Apmed - Anais - Ano III - Volume III

Page 1


ANAIS - III

Apresentação:

No 1º volume constaram o elogio e saudação de 10 acadêmicos. No 2º volume constaram

o elogio e saudação de 20 acadêmicos e a relação de todas as reuniões

sócio-culturais e científicas realizadas no período de 12/06/1981 à 28/09/2006. Neste 3º volume constam: o elogio e saudação de 13 acadêmicos, inclusive, do último a tomar posse em 31/08/2007 Ac. Ricardo Antônio Rosado Maia, bem como das reuniões sócio-culturais e científicas de 01/06/07 e 26/10/07 que tiveram como palestrantes o Dr. Dalvélio de Paiva Madruga e Ac. Antonio Nunes Barbosa, respectivamente, assim como, os discursos de posse dos Presidentes Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa, Ac. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, Ac. João Cavalcanti de Albuquerque e Ac. Marco Aurélio de Oliveira Barros. Igualmente, estamos inserindo neste 3º volume as fotografias dos atuais ocupantes das Cadeiras desta gloriosa Academia.


Comissão Editorial dos Anais Ac. Delosmar Domingos de Mendonça Ac. Osvaldo Travassos de Medeiros Ac. Péricles Vitório Serafim


Diretoria: Biênio: 2006/2008

Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Vice-Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Bibliotecária:

Ac. Marco Aurélio de Oliveira Barros Ac Orlando Ávares Coêlho Ac Antônio Carneiro Arnaud Ac. Ivan Lins Modesto Ac. Adahylson da Costa Silva Ac. Joaquim Monteiro da Franca Filho Ac Maria de Lourdes Britto Pessoa Comissão Científica e Cultural Permanente - CCCP

Titulares: Ac. Francisco Orniudo Fernandes Ac. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Ac. João Cavalcanti de Albuquerque

Suplentes: Ac. Gilson Espínola Guedes Ac. Gilvandro Assis Ac. Wilberto Silva Trigueiro

Conselho Fiscal Permanente - CFP Titulares: Ac. Antonio Nunes Barbosa Ac. Clóvis Beltrão de Albuquerque Ac. José Eymard Moraes de Medeiros

Suplentes: Ac. Evandro José Pinheiro do Eqypto Ac. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins Ac. Mário Toscano de Brito Filho

Editor do Boletim Informativo Ac. João Gonçalves de Medeiros Filho


ÍNDICES DOS ANAIS DA APMED ANAIS-I - Ano-I / 2005 Índice: Apresentação Ata de fundação da APMED Comissão dos Anais Diretorias Idealizadores da APMED Relação das cadeiras, patronos e titulares da APMED Resumo histórico da APMED

página(s) 05 10 e 11 06 14 a 24 09 12 e 13 07 e 08

Saudações e Elogios Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº; Patrondo: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº Patrono: Membro Fundador: Saudação: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundadora: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação:

04 Dr. Aryoswaldo Espínola da Silva Ac. Antônio Dias dos Santos Ac. Everaldo Ferreira Soares 06 Dr. Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega Ac. José Eymard Moraes de Medeiros Ac. Jacinto L. G. de Medeiros 20 Dr. Joaquim Gomes Hardman Ac. Antonio Nunes Barbosa Ac. Orlando Cavalcanti de Farias 21 Dr. José Bento Monteiro da Franca Ac. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega Ac. Amílcar de Souza Leão Ac. Osvaldo Travassos de Medeiros Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa 22 Dr. José de Souza Maciel Ac. Higino da Costa Brito (não empossado) Ac. Antônio Carneiro Arnaud Ac. Antônio Batista Ramos 29 Dr. Manoel Veloso Borges Ac. José Lavoisier Feitosa Ac. Eugênio de Carvalho Júnior 32 Dr. Newton Nobre de Lacerda Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa Ac. José Lavoisier Feitosa 33 Dr. Oscar de Oliveira Castro Ac. Maurílio Augusto de Almeida Ac. Amílcar de Souza Leão

29 a 38 27 e 28

111 a 113 107 a 110

100 a 103 97 a 99

59 a 74 - 144 a 146

141 a 143

119 e 120 117 e 118

44 a 55 41 a 43

81 a 93 77 a 80

123 a 138


Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação:

ANAIS-II

36 Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola Ac. Orlando Cavalcanti de Farias Ac. Augusto de Almeida Filho

149 a 161

- Ano-II / 2006

Índice: Apresentação Comissão dos Anais Diretoria – Biênio: 2004/2006 Relação das Cadeiras, Patronos e Titulares da APMED Relatório das Atividades da APMED – Período: 2002/2006 Reuniões Sócio-Culturais e Científicas

página(s) 03 04 05 06 258 a 260 07 a 14

Saudações e Elogios: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º Ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº; Patrono: 1º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação:

02 Dr. Antônio Batista Santiago Ac. Amílcar de Souza Leão (não empossado) Ac. Ulisses Pinto Brandão (saudação) Ac. Antônio Carneiro Arnaud 04 Dr. Arioswaldo Espínola da Silva Ac. Antônio Dias dos Santos Ac. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins Ac. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira 05 Dr. Cândido Firmino de Melo Leitão Júnior Ac. Luiz Gonzaga de Miranda Freire (não empossado) Ac. Francisco Orniudo Fernandes Ac. José Eymard Moraes de Medeiros 08 Dr. Edrise da Costa Villar Ac. Clóvis Beltrão de Albuquerque Ac. Orlando Cavalcanti de Farias 09 Dr. Elpídio Josué de Almeida Ac. Renaldo Romero Rangel Ac. João Cavalcanti de Albuquerque 11 Dr. Flávio Ferreira da Silva Maroja Ac. Péricles Vitório Serafim Ac. Genival Veloso de França 13 Dr. Francisco Camillo de Hollanda Ac. Eugênio de Carvalho Júnior Ac. João Gonçalves de Medeiros Filho Ac. Marco Aurélio de Oliveira Barros

177 a 183 172 a 176

232 a 242 228 a 231

139 a 143 132 a 138

38 a 44

24 a 26 22 e 23

214 a 225 208 a 213

248 a 257 244 a 247


Cadeira Nº: Patrono: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação:

14 Dr. Francisco Chaves Brasileiro Ac. Tereza Carvalho de Mendonça Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa 15 Dr. Francisco Pinto de Oliveira Ac. Marco Aurélio de Oliveira Barros Ac. Gilvandro Assis 16 Dr Francisco Porto Ac. Orlando Álvares Coelho Ac. João Cavalcanti de Albuquerque 17 Dr. Genival Soares Londres Ac. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Ac. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira 18 Dr. João Soares da Costa Filho Ac. Gilvandro Assis Ac. José Eymar Moraes de Medeiros 23 Dr. José Janduhy Vieira Carneiro Ac. Jackson Derville Araruna Ac. Pedro Solidônio Palitot 25 Dr. Lauro dos Guimarães Wanderley Ac. João Cavalcanti de Albuquerque Ac. Orlando Álvares Coêlho 26 Dr. Luciano Ribeiro de Moarais Ac. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira Ac. Eugênio de Carvalho Júnior 30 Dr. Napoleão Rodrigues Laureano Ac. Antônio Queiroga Lopes Ac. Antônio Carneiro Arnaud 34 Dr. Osório Lopes Abath Ac. Múcio de Carvalho Baptista Ac. Mário Toscano de Brito Filho Ac. Osvaldo Travassos de Medeiros 35 Dr. Lauro Lyra Neiva Ac. Genival Veloso de França Ac. José Eymar Moraes de Medeiros 38 Dr. Vanildo Guedes Pessoa Ac. Pedro Solidônio Palitot Ac. Jacinto L. G. de Medeiros

18 e 19 16 e 17

124 a 129 120 a 123

104 a 112 100 a 103

62 a 68

34 a 36 28 a 33

114 a 118

91 a 98 86 a 90

46 a 48

161 a 169 158 a 160

189 a 206 186 a 188

78 a 84 70 a 77

53 a 59 50 a 52


Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: Saudação: ANAIS-III

40 Dr. Walfredo Guedes Pereira Ac. Vicente Edmundo Rocco Ac. Pedro Solidônio Plitot

151 a 155 146 a 150

- Ano-III / 2007

Índice: Apresentação Comissão Editorial dos Anais Diretoria – Biênio: 2006/2008 Fotografias dos Acadêmicos Titulares e respectivas cadeiras Índices dos Anais Posses dos Presidentes - Discursos Reuniões Sócio-Culturais e Científicas Saudações e Elogios: Cadeira Nº: 03 Patrono: Dr. Edson Augusto de Almeida Membro Fundador: Ac. Augusto de Almeida Filho Saudação: Ac. Maurílio Augusto de Almeida Cadeira Nº: 07 Patrono: Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo Membro Fundador: Ac. Atêncio Bezerra Wanderley 2º ocupante: Ac. Delosmar Domingos de Mendonça Saudação: Ac. Genival Veloso de França Cadeira Nº: 10 Patrono: Dr. Fausto Nominando Meira de Vasconcelos Membro Fundador: Ac. Clóvis Bezerra Cavalcanti 2º Ocupante: Ac. Ricardo Antônio Rosado Maia Saudação: Ac. Guilherme Gomes da S. d`Avila Lins Cadeira Nº: 12 Patrono: Dr. Francisco Alves de Lima Filho Membro Fundador: Ac. Alberto Fernandes Cartaxo 2º ocupante: Ac. Adahylson da Costa Silva Saudação: Ac. João Gonçalves de Medeiros Filho Cadeira Nº: 19 Patrono: Dr. João Toscano Gonçalves de Medeiros Membro Fundador: Ac. Herul Holanda de Sá Saudação: Ac. Clóvis Beltrão de Albuquerque Cadeira Nº: 24 Patrono: Dr. José Seixas Maia Membro Fundador: Ac. Isaias Silva 2º ocupante: Ac. Evandro José Pinheiro do Egypto Saudação: Ac. Guilherme Gomes da S. d`Avila Lins Cadeira Nº; 26 Patrono: Dr. Luciano Ribeiro de Moarais Membro Fundador: Ac. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira 2º ocupante: Ac. Aécio Araújo de Morais Saudação: Ac. Genival Veloso de França

página(s) 04 05 06 12 a 25 07 a 11 253 a 266 11

37 a 40

87 a 100 80 a 86

244 a 252 239 a 243

135 a 139 124 a 134 119 a 123

30 a 35 27 a 29

47 a 53 54 a 57 42 a 46

111 a 117 108 a 110 102 a 107


Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º Ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Titular Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação: Cadeira Nº: Patrono: Membro Fundador: 2º ocupante: Saudação:

33 Dr. Oscar de Oliveira Castro Ac. Maurílio Augusto de Almeida Ac. João Modesto Filho Ac. Genival Veloso de França 36 Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola Ac. Orlando Cavalcanti de Farias Ac. Ivan Lins Modesto Ac. Jacinto L. G. de Medeiros 37 Dr. Tito Lopes de Mendonça Ac. Attílio Luiz Rossino Rotta Ac. Wilberto Silva Trigueiro Ac. Orlando Álvares Coêlho 38 Dr. Vanildo Guedes Pessoa Ac. Pedro Solidônio Paletot Ac. Geraldez Tomaz Ac. Jacinto L. G. de Medeiros 39 Dr. Waldemiro Pires Ferreira Ac. Raul Torres Dantas (não empossado) Ac. Joaquim Monteiro da Franca Filho Ac. Orlando Álvares Coêlho 40 Dr. Walfredo Guedes Pereira Ac. Vicente Edmundo Rocco Ac. Francisco Assis dos Anjos Ac. Ivan Lins Modesto

REUNIÕES SÓCIO-CULTURAIS E CIENTÍFICAS

01/06/2007 Palestrante: Tema: Local:

Prof. Dr. Dalvélio de Paiva Madruga “Ato médico – situação atual” Auditório do Conselho Regional de Medicina – CRM/PB

27/10/2007 Reunião conjunta – APMED/CRM-PB Palestrante: Ac. Antônio Nunes Barbosa Tema: “O pensamento anatômico através dos tempos” Lançamento do livro do Ac. Ivan Lins Modesto Título: “A APAMT e sua história” Local: Auditório do Conselho Regional de Medicina – CRM/PB

188 e 189 189 a 191 173 a 178

151 a 153 145 a 150 141 a 144

66 a 70 71 a 78 59 a 65

215 a 219 220 a 237 209 a 214

168 a 171 160 a 167 155 a 159

199 a 207 193 a 198


OBS: Colocar a partir desta página as fotografias dos acadêmicos devidamente identificados, sendo: 03 acadêmicos por página, conforme modelo em anexo. A seqüência de fotografias (40 acadêmicos), encontram-se na pasta denominada: fotografias e identificação dos acadêmicos (programa: Corel DRAW-12).


CADEIRA Nº Patrono:

19

JOÃO TOSCANO GONÇALVES DE MEDEIROS

Data de posse: 09/05/1991 Ocupante: Herul Holanda de Sá Saudação:

Clóvis Beltrão de Albuquerque


09/05/1991  Saudação ao: Dr. HERUL HOLANDA DE SÁ Cadeira nº 19 Por: Dr. Clóvis Beltrão de Albuquerque

Sr. Presidente da Academia de Medicina da Paraíba, demais membros da mesa, minhas senhoras, meus senhores, meus amigos, caríssimo Herul Holanda de Sá. Foi para mim uma honra e uma satisfação ter sido escolhido, nesta noite festiva, para saudar o ilustre conferencista, amigo, Herul Holanda de Sá que irá falar sobre o professor João Toscano de Medeiros. Acredito que a escolha do meu nome tenha sido feita na amizade que soube conquistar durante muitos anos de convívio. Conhecendo-nos ainda jovens, morávamos na Rua Direita, hoje Duque de Caxias, morava no n° 79 e Herul no n° 137. Lembro-me ainda dos seus pais, Dr. Raul Holanda de Sá, homem inteligente, culto, formado na Alemanha, arquiteto, pintor e músico. Sua querida mãe, D. Hermelinda Holanda de Sá. Não foi surpresa o que Herul conseguiu na sua vida profissional, de conceito, porque ele sempre foi um aluno de primeira, desde o Ginásio no Pio X e o Científico no Lyceu Paraibano. Mas, realmente, ele veio a se consagrar como grande estudante, foi na tradicional Faculdade de Medicina do Recife. Naquela época existiam dois professores, o Prof. Mário Ramos e o professor Bezerra Coutinho que ensinavam Patologia Médica e Microbiologia. Todos temiam pelo seu valor e pelo seu exagero nas notas. Herul conseguiu destruir este tabu, tirou 10 em todas as disciplinas. Tal foi a repercussão deste fato que o Professor Mário Ramos mandou o seu motorista no seu "buik preto"' procurá-lo na pensão para conhecê-lo e abraçá-lo pessoalmente. Os estudantes eram pobres e estudavam pelos cadernos dos alunos que passavam, o caderno de Herul foi datilografado muitas e muitas vezes e vendido a peso de ouro. Acredito até que Herul ainda tenha alguma coisa dessa renda. Apesar do brilhantismo em Recife, ele foi terminar seu curso no Rio de Janeiro. Lá, lutando contra tudo e contra todos, conseguiu se formar com brilhantismo, no ano de 1951. Depois de fazer os cursos de Pós-Graduação e de Atualização, ele voltou a sua terra natal e aqui chegando, foi recebido em 1954 pelos seus colegas mais velhos, valendo destacar a figura do Professor Edrise da Costa Vilar que o recebeu de braços abertos e o convidou para trabalhar no seu serviço na enfermaria Santa Rosa do Hospital Santa Isabel. Lá chegando, Herul juntou-se aos colegas Francisco Porto, Achiles Leal, Orlando Farias, Pedro Paletot e a outros e formou uma equipe brilhante que modificou todas as técnicas cirúrgicas daquela época. Tal foi o seu brilhantismo que o Professor Edrise o convidou para ser seu Assistente na Cadeira de Clinica Cirúrgica, na Faculdade de Medicina da Paraíba. Com o falecimento do titular, em 1956, Herul assumiu a Disciplina com brilhantismo e dirigiu até o ano de 1990, quando se aposentou. Mas não ficou aí a vida de Herul. Era um lutador, pensou então em fazer Cirurgia Plástica e em 1967, já casado, voltou ao Rio de Janeiro e durante um ano freqüentou o serviço do Professor Pitangui, com brilhantismo e com dedicação.


Voltou à sua terra, dedicou-se aos seus estudos e então, surgiu verdadeiramente a Cirurgia Plástica na Paraíba. O Currículo de Herul é um Currículo invejável. Foi Diretor do SANDU, Secretário de Prefeituras, tomou parte em várias bancas examinadoras, freqüentou os Congressos, apresentou trabalhos em todos os Congressos Estaduais da Paraíba, representou o Estado em vários Congressos, enfim o seu Currículo é um Currículo invejável. Estas, realmente são as qualidades positivas e invejáveis de Herul. Porém, eu lhe peço para falar alguma coisa da nossa vida social do nosso tempo de solteiros, nessa tradicional e querida cidade de João Pessoa. Em 1954, quando aqui chegou, Herul era um rapaz bonito, moço, elegante, estimado por todos e querido por todas as moças da cidade. Namorou com quase todas as moças prendadas e ricas da cidade, porém não resistiu à beleza e elegância de Marilene Cartaxo com quem casou. Casaram-se e constituíram família. Hoje tem um lar cheio de filhos e netos. Realmente, essas são as virtudes do grande amigo e companheiro de sempre Herul Holanda de Sá. Apesar de suas experiências e seu trabalho de dedicação à Medicina, Herul acredita, ainda, que os sucessos da Medicina foram poucos e os insucessos persistem por toda vida. Por isso foi sempre um profissional dedicado e cuidadoso. Muito obrigado. São essas as minhas palavras.


09/05/1991 

Elogio ao Patrono: Dr. JOÃO TOSCANO GONÇALVES DE MEDEIROS Cadeira nº 19 Por: Dr. Herul Holanda de Sá

PERFIL DO PROF. JOÃO GONÇALVES DE MEDEIROS Meus senhores, minhas senhoras, autoridades e nobres acadêmicos. Transponho afinal o Augusto Pórtico desta casa. Antes, porém, que alcançasse o seu recinto, tolhiam-se os passos da emoção do iniciado, o borborinho das vozes que daqui de dentro me chegavam aos ouvidos. Afligia-me os andrajos da minha indumentária intelectual. Envergonhava-me da mercê que vou receber sem lauréis que a consagram, sem títulos que a justifiquem, sem o ouro e a púrpura da inteligência e da cultura, que a nobilitem, mas só e só premiado e acolhido em vossa companhia pela indulgência que cativa e a amizade que, cega de nascença, tudo explica e perdoa. Assim diria o Dr. João Medeiros, no discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, à cadeira do Dr. Álvaro de Carvalho, para a qual foi eleito em 1954 e que infelizmente, por motivo alegado de falta de tempo, não foi realizada. E por nunca ter sido e não fique perdida no tempo e no espaço tão bela alocução é que aqui a transcrevo. Parece até redundância falar sobre o Dr. JOÃO MEDEIROS a qualquer auditório paraibano e, como diz o Dr. OSIAS GOMES: o admirável JOÃO MEDEIROS ou JOÃO sem jaça. Que o Divino me ilumine nesta noite festiva para que eu possa reviver o prof. JOÃO MEDEIROS, dissertando sobre a beleza de sua obra, após tê-la analisado em grande parte, podendo agora vos dizer, que não sabia quem era o prof. JOÃO MEDEIROS e hoje sei quem ele foi. O prof. não teve tempo para ser imortalizado de fato pelo acervo cultural deixado. Nasceu JOÃO MEDEIROS na ainda cidade da Paraíba, na Rua Direita, hoje Duque de Caxias, 19 de dezembro de 1902. Filho de Francisco Eugênio Gonçalves de Medeiros e Tereza Amélia Gonçalves de Medeiros, tendo como irmãos: Jacinto Toscano Gonçalves de Medeiros e Tereza Gonçalves de Medeiros. Casou-se com MARIA EUN1CE LONDRES, de tradicional família, aos 31 anos, nascendo do consórcio, Jacinto e João Medeiros Filho, hoje profissionais brilhantes da medicina. Formou-se pela Faculdade e Medicina da Bahia em 1928. Fez uma brilhante carreira. Ainda como acadêmico representou a classe junto à Caravana Médica Brasileira nos Países do Prata. Concluído o curso médico, fez especialidade em Pediatria, em São Paulo. Seu primeiro emprego na Paraíba foi na Companhia de Tecidos Paulistas, como chefe do Serviço Médico Sanitário.


Foi médico da Assistência Pública Municipal e, em 1930, filia-se a National Geografic Society of Washington. Também sócio-correspondente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Representou o Estado na lª Conferência Nacional da Criança. Foi, em seguida, escolhido Assistente de Pediatria da Maternidade Municipal da Paraíba e eleito Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado. Começa trabalho de pesquisas sobre o raquitismo e seus aspectos nosológicos. Estudioso no campo da Medicina, publica a conclusão de suas pesquisas em várias revistas científicas e edita monografias, tais como: Problemas do Ensino Médico e da Educação, A Paraíba e o Sentido de sua Vocação Histórica, Mortalidade Infantil e Defesa a Nação, A Medicina através dos Tempos, Introdução ao Estudo da Pediatria, O Mundo Atual e a Formação do Homem, e muitas outras mais. Ligou-se também à educação e princípios sanitários, incorporando-se ao Governo do Interventor Ruy Carneiro, como Inspetor Sanitário Escolar. Dr. JOÃO MEDEIROS, por sua cultura e inteligência privilegiada, torna-se orador e conferencista em quase todas as cerimônias e conclusões de cursos. Foi paraninfo de várias turmas concluintes, como o Colégio N.S. das Neves, Liceu Paraibano, Escola Técnica do Comércio, Escola Santa Emília de Rodat e a maioria das turmas concluintes da Universidade da Paraíba. Médico conceituado e respeitado, era um incansável e denodado profissional, atendendo a todos por igual, ricos, remediados e, principalmente, o pobre carente, durante várias gerações. Talvez tenha sido o precursor do uso das estufas na medicina, não com aparelhos modernos, mas improvisando-os com gazes e algodão, envolvendo as crianças prematuras, conseguindo faze-las sobreviver. Além de médico renomado, enveredou pelos caminhos da educação. Foi um dos fundadores e incentivador da Faculdade de Medicina da Paraíba, sendo nomeado Professor Catedrático da Clinica Pediátrica. Também Vice-Reitor da UFPB em 1956, e posteriormente sucessor do reitor José Américo de Almeida. Fundador e professor da cadeira de Pediatria e Puericultura da Escola de Enfermagem da UFPB. Representou o Conselho Universitário na justificação da federalização da Universidade da Paraíba. Em Paris, como delegado brasileiro, fez parte do Centro Internacional da UNESCO, no XIV Congresso de Pediatria de Língua Francesa. Como médico da Delegacia Regional do IPASE, foi pelo Departamento de Puericultura daquela instituição, distinguindo com o título de Funcionário Padrão. Em reconhecimento público por sua gloriosa e vitoriosa trajetória de vida, foi dado seu nome ao Instituto de Puericultura da UFPB, como também a menção de Honra ao Mérito pelo Governo do Estado. Agraciado com o Título de Cidadão Benemérito pela Câmara Municipal de João Pessoa e pela UFPB em sessão magna do CONSEPE, foi consagrado Professor Emérito. Em vida e após sua morte, recebeu da imprensa, de intelectuais e amigos as merecidas homenagens. Faleceu em maio de 1974, aos 72 anos. O Dr. JOÃO MEDEIROS era constantemente solicitado para saudar a maioria das autoridades que por aqui aportavam, fossem militares, religiosas, políticas, intelectuais, etc. No dizer do Dr. Osias Gomes, "alguns o acusavam de susceptível, de brigão e de queimar-se por pouco, verniz muito à flor da pele na estirpe medeiriana. Mas o que se dava


era não consentir que mexessem nos esquemas de sua intransigente austeridade e no aferventado sentimento de responsabilidade uma vez assumida”. Foi assim que fez da vida uma obra prima, esvaziando-a de preocupações inferiores e enchendo-a de iluminação e amor. CURRICULUM Tendo um currículo invejável, bastante longo, e, para dar apenas uma amostragem, vou transcrevê-lo resumidamente: 1925 - Interno da Faculdade de Medicina da Bahia. 1927 - Como aluno, representou o Brasil nos Países do Prata. 1928 - Formado em Medicina na Faculdade da Bahia. 1929 - Médico da Assistência Pública de João Pessoa. 1930 - Eleito para o National Geografíc Society of Washington. 1931 - Assistente de Pediatria da Maternidade de João Pessoa. 1933 - Representa a Paraíba na lª Conferência Nacional da Criança. 1934 - Inspetor Sanitário Escolar. 1935 - Diretor da Inspetoria Sanitária Escolar. 1937 - Presidente do Sindicato dos Médicos. 1940 - Faz estudos para planificar os serviços de Assistência à Maternidade e à Infância. 1941 - Delegado do Estado em Congresso em Porto Alegre. 1942 - Diretor do Departamento Estadual da Imprensa e Propaganda. 1943 - Membro do Conselho Técnico da LBA. 1947 - Chefe da Divisão de Maternidade e Infância da LBA. 1948 - Saúda o Dr. Martagão Gesteira com o Tema: Um Grande Mestre da Medicina Brasileira. 1950 - Orador oficial da Coligação Democrática pró José Américo e Ruy Carneiro. 1951 - Representa em Recife, a Paraíba na V Jornada Brasileira de Puericultura. 1952 - Nomeado Prof. Catedrático da Clinica Pediátrica da Faculdade de Medicina da Paraíba. 1954 - Eleito membro da Academia Paraibana de Letras. 1955 - Médico Pediatra do IPASE. 1956 - Vice-Reitor da UFPB. 1957 - Reitor da UFPB. 1960 - Eleito membro do Conselho Universitário. 1962 - Integrante do Centro Internacional da infância da UNESCO em Paris. 1964 - Publica várias monografias. 1965 - Saudação ao Ministro da Educação Raimundo Muniz de Aragão com o título: Aqui se edifica a Pátria. 1966 - Paraninfo da Turma Concluinte de Médicos e Enfermeiros da UFPB. 1967 - Membro do Simpósio Internacional sobre Nutrição e Desordens Nutritivas no Rio de Janeiro. 1969 - Representa a UFPB no Seminário de Implantação do I Ciclo de Estudos Básicos e Vestibular. 1973 - Eleito e consagrado Prof. Emérito da UFPB. Humanista do melhor quilate, pois, na verdade foi tão profundo e tão despendido seu amor à infância de sua terra.


O Prof. JOÃO MEDEIROS era de uma humildade ímpar, revelada sempre que escolhido para saudar quem quer que fosse, ou em agradecimentos. Vejamos: Na posse do cargo de representante do MEC junto ao Conselho Universitário, assim começa o Dr. JOÃO MEDEIROS: "Venho a este ágape, acerco-me de vossa companhia, sento-me a esta mesa. com a unção da mais profunda humildade. E que ao espelhar-me em mim mesmo, só reflito a imagem de minha insignificância. E que, quanto mais me esforço por vencer as trevas de minha escureça, mais desencantado me sinto do pouco que consegui aprender”. Na Câmara dos Vereadores, agradecendo ao Titulo de Cidadão Benemérito, diz ele em certa parte do seu discurso: "Que haveria eu então de fazer em justificação retributiva de honra tamanha? Reunir os pingues atributos de um simples médico de crianças? Refleti por derradeiro, que vim a ser eu, desde os dias primeiros de minha escolaridade acadêmica até hoje que não mero aprendiz da área de tratar meninos? O mais antigo, com certeza, e o mais apagado, não há dúvida dos quantos praticam este ofício entre nós". A um médico geralmente não se pergunta sua religião, mas nas atitudes e pronunciamentos, descobre-se sua fé, pois aqui ou ali se trai e define-se: Assim foi no púlpito do convento de São Francisco, quando da visita do Padre Camille Tomand. No decorrer de sua saudação diz: "Monumento do passado, marco centenário da Religião Tradicional de nosso povo, São Francisco modesto como seu patrono, não morreu nem morrerá, porém, jamais, para quem realizou sob suas abóbadas e corredores, a contemplação de suas cerimônias religiosas, que influem tanta piedade e despertam, tão vivamente, caligem no íntimo de cada um de nós, a reserva da religiosidade acaso adormecida". E continuando define-se quando diz: "No largo cenário da vida, a investigação científica é obra de todos os dias, admira-se embora tão somente o formoso espetáculo da natureza, ou seja, a simples interpretação dos fenômenos sociais ou se rotula sob a rubrica de observação e experiência. Qualquer, porém, que venha a ser, depara sempre com o incontestável de que só uma vontade absoluta existe e esta é DEUS, a quem se deve o gênio admirável da criação, em cuja organização procura penetrar o homem extasiando-se na sabedoria suprema de sua elaboração milenária...". O Dr. JOÃO MEDEIROS possui muitos amigos e admiradores, que assiduamente freqüentavam sua residência. Gostava, outrossim, de encontros com amigos num bar para conversar e bebericar algumas. Muitas vezes, isso se dava nos fins de semana no Bar Phoenix, localizado na Rua. Peregrino de Carvalho com os amigos: Heitor Gusmão Santos Coelho, Otávio Lucena, entre outros. Aqui finalizo e peço perdão pelo tempo em que vos martirizei com minhas pálidas linhas, mas ao mesmo tempo vos agradeço esta oportunidade de compartilhar de vossa companhia porque sei que nesta Academia não se morre, pelo contrário, toma-se imortal. Muito Obrigado.


CADEIRA Nº Patrono:

03

EDSON AUGUSTO DE ALMEIDA

Data de posse: 17/08/1995 Ocupante: Augusto de Almeida Filho Saudação:

Maurílio Augusto de Almeida


17/08/1995 

Elogio ao Patrono: Dr. EDSON AUGUSTO DE ALMEIDA Cadeira nº 03 Por: Dr. Augusto de Almeida Filho

Já se vão alguns anos, quando fui, ainda bem jovem, procurado por figuras inseridas, indelevelmente, na história da medicina paraibana. Humberto Nóbrega, Antônio Dias, Higino Brito, Asdrúbal Oliveira embalavam a idéia da criação da Academia Paraibana de Medicina. Era o mesmo espírito arrebatado que, décadas atrás, os fizeram criar a Faculdade de Medicina. Com vibração, desejando seguí-los, integrei-me a esse movimento criativo, cabendo-me ocupar a cadeira que teve como patrono Edson Augusto de Almeida. Anos passaram; ansiedades outras levaram os meus pensamentos a diversas direções. Alguns daqueles que me envaideceram com o convite inicial, já se foram... Só agora chego eu, pedindo perdão pela demora, a fazer o elogio do meu patrono. Apesar da semelhança dos nomes, e de alguns traços de personalidade, não éramos considerados parentes, mas uma origem comum certamente tivemos, se remontarmos às raízes da família Almeida, surgidas em Portugal, entre 1223 e 1245, quando Fernão Canelas fundou a aldeia Almeida, que se integrou ao nome da família por ela gerada. Suas Origem Início do século. A usina Catende do Sr. Costa Azevedo, rugia as suas moendas, era a maior do país. Em torno dela desenvolveu-se uma cidade. Lá vivia o Dr. Antônio Leão de Almeida, casado com a Sra. Anna Cândida Leão de Almeida, que viriam a ser os avós matemos do nosso patrono. O Dr. Antônio Leão de Almeida, conhecido como o Dr. Tota, era médico, amigo íntimo do Sr. Costa Azevedo, e desfrutava de grande prestígio, pela sua correção profissional, acompanhando a comunidade, desde o acesso ao mundo até o passamento para a eternidade. "Deda", como era chamado Edson pelos irmãos, seguia os movimentos do avô, "Pai Tota", e encantado com o valor que o médico tinha, já dizia que iria palmilhar os mesmos caminhos. Seus avós paternos, Henrique Gomes de Almeida e Maria Augusta de Almeida, viviam em Canhotinho (PE). Tiveram como filho, Antônio Augusto de Almeida, que no primeiro decênio do século, contraiu núpcias com Nazinha Almeida, filha do "Dr. Tota". Vão morar em Canhotinho, exercendo atividades comerciais, em sociedade com irmãos; era uma cidade progressista! Lá nasceram Edson em 8 de outubro de 1911, e os seus irmãos Rômulo, Newton, Antônio e Lindalva. Na cidade havia grande acirramento político. Duas correntes confrontavam-se: os Dantas Barreto e os Rosa e Silva. Os Almeidas seguiam os Dantas Barreto. Em 26 de fevereiro de 1916, dois tios de Edson, Joaquim de Almeida, à época candidato a prefeito, e Oswaldo de Almeida em companhia do tabelião Morei, numa calorenta tarde, estavam sentados à calçada, quando foram atacados por pistoleiros, tendo


sido os três mortos (Esse fato está narrado no livro Canhotinho, notas sobre suas origens e evolução política, de Costa Porto). Após a tragédia, Antônio Augusto de Almeida, pai de Edson, resolve emigrar, vindo para a Paraíba, trazendo consigo, mulher, filhos, uma cunhada viúva e sobrinhos. Seu primeiro pouso foi Sapé. Passam breve período em Campina Grande e por fim se estabelecem em Cruz do Espírito Santo. Trazia uma carta de Costa Azevedo para o Dr. Flávio Ribeiro Coutinho, apresentando-o. Tornou-se grande comerciante, lá permanecendo até 1931. Na Paraíba, nasceram, José Augusto e Lua, a caçula. Assim, Edson se fez paraibano, pouco faltando para completar 5 anos. Passa a sua alegre infância na pequena vila, à margem do Rio Paraíba, ainda indomado, com as suas cheias destrutivas, mas com o atenuante das terras renovadas pelo húmus fertilizador. Vem para a capital, Parahyba, sendo internado no colégio Spencer. Fez os seus estudos preparatórios no Lyceu Paraibano, numa turma de dez alunos, da qual fazia parte Mário Moacir Porto, seu amigo íntimo e para sempre. O Médico Fez o seu curso médico na Faculdade de Medicina de Pernambuco, sendo diplomado em 1933. Foi interno da Cadeira de Clínica Dermatológica e Sifilográfica, entre 1929 e 1933, aonde inicia o seu aprendizado naquela especialidade. Teve como colega de turma Jorge Lobo, também dermatologista, que veio a ser mundialmente conhecido pelo descobrimento de uma blastomicose, que recebeu o seu nome, "doença de Jorge Lobo". Edson volta à Paraíba, como o primeiro dermatologista do estado. É designado para chefiar a Clínica Dermatológica do Hospital Santa Isabel, em 1934. É comissionado pelo governo do estado para estudar a organização dos serviços de Lepra, do Rio de Janeiro e São Paulo, entre 1935 e 1936, permanecendo como dermatologista do Departamento de Saúde Pública até 1947. Em 1938, foi eleito presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, fundando a revista "Medicina", que editou até 1945. Entretanto, o que mais marcou a sua vida profissional em nosso estado, foi a criação da Colônia Getúlio Vargas, O Leprosário, que dirigiu entre 1941 e 1947. Fundou também o Educandário Eunice Weaver, para o filho sadio dos lázaros. Na entrada do Leprosário, cunhou a frase "Aqui, renasce a esperança". Teve grande amor àquela instituição. Fez um cinema, levando filmes para aqueles segregados, emprestados por Múcio Wanderley. Em 1947, incompreensões, intrigas políticas, levaram-no a encerrar aqui suas atividades, deixando o nosso convívio, seguindo para o Rio de Janeiro. Faz-me lembrar Fernando Pessoa. "O rio de nossa aldeia é mais bonito, mas corre para mares alheios". A Paraíba perde um grande Médico. Estava sendo inaugurado o Hospital dos Servidores do Estado, considerado o melhor da América do Sul, à época, e a convite de Alcides Carneiro, presidente do IPASE, passa a chefiar a Clínica Dermatológica daquela instituição. O talento e as ótimas condições de trabalho lançaram-no ao mais alto nível da Medicina nacional. Foi membro da Comissão Diretora do Centro de Estudos daquele hospital e da Comissão de redação do seu Boletim. Foi organizador do primeiro Congresso de Dermatologia do Colégio Ibero-Americano, do qual era membro efetivo. Suas viagens em busca de aperfeiçoamento eram freqüentes. Fez cursos em Chicago, New York, Michigan e Minnesota. Publicou grande número de trabalhos. Foi um dos introdutores do "peeling", sendo entrevistado pela revista "O Cruzeiro", a mais lida, naquela época. Presidente da Associação Médica Brasileira, Presidente da Sociedade de Dermatologia do Rio de Janeiro e diretor do Sindicatos dos Médicos, daquele estado.


O Homem O que dizer da pessoa, do cidadão que foi Edson Augusto de Almeida? Era uma bela figura humana. Estilo cinematográfico, bigode bem feito, o "Clark Gable" no dizer de Juarez Batista. Elegante, destacava-se pelo esmero no vestir. Sóbrio, de postura invejável, mais para ouvir do que para falar. Homem de sensibilidade à flor da pele. A tragédia que o envolveu na infância, deixou marcas indeléveis na sua formação psicológica. Era um misto de alegria e tristeza, amalgamando o tipo caladão e apaixonado pelas coisas belas da vida. Amava os animais. Na casa da sua mãe, à Almirante Barroso, tinha um mini-zoológico com araras, macacos e muitos outros. Havia um lindo coelho branco, de olhos vermelhos, como se a chorar estivesse, que se chamava "Oswaldo". Oswaldo foi um dos tios, da tragédia. Casou-se com a moça mais bela da sua época, Babyne. Era um "chorão", olhava para Babyne e chorava ao vê-la tão bela, vestida nos seus longos, para desfilar nos "reveillons" do Clube Cabo Branco. Chorava, tocando ao violão "Lá Cumparsita". Chorava, abraçando e beijando as crianças do Preventório Eunice Weaver. Só os valentes têm coragem de chorar e se aliviam. Stanislaw Ponte Preta, humorista e chorão disse: "Um homem que não chora, tem mil razões para chorar". Havia um protético de família conhecida, musculoso, arruaceiro, mais hábil em artes marciais do que em confecções de dentaduras. Uma tarde, no Café Alvear, Edson insatisfeito com o que dele ouvia, desfechou-lhe um murro, deixando-o sem reação. Todas as tardes, lá estava no Clube dos Diários, à conversar com os seus amigos: Higino Brito, Ariosvaldo Espínola, Abelardo Jurema. Traços de boemia os faziam irmãos. Era leitor inveterado, amante do cinema, da dança e da música. Juntamente com Higino Brito, introduziu "o passo" do frevo pernambucano do mestre Capiba. Não teve filhos, era devoto de Nossa Senhora da Conceição; súplica à perpetuação da linhagem tão merecida. Faleceu a 7 de novembro de 1976, em São Paulo, no Hospital da Beneficência Portuguesa, após uma cirurgia cardíaca. O cirurgião que o operou, Adib Jatene, disse à sua esposa: "Este homem marcou pelo silêncio". Não havia conhecido a outra face do médico, cancioneiro, chorão e dançarino, que partia...


CADEIRA Nº Patrono:

24

JOSÉ SEIXAS MAIA

Data de posse: não empossado 1º ocupante: ISAIS SILVA Data de posse: 28/10/1999 2º ocupante: Evandro José Pinheiro do Egypto Saudação:

Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins


28/10/1999 

Saudação ao: Dr. EVANDRO JOSÉ PINHEIRO DO EGYPTO Cadeira nº 24 Por: Dr. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins

Excelentíssimo senhor Acadêmico Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, Muito Digno Presidente da Academia Paraibana de Medicina. Excelentíssimos senhores, demais autoridades componentes desta Mesa de Honra. Excelentíssimos senhores, membros outros desta egrégia Academia Paraibana de Medicina. Excelentíssimos senhores e senhoras, caros convidados, cujas presenças engalanam esta solenidade de investidura do novel Acadêmico. Excelentíssimos senhores e senhoras, prezados familiares do empossando Acadêmico a quem dirijo este justo tributo. E, por fim, porém na verdade, não mais que em princípio, meu caro Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, muito dileto amigo, colega de profissão, companheiro de devoção universitária e, a partir de hoje, com muita satisfação para todos nós, também confrade nesta Casa de Ciência e Humanismo. Somente os muitos laços estreitos de amizade que me ligam a você, Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, poderão talvez explicar a sua generosa e subidamente honrosa sugestão do meu nome para proferir a saudação oficial nesta solenidade. Especialmente levando-se em conta a minha condição de quase um neófito nesta Casa, diante de tantos outros ilustres Acadêmicos deste silogeu que, além da precedência em relação a mim. Certamente possuem bem mais qualificações para tão significante incumbência. Espero, todavia, que a minha inexperiência frente a uma tarefa de tão elevada responsabilidade possa ser ao menos contrabalançada, quem sabe, pela amizade e pelo acolhimento que devoto ao novel Acadêmico, o qual me honra sobremaneira ao me colocar aqui como seu "padrinho de apresentação". Prometo, entretanto, a todos os presentes que não gastarei muito do seu tempo com a tarefa de expressar aqui todos aqueles sentimentos de amizade e de acolhimento, já que minha função hoje é tão só e precipuamente a de "metteur-en-scène", não a de protagonista. Vejamos, pois, alguns argumentos abonadores daqueles muitos laços estreitos de amizade a que já me referi, assim como várias das afinidades que nos cercam. Para começar, já se vão pelo menos trinta e cinco anos desde quando vim a conhecer o meu amigo e colega Evandro José Pinheiro do Egypto, e um espaço de tempo de tal magnitude constitui parâmetro consideravelmente confiável para, ao longo do qual, se formar opinião sobre alguém. Além disto, faz já bons vinte anos que temos militado juntos no labor universitário do Departamento de Medicina Interna (DMI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ele na Disciplina de Reumatologia e eu na de Gastroenterologia. Diga-se inclusive que, ultimamente, nas mencionadas lides universitárias nossas posturas docentes e educacionais têm chegado a representar um estímulo biunívoco, particularmente nestes tempos bicudos por que passa o ensino superior


deste País, cujas autoridades competentes vêm se revelando muito pouco sensíveis à importância e à prioridade da boa formação profissional dos seus jovens. A propósito, não são apenas os laços afetivos que unem este gastroenterologista que vos fala àquele reumatologista que ouviremos logo a seguir, mas também os elos profissionais, pois, por assim dizer, a Gastroenterologia e a Reumatologia caminham “pari passu”. Que atestem esses elos os fármacos antiinflamatórios não esteróides e que os corroborem as conhecidas manifestações digestivas da esclerose sistêmica progressiva, bem como as manifestações ósteoarticulares da retocolite ulcerativa, da doença de Crohn ou ainda de determinadas hepatopatias crônicas. Como ilustração isolada de tudo isto, posso lembrar aqui que tive a honra de participar, juntamente com o Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, de uma mesa redonda sobre "Antiinflamatórios versus gastropatias na prática médica", realizada no dia 07 de junho de 1995, por ocasião de um Simpósio Interdisciplinar Sobre Antiinflamatórios Versus Gastropatias na Prática Médica, promovido pela Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição da Paraíba (SGNPB) e pela Sociedade Paraibana de Reumatologia (SPR). Nossas trajetórias afins de vida desde cedo se cruzaram e posso também lembrar aqui o fato de que o Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, embora tenha feito seu Curso de Medicina na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), concluído em 1970, e tenha aí iniciado este Curso no ano de 1965, obteve nesta mesma última data a aprovação simultânea no exame vestibular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (FMUFPE), exatamente a mesma Faculdade onde eu já então atingia os umbrais do terceiro ano médico. Nossas rotas continuaram concordes por essa época, se bem que de forma paralela e independente, pois, por exemplo, durante o seu Curso de Medicina o Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, veio a ser Professor de Química no Liceu Paraibano, enquanto este seu confrade também ensinou Química durante o seu Curso de Medicina, no Colégio Israelita Moisés Schwartz, na Cidade do Recife. Como não poderia ser diferente, é difícil tanto para um reumatologista como para um gastroenterologista deixar de dar atenção à participação da emocionalidade no complexo etiopatogênico de inúmeras doenças e, assim, é que no nosso caso temos ambos voltados a nossa atenção, ao longo do tempo, para a Medicina Psicossomática, que só enriquece a formação profissional médica. E agora, meu caro Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, pulando várias outras situações que exemplificam aqueles muitos pontos de contato que nos aproximam e muito me honram, mais um elo se acrescenta hoje a esta corrente de afinidades ao lhe receber nesta egrégia Academia Paraibana de Medicina, a qual fica mais enriquecida com as suas sobejas qualificações humanas e profissionais. De fato, são bastante conhecidas as qualificações bem como a sólida formação profissional do Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto, a qual não carece ser debulhada aqui. Entretanto, não será demasiado lembrar que, além da sua Residência Médica no Departamento de Clínica Médica, Reumatologia e Medicina Física da Policlínica Geral do Rio de Janeiro (Serviço do Prof. Pedro Nava e Hilton Seda), realizou mais três outros Cursos de Pós-Graduação em nível de especialização, um em Reumatologia (PUC-RJ), outro em Medicina Física e Reabilitação (PUC-RJ) e outro em Medicina Desportiva (UFRJ), além de vários outros cursos de aperfeiçoamento e estágios afins. Possui ainda o título de especialista em Reumatologia, conferido pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), bem como o título de especialista em Medicina Física e Reabilitação, conferido pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR). É ainda especialista em reumatologia e especialista em reabilitação, concursado em ambas as áreas, para provimento do cargo de médico do Instituto Nacional da


Previdência Social (INPS). Recebeu ainda o título de Assistente do Departamento de Clínica Médica, Reumatologia e Medicina Física da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, por proposição do Prof. Pedro Nava à respectiva Congregação. Como se pode ver, sua atuação profissional universitária ultrapassa com bastante folga os muros da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e os limites da própria Paraíba. Tanto é assim que ele também foi professor fundador do Curso de Educação Física da Universidade Institutos Paraibanos de Educação (UNIPÊ). Já na UFPB, ao lado das dezenas de funções e cargos por ele exercidos, ao longo do tempo, na qualidade de professor do Curso de Medicina do Centro de Ciências da Saúde (CCS) do Campus de João Pessoa, foi Coordenador da Residência Médica em Clínica Médica e Coordenador do Internato Médico em Clínica Médica, além de professor fundador do Curso de Educação Física e do Curso de Fisioterapia daquele mesmo Centro de Ciências da Saúde (CCS). Foi ainda professor do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da UFPB. Desde 1993 tem sido orientador de trabalhos de Iniciação Científica junto a alunos de graduação do Curso de Medicina e orientador de várias monografias de Médicos Residentes em Clínica Médica no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), da UFPB. Sua dedicação universitária o fez merecedor de inúmeras honrarias e homenagens por parte de muitas turmas concluintes dos Cursos de Medicina, de Enfermagem, de Fisioterapia e de Educação Física da UFPB, assim como do Curso de Educação Física da UNIPE. Atualmente, no topo da carreira universitária, na condição de Professor Adjunto, referência IV, é o Coordenador da Disciplina e Chefe do Serviço de Reumatologia do Curso de Medicina da UFPB. Campus de João Pessoa. Inúmeros são os trabalhos de pesquisa publicados e apresentados, em conclaves médicos especializados, pelo Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto. Conclaves estes, muitos dos quais de abrangência nacional, em que ele tem diversas vezes figurado na qualidade de convidado de inúmeros eventos com destacada participação ativa, o que só vem elevar o nome do nosso Estado no cenário brasileiro. Na atividade clínica privada foi fundador e é diretor do Instituto de Reumatologia e Fisioterapia da Paraíba (IRFPB), fundado no ano de 1976, onde presta assistência médica com notória proficiência, reconhecida pela população pessoense e paraibana. Fica assim muito evidente que o Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto conseguiu harmonizar muito bem as três características básicas que nós médicos muitas vezes procuramos integrar: o exercício profissional, o ensino e a pesquisa. A esta altura, ainda com uma longa esteira a trilhar, porém já naquela fase de ir colhendo pelo caminho palmilhado os frutos que semeou, o Prof. Evandro José Pinheiro do Egypto - graças aos seus abnegados serviços profissionais prestados às mais diversas comunidades deste Estado, serviços estes que inclusive o Instituto dos Cegos da Paraíba pôde perceber claramente, distinguindo-o com uma "'Homenagem Especial de Gratidão" vem também recebendo dos mais diversos segmentos da sociedade paraibana tocantes honrarias e distinções, de tal forma que, para não dizer mais, este Cidadão pessoense de nascimento também possui hoje os títulos de Cidadão Guarabirense e de Cidadão Espíritosantense. Diante disto, só me resta acrescentar mais uma frase que traduz a nossa quota-parte de reconhecimento: meu caro Evandro José Pinheiro do Egypto, você pode continuar sendo até do Egypto no nome, mas, a partir de hoje, você é também, para nossa alegria, da Academia Paraibana de Medicina.


28/10/1999 

Elogio ao Patrono: Dr. JOSÉ SEIXAS MAIS Cadeira nº 24 Por: Dr. Evandro José Pinheiro do Egypto

Exmo. Sr. Professor Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, muito digno Presidente da Academia Paraibana de Medicina. Exmo. Sr. Dr. José Soares Nuto, digno Secretário de Estado, representando o Sr. Governador do Estado da Paraíba. Exmo. Sr. Desembargador Dr. João Antônio de Moura, representando o Poder Judiciário do Estado. Exmo. Sr. Dr. Humberto dos Santos Gouveia, digno Presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba. Exmo. Sr. Prof. Dr. Gessé Gomes de Meira, digno Diretor Superintendente do Hospital Universitário, representando o Reitor da Universidade Federal da Paraíba. Exmo. Sr. Prof. Dr. Wilberto da Silva Trigueiro, digno Presidente da Associação Médica da Paraíba. Exmo. Sr. Prof. Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins a quem devo a honra da minha saudação, externada com a grandeza do seu alto espírito humanístico. Exmo. Sr. Prof. Dr. Carlos Augusto Steinbach Silva, digno representante da família do saudoso e imortal Professor Isaías Silva, razão honrosa de minhas palavras. Exmo. Senhores Acadêmicos, que constituem esta egrégia e seleta Academia Paraibana de Medicina, aos quais rendo-lhes o meu respeito, aos aqui presentes. Exmo. Senhores e Senhoras, dignos e diletos convidados para participar desta solenidade, cujas presenças muito a valorizam. Meus Senhores, Ao transpor os umbrais desta Egrégia Academia Paraibana de Medicina, para assumir a Cadeira número 24, sou possuído de profunda e natural emoção. Honra-me sobremaneira integrar-me a tão respeitável e seleto quadro associativo. Muito relutei, e refleti sobre o intento e o merecimento de submeter-me a uma apreciação por esta casa, mesmo consciente de ter alcançado ponderável maturidade, quer como médico, quer como professor, devo reconhecer que muito haveria ainda por fazer acima do que realizei nesses trinta anos. Porém, digo-vos que longo e árduo foi o caminho percorrido até aqui. Permitam-me então afirmar que, de muitas conquistas e realizações, várias delas certamente imerecidas, outras tantas creditadas à bondade de Deus. Neste momento, devo de público confessar a participação de dois relevantes estímulos que muito fortemente marcaram o intuito de vir a pertencer a esta nobre casa; levados a nossa pessoa por parte de dois grandes expoentes pertencentes a esta seleta entidade, me refiro ao imortalizado mestre. Eugênio de Carvalho Júnior, e a também imortal e consagrada mestra Maria de Lourdes Britto Pessoa, ambos, ex-presidentes desta Academia, aos quais rendo-lhes aqui nossas reconhecidas homenagens pelo que


representaram para minha formação profissional, muito nos honrando e engrandecendo com o fruto de suas amizades. Tenho recebido muitas distinções na minha vida de Médico e Professor, várias delas carregadas de grande enriquecimento pessoal. Entretanto, sem desmerecer o significado a que todas foram cercadas e nos proporcionaram, ao longo dos anos de labuta, devo reconhecer que, a que recebo neste instante, é a maior na vida de um médico, principalmente devido à escolha e o reconhecimento partir dos seus pares, muitos deles hoje na condição de colegas, porém antes nossos reconhecidos mestres e professores. Tal fato, nos induz a uma retomada de compromisso e responsabilidade pelo que representa esta investidura, ao convívio com figuras da maior grandeza da medicina paraibana, todos já aqui devidamente imortalizados. Senhoras e Senhores: Permitam-me fazer algumas reflexões, antes que proceda os elogios que me é devido, nas pessoas dos imortais Seixas Maia e Isaias Silva, respectivamente Patrono e Primeiro Ocupante da Cadeira de n.° 24, que doravante irei ocupar. Todo indivíduo ao escolher uma profissão tem o direito de se orgulhar dela, e de bem cultivá-la. Vou mais além, todo aquele que se define vocacionado, tem o dever de amar e defender o que faz, e por conseqüência saber bem oferecer a quem dela possa necessitar. A ciência e a técnica devem estar a serviço da pessoa humana. Assim sendo, deve o médico buscar acima de tudo ser um protetor da vida e da saúde, quaisquer que forem as circunstâncias. Medicina é uma escola de paciência e resignação diante do sofrer humano, requerendo para sua prática dedicação, bom senso e discernimento acima de tudo. A Medicina é a mais antiga das artes e a mais antiga das ciências, portanto no dizer do grande mestre Pedro Nava - "A Medicina precisa ser entendida como a mais humanitária das profissões, resultando em ser a arte e a ciência do conhecimento humano. Conhecer este ser vivo, é preciso penetrar nos sentimentos, na alma das pessoas, que muitas vezes se sentem doentes ou querem ficar doentes". Temos convivido com alguns descompassos dentro da Medicina, entre o que representa a Pesquisa Médica e a Medicina Aplicada, conquanto a primeira tenha alcançado extraordinário progresso no campo do diagnóstico instrumentalizado por avançados equipamentos; a segunda tem se arrastado com sérios percalços, resultante da imprescindível relação médico-paciente; desgastada em decorrência de problemas sociais e culturais onde se faz patente as perdas dos valores éticos, humanísticos e vocacionais tão necessários ao exercício da difícil e nobre profissão, consagrada pelo compromisso da responsabilidade, da bondade, do respeito, e do amor perante o ser humano, cada dia mais conflitado mental e socialmente. Os padrões de doenças e doentes têm se mostrado com fortes imbricações aos fenômenos sócioculturais, exigindo dos médicos noção mais elevada e realista da vida humana, impondo-se uma formação com base na Sociologia, na Antropologia, na Epidemiologia, na Bio-estatística, e até mesmo na Economia. Assim, mais do que nunca a Medicina não pode fixar-se estritamente ao corpo. Ela precisa conceber o ser humano no seu contexto mais abrangente bio-psico-sócio-econômico. Nessas circunstâncias, é preciso ter consciência do nosso papel social diante das sérias e graves perspectivas que se vislumbram, pois a cada dia tem se tornado mais difícil os custos para com a saúde, em todos os quadrantes do universo. Assistimos a fechamento de hospitais no mundo inteiro, quebram-se os planos de saúde, a indústria farmacêutica


avilta seus preços a todo instante para cobrir não só suas pesquisas, mas, acima de tudo, bancar seus abusivo marketing; muito tememos pelo panorama que se descortina. Pois a avassaladora explosão da tecnologia no âmbito da medicina e na saúde, como um todo, tem desencadeado uma crise sem precedentes, aliando-se a esta realidade os altos e crescentes custos dos medicamentos, distanciando-se do alcance dos mais necessitados, que representam expressiva camada da população. O saber médico tem sido indiscutivelmente o que experimentou, neste final de século, incomensurável desenvolvimento, mais que todos os outros segmentos. O problema é que esta evolução vem paradoxalmente se chocando com a disponibilidade dos recursos financeiros que crescem lentamente, e que são cada vez mais escassos. Se fazendo premente medidas de contenção, racionalização; priorizando-se por meios de critérios de necessidade, não tão somente médica mais também econômica. Precisamos afastar cada vez mais o fenômeno do desperdício, palavra chave no contexto moderno de se viver, pois do contrário estaremos sucumbindo em todos os segmentos da vida. Para que possamos pensar de forma mais coletiva, e menos individualmente, alargando-se os recursos disponíveis, dentro de uma concepção racionalizada de economia, maximizando custos e minimizando gastos. A despeito da revolução científica e tecnológica nunca antes evidenciada na história da humanidade, assistimos, com a globalização da economia, uma turbulência de conflitos, fracassos e tensões sociais, aprofundando a pobreza para grande parcela da população, vivendo-se um quadro emergente de males endêmicos e doenças infecciosas. Em um país continental como o nosso, possuído de tantos contrastes sociais, onde uma questão de saúde pode vir a ser menos prioritária do que a moradia, a alimentação e a violência; realidades tão presentes na conjuntura social, certamente são fatores de causas sobre muitos dos males existentes nos grandes contingentes humanos. Isso já se faz presente nas grandes potências econômicas, tornando-se crítica e acentuada no âmbito das realmente pobres, impondo-se profundas reflexões e mudanças. Infelizmente, estamos chegando a este final de século com uma sociedade totalmente vinculada a valores materiais, marcada pela acentuação das diferenças sociais, culminando com o abismo entre a pobreza e a riqueza. A grande transformação almejada deve ser centralizada nos recursos humanos buscando-se mudar os valores de todos aqueles que se achem situados no universo da sociedade. Nos induz a concordar com José Saramago, Nobel de Literatura, quando se refere á uma ética moral e humanista, a ser fundamentada no amor e no respeito ao próximo. No âmbito do ensino, adquirimos uma sedimentada experiência, vivenciada muito cedo, ainda em fase universitária, no ensino da Química Orgânica - juntamente com a Bioquímica - na condição de Monitor e, também, como Pesquisador do CNPq. Mais tarde já na condição de Graduado e Pós-Graduado, militamos na totalidade dos Cursos da área de Saúde, tais como: Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia e, mais densamente, no Curso de Medicina, onde ainda permanecemos nos dias atuais. Em todas as áreas aqui mencionadas procuramos fazer o melhor dentro dos limites permitidos, muito nos sacrificamos pela sobrecarga e pelo pioneirismo marcado na qualidade de fundador, notadamente dos cursos de Educação Física e Fisioterapia. De perfil enérgico e até intransigente para com o exercício desse difícil mister, temos consciência de jamais termos cometido injustiças. Imbuído no propósito, não só de ensinar, mas de formar e educar para valorizar a dimensão humana, fomentando o espírito crítico e ético dos alunos. Repensando Fernando Pessoa, poeta e pensador lusitano, na segunda estrofe de Mar Português, inquiriu e respondeu:


Valeu a pena? Tudo vale a pena. Quando a alma não é pequena... Quem quer passar além do bojador Tem que passar além da dor". Ao finalizarmos essas reflexões, me sinto obrigado a agradecer, sensibilizado, a saudação proferida com tamanha eloqüência e beleza que me fez o novel acadêmico Professor Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, expressão maior de cultura e dedicação universitária, intelectual respeitado, historiador perspicaz, homem de personalidade forte e séria para com tudo que realiza. A honra de sua saudação em nome desta Academia com a convicção de que suas palavras muito engrandeceram esta solenidade. Meus Senhores: Conforme preceitua as normas regimentais desta Academia, estarei agora com muita honra a proceder os elogios do Patrono da cadeira N° 24, Professor Doutor José Seixas Maia, e a seguir ao Prof. Dr. Isaias Silva, imortal e primeiro ocupante fundador desta casa. José Seixas Maia: Médico, Professor e grande empreendedor da Medicina na Paraíba.

