa, famosíssimo em todo estado!

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tra tudo-isso-que-aí-está – qualquer coisa pelos cálculos deste domingo entre 135 mil e 1 milhão de indignados nas ruas – é um fenômeno matemático que talvez explique a confusão política que anda circulando no breu das redes sociais: o brasileiro desaprendeu a somar, só sabe subtrair uns dos outros! (16/08/2015)

EVASÃO DE PRIVACIDADE NA ERA DO DESAFORO Raimundas.com.br O nariz da Carla Perez meteu-se onde não foi chamado! Projetou-se na mídia como a parte mais arrebitada do corpo da dançarina, que cismou de querer ser reconhecida também pela parte da frente! Aparentemente, conseguiu! Tem gente que já a prefere vindo do que indo! Resultado: o bumbum da loura tchan, pôster da Playboy de janeiro, não vai mais com a cara dela. Bumbum bonito de mulher feia já foi o fetiche de uma geração! Naquela época, a “Raimunda” era a tal! E eram muitas! Com o tempo, as moças do gênero foram ficando mais bonitinhas e menos abundantes, até praticamente se extinguirem! Não se vê mais esse tipo “feia de cara e boa de bunda” por aí a torto e a direito! A Carla Perez que já não existe mais talvez tenha sido a última – um mito que a cirurgia plástica lipoaspirou! A graça de encontrá-las sempre foi a surpresa que proporcionava aos homens de se flagrarem atraídos pela coisa feia, que, descontado a parte horrorosa, ficava irresistível! Não era o caso da Carla Perez! Essa, salvo engano, não tinha rosto – talvez por isso ninguém jamais ousou chamá-la de Raimunda! Puro preconceito! As “Raimundas” eram as feias mais felizes do mundo quando ainda não havia Clínica Santé e, segundo dados do ibge, o país tinha mais padarias que academias de ginástica. 153


Naquele tempo, a brasileira que não herdasse de berço um rostinho bonito estava condenada a crescer com o mesmo nariz batatudo, a mesma orelha de abano e as mesmas rugas de expressão que depois se misturavam às papadas do passar dos anos. As mulheres eram assim quando ainda não havia recall de suas partes! Agora virou zona! É comum hoje em dia mulher bonita ficar gostosa – e vice-versa –, em qualquer esquina tem um cirurgião plástico para cuidar disso! Corta aqui, enxerta ali, dá uma chupadinha lá e o resultado está nas páginas da Playboy! Não há nada de errado com a nova Carla Perez. Afora a saudade das “Raimundas” que provoca em alguns tarados da época, ela está muito melhor que antes! (16/01/2001)

Ninguém me ama Gerald Thomas voltou para Nova York fulo da vida com o Rio, “uma cidade de imbecis que só falam de lipo, de bíceps, de tríceps...” Ninguém na cidade dá mais valor a um cabeludo esquelético de óculos! Só no primeiro mundo este tipo ainda se dá bem! (11/12/2001) Tio é a... A família Suplicy vive dias de apreensão: ninguém sabe como Supla vai reagir quando o sobrinho Teodoro, que nasce em fevereiro, chamá-lo de “tio”! (04/01/2002) Dúvida cruel A chamada de capa da Playboy – “Vai dar pra passar?” – para o ensaio fotográfico de Sheila Mello na pele de uma colegial nua causou polêmica nas bancas de revista: muita gente ficou achando que ela vai tomar pau! (06/01/2002)

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A farra do mst A julgar pelos lamentáveis acontecimentos do fim de semana na fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (mg), o mst mudou de tática. Deu agora para invadir a privacidade alheia – ninguém em sã consciência abriria o armário da primeira-dama do país em busca de terra para plantar. fhc também ficou perplexo ao ver sua cama exposta nos jornais como se fosse latifúndio improdutivo. Seria menos chocante se lhe tivessem sacrificado uma vaca na churrasqueira. Em vez do curral, os sem-terra invadiram a sala de tv, a adega, os jardins da fazenda, enfim, tudo aquilo que a sociedade brasileira só compartilha com amigos e fotógrafos da revista Caras. Desapropriaram bebidas finas, charutos cubanos e o freezer para assentamento de um forró no quintal do presidente da República. Invasão de privacidade igual, francamente, nem quando a Polícia Federal fez a festa no escritório da empresa de Roseana Sarney, no Maranhão. Tomar um porre no sofá do presidente é o tipo de coisa que o próprio Lula acha um absurdo. Aliás, todo mundo que tem sofá em casa ficou indignado com aquilo. Se o estofamento for de pano claro, então, aí é revoltante! Podiam ao menos tirar as Havaianas para pisar no tapete. Foi péssimo, mas não há como negar que se a ação foi programada para chamar atenção para o mst, a farra foi um sucesso. Há muitos anos o movimento não conseguia tanto espaço na imprensa, ou seja, esculachar a intimidade de fhc pode ter sido ideia de marqueteiro contratado com este intuito. Invasão de privacidade é uma atividade praticamente inexplorada no Brasil. Quando acontece é de mentirinha. As pessoas por aqui viram celebridades quando topam mostrar a cama na Caras. Como não há invasão possível em tal processo de evasão de privacidade, o caso da fazenda Córrego da Ponte pode estar inaugurando uma nova era na exposição de intimidades pela mídia. Nada justifica a lambança no quarto do presidente da República, mas até que poderia ser divertido se a festa fosse, por exemplo, no sofá da sala do Chiquinho Scarpa. Com todos os sem-terra vestindo 155


