Apmed - Anais - Ano I - Volume I

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ANAIS Apresentação O 1º volume dos Anais da Academia Paraibana de Medicina apresenta, inicialmente, o prefácio onde o Presidente Acad. João Cavalcanti de Albuquerque faz um breve histórico da mesma. Neste volume estão incluídas o elogio e saudação ou apenas o elogio dos primeiros 10 acadêmicos que foram empossados. Incluímos ainda neste 1º volume a relação de todos os patronos, os atuais titulares, titulares fundadores, fundadores eméritos como também a Ata da Fundação e as Diretorias até a presente data. Esperamos com esta publicação iniciar o resgate da história de médicos ilustres e conseqüentemente da Academia Paraibana de Medicina.


Comissão dos Anais

Membros: Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho Acad. Mário Toscano de Brito Filho

Relator: Acad. Antônio Nunes Barbosa


Resumo Histórico da APMED Tendo por objetivo contribuir par o desenvolvimento e progresso da medicina, incentivar o aprimoramento da cultura médica, do exercício profissional e do ensino médico, colaborar com as autoridades constituídas na solução de problemas relacionados com a saúde da coletividade, promover e estimular atividades médicas que visem a elevação científica e cultural da classe médica, conforme preceitua o Art. 1º do seu Estatuto, a Academia Paraibana de Medicina foi idealizada pelos Profs. Amílcar de Souza Leão, José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, Eugênio de Carvalho Júnior e Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega. A primeira reunião preliminar para sua organização realizou-se em 12 de maio de 1979, na Associação Médica da Paraíba, contando com a presença de vários médicos convidados. Foi deliberado que a Instituição seria constituída de 40 cadeiras, sendo seus patronos escolhidos entre médicos paraibanos que se destacaram em suas vidas profissionais, concorrendo, assim, para o engrandecimento da Medicina Paraibana. Foram considerados titulares fundadores os que assinaram a ata de fundação. Na ocasião, foi constituída a diretoria provisória, formada por: Prof. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira – Presidente; Prof. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega – Vice-Presidente; Prof. Eugênio de Carvalho Júnior – 1º Secretário; Prof. Amílcar de Souza Leão – 2º Secretário. Foram realizadas mais três reuniões preliminares, nas quais foram aprovados os Estatutos e as nomes dos membros titulares fundadores, dos patronos e dos eméritos fundadores. Em 19 de dezembro de 1980, no Auditório do Centro Administrativo, à Av. João da Mata, em sessão solene foi instalada com a presença de autoridades, acadêmicos, médicos e pessoas da sociedade. Na ocasião foi empossada a 1ª Diretoria assim constituída: Presidente – Acad. Prof. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira; Vice-Presidente – Acad. Prof. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega; 2º Vice-Presidente – Acad. Antônio Vieira de Queiroga; Secretário Geral – Acad. Prof. Eugênio de Carvalho Júnior; 1º Secretário – Acad Amílcar de Souza Leão; 2º Secretário – Acad. João Cavalcanti de Albuquerque; Tesoureiro Geral – Acad. Orlando Cavalcanti de Farias; 1º Tesoureiro – Acad. Jackson Derville Araruna; Diretor de Biblioteca e Arquivo – Acad. Maurílio Augusto de Almeida e Orador – Higino da Costa Brito. Os fundadores e seguidores da luminosa idéia prosseguiram com afinco para a consolidação do ideal, o que vem sendo efetivado até o presente, muito tendo concorrido o empenho das diversas diretorias com os presidentes Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, Acad. Eugênio de Carvalho Júnior, Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa, e o Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros. Em 12 de março de 1981, os Estatutos foram publicados no Diário Oficial da União. A diretoria em reunião realizada em 02 de abril de 1981, estabeleceu as normas para as reuniões cintífico-culturais mensais e as sessões de posse dos acadêmicos, tendo a primeira reunião científico-cultural sido realizada em 12 de junho de 1981, no auditório da Câmara Municipal de João Pessoa, tendo como conferencista o Dr. Ademar Soares Londres que historiou fatos de sua vida profissional e estabeleceu comparação entre a medicina de sua época e a daquele momento. A primeira posse de acadêmico realizou-se em 12 de dezembro de 1981, sendo empossado o Acad. Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, na Cadeira nº 4, tendo como patrono o Dr. Ariosvaldo Espínola da Silva, tendo sido saudado pelo Acad. Dr. Everaldo Soares. Em 09 de junho de 1985, foi publicada no Diário Oficial do Estado a Lei 4.709, considerando-a de utilidade pública. O Setor Administrativo funciona no 2º Andar do Hospital Universitário, em sala cedida pela Universidade Federal da Paraíba e as reuniões científico-culturais mensais solenes de posse são realizadas noutros locais, como a Associação Médica da Paraíba. Tem sido longa e constante a luta para obtenção de uma sede própria, onde inclusive possa ser instalado o Memorial da Medicina da Paraíba já criado pela Academia e, ainda, sem condições de funcionamento. Neste ano do jubileu de prata prestamos nossa homenagem aos colegas que já não estão no nosso meio, agradecemos tudo que fizeram pelo nosso engrandecimento e apelamos a todos os Acadêmicos para continuarmos como o mesmo entusiasmo na conquista de novas vitórias e na perpetuação da memória do médico da Paraíba. Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Presidente da APMED


Idealizadores da Academia Paraibana de Medicina - APMED

Da esquerda para direita: Prof. Amílcar de Souza Leão - Prof. Eugênio de Carvalho Júnior Prof. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira e Prof. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega


ATA DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA PARAIBANA DE MEDICINA.

No dia 19 de dezembro de 1980, às 20 horas, no auditório do Centro Administrativo do Estado, sito à Rua João da Mata, realizou-se a sessão solene de fundação da Academia Paraibana de Medicina, organizada por uma diretoria provisória que a idealizou, composta por: José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Eugênio de Carvalho Júnior e Amílcar de Souza Leão. Nesta sessão, foi empossada solenemente sua primeira Diretoria, assim constituída: Presidente – José Asdrubal Marsíglia de Oliveira. Vice-Presidente – Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega; 2º Vice-Presidente – Antônio Vieira de Queiroga; Secretário Geral – Eugênio de Carvalho Júnior; 1º Secretário – Amílcar de Souza Leão; 2º Secretário – João Cavalcanti de Albuquerque; Tesoureiro geral Orlando Farias; 1º Tesoureiro – Jackson Derville Araruna; Diretor de Biblioteca e Arquivo – Maurílio Augusto de Almeida e Orador – Higino da Costa Brito. Conselho Científico: Luiz Gonzaga de Miranda Freire, Augusto de Almeida Filho, Herul Holanda de Sá, Marco Aurélio de Oliveira Barros e Izaias Silva. Suplentes do Conselho Científico: Genival Veloso de França, Heronides Coelho Filho, José Clementino de Oliveira Júnior, Maria de Lourdes Britto Pessoa, Clóvis Beltrão de Albuquerque e Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros. Conselho Fiscal: Danilo de Alencar Carvalho Luna, Antônio Dias dos Santos e Gilvandro Assis. Suplentes do Conselho Fiscal: Everaldo Ferreira Soares, Múcio Carvalho Batista e Osmar Vergara de Mendonça. Compareceram à sessão de fundação da Academia os seguintes médicos: 1. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira 2. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega 3. Eugênio de Carvalho Júnior 4. Amílcar de Souza Leão 5. Higino da Costa Brito 6. Antônio Vieira Queiroga 7. Atêncio Bezerra Wanderley 8. Antônio Dias dos Santos 9. José Clementino de Oliveira Júnior 10. Ilegível 11. Isaias Silva 12. Genival Veloso de França 13. Luiz Gonzaga de Miranda Freire 14. Alberto Fernandes Cartacho 15. Danilo de Alencar Carvalho Luna 16. Orlando Álvares Coelho 17. Vicente Edmundo Rocco 18. Gilvandro Assis 19. Múcio de Carvalho Baptista 20. José Borges de Sales 21. Cipriano Galvão da Trindade 22. Maria de Lourdes Britto Pessoa 23. Ilegível 24. Maurílio Augusto de Almeida 25. Valdenir Bragança 26. Attilio Luiz Rotta 27. Djalma Oliveira


28. José Lavoisier Feitosa 29. Clóvis Beltrão de Albuquerque 30. Ilegível 31. Aloysio Pereira 32. Orlando Cavalcanti de Farias 33. Herul Hollanda de Sá 34. Osmar Mendonça 35. Veloso Costa 36. Altino Ventura 37. João Cavalcanti de Albuquerque 38. Ilegível 39. João Suassuna Filho 40. Ilegível 41. Ilegível 42. Jackson Derville Araruna 43. Ilegível 44. Ilegível 45. Ilegível 46. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros


RELAÇÃO DAS CADEIRAS, PATRONOS E TITULARES DA APMED Cad. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Partonos Achiles Ramos Leal Antônio Baptista Santiago Antônio Cruz Cordeiro Sênior Arioswaldo Espínola da Silva Cândido Firmino de Mello Leitão Júnior Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega Chateaubriand Bandeira de Mello Edrise da Costa Villar Elpídio Josué de Almeida Fausto Nominando Meira de Vasconcellos Flávio Ferreira da Silva Maroja Francisco Alves de Lima Francisco Camillo de Holanda Francisco Chaves Brasileiro Francisco Pinto de Oliveira Francisco Porto Genival Soares Londres João Soares da Costa Filho João Toscano Gonçalves de Medeiros Joaquim Gomes Hardman José Bento Monteiro da Franca José de Souza Maciel José Janduhy Vieira Carneiro José Seixas Maia Lauro dos Guimarães Wanderley Luciano Ribeiro de Morais Manoel Carlos de Gouveia Manoel Arruda da Câmara Manoel Velloso Borges Napoleão Rodrigues Laureano Neuza de Andrade Monteiro Newton Nobre de Lacerda Oscar de Oliveira Castro Osório Lopes de Abath Octacílio Camelo de Albuquerque Plínio Marques de Andrade Espínola Tito Lopes de Mendonça Vanildo Guedes Pessoa Waldemiro Pires Ferreira Walfredo Guedes Pereira

Titulares Gilson Espínola Guedes Ulisses Pinto Brandão Augusto de Almeida Filho Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins Francisco Orniudo Fernandes José Eymard Moraes de Medeiros Delosmar Domingos de Mendonça Clóvis Beltrão de Albuquerque Renaldo Romero Rangel Ricardo Antônio Rosado Maia Péricles Vitório Serafim Adahylson da Costa Silva João Gonçalves de Medeiros Filho Tereza Carvalho de Mendonça Marco Aurélio de Oliveira Barros Orlando Álvares Coelho Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Gilvandro Assis Herul Holanda de Sá Antônio Nunes Barbosa Osvaldo Travassos de Medeiros Antônio Carneiro Arnaud Jackson Derville Araruna Evandro José Pinheiro do Egypto João Cavalcanti de Albuquerque Aécio Araújo de Morais João de Brito de Athayde Moura José Alberto Gonçalves da Silva José Lavoisier Feitosa Antônio Queiroga Lopes Gutenberg Pessoa Botelho Filho Maria de Lourdes Britto Pessoa João Modesto Filho Mário Toscano de Brito Filho Genival Veloso de França Ivan Lins Modesto Wilberto Silva Trigueiro Pedro Solidônio Palitot Joaquim Monteiro da Franca Filho Vicente Edmundo Rocco


Titulares Fundadores

Fundadores Eméritos

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

01Adhemar Soares Londres 02 Aloisio Pereira Lima 03 Aloisio Raposo Filho 04 Antonio d’Avila Lins 05 Antonio Pereira de Almeida 06 Cipriano Galvão da Trindade 07 Eudésia de CarvalhoVieira 08 Evilásio Pessoa de Oliveira 09 Flávio Maroja Filho 10 Guilardo Martins Alves 11 Herófilo de Souza Maciel 12 Lourival de Gouveia Moura 13 Manoel Paiva Sobrinho 14 Marinésio da Cunha Moreno 15 Otacílio Guimarães Jurema 16 Pedro José de Matos Filho 17 Severino Bezerra de Carvalho 18 Vicente Nogueira Filho

Alberto Fernando Cartaxo Amílcar de Souza Leão Antonio Batista Ramos Antonio Dias dos Santos Antonio Vieira de Queiroga Arnaldo Tavares de Melo Atêncio Bezerra Wanderley Atílio Luiz Rossini Rotta Augusto de Almeida Filho Clóvis Beltrão de Albuquerque Clóvis Bezerra Cavalcanti Danilo Alencar de Carvalho Luna Domilson Maul de Andrade Eugênio de Carvalho Júnior Everaldo Ferreira Soares Ely Chaves Genival Veloso de França Jackson Derville Araruna Gilvandro Assis Higino da Costa Brito Heronides Alves Coelho Filho Herul Holanda de Sá Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega Isaias Silva Osmar Vergara de Mendonça Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros João Cavalcanti de Albuquerque José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira José Clementino de Oliveira Júnior José Lavoisier Feitosa Luiz Gonzaga de Miranda Freire Marco Aurélio de Oliveira Barros Maria de Lourdes Britto Pessoa Maurílio Augusto de Almeida Múcio de Carvalho Baptista Orlando Álvares Coelho Orlando Cavalcanti de Farias Pedro Solidônio Palitot Raul Torres Dantas Vicente Edmundo Roco


DIRETORIAS 1ª Diretoria Período: (Dez/1980 a Dez/1986) – Biênios: 1981/1982 – 1983/1984 – 1985/1986

Presidente: Vice-Presidente: Secretário Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro Geral: 1º Tesoureiro: Dir. de Bibl. e Arq.: Orador:

Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Amílcar de Souza Leão Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Acad. Jackson Derville Araruna Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Higino da Costa Brito

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Herul Holanda de Sá Acad. Isaias Silva Acad. Luiz Gonzaga de Miranda Freire Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Suplentes: Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Genival Veloso de França Acad. Heronides Alves Coelho Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. José Clementino de Oliveira Júnior Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Antônio Dias dos Santos Acad. Danilo de Alencar Luna Acad. Gilvandro Assis Suplentes: Acad. Everaldo Ferreira Soares Acad. Múcio de Carvalho Baptista Acad. Osmar Mendonça


2ª Diretoria Período: (Dez/1986 a Dez/1988) – Biênio: 1987/1988

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretário Geral: 2º Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Antônio Dias dos Santos Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Alberto Fernandes Cartaxo Acad. José Lavoisier Feitosa Acad. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Herul Holanda de Sá Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Acad. Pedro Solidônio Palitot Acad. Vicente Edmundo Rocco


3ª Diretoria Período: (Dez/1988 a Dez/1990) – Biênio: 1989/1990

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretário Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: 1º Tesoureiro: 2º Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Antônio Dias dos Santos Acad. Amílcar de Souza Leão Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. Alberto Fernandes Cartaxo Acad. José Lavoisier Feistosa Acad. Jackson Derville Araruna

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Gilvandro Assis Acad. João Cavalcanti de Albuquerque

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Orlando Cavalcanti de Farias


4ª Diretoria Período: (Dez/1990 a Dez/1992) – Biênio: 1991/1992

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretária Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: 2º Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Antônio Dias dos Santos Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Jackson Derville Araruna Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. José Lavoisier Feitosa Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Gilvandro Assis Acad. João Cavalcanti de Albuquerque

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Herul Holanda de Sá Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Suplentes: Acad. Antônio Batista Ramos Acad. Múcio de Carvalho Baptista Acad. Orlando Álvares Coelho


5ª Diretoria Período: (Dez/1992 a Dez/1994) – Biênio: 1993/1994

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretária Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: 2º Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Jackson Derville Araruna Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. José Lavoisier Feitosa Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Gilvandro Assis Acad. João Cavalcanti de Albuquerque

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Acad. Renaldo Romero Rangel Acad. Tereza Carvalho de Mendonça Suplentes: Acad. Herul Holanda de Sá Acad. José Alberto Gonçalves da Silva Acad. Pedro Solidônio Palitot


6ª Diretoria Período: (Dez/1994 a Dez/1996) – Biênio: 1995/1996

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretário Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: 2º Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. João de Brito de Athayde Moura Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Pedro Solidônio Palitot Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Gilvandro Assis

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Maurílio Augusto de Almeida Acad. Orlando Cavalcanti de Farias

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Genival Veloso de França Acad. Orlando Álvares Coelho Acad. Tereza Carvalho de Mendonça Suplentes: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Vicente Edmundo Rocco


7ª Diretoria Período: (Dez/1996 a Dez/1998) – Biênio: 1997/1998

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretário Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: 1º Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Pedro Solidônio Palitot Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Gilvandro Assis

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Orlando Álvares Coelho Acad. Tereza Carvalho de Mendonça Acad. Vicente Edmundo Rocco Suplentes: Acad. Genival Veloso de França Acad. Gilson Espínola Guedes Acad. Renaldo Romero Rangel


8ª Diretoria Período: (Dez/1998 a Dez/2000) – Biênio: 1999/2000

Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Secretário Geral: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: 1º Tesoureiro: Relações Públicas: Dir. de Bibl. e Arq.:

Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Pedro Solidônio Palitot Acad. Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins Acad. Mário Toscano de Brito Filho Acad. Francisco Orniudo Fernandes Acad. Péricles Vitório Serafim Acad. João de Brito de Athayde Moura Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Orlando Álvares Coelho

Conselho Científico - CC Titulares: Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Gilson Espínola Guedes Acad. José Alberto Gonçalves da Silva Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Ulisses Pinto Brandão Suplentes: Acad. Antônio Queiroga Lopes Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Gutenberg Pessoa Botelho Filho Acad. Jackson Derville Araruna Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros Acad. Renaldo Romero Rangel

Conselho Fiscal – CF Titulares: Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Suplentes: Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. Tereza Carvalho de Mendonça Acad. Vicente Edmundo Rocco


9ª Diretoria Período: (Dez/2000 a Dez/2002) – Biênio: 2001/2002

Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Vice- Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Bibliotecário:

Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Orlando Álvares Coelho Acad. Péricles Vitório Serafim Acad. Mário Toscano de Brito Filho Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros

Conselho Científico e Cultural Permanente - CCCP Titulares: Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho Acad. Ulisses Pinto Brandão Suplentes: Acad. Orlando Cavalcanti de Farias Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros

Conselho Fiscal Permanente– CFP Titulares: Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Pedro Solidônio Palitot Acad. Vicente Edmundo Rocco Suplentes: Acad. José Alberto Gonçalves da Silva Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. Mário Toscano de Brito Filho


10ª Diretoria Período: (Dez/2002 a Dez/2004) – Biênio: 2003/2004

Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Vice- Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Bibliotecário:

Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Antônio Nunes Barbosa Acad. Aécio Araújo de Morais Acad. Francisco Orniudo Fernandes Acad. Vicente Edmundo Rocco Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho

Conselho Científico e Cultural Permanente - CCCP Titulares: Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Acad. Mário Toscano de Brito Filho Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros Suplentes: Acad. Evandro José Pinheiro do Egypto Acad. João de Brito de Athayde Moura Acad. José Eymard Moraes de Medeiros

Conselho Fiscal Permanente– CFP Titulares: Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Orlando Álvares Coelho Suplentes: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Gilson Espínola Guedes Acad. Ulisses Pinto Brandão


11ª Diretoria Período: (Dez/2004 a Dez/2006) – Biênio: 2005/2006

Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Vice- Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Bibliotecário:

Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Orlando Álvares Coelho Acad. Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho Acad. Vicente Edmundo Rocco Acad. Mário Toscano de Brito Filho

Conselho Científico e Cultural Permanente - CCCP Titulares: Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros Suplentes: Acad. Adahylson da Costa Silva Acad. Delosmar Domingos de Mendonça Acad. Evandro José Pinheiro do Egypto

Conselho Fiscal Permanente– CFP Titulares: Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Suplentes: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Péricles Vitório Serafim Acad. Wilberto Silva Trigueiro


CADEIRA Nº Patrono:

Dr. ARYOSWALDO ESPÍNOLA DA SILVA

Data de posse: 11/12/1981 1º ocupante: Antônio Dias dos Santos Saudação:

04

Everaldo Ferreira Soares


11/12/1981 

Saudação ao: Dr. ANTÔNIO DIAS DOS SANTOS. Cad. 04 Por: Dr. Everaldo Ferreira dos Santos

É esta a segunda oportunidade que se me apresenta para me dirigir a Antônio Dias dos Santos e sobre ele discorrer em desalinhavados conceitos e impressões, em manifestação que lhe é prestada. A primeira delas, quando de sua posse na direção da antiga faculdade de medicina, hoje Centro de Ciências da Saúde em que o seu nome foi escolhido em lista sêxtupla pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República. E esta agora, em sua posse na Academia Paraibana de Medicina. O critério da escolha do orador deslustrado, teve, porém critérios diferentes. Para a primeira tive de me submeter à grata alegria de atender à escolha feita por ilustres colegas do magistério, para em nome da Faculdade fazer-lhe a saudação em sua posse na curul da sua direção. A oportunidade de agora, teve critério pessoa do próprio homenageado que me condecorou com a sua seleção honrosa de confiança fazendo-me um convite a que não podia faltar por imperativos de afeição. Estão pois aí as explicações do por que me encontro aqui, galardoado por tanta confiança e resignado e ufano de me saber tão festejado por um colega e amigo do melhor jaez. A respeito de Antônio Dias dos Santos pode-se dizer tantas coisas, fazer-lhe tantas referências, denunciar-lhes tantos aspectos encomiásticos, que eu mesmo não saberia como começar. Refiro tão só à velha e ilibada amizade que vimos mantendo há quatro décadas quando ele aqui chegou para adotar a nossa cidadania, hoje já lhe deferida pela Câmara Municipal de João Pessoa e pela Assembléia Legislativa. As suas características pessoais eram as mesmas de hoje, homem sóbrio e grave com a responsabilidade de seu diploma de médico que lhe fora conferido pela já provecta Faculdade de Medicina da Bahia donde também tinha chegado atônito e aturdido no desempenho de minha missão de igual porte. De então para cá foi a sua escalada uma tônica de permanente ascensão. Deferida toda ela pela confiança no médico cuidadoso e hábil, no clínico percuciente e seguro, alma de médico, espírito de médico, perfil de médico integrado às suas lides, à sua vocação e aos seus propósitos. Estivemos juntos desde o início de suas atividades. Trabalhamos juntos em oportunidades as mais diversas, dentro da profissão e dentro de oportunidades agremiativas – a velha Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, onde revelou a sua capacidade de liderança. O Conselho Regional de Medicina da Paraíba foi por ele fundado, seu primeiro presidente, renovando-se a sua recondução durante quinze anos. E foi diante de tanta capacidade e tanta fé que o seu conceito se foi fortalecendo até a fundação da Faculdade de Medicina da Paraíba de que tornou um místico, um baluarte, um sustentáculo. Foi assim um sonhador, um crente nos potenciais de nossa terra onde hoje por adoção e escolha formou uma família integrando-se à terra de seus sonhos e de suas realizações. Neste momento solene, olho para o Dias, o Tota de minha intimidade e sinto-lhe a deistonia que lhe vai na alma e a arritmia que lhe vai no coração, intenso que o sei, dentro de sua características de homem modesto, às revelações de nossa admiração e de nossa reverência. E se


não lhe vislumbramos nos olhos uma lágrima furtiva, temos a certeza que elas deslizam fartas pelo coração. Na Academia de Medicina, reservaram-lhe um Patrono para a cadeira que vemos ocupar: Aryoswaldo Espínola da Silva – um massacre para o meu coração ter de proferir algumas palavras sobre Aryoswaldo. A minha memória guarda dele um perfil integral: o médico, o companheiro, o amigo, amigo na expressão global, nas afinidades totais. A sua morte ainda prematura roubou-nos o que de melhor possuíamos de espírito, de inteligência, de virtuosidades as mais diversas. Brindâmo-lo aqui com a nossa saudade que quanto mais velha mais imorredora e viva se torna. Dele poderíamos invocar aqui as características da saudação fascista, quando morre uma de suas figuras mais proeminentes. Fazendo no momento a chamada – Aryoswaldo Espínola da Silva – ouvimos no coração a resposta: Presente. Meus senhores, meus colegas: Perdoem-nos o desatavio da linguagem de quem tem tanto para dizer e ao final quase nada disse. É que as emoções ao traçar este despreocupado trabalho, sem preocupações de forma e estilo sufocam-me o espírito e o coração como eu já provectos.


11/12/1981 

Elogio ao Patrono Dr. ARYOSWALDO ESPÍNOLA DA SILVA. Cad. 04 Por: Dr. Antônio Dias dos Santos

Senhores Acadêmicos... Festiva cerimônia neste momento se desenrola a nossos olhos, tendo como cenário a suntuosidade magnífica do ambiente que nos cerca, testemunho já venerável da nossa gloriosa história. E mais significativa e tocante se me afigura esta homenagem, quando considero que se dirige ela a um peregrino, a um alguém que nada de importante fez por esta terra, a não ser o ter proclamado sempre e em toda parte, com o maior entusiasmo, a grandeza épica do seu passado como o surto maravilhoso do seu presente. Não estou acostumado a essas honrarias. “Não sou pássaro de bando” como acentuou certa vez o escritor José Américo de Almeida. Gosto de uma vida simples e pacata no convívio da minha família. A questão é que não me considero à altura de tão majestosa reverência – ser um integrante da Academia de Medicina da Paraíba – todavia o que tenho a apresentar é uma vida a serviço desta Paraíba, nos poucos momentos em que fui chamado a servi-la. Fiz pouco, mas consegui um enorme cabedal de amigos. A amizade adquirida nesses 42 anos de convivência nesta dadivosa terra, foi o motivo, tão somente, da minha escolha para tão elevada dignidade. Só assim poderia eu, simples médico provinciano, galgar as escadas deste templo. Sim, a amizade de meus confrades, e somente esta amizade é que me conduziu até aqui. Quando na lida de todo dia, me volto para o passado, sinto-me rejuvenescido na recordação de fatos que me ficaram indelevelmente gravados na memória. Apenas formado, o destino não quis que eu retornasse à minha terra natal, Sergipe. Após um ano de estágio no Instituto de Cardiologia do Rio de Janeiro, fui convidado para organizar o serviço médico do Instituto de Aposentadoria e Pensão da Estiva, na Paraíba. Vim com a intenção de retornar. O meu convívio entre vós acabou por me fixar nesta cidade, enraizando-me de tal modo, na amizade e confiança desta boa gente paraibana, que, entre ela, já agora os dias se hão de me esfolhar na mesma faina incansável e obscura. Posso abranger, conseguintemente, num volver d’olhos, todo esse período de mais de oito lustros e nele vos apontar, com conhecimento próprio, fatos substanciais, que mostram como a medicina na Paraíba, calcada ainda em métodos obsoletos, libertou-se afortunadamente da rotina, conquistando novos foros, e hoje se revela uma “ars curandi” de alto padrão, eficiente e capaz de competir com grandes centros. Se não me corresse o tempo e o momento propiciasse, eu vos contaria alguns eventos profundamente emocionantes da história da medicina, na Paraíba, episódios nos quais eu tive a honra de participar. Minhas senhoras, meus senhores, senhores acadêmicos: o homem não pode dissimular os seus sentimentos. É isto o que sinto agora, neste momento, não poder esconder as vibrações do meu espírito. É para mim honra excelsa ser saudado pelo acadêmico Everaldo Ferreira Soares, homem de cultura invulgar, e que pelos seus méritos, galgou as mais altas posições médicas nesta terra.


Professor de medicina, foi presidente da Associação Médica Paraibana, presidente em exercício do Conselho Regional de Medicina, membro e secretário geral do Conselho Federal de Medicina. Everaldo é meu amigo a longos anos, daí por que suas palavras, inspiradas na afetividade manifestadas num transbordamento de coração, não devem refletir a realidade, em todo sua amplitude, em toda sua dimensão, mas sim um generoso gesto de um grande coração amigo. Tomaz Ribeiro, membro da Academia Real das Ciências de Lisboa, saudando Antônio Feliciano de Castilho, expressou-se assim: “Nas grandes festividades acadêmicas o sacerdócio das letras comemora virtudes, fadigas, vitórias, perseguições, martírios, a glória enfim dos seus saudosos mortos, celebrando-lhes a apoteose, sob este ponto de vista, as academias significam a reação legítima dos estudiosos contra a ingratidão tradicional dos povos com os seus beneméritos; significam o protesto contra o óbvio, que esconde a posteridade, na vala rasa dos cemitérios, relíquias que deviam ser veneradas, como são veneradas.” De agora em diante os vultos da medicina paraibana não mais serão esquecidos. Já é tempo de falar do meu patrono, o homem cuja memória todos nós invocamos. Aryoswaldo Espínola da Silva, patrono da cadeira número 4, a qual tenho a honra de ocupar, nasceu no dia 5 de outubro de 1907, na cidade de Mamanguape. Era filho de desembargador Paulo Hypácio da Silva e de D. Cecília da Silva. Aos cinco meses de idade, em virtude de ter sido seu pai nomeado juiz da comarca de Areia, foi residir naquela cidade. Ali fez seus primeiros estudos, no curso Júlia Leal. Já naquele tempo Aryoswaldo demonstrava vivacidade, inteligência, executava suas tarefas escolares com desembaraço e correção. Por essas qualidades já vislumbradas pela sua mestra, D. Júlia, foi ele escolhido para saudar um ilustre ex-aluno, daquele educandário, o Dr. José Américo de Almeida, que então visitava sua cidade natal. Na véspera da homenagem o Ary, como o chamavam na intimidade, procurou sua professora para informá-la de que só tomaria parte nas festividades se lhe presenteassem um guarda-chuva. Certificado do fato, seu genitor apressou-se em atender o desejo do filho. A festa, afinal, contou com a sua participação, que foi feita com garbo e eloqüência. Aryoswaldo teve uma infância feliz e confortável. Fez seu curso de humanidades no Colégio Diocesano Pio X, transferindo-se depois para o Liceu Paraibano, antigo Convento dos Jesuítas, em cuja frente ficava a praça Comendador Felizardo, onde a fina flor da cidade comparecia às quintas-feiras e aos domingos para assistir à retreta. Era o ponto de encontro dos namorados. Essa instituição de ensino gozava de grande prestígio no meio estudantil. Dizia-se, na época, que quem estudasse no Liceu não era reprovado no vestibular, dado o alto nível dos professores. Pontificavam na época grandes mestres, como sejam: Miguel Santa Cruz, Lindolfo Correia, Padre Pedro Anísio, Padre Odilon Coutinho e muitos outros. Foi nesse tempo que o adolescente Aryoswaldo desabrochou para a vida. Tudo para ele era encantamento. Sua vivacidade e sua alegria eram contagiantes. Estava presente em todos os movimentos estudantis. Era um verdadeiro líder. Terminado o curso de humanidades, em 1925, viajou para a Bahia, onde se submeteu ao exame vestibular de medicina na velha e secular Faculdade do Terreiro de Jesus. Em 1927, resolveu transferir-se para o Rio de Janeiro, tendo se matriculado na Faculdade Nacional de Medicina. No Rio morava em uma república com vários paraibanos. Foi bom aluno. Tinha muita tendência para medicina preventiva. Trabalhou como auxiliar acadêmico do Departamento de Saúde, no serviço de profilaxia da varíola e também no serviço de febre amarela. Foi interno da Fundação Gafré Guinle, no serviço do professor Pinheiro Machado. Em 20 de dezembro de 1930, colou grau em medicina.


Não se conformando com o simples diploma de médico, resolveu obter título de doutor em medicina. Trabalhou com afinco na feitura de uma tese que teve como objetivo estudar “As Alterações do Liquor nos Paralíticos Gerais Malarizados”. Trabalho que foi apresentado e aprovado com distinção, no dia 28 de março de 1931. Voltou à sua terra natal, e nela começou a exercer a medicina.

O Médico Aryoswaldo era um facultativo dotado de apreciável cultura. Seus conhecimentos coligidos através de estudos os mais cuidadosos, fizeram-no um profissional acatado entre seus colegas. Referindo-se aos profissionais da medicina, René Dumesnil em seu livro “A Alma do Médico” diz que: “A tarefa do médico não é somente a de defender a vida contra a morte, mas reanimar nos que o esqueceram o respeito e o próprio sentido da vida. É preciso que ele se mantenha digno dessa tarefa cuja nobreza e desinteresse o colocam acima dos outros homens”. No exercício da sua profissão, Aryoswaldo cumpriu esse ensinamento do mestre. Foi um médico digno e desinteressado. Não acumulou riqueza, estava sempre pronto a servir os seus clientes, não só pelo seu saber, como também pelo seu coração e seu desprendimento. A natureza e a medicina eram para ele um todo harmônico. Via nas duas um reflexo da grandeza de Deus. Quem fosse ao seu consultório, na rua Maciel Pinheiro, encontrava o médico criterioso, competente, dedicado, interessado em dar tudo de si para resolver o caso que se lhe apresentava. Possuía um dom especial de comunicar-se com o cliente. Sua palavra tornava-se então imensa força animadora e reconfortante para o doente. Exercia, sempre, profundo domínio psicológico sobre o paciente. Sua tendência, sua vocação, sempre foi a medicina preventiva. Exerceu várias funções médicas no Estado. Foi médico do Departamento Municipal de Assistência e Saúde Pública, sendo considerado na época, de inestimável valor, onde era apontado como um grande urgentista. Foi médico sifiligráfico na Diretoria Geral de Saúde Pública. Trabalhou ainda em vários serviços: médico do Serviço de Educação Física do Colégio Estadual da Paraíba, médico da Legião Brasileira de Assistência, médico chefe do Posto Noturno Anti-Venéreo. Foi secretário, tesoureiro e finalmente presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, entidade de classe de grande prestígio na época. Fez curso de aperfeiçoamento em doenças venéreas no Departamento Nacional de Saúde, estagiou por um ano em anestesiologia, especialidade que exerceu por pouco tempo. Representou a classe em vários certames. Suas atividades não se ativeram somente à profissão médica. Dedicou um pouco da sua vida ao magistério. Ensinou no Curso de Enfermagem na Assistência Municipal, ocupou no Liceu Paraibano a cadeira de Higiene, e também lecionou Higiene e Medicina Social na Escola de Serviços Sociais da Universidade Federal da Paraíba. Além de sua tese de doutoramento, publicou outros trabalhos.

A Música Aryoswaldo viveu num ambiente onde a música fazia parte integrante da vida da família. Sua mãe era pianista. Logo cedo começou a demonstrar grande interesse pela música. Brincava freqüentemente no piano, acabou aprendendo a executar com habilidade esse instrumento. Tornou-se um grande apaixonado da arte do som. Talvez tenha sido por inspiração da música que Aryoswaldo passou a melhor sentir o lado belo da vida. Suas atividades artísticas começaram tocando piano em reuniões nas casas dos amigos.