Nasceu José Seixas Maia, no dia 18 de julho de 1887, realizando seus estudos básicos e fundamentais, em 1904, imigra à Bahia para tornar realidade seu grande ideal ser Médico, onde se diplomou pela tradicional e histórica Faculdade de Medicina da Bahia, situada no Terreiro de Jesus, a pioneira das Escolas de Medicina do nosso querido Brasil, em 18 de dezembro de 1909. Em 1910, já como Médico e Professor de Química do antigo Colégio dos Irmãos Maristas, Pio X, edificado em área conexa a Igreja e Convento de São Francisco, marcavam o início de suas atividades em nossa capital Parahyba, assim denominada na época. Em 29 de setembro de 1914, realizava seu matrimônio com Elisa Gama e Mello, união da qual nasceram quatro filhos: Milton, Elisabeth, Newton e Enjoiras. Destes, ainda com vida se acha Elisabeth Gama Seixas Maia, domiciliada em Salvador, capital da Bahia, a qual registro meus devidos e honrosos agradecimentos pelas informações fornecidas. Aqui, entre nós, em João Pessoa, temos as Médicas e Professoras Simone Seixas Maia e Rossana Seixas Maia, mãe e filha, como descendentes genéticas do igualmente Médico e Professor Seixas Maia. De espírito idealizador em todas as grandes causas ligadas a Medicina na Paraíba, teve participação decisiva na edificação do Hospital Santa Isabel da Santa Casa da Misericórdia, o qual, além de se tornar a mais importante estrutura hospitalar de nossa cidade, se destacou como centro de referência tanto no âmbito assistencial quanto no educacional como hospital-escola. O Dr. José Seixas Maia foi o idealizador da criação de uma Sociedade Científica na Paraíba, juntamente com o saudoso Dr. Lourival Moura, fundada a 16 de Março de 1924, com a denominação - Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba - a qual funciona hoje neste prédio, como Associação Médica da Paraíba, instituição essa, responsável pela mudança na vida médica de nossa cidade, pois nascia ali um foro de reunião e discussão para tratar dos vários temas científicos e culturais, numa melhor ordenação da medicina como um todo, além de emprestar relevante papel perante os órgãos públicos e


autoridades, influenciando muitas das importantes decisões ligadas à saúde pública e privada do estado. O Dr. Seixas Maia, além de ser o orador oficial da instituição por ele criada, atuou como Secretário e mais tarde, em 1930-1931, ocupou a sua presidência, em cuja gestão foi erguida a edificação que hoje nos abriga, conforme atesta o professor Oscar de Castro em seu livro intitulado "Medicina na Paraíba". Participou ativamente dos primeiros contatos para criação da Faculdade de Medicina na Paraíba, onde foi seu fundador juntamente com tantos outros pioneiros em tão marcante fato histórico. Tendo sido o primeiro Professor de Química Fisiológica, área na qual tinha grande identificação. Mais tarde foi professor de Oftalmologia. Prestou relevantes serviços ao Hospital Santa Isabel como médico e diretor, bem como ao Instituto de Proteção a Infância. Notabilizou-se como Secretário de Saúde no (governo do Dr. Flávio Maroja). Vindo a falecer em 09 de julho de 1962, com 75 anos de idade. Em agosto de 1981, foi agraciado com o título de Honra ao Mérito (in memoriam).


28/10/1999 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. Isaias Silva Cadeira nº 24 Por: Dr. Evandro José Pinheiro do Egypto

Dando prosseguimento aos ditames regimentais, faço agora o justo e merecido elogio a outro notável e imortal Acadêmico. Refiro-me ao primeiro ocupante e fundador da Cadeira N.° 24, Dr. Isaias Silva. Isaias Silva: O Médico, O Dirigente, O Professor, O Político, O Intelectual. Isaias Silva, filho de Geni Rocha e Silva e de Basílio Silva, nasceu em 16 de setembro de 1914 na cidade de Sousa - sertão paraibano - cidade onde realizou seus primeiros estudos básicos. Mais tarde, nos meados dos anos 30, segue para a Bahia para ingressar na tradicional Faculdade de Medicina, tendo-se formado em 1939. Radicando-se logo após sua formatura no município de Pombal-PB. Onde construiu um hospital, tendo sido o pioneiro como profissional da medicina naquela cidade. Durante mais de uma década o Dr. Isaias fez história como profissional dos mais respeitáveis na região geográfica que compreende Sousa, Patos, Catolé do Rocha e Pombal. Nesta época, como médico, era eclético, atuando como Clínico e Cirurgião Geral. Porém já demonstrava forte inclinação para a Otorrinolaringologia e Oftalmologia, desenvolvendo também com habilidade atividades de Laboratorista, Radiologista e Anestesista, levado pelas circunstâncias sociais impostas, à época , ao médico do interior. Em meados dos anos quarenta, ingressa na política influenciado pelos primos João Agripino, José Marques da Silva Mariz e Américo Maia, bem como o seu velho pai, Basílio Silva. Sendo eleito Deputado Estadual, pela UDN, na Constituinte de 1947. Neste seu primeiro mandato foi líder do Governo Osvaldo Trigueiro e, no segundo mandato, foi líder da oposição, também pela UDN, frente ao governo de José Américo de Almeida, exercendo marcante atuação, de forma vigilante e combativa, sem jamais curvar-se ao poder e a força do então governador. Mas o caráter e os ideais de Isaias Silva estavam bem acima dos meandros e acomodações da política, levando-o desistir definitivamente de sua militância na mesma. Em 1953-54 Isaias já não cabia mais como Médico do Sertão, onde submete-se a Concurso Público para médico do IAPC, logrando aprovação em 1° lugar, levando a transferir-se para a capital, onde passa a dedicar-se tão somente à medicina e ao magistério. Já em 1955 teve sua indicação para Chefe de Clínica Otorrinolaringológica, da Faculdade de Medicina, sendo o 1° Professor na citada Disciplina, ao lado do professor Cassiano Nóbrega, conforme registro do Conselho Técnico Administrativo de 16.06.1955, da mencionada instituição. Na década de sessenta passa também a atuar como Médico credenciado do IPASE e IAPI, já atendendo em seu consultório particular como Otorrinolaringologista. A despeito do seu perfil varonil, e de seu pulso forte nos mais diferentes cargos que ocupou, era o homem Isaias possuidor de acurada sensibilidade pelas letras e pelas artes, sendo um cultivador da literatura universal dos mestres Goethe, Anatole France, Honoré


Balzac, Proust, Dostoievski, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, entre os mais apreciados, tendo em Humberto de Campos como maior cronista da língua portuguesa, conforme abalizado e realístico depoimento de sua filha e admiradora, Professora Márcia Steinbach Silva Kaplan. Outra grande paixão era pela música erudita, representada por Chopin, Brahms e Beethoven, cujas peças para piano gostava de ouvir executadas por sua primeira esposa, Marieta Steinbach Silva, eximia pianista, que trocou sua brilhante carreira, em Salvador, para acompanhá-lo em seu retorno à Paraíba. Esteve à frente de vários cargos, foi secretário de Saúde no Governo de Pedro Gondim, de quem era amigo inconteste e grande admirador, desde os tempos em que ambos eram deputados estaduais. No âmbito da Previdência Social esteve como Coordenador de Assistência Médica e Superintendente, no então INPS, no início dos anos setenta, onde imprimiu excepcional trabalho de expansão a nível de assistência médica, quer no âmbito ambulatorial da instituição que dirigia, quer no credenciamento de profissionais, Clínicas e Hospitais. Não menos relevante foi sua passagem no âmbito universitário, pois além de atuar como primeiro professor de Otorrinolaringologia, da Faculdade de Medicina, sendo alçado a Professor Titular já na federalização da universidade. Tendo ocupado a Chefia do Departamento de Cirurgia, em dois mandatos. Esteve à frente de várias Comissões para mudança do currículo do curso médico e participou de inúmeras Bancas examinadoras em universidades outras. Na qualidade de membro da comissão de implantação do Hospital Universitário, empreendeu viagem a Alemanha, a fim de conhecer e avaliar sua rede hospitalar, preparando-se para emitir parecer sobre importação de material médico cirúrgico, em missão oficial pela Universidade Federal da Paraíba. Vindo a se aposentar em 1985, beirando os setenta anos recolhendo-se ao merecido descanso, de uma vida marcada por extrema labuta, nos mais distintos campos que atuou, sempre com a sua marca da impetuosidade e bravura. Assim pôde, mergulhar de forma mais profunda e tranqüila nas suas leituras tão afeitas à sua personalidade, assim como ao deleite da boa música clássica, bem compartilhada com a Dra. Maria Dalva Machado Silva, com quem casou-se em segunda núpcias, médica ginecologista bem atuante em nossa cidade, parte integrante nessa nossa justificada homenagem. Em 09.07.94 partia para seu descanso eterno, deixando oito filhos, vinte e um netos e nove bisnetos. Devo aqui registrar, por força de uma velha amizade, adquirida no âmbito da vida universitária, do seu filho e renomado especialista. Professor e Dr. Carlos Augusto Steinbach Silva, razão maior de orgulho de seu pai, por tão bem saber dar continuidade à obra do grande mestre Isaias Silva. Minhas Senhoras e Meus Senhores: Aqui finalizo minha participação nesta solenidade, admitindo tenha sido prolongada, porém muito honrosa para a minha pessoa, na razão dos personagens aqui enfocados. Finalmente quero dividir este momento com aqueles que mais de perto conosco compartilharam os bons e o maus momentos, em primeiro plano a minha querida esposa Maria das Graças Soares do Egypto, por sua expressão de verdade; aos meus filhos, Danielle, médica como sua mãe, a certeza do seu vocacionado e singular talento, ao André, Bacharel em Ciências Jurídicas, por seu tirocínio na carreira que abraçou, a Ana Karina, universitária de Administração, por sua inteligência e personalidade. Aos meus irmãos Edivaldo, modelo maior de médico e grandeza humana; Everaldo, Engenheiro Civil vinculado à área de saneamento, por sua ponderação e capacidade; ao


Edilson, também médico como nós Dermatologista, por sua alta qualificação profissional; ao Edmilson, por sua inquietitude naturalista; Evalda, de formação em Enfermagem e Biblioteconomia, de preocupante atuação na área da saúde; Elisabeth e Eliane, Bibliotecônomas atuantes no serviço público, e por fim a mais velha e dedicada mana Evanilda, pelo extremo desvelo familiar de que é possuidora. Minha reconhecida e justa admiração, de forma particular, a cada um deles. Aos parentes e familiares, a gratidão por suas importantes presenças. Aos amigos e colegas de labuta profissional, por valorizarem este acontecimento; em particular a Silvino Chaves, por me permitir a iniciação na Reumatologia e a Severino Cartaxo pelo mútuo respeito e convívio. E a tantos outros que tornar-se-ia difícil aqui enumerá-los. Devo ainda, como forma de eterna gratidão, evocar a memória dos meus pais, José Gonçalves do Egypto, por seu amor à família e ao trabalho, e a Adaliva Pinheiro do Egypto, por sua preocupação de mãe, ao tio-padrinho, Médico - Isaias Gonçalves do Egypto, por sua valiosa ajuda na minha educação. Meus caros e ilustres confrades que fazem esta honrosa Academia Paraibana de Medicina, agradeço-vos por me receberdes em vossa casa, a qual possamos, mercê de Deus, saber bem dignificá-la dentro do espírito que a rege - Ciência e Humanismo. Muito obrigado a todos.


CADEIRA Nº Patrono:

37

TITO LOPES DE MENDONÇA

Data de posse: não empossado 1º ocupante: ATTÍLIO LUIZ ROSSINI ROTTA Data de posse: 25/11/1999 2º ocupante: Wilberto Silva Trigueiro Saudação:

Orlando Ávares Coelho


25/11/1999 

Saudação ao: Dr. WILBERTO SILVA TRIGUEIRO Cadeira nº 37 Por: Dr. Orlando Álvares Coêlho

Professor Wilberto Trigueiro; Sem dúvida, foi por demais honrosa a escolha feita entre tantos, para nesta noite de grande brilho, saudá-lo pelo seu ingresso na Academia Paraibana de Medicina. Esta oportunidade tão gratificante se reveste de uma grandeza maior para mim, levando em consideração ser você, Wilberto Trigueiro, uma pessoa cuja amizade eu desfruto e, ainda, ter sido, continuamente alvo de minha admiração e respeito. Respeito, pela boa qualidade moral de que, como médico, é possuidor. Admiração, pela inclinação de seu espírito, no sentido da prática do bem. Conheço-o dos bancos universitários. Sua conduta estudantil demonstrava o interesse e dedicação pelo aprendizado da arte médica, fato que pressagiava a imagem do profissional que hoje representa na comunidade onde pontifica. Responsável nos seus atos, criterioso e ético em suas atitudes, enseja a deferência dos seus pares. Não excedo em minhas afirmativas, pois são estas qualidades proclamadas pelos seus colegas, no convívio do dia-a-dia em seu mister. O perfil do médico é delineado ao longo dos anos, desde o seu tempo de estudante. Na Universidade, absorve conhecimentos científicos. A ética, que lhe é peculiar, advém de uma educação doméstica esmerada. Ninguém aprende a ser educado nos bancos escolares. Este aprendizado é especificidade do convívio no lar, responsabilidade dos pais. O professor Wilberto Trigueiro foi um dos contemplados. A certeza desse meu testemunho prende-se à circunstância de ter eu conhecido sua genitora; tive a graça de ser o seu médico. A senhora Celecina em sua forma de ser — postura discreta, educada no tratar, prudente em suas palavras - bem demonstrava o cabedal transmitido aos seus filhos. Os métodos educacionais são frutos de uma época e de circunstâncias do momento. Não é por acaso ou sorte que você, Wilberto, tem o posicionamento profissional privilegiado que desfruta. Seus méritos visíveis e virtudes incontestáveis representam o que você absorveu no recesso do lar. São pilares desta bela edificação que é você. Filho do Sr. Otávio Marinho Trigueiro e da Sra. Celecina Silva Trigueiro, nasceu nesta cidade, em 2 de abril de 1947, na Maternidade Cândida Vargas. O obstetra participante do evento foi o Dr. Napoleão Laureano, de saudosa memória. Foi batizado na Catedral Metropolitana (hoje Basílica de Nossa Senhora das Neves), tendo como padrinhos o Sr. Otoni Barreto e Eulália da Costa Barreto. Na época, seus pais residiam na Rua Desembargador Souto Maior, local em que permaneceu até completar dez anos. Posteriormente, mudaram-se para a Avenida Duarte da Silveira, onde Wilberto residiu até contrair matrimônio. Teve um irmão: o Jorge Alberto, hoje, conceituado anestesista. A educação deles foi austera. Rigidez maior para com Wilberto, levando-se em consideração ter sido o primogênito. Quando saíam em suas andanças noturnas, tinham horários irredutíveis para


retornar. Não havia possibilidade de justificativas pouco convincentes. O receio da punição fazia com que a pontualidade fosse à britânica. O cumprimento era ponto de honra. A infância transcorreu como de todas as crianças. Era calado, pouco expansivo e não gostava de brincadeiras. Estes atributos diferenciavam-no de seu irmão, comunicativo e extrovertido. Apesar de terem temperamentos diferentes, eram e são bastante unidos. Wilberto não era traquinas nem tinha vocação para alpinista de árvores e muros. Suas diversões eram jogar futebol, jogar botões e pedalar a bicicleta. Gostava de jogar xadrez, tendo sido campeão norte-nordeste, em equipe, representando a Paraíba. Ainda hoje bate bola aos sábados e, quando o tempo lhe sobra, pega na raquete para jogar tênis. De fato sempre foi um desportista, inclusive torcedor juramentado do Flamengo. Fez o curso primário na Escola Particular Professora Maria Adelina Barbosa, tendo-o concluído em 1957. Repetiu o terceiro ano a fim de obter a idade necessária para se submeter ao exame de admissão. Cursou o ginasial (hoje primeiro grau), no Colégio Pio X, na Praça da Independência. Tendo-o terminado em 1961. O Científico (segundo grau), cursou-o no Colégio Estadual, o Liceu Paraibano, até o ano de 1964. Foram seus colegas de turma no primário e ginásio: Marcos Souto Maior, Everaldo Soares Júnior, Francisco de Paula Barreto, Rinaldo Silva, Humberto Espínola, entre outros. No Científico: Manoel Jaime Filho, José Ari Gadelha do Amaral, Beltrão Castelo Branco e Tyrone Soares. No Liceu: Geraldo Beltrão, Ivan Guerra, Quinídio e Manoel Cavalcante foram seus professores. Notas altas deram margem a que obtivesse várias medalhas de honra ao mérito. Mesmo com todo o interesse e dedicação aos estudos, Wilberto gostava de festas. Freqüentava o Cabo Branco e Astréa, em suas noitadas. Dizem as más línguas que embora caladão, discreto em suas conversas, era sonso. Atentem para o verbo no tempo passado. De família católica, comparecia às missas dominicais. Diga-se que, de fato, havia uma necessidade espiritual. Muitas vezes, por obrigação. Sua tendência vocacional foi influenciada pelos exemplos de profissionais que teve a oportunidade de conhecer quando lhes freqüentava os consultórios: Dr. João Toscano Gonçalves de Medeiros e o Dr. Giuseppe Orlando de Paula Marques. Ainda contribuíram para este desiderato os doutores Eugênio de Carvalho Júnior e Humberto Carneiro da Nóbrega. Admirava a todos e - quem sabe? - alimentava desejo de imitá-los. Havia, ainda, uma assertiva de sua genitora: carreiras de grande futuro são: Medicina e Engenharia. Os dois irmãos decidiram-se pela primeira opção. Em 1965 submeteu-se aos exames vestibulares em Recife e João Pessoa. Foi aprovado nos dois, sendo que aqui, na Faculdade de Medicina da UFPB, foi classificado em primeiro lugar. Logo cedo ainda, procurou agregar-se a um serviço médico. Por intermédio do Sr. Genival Guerra, fundador da COPEAI (Hospital Padre Zé), passou a freqüentar aquela instituição. Relata que sua primeira cirurgia foi uma amputação de membro inferior. Era o nascimento do cirurgião. Atividades Acadêmicas    

Monitor concursado da disciplina Farmacologia, da Faculdade de Medicina da UFPB, de 1968 a 1970. Acadêmico estagiário mediante concurso, do Hospital do Pronto Socorro de João Pessoa, permanecendo como plantonista de 1968 a 1970. Acadêmico estagiário da Maternidade Cândida Vargas (João Pessoa), no Banco de Sangue, e plantonista do serviço de obstetrícia de 1968 a 1970. Acadêmico estagiário da disciplina Clínica Propedêutica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da UFPB, de 1968 a 1970.


 Estágio na Fundação de Saúde Pública em Alagoa Grande-PB, em 1970. Desde o terceiro ano de medicina, começou a trabalhar com o professor Augusto de Almeida no Hospital Santa Isabel, ao qual tece elogios e agradecimentos pelo que aprendeu em técnica cirúrgica. Permaneceu acompanhando-o até o sexto ano. Trabalhou com o Dr. Cícero Pereira no Pronto Socorro Municipal, chegando a ser chefe dos acadêmicos. Ainda trabalhou com o Dr. Orlando Farias, em cirurgia geral e com o Dr. Hamilton Cavalcanti, em obstetrícia, nos plantões das quartas feiras, na Maternidade Cândida Vargas. Além de tudo isso, o Professor Wilberto faz referências elogiosas aos ensinamentos recebidos do Dr. Ferdinando Paraguai, na especialidade de anestesia. Compareceu a jornadas e congressos ainda como acadêmico, apresentando trabalhos e relatando casos. Em 1970 foi graduado. Juntamente com ele, dentre outros colegas de formatura, os nomes de Josvaldo Atahyde, Teotônio Montenegro, Reginaldo Tavares de Albuquerque e Valdir Bahia Luna. Surgia uma vida nova, plena de expectativas. Em 1965, durante os jogos universitários, conheceu a Srta. Janeide Aranha Pinto, aluna do curso de bioquímica, filha de Sigismundo Borges Aranha e Marieta Pinto Aranha, já falecidos. Caminharam neste namoro durante seis anos, casando-se no dia 31 de dezembro de 1971, na Catedral Metropolitana. O oficiante dessa união foi o padre Fernando Abath (hoje Monsenhor). Tiveram quatro filhos: SILVANA, oftalmologista, residente do HOPE, em Recife; ALEXANDRE, cirurgião, cumprindo residência no Hospital Universitário, em cirurgia geral; RICARDO, advogado, e MARIANA, que se submeterá ao vestibular de farmácia este ano. Neste particular, acrescenta o Professor Wilberto que não teve influência sobre a vocação dos filhos. Em 1971 e 1972 cumpriu residência médica no Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital Estadual Jesus, no Rio de Janeiro, chegando a ser residente chefe. Ainda em 1972, fez o curso de Administração Hospitalar, na Escola Médica de Pós Graduação da PUC, no Rio de Janeiro. Retornou a nossa cidade, fixando residência na Rua Ariosvaldo Silva, n° 973, onde permaneceu três anos. Depois, mudou-se para a Rua Evaldo Wanderley, n° 731, onde reside até hoje. Sua inclinação para cirurgia infantil foi determinada pela leitura de livros específicos, pertencentes ao Dr. Paulo Germano Furtado. Dedicou-se de corpo e alma a especialidade, enveredando pelo estudo detalhado das más formações, direcionando suas atividades para as relacionadas com o aparelho urinário. Tornou-se um expert no assunto. Retornando da residência, passou a desenvolver suas atividades cirúrgicas no Hospital Infantil Paula Marques, no Hospital Infantil Rodrigues de Aguiar, no Hospital Infantil João Soares e na Assistência Médica Infantil da Paraíba (AMIP). Nesta última, concentrou seus trabalhos. Foi preceptor da Residência em pediatria e chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica. Sempre contou com absoluto apoio de seus diretores, doutores Werton e Anleida Roque. Cargos e atividades docentes na UFPB   

Professor-assistente voluntário da disciplina Cirurgia Infantil do CCS - UFPB, 1973 - 1974. Professor-auxiliar de ensino, concursado, da disciplina Bases da Técnica Cirúrgica, no CCS - UFPB, 1973 - 1974. Professor-auxiliar de ensino, concursado, da disciplina Cirurgia Infantil do CCS UFPB, 1977 - 1981.


   

Preceptor de Cirurgia Pediátrica na Residência Médica de Pediatria da UFPB desde 1977. Professor-assistente da disciplina Cirurgia Infantil do CCS-UFPB, 1981-1985. Chefe da Divisão de Ensino, pesquisa e extensão do Hospital Universitário da UFPB, 1994 - 1997. Presidente do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital Universitário da UFPB, desde 1997. Atividades profissionais atuais

   

Professor Adjunto IV do CCS - UFPB. Cirurgião Pediátrico do Ministério da Saúde. Preceptor dos Internos e Residentes do CCS - UFPB Diretor Médico da Clínica de Cirurgia Infantil da Paraíba Ltda. Participação em entidades científicas e defesa profissional

       

Presidente da Associação Médica da Paraíba, eleito e empossado este ano, para o biênio 1999 - 2001. Presidente da Sociedade Paraibana de Cirurgia Pediátrica. Presidente do Comitê de Ética em Pesquisa do HU. Membro associado da Sociedade Brasileira de Pediatria. Membro associado do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Conselheiro efetivo do Conselho Regional de Medicina da Paraíba. Presidente de Honra da Sociedade Paraibana de Pediatria. Membro associado da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O Dr. Wilberto Trigueiro apresenta em seu Curriculum uma participação constante em congressos e jornadas: conferências, palestras e presença efetiva em mesas redondas e sessões de temas livres. O volume de seus trabalhos nos eventos aludidos e o número de artigos publicados em revistas especializadas, tornam absolutamente impossível citá-los. Sua produção científica reflete a grande experiência e segurança técnica na área da cirurgia pediátrica. Bom seria que pudéssemos enumerá-la, mas a exigüidade do tempo não o permite. Em 1974, juntamente com os doutores César Nóbrega e Paulo Germano Furtado fundaram a Clínica de Cirurgia Infantil, na qual posteriormente ingressou o Dr. José Paulo Sarmento. Há vinte e cinco anos que a referida Clínica presta significantes serviços cirúrgicos à nossa cidade e - por que não dizer? - à Paraíba e Estados vizinhos. O professor Wilberto Trigueiro é o diretor médico da Clínica, acumulando as funções de diretor financeiro. Existe entre os participantes um relacionamento de ótimo nível, embora algumas vezes as opiniões sejam conflitantes, o que é natural. O resultado final é caracterizado por um denominador comum. Disseram-me que, como responsável pelas finanças, é considerado um "mão fechada". Dinheiro, para ser solto, é filtrado. Este procedimento fez com que a Clínica crescesse com segurança financeira, chegando à situação em que hoje se encontra. E admirado por todos quantos o reconhecem como um bom administrador. Embora suas atividades profissionais e administrativas, absorvam todo ou quase todo o seu tempo, ainda reserva um espaço para usufruir de uma boa leitura e deleitar-se com uma boa música. Admira Paulo Coelho e Jorge Amado, sendo que deste último


conhece toda a obra. Na música erudita, Bach, Beethoven e Vivaldi têm sua preferência. Os Beattles, Chico Buarque, Milton Nascimento e outros lhe agradam de forma especial. Relembra um tema musical com certo carinho: "New York New York", na voz de Frank Sinatra. Distinta Assembléia, estas palavras sem ornatos, dizem um pouco da vida do nosso doutor Wilberto Trigueiro. Ele concentra qualidades excepcionais, a bondade e a técnica. E hoje, quando recebe mais uma dádiva da vida e o triunfo se percebe atado às suas mãos, ele, com grandes méritos, ingressa nesta Academia, trazendo uma contribuição inestimável. Esta é uma noite de pompa, uma noite que se consolida na beleza deste momento, mas que, temos certeza, promete muito mais, por tudo quanto esperamos do novo acadêmico. Bem vindo seja professor Wilberto Trigueiro. Orlando Álvares Coêlho


25/11/1999 

Elogio ao Patrono: Dr. TITO LOPES DE MENDONÇA Cadeira nº 37 Por: Dr. Wilberto Silva Trigueiro

Meus Senhores e Senhoras: É com muito orgulho e emoção que, a partir de hoje, torno-me membro desta Casa tão sábia e acolhedora, onde terei o privilégio de, doravante, conviver com pares tão ilustres que, não bastasse terem sido personagens fundamentais na composição da história da Medicina Paraibana, continuam a honrá-la e a dignificá-la ainda nos dias atuais. Tal satisfação é exaltada a partir da percepção de que muitos de seus constituintes foram meus ex-professores do curso médico, concluído há quase três décadas, o que demonstra todo o amor e doação destes verdadeiros servos lenitivos, à ciência hipocrática, dotados de uma integridade humana e profissional digna de ser "clonada" e implantada naqueles que estão apenas engatinhando na árdua, mas real missão de mitigar ou curar o sofrimento do próximo. Agradeço a estes senhores, antes de tudo, pelos ensinamentos a mim oferecidos, os quais procurei assimilar, exercendo com ética os princípios que norteiam a ciência médica, sempre respeitando o paciente, com toda a dedicação que exige a mais social e sublime das profissões. Tenho consciência da responsabilidade e dos compromissos que assumo. Prometo, com humildade e respeito, seguir as normas e o estatuto desta Academia, procurando não desapontar os meus distintos companheiros desta egrégia comissão julgadora, os quais aprovaram meu modesto currículo, cujo parecer foi emitido pelo Prof. Jacinto Londres de Medeiros. Um carinho especial a Dra. Maria de Lourdes Britto Pessoa, ex-presidente desta Casa, médica de uma bondade extraordinária, que com competência e um enorme coração, recheado de gestos humanos e grandiosos, sempre estimulou-me a fazer parte deste seleto grupo. Este momento será para mim inesquecível visto ser, o reconhecimento ao meu passado e ao meu presente, período durante o qual, embora tenha acrescido uma modesta contribuição à nossa medicina, jamais deixei-me enganar pelo que se passou, mas sim, serve-me de forte estímulo à procura de futuras metas e realizações. Este ano está sendo de muita relevância para minha vida. Recentemente fui conduzido à Presidência da Associação Médica da Paraíba, cargo temporário, porém, que muito me enobrece na missão de conduzir os seus destinos e cumprimento de seus reais objetivos, com a mesma dignidade dos que me antecederam. Contudo, ocupar a cadeira de número 37 desta Academia Paraibana de Medicina tornar-se-á, para mim, um acontecimento permanente, indelével e dos mais expressivos, que certamente engrandecerá minha vida profissional, enchendo de alegria meus familiares e aqueles que privam da minha amizade. Permitam-me os senhores tecer algumas rápidas considerações, antes de saudar os médicos Tito Lopes de Mendonça e Attílio Luiz Rotta. Como estudante, enveredei-me pelos caminhos da cirurgia, acompanhando os grandes mestres e acadêmicos Augusto de Almeida Filho e Orlando de Farias, os quais


reverencio neste momento. Resolvi então dedicar-me à cirurgia pediátrica, especialidade que exerço com muito amor, pois passados todos estes anos de profissão, comove-me ainda, a recuperação cirúrgica de um recém nascido portador de anomalia grave, e ver o sorriso de alegria da mãe ao amamentar este mesmo ser recuperado, apto a uma vida normal. O cirurgião pediátrico tem características próprias, pois ele lida com toda a família, procurando contemporizar os sentimentos dos pais, tios, avós, e parentes próximos, sendo na minha ótica o mais humano e sensível dos que exercem a especialidade cirúrgica. Será que vemos nestes pequenos pacientes uma extensão de nossos filhos? O cirurgião paulista João Gilberto Macksoud, em seu recente livro da especialidade, afirma que "as crianças portadoras de afecção cirúrgica, razão de nossos esforços e de nossas emoções, nos surpreendem todos os dias, estimulam nossos espíritos, nos ensinam a humildade e aceitam nossos erros". Sou apologista da medicina arte, onde um bom exame físico pode até substituir um de alta complexidade. Não que seja contra o desenvolvimento tecnológico e sua aplicação na medicina. Pelo contrário, o faço com freqüência desde que o caso exija, mas é necessário do médico uma atenção maior ao doente, entender melhor seu corpo e suas emoções, e estabelecer uma forte relação ética médico-paciente e não máquinapaciente. Infelizmente, muitos alunos e jovens médicos estão seguindo por este caminho sombrio, que distorce a verdadeira medicina, a qual deve ser ética, digna e sacerdotal, necessitando de dedicação espontânea, muito trabalho e sacrifícios, acompanhados, muitas vezes, de vigílias, ingratidões e injustiças. Ela deve ser exercida plenamente e de forma ininterrupta, não podendo ser compartilhada com profissão paralela. Do médico exige-se constante atualização e meditação perante os novos e freqüentes avanços, para que se possa acompanhar o rápido desenvolvimento da ciência. A luta pela dignidade profissional e do orgulho de ser médico, é uma tarefa conceituai e impalpável, porém eterna e duradoura como a própria medicina, a qual possui profundo sentido humano, social e político, exigindo dele, participação plena. A sociedade está convulsionada por todo um conjunto de mudanças, preparando-se para o próximo milênio. O que será exigido dos futuros médicos? É um momento para reflexões, formação de novas diretrizes e 10 desenvolvimento de ações práticas no campo do ensino da saúde. Ser professor Universitário é o meu orgulho maior, pois orientar jovens estudantes e futuros colegas, e estar próximo a eles estimula-me como educador, fazendo-me sentir um eterno estudante. É certo que, nos encontramos distantes de uma situação ideal no tocante ao ensino médico, pois o mesmo deve ser sólido, abrangente e humano. Independente do modelo de ensino existente, o professor permanece como figura fundamental na formação do profissional de saúde. Não basta a ele o simples domínio da ciência médica, mas deve atuar como facilitador do aprendizado e ser um exemplo pelas suas atitudes e ações. Assim expressou-se Sir William Osler - "Em meu túmulo, coloquem como epitáfio que ensinei a estudantes de Medicina nas enfermarias, pois este foi sem dúvida o trabalho mais útil e importante que desenvolvi". Apesar do desrespeito das autoridades federais com o ensino superior, especialmente com o ensino médico, só o idealismo e o otimismo me fazem pensar num futuro promissor. Que os pares desta Academia ajudem-me sempre a pensar assim e que minha presença nesta Casa, seja para mim um forte estímulo, calcado nas palavras de Winston Churchill: "Os sonhos mantêm aceso o fogo sagrado em nossos corações. Eles são a seiva da vida. Nós envelhecemos não porque o tempo passa, mas principalmente, porque abandonamos os nossos sonhos". Neste instante, permitam-me prestar uma homenagem aos meus pais, especialmente a minha querida mãe, presente neste recinto e em todos os instantes de minha vida, nunca


medindo esforços para orientar o melhor caminho a seus filhos. Ao meu irmão Jorge Alberto, anestesiologista pediátrico por excelência, presença constante nas salas de cirurgia, incentivador nos momentos difíceis, de cujo sucesso profissional dependo diretamente. A minha esposa Janeide, companheira de todas as horas, encorajando-me diuturnamente a enfrentar os incômodos percalços da vida, meu eterno reconhecimento. Aos meus quatro filhos, razão maior do meu viver, cujas alegrias e felicidades agem como um catalisador da minha paz interior, e que eles assimilem os exemplos daqueles que compõem este templo do saber. Aos meus colegas de profissão e amigos pelo estímulo, confiança e credibilidade que em mim depositam, incentivando-me a prosseguir nesta minha trajetória. A Maria Emília Rotta, meu muito obrigado, pois com muita paciência e amor de filha, abriu o livro da família, para que eu pudesse declinar a vida do seu pai, o Prof. Attílio Rotta. Ao acadêmico e sábio historiador João de Brito Moura, que muito contribuiu para este momento, os meus sinceros agradecimentos. Ao concluir esta introdução, ainda encontro-me sensibilizado com as palavras generosas do nobilíssimo acadêmico Orlando Álvares Coelho, meu ex-professor e colega do Departamento Materno Infantil da UFPB, excelente profissional, homem admirado e querido por todos, pelo seu caráter e dignidade, cujas palavras a meu respeito, dizem bem de sua benevolência e ética na profissão que abraçou. Antes, porém, de saudar o médico Attílio Rotta, farei o elogio devido, ao patrono da cadeira de n° 37, o Dr. Tito Lopes de Mendonça. Tito Lopes de Mendonça nasceu em 1901 em João Pessoa, estudando com brilhantismo no Liceu Paraibano, após cursar o primário na escola do velho professor Barroso, na antiga Rua da Carioca, atual Praça Aristides Lobo. Concluiu o curso médico aos 22 anos de idade pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo estagiado em diversas clínicas cirúrgicas. Possuidor de espírito ávido do saber, estudioso e investigador, procurava aperfeiçoar-se, chegando a estagiar em cirurgia geral na cidade de Paris. Começou a exercer a profissão em nossa cidade em 1925. Oscar de Castro, no seu livro Medicina na Paraíba enfatiza que "Dr. Tito reuniu na brevidade de sua existência, o máximo de dedicação à especialidade que abraçou, tendo sido um interessado pelas coisas médicas da Paraíba". Foi fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, atual Associação Médica, tendo recebido a medalha de Honra ao Mérito em 1930. Prestou serviços como médico urgentista à Assistência Pública (atual Pronto Socorro Municipal). Instituiu uma verdadeira revolução operatória na Paraíba, sendo o precursor da cirurgia geral calcada em bases técnico-científicas. Trabalhou no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, logo que aqui chegou, com médicos do quilate de Seixas Maia, José de Sousa Maciel, Edrise Villar, Antônio d'Avila Lins e Lauro Wanderley. Premiado pelo seu enorme talento, passou a chefiar o serviço de cirurgia geral - setor feminino, enquanto o Dr. José de Sousa Maciel era o responsável pelo setor masculino, sendo sucedido pelo competente cirurgião Dr. Antônio d'Avilla Lins. E a ele atribuída a primeira cirurgia cesariana realizada no nosso Estado. Infelizmente, sua curta passagem por esta vida, certamente, dificultou o rápido progresso médico da nossa região. Jovem ainda, foi vítima de tuberculose pulmonar, vivendo por alternâncias de desenganos e esperanças. Por ironia do destino aquele brilhante cirurgião faleceu aos 33 anos de idade vítima de complicações pós-operatórias na cidade de São Paulo. Seus parentes próximos são o professor e biólogo Carlos Ovídio Lopes de Mendonça e a intelectual Clélia Lopes de Mendonça, aqui residentes, na nossa cidade.


25/11/1999 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. Attílio Luiz Rossini Rotta Cadeira nº 37 Por: Dr. Wilberto Silva Trigueiro

Meus senhores e senhoras: Conforme preceituam as normas desta Casa no seu Artigo 5°, irei proceder, com muita honra, a saudação ao membro fundador da Academia Paraibana de Medicina, o Professor Doutor Attílio Luiz Rossini Rotta. Após concluir com brilhantismo o curso Médico pela famosa Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, localizada na Praia Vermelha, no dia 25 de junho do ano de 1939, o recém formado Attílio Luiz Rotta encontrava-se na antiga capital federal, quando em reunião social foi apresentado ao então Governador do Estado da Parahyba, Dr. Argemiro de Figueiredo. Este impressionou-se pelos conhecimentos gerais, rapidez de raciocínio, facilidade de expressão e entusiasmo daquele jovem médico e logo o convidou a vir trabalhar na pequena e acolhedora João Pessoa. Perplexo por aquela convocação inesperada, imediatamente surpreendeu o governador dizendo em tom de blague "irei se for para ganhar mais que o senhor". Aquilo que parecia brincadeira tornou-se real e no final de 1939, o Dr. Attílio Rotta desembarcou em nossa cidade, onde enraizou-se e constituiu toda a sua trajetória gloriosa, quer como homem e pai de família, quer como profissional médico e professor universitário. Attílio Luiz Rotta: O homem e a família Attílio Luiz Rotta nasceu em 30 de setembro de 1910, na cidade de Amparo no Estado de São Paulo. Filho mais novo de Daniel Faustino Rotta e Luíza Rossini Rotta, ambos italianos, ele da região da Lombardia e ela da região de Veneto. Vieram jovens para o Brasil em meados de 1886. Posteriormente se conheceram e se casaram em São Paulo, resultando dessa união 11 filhos, sendo 4 homens e sete mulheres. O mais jovem era Attílio Luiz Rotta que teve uma infância curta na sua cidade natal, pois logo cedo, seus pais o mandaram para a progressista cidade de Campinas, onde cursou o primário, ginásio e o científico. Sempre que os estudos permitiam, e especialmente na época das férias deslocava-se para Amparo, a fim de rever os pais e usufruir das delícias da fazenda onde moravam. Logo cedo declinou uma paixão especial pela raça eqüina, além do que, cavalgar era um dos seus passatempos preferidos. Entretanto, seu sonho maior era ser médico, pois desde cedo, nutriu dentro de si o desejo maior de servir ao próximo. Foi assim que, após concluir com brilhantismo seus estudos em Campinas-SP, mais uma vez teve que ausentar-se do convívio familiar. Por uma decisão conjunta com os pais foi cursar Medicina na melhor Faculdade do país, naquela época, que era a do Rio de Janeiro. Como acadêmico, foi estagiário do Hospital Escola Gaffré Guinle-RJ, tendo participação intensa e diversificada nos serviços de clínica médica, ginecologia e obstetrícia.


Foi ainda plantonista do Hospital São João Batista da Lagoa, da antiga capital federal. Como estudante de Medicina, dedicou-se com afinco à patologia clínica, pois gostava de trabalhar em laboratórios, quer no diagnóstico de doenças clínicas, quer no minucioso exame microscópico das doenças infecto-contagiosas, na época tão comuns e de difíceis tratamentos. Foi daí que surgiu seu interesse pela microbiologia. Após a conclusão do curso médico em 1939, e devido às circunstâncias do destino, passou a residir na sua querida João Pessoa, quando conheceu e apaixonou-se pela bonita jovem Maria das Neves de Athayde, que a conheceu na casa de Dr. Lourival Moura, em 7 de junho de 1940, situada à Rua Juarez Távora, atual Monsenhor Walfredo, n° 309. Casaram-se em 25 de janeiro de 1941, tendo ido residir inicialmente na casa pertencente ao seu sogro, coronel Alfredo Athaíde, situada à Rua Tabajaras, esquina com a Av. Camilo de Holanda. Pouco tempo depois, construiu sua casa na Av. Epitácio Pessoa, nela morando até transferir-se para Av. Cabo Branco, onde viveu o resto de sua vida. De seu matrimônio nasceram os filhos Maria Luíza de Athayde Rotta, Maria Lúcia (falecida com 2 meses de vida), Daniel Rotta (economista, falecido ainda solteiro em 1987), Maria Helena Rotta Soares, casada com o engenheiro Luís Carlos Rangel Soares e residindo em MarylandUSA e Maria Lúcia Rotta Viegas, casada com Oliwalter Viegas, engenheiro, que mora no Rio de Janeiro. Teve 11 netos, Geraldo e Germano Guedes Pereira, ambos engenheiros, George e Pedro Guedes Pereira, médicos, Paulo Guedes Pereira, advogado, Ana Luíza Soares, advogada, residente em Madrid e com curso de Direitos Humanos na Universidade de Washington-USA, Ana Helena Soares, psicóloga pela Universidade de Maryland-USA e Márcio Rotta Soares, estudante de Medicina em Buenos Aires - Argentina. Os netos restantes são Daniel, engenheiro, Bruno, economista e Leonardo, estudante, frutos da união de Oliwalter Viegas de Oliveira com sua filha Maria Lúcia. Attílio Rotta foi um pai de família exemplar, pois sempre tinha o coração aberto e o sorriso nos lábios para sua esposa, seus filhos, como também para seus inúmeros amigos. O médico e professor. Uma vez aportado na nossa terra, logo foi trabalhar na Secretaria de Saúde do Estado, substituindo o médico Aquiles Escorselli, sanitarista do Ministério da Saúde. Passou a residir numa pequena pensão na Av. Juarez Távora, juntamente com os senhores Ernane Cunha, Jorge Cunha, Abelardo Jurema, Manuel Figueira e Paulo Montenegro. Sua capacidade de trabalho foi prontamente reconhecida ao ponto, de alguns meses depois, ter sido convocado a assumir a chefia geral do Serviço de Bacteriologia da Secretaria de Saúde, tal a dedicação que logo no período estudantil, demonstrou por esta área da Medicina. Foi também analista clínico de várias instituições como IPASE, SESC, INDUSTRIÁRIOS, sendo nomeado chefe do laboratório da Maternidade Cândida Vargas da LBA. Em 1944 foi convocado para servir o Exército Nacional na 2ª Guerra Mundial, como 1° tenente médico, pelo Presidente do Brasil General Eurico Gaspar Dutra, obrigação cívica honrosa, para a qual foi dispensado face ao grave estado de saúde que se encontrava sua segunda filha. Tal liberação deveu-se à intercessão da Srª. Miosotes Costa, amiga de sua esposa e secretária particular do Presidente. Entretanto, seus deveres com a Pátria foram cumpridos de outra forma, pois através de concurso assumiu o posto de 1° Tenente Médico da Polícia Militar, alcançando o patente de Tenente Coronel Médico. Trabalhou, na ocasião, com colegas e amigos médicos de alto nível, como Edrise Vilar, Asdrúbal de Oliveira e Roberto Granville. Posteriormente, o comandante e general Ivo Borges da Fonseca, tornar-se-ia médico e seu amigo particular.


Seu laboratório de análises clínicas, inicialmente, era localizado à Rua Peregrino de Carvalho, em cima do Foto Lyra, defronte à sede social do Esporte Clube Cabo Branco, ao lado do ex-cinema Rex, e dividia o consultório com seu amigo, médico pediatra, João Soares da Costa. Depois transferiu-se para um prédio que ele mesmo construiu e que tinha seu nome, localizado à Rua Miguel Couto, esquina com a Av. Visconde de Pelotas, no lado oposto ao do Hospital de Pronto Socorro Municipal, onde também trabalharam Jarbas Maribondo Vinagre, Afrânio Branco, Moacir Melo Lulla, João Soares, Roberto Granville e João Batista Mororó, lá permanecendo até o instante que deixou a medicina privada. Em meados de 1940, durante a semana da Pátria, foi acometido de peritonite por apendicite aguda supurada, doença gravíssima para a época, sendo operado no Hospital da Polícia Militar pelo médico Edrise Vilar, que apesar das adversidades realizou com maestria o ato cirúrgico, utilizando todos os recursos disponíveis, drenando a cavidade abdominal e nela colocando grande quantidade de sulfa em pó, salvando-lhe sua vida. Certamente as graças de Deus permitiram a total recuperação daquele jovem médico. Attílio Rotta, era homem de excelente humor, leal, extremamente ético e grande orador, predicados que exornavam sua marcante personalidade, além de extremamente prestimoso com os colegas e pessoas de sua amizade. Não tolerava injustiças. Sua sinceridade o fez tornar-se querido na classe médica, tendo se aliado a um grupo de professores idealistas como, Arnaldo Tavares, Antônio Dias dos Santos, João Soares, João Medeiros, Edrise Vilar, Lourival Moura, Lauro Wanderley, Humberto Nóbrega, Danilo Luna, Asdrúbal M. de Oliveira, Maurílio Almeida, Antônio d'Avila Lins, Orlando de Farias, Oscar de Castro, José Clementino de Oliveira, Bezerra de Carvalho, Ozório Abath, entre outros, quando participaram ativamente da fundação da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia no dia 25 de março de 1950, neste mesmo local, outrora designada Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, em sessão presidida pelo Professor Humberto Nóbrega. Tal fato foi registrado no Jornal A União ao descrever "despertou, como era de se esperar, o mais vivo contentamento nos nossos meios culturais e científicos, pois veio concretizar, sob bases sólidas e à luz de elevados propósitos, antiga e justa aspiração da mocidade de nossa terra." A partir daquele momento Attílio Rotta passou a dedicar grande parte de seu tempo, juntamente com outros colegas abnegados, à organização e concretização da Faculdade de Medicina, que passou a funcionar em 15 de março de 1952, onde foi professor fundador da Cadeira de Microbiologia, sendo, posteriormente, professor titular (ex-catedrático) daquela disciplina. Foi muito honroso para mim ter sido seu aluno em 1966, e toda nossa turma tinha interesse por suas aulas, pois aquele professor de forte sotaque paulista, às vezes com palavras italianas, além de demonstrar conhecimento abordava as doenças infecto-contagiosas, especialmente as doenças sexualmente transmissíveis, tão comuns e temidas no baixo meretrício. Exigia dos alunos os ensinamentos adquiridos do livro de Micro-biologia do autor Otto Bier, condição indispensável para a aprovação. Porém um dia ele fugiu àquela regra. Foi quando um aluno repetente por diversos anos, mais uma vez nada respondeu à prova oral, por absoluta falta de conhecimentos, por mais que o Professor Attílio Rotta


tentasse facilitar a sua aprovação. Então, ele pediu ao aluno que encontrava-se trêmulo e desconfiado: "abra o livro de Otto Bier na página 76 e leia devagar para eu ouvir". Após a conclusão da leitura, olhou para o estudante e disse: "está aprovado, agora não diga que passou pela minha disciplina sem ter aberto e lido o livro". Este era o mestre Attílio, de atitudes muitas vezes inesperadas. Admirado e querido pelos alunos, foi paraninfo da turma de médicos de 1959, quando, em seu discurso de conteúdo profundo, proferido no dia 5 de dezembro daquele ano, no Teatro Santa Roza, afirmou, "O homem, ao se tornar médico, deixa de se pertencer, de pertencer a si próprio, para pertencer à humanidade e tornar-se patrimônio da sociedade em que vive". Homenageado por diversas vezes, porém recusou, juntamente com o Prof. Francisco Porto, a homenagem dos formandos de 1963, que com outras turmas instauraram greve geral na Faculdade de Medicina, com acusações ao corpo docente. O professor Attílio Rotta foi incisivo e disse em sua missiva: "Ainda ressoam em meus tímpanos a vozeria pitiática, a atoada dos doestos lançada em plena rua contra minha reputação". Attílio Rotta foi diretor da Faculdade de Medicina no período de 1967 a 1970 após constar em lista tríplice juntamente com os professores Antônio Dias dos Santos e Alberto Cartaxo, sendo seu vice, o professor Efigênio Barbosa. No seu discurso de posse afirmou: "dos seus propósitos de bem servir à Faculdade, encaminhando o ensino médico a novos rumos e procurando solucionar os problemas mais angustiantes, quer no campo material, quer no campo humano, que muitas vezes dificultam e até mesmo prejudicam o próprio ensino". Nesta ocasião, além do reitor em exercício, o Prof. Guilhardo Martins Alves, que congratulou-se com o ex-diretor, o Prof. Lauro Wanderley e o diretor empossado, falou ainda o Prof. João Toscano Gonçalves de Medeiros, que congratulando-se com o Prof. Attílio Rotta e a direção anterior disse "que a hora era de exaltação ao sol que nasce, mas não poderia deixar de servir também de um olhar de saudade e de reconhecimento ao sol que se punha". Attílio Rotta fez uma administração profícua como diretor da Faculdade de Medicina, e na sua gestão foi criado o Departamento de Promoção da Saúde, que levava o doutorando ao interior da Paraíba em estágio de 30 dias, num conveio firmado pela UFPB com a Fundação SESP. Eu era doutorando e dirigi-me a cidade de Alagoa Grande, e nossa turma passou a despertar para os problemas biológicos, sanitários e sócio econômicos do nosso Estado. No ano de minha formatura, em 1970, o Professor Atílio Rotta era o diretor da Faculdade de Medicina e foi ele quem me outorgou o diploma de médico, naquela noite memorável de 21 de dezembro. Representou o Magnífico Reitor Guilardo Martins Alves, por diversas vezes, em reuniões no Rio de Janeiro e São Paulo como também em Seminários de Educação Médica em Brasília, em 1970. Participou em Goiânia de importante debate sobre "Vinculação e Interação das Faculdades de Medicina e Hospitais Universitários" e fez visita de estudos sobre saúde pública em Universidades americanas, por 2 meses, em 1971. Proferiu inúmeras conferências, ministrou vários cursos sobre hematologia e microbiologia, e participou de bancas examinadoras em concursos para professores da UFPB. Coordenou diversas mesas redondas e trabalhos de pesquisa, especialmente sobre a incidência de meningite no Estado da Paraíba. Em abril de 1971, foi autorizado pelo reitor em exercício, Prof. Serafim Rodrigues Martinez, para representá-lo na feira da Indústria Alemã em São Paulo. Foi, ainda, coordenador do Instituto Central de Ciências Biológicas da UFPB, e ao deixar mais esta missão, foi elogiado pelo Prof. Haroldo Escorei Borges, que ressaltou "a eficiência e tirocínio com que ele desenvolveu suas tarefas". Foi ainda


coordenador do Ensino Integrado do Projeto de Novas Metodologias Aplicáveis ao Ensino Superior. Em 9/10/1980, a contragosto, foi-lhe concedida aposentadoria compulsória pelo então reitor Berilo Borba. Galego Attílio, assim era chamado, carinhosamente, por seus muitos amigos, como João Soares, Clóvis Beltrão, Luciano Morais, João Medeiros, Edrise Vilar, Isaías Silva, Everaldo Soares, Miranda Freire e outros que o admiravam pela sua sinceridade e coragem. Seu grande amigo e confidente, o médico Antônio Queiroga Lopes, que freqüentava sua casa ainda estudante, sendo posteriormente seu médico particular, afirma: "Era um homem inteligente, de personalidade forte, possuidor de uma memória privilegiada, comunicativo e de posições muito definidas". Por tudo que foi o mestre Atílio, e o que para mim representou, bem como para meus sócios e amigos, aos quais tenho grande apreço, César Nóbrega e Paulo Germano Furtado, foi o nosso convidado especial para cortar a fita simbólica da inauguração da nossa Clínica de Cirurgia Infantil, há 25 anos, situada à Av. Maximiano de Figueiredo, 94, e que até hoje lá permanece, e na sua oração naquele momento de júbilo ele enfatizou: "Aqui estarão as raízes da cirurgia pediátrica paraibana". Procuramos não decepcioná-lo, querido professor! Sua vida social era bastante intensa. Foi diretor social do Esporte Clube Cabo Branco e Presidente do Conselho, tendo trazido à nossa cidade orquestras como a de Tommy Dorsey e Cassino de Sevilha. Adorava dançar e cantar tango. Foi ainda presidente do Rotary Clube. Era torcedor do Palmeiras e detestava jogo de cartas. Por não gostar de vida sedentária passou, após a aposentadoria, a freqüentar com mais assiduidade sua granja na cidade do Conde e intensificou sua dedicação à construção civil com seu amigo Dante Záccara e o engenheiro Oswaldo Fontes, edificando obras públicas no interior do Estado. Ainda teve tempo a dar sua contribuição ao SUS de Jaguaribe, auxiliando o médico Luciano Henriques. Em 1990, aos 80 anos, para saudade de todos, partiu para um mundo certamente melhor, mas seu comportamento como amigo, médico e educador ficará na memória daqueles que o conheceram e usufruíram de seu convívio. Nesta ocasião cito e as transfiro para Attílio Rotta, as palavras ditas por ele ao saudar o Dr. Edrise Villar "nesta hora de tanta magnitude reverenciar a memória de quem já se foi, relembrar-lhe os feitos e trabalhos, como se estivesse a aspirar um perfume oriundo de antigas e gratas recordações, a sorver um aroma que, longe de se desvanecer, milagrosamente se revigora, dia a dia, no perpassar dos anos". Que seus ensinamentos sirvam de exemplo para as novas gerações, e os Anais desta Academia preservem sua história para sempre. Sinto-me profundamente honrado em tê-lo saudado nesta noite. Tenho dito!