cueca com brasão da família do playboy! O próprio conde não se ofenderia com isso – nada mais ofende Chiquinho Scarpa. O problema é que, depois da terceira invasão do gênero – mantido o atual interesse da imprensa nesse tipo de ação –, as celebridades brasileiras passariam a oferecer suas casas para as farras do mst, e a brincadeira perderia a graça. As revistas voltariam à rotina de arrombar porta aberta. (25/03/2002)

* * * Não perguntem a João Pedro Stédile qual sua opinião sobre invasão de privacidade. Claro que ele é a favor.

“Quando te encontrar, te mato” Rola um clima estranho na rede. O palco de interatividade que distinguia a internet pela saudável troca de ideias está virando arena de ofensas pessoais movidas pela intolerância. Já há quem se manifeste pela paz com promessas de sopapo e ameaça de morte. As hostilidades contra a livre manifestação de pensamento poderiam até se justificar pelo estado de exceção de ânimos em tempos de guerra, não tivessem dia desses fuzilado Zuenir Ventura pelo crime de um artigo em No Mínimo sobre a celebrada pachorra baiana. “Se o colunista não gosta da Bahia, que fique no Rio para ser assaltado ou sequestrado”, sentenciou-se. Mais não disseram em respeito ao “velho”. No meu caso, que transgredi a lógica pacifista de boicote à Coca-Cola, mandaram-me enfiar os pepinos dos sanduíches do McDonald’s naquele lugar que na terra do Ancelmo Gois chamam de fiofó. Desejaram que bombas caíssem na minha cabeça e, menos figurado em seus modos, um leitor foi direto ao assunto: “Quando te encontrar, te mato.” Isso é assustador, não particularmente pela segurança pessoal de um cretino como eu. Estarrece, no caso, a arquibaldização da rede, com os internautas divididos em torcidas organizadas nos moldes dessas que se manifestam em estádios de futebol. Coros 156


impublicáveis correm a web, tanto faz se a crítica é contra ou a favor de Lula. Gostar ou não gostar do presidente é assim como ser torcer para o Corinthians ou Palmeiras, Vasco ou Flamengo... Uns querem que os outros morram. A internet dá a qualquer um a incrível possibilidade de falar o que quiser, a hora que quiser e a quem quiser – cabe a cada um conter os instintos primitivos que nos diferenciam dos animais. Não há porque ser menos civilizado no computador do que no trânsito. Os internautas perderam o freio e, ainda que as trombadas sejam inevitáveis na velocidade da banda larga, não há porque xingar a mãe de quem lhes cruze a frente. Criou-se um monstro. Um tipo de leitor que ama ou odeia o que lê, dependendo se o texto traduz exatamente o que ele pensa ou não. O pensamento único, no caso, não é o de todos, mas o dele. E ai de quem ouse discordar. Filho disso, filho daquilo, vai pra... Faz tempo não recebo um e-mail injuriado acusando o que de fato no meu caso interessa evitar: a piada torpe. O humor parece não caber nos dias de hoje. Ainda assim, vou insistir. Fazer o quê? (05/04/2003)