Ele sentiu o valor da música como meio de comunicação capaz de suavizar as amarguras da existência. Era preciso espalhar o belo que a música representa. Possuidor de uma imensa sensibilidade artística, revelou-a em algumas composições. Sentado ao piano, principalmente nos momentos de recreação, longe dos protocolos e das cerimônias, exercitado pela cordialidade do ambiente, improvisava melodias as mais diversas e o teclado, branco e preto, em seus dedos fazia vibrar as cordas em verdadeiras cascatas de harmonia. Foi assim que, certa vez, no saudoso Clube dos Diários, num sábado boêmio de carnaval, compôs uma das melhores marchas carnavalescas intitulada “Xô Ondia”, alusiva a um fato da época. Era necessário divulgar a música em nosso meio. Juntou-se com dois amigos também melomaníacos, e constituiu um trio que se reunia em tocatas informais, simples brincadeira, ora em sua própria casa, ora na dos companheiros. Os encontros se repetiam e o conjunto começou a ser solicitado pelos amigos. Novos amigos se agregaram ficando o grupo composto de oito elementos, e passou a ser conhecido por conjunto de amadores de João Pessoa. Para se ter uma idéia da cordialidade que reinava entre eles, o conjunto não tinha chefe nem regente. Após sua morte, o grupo passou a ser chamado “Conjunto Aryoswaldo Espínola”.

Tendência ao Jurismo Talvez por atavismo, ou mesmo por ter assimilado de seu pai, na convivência cotidiana, Aryoswaldo tinha grande inclinação para as ciências jurídicas. Era o consultor jurídico da classe. A esse respeito o escritor Aurélio Albuquerque, em um artigo intitulado “Sangue de Bacharel”, analisando a figura de Aryoswaldo, escreveu o seguinte: “O Distinto Médico tem o Sangue de Bacharel” faz parte do Conselho Penitenciário neste Estado, e sem favor, um dos melhores conselheiros. Arguto, perspicaz na discussão, penetrando com facilidade em muitos casos de difícil interpretação, usando sempre uma imparcialidade acentuadamente louvável, estudando com retidão e inteligência os pedidos levados à apreciação da casa, elaborando parecer cuja seriedade todos reconhecem, o doutor Aryoswaldo Espínola é um dos mais destacados entre os componentes daquele órgão”. A Pessoa Humana Aryoswaldo era casado com a professora Alzira Viana Espínola da Silva, de quem teve dois filhos; Ary e Maria Alzira. Adorava a esposa e seus filhos. Certa vez, assim se expressou em um discurso, a respeito de sua família: “Meu presente e meu futuro aí estão entre vós. Minha mulher, que é tudo para mim, os meus filhos que são tudo para nós dois”. Como pessoa humana, Aryoswaldo era excepcional. Tinha uma personalidade marcante. Era comunicativo e sabia fazer e cultivar amizades. Embora médico, seu espírito vagava sempre por outros caminhos extra-medicina. Fazia gosto vê-lo como um hermeneuta a participar de qualquer discussão. Seu raciocínio tinha enorme agilidade e, por vezes, um tanto longe dos detalhes e das minúcias do assunto discutido, vencia o antagonismo mais pela rapidez com que elaborava o argumento do que pelo profundidade do assunto discutido. O seu espírito boêmio, versátil, inquieto e curioso, dava por vezes a impressão de leviana irresponsabilidade. Era um obcecado pela dignidade da profissão. Quando membro da junta médica do estado, jamais cedeu à influência de quem quer que fosse, agindo sempre como um juiz, com retidão e sensibilidade, porque sabia, com raro discernimento, equilibrar o império da lei com as imposições da solidariedade humana.


Era um sentimental, não limitava o seu horizonte afetivo a si mesmo, à sua família, à sua profissão, ia muito além, estendia a todos aqueles que necessitavam de seus serviços. Dele se sabe que chorava com facilidade às mais simples emoções de uma narrativa. A esse propósito podemos lembrar um trecho de um discurso seu pronunciado em uma reunião da turma de médicos de 1930 da qual ele fizera parte: “ Falar de mim seria uma sentimental peregrinação de lembranças num roteiro de saudades. Perder-me-ia, por certo numa teia de recordações, num emaranhado de nomes, fatos, datas e locais, entes queridos porém já distantes no tempo e no espaço, e, agora mais do que nomes, neste rememorar acre-doce em que a memória fustiga o coração, sinto e não posso disfarçar que a emoção evocativa tenta estrangular minha voz, faz tremer os meus lábios, distende sob minha pálpebras a cortina discreta de uma lágrima furtiva”. A despeito disso, era alegre, desprendido e amável. Possuidor de apreciável cultura humanística. Dotado de erudição ampla e diversificada. Por essa razão tinha amplos pendores polêmicos, face à sua dialética espontânea. Era ainda um “couseur” ilustrando os seus dotes de polemista com humorismo e às vezes irreverência. Assim, era um prazer ouvi-lo nas díspares reuniões. As festas de Nossa Senhora das Neves, padroeira da capital, eram na época o ponto alto das tradições da sociedade. A Avenida General Osório se engalanava para receber a fina flor da mocidade. O local de mais animação era o pavilhão D. Ulrico, onde rapazes e moças se entreolhavam cerimoniosamente. Aryoswaldo tinha uma mesa cativa com um grupo de colegas. Circulavam diariamente vários jornais: Nonevar, Jornal das Moças, Gravata, Mandarim e muitos outros. Esses pasquins publicavam pilhérias, bisbilhotices com os freqüentadores. Muitas vezes havia excessos nos comentários, provocando reações corporais dos insultados. Certa feita Aryoswaldo, querendo mexer com seu colega Onildo Leal, psiquiatra renomado, saiu-se com essa: Todo doido tem sua mania. A de Onildo é tratar de doidos. Por essa ocasião adoeceu o arcebispo metropolitano e Aryoswaldo achou um ótimo motivo para pilheriar com os colegas que haviam atendido a autoridade religiosa. Escreveu então esses versos: Por causa do inventário Que vai haver eu já sei, Cassiano com Oscar E Newton com Wanderley Se preparam pra brigar. É fato para rumores Em face da explicação Pela qual por ambição Arengam quatro doutores. O escritor conterrâneo, Juarez da Gama Batista em crônica feita por ocasião 68º aniversário do Clube Astréia, disse: “Tempo, esse, do nosso amigo Aryoswaldo Espínola ditando a moda masculina, participando nos salões na sua mocidade cavalheiresca e inteligente, cavalheirismo e elegância que ainda hoje conserva e que constituem um dos atrativos permanentes na sua personalidade de homem já quase maduro, em nada tácito em nada menos expressivo, antes mais apurado, mais bem posto no seu “Fair Play” no “Sense of Humor” que faz do cavalheiro distinto um “Gentleman” britanicamente apolínico ( no sentido sociológico da expressão), desportivo e, quando possível, displicentemente elegante em gestos e atitudes”. Era assim o nosso patrono, um homem completo. Viveu sua mocidade intensamente. Espalhou o bem, o amor, a beleza que ele possuía dentro de si. Foi o que Emerson escreveu: “Vá o homem aonde for, não poderá encontrar se não o bocado de beleza que ele leva consigo”.


Era um homem de fé, firme nas suas convicções religiosas. Católico praticante, recebeu sua última comunhão com um semblante tranqüilo, e nessa ocasião disse: Posso partir, “o passaporte foi visado”. Em 1946, foi acometido de uma enfermidade grave que lhe deixou a saúde bastante abalada. Como conseqüência, teve que se submeter a uma cirurgia em 1952. Seu coração já dava sinais de insuficiência, mas, mesmo assim, não mudou o seu ritmo de vida. Continuou vivendo com o mesmo entusiasmo, até que as forças lhe faltaram. Em seus últimos momentos, conta-se que ao receber um dos colegas mais queridos, prendeu-lhe a mão trêmula às suas mãos e, emocionado, afirmou: “Eu não vou, me levam, vou-me com saudades de tudo e de todos. Agora meu amigo, só resta chorar”. O colega desabou em choro convulsivo. E ele arrematou: “Obrigado meu amigo, obrigado por estas lágrimas que eu sinto que vem do teu coração”. Faleceu a 3 de dezembro de 1965, justamente quando uma junta médica lhe fazia uma visita a título de conforto. Um dos médicos visitantes disse-lhe: vamos fazer um novo esquema de tratamento, você vai melhorar, mas tudo depende de você. Ele respondeu: “Se depender de mim não vai funcionar”. E poucos minutos depois; expirou. Foi um momento de grande constrangimento para todos que o cercavam. Cabe aqui o pensamento de Cícero em paradoxos! “A morte é horrível para aqueles a quem tudo se extingue com ela, mas não para aqueles cujo bom nome não morrerá”. Aryoswaldo foi um exemplo de vida. Deixou, na sua passagem, um legado imenso de ensinamentos que poucas vezes teremos a oportunidade de apreciar. E deixou para nós uma grande saudade. Lecomte du Noüy em “A dignidade Humana” assim se expressou: “Ao nascer eras tu a chorar, mas riamos nós à tua volta. Conduz a tua vida de tal maneira que, quando vieres a morrer, sejas tu a sorrir e todos nós a chorar”. Senhores acadêmicos, minhas senhoras, meus senhores. Aqui fica perpetuamente registrada a passagem de Aryoswaldo Espínola da Silva na imortalidade das suas obras, na eterna lembrança dos componentes desta casa, e na continuidade dos vierem depois.


CADEIRA Nº Patrono:

Dr. MANOEL VELOSO BORGES

Data de posse: 26/03/1982 Ocupante: José Lavoisier Feitosa Saudação:

29

Eugênio de Carvalho Júnior


26/03/1982 

Saudação ao: Dr. JOSÉ LAVOISIER FEITOSA. Cad. 29 Por: Dr. Eugênio de Carvalho Júnior

Mais do que um privilégio e uma honra foi, para mim, um imenso prazer o convite que V. Excia. me formulou para fazer-lhe a saudação nesta noite em que fará o elogio de seu patrono – Manoel Veloso Borges – classificado por Oscar de Castro como o “médico dos punhos de renda”. Conheci V. Excia. quando, como médico do antigo IAPC, vim à Paraíba examinar concurso para seleção de especialistas para o Instituto e tive a satisfação de examinar o médico-gentleman Maurício de Almeida que concorria à vaga de Laboratório Clínico. V. Excia., nessa ocasião, disputava uma vaga em Clínica Médica. Para um jovem, no início de carreira, numa cidade ainda pequena, àquela época, submeter-se a um concurso público para demonstração de capacidade, examinado por especialistas da mais alta qualificação da capital da república, era, realmente, uma prova desafiante, difícil e estressante, que faz com que inúmeros colegas não tenham coragem de enfrentar, porque um insucesso irá marcá-los definitivamente, obrigando-os muitas vezes a mudar de cidade para recomeçar a vida. E V.Excia., dando uma demonstração de confiança em si e escudado por um bom preparo profissional, venceu a cartada difícil, classificando-se para uma das duas únicas vagas. Longe estava eu de pensar que, alguns anos mais tarde, ao ser fundada a Faculdade de Medicina da Paraíba, voltasse a esta cidade, convidado que fui para lecionar a disciplina de Química Fisiológica, contratado por um ano, prorrogado depois por mais outro e que aos poucos foi me prendendo à terra, onde acabei por fixar definitivamente. Daí o nosso conhecimento e o início de uma indestrutível amizade. Já foi dito por alguém que “o amigo é um irmão que a gente escolhe”. E V. Excia foi escolhido por mim para irmão e uma fraternal amizade nos ligou durante estes longos vinte e oito anos, no calor de um bem-querer recíproco, sem que jamais um simples desentendimento pudesse toldar as relações que nos fizeram sempre amigos e para sempre amigos. V. Excia tem um curriculum deveras expressivo. Fez o curso primário em sua Monteiro natal. Curso secundário nos melhores colégios do Recife. Iniciou seus estudos médicos na Faculdade de Medicina de Pernambuco, transferindo-se após o 2º ano, para a Faculdade de Medicina da Bahia, onde se diplomou em 1951. Desde o tempo de estudante V. Excia vem demonstrando seu espírito realizador e suas qualidades natas de liderança. Impossível enumerar-se, nesta ocasião, todas as atividades desenvolvidas por V. Excia em sua vida de médico: os cargos que exerceu, os concursos que venceu, as cátedras que regeu, os inúmeros trabalhos que publicou, as conferências que realizou e os congressos a que compareceu, permitindo que se mantivesse sempre atualizado e atuante. Para fixar sua posição de destaque, dentro da classe médica, basta-lhe o título de ex-presidente da Associação Médica da Paraíba. Quem ocupa um cargo dessa natureza tem serviços inestimáveis prestados à medicina e o reconhecimento de seus colegas que o escolheram para gerir os destinos de sua associação máxima. Lamento que, nesta ocasião em que V. Excia vive momentos de glória, seu venerável pai – Inácio José Feitosa – e sua querida mãe – D. Alice Santa Cruz Feitosa – ausentes para sempre, a chamado do Criador, não estejam presentes a esta festa, para se orgulharem de seu filho. Formado em medicina, com ambições muitos altas, V. Excia não voltou a seu município natal para exercer a profissão. Preferiu tentar a vida na cidade grande e radicou-se em João Pessoa, onde conheceu uma jovem de notável beleza e irradiante simpatia – Julieta Falcão Feitosa, filha do saudoso Otávio Monteiro – um homem admirável que deixou marcas indeléveis de sua vida nesta


cidade – com quem contraiu matrimônio. Com isto estabilizou sua vida, dedicando-se inteiramente às suas atividades clínicas. Dentro de pouco tempo era um médico de alto conceito que exercia a profissão com amor e interesse inexcedíveis. O doente que estivesse sob sua guarda podia ficar tranqüilo: estava em mãos seguras e esta confiança era um fator importante para a garantia da cura. Com seu saber notório e reconhecida inclinação para o magistério, foi convidado para ensinar na antiga Faculdade de Medicina da Paraíba. Tive o prazer de trabalhar com V. Excia, na cadeira de Endocrinologia, onde aprendi a admirá-lo ainda mais, como professor altamente responsável, estudioso e apaixonado pela disciplina que conseguia transmitir com segurança e entusiasmo. Se os vícios aproximam os homens, não é menos verdade que as virtudes também o conseguem fazer. E, assim, nossa amizade foi se solidificando, estendendo-se à sua família. Sua vocação para o magistério – mestre nato que é – acalentou um sonho que pode tornar realidade: criar um serviço que fosse acima de tudo, uma escola médica. E, associando-se ao que a Paraíba tinha de melhor no campo da medicina, com o já grande cirurgião àquela época – Augusto de Almeida Filho e ao brilhante cardiologista e clínico – Marco Aurélio de Barros, fundou o Hospital Samaritano, nosocômio que honra a medicina paraibana, fruto do trabalho e dedicação desses três notáveis médicos. V. Excia e´, sob todos os aspectos que o analisarmos, um homem realizado. Só lhe faltava este último galardão, para coroar sua vida de médico: ser membro da Academia Paraibana de Medicina. Ao aceitar o convite para integrar seus quadros, como Acadêmico Titular Fundador, diligente como sempre, apressou-se em escrever a monografia de elogio ao seu patrono – Manoel Veloso Borges e, nesta noite de gala, irá encantar-se com sua palavra fácil, seu estilo inconfundível, sua presença dominante, documentando para os pósteros a figura brilhante de seu patrono, fazendo jus à medalha que, nesta ocasião, lhe será concedida. V Excia chega a esta Academia pela larga porta do mérito, com uma folha de serviços e realizações inestimáveis prestados ao povo e à cultura paraibana. Seja bem-vindo a esta casa, meu caro colega e amigo José Lavoisier Feitosa. A honra é mais nossa do que de V. Excia mas o entusiasmo que nos envolve e o desejo de engrandecê-la são do mesmo porte.


26/03/1982 

Elogio ao Patrono: Dr. MAN0EL VELOSO BORGES. Cad. 29 Por: Dr. José Lavoisier Feitosa

Face a uma dádiva tão singular, generosa e eterna nos méritos, sei ser muito pouco o meu muito obrigado apenas às seguintes pessoas e sistemas: Ao Prof. Eugênio de Carvalho Júnior, de quem ouvi comovido a análise quase que circunstanciada da minha vida, neste instante solene em que tomo posse na jovem Academia de Medicina da Paraíba. Sei, toda a Paraíba já sabe, que o Mestre querido, vive para a família, para o labor universitário em tempo integral, para a poesia bela e clássica, para a vida social comedida e para o amor insofismável à nossa gente e à nossa terra. Ao Dr. Pogi Figueiredo e Dona Virgínia Veloso Borges Figueiredo (filha do meu patrono), que vieram de longe, numa atenção à classe médica paraibana e a esta casa histórica, onde o médico Manoel Veloso Borges, começou a ser “cidadão do mundo”. A todos que aqui estão através da presença ou das mensagens de amizade, desejosos, tenho certeza, que daqui há cerca de 35 minutos, o meu trabalho mereça um lugar de destaque na História da Medicina na Paraíba. Ao Dr. Ozaes Mangueira, Presidente do Esporte Clube Cabo Branco e demais Diretores, que abrirão logo mais as suas portas de par em par, aos nossos convidados para uma linda noite de seresta, no beiral da piscina, com as águas refletindo retalhos do céu cintilante de Tambaú. O Dr. Eugênio de Carvalho Júnior, coordenará a programação, com a sua verve inteligente com a sua poesia rítmica. Tocará o conjunto-médico Ariosvaldo Espínola – sob a regência do Dr. Agrimar Dias Pinto e com os mestres e jovens, Rivaldo Serrano, Paulo Bezerril, Walter Potter, Ieda Vale, Flavinho Uchoa, Gratuliano Brito e tantos outros. Certamente com um vasto repertório de músicas nostálgicas, nos convencendo mais uma vez que a “saudade é a presença da ausência”. Ao presidente da A.M.P., Prof. Asdrubal Oliveira e demais Diretores, máxime pela paciência comigo, sempre e sempre, nas reuniões de Diretoria, organizando esta memorável programação. Por sinal, o Presidente, como bom médico que é, iniciava as sessões preliminares, quebrando assim a tensão emocional com uma inteligente manifestação de bom humor numa “dose” de medicina preventiva pura. Sei que a emoção para mim neste instante não é salutar. Mas, tudo que faço como emoção e entusiasmo, aniquilam a letargia do tédio. Agora passarei a ler o meu trabalho, Manoel Veloso Borges – o médico dos punhos de renda - pensei também no seu batismo em Manoel Veloso Borges – o médico navegante. MANOEL VELOSO BORGES “O Médico dos Punhos de Renda”

Origens O médico Manoel Voloso Borges, filho do Senhor de Engenho Anísio Pereira Borges e de Dona Virgínia Veloso Borges, era o mais velho de 18 irmãos, 9 homens e 9 mulheres. Na época as famílias eram mais numerosas. Criá-los e educá-los uma missão pródiga de glória. Trabalho insano na preservação da moral e da saúde, bem como de outras preliminares básicas no destino de cada um. Foram felizes os Veloso Borges, bem como outras famílias contemporâneas, entretanto, a


infortunística situacional foi impiedosa com uma maioria no capítulo dos fatos sociais. Na vida laboriosa do homem na terra, o próprio destino da terra. Infância e juventude Nascido a 11 de abril de 1885, no Engenho RECREIO, Vila do Pilar, na Paraíba do Norte, de propriedade dos seus pais, Manoel Veloso Borges teve uma infância feliz. Vida de menino de Engenho. À semelhança, certamente, da minha vida e de outros nascidos e criados em fazendas. O cavalo de pau. O carneiro, corcel da infância. O galope num alazão arisco pela bagaceira cheirando a mel ou por entre os marmeleiros verdejantes, aranhando-se mais das vezes no matagal. Os banhos de rios, açudes e cascatas. A pescaria de anzol ou tarrafa em balsas de bananeiras. A curiosidade escondida, olhando as mocinhas a banhar-se. O despertar fisiológico de FREUD. O acordar com a sinfonia dos pássaros. As caçadas de baladeira e espingardas. As adivinhações e novos compadres em torno das fogueiras de São João e São Pedro. A luta livre com os irmãos e amigos na terra bendita impregnando-se no corpo suado, numa verdadeira maratona olímpica sem juizes e sem ódios. O vai-e-vem à Cidade aos sábados, à feira de frutas e outros víveres, as bugingangas espalhadas em esteiras ou tapetes no chão junto a quinquilharias caras trazidas de longe. No carnaval, o encantamento com a cadência do ZÉ PEREIRA e outras músicas. A beleza obesa do Rei Momo no mostruário de outras fantasias. A troca de votos de saúde, felicidades e presentes de Natal e Ano Novo. A disciplina cuidadosa dos genitores punindo os deslizes de comportamento. Finalmente, mais tarde, a perda de um paraíso de sonhos, limitado por um mundo que se apavora, se angustia e, tem medo. A Escola e os Colégios Os primeiros estágios de Escola no próprio Engenho. A carta de ABC difícil. O temor dos Mestres austeros, empunhando a terrível palmatória. A cartilha ilustrada Felisberto de Carvalho, antologia inesquecível dos bons estudantes. O internato, recurso oportuno oferecido máxime pelas ordens religiosas aos genitores interioranos, para ajuda no destino dos filhos. Os novos Mestres mais evoluídos, o ensino curricular, os grêmios literários, o aprendizado de música, o treinamento em discursos e cartas de amor, a inveja de quem sabe dançar, os esportes, o patriotismo despertado nas festas cívicas, a afirmação religiosa no “amor ao próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as cousas”. E neste estágio, neste viver de rotina, encontramos o jovem Manoel Veloso Borges e seus irmãos, numa espécie de pensionato na Rua General Osório, quase em frente à Catedral Metropolitana. Ele, o jovem Veloso, em naturais instantes de comoção; já pequeno orador inflamado, guiando com cuidado o seu comportamento, mas certo de atender aos anseios do seu coração. Nas férias, retornava ao Engenho RECREIO, tendo levado a bom termo mais uma etapa da sua jornada de predestinado, passando a ajudar seu pai na moagem e em outros ofícios, em feliz obediência à bondade, útil disciplina, da vida, extensiva também aos seus irmãos. É que a lições de trabalho ministradas pelos seus genitores, atenuavam as suas preocupações com o futuro. Curso médico na Bahia Em 1903, com a idade de 18 anos, Manoel Veloso Borges foi estudar Medicina na Bahia, onde fez todo o seu curso. Novos hábitos, novas amizades, diferente arte culinária à base de vatapá, efó, xinxim de galinha, acarajé e abará. O treino de capoeira. A festa do Bonfim. A Segunda-feira Gorda da Ribeira. O rufar dos tambores nos terreiros dos candomblés e o ruflar de asas de anjos no dia de Iemanjá. Um desfilar de eventos em justo e natural respeito à tradição. O feitiço da baiana,


mas sobretudo, a sua paixão pela Senhorita Andréa Teixeira Ribeiro Marques, para o jovem Veloso Borges uma deusa mitológica que mais tarde veio a ser sua esposa e leal companheira. Na Escola de Medicina revelou-se um aluno exemplar. Exaltou na Casa de Hipócrates o prestígio do estudante paraibano, ainda hoje fulgurante, agora nos cursos de pós-graduação. Tornou-se amigo dos Professores Pinto de Carvalho e Ribeiro Santos, com acesso fácil de Clínicas Psiquiátrica e Oftalmológica, no Hospital Santa Isabel, no Bairro de Nazareth. Aliás, freqüentava todas as Clínicas com entusiasmo. Inteligente e perspicaz procurava desvendar os mistérios de todas as síndromes e enfermidades. É que, aplicado como era, sabia que maximé nas cidades do interior, o médico tem de ser um bom clínico, bom obstetra, bom ortopedista, bom psiquiatra, razoável cirurgião enfim, bom em todas as especialidades. Juntamente com o juiz, o padre e outras autoridades, no ambiente sem recursos técnicos atualizados, é ele sobretudo, o médico, o coração do gênero humano pulsando esperança, no prestígio e conceito comunitário. Na Faculdade de Medicina, Manoel Veloso Borges era estimado por todos, pelo respeito aos mestres, pelo meio como se comunicava com os colegas, pela atenção e solidariedade com os bedéis e enfermos. Sem pudores exagerados, era um recatado na vida estudantil. Tinha na sua graciosa noiva Andréa a sua razão de ser sentimental. Alta, morena clara, olhos castanhos, era, sem dúvida alguma, uma das moças mais bonitas da Cidade. Conhecia-a já com 90 anos, cabelos prateados, pele curtida pelo tempo, uma fidalga de extraordinária lucidez e admirável grandeza espiritual. Recebi dela a colaboração também feliz e inesquecível, oferecida pelas suas três filhas, pelo industrial Aguinaldo Veloso Borges, irmão mais moço de Manoel Veloso Borges, por César de Oliveira Lima e outros amigos, permitindo-me assim a coleta desses subsídios, tão valiosos para o meu modesto trabalho, a serviço comovido da nossa jovem Academia de Medicina. Ainda na Bahia, o doutorando Veloso Borges, residiu em pensionatos e fundou republiquetas acadêmicas. Viveu intensamente a vida estudantil, política e social da Cidade. Ligouse para sempre ao destino da terra hospitaleira com gratidão e amor. Formatura Formou-se em medicina no dia 8 de dezembro de 1908, exatamente com 23 anos “Considerações sobre a concepção atual da Psicose Maníaco Depressiva” foi o título da sua tese, defendida publicamente e aprovada com distinção. Ainda hoje sente-se o cuidado que teve em emitir cada conceito. Prova disso é que a cruel psicose continua a ser tratada como alienação mental. No entanto, particularmente, estamos com a Escola que a considera afecção bioquímica, levando muitos ao suicídio e entristecendo ciclotimicamente todos os seus portadores. A post-formatura Logo depois de formado, o médico Manoel Veloso Borges veio para a Paraíba do Norte, Capital do Estado. Foi recebido festivamente pelos familiares e pela enorme legião de amigos. Foi clinicar no Território do Acre, então inóspito. Residiu e trabalhou ali até junho de 1914, quando retornou à Bahia para casar com Dona Andréa, seu ídolo e amor estudantil. A fidelidade do casal resistiu à distância e ao tempo. Uma longa e encantadora história de amor. Casaram-se no dia 30 de junho de 1914. Entre os padrinhos, na Catedral feericamente iluminada e enfeitada de flores, estavam os Professores Pinto de Carvalho e Dario Peixoto, com as esposas. Passaram a lua de mel em longa viagem num navio de luxo e depois no Engenho Recreio, na Vila do Pilar, na Paraíba. Um delicado prêmio de afeto e atenção aos seus familiares e ao seu Estado.


Novos vôos Em 1915 voltou ao Norte com a esposa, fixando residência em Alcebaça, no interior do Estado do Pará. Exerceu a profissão de médico da Companhia que estava construindo a Estrada de Ferro Cametá-Caldas da Rainha. É que os seringais, a borracha ouro negro da época, a Amazônia misteriosa, valiam tanto para o nordeste em seca causticante, quanto a terra prometida e tanto quanto o tesouro lendário de Monte Cristo. Caminhando palmo a palmo nessas reminiscências, encontramos, como médico de um navio gaiola que fazia o percurso do Rio Amazonas, Flávio Ribeiro Coutinho, nosso ex-governador, de saudosa memória, de quem fui médico assistente, até quase a sua morte, conseqüência fatal de uma trombose cerebral. Fôra contemporâneo do Doutor Manoel Veloso Borges e também, como eu, estudara na Bahia. Disse-me certa vez: “Seu doutor, quem estudou na Bahia, não esquecerá jamais o farfalhar das filhas de santo”. “E tinha razão o Doutor Flávio. Que digam alguma cousa os Acadêmicos Humberto Nóbrega, Everaldo Ferreira Soares, Múcio Batista, Isaías Silva, Marco Aurélio de Barros e Antônio Dias. No Acre, bem como no Pará, na Amazônia enfim, o trabalho médico equivalia a uma missão ousada na selva colorida e hipnotizante. Mais das vezes para o Doutor Veloso Borges, a ambulância era um barco a vela ou a remo para “atenuar o sofrimento intenso” de uma parturiente. A sutura imediata de um abdome perfurado sangrando “com risco de vida”. “A terapêutica inadiável no socorro à asfixia de um edema agudo do pulmão. Tudo isso, afora as graves incompatibilidades com o curandeirismo feiticeiro com suas rezas e ervas medicinais, livres, àquela época do Conselho Regional de Medicina. Mas, ao término de dois anos, “onde o calendário caminhava lentamente no dizer de Dona Andréa em suas apreciações curiosas, o Doutor Manoel Veloso Borges, retornou à Bahia deixando e trazendo saudades. Em mais uma etapa de viagem no navio gaiola no qual o Doutor Flávio Ribeiro também servira. E como um bom narrador que era, contava aos amigos, com bom humor, essas viagens históricas. Descrevia certamente o que tive oportunidade de ler não sei onde e quando, com encantamento: “Os navios eram de pequena tonelagem. Passageiros de todas as classes. Famílias que tentavam uma nova vida profissional. Outros em cruzeiros de recreio. Também artistas, cantadores, mágicos, jogadores profissionais, facionaras, orquestras... e moças bonitas desacompanhadas. Um espetáculo inesquecível o do rio serpenteando na mata virgem. Ilhas exóticas. Nativos nas margens, alguns sorridentes e outros tristes, com aspectos de paludados e anêmicos, recebendo prendas e jogando flores silvestres. Um mundo inexplorado”. Já então era um clínico culto, prático e sereno. Ainda jovem, mas ao lado de sua esposa colecionara inúmeras histórias para contar aos seus amigos e descendentes. Retorno à Bahia Na Cidade de Salvador trabalhou dois anos como médico da Saúde Pública. Homem de acordos fáceis com a vida, sente-se, analisando os seus comemorativos pregressos, que era ético até com os valores falsos. Sólido, absolutamente sólido nas convicções – traço genético que encontramos no passado de seus genitores e nos seus irmãos, muitos dos quais diplomados em cursos superiores - era um homem convocado sempre para presidir reuniões em que as decisões fossem definitivas. Por isso, sua família, em árdua rotina profissional na indústria, na pecuária, na lavoura e em outras atividades com fluxos e refluxos, convocou-o inapelavelmente para ajudar sua gente e seu Estado. Na Terra Natal Instalou-se na Capital e instituiu o sistema de atendimento com hora marcada. A consulta custava vinte mil réis. Ninguém saia do seu consultório, especializado em Otorrinolaringologia, sem


ser por ele atendido com proficiência e boa vontade. O nosso Higino Brito, para nossa felicidade aqui presente, ainda rapazola, foi atendido como cliente e tornou-se seu admirador incondicional. Jamais deixou um humilde, um pobre, em inquietação com a sua doença. O Doutor Veloso Borges, fixando-se no Estado, fundou com um grupo de colegas a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba. Por sinal idéia feliz dos Doutores Lourival Moura e Seixas Maia. Em “As Raízes da Ciência da Saúde na Paraíba”, na página 115, o Acadêmico Humberto Nóbrega – esta querida sentinela vigilante, sentimental e científica da nossa classe, narra o episódio com a sua precisão costumeira. No entanto, é o imortal Oscar de Castro, no seu livro Medicina na Paraíba, que também em memorável trabalho de pesquisa publica, integralmente, a ata da sessão de fundação da S.M.C.P., no dia 3 de maio de 1924. Em síntese, a Diretoria ficou assim constituída: “Presidente: Dr. Manoel Veloso Borges; Vice-Presidente: Dr. Flávio Maroja; 1º Secretário: Dr. Elpídio de Almeida; 2º Secretário: Dr. Teixeira de Vasconcelos; Orador: Dr. Seixas Maia; Tesoureiro: Dr. Silvino Nóbrega; Membros da Comissão de redação: Drs. Newton Lacerda, Ademar Londres e Paulo Morais. O Dr. Álvaro de Carvalho, representante do Governador Solon de Lucena, em fluente alocução, saudou a Diretoria empossada. Falaram outros oradores e o nosso patrono, ao assumir a presidência, dissertou brilhantemente sobre os fins da Sociedade, sendo ao término aplaudido pelo auditório”. Estando eu na Presidência da referida Sociedade, em 1974, em festa comemorativa do seu Cinqüentenário, senti, juntamente com meus colegas de Diretoria, que o Dr. Manoel Veloso Borges, irmanado com seus companheiros, a alicerçara para sempre naquele 3 de maio de 1924, e fizera dela uma instituição diligente a serviço da dignidade da classe médica. Publicamos em minúcias, nos ANAIS da Sociedade e filmamos em imagens coloridas cada passagem do cometimento inesquecível. Quatro dias de festa. Vasta programação científica, social e esportiva no Salão de Convenções do Hotel Tambaú e no Esporte Clube Cabo Branco. “Terapia Intensiva” foi o tema do Congresso. Quinze especialistas do Rio e de São Paulo. Novecentas e cinqüenta e duas inscrições de médicos para-médicos e acadêmicos de medicina. Apoio incondicional do Governador Ernani Sátiro, do Reitor Humberto Nóbrega. Do Dr. Pedro Kassab, Presidente da Associação Médica Brasileira e de vasta cadeia de Laboratórios Farmacêuticos. Uma apoteose. Ainda da década de 1920, o Dr. Veloso Borges trabalhou com o seu irmão Virgínio Veloso Borges numa sociedade algodoeira, comprando logo em seguida a Fábrica de Tecidos Tibiri, no vizinho Município de Santa Rita, sem contudo abandonar a medicina. Mais tarde veio a fazê-lo, à semelhança de tantos outros colegas. É que ao homem forte cansa mais a rotina do que os anos vencidos. Posteriormente arrependeu-se de ter abandonado a medicina, mas jamais deixou de declarar outra profissão que não a de médico. Tinha razão, pois a sua missão fôra meritória e generosa. Ingresso na política Em 1928, com a chegada do Dr. João Pessoa à Paraíba, foi convidado a colaborar no seu Governo. Negou-se de início, mas cedeu à argumentação de que se os homens corretos não o ajudassem com que iria contar? Elegeu-se para a Câmara Municipal e, posteriormente para a Assembléia Estadual, onde foi líder. Opondo-se ao Presidente Washington Luiz, engajou-se na Aliança Liberal. Era a fase prérevolucionária com João Pessoa – na Paraíba; Antônio Carlos – em Minas Gerais e Getúlio Vargas – no Rio Grande do Sul. Conta a história que, na Assembléia Legislativa, em plena efevercência política, Veloso Borges afirmava eloqüentemente: “a nossa campanha não será estéril”. E realmente não foi. O Presidente Washington Luiz ganhou a eleição com Júlio Prestes mas não o empossou. – “Ganham mais não arrastam” diziam os liberais com toda exaltação guerreira. E, na realidade, a morte


violenta de João Pessoa no dia 26 de julho de 1930, fez eclodir a revolução como todo o seu rosário de crimes, sangue e lágrimas. Mas, Veloso Borges era um moderado e proclamava: “ faremos um governo de probidade, liberdade e justiça”. Como era natural, fez inimigos mas, à semelhança de sua família, guardava-se deles com cautela. Cabe-me neste instante abrir um parêntese para declarar que minha família era PERREPISTA atuante. Não acreditava na liberdade, probidade e justiça pregadas pelo Dr. Veloso Borges e referendadas pela revolução. Fôramos seus clientes mas, particularmente, discordávamos radicalmente da sua tese. Éramos amigos e vizinhos da família Dantas. Avistávamos, à noite, nesgas de céu avermelhadas pelas suas propriedades em chamas. Nas minhas memórias – “Entre o berço e o túmulo” – contarei a versão que dávamos à morte dos Dr. João Dantas e Augusto Caldas, indubitavelmente trucidados no cárcere. Meu pai que era um homem abastado, perdeu todos os seus bens e adoeceu. Não sofremos mais graças à intervenção prestigiosa do liberal Anfrísio Brindeiro, realmente um amigo inesquecível. O médico e deputado Manoel Veloso Borges, era realmente, leal e bondade infinita. Prova disso foi sua ida ao Rio de Janeiro, acompanhando o corpo do seu inditoso amigo João Pessoa. Hospedou e escondeu muitas vezes, na Fábrica Tibiri, o Tenente Juarez Távora, que tinha a responsabilidade de comandar a revolução no Nordeste. Residia então à Av. Monsenhor Walfredo Leal, 147. Vendeu mais tarde, contra a vontade de Dona Andréa, a casa do Doutor Antônio d’Ávila Lins, por setenta contos de reis. Na verdade, o que para nós perrepistas era um opróbio, para os liberais era um título de glória. Deputado Federal e Senador Eleito Deputado Federal, Manoel Veloso Borges foi residir no Rio de Janeiro, onde foi membro da Comissão de Economia e Finanças, de um País que precisava de muito dinheiro para socorrer e arrumar um povo desgastado e sofrido, em delicada convalescença do processo revolucionário. Comportou-se no cargo com equilíbrio e bom senso. A prova se faz disso é que, em 1935, foi indicado Senador da República, ao lado do Doutor José Américo de Almeida. No entanto, a impressão dominante é a de que o Senador Veloso Borges já não se sentia feliz na política. A liberdade , probidade e justiça que prometera estavam sendo negadas. O Presidente Vargas fecundara no Partido Liberal, sem aliança e sem matrimônio, o Estado Novo. E Manoel Veloso Borges era um democrata nato. Achava, com o Lowel, “que somente a democracia dava a cada um o direito de ser o seu próprio opressor”. Industrial e Benemérito Afastou-se sem alarde da política militante e com os seus irmãos comprou a Fábrica Deodoro no Rio de Janeiro, posteriormente com filial no Estado de São Paulo. Então, face à sua credibilidade de esclarecido estadista, foi eleito Vice-Presidente do Sindicato das Indústrias de Tecelagem, naquele Estado. Nas empresas, à semelhança do comportamento na Fábrica Tibiri, na Paraíba, onde se revezava trimestralmente com seus irmãos sócios, fazia sempre Ambulatório Médico duas vezes por semana, atendendo a seus operários e familiares. Fundou como os irmãos, uma ala no Hospital Santa Izabel em João Pessoa, como o nome de sua venerada genitora – Dona Virgínia Veloso Borges. Creio tê-lo conhecido nessa ocasião. Normolíneo, alvo, fácies angulosa, enérgica e serena, já sem a barba crescida e bem tratada, cabelos escassos, demonstrava que sua vida era escudada por uma alma férrea. Ainda aqui em João Pessoa, no Asilo de Mendicidade, mantinha às suas expensas, a Enfermaria Santa Andréa, em homenagem a sua esposa, que jamais deixara de acompanhá-lo com altivez, energia e lealdade na sua vida trepidante.