CADEIRA Nº Patrono:

07

CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELLO

Data de posse: 25/04/1990 1º ocupante: ATÊNCIO BEZERRA WANDERLEY Data de posse: 09/12/1999 2º ocupante: Delosmar Domingos de Mendonça Saudação:

Genival Veloso de França


09/12/1999 

Saudação ao: Dr. DELOSMAR DOMINGOS DE MENDONÇA Cadeira nº 07 Por: Dr. Genival Veloso de França

Meus Eminentes Confrades: Esta Academia - sempre tão calma e acolhedora, ilumina-se hoje para receber em seu seio um dos mais ilustres membros da classe médica paraibana, que se tornou respeitado pelos seus feitos e obras memoráveis. Esta saudação, se dependesse de mim, seria isenta de qualquer formalidade. Seria como uma conversa entre dois bons amigos. Mas não posso. É regra nesta Casa o respeito ao protocolo e por isso vou acatar o manual acadêmico. Delosmar Domingos de Mendonça nasceu na cidade de João Pessoa, numa madrugada de segunda-feira, na Av. João Machado, onde existia a residência de número 814. Foi recebido pelas mãos bondosas de Dona Dondon, uma velha e hábil parteira que atendia as famílias mais humildes que não podiam pagar médicos. Filho de um comerciante modesto de nome Francisco Domingos de Mendonça e de Guiomar de Albuquerque Mendonça. São seus irmãos Domingos Mendonça Neto (in memoriam), Derivaldo, Dagmar (in memoriam) e Dimar. É casado com a Profª. Tereza Carvalho de Mendonça - um anjo na sua vida, de cuja união nasceram Delosmar Júnior, Francisco Manoel, Suy-Mey e Suzye-Lee, esta última falecida três dias depois de nascida. E para seus novos afetos e revividas alegrias, os netinhos Delosmar Neto, Lucas, Ana Tereza, Raissa e Maria Isabel, herdeiros de justo orgulho e de tantas emoções. Iniciou seus estudos primários com Dona Adélia Amorim, passando logo em seguida a estudar no Grupo Escolar Santo Antônio, no bairro de Jaguaribe. Depois nos Grupos Pedro II e Isabel Maria das Neves, onde encerrou o curso primário. Recebeu a orientação da rigorosa Professora Ernestina no curso de preparação ao Exame de Admissão ao Ginásio do Colégio Pio X, transferindo-se depois para o Liceu Paraibano, e daí partiu para o vestibular da Faculdade Medicina da Paraíba, formando-se médico em 8 de dezembro de 1961. Depois de formado em medicina, não teve oportunidade de freqüentar os centros especializados de maior renome, nem se tornar um estagiário peregrino por terras de Espanha e areias de Portugal. Cuidou disso muito antes. A partir de 1957, ainda estudante de medicina, iniciou uma verdadeira escalada de aperfeiçoamentos através de Cursos de Extensão Universitária e outros estágios acadêmicos no Instituto de Assistência e Proteção à Infância e na Casa de Saúde São Vicente de Paulo em João Pessoa. Logo depois de formado foi assistente voluntário do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da nossa Faculdade de Medicina, médico estagiário da Maternidade Cândida Vargas, médico plantonista do Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência com exercício no Posto de Sapé. Médico da Legião Brasileira de Assistência a partir de 1964 e Câmara Municipal de João Pessoa, de onde era funcionário desde 1957 e de quem recebeu seu anel de formatura.


Ingressou no magistério superior como Auxiliar de Ensino em 1966 e já em 1972 era Professor Assistente por concurso. Depois Professor Adjunto e por fim Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Obstetrícia. É Livre Docente desta Disciplina por concurso público, tendo sido aprovado em 1° lugar no seu Departamento e em segundo lugar entre todos os docentes livres da Universidade Federal da Paraíba. É especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Febrasgo, membro da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, citado em diversos livros de sua área profissional. É co-autor dos livros "Tratado de Obstetrícia" organizado pela Febrasgo e editado pela Livraria e Editora Revinter, com o capítulo "Modificações do Organismo Materno - Genitais e Mamarias" e do livro "Manual de Assistência ao Parto e Tocurgia" pela Febrasgo com o capítulo "Operações Ampliadoras das Partes Moles" e autor do livro "Protocolos de Diagnóstico e Tratamento em Obstetrícia", pela Livraria e Editora Revinter do Rio de Janeiro. Tem o título de cidadão honorário da cidade de Juarez Távora e foi agraciado com as medalhas "Cidade de João Pessoa" pela Câmara Municipal de João Pessoa, "Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Epitácio Pessoa" pelo Tribunal Regional do Trabalho, 13ª Região, "Bons serviços à causa legionária" pela Legião Brasileira de Assistência e com a medalha "Mérito Sucam" pelo Ministério da Saúde. É autor também do livro de poesias "Relicário de Emoções", que é seu próprio coração aberto numa comovente diástole de emoção e sentimento. Um coração novo, recentemente consertado a ferro e fogo. Sobre esta obra não posso nem devo falar. Certamente ficará para outra oportunidade e para outro poeta como ele, porque esse mundo dos poetas é um mundo muito curioso. Coisas que para nós nada valem, para eles até o nada é tudo. De uma única lágrima são capazes de construir catedrais góticas de relevos monumentais. Falam uma língua que fazem coincidir sua dor com a dor de todos, e quando cantam suas ilusões, cantam as nossas também. Este é o médico e o intelectual Delosmar Domingos de Mendonça. Agora é a vez do amigo. Nascemos e vivemos, pela graça de Deus, à beira do mesmo rio - o rio Jaguaribe, o rio de nossa infância, que agora escureceu suas águas, mandou embora as piabas e os gurus, brigou com os passarinhos e depois se escondeu. Perdeu todo gosto de brincar com a meninada e de correr livre pelos caminhos. Ele perdeu o curso e nós perdemos o rio. Tenho viva na minha lembrança a imagem do início do nosso conhecimento. Foi num primeiro dia de aula, no Grupo Escolar Santo Antônio, perto de onde morávamos. Era nossa mestra uma jovem pálida e franzina, de olhar meigo e fala mansa. Não tinha pressa no andar e o porte era altivo como o de uma princesa. Chamava-se Bernadete a professoramenina, estudante do curso pedagógico. Foi a primeira paixão de tantos de nós e de quem minha pobre lembrança não se separou nunca mais. Recordo-me com detalhes desse encontro. Foi-me colocado ao lado um menino loirinho e chorão, que zangado se encolheu sem querer nenhuma intimidade, sem permitir qualquer aproximação. O tempo foi passando e disso resultou uma amizade que o tempo só faz crescer. Companheiros permanentes dos caminhos encompridados nas idas e voltas da escola, nos banhos no poço da caieira de seu Toinho, dos seriados do Caveira e do Arqueiro Verde no cine Jaguaribe, das bicicletas alugadas em seu Cosminho, das "peladas" no campo do escorrego, dos banhos na cacimba de seu Cirilo na Rua do Meio, das pipas empinadas na Rua da Concórdia perto da casa da minha tia Maria, dos namoros na Festa do Rosário e dos lugares onde os rapazes solteiros gostavam de ir depois das dez horas da noite. Sempre


estivemos próximos. Sabíamos sempre dos passos de cada um. Moramos a vida inteira numa distância que não passava de um quarteirão. Mas, há um fato singular nessa nossa relação. Somos irmãos de leite. Contou-me certa vez minha santa mãe esse fato. Disse que era comum naqueles tempos tratar conjuntivite com leite materno. E foi assim que ele foi se chegando para bendito tratamento e aproveitou-se para dividir comigo o leite. Do que me fez falta, segundo disse aqui José Eymard, pois na verdade fui magro durante mais de cinqüenta anos. Hoje proclamo com orgulho e emoção que Delosmar é meu amigo. Mais do que isso: meu irmão. Um dos fatos mais tocantes de sua personalidade é a obstinação. Nasceu das entranhas da pobreza. Podia até omitir esse detalhe, mas essa origem é o seu orgulho. Há pessoas que certos fatos não marcam a alma nem modificam o destino, e pelas mãos de ninguém elas chegam ao patamar da glória. Mas eu sinto que meu apresentado gosta mesmo é de vestir seu bermudão, ir para a granja e tomar cerveja com amigos, demonstrando, como dizia Fernando Pessoa em um dos seus versos, "um cansaço de ser tanta coisa". Era ainda estudante de medicina quando seu pai precocemente faleceu. Esta foi sem dúvida a fase mais difícil de sua vida, pois teve de assumir a família, tomando conta da casa e orientando os irmãos, a ponto de aguardar que todos se casassem para depois casar com Tereza, sua namorada e colega desde o vestibular de medicina. Seria injusto aqui não ressaltar a excelsa figura de Dona Guiomar que fez como o pelicano que fere o próprio peito para alimentar os filhos. Há razão quando se diz que só há um amor que nunca termina, que tudo perdoa e nada pede e se pede, é apenas para que se seja feliz: o amor de mãe. Outros tempos difíceis foram os anos de ditadura quando respondeu a inquérito policial militar no Quartel do 15° Regimento de Infantaria em João Pessoa, no Quartel das Guardas em Recife e na Delegacia de Ordem Política e Social desta cidade, indiciado que foi por manifestar sua simpatia aos movimentos dos trabalhadores rurais que se organizavam em Ligas Camponesas na cidade de Sapé, e de onde se dizia treinar militantes para a guerrilha. Ou ainda, embora não seja um fato de todo comprovado, mesmo constando dos autos de um daqueles inquéritos, por ter dado voz de comando a falanges de camponeses contra as tropas do temido capitão Luiz de Barros. Hoje, seu perfil é marcado pela vida acadêmica, toda ela pontuada por uma produção científica profícua e por um magistério eloqüente e respeitado. Poderia ser até mais ousado e insinuante, pois títulos e méritos não lhe faltam, tão diferente de certas vulgaridades que por aí transitam no alto de sua insignificância, buscando a todo custo e a todo modo aparecer. Seu falar barulhento e seu riso largo e estrepitoso fazem parte de uma forma de ser. Não é quebra da austeridade nem arroubos de presunção. O caráter não está na voz: está na consciência de cada ato. Meu estimado amigo Delosmar Mendonça: As Academias de Medicina, mesmo pretendendo ser diferentes das outras associações de classe que tratam do aprimoramento científico ou das reivindicações puramente pragmáticas, incentivando a ciência e a cultura, malgrado um outro esforço não têm, a exemplo de outras instituições, se posicionado abraçando os grandes temas políticos e sociais que estão a merecer as aflições do povo brasileiro. E não é de agora tal omissão. Ela vem desde os tempos imperiais de sua fundação e realçou-se diante da repressão quando nosso país esteve mergulhado na mais insana das ditaduras. Rarissimamente, para não dizer nunca, se ouviu uma voz partindo delas em favor das idéias libertárias. Esperou-se muito delas no momento em que se verificava uma articulação da sociedade brasileira, após esse longo e penoso período de arbítrio, e quando


a ânsia de todos era alcançar os pressupostos básicos de uma democracia representativa, como forma de abrir caminho à cidadania. Falo isso por duas razões: primeiro porque nesta Casa os Acadêmicos sempre tiveram toda liberdade de expressão e nunca houve qualquer manifestação de censura ou de mal-estar por parte da sua direção. Depois porque conhecendo suas posições políticas e quanto lhe custou agir assim, sei que gostaria que dissesse isso. A verdade é que a Medicina não pode ser uma opção neutra e conformada, estéril e formalista, complacente com uma estrutura social injusta que se conforma com desumanos desníveis e que fere a comunidade de forma impiedosa e perversa. Isso não implica negar seu caráter científico. Ao contrário, quanto mais a Medicina se torna científica, mais ela se politiza pela maior e melhor aplicabilidade no reconhecimento de seus métodos. Para conquistar a saúde não basta modificar a relação entre o homem e a natureza, senão, também, mudar as relações sociais. Se não que tipo de atividade é essa que não manifesta sua profunda frustração na crescente disparidade entre as possibilidades da ciência e do bem-estar real? Por isso a necessidade de uma Medicina de visão política, capaz de desfazer um terreno minado por princípios sociais deturpados pela flagelação das camadas marcadas pelo sofrimento humano. Uma Medicina condicionada a um padrão de comportamento que tenha no homem natural e social seu primeiro objetivo. Uma Medicina, finalmente, capaz de alcançar cada vez mais a pessoa do homem de agora, denunciando os horrores de seus dramas, na maioria tendo, na sua origem ou nas suas conseqüências, o traço indelével da injustiça e da iniqüidade. A ciência médica progrediu muito mais nestes últimos cinqüenta anos do que em toda sua milenar história. Criou novas formas de descobrir doenças e poderosos meios de combatê-las, porém não aprendemos ainda como usá-la numa sociedade punida por doenças evitáveis e curáveis e onde parte da população não recebe nenhuma ajuda. Galeno dizia que a liberdade e a independência econômica eram os principais condicionantes da saúde, mais importantes que uma boa constituição física, porque seria impossível levar uma vida sã sem tais requisitos. Rudolf Virchow afirmava que a medicina é uma ciência social e a política não era outra coisa senão a medicina em grande escala. O médico que vive diariamente em contato com as pessoas conhece as condições sociais melhor do que ninguém. O médico, dizia ainda Virchow, é o advogado natural dos pobres e os seus problemas sociais caem em maior parte dentro de sua jurisdição. Há motivos políticos e sociais que reclamam dos médicos posições mais coerentes com a realidade que se vive. O homem simples da rua já percebe o abismo que se cava entre o que a Medicina pode oferecer e o que ela na realidade tem oferecido. Hoje, o conceito de saúde-doença mudou. Não tem mais uma única causa puramente médica, iniciada com a descoberta dos agentes patógenos. Mas um enfoque multicausal que considera o processo como uma relação entre o indivíduo e o seu meio ambiente. O ato médico é um ato político porque a saúde e a doença, como fenômenos sociais, exigem uma intervenção programada e consciente, dirigida para o bem comum. O médico tem de entender que a doença não é um fato isolado e que ele não pode permanecer sempre no epicentro das moléstias, mas também na periferia onde estão suas causas. Ele tem de ampliar sua capacidade de intervenção sobre o meio. Tem de reduzir seu poder asfixiante sobre o indivíduo e lançar-se às mudanças das relações sociais. A partir do momento que se entendeu ser a saúde das populações mais dependentes de suas necessidades básicas do que da própria assistência curativa, e que toda doença tem na sua origem ou nas suas conseqüências uma causa de ordem social, daí em diante ele necessita ocupar outros espaços.


Digo tudo isso porque as Academias nasceram com uma inclinação irresistível para o humanismo, e que poderiam ter um papel mais significativo neste instante de tanta inquietude e sobressalto. Acredito que aqui não é lugar para se discutir propedêuticas e terapêuticas médicas. Mas um lugar de exercitar o pensamento crítico. Meu estimado amigo Delosmar: Aqui estão, para lhe saudar pela minha voz e festejar com a própria emoção, seus velhos amigos e companheiros que há muito tempo aguardavam sua presença. Em nome da Academia Paraibana de Medicina, que aceitou a indicação desta apresentação, desejo toda sorte e estimo que continue cultuando cada vez mais a imaginação e a pesquisa. Eu, de minha parte lhe agradeço, querido confrade, pela homenagem em paraninfar sua entrada nesta Casa. Entendi o gesto. Você quis prestigiar o passado e reavivar as lembranças e cada uma delas foi como uma ressurreição. O tempo que é cruel e não para, só para em respeito à saudade. Guimarães Rosa dizia que "toda saudade é uma espécie de velhice". Aqui ela é semelhante a lembrança do primeiro amor que por mais antiga que seja nunca chega a ser velha. Amigo, a hora é sua. Volto para o lugar de onde saí com a mágoa de não ter feito mais, porque o resto está no coração e eu não sei dizer. Muito obrigado. Genival Veloso de França


09/12/1999 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. ATÊNCIO BEZERRA WANDERLEY. Cadeira nº 07 Por: Dr. Delosmar Domingos de Mendonça

Excelentíssimo Sr. Prof. Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros - Presidente da Academia Paraibana de Medicina. Senhores componentes da mesa, Autoridades presentes, Senhoras e senhores acadêmicos, Minhas senhoras e meus senhores: Permitis, Senhoras e Senhores, que neste momento de máxima realização de um médico, como também, de não dissimulada emoção, sejam minhas primeiras palavras, dirigidas no sentido de manifestar meus agradecimentos, pela generosidade dos Senhores Acadêmicos em me acolherem como membro desta egrégia Academia Paraibana de Medicina. Consentis ainda, que nesta noite festiva, onde com muita honra, faço o elogio ao Titular Fundador da Cadeira de número sete, Dr. Atêncio Bezerra Wanderley, e que tem como Patrono, o Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo, possa rebuscar, através da história antiga, os primórdios das Academias, e como um cinzel, talhar a beleza desta solenidade e timbrar o quilate desta noite de luz e encanto. Academo, foi um destemido herói ateniense, que revelou a Castor e Pólux onde se encontrava a bela Helena, quando os dois invadiram a Ática à procura da irmã. Passados os tempos trepidantes das guerras, Academo recolheu-se a um parque vizinho a Atenas, onde instalou sua mansarda , e viveu até seus últimos dias. Outras batalhas alimentaram o espírito guerreiro dos povos daquela época, e os Lacedemônios triunfantes em seus combates, apesar da fúria destruidora dos vencedores, preservaram em memória de Academo, a terra que lhe tinha pertencido, e a transformaram num belíssimo Jardim: - o Jardim de Academo, que mais tarde, foi chamado de Academia, tendo sido o local escolhido por Platão, nos idos de 387 a.C., para as reuniões com seus discípulos, tendo a Academia Grega funcionado nesse local até 538 a.C. As Academias ganharam existência em muitos países sob as mais variadas motivações, assim voltadas às línguas, às artes, à cultura, à política, às ciências, sempre representando uma instituição de ensino especializado, em geral de nível superior. Merece destaque a Academia Francesa, uma das mais antigas e tradicionais da Europa, criada em 1635 por carta régia de Luís XIII, a pedido de Richelieu, onde seus quarenta membros velam há mais de três séculos sobre a língua e a literatura francesa. Suas sessões eram realizadas no Louvre até que Napoleão deu por sede o Colégio das Quatro Nações. Eleitos por cooptação, os membros da Academia Francesa devem pronunciar, em sessão pública, um discurso contendo o elogio de seu predecessor. São chamados imortais por causa do dístico simbólico no frontispício da Academia: "À imortalidade". As Academias diretamente vinculadas ao campo do saber, sob o teto das Universidades, passaram a ser como que ressurgidas na Itália pelos humanistas do


Renascimento com a criação em 1582 da 'Accademia dela Crusca", e no campo das artes, da Academia del Disegno de Vasari, afora a Accademia de San Luca, a de Muiciano, todas em Roma, entre os anos de 1563 a 1593. Em Portugal, por Decreto de D. João V, em 8 de dezembro de 1720, criou-se a Academia Real da História, que foi a primeira Academia portuguesa de caráter oficial, tendo também surgido a Academia das Ciências de Lisboa, cujos estatutos foram aprovados pela rainha D. Maria I, em dezembro de 1779. Na URSS, fundou-se a Academia das Ciências, instituição criada logo após a revolução de outubro de 1917, em substituição a Academia de Ciências de São Petersburg, fundada em 1725 pelo czar Pedro, o Grande, e a Academia das Ciências em Leningrado, fundada em 1714, que possui 14.800 volumes e uma valiosa coleção de manuscritos. No Brasil, a história cita a Academia Brasílica dos Esquecidos, fundada em 1724; a Academia dos Felizes, fundada no Rio de Janeiro em 1736; a Academia Médico-Cirúrgica da Bahia; a Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro e a Academia Brasileira de Letras, que se espelhou na Academia Francesa, e gozou do privilégio de ter como seu primeiro presidente, a grande e destacada figura de Machado de Assis. Com a mudança da Corte Real Portuguesa para o Brasil, em 18 de fevereiro de 1808, D. João VI fundou a Escola de Cirurgia, no Hospital Real, e logo após, em 15 de novembro do mesmo ano, a Escola de Medicina Anatomia e Cirurgia no Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, o Hospital da Santa Casa da Misericórdia congregava a elite médica, que em suas enfermarias, se reunia para trocar idéias e experiências, o que incentivou, dentro em pouco tempo, em 30 de junho de 1829, a instalação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo sido realizada a primeira Sessão Solene oficial, em 24 de abril de 1830, com a presença do Imperador D. Pedro I. Em 30 de junho de 1835, o governo Imperial, converte a Sociedade em Academia Imperial de Medicina, realizando-se a Sessão Solene com a presença do Imperador Menino D. Pedro II, acompanhado do Regente Francisco de Lima e Silva. Em 21 de novembro de 1889, em atendimento ao Decreto n° 9 do Governo Provisório, após Sessão extraordinária, comunica a mudança de sua designação para Academia Nacional de Medicina. Outras Academias de Medicina foram fundadas nos diversos Estados brasileiros, e entre essas, a Academia Paraibana de Medicina, que tem como data de fundação, o dia 19 de dezembro de 1980, e como fundadores: Dr. Amilcar de Souza Leão, Dr. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Dr. Eugênio de Carvalho Júnior e Dr. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, que foi seu primeiro presidente. A Academia Paraibana de Medicina é composta por 40 cadeiras com seus respectivos Patronos, sendo seus componentes: Titulares Fundadores, Titulares, Eméritos, Benfeitores, Correspondentes e Beneméritos. O Patrono da Cadeira de N° 7 é o Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo, nascido em 02 de julho de 1853 na Vila de Cabaceiras, Município e Comarca de São João do Cariri, filho de Dr. Francisco Aprígio de Vasconcelos e de Dona Dionísia da Costa Ramos. Foi Médico e Político, tendo exercido um mandato de Deputado Estadual, e dois de Deputado Federal, tendo sido o primeiro campinense a ser eleito Deputado Federal. O Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo, faleceu em sua residência, à Rua da Matriz, no dia 29 de abril de 1936, aos 87 anos. Seus restos mortais jazem no Cemitério de Nossa Senhora do Carmo, na Cidade de Campina Grande.


1º ocupante da Cadeira de n° 7: Dr. Atêncio Bezerra Wanderley Eu não havia completado um ano de formado, e estava de plantão na Maternidade Cândida Vargas, tendo como Chefe da Equipe o Prof. Dr. Vicente Nogueira Filho, que residindo próximo ao nosocômio, havia ido à sua casa, atender um chamado de sua esposa, ficando eu, integrante da equipe, como seu substituto. Estava chegando ao fim uma tarde de verão, e de quando em vez, nessas horas, me postava em uma das janelas do primeiro andar da Maternidade, para contemplar fragmentos do crepúsculo, ouvir as cigarras cantando nas árvores próximas, e refletir sobre os mistérios da vida, enquanto aguardava, o momento para ouvir na Rádio Tabajara a Ave Maria de Gunot. Naquela tarde do mês de outubro, o sol no horizonte, parecia uma bola de fogo mergulhada num imenso lago vermelho, que se seguia ao esplendor do lusco-fusco do crepúsculo, tracejando sombras nos jambeiros que se projetavam sobre o leito da Avenida Coremas, e se mesclavam com outras sombras emanadas das copas das enormes mangueiras postadas na Av. João Machado, provocando figuras caprichosas que se movimentavam ao soprar dos ventos tépidos. O plantão desse dia naquela casa de partos, havia sido muito árduo, pródigo de intervenções cirúrgicas, pleno de gritos, choros, risos e alegrias, ocorrências freqüentes no nascimento, privilégio não somente dos palácios, e das suítes privadas, como também, das choupanas, das favelas, e das maternidades da previdência. O nascimento, é uma graça divina, é um mistério, que quase sempre, é como o desabrochar de uma flor, faz o olhar brilhar, inebria um instante, inspira alegrias, provoca emoções, desata prantos, ou sufoca risos. O dia havia sido de muito trabalho, ficou na memória. Cansado, porém com reserva de forças, na função transitória de chefe do plantão, enquanto a noite principiava a cobrir com seu véu escuro a Cidade, desci ao andar térreo e convidei alguns estudantes e estagiários do Serviço, para sentarmos nas cadeiras colocadas na calçada da Maternidade, em frente da Av. Coremas, para sentirmos a brisa da noite, que se aproximava sorrateira, a fim de renovarmos as energias perdidas nas lutas para mitigar o sofrimento materno, ao tempo em que, seriam discutidos os casos do plantão, recordadas as condutas obstétricas entremeados com conversas amenas sobre esportes, política e assuntos diversos. Decorridos poucos minutos de nossa reunião, vejo aproximar-se um cidadão, acompanhado de uma enfermeira da recepção, aparentando mais de cinqüenta anos, calvo, com grandes óculos, delineando no rosto um riso que inspirava confiança, com atitudes polidas e fala mansa, dizendo que era meu colega de profissão, chamava-se Atêncio Wanderley, e que estava à procura do Dr. Vicente Nogueira, seu amigo e colega de turma, a fim de solicitar um internamento para uma paciente, conterrânea e amiga, da Cidade de Pombal. Falei da ausência do Prof. Nogueira, telefonei para o mesmo o qual pediu-me para falar com o Dr. Atêncio Wanderley, e lhe comunicou, que estava com um caso de doença em pessoa da família, tendo em seguida, pedido para que atendesse a paciente do colega visitante, o que foi feito, sendo a paciente internada, e submetida a intervenção cirúrgica, após dois dias. Logo na primeira noite, o Dr. Atêncio Wanderley foi convidado para participar do nosso auditório, que eram as cadeiras colocadas ao lado da Maternidade, onde foi nosso primeiro encontro, local onde se falava, de medicina, de casos clínicos, das ocorrências do plantão, de política, de futebol, de anedotas, e algumas vezes, de história, de ciências e de artes.


Naquele começo de noite, tive uma agradável surpresa, em descobrir que, naquele homem calmo, de fisionomia plácida, se escondia uma cultura admirável, pois o ouvi falar em vários idiomas, principalmente em inglês e em francês, e de quando em vez, rindo, parecia me provocar para falar nesses idiomas, os quais pouco conhecia. O Dr. Atêncio Wanderley, por diversas vezes, procurou-me durante os plantões, já que eu havia passado a ser Chefe de Equipe, como médico titular de dois plantões: um pela LBA, e outro pelo INAMPS, e de quando em vez, era solicitado a opinar sobre casos clínicos, ou para atender pacientes trazidas pelo Dr. Atêncio Wanderley. Só mais tarde, quando o mesmo foi Secretário de Saúde do Município de João Pessoa, e meu irmão Derivaldo Mendonça era Vereador e Chefe de Gabinete na gestão do Prefeito Carneiro Arnaud, soube que as visitas constantes, haviam sido motivadas por comentários elogiosos, feitos sobre minha pessoa, pelo Prof. Nogueira, de quem fui amigo, discípulo e admirador. Era agradável conversar com o Dr. Atêncio Wanderley, e sorver sua cultura, já que o mesmo conhecia sobejamente, a República e os Diálogos de Platão, falava com erudição sobre Montaigne, Sócrates, Descartes, citando trechos do Discurso do Método e As Paixões da Alma, de Voltaire, com seus Contos, e outros celebres pensadores. Nas conversas, o Dr. Atêncio Wanderley mostrava conhecer perfeitamente a literatura portuguesa, citando Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, A Relíquia e o Primo Basílio, de Eça de Queiroz, Dom Casmurro, de Machado de Assis, entre outros. Era doce, suave, ameno, erudito, palestrar com o Dr. Atêncio Wanderley, o que fazia com que eu lhe provocasse sempre quando me procurava, para atender aos seus pacientes e/ou correligionários. Cada vez mais o admirava, e me perguntava, como podia uma pessoa guardar na memória, tão grande acervo de conhecimentos? A resposta me chegou há pouco, depois de sua morte, lendo um artigo publicado em um jornal da Cidade, de autoria do também ilustre e culto, Waldemar Solha, quando se refere a "voracidade intelectual do Dr. Atêncio", como também através da bibliografia consultada sobre sua vida de Médico, Benfeitor e Político, o que cada vez mais, me encantou e mais me fez admirá-lo. Nascimento e Infância: Em 10 de janeiro do ano de 1913, veio à luz, respirou o primeiro ar , e emitiu o primeiro vagido, no sítio Arruda, Município de Pombal, hoje Município de Paulista, Atêncio Bezerra Wanderley, filho do Coronel Josué Bezerra de Souza e de Dona Esmerina Wanderley Bezerra. Nascido em lugar árido, sob sol abrasador, demonstrou logo aos primeiros anos uma inteligência notável, pois aos três anos corrigia os nomes dos irmãos, que os moradores da fazenda pronunciavam erradamente. Fazia carrinhos de madeira, muito bem feitos para brincar, como também, fazia cangalhas para botar em carneiros, e as enchia com saquinhos de areia quando brincava com os filhos dos fazendeiros, dos vaqueiros, e dos moradores da fazenda, num esbanjar de felicidade. Quando chovia, o pequeno Atêncio ia ávido para o terreiro tomar banho na chuva, e quando esta passava, deixando a terra molhada, fazia tijolos, usando formas de rapadura. Era uma vida de folguedos, ora fazendo currais pequeninos embaixo dos pereiros, usando ossos grandes para representar as vacas e os bois, e ossos pequenos para representar bezerros e carneiros. Nessa vida da infância, eram freqüentes as corridas em cavalos de paus, passeios em jegues, caçadas aos passarinhos com baladeiras, banhos no açude da Várzea da Jurema, banhos nos rios, nos riachos e nas cacimbas; brincadeiras de peão, jogos de bolas de gude,


visitas aos engenhos de cana-de-açúcar nas suas "butadas", para com os amigos, beberem caldo de cana e se deliciarem com as rapaduras batidas. Entre os três e os quatro anos de idade, sua mãe adoeceu, e precisou ir ao médico na Cidade do Recife, e Atêncio sendo o filho caçula, foi levado com sua mãe. De regresso à fazenda, passou a brincar o tempo inteiro de atender pacientes, como viu fazer o médico de sua mãe, utilizando instrumentos que confeccionava com batatinhas inglesas, inclusive o estetoscópio, já preconizando sua futura profissão, e o grande médico que certamente seria. Foi calmo desde criança, quando não estava brincando, lia ou estudava. Às vezes, tirava leite das vacas, mas não gostava disso, preferia estudar e ler. Se o pai o mandava, com os irmãos pastorear o gado, ele ia só por obediência. Levava os livros e, sentado embaixo de um pé de oiticica ou juazeiro, estudava o tempo todo. Primeiros estudos: As escolas, de modo geral, ficam distanciadas dos centros das fazendas, o que fez com que seu pai, Josué Bezerra de Souza, tenha sido o seu primeiro mestre, que, mesmo não tendo o curso primário completo, transmitiu ao filho o necessário para a leitura, os exercícios de escrita, os cálculos aritméticos, já que àquela época, o ensino não transpunha o limiar da leitura, dos exercícios de caligrafia, dos cálculos aritméticos, que estancavam nas frações, nas regras de três, nas operações sobre juros, sobre descontos, constituindo o acervo de conhecimentos dos mestres-escola da época. Depois estudou com Otacílio Marques, seu cunhado, que havia estudado em Cajazeiras. O jovem Atêncio, passou a partir desse momento a ser um autodidata, estudando sozinho: Aritmética, Álgebra, Geometria, História do Brasil, Geografia, Ciências Naturais, Gramática Portuguesa, e outras línguas, especialmente o Francês, que naquele tempo era a língua estrangeira de preferência para estudo pela juventude. Apesar do apego que sua mãe tinha para com os filhos, especialmente com o filho caçula, conseguiu estudar fora, depois de pedir, insistir muito, e convencê-la da necessidade de prosseguir com seus estudos em lugar mais adiantado. Venceu sua resistência, e partiu do sítio Arruda com destino a Cidade de Campina Grande, que mesmo sem bons educandários, ficava a poucos quilômetros das Cidades de João Pessoa e do Recife, que certamente seriam suas próximas opções, e matriculou-se no Instituto Pedagógico, hoje Colégio Alfredo Dantas, onde estudou durante 4 anos, fazendo um Curso Comercial incompleto, o que foi interrompido por falta de estímulo para a atividade a que o aludido curso se propunha. No ano de 1935, seguiu para a Cidade do Recife e matriculou-se no Colégio Salesiano, onde iniciou e concluiu com brilhantismo, o Curso Ginasial, tendo presenciado dias difíceis com a revolução comunista daquele ano, que afetou sob todos os aspectos a vida social, operária, estudantil e econômica do Estado e do País, quer pelos combates sangrentos, quer pela violenta repressão policial instalada em todos os setores. Posteriormente, o estudante Atêncio Wanderley transferiu-se para o Ginásio Pernambucano, educandário oficial do Estado de Pernambuco, onde fez o Curso Secundário, hoje correspondendo ao 2° grau. Curso Superior: Antes do Vestibular, passou um ano doente, porém a Medicina era, então sua meta maior, e ele a encontrou na Faculdade de Medicina, hoje pertencente à Universidade Federal de Pernambuco, onde a pujança de sua inteligência e a vontade de vencer, fizeramno aluno distinguido.


O acadêmico de medicina Atêncio Wanderley, encontrou em seu Curso Médico grandes dificuldades, especialmente face a implantação do Estado Novo, em 1937, quando o Governo criou o Instituto de Assistência Hospitalar, que encampou diversos nosocômios mantidos por entidades particulares, administrando com atos de terror e truculência, chegando a proibir a entrada de estudantes de medicina em vários hospitais do Recife, permitindo unicamente, que os acadêmicos de medicina freqüentassem somente os hospitais controlados diretamente pela Faculdade de Medicina. Ante tantas dificuldades, demonstrando inteligência e altivez, o estudante Atêncio Wanderley, prestou concurso para o Internato do Hospital de Pronto Socorro, sendo aprovado, o que lhe abriu caminho, posteriormente, para ser estudante Interno da Cadeira de Clínica Médica; Interno da Cadeira de Urologia e cumprir o que assegurava o inesquecível Miguel Couto: "A matrícula em um instituto de Medicina pode ser o fruto de um cálculo, de um sonho, de um palpite, e talvez de positiva vocação, mas o verdadeiro estudo da Medicina só se faz no hospital, de todos os modos, investigando, vendo, ouvindo, e parece que até respirando nesse ambiente; assim como o verdadeiro amor da Medicina, também só aqui nasce e cresce, à cabeceira dos doentes, quando a piedade pelo sofrimento nos invade o coração e dele se apodera, quando a luta entre a ciência e a moléstia nos empolga e toda nossa alma vibra ante essa luta". O Acadêmico Atêncio Wanderley, foi Membro do Diretório Acadêmico de Medicina, na qualidade de orador, onde se distinguiu pela evidência de inteligência, simplicidade dos pronunciamentos e altivez das atitudes. Atêncio Wanderley, com muita determinação, esforço e dificuldades, concluiu seu curso médico em 1945, tendo se destacado como um dos melhores alunos da turma, tendo colado grau no dia 15 de dezembro do aludido ano. No ano seguinte, 1946, o jovem médico regressou à terra natal, e iniciou com esperança, idealismo, abnegação, suas atividades profissionais, em um modesto consultório, pobremente instalado, porém de grande utilidade, e como ainda, não houvesse hospital na Cidade de Pombal, o Dr. Atêncio Wanderley era freqüentemente chamado para atendimento domiciliar na cidade e nos sítios. No dia 29 de novembro de 1947, contraiu núpcias com a Srta. Cacilda Medeiros, tendo o casamento sido realizado na casa dos pais da noiva na Cidade de Pombal. Desse casamento nasceram quatro filhos: Marcus Vinícius, matemático, com doutorado realizado na Cidade de Mompelier na França, casado e divorciado da Sra. Lúcia Maia Wanderley; Berta Letícia, formada em psicologia, casada com o Dr. Ugo Ugulino Lopes; Alba Letícia, tocoginecologista, casada com seu colega médico, Dr. Gilberto Albuquerque Espínola, especialista em clínica geral, e Ana Valéria, formada em engenharia mecânica, fez doutorado na França, é casada com o seu colega de profissão, engenheiro mecânico, Dr. Murilo Brandão. Através dos currículos dos filhos, vê-se logo, que as semente vieram de um pessoa "culta e nobre, comparado a um Catão", como afirmou o artista , escritor e pintor Solha, seu amigo, confidente e admirador. Clinicando na Cidade de Pombal, logo se fez querido e respeitado por todos, face à sua competência, dignidade, simplicidade. Sem ambições financeiras, "fez da Medicina um verdadeiro sacerdócio, fazendo do seu consultório um templo e da sua maca, uma mesa de ofertório", como afirmou sua biógrafa e conterrânea, Professora Joana Ivonildes Bandeira. Afirma, ainda, Joana Ivonildes Bandeira, que Atêncio Wanderley "dissipou sua vida ao longo do seu apostolado de mais de 40 anos de médico. Fosse dia ou fosse noite, a batalha era uma só. Andarilho dos sertões inóspitos, anos a fio, martirizou-se na missão sublime de salvar vidas, enfrentando, muitas vezes, a dureza dos invernos tempestuosos, a aridez causticante das secas, a inclemência do sol, as veredas infestadas de insetos. Vezes


sem conta, subiu serras à cavalo para atender pacientes em trabalho de parto, atravessando rios em toscas canoas, ou mesmo a nado, para dar assistência aos reclamos de dor e sofrimento, sem hora certa para se alimentar, para repousar ou para dormir, sem visar lucros ou pagamento de qualquer espécie, mais pelo amor ao próximo e a profissão que abraçou." Atêncio Wanderley clinicava dentro dos preceitos de Galeno: "para o bem da humanidade, sem estimar a riqueza mais do que a virtude, mostrando que não aprendeu sua arte para acumular fortuna". Com o evoluir dos tempos, instalou um laboratório de Análises Clínicas e um Serviço de Eletrocardiografia em Pombal, tendo sido o pioneiro na instalação desses Serviços no interior do Estado, depois de Campina Grande, e o primeiro implantado no Sertão. Com a instalação do laboratório de Análises Clínicas e do Serviço de Eletrocardiografia, a clínica do Dr. Atêncio Wanderley tornou-se mais moderna, melhorando as condições de diagnóstico e atendimento. No ano de 1956, o Dr. Atêncio Wanderley trabalhou no Hospital "Alcides Carneiro", pertencente ao Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado, na Cidade de Campina Grande, onde demonstrou sua capacidade de trabalho, e adquiriu novas experiências para o desempenho de sua profissão. Decorrido pouco tempo, o Dr. Atêncio Wanderley solicita demissão das funções que ocupava no Hospital "Alcides Carneiro", em Campina Grande, e retorna à Cidade de Pombal para suas atividades profissionais e particulares. Na Cidade de Pombal é construído e instalado o Hospital e Maternidade "Sinhá Carneiro", descortinando novos horizontes para o experiente profissional, notadamente no campo da cirurgia, pois até aquela época as intervenções cirúrgicas eram realizadas sem grandes aprimoramentos. No Hospital "Sinhá Carneiro" o Dr. Atêncio Wanderley trabalhou durante muitos anos sem auferir remuneração da parte da instituição, já que a mesma recebia pequenas contribuições do governo federal, por ser um hospital de cunho filantrópico. Durante mais de duas décadas, o Dr. Atêncio Wanderley chefiou as Unidades de Saúde do Estado e da Legião Brasileira de Assistência, sempre altaneiro, parcimonioso, com dedicação e trabalho, somente se ausentando pela aposentadoria no ano de 1979. Com o retorno do Dr. Atêncio Wanderley à cidade de Pombal no ano de 1946, o mesmo foi estimulado por seus amigos para servir à terra no campo da educação, tendo conseguido, posteriormente, com grande esforço, instalar em prédio particular, o Curso Normal Regional, funcionando hoje em sede própria no Colégio Josué Bezerra, em homenagem ao pai do Dr. Atêncio, um dos incentivadores para a edificação do prédio da antiga Escola Normal. Demonstrando vocação para o magistério, o Dr. Atêrncio Wanderley lecionou várias disciplinas no Colégio "Josué Bezerra", do qual foi seu primeiro Diretor. Com a instalação e funcionamento do Ginásio Diocesano de Pombal, o Dr.Atêncio Wanderley passou a lecionar Física e Matemática no aludido Ginásio, tendo posteriormente o Ginásio passado a Colégio Estadual de Pombal, e instalado o Curso de 2° Grau, ocasião em que o Dr. Atêncio Wanderley lecionou as cadeiras de Física e Química. Hoje o antigo Colégio Estadual de Pombal, chama-se Escola Estadual de 1° e 2° Graus "Arruda Câmara". Como Político: Foi eleito Prefeito Municipal de Pombal, assumindo a Prefeitura em 31 de janeiro de 1969, e terminando seu mandato em 1973. Apesar de assumir o Poder Executivo


Municipal em plena vigência do Ato Institucional n° 5, que deu ensejo a que se cometessem atos de terrorismo, perseguições, prisões e assassinatos, nunca enveredou pelo caminho da força, nem saiu da trilha da justiça, face a sua integridade moral e intrínseca bondade. O Dr. Atêncio Wanderley como Prefeito Municipal de Pombal, fez uma das mais relevantes administrações, merecendo destaque no setor de Educação no Município, a Organização do Serviço de Educação Municipal com contratação de pessoal capacitado; as construções de vários Grupos Escolares na zona rural, como também a recuperação de todas as escolas daquela zona, merecendo destaque especial a construção e equipamento do Centro Municipal de Educação Primária. Para o Setor de Saúde fez a contratação de médicos e dentistas para atendimentos nos Postos de Saúde da zona urbana e zonas distritais. Construiu e/ou recuperou vários Postos Médicos em estilo padronizado, e aparelhados com material moderno e com Serviços de Vacinação. O Posto Médico da Sede do Município foi recuperado em estilo moderno e equipado com material de excelente qualidade. No Setor de Serviços Urbanos construiu mais de trinta mil metros de calçamento. Realizou a construção da Rede de Esgotamento em diversos pontos da Cidade como também construiu grande número de pontilhões em várias estradas do município. Para o Setor de Serviços Gerais fez aquisição de uma motoniveladora de grande utilidade nos serviços das estradas municipais, como também adquiriu um trator com reboque para remoção do lixo da Cidade; além da compra de vários caminhões e caminhonetes. No Setor de Comunicação fez a implantação de uma Repetidora de Televisão e realizou convênio com a Empresa Telefônica da Paraíba para instalação do Serviço de Microondas. É conveniente acentuar que, no setor de infra-estrutura básica em administração, realizou a construção, até o nível de estrutura, da Sede da Prefeitura Municipal de Pombal, tendo ainda assinado Convênios, com a SAELPA e com a CAGEPA, para melhoria dos serviços de eletrificação e água encanada, e fez doação de terrenos para as construções do Colégio Estadual e da Cadeia Pública. O Dr. Atêncio Wanderley, foi eleito pela primeira vez, Deputado Estadual, no ano de 1979, com término do mandato em 1983, tendo sido reeleito no mesmo ano até 1987. Foi Vice-Presidente da Assembléia Legislativa da Paraíba, tendo sempre mantido uma conduta exemplar, com desempenho seguro e equilibrado, sem apelar para a demagogia, nem perder a credibilidade que fazia merecer o respeito de seus pares e o respeito da população. Foi sempre um servidor do povo, quer como médico, ou como político, tendo nesta condição sustentado debates, dirigido requerimentos e elaborado projetos voltados sempre para a área social. Como militante da política, o médico Atêncio Wanderley participou de várias campanhas, em algumas como candidato. Foi Presidente do Diretório do Partido Libertador da Cidade de Pombal, que era chefiado no Estado pelo Senador Vergílio Veloso Borges, e no plano nacional, pela expressiva figura do político e homem público Raul Pila, do Rio Grande do Sul. Posteriormente, o Dr. Atêncio Wanderley ingressou no PSD (Partido Social Democrático), do qual foi presidente na Cidade de Pombal. Com a extinção do MDB e da ARENA, O Dr. Atêncio Wanderley, acompanhado dos Deputados Federais, Antônio Carneiro Arnaud e Antônio Mariz, e de vários Deputados Estaduais, participou da fundação do Partido Popular, a fim de reforçar as oposições no Estado da Paraíba, atraindo, para os quadros desse novo Partido, numerosos integrantes da


ex-Arena. Posteriormente o Partido Popular, foi incorporado ao PMDB, tendo permanecido neste partido até o fim de seus dias. O Dr. Atêncio Wanderley foi Secretário de Saúde do Município de João Pessoa, durante a gestão do Prefeito Antônio Carneiro Arnaud, tendo sido também, Conselheiro da Fundação Laureano de João Pessoa e Diretor Social do Pombal Ideal Clube. O Dr. Atêncio Wanderley faleceu na Cidade de São Paulo, no Hospital da Beneficência Portuguesa, a 14 de agosto de 1992, o que nos leva a meditar sobre as palavras de Elizabeth Browning "Quando a poeira da morte emudece a voz de um grande homem, mesmo as mais simples palavras por ele proferidas transformam-se num oráculo." Consentis, ainda, minhas senhoras e meus senhores, que antes de encerrar esta modesta alocução, divida as honras e as distinções desta solenidade, que tocam o âmago de minha sensibilidade, com pessoas a quem sou ligado intrinsecamente através de laços familiares, e por sentimentos de afeto, estima e gratidão: Francisco Domingos de Mendonça, (in memoriam) que me deixou um legado de humildade, bondade, trabalho e justiça, o que me honra por toda minha vida. Guiomar de Albuquerque Mendonça, minha querida mãe, batalhadora incansável, e sentinela indormida, a quem Deus vem preservado a vida, para felicidade dos filhos, dos genros, das noras, dos netos e dos bisnetos. Tereza Carvalho de Mendonça, minha amada esposa, colega de profissão, e relicário dos momentos de alegrias e tristezas. Delosmar Mendonça Júnior, Francisco Mendonça e Suy-Mey Mendonça Gonçalves, meus filhos, dádivas guardadas no relicário dos meus afetos com imenso orgulho, como ainda o meu genro, João Kennedy Gonçalves, e minha nora Adriana Mendonça, os tenho como filhos, e rogo a Deus por tê-los posto na minha família, têm o meu amor e o meu carinho. Anna Tereza Mendonça Gonçalves, Delosmar Mendonça Neto, Raissa Mendonça Gonçalves, Lucas Menezes de Mendonça e Maria Izabel Menezes Mendonça, netos aos quais dedico grande amor, e que são estrelas cintilantes no firmamento de minha vida! Domingos Mendonça Netto (in memoriam), Derivaldo Domingos de Mendonça, Dagmar Mendonça Limeira (in memoriam) e Dimar Mendonça Meira, que junto com os cunhados Marcondes Meira e Eudes Limeira, e as cunhadas Suzana Carreira Câmara Mendonça e Esther Pedrosa de Mendonça, são depositários do meu afeto, do meu carinho e do meu amor, principalmente pelos sobrinhos que me deram, que são motivos de muito orgulho. Prof. Maria de Lourdes Britto, exemplo de dignidade, coleguismo, cultura e amor à profissão. Como ex-Presidente da Academia Paraibana de Medicina, foi minha estrela guia até esta Academia, meus agradecimentos. Prof. Danilo de Alencar Carvalho Luna, foi um fidalgo, cortês, conselheiro, forjado na têmpera dos grandes homens. Muito me alegraria que fosse um dos imortais de nossa Academia, entretanto, serve de alento saber, que apesar do seu papel na história da literatura francesa, a Academia de Paris não teve, como membros, todos os escritores franceses importantes, basta lembrar que Molière, Marivaux, Chènier, Stendhal, Baudelaire, Zola, entre outros, não foram acadêmicos. A própria Academia Francesa reconheceu o fato dessas omissões, colocando um busto de Molière, com os dizeres: "Rien ne manque à sa gloire, il manque à Ia nôtre" (Nada falta à sua glória, mas ele falta à nossa). Por fim, agradeço ao meu colega e irmão, Prof. Genival Veloso de França, "Geninho" na intimidade da infância no Vale do Jaguaribe, os encômios que me foram feitos, e me valho das palavras do Académico Dias Gomes, ao ensejo de sua posse na Academia Brasileira de Letras, para afirmar "lamento ter feito tão pouco em tanto tempo, e ter tão pouco tempo para fazer tanto". È só.


CADEIRA Nº Patrono:

26

LUCIANO RIBEIRO DE MORAIS

Data de posse: 03/02/1992 1º ocupante: JOSÉ ASDRUBAL MARSÍGLIA DE OLIVEIRA Data de posse: 31/10/2002 2º ocupante: Aécio Araújo de Morais Saudação:

Genival Veloso de França


31/10/2002 

Saudação ao: Dr. AÉCIO ARAÚJO DE MORAIS Cadeira nº 26 Por: Dr. Genival Veloso de França

SAUDAÇÃO A UM NOVEL ACADÊMICO Senhores Acadêmicos: Ilumina-se hoje esta Egrégia Confraria, sempre calma e acolhedora, para receber um dos mais destacados membros da classe médica paraibana, que se tornou respeitado como referência profissional, como intelectual de escol e como cidadão exemplar. Aécio Araújo de Morais nasceu na cidade de Natal, por um capricho da natureza. Prestes de vir à luz, uma noite escura de muita chuva e muito vento, de trovões e invernia, enfureceu as águas mansas do Pirpirituba e como um tropel danado, estremecendo copas e raízes, arrastou o velho pontilhão que dava acesso à João Pessoa. Tirou-lhe o privilégio de ser paraibano de nascimento, mas não lhe impediu de sê-lo de coração. Era o primeiro aviso que o seu caminhar pelo mundo não seria fácil e que as rosas têm espinhos. Veio ao mundo em manhã ensolarada de 7 de setembro, ao som de dobrados e louvores de feriado. Chegou em dia de festa de mártires e heróis. Era o segundo aviso de que no seu destino haveria também glórias e honrarias. Filho de Francisca Moreira de Araújo (Dona Nina), uma santa mulher de olhar resignado, um anjo sempre redivivo em sua vida, que lhe deu tudo o que tinha. Às vezes, deu até o nada, que na expressão de um poeta é tudo. O sentimento materno é sempre um poema de afeto e bondade. Michelet dizia que o homem é "profundamente filho da mulher". Mesmo quando não a temos mais, é o nome que pensamos em nossas aflições. Dona Niná faleceu no dia 23 de agosto de 1993, aos 78 anos de idade. Seus médicos disseram que ela morreu do coração. Tenho minhas dúvidas porque acredito que o coração não mata. O coração morre. Partiu com a mesma naturalidade que sempre viveu. Partiu na tranqüilidade de quem não tem pressa e na serenidade de quem cumpriu fielmente seu dever. Era o terceiro aviso que tudo tem seu tempo certo. Há quem não acredite em destino. Eu acredito. La Rochefoucauld dizia que a fatalidade era o anonimato de Deus. Bem que ela poderia estar conosco agora para respirar as emoções deste instante de tanta alegria e afirmação. Poderia estar aqui aplaudindo seu filho querido, orgulhosa de mais este feito. Há certas coisas neste mundo que mais parecem uma desatenção de Deus. Mas, resta um consolo: os anjos não morrem. São disfarçados em estrelas. Seu pai era o médico Luciano Ribeiro de Morais. Em geral, pai e filho criados separados pouco se querem e às vezes até se odeiam. Mas no seu caso, ocorreu o inverso. Mesmo ausente, quando mais precisava dele, foi sempre o seu grande ídolo e a sua inspiração profissional. Aécio nunca lhe exigiu nada. Nunca lhe censurou em coisa alguma. Mesmo assim, imagino eu, ali estava o desencanto de sua vida.