Parece mentira Vocês não vão acreditar, mas, cinco meses depois de ter dado à luz a Sophia, segundo filho com Edson Celulari, Cláudia Raia reapareceu deslumbrante na festa de aniversário do Viagra no Brasil. Prestigiando o comprimido, lá estavam, entre outros, José Wilker e Guilhermina Guinle, Gabriela Duarte, Marcelo Serrado, Deborah Secco, Marcelo Rosa e a insaciável Alexia Dechamps. (04/08/2003) s.o.s. Tom Jobim Estou tomando coragem para ligar pra Danuza Leão, que, afinal, é a mãe da criança. Foi ela a principal responsável pelo movimento que rebatizou com o nome Tom Jobim o até então Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão. “Nunca mais você vai chegar à cidade 157


sem lembrar de Tom – e com muita honra”, escreveu a colunista ao sair toda orgulhosa da solenidade em que fhc sacramentou a justa homenagem. Na época, janeiro de 1999, viagens aéreas suscitavam boas lembranças, daí a simpatia geral pela ideia de associar o gênio musical da Bossa Nova ao aeroporto que lhe inspirou na aterrissagem de “Samba do Avião”. Oito anos depois, justo quando o carioca começava a se habituar com o nome do maestro impresso nos bilhetes de avião, Tom Jobim virou sinônimo desse inferno que todos conhecem e, se possível, evitam. Quem pode quer distância do Tom Jobim, ainda mais nessas datas de risco iminente de caos aéreo em todo o país. A persistir o ritmo alucinante da bagunça em curso, daqui a 10, 15 anos Tom Jobim terá mais fama de aeroporto do que sucessos na boca do povo. É sobre isso que eu quero falar com a Danuza. A gente não pode deixar que um homem desses vire uma espécie de Cumbica carioca, referência de mal-estar, descaso, lambança, sofrimento, irritação, histeria... “Droga de Congonhas” é uma coisa; “porcaria de Tom Jobim” é outra, muito mais grave, impossível não ligar o nome do aeroporto à pessoa do maestro. Ouça, cara colega, ouça a voz rouca das salas de embarque: “Não aguento mais o Tom Jobim”; “maldito Tom Jobim”; “Tom Jobim nunca mais”... E aí, Danuza, como diz o Nizan Guanaes, “não vamos fazer nada?” Proponho que se lance logo uma campanha para eleger outro nome para o aeroporto internacional – o Rio de Janeiro está cheio de homenageáveis com perfil mais apropriado ao estado de coisas a que chegamos. Aeroporto Internacional Eurico Miranda, por exemplo. Ou, quem sabe, Sérgio Naya, Anthony Garotinho... Não precisa também ser, necessariamente, o nome de alguém. Valem designações genéricas do tipo Casa da Sogra, da Mãe Joana, Salve-se-Quem-Puder, Sai de Baixo, Fim do Mundo, Viajou na Maionese... Aeroporto Internacional Tenha Santa Paciência, que tal? Em último caso, que volte a ser Galeão, que, a exemplo de Cumbica ou Congonhas, não tem mãe nem passado que se possa denegrir. Tom Jobim é que não pode continuar, 158


ou a garotada pode achar que “Samba do Avião” é aquele que diz “é pau, é pedra, é o fim do caminho. Peço sua benção, querida Danuza! ps: Sim, eu sei, Santos Dumont também não merece, mas alguma culpa nesse cartório ele tem. Se não tivesse inventado o avião... (07/04/2007)

Quem gosta de privacidade é mulher feia A leitura do noticiário dos últimos dias ensinou que, perto da internacional Naomi Campbell, a brasileiríssima Adriane Galisteu é pinto na linha de produção da indústria de celebridades. Em matéria de evasão de privacidade, a top model britânica está, pelos cálculos do Google, nada menos que 9 milhões de citações à frente de nosso ícone louro da vontade de aparecer. Em comum, a dupla passa a sensação de que nenhuma notícia é suficientemente má para seus protagonistas. Mas a capacidade de Adriane curtir o ócio como se fosse o ápice de sua carreira ganha sotaque provinciano perto do glamour com que Naomi veste seu drama pessoal na imprensa mundial. Consta do diário de bordo na nave estelar Campbell do mês de junho que, entre os dias 20 e 27, de uma sexta-feira a outra, Naomi viveu uma jornada e tanto. Seu destino seria a São Paulo Fashion Week no sábado retrasado, caso não fosse presa na véspera no tribunal de Londres que a julgaria por agressão a dois policiais no aeroporto de Heathrow. Condenada a 200 horas de serviços comunitários, a top model sentiu-se livre para trocar São Paulo por Milão, o biquíni da grife Rosa Chá por um roupão de seda da Dolce & Gabana, uma notícia por duas. Uma incrível volta por cima para quem pouco antes do julgamento foi flagrada em foto arrumando os cabelos sobre a legenda “Naomi Campbell está mesmo ficando calva”. Mas a maior e mais reluzente testa negra do fashionbiz teria ainda naquela semana seu nome cortado por Nelson Mandela da lista de convidados vips para o show beneficente comemorativo dos 90 anos do líder sul-africano. 159