Homem premiado pela fortuna, “ninguém jamais o viu com uma taça de champanhe numa mão e um prato de caviar na outra”. Muito embora, para o conforto da família, não olhasse o preço das etiquetas. Quando uma filha pediu-lhe um dia uma “baratinha”, carro esporte da moda, disse-lhe em tom de gracejo: - no quintal tem muita “barata” minha filhinha. Traduz essa brincadeira gentil a preocupação que tinha com as filhas na sociedade carioca avançada. Do seu consórcio com Dona Andréa, tinha três filhas: Lígia que casou com Pogy de Figueiredo, do Rio de Janeiro; Yolanda casada com Antônio Queiroz Monteiro, de Pernambuco, viúva há um ano. E Virgínia casada com Milton Morais, da Bahia. Percorreu o mundo, indo e vindo em sucessivas viagens, que aproveitava para estudo e observação visando à melhoria de sua vasta rede de empresas. Certa vez, em Londres, o Doutor Milton Moraes também médico, seu genro, preencheu na recepção de um Hotel a sua ficha como industrial. Ele não gostou, exigiu a identidade de Médico e foi atendido feliz, imediatamente. A cada dia ampliava o seu “curriculum vitae”. Foi membro do Conselho do Comércio e Industrial do Brasil no Exterior, indicado pela Confederação Nacional das Indústrias. Foi um dos fundadores da Casa da Paraíba do Rio de Janeiro e seu Presidente. Nunca negou auxílio a um conterrâneo menos favorecido pela sorte, experimentando assim a alegria íntima de servir à sua terra e ao seu povo heróico. Tinha verdadeiro culto pelo trabalho. Mais de uma vez comentou solenemente que só gostaria de viver enquanto pudesse trabalhar e ser útil. Nisso também DEUS o ajudou, entre outras dádivas generosas e merecidas. Faleceu num domingo pela manhã, de repente, quando cuidava do seu jardim, após um dia de trabalho intenso no sábado anterior. No santinho de lembrança da sua missa de 7º dia, Dona Virgínia sua filha, fez gravar a seguinte mensagem de reminiscências e saudades: “Muito se poderia dizer dele, pois foi um Grande. Força. Bondade. Dignidade eis o meu Pai. Para você o nosso eterno amor e saudade. Repouse do seu trabalho, porque suas obras o seguem”. Agora, 23 anos após a sua morte, pesquisando com modéstia, cuidado e entusiasmo a história da sua vida, achamos que ele se mantém vivo nos que viveu. Mantém-se vivo na jovem Academia de Medicina da Paraíba. Mantém-se vivo transitoriamente em mim, para a minha felicidade. Teve razão o médico Oscar de Castro, o grande Oscar de Castro – ao enfatizar numa mensagem de encantamento a inteligência: - “Manoel Veloso Borges, o fidalgo dos punhos de renda”. Um médico dos punhos de renda. Digo em reverência a um homem extraordinário.


CADEIRA Nº Patrono:

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Dr. JOSÉ BENTO MONTEIRO DA FRANCA

Data de posse: 26/08/1983 1º ocupante: Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega Saudação:

Amílcar de Souza Leão


26/08/1983 

Elogio ao Patrono: Dr. JOSÉ BENTO MONTEIRO DA FRANCA. Cad. 21 Por: Dr. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega

Cabe-nos ocupar esta tribuna para proferir o elogio do patrono da sede nº 21 da Academia Paraibana de Medicina: José Bento Monteiro da Franca. De início um esclarecimento se impõe, a respeito do trabalho que nos cabe aqui apresentar: devemos esta biografia à gentileza de Maximiliano Aureliano Monteiro da Franca Neto, de Robson Duarte Espínola, de Wilson Nóbrega Seixas e do professor Armando Anthénio Machado Simões de Carvalho, Vice-Reitor da Universidade de Coimbra em 1973; outro que merece também ser destacado, com subsídios que não se podem olvidar, é João Jardim Vilhena, com sua obra, em dois volumes, “COIMBRA” – vista e apreciada pelos estrangeiros. Em 1965, pronunciamos uma palavra na Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, quando nos foi dado o privilégio de identificar JOSÉ BENTO como o primeiro esculápio, nosso conterrâneo, a se diplomar, na ciência hipocrática, pela Universidade de Coimbra. Dados Especiais José Bento Monteiro da Franca nasceu nesta Capital a 2 de agosto de 1766, sendo seus pais José Vicente Monteiro da Franca, natural da cidade lusitana do Porto, e Francisca Xavier Teixeira, nossa conterrânea. Quinze dias depois, foi levado à pia batismal e recebeu os santos óleos. O sacerdote oficiante foi o padre José Ferreira da Nóbrega, sendo seus padrinhos Ana Quitéria Dias (esposa do Capitão José Ferreira Dias) e Amaro de Barros Lima. Com a idade de 21 anos, José Bento foi enviado pelo seu genitor à Europa, a fim de continuar seus estudos em Coimbra, pois, àquela época, no Brasil, não existia ensino superior. Universidade de Coimbra (UC) Naquele centro de alta cultura, segundo Aureliano Leite, “é pelos tempos coloniais, na sua primeira fase imperial, a mãe espiritual do Brasil” (1). O autor de Silveira Martins e Sua Época, Osvaldo Orico, em A Sombra dos Jerônimos, referindo-se a Coimbra, chamou-a Lusa Atenas “refúgio de todos os mestres, asilo de todos sávios, Meca de todas as vocações, oficina de trabalho intelectual”. Uma delegação ilustre que o Brasil enviou em dezembro de 1937 para participar das comemorações do 4º Centenário da Universidade às margens do Mondego, era integrada, dentre outros, por Pedro Calmon e Afrânio Peixoto. O primeiro declarou: “Universidade de Coimbra é o mais ocidental monumento da cultura humanística da Europa”. Já o segundo foi mais expressivo: “Coimbra nos deu o mais belo, culto e amável transunto do grande Portugal”. O que mais o impressionou foi a biblioteca “Maravilha das maravilhas, sem par no mundo, relicário de ouro do século XVIII, onde se guardam as mais preciosas jóias do humanismo”. O príncipe dos poetas brasileiros, Guilherme de Almeida, que se exilou nas terras lusitanas em virtude de sua participação, em 1932, no movimento constitucionalista de São Paulo, dizia com o lirismo que o caracterizava, ter tido, como passageiro de viagem uma “passageira clandestina, que regressava à sua terra de origem, a Saudade”. E referindo-se a Coimbra, proferiu: “é um susto na


paisagem alçada lá no alto; parece a cantarinha asada de uma tricana que passa depressa e bonita entre os choupos que abrem alas, como estudante, atirando aos pés a capa lustrosa do mondego”. Assevera Ernesto de Souza Campos que o seu campanário “recorda a cultura irradiante de uma Universidade amadurecida, sedimentada, profunda”. Fomos duas vezes a Coimbra: a primeira, em1958, como turista; a segunda, em caráter oficial, com a representação brasileira ao certame dos Corais Universitários Internacionais reunidos em Portugal (Porto, Coimbra e Lisboa). E o da Paraíba por designação do Senador Jarbas Passarinho, Ministro da Educação e Cultura, representou nossa Pátria. O que mais nos impressionou foi a riquíssima biblioteca do século XVIII, com a figuração prismática de quatro faces todas iguais, dispondo dos sinos, “a voz tradicional da Universidade de Coimbra, que emprestava a contribuição lírica quando badalava na solenidade em que era conferido o grau de Doutor “Honoris Causa” ao Presidente Café Filho”. A capela barroca, com o púlpito, os altares e o órgão; o salão dos capelos com o retrato dos monarcas; a sala dos Reitores com telas pintadas a óleo, na qual vimos a efígie do nosso patrício, D. Francisco Lemos de Faria Pereira Coutinho que por duas vezes exerceu a reitoria, numa das quais, foi encarregado pelo Marquês de Pombal, de executar a reforma universitária de 1770. A Universidade de Coimbra deveu-se a D. Diniz I, sexto Rei de Portugal, que fundou em 1309, na Capital portuguesa, congregando as escolas isoladas que, no século XIII, povoavam Lisboa. Aquele monarca, em 1337, transferiu-se para Coimbra. Para tanto, importou, de vários países da Europa, cérebros privilegiados para cultivar os espíritos que lá se matriculavam. Durante seu reinado, aquele país ibérico assistiu a um progresso tanto material quanto cultural. Implantou o que hoje poderíamos chamar reforma agrária, pois legislou sobre terras improdutivas e devolutas, quer da igreja, quer da nobreza, aterrou os pântanos, pelo que foi chamado o Rei Lavrador ; estabeleceu bases da marinha lusitana, construiu vários castelos; firmou um trato com a Inglaterra e incentivou os escritores e os doutores. Pertenceu à dinastia dos Borgonha. Em 1810, o corpo docente da UC estava assim constituído: Faculdade de Teologia: oito catedráticos e três adjuntos; Direito Civil: oito mestres; Diplomacia: seis lentes agregados; Filosofia: cinco professores(dois coadjuvantes e três adjuntos); Matemática: sete titulares e três adjuntos; Astronomia: três adjuntos, e, Medicina: seis docentes e dois adjuntos. Vale ressaltar que a cadeira de Anatomia dispunha privativamente de três professores adjuntos.

O Aluno A 29 de outubro de 1783, ingressava o nosso conterrâneo naquela Universidade pela Faculdade de Filosofia, e no ano seguinte, concomitantemente, matriculava-se em Matemática, pois àquele tempo, o aluno só se inscrevia nos cursos universitários com o bacharelado destas duas ciências e, mais, o certificado de haver prestado o exame de Latim – “o idioma científico da época”. De posse desses pré-requisitos, em 1787, aquele colega transpunha os umbrais da Escola Médica, na célebre cidade da província da Beira. Por gentileza do genealogista Maximiliano Aureliano da Franca Neto (de quem José Bento é trisavô), foi-nos cedida cópia xerox da vida acadêmica daquele esculápio. Vejamos alguns assentamentos daquele aluno: Em março de 1788, encaminhou o seguinte requerimento ao Sr. Reitor: “Excelentíssimo Senhor: Diz José Bento Monteiro da Franca, filho de José Vicente Monteiro da Franca, natural da cidade da Paraíba, estudante matriculado no lº ano Médico, que pelos documentos juntos mostra estar pronto para o Secretário lhe passar a prova d’ano, e como não pode fazer sem licença de V. Excia...”


A petição foi deferida e o discente recebeu a certidão infra: José Bento Monteiro da Franca, filho de José Vicente Monteiro da Franca , natural da Cidade da Paraíba. Provou cursar o 1º ano Médico desde 9 de outubro de 1787, com certidão de idade, exame de Latim, 1º, 2º, 3º e 4º anos de Filosofia e 1º, 2º e 3º de Matemática, até o fim do ano letivo com sete faltas de aulas sem causa, cumprindo as demais obrigações respectivas na forma dos Estatutos. Consta do Livro de Prova do dito ano”. A 3 de junho subseqüente, submeteu-se a exame das disciplinas curriculares da 1ª série e foi aprovado NEMINE DISCREPANTE, conforme consta do Livro dos Exames do dito ano, a fls. 2. O 5º ano era de freqüência hospitalar. Em 1792, cumpridas as formalidades curriculares, estava o candidato apto a colar grau. Entre 10 e 30 de julho de 1792, “prestou Exame, praticou curativos de diferentes doenças no hospital da mesma Universidade perante todos os Professores da Faculdade; e deliberando estes, em Congregação, sobre seu merecimento, distribuídos e regulados os votos, foi por todos aprovados NEMINE DISCREPANTE, como ainda consta do assento que disse se fez”. O novel bacharel em Medicina deveria cumprir doze meses de internato hospitalar; findo estes, submetia-se de 10 a 30 de julho de 1792 aos necessários exames “práticos e os curativos de diferentes doenças perante toda a Congregação de Professores, sendo aprovado Nemine Discrepante”. O candidato requereu a colação de grau nas Ciências Médicas: “Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor: Diz José Bento Monteiro da Franca, natural da cidade da Paraíba, filho de José Vicente Monteiro da Franca, que pelos documentos juntos se mostra hábil para se lhe passarem suas cartas de Bacharel e Formatura em Medicina, e de Bacharel em Filosofia. Pede a V. Excia. se digne mandar se lhe passe. Espera receber Mercê”. Antes, porém, fez a juntada de certidão de que não respondera por qualquer crime, tinha folha corrida e, igualmente, apresentou atestação de batismo. Para tanto, muniu-se do documento infra: “Diz José Bento Monteiro da Franca, filho de José Vicente Monteiro da Franca, natural da cidade da Paraíba, estudante do 5º ano Médico esta Universidade que para haver de tirar suas cartas de formatura precisa mostrar-se sem culpa neste Juízo como da correção de crimes pelo que Pede a V. Senhoria se for servido na forma do costume que D.S.P.A., de folha corrida. Espera Receber Mercê”. Vejamos como obteve esta: “O Doutor Tomás Joaquim da Rocha do Desembargo de Sua Alteza e seu Desembargador visse conservador com alçada, nos estudos onde desde Cidade etc. Mando aos Escrivãs Dante mim e aos da correissam e crime digam ao pé deste se tem ou não culpas do suplicante o que cumprira inteiramente. Dado em Coimbra aos 23 de maio de 1792 deste 40 réis e de assinatura outros 40 réis. E eu Francisco Rebelo Bacelar o subscrevi. Rocha. (Seguem-se as assinaturas) Nada e dou fé não haver mais escrivões nesta Cidade que costumam dar as folhas. Coimbra 28 de julho de 1792. Francisco Rebelo Bacelar. Já na certidão de batismo diligenciou:


“Diz José Bento Monteiro da Franca, filho legítimo do Capitão José Vicente Monteiro e de sua mulher Francisca Xavier Teixeira que para requerimento que precisa lhe é necessário o assentamento do seu batistério o que Pede ao muito Reverendo Senhor Doutor Vigário da vara se sirva mandar passar por certidão o referido assento. Receberá Mercê. O Reverendo Padre Coadjutor passe do que constar. Melo. Vejamos o documento: “Certifico, que revendo os livros dos Batizados desta freguesia em um deles a folha 259 v. achei o assento do teor seguinte: Em os dezessete dias do mês de agosto de mil setecentos e sessenta e seis nesta Matriz com minha licença Batizou e pôs os Santos óleos o Padre José Ferreira da Nóbrega a José nascido aos dois do mesmo mês, filho legítimo de José Vicente Monteiro da Franca, natural da Cidade do Porto e de sua mulher Francisca Xavier Teixeira desta freguesia, neto por parte paterno de José Monteiro da Franca e de sua mulher Dona Francisca Maria Pereira naturais da cidade do Porto; e por parte materna de Jacinto Teixeira Mendes natural da freguesia de São Salvador de Tuya Bispado do Porto e de sua mulher Maria da Anunciação e Macedo desta freguesia; foram Padrinhos o Capitão Amaro de Barros Lima, homem casado, e Anna Quitéria, mulher do Capitão Antônio Ferreira Dias, moradores nesta freguesia de que mandei fazer este assento para constar que assinei. E não continha mais no dito assento, ao qual me reporto. Passa o referido na verdade e o afirmo em fé de Pároco. Parahiba, 21 de abril de 1782. José da Roxa Correa”. Tal certidão, para surtir os efeitos legais, tinha que passar por formalidades: ir a uma outra autoridade local, que averbasse se a letra e o teor do certificado eram do vigário da freguesia. “O Doutor Manoel José Pereira Caldas do Desembargo da Rainha Nossa Senhora seu Ouvidor e Auditor Geral no Crime e Cível Corregedor e Provedor desta Comarca e nela Juiz da Índia e Mina tudo com Alçada pela dita Senhora que Deus Guarde etc. Faço saber que me constou ser a letra a certidão supra retro do próprio nela contendo o que Hey por justificado e verdadeiro. Paraíba 2 de maio de 1782. Antônio Gaudêncio... escrivão e escrevi. Manoel José Pereira Caldas”.

O Médico Com toda essa odisséia, o Patrono da cadeira 21 da APMED, a 30 de julho de 1792, recebeu seu diploma de médico. De posse do almejado canudo, tratou de exercer sua nova profissão. Inicialmente ficou na Beira Litoral, não em Coimbra, capital da Província, mas no estuário do Rio Mondego, na Vila de Buarcos, cuja guarnição militar ficou sob sua responsabilidade clínica e cirúrgica, sendo ademais médico da Câmara, e, também médico perito de saúde noutra vila, Figueira da Foz, “na ocidental praia lusitana”. Como todos estes encargos, só, percebia o “soldo de setenta e cinco réis”, por dia. Vale observar que naquele tempo a moeda portuguesa era o réis, o cruzado e o vintém, como assinalou Joseph Vaissete em seu livro “Religieux Benddictin de la Congregation de S. Maur. Geographie Historique Ecclesiastique et Civile”, Paris – 1755. A saúde de seus pagos nativos obrigou-o a “se transportar à Pátria com toda sua família, desejoso de empregar os conhecimentos de sua Faculdade nesta Capitania e de ser útil ao Estado e aos vassalos de Sua Alteza Real., que a habitam, padecendo à falta de profissional de Medicina em


toda sua vasta extensão”, conforme se lê em informação prestada a 8 de junho de 1803 a Sua Alteza Real o Príncipe Dom João pelo Governador Luis Mota Feio, cuja cópia vai transcrita ao final deste elogio. Cumpre assinalar que este documento nos foi gentilmente cedido pelo paleontolista e emérito historiador Wilson Nóbrega Seixas, que o colheu do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, na caixa quatro, das microfotografias apanhadas pela professora Elza Regis de Oliveira.

O Esculápio nesta Capitania No início do século XIX voltou à Paraíba do Norte. Aqui abriu clínica, desempenhou as funções de médico do Senado da Câmara e do Hospital da Santa Casa, participando de seus principais eventos. Viu-se, porém, a braços com os problemas do burgo. Deparou-se com a absoluta carência de gêneros de primeira necessidade” (...) “faltando deste modo os meios de subsistência vendo-se obrigado a procurá-la em outra parte com total frustração”. (Veja-se a informação prestada pelo Governador Luiz da Mota Feio, em apêndice). O próprio movimento armado de 1817, foi um ativista. Irineu Pinto em sua obra hoje clássica, Datas e Notas para a História da Paraíba, na relação nominal dos 196 participantes nesta Capital, anotou nosso biografado no quadragésimo quarto lugar. Eleita a Câmara dos Insurgentes a 23 de abril, dela integrou, ao lado de Antônio Teixeira de Vasconcelos, Antônio Pereira de Castro, Pedro Barbosa Cordeiro, Manoel José Ribeiro de Almeida e José Moreira Lima Cordeiro. Com a volta à legalidade, José Bento também retornou ao exercício profissional. Em Documentos Históricos – Revolução de 1817, editado pela Divisão de Obras Raras, do Ministério da Educação e Cultura, Biblioteca Nacional, volume CII, páginas 196 e 197, encontramos estas provas: “José Bento Monteiro da Franca, Bacharel em Filosofia e formado em Medicina pela Universidade de Coimbra. Atesto que Alexandre Pereira de Souza, preso insurgente nesta cidade, doente no hospital desta Santa Casa da Misericórdia de um grande antraz sobre o dorso, falecer no dia trinta deste mês pelas oito horas da noite, como é verdade está passo, a qual afirmo sob juramento mei gradas. Paraíba, 31 de maio de 1818. (a.) José Bento Monteiro da Franca.” “Atesto e certifico que o corpo do Capitão Alexandre Pereira de Souza foi sepultado nesta igreja da Santa Casa de Misericórdia tendo sido conduzido do hospital da mesma, aonde pereceu de enfermidade grave. O que por ser verdade o afirmo in verb. Sacerdot. Cidade da Paraíba, 31 de maio de 1818.” O Padre Manuel Henrique Pires de Carvalho Capelão da Santa Casa de Misericórdia.” É provável que José Bento Monteiro da Franca chegara a esta Capital em 1802. Aquele nosso colega, ao freqüentar a cadeira de Anatomia foi, sem dúvida, discípulo de José Correia Picanço, pernambucano de Goiana. Picanço ingressou no corpo docente coimbrano como demonstrador de Anatomia, cargo para o qual nomeado pelo Marquês de Pombal. Quando entrara no magistério superior português, ainda jovem, contava 27 anos de idade. Idealista, deu novos rumos à didática lusitana. Até o período setecentista, a medicina portuguesa era atrasadíssima. Passemos em revista alguns autores, que se ocuparam do preparo desta profissão naquela época.


Na monografia A Fisicatura Mor e o Cirurgião Mor do Reino de Portugal e Estado do Brasil de autoria de Eduardo de Abreu, Fidalgo da Casa Imperial, Cavalheiro da Imperial Ordem da Rosa, Membro Honorário da Imperial Academia de Medicina do Rio de Janeiro etc. conta-nos: “A presença do Tribunal do Santo Ofício, dos Padres da Companhia de Jesus, com predomínio absoluto em todos os negócios do Reino, foi o anátema terrível que fulminou a esperançosa propaganda científica, referente ao ensino da medicina”. Continua o mesmo autor: “Os Jesuítas, observadores atentos das doutrinas médicas então lecionadas na Universidade, tornaram-se inimigos irreconciliáveis dos que exerciam e explicavam a ciência médica. Porquanto entendiam que o estudo sábio e sublime do organismo humano, encarado físico e patologicamente ia atacar a obra misteriosa do Divino Mestre, a qual deveria ser respeitada e não comentada publicamente pelos professores da Universidade”. Outro depoimento interessante a respeito da preparação dos futuros esculápios na antiga Mãe Pátria é o que se encontra em Luiz Edmundo na sua obra “O Rio de Janeiro nos Tempos dos Vice-Reis”. Vejamo-lo. “No ano de 1750 era assim, com efeito, que se estudava anatomia em Coimbra. Quem conta é Manoel Chaves, médico português: A anatomia daqueles tempos, em Coimbra, era dada em casa do lente Francisco Gomes Teixeira, que aos alunos mostrava um carneiro esfolado, numa bacia de prata e dizia-lhes: Este é o fígado, este é o baço, estas as tripas”. Tomemos conhecimento das técnicas propedêuticas, ainda nos valendo – O Rio de Janeiro nos Tempos dos Vice-Reis. “...Se fosse época de epidemias, havíamos de vê-lo (o clínico) numa couraça antisséptica, um balandrau branco, embebido em vinagre e outras drogas tremendas, na boca um dente de alho atravessado e, na mão sinistra e piedosa, um galhinho de arruda e mais o terço em contas de jacarandá (...) Se o enfermo é mulher o licenciado consegue penetrar o santuário do casal, precavendo-se o marido dissimulando, quanto possível, o ciúme muçulmano com maneiras gentis. Por causa das dúvidas, entretanto, são os esposos que examinam, pelos clínicos, as esposas enfermas. - Queria vossa mercê, diz o médico, a apontar para o doente, espetar-lhe o fura-bolos, aqui na altura da virilha, e ver se lhe dói. O marido carrega o dedo. A mulher dá um berro. Esculápio faz um movimento de cabeça. O diagnóstico está feito”. Afirmava o desembargador Brochado: “era o tempo, dia, que se curavam por ignorância e se matava por experiência”. Era este o quadro que Picanço enfrentou! O novo demonstrador de Anatomia instituiu a prática de dissecação em cadáveres humanos. O Barão de Goiana, título nobiliárquico (com que fora agraciado), sendo o primeiro cirurgião da Câmara de Sua Majestade a acompanhar no mesmo barco a Augusta Família Bragantina, em novembro de 1807 na sua fuga de Lisboa para vir se asilar no Brasil, safando-se das tropas napoleônicas. Os nautas lusitanos, no meio da travessia, dispersaram-se: uma parte dos navios rumou para o Rio de Janeiro e os demais aportaram em Salvador. D. Maria I e o Príncipe Regente com alguns fidalgos de sua Corte vinham nesta última leva. Ali chegando, Picanço aproveitou a deixa para propor a Sua Alteza Real instituir “uma escola de cirurgia anexa ao hospital da cidade”. A sugestão obteve êxito e, a 18 de fevereiro de 1808, o Príncipe Regente assinava o respectivo Decreto criando o ensino médico na Bahia.


Com tal evento, Picanço é designado – o pai do ensino médico brasileiro. Mas voltemos à personalidade de José Bento. Ingressava ele, como já vimos, na UC, 1783. Naquele famoso centro de cultura espiritual, envergava vestes talares, que caracterizavam tanto os professores quanto os alunos coimbranos: capa comprida preta, sem mangas, revestindo todo corpo. Por cima desta, uma outra, igualmente longa, cobrindo folgadamente os membros superiores que ora vestiam ou transportavam no ombro ou no braço e era destituída de bolso, pelo que fazia parte das batinas, um pequeno saco da mesma cor do tecido, onde guardavam lenço, o tradicional tabaqueira e outros apetrechos. É o que hoje se chamaria capanga estilizada. A cabeça descoberta, salva para professores e graduados que a protegiam com um barreto preto. Completava o simbólico vestuário, uma faixa colorida que identificava cada um dos cursos: Medicina, amarela; Cânores, verde; Direito, vermelho; Teologia, branco e Matemática, azul claro. Fatores ecológicos, a par do próprio evolver da civilização tornaram demondé tal indumentária. Nossos avoengos vestiam-se sóbria e gravemente com roupas pesadas, não só nos períodos invernosos como também no verão, quando seria aconselhada outra indumentária. No fim dos anos dez, ainda alcançamos o Des. Boto de Menezes caminhando pela cidade, de bonde ou a pé, com croisée, e Dr. Demócrito de Almeida, Chefe de Polícia (cargo que corresponde hoje a Secretário de Segurança) locomover-se pelas nossas ruas com o austero Frack. Vale assinalar que o nosso presidente, acadêmico Asdrubal de Oliveira, ministra suas aulas engravatado, numa postura apolínica, enquanto os demais colegas do magistério já saem de casa envergando uma simples bata. Espírito um tanto marcial, exige pelo menos que a diretoria compareça às sessões solenes de colete. Voltemos a focalizar a figura humana de médico e a família de José Bento Monteiro da Franca. A juventude coimbrana, desde os tempos remotos, é dada às serenatas, arranho vocal, munido de instrumento de sopro ou percussão, que nas caladas da noite, sai em devaneio próximo à residência de sua bem-amada quando não na própria janela. De acordo com uma reportagem do semanário portenho Crítica, de 24 de outubro de 1946. “... os rapazes (de Coimbra) também são músicos entusiastas e de ouvido e sensibilidade muito delicada. Aquele que não toca guitarra é porque sabia soprar uma flauta ou dedilhar um bandolim”. Outro depoimento interessante é o do professor Rodney Callapr, da Universidade de Cambridge, quando afirma: “O fado que se canta nas margens do Mondego é romântico, amoroso, erudito, bem diferente do que se modula em Lisboa”. Humberto de Campos assistindo a uma serenata, assim se expressou: “... A queixa é triste, funda e longa. Partículas da alma de Chopin ou de Beethoven erram no espaço, como pássaros de asas cansadas que chegassem de longe e que encontrassem pouso. E, escutando a música dolorida, a impressão que eu tenho é a de um coração que está sendo esmagado lentamente, impiedosamente, na concavidade de uma fina mão ou sob um pequeno pé, que ora se ergue, perdoando, ora mais forte, com raiva, na volúpia de agravar o martírio”. José Bento, tudo leva a crer, era um tanto morigerado; não coadunava com essas patuscadas dos seus colegas universitários, pois tendo concluído em 1787 os cursos de Filosofia e Matemática, neste mesmo ano convolou núpcias com Leocádia Gertrudes Rita do Nascimento, filha de Jacinto


Teixeira Mendes e Maria da Assunção Macedo, natural de São Salvador de Tuia, bispado do Porto, antiga e tradicional cidade lusitana. Deste casamento, advieram-lhe sete filhos: cinco homens e duas mulheres. O primogênito e o segundo nasceram em Portugal; e os demais no Brasil. Fixemo-nos, agora, em seus descendentes de acordo com os dados genealógicos de Robson Duarte Espínola, cujo livro “Os Espínolas e Outras Famílias” acha-se no prelo e obsequiosamente nos forneceu os informes que a seguir veremos. Francisco Xavier Monteiro da Franca Sobrinho: abraçou a carreira militar tendo sido oficial superior do Exército português. Casou-se com sua prima, Francisca Leocácia Monteiro da Franca. Segue-se Antônio Vicente: foi sargento-mor e membro da Mesa Definitória da Santa Casa de Misericórdia no decênio 1838/1848. Morreu solteiro. Joaquim Francisco: - exerceu a Secretaria da Província em 1835 e participou da Mesa Definitória da Santa Casa de Misericórdia no triênio 1836 a 1839. Casou-se com Maria do Rosário. Deixando seis filhos. Leocádia Joaquina: - desposou o Capitão João Rodrigues Viana. Maria Gertrudes: - contraiu matrimônio com Antônio Fernandes de Lima. Pedro, seu filho caçula, morreu solteiro. Muito de propósito deixamos para o final deste capítulo o penúltimo rebento do casal: Luiz Antônio (Sênior) que nos legou uma descendência esclarecida e numerosa. Nasceu nesta Capital em 1815. Foi Tabelião. Casou-se com Rosa Flora Cavalcante Chaves, irmã de Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque Júnior que, na nobiliarquia paraibana, foi o único Visconde. Eram seus pais: Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque (sênior) e Ângela Sofia Cavalcante Pessoa. Do conúbio Luiz Antônio e Rosa Flora, originaram-se os herdeiros: Maximiliano Aureliano (Sênior) Luiz Antônio Joana Falconére Maria Celestina Josefa Emília Tereza Serafim Joana Felícia e Ana Jacinta. Fixemos no primeiro (Maximiliano), que nos deixou uma progênese ilustre e numerosa, sendo que, desta, muitos se acham em profícua atividade profissional, social e política. Era mais conhecido pela alcunha de Seu Vida. Prior da irmandade de Nossa Senhora do Carmo. Nas missas celebradas na igreja daquela confraria, contava os que iam comungar para só colocar na patena o número exato de hóstias. Iniciou sua existência como Tabelião de Notas em Alagoa do Monteiro; transferido para esta Capital, onde sucedeu o seu genitor – Luiz Antônio Sênior – que por sua vez transferiu o tabelionato ao seu segundo filho, João Monteiro da Franca. João Franca nasceu na Paraíba, a 21 de setembro de 1882. Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, exerceu várias atividades no Estado: Promotor Adjunto, Procurador da República, Inspetor do Ensino Secundário, Delegado de Polícia e, no Governo Argemiro de Figueiredo, ascendeu a Chefe de Polícia. Foi agricultor na zona de Gramame. Faleceu a 13 de setembro de 1960. Tendo se aposentado como Tabelião Privativo dos Feitos da Fazenda, passou o cargo para o herdeiro direto, Damásio Barbosa da Franca, ex-Prefeito Municipal de João Pessoa e Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Jubilando-se este, sucedeu a sua esposa a Sra. Maria Ilzeni Moreira Franca. O Cartório Monteiro da Franca guarda, assim, uma tradição de família. Quatro gerações de José Bento já passaram pelo Tabelionato Privativo dos Feitos da Fazenda.