Antônio Adelson de Araújo não foi o único irmão a compartilhar seu teto. Dona Nina criou como filho, desde recém-nascido, Paulo Elias Silva, hoje administrador de empresas e advogado, funcionário efetivo da Procuradoria Geral da Justiça do Estado. Aécio foi casado com a médica Vera Lúcia Medeiros Marques, de cuja união nasceu Lucas Marques de Morais, um jovem inteligente e bom. Atualmente é casado com a Senhora Edinalva Mousinho de Pontes, outro anjo em sua vida. Pode-se dizer que teve infância humilde e recatada. Não era pássaro de bando. Gostava mesmo era do cheiro dos currais, de tomar banho de chuva na biqueira da casa, de correr de cavalo no pelo e do carrossel das quermesses junto à Capela da Conceição, sagrado oratório onde se batizou Pereira da Silva - o poeta da melancolia, tão grande quanto Augusto. Aprendeu as primeiras letras em casa com sua mãe, na Fazenda Umburana da Onça, incensada pelo nevoeiro da serra e açoitada pelos ventos frios da Borborema, no município de Araruna. O restante do curso primário, na Escola Coronel Gino Targino, pelas mãos enérgicas da Professora Nair Nunes de Souza, a legendária mestra de tantos pendores e de tantos saberes. Fez o curso secundário como semi-interno no austero Instituto Monsenhor Walfredo do Professor Manoel Nery e no Liceu Paraibano. Aprovado no vestibular de medicina, formou-se em 1967. Foi Membro Titular do Egrégio Conselho Universitário da Universidade Federal da Paraíba, na condição de representante do Diretório Central dos Estudantes, no ano de 1966, merecendo o convite para ser monitor de Pediatria no Serviço do Conselheiro Professor João Gonçalves Toscano de Medeiros, como homenagem a sua valiosa contribuição naquele colegiado. Foi médico-residente no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde concluiu o Curso de Psiquiatria, obtendo o título de especialista. Pósgraduado com especialização em Medicina Interna no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (HSE), Serviço de Clínica Médica do Professor Theobaldo Vianna. Médico-residente e Pós-graduado em Neurologia no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (HSE), no Serviço do Professor Cláudio Godinho Naylor. Foi nomeado Professor Assistente através do primeiro Concurso Público realizado pela Universidade Federal da Paraíba em 11 de abril de 1972, com banca rigorosa e de prestígio nacional. Professor Regente da Disciplina de Clínica Psiquiátrica, de maio a outubro de 1972. Com a morte do Professor Luciano Morais e com a reformulação do Instituto de Neuro-psiquiatria Infantil da Paraíba, pediu transferência para Semiologia Médica, no mesmo Departamento de Medicina Interna, onde coordenou a Disciplina de Iniciação ao Exame Clínico, de janeiro de 1980 até sua aposentadoria, por tempo de serviço, em 1992. Exerceu a chefia do Serviço de Clínica Propedêutica Médica, a partir de 1988, a preceptoria do Internato e da Residência em Clínica Propedêutica Médica e a Disciplina de Semiologia no Curso de Mestrado de Engenharia Biomédica, desde 21 de janeiro de 1988, até a aposentadoria. Venceu o 1° Concurso Literário da Imprensa "Pedra do Reino", na categoria Conto e Crônica, recebendo o Troféu Imprensa no encerramento da Semana da Comunicação, em agosto de 2000, com os textos: "O Erro da Professora" (apologia a sua professora primária) e "001 O Agente Dom Ratto" (severa crítica ao "apagão" promovido pela incompetência do Governo Federal). Representou a Paraíba no 2° Congresso Nacional de Médicos Residentes realizado no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, de 22 a 24 de outubro de 1967.


Orador Oficial das turmas concluintes de 1967 da Universidade Federal da Paraíba, selecionado em Concurso promovido pela Reitoria da Universidade para a Solenidade Coletiva de Colação de Grau, paraninfada pelo Presidente Arthur da Costa e Silva. Exerceu e exerce a profissão de médico na mais autêntica condição de profissional liberal. Atualmente dirige sua Clínica Particular - Neuroclínica, especializada em doenças do Sistema Nervoso e em Clínica Médica. Este é o resumo da vida profissional e intelectual de Aécio Morais. Agora é a vez do amigo. Meu primeiro contato com o novel acadêmico foi ainda na minha juventude, recémingresso na Faculdade de Medicina, quando fui com minha mãe à casa de Dona Nina, de quem era muito amiga, no bairro de Jaguaribe, ver umas toalhas bordadas que ela trazia do Ceará. O que me chamou a atenção foi um garoto de 8 a 10 anos, sentado à mesa, sério e compenetrado nas tarefas escolares, que me olhava de lado com um olhar severo. Tinha um ar de pouca intimidade e de sisudez, num semblante de desilusão de quem sofrera uma injustiça. De fato, se estou certo nesta avaliação, não há coisa mais difícil do que tolerar a iniqüidade, como dizia Chillon. Dói muito. Mas, há um consolo: a injustiça não faz outra coisa senão exaltar o justo. Nossa verdadeira aproximação se deu no velho Hospital de Pronto Socorro de João Pessoa - o venerando templo da medicina à época, eu como médico urgentista e ele como acadêmico do Banco de Sangue querendo acompanhar meu plantão. A notícia correra de boca em boca que o meu plantão era uma tertúlia efervescente e um lugar de oportunidades aos estudantes. Daí nasceu uma amizade que o tempo só faz crescer. Tenho uma grande admiração pelo Aécio. Da inteligência fulgurante, da transparência cristalina de suas idéias e da forma de expor seus pensamentos. Da gratidão e da fidelidade aos seus amigos. Da sua imagem serena e recatada. Meu estimado amigo Aécio Tenho repetido que esta Academia não é apenas uma instituição médica. Ela pretende ser diferente das outras associações de classe que tratam tão-só do aprimoramento científico ou das reivindicações puramente pragmáticas e imediatistas. Somos um órgão de incentivo e apoio, de análise e sugestões a tudo que se deve fazer em favor da cultura e da ciência. Todavia, não estamos proibidos de falar sobre nossa profissão. Digo tudo isso porque as Academias nasceram com uma inclinação irresistível para o humanismo, e que poderiam ter um papel mais significativo neste instante de tanta inquietude e aflição. Vivemos tempos difíceis. Há na alma de todos nós um sobressalto e na garganta um grito sufocado de horror. O mundo parece sem coragem de salvar-se. Não tardará o tempo em que alguém dirá que Deus está morto. E por que não a aragem do sossego das aldeias solitárias, a paz dos monastérios dos monges tibetanos ou a serenidade das tardes quietas de domingo? A ciência médica progrediu muito mais nestes últimos cinqüenta anos do que em toda sua milenar história. Criou novas formas de descobrir doenças e poderosos meios de combatê-las. Porém não aprendemos ainda como usá-la numa sociedade flagelada pelo egoísmo e pela injustiça. Tem-se falado muito num novo paradigma assistencial - a medicina baseada em evidências. Os mais pragmáticos já falam de uma medicina baseada em resultados. Por que não se pensar numa medicina baseada na afetividade?


O risco daquela nova ordem é fazer acreditar existir mais evidências do que a medicina realmente pode ter e apresentar. Certos conceitos podem estar transformando a medicina numa "sacola de truques". Ou que se venha desdenhar da relação médicopaciente como um ato romântico que não cabe mais neste programa de exatidão metodológica. Outro risco das ideologias no campo da saúde está no seu caráter reacionário e centralizador por não admitir o pensar ou o agir individual. Sua inclinação é pelas idéias abstratas. E o mais desanimador em medicina baseada em evidências é que quanto mais complexo é o quadro clínico, menos evidências científicas ela dispõe para uma convincente tomada de decisão. Acredito que o médico não deve ser apenas um profissional técnico, a perseguir resultados através dos conceitos herméticos da ciência. É preciso pensar muito no sentido da Vida para saber o quanto ela vale de alegria e de paixão, principalmente para os naufragados em suas proletárias tragédias. Tenho minhas dúvidas se a medicina é mesmo uma ciência. Ela não conta com os benefícios da exatidão matemática nem se propõe a oferecer propostas perfeitas e uniformes. O ato médico é o mais circunstancial dos atos humanos. Por isso, o conhecimento médico nunca pode ser certo, mas apenas provável. Em medicina principalmente na clínica, porque é meramente arte -, o provável nunca é uma abstração, mas aquilo que está entre o possível e o real. Esta é a chamada "probabilidade objetiva". A arte clínica é muito mais uma ordem do pensar do que do ser. Amigo Aécio: Não vou abusar de um tempo que não é meu. Estão aqui para festejar com suas emoções e para lhe saudar pela minha voz, seus amigos e seus velhos companheiros que há muito tempo acreditaram nesta hora. Valeu a pena esperar. Em nome do Presidente e dos membros da Academia Paraibana de Medicina, que aceitaram a indicação desta apresentação, desejo-lhe toda sorte e estimo que continue cultuando cada vez mais a imaginação e a pesquisa. Ninguém aqui se sente mais homenageado do que eu. Mesmo depois de muito tempo, cada alusão a este dia será uma relíquia. E cada lembrança uma ressurreição. Muito obrigado.


31/10/2002 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. JOSÉ ASDRUBAL MARSÍGLIA DE OLIVEIRA. Cadeira nº 26 Por: Dr. Aécio Araújo de Morais

Senhores Acadêmicos: Começo reconhecendo a imparcialidade desta Confraria, que me abriu as portas desta Casa e permitiu, entre vós, comungar o pão da excelência. Confesso que não sonhei, nem ponderei se me assistia o direito de merecer tal premiação, para recebê-la fiz, pelo menos, o mínimo. Nesta noite solene, neste momento olímpico entro aqui, pelas mãos seguras de Genival Veloso, vestido com a capa luminosa de José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira e sob o patrocínio de Luciano Ribeiro de Morais, para ser condecorado com os louros do mais humanitário dos sacerdócios: a Medicina. Surpreendendo os nomes citados sem as devidas adjetivações, recorro às palavras do próprio Luciano: "quanto mais cresce um homem mais diminui seu nome, até se tomar sua marca pessoal inconfundível, sua maior definição". Não tive uma vida de sonhos, em cada esquina, em cada canto havia sempre uma dificuldade a vencer. De última hora, a Natureza mudou o rumo do meu nascimento com um não, o mais opressor dos vocábulos, no dizer do Doutor Pe. Vieira. No entanto, nasci numa manhã de sol, num dia de festa, na cidade dos Reis Magos, sem direito a reclamar. Assim, talvez, enunciava-se como seriam os caminhos da minha vida. A isso me acostumar è que não foi fácil, tendo de duvidar que "Justiça tardia não é justiça, mas injustiça qualificada e manifesta." - grande máxima de Rui Barbosa. Da infância desalentadora até agora, houve um longo e trabalhoso percurso. A criança solitária aprendeu a medir esforços, estabelecer metas, superar obstáculos e seguir em frente, sem se deter na incompreensão dos demais. Percebeu que quem se agarra ao passado, não vive o presente, e se arrisca a perder o futuro. Percebeu com realidade, por que tinha que ser assim: quem mais exige é quem menos oferece. Percebeu afinal, que é necessário compreender para saber perdoar. O primeiro titular da Cadeira 26 Muito já se disse sobre o acadêmico José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira. Todavia, muito mais tem a se dizer sobre o velho Professor, em qualquer das formas de linguagem, falada ou escrita. Nesta ocasião, o tempo conspirou contra nós, tirando o espaço necessário para testemunhar, mais alem, sobre o grande homem, já que tudo narrar ainda não foi possível, haja o tempo que houver. O nosso padrinho-apresentador acadêmico Genival Veloso de França, advertiu: "Eu não queria estar na pele de quem vai falar ao mesmo tempo de dois monstros sagrados da História da Medicina Paraibana", se referindo ao Patrono da Cadeira 26, e ao seu Primeiro Titular, perpetuados na galeria dos notáveis.


José Asdrúbal, nascido no dia 28 de fevereiro de 1915, na Terra dos Marechais, teve seu destino direcionado à Paraíba. Deu tanto de si a esta Terra, que mesmo lhe agradecendo com a moeda da honraria e da gratidão, ainda lhe devemos muito. Em março de 1950, estava entre os 18 homens de ouro que fundaram a Faculdade de Medicina Odontologia e Farmácia, da Paraíba. De gesto calmo, meio-sorriso de sábio, olhar diligente de quem vive de plantão. O acadêmico era um ser realista, nos ensinou mais do que medicina, nos ensinou um modo de vida. Disciplinado, profundamente responsável e pragmático. Seu comportamento rígido fez jus à expressão que lhe conferiu o posicionamento entre os maiores anatomistas do Brasil. Por outro lado, era devotado a família, respeitoso e brincalhão com os amigos; exigente mesmo, só com os dos discípulos. Os que lhe conheceram bem, sabem que ele não suportava a injustiça e a covardia, externalizava sempre despreendimento e coragem. Na sua formação de médico e professor destacamos: Especialização em Anatomia; Especialização em Doenças da Cabeça e Pescoço; Especialização em Cancerologia; ministrou cursos de Neuroanatonia; Anatomia; Patologia e Cirurgia Bucal; na Paraíba e em outros Estados. Sócio efetivo da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, desde 1941. Sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Anatomia; Sócio fundador da Sociedade Paraibana de Cancerologia; Membro da Associação Brasileira de Escolas Médicas; Membro-Titular do Colégio Anatômico Brasileiro. Membro-titular da Academia Paraibana de Medicina. O acadêmico José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira foi casado com a Sra. Maria do Carmo Oliveira, sendo seus filhos: Marcus Vinicius de Oliveira, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço; Marcílio Otávio de Oliveira, Doutor em Administração de Empresas; Asdrúbal Filho, Doutor em Administração de Empresas e Glória Isabel Oliveira de Carvalho, especialista em Clínica Médica. José Asdrúbal deixou, através da sua excepcional personalidade, uma saudade sem fim em todos os que conviveram com ele, quando, definitivamente, partiu em 8 de dezembro de 2001.


31/10/2002 

Elogio ao Patrono: Dr. LUCIANO RIBEIRO DE MORAIS. Cadeira nº 26 Por: Dr. Aécio Araújo de Morais

LUCIANO, O Homem e a Criação Falar do Dr. Luciano Ribeiro de Morais, venerável patrono da cadeira 26, da Academia Paraibana de Medicina é uma tarefa paradoxalmente, honrosa e difícil, agradável e dolorosa. Honrosa porque falar de um homem com tantas qualidades e virtudes, de atemporal grandeza científica, exige muita reflexão de quem o faz. Falar ao homem de hoje, sobre a atualidade de um homem de outras eras é realmente uma tarefa difícil. Dolorosa porque leva a vencer tramas do passado, reviver lembranças e afetos esquecidos. E agradável, porque quanto mais nos distanciamos dele no tempo, mais ele fica maior, e se transforma num mito. O Homem Em 24 de outubro de 1908, nasceu no Sitio Boa Vista, na vila Barreiras, vizinha a Capital paraibana, numa noite enluarada de sábado, com o céu cheio de estrelas. Muitos anos depois, durante a segunda guerra mundial, a Paraíba pelo seu governo e seu povo, homenageou a França imortal, ao transformar a Vila Barreiras, na Bayeux brasileira, uma vez que a Bayeux francesa, havia sido destroçada pela fúria nazista. Em 06 de junho de 1944, as antigas escolas primárias da região, se transmudaram em Escolas Reunidas Joana D'Arc, entoaram a Marseillaise e com os praças desfilaram na Avenida Liberdade em direção a nova praça Conde D'Eu, diante das autoridades francesas e brasileiras. Havia um designo. Luciano veio ao mundo para ser um nobre. A Criação O menino fez as primeiras letras na Escola Francisca Moura, na Lagoa, hoje Parque Solon de Lucena. Fez o curso secundário no Lyceu Paraibano, ia para a escola a pé, todos os dias. Integrou a turma de médicos de 1933, diplomado pela então Universidade do Brasil, no Rio. Especializou-se em Psiquiatria também no Rio de Janeiro, no Serviço dos renomados professores Henrique Roxo e Bueno de Andrade. Voltando às origens, a política o atraiu. De 1935 a 1937, foi prefeito de Araruna, indicado pelo seu irmão mais velho, já Secretário de Estado, o famoso Manoel Ribeiro de Morais. A 07 de setembro de 1939, da sua união com a Sra. Francisca Moreira de Araújo Dona Nina - filha de um fazendeiro ararunense, nasceu seu filho primogênito, Aécio Araújo de Morais - este que vos fala.


Já nos anos 40, o Dr. Luciano, foi designado diretor do Hospital Colônia Juliano Moreira, realizando uma administração exemplar. Logo, ampliou a área construída, edificou novos pavilhões, dividindo-os em área masculina e feminina, construiu em volta um conjunto de casas residenciais para os funcionários e a capela para as práticas religiosas. Foi fundador e diretor do Manicômio Judiciário, elevando tudo a um complexo centro de assistência médico-hospitalar e de reabilitação dos doentes mentais. Construiu também, em terreno cedido pelo Estado e com verbas federais, conseguidas à duras penas, o Instituto de Neuropsiquiatria Infantil, para ser um modelar centro de ensino. Este patrimônio foi suprimido da UFPB, hoje é a atual Secretaria de Saúde Estadual. Tendo sido o primeiro médico brasileiro a ser Presidente de um Conselho Penitenciário do Estado. Diretor do Departamento Hospitalar da Secretaria de Saúde do Estado. Co-fundador da Casa de Saúde Frei Martinho, ao lado dos Colegas Newton Lacerda e Lauro Wanderley, em 1942. Como Professor-fundador da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba, deu tudo a este monumental empreendimento. Além de ser o primeiro professor da disciplina Clínica Psiquiátrica, Dr. Luciano Morais destacou-se por seus profundos conhecimentos de Psicanálise, linha central de trabalho, na assistência à maioria dos seus pacientes de consultório. Somente o amor a arte de curar justificava o seu desprendimento em relação a honorários. A doutrina de Sigmund Freud, outrossim norteou os seus ensaios e publicações médicas. Igualmente célebres foram os seus laudos periciais, requisitados pela Justiça Pública. Ainda no magistério, ensinou com tão impressionante desenvoltura na Faculdade de Filosofia e Serviço Social da nossa Universidade, que seu renome ultrapassou os umbrais das nossas fronteiras e chegou à cultura européia. Foi membro titular da Sociedade de Antropologia de Paris e professor honoris causa, do Centro de Estudos Antropológicos, também sediado em Paris, acontecimento fora do comum, principalmente naquela época. Mas, sua modéstia não permitiu alardear. Titular da Academia Paraibana de Letras, ocupou a cadeira 39, no elogio ao patrono, o escritor José Lins do Rego, fez uma profunda interpretação psicanalítica dos personagens, imortalizados nas páginas de Fogo Morto, do genial romancista. A 9 de março de 1946, pelos vínculos matrimoniais, uniu-se a Sra. Carmem Arcoverde. Nasceram-lhe os demais filhos: João Leonardo Arcoverde de Morais, médico e professor universitário; a Sra. Heloísa de Morais professora universitária de língua francesa; e José Luciano, advogado. Das antigas religiões dos povos asiáticos às escolas filosóficas, assistimos ao interminável desfile de crenças e religiões, do paganismo ao apostolado cristão, ideologias e doutrinas versam sobre o homem e seu destino. Platão ensinava aos congregados do seu Ginásio Academus, donde veio Academia, "{...) O homem é composto de corpo e alma." Na súmula da doutrina aristotélica, "A vida é atividade imanente. O princípio da vida é a alma. Mas, os instrumentos da vontade são de natureza material: sensitiva e racionalista." O positivismo de Augusto Comte, propunha a fundação de uma nova religião - a religião positiva - sem Deus. Sob as vestes do agnosticismo, "(...) A alma não passa do conjunto das funções do cérebro. Moral - uma combinação de instintos altruístas e egoístas, resultantes da nossa constituição psicológica." Seus discípulos chegaram ao materialismo e ao ateísmo, resultado de uma filosofia sem princípios, de uma psicologia sem alma, de uma religião sem Deus.


A "esquerda hegeliana" desenvolveu elementos anti-cristãos, cultivando o panteísmo materialista e ateu. Inspirado em Hegel, Karl Marx, desenvolveu o seu materialismo histórico e científico, seu sistema de socialismo anti-cristão: "A religião é o ópio do povo". Não obstante, as afirmativas que mais surpreenderam a raça humana, atingiram diretamente a sua vaidade: Galileu sentenciou "a Terra não é o centro do Universo", teve que engolir suas convicções, único meio de livrar-se da Inquisição; Charles Darwin, em sua obra "A Origem das Espécies", pois em dúvida que o homem seria descendente de Deus; e Freud ao afirmar que o homem nem sequer se governa, porque é movido por forças inconscientes, deixou o ser humano inseguro e abalado. Nem o mais enigmático dos livros da Bíblia - o Apocalipse - fez tanto medo às pessoas quanto essas três afirmações o fizeram. Trazemos agora este polêmico tema, à luz das idéias do Acadêmico Luciano Ribeiro de Morais, escritor elegante, doutrinário, suave e sóbrio, testa das suas mais brilhantes obras: A Projeção da Personalidade Humana dentro das Realidades Provisórias. "É, em verdade, no homem, que Deus repousa toda a majestade de Sua glória. O mundo sem o homem seria um mundo vazio e sem objetividade. O homem, então, aceitando como certo este postulado, procura avantajar-se, reivindicando para si mesmo uma posição superior ou excepcional no mundo em que ele se apresenta como a manifestação mais evidente do Criador. Convencido da sua superioridade o ser humano olha sobranceiro para o mundo dos vivos e dos mortos. Não se contém, quer ir adiante: chegar a Deus através dos caminhos traçados pelos seus desejos, pela sua audácia. Mas, não há superioridade humana que resista à sua própria contingência, ou escape ao princípio da vulnerabilidade. Daí a revolta do homem diante do fracasso de suas eternas tentativas, no sentido de dominar inteiramente o Universo. Nem mesmo a sentença de Pe. Vieira - 'Quem quer o que não pode, não alcança o que quer e ainda perde o que tem' - nem isso abala o homem em seus propósitos de tudo devassar. O impossível é apenas o possível que ainda não foi possível. Neste sentido descansa a esperança no êxito definitivo de todas as projeções vindas da imaginação humana. Façamos um balanço entre o mundo exterior onde, vivos, deslizamos, e o mundo interior onde se agasalham nossa consciência e a nossa alma. Do lado de fora, o ruído das vitórias, do lado de dentro, desespero e angústia. Meditem sobre o doloroso contraste entre dois mundos tão diferentes e tão indispensáveis um ao outro. Meditem se um balanço dessa natureza compensa tanta luta, tanto trabalho, tanta canseira. Do que se passa além dos nossos limites físicos, todos temos notícia. Quem não alcança, pelo entendimento o valor real dos sucessos obtidos, admira e aplaude a audácia humana, e dela exige mais empenho e mais conquistas. Do que se passa, porém, no lado de dentro, nos mistérios da alma, da consciência. Nosso mundo interior continua a ser o mistério dos mistérios, até hoje, inacessível até às mais altas indagações. A essência do homem e o significado de sua posição no mundo, como o mais categorizado dos finitos, em que o infinito se fragmenta, desafia a ponderação do bom senso, a experimentação da ciência e até mesmo a argúcia prescutadora da loucura dos homens geniais. Ainda não entendemos o porquê de nossa posição entre os vivos, não conhecemos os nossos objetivos superiores porque ainda não chegamos a desvendar o conteúdo exato da essência humana dentro da sistemática fenomenológica. Julgando agir como instrumento de Deus, o homem não se conforma com as trevas em que vive mergulhado,


em seu mundo interior, embora vislumbre, através dos sentidos, que o princípio da sua vulnerabilidade está em si mesmo. A angústia integra a essência do próprio homem. Ela é vital e está sempre presente como um espectro irremovível. A angústia humana é uma conseqüência imediata do desconhecimento da verdade, da verdade primária, fundamental. Quem desconhece a verdade não é livre: Quem não é livre não tem tranqüilidade, tem angústia. É a sentença de Cristo em toda a sua plenitude. - “Conhecei a verdade e ela vos libertará”! O homem sabe por intuição: quem busca o seu destino, busca também aos fundamentos da verdade, em cujo seio aspira aninhar-se tranqüilo e confiante. Mas, como buscar a verdade? Silêncio! Silêncio! Porque o silêncio tem sido o resultado de todas as tentativas de resposta a esta questão transcendental. É inegável que o homem, na projeção de suas possibilidades por esse mundo a fora, tem encontrado muitas verdades." Mas, verdades, assim, não consolam nosso coração aflito. Não apaziguam o nosso espírito atribulado, não desanuviam nossas perspectivas estranhas e confusas, e não fazem, enfim, descer a paz à nossa consciência ou a nossa alma. Essas verdades se comportam desse modo, porque são puramente humanas e, como tais, contingentes e vulneráveis, como a pessoa humana. São inespecificas. Provisórias. Existenciais. E, igualmente aos seres humanos, vivem sua época, seu tempo: aparecem e desaparecem. Todas elas, porém, como todos eles, findam de novo sepultadas, quietas e perdidas, na escuridão de suas tumbas. Um raciocínio dessa envergadura não convém à humanidade. Não convém porque não convence, nem conforta ninguém. A vida humana, dentro de lógica tão crua e tão dura, ficaria sem sentido, ou com um sentido ainda mais obscuro e difícil de ser encontrado. Projetar desse modo, suas possibilidades num mundo de aparências, seria um rude golpe para a personalidade humana, tão orgulhosa de sua empresas, de sua técnica e de sua posição entre os vivos e entre as coisas. Reconhecer tudo isso seria descrer da “luta do instante contra a eternidade”, seria duvidar que, nessa luta, para o instante, não haveria chance, nem glória. A humanidade, torturada, há de continuar em busca da verdade. Em cujo seio deseja agasalhar-se, serena e segura. É a vitória da ilusão. E, assim, vamos vivendo...E sofrendo.. E a verdade? A verdade é Deus! E Deus repousa no homem toda a majestade de sua glória”.

O Amigo Era antes de tudo um cavalheiro, sereno e calmo. Ninguém jamais o viu desapontado; no olhar o fascínio da força desarmada, infundia respeito e segurança frente à qualquer acontecimento, isto não quer dizer que fosse um sisudo, mas um carismático, brando e acolhedor. Discípulo das idéias de Platão, compunha-se como o filósofo da


sombra e da luz. Via sempre os dois lados dos fatos, com aguçada percepção e pensamento analítico. Em questões polêmicas era lacônico, só se pronunciava se necessário, depois que ele falava, geralmente, tudo mais era silêncio. Na lógica socrática era hábil e imbatível, evidenciava o contraditório nas palavras do próprio interlocutor. Certa feita, a convite, foi mediador de uma greve de médicos, após a fala de um orador exaltado, advertiu: "A paixão compromete...". Foi retrucado: "Com paixão, não, Dr. Luciano, mas revoltado, sim!" (aplausos). De imediato ele proclamou: "Tenho visto apaixonados sem revolta, mas nunca vi um revoltado sem paixão", (silêncio). O mundo para ele não tinha surpresas. Parecia que vivia a vida do fim para o começo. Se foi feliz, eu não sei. Foi mais um enigma que levou consigo mesmo. Luciano Ribeiro de Morais, em 26 de fevereiro de 1966, foi abstraído do seu último cenário, noutra noite enluarada de sábado, com o céu cheio de estrelas. Partiu triunfal, como chegou ao mundo. Nosso referencial de valor depende diretamente da vida sentimental, como ensina a filosofia Kantiana, nós damos significado a tudo, por isso não podemos ter um juízo crítico puro sobre nada. Opiniões, superstições, vivências elevadas, estéticas, éticas religiões, e tudo mais, têm um significado que já é nosso, previamente formado. Por mais racionais que pretendamos ser, dentro desta razão há sempre um sentimento que a justifica. Esta interpretação sobre o nosso virtuoso patrono, se couber juízo ad quem, (julgamento em instância superior) esperamos merecer a indulgência plenária, (absolvição das penas temporais), de quem não quer condenar. Neste excelso Colegiado que tem o condão de transformar vidas efêmeras em perenidades, onde só se entra uma vez e só se sai para sempre, onde só entra o puro, e o lugar não se herda, se conquista sob o rigoroso crivo estatutário, que disciplina o noviciado, que eleva e realça as virtudes dos seus efetivos e antepassados. Recebo a Titularidade da Academia Paraibana de Medicina, a Medalha de Honra ao Mérito que vós me conferis, como uma expressão de afago, um apoio, um conforto, uma razão de ser, que justifica a existência. São coisas assim, são gestos assim, que consagram o homem, perseveram a fé em Deus e impedem que se perca de uma vez a crença na humanidade. Diferente da fama e poder que muitos conseguem num jogo lúdico, sem que para isto tenham que derramar uma só gota de suor. Fama e poder, ambição e soberba, corrida sem trégua atrás do vento, atrás do nada. A todos os presentes, Meu muito obrigado. João Pessoa, outubro de 2002. Aécio Araújo de Morais


CADEIRA Nº Patrono:

12

FRANCISCO ALVES DE LIMA FILHO

Data de posse: não empossado 1º ocupante: ALBERTO FERNANDES CARTAXO Data de posse: 28/11/2002 2º ocupante: Adahylson da Costa Silva Saudação:

João Gonçalves de Medeiros Filho


28/11/2002  Saudação ao: Dr. ADAHYLSON DA COSTA SILVA Cadeira nº 12 Por: Dr. João Gonçalves de Medeiros Filho

Meus Senhores: Inverte-se neste instante o princípio da hierarquia; altera-se a ordem natural dos fatos: um discípulo introduz numa Academia de Medicina seu velho mestre. Na verdade conheci o Professor Adahylson da Costa Silva nos bancos escolares, quando cursava a disciplina de Bioquímica no início do curso médico. Anos mais tarde fui convocado para ser o médico do seu único filho Tonzé e convidado para assumir a presidência da comissão de residência médica do Centro de Ciências da Saúde, quando o professor assumiu o mandato de diretor, durante aquele que seria, sob todos os aspectos, o período mais profícuo e prolífero de sua existência. E como se não bastasse, tive ainda o privilégio de participar, na qualidade de membro do Conselho Científico e Cultural Permanente da APMED, do seu processo seletivo no qual se destacou sobremaneira pela produção acadêmica e científica. Por todas essas razões é desnecessário dizer o quanto me honra a incumbência de apresentá-lo como o mais novo titular desta Academia Paraibana de Medicina. Adahylson nasceu nos idos de 30, na Rua Beaurepaire Rohan, à época conhecida como Rua do Melão, de parto domiciliar-a exemplo de muitos de seus contemporâneos -, sendo o segundo filho de uma prole de seis do casal Antônio Adelino e Maria da Silva Costa. Seu genitor era comerciante e foi durante certo tempo proprietário do tradicional Elite Bar. Teve infância saudável e consta que foi amamentado até os 3 anos de idade, prática salutar que se respalda nas mais atuais recomendações da OMS. Quando enfermo, seu pai o levava a Dr. João Medeiros que então mantinha consultório à Rua Maciel Pinheiro. Cursou as primeiras letras no Grupo Escolar Tomaz Mindello e prestou exame de admissão no Liceu Paraibano. Nunca foi muito afeito ao esporte e seu hobby predileto era a leitura. Muito estudioso, freqüentava com assiduidade a Biblioteca Pública e a do Liceu. Leu muitos clássicos de sua época, sendo seus autores preferidos, Machado de Assis e Humberto de Campos. Recorda com certo alívio que no final de 1951 havia certa apreensão e ceticismo acerca do funcionamento da escola de medicina fundada em 1950. Assim, certa feita ele e Marcílio Coutinho Sobrinho haviam abordado o professor Humberto da Nóbrega, durante encontro fortuito, externando sua grande preocupação sobre o assunto. Prof. Humberto muito otimista teria assegurado que eles haveriam de se formar aqui, fato que efetivamente se consolidou, pois em 1952 Adahylson submetia-se a exame vestibular para ingresso na Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba, entidade civil fundada, entre outros por Newton Lacerda, Humberto Nóbrega, Lauro Wanderley, João Medeiros, Antônio Dias e Antônio d'Avila Lins, tendo obtido excelente classificação. A criação da faculdade em nosso meio "caiu como uma luva", diz Adahylson, uma vez que à época "não teria condições financeiras de estudar em Recife", onde se situava a escola mais próxima. Não freqüentou cursinhos; o Liceu era um ótimo colégio, onde o


ensino era encarado com muito rigor e seriedade. Por isso, adianta, as turmas iniciavam com cerca de cinqüenta alunos, no primeiro científico e, ao final apenas vinte concluíam o curso; muitos migravam para Recife em busca de aprovação fácil em educandários tipo Carneiro Leão e outros. Entre os colegas de Liceu, além de Marcílio e Jarbas Vinagre, lembra-se de Simone Seixas Maia, Maria José Brito Silva, Walquíria Medeiros, Egídio Madruga e Flaviano Ribeiro Coutinho. Ao ingressar na faculdade, como a maioria dos colegas, optou pela cirurgia geral e passou a acompanhar o Professor Asdrúbal; porém logo desencantou-se com as longas jornadas de trabalho, concluindo que aquela não era sua vocação. Estudante pobre, ainda no 1° ano, por orientação de Dr. Newton Lacerda, submeteu-se a concurso para escrevente microscopista do Departamento de Saúde do Estado da Paraíba, tendo sido aprovado e após estágio de treinamento foi contratado. Exerceu a função até se formar, tendo trabalhado com Dr. Manoel Florentino. No curso médico, foram seus colegas de turma: Antônio Fialho Moreira, Danilo Maciel, Ely Chaves, Evandro César, Ivan Régis, Galvani Muribeca, Jacinto Medeiros "presidente vitalício da turma" -, João Gonçalves da Silva, José de Jesus Rodrigues, Mazureik Morais, José Nabor de Assis, Maria Dalva Machado, Maria das Neves Carneiro, Newton Jorge, Paulo Gayoso de Souza e os irmãos Renaldo e Rodrigo Rangel, entre outros; e também, Jarbas Vinagre, José Galberto de Carvalho (orador) e Marcílio Coutinho Sobrinho, já falecidos. Quando cursava a disciplina de Parasitologia, foi convidado pelo prof. Luiz Hidelbrando Pereira da Silva - atualmente, docente em Sorbonne -, que sucedera o eminente professor e cientista Samuel Pessoa, para exercer a monitoria da cadeira, tendo colaborado em importantes pesquisas, inclusive apresentando trabalho em congresso médico sobre esquistossomose no meio universitário. Ainda quando estudante de medicina, a convite do Dr. Antônio Dias trabalhou num pequeno laboratório que o professor montara anexo à Enfermaria Santana, fato que teve marcante influência na escolha de sua especialidade. Havia grande interesse da direção da nova faculdade de ampliar seu corpo docente, face à grande carência de professores, notadamente na área básica. Assim, logo após a colação de grau, em dezembro de 1957, Adahylson foi contemplado com uma bolsa de estudos do Ministério da Educação (CAPES) para realizar curso de especialização no Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, sob a orientação do Prof. Baeta Viana, considerado à época, um dos melhores do país. Permaneceu por mais de dois anos na capital mineira - onde coincidentemente morava uma irmã sua - e não fora a insistência do prof. Humberto Nóbrega, que inclusive o convidou para ministrar curso na Paraíba, teria permanecido em Minas Gerais. Em 1960 retornou à terra natal e ingressou na faculdade como professor contratado. Numa de suas andanças por São Paulo viu-se novamente tentado a deixar a Paraíba, pois foi convidado e nomeado assistente da Cadeira de Clínica Médica, cujo catedrático era o Prof. Ulhoa Cintra. Pouco tempo após, entretanto, solicitou demissão e retornou a João Pessoa. A Universidade da Paraíba caminhava para a federalização. Em 1962 foi nomeado professor catedrático interino de Química Fisiológica, através de portaria do Ministério da Educação, durante o reitorado do prof. Mário Moacyr Porto. Inicialmente a disciplina funcionava no antigo prédio da faculdade de medicina, localizado na Rua Visconde de Itaparica. Durante a implantação do laboratório contou com o apoio decisivo do Dr. Guilardo Martins Alves, então diretor da escola. Posteriormente, transferiu-se para a Rua Alberto de Brito, onde foi instalado o Instituto de Química da UFPB, cujo diretor era o prof. Antônio Morais, cargo que mais tarde seria ocupado pelo novel acadêmico.


Recordo-me com clareza da organização e seriedade que o prof. Adahylson imprimiu à cadeira de Bioquímica, quando por lá passei em 1967. Além de extensa atividade prática, o curso teórico foi cumprido rigorosamente e o término do ano letivo foi coroado com a realização da I Semana de Estudos Bioquímicos que teve como palestrantes os próprios estudantes. Na escalada de sua brilhante carreira, Adahylson foi nomeado professor titular em 1971, ocupando a chefia do Departamento de Bioquímica da UFPB por diversas vezes. Com a reforma cêntrica, foi transferido para o Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), onde também exerceu as funções de chefe de departamento. Posteriormente, entretanto voltou ao CCS, sendo lotado como professor de Parasitologia do Departamento de Fisiologia e Patologia e exerceu sucessivamente a assessoria de graduação, a coordenação do curso de fisioterapia - de cuja organização participou de forma decisiva -, culminando com a diretoria do Centro de Ciências de Saúde. Participou de muitas comissões e conselhos, destacando-se o Colegiado do Curso de Medicina, Conselhos de Centro do CCS e CCEN, Conselho de Ensino e Pesquisa da UFPB (CONSEPE) e do Conselho Técnico Administrativo da UFPB (CTA). Igualmente integrou inúmeras bancas examinadoras, em todos os níveis. É membro de diversas sociedades médicas ligadas à especialidade, tendo sido conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), durante o período de 1965 a 1970. Foi agraciado com os seguintes títulos honoríficos: Elogio pelos relevantes serviços prestados à Coordenação do Ensino Integrado da UFPB, Honra ao Mérito como Diretor do CCS, e Sócio Emérito da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, em setembro último. Participou de muitos cursos e eventos; apresentou e publicou diversos trabalhos, destacando-se "Esquistossomose Mansônica no Meio Universitário de João Pessoa", "Metabolismo do Cobre", "Determinação Ferro-métrica da Hemoglobina", 'Atividade Terapêutica de um Novo Antibiótico de Largo Espectro sobre as Protozooses Intestinais", "Biosíntese de Proteínas", entre outros. Autor de um dos capítulos do livro "Cinqüentenário do Ensino Médico na Paraíba", publicado em dezembro de 2000, durante as comemorações dos cinquenta anos de nossa escola, intitulado "Inícios do Ensino Médico na Paraíba - Visão de um Aluno da Primeira Turma", onde retrata, com concisão e elevada sensibilidade os primórdios da nossa faculdade: as dificuldades, as incertezas, a saga dos desbravadores que nos trazem à memória o pioneirismo de Scott, Amundsen e Schakelton, na conquista do polo sul. Episódios inéditos e até grotescos são registrados; diz Adahylson, num dos trechos de seu trabalho: "Logo no início do curso, o Prof. Asdrúbal colocou em uma das bancadas do anfiteatro, onde assistíamos aula, um cadáver, possivelmente mal conservado (formolizado). O citado corpo foi se decompondo, paulatinamente, à medida que o curso transcorria. A fedentina era terrível, porém, nunca tivemos a ousadia de reclamar ao mestre do horário de início das aulas, nem do mau cheiro do ambiente"... Lamentavelmente hoje perdemos nossa identidade: as escolas foram agrupadas em centros; o curso seriado foi esfacelado em períodos; não existem turmas, os alunos mal se conhecem. Oxalá, através da estatuinte em curso possamos resgatar o elo perdido. Da análise do currículo do nosso novel acadêmico - de aluno da turma pioneira a monitor; de jovem catedrático interino a professor titular; de assessor e coordenador de cursos a diretor do maior centro da UFPB - depreende-se o quão significativa foi sua contribuição ao ensino médico na Paraíba. Na atividade liberal, instalou com Marcílio Coutinho o Laboratório Adolpho Lutz em 1964, à época um dos poucos da cidade; atualmente atua também no laboratório do Hospital da Unimed.


Adahylson conheceu Maria Gláucia de Vasconcelos Costa, professora universitária, quando freqüentava curso de inglês, com quem contraiu núpcias em 1965. Do casamento nasceu seu único filho, Antônio José de Vasconcelos Costa, estudante de Ciências da Computação. Sempre demonstrou apurado interesse pelas letras e por idiomas, tendo estudado espanhol, francês e inglês. De gosto refinado, é apreciador e conhecedor de vinho e faz parte atualmente de, pelo menos, duas confrarias. Anos atrás chegou a dedicar-se à pintura, produzindo cerca de dez telas; as inúmeras ocupações o compeliram, entretanto, a abandonar as artes plásticas. Em pleno vigor físico e intelectual tem muito a nos legar, com sua experiência e cultura. Meus senhores, minhas senhoras, caríssimos confrades: este é o homem, o médico e o professor que hoje acolhemos com muita satisfação no seio da nossa entidade. Prof. Adahylson: A Academia Paraibana de Medicina se sente honrada e fortalecida ao recebê-lo como o seu mais novo membro titular. Seja bem-vindo! Tenho dito!


28/11/2002 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. ALBERTO FERNANDES CARTAXO. Cadeira nº 12 Por: Dr. Adahylson da Costa Silva

Excelentíssimo Sr. Professor Doutor Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, mui digno Presidente da Academia Paraibana de Medicina; Excelentíssimo Sr. Professor Gessé Gomes Meira, mui digno Diretor do Hospital Universitário Lauro Wanderley, aqui representando o Magnífico Reitor da Universidade Federal da Paraíba, Professor Jáder Nunes; Excelentíssimo Desembargador Dr. Júlio Aurélio Moreira Coutinho, mui digno Vice-Presidente do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba; Excelentíssimo Sr. Professor Doutor João Modesto Filho, mui digno Presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba; Excelentíssimo Dr. Danilo de Lira Maciel, mui digno Presidente da Associação dos Hospitais da Paraíba; Excelentíssimo Sr. Professor Doutor, Acadêmico João Gonçalves de Medeiros Filho, a quem agradeço pelas palavras generosas de sua saudação, fruto, por certo, de uma longa e honrosa amizade médico-familiar. Talvez poucos saibam que seu pai, Dr. João Medeiros, foi meu pediatra quando eu era criança, e meu professor quando fui aluno da Faculdade de Medicina. O filho, a quem me dirijo nesta oportunidade, além de ter sido meu dileto aluno quando exerci a docência na Faculdade de Medicina, devo ainda os cuidados pediátricos ao meu querido filho. E se não bastasse, o irmão do Dr. João Medeiros Filho, o Dr. Jacinto Medeiros, Presidente desta Academia, a quem já me dirigi, foi meu colega da turma pioneira da Faculdade de Medicina da Paraíba; Excelentíssimos Senhores Acadêmicos, membros desta respeitável Casa, a quem agradeço a honra e o prazer de ter sido aceito neste ambiente de culto à ciência; Excelentíssimos Senhoras e Senhores Familiares do querido Professor Alberto Fernandes Cartaxo, que me antecedeu na Cadeira n° 12 desta Academia, como também os parentes do saudoso Dr. Francisco Alves de Lima Filho, Patrono da referida cadeira; Excelentíssimos Senhoras e Senhores, Autoridades aqui presentes, meus queridos colegas de turma pioneira que aceitaram o convite para participar desta solenidade, motivo maior de minha satisfação; meus caros familiares aqui presentes, dentre os quais destaco meu cunhado Glauber, e ainda minha querida esposa Gláucia, e meu filho querido Antônio José, ambos razão da minha vida, e alento para suportar a emoção deste momento; lamento a ausência de meus dois irmãos já falecidos e dos outros três, ainda vivos, que não puderam aqui comigo estar; desejaria também dedicar e agradecer a satisfação deste acontecimento ao meu saudoso pai, de quem herdei dons genéticos dominantes, e a minha querida mãe, ainda viva, em seus 97 anos, e que, se a saúde permitisse, estaria aqui presente; minhas Senhoras e meus Senhores: O Parágrafo 2°, do Artigo 2°, do Capítulo II do Regimento Interno desta Academia reza que, para me empossar nesta festiva solenidade, na cadeira de n° 12, terei de me reportar ao meu antecessor, professor Dr. Alberto Fernandes Cartaxo, requisito a que me submeto com a maior satisfação. "Alma minha, não te atormentes por uma vida imortal; aproveita os frutos que tens ao teu alcance."


(Píndaro) Não poderia eu deixar que este momento fosse, unicamente, tomado pelas praxes regimentais próprias das entidades associativas. Se aqui e agora estou, devo-o a circunstâncias e fatos dos quais, muitas vezes, nem mesmo o destino poderia suportá-los. Acredito no que disse Heródoto: "Não são os homens a dominar a sorte, mas a sorte a dominar os homens." Setenta e dois anos de existência me fizeram testemunha de muitos acontecimentos médico-sociais; não digo somente nesta cidade, porque hoje moro neste mundo globalizado e dele sofro suas influências. Aqui nasci em plena revolução de 1930, exatamente num sábado, 12 do mês de abril, tendo a sorte de ser filho de pais pobres, mas possuidores de qualidades de encaminhamento educacional para seus seis filhos. Tive ainda a sorte, posso dizer hoje, de ter estudado em escolas públicas, as melhores daquela época, desde o jardim de infância com a professora Alice Azevedo, Grupo Escolar Tomáz Mindêllo e Liceu Paraibano, os quais me deram o embasamento de uma certeza de aprovação no exame vestibular há 50 anos, ou seja, 1952. Fui, portanto, da turma pioneira da Faculdade de Medicina da Paraíba. Meu pai desejou, veladamente, que eu, como filho homem mais velho, fosse padre, para encaminhar meus outros irmãos, dizia ele. Quis também que eu fosse contador, profissão ligada à sua atividade de comerciante. E eu fiz esse curso na Academia de Comércio Epitácio Pessoa, enquanto freqüentava o colegial científico no Liceu Paraibano, durante o dia. Até hoje não fui apanhar o meu diploma de contador. Sobre o tempo e os acontecimentos relativos à criação da Faculdade de Medicina da Paraíba e seu funcionamento que presenciei, como aluno, já me reportei, no capítulo que escrevi na plaqueta "Cinqüentenário do Ensino Médico na Paraíba" publicado pela Editora Universitária de João Pessoa por ocasião das comemorações no ano de 2000. Não querendo eu ofuscar a beleza deste ambiente festivo, nem a alegria de meus sentimentos acho justo e certo dizer, diante desta casa de sabedoria e vivência médica, da tristeza e decepção que sinto, diante dos desencaminhamentos de profissão médica, o que não me cabe aqui explicitar Tampouco me causou constrangimento o fato de meu filho único não escolher a minha profissão, apesar do suporte que pus à sua disposição . Diziase, há bem pouco tempo, quando a situação do médico era ainda satisfatória: "O médico era um sacerdote na Babilônia; um artesão, na Grécia antiga; um sub-profissional, no princípio da idade média; um letrado de qualificação universitária, doutor de borla e capelo, na renascença. Ontem era um técnico e um cientista que, como médico de família, vivia dos honorários de uma profissão dita liberal. Hoje é tudo isso e, freqüentemente, também um assalariado." Quis o destino que eu, além de médico, fosse ainda professor, apesar da minha relutância inicial. Dizia o poeta italiano Ariosto em "Orlando Furioso": "O homem raramente escapa de seu destino" Eu digo mais, com meu próprio pensamento e palavras. Acredito em mais de um tipo de destino: um deles é aquele execrável, dominador e não aceito pelo seu portador -


talvez o destino do mal. Porém estou certo da existência de outro tipo de destino: é o destino do bem, ao qual as pessoas se entregam com satisfação. Hoje estou certo de que fui encaminhado para o destino do bem. Este momento é, para mim, motivo da comprovação do acerto de uma trilha que segui na vida, mesmo diante do preconceito que sempre existiu, e hoje mais ainda, com o professor, muitas vezes compartilhado com os médicos. E assisto com tristeza à transformação do professor que passou a ser um "burro de carga", mal compreendido e mal pago. Dante, em "O Inferno", deparando-se com Brutetto Latino, já exclamava, jocosamente: "por aqui, professor?" Hoje, talvez pelo desgaste da palavra professor, muitos que o são se autodenominam educadores. Como professor universitário do curso médico, assisti, passivamente, muitas reformas impingidas ao ensino: novos métodos, novos currículos, e os rótulos foram passando, como numa seqüência cinematográfica. Abismado, tomo conhecimento agora que: "Tudo vai voltar como d'antes no quartel de Abrantes." Fui espectador e ator, cômico talvez, da famigerada reforma cêntrica de 1974, quando tive que sair do curso médico e implantado no Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), local para onde foi remanejada a disciplina de bioquímica, junto com Weber de Melo Lula, de quem sinto saudade, e Carlos da Cunha Lima, hoje ligado a cardiologia. Em muito boa hora, fui convidado, pelo diretor do Centro de Ciências da Saúde, naquela época, o professor Norberto de Castro Nogueira Filho, meu ex-aluno e meu exmonitor na cadeira de bioquímica, e me transferi para o CCS. Por ingerência do prof. Norberto, junto ao reitor Linaldo Cavalcanti, me transferi para o CCS, na condição de me incorporar a uma das disciplinas do Centro. A Parasitologia foi a minha escolhida, não só por estar ligada a minha especialidade médica, em patologia clínica, como também pela minha aproximação com Samuel Pessoa, de quem fui aluno, e Luís Hildebrando Pereira da Silva, seu sucessor, hoje renomado cientista internacional, de quem fui monitor. A esta altura já vinha eu me dedicando mais às atividades administrativas do ensino, de chefia, assessoria e direção. Fui, inclusive, diretor do Instituto de Química numa dessas reformas passageiras. A minha estada no Centro de Ciências da Saúde, onde fui, de início, Assessor de Graduação, me colocou numa intimidade muito salutar com os coordenadores dos sete cursos de graduação, dos quais tomei conhecimento de seus currículos e anseios profissionais. Tenho saudades daquela época, quando me sentia aglutinador destes profissionais num ideal de formação de equipe de trabalho, no sentido da melhoria do ensino e da saúde. O prof. Norberto foi, para mim, um exemplo de combatividade e dedicação ao trabalho do ensino na área da saúde nessa época. Graças à amizade com a direção do CCS e o entrosamento com os demais membros do Conselho de Centro, fui colocado numa lista para escolha do novo Diretor do CCS para o quadriênio 80-84, pelo Reitor e pelo Ministro da Educação. Sem falsa modéstia, cheguei a dizer ao Reitor Berilo Borba que não almejava o cargo. Tomei posse na direção do Centro de Ciências da Saúde, no dia 15 de dezembro de 1980. Nesse dia, estava eu completando 23 anos de formatura, e meus pais 53 anos de casados. No próximo dia 15 de dezembro, estarei, junto com o atual Presidente desta casa,


prof. Jacinto Londres de Medeiros, e demais colegas, muitos deles aqui presentes, completando 45 anos de formatura. E foi o ano de 1980 a época de maior atividade de minha vida, Diretor do CCS, síndico do prédio onde morava, dono e administrador do laboratório Adolpho Lutz, minha mulher defendendo tese de mestrado e, ainda, o nascimento de um filho bem-vindo e temporão, depois de 15 anos de casado sem filhos. Contando assim um pouco da minha história, desejo que meu sucessor, quando, por força regimental, tiver que me elogiar, possua ele algo para rechear seu discurso. Meu antecessor: Professor Dr. Alberto Fernandes Cartaxo Dizia G. Flauber: "Se existiram grandes homens enquanto vivos, é a posteridade que os cria". Esta é uma casa que tem objetivos científicos, culturais e humanísticos, onde se inclui a preservação da história da medicina e seus personagens no Estado da Paraíba. Aproveito a oportunidade para render homenagem, mais uma vez, a Humberto Nóbrega, como o grande historiador dos assuntos médicos na Paraíba. Depois dele desapareceu muito do interesse nesta área. Antes de iniciar minhas palavras sobre meu antecessor, não poderia eu deixar de externar as dificuldades que tive em encontrar referências histórico-bibliográficas sobre os personagens a que tenho que me referir: meu antecessor e o patrono da cadeira n° 12. Deste último não consegui nem uma fotografia, apesar do meu desempenho. O tempo cria e modifica a história. Lembro-me de uma citação, inserida no 1° volume da "História da Faculdade de Medicina da Paraíba", de Humberto Nóbrega, ao se referir a Walter Raleigh indignado com a falta de fidelidade de suas observações, chegando a tentar destruir pelo fogo os originais do seu notável livro "História do Mundo", exclamando: "Se me enganei descrevendo o que vi com meus próprios olhos, quantos erros cometi narrando fatos observados por outros". Mas o pecado de esquecimento do passado também é institucional. Acreditem os senhores que se eu for ao CCS e perguntar qual a disciplina que ensinei, em que ano fui diretor e em que data me aposentei, dificilmente poderão me informar. Acontece este fato em todos os órgãos da universidade. Lembro-me de um acontecimento hilariante, para não dizer chocante, que me aconteceu pouco tempo após eu ter-me aposentado. Procurei a direção do CCS para uma visita ao local onde trabalhei como professor, assessor e diretor. Lá chegando, como um estranho, ao me dirigir à Secretaria e comunicar a minha intenção de falar com o diretor, fui argüido por um dos funcionários a quem deveria ser anunciado. Meio acanhado, respondi que eu era um daqueles retratos que estavam dependurados na parede. Dos órgãos oficiais e associativos, somente no Conselho Regional de Medicina da Paraíba, através de seu Presidente, o acadêmico Dr. João Modesto Filho, consegui a ficha de inscrição do Dr. Alberto Fernandes Cartaxo, meu antecessor na cadeira n° 12. E se não fossem alguns familiares e amigos que me fornecessem subsídios da vida do Dr. Alberto Cartaxo, meu trabalho seria quase impossível. Alberto Fernandes Cartaxo nasceu no dia 27 de janeiro de 1911, no município de Espírito Santo, na Paraíba, filho de César Cândido do Couto Cartaxo, e Maria das Dores Fernandes Cartaxo. Sua infância, ele a viveu nos engenhos Cadeno e Saboeiro, de propriedade de seus pais, este último arrasado na cheia de 1924. Quando criança deve ter aproveitado dos prazeres do campo às margens do rio Paraíba. Como filho de pai rico e de entendimento, pois seu pai, além das atividades agropecuárias, era engenheiro da estrada


de ferro "Great Western", viveu o menino Alberto na companhia de seus irmãos, Luís, Moacir, Milton, Iracema e Nair. Fui colega de ginásio de um sobrinho seu, já falecido, Mário Cartaxo, que muito se assemelhava, fisicamente, com o tio. Uma sua sobrinha mais chegada, Sílvia Cartaxo, dentista, residente em Fortaleza, me confidenciou muitos fatos da família Cartaxo, oferecendo-me subsídios para execução desta minha tarefa. Também um seu primo, o Cel. Talião de Almeida, aqui presente, me orientou no contato com os familiares. A todos eles, os meus agradecimentos. O adolescente Alberto teve que se ausentar de seus brinquedos de criança para estudar e se preparar para ser doutor, como seu pai. Após seus estudos preparatórios, o já rapaz Alberto ingressou na Faculdade de Medicina de Pernambuco, onde colou grau em 1936, aos 25 anos de idade. Foi nessa época que começaram a se formar médicos paraibanos em Recife. Antes os médicos daqui se formavam na Bahia e no Rio de Janeiro. Foram seus colegas de turma os médicos Miranda Freire, José Betânio, Abel Beltrão e Bezerra de Carvalho. A dermatologia foi a especialidade escolhida pelo Dr. Cartaxo, tendo ele sido seguidor da escola do prof. Jorge Lobo, do Recife. No início, residiu alguns anos numa casa da Rua das Trincheiras, junto com outros solteirões, um deles, meu conhecido por ser tio da minha esposa, o Dr. Dácio Cabral. Por desentendimentos menores com seus colegas, o Dr. Cartaxo saiu da casa das Trincheira e foi morar sozinho na Rua Francisca Moura, 400, em frente ao seu colega e amigo Dr. Miranda Freire. Foi ali onde viveu até seus últimos dias. Em seu quarto de dormir, havia um cartaz com os seguintes dizeres: "a solidão é minha grande companheira". Além do consultório particular que ele dividia com o amigo cardiologista Dr. Miranda Freire, na Praça 1817, n° 55, foi o Dr. Cartaxo também médico do Serviço de Saúde Pública no setor de doenças venéreas, que inclusive funcionava com atendimento à noite, em plena zona do baixo meretrício, chamada, naquela época, de mandchúria. Do consultório da Praça 1817, o Dr. Cartaxo se transferiu, posteriormente, para o Edifício Pasteur na Rua Rodrigues de Carvalho, onde adquiriu uma sala de consultório. Ali ele atendia seus clientes à tarde, e depois se encaminhava para a sede social do Clube Cabo Branco, local onde se encontrava com amigos para um bate papo costumeiro. Só sairia do clube no horário de ir apanhar sua noiva, a quem me referirei posteriormente, na Delegacia de Receita Federal. Convocado para o serviço militar, no período da guerra, atuou como estagiário, na qualidade de 2° Tenente Médico da reserva, tendo para tanto se deslocado em manobras para Aldeia e Natal. Além da dedicação à clínica de dermatologia, o prof. Cartaxo também, pela sua capacidade profissional, foi convidado para ensinar a matéria de sua especialidade na Faculdade de Medicina da Paraíba, na Escola de Enfermagem Emília de Rodat, e na Faculdade de Enfermagem da UFPB. No 1° volume do livro de Humberto Nóbrega, "História da Faculdade de Medicina da Paraíba", encontra-se o nome do Dr. Alberto Fernandes Cartaxo, na relação de novos professores, como regente da disciplina Clínica Dermatológica e Sifiligráfica, na ata da célebre reunião de 25 de março de 1950, ocasião em que foi fundada a Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia do Estado da Paraíba. Como seu aluno, recordo de suas aulas numa das salas do Hospital Santa Izabel, onde a carência de condições fazia com que ele e os demais professores utilizassem recursos de improvisação. Lembro-me da chegada do prof. Cartaxo ao hospital, num velho furgão Ford 1941, pertencente ao leprosário onde ele trabalhava.