Barrada no baile, parecia de novo arruinada. Muita gente achou que ela passaria os dias que se seguiram deprimida com o puxão de orelha de seu “avô honorário”. Era assim que Naomi chamava o velho parceiro em campanhas contra a aids na África. Como celebridades devem reagir ao veto de uma unanimidade como Nelson Mandela? Como superar o trauma de virar ícone de mau comportamento numa festa que admite até a Amy Winehouse? Muito simples! Na véspera do “baile” no Hyde Park, Naomi vestiu seu melhor traje a rigor para o jantar de gala beneficente em torno de Mandela, para o qual ninguém foi convidado – só compareceu quem pagou caro para ajudar as obras sociais do aniversariante. Havia muita gente famosa por lá, mas a internet destacou logo as presenças de Naomi Campbell e Will Smith, dando a falsa ideia de que eles foram juntos ao evento. É a glória! O mais espetacular de tudo é o seguinte: do flagrante da calvície à homenagem a Mandela, não há registro na imprensa mundial de uma só frase pronunciada pela top model. Nem um “ai” nas horas mais difíceis ou um “ual” nos momentos divertidos. Nenhuma justificativa, reconsideração, manifestação de júbilo ou de arrependimento. Naomi Campbell é uma personagem em busca de uma história. Quem quiser que invente a sua. (29/06/2008)

Ainda sobre a família... Já está quase tudo pronto para o fim do casamento de Madonna. A fonte – o tabloide inglês The Sun – não é lá muito confiável, mas a crise de confiança, como se sabe, é geral. Nesse caso, a porta-voz do casal tratou de confirmar que os artistas tentam conciliar suas agendas para consumar a separação. A verdade é que já há algum tempo a cantora não sabia como responder a pergunta que não quer calar: é casada? Nem lembra direito a última vez que cruzou com o marido. O que todo mundo diz é que Guy Ritchie foi o último a saber do jogador de beisebol e do desejo dela adotar outra criança. 160


É a derrota da privacidade! (09/09/2014)

Só o que faltava Momento de glória: a atriz Gwyneth Paltrow está divulgando a “vaporização de vagina” a que se submeteu em um spa de Santa Mônica, na Califórnia. Recomenda o calor na bacurinha para limpeza física e espiritual! (30/01/2015) Procure não saber Biografia autorizada de Andressa Urach revela, entre coisas cabeludas com o craque português Cristiano Ronaldo, que a ex-vice-Miss Bumbum Brasil viveu situações de orgasmo com animal, incesto e overdose de drogas. Parece que, perto dela, o Alexandre Frota é pinto! (24/08/2015)

A VIDA COMO ELA WEB A construção da piada Chegou-me às mãos numa mesa de bar em papel timbrado do Tribunal Judicial da Comarca de Cascais, mas tem toda pinta de tratar-se de case humorístico de congresso de Medicina do Trabalho. O relato em juízo de um acidentado pedreiro português é piada elaborada demais para ser real. Ou não, pá! Acompanhe: “Sou assentador de tijolos. Estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício de seis andares e, ao terminar o serviço, verifiquei que tinham sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo, decidi colocá-los dentro dum barril e descê-los com a ajuda de uma roldana fixada num dos lados do edifício. Desci ao térreo, atei o barril com uma corda, voltei ao telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro dele. Voltei para 172


baixo, desatei a corda e segurei-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagar. Devido à minha surpresa por ter saltado repentinamente do chão (meu peso é de 80 quilos), perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Na proximidade do terceiro andar, bati no barril que vinha a descer. Isso explica a fratura de crânio e a clavícula partida. Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos das mãos estarem entalados na roldana. Felizmente, já tinha recuperado minha presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos. Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao terceiro andar, encontro o barril que vinha a subir. Isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações das pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente para minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e, felizmente, só fraturei três vértebras. Lamento, no entanto, informar que enquanto me encontrava caído sobre os tijolos – incapacitado de me levantar e vendo o barril acima de mim –, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais que a corda e então desceu, caiu em cima de mim, partindo-me as duas pernas. Espero ter dado a informação solicitada do modo como ocorreu o acidente.” (03/04/2001)

A volta por cima Totalmente reintegrada à sociedade, faz grande sucesso como baby sitter em Nova York a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. A ex-ministra tem jeito pra coisa: as crianças não dão um pio enquanto estão sob a guarda dela. (05/06/2001) 173