Analisemos, agora, outros descendentes de Seu Vida. Maximiliano Aureliano Filho, mais conhecido por Seu Nô, desempenhou por muitos anos a Tesouraria Geral da Secretaria das Finanças. O filho e homônimo, é o genealogista Franca Neto, o estimado Franquinha, que educou toda descendência, um dos quais, Aloísio Franca Sobrinho, é médico e tem sob sua direção a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Distrital de Brasília. No dia 2 de janeiro de 1821, Dr. José Bento Monteiro da Franca fechou os olhos para sempre. Não participou da nossa Independência. Com sua morte, a Paraíba privou-se de um facultativo de borla e capelo. Sucede-o, a 5 de setembro de 1825, o charlatão francês Jacques Dupuis, que o Senado da Câmara desta Província qualificou-o como “um satélite da morte”. Eis Srs. Acadêmicos, Excelentíssimas Senhoras e Meus Senhores, o que levantamos acerca da marcante personalidade científica, familiar, política e social de José Bento Monteiro da Franca, em boa hora escolhido patrono de uma das cadeiras da Academia Paraibana de Medicina. Se não nos foi dado colher outros subsídios, é que ele nasceu em 1766, formou-se por uma Universidade européia, casado na cidade lusitana do Porto e falecido há cerca de cento e sessenta e dois anos. Daqueles tempos, que recuam mais de dois séculos, as pesquisas se tornam difíceis e trabalhosas. Escasseiam as fontes de consultas e os arquivos, muitos do além-mar, apresentam dificuldades de manuseio. Passemos, agora, a projetar alguns slides.

Informações prestada pelo Governador desta Capital, LUIZ MOTA FEIO, à sua Alteza Real o Príncipe D. João, a 8 de junho de 1803. “Diz José Bento Monteiro da Franca, bacharel em medicina, bacharel em filosofia, natural da cidade de Paraíba, domínio ultramarino, que depois de ter dado a honra de servie à Sua Alteza Real oito (oito) anos como médico soldo a 75 réis, por dia, em benefício dos militares da Guarnição de Buarcos, onde curava de medicina e cirurgia, sendo médico da Câmara da mesma Vila, como se mostra com o documento nº 3, e também na Vila de Figueira, onde foi Médico Perito de Saúde, como se vê no documento nº 5, se transportara à Pátria com toda sua família, desejoso de empregar os conhecimentos de sua Faculdade, nesta Capitania, e ser útil ao Estado e aos vassalos de Vossa Alteza Real, que a habitam, padecendo à falta de um profissional de Medicina em toda sua vasta extensão; e pensando o Suplicante, pelos anos que tem andado ausente que aqui acharia algum estabelecimento, com que pudesse subsistir, e por em execução no Comissário da Real Junta do Pró-medicado, e que se acha provido, é que, mostra o documento nº 4, e meditando logo alguns úteis projetos. Agora que tendo chegado ao seu País, e conhece à vista absurda carestia dos gêneros de primeira necessidade, que oprime a esta Capitania com a grande pobreza de seus habitantes, faltado deste modo os meios de sua subsistência, e vendo-se obrigado a procura-la em outra parte com total frustração no seu emprego, e desamparo dos habitantes, o que bem patenteia o documento nº 5. Vale-se da benignidade de Vossa Alteza Real suplicando a graça de ordenar, que pela Real Fazenda da Capitania, ou do modo que Vossa Alteza Real for servido, se aumente o ordenado, que o Augustíssimo Senhor D. João V, de gloriosa memória estabeleceu como consta do documento nº 2, que então seria suficiente pela abundância dos víveres, e pelo seu módico preço até a quantia que Vossa Alteza Real achar conveniente, oferecendo-se suplicante para curar os enfermos militares, e o Hospital da Misericórdia, e para tudo que for dos serviços de Vossa Alteza Real. Para que Vossa Alteza Real lhe defira com a graça que lhe suplica e de modo que próprio na Real Grandeza”. (Arquivo Histórico Ultramarinho de Lisboa, Macrofotografia Caixa 4).


CADEIRA Nº Patrono:

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Dr. NEWTON NOBRE DE LACERDA

Data de posse: 26/03/1987 Ocupante: Maria de Lourdes Britto Pessoa Saudação:

José Lavoisier Feitosa


26/03/1987 

Saudação à: Drª MARIA DE LOURDES BRITTO PESSOA. Cad. 32 Por: Dr. José Lavoisier Feitosa

O pensamento revelado de admiração, amizade e amor, faz-se presente nesta sessão solene da Academia de Medicina da Paraíba, pela grandeza esperada, na sua motivação para nós transcendental. É que a acadêmica, médica, psicóloga Maria de Lourdes Britto Pessoa, fará o elogio do seu patrono, o inesquecível Prof. Newton Nobre de Lacerda, médico, uma espécie de mago feiticeiro afetivo da família paraibana de 1922 a 1967. Na honra de apresentá-la tentarei a convicção dos justiceiros, ao afirmar contrito que ela tentará provar a razão maior do “poeta das estrelas”, num aforismo como o substrato de um verso lindo – “ser a saudade a presença da ausência”. Fará o “Nobre Doutor” como carinhosamente o chamavam, sobreviver a si mesmo num “eco-sonoro”, na história, por sinal uma das motivações precípuas da Academia de Medicina da Paraíba. É o que temos evidenciado, na pesquisa da vida de cada patrono, com cautela, evidentemente, de todos os acadêmicos, a sua privacidade intocável. Memórias vividas, ocultas na brumagem do esquecimento, com méritos fulgidios reencontrados. Medicina é, no meu conceito literário, talvez, a ciência da verdade no momento exato, ao salvar uma vida soberana. O médico reafirmo, nunca é um derrotado. O médico jamais será um vencedor absoluto. Um médico por exemplo, cientista nuclear americano ou europeu, pode nivelarse a polimédico do interior da Paraíba. Ambos podem ser vencedores nas mais modestas limitações heróicas, nos mais evoluídos recursos técnicos e científicos. Ambos siameses, xifópagos vencidos diante da irreversibilidade da morte. A modéstia da acadêmica, aliada à determinação do meu breve tempo, não me deixou desfolhar cada pétala do seu magistral “curriculum vitae”. Muito bem cuidado curso básico, excelente curso pré-médico e médico no Recife, pós-graduação em Psiquiatria e Psicologia, participação em congressos. Alegrias inesquecíveis, reminiscências circunstanciais amargas; purificando ainda mais a sua fé inabalável. Pródiga de talento e bondade com os seus alunos e clientes. Analisemos apenas, diante desta audiência apoteótica de tantos amigos, as preliminares sentimentais, da sua vida, com variável ordem cronológica, sem rigorismo vernacular, mas com os mesmos objetivos. Nasceu na Capital do Estado, na cidade verdejante bordada de acácias amarelas, entre o mar separando civilizações e o Rio Sanhauá imenso, tranqüilo e belo. Lembrando, “vista do alto”, Joaquim Nabuco, ao dizer que “uma cidade sem rios e mar é como uma mulher sem espelhos”. Um grande amor aos seus genitores. Casal Epitácio (Julinha Guimarães) A. Britto. Ele, o senhor Epitácio, face austera, espírito criativo, uma instituição moral, social e profissional na sua comunidade. Ela, dona Julinha, fascinante alegria. Uma mulher que sabia acalentar a dor da saudade e da tristeza, bem maior, por vezes, do que a dor física. Cursou o primário e secundário em João Pessoa-PB ao final da década de 1930, vivendo a contemporaneidade dos seus irmãos: Jorge, Leda, Beatriz, Orestes, e amigos. Amigos, aqueles irmãos a mais no conceito do nosso simpático e inteligente Presidente Eugênio de Carvalho Júnior. “O mais paraibano de todos os cariocas”, no parecer unânime dos colegas, e da cidade que tanto ama – já perpetuado numa família bela.


Em 1942/43, cursa o pré-médico em Recife em pacto com o otimismo e a esperança. Faz-se colaboradora do prestigioso Diário de Pernambuco. O Guri, é o título da sua coluna. Jamais histórias infantis em “branco e preto”, mas policromática fé e amor nos mistérios do destino. Aprovada no vestibular, é fera, caloura, acadêmica de medicina, no Derby. Jamais “uma mimosa pudica”, mas alta, loura, airosa e bela se impõe com naturalidade no corpo docente, discente e bedéis. Dois acontecimentos se incorporam em parâmetros históricos à sua vida. A II Grande Guerra Mundial da qual o Brasil “com sangue, suor e lágrimas”, no dizer de Churchil é Aliado contra as forças do Eixo. Os mesmos Aliados que hoje sacrificam e hipotecam, sem piedade o Brasil. Outro fato é a redemocratização do Brasil, com participação ativa do estudante brasileiro. Assistimos, na Pracinha do Diário de Pernambuco, a um comício. Lembro-me de uma frase de Murilo Costa Rego, citando Castro Alves “A praça é do povo como o céu é do condor”. Neste instante chega a Força Policial em três camburões sob comando do delegado Fábio Correia, no Governo de Etelvino Lins. Discursa o acadêmico de Direito Demócrito de Souza Filho. Está encerrando o comício, uma frase de Argemiro de Figueiredo faz eclodir a tragédia. “É preciso matar este Governo para que o Brasil subsista”. Uma rajada de balas e Demócrito cai ensangüentado e morto. Na Escola de Medicina é amiga do preto velho Vitamina, um modesto vendedor de laranjas, uma relíquia estudantil que legara o seu corpo ao Pavilhão de Anatomia Descritiva e Topográfica. Queria ser dissecado pelos mestres e estudantes de medicina – “O NOSCE TE IPSUM” (conhece-te a ti mesmo) lição maior, na Catedral da escola, cadáveres desconhecidos, santos do respeito e veneração estudantil. Após a morte foi sepultado na terra rasa, com honras estudantis, lágrimas e flores. Diz-se que, atitude do estudante paraibano, é que o Prof. titular era o Prof. Luiz de Góes, dissecara ao vivo, na Casa de Detenção do Recife, os Bacharéis Augusto Moreira Caldas e João Dantas, responsáveis pela morte do Presidente João Pessoa, num duelo de honra, eclodindo a Revolução de 1930. Vitamina não podia ser maculado. A nossa gentil acadêmica, conclui o curso médico em 1948 e casa com o colega de turma, o seu inesquecível ‘MEU AMADO”, cardiologista Vanildo Guedes Pessoa. O mais ético, leal e competitivo colega que enfrentei na vida. Taquipsíquico, falava em voz alta, o que achava ser correto. Médico de alto conceito, alia-se na idéia inicial com o colega Francisco dos Anjos Palitot. Achavam que as forças dispersas dos cardiólogos pessoenses, seriam bem mais fortes se unidas. Assim nasceu o prestigioso PRONTOCOR. Num respeito solene ao colega Vanildo Guedes Pessoa, que somente considerava contradição a deslealdade, devo revelar ter sido convidado para sócio do seu hospital. E que, quando eleito, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba tive a honra inolvidável ao seu voto e dos seus maiores amigos. Professores Miranda Freire, Antônio Dias, Antônio Queiroga, Vitório Petrucci, Carlos C. Lima, João Cavalcanti e outros sempre lembrados no escrínio da minha gratidão. Do casal idêntico na comunhão do pensamento nasceram Vânia, Vanildo, Maria Helena, Sílvio e Paulo Luciano, jovens de excelente conceito no julgamento e na crônica muito severa da cidade. Cumprem os ensinamentos dos honrados pais, o que fazem é com piedade e ajuda para um “povo apavorado e com medo”. É um prazer o de ouvir a mestra Lourdinha nas suas aulas magistrais, já um pouco cansada e frágil, se robustece e agiganta, como se conversasse com os filhos que sublimam a sua vida. Quanto carinho e piedade com os seus clientes, aquelas pessoas sobretudo das cidades grandes. Verdadeiros fantasmas ansiosos, deprimidos, situacionais e endógenos, psico-neuróticos, inaparentes, até vítimas das ambições, do egoísmo, dos euforizantes, dos alucinógenos, dos obscuros impulsos humanos. “Além da percepção” no dizer de Aldoux Hoxley. No patamar da rejeição social, da lei e da justiça, mas dependentes da Psico-Psiquiatria – ciência das perplexidades. O médico é a sua esperança derradeira. Ele, o médico, que no dizer do inesquecível Prof. Lauro dos Guimarães Wanderley “É UM REFLEXO DE DEUS NA ESPERANÇA DOS QUE SOFREM”.


26/03/1987 

Elogio ao Patrono: Dr. NEWTON NOBRE DE LACERDA. Cad. 32 Por: Drª. Maria de Lourdes Britto Pessoa

O Nobre Doutor Newton Nobre de Lacerda

Notas Introdutórias Há coisas que acontecem e não se explicam: a figura do médico sempre me atraiu; desde criança exerceu sobre mim um certo fascínio. A sobriedade de seu porte, suas vestes brancas, sua austera bondade, tudo, enfim, fazia deles – médicos – aos meus olhos, seres diferentes, merecedores do maior respeito e admiração. O meu primeiro médico foi o legendário Dr. Maciel, aos dois meses de idade – meu colega, meu amigo, muitos anos depois. O Dr. Otávio Soares, solene, imponente mesmo, nas suas visitas a “Forte Velho”, cuja lembrança me leva de volta à uma infância distante: Tomazinho, Lindoca, Marietinha, Gila, Acácio... Que recordações vivas me vêm à memória!. Dr. Lourival Moura, paciente, bondoso e terno na luta incessante para salvar minha tia da tuberculose, então implacável. Dr. Miranda Freire, calmo, tranqüilo, médico de minha família, meu médico. Dr. Oscar de Castro, meu professor no “Colégio das Neves”, exaltando, entusiasmado, as riquezas do solo brasileiro. Dr. Antônio Dias dos Santos, firme e seguro nos seus diagnósticos. Amigo de seus amigos. Depois, mais tarde, o Dr. Luciano Ribeiro de Moraes que me descortinou o mundo maravilhoso da Psiquiatria. Dr. Severino Patrício, com sua risada contagiante, sua experiência, sua bondade. Dr. Gutenberg Botelho, sistemático nas suas visitas diárias à Colônia “Juliano Moreira”, impecável no seu terno branco. Dr. Osório Abath, risonho, pronto no atendimento, foi meu médico também. Todos representavam para mim algo superior, algo inatingível. Continuavam a merecer o mesmo respeito, a mesma admiração de quando eu era criança. Havia lá em casa um verdadeiro ritual para a visita do médico: as toalhas de mão alvíssimas, de linho adamascado e franjas ricamente trabalhadas, o sabonete novinho, as pastilhas perfumadas para o doutor lavar as mãos. E chegava ele, de maleta em punho, com toda sua autoridade, sempre acatado por todos nós. Só a minha avó se atrevia a dar um palpite ou a fazer uma pergunta. E eu olhava sempre tímida para o visitante, julgando-o um semi-deus. Esta admiração, quem sabe, talvez tenha influenciado, de certo modo, na escolha de minha profissão ou, em contrapartida, talvez já fosse ela fruto de meu desejo inconsciente. Foi assim, nesse clima, que eu ouvia falar no Dr. Newton Lacerda, um dos luminares da época. Não o conhecia pessoalmente, até que, nos idos de 50, já médica, tive este prazer. Primeiro, no H.P.S. – no velho Pronto Socorro de Dr. Oscar de Castro, Gonzaga, Mendonça, Herófilo, Chico Porto, Everaldo Soares, Nogueira... Lembro-me ainda as ambulâncias de singelas campainhas manuais ou de pedal, no seu badalar característico e exclusivo, em visita aos pobres doentes, levando o médico, o enfermeiro, o


ajudante e a maleta com poções e drogas para a emergência. Foi nesse tempo que conheci Dr. Newton, na “Sala dos Médicos”. Teve palavras de estímulo para a jovem médica de então. O tempo foi passando. Aqui e acolá um encontro casual. Até que um dia, no Ambulatório do então “Serviço Nacional de Doenças Mentais”, conversamos pela primeira vez mais longamente. Foi o Dr. Newton, solene como sempre aos meus olhos, experimentar um novo aparelho para aplicação de eletroconvulsoterapia. Houve no momento um fato interessante: ao colocar os eletrodos, a auxiliar inverteu os cabos e ele, que fazia questão de testar pessoalmente, foi quem levou o choque. Caiu lentamente, aos olhos estupefatos de Patrício e angustiados da jovem médica. Quando voltou a si, se recompôs e, sem perder a dignidade, disse meio risonho: “Foi até bom: Eu estava precisando mesmo... E, além disso, fico mais tranqüilo. Não se sente absolutamente nada, Lourdes. Há realmente perda total de consciência. Isto foi ótimo porque agora nós sabemos, por experiência própria, que o doente não sofre nada”. Palavras amigas, ternas e seguras, palavras de Médico. Nunca houve amizade estreita entre nossas famílias, mas para mim era um médico; isto seria o bastante para admirá-lo, sem contar com as suas imensas qualidades morais e intelectuais. Quando eventualmente nos encontrávamos, conversávamos. Ele zombava e ria de meus temores cirúrgicos e me estimulava aos estudos da psiquiatria. Gostava de conversar com ele e tanto eu como Vanildo sentimos a sua morte, quando a velha e inclemente Parca o levou de nosso convívio. Nós sentimos saudades do bom companheiro que partira. Na organização desta Academia de Medicina, tive a honra de ser convidada para ser um de seus membros. Fiquei emocionada. Sobretudo quando o convite surgiu num dos momentos mais difíceis de minha vida quando a saudade e quase o desespero me invadiam, porque o meu Vanildo, o meu amado partira também. Não sei o critério da escolha dos membros, porque não participei das reuniões preliminares. Mas, na seleção dos patronos, lá estava eu sentada ao lado das figuras médicas das mais representativas do nosso meio: Humberto Nóbrega, Asdrubal Oliveira, Miranda Freire, Antônio Dias, Gilvandro Assis, Amílcar de Souza Leão, Dr. Ademar Londres – que marcou época no seu tempo - , e tantos outros que me fogem à memória, pela emoção que me dominava naquela ocasião. Era a primeira vez que subia, sozinha a escadaria desta Sociedade de Medicina sem o amparo de meu marido – meu companheiro, meu colega, meu amigo, meu amado. Foi difícil e quase chorei. Tudo me recordava momentos maravilhosos daqueles Congressos que organizamos juntos, daquelas reuniões a que comparecíamos sempre de mãos dadas. Era terrível a solidão! Por isto fiquei tão confusa e guardei apenas alguns nomes... A emoção é mais forte do que nós próprios! Mas gostei que o meu Patrono fosse o meu amigo e eminente colega, Dr. Newton Nobre de Lacerda. A Figura Humana Somos todos passageiros do tempo. Tempo que inexoravelmente vai nos colhendo um a um, desde o princípio até a consumação dos séculos. Nós passamos e ele vai ficando como as milenares estradas percorridas por tantos e com tantos ainda a percorrer. Mesmo sabendo que um dia será o nosso, ele sempre nos surpreende. É como diz o poeta nós é que passamos. Apenas uma passagem... É difícil aceitar essa saída, essa viagem sem retorno, essa ida sem volta. É interessante, entretanto, notar que nesta passagem o homem, às vezes incólume, não deixa marca ou marcas da sua existência. Outros, há, porém, que a vivem com tanta intensidade, como tanta firmeza, que nos parece não partiram ainda e continuam entre nós pelo muito que fizeram de tão positivo e de bom. Este é, sem dúvida, o caso do nobre Doutor Newton Nobre de Lacerda. Jamais um nome se coadunou tão bem com a pessoa. Realmente ele foi nobre nas atitudes, nos gestos, na lhaneza de trato, na dedicação e na bondade.


Gravatinha borboleta, calças pretas de listras fininhas, camisa branca impecável, paletó, sapatos lustrosos – polidos sempre pelo mesmo engraxate, nos dizia Patrício, um de seus amigos mais diletos. Batas de mangas compridas, quando no exercício de suas atividades profissionais. Franzino de corpo, pequena estatura, em contraposição à grandeza de alma. Calmo, fala mansa, riso ligeiro, o aperto de mão fugaz. Os dentes incisivos centrais superiores ligeiramente separados davam um toque quase ingênuo ao seu sorriso, embora fosse firme e seguro nos seus pontos de vista profissionais. Médico de elite e médico dos pobres, na Casa de Saúde Frei Martinho, no Hospital São Cristóvão ou no seu consultório jamais disse não a um chamado e tinha uma grande virtude: sabia ouvir. Calma e tranqüilamente escutava paciente, dando o maior valor a todos os informes que lhe oferecia o doente ou seus familiares. “Saber esperar é uma virtude” diziam as plaquinhas expostas nos velhos consultórios, mas saber ouvir é uma virtude maior ainda. E nisto ele foi mestre. Simples em toda sua dignidade, era um lenitivo, uma segurança à cabeceira do doente.

Dados Biográficos Quis o destino que no dia 2 de julho de 1899 da era de Nosso Senhor Jesus Cristo, por força do cargo que exercia como Juiz Federal, o Dr. Francisco Nobre de Lacerda e sua esposa D. Irinéia Nobre de Lacerda, ambos sergipanos, estivessem em Águas Belas, Pernambuco, quando nasceu aquela criança que seria depois o nosso Nobre Doutor. Apenas nasceu em Pernambuco, logo voltaria a Sergipe. Fez o curso primário e o secundário no Colégio Salesiano de Aracaju, concluindo ali o seu “Curso de Humanidades” como se dizia na época. Depois rumou para a Bahia, velha e lendária Bahia de Todos os Santos, para fazer o curso médico na famosa Faculdade do Terreiro de Jesus. Mas, não foi lá que aos 22 anos de idade concluiu o curso e sim na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1921. As tradicionais famílias do Nordeste tinham sempre uma pré-destinação para os filhos: um seria padre, outro doutor-bacharel e um outro médico. Tudo se fazia neste sentido e mesmo as distâncias, que naquela época eram maiores pela falta de estradas e meios de transporte, não constituíam barreiras e os jovens, adolescentes ainda, partiam em busca de outras plagas. E na família Nobre de Lacerda não foi diferente, pelo menos no tocante ao médico. É bem verdade que não podemos afirmar que tenha sido uma destinação imposta, mas assim ou espontaneamente nós é que fomos agraciados, como veremos ao referir suas atividades por aqui. Ao jovem médico se ofereceu uma oportunidade e ele não hesitou em aceitar. E assim no dia 20 de julho de 1922, foi nomeado Inspetor Sanitário da Comissão de Profilaxia na Paraíba. Começou então o roteiro de sua caminhada entre nós que seria definitivo com o seu casamento no dia 17 de novembro de 1925, com D. Maria Mendonça, de tradicional família paraibana. Aqui nasceram seus oito filhos: Múcio, Carmem, Ceres, Sálvio, Célia, Newton Tadeu, Maria Auxiliadora e Maria de Fátima – oito elos fortes que o prenderam de vez à nossa terra que ele tanto amou e se dedicou de corpo e alma. Pernambucano de nascimento, sergipano por tradição, paraibano de coração. Foram seus colegas e contemporâneos mais amigos, de acordo com informes colhidos junto à família: “Aldo Cordovil, Acácio Pires, Mário Fróes de Abreu, Armando Pires, Genival Londres, Leandro Maciel (engenheiro, posteriormente Governador de Sergipe), Elpídio de Almeida, Plínio Espínola, João Maurício de Medeiros (agrônomo), Lauro Wanderley, Josa Magalhães, José Maciel, José de Seixas Maia, Alfredo Monteiro, Oscar de Castro, Lourival Moura, Antonio d’Ávila Lins, Luciano Moraes, Severino Patrício, Osório Abath, Humberto Nóbrega, Vanildo Pessoa, Heronides Coelho e Miranda Freire”.


Falando sobre seus amigos, vale referir a admiração que o Dr. Eugênio de Carvalho sempre sentiu pelo Dr. Newton, expressa nos belos versos que se seguem, escritos em momentos de grande significação, de grande emoção: Newton Lacerda Sergipano que um dia aqui chegaste Para viver na terra Tabajara Só não tiveste tudo o que sonhaste Porque a ventura plena é coisa rara Não vês que a vida é cheia de contraste? Que, quase sempre, ao bom, a sorte avara Não traz a recompensa? Não pautaste Todos teus atos de nobreza clara? A cidade está triste, desolada. Nos grupos que se formam na calçada Só se fala em ti, com emoção. Levanta, lutador, de fronte erguida Para enfrentar, de novo, a mesma vida Por quem tanto pagou teu coração! Newton Lacerda Eras grande demais, quando partiste, E voltas bem maior que foste outrora! O passado passou. Rompeu-se a aurora De um novo dia, como nunca viste!

Não quero mais te ver de rosto triste: Quero-te alegre como estás agora. Manda de vez essa tristeza embora. Pois nós sentimos mais do que sentiste! Regressa, confiante, a João Pessoa. A terra dadivosa, sempre boa, Engalanou-se para te esperar! O povo todo, vês?, está contigo, Pois ninguém preencheu, meu grande amigo, O vácuo que ficou em teu lugar!

Títulos Era um sonhador e juntamente com outros jovens idealistas como Lourival Moura, José Seixas Maia, Veloso Borges, Flávio Maroja, Guedes Pereira, Sá e Benevides, Ulisses Nunes, Jayme Lima, Otávio Soares, Teixeira de Vasconcelos e Humberto Nóbrega fundou a Sociedade de


Medicina e Cirurgia da Paraíba, instalada solenemente no dia 3 de maio de 1929. Sociedade que congregava, realmente congregava os médicos da época. Contam-se fatos interessantes acerca das eleições da referida sociedade que eram disputadíssimas e, certa ocasião, o Dr. Otávio Soares foi levado para Sapé pelo Dr. Orsine Fernandes para impedi-lo de votar, quando um voto poderia ser decisivo. Tudo era feito num clima de bom humor e camaradagem (1). Membro correspondente da “Academia Nacional de Medicina” e da “Academia Brasileira de Neurologia”; “Membro da Organização Mudial de Saúde”; da “Sociedade Internacional de Cardiologia”; do “Conselho Científico da Revista Médica Panamericana”, quando da organização da nova publicação continental, em 1944. “Sócio Efetivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia” e do “Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba”, cuja posse ocorreu a 5 de junho de 64. Além de “Sócio Benfeitor do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe”, que por todos os seus méritos, jamais o esqueceu. Seria um enumerar sem fim, mas estes títulos já falam de sua versatilidade, quer intelectual, quer profissional.

Cargos “A Comissão de Saneamento e Profilaxia Rural, criada em setembro de 1920, no governo de Solon de Lucena, órgão mantido com recursos da União e do Estado, cabendo à chefia a Acácio Pires do Departamento Federal de Saúde Pública dirigido pelo Prof. Carlos Chagas”, (2) contou com a sua colaboração como membro atuante, desde o dia 04 de agosto de 1922, quando aqui aportou. Foi o Dr. Newton o primeiro Diretor da “Colônia Juliano Moreira”, instalada em 1928, no governo do Dr. João Suassuna. Colônia que a mim traz doces e amargas recordações, da luta incessante que travei contra tudo e contra todos, para dar melhores condições de vida ao doente mental, o que foi certamente para ele também, um sonho... “No dia 29 de dezembro de 1938, fundou a Casa de Saúde Newton Lacerda”, pequena unidade médica que, na rua Gabriel Malagrida abrigou seu consultório e dispunha de acomodações necessárias a tratamento clínico de curta duração” (3). De 1952 – 1965 foi Diretor Superintendente do então Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. Como presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba deixou marcas de sua passagem, da mesma forma que, juntamente com o Dr. Lauro dos Guimarães Wanderley, foi Diretor da “Revista Médica da Paraíba”. Revista fundada e dirigida inicialmente pelo Dr. Josa Magalhães, seu grande amigo. Foi um dos pioneiros da cultura médica entre nós; foi um dos idealistas como Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Antônio Dias dos Santos, Luis Gonzaga de Miranda Freire, Asdrubal Oliveira, Lauro Wanderley, Atílio Rotta, João Medeiros, Victorino Maia e tantos outros, que fundaram a Faculdade de Medicina da Paraíba, instalada no dia 15 de março de 1952. Foi seu primeiro Diretor e Professor Catedrático de Neurologia, de 52 a 57. Foi, como os seus companheiros, um batalhador incansável, pela causa do ensino médico entre nós. “Participou do 1 Seminário sobre o Ensino da Medicina Preventiva, reunido sob os auspícios da Oficina Sanitária Panamericana de 10 a 15 de outubro de 1957, em Viña Del Mar, Chile” (4). ...Militou na política ajudando a criar três partidos no Estado: em 1934 o Progressista, que o elegeu Deputado Constituinte; a União Democrática Nacional, em 1945 e cinco anos depois, o “Libertador” (5).


Trabalhos Publicados Foi um homem de letras, desde jovem. Ligado à imprensa sergipana, desde os 15 anos de idade como auxiliar de noticiarista no “Diário da Manhã de Aracajú”, continuando suas atividades literárias já no Rio como estudante de medicina, foi correspondente do “Jornal do Povo” de Aracaju e daí colaborou na “Revista de Medicina” da Paraíba e na “Revista Médica” de Pernambuco, no “Jornal das Clínicas” no Rio enfeixando depois em livros vários trabalhos (6). “Sua produção literária é vasta. Colaborou em periódicos locais e de alhures. No início sob criptonome de Petit Oddo. Josa Magalhães, que, durante um quarto de século, clinicou nesta cidade, fundando em 1927 a Revista Médica da Paraíba, na qual Newton escrevia em o número de maio de 1939, confessava: Quem é Petit Oddo? É esta a cabulosa interrogação com que freqüentemente, alvejavam-me os colegas que mais se interessam pelo progresso da nossa medicina. A esta interrogação porém, não tenho sabido cabal resposta (...) Prefere embuçar-se na modéstia de seu pseudônimo que envolve o nome de um paradigma da clínica médica francesa. Entretanto, nos resumos e comentários que se digna enviar-nos e nos trabalhos sobre Diabete que ora publicamos seja pela forma elegante, concisa, discreta em que se expressa, ou seja, pela soma de conhecimentos que faz acumular, de logo, não deixa de trair o seu luminoso espírito de erudição. Os seus assuntos são palpitantíssimos de interesse: são resumos substanciosos que instruem e nos deixam fixados no espírito a sedimentação valiosa de bons conhecimentos”. (7). Assim falava dele o seu grande amigo, sem saber entretanto a identidade do “Petit Oddo”. E como tal publicou vários trabalhos, tais como: “Comentários de Medicina”, na União Editora no dia 21 de janeiro de 39, “Como estão sendo tratados os comburidos da guerra” no Jornal do Comércio de Recife, em 1941 e “Discursos” no mesmo jornal, em 1943. Posteriormente publicou, com o seu próprio nome, em 1967, pela Editora Irmãos Pongetti, no Rio: “10 anos de Medicina Social”. Vale ressaltar que todos os trabalhos são de real valor cultural e científico. Obras Realizadas É de notar que o Dr. Newton foi, acima de tudo, um pioneiro. E conseguiu, dessa forma, ampliar os horizontes da Terra que adotou. Organizou e instalou o primeiro Laboratório de Análises Microscópicas em João Pessoa. Fundou, juntamente com Dr. Lauro dos Guimarães Wanderley e Luciano Ribeiro de Moraes, a Casa de Saúde e Maternidade Frei Martinho, que tão bons e relevantes serviços prestou à comunidade, durante tantos anos. Quantos aqui não passaram por lá?. Fundador e Diretor do Hospital São Cristóvão, de 1943 a1967, dedicou carinhosamente 24 anos de sua preciosa existência ao seu hospital que em 1971, num justa, justíssima homenagem de sua esposa e filhos, passou a ser chamado “Hospital Newton Lacerda”. Ali, creio eu, nos seus corredores e enfermarias, hoje modernizados, ainda deve ecoar o som de sua voz, de seus passos e a marca de sua determinação, orientando sua filha Ceres que o substituiu na Direção com a mesma dedicação e o mesmo carinho.

Personalidade Fizemos referência ao homem, ao médico, ao deputado; falemos então, agora em tom mais suave, sobre sua personalidade, integralmente. “Foi ele um perfeito modelo do que se chamava Médico de Família. Fusão de médico e amigo que muitíssimo mais do que um simples técnico na arte de tratar, era um conselheiro. Calmo, sereno, atento, conquistava, ao primeiro contato, a confiança do cliente, sem afastarse da ética da profissão (8).


Dr. Newton Lacerda pode-se dizer retratando-lhe a personalidade, o que outro médico e por médico foi dito: “A sua figura deve ser apontada como o símbolo da bondade e da sabedoria, da doçura e da humildade, exemplo que foi em toda vida do homem puro e do médico exemplar, do perfeito cidadão e do amigo modelo” (9). Estas palavras definem bem os traços dominantes de sua personalidade. Era o Dr. Newton, um contemplativo. Amava a Natureza: o plantio, o cultivo de árvores frutíferas lhe era prazeroso. Constituía um verdadeiro encantamento plantá-las, vê-las carinhosamente crescer, dia após dia, e colher os seus frutos. Eram assim, como se fossem obras suas. Da mesma forma como criava aves. Gostava de pássaros e se encantava com suas variadas plumagens e maviosos cantos. Sempre vejo nos gestos daqueles que criam pássaros um pouco de criança e muito de ternura. Da criança que existe e persiste mais em uns do que em outros; e de ternura por minúsculas criaturas que Deus nos deixou de presente, para amenizar um pouco as agruras da vida. A suavidade dos seus cantos, em contraposição aos ruídos ensurdecedores que nos rodeiam, é um lenitivo, assim como o amor que adoça a vida. Homem de vasta cultura literária e humanística, lia muito e se dedicava sobretudo à literatura: a brasileira, a portuguesa e a francesa. Na sua época, mais do que hoje, o francês fazia parte integrante de uma educação aprimorada como a sua. “Admirador e seguidor dos mestres da medicina francesa colecionava obras médicas, nesse idioma o qual lia correntemente” (10). Gostava de voltar ao passado e os assuntos históricos o interessavam de modo especial. Sobretudo referentes à História do Brasil, dos Estados Unidos da América do Norte e da França. Três civilizações tão distintas mas que lhe despertavam sempre grande atração. O que de certo modo ampliava cada vez mais os seus vastos conhecimentos. Sempre soube que o Dr. Newton era um homem de hábitos regulares: “Aquele passeio diário pelo quintal de sua residência, antes do café, admirando as suas árvores, examinando os galináceos, dando-lhes a primeira refeição do dia e cuidando dos seus passarinhos” (11). Fazia tudo isto com amor e com devotamento. Era um prazer renovado a cada dia aquele contato vivo com a natureza. Como não podia deixar de ser, era um apreciador da música erudita, demonstrando preferências e deslumbramento ao escutar os acordes de um solo de violino. Também se sensibilizava ante as manifestações musicais folclóricas e populares, repassadas de ingenuidade e de romantismo. Enfim sua sensibilidade vibrava diante de qualquer manifestação artística, onde a beleza e a harmonia se aliavam numa unidade de profunda ressonância estética. E, como tal, apreciava as flores na sua imensa variedade e exuberância de aromas e de cores. A angélica – a singela e perfumada angélica – era sua flor predileta. Amigo dos filhos, gostava de levá-los a passear, sobretudo quando pequeninos, crianças ainda. Homem sensível que se enlevava com o canto dos pássaros, o perfume das angélicas e os acordes sonoros de um violino, da mesma forma vivia intensamente os problemas dos seus entes queridos. Isto o fazia sofrer mais ainda do que eles próprios, levando-o muitas vezes, a períodos de tristeza e solidão, em verdadeiro ensimesmar. Era a sua maneira afetiva de ser. Homem bom, extremamente bom, jamais deixou de ajudar aos que iam na busca de seu auxílio. Homem simples: esta simplicidade que é natural aos grandes homens. A fatuidade e o orgulho são próprios dos néscios. Homem estudioso que se detinha hora a fio, muitas vezes noite adentro, lendo, em busca do saber, esse imenso e profundo poço que jamais se alcança o fim. Homem metódico, de hábitos rotineiros: o mesmo alfaiate, o mesmo barbeiro, o mesmo engraxate. Homem inteligente, cuja vivacidade e perspicácia se refletiam no olhar brilhante.