Hoje, mais do que nunca, percebo o benefício que a Faculdade de Medicina proporcionou não só aos estudantes, mas também aos profissionais médicos que se tornaram professores naquela época. Como aluno, assistí ao desvelo e à dedicação com que os meus professores se entregaram a nova atividade. Era grande a busca de livros, e novas livrarias apareceram na cidade. Os professores se excediam na busca de transmitir novos conhecimentos aos seus alunos. O prof. Cartaxo, que foi um autodidata por natureza, não economizava na compra de livros, e ao falecer deixou uma biblioteca razoável na área de sua especialidade. Como homem esquisito e solitário, o prof. Cartaxo não gostava de sair de João Pessoa, sua cidade. Uma vez, por obrigação de trabalho, teve ele que ir ao Rio de Janeiro, de avião, pelo qual tinha pavor. Foi acometido de uma depressão tão grande, que o Dr. Humberto Nóbrega que também se encontrava no Rio, na ocasião, fazendo um curso de saúde pública, ao tomar conhecimento de seu estado o levou para o apartamento de sua família, onde dividiu o exíguo espaço com o colega carente. Uma viagem da qual o prof. sempre falava e da qual tinha gostado muito, foi ao Amazonas, mas de navio. O professor e acadêmico desta Casa, Dr. João de Brito Moura, a quem devo e agradeço muitas das informações recolhidas sobre o prof. Cartaxo, tendo sido seu discípulo, amigo e sucessor no Leprocômio Getúlio Vargas, e na disciplina de dermatologia, quando ia ao Recife, a serviço, sempre convidava o prof. Cartaxo, já aposentado, para acompanhá-lo. Naquela cidade, gostava o prof. Cartaxo de visitar sua irmã querida, Iracema. A única diversão a que ele se entregava com prazer era à pescaria, junto com alguns amigos em Barra de Gramame, Jacarapé e Ponta de Pedra. Quando adoeceu, dizia que sua única distração o levaria a morte, referindo-se aos raios solares a que se submeteu em seu lazer. O poeta metafísico inglês, J. Donne, citado por Hemingway no romance "O velho e o mar", dizia: "Nenhum homem é uma ilha auto-suficiente; cada um é parte do continente." O Dr. Cartaxo, como eu já disse, foi um solitário renitente. Quando mais jovem, foi noivo de uma moça que dizem muito bonita, de nome Leonor, pertencente a uma família da sociedade paraibana. Existem várias versões sobre o rompimento deste noivado; mas acredito que sua permanente desconfiança das mulheres deve ter sido a principal causa do fim do romance. Dizem também que dela ele nunca esqueceu, e que - em intensidade - ela foi o grande amor de sua vida. Digo em intensidade, porque em longevidade, o Dr. Cartaxo teve uma noiva por mais de 30 anos. Cheguei a conhecê-la quando eu era ainda aluno do professor Cartaxo. Uma moça muito simpática, de nome Dalvanira Pinto, que ainda vive. Tentei um contato com d. Dalvanira quando descobri ter sido colega de primário de uma sua irmã mais moça, Gilvanda. Infelizmente não pude conversar com d. Dalvanira. Por telefone ela me disse que seu passado havia morrido junto com o Dr. Cartaxo. Já se disse que todo dinheiro tem um pecado original, e a única maneira de redimir-se é gastá-lo. Era um homem que não confiava nem nas mulheres nem no dinheiro. Chegou a ter uma quantia avultada de dinheiro, em casa, porque não queria pagar imposto nem confiava


nos bancos. Somente depois de ser roubado em parte de sua fortuna foi que passou a confiar nos bancos. O Dr. Cartaxo dedicou toda a sua vida a atividade profissional. Além de seu consultório, onde atendia a sua clientela, foi durante 16 anos Diretor da Colônia Getúlio Vargas, conhecida na época como leprosário, onde sucedeu ao Dr. Edson Almeida, outro dermatologista paraibano, que na época se transferiu para o Rio de Janeiro, tendo lá se tornado reconhecido em sua especialidade. Lembro-me de uma visita que fiz ao leprocômio, como hoje se diz, quando aluno do professor Cartaxo, junto com meus colegas de turma. Ao citado leprocômio, o prof. Cartaxo teve uma dedicação extremada, e lá ia diariamente e muitas vezes repetia - à noite - sua visita àquela verdadeira cidade de condenados pela lepra, hoje hanseníase Era um administrador severo e de uma honestidade que raiava a desconfiança até em sua própria pessoa. Conta-se que, para fazer compras para a repartição, ele levava dois funcionários como testemunhas. Apesar de já em sua administração existirem medicamentos que curavam os doentes, e muitos do que lá se encontravam já serem bacilo negativos, o prof. Cartaxo não dispensava a desinfecção e passagem pela casa chamada de parlatório, onde todos que entravam em contato com o pessoal do outro lado trocavam suas vestimentas. A mata que circundava o leprosário, mata do Xexém, era uma outra paixão do prof. Cartaxo. Ele a inspecionava, regularmente, a cavalo, na companhia de um funcionário. Após sua saída do leprosário, por aposentadoria, uma parte da mata que ele tanto amava foi cedida à Fundação de Apoio Comunitário (FAC) para construção de um conjunto habitacional no governo Wilson Braga. O desvelo do prof. Cartaxo por aquela mata era tão grande que ele não permitia que se retirasse nem a madeira para um cabo de enxada. Era ,como se diz hoje, um ecologista nato. Após a aposentadoria, os objetivos de vida do prof. Cartaxo desapareceram, e ele só saía de casa para fazer feira uma vez por semana. O grande paradoxo da vida do prof. Cartaxo, um homem de muita saúde, foi a doença dermatológica que o acometeu. Sabedor de seu diagnóstico e prognóstico, nunca aceitou se submeter a um tratamento radical que o caso necessitava, e aconselhavam seus colegas, como os Drs. João de Brito Moura, José Batista, Asdrúbal Marsíglia, Gutenberg Botelho e outros. E assim ele foi definhando, até o dia 31 de maio de 1996, quando faleceu aos 85 anos, no hospital Napoleão Laureano, poucos minutos após dar entrada naquele nosocômio, o que nunca desejou. Sua doença proporcionou-lhe um grande sofrimento; mas ,como dizia Sófocles: "A morte é o ultimo médico das doenças". Foi um homem bom à sua maneira: não roubou, não matou nem prevaricou. Viveu a vida que sabia viver, do jeito que a vida lhe fez. O poeta inglês Donne, já por mim citado e de quem Hemingway muito falava, dizia: " A morte de todo homem é uma perda para mim porque estou envolvido na raça humana. Por isso, nunca mande perguntar por quem dobram os sinos; eles dobram por ti". Saudades do meu professor Cartaxo.


28/11/2002 

Elogio ao Patrono: Dr. FRANCISCO ALVES DE LIMA FILHO. Cadeira nº 12 Por: Dr. Adahylson da Costa Silva

O médico Dr. Lima Filho, como era conhecido, nasceu na cidade de Catolé do Rocha em 18 de julho de 1855. Daquela cidade, acredito que sua família, talvez pelas agruras da seca, migrou para Alagoa Nova, onde um seu irmão, Cosme Alves de Lima ficou conhecido na região. Não consegui recolher dados sobre seu percurso de vida até a Faculdade de Medicina da Bahia. Um seu sobrinho neto, o conhecido jornalista José Barbosa de Souza Lima, foi o único descendente vivo do Dr. Lima Filho com o qual mantive contato. Dele recebi informações que agradeço nesta oportunidade. Acredito que, como filho de família pobre, tenha utilizado sua inteligência e seu denodo como armas para conseguir o seu intento de ser médico. Colou grau em 13 de dezembro de 1884, aos 25 anos. E como era de praxe, naquela época, o doutorando Lima Filho teve sua tese de doutor aprovada. O tema: "A observação clínica é ou não favorável à idéia da contagiosidade da tuberculose?". Ao se fixar em João Pessoa, o Dr. Lima Filho -um verdadeiro gênio - deu vazão a sua grande inteligência. Como médico, foi um clínico de grande projeção em todo o Estado. Conta-se dele um fato ocorrido em 1909, narrado por Humberto Nóbrega em seu livro “As raízes das ciências da saúde na Paraíba". Acometido de febre tifóide, um seu cliente de família importante, já se encontrava em uma fase em que os recursos daquela época já haviam se esgotado. Ao consultar seus colegas, teve seu diagnóstico confirmado e acompanhado do prognóstico fatal. Estando na presença do paciente, voltou-se para ele e perguntou-lhe do que desejaria alimentar-se àquela altura. A resposta foi rápida e precisa: carne de sol, farofa e banana. A ordem de preparação de cardápio solicitado causou um espanto tão grande que até o Presidente do Estado, naquela época, e também médico João Machado, se locomoveu do palácio do governo para demover o Dr. Lima Filho da dieta fatídica. Ao ser contestado pelos seus colegas, respondia a todos: "No meu lugar, o que os senhores fariam?". E após a refeição venenosa, operou-se o milagre: os intestinos paralisados do paciente voltaram a se movimentar, garantindo-lhe a sobrevida. Humberto Nóbrega também cita um fato que lhe foi narrado pelo seu irmão Fernando, acontecido em 1918. O irmão mais velho, Silvino, ao ter o quadro de infecção intestinal agravado, o Dr. Lima Filho, amigo da família, num ato de impetuosidade, transportou o citado paciente para sua própria residência, no intuito de dar-lhe maior assistência, no que não obteve o êxito desejado, vindo seu cliente a falecer. É difícil compreender esses arroubos do Dr. Lima Filho, comparando-se a medicina daquela época, e da qual não temos muitos conhecimentos, com a de hoje, nossa conhecida, com seus modernos avanços. Como médico, procurava o Dr. Lima Filho fazer aquilo que ele pessoalmente julgava certo, fugindo dos modismos e ditames da época. No cabeçalho de seu receituário constava unicamente seu nome: Dr. Lima Filho, acima da palavra médico. A regra na época era o médico colocar em seu receituário, além do nome, a faculdade de formatura, a especialidade, e os serviços que freqüentara. Hoje os


receituários médicos trazem um míni currículo do médico, além do telefone e endereço na Internet. Bons tempos, dizem os que convivem hoje com a modernidade. Outra excentricidade do Dr. Lima Filho era quanto a seus honorários profissionais. Ao ser consultado, ele preparava em seu talonário, encimado pelas palavras "Clínica Médico-Cirúrgica do Dr. Lima Filho", o recibo prévio de quanto custaria seu trabalho. Ao finalizar o tratamento, e ao receber seus honorários, solicitava do paciente que assinasse o recibo em duplicata, devolvendo-lhe uma das vias. E note-se que naquela época não existiam as exigências da Receita Federal. Foi médico da Santa Casa de Misericórdia, como era comum entre os renomados médicos de então. Foi professor de francês do Liceu Paraibano, língua em que, naquele tempo, os médicos estudavam a maioria das matérias do curso médico. Apesar de seu interesse político, a proclamação da república encontrou o Dr. Lima Filho num estado de serenidade e expectativa. Confirmada a queda de Dom Pedro II, quatro esculápios, figuras de relevo social, Eugênio Toscano, Lima Filho, Cordeiro Sênior e Manoel Carlos de Gouveia, se reuniram no Clube Astrea para deliberarem sobre as medidas que deveriam tomar, diante da responsabilidade que arbitravam para si naquele momento de transição política. Estabeleceram entre eles a criação de um governo provisório de cinco membros, dos quais o Dr. Lima Filho fazia parte. Mas na política, ontem como hoje, as traições são fatos tão corriqueiros que Júlio César já dizia que "amava as traições, mas odiava os traidores". E o Cel. Honorato Caldas, um dos membros de governo provisório, "figura ambiciosa e sequiosa de renome e glória", como escreveu Eugênio Toscano na Gazeta do Comércio de 1897, tomou para si o ônus de, sozinho, substituir o presidente monárquico. Não suportando as críticas da situação criada o Coronel Honorato Caldas, procurou o auxílio de uma comissão executiva para formalizar seu governo. Convidado para uma reunião prévia em que o seu nome seria confirmado para compor esta comissão, o Dr. Lima Filho escreveu uma carta em que, refletindo sua decepção, se desculpou, dizendo estar muito ocupado no momento. Já se disse que a política é o governo da opinião, e o Dr. Lima Filho nela continuou envolvido. Elegeu-se, em seguida, deputado da 1ª Assembléia Constituinte e Legislativa do Estado, dissolvida em 13 de janeiro de 1892 pelo decreto da 2ª Junta Governativa que sucedeu ao presidente Venâncio Neiva. Foi derrotado no pleito de 26 de maio de 1896, disputando o Governo do Estado com Gama e Melo. Com a nomeação de Epitácio Pessoa pelo Presidente Campos Sales para o Ministério da Justiça, o Dr. Lima Filho foi escolhido para representante junto à Câmara Federal em 1910. Acompanhado de Gonçalo de Aguiar Botto de Menezes e Francisco de Assis Vidal, fundou o partido democrata. Mas foi como escritor e jornalista de grande fecundidade que o Dr. Lima Filho mostrou sua habilidade de político e revolucionário. Fundou junto com os seus companheiros de partido o jornal "Estado da Paraíba", onde além de Redator e Diretor, nele manteve uma coluna intitulada "a bala", em que, com espírito oposicionista, atacava os desmandos e abusos de seus adversários. Era um bravo quase quixotesco, não se acomodando com os acordos de alcova, nem os arranjos de interesses pessoais. Além dessa coluna, escrevia boletins em defesa da candidatura do Cel. Rego Barros. Um deles, "Os Carbonários", era escrito numa linguagem tão inflamada, que a título de comparação com escritos políticos de hoje, peço vênia e paciência a este distinto auditório, para transcrever aqui um dos trechos finais em que ele se referia a seus opositores: "Rebuscai esses tigres dos seus covis, fazei-os sair à enxofre e, na praça pública, à luz meridiana, dizei ao povo que lhes faça a justiça do linchamento por entre o alarido dos apupos com que as multidões fulminam os seus algozes. Assim devem morrer os falsários, os tiranos - aniquilados pelas mãos vingadoras do povo, ferreteados na face


amarela com o estigma da sua própria ignomínia. Morte aos oligocartas - morte à oligarquia". O trágico grego Sófocles dizia: "Muitas são as coisas extraordinárias, mas nada existe de mais extraordinário do que o homem". Oscar de Castro, em publicação de “A União Editora" de 1945, assim fala de outras atividades de médico Lima Filho: "Este médico, jornalista e político exaltado, possuía um hobby, como ele dizia, talvez esdrúxulo para as suas atividades: a mecânica". Inventou uma bomba de ar automática marítima e para poços. Os estudos deste invento o levou até os Estados Unidos, onde teve sua eficiência confirmada. A bomba foi montada em um dos bairros da cidade, com sucesso, e obteve do Ministério de Viação e Obras Públicas garantia de patente industrial. Quem julgar que a capacidade de trabalho e inventividade do Dr. Lima Filho foram todas aqui explicitadas, engana-se. Ele escreveu a letra de um hino da Paraíba, com música de José Rodrigues Correia Lima. Esse hino, que se tornou popular na época, lembra o hino nacional brasileiro, com palavras de ufanismo e naturalismo, que passo a transcrever: N'alvorada do futuro, Por sobre ondas de luz, Surge o pendão auriverde Da terra de Santa Cruz. No seio conduz um mundo Onde o sol do equador, Centila ordem, progresso. Liberdade, paz, amor. Coro Cidadãos, eia! marchar, Santo é nosso dever; Quem conquista a liberdade Livre só pode morrer.

No convívio pessoal, o Dr. Lima Filho, dado sua cultura e conhecimentos da alma humana, era um homem encantador, indo seus sentimentos à manifestação de ternura entre os seus amigos mais íntimos e seus familiares. Da sua primeira esposa, conservava, em seu escritório de trabalho, em casa, uma urna contendo seus ossos. Isso quando já estava casado em segunda núpcias com dona Maria Fiúza Lima, a bondosa e virtuosa dona Naná, filha de banqueiro pernambucano cuja herança aumentou a fortuna de seu esposo. Dizem que quando Deus não dá filhos, o diabo dá sobrinhos. O casal trouxe de Alagoa Nova, dado a circunstâncias de pobreza em que se encontravam, seus sobrinhos, que na verdade nunca trouxeram maiores problemas para seus tios. Todos foram encaminhados com sucesso na vida profissional: o dentista Lima Neto atuou na cidade de Campina Grande; o outro dentista Janson Lima foi um dos fundadores da Associação Paraibana de Cirugiões-Dentistas em João pessoa; o médico José Alves de Lima atuou no Banco do Brasil; Otacílio Lima, oficial do Exército; além das duas moças Nini e Abgail que permaneceram solteiras, e que formadas em enfermagem, se fixaram na cidade de Recife. O Dr. Lima Filho foi um homem que sempre sonhou com a revolução. Alcançou-a vitoriosa em 1930, já combalido pelos anos vívidos e pela doença incipiente. Faleceu na


cidade de Olinda, em 09 de fevereiro de 1934, aos 79 anos. Seu túmulo é um dos mais imponentes e antigos na entrada principal do Cemitério da Boa Sentença. Sinto-me, verdadeiramente, satisfeito e agradecido por ter relembrado a figura deste homem tão completo na sua essência humana. Ao entrar para esta Academia, me tornarei imortal? Lembro-me de Jorge Luís Borges a citar São Paulo, dizendo: "Morremos a cada dia". A verdade é que morremos a cada dia. Estamos permanentemente nascendo e morrendo. Por isso o problema do tempo não afeta mais que os problemas metafísicos, porque os outros são abstratos. O do tempo é o nosso problema. Quem sou eu? Serei eu o você de amanhã? Talvez algum dia saibamos. Minhas senhoras e meus senhores, muito obrigado.


CADEIRA Nº Patrono:

36

PLÍNIO MARQUES DE ANDRADE ESPÍNOLA

Data de posse: 07/03/1991 1º ocupante: ORLANDO CAVALCANTI DE FARIAS Data de posse: 30/09/2004 2º ocupante: Ivan Lins Modesto Saudação:

Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros


30/09/2004 

Saudação ao: Dr. IVAN LINS MODESTO Cadeira nº 36 Por: Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros

Minhas Senhoras; Meus Senhores: A Academia Paraibana de Medicina, incumbiu-me com a honrosa missão de saudar, neste momento, solene e memorável, o novel Acadêmico Ivan Lins Modesto, que vai receber logo mais as suas insígnias acadêmicas. O prêmio outorgado veio em decorrência do apreciável "curriculum vitae" do candidato aprovado, rico e completo em sua produção científica cultural, quanto o repassar de sua vida exemplar no exercício da medicina. Portanto, a decisão respeitável e sábia de nossa confraria foi proverbial em acolher aquele que, com enorme responsabilidade, porém, à altura da distinção, irá ocupar a Cadeira de n° 36, cujo Patrono é o venerável Plínio Marques de Andrade Espínola e o primeiro ocupante o Acadêmico Orlando Cavalcanti de Farias, saudosa figura meritória da cirurgia e ciência médicas de nossa terra. Os seus pais João Modesto da Silva (comerciário) e Celina Lins Modesto (parteira diplomada) constituíram e criaram uma numerosa prole de 08 filhos, todos titulados, os quais destacamos na seguinte ordem: Ivan, João e Ivanira (médicos), Ivanohoe e Ivaneuza (economistas), Ivanir (enfermeiro), Ivanice (assistente social). A Diretoria da Maternidade Cândida Vargas, sob o comando do Dr. Josvaldo Athayde dessa modelar Instituição Hospitalar Pública de João Pessoa, prestou significativa homenagem póstuma à Dona Celina Lins Modesto atribuindo o seu honrado nome ao Ambulatório, pelo legado de trabalho, assiduidade e competência ao longo de muitos anos junto aos serviços de obstetrícia e ginecologia, daquele nosocômio. O Curso Primário do novel acadêmico Ivan Lins Modesto, foi realizado no recesso do seu lar, embasado dentro do conceito mais arraigado de honorabilidade, tão comum às famílias residentes no interior. Em João Pessoa, foi aluno destacado no ginasial do Colégio Pio X e, depois, no colegial do famoso Lyceu Paraibano. Em seguida, ingressou na Faculdade de Medicina da Paraíba, em 1954. Durante o período de 1955 até 1959, data de sua formatura, veio a exercer a tarefa de monitor da cadeira de Histologia e Embriologia Geral. Destacou-se, também, como desportista, tendo sido exímio jogador de futebol. Consagrou-se como o primeiro campeão universitário da Paraíba, em torneio disputadíssimo com as Faculdades de: Odontologia, Direito e Agronomia, em quadrangular realizado em 04/04/1954, no campo do Esporte Clube Cabo Branco, em Jaguaribe. Sempre orgulhoso de pertencer à turma de 1959, costuma evocar o seu passado sem esquecer de prantear os antigos mestres que, em sua ótica entre outros, foram magistrais na arte de ensinar: Samuel Pessoa, Geraldes Barba, Oscar de Castro, Newton Lacerda, João Medeiros, Humberto Nóbrega, Atílio Rotta, Antônio Dias, Eugênio Carvalho e Asdrúbal de Oliveira.


Realizou, curso de especialização em Clínica Médica no Serviço do Prof. Antônio Dias dos Santos, localizado no antigo Hospital Santa Isabel, onde os acadêmicos de medicina desenvolviam a maioria de suas atividades de aprendizagem. A partir deste instante, preparado e, com sólida formação de médico generalista, talvez fazendo coro com uma das expressões mais proeminentes da Medicina Brasileira Prof. Clementino Fraga - que, há muitas décadas vaticinou "em breve, a continuarmos a orgia da especialização que divide e sub-divide as atividades médicas, seremos forçados a reclamar o diploma de especialista em clínica geral". Elegeu o Município de Santa Rita, para de fato, iniciar sua carreira de médico no Ambulatório da Usina São João, sediado no mais importante Centro Açucareiro do Estado da Paraíba. Nunca se afastou dos princípios hipocráticos, atendendo diuturnamente crianças e adultos, objetivamente com o desejo de curar e/ou aliviar o sofrimento de seus pacientes. Assim, decorreram 28 anos de total dedicação a essa empresa, inclusive com 10 anos de residência fixa naquele local. Nos idos de 1961, contraiu matrimônio com sua adorável Miriam Aquino Modesto, constituindo uma família de quatro filhas amantíssimas e, que hoje são destacadas personalidades de nossa sociedade: Vânia e Rosana (médicas), Norma (enfermeira) e Cristina (bacharela em direito). Diante das dificuldades e vicissitudes próprias de um início de carreira trepidante, com dedicação exclusiva ao mister, costumava dizer que se considerava um nobre proletário. Com o passar do tempo, procurou ampliar sua área de ação vindo a trabalhar no Hospital Governador Flávio Ribeiro Coutinho, em Santa Rita e, concomitantemente no antigo SAMDU de Guarabira, dessa forma podia assegurar melhores e indispensáveis condições de vida à sua família. O reconhecimento pela sua brilhante atuação não tardou e pelos benefícios prestados às populações carentes dessas comunas, levaram-no a ser agraciado com os títulos de: cidadão Guarabirense e Santaritense. Em 1988, foi eleito vereador por Santa Rita e exerceu o mandato com destacada atuação, porém, ao final decepcionado chegou à conclusão de que esse era o seu maior desejo, mas, ser justo, o seu maior atributo e, ao encerrar a sua carreira sentenciou: "a política foi uma experiência amaldiçoada pelo arrependimento". Há certa altura de sua vida profissional, preocupado ao cuidar do paciente, tratou de estudar e difundir melhor suas condições mesológicas - o clima, a raça, o solo, os alimentos, a água etc..., sugerindo melhores medidas higiênicas e nutricionais. O resultado dessas pesquisas vieram a servir de estímulo para torná-lo médico do trabalho, o que ocorreu ao obter o título dessa especialidade em 1974. Através de concurso público conquistou o título de especialista de medicina do trabalho pela Associação Médica Brasileira e Associação Nacional de Medicina do Trabalho, em 1987, tendo sido por isso o primeiro médico paraibano com o referido título. Na Associação Paraibana de Medicina do Trabalho, fundada em 06/12/1982, a par de ter sido um dos seus idealizadores e fundadores, exerceu por duas gestões distintas a sua presidência. O novo acadêmico Ivan Lins Modesto participou de diversos congressos nacionais, seminários e cursos. Proferiu e apresentou trabalhos técnico-científicos em inúmeros conclaves, em nosso meio e em outros Estados da Federação. Publicou quatro livros. O primeiro de sua lavra foi em 1988, sobre: "Tabagismo", e, os outros: "Análises profíssiográficas na indústria têxtil do sisal - 1999", "O leite como antídoto na indústria revisão e atualização - 2001", "Perfil profissiográfico previdenciário em 10 perguntas e respostas - 2002". Ao encerrar as minhas palavras, peço que o Criador em sua infinita bondade ao conservar o novel académico Ivan Lins Modesto, faça com que permaneça sempre a


espargir suas virtudes em prol da medicina, na companhia amena de seus ilustres pares da Academia Paraibana de Medicina, participando das grandes lutas, debates e ternas superiores de que tanto exige e espera a medicina paraibana. Honrado com o ingresso do novel Ivan Lins Modesto, a Academia Paraibana de Medicina se engrandece com sua companhia. Seja bem vindo. JoĂŁo Pessoa, 30 de setembro de 2004. Ac. Jacinto L. G. de Medeiros


30/09/2004 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. ORLANDO CAVALCANTI DE FARIAS Cadeira nº 36 Por: Dr. Ivan Lins Modesto

Exmo. Sr.: Prof. Dr. João C. de Albuquerque Mui Digno Presidente da Academia Paraibana de Medicina Acadêmicas e Acadêmicos, Membros desta respeitável Sociedade. Senhoras e Senhores, familiares do dileto professor Dr. Orlando Cavalcanti de Farias que me precedeu na cadeira n° 36 desta Academia, como também, os parentes do saudoso Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola, patrono da mencionada cadeira. Autoridades nesta ocasião presentes e representadas, colegas que acolheram o convite para participar desta solenidade. Meus caros familiares, dentre os quais destaco minha querida esposa Miriam de Aquino Modesto e minhas filhas: Norma Cléa Modesto Fonseca, Roseane de Aquino Modesto Rodrigues e Cristina de Aquino Modesto, razões da minha vida e ânimo para resistir à emoção deste momento. Lamento a ausência de minha filha Vânia Suely Modesto Lowe que não pôde aqui comigo estar. Pretendo igualmente oferecer e reconhecer o contentamento deste evento aos meus queridos genitores, João Modesto da Silva e Celina Lins Modesto, que já se foram para o reino dos espíritos, descendo à eternidade e juntando-se à poeira dos séculos. Minhas Senhoras e meus Senhores: Por concessão arbitrária da fortuna caprichosa, aqui estou, neste inclinar de crepúsculo da existência, para tomar posse na cadeira n° 36 desta mesquita da retórica mais escorreita, sinagoga das confissões literárias perfeitas, igreja do talento redentor, templo da sabedoria. Chego a esta Academia certamente ousando. A. Maslow (1954), engendrou com muita felicidade a "Teoria da Hierarquia das Necessidades Básicas do Ser Humano", esquematizada em forma de pirâmide, com cinco categorias de necessidades, as quais na base da pirâmide devem ser satisfeitas antes daquelas que se encontram no nível imediatamente superior, e assim por diante. Na base da pirâmide estão as necessidades fisiológicas, que correspondem ao suprimento de comida e água e a reprodução da espécie. Em seguida, vêm as necessidades de segurança, que se referem à obtenção de roupas e abrigo para que nosso bem-estar físico não seja ameaçado. Também temos necessidade de pertencer a um ambiente e receber amor, ou seja, temos necessidades sociais, necessidade de fazer parte de um grupo. As necessidades de estima nos impelem a sermos respeitados pelos outros e por nós mesmos. Incluem também nossa necessidade de reconhecimento e status. Por fim, a auto-realização envolve o pleno desenvolvimento de nossas habilidades, ou seja, sermos tudo o que podemos ser. As necessidades fisiológicas e de segurança correspondem à necessidade de proteção, as


necessidades de auto-realização correspondem à necessidade de aperfeiçoamento, a qual o ser social, com ou sem frustrações, escala gradativamente. O atingir do seu topo gera o status da confiança e da estima da personalidade por si mesma, o homem, plenamente satisfeito, tenderá à inércia. Assim, dialeticamente, o positivo levaria ao negativo: o homem é a soma de contrários. Senhores Acadêmicos: Transpor os umbrais deste vetusto e venusto silogeu significa, no meu caminhar, o atingir de uma das metas de minha atividade cultural. Este "HIC ET NUNC" é o ápice da pirâmide de minhas aspirações literárias. O impulso da necessidade espiritual gerou a sede de crescer, ampliando meu horizonte. Cheguei até aqui por vontade minha e por generosidade vossa. Aquilo me alenta, isso eu vos agradeço desvanecido. Senhor Presidente: Eu bem cuidava que nesta academia se tinha o culto fervoroso da ciência sincera e elevada, que na escolha de seus membros prevalecia em mais alto grau o critério do saber mas, é honesto que confesse, o saber se apresenta sob múltiplas formas e a ínfima bagagem que possuo na especialidade que cultivo, não tem o polimento do saber brilhante que fascina e cativa desse saber que também se veste de louvores e reverências para melhor seduzir os espíritos ponderados e levá-los a admitir que o espírito e o coração se completam quando a interferência do segundo prejudica o primeiro. Por isso, apesar da tenacidade dos meus esforços, os frutos das minhas observações e de minha exígua experiência não me pareciam ter o saber ao gosto dos consagrados mestres da arte de curar, e eu me deixava penetrar por um dissolvente ceticismo relativamente ao critério dominante nesta seleta Academia. Foi a boa vontade de alguns dedicados amigos, que tenho o prazer de contar entre vós, que me fez pleitear uma vaga na Academia. É com o maior prazer que entro na vossa companhia para aprimorar o gosto da investigação e da pesquisa em que assenta a verdadeira ciência. Trago-vos as minhas credenciais consubstanciadas nos trabalhos que tenho produzido desde o começo do meu exercício na mais digna e mais humana das profissões. Era necessário que eu vos dissesse meu pensamento antes que eu a vós me associasse, porque se as organizações sociais, assim como a vida orgânica, só prosperam e evoluem pela diferenciação dos seus elementos, é minha intenção de não me deixar invadir pelo espírito acadêmico e fazer os esforços que forem do meu alcance para que, por infinitamente pequena que seja, a entidade científica da Academia beneficie por minha causa e não por causa dela. Há aparentemente neste meu propósito uma vaidade de mau gosto, quando se tem em vista somente as honrarias que a Academia confere e, em suma, parecem a razão de ser de a ela pertencer. É preciso, porém, desconhecer a mentalidade dos homens da minha geração para ignorar que a nossa formação intelectual se deu ainda num período em que imperava a superstição de que o título incorpora ao espírito humano o valor que se lhe atribui. Bem depressa a importância que o valor pessoal tem tido no triunfo da carreira da maioria dos meus contemporâneos, inculcou-nos a convicção de que não há êxito duradouro sem esforço permanente, que é função do outro, como o efeito da causa. Resulta, pois, que à medida que se foi operando essa metamorfose na apreciação dos fatores que concorrem para elevação da nossa existência, foi-se arraigando também na nossa consciência a idéia da insubsistência dos conceitos extrínsecos sobre a nossa personalidade, desde que essa afirme a sua soberania por meio de atos de mérito incontestável. Os homens, disse Emerson, parecem-se mais com seus contemporâneos que


com seus progenitores. As pessoas que coabitam durante longos anos acabam se assemelhando, mas a natureza aborrece essas complacências que ameaçam fundir o mundo num só bloco, e se apressa em romper esta espécie de aglutinação choramingueira. A mesma assimilação se processa entre homens que vivem em comunidade, seja esta uma sociedade científica ou um partido político. O nosso dever é reagir. A diferenciação é a lei da natureza, e o progresso depende do modo como cada um de nós o possa realizar. Como poderíamos pensar em contribuir de qualquer forma para a grandeza do País se nos falta o critério da experiência com que havemos feito a nossa própria prosperidade? O homem se governa quando sabe o que quer. Querer é a suprema aferição da educação espiritual, querer para si o que coincide com o proveito da coletividade é a aspiração altruísta que não fere a harmonia social. Entretanto essa educação da vontade merece atenções desveladas, a fim de que no seu curso fique consagrado o direito do cidadão. Porque na noção dos direitos decorre a noção do dever. Não se pode exigir deveres quando não se respeitam os direitos. E foi, sem dúvida, uma das razões fundamentais do atrofismo, da vida individual no nosso meio social, a impotência em que se achavam os que não se agregavam para fazer prevalecer os direitos que lhes assistiam. Direitos que se viam postergados quer pelo Governo, quer pelas próprias sociedades científicas na escolha de seus membros. Dessa sinceridade em definir minha atitude, em vos dar a medida do meu pensamento em face do que tenho observado, não mais como profissional, porém como elemento social, não deveis estranhar. Resulta mesmo da minha carreira. E para essa é imprescindível a sinceridade. Nenhuma observação tem o valor se não é feita de animo imparcial. É a característica dominante de quem observa para reagir. Reagir para restabelecer o equilíbrio orgânico. Reagir para curar. E quem cura primeiramente deve sopesar e dar o balanço, sem prevenção, dos elementos vitais em conflito. Como poderíeis, pois, imaginar que eu aqui me apresentasse, se não viesse investido desse espírito de sinceridade sem o qual haveria algo de charlatanismo na minha colaboração? Colaboração que o espírito brilhante do ilustre mestre amigo docente Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros vislumbrou pelo prisma da simpatia, a protimia do pedagogo Osvaldo Travassos de Medeiros e o intelecto lucipotente do meu dileto colega Mário Toscano de Brito Filho. Enfim, todos os demais acadêmicos meus irmãos na mutualidade da estima e na fraternidade hipocrática, que outorgaram a minha pretensão, elevando-me ao nível das belas e lúcidas inteligências dos meus prezados e distintos colegas acadêmicos, que tenho a ventura de hoje acompanhar nesta casa. Por tanta generosidade e tanta fidalguia deixo aqui o testemunho de minha profunda gratidão. Por último, um agradecimento muito especial à minha cônjuge Miriam de Aquino Modesto, bússola da minha vida, que ali está e que peço permissão para descer aqui e dar-lhe um beijo. Basta de falar dos vivos, falemos daqueles que se fizeram lápide fria no mármore da estrada sem volta. Voaram para o eterno, foram dormir o seu sono de direito, deixando um espaço vazio e um rastro palpável de realizações, só preenchido pela silhueta afetiva da saudade. Em primeiro lugar, meu predecessor nesta cadeira. Senhores Acadêmicos: Hoje me sinto realmente feliz, porque há muito aprendi que a felicidade é um sentimento que só existe quando compartilhado, e quanto mais repartido é maior e mais forte fica. Fazer parte deste silogeu é um privilégio incomparável. Me sinto assim como um pequeno deus inebriado da potência do seu mundo. Assumo a cadeira n° 36 desta Academia Paraibana de Medicina, a qual tem por patrono Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola, vaga em decorrência do falecimento do acadêmico Orlando Cavalcanti de Farias desta instituição.


O Dr. Orlando Cavalcanti de Farias nasceu em Alagoa Grande, em 17 de março de 1922. Primogênito do Desembargador José de Farias e de Dona Amélia Cavalcanti. Desde cedo foi fadado às ciências médicas, ao contrário dos irmãos Onildo, Wilson, Hamilton, Carmem e Helmano que se inclinaram às ciências jurídicas e sociais. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Recife. Casou-se com Dona Nadilza Guedes Pereira com quem conviveu mais de quatro décadas em uma união tranqüila e sã. Deste Himeneu nasceram Jacinta, Regina, Ana Maria, Orlando Filho e Luciano que somente lhe proporcionaram significativo deleite, máxime com os netos que colaborava a educar nos princípios da cristandade e nos padrões de recato e honradez. Para dizer quem foi Dr. Orlando o tempo não basta, o papel não cabe. Se os homens foram feitos à imagem de Deus, então Dr. Orlando devia ser o homem que mais se aproximava dessa imagem. Apóstolo da ciência, mestre incomparável, seu nome deve ser venerado com respeitosa admiração e profundo reconhecimento. Foi exemplo de sabedoria e virtude semelhante às dos varões de Plutarco ou dos profetas do Velho Testamento, símbolo da inteligência criadora e modelo de fé e de trabalho. Dr. Orlando aceitou a eternidade para não ter que triunfar indefinidamente sobre a morte, num pecado de soberba que jamais saberia cometer. Deixou uma saudade do tamanho do seu valor. Que sua vida sirva de exemplo para todos que ficaram. Era um cirurgião de alma temperada em aço puro, um dos orgulhos da Paraíba, rica em personalidades médicas. Insígnia de retidão, arquétipo definitivo de honradez, era de convívio ameno, temperamento afável, cordato, deixou uma legião de inúmeros amigos e admiradores. Dele se pode afirmar o que de Littré disse Renan: "Se alguma coisa lhe faltava, eram defeitos". Há uma máxima bastante mencionada de que "ninguém é insubstituível". Difícil é aplicá-la no caso de Dr. Orlando. Os que com ele conviveram sabem bem o porquê. A trajetória de Dr. Orlando descortina as características de um modelo raro de cidadão, ou seja, competência, humildade, humanismo e bondade. Dr. Orlando foi bondoso e digno, e aos justos o paraíso. No dia em que Dr. Orlando foi abatido pela aguda flecha da morte, o universo passou a brilhar mais intensamente com a chegada de estrela de elevada grandeza. Após 81 anos de vida e exemplo na terra, o nosso querido Dr. Orlando partiu para nos observar do alto. Em nossos corações será presença perene. A cadeira de Plínio Marques de Andrade Espínola guarda, assim, a lembrança de um espírito harmonioso que ilustrou as letras com o seu talento e a dignidade humana, com o seu caráter. Ocupando, hoje, esta cadeira à sombra do nome de Dr.Orlando, a minha oração a Deus neste instante é para que me conceda no fim desta vida apenas o tudo que lhe concedeu: a coragem de ser humilde e a felicidade de ser digno.


30/09/2004 

Elogio ao Patrono: Dr. PLÍNIO MARQUES DE ANDRADE ESPÍNOLA Cadeira nº 36 Por: Dr. Ivan Lins Modesto

O Patrono Dr. Plínio Marques de Andrade Espínola nasceu no dia 16 de setembro de 1893, na então cidade da Parahyba, capital de Estado. Era filho do Dr. Rodolfo Alípio de Andrade Espínola, professor de latim e francês no Liceu Paraibano e funcionário da Great Western, e de Dona Ana Aurora Barbalho Espínola. Estudou as primeiras letras na casa paterna e com mestres-escola quase sempre membros da família. Cursou o ginásio no Liceu Paraibano após exame de admissão. Triunfou no vestibular para a Faculdade de Terreiro de Jesus na Bahia. No meio do curso se transferiu para a Faculdade do Rio de Janeiro, diplomando-se Médico em 19 de dezembro de 1919 com 26 anos de idade. Fez vários cursos de pós-graduação em Higiene e Saúde Pública. Após a formatura veio para João Pessoa, sendo em dezembro de 1920 nomeado para prestar serviço no Porto de Cabedelo Casou-se, em primeiras núpcias, com Dona Marihita Noguêra Espínola tendo os seguintes descendentes: Miriam Noguêra Espínola, Iara Noguêra Espínola, Hélio Noguêra Espínola e Ana Maria Noguêra Espínola. O segundo matrimônio celebrou com Judith Luna Freire Jansen Espínola, resultando dessa união a filha Suely Espínola. O Dr. Plínio faleceu em 30 de junho de 1972 na cidade de João Pessoa, com quase 79 anos de idade. Homens como ele merecem nossa gratidão, respeito e sincera homenagem. Dotado de penetrante inteligência, estando sempre na vanguarda de nossos sanitaristas, possuía as qualidades essenciais ao verdadeiro sábio, apontadas por Carlos Richet: "TER IDÉIAS QUE OUTROS HOMENS NÃO TIVERAM; IMAGINAR RELAÇÕES IMPREVISTAS; INSTITUIR EXPERIÊNCIAS NOVAS; RETOMAR AS VELHAS E DESCOBRIR VERDADES IGNORADAS, O QUE É QUASE DIVINO." Com sólida cultura geral e médica, apurado espírito crítico, método positivo na indagação da natureza, obteve progressos imensos no terreno prático. Criatura privilegiada que foi, para a qual as novas gerações médicas contraíram dívidas insanáveis. Espírito perenemente jovem, ocupou-se de diversos assuntos, abordando-os com incontestável mérito científico. Luminar da medicina paraibana da sua época, exerceu numerosos cargos de relevo na vida pública do Estado. Foi, enfim, um pregador dos nobres ideais humanos. Homem de talento, sempre voltado para as questões básicas da nacionalidade, mais do que um grande médico, um excelso evangelizador e catalizador do nosso progresso. Ele merece a reverência da posteridade.

Senhores Acadêmicos:


As palavras proferidas pelo professor Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, mostram o quanto ele é generoso, um extravagante incorrigível com suas hipérboles laudatórias, dono de uma cultura e de um calor na transmissão de suas idéias e pensamentos aureolados por uma ativa inteligência. Devo agradecer-lhe pelas palavras gentis e maravilhosas que pronunciou. Foram apenas uma descrição acurada da minha avaliação sobre sua competência e talento. Senhor Presidente: Envidarei todos os meus esforços para, em missão desta Academia, não desacertar. Tenho medo de errar. Sou orgulhoso demais, sofro a dor do erro. Eu descompasso, eu gaguejo, penso que sofro de afasia de condução, aquela que atinge os centros cerebrais do controle verbal, faço minha as palavras de Og Mandino: "o fracasso jamais me surpreenderá se minha decisão de vencer for suficientemente forte". Eis-me aqui, pois, pronto a aprender convosco na vossa amizade. O bom da amizade é a certeza. A gente sabe que em qualquer momento pode contar com o outro. Dr. João Cavalcanti de Albuquerque, presidente desta Academia. É graça divina começar bem, graça maior persistir na caminhada certa, manter o ritmo. Mas a graça das graças é não desistir, podendo ou não, caindo, embora aos pedaços, chegar até o fim. Quando escrevemos são apenas palavras que repetem outras anteriores porque, na verdade, tudo já foi dito e escrito. Senhor Presidente: Na Academia desejo ser filho não dileto, pois este ela já escolheu, mas o último, pois não vou incomodar ninguém. Receba-me neste silogeu não como "PAR INTER PARES", mas como discípulo entre mestres. Muito Obrigado. Ivan Lins Modesto.


CADEIRA Nº Patrono:

39

WALDEMIRO PIRES FERREIRA

Data de posse: não empossado 1º ocupante: RAUL TORRES DANTAS Data de posse: 28/07/2005 2º ocupante: Joaquim Monteiro da Franca Filho Saudação:

Orlando Álvares Coêlho


28/07/2005 

Saudação ao: Dr. JOAQUIM MONTEIRO DA FRANCA FILHO Cadeira nº 39 Por: Dr. Orlando Álvares Coêlho

Ilmo. Sr. Presidente da Academia Demais componentes da mesa Meus colegas acadêmicos Minhas Senhoras e meus Senhores Sobre maneira honrado e porque não dizer por demais envaidecido pela oportunidade de ocupar esta tribuna, cumprindo liturgia desta Casa, para desempenhar as funções de arauto, com a incumbência de apresentar as boas vindas ao acadêmico Joaquim Monteiro da Franca Filho nesta noite, noite engalanada pela presença desta seleta assembléia, quando iremos ouvir com sensível interesse o elogio ao seu patrono Dr. Waldemiro Pires Ferreira e ao Dr. Raul Torres Dantas, este eleito para primeiro ocupante da Cadeira n° 39. Convidado que fui pelo colega, ponderei sobre as razões de tamanha distinção ao chamamento. Prevaleceram a consideração e amizade. Conheci o estudante Joaquim Monteiro da Franca Filho nos idos de 1970, no Hospital Santa Isabel, quando cursava o 5° ano médico, freqüentando a enfermaria Santa Rosa de saudosas lembranças. Nessa enfermaria tinha acolhida a segunda clínica cirúrgica sob a regência do inesquecível professor Francisco Porto, a quem neste momento reverencio. Aos que têm a importante e nobre missão de ensinar lhes é reservada a possibilidade de gravar na memória os perfis dos estudantes que ano após ano comparecem em nossas salas de aula. Estudantes que pela educação refinada, comportamento ético primoroso e grande interesse pelo aprendizado, deixam suas imagens indeléveis em nossas mentes. O estudante Joaquim estava com absoluta propriedade entre estes. Durante o ano em que cumpriu sua missão curricular na segunda clínica cirúrgica demonstrou o que sempre observei como lema: ''Aprende-se a ser médico ainda quando estudante" e "Ética nada mais é que a educação doméstica recebida e aplicada no dia-a-dia da profissão". Neste sentido, tenho absoluta certeza que o homenageado como aluno, observou com seriedade os preceitos referidos. Filho do Sr. Joaquim Monteiro da Franca e da Srª Josefa Bezerra dos Santos, nasceu nesta cidade em 14 de outubro de 1944, na antiga maternidade do Estado, em Jaguaribe, onde hoje funciona o PAM, órgão do Ministério da Saúde. O obstetra que o ajudou a vir ao mundo foi o Dr. Danilo de Alencar Carvalho Luna. Foi batizado na Igreja Católica, preservando até hoje a obediência à sua doutrina. Tem uma irmã, Srª Amasile Franca do Nascimento, casada com o Sr. Fernando Luiz do Nascimento. Sua infância transcorreu sem problemas até que em 1954 faleceu o seu pai. A situação tornou-se difícil para a família. A Srª Josefa Bezerra dos Santos assumiu como timoneira corajosa, a responsabilidade de criar e educar os filhos. Ressalta o Dr. Joaquim que seu cunhado foi peça importante com seu grande apoio naqueles momentos. O tempo passou como sempre acontece, a vida continuou e a família reorganizou-se, retomando a caminhada. Hoje, a Srª


Josefa está com 92 anos. Não se encontra presente face a problemas de saúde, mas em espírito participa conosco dos aplausos ao seu filho. Foi alfabetizado e fez o curso primário no Grupo Escolar Epitácio Pessoa. Relembra a sua professora do 5° ano, Srª Isaura Aranha, que o impressionava pela elegância. No ano de 1958 prestou exame de admissão para ingresso no Liceu Paraibano, que se caracterizava como uma das melhores instituições de ensino, pelo alto gabarito dos seus professores. Nesse estabelecimento cursou o ginásio e o científico. Faz referências aos professores: Luiz Mendes, Daura Santiago Rangel, José Maria Barbosa, entre outros. Como colegas cita: Euzeli Leal de Sousa, Francisco de Assis e Niro Reis do Amaral. Concluindo o científico, debruçou-se sobre os livros com grande afinco, para realizar seu sonho, ingressar na Faculdade de Medicina. Mesmo dispensando grande parte do seu tempo com os estudos, conseguia ainda trabalhar no comércio, em uma transportadora. Em 1965 enfrentou o temido vestibular, degrau que o levaria a Universidade. Escolheu a profissão médica atendendo decisão própria. Foi aprovado. Eis que finalmente suas aspirações foram realizadas. Acadêmico de Medicina. Sua maratona acadêmica, transcorreu na época em que o Brasil presenciava um regime de exceção. Em seu livro publicado em 2001 sob o título; "Trinta anos depois...", transformou em palavras com muita fidelidade aqueles momentos. Conta que vários dos seus colegas sofreram sob o regime, chegando ao cúmulo de abandonarem o curso médico. Este momento foi vivenciado com grande intensidade pelo estudante Joaquim e seus companheiros. Fez-se presente em comícios estudantis, manifestações públicas de descontentamento com a forma do regime. Afirmam aqueles, que era um participante na linha de frente nas lutas em prol da melhoria do ensino médico. Um político de personalidade marcante, autêntico, tradicionalista com grande senso de justiça. Em que pese seu bom relacionamento e afabilidade com seus pares, possuía face ao seu temperamento o chamado no popular: "PAVIO CURTO". Ainda complementam que o Joaquim demonstrava seu entusiasmo e inteligência nos momentos de rebeldia, com o calor de sua imaginação e dons oratórios invejáveis. Sempre foi organizado e rígido em sua pontualidade no trato de seus compromissos. Acompanhavam-no em suas idéias os colegas: Manuel Jaime Xavier Filho, Ricardo Antônio Rosado Maia, Manoel Jeovah Colaço Fernandes, Saulo de Almeida Ataíde, Márcio de Holanda Guerra, entre outros. Hoje, esses combatentes pertencem ao quadro de profissionais de qualificação indiscutível em nosso meio médico. Uma das batalhas memoráveis, foi a da construção do Hospital Universitário. Era uma prioridade naquele momento. A luta meritória, tendo por parte de muitos uma canalização positiva de esforços no sentido de concretizar o propósito, a despeito de marchas e contra-marchas. Na época, o memorável Hospital Santa Isabel, não comportava o crescimento do curso médico, com relação ao número de alunos. Havia necessidade de uma tomada de posição e providências imediatas para resolução do problema. Foi louvável a participação do estudante Joaquim juntamente com seus colegas. Contavam com o apoio incondicional do diretor da Faculdade e do Reitor, respectivamente professor Atílio Rotta e Guilhardo Martins. O Hospital foi construído. Aconteceu o sonhado. Os louros, eles ostentam em suas cabeças, cabeças coroadas de idealismo. Não somente as lutas estudantis mereceram evidências durante o curso. As festas e as viagens de recreio tiveram sua importância como elementos de integração da turma. O Joaquim participava com assiduidade a todas. Era freqüentador do CÉU, Centro Estudantil Universitário, situado no Cassino da Lagoa. Como acadêmico, foi plantonista da Maternidade Cândida Vargas durante quatro anos, acompanhando os Drs. Delosmar Mendonça e José Ferreira, bem como plantonista do Hospital de Pronto Socorro Municipal, onde hoje está localizada a Telemar. Relata ter sido


este estágio a maior escola médica para ele. Participou das urgências e emergências sob o comando do Dr. Aglair da Silva, a quem dispensa grandes elogios. Ainda no 5° ano trabalhou em postos de saúde nas cidades de Itabaiana, Araçagí e Marí. Ano de 1971. Graduado como médico. Neste momento tenho a absoluta certeza que repetiu as mesmas palavras do Apóstolo Paulo em sua carta à Timóteo: '"COMBATI O BOM COMBATE, COMPLETEI A CORRIDA, GUARDEI A FÉ". Nova vida, novas perspectivas. Escolha da especialidade. Influenciado pela prima médica Anilda de Sousa Melo, que residia no Rio de Janeiro, ele optou pela Ginecologia e Obstetrícia. Fez residência médica no Hospital dos Servidores do Estado, na especialidade de Ginecologia. Regressando a João Pessoa, conheceu por intermédio colega Volgrand Almeida de Lucena a Srª Maria Carmem Souto, filha do Sr. Cleodom Agostinho de Souto e da Srª Belmira da Cunha Souto. Namoraram, noivaram em 1974 e contraíram núpcias em 1975, nesta cidade, na capela da antiga Faculdade de Medicina. Fixou residência em Campina Grande. Desta união, nasceram três filhos e uma filha. Bruno, advogado; Tatiana, Fisioterapeuta; Breno, administrador e Renato, professor de Educação Física. Tatiana é casada com Pablo Ricardo Honório da Silva, advogado. Tem uma filha, Manuela. Renato é casado com Delane Lívia Lino de Araújo. No ano de 1986, o Dr. Joaquim ingressou na Faculdade de Direito da UEPB, sendo graduado em 1990. Foi mais um passo em sua carreira de amante da cultura. Cargos e atividades docentes na UFPB. Professor de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Campina Grande. Coordenador da disciplina de Ginecologia do Departamento Materno-Infantil. Chefe do Departamento Materno-Infantil. Coordenador do Internato do curso de Medicina. Membro da Comissão de Coordenação e elaboração de estudos sobre a estrutura administrativa e acadêmica da Universidade Federal de Campina Grande-UFCG. Experiência administrativa Diretor técnico do Hospital Universitário Alcides Carneiro. Diretor assistencial do Hospital Alcides Carneiro. Diretor da Maternidade Elpídio de Almeida. Atividades exercidas como Ginecologista e Obstetra. Médico do INAMPS, hoje, Ministério da Saúde-(Aposentado). Plantonista como obstetra em todas as maternidades de Campina Grande. Participação em entidades científicas e defesa profissional. Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba - (SOGOPA). Associação Médica de Campina Grande. Sindicato dos Médicos de Campina Grande. O Dr. Joaquim apresenta ainda em seu currículo uma participação efetiva em congressos, como participante em mesas redondas, palestras, debates informais e painéis. Fazendo jus aos seus dons literários, escreveu diversos artigos em jornais, não somente sobre assuntos médicos, mas também na área de Direito. Entre os artigos, anotamos: Dia do Médico; Considerações sobre a pena de morte no Brasil; Alerta Geral, O museu da Medicina. Neste artigo, ele defendia a criação do Museu da Medicina no velho prédio da Faculdade de Medicina, onde funcionavam Anatomia, Histologia e Medicina Legal. Com um dos seus escritos, a crônica "A sensibilidade do Zé do Grilo", recebeu menção honrosa


no 6° Concurso Nacional de Literatura da Fundação Cultural de Canoas, Rio Grande do Sul. Atualmente, o Dr. Joaquim exerce suas atividades profissionais no Programa de Saúde da Família, bem como atende seus pacientes particulares no consultório. A par de seus trabalhos na área médica, tem como hobby a leitura e o cinema. Como desportista, admira o vôlei e ainda é torcedor ou sofredor do Flamengo. Dr. Joaquim Monteiro da Franca Filho, você recebe hoje o diploma e a medalha desta Academia. O fato representa o coroamento de seus esforços. Sonho que o acompanhava desde há muito tempo. Realidade hoje. Seja recebido nesta Casa, nesta promissora noite, ornamentada pelas suas virtudes e seus méritos. A Academia Paraibana de Medicina sente-se agraciada com a dádiva de seu ingresso. Seja bem vindo. Orlando Álvares Coelho.