ECONOMIA IDIOTA A socialização do apagão A ideia vigente de que só a colaboração da sociedade poderá evitar os apagões é a mais nova ameaça às liberdades individuais do cidadão! Desde o advento do antitabagismo não se via nada igual! Está-se criando um clima propício à dedução de que se alguém consumir energia a seu lado poderá deixá-lo no escuro! Em breve, acender uma lâmpada vai virar hábito tão condenável e repulsivo quanto acender um cigarro! Energia elétrica não é uma droga como outra qualquer! Foi, assim como o fumo, um vício difundido pela máquina de consumo e – ensina a campanha oficial – só será combatido com uma reação coletiva drástica à demanda desenfreada! Já, já vão nos pedir para denunciar pelo “Disque-Apagão” o vizinho que dorme de luz acesa e, se não chover, melhor entregar logo a patroa por abuso do secador de cabelo! O governo está adotando mecanismos para culpar a sociedade de consumo pela falta de luz! Dá pena ver o sujeito que já não tem mais o que desligar em casa fazendo contas de quilowatts e juntando moedinhas na fila do setor de lâmpadas frias da Casa & Vídeo! É comovente ver alguém que não tem onde cair morto comunicar aos filhos que não é sócio da Light, como se isso já não estivesse suficientemente claro para um menino que não usa tomada nem para enfiar o dedo! É com essa gente que o governo conta para resolver a crise energética do país! A responsabilidade pelos apagões está irremediavelmente transferida para o povo! Se tudo der certo, o governo não abrirá mão do mérito da mobilização popular! A estratégia de fhc, convenhamos, é coisa de iluminado! Só não conte com minha cota de sacrifício! O cigarro é tudo que preciso apagar no momento para me sentir aceito na sociedade! (18/05/2001)

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Pregão eufórico acm está arrasado! Encerrado seu discurso de renúncia, o dólar despencou e a Bovespa iniciou movimento de alta. Ou seja, o senador não conseguiu deixar nem o mercado nervoso! (01/06/2001) É grave a crise! Luana Piovani decidiu que a partir de agora só dará entrevistas se elas forem pagas! (07/11/2001) Fusão moderninha O namoro da Sadia com a Perdigão pode não terminar em casamento de papel passado. Talvez só juntem as salsichas! (02/12/2001) Viva o panelaço Pelo menos um setor da crise brasileira está se beneficiando da crise na Argentina: nossas exportações de panelas cresceram 40% nos últimos 30 dias! (04/01/2002) Só dá ele A segunda semana do ano começou com uma grande notícia: o ministro da Fazenda Pedro Malan dividiu o cabelo ao meio! Não se fala de outra coisa no mercado financeiro! (09/01/2002) Conhecimentos gerais Quem, na sua opinião, é – ou foi – Roque Maccarone? Personagem de Sylvester Stallone no cinema; Presidente demissionário do Banco Central da Argentina; Contador de Al Capone;

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POLITICÁLIA NO PAÍS DOS INDIGNADOS Indignação.com.br Estamos todos indignados, nem precisa dizer por que! O pedreiro, a socialite, o bicheiro da esquina, o presidente da República, o favelado, o governador do Estado, as elites – o Boris Casoy e o Arnaldo Jabor, então, nem se fala –, estamos todos unanimemente indignados! Atolamos na falta de esperança, aquela faixa de areia movediça que faz fronteira com a histeria e a falta de assunto! Caiu ali, periga não sair! Ninguém no País – nem motorista de táxi – diz mais “que calor!” ou então “parece que vai chover”! Puxa-se sempre a mesma conversa sem saída, dolorosa, pessimista e impotente! Parece tortura! O brasileiro anda falando sozinho pelos cantos! A conversa abaixo foi captada numa roda de amigos no final do expediente de sexta-feira: – Chega! – Basta! – Ninguém aguenta mais! – Viver assim é inaceitável! – Um filme de terror! – Vale-tudo! – É inadmissível! – Não dá mais para morar aqui! – Dá medo sair às ruas! – Até parece que em casa é seguro! – A vida não vale mais nada! – Estamos entregues à incompetência! – São todos iguais! – Da mesma banda podre! – Argh! – É a falência da cidadania!

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– Uma pouca vergonha! – O cúmulo! – Assim não dá! – Brincadeira! – Uma piada! – Que absurdo! – O ser humano não deu certo! – Que tragédia! – Pode acontecer com qualquer um de nós! – Onde é que nós vamos parar?! – Tem mais é que jogar ovo! – Falta indignação! – Vista-se de preto! – Domingo, então, a gente se encontra nas ruas! (17/01/2001)

Proibido proibir O que faz o povo brasileiro que não sai às ruas para protestar? Como se não bastasse o Merthiolate e o mercuriocromo, o ministro José Serra, da Saúde, proibiu o Hipoglós. Sem mais nem menos! (21/01/2001) Parente, não! A secretária de Defesa dos Animais do Rio, Maria Lúcia Frota, nomeou como oficial de seu gabinete um cão pastor alemão. Pelo menos de nepotismo ninguém poderá acusá-la! (24/01/2001) Sábio Causou espanto em Washington o encontro de George Bush e Dalai Lama: o líder espiritual do budismo tibetano fala inglês melhor que o presidente americano! (25/01/2001)