Homem-Médico, foi de todos o seu laurel. Assim nasceu e viveu o Dr. Newton Nobre de Lacerda, o nosso Nobre Doutor. Morreu no dia 21 de dezembro de 1967. Quase 20 anos de saudade. Referências

(1) (2) (3) (4)

Informações verbais do Dr. Everaldo Soares. Informações fornecidas pela família. Dados biográficos : “Revista Unidade Médica” ; Ano V, n 10, abril, maio e junho de 86. Nóbrega, Humberto. “As Raízes das Ciências da Saúde na Paraíba”, João Pessoa, Editora Universitária. 1979. (5) Idem. (6) Informações fornecidas pela família. (7) Nóbrega, Humberto. “As Raízes das Ciências da Saúde na Paraíba”, João Pessoa, Editora Universitária. 1979. (8) Almeida, Elpídio. “Newton Lacerda”. in Correio da Paraíba, edição de 24 de janeiro de 1968. (9) Idem. (10) Informações fornecidas pela família. (11) Informações fornecidas pela família.


CADEIRA Nº Patrono:

20

Dr. JOAQUIM GOMES HARDMAN

Data de posse: 08/07/1988 Ocupante: Antônio Nunes Barbosa Saudação:

Orlando Cavalcanti de Farias


08/07/1988 

Saudação ao: Dr. ANTÔNIO NUNES BARBOSA. Cad. 20 Por: Dr. Orlando Cavalcanti de Farias

Antes de tudo, desejo agradecer a minha escolha, para introduzir nesta Sociedade, produto das mentes privilegiadas de Amílcar de Souza Leão, Eugênio de Carvalho Júnior, Asdrubal Marsíglia de Oliveira e Humberto Nóbrega, a figura do ortopedista e professor universitário, Antônio Nunes Barbosa. Escolha que me envaidece e honra, e por que não dizê-lo, alegra, pois, estou apresentando uma pessoa que é meu amigo e companheiro de longas datas. E acrescento: a escolho foi acertada, porque talvez ninguém nesta Academia, caminhou junto a ele, durante tão grande período. Fui seu professor, e, ainda como estudante, ele já estava comigo, participando de minhas atividades como cirurgião infantil, ajudando-me a operar as crianças no Instituto de Proteção e Assistência a Infância. Formado, seguiu a carreira militar, e hoje estaria usufruindo as regalias de um oficial de alta patente, se não tivesse renunciado, por uma duvidosa carreira de professor de uma Faculdade de Medicina que dava os primeiros e incertos passos. Foi, dessa maneira, o meu primeiro assistente na Disciplina de Clínica Infantil e Ortopédica. Por essa época, em 1967, fundamos a Clínica Ortopédica e Traumatológica de João Pessoa. Antônio Nunes, Josimar Meirelles e eu nos instalamos no prédio recém construído, Edifício Luiz Pasteur, na antiga rua da Palmeira, e atual Rodrigues de Aquino. Antes desta Clínica, ninguém se dedicava especialmente à traumato-ortopedia, a não ser o Dr. Francisco Mendonça que tinha um serviço de traumatologia no Pronto Socorro Municipal, no local onde hoje existe o prédio da TELPA, e o Dr. Antônio Nunes, que estabeleceu um outro, no antigo Hospital São Cristóvão, obra do saudoso Newton Lacerda, onde tinha um aparelho portátil para radiografias, e uma câmara escura, introduzindo assim o sistema de redução de fraturas e imediata comprovação radiográfica. Na Clínica Ortopédica e Traumatológica de João Pessoa que se transformou em hospital, após a junção de outra Clínica, o nosso colega Nunes, continuou conosco até há pouco tempo, quando nos deixou de um modo inopinado, para se dedicar a uma atividade de que falarei depois. Tendo, portanto, credenciais de sobra para afirmar que conheço bem Antônio Nunes, sua inteligência, sua coerência consigo mesmo, seu apurado amor à justiça, seu desapego ao dinheiro, o seu empenho e a sua entrega de corpo e alma a tudo que está fazendo e isso num estado de exaltação interior que incomoda e o torna incompreendido às pessoas que com ele convivem mais de perto e, junto a isso, uma instabilidade e umas mudanças súbitas que deixam seus amigos e familiares surpresos. Quando Linaldo Cavalcanti foi reitor da Universidade Federal da Paraíba e revolucionou essa entidade, passando os seus dirigentes de avós para netos, e falo assim porque eu que fui um dos fundadores da Faculdade de Medicina, tive como chefes o Dr. Orlando Coelho no Centro de Ciências da Saúde e o Dr. Antônio Nunes Barbosa no Departamento de Cirurgia, ambos meus ex-alunos. Passou pouco tempo no Departamento de Cirurgia, mas marcou a sua passagem com traços de seriedade e aprumo. Deixou-o inopinadamente, sem uma causa palpável, para surpresa e estranheza de seus companheiros. Com este fato e mais outros que vou comentar, quero destacar um aspecto do meu amigo, característico de sua personalidade. O Nunes não gosta de rotina. Sentar-se na cadeira de uma instituição, durante muito tempo não é com ele. Vive em busca de algo que os circunstantes não percebem. No começo de nosso conhecimento, Nunes botou na cabeça que devia aprender italiano, e o fez com tanto afinco, que dentro de pouco tempo falava esta língua com desembaraço e logo depois foi para a terra de Dante para o curso de escoliose. Como alguns de nós sabemos, o colega em apreço foi presidente do Botafogo Futebol Clube de João Pessoa, e como sempre desempenhou essa função com toda a alma, ao ponto de desembolsar seu dinheiro para pagar dívidas daquele Clube. Por essa época aconteceu um fato que saiu em destaque na revista o


Cruzeiro, como “o impossível acontece”, quando o nosso jovem oficial por motivos que desconheço, numa rixa ocorrida no campo, mandou buscar soldados do exército e prendeu toda a patrulha da polícia. Foi Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, e gravou a sua passagem por esta Sociedade patrocinando uma homenagem a um colega médico que marcou a sua vida, não com cargos importantes, posições privilegiadas, mas, pelo contrário, com uma vida humilde que não atingia as páginas dos jornais da cidade. E que labutou com carinho e dedicação aos seus doentes, na enfermaria do Hospital Santa Isabel. Com o patrocínio dessa homenagem a esse colega que foi o Dr. Marinésio da Cunha Moreno, o Presidente do Capítulo da Paraíba do C.B.C. demonstrou sensibilidade pelos reais valores da pessoa humana, destacando uma criatura que é pequena para o mundo, mas é grande para os seus doentes humildes, para sua esposa e para seus filhos. Há uns dois anos deixou a C.O.T.J.O.P. depois de 20 anos de trabalho profícuo, mostrando mais uma vez aquele aspecto de sua formação psicológica, deixando a todos nós seus companheiros atônitos e sem compreender sua atitude. Poucos dias depois, soubemos o motivo, pelo menos aparente de sua metamorfose: comprou uma granja e a ela passou a se dedicar de corpo e alma como sempre ocorre nas suas atividades. Nos dias subseqüentes era outro Nunes. Em vez da conversa sobre fraturas da coluna, do colo do fêmur ou de um paciente com fraturas dos ossos da perna que operou recentemente, ouvíamos conversa e mais conversa sobre inhame, banana, irrigação, épocas de plantio, e isso tudo com as minúcias que fazia inveja a um abalizado agrônomo. Nesse mesmo período, numa prova de que as atividades agrícolas, não esgotaram a sua capacidade mental e de trabalho, se dedicou a outros setores, passou a estudar russo e alemão e isso seriamente, a deduzir pelos assuntos das conversas, nos encontros fortuitos, sobre alfabeto russo pronúncia russa, comparação da nossa gramática com a russa. Aqui termino o meu trabalho sobre Nunes. Mas ele continuará com as suas estripulias. Entra ele assim na Academia Paraibana de Medicina, alto, magro, olhos grandes, como um Dom Quixote, com a espada em punho, e os moinhos de vento que se acautelem contra ele.


08/07/1988 

Elogio ao Patrono: Dr. JOAQUIM GOMES HARDMAN. Cad. 20 Por: Dr. Antônio Nunes Barbosa

O Cirurgião pioneiro Era a Capital da Parahyba do Norte cidade de pouco desenvolvimento no início do século vinte, com escassas e pequenas manifestações de conhecimento do progresso advindas dos centros mais adiantados do Brasil e do mundo. Muito pequena em extensão territorial, estendia-se das margens do Sanhauá à Lagoa dos Irerês (hoje Parque Solon de Lucena) onde terminava. Severos costumes regiam a família provinciana onde a Igreja Católica tudo dominava. Até a linguagem popular era farta em vocábulos que perderam inteiramente seu uso e significado nos nossos dias. Iluminação pública precaríssima com lampiões de querosene, ausência total de redes de esgoto e água encanada. Esta última, era provida mediante entrega domiciliar pelos “aguadeiros” carregando-a em barris, no costado de muares. A pachorrenta paisagem urbana era complementada pelo preguiçoso transitar dos bondes de burro. Os albores do progresso e do “modernismo” vieram chegando vagarosa e paulatinamente durante as primeiras décadas. A assistência aos necessitados de cuidados médicos era feita nos “hospitaes da Santa Casa de Misericórdia” através de uns poucos profissionais que verdadeiramente nos legaram um passado de real heroísmo e dedicação face à escassez de recursos técnicos e atraso dos conhecimentos médico-científicos de então. Entre estes iríamos encontrar uma ímpar figura dotada de bastante arrojo e dedicação no mister que deveria desempenhar em benefício da coletividade da sua época: o cirurgião Joaquim Gomes Hardman. Nascido a 11 de março de 1867, em pleno vigor do regime monárquico, era filho do Desembargador Feliciano Henriques Hardman e de D. Luzia Gomes da Silveira Hardman. Segundo seus contemporâneos, gozava de uma robustez física e bom humor que, tudo indicava assegurar uma longa e saudável existência. Formou-se em medicina em 1902 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, aos 35 anos, defendendo a tese “Contribuição ao Estudo das Supurações Pelvianas e Seu Tratamento”. Em 1904 regressa a Parahyba a fim de iniciar sua vida profissional e em abril de 1907 instalou seu consultório na Rua da Baixa nº 56 (atual Duque de Caxias). Posteriormente (1908), submeteu-se a concurso para 1º Tenente Médico da Polícia Militar e em seguida foi chefiar a Clínica Cirúrgica do Hospital Santa Isabel (antigo) no Conjunto Central da Santa Casa de Misericórdia. Dotado de perspicácia e tenacidade invulgares sentiu no exercício desta última função, a falta de um formulário farmacêutico que servisse ao uso exclusivo dessa Instituição, razão pela qual organizou ele próprio, um Formulário Prático, que apresenta o conteúdo de oitocentos e cinqüenta e duas composições disposta em quarenta e sete capítulos. Este formulário foi editado pela Imprensa Oficial da Paraíba em 1918, e esteve em vigor desde 1913 (quando foi concluído) até enquanto o Hospital Santa Isabel manteve manipulação em sua farmácia. Encontra-se o referido Formulário, hoje em posse de descendente de familiares do Dr. Hardman, residente nesta Cidade conforme comunicação verbal a nós feita pelo referido descendente. Trabalhou o Dr. Hardman no atendimento à medicina socializada da época sendo contratado da Empresa Tração, Luz e Força e da Great Western Brazil Railway. Já em relatório da Provedoria apresentado à Mesa Conjunta da Santa Casa de Misericórdia em sessão solene de 02 de julho de 1908, o Provedor Trajano Américo de Caldas Brandão se


manifesta: “o movimento cirúrgico tem se desenvolvido muito depois que o Dr. Joaquim Hardman entrou a prestar seus serviços profissionais aos Hospitaes da Santa Casa”. Em outro relatório, do mesmo Provedor, no ano seguinte: “o movimento cirúrgico elevou-se bastante graças à perícia e a competência do ilustre Dr. Joaquim Gomes Hardman. As operações mais importantes compareceram e assistiram os Drs. João Lopes Machado, Otacílio de Albuquerque, José Maciel, Teixeira de Vasconcelos, Seixas Maia e Otávio Soares”. No final da primeira década, compelida pela necessidade de evoluir em atendimento hospitalar à população da cidade e regiões da província convergentes à mesma, decide a Santa Casa pela construção de novo Hospital compatível com o desenvolvimento das atividades médicoprofissionais. Assim é que a 12 de outubro de 1908, no Sítio Cruz do Peixe, presentes autoridades, entre elas o então Presidente do Estado Mons. Walfredo Leal, o Revmo. Sr. D. Adaucto Aurélio de Miranda Henriques abençoou a primeira pedra do edifício do futuro Hospital. Somente, entretanto, em 08 de novembro de 1914 viria a ser inaugurado e teria a mudança definitiva de móveis, utensílios e doentes em 13 de novembro de 1915. Nos seus quadros como médicos efetivos encontravam-se os Drs. Joaquim Hardman e José Maciel. Grande colaboração recebia dos integrantes dos quadros auxiliares como a Irmã Maria José (da Sagrada Família) e Irmã Maria Gerbert. E o farmacêutico Manoel Londres prestava à Farmácia o concurso de suas luzes e competência. Tinham os doentes do Hospital a assistência religiosa do seu legendário Capelão Pe. Nicodemos Nicanor da Costa Neves , figura por demais conhecida e querida de muitos de nós ainda vivos. Para se ter uma idéia de atuação de nosso ilustre Patrono, com seu espírito inovador, a cobertura jornalística da época (“A União” de 22 de outubro de 1909) apresentava em primeira página reportagem dando conta de que a paciente Ambrosina Maria da Conceição fôra há poucos dias libertada de um grande osteosarcoma aderente à clavícula direita e agora um outro caso operado pelo Dr. Hardman. Desta vez era a paciente Francisca Maria da Conceição, de 40 anos, residente em Alagoa Nova, que era portadora de grande sarcoma do ovário esquerdo pesando 1.050 gramas. Com um melindroso serviço de cloroformização, a cargo do Dr. Flávio Maroja, diretor da Clínica Hospitalar, e auxiliado pelos Drs. José Maciel e o Exmo. Dr. João Machado, Presidente do Estado. Ao término da cirurgia o Presidente cumprimentou o Dr. Joaquim pelo belo atestado de sua competência. Esta teria sido a mais importante operação da época na Parahyba. A sua atuação como profissional, na época, viria influenciar e inspirar muitos dos cirurgiões surgidos no nosso meio posteriormente. Em 1913 o Dr. Joaquim Hardman desposou Maria Estela, primogênita do Ministro Pedro da Cunha Pedrosa. Desnecessário é dizer que o enlace constituiu verdadeiro acontecimento social, dado o alto prestígio desfrutado pelos noivos. Refere-se que na noite de núpcias, alta madrugada, um grupo de seresteiros em boemia resolve homenagear os noivos recém-casados cantando uma modinha muito em voga na época “Acorda, abre a janela, Estela”. Hardman atendendo ao pedido não teve dúvidas: saiu rápido, revólver em punho, dispersando os notívagos... Deve-se ainda ao empenho do nosso memorável esculápio o aparecimento e instalação do primeiro aparelho de Raios X, fato ocorrido da sua instalação pioneira em 10 de junho de 1920. Hardman foi sem dúvida alguma, um devotado da profissão e considerado o mais hábil cirurgião do seu tempo, tendo a morte o surpreendido em plena atividade profissional, em 08 de outubro de 1922. verdadeira multidão, compungida compareceu ao féretro. Neste ano encontrava-se na relação dos benfeitores da Santa Casa de Misericórdia com doação em dinheiro da ordem de 50$000 (cinqüenta mil réis) e, em relatório da Provedoria apresentado à Mesa Conjunta da referida Instituição em 02 de julho de 1923, declara o Dez. José Ferreira de Novaes: “É com profundo pesar que faço o registro dos irmãos que, nesse lapso de tempo desapareceram da vida: Dr. Joaquim Gomes Hardman e Arthur de Deus da Costa”. Nesse mesmo relatório trata ainda com sentidas palavras do “fallecimento em 08 de outubro de 1922, do Dr. Joaquim Hardman, a quem deve a secção de cirurgia de nossos hospitaes serviços que nunca serão esquecidos”. Finaliza ainda com a seguinte: Nota Especial – Dr. Joaquim Hardman.


“A Santa Casa rende homenagens à memória do illustre médico que foi o Dr. Joaquim Hardman conceituado e grande operador dos hospitaes dessa pia Instituição. A Mesa Administrativa fez celebrar missas em sufrágio da alma desse inesquecível trabalhador e propor um quadro com sua fotografia no Salão de Honra do Hospital Santa Izabel”. Hoje curvamo-nos respeitosos, passados os anos, ao exemplo de sua vida e rendemos nossas homenagens ao Patrono da nossa Cadeira, a de número vinte nesta Academia.


Elogio ao primeiro ocupante: Dr. HERONIDES ALVES COELHO FILHO. Cad. 20 Por: Dr. Antônio Nunes Barbosa

O Menino e o Moço Corria o ano de 1919. Heronides Alves Coelho (Coelhinho para os íntimos) e D. Cesina Saraiva Coelho, de há pouco casados, encontravam-se radicados em Campina Grande quando se viram na contingência de, por razões de ordem econômica-financeira, efetuarem nesse período sua transferência de domicílio para a cidade de Timbaúba, em busca de melhores condições materiais para si e para o lar que já se revelara prolífero, pois C. Cesina portava a essa altura sua primeira gestação. Na realidade, a próspera comuna na Zona da mata do hinterland pernambucano se mostrava com melhores perspectivas para o desempenho laborativo do jovem chefe de família; bem dotado em relações aos padrões de desenvolvimento da época, razoável estágio de evolução sócio-cultural e o bom patrimônio de um parque industrial a assegurar o fluxo de sua riquezas, faziam a pequena urbe, encravada à margem esquerda do Capibaribe – Mirim nas férteis terras daquela região, realmente um florescente núcleo: energização elétrica desfrutável por todo o período noturno, serviço de coletivos representada por rede de bonde de burros, edição regular de periódicos ( “A Serra”, “Timbaúba Jornal”, “ O Chic”), associações culturais como a Liga Lítero-Athlética dispondo de boa biblioteca, um cine-teatro em plena atividade (o Recreios Benjamim), o estímulo à cultura musical através de filarmônicas como a conhecidíssima Euterpina e a Banda 2 de Novembro. Também o cuidado com a educação mereceu ali a atenção dos da época; a atuação de tradicionais mestres-escola e até de educadoras de procedência estrangeira deixou marcas indeléveis nas gerações que passaram nas escolas locais e no Colégio Santa Maria. Períodos houve em que se podia contar com o financiamento de até quarenta indústrias de calçados absorvendo a excelente mão de obra de artesãos da área (1). Mas concordemos em fechar essa digressão sobre o cenário e a época que espelham o torrão natal do primogênito daqueles que para lá se trasladavam e que ali viria nascer a 14 de janeiro de 1920: Heronides Alves Coelho Filho, nosso patrono nessa Academia. Dentre os cinco rebentos do casal (posteriormente nasceriam Ceci, Lenira, Valdir e Petrônio) seria exatamente o primeiro que, desde tenra idade, viria a provocar nossa atenção para a manifestação de suas tendências espiritualistas. Já aos três anos de idade, relata-nos Humberto Nóbrega, revelava-se um sonhador, que, “embevecido ante a beleza do despontar do plenilúnio, fugia de casa com o intuito de apanhar a lua para si” (2). Zildo (sua alcunha afetiva familiar) revelou-se criança precoce: conseguira o aprendizado da carta ABC em apenas uma semana e em não mais de um mês sobrepujaria as dificuldades do lº livro de leitura de Felisberto de Carvalho. Mercê, sem dúvida, do germe intelectualístico que nele habitava coadjuvado em seu cultiva pela orientação sazonadora de mestres e ambientes estimuladores é que começamos a ter, através dos tempos, a projeção do nosso evocado. Teve como sua professora de primeiras letras D. Ana Eufrásia Cabral de Moura, mestra de gerações na próspera Timbaúba mãe da conhecida cronista pernambucana Isnar Moura, e a quem repetidas vezes fazia referência da influência, entre outros mestres, sobre sua formação. Ainda menino incursionou célebre no mundo das letras e não esperou além dos nove anos de idade para dar o ar de sua graça escrevendo sua primeira obra, um romance intitulado


“O Bocaina”, fazendo já da simplicidade uma tônica que o marcaria pela vida afora – utilizara para tal pedações de papel destinados a embrulhar pão... Coelhinho, no seu carinho e entusiasmo paternos juntou as páginas do manuscrito dando à produção um roupa nova – datilografou-as. Relatava o mesmo as aventuras de um barco que, deixando Corumbá via Rio Paraguai, chega ao Atlântico, com o intuito de atingir as ilhas Britânicas, no que é frustrado graças a um desfiar de percalços (tempestades, calmarias e ataques de pirataria) vindo finalmente a naufragar. Já adulto amadurecido, confessa Heronides; “foram tantas as aventuras do Bocaina, que secou de vez o poço raso de minha imaginação. Nunca mais volteio ao gênero”... Em meados da terceira década do século a família se transferiu para o Recife onde Coelhinho viria a se estabelecer com um escritório de administração de imóveis e Zildo terminando o primário ingressa no Ginásio Pernambucano. Como aluno do mesmo participou intensamente das atividades intelectuais promovidas pelos discípulos que o integravam. Cursar aquele educandário já era por si só um aval para o acesso às escolas superiores da cidade e Heronides nele começou a dar passos bem mais largos na sua trajetória de cultura. Com um punhado de colegas fundou e dirigiu “O Fanal”, órgão alunado. A literatura julioverniana e os livros de Paulo Setúbal, que logo o absorveram, de quem se tornara íntimo, o faziam despertar para assuntos de interesse Histórico e geográfico com muito amor e verdadeiro gosto em vaguear através de horizontes desconhecidos. Ainda estudante funda com um grupo de colegas a Sociedade Cultural Estevão Cruz. A 16 de abril de 1938, tendo a referida agremiação, em determinada época marcante papel no movimento literário cultural dos novos do Recife. Orgulhava-se por ser esta mais nova apenas que a Academia Pernambucana de Letras, entre as agremiações literárias do Estado. Tiveram, nessa fase de sua formação intelectual, espiritual e cívica, influência acentuada, o Monsenhor José Marques da Fonseca e o Cônego Jonas Taurino de Andrade, seu ex-professor de inglês, aos quais com freqüência, com certa dose de saída jactância, se referia. Estuda ainda no Colégio Osvaldo Cruz e em 1940 termina o curso preparatório ingressando na Faculdade de Medicina do Recife. A Voz da vocação arrastava o humanista à condição de médico. Não se dissociaria da primeira condição e antes da sua colação de grau, como tal, trilhou laborioso o jornalismo, de 1939 a 1943, onde percorreu todas as seções de imprensa, tendo sido sua grande escola o “Diário da Manhã”, editado naquela cidade. Repórter policial, taquígrafo, tradutor de telegramas e sub-Secretário. Teve atuação ainda em “A Tribuna” e no “Informador Fiscal”. Já não mais se constituindo nenhuma surpresa, no âmbito universitário, foi diretor de “Medicina Acadêmica” na tradicional Faculdade do Derby e ainda orientou “Voz Operária”, quinzenário destinado à divulgação da doutrina social da Igreja.

O Médico e o Professor Depois de ter tido como colegas e contemporâneos na Faculdade na Faculdade de Medicina, entre outros, os tão nossos conhecidos Vanildo Pessoa, Vicente Nogueira e Atência Wanderley, em nosso meio, e ainda Galdino Loreto e Benedito Silveira Lira, psiquiatras em Pernambuco, colou grau na primeira turma da Universidade do Recife em 14 de dezembro de 1946. Aceitando presumivelmente a assertiva de Goddek de que “o médico e o doente se defendem contra a idéia de que o corpo é independente da alma”, e permanecendo na profissão fiel às suas inclinações humanísticas, escolhe como especialidade a Psiquiatria. E mesmo formado médico, continuou e o exercício de sua já atividade de professor secundário em diversos colégios do Recife, como o Salesiano, o N. S. Auxiliadora e o Estadual de Pernambuco, lecionando as disciplinas de História Geral e do Brasil e Ciências Naturais. Tornou-se Professor Assistente de Psiquiatria na Faculdade onde estudou depois de ter absorvido de luminares da especialidade como José Lucena, Arnaldo Di Lascio e outros da tão


reputada escola de Ulisses Pernambucano, as lições maiores da experiência científica e profissional. Em 1953 transfere-se para João Pessoa reencontrando-se com velhos companheiros, sendo efusiva e fraternalmente abraçado pelo mais antigo deles, Vanildo, que o acolhe cedendolhe seu próprio consultório, na praça 1817 para que desse início à sua atividade privada. Exercia já aquela época a função de médico-psiquiatra da CAPFESP (depois IAPFESP e do IAPETC). Instalar-se-ia posteriormente em seu próprio consultório à Rua 13 de Maio com a Clínica Dr. Coelho Filho para pacientes externos. Dispondo entretanto de leitos para a cura pelo sono, e mais adiante, estendia a abrangência da mesma a pacientes internos na Rua Deputado Odon Bezerra. Após iniciar suas atividades no antigo Pavilhão das Mulheres (atual Prof. Luciano Ribeiro de Morais) constituiu-se, segundo depoimento de seus contemporâneos, verdadeiro renovador reeditando em nosso meio e em nosso tempo seu precursor francês Felipe Pinel na humanização da terapia psiquiátrica, em seus métodos e em sua aplicação, normalmente a eletroconvulsivante, a qual ainda executada em série, por blocos de pacientes, exercia sobre estes a atemorização. Modificou, na prática, toda uma estrutura de assistência psico-social. Introduziu, com grande dedicação, no Hospital Colônia Juliano Moreira a praxiterapia bem como a meloterapia, sendo nesta última abnegadamente coadjuvado por sua própria consorte D. Maria de Lourdes Vieira Coelho, como musicóloga que é (3). Durante toda a sua vida profissional desenvolveu intensa atividade clínica procurando sempre a atualização, como grande estudioso da psiquiatria, merecendo dentre muitos dos seus próprios colegas da especialidade o consenso de que seria de certo aquele que mais se aprofundara em conhecimento da mesma. Igualmente consideráveis também o eram seus conhecimentos no campo da neurologia disciplina na qual foi professor Assistente no Recife e interinamente na nossa Faculdade e se tornara da mesma maneira interessado no estudo de psico-fármacos. Nesse campo chegou a apresentar em congressos, trabalhos e observações a eles relativos por diversas vezes. Destaque especial mereceu na época (IVº Cong. Méd. da Paraíba, 10.11.66), os estudos sobre o Metronidazol no tratamento do alcoolismo. Professor de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, com assiduidade exemplar em seus ambientes de atuação confundia-se, no bom sentido, em meio à prática diária nos pavilhões psiquiátricos, com internos, colegas, e alunos, aos quais, da sua parte, a lhaneza no trato era uma constante; e com pacientes toda uma dedicação de carinho sem perda da postura ética; tão escrupuloso quão convicto ao proferir seus conceitos e orientações, revestia-se entretanto, de cordata intransigência se os sentisse postos sob alguma dúvida. Didata e pedagogo da melhor água, que em suas aulas magistradas ou no campo prático que através de trabalhos publicados ou livros didáticos, espelhou sempre a segurança do mestre a uma geração inteira de excelentes psiquiatras, seus ex-alunos e, hoje, também professores na mesma escola ou espalhados por outras plagas. Dentre as obras de caráter médico-científico por ele deixadas até nós, a comprovar estas qualificações encontramos “Narco-análise em alcoolistas e outros estudos”, “Medicina, doenças e médicos nos primeiros anos da Paraíba”, “As fases evolutivas da personalidade”, “Rudimentos de história da psicologia”, “Semiologia Sexual”, Elementos de Psicologia Sexual”, Toxicomania por produtos medicamentosos contendo o núcleo morfínico” e “O sono prolongado no tratamento das crises de agitação psicomotora.

O Pensador e o Polígrafo Com a opção de transferência para nossa cidade transportou consigo toda a sua bagagem, toda a sua capacidade laborativa, toda a sua vivacidade espiritual. Além da condição profissionalde reconhecidos méritos, postava-se sem sombra de dúvida como pilar de intelectualidade começando a ter ativa participação na nossa imprensa. Articulista freqüente em


órgãos jornalísticos, não se satisfez apenas nesta situação e em 1958 lança a revista “Vida e Cultura” aglutinando uma plêiade de valores e inteligências, tornando-se esta porta-voz não somente do pensamento e do desenvolvimento intelectual e científico da terra, mas, pelas suas conotações com a cultura lusitana, como um enlaçamento afetivo entre a Paraíba e o avô Portugal. Conseqüência imediata desse aspecto foi a estruturação da Sociedade Luso-Paraibana de Estudos e Pesquisas em 1961 e mercê da atuação desse sodalício em sua ação de intercâmbio cultural, foi Heronides levado a pisar “o jardim da Europa à beira-mar plantado” em missão de estudos e pesquisas, culminando em julho de 1962 com pronunciamento de conferência sobre “A evolução do pensamento psiquiátrico e da assistência aos alienados no nordeste brasileiro”, na Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, tendo sido na ocasião entusiasticamente saudado e apresentado pelo Mestre, Barbosa Sueiro, professor de Anatomia e História da Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Em 1953 publicara pelo Centro de Estudos Espiritualistas do Recife temas ali debatidos como também na Sociedade como também na Sociedade Cultural Estevão Cruz, sob o título “Ensaios de Crítica e de História”, prefaciado por Flávio Guerra que assim se pronunciou: “Trabalho de possibilidades intelectuais amplas, algumas vezes, até, de certo sabor estranho”. Coadjuvado por companheiros de ideais cristãos, lança ainda no mesmo ano “Toma e lê” e “Dissipando dúvidas”. Ainda envolvido no campo de religiosidade deixou um farto legado de trabalhos escritos entre os quais, “Freud e os católicos”, “Jesus e a Medicina” e Catolicismo e a Bíblia”. Como pesquisador e historiógrafo, não menos, projetou-se nosso focalizado. Sempre evidentemente calcando-se na tríade história-religião-medicina, fundamentou seu pensamento lançado em obras. Dentre estas citamos “Isidoro de Servilha e a Medicina” onde traz à tona nosso beletrista a influência notória do santo prelado cartaginês, arcebispo de Servilha no transmitir às gerações medievais o saber e a experiência dos povos da idade antiga por meio de sua obra “Originum Sive Etimologiarum Libril”, verdaeira enciclopédia das artes e das ciências da época. Aí, dá o autor dessa monografia destaque especial à atividade daquela exponencial figura eclesiástica do medioevo nos domínios da medicina. “Flagrantes da origem e desenvolvimento da Sociedade de São Vicente de Paulo” é outra com que brindou aos pósteroscom simples e bela harmonia estilística, a descrição bem informada e plena de detalhes sobre esta instituição, implantada em nosso Estado, pioneiramente, em 1892, na cidade de Itabaiana, sob a denominação de “Conferência de Nossa Senhora da Conceição” expandindo-se posteriormente e estruturando-se na nossa capital com a “Conferência de Nossa Senhora das Neves” instalada em 1895 no Convento dos Franciscanos. Por ocasião do 1º Congresso Médico Estadual da Paraíba mereceu atenção conferência por ele pronunciada sob o título “A Epidemia do Cólera-morbo na Paraíba, em 1856”. Ainda de sua lavra temos os ensaios “Revolução gorada”, histórico da tentativa de rebelião por parte de militares da guarnição da Província da Paraíba, em 1823, encabeçada pelo Tenente José Antônio da Fonseca Galvão, o “Pastorinha”, tendo sido sufocada e resultando na fuga do mesmo; bem como “Um esquecido cirurgião” esboço biográfico da figura quase lendária do pioneiro da arte de curar em nosso meio – o português Feliciano José Henriques, nascido em Povoa, distrito de Santarém, Portugal, emigrado para o Brasil, fixando-se na Paraíba, onde ingressou no corpo de saúde do Exército em 1803 e onde viveu até 1866. Produto da sua intensa atividade literária ainda nos legou “A tomada de Goa”, plaquete em que se tem enfeixado um estudo histórico crítico acerca de invasão e anexação pela Índia, do Estado Português de Gôa, em 1963, com grande repercussão em Portugal e em todo o mundo luso ultramarino. Uma das provas materiais dessa repercussão é o comentário de primeira página de “O Clarim” da Cidade de Macau de 18 de abril de 1963 e o pronunciamento publicado nas colunas de “Notícias de Macau” de 22 de abril do mesmo ano (4). Sua consagração porém no campo da historiografia adveio no ano de 1954, quando Heronides pesquisa de maneira exaustiva e, reunindo o material obtido escreve e publica “A Psiquiatria em Pernambuco”, depois reunido com outros trabalhos em “A Psiquiatria no país do


açúcar e outros ensaios”, obra cujo mérito e reconhecimentos lhe valeu o Prêmio OTHON LINCH BEZERRA DE MELO outorgado pela Academia Pernambucana de Letras. Nele descreve toda a evolução da assistência aos psicopatas no vizinho Estado, desde o tempo em que os mesmos eram simplesmente recolhidos às cadeias públicas ou aos aposentos-prisões até os dias atuais. Diz sobre a obra, ao prefacia-la Jordão Emerenciano: “o tornar agradável acessível um trabalho dessa natureza, denuncia no autor a sua autêntica vocação de escritor que não esquece um primordial dever para com o leitor – o de ser entendido sem custo e de ser lido com certo gosto (5). Além de todo esse acervo cultural e literário e de suas atividades universitárias que lhe trouxeram títulos de professor de Psiquiatria e de Psicotécnica (na Universidade Federal da Paraíba) e de Psicologia (na Universidade Autônoma de João Pessoa), integrou o mesmo diversas entidades voltadas para o humanismo e pesquisas entre as quais vale ressaltar a sua condição de participante: Sócio Correspondente do Instituto Histórico de Olinda, Sócio Correspondente do Instituto Histórico do Cerará, Sócio Correspondente da Sociedade Brasileira de Geografia, Membro da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos, Membro do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica e Membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.