28/07/2005 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. RAUL TORRES DANTAS Cadeira nº 39 Por: Dr. Joaquim Monteiro da Franca Filho

Ilmo. Sr. Presidente desta Academia Componentes da Mesa Meus Colegas Acadêmicos Minhas Senhoras, meus Senhores. Começo citando uma frase do cineasta Píer Paolo Pasolini. Dizia ele: "Nos meus filmes, procuro colocar sempre uma grande dose de sonhos, porque sonhar é mais importante do que realizar, pois sonhar é belo sempre". Reflito sobre esta colocação e me permito discordar do grande mestre da sétima arte, pois, para mim, como para muitos, a conclusão de um sonho é a sua realização. Se sonhar é belo, realizar é a glória. E hoje, aqui me encontro, nesta egrégia casa, para a concretização de mais um sonho, que era pertencer à casa que tem, como sua maior característica, elevar o saber e promover a cultura médica, onde deverei, sem sombra de dúvidas, muito aprender com os luminares que dela fazem parte. Pertencer a esta Academia significa, para mim, o coroamento de uma vida como médico, pautada pela dedicação e amor à profissão, em que pese certas intempéries que, nesta atividade, as vezes nos estão reservadas. Na realidade, a vida para mim tem sido uma sucessão de emoções. Emoções que se traduzem por momentos que são ruins e momentos que são bons, como é a dialética da vida. As emoções ruins, arquivo logo no porão do esquecimento. As boas, estas sim, estão sempre a aflorar, quando abro o baú da memória. De forma que eu poderia, neste momento solene, citar algumas: quando fui aprovado no vestibular de medicina e quando concluí o curso; este o grande sonho. Quando casei; quando do nascimento dos meus filhos. Em cada momento, uma emoção diferente. O casamento de dois dos meus filhos e o nascimento da minha primeira neta. Enfim, como diria o cantor Roberto Carlos: "São tantas emoções", que se tornaria cansativo, aqui, neste momento, citá-las. Nesta noite memorável, vivo mais uma emoção que, com certeza, ficará gravada em meu coração e passará a fazer parte do meu baú das lembranças. Meus caros colegas acadêmicos. Para mim, todas as profissões têm a sua importância. Entretanto, na minha concepção, quatro delas têm seus reais destaques. São elas: as artes, o magistério, o direito e a medicina. E se assim analiso, é porque cada uma tem um significado especial, tendo eu procurado, dentro das minhas possibilidades, em algumas delas dar a minha modéstia contribuição. E porque assim penso? As Artes: por meio delas, seja na literatura, no cinema, no teatro etc., o homem se transforma e transforma a vida. Não é a toa que a vida imita a arte. Alguém já disse que, através do espelho, nós vemos o rosto. Através da arte, nós vemos a alma. Ela é a expressão da beleza que é herdada dos deuses. Através da arte, o trágico pode se tornar belo. Conta a história, que, certa vez, um prisioneiro de um campo de concentração


chamado Victor Frankl, ficou espantado quando viu um cogumelo colorido brotar de um pedaço de madeira podre. Concluiu, então, naquele momento, que entre os horrores de um campo de concentração, o desafio da natureza se fazia presente. Aqui está, a beleza da arte. O Magistério: infelizmente, uma das profissões mais desprestigiadas pelos poderes públicos. A meu ver, quanto maior a dedicação pelo ensino, menor importância é dispensada ao professor. Imaginem a beleza que é o professor que alfabetiza! E aqui, lembro de uma professora do meu curso primário, elegantíssima nos atos e gestos, e que costumava dizer que sempre que conseguia alfabetizar uma criança, era como abrir uma janela para o mundo. Hoje, eu acho que ela abria uma porta. Lembro-me também da minha passagem pelo velho Liceu Paraibano e da dedicação dos velhos professores, os eternos vocacionados para o ensino. Mas hoje, houve uma completa inversão de valores. O professor perdeu o brilho, perdendo o valor, sendo nivelado por baixo. Infelizmente, o ensino virou, em grande parte, um negócio mercantilista, com sérios prejuízos para a juventude. Se assim falo, é porque passei 30 anos de minha vida dedicados ao magistério. O Direito: aqui está uma profissão, para aqueles que a seguem, ímpar em seus objetivos. Isto porque, segundo o jurista Hans Kelsin, o Direito valoriza a vida, impõe a cidadania e a liberdade. Esta é a opinião de um jurista defensor da justiça, da liberdade, da igualdade e do estudo do direito, da conservação dos princípios democráticos dentro da legalidade. O direito, quando aplicado dentro dos postulados éticos, impõe às pessoas o verdadeiro princípio de cidadania. Todos nós sabemos que o mundo clama por uma justiça igualitária. Agora se nem todos advogados defendem a justiça, caberá a nós todos podermos advogar para defender as injustiças. Isto significa dizer que todos nós podemos e devemos defender os injustiçados, o que nem sempre fazemos. Este, a meu ver, deve ser o princípio fundamental daqueles que resolvem seguir esta profissão: Combater com ética e imparcialidade as injustiças. A Medicina: na vida, nós vivenciamos traumas, lembranças, frustrações e ilusões. Mas também vivemos as grandes paixões. A medicina, para mim, como profissão, tem sido a minha grande paixão. A medicina para quem a exerce, não é só uma vocação. Ela é muito mais do que isto, é uma missão que temos de cumprir, é uma predestinação que cada um deve aceitar. Ingressei no curso médico em 1966. Passadas as emoções do vestibular, como sempre, bastante concorrido, comecei a enfrentar outra realidade, bem diferente daquela do tempo de colégio. Era a responsabilidade de enfrentar um curso, cuja finalidade principal é a de salvar vidas humanas. No nosso curso médico, tivemos o privilégio de conviver e aprender com professores da mais alta qualificação. Deixo de citá-los neste momento, para que não venha a cometer o pecado da injustiça ou do esquecimento. Havia, naquele tempo, um maior envolvimento dos mestres pelo ensino, como também um maior interesse dos alunos pelo aprendizado. Para se ter uma idéia e citar um só exemplo, havia por parte dos acadêmicos, certa ansiedade para conseguir um plantão no Hospital de Pronto Socorro, considerado por muitos como o templo sagrado do aprendizado médico. E na realidade, era. Hoje percebo, que há uma certa desmotivação um certo desencanto de ambos os lados, professores e alunos. Sem dúvida alguma, o curso médico naquela época tinha muito mais glamour. Havia uma certa vibração em ser estudante de medicina. Paralelamente, a nossa turma marcou época m tradicional Faculdade de Medicina da UFPB, na área da política estudantil-universitária. Conseguimos quebrar um antigo conceito nos meios acadêmicos, segundo o qual o aluno do curso médico era tido, politicamente, como um alienado. A nossa turma, podemos dizer, revolucionou a Faculdade, com um pensamento cultural e político emergente e inovador surpreendendo a tudo e a todos. Vale salientar, aqui, que enfrentamos, durante os seis anos de curso médico, um regime ditatorial militar cruel, que em nada contribuiu para melhorar o País e pelo qual muitas vidas foram sacrificadas. Tivemos vários colegas cassados, culminando com a


perda de um colega querido, João Roberto Borges de Sousa, que apareceu morto em circunstâncias até hoje não muito bem esclarecidas e cujo pecado maior foi defender um País que se tornasse mais humano, mais fraterno e menos desigual. Mas, meus caros confrades, confesso que ando preocupado com o nível da medicina atual. Se por um lado ela avançou e avança todos os dias em diagnósticos e ate mesmo na cura de certas enfermidades, o que não deixa de ser uma de suas maiores, se não a sua maior conquista, por outro lado, houve, a meu ver, uma certa regressão no relacionamento médico-paciente. Está deixando de ser praticado por alguns, aquilo que deve ser a sua principal característica: O humanismo. Lembro aqui, uma frase do saudoso prof. João Medeiros: "A verdadeira medicina não é apenas a que salva ou a que cura mas igualmente a que alivia, a que anima, a que conforta na hora trágica do desengano". Esta oração, meus caros acadêmicos, sintetiza o verdadeiro humanismo do médico, pois ele é o único profissional a conhecer a fragilidade do semelhante, em seu limite último. Mas precisamos, Senhor Presidente, meus caros confrades, tirar esta apatia que contagia uma parcela dos médicos. Precisamos mudar este perfil. E, para mudar, é preciso começar pela formação do futuro médico, reformulando o curso, no meu entender, bastante questionável. Em primeiro lugar, há necessidade urgente de se coibir a proliferação desenfreada de tantas escolas médicas, muitas de nível duvidoso e de funcionamento precário. Não consigo entender, em um Estado pobre como o nosso, que estejam abrindo tantas escolas médicas! É preciso se dar um basta nisto. Infelizmente, os órgãos defensores da classe médica têm se mostrado impotentes para reverter este quadro, em que pese todo o esforço despendido. É preciso entender que o médico tem a grande responsabilidade de trabalhar com vidas humanas e torna-se impossível um bom desempenho, se não estiver bem preparado. Em medicina, não é possível alinhavar. E aproveito o momento para lembrar uma frase publicada em uma revista médica: "A medicina é a arte de manter acesa a luz da vida". Como então manter esta chama, se não pudermos dar um preparo condizente aos futuros médicos? Por outro lado, não consigo entender também como se pode aprender medicina cumprindo uma carga horária por disciplina até certo ponto irrisória, muitas vezes sem um conteúdo prático que deve ser exigido. Às vezes, paro, penso e analiso o que foi o meu curso médico e comparo com o atual. Vejo, então, que há uma enorme diferença em todos os aspectos. E se assim analiso é porque, da minha passagem pelo magistério, 28 anos foram dedicados ao ensino médico o que me fez fazer várias reflexões. Mas tudo isto faz parte de uma reforma universitária que nos foi imposta. Uma reforma mal elaborada, que todos tivemos que aceitar, sem poder questionar. Razão tinha o saudoso prof. Francisco Porto. Quando, certa vez, perguntado por um grupo de alunos do curso médico o que ele achava da reforma universitária proposta pelo governo da época, assim respondeu: "A reforma universitária para mim faliu antes de começar". Nunca uma profecia se cumpriu tão bem. Portanto, meus caros acadêmicos, acho que já está até passando do tempo de procurarmos reverter este quadro Acho também que precisamos reunir forças de todas a instituições ligadas à área médica, para restaurar o curso médico da nossa UFPB, lutando para voltar ao antigo curso seriado anual, como já fizeram outros cursos. Voltar ao passado, nem sempre significa regredir e nem sempre o que é moderno é viável. E nesta luta, que poderá ser árdua, ma não impossível, esta Academia, que tem como um dos objetivos incentivar o aprimoramento da cultura e do ensino da medicina, deverá estar incluída, talvez até na vanguarda deste pleito. Tenho também a clareza de que algumas dificuldades poderão surgir, porém não devemos pensar em fracasso. Lembremo-nos do clássico de Hemingway, onde o velho Santiago, depois de 84 dias em alto mar, quando finalmente conseguiu fisgar um enorme peixe, lutou contra todos os tubarões que queriam


devorá-lo e, em sua solidão, disse: "o homem não foi feito para derrota. Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado". Este, portanto meus caros confrades será o começo de um caminho a percorrer para se restaurar a dignidade do médico. Colocá-lo no lugar onde sempre esteve e que nos dias atuais infelizmente encontra-se desprestigiado, massacrado e nivelado, por baixo, pelos poderes públicos. E para que esta reconstrução possa ocorrer, deverá sem sombra de dúvidas, começar com a reestruturação do curso médico. Na dialética da vida, só com a mudança de hábitos e de costumes é que poderemos conseguir nossos objetivos. Dr. Raul Torres Dantas Não é fácil falar de Dr. Raul Torres Dantas, meu antecessor na Cadeira 39 desta Academia, embora não tenha chegado a assumir, haja vista as inúmeras virtudes que ele possuía, não só como médico, como homem público, mas, sobretudo, como ser humano. O nosso primeiro contato, deu-se de maneira casual. Certo dia, no ano de 1975, eu, há pouco tempo em Campina Grande, encontrava-me de plantão na Maternidade do Hospital da FAP, mais precisamente na portaria daquela casa Hospitalar, em conversa com alguns colegas, quando entra aquele homem, de andar curto, sem pressa, em nossa direção. Puxou conversa e foi aí que travamos nosso primeiro contato. Naquela ocasião, disse-me ser sabedor do nosso trabalho, que torcia pelo meu sucesso como Ginecologista-Obstetra e também como professor recém-ingresso na Faculdade de Medicina de Campina Grande. Conversamos sobre diversos assuntos, e logo percebi o universo cultural do Dr. Raul. Logo em seguida, dirigiu-se à enfermaria de Pediatria, alegando que iria acompanhar algumas crianças internadas. Dr. Raul Torres Dantas, nasceu na cidade de Teixeira, na Paraíba, em 15 de abril de 1921. Filho de José Torres Dantas e de Jovita Caetano Dantas, fez os primeiros estudos em Afogados das Ingazeiras em Pernambuco. Posteriormente, foi interno em Caruaru-PE, para dar continuidade aos estudos. Em seguida, transferiu-se para Recife-PE, onde fez o curso médico na Faculdade de Medicina daquela cidade, tendo concluído o curso em 1947, especializando-se em Pediatria. O interessante, é que seu pai queria que ele fosse Engenheiro ou Advogado. Por isto, o Dr. Raul chegou a freqüentar, por 6 meses, o curso de engenharia, abandonando-o, pois sua vocação era a medicina. Terminando o curso médico, foi o Dr. Raul trabalhar na cidade de Sapé, aqui mesmo na Paraíba, fazendo, posteriormente um curso de Saúde Pública no Rio de Janeiro. Chegou em Campina Grande no ano de 1956, como Pediatra, exercendo esta especialidade até 1981. No seu vastíssimo currículo exerceu vários cargos públicos, não só em nível municipal como também em nível Estadual. Entre estes, podemos destacar: no Governo Estadual, citaremos entre outros: Médico por concurso público; representante do Governo do Estado junto ao Escritório do Fundo Internacional de Socorro à Infância FISI-UNICEF; Diretor da Divisão de Proteção à Maternidade, a Infância e Adolescência, órgão da Secretaria de Saúde; Membro da junta médica da Capital. Na Sociedade Paraibana de Pediatria, foi sócio fundador e membro da Comissão Científica. Médico do Hospital Alcides Carneiro (Ipase), por concurso. Teve grande atuação na fundação da Faculdade de Medicina de Campina Grande, como articulador. Na Sociedade Médica de Campina Grande, foi presidente por sete mandatos, vice-presidente por três mandatos e secretário geral por quatro mandatos. Eleito para esta Academia, nunca se interessou em tomar posse. Achava que esta casa era para intelectuais, luminares e, na sua avaliação, ele não se enquadrava neste perfil. Foi também agraciado com o título de cidadão campinense e nunca se interessou em


recebê-lo. Talvez achasse que pouco tinha feito pela cidade, para receber tal honraria. Dr. Raul Dantas era a modéstia em pessoa. O que, aliás, é próprio dos grandes realizadores, Esta é, portanto, meus colegas acadêmicos, minhas senhoras e meus senhores, uma pequena mostra do que foi em vida, o Dr. Raul Dantas. Os cargos que ele exerceu foram muitos. Como Pediatra, muitas foram as crianças que passaram por suas mãos. Muitas foram salvas por ele. Citar aqui toda a sua grade curricular, entraria noite à dentro. Pois bem, desde o nosso primeiro encontro, de quando em vez encontrava-me com o Dr. Raul e ele sempre naquela tranqüilidade, fala mansa, sem pressa de chegar, mas sempre com boas conversas. Extremamente ético, nunca o ouvi durante nossos encontros, falar mal ou emitir conceitos negativos sobre qualquer colega. Quando falava de algum colega, era só para elogiar. As nossas conversas sempre giravam em torno de literatura ou da memória da cidade. E ele sempre muito entusiasmado, incentivando para que eu escrevesse alguma coisa com relação à área médica. Acho até que acabei influenciado por estas conversas, tendo escrito o livro "30 ANOS DEPOIS", resultado da convivência da turma de médicos de 1971, da UFPB da qual faço parte. Quando fiz a entrega do livro ao Dr. Raul, o mesmo foi só vibração e de imediato sentenciou: "Pronto, agora você não para mais; vamos partir para outro". Ele era assim, um incentivador. Certa vez, antes do carnaval de 1993, entrava eu na Sociedade Médica de Campina Grande e deparei-me com o incansável e batalhador Raul Dantas, já aposentado e, desta feita, dedicado a organizar toda a história da Sociedade Médica, tudo com a maior dedicação e paciência, suas marcas registradas. Ali, ele ia todas as tardes, para rever toda a documentação e colocando em rigorosa ordem. Após conclusão do trabalho, encadernou em elegante brochura, que se encontra na Biblioteca da Sociedade Médica, para futuras consultas. Antes de sua morte, em 20 de outubro de 2003, aos 82 anos, estava pesquisando e escrevendo sobre a história da medicina na Paraíba. Um trabalho de muita paciência e dedicação, que vinha fazendo com muito prazer e entusiasmo. Infelizmente, não teve tempo para concluí-lo. Esperamos que outro colega se disponha a terminá-lo. Meus caros colegas acadêmicos, minhas senhoras e meus senhores, assim era o Dr. Raul Torres Dantas. Um homem tranqüilo, calmo, ético e leal, com grande carisma entre os colegas que tiveram o prazer de privar da sua amizade, principalmente entre os pediatras. Mas, sobretudo, um homem preocupado com as coisas da cidade. Sua morte abriu uma grande lacuna na classe médica campinense. Pelo que fez e exerceu na cidade, os poderes públicos lhe devem uma grande homenagem, até agora esquecida. Esperamos, sinceramente, que seja corrigida esta injustiça, imortalizando seu nome, para que sirva de exemplo às novas e futuras gerações.


28/07/2005 

Elogio ao Patrono: Dr. WALDEMIRO PIRES FERREIRA Cadeira nº 39 Por: Dr. Joaquim Monteiro da Franca Filho

Meus caros confrades. A cada dia, convencido estou de que certas circunstâncias que a vida nos impõe estão inexoravelmente atreladas ao nosso destino. Em cada curva do tempo, estamos sempre sujeitos às mais variadas surpresas. E por que esta observação, que faço neste momento? Quando estudante do curso médico, criei um trauma com a disciplina Psiquiatria. Não conseguia entender nem aceitar um tipo de tratamento empregado em certos doentes mentais, que era o eletrochoque. Isto porque provocava, nos pacientes, reações nada agradáveis antes e depois daquele tipo de tratamento. Achava eu aquela conduta terapêutica uma verdadeira barbaridade. Ainda hoje, não consigo aceitar. Também não sei se ainda é realizado. Pois bem, decorridos mais de 30 anos, eis que me encontro assumindo uma cadeira nesta Academia, cujo patrono foi um dos luminares da Psiquiatria e Neurologia do seu tempo. Portanto, uma grande ironia do destino. Mas afinal, quem foi o Dr. Waldemiro Pires Ferreira? O Dr. Waldemiro Pires Ferreira, patrono da cadeira 39 desta Academia, nasceu na cidade de Sousa, no Estado da Paraíba, em 11-11-1892, portanto no final do século XIX. Descendia de duas tradicionais famílias do Nordeste: Pires Ferreira e Bandeira de Melo, sendo o nono filho de uma prole de onze, do casal Lindolfo Pires Ferreira e Maria Leopoldina Pires dos Santos. Teve, o Dr. Waldemiro, notável atuação na medicina no século XX, mais precisamente nas décadas de 1920 e 1930, após ser diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1919, onde foi aprovado com distinção em defesas de teses, apresentando 39 trabalhos e teses sobre doenças mentais, sendo, inclusive, 7 delas em francês. Suas teses em francês foram publicadas em Paris por Gaston Din et Cie Editeur. Entre estas, podemos citar algumas: Ponction sous occipitale -1930; Paralysie Générale Striée-1930; Psychoses Post Malariatherapiques - 1934. Uma vez formado e depois de passar algum tempo clinicando em sua terra natal, Sousa, e também na cidade de Cajazeiras, na Paraíba, sentindo a necessidade de crescer na medicina, transferiu seu domicílio para a cidade do Rio de Janeiro, onde clinicou por mais de 40 anos, com consultório à Rua Debret, 79, no centro do Rio, tornando-se um dos grandes nomes da Psiquiatria Brasileira, e professor catedrático de Neurologia, Emérito e Jubilado, da Faculdade de Medicina daquela cidade. Desempenhou, ainda, com invulgar brilhantismo, diversos cargos e funções públicas, todos ligados à área médica. Entre estes, podemos citar: Diretor do Hospital Juliano Moreira; Diretor do Hospital Neuropsiquiátrico Infantil de Engenho de Dentro; Diretor do Departamento de Doenças Mentais do Ministério da Educação e Saúde; Chefe do Serviço de Sífilis Nervosa e Neurobiologia da Fundação Gaffré e Guinle, entre outros. Destacando-se também como amante da literatura, deixou o Dr. Waldemiro cerca de 400 volumes, os quais foram doados à sua terra natal, tendo a Prefeitura da sua cidade, naquela ocasião, se comprometido a fundar o Banco do Livro com o seu nome, como uma


justa homenagem aquele que não só honrou a sua terra, como também a medicina brasileira. No campo da medicina, deixou um acervo de 529 volumes em sua biblioteca particular, em sua residência, à Rua Leopoldo Miguez, 116 apto. 701 em Copacabana destacando-se os de suas especialidades: Psiquiatria e Neurologia. Muitos desses volumes em francês contêm obras preciosas e raras. Podemos citar, entre outras: Leçons du Systeme nerveux - 1896; Leçons sur Ia Periode Prectaxique du tabes de A. Furnier - 1885; Maladies de Systeme Nervieux de F. Raymond-1889. Todo esse acervo médico deveria ser doado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba para consultas e pesquisas entre os alunos do curso médico, porém, em nossas pesquisas, não encontramos nenhuma referência a tal doação. Em nossa Biblioteca Central da UFPB, não foi encontrado um só volume deste acervo. Desta forma, meus caros Acadêmicos, minhas senhoras e meus senhores, com todos os méritos de que era possuidor, conforme vimos, Dr. Waldemiro candidatou-se a uma vaga na Academia Nacional de Medicina, mais precisamente a cadeira de n° 49, vaga, com o falecimento de Acadêmico Leonel Justiniano da Rocha e cujo Patrono era o Dr. Enjolras Vampré. Disputou a vaga com o Dr. Aristides Marques da Cunha, que na ocasião, era também um grande pesquisador e chefe de serviço do Instituto Osvaldo Cruz entre outros cargos que exercia, tendo, na oportunidade, apresentado a memória "Etiologia da febre amarela". Dr. Waldemiro concorreu com a memória: "Syndromes Syfilíticas do Corpo Estriado". Esses trabalhos foram apreciados por uma comissão científica, composta dos Acadêmicos: Eduardo Rabelo, Olímpio da Fonseca e Joaquim Mota. Após minuciosa e rigorosa análise, emitiram parecer favorável à admissão do Dr. Waldemiro, em 7 de junho de 1930. Sua eleição foi realizada em 31 de julho de 1930, e sua posse, em 13 de novembro de 1930. A sessão foi presidida pelo Acadêmico Miguel Couto, com oração de saudação feita pelo Acadêmico Henrique Roxo. Dois luminares da medicina da época. Desta maneira, Dr. Waldemiro foi titular da Academia Nacional de Medicina por um período de 37 anos na cadeira 49. Após este período, por solicitação própria, passou a classe dos membros eméritos em 24 de julho de 1958. Ao passar a emérito, a cadeira foi ocupada pelo Acadêmico Antônio Rodrigues de Melo, eleito em 4 de dezembro de 1958 e empossado em 18 de junho de 1959. Faleceu em 31 de agosto de 1977, na cidade do Rio de Janeiro, viúvo e sem deixar descendência. Como todos podemos ver, meus caros colegas Acadêmicos, minhas senhoras e meus senhores, o patrono da cadeira que neste momento tenho a honra de tomar posse, o médico, o pesquisador, o cientista e o professor, foi, sem dúvida, um dos grandes luminares da medicina do seu tempo, tendo deixado uma grande contribuição, não só na área científica como também na literatura, a servir de exemplo para as futuras gerações. Para mim, ele foi um médico muito além do seu tempo. Agradecimentos Sr. Presidente, meus caros confrades. Para finalizar esta noite mágica, inspirada nos deuses do Olimpo, é chegado o momento de agradecer. Inicialmente, o meu mais fraterno agradecimento à comissão científica desta Academia, que de maneira imparcial, no julgamento do meu currículo, permitiu me aceitar como um de seus pares, apesar de


ter eu, feito tão pouco. O meu agradecimento, ao dileto professor Orlando Coelho, pela generosidade de suas palavras, proferidas nesta noite, a minha pessoa, o que de certa forma não me causou surpresa, porque sempre o conheci como um gentleman desde quando freqüentei como estudante do curso médico, a enfermaria Santa Rosa no tradicional Hospital Santa Isabel. Só não sei se as mereço, com a dimensão com que foram ditas. O meu agradecimento a meu colega-amigo-irmão, companheiro de tantas jornadas, Manoel Jaime Xavier Filho, uma vez que o mesmo foi o maior incentivador para que eu fizesse parte desta casa. Por último, o meu mais profundo agradecimento a todos que compareceram nesta noite para participar da minha posse. Mas, Senhor Presidente, meus caros acadêmicos, minhas senhoras e meus senhores. O momento, também é de compartilhar a beleza desta noite, pois ela não pode e nem deve ser privilégio de uma só pessoa. Desta forma, esta emoção que ora me invade a alma, não seria possível sem o incentivo e o apoio daquelas pessoas que me são queridas. São elas: minha amada esposa, Maria Carmem, companheira por mais de 30 anos, nos momentos de alegria ou de tristezas, sem perder o rumo da boa orientação. Meus filhos, Bruno, Tatiana, Breno e Renato; razão maior da minha luta cotidiana. Meu genro Pablo Ricardo, agora fazendo parte da família e minha nora Delane Lívia. E para não dizer que não falei de flores, como diria Vandré, a minha musa, a minha neta Manuela. E finalmente, para encerrar esta noite com um brilho ainda maior, deixo minha mensagem a esta Academia, inspirado num poema de Henfil: Se não houver frutos, Valeu a beleza das flores, Se não houver flores, Valeu a sombra das folhas, Se não houver folhas, Valeu a intenção da semente. Espero, que neste momento, possa eu me transformar nesta semente que possa realmente frutificar e que Deus me ilumine, para que, dentro de minhas modestas possibilidades, possa contribuir para elevar cada vez mais o nome desta Academia. É só. Muito obrigado Joaquim Monteiro da Franca Filho.


CADEIRA Nº Patrono:

33

OSCAR DE OLIVEIRA CASTRO

Data de posse: 04/08/1989 1º ocupante: MAURÍLIO AUGUSTO DE ALMEIDA Data de posse: 30/11/2006 2º ocupante: João Modesto Filho Saudação:

Genival Veloso de França


30/11/2006 

Saudação ao: Dr. JOÃO MODESTO FILHO Cadeira nº 33 Por: Dr. Genival Veloso de França

SAUDAÇÃO A UM NOVEL ACADÊMICO Senhor Presidente, Eminentes Confrades: Esta Casa - de aparência tão sóbria e formal, é a mais fraterna e acolhedora das confrarias. Tudo nela recorda velhas amizades, inspira sentimentos e fala de lembranças, uma lembrança que desafia o tempo e o esquecimento. Seus membros são acolhidos entre aqueles que solicitam ingresso pelos seus feitos e obras. Hoje ela se ilumina para receber em seu seio um dos mais ilustres membros da classe médica paraibana e um cidadão de vida exemplar. Em geral as reuniões acadêmicas são assim: cerimoniais e rodeadas de protocolos. As saudações são transmitidas em laudas numerosas de um longo discurso incendiado pelo fogo do verbo e da emoção. Sempre disse que se dependesse de mim, seria como uma conversa entre dois bons amigos. Mas não posso. A regra é o respeito ao Regimento e por isso vou acatar o manual acadêmico. João Modesto Filho nasceu nesta cidade de João Pessoa, no dia 7 de setembro de 1944. Nasceu numa manhã de sol com as honras e os dobrados de feriado. Veio ao mundo em dia de festa de mártires e heróis. Filho de João Modesto da Silva, um homem bom e humilde, comerciário de uma casa de ferragens desta cidade, onde o conheci, pois também trabalhava noutra casa concorrente a poucos metros de distância, e de Celina Lins Modesto, parteira diplomada com relevantes serviços prestados à velha Maternidade Cândida Vargas, onde nós os estudantes de medicina aprendemos tanto com sua bondade e experiência. Era na sala de partos onde ela nos ensinava os caminhos mais fáceis de vir ao mundo. Seria injusto aqui não ressaltar a excelsa figura de Dona Celina, saindo para trabalhar com sua roupa impecavelmente branca e na tranqüilidade dos que fazem da honradez um exemplo de vida. Sentia nela o grande amor e orgulho que tinha pelos filhos. O sentimento materno é uma imensidão de afetos onde cabem todas as esperanças e todos os perdões. Este é o único amor que não pede recompensa. São seus irmãos Ivan, Inanoi, Ivanusa, Ivanice, Ivani, Ivanira e Ivanilton. Meu apresentado encontrou na sua vida Maria de Fátima Magliano Carneiro da Cunha - um anjo de candura, e dessa união nasceram Vanina, Thiago e Catharina, e de Vanina e Paulo Antônio nasceu Paulo, um encanto de garoto e um neto tão querido. Este é o único momento em que as jovens avós não fazem conta de idade. E quanto mais netos têm mais rejuvenescem o coração. Iniciou seus estudos primários com Dona Noêmia, no Grupo Escolar Thomaz Mindelo, no bairro do Varadouro e o ginasial e o científico no Colégio Pio X.


Fez vestibular de medicina para as Universidades Federais de Pernambuco e da Paraíba. Optou estudar em Recife indo morar no Diretório Central do Estudante que, naquela época, no arrebentar do Golpe de 1964 tinha se transformado numa fortaleza contra a opressão e daí sua prisão e interrogatório pelas forças de repressão que tinham se apoderado das praças e das ruas da Veneza brasileira. Foi um estudante pobre e sem boemia. Mais tarde, de quando em quando, é que abraçou a música para enfeitar a noite. Formou-se em medicina em 1969 e de imediato viajou para São Paulo onde fez especialização em endocrinologia e medicina nuclear, e em seguida defendeu Tese de Doutorado em 1973 com o tema "Estudo das perdas insensíveis de cálcio através da medida de retenção corpórea e cálcio radioativo no homem". Com este trabalho ganhou o prêmio da Associação Paulista de Medicina e teve destacada publicação da Revista "Science". Em 1974 entrou para a Universidade Federal da Paraíba onde foi lotado no Departamento de Medicina Interna, permanecendo por 15 anos como coordenador da disciplina de Endocrinologia. Nos idos de 1983 aliou-se ao Movimento de Renovação Médica - REME, que lutava por mudanças políticas e idéias libertárias nas entidades médicas brasileiras, até então nas mãos de grupos conservadores. Este projeto foi vitorioso nos Conselhos Regionais e no ano seguinte no Conselho Federal mudando assim seus estilos e práticas. Em 1988 colou grau em Psicologia pela atual Unipê. Foi tesoureiro do CRM-PB de 1983 a 1988, Presidente de 1988 a 1993, de 2002 a 2003 e de 2003 a 2004. Além disso, foi Presidente da Associação Médica da Paraíba de 1997 a 1999. Escreveu o livro "Vivência com Diabetes: Experiência de 20 anos" em parceria com a Assistente Social Isa Maia, além de vários capítulos de livros de repercussão nacional ligados à Endocrinologia e à Diabetes. Em 1989 cursou pós-doutorado em Nancy, no Hospital Jeanne D'Are e em 1991 fundou a Diagnóstico, um serviço de excelência em Medicina Nuclear e Densitometria Óssea em nosso Estado, em sociedade com seus colegas Manoel Jaime Xavier Filho e Saulo José Bezerra Londres. No ano de 1997, juntamente com a Profa. Adriana Nunes e o então acadêmico Luciano Pontes de Azevedo ganhou o prêmio de melhor trabalho sobre osteoporose no Congresso Brasileiro de Densitometria Clínica, realizado em Brasília. Atualmente é professor voluntário e orientador de dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado junto ao Departamento de Medicina Interna e do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba. Este é o médico e o pesquisador João Modesto Filho. Agora é a vez do amigo. Conheci João Modesto Filho, ele estudante de ginásio, eu estudante de medicina dos primeiros anos, nos alpendres de sua casa em Jaguaribe, onde ali estudava com seu irmão Ivan, meu mais dileto amigo e colega de turma, companheiro de futebol e das aventuras tão próprias da mocidade. Uma amizade que o tempo só fez crescer. Os anos foram passando e a lembrança que tenho do meu apresentado é a de sua entrada como docente na Faculdade de Medicina e de nossa convivência no Departamento de Medicina Interna. Daí resultou uma amizade que os anos consolidaram pela força da minha admiração, de um fraterno sentimento e de uma tranqüila convivência, mas acima de tudo pelo respeito ao seu caráter, a sua tolerância e à fidelidade aos seus amigos.


Dele pode-se invejar porque teve sorte em tudo. Teve a sorte do berço, e se o travesseiro não era dourado, os que lhe acolhia tinha a fortuna dos corações iluminados. Teve sorte com sua vida profissional e acadêmica testemunhada pelo vulto de sua obra e pelo testemunho do seu trabalho. Teve sorte com a esposa que o adora e com os filhos que só lhe deram orgulho e alegria. Sorte teve ele com seus irmãos com quem mantém um laço familiar de amor e solidariedade. Teve sorte até com os amigos, o que não é fácil, pois todos o tratam com carinho e lealdade. Poderia ser até mais ousado e insinuante, pois títulos e méritos não lhe faltam. Ninguém diz que naquele ar tranqüilo está escondida uma vocação de tantas qualidades e talentos. Meu estimado amigo João Modesto Filho As Academias de Medicina, mesmo sendo diferentes das outras entidades de classe que tratam do aprimoramento da ciência e da cultura, malgrado um outro esforço não têm se posicionado em favor dos grandes temas políticos e sociais do povo brasileiro, como por exemplo, dos Direitos Humanos. E não é de agora tal omissão. Ela vem desde os tempos imperiais de sua fundação quando fidalgos de punhos de rendas trocavam elogios ente si. Falo isso por duas razões: primeiro porque nesta Casa os Acadêmicos sempre tiveram toda liberdade de expressão e nunca houve qualquer manifestação de censura ou de mal-estar por parte da sua direção. Depois porque conhecendo as idéias libertárias de muitos aqui, sei que gostaria que dissesse isso. Dou ênfase a isto porque o conceito de assistência à saúde, entendido ainda por alguns como sinônimo de prática médica curativa ou preventiva, ou como simples organização dos serviços prestados em atendimento, não pode mais ser aceito. O conceito moderno de saúde transcende a uma dimensão política, fruto de uma composição dos níveis e das condições de vida que vão além da organização sanitária. É muito mais uma questão de forma de vida. A própria definição de saúde, adotada pela Organização Mundial da Saúde, no preâmbulo de sua Constituição, em 26 de julho de 1946, como "um completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença" - muito mais um conceito de felicidade - torna-se, nos dias de agora, irreal, utópico, impossível de ser alcançado e de difícil operacionalidade. Outro conceito que deve ser revisto é o de cidadania. Não pode ele se prender apenas ao aspecto jurídico-civil, senão, também, às garantias dos direitos sociais, corolário de uma efetiva prática democrática. Não adianta todo esse encantamento com o progresso da técnica e da ciência se não for em favor do homem. Se não, esse progresso será uma coisa pobre e mesquinha. Tão íntima é a relação entre a saúde e a liberdade que não se pode admitir qualquer proposta em favor da melhoria das condições de vida e de saúde das pessoas sem se respeitar a autonomia delas. Entender também que o consentimento livre e esclarecido, operacionalizado no princípio da autonomia e da beneficência, não diz apenas um fato do interesse médico, mas antes de tudo uma questão político-social própria das sociedades livres. Todo cidadão tem o direito de saber sua verdade e participar ativamente das decisões que dizem respeito a sua vida social e, portanto, das decisões médicas e sanitárias que afetam sua vida e sua saúde.


Se não levarmos em conta esta autonomia das pessoas qualquer conceito que se tenha de saúde é ambíguo e fica difícil para o poder público impor regras sanitárias, simplesmente porque tanto a saúde como a doença exigem explicações. Um dos grandes desafios do futuro será a capacidade de se conhecer, através da chamada medicina preditiva, certas informações advindas da seqüência do genoma onde a capacidade de prevenir, tratar e curar doenças poderá se transformar numa oportunidade de discriminar pessoas portadoras de certas debilidades. Se estas oportunidades diagnosticas forem no sentido de beneficiar o indivíduo, não há o que censurar. No entanto, estas medidas preditivas podem ser no sentido de excluir ou selecionar qualidades por meio de dados históricos e familiares, como nos interesses das companhias de seguro, e isto pode ter um impacto negativo na vida e nos interesses das pessoas. Hoje já se sabe que a presença de certo alelo tem uma probabilidade maior de desenvolver doenças e que logo mais teremos informações sobre determinados fatores genéticos responsáveis pelas doenças psiquiátricas. Isto, com certeza terá um impacto médico de maior significação a partir das possibilidades de tratamento e cura. Por outro lado, também poderá trazer conseqüências muito sérias capazes de promover implicações de ordem psíquicas, sociais e éticas. O primeiro risco que corremos é o de natureza científica, pois não temos ainda o conhecimento bastante para determinadas posições de natureza genética, o que pode redundar em medidas precipitadas que no mínimo trarão ainda mais discriminação, mesmo que isso não passe de um fator de risco. Outro fato é que existe um conjunto de doenças que poderão ser diagnosticadas num futuro bem próximo, todavia não se contará tão cedo com soluções exatas e eficazes, principalmente no que concerne a um sistema público de saúde. Muitas serão as oportunidades em que o único tratamento será à base de medidas eugênicas através do aborto. Fica evidente que, mesmo existindo um futuro promissor advindo destas conquistas, seria injusto não se apontar relevantes conflitos de interesses os mais variados que poderiam comprometer os direitos humanos fundamentais. É preciso que se encontre um modelo racional onde as coisas se equilibrem: de um lado o interesse da ciência e de outro o respeito à dignidade humana. Tudo isso terá como fundamento a idéia de que a vida de todo ser humano é ornada de especial dignidade e que isto deve ser colocado de forma clara em defesa da proteção das necessidades e da sobrevivência de cada um. Os direitos fundamentais e irrecusáveis da pessoa humana devem ser definidos por um conjunto de normas que possibilite a cada um ter condições de desenvolver suas aptidões e suas possibilidades em paz e liberdade. Meu estimado amigo João Modesto Filho: Sua missão é importante nesta Casa: substituir o Dr. Maurílio Augusto de Almeida, um grande paraibano, exemplo de uma vida a serviço da medicina. Para tanto, estamos todos nós, seus velhos amigos e companheiros, festejando com a emoção de quem há muito tempo aguardavam sua presença. Em nome da Academia Paraibana de Medicina, que me indicou para saudá-lo, desejo todo sucesso e estimo que continue cultuando sempre a imaginação e a pesquisa. Sua escolha para que o apresentasse nesta solenidade me faz o verdadeiro homenageado. Na serenidade das tardes quietas esta lembrança será uma ressurreição. A hora é sua. Lamento não ter dito mais. O resto está no coração. Muito obrigado.


30/11/2006 

Elogio ao Patrono e ao 1º ocupante: Dr. OSCAR DE OLIVEIRA CASTRO (Patrono) Dr. MAURÍLIO AUGUSTO DE ALMEIDA (1º ocupante) Cadeira nº 33 Por: Dr. João Modesto Filho

Exmo. Sr. Professor João Cavalcanti de Albuquerque, Mui Digno Presidente da Academia Paraibana de Medicina, Acadêmicos e Acadêmicas, Senhoras e Senhores familiares do Professor Maurílio Augusto de Almeida, meu antecessor na cadeira de n. 33 desta Academia, e os parentes do Professor Oscar de Oliveira Castro, patrono desta cadeira. Autoridades presentes e representadas, Meus caros familiares, e aqui abro espaço para uma homenagem especial aos meus pais – João Modesto da Silva e Celina Lins Modesto -, exemplos de serenidade, honradez, trabalho e devoção à família e aos filhos; minha esposa, Fátima; meus filhos Vanina, Thiago e Catharina e meu neto Paulo. Meus Senhores, minhas Senhoras, caros amigos, Venho aqui hoje para vivenciar um dos meus mais esperados sonhos: a solenidade de posse como membro da Academia Paraibana de Medicina. Sinto-me extremamente honrado em poder pertencer a esta entidade, figurando como um dos seus mais humildes membros. Seus componentes são exemplos de pessoas que, pela experiência adquirida das coisas da vida, exprimem, entre outros predicados, os de maturidade, dignidade, vanguarda, respeitabilidade, sabedoria e consciência no discernimento das decisões. Sou profundamente grato a todas essas fortalezas intelectuais, realçando os nomes do atual Presidente e o do seu antecessor, os Profs. João Cavalcanti de Albuquerque e Jacinto Gonçalves Londres de Medeiros, pelo apoio, incentivo e compreensão que sempre tiveram para comigo. Voltando um pouco no tempo, presidia o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba quando fui aceito como futuro membro desta casa e, naquela época, discutíamos no CRM a possibilidade de adquirirmos uma nova sede que correspondesse às expectativas e necessidades dos tempos vindouros. Apresentada a idéia na Plenária do Conselho de Medicina, esta foi aprovada por unanimidade pelo corpo de conselheiros e, em seguida, teve o aval indispensável do Presidente do Conselho Federal de Medicina – Dr. Edson de Oliveira Andrade - e do incansável batalhador das causas da Paraíba, o Conselheiro Federal – Prof. Genário Alves Barbosa. É imperativo salientar a equipe que foi decisiva para adquirir este vistoso prédio e iniciar a sua reforma e construção: Dalvélio Madruga, Francisco Vieira, Norberto da Silva


Neto, João Medeiros, Mario Toscano, Manoel Nogueira, Fernando Serrano, Paulo Roberto, Manoel Jaime, Roberto Morais João Alberto Pessoa e Marcelo Queiroga. Dr. Marcelo, como secretário do CRM, foi figura das mais significativas para a escolha do local e o início das obras. Saliente-se a notável conclusão da sede através do dinamismo do nosso Presidente Dalvélio Madruga. Por tudo isso, pedi aos Profs. João Cavalcanti e Jacinto Londres que compreendessem a solicitação de um sonhador: que a posse fosse na futura sede do CRM, logo após a sua inauguração, mesmo porque existe a real possibilidade de termos aqui o “Memorial da Medicina Paraibana”, gerenciado pela própria Academia. Tive a alegria e o privilégio de contar com a compreensão de ambos. E hoje, aqui estou com uma felicidade incomensurável. No intervalo de tempo decorrido entre a aceitação do meu nome e esta solenidade, tive a oportunidade de assistir a algumas posses, dentre as quais a do meu irmão – Ivan Lins Modesto – figura que me serviu de exemplo desde cedo para trilhar os passos desse verdadeiro sacerdócio que é a medicina, ao lado da minha mãe – Celina – a qual, como parteira, responsável pela vinda ao mundo de incontáveis crianças, já era um exemplo de como se deve cuidar do ser humano. E esse dia finalmente chegou e aqui tenho que agradecer a muitos, como a meus pais, que já diziam, na sabedoria das pessoas simples e determinadas: “tudo será feito para que vocês, meus filhos, tenham a condição de andar de cabeças erguidas”. E foram radicais no quesito educação, nos oferecendo o que fosse de melhor, dentro das possibilidades vigentes. No meu ponto de vista, somos oito descendentes que procuraram corresponder aos anseios paternos e, dos meus irmãos e irmãs, posso dizer que sempre recebi carinho, amor, compreensão e incentivo. Mas a busca de realizações requer complementações, requer ambiente apropriado e, nesse aspecto, fui sorteado. Casei-me com Maria de Fátima Magliano Carneiro da Cunha, verdadeiro farol para todas as horas, calmarias ou tempestades. Sem o seu apoio, dedicação, incentivo, desenvoltura, desempenho e organização tudo seria, muito mais difícil. Tivemos três maravilhosos filhos: Vanina, advogada, casada com o nosso caro genro, engenheiro Paulo Antonio, que nos presentearam com o amado neto Paulo, recebedor dos cuidados humanos e médicos do amigo fraterno João Medeiros; Thiago, médico, em fase de conclusão de Residência Médica em Imagem, em São Paulo, casado com a querida nora Anne Karinne, advogada; e a caçula Catharina, dentro de pouco tempo a primeira fonoaudióloga dos Modesto e dos Carneiro da Cunha. Uma família, pois, que me faz sentir completo e realizado. Caros Acadêmicos e Acadêmicas, Meus amigos e amigas, Quando se chega à idade em que estou, tem-se a convicção de que muitas pessoas participaram, de alguma forma, da nossa formação. Além da família, amigos e colegas de bancos escolares, de faculdades, de viagens, de estudos, de lazeres e, nesse particular, aqui nesta sede, local de carnavais memoráveis, lembro da alegria no compartilhamento de festas com tantos amigos, alguns aqui presentes e outros ausentes, porque já se foram. No ambiente profissional, foram principalmente três as frentes de atuação: Universidade, Entidades Médicas e Clínica Privada. A Universidade, local de busca e transmissão de conhecimentos, onde, provavelmente, mais aprendi do que ensinei, embora consciente de ter feito tudo para transmitir o que sabia; as entidades médicas – Conselho Regional de Medicina, Associação Médica da Paraíba – as quais presidi e, presentemente, a Diretoria Financeira da Unimed


João Pessoa, da qual faço parte em companhia do Presidente Dr. Aucélio Gusmão e da Diretoria Superintendente Dra. Tânia Menezes. Mas, dentre tantos nomes, existe um que tem significado especial. Foi o responsável pela minha entrada no âmbito da política médica, numa fase em que minhas atividades profissionais eram direcionadas aos trabalhos acadêmicos e ao consultório, que dividia com Dr. José Cassildo Pinto, companheiro, junto com Dr. Methodio Maranhão Pereira Diniz, do curso médico e da pós-graduação em São Paulo. Naquela época, 1983, já fervilhava o ambiente das mudanças no país e fui convidado para fazer parte de uma chapa que concorreria às eleições do CRM. Esse convite foi feito pelo Professor Genival Veloso de França, não sem razão, o responsável pela saudação à minha pessoa nesta noite. De início, relutei, cedendo depois, desde que fosse na qualidade de suplente, apresentando as desculpas de sempre: não entendia de Conselho, não tinha tempo, existiam pessoas mais capacitadas, etc. Mas Genival, com aquele seu jeito peculiar, me convenceu que deveria ser titular, elencando uma série de razões. Vencidas as eleições, mais uma vez chega Genival e faz uma sondagem para eu assumir o cargo de Tesoureiro. Respondi que não tinha a mínima possibilidade, pois viria dificultar em muito meus afazeres. E Genival: “Mas você só precisa passar aqui uma ou outra hora para ver como estão as coisas, bater um papo com os amigos, conferir algumas contas e ver se tem algum cheque para assinar”. O tal do convencimento mais uma vez venceu. Fui tesoureiro do CRM na gestão 1983-1988. Já perto do final do mandato, Genival disse-me que deveria encabeçar a próxima chapa e que começasse a escolher nomes para a futura composição do conselho. Claro que ele estaria pronto para ajudar. Uma pequena equipe sugeriu vários nomes, dos quais muitos se encontram aqui hoje e, devido ao trabalho desenvolvido na gestão anterior, não tivemos concorrentes. Àquela altura, já tinha conhecimento suficiente da filosofia e da política do Conselho e das verdadeiras atribuições conselhais. Meus Senhores, Minhas Senhoras, Perdoem-me por esta breve memória pessoal, mas tudo isso representou uma importante etapa na minha vida com dupla missão profissional: eleito Chefe do Departamento de Medicina Interna, substituindo o Prof. e Acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros, e eleito Presidente do Conselho Regional de Medicina, sucedendo ao próprio Genival Veloso de França, e uma tríplice preocupação: atuação na formação dos futuros médicos, atuação nas políticas das entidades médicas e atuação na luta por melhorias nas condições de saúde da população, além dos trabalhos profissionais no consultório e, mais tarde, na Diagnóstica, na companhia de Saulo Londres e Manoel Jaime. Na Universidade, o trabalho desenvolvido trouxe grandes alegrias, mas também tinha suas limitações. Com o passar do tempo, e me dedicando ao ensino, pesquisa e extensão, ouvia do Prof. Thomaz Cruz, Presidente da Academia Baiana de Medicina, que o sistema dominante vinha abandonando a Universidade como ambiente de formação de profissionais competentes para servir a comunidade, mostrando o esquecimento e o descaso do Governo para com a relevância que tem o preparo de uma elite intelectual de um país na condução do seu destino e na solução dos seus problemas. A Universidade foi relegada, preterida a um plano não prioritário, com o Governo anestesiando o ensino e a pesquisa. Mas, ao lado disso, a ciência continuava com suas conquistas. Segundo pensadores contemporâneos, três fatos são marcantes na história recente da ciência e da tecnologia: a chegada do homem à lua, o computador e o projeto genoma humano. Este último trazendo uma verdadeira revolução na medicina. Uma das grandes aplicações da descoberta do


genoma será a possibilidade de se ter medicamentos conforme nosso código genético. Isso será possível porque, sabendo-se onde se localiza e para que serve cada gen, poderão ser desenvolvidos drogas e tratamentos personalizados para as doenças. Nesse sentido, o desenvolvimento e a implantação da medicina personalizada possibilitarão conhecer a correlação entre as doenças e a informação contida nos genes de cada pessoa, o que permitirá aos médicos prescrever o medicamento e as doses adequadas para cada paciente. Presume-se que uma das doenças que será significativamente afetada pela medicina personalizada será o câncer e, num maior prazo, uma gama de áreas terapêuticas como diabetes, doenças cardiovasculares (hipertensão), psiquiátricas (esquizofrenia e depressão) e aquelas relacionadas ao sistema nervoso central e periférico (Alzheimer e Parkinson). Uma das conseqüências da aplicação da medicina personalizada será o aumento da expectativa de vida e o conseqüente aumento da população idosa. Os laboratórios farmacêuticos começaram a testar as primeiras drogas experimentais desenvolvidas a partir da genética e difundem a idéia de que será possível curar algumas doenças em nível molecular, mesmo antes que se desenvolvam. A medicina genética foi utilizada pela primeira vez, em 1990, para curar uma menina que sofria de deficiência no sistema imunológico, pois herdara, tanto do pai quanto da mãe, variantes defeituosas do gene que sintetiza uma proteína denominada ADA. A deficiência dessa proteína é um dos distúrbios de um único gene, ou seja, o defeito que envolve um só gene e, portanto, mais facilmente tratada. No entanto muitas doenças como o diabetes e a obesidade são determinadas por múltiplos genes, daí a necessidade de estudos mais aprofundados e mais tempo de pesquisa. Temos que nos inserir nesse contexto e, para que possamos avançar, necessitamos repensar nossas instituições de ensino, pesquisa e extensão. A ciência pergunta e a investigação procura responder. Por isso, é preciso exigir que se devolva à Universidade, como dizia Ortega e Gasset, “sua missão histórica de ilustrar, iluminar o homem, de ensinar-lhe a plena cultura de sua época, de descobrir-lhe com clareza e precisão o mundo no qual ele tem que se inserir como indivíduo, a fim de que sua vida se torne autêntica”. Meus Senhores e minhas Senhoras, Caros Acadêmicos e Acadêmicas, Atuação nas políticas das entidades médicas: à medida que surgiam fatos, tomada de decisões e enfrentamentos, ficava mais claro que os médicos não podiam ficar alheios ao que se passava a sua volta e deveriam se manifestar sobre o que ocorria na sociedade. Genival já ensinava que todo ato médico é um ato de justiça social, portanto um ato político, e que toda doença tem como origem ou conseqüência um fato social. Afinal, como dizia meu colega pernambucano Ney Cavalcanti, “entrávamos no novo milênio e velhos e novos desafios estavam presentes, pois ser médico, no seu sentido mais amplo, em um país ainda socialmente pobre e, principalmente, injusto, requer não somente o exercício da atividade profissional, mas também a ação como cidadão. E, como cidadão, se é obrigado a lutar particularmente contra a enorme injustiça que a sociedade brasileira pratica com uma grande parcela da população, com os mais pobres. A melhoria econômica que o país experimentou nos anos recentes praticamente não chegou até eles. A maneira perversa como o Brasil trata os seus pobres é secular, persistente e, até agora imutável, porque não temos sido capazes de modificá-la. A discriminação contra o pobre é ainda maior do que a racial”. É exatamente nesse cenário que está inserida a categoria médica. Nesse sentido, a Academia Paraibana de Medicina sempre me chamou a atenção porque, além da sua vocação fundamental de extravasar os sentimentos da alma, através da literatura e das