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FIM DO MUNDO IN PROGRESS Luz no fim do túnel A pm da Bahia decidiu entrar em greve no Carnaval do ano que vem! Isso quer dizer o seguinte: pelo menos em Salvador, as pessoas acreditam mesmo que vai haver ano que vem! (30/10/2001) Notícias do front A Força Aérea dos eua abriu fogo contra o Exército americano desembarcado ao Norte de Kandahar! Três soldados aliados morreram e 20 ficaram feridos! Teme-se agora uma retaliação! É tenso o clima no porta-aviões ianque na região! (11/12/2001) Suores noturnos O brasileiro anda dormindo de ar condicionado ligado escondido do governo. Ninguém, à exceção de quem vai pra cama com o ministro Pedro Parente, uma espécie de Deus do apagão, suporta o calor desta época do ano! (13/01/2002) Logo vi A polícia americana – ô, raça! – descobriu que Charles Bishop, o adolescente que atirou um avião monomotor contra um prédio comercial da Flórida, estava tomando remédio contra espinha. Ah, bom! (15/01/2002) Desabamento O presidente George W. Bush começou a semana com um baita hematoma no rosto. Disse à imprensa que caiu no chão engasgado com

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um biscoito. Mal, comparando, desde o atentado contra as torres gêmeas do wtc não se via nada tão surpreendente nos eua! (17/01/2002)

Tiro e queda Já morreram comprovadamente na Grã-Bretanha 57 pessoas que tomavam Zyban, antidepressivo que ajuda a deixar de fumar. É o tipo de medicamento considerado ideal pela militância antitabagista! (19/01/2002) Qual deles? O governo está certo de que este último apagão foi provocado por um parafuso frouxo. Resta saber se o problema é na cabeça do Pedro Parente ou do José Jorge, ministros gestores das Minas e Energia em dias de escuridão. (27/01/2002) * * * Se bem que, entre as desculpas esfarrapadas para os apagões, a mais constrangedora até agora é mesmo a do ministro José Jorge ao culpar “a queda de um cabo no interior”. Dito por ele, francamente, ficou parecendo que o sistema broxou!

A número 1 A emancipação feminina deu mais um importante passo no último domingo: foi pelos ares em Jerusalém a primeira mulher-bomba da História. (01/02/2002) Fim do privilégio As elites brasileiras e os dirigentes do pt andam se encontrando nas filas para compra de carros blindados. Não à toa, o clima anda tenso entre eles! (02/03/2002) 276


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Cidadão Sroulevich “O Nei ia adorar ver isso aqui”, dizia Claudia Furiatti aos amigos que chegavam ao velório de seu marido. Súbita como foi, a morte de Nei Sroulevich não afastava da sinagoga a sensação de que o falecido foi ali e já volta. A viúva distraía-se com o quebra-cabeça da saudade: “Cada um de vocês é um pedacinho dele.” Nei daria um puzzle e tanto. Era um sujeito enorme, muito maior que tudo que fez como jornalista e produtor de cinema, aí incluídas as memoráveis edições do FestRio no Hotel Nacional e a antológica foto em preto e branco de Nara Leão sob nevasca parisiense, capa de um álbum duplo da cantora. A grandeza maior de Nei Sroulevich sempre foi a figura humana que imprimiu em sua vida. Tinha barba, barriga e charuto, mas não era um comunista comum. Eu, pelo menos, conheci poucos que, sem pudor ou contradição, permitiam-se relacionamento tão libidinoso com a maldita sociedade de consumo. Nei era consumista de carteirinha. Sabia o que é bom, comprava do melhor, gastava sem culpa, divertia-se com dinheiro. Certa vez, quase 20 anos atrás, me levou do aeroporto direto a uma delicatessen em Genebra para quebrarmos o jejum de uma viagem de 15 dias a Moscou – choque cultural que, para quem gosta de comer, pode até ser fatal. Mandou descer das prateleiras toda iguaria que ao alcance dos olhos aguasse a boca e, resumo da ópera, comemos até o limite do desmaio, celebrando o reencontro com o paladar da gastronomia capitalista. Viva a Suíça! Rio-Zurique-Moscou-Leningrado-Genebra-Paris-Rio - foi minha primeira viagem ao exterior. Eu era um dos jornalistas convidados do Festival de Cinema de Moscou por indicação direta de Nei Sroulevich. O cara mandava. No tempo em que Gorbatchov era só promessa de mudança na União Soviética comia-se por lá o pão que o diabo amassou, mas jantamos como czares na noite em que os russos homenagearam o camarada Sroulevich. Aprendemos com eles a beber vodka à moda moscovita e deu no que deu: voltamos para o hotel – éramos uns 15 brasileiros – ensaiando uma formação básica de 291