O Perfil do Cidadão Desde cedo, ainda no verdor de seus anos, transpareceu sempre, em seu comportamento e sua atitudes, a coexistência de essências que a uma vista primeira confrontam-se como paradoxais – grande inquietude interior em busca da afirmação das causas, contrastando com, serena e firme manifestação exterior de suas convicções. Tudo questionava para em nada se enganar em todas as áreas em que incursionou: ciências, artes, literatura, religião. Em todas essas questões sempre se mostrou um perene adversário da dúvida. Caráter firme, homem simples, que sem jamais procurar omitir seus desacertos, não apelava para a falsa modéstia ou para conveniências quando julgava encontrar a luz para suas questões, não fazendo concessões a pareceres ou opiniões adversas. Nisso alicerçou sobretudo suas convicções religiosas e científicas. Exercitou-se quanto deram suas forças na prática da caridade cristã, quer como médico ou como cidadão, fazendo-se sentir sempre nada mais que o espelho do próximo. Foi por duas vezes Presidente do Conselho Central Metropolitano da Sociedade de São Vicente de Paulo em nosso Estado; a primeira na década de setenta, quando encontrando a mesma desestruturada arregaçou as mangas e partiu para a sua recuperação e para o preenchimento de suas finalidade. Foi quando resolveu escrever e publicar “Flagrantes da origem e desenvolvimento da Sociedade de São Vicente de Paulo”, puvlicação cuja renda reverteu em benefício da mesma. Cerca de oitenta municípios onde a pia instituição tem base assentadas receberam frutos desse benefício. Pela segunda vez ocupou o cargo no biênio 86-87 não chegando ao término em virtude de seu passamento a 19 de junho de 1987. apesar do comprometimento de seu estado de saúde, teve destacadíssima atuação. Até mesmo em fase avançada do mal que o vitimou ainda se dirigiu por mais de uma vez a municípios do interior no objetivo de alevantar os núcleos da Sociedade que estavam em condições latentes de atuação (6). Pareceu procurar demonstrar sempre que o ser é bem mais importante que o ter, não se dispondo em época alguma de sua não longa existência a cobiçar a riqueza material, afirmando muitas vezes que, o capital era um meio e não um fim. Com esse modo de pensar não subestimava o valor desse como fruto material do trabalho, mas preferia aplicá-lo à sua maneira, de acordo com os “seus” valores e nisto se estribava para gasta-lo em “coisas mais nobres”, como por exemplo viagens, além obviamente das necessidades básicas. Realizou algumas dessas à Europa e aos Estados Unidos, como também por todo o Brasil, por vezes acompanhado da família aproveitando-as para que seus filhos, no decurso das mesmas, pudessem assimilar conhecimentos que não teriam nos textos com os quais tinham o contato de caráter obrigatório


na escola, e para si próprio com a finalidade de seu aprimoramento cultural afora o salutar sentido do lazer (7). Nunca chegou, como médico, a admitir a medicina-empresa. Casado com D. Maria de Lourdes Vieira Coelho, desde o ano de 1945, tev, deste conúbio o feliz para quantos os conhecessem, a fecunda seara de oito rebentos: Heronides Neto, Miriam, Eduardo e Maria das Graças (pernambucanos de nascimento), José Carlos, Suzana, Zilda e Tarcisio (nossos conterrâneos de berço). A eles devotou, no recesso do lar, em tudo que lhe permitiu seu tempo, não só carinho e amor, mas transmissão de valores em exemplos vivos ao longo de sua existência. Até hoje podemos testemunhar como a assimilação foi intensa, quando coloquialmente deles nos aproximamos e sentimos como quase materializada a figura de seu patri8arca, nesses contatos. A morigeração que nele esteve permanentemente obrigada, não se constituiu hipertrófica e não o impediu jamais de mostrar a face alegre do homem; aparentemente taciturno, convertiase em loquaz quando o assunto dos diálogos eram do seu interesse. Abstêmio confesso, em relação a outros tipos de bebidas, sabia entretanto escolher o vinho de boa cepa entre as sugestões que lhe chegassem, para degustar sobriamente nos momentos de maior alegria no recesso do lar. Festeiro e até folião sob a influência dos filhos ainda menores por ocasião dos tríduos monescos, chegando mesmo ao ponto de se transformar em animador dos netos nas matinês carnavalescas já nos seus últimos tempos. Cultivava e até se mantinha bastante atualizado no contato com a cultura musical assinando por longo tempo a coluna intitulada “No sulco da agulha” (revista Vida e Cultura) não manifestando preferência de gênero e deleitandose tanto com uma seresta de Sílvio Caldas, como a festa no arraiá, junina, de Zé aTrindade, o Samba triste de Billy Branco e Baden Powell, um concerto mozartiano ou uma Ópera de Verdi. Qualquer uma delas encantava alguns de seus momentos de lazer no descanso doméstico de uma boa rede... Envolveu-se durante algum tempo em atividade clubística integrando a Diretoria de tradicional sodalício de nossa cidade – o Astréa – no Setor de arte e cultura. Na realidade isso não se constituiria nada demasiado para que já até dedilhara como pianista, integrando um conjunto amadorístico que, por vezes, deleitara platéias em clubes sociais do Recife. Talvez nos seja u8m tanto mais difícil, imaginarmos sua figura, como aparentava aos mais distantes ser Heronides, a subir em palanque de comício e se inflamar em arrebatações eleitorais como candidato a cargo eletivo; mas até mesmo isso experimentou por uma única vez lançado a deputado estadual pelo Partido Democrata Cristão, em Pernambuco. Somente para provar, pois não conseguiria êxito. De certo ali estavam tão somente a boa vontade e a têmpera do idealista. Seu aspecto físico traduzindo modéstia até timidez, deambular ritmado sem quase nenhuma pressa, fala pausada, afabilidade a toda prova para quem o abordasse, sobriedade em todos os momentos, óculos de míope, seu costumeiro terno branco, sempre pitando o indefectível cigarro, estavam sempre como que, a esconder sua segura e polimática figura; seu espírito aguçado entretanto se atirava ávido e inquieto pelos recônditos de todas as formas da condição humana do conhecer, à semelhança do lançar-se das vagas nas mais íntimas reentrâncias das areias da praia ou fendas de falésias, penetrando nas mais diversas áreas em que suas tendências se projetassem. Muito embora se orgulhasse da sua condição de “paraibano de gestação” veio a se tornar de fato cidadão pessoense mediante um merecido preito de reconhecimento por parte de nossos legisladores municipais em 1978, por todas as suas qualificações, atributos e excelentes serviços prestado às sua terra de coração. Achamos por bem não deixarmos de inserir no contexto de nossa modesta observação as felizes considerações a nós oferecidas por ................. daqueles que, decerto, mais privaram da sua intimidade – Eduardo Alves Coelho, seu filho, aluno e como ele médico e Psiquiatra: “a personalidade deste homem impressionou-se tremendamente... O Amor, não restrito ao círculo familiar, mas um amor altruísta, que transcende as paredes do lar e se espalhava pela humanidade... O Saber, o qual cultuava como inegável valor, seja em que área fosse; a placidez


sempre presente, constatada por quem dele se aproximasse, possível fruto de sua segurança interior e a coerência entre princípios e atitudes...” (8). Ao ser implacavelmente assaltado, no caminhar de sua existência plena e profícua, pelo cutelo perverso do fantasma tanatológico não demonstrou nenhum temor e enfrentou estoicamente, com as armas la convieram e da resignação, a doença irreversível e o desenlace total, instalado, no ocaso fatídico, se desejaria como católico, ...........................................de vez em quando, a comunhão de seu assistente re...................................................enfático e categórico: “não só de vez em quando, mas diariamente, se possível...”. Dotado de crença inabalável, como é de sua própria confissão no ensaio “Doutrina contra doutrina” onde diz “este que vos fala também foi açoitado pelo látego da dúvida, mas, na noite da indiferença sentiu a nostalgia da fé...”, foi indubitavelmente Heronides Alves Coelho Filho, um andarilho do conhecimento, da fé e do humanismo, propugnando sempre pela sublimação do homem, através a defesa de causas maiores, sua discussão e seu entendimento.

Referências Informativas e Bibliográficas (1) Informações verbais do Prof. Ivan Cavalcanti (2) Nóbrega, Humberto (Saudação ao Prof. Heronides Coelho Filho em sua posse no IHGP em 18.05.67) (3) Informações verbais da Profª. Maria de Lourdes Britto Pessoa. (4) A tomada de Goa, Revista Vida e Cultura, ano VI, nº 25, 1963, João Pessoa, Paraíba. (5) Emerciano, Jordão – Prefácio da 1ª Edição, a Psiquiatria em Pernambuco, 1954. (6) Informações verbais da Direção do Conselho Central Metropolitano da Sociedade de São Vicente de Paulo, João Pessoa. (7) Informações verbais de familiares. (8) Correpondência do Dr. Eduardo Alves Coelho ao autor, em 25.04.88


CADEIRA Nº Patrono:

06

Dr. CASSIANO CARNEIRO DA CUNHA NÓBREGA

Data de posse: 16/12/1988 Ocupante: José Eymard Moraes de Medeiros Saudação:

Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros


16/12/1988 

Saudação ao: Dr. JOSÉ EYMARD MORAES DE MEDEIROS. Cad. 06 Por: Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros

Minhas Senhoras, meus Senhores Hoje, é um dia especial para o nosso espírito pois aqui nos encontramos, a fim de cumprir o mandato de vossa eleição, Sr. Presidente e ilustres pares da Academia Paraibana de Medicina, objetivando a honrosa incumbência de saudar o novel Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros. Na verdade, constitui-se uma aspiração de todos nós, que cultivamos as letras e desenvolvemos o nosso trabalho técnico-científico junto aos Hospitais ou Universidades o ingresso numa Academia, seja onde quer que se encontre e em qualquer circunstância, posto que existem alguns que detestam e condenam esse tipo de agremiação, porém, com o passar dos anos a ela acorrem, na maioria dos casos para se penitenciarem da sofreguidão de suas ofensas. Felizmente, a nossa Academia de Medicina, nascida sob a égide de figuras exponenciais, tendo como um dos seus principais fundadores o sempre lembrado Humberto da Cunha Nóbrega, cada dia mais se firma no conceito de nosso mundo cultural e científico, como uma Instituição merecedora do maior respeito, pelo muito que vem realizando em prol da renovação dos conceitos médicos e das letras de nossa Terra. Assim é que, o Acadêmico José Asdrubal M. de Oliveira – expresidente desta Casa, marcou de forma indelével a sua passagem à frente da Diretoria, patrocinando, sempre que possível, encontros magistrais de personalidades de nosso interland ou de outros Estados, para palestras e debates acerca de temas os mais palpitantes do passado e da atualidade. Da mesma forma o nosso preclaro Presidente Eugênio de Carvalho Jr, vem conduzindo o barco, inclusive participando de reuniões entre representantes de nossas congêneres no Sul do País, em conclaves de cunho nacional sobre o papel dessas Entidades face às graves distorções que dizem respeito ao Ensino e à Saúde. Há pouco tempo, em Niterói, defendeu com brilhantismo a tese da necessidade imperiosa e inadiável de uma reforma ampla do Ensino Universitário, a partir da realização de uma revisão curricular. Ao questionarmos o futuro da Universidade Brasileira, opomo-nos à idéia de uma Instituição encastelada na torre de marfim, mas, entendemos que a sua desejada autonomia deve chegar com a indispensável responsabilidade de todos os seus participantes, especialmente com os professores e profissionais da atividade acadêmica, a par do envolvimento indispensável de agremiações como a nossa, interessada na discussão, também, de aspectos e problemas sociais e políticos. Meus Senhores e minhas Senhoras: Contribuindo dessa maneira, (acreditamos) estamos honrando os nomes daqueles que patrocinam 40 cadeiras da Academia Paraibana de Medicina, pelo fato de que souberam defender esses princípios dignificando qualquer cenáculo e ao lado dos fundadores e atuais ocupantes de distinguem ou se distinguiram no território da intelectualidade e da inteligência. Portanto, vemos como um acontecimento singular o ingresso do Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros, porquanto vai ocupar a vaga deixada e por onde passaram na Cadeira nº 6, como patrono: Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega e Fundador: Antônio Vieira Queiroga, ambos verdadeiramente médico,s sábios e pioneiros nas especialidades de otorrinolaringologia e Imunologia, respectivamente, em João Pessoa e Campina Grande. Agora, permitam-me meus senhores e minhas senhoras, acrescentar algo mais nessas digressões, que o fazemos com o coração palpitante e cheio de felicidade ao proclamarmos que na


oportunidade de saudarmos o Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros, em presença de tantas destacadas autoridades e queridos ex-professores, pela primeira vez se encontram aqui frutos da mesma árvore, plantada e cultivada no mesmo celeiro da antiga Faculdade de Medicina da Paraíba, assim sendo, é chegada a hora de semear os privilégios de vossa benfazeja sementeira. O Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros, nasceu em Campina Grandes a 5 de agosto de 1941, portanto, beirando meio século de vida. Filho do Sr. José Jovino de Medeiros – funcionário público e D. Adalgisa Moraes de Medeiros. Casado com D. Ilka Almeida de Medeiros, de quem teve a graça de constituir a prole de (03) três admiráveis filhos: Ana Karla, José Eymard e Leonardo José. Fez o curso primário na cidade de Santa Luzia, sendo as primeiras letras na Escola Normal e, depois, no Instituto Cabral da Nóbrega. O curso ginasial foi realizado no Colégio Alfredo Dantas, em Campina Grande, e o Científico no Colégio Estadual dessa mesma cidade. Pelos idos de 1960, desceu a serra vindo instalar-se e integrar-se definitivamente no litoral, nesta terra acolhedora de João Pessoa. Na oportunidade, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Paraíba, através do exame vestibular conquistado com destaque e competência. Diplomou-se em 1965, pela Faculdade de Medicina da UFPb, onde pontificou como estudante dos mais aplicados e promissores. Ainda, de parceria com os seus colegas de turma Paulo Soares e Ugo Lemos Guimarães, fundou e participou como Editor do Jornal “O Marcassa”, enfocando notícias e comentando fatos de maior interesse da turma, faculdade e UFPb. As atividades acadêmicas foram iniciadas muito cedo, pois, já em julho de 1960, participava de um curso de Atualização de Temas do Aparelho Digestivo, em Campina Grande, talvez o batismo e o chamamento para abraçar sua especialidade. Daí por diante entre Cursos, Jornadas, Congressos, Simpósios etc, em levantamento recente, verificamos ter participado de 65 eventos, sempre apresentando algo do maio alto teor científico, fruto de sua pesquisa junto à clínica particular ou disciplina de gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica, do CCS da UFPb. Alguns desses trabalhos mereceram publicação nos mais destacados periódicos da especialidade médica do País, entre os quais destacaram-se: “Pancreatite Crônica Granulomatosa Fibrosante Esquistossomática Associada à Diabete Mellitus” – Folha Médica, Rio – Julho 1974 e “Tratamento Clínico da Úlcera Péptica” – ARS Curandi – Rio Set-1984. O Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros perfilou outros títulos e destaques na sua fulgurante vida pública. Durante o período de 1986 a 1987, presidiu com muito acerto e firmeza, a AMPB, voltando sua atenção, especialmente para a maior integração da classe, por isso vimos a promoção de grandes e significativos acontecimentos científicos nessa época em todo o nosso Estado. Como chefe do Departamento de Medicina Interna e, atualmente, Coordenador do Curso de Medicina do CCCs da UFPb, vem lutando obstinadamente pela recuperação da nossa Entidade, especialmente, no momento, em que atravessa suas maior crise. No bojo de sua proposta encontrase a idéia de uma reforma curricular, melhores condições de ensino aos graduandos e internos, bem como acompanhamento e avaliação das suas atividades. Mas, meus senhores e minhas senhoras: Poderíamos dizer muito mais ainda, sobre o nosso novo Acadêmico, um homem lhano e simples, no tocante à sua formação cultural e científica, no interesse pela sociedade, no perlustrar da sua caminhada pelos terrenos da vida comum de homem público ou nas conquistas merecidas através da prática de medicina no dia a dia. Resta-nos acolhermos o Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros em nosso convívio, não apenas como alegria e um contentamento, porém, como um valor que se soma a mais, e tanto se orgulha, desde já, nossa APM.


16/12/1988 

Elogio ao Patrono: Dr. CASSIANO CARNEIRO DA CUNHA NÓBREGA. Cad. 06 Por: Dr. José Eymard Moraes de Medeiros

Exmo Sr. Dr. Eugênio de Carvalho Júnior, DD Presidente da Academia Paraibana de Medicina, em nome do qual saúdo os demais componentes da mesa. Minhas Senhoras, Meus Senhores; Meus Familiares. Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega, nasceu no dia 25 de abril de 1900, na casa de nº 180, da rua General Osório na cidade da Parahyba. Filho do Juiz de Direito Dr. Francisco de Gouveia Nóbrega e Dona Maria Amélia da Cunha Nóbrega, teve como irmãos: Fernando (ex-Ministro do Trabalho no Governo Vargas – 1950/1954); Genard; Maria; Apolônio e Humberto (médico, historiador e fundador da Faculdade de Medicina da Paraíba). Fez o curdo primário em escola particular e o ginásio colegial no Lyceu Parahybano. Aos 20 anos de idade ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, cursando até o 2º ano, transferindo-se a seguir para a Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, saindo médico na Turma de 1928. Devido à doença do seu genitor que se encontrava enfermo no Rio de Janeiro, iniciou seu exercício profissional, freqüentando os hospitais São Francisco de Assis e São Sebastião, serviço do Professor Alberto Renzo, onde conviveu com notáveis nomes da otorrinolaringologia de então, ramo da Medicina a qual se especializara, como os doutores Mauro Pena e Aristides Monteiro. Com a morte do seu genitor, retornou à Paraíba, tendo antes trabalhado no Hospital Pedro II, no Recife como assistente extranumerário da Cadeira de Otorrinolaringologia, serviço do Professor Sílvio Caldas, de quem se tornou grande amigo e confidente. Todavia, foi em João Pessoa que o Dr. Cassiano desenvolveu tenazmente sua profissão. Ingressou no Hospital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia da Paraíba, onde passa a dirigir o serviço de otorrino, tendo como companheiro o doutor Seixas Maia. Nomeado diretor da Inspetoria Sanitária Escolar da Diretoria Geral de Saúde Pública, desenvolveu grande atividade na saúde pública pessoense. Em 1935, entusiasmado com os trabalhos de Mauro Peno no tratamento da tuberculose laríngea utilizando o ÓLEO DE CHAUMUGRA (extraído das sementes oleaginosas do Taraktogenos Kurii King, planta originária da região de Anã, na Índia), voltou ao Rio de Janeiro indo trabalhar com esse notável pesquisador na Policlínica da Tijuca e, posteriormente, no Pavilhão Carlos Seidl, do Hospital São Sebastião. Em carta dirigia ao seu irmão Humberto, descrevendo sua experiência na Policlínica, assim se expressa o doutor Cassiano “vimos à satisfação dos seus doentes acalmados das suas dores bendizendo o médico dedicado e amigo, que, sem remuneração de espécie alguma, tantos benefícios lhes propiciava. Nesta ocasião me veio a lembrança do Dispensário de Tuberculose da Paraíba, aonde a competência e dedicação do seu ilustre chefe, doutor Lourival Moura, eram postos à prova diariamente sem mais ajuda de outro colega”. Em meados de 1936, já de volta a João Pessoa, ingressou no Dispensário sendo recebido de braços abertos pelo doutor Lourival Moura e o Diretor Geral da Saúde Pública, doutor Otávio de Oliveira, os quais lhes proporcionaram condições para a continuação dos seus trabalhos iniciados no Rio de Janeiro.


Dos esculápios paraibanos de então os mais ligados eram o Dr. Aluisio Raposo(Ginecologista); Seixas Maia, Edrise Vilar; Lauro Wanderley e Josa Magalhães (oculista). De espírito alegre, gostava muito de dançar, sendo considerado um pé-de-ouro, freqüentando os salões do Astréa e Clube dos Diários. Considerando um dos grandes “partidos” da cidade, a flecha de cupido ainda não o tinha atingido. Na noite de 03 de agosto de 1937, impecavelmente vestido, juntamente com seu colega Josa Magalhães, freqüentava o Pavilhão da Festa das Neves localizado à Rua General Osório onde transcorria animado leilão comandado por uma jovem garçonete que lhes desafiava a arrematar uma galinha assada. Seus olhos mais interessados na beleza da jovem levaram-no a oferecer um lance que foi vitorioso. A jovem Lúcia Lins Arcoverde fez entrega do troféu arrematado. Seus olhos se entreolharam e um sorriso leve se esboçou no rosto da menina-moça. A partir daí, o amor desabrochou! Em 21 de dezembro de 1938 o Dr. Cassiano sobe os degraus da Igreja de Nossa Senhora das Neves para receber Lúcia Lins Arcoverde da Nóbrega como sua legítima esposa, de cuja união nasceu um filho único, o Dr. José Carlos Arcoverde da Nóbrega, ex-diretor da Delegacia do Ministério do Trabalho em João Pessoa. Dedicado à vida associativa, foi eleito Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba para o biênio 1945/1946, tendo realizado profícua gestão. Na sessão de fundação da Faculdade de Medicina da Paraíba realizada às 15:30 horas do dia 25 de março de 1950 no auditório da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, presidida pelo Prof. Humberto Nóbrega, foi indicado como professor da clínica de otorrinolaringologia. Publicou vários trabalhos científicos e/ou apresentou em congressos médicos; dentre eles: DIFTERIA AOS 63 ANOS DE IDADE; FIBROMA RINO FARINGEO OPERADO COM LIGADURA TEMPORÁRIA DA CARÓTIDA EXTERNA; MUCOCELE FRONTO – ETMOIDEO MAXILAR E FRONTO – ETMOIDAL; OTO-ARTRITE DOS CAQUETICOS DE GOERK; ANTROTOMIA AOS 16 DIAS DE NASCIDO; ETC.

No dia 08 de setembro de 1970 veio a falecer o Dr. Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega, deixando entre todos os familiares e amigos a saudade de um homem probo e um amigo fraterno. Quando da criação da Academia Paraibana de Medicina, foi o mesmo escolhido como patrono da cadeira de número 06, sendo agraciado como Sócio Titular Fundador, pelo Presidente José Asdrúbal de Oliveira em 19 de dezembro de 1980, o Dr. Antônio Vieira Queiroga, patologista, radicado em Campina Grande. Nesta data, em que tenho a honra de fazer o elogio ao recém falecido ocupante da Cadeira nº 06 com o trabalho intitulado Dr. Queiroga: o Patologista da Serra e ao encerrar estas breves palavras nas quais procurei traçar o perfil do pioneiro da otorrinolaringologia na Paraíba, quero lembrar as palavras do poeta libanês Kalil Gibram, falando sobre o trabalho: ...o trabalho é o amor visível. E se não podeis trabalhar com amor, mas somente com desgosto, Melhor seria que abandonásseis vosso trabalho e vos sentásseis à porta do templo a solicitar esmola daqueles que trabalham com alegria... MUITO OBRIGADO!


CADEIRA Nº Patrono:

Dr. JOSÉ DE SOUZA MACIEL

Data de posse: 10/05/1989 Ocupante: Antônio Carneiro Arnaud Saudação:

22

Antônio Batista Ramos


10/05/1989 

Saudação ao: Dr. ANTÔNIO CARNEIRO ARNAUD. Cad. 22 Por: Dr. Antônio Batista Ramos

Sr. Presidente da Academia Paraibana de Medicina, Dr. Eugênio de Carvalho, senhores componentes da mesa diretora, senhores acadêmicos, minhas senhoras, meus senhores. Tenho imensa satisfação e, ao mesmo tempo, uma alegria incontida ao saudar Dr. Antônio Carneiro Arnaud, o novo acadêmico desta, já, venerada instituição que é a nossa Academia Paraibana de Medicina. O Dr. Antônio Carneiro Arnaud nasceu no dia 07/12/1933 na cidade de Pombal, sertão da Paraíba, berço de cidadãos valorosos e de ilustres homens públicos que sempre representam com dignidade e honradez, o nosso Estado no cenário político nacional. Filho de Dr. Chateaubriand Arnaud e Dona Dalva Carneiro Arnaud, fez seus primeiro cursos de aprendizado nas cidades de Pombal e João Pessoa. Depois, em Recife, fez vestibular ingressando na tradicional Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, tornando-se médico em 1958. Especializou-se em otorrinolaringologia e pouco depois, no Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro, tornou-se um hábil cirurgião dos tumores de cabeça e pescoço, mister que tão bem aprendeu no serviço do grande médico e mestre Dr. Jorge Sampaio de Marsilac Mota. Veio, então, para João Pessoa. Aqui firmou-se como profissional competente à altura dos conceituados esculápios da medicina paraibana. Nesta bela e acolhedora cidade de João Pessoa envolveu-se com a cancerologia, fazendo de sua vida um instrumento de luta permanente no combate ao câncer, doença que vitimara o grande médico paraibano Napoleão Laureano. Na constante e abnegada campanha contra o câncer aliou-se ao seu tio médico e Deputado Federal Dr. José Janduhy Carneiro e, também, ao Dr. Jorge de Marsilac, um Rio Grandense do Sul a quem tanto devemos pelo seu trab alho incansável em prol da construção do Hospital Napoleão Laureano na cidade de João Pessoa. Eles, juntos, irmanados na fé e na boa vontade daqueles que conheceram o drama e a peregrinação do Dr. Napoleão Laureano, protagonizaram o funcionamento do Hospital Napoleão Laureano que, hoje, é referência, no Nordeste, no diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas. Por indicação da Diretoria da Fundação Napoleão Laureano, o Dr. Antônio Carneiro Arnaud assumiu a direção do Hospital e o dirigiu por 18 anos, desenvolvendo um trabalho digno de reverências. Homem culto, probo, educado, cavalheiresco em seu relacionamento, firme em suas atitudes e decisões. Com o passar do tempo, mostrou-se, também, ser um político nato; aflorando sua índole familiar que o levaria à Câmara Federal dos Deputados como representante do seu Estado. Como Deputado Federal revelou-se um parlamentar ativo e cioso de seus deveres com o povo brasileiro, particularmente com os paraibanos. Presidiu a Comissão de Saúde da Instituição e o fez com bom sendo e lucidez. Foi também prefeito de João Pessoa. Sua administração foi pautada na seriedade, no desenvolvimento da Cidade e nos interesses do povo pessoense . Casado com Dona Moema Carneiro Guedes, Deus lhe deu 3 filhas e um filho, Araci, Dalva, Moema e Antônio. Uma família bem estruturada que o acompanha em sua trajetória vitoriosa. Antônio Carneiro Arnaud, um homem que nasceu para fazer o bem. Salvar vidas com a sua sabedoria médica e respeitar seus semelhantes no embate da vida que Deus concedeu a todos. Meus caros acadêmicos, minhas senhoras, meus senhores, nada mais importante para mim, neste momento, quanto esta saudação ao médico, ao cidadão, ao lutador, ao amigo Antônio Carneiro Arnaud que ao lado de outros tantos homens de bem desta querida Paraíba, fez através do


Hospital Napoleão Laureano, nascer a esperança no coração de quantos necessitam de assistência médica no campo da cancerologia. Saúdo o médico Antônio Carneiro Arnaud na mais absoluta certeza que sua participação efetiva contribuirá sem dúvida, para o engrandecimento do patrimônio da medicina paraibana. Seu trabalho será inscrito para sempre; imortal que será na história da Academia Paraibana de Medicina. Muito obrigado a todos os presentes pela atenção a estas poucas palavras ditas, assentadas na convicção da minha verdade.


10/05/1989 

Elogio ao Patrono: Dr. JOSÉ DE SOUZA MACIEL. Cad. 22 Por: Dr. Antônio Carneiro Arnaud

Dr. José de Souza Maciel nasceu na Fazenda Catolé, município de Cajazeiras, Alto /sertão Paraibano, no dia 27 de agosto de 1876. foram seus genitores João de Souza Maciel e Maria Benvinda de Lira Maciel. Estudou Medicina na Faculdade Medicina da Bahia, tendo concluído o curso de 1903, com 27 anos de idade. Após sua formatura e defesa de tese, regressou à Paraíba, fixando-se na cidade de Itabaiana (PB), onde trabalhou durante cinco anos, conquistando a amizade e a confiança dos habitantes do Município. Desejando um campo maior para aplicação dos seus conhecimentos, mudou-se para João Pessoa(PB), então denominada Parahyba, capital do Estado. Casou-se com Dona Maria Augusta Ramos, de cujo casamento nasceram seis filhos, sendo quatro mulheres e dois homens. Os varões – Damasquino e Herófilo – optaram pela profissão do pai: a Medicina. Na Capital do Estado, o Dr. José de Souza Maciel foi médico do Pronto Socorro do Município, do Departamento de Saúde do Estado e Capitão-Médico da Polícia Militar. Exerceu, também, as atividades médicas como Chefe do Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital Santa Isabel (enfermaria de homens), e, ainda, diretor do Serviço Médico do referido hospital. Teve, também, vasta atuação política. Com diversos companheiros, fundou o Partido Democrata, o Partido Progressista e a União Democrática Nacional (UDN). Pelo Partido Democrata, foi vereador em 1928. como membro do Partido Progressista, foi Deputado Estadual em 1935, reelegendo-se uma vez. Foi presidente do Poder Legislativo e chegou a ocupar o cargo de Governador do Estado. Em 1946, como filiado à UDN, voltou a disputar uma cadeira de Deputado Estadual, não obtendo o sucesso de outras eleições. A derrota o chocou profundamente e o fez abandonar a atividade política. Higino da Costa Brito concluiu o seu trabalho sobre o Dr. José de Souza Maciel dizendo: “Teve o senso de não querer forçar horizontes nem descobrir céus desconhecidos. Fez-se dono de si sem nunca pretender ser Deus de ninguém. Venceu a vida porque superou a morte, plantando na história de sua terra, da sua profissão e da sua gente, um nome imortal”. Faleceu aos 82 anos de idade, no dia 7 de abril de 1959.