reuniões técnico-ético-cientifícas, tem procurado se unir às demais entidades médicas a fim de lutar pela dignidade da profissão. Afinal, é lamentável que o profissional médico, na sua grande maioria, venha sendo submetido, por um lado, a um processo de dependência de empresas prestadoras de serviços, muitas das quais mercantilistas e que visam exclusivamente ao lucro. Aliás, nunca é demais lembrar que ética e lucro há muito se estranham. De outro lado, o médico se submete a multi-empregos em que o principal patrão é o governo, formando um modelo cujo resultado é o aviltamento salarial, tirando do médico a condição de profissional liberal, levando-o a um acentuado desgaste físico e mental. Tudo isso determina um sentimento negativista em relação ao futuro, um descontentamento e uma falta de perspectiva para um melhor desempenho do seu mister. Observa-se que a remuneração médica é sabidamente insuficiente para uma existência segura e digna. E esse rendimento fica ainda mais desproporcional quando comparado com aquilo que o médico tem de mais nobre: promover e recuperar a saúde. Por conta desse cenário, surgiu o cooperativismo médico, que entendo como um fator de integração e solidariedade. O surgimento e o desenvolvimento das cooperativas médicas, embora necessitando de definições setoriais que podem ser obtidas através de discussões e ajustes, têm sido um dos modelos criados pela categoria para combater as afrontas à nossa dignidade e, quando bem orientadas (união dos cooperados, metas bem definidas e de interesse geral), se tornam uma das grandes armas na defesa dos nossos princípios. Na questão exclusiva da saúde e da medicina, dizia Hipócrates, o pai da nossa profissão, que a medicina é a arte de curar. Entretanto, segundo o Acadêmico e Endocrinologista, Professor Luiz César Povoa, “esse enfoque parece estar algo superado, pois hoje a medicina é a arte de ajudar o paciente a viver bem e morrer com dignidade. A morte também tem a sua dignidade, e esse é um aspecto ético prejudicado às vezes pelo CTismo exagerado, sem nenhuma conotação humana, visto apenas sob a ótica do desenvolvimento tecnológico”. Mas, biologicamente, a morte é inexorável, definitiva, a última fragilidade humana. Nesse contexto, é o médico o grande responsável pelo diagnóstico correto e pela instituição da terapêutica adequada, sabendo como estabelecer um plano de investigação através de exames complementares. Apesar disso, é quase sempre o menos reconhecido e ainda pode sofrer o desfecho de um resultado insatisfatório, mesmo que não tenha culpa ou que tal desfecho independa da sua vontade. Nós, médicos, juntos na Academia e nas demais entidades médicas, temos que lutar contra as distorções, revigorando a relação médico-paciente, o respeito mútuo, compreensão, humanismo, solidariedade e conhecimento cientifico. Temos que superar divergências, respeitar o pluralismo das idéias, diversidade de opiniões, discutindo, todos juntos, qualquer tema. Temos que defender a dignidade da profissão, resgatando o papel social que dela se espera, o que só pode ocorrer mediante uma maior autonomia, tanto econômica como política e gerencial, ou seja, mediante o fortalecimento do caráter profissional e dos aspectos exclusivos e específicos da profissão médica. Temos que ter sempre em mente que saúde não é apenas ausência de doença. Seu conceito é bem mais amplo e muitos dos seus problemas podem ser minorados através de uma distribuição de renda mais eqüitativa, do combate ao analfabetismo e à fome, tudo isso pelo ideal de uma sociedade mais justa e igualitária. O médico sabe como poucos o real valor da saúde e entende que ela somente se completa em um contexto onde educação, moradia, saneamento e segurança devam ser garantidos. Esses princípios levei comigo ao assumir a Presidência da Associação Médica da Paraíba, sucedendo aos briosos Drs. Mario Uchoa e Paulo Sergio Toscano, que inseriram


uma nova filosofia naquela entidade, e antecedendo ao dinâmico e incansável Acadêmico Wilberto Trigueiro, grande responsável pela atual sede da AMPB. Mas, apesar de todos os fatos há pouco descritos e que dificultam nossa ação; apesar de atingidos pelas grandes dificuldades pelas quais passa a saúde no Brasil, entre elas as decorrentes da ausência de uma política pública de recursos humanos que reconheça a importância do trabalho médico, apesar de tudo isso, nós trabalhamos bem. Isso ficou claramente demonstrado em pesquisa espontânea realizada por Instituto de opinião pública, que provou que a categoria médica é a que possui o maior índice de confiança da população, em um universo em que foi avaliada a confiança dos brasileiros em relação a 18 categorias. Um outro exemplo relativo à nossa profissão vem de Ontário, no Canadá. O Dr. Daren Heykand acompanhou pacientes idosos, portadores de doenças cardíacas, pulmonares e hepáticas em fase terminal. Estudou as necessidades e desejos desses pacientes, relacionados com o secular problema do final da vida. Segundo a pesquisa, a primeira necessidade deles foi a de ter confiança no seu médico. Outras prioridades foram: não ser mantido vivo de forma artificial quando não houvesse esperança de melhora significativa; que o médico comunicasse honestamente as informações sobre o estado de saúde; ter tempo de colocar seus afazeres e responsabilidades em ordem, de resolver possíveis conflitos e de poder dar adeus à sua família e, a seus amigos; não ser um fardo físico ou emotivo para seus próximos. Por seu turno, a Associação Médica Mundial, que promove a excelência em medicina e os valores básicos da profissão, humanismo, ciência e ética, editou há pouco tempo um livro “Médicos Dedicados do Mundo”, com os perfis humano e profissional de 65 médicos de 58 países. Esses médicos foram eleitos por colegas de 84 Associações Médicas Nacionais. Exemplos de médicos dedicados: John Awoonor-Williams trabalha numa das zonas mais pobres do mundo, no norte de Ghana. É o único médico para 187.000 habitantes, em área sem telefone, água corrente, rádio ou televisão, e, até há cinco anos, sem eletricidade. Suas condições profissionais são obviamente bem distintas das de outros lugares. Outros eleitos: o venezuelano Jacinto Convit, que ajudou a erradicar a lepra; o chinês Nanshan Zhong, que alcançou notoriedade mundial por seus trabalhos na recente epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Severa; o britânico Richard Doll, há pouco falecido, que relacionou, há 50 anos, o tabagismo com câncer de pulmão; o espanhol Pedro Alonso, pelos recentes êxitos no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a malária; o panamenho Luis Picard-Ami, preocupado com que a medicina não se transforme numa grande indústria; e o brasileiro Adib Jatene, afirmando que a medicina é uma profissão que existe para ajudar a quem sofre e não para ajudar as pessoas exclusivamente a ganharem dinheiro. Por todas essas coisas, observa-se que as faces da medicina são inúmeras. Isso porque os sistemas sanitários, os riscos para a saúde, o nível de vida e muitos outros fatores determinam uma grande variedade nas condições de trabalho dos médicos ao redor do mundo. O que os une é a dedicação e o cuidado para com os pacientes, daí o respeito e carinho que recebem de todos eles. Rejubilamo-nos porque, afinal, uma das coisas mais importantes para qualquer profissional é o reconhecimento do seu trabalho e a sua importância na sociedade. Por isso, concordamos com o Presidente do Conselho Federal de Medicina quando diz: “Ser médico é sofrido, porém belo. É difícil, mas necessário. É, enfim, tarefa para seres humanos especiais”. Mostrados esses meus pontos de vista, retorno ao grande motivo desta noite. Pedi que aceitassem minha companhia nesta Casa e fui agraciado. Aqui é o lugar que representa


as virtudes do passado ao tempo em que é portador do futuro, sendo o espelho do que dizia o poeta Eliot: “o tempo presente e o tempo passado estão ambos talvez contidos no tempo futuro, e o tempo futuro contido no tempo passado”. Essa cadeira de número 33 tem como patrono o Professor Oscar de Oliveira Castro e, como primeiro ocupante, o Professor Maurílio Augusto de Almeida, ficando vaga quando do seu falecimento. Chamo a atenção para um fato singular e de uma excepcionalidade marcante: a chama intelectual que a cidade de Bananeiras irradia para a cultura paraibana. Ambos os ilustres ocupantes dessa cadeira nasceram nessa cidade. Meus Senhores, Minhas Senhoras, O Patrono da Cadeira 33, Professor Oscar de Oliveira Castro, conforme mencionado, nasceu em Bananeiras, iniciou seus estudos naquela cidade, cursando o secundário no Colégio Pio X, aqui em João Pessoa. Seguiu para o Rio de Janeiro onde, em 1923, recebeu o diploma de médico pela então Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Apesar dos inúmeros convites para lá iniciar sua carreira profissional, retornou a João Pessoa, cidade que amava e onde recebeu o “Título de Cidadão Pessoense”. Durante 24 anos, foi Diretor da Assistência Municipal, atuou em consultório como pediatra e exerceu inúmeros cargos públicos estadual e municipal. Foi fundador da Escola Médica da Universidade da Paraíba e ainda lecionou nos cursos de Direito e Filosofia. Aos poucos, começou a destacar-se como professor de Medicina Legal e com isso afastava-se da Pediatria. Atuou ainda como professor em cursos secundários no Colégio Pio X, Liceu Paraibano e Colégio Nossa Senhora das Neves. Desenvolveu intensa produção intelectual que publicou em jornais e livros. Escrevia particularmente sobre Ciências, História e Literatura. Foi Presidente da Academia Paraibana de Letras, como substituto de Coriolano de Medeiros, que, aliás, prefaciou o seu livro “Medicina da Paraíba – Flagrantes da sua evolução”. Coriolano escrevia que “O passado atrai e fascina” e que Oscar de Castro é “um dos mais destacados vultos do corpo médico paraibano. Vive para a profissão, para a família, para os amigos, para servir a sua pátria”. Já a acadêmica Adylla Rocha Rabello,da Academia Paraibana de Letras, que incentivou e se interessou permanentemente por este meu trabalho, descrevia Oscar de Castro como o homem “com o sorriso franco que nunca lhe fugia dos lábios: um grande homem”. Do meu antecessor, Prof. Maurílio de Almeida, muito já se escreveu: elegante, sóbrio, educado, culto, vivaz, discreto, polido, modelar, distinto, sereno, leal, fraterno e amigo. Apesar de todos esses predicados, que todos os que conviveram com ele sabem serem verdadeiros, o perfil continua incompleto. Ele foi muito mais. Bananeirense, nasceu no dia 8/06/1926, filho de Pedro Augusto de Almeida e Maria Eulina Rocha de Almeida. Fez os primeiros estudos em casa, com professores particulares e orgulhava-se da educação que recebeu dos pais. Teve quatro irmãs e um irmão: Marina, Gastão, Lucia, Maria Helena e Terezinha, esta, baluarte incansável como gestora do famoso Laboratório do irmão; um filho, Fábio, que continua a desenvolver um eficaz e produtivo trabalho no Laboratório, e dois netos, Pedro e Laura. Estudou no Colégio Pio X, em João Pessoa, e no Colégio Nóbrega, em Recife. Formou-se em Medicina pela atual Universidade Federal de Pernambuco, em 1950. Além de médico, era escritor, bibliófilo e agro-pecuarista. Desenvolveu atividades de professor no Curso Médico da Universidade Federal da Paraíba e na Escola de Enfermagem Santa Emilia de Rodat. Ocupou cargos e funções importantes no âmbito cultural: Conselheiro da Casa de José Américo; fundador da Casa Nordestina de Artes e Letras de Pernambuco; membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e da


Sociedade Brasileira de Escritores; membro efetivo da Academia Brasileira de Historia; sócio fundador da Academia Paraibana de Medicina; sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; sócio correspondente da Academia de Letras do Rio Grande do Sul; representante da Academia Paraibana de Letras na Fundação Cultural do Estado; comendador da Legião do Mérito Presidente Antonio Carlos; recebeu a medalha Amigo da Marinha de Guerra do Brasil; placa de Honra ao Mérito na IV Noite de Cultura-PB, no biênio de 1985/1987; foi tesoureiro do IHGP por dois períodos. Reverenciado pelos alunos, foi paraninfo, patrono e professor homenageado de incontáveis turmas de medicina. Na área profissional, especializou-se em Patologia Clínica e, em 1951, fundou o laboratório que leva o seu nome, na rua Peregrino de Carvalho, nº 146. O próprio Dr. Maurílio fazia as coletas domiciliares e nos hospitais. Pouco tempo depois, mudou-se para a Praça 1817, e posteriormente, edificou o moderno laboratório no Parque Sólon de Lucena, sempre com o incentivo e acompanhamento do filho e também patologista, Fábio Rocha, transformando-o em uma referência como excelência de serviços acreditados não só na cidade de João Pessoa, como também na Paraíba e mesmo no nordeste do país. Trabalhava com zelo, dedicação exemplar, vasto conhecimento e visão futura da ciência. Como analista, fez estágios nos laboratórios dos centros mais avançados do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Publicou vários trabalhos científicos e foi fundador da cadeira de Patologia no Curso Médico da UFPB. Escreveu e publicou onze livros, entre os quais Eram seis as pétalas da Rosa (1990), de caráter memorialista, onde, no capítulo Presença do Passado, escreveu: Quem revolve o passado aguça o desejo de atrair lembranças que avivam o sentimento predisposto a resguardar a memória do tempo. Os demais reproduzem discursos e conferências sobre temas diversos, excetuando-se o primeiro, A presença de D. Pedro II na Paraíba, de cunho histórico. Pertencia a ele uma das maiores bibliotecas particulares da Paraíba, a qual chamava, carinhosa e orgulhosamente, de “Paraibana”, com um acervo de cerca de 65.000 volumes, especializada em História, mas abrigando também autores e publicações da Paraíba. Além de amante dos livros, também o era da música clássica e possuía praticamente toda a obra de Mozart. Quando do seu falecimento, em quatorze de junho de 1998, escrevi um artigo publicado no Jornal da Associação Médica da Paraíba, entidade que, à época eu presidia, sob o título A Paraíba está de luto. Assim me expressei: “A Paraíba se despediu no dia 14 de junho de um dos seus mais ilustres filhos, o médico Maurílio Augusto de Almeida, um exemplo de decência e dignidade, que enriquecia o nosso meio com lições de sabedoria. Inovador e excepcional em sua área de atuação destacava-se pela fidalguia, pela esmerada educação, aliada a uma simplicidade e lealdade própria dos grandes homens. A sociedade paraibana e a Medicina estão de luto. O falecimento do médico Maurílio de Almeida, aos 72 anos de idade, é mesmo uma perda irreparável para todos nós, amigos e colegas de profissão. Um homem se mede pela generosidade e Dr. Maurílio era um homem generoso e de gestos largos. Os homens bons nós os conhecemos por suas atitudes e firmezas de posições; sempre estão dispostos a ajudar o próximo e a cidade que os viu crescer. Quem poderia negar a importância intelectual de Dr. Maurílio na formação de varias gerações na Universidade Federal da Paraíba? Como Professor de Patologia Clínica era, invariavelmente Paraninfo, Patrono ou Professor Homenageado de muitas turmas que ajudou a formar na Paraíba. Dr. Maurílio era um líder respeitado na comunidade acadêmica, daí a falta que nos fará para embates futuros.


Quem não se recorda das famosas “Aulas da Saudade”? Naqueles momentos de grandiosidade intelectual, homenageava-se um homem de sólida formação cultural e humana. Sua inteligência iluminava e apontava caminhos novos para explorar o futuro na profissão. Dr. Maurílio era e continuará sendo um exemplo para todos que fazem medicina em nossa terra. Por último, não custa lembrar que a morte levou do nosso convívio um dos homens mais cultos da Paraíba. Felizmente, a morte do mestre não nos levou tudo. Permanece entre nós a sua obra monumental sobre a sua terra e a sua gente. Um povo que ele soube amar como ninguém. A Associação Médica da Paraíba, enlutada, reverencia a memória de um dos seus mais antigos e ilustres associados”. Esse foi o sentimento de pesar que tivemos e que hoje recordamos nessa posse solene. Minhas Senhoras, Meus Senhores; Meus Caros Acadêmicos, Dr. Oscar de Castro e Dr. Maurílio Almeida foram os dois grandes personagens que me antecederam nesta cadeira de número 33. Por fim, quero encerrar este meu discurso fazendo emocionado um comovente agradecimento aos meus familiares, aos Colegas Acadêmicos, aos meus amigos, e, enfim, a todos pela presença, pela paciência e pelo calor que trouxeram a esta cerimônia. Tenho plena consciência da responsabilidade que implica assumir esta cadeira. Presente nesta casa, tudo farei para manter acesa a chama clara e luminosa das atividades da Academia, honrando suas tradições. Muito Obrigado e que Deus abençoe a todos nós.


CADEIRA Nº Patrono:

40

WALFREDO GUEDES PEREIRA

Data de posse: 31/07/1997 1º ocupante: VICENTE EDMUNDO ROCCO Data de posse: 30/03/2007 Ocupante: Francisco Assis dos Anjos Saudação:

Ivan Lins Modesto


30/03/2007 

Saudação ao: Dr. FRANCISCO ASSIS DOS ANJOS Cadeira nº 40 Por: Dr. Ivan Lins Modesto

Sr. Presidente da Academia Paraibana de Medicina Dr. Marco Aurélio de Oliveira Barros. Demais integrantes da mesa diretora, Acadêmicas e Acadêmicos, senhoras e senhores. Sinto desmedido júbilo e, ao mesmo tempo, um prazer imoderado ao felicitar Dr. Francisco Assis dos Anjos, o novo acadêmico desta Mesquita da retórica mais escorreita que é a nossa Academia Paraibana de Medicina. Novel Acadêmico Francisco Assis dos Anjos. Mais que uma distinção e uma glória foi para mim, um enorme contentamento a convocação que V Excia. me manifestou para realizar a saudação nesta noite em que fará o elogio de seu patrono Walfredo Guedes Pereira e do primeiro ocupante da cadeira na 40, o Acadêmico Vicente Edmundo Rocco, representante privilegiado da altitude da nossa classe, símbolo de inteligência criadora e exemplo de fé e de trabalho. Nesta festa, que pertence aos que aqui pela primeira vez honram o recinto tradicional da nossa viçosa Ateneu, sobejam motivos, muitas vezes, para que ao encarregado de traduzir o pensamento unânime falte envergadura em tão elevada empresa. Será mais grato ao novo acadêmico, no seu papel de recipiendário, escolher loqüela de melhores sons, louvores de maior quilate, aplausos de maior valia. Deveria ser mais lisonjeiro a vós, que vindes iniciar a vossa vida nesta casa que vos honra, sorver todos os encantos de uma oração escolhida, todos os deleites de uma saudação predileta e não vos parecerá com certeza racional, ao menos de acordo com os impulsos do vosso coração, que se negue aquele que recebe a investidura de seu cargo, a satisfação de um desejo tão justo. Quero insistir no assunto Sr. Dr. Francisco Assis dos Anjos, pela certeza que tenho, não obstante os laços da boa camaradagem que nos unem, de que melhor vos fora ouvir a outros, e são tantos, da vossa intimidade, dos vossos afetos. A sorte, entretanto, e talvez seja esta a primeira vez que ela vos ilude, propiciou-me a prazerosa missão que eu venho cumprir satisfeito e lesto, antecipando já os primeiros ímpetos deste contentamento pelo que me diz respeito e pelo que vos toca. Por mim, pela ocasião feliz de enaltecer os vossos méritos, por vós, pela vantagem indiscutível do incensário das minhas palavras sobre os arroubos de outro qualquer turiferário: elas não poderão sofrer a argüição de suspeitas, nem merecerão a crítica de parciais. Atentos ouvintes, Acadêmicas e Acadêmicos. Tranqüilizai-vos, ides ouvir a verdade inteira.


A Paraíba pode orgulhar-se de Dr. Francisco Assis dos Anjos, figura majestosa na história cultural e médica de nossa terra. Nasceu nas cercanias da Fazenda Campo Alegre, encravada no município de Bonito de Santa Fé-PB. Filho de Pedro dos Anjos Figueiredo que, em sua mocidade, fez parte da guarda nacional, tendo colaborado em alguns embates contra cangaceiros da região. Era agricultor e comerciante em Bonito de Santa Fé e Conceição-PB. Sua genitora, Dona Idália Leite Palitot, de prendas domésticas e sólida crença religiosa, era autodidata, escreveu um livro de reminiscências designado "A mulher mais feliz do mundo". Faleceu aos 94 anos, nesta capital. Era o Dr. Francisco Assis dos Anjos na ordem cronológica de nascimento o segundo filho do casal que legou ao mundo mais sete irmãos, dos quais, somente cinco, atingiram a idade adulta; seu irmão Antônio dos Anjos Palitot, médico cardiologista, de saudosa memória, falecido em 22.01.1977, casado com Maria José Bastos Palitot; e as irmãs Maria Auridete Palitot Pereira (advogada), casada com o economista José Aristophanes Pereira; Maria Auristéia da Cunha Lima Palitot (psicóloga) casada com o odontológo Romero da Cunha Lima, e Maria Alzenira Palitot dos Anjos, advogada e professora graduada em letras pela UFPB, que fruíram de seus genitores excelente educação e instrução. Iniciou o curso primário na Escola pública municipal de Bonito de Santa Fé-PB e grupo escolar José Leite Conceição-PB. O ginásio efetuou no colégio do Instituto Superior de Preparatórios - Rio de Janeiro -1944 a 1947 e o científico também neste Instituto de 1948 a 1950; onde revelou, desde os primeiros dias, a altitude da mente que tamanho destaque lhe viria a dar. Obediente à vocação precoce, realizou vestibular para a escola de medicina e cirurgia do Rio de Janeiro - Universidade Federal UNIRIO - onde logo se distinguiu com real mérito sobre a especialidade da qual lhe proviria tão alto renome: a cardiologia. Antes de concluir o curso médico, foi auxiliar acadêmico, por concurso, da Assistência Médica Municipal - Rio de Janeiro, tendo sido, igualmente, classificado para o Hospital Geral Souza Aguiar no período de 1957. Outrossim, participou como interno por concurso do Hospital Pró Matre - Rio de Janeiro no período de 1956 a 1957. Foi além disso, acadêmico por concurso do ex Samdu do Rio de Janeiro no ano de 1957. Durante o curso médico, residiu na casa do estudante do Brasil, tendo sido seu Diretor de Residência. Tendo colado grau em 20 de dezembro de 1957, lançou-se à vida clínica com o maior entusiasmo; dentro em breve era tido como um dos maiores cardiologistas do país. Desempenhou as seguintes atividades médicas, deixando entre os colegas a mais viva impressão da sua perícia clínica.  Curso de pós-graduação, em cardiologia em regime de tempo integral patrocinado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com estágio no Hospital das Clínicas da USP, no serviço do Prof. Luiz V. Décourt Janeiro a Dezembro - 1966.  Ex-estagiário da disciplina de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba - 02 de maio de 1964 a 10 de dezembro de 1964.  Ex-Assistente voluntário da Faculdade de Medicina da UFPB - de 11.12.1964 a 15.04.1967, lotado na disciplina de cardiologia.  Ex-auxiliar de ensino superior da Faculdade de Medicina da UFPB - de 16.04.1967 a 02.1972, alocado na cadeira de cardiologia.  Ex-professor assistente por concurso, da Faculdade de Medicina da UFPB - de 11.02.1972 a 20.06.1979.  Ex-professor adjunto (com promoções sucessivas, sendo aposentado por tempo de serviço como adjunto IV em 05.1990).  Ex-coordenador da disciplina de cardiologia do DMI da Faculdade de Medicina


           

da UFPB. Ex-chefe do departamento de Medicina interna (dois períodos) de 03/76 a 03/98 e de 03/78 a 03/80. Ex-chefe do serviço de cardiologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB. Diploma de especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e AMB. Ex-conselheiro e membro da Diretoria do CRM-PB como 2º Secretário em duas gestões. Sócio fundador da Sociedade Paraibana de Cardiologia. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia - regional PB. Sócio fundador do Hospital Prontocor -João Pessoa - 1969. Sócio fundador da Clinica do Coração -João Pessoa - em 07.1997 Ex-médico clínico do ex-Montepio do Estado da Paraíba (atual IPEP); Ex-médico clínico por concurso do Hospital de pronto socorro municipal de João Pessoa, período de 1962 - 1964; Ex-médico cardiologista do ambulatório do ex-INAMPS. Ex-médico do SAMDU em Itabaiana e João Pessoa-PB.

Até agora, se encontra em plena atividade profissional. Em 27/09/1969, contraiu matrimônio com a Doutora Maria do Socorro Maracajá Sousa dos Anjos, médica ginecologista, natural de Piancó-PB, filha de Moacir de Souza Vida e de Dona Maria Pereira Maracajá de prendas domésticas. Seu genitor era comerciante e agro-pecuarista, tendo sido proprietário de farmácia na cidade de Patos-PB. Os esponsais de Dr. Francisco com a Dra. Maria do Socorro, de caráter religioso, foram realizados na capela do Colégio PIO X, celebrado pelo Padre Juarez Benício. Desse conúbio, nasceram os seguintes flhos: o primogênito, Antônio Assis, faleceu aos 7 anos, a segunda filha, Idalina de Assis dos Anjos, graduada em Medicina, com especialização em cardiologia e ecocardiografa no Incor da USP reside em São Paulo - capital, o terceiro filho, Guilherme de Assis dos Anjos, diplomado em Medicina pela UFC Grande, atualmente cursando residência Médica na capital paulista; a mais nova, Ana Christina Maracajá dos Anjos é titulada em direito. O Dr. Francisco tem como forma de lazer: praticar caminhadas diárias, dançar com sua esposa, ler bons livros e navegar na Internet. Na juventude praticou o vôlei. Dessa forma, como homem, Dr. Francisco compõe a sua existência entre duas sagradas inspirações: a sua casa e o seu ofício. Nesta criação é modelar. Em casa é santo, na obrigação é sábio. Brando, condescendente e confortado sente ao seu lado a felicidade suave e caseira. Lê e pensa. Lê para recordar, pensa para evocar. Lê para aprender e pensa para atender. Este é o médico Francisco Assis dos Anjos. Vós, Sr. Dr. Francisco Assis dos Anjos, ingressais nesta sinagoga das confissões literárias perfeitas como uma expectativa alvissareira. Aqui viestes pela vossa inteligência, pelo vosso valor e pelo vosso nome. Não temo arrostar a exprobração de repetidor de fatos sabidos, salientando a robustez das vossas faculdades intelectuais, regalia cintilante com que vos constituis legatário de suntuoso espólio. Não fossem estes talentos e sem dúvida seria inverossímil transpordes todo o estágio da vossa vida profissional, cingido de triunfos, extasiado de sucessos. Êxitos que retumbam cá fora, glórias que se expandem por ai além.


Sr. Francisco Assis dos Anjos, a Academia Paraibana de Medicina ao adotá-lo neste templo da sabedoria tão almo, recomenda-me remercear-vos o terdes preferido este abrigo acolhedor e aristocrata por agasalho, vos envolvendo num olhar de carinhoso afeto, implora encarecidamente aos céus que a fortuna vos proteja. Mas, que vos proteja tanto, que ao sentardes à fímbria da vereda que suavemente cessa, só vos recordeis de uma existência consoladora, tranqüila, repleta de santimônia, revestida de méritos. Que esse lenitivo alcandorado venha da Medicina que praticardes como suave clarão que circunda a cachimônia do mártir e que desperta nas almas místicas a certeza da bem-aventurança. Que essa tranqüilidade seja o orgulho da vossa velhice, emprestando-vos à fisionomia o meigo fulgor dos predestinados. Que essa devoção persistente seja o pináculo da vossa vida profissional, íntegra e inatacável, dando-vos a aparência venerável do milagroso Asceta. Que esta benemerência compensadora, larga e inestimável, seja a garantia do vosso renome, enrijando-vos a alma e eternizando-vos as virtudes, na gratidão dos contemporâneos e na admiração dos vindouros. Sr. Dr. Francisco Assis dos Anjos Vindes para esta casa já em pleno prestígio profissional. Entrais como mestre e nós vos esperávamos como discípulos. É funda a satisfação que nos vai n'alma pela honra que acabais de nos conceder, e o encarregado de dar as boas vindas ao eminente professor, cujo nome é brilho da medicina brasileira, só pode desejar que esse nome se perpetue. E vós se o quiserdes podereis concorrer para esta eternidade. Seja assim vossa vida, amparada por aquele gênio do bem que, na lenda hebraica, transformava os dissabores de existência, recolhendo piedosamente os últimos sorrisos da criança que expirava, para espalhá-los, como talismã precioso sobre a cabeça dos seus diletos. De acordo com o Acadêmico Dr. Osvaldo Travassos de Medeiros - Na Academia de Medicina, segundo o professor e Acadêmico Hilton Rocha, “Acadêmico não é ser escritor nem poeta, é ser médico. É receber uma consagração porque são nossos pares que vêm nos dizer que jamais fugimos à linha hipocrática, consolando espírito, mitigando dores e desfazendo enfermidades". E acrescenta: o médico tem por função curar, aliviar e consolar (sanare, sedare et solare) postulou Hipócrates há mais de vinte séculos. Doravante a vez é de Vossa Senhoria. Bem vindo à nossa APMED, o templo do saber médico paraibano.


30/03/2007 

Elogio ao 1º ocupante: Dr. VICENTE EDMUNDO ROCCO Cadeira nº 40 Por: Dr. Francisco Assis dos Anjos

Excelentíssimo Senhor Acadêmico Prof. Dr. Marco Aurélio de Oliveira Barros MD. Presidente da Academia Paraibana de Medicina, em nome de quem saúdo as demais autoridades componentes desta Mesa de Honra. Senhoras Acadêmicas. Senhores Acadêmicos. Senhora Francisca das Chagas Catão Rocco, esposa do saudoso Acadêmico Vicente Edmundo Rocco, primeiro ocupante da Cadeira 40 desta Academia, com extensivos cumprimentos à ilustre família Catão Rocco. Senhoras e senhores parentes do Acadêmico Walfredo Guedes Pereira, Patrono da referida Cadeira. Meus colegas. Minhas senhoras. Meus senhores. Nesta excelsa sessão, como recipiendário deste sodalício, onde permanecem as expressões mais legítimas e alcondoradas do pensamento médico da Paraíba, sinto-me com a alma em regozijo. Senhor Presidente, As nímias palavras proferidas tão eloqüentemente pelo Acadêmico IVAN LINS MODESTO e que brotaram através dos sentimentos de velha Amizade, deixam-me deveras sensibilizado. Considero um privilégio, na iminência de ingressar neste Cenáculo, contar com a aquiescência e encômios de tão ilustre esculápio, homem benquisto na classe médica, admirado por seus Colegas, culto e bem realizado como Clinico Geral, estudioso e pioneiro em nosso meio da especialidade MEDICINA DO TRABALHO, com relevantes serviços prestados ao povo paraibano. O Dr. Ivan Lins Modesto é especialista concursado em MEDICINA DO TRABALHO pela Associação Brasileira de Medicina do Trabalho e pela Associação Médica Brasileira. É, também, sócio fundador da Associação Paraibana de Medicina do Trabalho, tendo sido presidente da mesma por duas vezes. Atualmente, é o Presidente da CAMARA TÉCNICA DE MEDICINA DO TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR do CRM (PB). É autor de vários artigos, versando sobre Medicina do Trabalho e dos livros técnicos: a) ANÁLISES PROFISSIOGRÁFICAS NA INDÚSTRIA TÊXTIL DO SISAL; b) PERFIL PROFISSIOGRÁFICO EM PERGUNTAS E RESPOSTAS. Recentemente, publicou outro livro: MANUAL DE ORIENTAÇÕES GENÉRICAS PARA A APLICAÇÃO NA MEDICINA DO TRABALHO com o aval do CRM-PB, livro que veio em boa hora ajudar a todos que mourejam em tão importante ramo da Medicina.


Considero o Dr. Ivan Lins Modesto um homem rico, pois, além de suas qualidades profissionais, do brilho do seu talento e do seu esfuziante entusiasmo pela Medicina do Trabalho, é possuidor de uma linda família, bem estruturada nos princípios cristãos. Sua esposa, MIRIAM DE AQUINO MODESTO, de tradicional Família de Guarabira, dama educada e de convicções religiosas. As filhas do casal: A primogênita, VANIA SUELY MODESTO LOWE, É médica, casada com o Administrador Hospitalar Mr. BRUCE ROBERT LOWE. Trabalham na Universidade de Connecticut (USA); a 2ª. Filha, NORMA CLÉA MODESTO FONSECA, é Enfermeira, casada com o Dr. Ednaldo Fonseca; a 3ª. Filha é a Dra.ROSEANE DE AQUINO MODESTO RODRIGUES, Médica Endocrinologista muito bem conceituada, casada com o anestesiologista FELISBERTO VALÉRIO RODRIGUES; A caçula é CRISTINA DE AQUINO MODESTO (bacharela em Direito). Meu prezado amigo Ivan Lins Modesto, Aceite, como intérprete de generosa acolhida nesta Catedral, meu profundo agradecimento. Senhor Presidente, Trabalhando e convivendo há algumas décadas com vários colegas, Membros Titulares desta Confraria, quer na Cadeira de Cardiologia do Departamento de Medicina Interna do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, quer no Hospital Universitário Lauro Wanderley, quer no Hospital Prontocor, passei a nutrir a idéia de ingressar neste Cenáculo. Agradeço, primeiramente, a Deus, a graça divina dando-me ânimo para assumir, na faixa etária em que me encontro, novos encargos. É oportuno fazer uma breve homenagem a meus Pais: PEDRO DOS ANJOS FIGUEIREDO e IDÁLIA LEITE PALITOT, os quais já partiram para nunca mais voltar, e que me trouxeram ao clarão da vida no longínquo Município de Bonito de Santa Fé, neste Estado, nos arredores da Fazenda Campo Alegre. Meu Pai, homem austero e trabalhador, ensinou-me honradez e a trabalhar com destemor. Minha Mãe, minha primeira professora, portadora de deficiência física, seqüela de poliomielite contraída na infância, mulher dinâmica, de admirável religiosidade, autodidata de grande otimismo, em plena idade provecta, escreveu um livro de memórias intitulado: “A MULHER MAIS FELIZ DO MUNDO”. Dos seus oito filhos, três faleceram no primeiro ano de vida e os outros cinco chegaram a idade adulta e todos concluíram curso de graduação universitária: Maria Auridete Palitot Pereira, bacharela em Direito, casada com o Economista José Aristophanes Pereira; Maria Auristéia Palitot da Cunha Lima, psicóloga, casada com o odontólogo Romero da Cunha Lima; Antonio dos Anjos Palitot, médico cardiologista, de saudosa memória, casado com Maria José Bastos, graduada em pedagogia; e Maria Alzenira Palitot dos Anjos, é Advogada, graduada em Letras e Pedagogia. Aos meus Pais, merecedores dos maiores encômios, exteriorizo os meus sentimentos de gratidão e aqui ficam imorredouras recordações. Inspirado no grande poeta e orador Alcides Carneiro, ressalto: “Recordar não é viver, que recordar é viver de lembrança e viver de lembrança é morrer de saudade”. Agora, é a vez do agradecimento a minha querida esposa, MARIA DO SOCORRO MARACAJÁ SOUZA DOS ANJOS, a qual, além de ser a timoneira da minha vida há mais de três décadas, é médica ginecologista concursada do ex-INAMPS e ex-médica ginecologista do IPEP. É a mãe de nossos queridos filhos: IDALINA DE ASSIS DOS ANJOS, Médica Cardiologista pós-graduada em Ecocardiografia no INCOR da USP; GUILHERME ASSIS DOS ANJOS, ora fazendo residência em Infectologia no Hospital Emilio Ribas da capital paulista; ANA CHRISTINA MARACAJÁ DOS ANJOS, é Advogada.


E, ainda, graças aos incentivos e repetidas advertências daquele a quem considero meu segundo Pai, o Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, de saudosa memória, primeiro ocupante da Cadeira de número 38 desta Academia, cujo patrono é o Prof.Vanildo Guedes Pessoa, de saudosa memória, que fôra meu companheiro de trabalho e de estudos de Eletrocardiologia, passei a amadurecer a idéia de concorrer à ocupação de Cadeira vaga. E foi necessário colocar em prática ensinamentos proferidos através dos tempos: de Platão: “Acalentar profundamente, fervorosamente, o sonho de um ideal, é o sublime dom de poucos eleitos”; de Rousseau:“Infeliz de quem não sabe sacrificar um dia de prazer aos deveres da humanidade”; de Ingenieros: “Nossa vida não é digna de ser vivida, senão quando um ideal a enobrece”. É oportuno citar o renomado oftalmologista, Prof. Paulo Gustavo Galvão, o qual, ao tomar posse na Academia Mineira de Medicina, acrescentara: “Academia é o templo e é o cenáculo. Recinto em que se congraçam os Acadêmicos no intercambio de conhecimentos, idéias e aspirações; em que se comungam os bens espirituais; em que se saciam dos mesmos mananciais e se dessedentam das mesmas fontes. É também ara e é pira, onde incineram-se vaidades, arrogâncias, presunções, destemperos num catabolismo de purificação.As Academias defumam seus ares das essências que o tempo sublima e consagra. Academia de Medicina é templo e é catedral. E Acadêmico será sempre Médico e Sacerdote”. Feitas estas considerações, tomei a decisão de concorrer à ocupação da Cadeira vaga de número 40, cujo patrono é o Dr. Walfredo Guedes Pereira. E agora, repito, com a alma em festa, apto a ocupar a referida cadeira através da porta estreita de seleção democrática, passo a exteriorizar admiração e amor pela Academia Paraibana de Medicina, pois, segundo a famosa escritora do Alabama, Hellen Keller, “tudo o que amamos profundamente se converte em parte de nós mesmos”. Senhor Presidente, Passo,agora, como é de praxe regimental, a fazer o elogio do primeiro ocupante da Cadeira número 40 deste Silogeu, o Acadêmico VICENTE EDMUNDO ROCCO, o qual, em seu notável e histórico discurso de posse, fizera o elogio do patrono da referida Cadeira, o extraordinário médico e homem público paraibano, o Dr. WALFREDO GUEDES PEREIRA, tendo enfatizado que o mesmo é considerado o “Pereira Passos do Nordeste”, em alusão ao operoso Prefeito Pereira Passos da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro durante o Governo do Presidente Rodrigues Alves E foi muito feliz ao afirmar que o Dr. Walfredo Guedes Pereira “muito antes de honrar, como imortal, as galerias desta Academia, já estava imortalizado na memória de seus conterrâneos”. Ressalto que o Dr. Walfredo Guedes Pereira, durante seu mandato como Prefeito de João Pessoa – de outubro de 1920 a outubro de 1924 – abrindo ruas e avenidas, construindo praças e parques, plantando árvores, v.g. mangueiras e ipês, colocando em prática ensinamentos deixados pelo famoso botânico e naturalista paraibano Manoel de Arruda Câmara e, ainda, contando com assessoramento técnico do grande paisagista Burle Marx, é o legítimo responsável pelo Titulo que a ECO-92 outorgara à Capital Paraibana de “segunda Cidade Mais Verde do Mundo”. Senhor Presidente, Dando continuidade, eis-me a iniciar o elogio do Acadêmico VICENTE EDMUNDO ROCCO, de saudosa memória, descrevendo a história de sua vida: Foi na Cidade de Cabedelo que em data de 30 de Novembro de 1916 nasceu Vicente Edmundo Rocco SEUS PAIS; Antonio Francisco Rocco e Maria Di Pace Rocco. É o caçula e o 13º filho do casal.


SEU PAI: Nasceu na Áustria em 1856, em região que fôra anexada a Itália logo após o término da 1ª Grande Guerra Mundial. Emigrou para a Inglaterra onde permanecera cêrca de dez anos. Veio para a Paraíba em companhia dos engenheiros ingleses que vieram construir a Estrada de Ferro Conde d´Eu, posteriormente denominada Great Western. Em 1895, casou-se com Maria Di Pacce Rocco, filha de pai italiano e passou a residir em Cabedelo até 1924, quando se aposentara. Veio a falecer em 1940 em João Pessoa. SUA MÃE: Dona MARIA DI PACCE ROCCO, logo após o casal fixar residência em João Pessoa, em 1924, resolveu trabalhar, matriculando-se em Curso de Parteira, tendo como preceptores os médicos José Maciel, Jaime Lima, Joaquim Hardman e outros. A parte prática do curso foi realizada em Maternidade instalada pelo Dr. Walfredo Guedes Pereira no 2º pavimento de velho sobrado da Rua Visconde de Pelotas, onde funcionava o Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Dentro de pouco tempo, dona MARIQUINHA, como era conhecida a Sra. Maria Di Pacce Rocco, estava habilitada a exercer com segurança a função de parteira. Prestou importantes serviços nesta Capital durante longos anos (mais de quatro décadas), como parteira competente, zelosa e amável, atendendo parturientes ricas ou pobres em qualquer hora do dia ou da noite. Sabe-se que Dona Mariquinha fôra o esteio da Família. Veio a falecer em 1965, deixando uma bela lição de vida. Em 20 de outubro de 1982, o nome da Sra. Maria Di Pacce Rocco foi inscrito nos Anais da Câmara Municipal de João Pessoa, sendo dado a uma das ruas desta cidade por relevantes serviços prestados como parteira às mulheres paraibanas. IRMÃOS DE VICENTE; Os irmãos de Vicente que chegaram a idade adulta foram: FRANCISCO e JOSÉ, os quais foram Oficiais da Marinha. JOÃO foi negociante durante longos anos. RITA e MARIÉ, de prendas domésticas. MANOEL, militar, faleceu muito jovem. Os outros irmãos faleceram na primeira infância. Sua irmã, Dona MARIÉ ROCCO deixou três filhos: ZÉLIA, viúva do Procurador Juarez Brindeiro; FRANCISCO ROCCO VASCONCELOS, Professor; e AGENOR ROCCO VASCONCELOS, Advogado. PRIMEIRA INFANCIA: A 1ª infância de Vicente ocorreu em Cabedelo, com atividades lúdicas nas sombras das gameleiras, brincando do pega-pega sobre fardos de algodão nas proximidades do cais do porto, pescando e/ou nadando na praia de Ponta de Mato. ESCOLARIDADE; O Curso Primário foi feito, a partir de 1924, em João Pessoa, na Escola Modelo e na Escola da Professora Francisca Moura, competente educadora de várias gerações. Aprovado no Exame de Admissão ao Curso Ginasial do Liceu Paraibano, sendo transferido para o Colégio Pio X dos Irmãos Maristas, onde os professores cuidavam com rigor de seus alunos. Ao iniciar o 3º ano, voltou a estudar no Liceu, onde concluiu o Curso Ginasial. Curso Superior: Em fevereiro de 1935, fôra aprovado no vestibular da Faculdade de Medicina do Recife, que funcionava no Derby, tendo concluído o Curso Médico em 1940. Atividades Universitárias: Fôra interno da Maternidade do Derby e da Clínica Médica do vetusto Hospital Pedro II; No 5º ano, aprovado em 2º lugar em concurso, fôra nomeado para exercer a função de Auxiliar Acadêmico do Hospital de Pronto Socorro do Recife, onde permanecera até o término do Curso Médico. Muito trabalho, aprendizado intenso, permitindo-lhe acumular vasta experiência em medicina e cirurgia de urgência. Decide-se pela especialidade de Cirurgia Geral. Teve orientação dos professores Albérico Câmara, João Alfredo, Rômulo Lapa e Jorge Bittencourt. Foram seus colegas de turma os esculápios: José Asdrúbal Marsiglia de Oliveira, Herbert de Miranda Henriques, Roberto Granvile Costa e José Onofre.


Sua família: Esposa: FRANCISCA DAS CHAGAS CATÃO ROCCO, nascida no Estado do Acre, sendo descendente de tradicional família de Campina Grande (PB). Moça bonita, educada, de excelsas virtudes, tendo transmitido às filhas esmerada educação. Seu casamento religioso foi celebrado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória no Rio de Janeiro, em data de 28 de junho de 1958, tornando realidade um sonho de sua vida. As Filhas do Casal: A primogênita é MONICA CATÃO ROCCO DE MENEZES, Médica Ginecologista e Obstetra, bem conceituada, com clínica em João Pessoa e Sapé, casada com o Sr. Áureo da Nóbrega Menezes, empresário, de saudosa memória, genitores de Vicente Edmundo Rocco Neto, estudante de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado de Pernambuco; e Thaisa Rocco de Menezes, préuniversitária. A filha caçula é DÉBORA CATÃO ROCCO DE FARIAS, Odontóloga, especializada em Dentística Reparadora, casada com o Odontólogo Walter Barros de Farias, especializado em Endodontia. Ambos com clínica em João Pessoa e Sapé. Têm dois filhos: Bruno Rocco de Farias (Acadêmico de Direito) e Rafael Rocco de Farias (Acadêmico de Ciências da Computação). Lazer e outras atividades: Vicente gostava de ler bons livros e de ouvir música clássica. Era apreciador do vinho e grande conhecedor de sua história. Adorava viajar em navios. Sua propriedade, próxima a cidade de Sapé, era o local predileto de seu lazer. Sempre teve participação ativa em congressos médicos Assinava vários periódicos de atualização médica, acreditando com entusiasmo na Medicina de ponta. Acreditava em Deus e em melhores condições de vida para o povo brasileiro. Era possuidor de um coração magnânimo e de grande sensibilidade social. Lembro-me de seu antepenúltimo aniversário, comemorado em Casa de Recepção desta capital e do post scriptum do convite: sugerindo substituir o presente por componente não perecível de cesta básica a ser distribuído em asilo desta Capital. Foi Membro do Rotary Club de Sapé, tendo sido seu presidente algumas vezes. ATIVIDADES PROFISSIONAIS: Recém-formado, veio para João Pessoa, onde residia sua Mãe. Não tinha condições financeiras para instalar consultório. Aconselhado por amigos, resolveu instalar-se na cidade de Sapé (PB), onde iniciara suas atividades profissionais em 19 de abril de 1941. Trabalhou com afinco no primeiro ano, atendendo, como médico polivalente, urgências de todos os tipos em vasta região, incluindo os municípios de Sapé, Mari, Cruz do Espírito Santo, Mulungu, Alagoinha, Guarabira e outros, chegando a atender uma população de mais de 100.000 habitantes, ora nos sítios ou vilas, às vezes à cavalo e até em canoa. Certa vez, na zona rural, à noite, quando atendia uma parturiente, tivera que mandar derrubar às pressas uma parede da casa, a fim de poder iluminar, com o farol de seu carro o campo operatório e poder debelar hemorragia obstétrica copiosa. Em 19 de abril de 1942, fôra inaugurado o Hospital Sá Andrade, do Município de Sapé, onde passou a exercer intensa atividade como cirurgião geral, realizando todo tipo de cirurgia, contando com a colaboração de renomados anestesiologistas, dentre os quais são citados: Clovis Beltrão, José Moura, Jurandir Coutinho Marques, Ferdinando Paraguay, Almir Ferreira Lopes e Clócio Beltrão. Inúmeros cursos teórico-práticos foram dados ao


pessoal para-médico, tendo treinado várias Auxiliares de Enfermagem que adquiriram grande competência. Do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, do qual era Membro Titular, foi, o Dr. Vicente Edmundo Rocco agraciado, em fevereiro de 1983, com o TITULO DE HONRA AO MÉRITO, pela realização de serviços prestados à cirurgia paraibana, sendo saudado como o Homem que fundou a Meca da Cirurgia de Grande Porte na Paraíba. Em meados de 1962, no Governo João Goulart, fôra inaugurado o Posto do SAMDU (Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência) da Cidade de Sapé, tendo sido seu primeiro Diretor. Como Membro do Rotary Club de Sapé, prestara serviços em prol da comunidade sapeense e dera importante contribuição à campanha vitoriosa de erradicação da poliomielite, que tivera o apoio do Rotary em todo território brasileiro. Em Sapé, contara com a efetiva colaboração dos facultativos de saudosa memória, os Drs. Alceu Colaço e Edmilson Cunha. Realizado financeiramente e, ultimamente, residindo em João Pessoa, não desativara sua Clínica em Sapé, onde continuava a atender seus clientes três vezes por semana. Como incansável prestador de serviços médicos, a atuação do Dr. Vicente Edmundo Rocco mira-se em Gabriela Mistral, segundo a qual: “servir é a tarefa das grandes almas”, e está, perfeitamente, em consonância com os ensinamentos de Maimônides, filósofo da Idade Média, que rezava: “Senhor, encha a minha alma de amor pela arte e por todas as criaturas. Sustenta a força do meu coração para que esteja sempre pronto a servir ao pobre, ao rico, ao amigo e ao inimigo, ao bondoso e ao malvado. E faz que eu não seja senão o humano, naquele que sofre”. Vicente Edmundo Rocco, homem de fino trato, além de ser possuidor de ilibada conduta moral e cívica era muito admirado e elogiado por seus colegas. À propósito, o Prof. Mario Rigatto, membro da Academia Nacional de Medicina, de saudosa memória, dissera: “O conceito mais importante para um médico e o que ele mais deve preservar não é o que dele faz a sociedade nem tão pouco seus clientes. É o conceito que dele fazem seus colegas. Os charlatães costumam ser queridos por seus clientes. Um profissional incompetente mas afável de trato pode ser apreciado pela sociedade em que vive. Nenhum dos dois merecerá o respeito de seus pares”. Depois de uma atuação brilhante, com relevantes serviços prestados, ultrapassando seis décadas, ainda em atividades profissionais, quando inspecionava em charrete sua propriedade, próxima a cidade de Sapé, foi alvo de grave acidente, sendo arrebatado de nosso convívio em data de 22 de março de 2006. Inspirado em Guimarães Rosa, ressalto: “As pessoas queridas não partem jamais. Ficam apenas encantadas”. Senhor Presidente, Não poderia terminar sem agradecer, desde já, ao dileto Presidente, Prof. Marco Aurélio de Oliveira Barros, pelo cunho com que preside esta sessão solene, dotando-a de generosa acolhida que me sensibiliza e pela demonstração de fidalguia de todos que integram esta famosa Academia Paraibana de Medicina. Muito obrigado.


CADEIRA Nº Patrono:

38

VANILDO GUEDES PESSOA

Data de posse: 18/03/1993 1º ocupante: PEDRO SOLIDÔNIO PALITOT Data de posse: 27/04/2007 2º ocupante: Geraldez Tomaz Saudação:

Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros


27/04/2007 

Saudação ao: Dr. GERALDEZ TOMAZ Cadeira nº 38 Por: Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros

Minhas Senhoras, Meus Senhores, Reúne-se, hoje, em sessão solene, diante de expressivo número de autoridades e distinto auditório, a Academia Paraibana de Medicina, para empossar o eminente colega Dr. Geraldez Tomaz, na qualidade de nosso mais novo titular. Caro novel Acadêmico Geraldez Tomaz: É uma honra o privilégio de saudá-lo em nome de nossa colenda agremiação, especialmente pelo fato de ser o relicário de tantos fatos importantes e abrigo de muitas personalidades de nosso glorioso passado, dessarte, contribuindo para iluminar o seu caminho, para uma trajetória sempre crescente e brilhante, enchendo de gáudio e júbilo nossa respeitável confraria. Agradeço, portanto, o gesto fidalgo e imerecido do convite para acompanhá-lo ao altar académico, no momento, que toma posse junto à Cadeira de n° 38, cujo Patrono é o Dr. Vanildo Guedes Pessoa e seu 1° ocupante o Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, saudosos e notáveis colegas da medicina tabajara. Assim, o instante que ora vivemos é iluminado pois, a par da magnitude desta solenidade, vamos prantear e lembrar esses grandes vultos, através da palavra abalizada de nosso recipiendário Dr. Geraldez Tomaz. No passado, a academia se constituía no recanto sagrado, onde se ensinavam aos discípulos arte e ciência, lugar escolhido por Platão, aluno dileto de Sócrates, que aguardavam os seus acolhidos para uma celebração e festas inesquecíveis. Contudo, parece-me que, - modestamente - tomado por empréstimo, este majestoso recinto, como silogeu deste magnífico encontro, graças aquiescência do operoso Presidente do Conselho Regional de Medicina - Dr. Dalvélio de Paiva Madruga, sempre solícito no atendimento de nossas pretensões, podemos dizer que não perdemos de vista a importância do tradicional cerimonial de antigamente, cuja riqueza maior se traduzia em transmitir e perpetuar a sua memória. Minhas Senhoras Meus Senhores Reconheço que, traçar o perfil do novel Acadêmico Geraldez Tomaz, conforme recomendação e norma da Academia Paraibana de Medicina é uma tarefa difícil e de muita responsabilidade, sobretudo pela limitação imposta pelo curto tempo disponível, em contraste com o seu vasto e respeitável "curriculum vitae". Natural da cidade de Remígio, onde nasceu no dia 13 de abril de 1942, seus pais José Tomaz Filho e Ovídia Albuquerque Tomaz, comerciantes, à época, no ramo de chapéus, tecidos e camas-patentes, no centro da


cidade e com ramificações em Esperança, Arara e Barra de Santa Roza. D. Ovídia Tomaz, hoje, no alto dos seus 98 anos de idade, continua difundir sabedoria, amor e liderança à frente de seus familiares, que formam consigo um clã respeitável de seis componentes, sendo seus cinco filhos Prof. José do Patrocínio Tomaz Albuquerque (Geólogo), Profª. Marilena Tomaz Daniel (Centro Artesanal da UFPB), Prof. Geraldez Tomaz (Centro de Ciências da Saúde da UFPB), Dra. Carmencita Tomaz de Araújo Madeiro (Engenheira Agrônoma), e Ana Maria Tomaz Ferreira de Lima (Administradora de Empresa), todos com alta qualificação profissional. Casada com a senhora Maria da Piedade Nóbrega Tomaz (Nitinha), companheira dedicada e mãe extremosa de seus filhos Silvana, Simone e Geraldez Tomaz Filho. Neste instante, peço vênia para destacar a figura ímpar do saudoso Acadêmico Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, avô dos filhos do Dr. Geraldez Tomaz, sempre lembrado pela intelectualidade paraibana como verdadeiro arauto e partícipe de nossos grandes acontecimentos científicos e culturais, destacadamente, na área médica, haja vista sua decisiva atuação na fundação da Faculdade e Academia de Medicina da Paraíba. Naturalmente, pela estreita convivência e amizade fraternal com o Acadêmico Humberto Nóbrega, acresceu ao seu cabedal de conhecimento muito mais sobre o estudo da medicina e aspectos de sua gloriosa história, no passado, diga-se de passagem, temas prediletos dessa inesquecível figura humana. O novo Acadêmico Geraldez Tomaz teve uma infância alegre e comum às crianças do seu tempo, sob a tutela de sua querida mãe que o ensinou as primeiras letras e o liberou para a prática de futebol e sinuca nos momentos de lazer. Realizou o primário no Grupo Escolar Dr. José da Cunha Lima e após concluir o curso em Remígio, veio a João Pessoa, para prestar exame de admissão ao ginásio no Colégio Pio X - Maristas, onde permaneceu por sete anos e, face ao término do cientifico, ingressou na Faculdade de Medicina da UFPB, com formatura em dezesseis de dezembro de 1966. Antes, porém, para vencer as agruras de um estudante interiorano e com parcos recursos financeiros, estudou e trabalhou com afinco, objetivando alcançar o supremo desejo de ser sempre um verdadeiro médico, compartilhando ao lado de 22 ilustres colegas desse desiderato, cuja presença em minhas lembranças os mais chegados são: Osório Abath Filho, Maria Cristina Batista Abath, Maria Dalvaci Soares, Marcos Aranha, Vitório Petrucci, José Marinetti Bezerra, Antonio Henrique Drumond, Francisco Élio da Silveira, Clóvis Baracuhy e Carlos Roberto Pessoa. No campo laborativo, representou os Laboratórios Farmacêuticos Scil e Hormus e ensinou biologia nos Colégios Getúlio Vargas, Lins Vasconcelos e Academia do Comércio Epitácio Pessoa, a par de sua participação em cursos de extensão universitários feitos no Pronto Socorro da Capital, Hospital Napoleão Laureano, Maternidade Cândida Vargas e Hospital Santa Isabel - Enfermaria Santa Roza. O novel Acadêmico Geraldez Tomaz relembra com carinho e reconhecimento os antigos mestres, particularmente por onde pontificou mais no dia a dia e sob o comando direto dos mestres Danilo Luna, Francisco Porto, Osório Abath e Ephigênio Barbosa. Logo cedo, pós-graduado, procurou alçar vôo maior e estagiou em serviços da especialidade que escolhera: ginecologia e obstetrícia em duas das mais conceituadas instituições, em Salvador - Bahia, no Hospital Tsylla Balbino e Maternidade Climério de Oliveira. Posteriormente, em Madrid - Espanha onde fixou-se por dois anos, cumpriu residência médica no Hospital Clinico de San Carlos de Ia Faculdad de Medicina de Ia Universidad Complutense. Ainda, em Baltimore - USA, esteve em Serviço de treinamento para o acompanhamento do casal infértil. Iniciou sua carreira profissional destacando-se como médico da Unidade Hospitalar de Bananeiras e Alagoa Grande, Maternidade do INPS, INAMPS e Cândida Vargas, Hospitais Samaritano e Edson Ramalho, em João Pessoa.