bloco carnavalesco pelas ruas de Moscou. Nei ia à frente puxando o samba: “Chegou a turma do funil, todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto...” Nei dormia no cinema. Com cinco, dez minutos de filme, começava a dar cabeçadas e quem estivesse ao seu lado precisava cutucá-lo para reprimir o ronco. Ao fim da sessão, entretanto, seria capaz de debater sobre o que não viu com jornalistas. Não se apertava em saia justa: dispunha de um método secreto de construção de comentários cinéfilos de lógica irrefutável. Era um artista. Não importa se em Moscou ou em Paris, estava sempre à vontade em cena, sentia-se em casa em qualquer lugar do mundo. Quando chegamos à França, naquele verão de 1985, quase mata os donos do Hotel Du Levant de alegria ao se anunciar na recepção com a intimidade de alguém da família que chega de surpresa. Nei morou ali, no coração do Quartier Latin, no tempo em que chefiou a sucursal da Manchete em Paris, lá pelo final dos conturbados anos 60. “Ele me escondia no quarto dele quando cheguei ao exílio”, me dizia Cacá Diegues no pátio da sinagoga. Nei produziu Cacá (Joanna Francesa), Rui Guerra (A Queda), Miguelzinho Farias (O Homem Célebre), Ana Carolina (Getúlio Vargas), mas um tasco imenso de sua biografia só tem registro na memória afetiva de seus amigos. Imagino que em Cuba tenham histórias incríveis para contar sobre o companheiro Sroulevich. Nei era uma celebridade na ilha. Ninguém me disse, eu vi. Fui na bagagem dele ao Festival de Havana em 1986 e testemunhei a festa que lhe faziam cubanos de todas as patentes. A admiração era recíproca. Nei vendeu charutos no Brasil, agenciou turismo para Havana, foi advogado de defesa de Fidel Castro nas páginas de opinião dos jornais brasileiros, mas não se deve lembrar dele depois de morto só pelas coisas que fez em vida. Como o próprio apelido (Kid Megalô) denuncia, Nei Sroulevich gozava da prerrogativa do delírio. Planos mirabolantes eram sua especialidade. O FestRio emplacou, mas não ilustra melhor a história do personagem que um bom punhado de ideias fantásticas, fascinantes e impraticáveis, levadas a sério até às últimas consequências. O país ideal, o filme genial, o grande lance, tinha sempre alguma 292


coisa assim, definitiva, para oferecer aos amigos, além de uísque, é claro. O cara era a generosidade em pessoa. Nei e Cláudia jantaram lá em casa há uns dois anos e, como fazia muito tempo que não nos víamos, passamos os anos 80 a limpo. Agora que ele morreu, vou guardar para sempre a imagem daquela montanha de alegria que era o Nei naquela época. Acho que é esse o pedacinho dele que me coube representar. (20/03/2003)

Minha amiga imortal Eleita para a vaga de Evandro Lins e Silva na Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado – modéstia à parte – já havia se imortalizado em minha vida há muitos anos. Sou jornalista, sonhador e abusado por causa dela, que foi minha primeira chefe, misto de referência profissional, paradigma de mulher inteligente, dura, doce e decidida, enfim, uma espécie de Zuenir Ventura de saia. Nos conhecemos na Rádio Jornal do Brasil em 1975. Ela era a toda poderosa chefe do Departamento de Radiojornalismo da emissora, eu um candidato impertinente a estágio. Até hoje não sei explicar onde um tijucano enrustido como eu arrumou coragem para todo dia ligar para a redação cobrando-lhe minha vaga. Na oitava ou nona vez, pedi desculpas pela insistência e ela, de pronto, me deu não só a chance como a primeira lição de jornalismo: “Repórter tem que ser assim, chato, persistente... Passe aqui amanhã para começar.” Fui um Ana’s Boy assumido nos cinco ou seis anos que trabalhamos juntos. Época de cobertura do ressurgimento dos movimentos sociais no Brasil pós-chumbo e ainda de muita censura aos meios de comunicação – rádio e tv em especial. Lembro-me de cada decisão tomada por Ana Maria para não se render, pelo menos não sem troco, às ordens repassadas por telefone pelos agentes federais – em geral poucos minutos antes do noticiário mais importante da emissora, o Jornal do Brasil Informa das Seis e Meia. Ana Maria não desobedecia, driblava a força com toques magistrais de inteligência e cinismo. De tantas decisões inesquecíveis que 293