CADEIRA Nº Patrono:

33

Dr. OSCAR DE OLIVEIRA CASTRO

Data de posse: 04/08/1989 1º ocupante: Maurílio Augusto de Almeida Saudação:

Amílcar de Souza Leão


04/08/1989 

Elogio ao Patrono: Dr. OSCAR DE OLIVEIRA CASTRO. Cad. 33 Por: Dr. Maurílio Augusto de Almeida

A vida do meu patrono é difícil de ser enquadrada nos limites estreitos de um perfil. Foi extensa, variada e muito intensiva. Abrange um período de setenta anos, com representação na administração municipal e estadual, no domínio das letras e da ciência, na ação profícua do ensino secundário e universitário e causas nobilitantes. Neste elogio não cabe o pensamento de Voltaire: “A sátira mente sobre os homens de letras, quando vivos, e o elogio acadêmico mente sobre eles, quando mortos”. Oscar de Oliveira Castro, nasceu a 27 de abril de 1899, quase 10 anos após a mudança do regime monárquico para o republicano e a menos de um ano da transposição do século XIX, na cidade de Bananeiras, situada a 522 metros acima do mar e a 143 quilômetros da capital do Estado. Bananeiras possuía vida social elegante, economia sólida, a mais punjante do Estado, estribada no café, no fumo e da pecuária. Seus pais Joaquim Pereira de Castro e Amália de Oliveira Castro, habitavam uma casa de biqueira, de compartimentos amplos, teto baixo, desprovido de forro. Esta casa veio depois abrigar o clube social da cidade. Acertadamente disse Manoel de França e Souza que “na vida dos homens ilustres não está a substância em saber-se de que pais foram filhos, senão de que obras foram pais”. Vamos encontrá-lo em 1906 na Vila de Pilões do Maia, aquele tempo Distrito de Bananeiras, aprendendo as primeiras letras com o Professor Manoel Irineu da Costa Palmeira, em escola possuidora de “bancos duros com pedra, sem mapas pregados nas paredes e sem globo imponente no centro da mesa”. Assim se refere meu patrono em artigo publicado na Imprensa. Seu curso primário rolou daquela data até 1911. Nesse educandário seus olhos perpassaram as páginas brancas com letras pretas e as pretas com letras brancas dos quatro volumes do livro de leitura de Felisberto de Carvalho. A esse tempo, valeu-se, também, de outros livros: “Coração”, de Edmundo de Amices e da Aritmética de Trajano. Antes, porém, foi desasnado com a cartilha do ABC presa à mão, sentado em comprido banco de madeira, na companhia de outras vítimas que a todo pulmão, em coro, soletravam: B com A BABA, B com E BEBE, e assim sucessivamente, cada um querendo se esguelar mais que o visinho, no intuito de dar ao professor a impressão de interesse no aprendisado, tentando obter, desse modo sua possível indulgência na ocasião do acerto da lição. Sua escola usava a famingerada palmatória, odiada e temida de todos, nos dias de sabatina, quando os alunos distribuídos em círculo, em volta do professor, eram argüidos pelo mestre, ou por eles mesmos: três vezes três, cinco vezes cinco; quando a resposta claudicava, a palmatória entrava em ação. Estava na palma da mão, transmitindo uma onda de calor com lampejos de dor irradiados em todas as direções da região atingida pelo impacto da madeira maciça. Nem sempre a vítima suportava o castigo com estoicismo, vez por outra era traída pelo choro, ou a presença de um filete líquido, tênue e indeciso ou franco e abundante, deslizando ao longo de um dos membros inferiores. Freqüentou durante alguns meses, ainda em Pilões, a escola de Padre Bento. Não era padre, havia apenas cursado o seminário. Exauridos os recursos desses dois educandários, matricula-se Oscar, em 1912 no Instituto Bananeirense, na sua cidade natal, para ultimar o curso primário. Este instituto era o melhor e mais prestigiosos de toda a zona do brejo paraibano; foi responsável pela formação de nomes que mais tarde ocuparam cargos da mais alta relevância no Estado e em outras partes do Brasil, com projeção nas letras, na política, na indústria e comércio, no magistério e nas profissões liberais as mais diversas. Seu diretor Dr. Dionísio Maia,


bacharel inteligente e culto, educador e poeta, distribuía seu tempo entre a advocacia, o ensino, o estudo e a direção de sua propriedade rural. Do corpo docente faziam parte: Francisco Falcão, Antonio Rabelo, Manoel Dantas e outros. Falar dessa cidade, que também é minha, dá-me um sentimento de estar voltando à minha infância, de um reconhecimento do imemoravelmente conhecido. Seu pai, Joaquim de Castro, não dispondo de parentes na cidade de Bananeiras que pudessem hospedar o filho, possibilitando-o cursar o instituto em regime de externato, foi compelido a interná-lo. Ficou aos cuidados de D. Ana Rabelo, esposa do Prof. Antonio Rabelo. Ela o acolheu com ternura e carinho. Era a ela que ele, afastado dos seus pela vez primeira, recorria nos momentos de saudade ou nas aperturas decorrentes da sua nova vida. Oscar sempre a recordou como uma mãe carinhosa e afetiva. Em Pilões, meu patrono dispendeu sua meninice como todas as outras crianças do interior: ora tomando banho de açude, pescando de anzol ou tarrafa em cima de uma balsa tosca construída com toros de bananeira, ora andando montado no lombo de seu carneiro branco, Belém, ora assistindo às festas da Padroeira, de São João ou Natal e Ano. Era o líder do grupo de crianças com que brincava. Ao fisgar o primeiro muçum indagou a Chico Celeiro porque era aquele peixe diferente dos outros. Teve como resposta derivar o muçum do cabelo da cauda de cavalo; em vão tentou reproduzi-los a partir de crinas, postas cuidadosamente estiradas dentro d’água. Somente, muitos anos depois, certificou-se não haver geração espontânea. Sua mente, sempre recordava, já homem feito, as peregrinações feitas no dia do Ano Bom, ao morro onde havia um cruzeiro. Aí, todos oravam e pediam bênçãos ao Criador para o ano que se iniciava. Hoje, ainda, podemos distinguir fincados no topo desse morro isolado, uma cruz grande de madeira e pequena igreja, em terras que pertenceram a Avelina Barbosa. Este local é conhecido como “o Cruzeiro”. Ponto de peregrinações e pagamentos de promessas, donde, a grande quantidade de ex-votos encontrados em uma de suas dependências. O “homem dos pratos” , da Banda de música de Zominho, lhe chamava a atenção nos dias em que tocava durante as festas de São José. As girândolas, os homens endinheirados do café jogando lasquinez, as feiras nos dias de sábado, os alfinis, as apanhadeiras de café e um mundo mais de lembranças infantis, continuaram a lhes povoar a mente adulta; delas nunca se apartou. Concluindo em Bananeiras o primário, vem para o Colégio Diocesano Pio X, nesta capital, fazer o secundário. De 1913 a 1917 permanecendo neste estabelecimento. Dentre seus professores costumava destacar Abdon Milanez, D. Irineu Joffily e Leão Fernandes; este seu mestre de português homem de compleição franzina, de grande cultura e inteligência, foi, como recordou várias vezes meu patrono, o responsável pela firmeza com que aprendeu a manipular o vernáculo com segurança e elegância. Seus colegas Silvio de Melo, José Coutinho e Severino Miranda depois vieram a ser padres, padres dos mais dignos do clero paraibano. José Pereira Lyra cursou, também, a mesma classe, vindo a ter no governo do Presidente Dutra, evidente influência política. Relanceando a assistência, vemos que muitos de vós sois originários de várias cidades interioranas, conhecedores e participantes dos sentimentos e das emoções descritas. Continuamos a olhar com infinita pena os que nascem nas grandes cidades – porque lhes falta, no amálgama da memória sentimental, esse metal precioso: a evocação da província, do campo. E é essa, precisamente, para nós, os homens do interior, a fuga ideal e o abrigo eletivo, de que freqüentemente nos valemos, sempre que o destino nos impõe a surpresa de uma provação. Também não é raro que voltemos para esse horizonte do passado, no relance das horas felizes, os olhos da saudade. Num pequeno livro sobre a província, François Mouriac estabelece, como observação preliminar de seu estudo, esta opinião curiosa: enquanto Paris é uma solidão povoada, a cidade provinciana é um deserto sem solidão. Ao sair da província, é esta, em verdade, a primeira impressão que nos assalta: a de estarmos sós na multidão. Ninguém nos conhece. Não conhecemos ninguém. Onde a oportunidade


de um cumprimento? E a delícia de uma conversa de rua? Henri Peyre, no seu admirável ensaio sobre o classicismo francês, mostra-nos que, no século XVIII, foi a província que fez a nomeada dos grandes escritores. Foram provincianos os mestres do pensamento francês. Igualmente, foram provincianos em sua maioria, nossos mestres. Os melhores romancistas brasileiros procedem do interior. De qualquer forma é a província que guarda, com um cuidado melhor, a glória que se faz na metrópole. E foi isso que Renan sentiu ao afirmar, num discurso acadêmico, que era para a província que Paris escrevia. Bahia

Rio de Janeiro

Terminado o curso de humanidades, seguiu para o Rio de Janeiro, que ele via pela vez primeira, sob o prisma do impacto cultural existente entre a Paraíba e a Capital Federal; vai matricular-se na Faculdade de Medicina. Estamos em 1918. o mundo continua conflagrado pela primeira grande guerra. Em discurso pronunciado em 1965, como paraninfo geral da Universidade Federal da Paraíba, assim se refere a esta viagem: “Revejo-me menino ainda, a bordo de um navia do Loyde, olhos marejantes, coração angustiado, partindo a caminho de uma faculdade, que para os moços de minha condição era distante e inacessível”. Na Bahia foi acometido da gripe espanhola que tantas vidas colheu em nosso País. Com a palavra novamente meu patrono para descrever este lance angustiante: “na rede mal armada, tão pequeno era o cômodo, numa república baiana, tendo como assistência médica a misericórdia divina” consegui vencer a morte. Os internatos, nas várias clínicas, eram disputados pelos estudantes sem recursos pecuniários. Valiam-se, para consegui-los, do prestigio político de deputados e senadores dos seus Estados. Falhando esta alternativa tinham que morar em modestas pensões ou repúblicas por eles organizadas, localizadas, quase sempre, nos andares superiores de velhos sobradões em decadência, com quartos mal iluminados, amplos, de piso de madeira, confeccionado com tábuas largas e longas, já desbotadas pela usança durante décadas sucessivas; gemiam, reclamando da idade, pedindo descanso, ao serem novamente calcadas. Ao chegar ao Rio, procurou Semeão Leal, deputado federal pela Paraíba, cônsul de nosso Estado na metrópole, figura humana admirável, que a todos ajudava e de quem Oscar se tornou amigo e admirador reconhecido. Dele, conseguiu carta de apresentação para Juliano Moreira em cujo serviço esperava obter uma vaga, um internato. Recebeu uma fria negativa do eminente mestre. Mesmo assim trabalhando e estudando, concluiu o curso, defendendo tese em 1923 sobre prolápsos genitais e seu tratamento. A banca examinadora aprovou-o com distinção. O Médico e o Meio Voltou imediatamente à Paraíba, assumindo a direção da Assistência Municipal. Neste cargo permaneceu por longos anos. Entrou com firmeza nos trabalhos da sua profissão e dentro de pouco tempo fez-se o médico que a todos inspirava decidida e plena confiança. Abriu consultório em prédio edificado no centro da cidade: o Ponto de Cem Reis. Este logradouro era o ponto terminal e inicial de nossa vida urbana. A ele chegava e partia todo morador que se dirigia ao centro ou dele se afastava. O único transporte coletivo, o bonde, num vaivém constante deixava neste local a carga de passageiros apanhada durante o percurso pela cidade para, receber outra que se dirigia aos longes do centro. Não havia ônibus urbanos, chegaram bem depois, uma minoria de comerciantes e profissionais liberais possuía automóvel. Poucos recorriam ao uso dos carros de aluguel, estacionados no centro da praça do Ponto de Cem Reis. O preço era estipulado pelo motorista, dependendo do percurso da corrida, havia uma convenção de distâncias. Ao Ponto de Cem Reis – a


universidade da vida paraibana de então - , todos acorriam, alunos e professores; ombro a ombro se disputava um lugar para melhor se colocar em evidência, escolher com cuidado estudado a roda onde atuar: de políticos, de vagabundos, de homens aposentados, de homens de negócio ou de sociedade, àquela mais acessível às suas relações, para dela tomar parte como ouvinte, concordando ou discordando com um aceno ou negativa de cabeça ou ainda emitindo opiniões corretas ou estapafúrdias. Muitos médicos ao se dirigirem ao consultório, paravam neste local, aqui e acolá, para os dedos de prosa. Hotel, sorveteria, tabacaria, padaria, cinema, farmácia, salões de jogos de azar ou sinuca, barbearias, cafés, tudo aí se encontrava. Quem marcasse encontro, dava como referência o Ponto de Cem Réis. A gente jovem flertava enquanto aguardava o bonde que a levaria à praia, ao trabalho, à residência ou a qualquer parte. Quem vos fala, postou-se aí vezes sem conta fingindo aguardar o transporte elétrico, para namorar a distância, certa aluna do Colégio das Neves, até que um dia, vencida a timidez, decide-se pegar o mesmo bonde. Apoiado no estribo, ao lado da cobiçada, sentada junto, na ponta do banco, com o coração aos pulos enceta uma conversa, um comentário tolo sobre o tempo. A partir de então, passou a tomar o mesmo bonde, a mesma hora, na mesma companhia, apesar de residir à Praça 1817, a uma centena de metros do local. Este logradouro estava para a cidade como Picadilly Center, Rockfeller Center, a Praça do Rocio ou os Champs Elissés estão para suas cidades. Meu patrono dirigiu ao longo de sua trajetória , secretarias, departamentos, institutos, instituições médicas, políticas e culturais, com equilíbrio e equanimidade. Pronto Socorro De todas elas, talvez, tenha sido o Pronto Socorro da Capital o local onde mais tempo se deteve. Nesta casa, parece-nos vê-lo sentado por traz de um bureaux grande, feito de madeira talhada, de cor noqueira. Harmonizavam a sala do diretor um sofá e conjunto de cadeiras feitos em couro, também de cor escura. Esta sala era o ponto de reuniões de vários médicos. Aí iam tomar café e conversar sobre política, medicina, negócios, vida social, ou a manchete do jornal. A classe médica atuante era pequena, no gabinete cabiam todos que iam ouvir o diretor. A este ambiente eram trazidos e discutidos os assuntos da classe, comentados os casos difíceis, decisões importantes eram tomadas, de modo que, algumas ao serem levadas à apreciação da Sociedade de Medicina, apenas recebiam sua homologação oficial. Sentado na sua cadeira giratória, o diretor dirigia, orientava os assuntos e com habilidade, mudava o rumo da conversa quando tendia para o acaloramento. O Professor Subiu luminosamente as dificuldades da vida, com a serenidade daqueles que entram no rol dos eficientes, dos eleitos do meio, sem preconícios e estardalhaços, pela força do talento e do gosto ao trabalho. O triunfo entrou-lhe no horário da vida pelas suas virtudes e amor ao trabalho. Possuía o condão das conquistas intelectuais, o qual nasceu da qualidade que lhje era peculiar – a harmonia: através dela venceu. Leibnitz tornou-se o filósofo otimista, porque fez extremar-se a harmonia universal. Para Oscar o equilíbrio era segredo espiritual, e nas lições, nas páginas literárias, diagnósticos, na sociedade, ou nas suas atitudes dominava o equilíbrio que lhe era expressão personalíssima como se fosse reencarnação do grego, em que a beleza e o ritmo faziam a maravilha da vida, como conceituava Cícero. Ninguém se interessava mais pela disciplina, pelos cuidados no êxito do ensino da medicina legal, do que ele.


Foi sempre um dos melhores professores da Faculdade de Medicina da Paraíba, porque o amavam os alunos pelas suas admiráveis aulas. O professor corria parelha com o homem de letras que nunca abandou os clássicos e a pena: sempre registrou com perfeição e limpidez suas interessantes e originais aulas cuja clareza didática, erudição invulgar e correção de linguagem faziam-no um dos melhores professores de nossa Universidade. O Pensador Um dos grandes filósofos, pouco conhecido do público, porém, genial, Charles Renouvier, crê que o homem tem o dever e o direito em si de resolver o problema do próprio destino. A vontade e a experiência, a liberdade e a certeza fazem do ser humano um condutor das normas, sem atender as circunstâncias da vida, as quais constituem para os filósofos deterministas e eixo do destino do próprio homem. Talvez tenham razão os deterministas e também os que julgam o sub consciente o motor vivo da existência moral e intelectual; ou talvez tenha razão Nietzsche, o filósofo cultor exagerado da energia moral, da potência volitiva, da vitória sobre si mesmo, diante das contingências do turbilhão social; entretanto, podemos dizer que em regra os grandes homens preparam a própria trajetória, obsediados pela força da inteligência, pelo predomínio da personalidade e ambiência atual ou futura. O Professor Oscar amadureceu as qualidades pensando na linha ascensional da sua própria vida, porque jamais as conquistas profissionais ou intelectuais o convidaram ao remanso sereno dos vitoriosos. Sempre em ordem harmoniosa se constituiu, fazendo do talento, plasma admirável e do trabalho, programa ilimitado. Por isso, quando lhe foi confiada a cadeira de Medicina Legal deveria se saber que se batera em porta segura e de fato se escolheu o homem certo, minucioso, cheio de escrúpulos, feiticista da lei, bondoso de coração, porém severo no cumprimento do dever, e isto está na consciência unânime dos confrades das congregações das Faculdades de Medicina e de Direito. Os homens são os únicos fenômenos universais dignos de meditações infinitas. Cada homem é abismo e energia, caos e centro de irradiação luminosa, ainda que os mesmos sejam humildes e obscuros. As forças que eles dimanam, morais e intelectuais, são ora brisas, ora vendáveis, em que o sentimento e a razão, a insatisfação, e sobretudo o amor próprio, vivem em constante vibração e em equilíbrio instável. É sobretudo o amor próprio, o máximo perturbador das ações humanas. Usava na administração a força persuasiva do domínio suave, porque era harmonioso; tinha o segredo da vida, o toque com que podia transformar qualquer sentimento bastardo dos inimigos no bom senso. O Escritor Para ele, as letras foram sempre, menos que uma profissão, simples diversão ou adereço, o que lhe caiu bem. As Academias de Medicina são necessárias para abrigar os espíritos médicos dedicados às humanidades. Shiller o ser médico não evitou ser o grande poeta; Júlio Dantas, príncipe da literatura portuguesa, também médico. Sir William Osler o maior médico de todos os tempos; sua obra: “Princípios e Práticas da Medicina”, foi uma suma médica. Ela é um poema de elegância e harmonia, uma sinfonia que nos eleva e encanta no arranjo arrebatador de sua composição. Este grande homem teve a autoridade de impor, nos seus paises, e foram, Canadá, Estados Unidos e Gran Bretanha, e influindo no mundo, o primaciado do laboratório na clínica, o primaciado do doente no ensino médico, o primaciado da Anatomia patológica na patologia. Só isto: a medicina moderna. Seu livro não foi só bíblia de estudante e médicos, senão de leigos: foi o inspirador, a John Rockfeller, de consagrar sua fortuna à saúde da humanidade, na Fundação Rockfeller. Osler moveu também a Henry Phipps, que também consagrou sua fortuna ao combate à tuberculose.


Osler foi sempre perfeito, erudito, completo, universal, no tempo e no espaço. Ninguém se lhe igualou ou superou até hoje. Que página existe mais clássica, mais leve, de uma sutil claridade de anticrepúsculo, do que, a Introdução à medicina experimental de Claud Bernard, ou mais empolgante na sua forte eloqüência magistral do que a Introdução à Terapêutica de Trousseaux?. A Clínica Propedêutica de Francisco de Castro, já não foi comparada pelo sabor as obras de Latino Coelho e Alexandre Herculano?. Em Osvaldo Cruz, Afrânio Peixoto, Aloysio de Castro, Miguel Couto, Pedro Nava, Francisco Magalhães, Fernando Namora, as letras são um adorno do sábio, a sabedoria é um realce do escritor. Nosso presidente Eugênio de Carvalho, talento poético aplicado à medicina, tem seus sonetos e trovas incorporados definitivamente à língua portuguesa. Neles, sóis e lantejolas se mesclam em raios e faíscas de graça e força criadora. Oscar possuía perfeitamente sua língua como vocabulário e como ritmo. Aprendera a amá-la nos clássicos onde ela se encontra em estado de pureza, e conquanto não lhe regateasse à vaidade os adornos da feição moderna, nunca dela se afastou. Soube balancear o ouro com a prata. As línguas, a semelhança dos rios, vão se conspurgando no seu curso com os detritos que das margens se desagregam para o leito, e quanto mais os povos que as falam caminham no progresso material em que trabalham, tanto mais, e mais depressa, elas se deturpam. A vida intensa não permite descansos para as cousas mínimas e pouco a pouco cada idioma vai se distanciando de sua forma original, pura e bela. São os bons escritores que lhes guardam a incorruptibilidade e a nobreza; nas páginas em que escrevem suas palavras, derramam eles a sua própria alma, - os sonhadores a sua fantasia, os arrebatadores a sua violência, os céticos o seu desengano, os maus a sua maldade, os bons o seu coração e desta sorte a transparência ou a obscuridade da frase, a harmonia, a ênfase, a rudeza, o artifício. O estilo é o espelho da alma e o de Oscar refletia à toda luz uma alma tranqüila e boa. Na medicina a afirmação de uma verdade pode ser um erro ulterior; a bondade é que nunca é enganadora. Oscar a beira de um leito, ao lado de um sofrimento, o mestre e o médico, ao cientista que era não bastava a ciência, e via que não bastava, cedia lugar ao humanista, à bondade, e a sua prosa se traduzia em sorrisos que animavam, em palavras que iludiam, em gestos que amparavam, em carinhos que faziam adormecer; e consolando o sofrimento, tirava o sofrimento, dando a saúde exultava, e diante da morte padecia de morte duplicada, porque ainda tinha que simular a esperança da vida. Por muito tempo conseguiu esconder ele por teimosia e modéstia sob fama de médico no exercício da profissão, o seu crédito maior: a representação do pensamento, do escritor de peso. Na convivência, o que mais nos encantava não era o médico amável e respeitado, era a companhia do seu espírito. É um prazer ler o escritor Oscar de Castro. Em suas páginas demonstra com a plena arte da palavra uma personalidade de emoção e de pensamento. E é isto o que vale ao escritor. Sua linguagem é um padrão de bom senso e bom gosto, mistura elegante do português clássico com a língua de nossos dias e do nosso clima. Conservou o traço clássico, desembaraçado para o movimento que imprime a vida. A linguagem escrita, por sua natureza, diferindo da linguagem oral, tem de ser mais elaborada, mais clara, mais definida do que àquela. Quem escreve não conta com os recursos do gesto, do tom, da mímica, das pausas de que dispõe aquele que fala. Quem fala tem o ouvinte a sua frente e se dirige a um público num contexto definido. Ninguém escreve como fala, embora moderadamente a língua escrita, em seu uso diário, coloquial, se aproxime mais da língua falada. Quando escrevemos desligamo-nos do tempo e do espaço. Não podemos em geral determinar onde e quando vamos ser lidos. Esta é uma característica da linguagem escrita: é essa a impessoalidade também que faz com que o código escrito seja mais fixo do que o oral.


É também por essa maior permanência da forma escrita que se assegura a continuidade da tradição lingüística dos povos. Oscar era excelente causeur, falava com apuro, elegância, quase como escrevia. Ao lermos certos textos seus, chegamos a lhe ouvir a voz inconfundível, a visualizar a gesticulação moderada e adequada, a postura correta do orador, do professor, do conversador saudoso. O que faz o encanto da leitura dos escritos de meu patrono é exatamente aquilo que, do ponto de vista da unidade intelectual, constitui o seu mérito como pensador: a presença de um sistema que dá a sua obra, a harmonia orgânica de um todo. A presença desse sistema permite ao autor a vivacidade da reflexão episódica. Conheci-o como professor de história natural quando aqui cursei o 5º ano ginasial. Com o relar do tempo, a imagem do professor foi gradativamente cedendo lugar a do escritor. Elegante na simplicidade e pureza de seu estilo, na frase curta sem termos rebuscados, cada frase servindo um pensamento e cada pensamento despertando sempre a emoção do leitor. Ninguém lê uma página sua indiferente ao que escreve. Concorda-se ou discorda-se. O Acadêmico Em sessão ordinária da Academia Paraibana de Letras, realizada em 22 de outubro de 1942 foi seu nome sugerido para integrar o quadro social. Na assembléia geral de 31 do mesmo mês, presentes os acadêmicos: Coriolano de Medeiros, Horácio de Almeida, Veiga Júnior, Matias Freire, Rocha Barreto, Álvaro de Carvalho e Celso Mariz seu nome foi aprovado a unanimidade. Seis meses depois, a 30 de maio do ano seguinte, 1943, é empossado na cadeira que tem como patrono Arruda Câmara. É recebido por Álvaro de Carvalho. A cerimônia realizou-se no auditório da PRI 4, Rádio Tabajara da Paraíba. Além dos acadêmicos presentes, compareceram ainda os seguintes convidados, que tomaram assento à mesa: D. Moises Coelho – Arcebispo Metropolitanos; Dr. Evilásio Feitosa – Secretário da Interventoria, representando o chefe do executivo estadual; Padre Gentil de Barros – Secretário Interino do Arcebispado; Dr. Júlio Rique Filho – Juiz de Direito da Primeira Vara da Capital; Miguel Falcão de Alves – Secretário da Fazenda; Genésio Gambarra Filho, representante do Chefe da Polícia e o Aspirante Artur Nunes, representante do Comandante da Força Pública. Seu discurso de posse é excelente estudo sobre a personalidade de Arruda Câmara. Onde aprecia o ambiente em que se movimentou, a influência que exerceu na sua época, quer como sábio, quer pelas suas idéias revolucionárias, traçando uma ampla biografia de nosso maior botânico e naturalista. Três anos depois, a 14 de setembro de 1946 elege-se, sem solicitar, pelo consenso de seus confrades, Presidente da Academia, em substituição ao Presidente Fundador, Coriolano de Medeiros, afastado por razão de saúde. Dirigiu a academia durante 24 anos, até sua partida. Oscar nasceu acadêmico. Ninguém o sobrepujava na condição de figura ajustada à feição da Academia. Tinha sua gravidade própria, não isenta de certa malícia comedida, de que deixou copiosos exemplos nas suas atitudes. Não se estranhe que Oscar, com tantas raízes de literatura e ciência, fosse uma espécie de homem da Renascença de nossa terra. Dele se podia dizer, em razão da cultura multidimensional, que era um dos mais perfeitos humanistas da Paraíba, podendo discorrer com igual saber sobre a literatura e as últimas conquistas da Medicina legal. O Homem De estatura mediana, de poucas carnes, pescoço longo ornado por saliente pomo de Adão, calva avançada, cabelos quase brancos, trajando sempre paletó e gravata, portando o cigarro preso às cinco pontas dos dedos da mão, reunidos junto à brasa, permanecendo esta para fora e o restante abrigado na cava da mão.


Sua risada era uma melopéia emitida em prestações rápidas, sucessivas e intermitentes, característica e inconfundível. Na linguagem coloquial usava a segunda pessoa, destacando-se dos demais presos à terceira. Excelente causeur, como já referi, escravizava a atenção de quantos o ouviam, sem cansalos; alimentava a palestra com assuntos palpitantes, pondo pitadas aque e acolá de erudição sem se parecer pernóstico ou antipático. Tinha dicção peculiar, arrastando as primeiras sílabas. Desfecho da frase sonora e bem articulada harmonizava-se com o toque de cabeça e jogo de ombro na direção do interlocutor, com que a convence-lo do que dizia. Tinha certas palavras para designar cousas, para distinguir amigos como: Binês, Docel; enriqueciam seu vocabulário. Docel, para se referir a algo bom, excelente, rico precioso. Ao encontrar um amigo elegantemente vestido, comentava: estás um binêz. Durante a conversação, vezes sem conta, cerrava a rima bucal com energia, ao mesmo tempo que com a mão direita fechada fazia cair, na vertical, o respectivo antebraço, em movimento rápido e enérgico, num esforço afirmativo do que defendia. Espírito alegre, bem humorado, sua alma não conheceu o ocaso, os pores de sol, permaneceu sempre jovem, como o menino ao tempo em que montava seu Belém, em Pilões. Decisões bruscas não eram de seu vezo, não se arrebatava pelo primeiro impulso, não , cozinhava em água fria, contemporizava, deixava que os fatos, muitas vezes, se resolvessem por si mesmo. No Lar Do seu casamento com D. Marieta Miranda, teve uma única filha.: Lucia. Seu lar era harmonioso como harmoniosa era sua vida. Constituíam uma família mansa, fina, requintada, de educação e candura raras. Em sua casa sentia-se uma espontânea, natural, simples, sem artifícios de fingimentos e hipocrisia. Conservou durante toda sua vida o hábito de acordar cedo, antes do nascer do sol; abria a janela do quarto, aguardando, em silêncio, entregue à meditação, os primeiros raiso solares. Justificava-se, alegando apreciar o canto do galo. Freqüentemente, deixava-se ficar no terraço de sua residência sentado, na posição de Buda, fumando, conversando ou pensando. Suas empregadas domésticas eram por ele chamadas de secretárias; assim, a copeira era secretária do café; a cozinheira, secretária da cozinha. O conjunto de serviçais, constituía seu ministério. Ao comentar a saída espontânea ou a dispensa de uma delas, esclarecia; hoje a secretária tal solicitou sua demissão ou foi exonerada. Diante da necessidade de repreender uma de suas secretárias domésticas, não o fazia diretamente, chamava-se à sua presença fazendo-a ouvir uma estória que se enquadrava ao delito cometido, onde havia advertências, castigos e a solução para não mais incorrer no erro. No Colégio Nossa Senhora das Neves ensinou longos anos; repreendia uma aluna chamando-a simplesmente de Vitalina. Tratar uma moçoila de vitalina àquele tempo era ofensa máxima. Casar sempre foi aspiração de toda mulher até a instalação de motéis e uso dos anticoncepcionais. Aquela palavra não arranha sucetibilidade de ninguém mais. Era escravo de sua sesta após o almoço, em rede armada no próprio quarto de dormir. Encetava a leitura de um livro ou revista qualquer, pegado a esmo, para, logo adormecer antes de ler dois ou três períodos. Humor Dentre seus amigos intelectuais, destacava-se aqui, no Nordeste, Mauro Mota, em Recife. Em conversa pelo telefone, ficou acertada a vinda de Mauro a João Pessoa para uma visita, com


data e hora já confirmadas. Não se conheciam pessoalmente. Na data aprazada, Oscar postou-se no jardim de sua residência em local que vislumbrava a rua, regando as plantas, como se jardineiro fosse. Mauro ao chegar ao portão foi atendido pelo falso jardineiro que de pronto indagou quem era o visitante e o que desejava. Inteirado, fê-lo entrar, mostrou-lhe algumas plantas no percurso percorrido até a casa, indagou se havia feito boa viagem, instalou-se em confortável cadeira no terraço e entrou para chamar o dono da casa. Enquanto aguardava a vinda de Oscar, Mauro ficou matutando como podia existir um jardineiro tão solícito, educado, expressando-se corretamente. Não, não entendia. Foi despertado de seu devaneio pela presença, novamente, do jardineiro, rindo, de braços abertos, tentando estreitá-lo em abraço sonoro. O visitante numa fração de segundo percebeu a peça que se lhe havia pregado. Após o assalto efetuado ao Guanabara pelos integralistas no governo de Getúlio, os adeptos de Plínio Salgado sofreram em todo o País uma série de vexames: prisões, inquéritos, chamadas a delegacias. Exercia a chefia de política em nossa Capital o Sr. Manoel Formiga, responsável pelo cumprimento das ordens emanadas do poder central contra os revolucionários. Nosso saudoso colega Hygino Brito, amigo de Oscar, telefonou para este, certa madrugada, dizendo-se ser o Chefe de Polícia, intimando-o a comparecer à delegacia imediatamente, adiantando-lhe pesarem sobre ele sérias acusações. Nosso bom Osacar durante longos 20 minutos tentou dissuadir o falso chefe de polícia de seu intento, alegando todas as razões do mundo: sua inocência, o escândalo, a humilhação e a injustiça. Hygino se identifica, já cansado de tanto refrear o riso. Oscar aliviado desabafa: eu sabia que eras tu desde o início... Em momentos de descontração total, no lar, fazia sonetos para sua filho única Lúcia. Esta produção literária permanece inédita. Morte Julho de 1970, dia 13, sentiu-se mal, queixou-se de palpitações, mal estar, um desconforto físico indefinível. Seu médico e amigo Miranda Freire prescreveu-lhe alguns remédios, repouso e não fumar. A manhã do dia seguinte transcorreu normalmente. Almoçou e logo após a refeição subiu ao seu quarto para fazer a sesta, dizendo a esposa e a filha: vou deixar de fumar, mas antes de fazê-lo, vou derrubar este cigarro como se derrubou a Bastilha. Era 14 de julho, D. Marieta, decorridos alguns minutos, subiu aos aposentos para certificar-se de que estava dormindo. Encontrou-o nos estertores da morte. Na câmara ardente, apartado da vida, indiferente às vozes dos amigos que se postavam em derredor, parecia dormir, tal a serenidade do seu rosto. Os traços fisionômicos inalterados davamnos a impressão de quem dormia. Os mortos são os proprietários do sono. Nós, vivos, usamos o sono apenas por empréstimo, por minutos ou horas. Na fisionomia tranqüila de quem nada havia a temer, nenhuma angústia, nenhuma preocupação. As pálpebras cerradas escondiam seu olhar embaciado.


CADEIRA Nº Patrono:

21

Dr. JOSÉ BENTO MONTEIRO DA FRANCA

Data de posse: 15/11/1990 Ocupante: Osvaldo Travassos de Medeiros Saudação:

Maria de Lourdes Britto Pessoa


15/11/1990 

Saudação ao: Dr. OSVALDO TRAVASSOS DE MEDEIROS. Cad. 21 Por: Drª. Maria de Lourdes Britto Pessoa

Desnecessário se torna dizer da surpresa e da honra do convite para saudar o novel Acadêmico Dr. Osvaldo Travassos de Medeiros. Isto é de praxe e aqui estamos, para falar de um colega ilustre que, sem sombra de dúvidas muito se tem destacado engrandecendo a medicina, sobretudo a oftalmologia, aqui e além fronteiras. Apresentação portanto, não seria o caso, porque todos nós o conhecemos e admiramos. Que não ouviu falar nas suas pesquisas, nos seus estudos e técnicas novas? Mas, voltemos um pouco ao passado: Aos três minutos do 23 de maio de 1944, em Princesa Isabel, no longínquo sertão paraibano, nascia o pequeno Osvaldo, 9º filho do Sr. Olívio Travassos de Medeiros e da Srª Josefina Dantas de Medeiros. Certamente dia muito feliz para todos naquele lar. Em virtude da profissão do pai – coletor fiscal – morou em várias cidades do interior do Estado. Mas foi em Itabaiana que passou a maior parte de sua infância. Lá pela mão carinhosa de sua irmã Onelice, deu seus primeiros passos em busca do saber: iniciou seus estudos. Estudos que não cessariam jamais na sua ânsia incontida de conhecimentos novos. Criança viva, de olhar inteligente mostrando certa precocidade, gostava de contruir seus próprios brinquedos, além de passar horas conversando com os adultos. O que de certo modo causava espécie aos seus familiares. Era uma criança astuta que falava como gente grande. Espírito irrequieto e criativo sempre gostou de fazer experiências – embora muitas vezes, isto significasse curto-circúitos nas instalações elétricas de sua casa. Inventou certa ocasião, um aparelho para da choque nos “amigos”. Logo cedo os seus pendores artísticos despontaram quando construiu seu primeiro violino com um pedaço de madeira e um fio de crina da cauda de um cavalo que inocente e tranqüilamente pastava próximo à sua casa. Assim crescia o jovem Osvaldo, de invenção em invenção de experiência em experiência, estudando sempre. Concluiu o 2º Grau aqui em João Pessoa. Em 1969, formou-se em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba; em 71, em Oftalmologia, pela Universidade de Minas Gerais e em 73 na mesma Universidade de Minas Gerais, defendeu Tese de Doutorado em Oftalmologia. Quatro anos depois, em 77, defendeu Tese de Livre Docência em Oftalmologia na UFPB. Em todas essas ocasiões, mostrou distintamente o brilho de sua inteligência privilegiada e de seu reconhecido saber. Se aqui fôssemos enumerar todos os seus títulos, nem sabemos quanto isto duraria. Mas de qualquer modo, citemos alguns: - Professor de Oftalmologia da Universidade Federal da Paraíba; - Professor Livre Docente em Oftalmologia; - Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; - Membro Titular de diversas sociedades oftalmológicas; - Membro Fundador de diversas sociedades oftalmológicas; - Membro da “Societé Francaise D`Ophtalmologie”; - Estágios em serviços de oftalmologia da Europa e Estados Unidos; - Contribuição à oftalmologia com diversos trabalhos científicos; - Presença constante nos Congressos da especialidade oftalmológica;


-

Eleito por aclamação é o atual Presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia (período: 90/92).

Aquele espírito irrequieto e criativo, anteriormente referido, desde a infância, viria a se evidenciar mais tarde, já ,médico, com seus trabalhos de pesquisa, suas experiências as mais variadas, de alto e comprovado valor científico. O que mostram os pedidos de registro de patentes de invenção de instrumentos de aplicação oftalmológica. Criando e inventando sempre, como fazia quando era criança... Falar de Osvaldo médico, falar de Osvaldo pesquisador, falar de Osvaldo Inventor, falar de Osvaldo cientista é extremamente fácil, basta ir à sua Clínica e colher os dados, vê-lo trabalhar. Mas... falar de Osvaldo compositor, Osvaldo músico é surpreendente. Para nós, foi mais uma nova e interessante faceta de sua personalidade: Toca vários instrumentos musicais como: violão, violino, bandolim,, piano, acordeom e clarinete. Na década de 60, apresentou-se tocando violão, no programa “Você faz o Show”, em Recife, programa que, na época, revelava os valores da região. O tempo foi passando e um dia, Osvaldo resolveu casar. E do seu casamento com Maria Elizabeth Moreira Travassos de Medeiros, nasceu Olavo, hoje com 4 anos de idade. É todo seu encanto e seu lazer maior é brincar com o filhinho para quem compôs, num momento de ternura o devotamento, um linda canção intitulada “Boneco Bonito”. Dinâmico, competente profissional, fala mansa, riso fácil, gestos calmos e ilhanos, inteligente e culto. Este o novo acadêmico, a quem saudamos calorosamente. Seja bem-vindo OSVALDO ao seio de nossa Academia que muito se enriquece com seu ingresso. Agora você é um dos nossos!


15/11/1990 

Elogio ao Patrono: Dr. JOSÉ BENTO MONTEIRO DA FRANCA. Cad. 21 Por: Dr. Osvaldo Travassos de Medeiros

Senhores Acadêmicos. Senhoras e Senhores Academia tem por sinônimo lugar onde se ministra instrução, escola de ensino superior, sociedade de sábios, artistas ou literatos. Na Academia de Medicina, segundo o Professor e Acadêmico Hilton Rocha, “Acadêmico não é ser escritor nem poeta, é ser médico. É receber uma consagração porque são nossos pares que vêm nos dizer que jamais fugimos à linha hipocrática , consolando espírito, mitigando dores e desfazendo enfermidades”. O médico tem por função curar, aliviar e consolar (sanare, sedare et solare) postulou Hipócrates há mais de vinte séculos. Muito nos honra ocupar a cadeira que tem como Patrono o Dr. JOSÉ BENTO MONTEIRO DA FRANCA e como seu Primeiro Titular o Dr. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega. José Bento Monteiro da Franca, foi o primeiro paraibano médico. Nasceu nesta Capital em 02 de agosto de 1766 sendo seu pai português e sua mãe paraibana. Estudou medicina em Coimbra tendo antes se bacharelado em filosofia e matemática que à época eram pré-requisitos para ingressar no curso de médico; além do latim. Diplomou-se em medicina em 30 de julho de 1792. é possível que chegou a esta Capital em 1802, tendo trabalhado na Santa Casa e prestado grandes serviços à medicina. Veio a falecer em 02 de janeiro de 1821. sua descendência se faz presente na vida paraibana em muitos campos do conhecimento. Dr. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, costumeiramente chamado Dr. Humberto Nóbrega, nasceu na cidade de João Pessoa-Pb em 03 de fevereiro de 1912. estudou medicina na Bahia, vindo a se diplomar em 08 de dezembro de 1937. era casado com a Sra. MARIA NAZARETH NÓBREGA e são seus filhos: JOSÉ DE NOVAIS NÓBREGA E MARIA DA PIEDADE DA NÓBREGA TOMAZ. Discursar sobre Dr. Humberto é lembrar o médico, o escritor, o pesquisador, o historiador, enfim, uma pessoa de um vasto currículo: Foi reitor da Universidade Federal da Paraíba, fundador da Faculdade de Medicina e seu diretor, diretor geral do Departamento Estadual de Saúde, diretor do Hospital Santa Isabel, professor da Escola de Enfermagem entre outras denominações honoríficas. Diversos livros publicados: “O meio e o homem da Paraíba”; “Breve introdução ao estudo da higiene”; “História de uma cadeia transformada em palácio”; “Augusto dos Anjos e sua época”; “De convento a palácio”; “Dois tempos de uma cidade”; “Calendário cultural da Paraíba”; “Evolução histórica de Bananeiras”; “Cadeira nº 1 Augusto dos Anjos”; “Arte colonial da Paraíba”; “História da Faculdade de Medicina da Paraíba (4 vol.)”, entre outros. Era grande o seu zelo pela preservação do patrimônio histórico da Paraíba. Ao Dr. Humberto é atribuída a criação do Museu da Imagem e do Som na Universidade Federal da Paraíba, biblioteca particular com mais de 10 mil livros além de documentos e de fotografias antigas. O escritor e historiador Professor JOSÉ OTÁVIO DE ARRUDA MELO em publicação sobre o acervo cultural do Dr. Humberto Nóbrega teve a felicidade de denominá-lo “a vida da Paraíba, nos mais diversos planos, que ali se condensa, e se considerarmos que nossa identidade reside na consciência produzida pela história, Humberto Nóbrega terá sido o artífice dessa consciência pela paixão como se lançou a preservação do que havia de mais representativo, não no passado em peso morto, que urge dialeticamente ultrapassar, mas no processo de criação da sociedade paraibana”.


Senhores Acadêmicos. Senhoras e Senhores Quando se perguntava ao Dr. Humberto como conciliava tantas funções dizia: “julgo não haver incompatibilidade alguma entre tais atividades. Em qualquer uma delas tem-se o homem como o centro de todas as coisas e sinto irresistível tendência para conhecer o universo das produções intelectuais do meu estado e da minha região, seja elas científicas, artísticas, sociais e humanísticas”. Segue-se apresentação de um vídeo Graças aos serviços prestados, Dr. Humberto Nóbrega deixou indelével seu nome. Veio a falecer em 18 de junho de 1988. o Dr. Geraldez Tomaz, seu genro, substitui o filho médico que o Dr. Humberto não teve e dá prosseguimento à sua obra, porque também é meritória sua trajetória. Renovo os agradecimentos aos Acadêmicos que escolheram nosso nome para ocupar cadeira de insignes antecessores e também os agradecimentos às Senhoras e Senhores que prestigiaram esta sessão solene. Muito obrigado.


CADEIRA Nº Patrono:

36

Dr. PLÍNIO MARQUES DE ANDRADE ESPÍNOLA

Data de posse: 07/03/1991 1º ocupante: Orlando Cavalcanti de Farias Saudação:

Augusto de Almeida Filho


07/03/1991 

Elogio ao Patrono: Dr. PLÍNIO MARQUES DE ANDRADE ESPÍNOLA. Cad. 36 Por: Dr. Orlando Cavalcanti de Farias

Não é fácil descrever uma vida humana; muito menos, julgá-la. Se, no primeiro caso, temos um emaranhado de informações algumas, por vezes, não harmoniosas e até contraditórias, no segundo caso, o julgar, precisa de referências e, estas, variam de pessoa a pessoa. O ser humano é inteligente e racional; por isso, há necessidade justificar os atos, de buscar respaldos. Este, o principal drama pelo o qual todos temos de passar. Quem é que, estando a sós consigo mesmo, em diversas situações da vida, como, por exemplo, deitado, à beira mar, olhando o céu escuro e estrelado, não se questiona; que estou fazendo neste mundo? Por que existo? Qual o sentido da minha vida? São perguntas cujas respostas temos que buscar para explicar, a nós próprios, e aos outros, a forma de viver e os atos de cada dia. É isso, que distingue os homens e é dessa maneira que podemos julgá-los. Uns têm o dinheiro como a mola da vida e nele encontram o objetivo máximo a ser alcançado. Outros, o poder, à custa de qualquer preço. Alguns têm, na arte, na escultura, na pintura e na dança, não o meio, mas o fim de suas existências. São os grandes gênios que se empolgam tanto ao ponto de esquecer tudo a não ser os seus trabalhos. Outra parcela da humanidade tem, no próximo, o fim. Amando o semelhante, ser a Deus, pedra angular de vida. Essa conduta, foi seguida por São Francisco de Assis. Nos tempos atuais, por Madre Tereza de Calcutá, e por Irmã Dulce. Deixaram tudo e todos para dedicar-se ao bem dos irmãos, máxime dos mais necessitado. Após o preâmbulo, vamos descrever e procurar interpretar a vida do Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola.

Dados Biográficos O Dr. Plínio – nasceu no dia 16 de setembro de 1893, na então cidade da Parahyba, capital do Estado, em casa onde hoje se instala o Hotel Aurora, na Praça 1817. a capital do Estado, então, apresentava-se como cidade pacata, calma, sem poluição, com casas de quintal de fruteiras (mangueiras, abacateiros, fruta-pães, bananeiras, sapotizeiros) povoado de passarinhos, principalmente, sabiás de cantos melodiosos e ritmadas. Teve infância feliz: folguedos infantis da época (andar de cavalo de pau, trepar nas mangueiras, soltar coruja, jogar bola nos quintais). Era filho do Dr. Rodolfo Alípio de Andrade Espínola e de Dª Ana Aurora Barbalho Espínola. O pai lecionava, no Liceu Paraibano, as cadeiras de Latim e de Francês. Falava, fluentemente, esta língua. Foi, também, funcionário da antiga Great Western, atual Rede Ferroviária do Nordeste. Destacou-se como amigo do Dr. Antenor Navarro e do Dr. Castro Pinto, este, padrinho de batismo, que costumava levá-lo, a passeio, pela cidade, na época em que era universitário. Quando criança, gostava muito de ir a Mamanguape. Lá morou, por algum tempo e lá nasceu um dos seus irmãos, João Espínola, conhecido por Dr. Ju, que galgou altas funções no Ministério da Fazenda. Estudou as primeiras letras na casa paterna e com mestres-escolas, quase sempre membros da família. Submeteu-se ao exame de admissão no Liceu Paraibano, em que cursou o ginásio. Como bom companheiro, deve ter participado da rivalidade entre o Liceu Paraibano, então situado no edifício onde hoje está a Faculdade de Direito, e o Colégio Pio X, antagonismo que atingia o ponto


máximo após os jogos de “foot ball”, entre as duas equipes, quando os estudantes se engalfinhavam em lutas corporais e quebradeiras, qualquer que houvesse sido o resultado do jogo. Sagrou-se vitorioso no vestibular para a Faculdade do Terreiro de Jesus na Baia, de onde, no meio do curso, se transferiu para a Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, em que concluiu os estudos médicos em 19 de dezembro de 1919, com a idade de 26 anos. Fez vários cursos de pós-graduação em Higiene e Saúde Pública. Não demorou no Rio. Após a formatura, veio para João Pessoa, onde, em dezembro de 1920, foi nomeado para prestar serviço no Porto de Cabedelo. Nessa cidade, recebeu, recentemente, justa homenagem dando-lhe o nome em hospital. Casou-se, em primeiras núpcias, com Dª Marihita Nogueira Espínola, tendo como filhos, Miriam Espínola Cazes, casada com Pierre Cazes, ela funcionária pública aposentada, ele, advogado em São Paulo; Iara Espínola Paganelli, casada com Demócrito Paganelli, administrador de empresa, funcionário da Receita Federal, em São Paulo, ela funcionária federal aposentada; Hélio Noguêra Espínola, casado com Clara Marina Ivanenko Espínola. Ele, professor catedrático da Disciplina de Genética da Universidade de Minas Gerais, com vários cursos no exterior; esteve a serviço da O.N.U em Londres, Estados Unidos e Venezuela, ao todo, dez anos fora do país; Ana Maria Concentino Espínola, formada em filosofia, casada com José Varela Concentino, ex-gerente do Bradesco, atualmente agro-pecuarista. O segundo matrimônio celebrou com Judith Luna Freire Jansen Espínola, com que houve a filho Suely Espínola da Nóbrega, casada com o Dr. Romero Abdon Queirós da Nóbrega. Suely é professora universitária, e ele, o atual Procurador Geral do Estado da Paraíba. O Dr. Plínio faleceu em 30 de junho de 1972 na cidade de João Pessoa, com a idade de quase 79 anos.

O Médico Logo que concluiu o curso médico, o Dr. Plínio não titubiou na escolha de sua especialidade. Percebeu os tipos de atividades médicas a que podia dedicar-se, a curativa e a preventiva. A primeira, a mais procura, a que dava mais fama e propiciava melhores condições econômicas. A segunda, menos prestigiada, nadada disso oferecia, mas, por outro lado, era de que a sociedade brasileira mais precisava: prevenir as doenças e criar condições para que a enfermidade não se instalasse. Era e é uma especialidade que obriga o médico a atrelar-se ao Estado, que nunca pagou condignamente. Apesar de tudo isso, escolheu a Higiene e a Saúde Pública para o destino de suas atividades profissionais e abraçou como todo o empenho, entusiasmo e alma. Era dedicadíssimo ao seu trabalho, muito rigoroso, fazia questão de verificar pessoalmente o que estava sendo feito. Costumava viajar pelo interior para verificar se as suas determinações estavam sendo cumpridas. Para exercer bem a especialidade fez vários cursos após formar-se e um, especialmente, deve ser destacado, pois foi patrocinado pela Universidade do Rio de Janeiro, curso esse realizado em 1938, 19 anos após a formatura freqüentado por médicos de vários estados do Brasil e, até da Bolívia, sendo dois da Paraíba: os Drs. Plínio e Onildo Chaves. Esse curso de Higiene e de Saúde Pública foi muito proveitoso, principalmente pelo lado prático. A Folha da Manhã, do Estado de São Paulo (dia 22-01-1938) dá bem uma idéia de como foi esse estágio, com seguintes palavras: “Uma delegação de médicos do Curso de Saúde Pública da Universidade do Rio de Janeiro, veio completar o curso de especialização para sanitaristas, visitando os diversos serviços de abastecimento d’água e tratamento de esgoto de São Paulo e fazendo exercícios práticos de laboratório, análise de água e projetos de instalações de usina de tratamento d’água, construções de barragens e cisternas para coleta e distribuição. É importante acrescentar que o Dr. Plínio obteve a maior nota, classificandose em primeiro lugar. É relevante que se diga que embora estivesse firmemente empenhado no ideal de sanitarista, o Dr. Plínio era médico de conhecimentos gerais, respeitáveis, tanto que os colegas, amigos e contemporâneos, Lourival Moura, Newton Lacerda, Lauro Wanderley, instavam-no para que não


fosse tão radical e para que se dedicasse à Medicina Clínica, pois todos achavam que ele tinha competência para tanto. Possuía o que as pessoas chamam de “Olho Clínico”, ou seja, esse sentido especial que possuem alguns médicos para chegar a um diagnóstico, sem maiores detalhes. A tudo ele venceu, para poder manter intacto o vivo o ideal de criar sociedade livre de doenças, através de medidas como saneamento básico, higiene e vacinas. É admirável e surpreendente observar que existiu, há 60 anos, um médico que pensava e defendia, tão arduamente, essa concepção. Só podemos atribuir isso à sua boa e esmerada educação, oferecida por seus pais, associada a uma dose de dotes, recebidos dos ancestrais. A propósito disso, diga-se também da influência vigorosa de Carlos Chagas, grande sábio e médico higienista, com quem o Dr. Plínio estagiou, por um certo período, e de quem recebeu uma portaria, datada de 31-12-21, nomeando-o para exercer, em comissão, o cargo de sub-inspetor sanitarista rural.

O Homem Público O Dr. Plínio, durante toda a sua vida pública, foi funcionário do Estado, atravessando vários governos, sempre em cargos importantes, a maioria dos quais de confiança, a despeito, e às margens das acirradas disputas políticas. Por sua reconhecida competência integridade moral era sempre requisitado pelos Governos, apesar de não fazer política partidária. O primeiro cargo que exerceu na Paraíba foi – o de Ajudante de inspetoria de Saúde do Porto de Cabedelo, em caráter interino, isso em 27 de dezembro de 1920. apesar desse cargo ser de pouca influência, as suas atividades, nessa cidade, foram consideradas relevantes, tanto que a sua população o homenageou, colocando seu nome no Hospital recém inaugurado, tal como já se referiu. Em seguida, mais precisamente em 31 de dezembro de 1921, o Departamento Nacional de Saúde Pública, na pessoa de seu Diretor Geral, o Dr. Carlos Chagas, nomeou-o em comissão para o cargo de Sub-Inspetor Sanitário Rural, passando a Inspetor em todo o Estado da Paraíba, em 1926 a 1929, designação também feita pelo eminente sanitarista acima referido. Em 18 de outubro de 1935, foi designado, pelo então Governador Argemiro de Figueiredo, para exercer, interinamente, o cargo de médico da Força Pública Militar do Estado. Em 18 de janeiro de 1936, o mesmo Governador nomeou-o para exercer o cargo de Epidemiologista da Diretoria Geral de Saúde Pública. Em 5 de março de 1936, foi nomeado para a Diretoria Geral de Saúde Pública. Em 24 de março de 1937, o Governador do Estado da Paraíba, comissiona o Dr. Plínio para realizar, no Rio de Janeiro, um curso de Higiene e Saúde Pública da Universidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu por mais de um ano. Viajou no paquete Araranguaia, que aportou em Cabedelo. Em 2 de janeiro de 1939, o Interventor Federal, no Estado da Paraíba, nomeou o Dr. Plínio para exercer, em comissão, o cargo de Diretor Geral de Saúde Pública. Em 2 de janeiro de 1939, o Ministro do Estado das Relações Exteriores, resolveu nomear, para constituírem a Sub-comissão de Fiscalização de Entorpecentes no Estado da Paraíba, os senhores Plínio Espínola, Diretor de Saúde Pública, Ernani Sátiro, Chefe de Polícia, Ademar Victor Muniz Vidal, Procurador Seccional da República e Newton Lacerda, médico. Em 12 de janeiro de 1942, o Interventor Federal interino no Estado da Paraíba, resolveu designá-lo como Assistente Técnico da Diretoria Geral de Saúde Pública para responder pelo expediente da mesma Diretoria, durante o impedimento do respectivo titular. Em 13 de julho de 1942, foi designado para responder pelo Expediente da Diretoria Geral de Saúde Pública, durante o impedimento do respectivo titular. Em 3 de novembro de 1942, voltou a responder, pela segunda vez, pelo expediente da mesma Diretoria pelo motivo anterior.


Em 9 de janeiro de 1943, o Dr. Ruy Carneiro, então Interventor Federal, resolveu designar o nosso Patrono para substituir o Diretor do Departamento de Saúde, José Janduhy Carneiro, durante o respectivo impedimento, até ulterior deliberação. Em 1944, é promovido, por merecimento, na carreira de médico do Estado. Em novembro de 1945, o Desembargador Severino Montenegro, então Interventor no Governo do Estado, nomeou-o para Diretor do Departamento de Saúde. Em 14 de outubro de 1947, o então Governador Osvaldo Trigueiro designou-o para responder pelo expediente da Diretoria Geral do Departamento de Saúde, durante a ausência do respectivo titular. Em 31 de dezembro de 1947, passou a exercer a função gratificada de Diretor de Divisão dos Serviços Distritais. Em 21 de abril de 1949, é designado para exercer funções de Superintendente da Luta Antituberculosa neste Estado, ainda no Governo de Osvaldo Trigueiro. Em 23 de agosto de 1954, o então Governador João Fernandes de Lima, designou-o para estagiar no período de 30 dias sob a orientação da Divisão de Organização Sanitária do Ministério da Saúde, em Unidades Sanitárias do Distrito Federal, no Estado do Espírito Santo. Nessa altura, ou seja mais precisamente em 28 de maio de 1956, o Dr. Plínio Espínola atinge a Secretaria de Saúde e Assistência Social. A princípio, respondendo apenas pelo Expediente, uma vez que o nomeado era o Dr. Newton Nobre de Lacerda que estava doente; devido a essa circunstância não pôde assumir, apesar dos reiterados apelos do Chefe do Governo. Diante disso, o Dr. Flávio Ribeiro Coutinho nomeou-o em 28 de maio de 1956, em caráter definitivo para tal pasta. A Secretaria de Saúde e Assistência Social foi criada pela lei nº 1352 de 29 de novembro de 1955, tendo como órgãos subordinados o Departamento de Saúde e o Departamento de Assistência Social. Posteriormente, agrupou-se à Secretaria referida, o Departamento de Psiquiatria e Higiene Mental, por força da lei nº 1575 de 7 de novembro de 1956. A nomeação do Dr. Plínio Espínola, para a Secretaria de Saúde e Assistência Social, foi recebida com euforia pela Imprensa e Sociedade, dado o conceito que desfrutava. Logo no princípio, ele demonstrou notável capacidade no plano de trabalho que apresentou ao Governador para aprovação. A propósito transcrevo as palavras registradas no Correio da Paraíba de 17 de maio de 1965: “Está ainda em fase de organização a Secretaria de Saúde. Estou elaborando um plano que será apresentado ao Governador Flávio Maroja Ribeiro e espero ter dele aprovação. Depois de aprovado esse plano executá-lo-ei por etapas. Em minha passagem por este alto posto da administração no Estado pretendo re-aparelhar o setor vacinogênico do Departamento de Saúde para a produção normal de vacinas antivariólicas, de vez que as vacinas fornecidas pelo Serviço Federal não atendem às nossas necessidades. Pretendo, também, instalar no Centro de Saúde, em João Pessoa, um serviço noturno dentário, destinado a atender pessoas pobres, principalmente empregadas domésticas, que não podem freqüentar esse Serviço durante o dia, e ainda estabelecer convênios com os municípios, a fim de instalar nos seus distritos, sub-postos de higiene, com o objetivo de dar assistência médica e sanitária a seus habitantes. Por esses convênios, os municípios ficarão obrigados a fornecer casas para instalação dos sub-postos e o transporte para os médicos e o Departamento de Saúde ficará com a obrigação de dar um guarda sanitário e os medicamentos necessários. Desejo também instalar na cidade de Patos um serviço de vacinação anti-rábica, anexo ao posto de higiene local. Repito esse serviço de grande importância em virtude do elevado número de pessoas que no sertão são mordidas por cães e outros animais suspeitos ou atacados de raiva e que com grande dificuldade são obrigadas a procura a capital do Estado em busca de tratamento. Este programa será executado porque o Governo se mostra entusiasmado tanto quanto eu pelo re-aparelhamento dos postos de higiene, existentes e criação dos novos a que me refiro. Ficarei, portanto, esperando a aprovação do plano e receberei aqui a qualquer hora os representantes do Correio da Paraíba para melhores esclarecimentos. O Dr. Plínio tinha qualidade de cumprir o que planejava. Assim,. Já em 31 de janeiro de 1957, nas páginas de A União, apenas com 7 meses de trabalho, prestava contas do que tinha realizado até então, quando anunciava o seguinte: inauguração dos Postos de Higiene em Santa


Rita, Espírito Santo e Monteiro; do Centro de Tratamento de Toxicose Alimentar, assim como dependência do Banco de Leite Humano, anexo ao Centro de Puericultura de Cruz das Armas; inauguração da Maternidade de Monteiro; instalação, na capital, do Serviço Dentário Noturno com a finalidade de atender aos que, em decorrência de seu afazeres, não podem comparecer durante o dia à S.S.A.S; também os Serviços Dentários em Antenor Navarro e Sapé. Foram convenientemente re-aparelhados os serviços vacinogênicos na Capital, bem como intensificada a produção de vacina anti-rábica. Nessa prestação de contas, anunciou obras a serem inauguradas, como a maternidade de Catolé do Rocha, Posto de Higiene de Solânea, Malta e Bonito. O setor do Departamento de Serviço Social, manteve, em funcionamento, durante o ano de 1956, os Centros sociais da Povoação de Índio Piragibe, de Pindobal, de Guarabira e de Campina Grande. A Secretaria de Saúde e Assistência Social realizou outras atividades como: receitas médicas, passagens, enterros, cursos de iniciação profissional, cursos de corte e costura, bordados a mão, marcenaria, sapataria, culinária, indústrias caseiras, etc. Todas essas atividades o Dr. Plínio executou quando já estava aposentado. A aposentadoria foi-lhe concedida em 21 de setembro de 1956, na classe U da carreira de Médico do Estado. Contudo, como vimos, não se recolheu à vida privada; continuou prestando serviços ao Estado. Em 15 de abril de 1957, o Governo do Estado designou o seu Secretário de Saúde Dr. Plínio para exercer as funções de Executor do Plano do Departamento Nacional da Criança – Fundo Internacional de Socorro a Infância. O Dr. Plínio permaneceu na Secretaria de Saúde e Assistência Social durante o Governo do Dr. Flávio Ribeiro Coutinho por dois anos (1956 e 1957). Voltou à Secretaria de Saúde no governo do Dr. Pedro Gondim, no período compreendido entre 30 de outubro de 1964 e 31 de janeiro de 1966, substituindo Isaías Silva que tinha permanecido no cargo durante um ano. Foi nesse tempo que viajou a San Juan de Puerto Rico, como convidado da USAID, para participar de um Congresso de Medicina Sanitária. Nessa segunda permanência, na S.S.A.S., vários eventos aconteceram, ligados à Secretaria. Destacamos a nova sede, localizada na Av. João Machado, perto da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, o Hospital de Pedras de Fogo, instalação de postos de saúde e higiene em vários municípios, a ajuda para a construção dos hospitais de Patos, Cajazeiras, Itabaiana, Guarabira, maternidades de Esperança e de Conceição e, por fim, o Hospital da Polícia Militar do Estado. Aqui, encerramos os registros sobre a vida pública do Dr. Plínio.

Pessoa Humana O Dr. Plínio era homem de estatura mediana. Quando estudante de medicina, chamava atenção pela magreza; avançando em idade, incorporou mais um pouco, mas era sempre magro. Gostava de andar elegantemente vestido e todas as vezes que, por alguma necessidade, retirava o palito, fazia-o com cuidado para não amassá-lo. Tinha poucos cabelos, mas não chegava a ser calvo. Fumava muito e tinha maneira peculiar de segurar o cigarro entre o polegar e o dedo indicador. Muito calmo, nunca levantava a voz para com ninguém. Era tranqüilo e afetuosíssimo para com os familiares. Estava sempre preocupado com o bem estar dos filhos, com o seu futuro e orientava-os bastante sobre a necessidade de serem honestos, ensinando-lhes a maneira de enfrentar a vida. Embora sendo home delicado e gentil, era muito rigoroso consigo mesmo e no exercício dos trabalhos. Era o que se chama um “Caxias”. Mas essa severidade não provocava, nos outros, nem ressentimentos nem ódios. As atividades afloravam naturalmente, frutos de personalidade coerente e honesta. Não era para ser admirado que agia! As circunstâncias externas não influenciavam no seu comportamento. Os seus atos emanavam de sua pessoa puros como a água cristalina brota da fonte. Vamos relatar, agora, alguns eventos que mostram bem a personalidade do homenageado.


Em maio de 1965, no Governo de Pedro Gondim, o Dr. Plínio participou do encontro de Secretários de Saúde do hemisfério latino-americano em San Juan de Puerto Rico, patrocinado pela U.S.A.I.D., destinado à discussão de temas de medicina sanitária. Para isso, recebeu ajude de custo, em dólares, do Governo do Estado. Quando voltou, causou espécie e verdadeira celeuma, pois procurou devolver os dólares excedentes, pois, ninguém sabia como burocraticamente, contabilizava a devolução aos cofres do Estado. Como secretário, tinha direito a um carro oficial, mas somente o usava em serviço. Quando acontecia ir de casa para o Palácio, falar com o Governador, não permitia levar nem a esposa nem parentes, mesmo que eles fossem para local onde ele haveria de passar. Há outro episódio que mostra como ele executava a honestidade em seus últimos limites. É a história de uma charqueada. Uma grande quantidade de carne de charque havia chegado a João Pessoa para ser comercializada. Houve denúncia de que a carne estava deteriorada; diante disso, mandou verificar. O exame comprovou que a mercadoria se encontrava estragada. Mandou apreendê-la para ser queimada. Quando o dono da carne, rico comerciante, soube o que ia acontecer, fretou avião e veio, pessoalmente, tentar remover o gesto do Secretário de Saúde, afirmando que não venderia um quilo sequer, no Estado, ao que o advertiu, o Dr. Plínio: “De maneira alguma, tanto faz o povo da Paraíba como o de qualquer Estado da Federação”. E, pessoalmente, providenciou a queima da carne. Na Fundação da Faculdade de Medicina, ele foi convidado e aceitou para ser o professor de Higiene e de Saúde Pública. Logo depois, rejeitou a cátedra, porque descobriu que a mesma não era a mesma disciplina e sim Epidemiologia e esta não era a sua especialidade. Ele era um obstinado na execução de seus planos e projetos. Planejou e não conseguiu realizar a construção de uma fábrica de pasteurização de leite, em João Pessoa. Foi uma grande frustração em sua vida. Começou os seus planos no Governo de Argemiro de Figueiredo, prosseguindo-os no de Flávio Ribeiro. Durante esse governo, ele conseguiu enviar o Dr. José Carlos Dias de Freitas, então Secretário de Transportes, para fazer um curso afim de implantar essa fábrica. Em João Pessoa. O local para a instalação seria nas proximidades da atual estação rodoviária ou, mais precisamente, onde se localiza a repartição militar, concernente à Circunscrição de Recrutamento. Conseguiu toda a maquinaria, mas o plano falhou por carência de verbas para construir o prédio da fábrica. Quem lucrou, como tudo isso, foi o Rio Grande do Sul, cujo Governo comprou toda a maquinaria, assentando-a em usina de Porto Alegre. Dissemos atrás que o Dr. Plínio era um “Caxias”, rigoroso no cumprimento de seus deveres, enérgico quando estavam em jogo o bem público e a justiça. Com isso, somos levados a conclusão que o seu perfil é de um durão, pois somente ele tinha razão, apregoando a justiça aos quatro cantos para dessa maneira promover-se. Não era nada disso! Era sim, um homem manso de coração, simples, aberto ao diálogo; um justo! Sabia cultivar as amizades ; não se impunha perante os outros; deixava-os em liberdade. Portava senso de humor, bastante apurado. Gostava de contar fatos pitorescos e jocosos de sua vida. Dava boas risadas. Enumeremos algumas passagens que ele gostava de contar. Certa vez, a Secretaria de Saúde procedeu a uma limpeza no Rio Jaguaribe considerado foco de doenças. Era de seu feitio, gostava de examinar, pessoalmente, todas as atividades da Secretaria e assim o fez no aludido rio. Lá chegando, alguma coisa anormal estava acontecendo. É que os trabalhadores, desestimulados por não terem recebido o dinheiro, estavam sem trabalhar. Em dado momento, surge uma cobra que atemorizou todo mundo. O Dr. Plínio não pensou duas vezes; puxou o revólver e deu um tiro na cobra. A bala atingiu exatamente a cabeça do ofídio. Fausto, um prático do porto de Cabedelo, que sempre o acompanhava, disse: “este homem é uma fera e vocês não sabem com quem está lidando”. Bastou isso, para que tudo serenasse e para que os operários voltassem ao trabalho. Não sabiam eles que o Dr. Plínio, raramente, andava armado; o fato de ter acertado na cabeça da cobra, representou mera casualidade. Ele gostava de contar o fato narrado, rindo muito ao fazê-lo. Outro fato relatado, também pitoresco ocorreu em Monteiro. Estava ele no Posta de Saúde, com o médico da cidade, quando chegaram os guardas sanitários, informando que uma senhora, de determinada casa, os tinha posto para fora, não permitindo que examinasse ou derramasse os


depósitos suspeitos; xingou-os, e por cima, retirou as bandeirinhas. O relato do ocorrido contrariou bastante o Dr. Plínio que manifestou, ao médico presente, a preocupação. Este, muito humildemente, disse: “Dr. Plínio, o senhor agüentou uma única vez e eu suporto esses dissabores todos os dias de minha vida, pois trata-se de minha mulher”. O Dr. Plínio apreciava muito contar passagens, acontecidas em Salvador, quando era estudante de Medicina. Eis aqui algumas delas. Ele morava em república, um espécie de pensão em que residiam estudantes não muito dotados pela fortuna. Quando estavam sem dinheiro para comprar alimentos, eles tocavam uma sineta, sina esse conhecido pelas famílias em volta, que, imediatamente, mandavam seus empregados com comidas e iguarias abundantes, em bonitas bandejas de prata. Isso mostra o prestígio que desfrutavam os universitários de Salvador, naquela época. Outra história, também jocosa, vem a seguir. Houve uma festa numa boate, na qual se apresentou um casal de argentinos, que dançavam e cantavam. Ao término do espetáculo, os estudantes inebriados pela festa e pelas bebidas, convidaram a dupla para irem, no dia seguinte, à sua república. Acontece que esse convite não foi levado a sério pelos estudantes, mas o foi pelos argentinos. No dia seguinte, quando menos esperavam, chegaram os artistas na hora aprazada. Foi um corre-corre e um atropelo indescritível. Os estudantes ficaram atarantados. Para justificarem a falta de uma conveniente recepção, buscaram uma desculpa e essa foi a de que um dos colegas estava bastante doente. Imediatamente, encenaram um quadro de um colega de Cachoeira dos Índios, que era magro e pálido, parecendo doente; colocaram-no numa cama, envolto em lençóis. Mesmo assim, os argentinos ficaram e com algumas bebidas, compradas de última hora, fizeram uma festinha, da qual participou até o estudante que estava doente e que se levantou da cama bem fagueiro. Noutra feita, ele contava que morava numa república de nome Urucubaca. Num determinado ano, todos foram reprovados e apareceu uma peste bubônica nas proximidades. Eles acharam que tudo isso era devida à denominação da república. Reuniram-se e tiraram o nome maldito e tudo voltou ao normal. Ele era um homem de poucos amigos; mas as amizades que possuía as cultivava com carinho. Assim aconteceu com Lourival Moura, que foi seu contemporâneo e companheiro de república. Newton Lacerda, Clóvis Bezerra, Humberto Nóbrega, Renato Peixoto, comerciante muito conhecido, Samuel Hardman Norat, Fiscal de receita, Nolo Pereira de Melo (todos os dias costumava ir à Casa do Estudante, conversar com esse conhecido livreiro, em busca de novidades sobre sua especialidade); Ariosvaldo Espínola, José Mouzinho e Diógenes Chianca, seu vizinho. Dr. Plínio tinha aspectos surpreendentes. Apesar de ser um homem sisudo e sério, gostava muito de carnaval. Não perdia os folguedos do Astréa, onde ia com um grupo de amigos, e lá dançava muito. Depois, mais avançado em idade, passou a freqüentar o Cabo Branco acompanhado de sua família. Gostava, também, de praia; apreciava o banho de mar. Tinha o hábito de tomar uma dose de uísque ante do banho e antes do almoço. Tinha paixão por viagens. Fiscalizava, com assiduidade, os postos de saúde das cidades do interior. Uma coisa a destacar: apreciava o sertão, sobretudo na época das secas, quando tudo fica cinzento. Alegrava-se muito quando ia ao Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires, Estações d’água Mineral (Poços de Caldas). Adorava o Rio de Janeiro, principalmente Copacabana. Um aspecto que chamava a atenção, no Dr. Plínio, viajando, ao chegar as cidades, era sentir o que ele chamava alma cidade. Procurava ver o que era predominante. As características o modo de viver daquele núcleo populacional. Não deixava de comprar o jornal da terra. Quando saía com seus familiares, as vezes desaparecia. Mais tarde, iam encontrá-lo num barzinho, conversando e tomando cerveja com estranhos. Depois de aposentado, comparecia diariamente, à tardinha, ao Ponto de Cem Réis, ao Clube Cabo Branco e à Livraria de Nolo. Gostava muito de ler. O seu autor preferido era Eça de Queiroz.


Final Depois de descrever a vida do Dr. Plínio Mário de Andrade Espínola, através de fatos e de atos, podemos interpretá-los e descobrir o móvel e o sentido dela. A fortuna não foi a guia mestra de sua passagem por esta terra. Em todo o trajeto de sua existência, não vislumbramos o interesse de amealhar dinheiro, Poder, também não! O que menos aspirava, era o domínio sobre seus semelhantes. Não entrava nas suas cogitações e autoritarismo no convívio com os seus amigos, subalternos e familiares. Prestígio e fama não buscava! O que queria esse homem tão ardentemente? Desejava a Justiça, o bem público e a saúde de todos! A profissão de médico, que tanto amava, era o meio para que a justiça, a Concórdia, a Saúde, chegassem à pessoa, ao seu próximo, ao seu irmão, pois admitia que todos temos um Pai em comum. Isso se deduz por um gesto que fazia; todas as noites antes de dormir, entrava em seu gabinete e rezava diante de um quadro do Sagrado Coração de Jesus.


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