tomou, lembro especialmente de uma que me injetou forte dose de paixão (por ela, pelo jornalismo, pela liberdade...). Era uma tarde de intensa agitação política deflagrada nas manifestações de rua em todo o país pela anistia (ampla, geral e irrestrita). O Jornal do Brasil Informa das Seis e Meia seria todo ele dedicado ao assunto, com flashes de repórteres espalhados nas principais capitais brasileiras. Às 17h40, por aí, recebi pelo telefone o comunicado da Censura proibindo a divulgação de qualquer notícia a respeito. O silêncio apoplético que tomou conta da redação foi cortado pela voz firme e animada de Ana Maria: “Corram para o estúdio e mandem cortar da fala de cada repórter, sem qualquer sutileza técnica, estritamente o que nos mandam. Que tudo fique malfeito, picotado, grosseiro para que o ouvinte perceba o que está acontecendo.” Produzimos um noticiário sem pé nem cabeça, sujo, uma afronta aos ouvidos de quem conhecia o padrão de qualidade do radiojornalismo da JB naquela época. Todo mundo entendeu. Quantas vezes não fui para rua cobrir fatos previamente censurados. Ana Maria nos mandava fazer a reportagem como se a proibição não existisse. De volta à redação, o material era editado e arquivado. Dava-se à Censura o poder de proibir a veiculação da notícia. A notícia, em si, ninguém nos proibia de fazer, e nós fazíamos. (Que diabos o Jornal do Brasil terá feito desse material catalogado como coleção de preciosidades pelo pesquisador e músico Dalmo Medeiros, que também não sei mais onde anda?) É claro que minha admiração por Ana Maria Machado, no fervor dos meus vinte e poucos anos, não se resumia à cabeça da chefe. Ana Maria tinha um colo maravilhoso, além de braços imensos e uma voz, meu Deus, que voz era aquela? Ah, como eu adorava ouvir fofocas sobre nós, embora nunca tivesse feito jus a elas. Eu era, como já disse, um bobão tijucano. Não sou mais por causa de Ana Maria. Foi ela que me ensinou como as mulheres devem ser tratadas. Foi ela que me apresentou ao meu primeiro casamento. Foi ela que escreveu os primeiros livros que li para meus filhos – a mais velha fez dia desses 20 anos. Foi ela que 294


me ensinou que jornalismo só pode ser feito com prazer. Foi ela que me mostrou como somos capazes de fazer outras coisas (fui dono de bar, produtor de teatro, mais recentemente virei gaiato). Ano passado – ou teria sido o retrasado? –, mil anos sem vê-la, fiz um jantar em família para ela. Amei o reencontro, mas acho que não consegui dizer nem metade do quanto ela era importante na minha vida. Ontem, quando soube que os cabeças-duras dos imortais enfim celebraram com seus votos o que eu já sabia há tanto tempo, senti uma alegria dessas que só um bobão tijucano é capaz de sentir. Aí decidi: chegou a hora de falar bem de alguém. Da primeira Ana Maria Machado a gente nunca esquece. Ainda mais agora que ela é imortal para todo mundo. (26/04/2003)

O sol por testemunha Monique Gardenberg é como todas as mulheres deveriam ser: talentosa, chique, bonitinha, poderosa, discreta, bem-sucedida, moderna, madura, palhaça e frágil – não necessariamente tudo ao mesmo tempo, como agora. Agora ela está vivendo um grande amor, fazendo o que gosta, de bem com a vida, cheia de planos... Divide o esplendor desse momento com o Sol. “Toda vez que ele aparece, para mim é a Sylvinha.” Cinco anos depois da morte da irmã, Monique já não associa a perda às trevas. “Para mim, ela é o Sol.” Sylvinha sempre foi o lado mais quente das irmãs Gardenberg, as baianinhas do Jardim Botânico que nos anos 1980 inventaram o Free Jazz e colocaram o Brasil no circuito dos astros da música internacional. Maria Clara, a produtora de shows que Gilberto Braga criou para Malu Mader na novela das oito, não existiria sequer na ficção não fosse a abertura dos portos a celebridades estrangeiras decretada pela Dueto (Monique & Sylvinha Ltda). Qualquer outra ilação de semelhança entre a personagem da novela Celebridade e essa doçura de pessoa que hoje comanda o Tim Festival não deve ser levada a sério. “Estou mais para Heloísa, de Mulheres Apaixonadas.” Essa não! Monique não tem nada a ver com o perfil de mulher maluca interpretada 295


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