Ocupou altos cargos de direção e confiança, na esfera Municipal e Estadual, tendo sido Secretário de Saúde do Município de João Pessoa e Diretor Superintendente da Legião Brasileira de Assistência, no Estado da Paraíba. Na Universidade Federal da Paraíba, ingressou como docente auxiliar de ensino, assistente, e adjunto IV, distintamente por concurso, na disciplina de ginecologia do Departamento Materno-Infantil do Centro de Ciências da Saúde, completando sua promissora carreira universitária, obteve o titulo de professor livre docente pela Fundação Educacional D. André Arcoverde da Faculdade de Medicina de Valença do Rio de Janeiro e, finalmente, aprovado no concurso de professor titular pela Universidade Federal da Bahia, para a disciplina de ginecologia, obstetrícia e reprodução humana. Exerceu o cargo de Chefia da Disciplina e Departamento Materno-Infantil do CCS da Universidade Federal da Paraíba e, também, pelas Chefias do Serviço de Ginecologia e Coordenação do programa de tocoginecologia da residência médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB. Membro efetivo e sócio de muitas agremiações ligadas à ginecologia, obstetrícia e reprodução humana, no país e exterior, o Dr. Geraldez Tomaz, presidiu de forma competente por oito anos a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba, mantendo permanente intercâmbio com suas congêneres de Pernambuco, Brasileira de Reprodução, Oncológica de São Paulo, Federação Norte/Nordeste de Reprodução, Aliança Franco Brasileira Latino Americana e Espanhola. Membro efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, na Paraíba, integra outros órgãos de classe como o Conselho Regional de Medicina, Sindicato dos Médicos e Associação Médica da Paraíba. Agora, para mensurar o quilate do homenageado, passo a enumerar sua importante e inesgotável produção cientifica: cursos realizados no Brasil (49) e cursos internacionais (26); autor de temas livres no país e exterior (63); conferências, cursos e aulas proferidas (128); participações com temas oficiais em congressos, simpósios e mesas redondas (290); trabalhos publicados nos principais periódicos com grande difusão na maioria dos estados da federação (29), destacando-se como integrante do Tratado de Ginecologia- no capítulo sobre: Prurido vulvar. Etiopatogenia. Diagnostico e Tratamento - Halbe e cols - . Ao longo de sua fulgurante carreira recebeu as seguintes homenagens: Diploma de "Jubileu de Ouro", pela Sociedade Paraense de Ginecologia; Medalha de Honra ao Mérito: Christian Alberth da Universidade de Kiel - Alemanha -; Placa conferida pela Sociedade de Ginecologia Norte/Nordeste, como ex-presidente desta Associação; Diploma de Honra ao Mérito pela Sociedade de Reprodução Humana; Titulo de "Magister Extraordinárius" pelo CCS da UFPB e Elogio através de oficio da Coordenação dos Cursos do CCS da UFPB, pelo êxito alcançado no exercício de 1975, com destaque para programação cientifica elaborada e executada. Minhas Senhoras, Meus Senhores, O novo Acadêmico Geraldez Tomaz, não será lembrado para posteridade tão somente pelo elenco de atributos e títulos trazidos no bojo deste modesto discurso de saudação, senão pela condição de ser médico competente e generoso na prática do exercício de seu mister, atendendo pobres e ricos, em consultórios e hospitais públicos e privados de nossa cidade, missão essa maior do que qualquer recompensa ou prêmio. A propósito desta assertiva, lembro em minhas leituras do antológico discurso pronunciado pelo saudoso e genial oftalmologista da Academia Mineira de Medicina - Acadêmico Hilton Rocha -, em ocasião semelhante a esta que ora vivenciamos e disse o seguinte: "Ser


acadêmico não é ser escritor nem ser poeta. Mas é ser médico. Integrado na sua profissão, havendo e vivido seus dramas, as suas incertezas, as suas batalhas, a sua grandeza e as suas emoções. È haver se integrado uma vida inteira com aqueles que sofrem, que pedem a nossa caridade, as nossas luzes e o nosso apoio, porque crêem em nós. È receber uma consagração, porque são os pares que vem nos dizer que, ao encanecermos jamais fugiremos à linha hipocrática, consolando espíritos, mitigando dores e desfazendo enfermidades. É participar ontem e hoje das lutas e dos propósitos de classe a que pertencemos, a que nos honramos de pertencer e da qual jamais desertaremos para, como soldados comuns, capitaneados pelos lideres que despontam à custa dos seus próprios méritos e ao peso de seus próprios sacrifícios, mantermos acesa e bem viva a tocha sacrossanta de nossos ideais." Sr. Presidente da Academia Paraibana de Medicina Autoridades Presentes Srs. Acadêmicos Minhas Senhoras e Meus Senhores Antes de encerrar minhas palavras, lembro que a Academia Paraibana de Medicina ao reconhecer os seus valores humanos, sente-se rejubilada em participar da convivência, cultura e inteligência, como conquista maior para o engrandecimento de nossa gloriosa Entidade. Dessa maneira, novel acadêmico Geraldez Tomaz, a Academia Paraibana de Medicina ao reconhecer os seus méritos e comprovado valor, insere definitivamente o seu nome no livro da história da medicina paraibana.


27/04/2007 

Elogio ao Patrono e ao 1º ocupante: Dr. VANILDO GUEDES PESSOA - (Patrono) Dr. PEDRO SOLIDÔNIO PALITOT - (1º ocupante) Cadeira nº 38 Por: Dr. Geraldez Tomaz

I Resolvi fazer em poesia Em solenidade desta academia No dizer da filósofa Shelley A poesia imortaliza tudo que há de melhor E o mais belo neste mundo Então tomei a resolução De forma muito simplória Mas neste momento de glória Vislumbrei a filosofia Ciência geral dos princípios Homenageando assim nossa consagrada academia II Inicio esta alocução Saudando a mesa diretora À frente, nosso Presidente Prof. Marco Aurélio Barros Mui digno e também diligente O qual me deixa muito contente. III È com muita honra, nesta hora solene Tê-lo como Presidente Com todo meu respeito e como meu ex-professor E em tempos idos, como médico de meu saudoso pai È para mim, uma hora de saudade E também de muito louvor. IV Quero agradecer ao Presidente Do Egrégio Conselho Regional de Medicina Na pessoa de Dr. Dalvélio Madruga e sua diretoria Sempre solícito, com espírito nobre e com alegria Por ter-me cedido o espaço deste suntuoso cenáculo Tornando-o em alguns momentos, sede de nossa academia Arcádia de médicos de diversificadas tendências Mas desaguando sempre na nobilitante ciência Harmoniosa, fidalga, arte e excelência Nos seus estudos dizia o médico Jacques Dubois:silvina Esta é a Hipocrática carreira de Medicina.


V Ao Excelentíssimo Acadêmico Professor Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Curvo-me sensibilizado As palavras e encômios proferidos A um modesto Professor Mas que sempre pautou Com um acendrado amor Devotamento e sensibilidade Saindo de uma pequena cidade Para uma outra maior Galguei com muita humildade Ética e honorabilidade Junto a todo este plantei Pleno de médicos de vulto Ex-alunos e docentes Doutores e profissionais Que engrandeceram e engrandecem nossa Medicina Ontem, hoje e nos dias atuais. VI O preclaro Professor Jacinto Medeiros Homem probo, ímpar e inteligente. Já atravessou os umbrais da cultura de nossa gente Foi Presidente desta Academia Com proficiência, amor e muita dedicação É sempre lembrado por todos Com respeito e consideração Juntando-se aos demais ex-presidentes É um artífice desta casa Com denodo e organização. VII O Professor Jacinto Medeiros Muito me incentivou Para entrar nesta Academia E então em tempos passados Lembro-me do imortal Prof. Eugênio de Carvalho Saudoso vate desta casa de ciência e medicina Perguntando sempre a mim Moço, quando vem para a nossa oficina. Era motivo prazeroso, conversar com gente tão fina E por isto tudo, constituiu-se em uma sina Vou recordar o passado e reviver o presente Pois em uma Academia, todos são parte da gente. VIII Após a forma, como recitava o Edital Recebi da comissão julgadora Uma carta muito honrosa


Dizendo que fui o escolhido Para ocupar esta cadeira de número 38 De extraordinários luminares Esculápios bem maiores Sendo então o patrono: Professor Vanildo Guedes Pessoa Mestre em cardiologia Onde conheci por sua vez Na grande maternidade Cândida Vargas Aquele que com grande altivez Estudou, diagnosticou e tratou As cardiopatias com gravidez. IX O Prof. Vanildo Pessoa Mesmo sem o instrumental atual Atuou como grande clínico geral E com sua perspicácia médica Se hoje estivesse entre nós Veria que a obstetrícia Entrou como uma Medicina Interna Faz parte da pós-graduação E, portanto o coração Que o mestre tanto estudava Tornou-se entre as profissões Uma obrigatoriedade De forma lídima e legal Hoje é uma novel especialidade O estudo e o avanço da cardiologia fetal. X Assim o Prof. Vanildo Pessoa Exercitou sua cardiologia Como docente nos precisou Que o Eletrocardiograma era excelente Aliado a Vecto-cardiografia Transmitida pelo atualizado acadêmico Prof. Francisco Assis dos Anjos Eles foram pioneiros Entusiastas primeiros Nestes métodos, como fator de predição. Das patologias do "ultimum moriens" Ou do sofrido coração. XI Ao sair da maternidade Deixou o Prof. Vanildo Pessoa, saudades. Presente à esta solenidade Sua companheira, douta e digna acadêmica Ex-Presidenta desta venerável casa Professora Maria de Lourdes Britto Pessoa


A quem dedico muito apreço e consideração Ela se constitui um ícone da psiquiatria de nossa região. XII Em uma academia cultural A melhor forma de ficar célebre È considerar-se imortal Ao adentrar nesta augusta casa Na forma regimental Estatutariamente sabido Senti-me um pouco aturdido Pois mexe com o emocional Feliz de estar entre mestres de valor inestimável E de forma transcendental XIII Tinha razão o filósofo Kant De originalidade alemã Quando afirmou de forma sã Que os fenômenos são explicáveis De forma incontestável e também racional Sem análise de um magister E sem grande observação A verdade é que aqui estou Com o meu poder cognitivo E com muita sensação E frente aos meus ilustres pares Com o sensibilizado coração. XIV Ao ser alçado a este cenário Com um grupo de médicos, como se fora eclesial Senti que estamos todos unificados Patronos, ocupantes da cadeira: o imortal E um momento de reminiscência E uma certeza que o futurismo Trará para esta Casa, palavras com lirismo Daquele que o foi de forma integral. XV O Prof. Pedro Solidônio Palitot Iniciou suas primeiras letras em Escola Municipal De sua cidade natal Vindo depois como bom paraibano Para nossa capital Onde estudou o curso médio No Liceu tradicional.


XVI Era o Prof. Pedro Palitot Filho de homem poderoso Fazendeiro, agro-pecuarista, sempre airoso Conhecido na região como Major Soli, muito criterioso Adorado por todos, pois apresentava bom caráter Senso de filantropia e de homem bondoso. XVII Campo Alegre, a fazenda que Prof. Pedro Palitot nasceu Era sua verdadeira adoração E casou-se com a filha de outro homem grandioso Conhecido como Major Diógenes Sua filha, Dona Necy , foi sua bússola e o seu diapasão Mas viajou Dr. Pedro Palitot para a eternidade Sem ao menos poder mais uma vez vê-la Mas levou-a bem contrito no seu coração. XVIII Dois episódios foram marcantes na vida do Professor Palitot Um foi o de não ter conhecido, a sua genitora Que havia falecido em sua cidade Deixando-o com apenas um ano e oito meses de idade. O segundo acontecimento Foi o seqüestro de seu pai Pelo cangaceiro Lampião Temível em todo Nordeste e naquela região Como grande fazendeiro, causou perplexidade E também admiração Pois o temível malfeitor que lhe exigia um resgate De vinte mil contos de réis O libertou sem o dinheiro Sabendo que o Major Soli Era um conciliador e um homem muito ordeiro XIX Portanto o Prof. Pedro Palitot Aprendeu as primeiras letras Realizando seu curso fundamental E sou até redundante, em sua cidade natal Vindo concluir o ginasial E também o científico Nos consagrados colégios Marista e Liceu da nossa Capital E a consecução destes cursos, hoje fundamental e médio Teve seu brilhante término No legendário Liceu Paraibano famoso Considerado à época primoroso Por insignes mestres, decanos Merecendo sempre os encômios De toda a sociedade atual


E devemos sempre aplaudir O Liceu das grandes eras e de seus portentosos ancestrais XX Com o desejo de ser médico Foi o Prof. Pedro Solidônio Palitot Para o Rio de Janeiro Onde com altivez e ideário Realizou seu curso pré-universitário Tornando um sonho realizado E foi assim festejado Ao obter com muito louvor O seu alto grau de Doutor Na ciência de sua sina E no ano de 1946, concluiu brilhantemente Seu curso de Medicina XXI Na faculdade fluminense Conseguiu o Prof. Pedro Palitot O seu valioso intento Junto a outro paraibano De nome Orlando Massa Mostrou bom entendimento Especializou-se em cirurgia No serviço do Prof. Alfredo Monteiro Filho Onde realizou esta liturgia Com esforço e galhardia XXII Como um grande esculápio O Prof. Pedro Palitot Estava sempre presente E tornou-se residente Do Hospital Arthur Bernardes E sem fazer muito alarde Este adquiriu confiança Passando com perseverança Pelo Departamento Nacional da Criança Completando com alegria outra grande especialidade Esta hoje mui querida: Obstetrícia e Ginecologia E para sua alacridade, teve na familiaridade E também no dia a dia A sua filha Niedja, sucessora de escol e com grande maestria XXIII A minha colega Niedja Devo-a muitas informações Do seu inexcedível pai Médico e professor de grandes gerações


Talvez pelo convívio maior, devido à especialidade Conversava com ele muito mais e com naturalidade Demonstrando desta forma maior conhecimento e também intimidade Da história de seu genitor, recordada com saudades XXIV Foi admitido por concurso Auxiliar acadêmico Do Hospital Carlos Chagas Tendo ocupado uma das vagas Neste nosocômio de urgência Onde fez intervenções Dignas de muita excelência Permaneceu na pós-graduação Por cerca de seis meses, lá no Rio de Janeiro Mas recebendo convite, voltou ao seu berço primeiro Chegando ao Hospital Sá Andrade Com experiência e muita sobriedade E na cidade de Sapé Trabalhou com o saudoso acadêmico O Dr. Vicente Rocco Como seu amigo de fé. XXV Da Prefeitura de Sapé Pediu o Professor demissão Pois não admitia injustiças Nem também perseguição E saiu bem lisonjeiro Da terra do vate: Augusto dos Anjos o primeiro A injustiça foi proclamada Naquele Hospital pioneiro E ele solidarizou-se Contra o Jugo da maledicência Sofrida pelo seu então auxiliar - enfermeiro XXVI Partiu para a terra Potiguar Onde em 1950, já havia aprendido a cobiçar e amar E na cidade de Apodi, vizinha a Felipe Guerra Conheceu sua grande companheira Dona Maria Necy Diógenes Gurgel Que para ele foi um laurel Pois deste namoro fiel Terminou em casamento Formando em 1951 uma excelsa união A qual trouxe ao Professor muitas alegrias E ao seu devotado coração.


XXVII Lá no Oeste do Rio Grande do Norte Atuou em Pau dos Ferros Cidade pólo da região E também muito saudável Estimulado e exultando com dona Necy Constituiu clínica invejável E também muito numerosa Deveras prodigiosa Trabalhou nestas plagas quatro anos Deixando muitas saudades aos novos e Médicos também veteranos. XXVIII Como médico generalista Recebeu o Prof. Palitot Um chamado urgentista E como não havia assistente Foi improvisada esta ajuda por um garoto Que tinha apenas catorze anos de idade E para sua felicidade, esta notável criança Gostou de sua doutrina Sendo este o amigo Pedro Cardoso Que mais tarde veio terminar Medicina XXIX Obstetra, ginecologista e cirurgião Dr. Pedro Solidônio Palitot Um devotado médico, amigo e grande na profissão Por isto estou muito feliz Hoje sou agraciado Ao entrar nesta matriz Procurarei contribuir de forma simplória Mas para mim foi uma glória Que ficará para sempre nos anais de minha história XXX Quis o destino que um seu ex-aluno Inconteste admirador deste doublé: de obstetra e cirurgião Viesse ocupar a cadeira já numerada E pela Academia anunciada Que teve como patrono, um especialista em coração O também inesquecível e inestimável: Prof. Vanildo Pessoa Também sempre rememorado nesta grande Academia Como portento na especialidade, que o mesmo tinha como idolatria. XXXI O Prof. Pedro Palitot, devotado e exímio cirurgião Se hoje estivesse entre nós Teria então completado seus noventa anos de idade


De dedicação e zelo à família e a sociedade Com seu desvelo e carinho humanitário Completavam o seu senso de humanismo E seu perfil igualitário XXXII Ocorreu acidentalmente que a saudação Nesta douta Academia ao prof. Pedro S.Palitot Fosse realizada de forma bem eloqüente Pelo insigne mestre e também meu ex-professor Ex-Presidente desta academia: Professor Jacinto Medeiros Que atendeu minha solicitação para então me saudar Na entrada mor desta augusta casa de erudição E o mesmo aceitou com delicadeza Trazendo para mim, uma grande emoção. XXXIII O Professor Pedro Solidônio Palitot Nasceu em longínquo sertão da Paraíba E dizia com muito orgulho Nasci na cidade de Bonito de Santa Fé Que há tempo e muito cedo Emancipou-se sob a égide Do grande administrador e Governador de então Um homem público de ação, sempre humano e verdadeiro Era na época político: o grande Dr. Argemiro de Figueiredo. XXXIV A família Palitot tinha na sua face sistêmica A política como arte Quase que afirmamos endêmica Pois um seu parente próximo: Um irmão Assumiu a edilidade De Bonito sua cidade Já então emancipada E este como primeiro edil Atuou de forma profícua Sendo a sua gestão Até nos dias de hoje consagrada E pelos familiares e munícipes daquela época Sempre bem rememorada. XXXV A família do prof. Pedro Palitot Continua na política E tem na Professora Nadja A grande continuísta Uma parlamentar hodierna Filha do mestre tem fibra Ela usa o parlamento


Para defender a cidade Com devotamento e bravura Podemos então assinalar Que a Professora Nadja É arrojada e moderna Tem a serenidade do pai E também muita ternura Demonstra nesta grei simplicidade E também muita desenvoltura. XXXVI O Prof. Pedro Palitot Tendo convivido com tantos irmãos E abnegadas irmãs Teve intuição de lembrar Na atual Ginecologia De um capítulo estóico Por assim dizer heróico Do Planejamento familiar Uma das formas precípuas Para um Brasil, que quer se desenvolver E, portanto ser eqüânime Como todas as nações Pensando em nosso País crescer Dentre todas as constelações. XXXVII Hoje após reuniões e consenso Proporcionado por uma Universidade dos pampas A Federal de Santa Maria do Rio Grande do Sul Levantou nossa Universidade De maneira singular Ensinando ao curricular e na Pós-graduação ginecológica A verdadeira vertente da Planificação Familiar. XXXVIII Entretanto este Programa de Planejamento familiar Tão propugnado e incentivado Está fadado a perecer Pois no desatino de então Cresce o chamado "Bolsa Família" Que com toda sua homilia Tornou-se um marketing à maior natalidade Trazendo para cada filho nascido Cerca de trinta ou quarenta reais a mais E, portanto uma superpopulação sem a criatividade. Não havendo contrapartida em Educação na cidade Teremos que sempre combater esta ignomínia Com bom senso e muita Brasilidade.


XXXIX Mas voltemos ao Prof. Pedro Palitot Genitor de mais dois filhos Que venho aqui ressaltar Um de nome Solidônio Diógenes Palitot O qual teve grande visão Tornou-se oftalmologista Com, portanto menos "stress" e menor preocupação Milita na área entre seus colegas especialistas Considerado por todos Como médico de uma nata Sendo assim um altruísta E competente oftalmologista. XL A filha de nome Necy Maria Enfermeira de alto padrão A conheci atuando no Hospital Universitário Com denotada vocação E hoje morando na Alemanha Próximo à conhecida Stuttgart Deixou uma lacuna tamanha Orgulho de sua família e da nossa Universidade Consolidou sua formação em solo europeu E em terra Germânica Com um trabalho tenaz e de forma titânica Hoje já muito respeitada Por sua atuação dinâmica. XLI O Prof. Pedro Palitot Saiu do interior potiguar E como paraibano de valor Escolheu nossa capital Para desenvolver suas atividades De forma profissional. XLII Esta terra o acolheu Com muita urbanidade Passando então a ser para ele Um sonho esta cidade No seu labor foi para a Santa Casa Serviço do Prof. Edrise Vilar E começou a realizar Muitas grandes cirurgias Sempre com êxito invulgar Devido a sua grande experiência Mostrando sobriedade Com exuberante inteligência.


XLIII Dentro de tempo limitado Foi por colegas festejado Era um homem de filantropia Irradiava muita alegria Conquistando os colegas Algo que ele tanto queria. XLIV Ao lado do famoso cirurgião De nome Prof. Achiles Ramos Leal Foi o Prof. Pedro Palitot obstinado E viveu grandes emoções Uniu-se ao Prof. Orlando Coêlho E também o renomado Prof. Clóvis Beltrão Constituíram uma grande equipe De conhecidos e insignes cirurgiões. XLV Quando entrei como estudante No nosso Hospital-Escola Era então o nosocômio Santa Izabel Um hospital retumbante Funcionava uma clínica cirúrgica Que todos achavam magnificentes Comandada pelo Prof. Francisco Porto Este um incansável lente E o Prof. Pedro Palitot Dizia sempre orgulhoso Sou um dos seus Assistentes E todos que ali trabalhavam O respeitavam com hierarquia E de forma reticente E o Prof. Francisco Porto Era um homem culto, leal, Incansável no seu dia a dia E todos obedeciam ao mestre Com reverência e alegria Caracterizando a Medicina Como profissão que fascina. XLVI Recordo-me ali também encontrei Saudosos e estimados profissionais A presença da Dra. Dalva Machado E do Prof. Orlando Álvares Coêlho Além do extraordinário cirurgião O Prof. Ernani Leite A casta que hoje não tem mais Um era o Prof. Evaldo Trajano


Que era sutil engenhoso demais Ao lado do Dr. Severino Gois E do Prof. Marinésio Moreno Cirurgião amigo e assaz muito sereno Além do saudoso cirurgião geral Prof. Orlando Farias Faz a muitos recordar Da Medicina da época Sem a atual tecnologia Mas com sentimentalismo e energia Ufanava aos discentes Que por ali passaram Como internos, hoje residentes Pois o que aprendíamos Servia para o ganha pão da gente. XLVII Na nossa Universidade, o Prof. Pedro Palitot Trabalhou com muito afinco e grande responsabilidade Juntando-se a outros esculápios, como também a docentes Fizeram a metamorfose da UFPB De maneira reticente. XLVIII Iniciou sua vida acadêmica De forma quase helênica Demonstrou a teoria Hipocrática De forma clássica e crítica Assistente do saudoso Professor Asdrúbal de Oliveira Anatomista que era não de segunda e sim primeira Ensinando a disciplina básica de forma construtiva Era um primeiro obstáculo: a Anatomia descritiva. XLIX Mas na enfermaria Santa Rosa, que já falei aqui nesta alocução Continuou a vida Universitária, com muita determinação Realizando as cirurgias da Tireóide, como uma obsessão Todos os colegas já enviavam para ele, todas tireoidopatias E o Prof. Pedro Palitot as resolvia com segurança e picardia E olhando sua fisionomia, víamos muito arrojo e alegria. L Seguiu, portanto os ensinamentos Dos seus eminentes mestres E pesquisando sua biografia Foi um aluno exemplar do Prof. Alfredo Monteiro de Barros Cirurgião de nomeada da Federal Fluminense Alçando depois para Titular de Cirurgia da Federal do Rio de Janeiro Ensinava Anatomia e foi então Diretor da Escola Nacional De Medicina e Veterinária, sendo, portanto genial


Tornando-se assim um cirurgião experimental Quando atuava nos humanos era um fenomenal E o Prof. Pedro Palitot o acompanhava por igual Quando foi Assistente do Professor Porto Já o consideravam magistral LI Foi assim a dedicação do prof. Pedro Palitot Acadêmico reconhecido, amigo devotado e querido Fez da Medicina atuante Um sacerdócio brilhante e humanitário Fosse o paciente rico ou pobre Tinha sempre o Prof. Palitot Um tratamento igualitário. LII Participava dos congressos de forma bem contumaz Estava sempre atualizado Por isto nunca o passaram pra traz Fazia gosto aprender e com ele conviver Era assim para o estudante como que rejuvenescer Em especialidade estressante Mostrava ensinamentos esfuziantes Que nunca poderemos esquecer. LIII Foi o Prof. Pedro Palitot Médico da Policlínica dos Pescadores E nas súplicas a Nossa Senhora das Dores Continuou a honrar a Medicina Como também no SESI e na Previdência Social Exercitando sua profissão, com visão sensorial Onde ajudou os carentes, aqueles que gostam da gente Como um Médico social, observado neste conceito E na conceituação atual. LIV Gostava o Prof. Pedro Palitot Também das letras, como do lazer E no famoso "Ponto de Cem Réis" O seu "laisser-faire" realizava com muito prazer Amizades benfazejas, conversas para enaltecer Era seu vaso-dilatador coronariano Que impulsionava no seu cotidiano O mestre que sempre soube ser. LV Eram pessoas de nossa sociedade Bont-vivants de nossa metrópole Não era uma Acrópolis Ateniense


Mas uma João Pessoa crescente Que o Prof. Pedro Palitot Soube sempre cultivar Como homem e médico inteligente. LVI A maioria amigos e amigas que estão na eternidade Vamos citar alguns nomes, claro sinal de saudades Celso Furtado, Luís, Flávio e Jorge Ribeiro Coutinho Quintiliano Mesquita, Vicente Nogueira e Aristarcho Dias Herófilo Maciel, Cleanto e Celso de Paiva Leite Giuseppe de Paula Marques e Madalena Guedes Pereira Faziam desta conversação, uma festa por tarde inteira. LVII Agora para terminar, cito um depoimento Da pessoa que viveu e desfrutou de seu tempo O Prof. Francisco Assis dos Anjos, recém acadêmico empossado Disse-me a sua assertiva, que emociona e ao coração nos trai "O Prof. Dr. Pedro Palito foi para mim um segundo pai". LVIII O Prof. Pedro Palitot Como todo médico dedicado Fez deste sacerdócio, uma vida muito rica Pontilhada de "stress" e de variadas emoções Daria para um tratado, o que ele fez em suas Científicas participações. LIX Em certa vez, com sua digna esposa D. Necy Para a qual dizia sempre ser sua "estrela de primeira grandeza" Fizeram um pacto de nobreza, em que o Prof. Pedro Palitot Não desejava vê-la partir precocemente E ela afirmava, que não desejava vê-lo partir primeiramente E desta forma DEUS atendeu ao pedido do casal O Prof. Palitot partiu sem poder vê-la em vida E Dona Necy ainda doente, não tem conhecimento De sua sentida partida. LX Agradeço ao que sou aos meus queridos pais Pois papai, de forma prematura partiu Não estando infelizmente aqui mais E minha adorada mãe, que me alfabetizou Encontra-se viva, longeva em nossa cidade natal Conselheira, com mais de noventa e oito anos de idade Todos nós a obedecemos nas suas determinações por igual Com muito amor, saudades e de forma bem filial.


LXI Em seguida agradeço neste momento A minha querida esposa Nitinha Secretária maior, orientadora como uma escrivaninha Compreendendo sempre o valor do diuturno labor Mas ela o enriqueceu, dedicando-me o seu amor Preocupada com minha estressante especialidade Mas sem ser médica, sempre devo a ela uma solução Com equilíbrio, experiência de mulher e sensibilidade. LXII A presença de meus irmãos: Patrocínio, Marilena, Carmencita e Ana Maria, juntos com os demais familiares Vieram a esta solenidade, mostrando união e solidariedade A cada um dou um amplexo de muita fraternidade. LXIII Ao Prof. Humberto Nóbrega, meu sogro Um historiador, humanista, com humanismo Um dos idealizadores para a fundação desta academia Simples, leal, sincero, probo e de cultura geral Educador por natureza, de forma transcendente Quanta falta me faz neste solário comovente Junto a Dona Nazaré, constituía-se em um casal excelente. LXIV Os meus filhos: Silvana, Simone e Geraldez Filho Com os meus genros Nandro, Lúcio e a nora Ana Rachel Já me deram seis netos: Bianca, Helena, Filipe, Daniel, Lucas e Ana Beatriz É hoje a constituição da família alegre, harmoniosa e feliz. LXV E para concluir, desejo afirmar que o saudoso acadêmico Professor Pedro Palitot tinha dotes não somente de cirurgião Mas era um bardo, um vate com a sensibilidade de seu coração E o homenageio com o poema que redigiu e mais gostava Em uma reverência àquela que não viu: a sua própria genitora Recitada com freqüência pelos sobrinhos, filhos, filhas e netos Aqueles que são doutores e as que estão para ser doutoras Balizada de forma emotiva como os: "TRÊS CEGOS" Nos toscos degraus de um templo Onde esmolavam três cegos de nascença Unidos conversavam O primeiro falou, Com os olhos apagados Cravando-os na solidão dos céus abandonados Quem me dera à vista Ao menos por um momento


Para ver o infinito azul do firmamento Como devem ser lindos os seus aspectos Quando surge o sol no horizonte E as estrelas se afastando Disse então o segundo cego Quisera ver o oceano Dizem que ele possui um coração humano Que soluça alta noite A olhar no céu distante Da lua solitária O pálido semblante Se da sombra em que vivo O extraordinário pego Aclarar-se uma luz Disse o terceiro cego Não seria do alto da esfera Nem do oceano Que geme e se exaspera Mas que ventura Se liberto afinal Desta masmorra escura E sem mais os grilhões Deste cruel desgosto Pudesse eu contemplar Da minha mãe: o rosto. Assim, portanto era o querido e saudoso mestre: Prof. Pedro Solidônio Palitot. Muito obrigado a todos. Ac. Geraldez Tomaz 27 de abril de 2007


CADEIRA Nº Patrono:

10

FAUSTO NOMINANDO MEIRA DE VASCONCELLOS

Data de posse: não empossado 1º ocupante: CLÓVIS BEZERRA CAVALCANTI Data de posse: 31/08/2007 2º ocupante: Ricardo Antônio Rosado Maia Saudação:

Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins


31/08/2007  Saudação ao: Dr. RICARDO ANTÔNIO ROSADO MAIA Cadeira nº 10 Por: Dr. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins

Por diversos motivos meu pronunciamento será breve, não apenas para não entediar esta seleta audiência com um discurso de diminuto quilate; mas até porque entendo ser de bom alvitre acompanhar aqui o estilo morigerado, diria mesmo, econômico de palavras, do meu muito dileto colega e amigo Dr. Ricardo Antônio Rosado Maia, a quem, com muita honra, devo saudar nesta hora, em nome da Academia Paraibana de Medicina. Quero crer que a incumbência de urna tarefa como esta, da mais elevada responsabilidade, seria melhor desenvolvida se recaísse nas mãos de tantos outros ilustres colegas acadêmicos que são bem mais iluminados que eu. Destarte, com o melhor que tenho ao meu dispor tentarei homenagear nosso ilustre recipiendário em consonância à sua própria maneira de ser e de se expressar, ou seja, de forma sintética, mas nunca lacônica. Como todos sabem, ele é um homem de pouca fala, mas de muito dizer quando fala. Na verdade não é um homem sisudo, é um homem sério. Um homem sério que muitas vezes sorri e até gargalha gostosamente, mas o seu gargalhar é discreto, sem estrondo. Aliás, permitam-me o gracejo, ele é talvez a única pessoa que conheço que ao gargalhar chega a trepidar todo o corpo mas não emite um único som. É o gargalhar mais educado que vi. Enfim, "Se a tanto me ajudar o engenho & arte", seguir-se-á aqui, em tênues pinceladas, apenas urna pequena amostragem dos inúmeros aspectos e fatos da figura humana muito especial do Dr. Ricardo Antônio Rosado Maia, aspectos estes também já bastante sabidos de todos. Quanto aos seus fatos, nem tanto, particularmente os mais remotos, pois estes são do domínio apenas de alguns. Inicialmente, meu caro Ricardo Maia, devo lhe dizer, assim como aos demais que me ouvem, que o seu acolhimento efetivo, no dia de hoje, nesta Casa de Ciência e Humanismo representa antes de tudo um ato de justiça plena, o que só a enobrece. De fato, você enobrece esta Academia porque - se me é dado o direito de fazer uma analogia absolutamente não pretensiosa uma caixa de jóias, na realidade, não vale pelo que ela é como recipiente mas sim pelas jóias que contêm. E você simboliza uma dessas gemas muito bem lapidadas que fulguram e se destacam entre todas. Sua lenta e nada fácil lapidação pessoal ao longo do tempo plasmou urna personalidade sóbria e morigerada, de voz mansa que nunca se eleva, emoldurada por uma postura atenta e acolhedora e enfeixada por um temperamento reflexivo, interpretativo e perfeccionista. Essa lapidação revelou enfim um homem reto e ético com marcante sentimento telúrico, mas com os olhos bem abertos para a introjeção do universo humanístico com todo o seu enlevo, todavia, sem perder de vista a preocupação com as desigualdades sociais dos seus semelhantes. Essa lapitação moldou ainda um médico de solida formão profissional, um cardiologista de escol, forjador de novas gerações médicas, portanto cumpridor da edificante missão educadora tão pouco valorizada pelas autoridades competentes, exatamente aquelas que mais a deveriam prezar. Todos nós sabemos igualmente que a sua atuação como médico, seja na área assistencial, seja na vida universitária, é um exemplo digno de ser seguido por quantos enveredam nessa bela profissão, infelizmente, cada dia menos prestigiada no mundo de hoje, dito "moderno".


Entendo que, em boa medida, Ricardo Maia deve a sua têmpera profissional modelar à fonalha formativa de uma Medicina do ser humano propriamente dito (hoje mero objeto de trabalho) e de uma Medicina da família (hoje reduzida a meros acompanhantes apenas tolerados). Ademais ele nunca descuidou da crescente atualização tecnológica incorporada ao seu labor cotidiano, tornando-se assim um desses Médicos que servem de paradígma para os que o sucederam e de gratificação emocional para os que o antecederam. Como se pode bem constatar, aqui não falta matéria para se poder falar, e muito, a respeito do Dr. Ricardo Maia. Falta, sim, tempo hábil que é um parâmetro inexoravelmente inelástico no nosso campo real e eu estou muito longe de ser um Einstein para contornar esta realidade pragmática dos mortais comuns. A partir daqui oferecerei às senhoras e aos senhores alguns elementos bastante superficiais da biografia do Dr. Ricardo Maia, dando maior realce a circunstâncias mais remotas da sua vida, as quais não são tão conhecidas de todos. Na prática Ricardo Maia é um homem de três Estados e aqui não há qualquer alusão aos estados físicos da matéria. Com isto quero dizer que ele transita com familiaridade nos Estados de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e da Paraíba. No primeiro Estado ele nasceu a 23 de janeiro de 1945 e lá morou pouco mais de urna década, tendo feito o seu curso primário no Colégio Salesiano Sagrado Coração de Jesus do Recife. No segundo Estado, onde possuía fortes ligações familiares, residiu outro tanto, tendo nessa fase realizado o seu curso ginasial no Colégio Diocesano Santa Luzia em Mossoró e o curso colegial (científico) no Colégio Marista Santo Antônio da cidade do Natal. No terceiro Estado, o nosso, onde também possuía ligações familiares, formou-se Médico em 1971 na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, terra por ele escolhida para se fixar definitivamente depois de dois brilhantes cursos de Especialização em São Paulo, um em Clínica Médica e o outro em Cardiologia. Lá permaneceu sob a batuta exemplar do saudoso Prof. Luiz V. Décourt e de vários outros mestres como o Prof. Radi Macruz. Ricardo Maia nasceu no Recife, mais especificamente na Maternidade da Encruzilhada, cujo nome, caprichosamente, parecia estar a lhe prenunciar algumas penosas encruzilhadas pelas quais teria que passar ainda no início da vida. Muito cedo ele experimentou a dor mental da perda da sua genitora, D. Elza Maia de Miranda Rosado, quando tinha apenas doze anos de idade. Não tardou muito, dois anos depois foi a vez de os desígnios superiores determinarem a perda do seu pai, Odontólogo Antônio de Miranda Rosado. Órfão de pai e mãe, veio a ganhar um segundo pai, seu querido tio Miranda. Não muitos anos mais tarde Ricardo Maia haveria de sofrer mais uma perda irreparável, seu Único irmão, num trágico acidente na cidade do Natal. Dessa maneira, ao longo das primeiras décadas de sua vida ele passou por três importantes perdas lutuosas, vendo-se, pois, diante da necessidade de ou repará-las ou então sucumbir. De uma forma muito determinada e corajosa buscou forças na própria tristeza a fim de alavancar a resistência necessária para seguir em frente de maneira produtiva e o conseguiu com louvor. Ricardo sempre gostou de ler. Lia e continua lendo muito, não apenas assuntos médicos. Conheço inclusive a sua biblioteca. Aliás, no tempo de estudante na Faculdade de Medicina ele já possuía uma biblioteca, como informa meu caro colega e amigo Dr. Manoel Jaime Xavier Filho, por sua vez, seu colega de turma e compadre. Naquela época ambos tinham uma preocupação comum: conseguir realizar um curso médico bem feito, dando igual importância a cada uma das disciplinas do currículo. O resultado aí está como uma realidade incontestável. Durante o seu curso médico, ainda no inicio, Ricardo já revelava qualidades de líder estudantil. Foi por sugestão de Luiza Erundina que ele se candidatou ao cargo de Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina, então dominado por uma forte facção política conservadora, oriunda da região do Vale do Piancó. Vivia-se então a ditadura militar, mas


Ricardo venceu aquela disputa eleitoral. No segundo ano de Medicina, ele introduziu uma conotação de natureza política ao trote da Faculdade, mostrando sua preocupação com a situação do Pais. Em certa altura chegou até a pagar uma preço emocional relativamente alto por suas atitudes honestas, independentes e democráticas mas a final conseguiu se safar incólume daquele constrangimento. Não ficou por aí. Por esse tempo ele também dedicou sua atenção para os mais variados aspectos científicos e culturais montando, por exemplo, uma bem estruturada biblioteca geral no Centro Acadêmico Napoleão Lauriano. Criou o Núcleo de Estudos Universitários (N.E.U.) que previa a elaboração de trabalhos de iniciação científica, como por exemplo, a incidência das parasitoses na população urbana. Ademais, procurava identificar cursos de extensão e cursos de férias pelo País afora a fim de sugerí-los aos colegas estudantes. Um deles foi o Curso de Verão de Fisiologia Médica, realizado em Ribeirão Preto (SP), ministrado pelo Prof. Miguel Covian, Assistente do Prof. Bernardo A. Houssay, notório Prêmio Nobel de Medicina. Deste curso participaram os então estudantes e hoje conceituados médicos Vilibaldo Cabral e o já citado Manoel Jaime Xavier Filho. O próprio Ricardo Maia e mais nove estudantes de Medicina desta cidade integraram uma missão acadêmica que se dirigiu ao Xingú com o objetivo de conhecer de perto o trabalho dos irmãos Vilas Boas, viagem que terminou em IPM, mas essa é outra historia. Para coroar os feitos da sua vida acadêmica, os quais ele não costuma alardear, tenho também conhecimento de que naquela época Ricardo Maia e outros estudantes de Medicina passaram a prestar assistência médico-humanitária na beneficente Casa do Padre Zé, versão moderna das Casas de Ibiapina. Quanto lí sua vida profissional propriamente dita, esta é apenas uma natural conseqüência daquela fase preparatória. Ao lado de uma respeitável clínica particular que conseguiu acumular progressivamente, o Dr. Ricardo Maia carrega hoje na sua bagagem profissional os seguintes cargos e atividades: Médico concursado do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (1975), Médico Cardiologista concursado do INAMPS (1976), Chefe do Serviço de Métodos Gráficos do Hospital Universitário Lauro Wanderley, Diretor do Hospital Guedes Pereira, responsável pela Enfermaria de Clínica Propedêutica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (1982), Membro da Comissão de Qualificação de Títulos do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (1983), Diretor Presidente da Unimed em João Pessoa (1984-1985), Diretor Superintendente do Hospital Universitário Lauro Wanderley (1985-1988), Presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia (1990-1992), Membro da Comissão de Legislação e Ética da Sociedade Brasileira de Cardiologia (1991 -2000), Sócio Fundador do Departamento de Cardiopatia e Gravidez da Sociedade Brasileira de Cardiologia (1993), Sub-Coordenador do Programa de Residência Medica do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (1993), Preceptor de Cardiologia do Programa de Clínica Médica (desde 1993 até a presente data), Coordenador da Residência Médica do atualmente denominado Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (desde 1997 até a presente data) e Presidente da Comissão Estadual de Residência Médica da Paraíba (desde 2000 até a presente data). Quanto lí sua atuação de natureza científica, ou seja, participação em congressos e congêneres em todo o País - seja como elaborador ou co-elaborador dos mesmos, seja como participante ativo através de conferências e palestras proferidas, membro de mesas-redondas, relator de temas, apresentador de trabalhos originais etc. - devo dizer apenas que eu precisaria de um tempo pelo menos igual ao que já gastei ate agora para discriminar tais atividades, tamanho é o prestigio profissional do nosso recipiendário. Isto posto, resta ainda fazer dois pequenos adendos. O primeiro é saudar e parabenizar também os membros do núcleo familiar do meu amigo Ricardo Maia na pessoa de sua caríssima esposa Eleonora Rosado Maia e nas pessoas dos seus filhos e filhas, Adriana, Juliana, Antônio, Marcelo e Marília, parabéns que são extensivos a todos os seus inúmeros familiares espalhados por todo o Brasil. Por


último devo encerrar estas palavras com as poucas que ainda restam: bem-vindo seja a Academia Paraibana de Medicina, meu caro colega e amigo Dr. Ricardo Antônio Rosado Maia. Para a alegria de todos nós, venha fazer morada nesta Casa de Ciência e Humanismo na condição de mais um imortal, porem não necessariamente "imorrível". Pela atenção de todos, o meu muito obrigado. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins


31/08/2007  Elogio ao Patrono: Dr. FAUSTO NOMINANDO MEIRA DE VASCONCELLOS. Cadeira nº 10 Por: Dr. Ricardo Antônio Rosado Maia

Introdução: Excelentíssimo Sr. Presidente da Academia de Paraibana de Medicina, Dr. Marco Aurélio de Oliveira Barros, demais membros dessa Academia, caros amigos, amigas, parentes, meus senhores e minhas senhoras. Escolhi a exemplo de outros, o Conselho Regional de Medicina, não por ser a primeira e última instância do médico ou por ser também membro desse Conselho, mas sobretudo por entender que nesse recinto ecoa bem alto os ensinamentos de Hipócrates, que um dia jurei tê-los como diretrizes de vida profissional. Vejo-o como um templo e aqui proferirei a minha fala. Nesta data, gostaria de poder proferir um eloqüente elogio ao patrono da cadeira nº 10 da Academia Paraibana de Medicina. Dr. Fausto Nominando Meira de Vasconcelos, um esculápio, que no verdor da sua profissão escolheu o caminho do sol poente, percorreu a senda dos tropeiros para prestar os seus serviços no sertão distante do Rio do Peixe, região de pioneiros rudes, afeitos às lides com o gado. No entanto, temo não poder fazê-lo de forma equivalente a outros que nesta casa já saudaram os seus patronos. Primeiro em virtude de limitações pessoais e segundo por escassez de informações a respeito do Dr. Fausto Nominando Meira de Vasconcelos médico que atuou na região de Souza, Pombal, Piancó e Catolé do Rocha por quarenta e dois anos exercendo a mais nobre das profissões. Eximam-me do rigor dessa obrigação, e compreendam que apesar de tudo, me esforcei para produzir algo que possa traçar um perfil do Dr. Meira. A vida me fez diferente, ainda menino, tive que perceber o mundo com ótica de adulto e algumas pessoas na ausência de meus pais, foram paradigmas importantes para percorrer a senda que se descortinava. Tércio Rosado, meu avô, homem polivalente, embora vivendo no Recife, teluricamente em conversas e escritos permanecia com o sertão na lembrança e nas atitudes de forma serena e pertinaz. Natanael Maia, dentista de profissão, farmacêutico que na ausência de médicos em Catolé do Rocha ocupava esse espaço. Fábio Mariz, tio amigo, generoso nas atitudes, agrônomo de profissão, que me acolheu na fazenda Santa Idalina juntamente com idália, onde passei os melhores momentos da minha vida. Tio Miranda, de quem me fiz filho, calmo e com memória prodigiosa me transmitia conceitos de vida e histórias do sertão e dos sertanejos. Dixneuf Rosado que me deu o primeiro emprego, forma simbólica de despertar responsabilidades. Lavoisier Maia, médico arguto, que despertou em mim o interesse pela medicina. Laire, Nelita Rosado e familiares que com seus estímulos me alavancaram até a Faculdade de Medicina. Essas pessoas exerceram influências sobre a minha pessoa, plasmando uma vontade inarredável para superar dificuldades que a fatalidade me impusera muito cedo.


Mais adiante o convívio com Erasmo e Marluce Maia, que vieram a ser meu sogro e sogra, possibilitou- me a constituição de uma família com Nora; eivada de amor, compreensão, equilíbrio e bom senso. Estas foram às condições indispensáveis para esmaecer os rigores de tormentas passadas. Contexto este complementado por meio do convívio com meus colegas de turma, Genival Montenegro Guerra e a turma da COPEIA - jóvens que um dia sonharam em mudar o mundo, pessoas que também constituíram a amalgama de boas influências que viabilizaram minha caminhada. E também, meus professores, Hugo Abath, Antônio Dias, Atillio Rotta, Miranda Freire, Vanildo Pessoa, Assis Palitot, Vitório Petrucci, Decurt, Macruz e Zerbine com os quais aprendi cardiologia, tenho um enorme preito de gratidão. As leituras sobre esse mundo agreste, a convivência com pessoas que no estilo antigo, relembravam os feitos dos ancestrais, histórias dos habitantes primeiros daquelas plagas, foram os estímulos para criar vínculos com a terra, terra dos meus antepassados que também ajudaram a plasmar o espírito sertanejo, quando no final do século XVII chegaram aos ermos do sertão e também contribuíram para consolidar a sangue, suor, sofrimento e trabalho, uma das feições sócio-antropológicas desse Brasil de tantos e diversos perfis fisiográficos Sendo descendente de família sertaneja e acostumado a ouvir histórias dos antigos, compreendi desde cedo a dureza de viver em terras agrestes. Para entender o Nordeste Sêco é preciso sení-lo, é necessário entender os seus costumes e vivenciar as dificuldades impostas pelo clima para não equivocar-se achando que o semi-árido nordestino, o mais habitado do planeta terra, é uma anomalia populacional e econômica. O sertão foi desbravado, pouco a pouco, a partir do meiado do século XVII. Antes estavam os índios (Cariris, Pegas, Panatis, Coremas e Icós... ) que heroicamente defenderam as suas terras da invasão dos da Casa da Torre, até a capitulação. Depois as sesmarias, com os seus gados, se instalando, fixando-se e miscigenando-se com os gentios e os africanos, formando os troncos das famílias nordestinas. As estradas eram as veredas dos índios, o transporte, o burro de sela e o boi de carro. Dessa forma, as terras melhores foram sendo ocupadas nas ribeiras dos rios. A região do Rio do Peixe foi uma das primeiras. A bacia sedimentar de Souza, nas cercanias do Rio do Peixe, afluente do Piranhas, pela sua fertilidade e facilidade maior de água, resultou em um aglomerado inicialmente conhecido como Vila do Jardim do Rio do Peixe, que mais tarde veio a ser a Vila de Souza, em 1854 elevada a categoria de Cidade, destino do Dr. Fausto Nominando Meira de Vasconcelos nos idos de 1857. Suponho que Dr. Meira ao vivenciar o Sertão tenha se imbuído de sentimento idêntico ao de João Suassuna que em artigo publicado no final da década de vinte delineia o sentimento sertanejo: [...] O Sertão, a terra luminosa do sol! O amor invencível a esta terra de dor, apego do líquen à rocha do sofrimento, é a fatalidade inelutável do destino de seus filhos. De mim, confesso a nostalgia inconsolável que me mata, quando longe deste incomparável gleba fascinante, extremamente boa e cruamente má. Nem posso sofrer que se maldiga do seu sol, desse sol que é a coroa radiante do nosso martírio, mas que também envolve, nas" bolandeiras" irisadas dos seus halos, as nossas horas de abastança e alegria. Às vezes, ao fim do dia, sua corola inflamada de rubores de cobre só anuncia lágrimas e gemidos; é o sanguíneo reflexo da fogueira em que se retorce o sertão. Mas eis que renasce... É que, a desoras, chegou chuva de Deus, "pé d'água" fragoroso, despejado por descargas do abismo imenso dos


céus. No entanto, pelo nascente, ninguém "bispara", ao deitar-se uma cabeça de torre. Zoava o vento leste, acendendo pelo céu sem um farrapo de nuvem o brasido das estrelas. Mas eis que troa e retumba no eco das serranias o ribombar dos trovões. Arfa a terra fumegante. Rabeiam estonteantes, coriscos em serpentinas, relâmpagos de caracol. "Abrem"ao longe. "Pestanejam", até que os toma o dia. Foi toda a noite de inverno. Eis a terra apocalíptica que eu amo doidamente, a terra do meu berço e do meu túmulo, onde se apura e fixa a Nação brasileira, guardando com o filão de preciosas tradições a rígida moral dos costumes antigos.[...] Esse é o sertão daqueles tempos, sertão polarizado pela dualidade do tempo e dos sentimentos: sêco, chuvoso, otimismo, incerteza, sofrimento e alegria. Esperança muitas vezes frustrada pelo inverno que não chegava... Foi essa vereda oeste que Fausto Nominando Meira de Vasconcelos trilhou, para plantar a semente da boa medicina, possível àquela época, assim como, constituir família e se fazer reconhecido como médico e político. A luz da lógica dos dias atuais ficamos a pensar: qual foi a motivação da escolha? Pois nos idos de 1857 o sertão da Paraíba vivia o ciclo do couro, não havia riquezas, apenas o lidar com o gado, desafiando o tempo abrasador e inclemente. A agricultura representava apenas a sobrevivência para o período sêco do ano. Tempos difíceis, de privações, pois a economia do nordeste sêco só viria a melhorar após a guerra da Secessão quando o sul dos Estados Unidos da América deixou de suprir a Europa com algodão, e pouco a pouco, a cultura se alastrou pelo Nordeste Brasileiro gerando um ciclo de prosperidade. Genealogia e Formação Fausto Nominando Meira de Vasconcelos, filho do senhor de Engenho e Cirurgião Mor, José Bento Meira de Vasconcelos e Izabel Cândida da Anunciação Meira de Vasconcelos, nasceu no município de Pilar em 15 de agosto de 1834, no engenho que provavelmente se situava em terras pertencentes hoje ao município de Itabaiana. José Bento Meira de Vasconcelos casou-se duas vezes, do primeiro matrimônio nasceu José Lourenço Meira de Vasconcelos e do segundo matrimônio: Olinto José Meira, Fausto Nominando Meira de Vasconcelos, Ascendino Minervino Meira de Vasconcelos e Sátiro Emiliano Meira de Vasconcelos, todos com destaque na vida administrativa, social e política do estado e da nação Brasileira. Segundo Lucimário Augusto da Silva em "Pilar Aldeia Cariri a Cidade Educadora" registra que em 1822 foi criada a Escola Pública de Pilar sob a orientação ao Professor Demetrio Toledo. Foi nessa escola que o menino Fausto Meira certamente foi alfabetizado. Completado o ensino na Capital da Província da Paraíba o passo seguinte foi buscar o ensino superior. Salvador foi o seu destino e na Escola de Medicina da Bahia, no Paço do Terreiro de Jesus, cursou medicina concluindo o curso em 1857 com vinte e três anos de idade, diplomando-se doutor no dia cinco de dezembro pelo Dr. Jonathas Abbott, conforme consta no livro nº 1 do Registro de Diplomas da Faculdade de Medicina da Bahia, página 215 ( Acervo do Memorial da Medicina Brasileira ), tornando-se assim doutor em medicina de borla e capelo. A sua turma era de 32 alunos, oriundos de vários estados do Brasil, entre eles Abdom Felinto Milanez da Paraíba. A tese de doutorado tinha o titulo "HÁ UMA BASE CERTA PARA O DIAGNÓSTICO DAS DOENÇAS ORGÂNICAS DO CORAÇÃO", tese que infelizmente


se perdeu, nos privando de tomar conhecimento dos conceitos de fisiopatologia cardíaca aprendidos por Dr. Fausto Meira àquela época. Não me consta que outro médico formado no século XIX tenha escolhido tema relacionado à cardiologia para dissertação de tese de conclusão de curso, aspecto que me permite afirmar que o Dr. Meira foi o primeiro paraibano a escrever trabalho cientifico sobre cardiologia. Casou em 5 de janeiro de 1859 com D. Francisca Izabel Marques Guimarães, filha do Padre José Antônio Marques da Silva Guimarães e D. Maria da Conceição Gomes Mariz, ele com 25 anos e ela com 18 anos incompletos. Foram testemunhas o Dr. José Paulino de Figueiredo, sua esposa D. Ana Urbana de Sá Barreto, o Sr. Francisco de Assis Garrido e sua esposa Joaquina Francisca de Assis Garrido. E aos 13 dias do mesmo mês e ano, às dez horas da manhã, foram abençoados pelo Reverendo José Antônio Sarmento, conforme o missal Romano, termo de casamento lavrado pelo Pe. Antônio Salgado Chaves. Da união com Francisca Izabel Marques da Silva Guimarães, filha do Padre José Antônio Marques da Silva Guimarães teve dez filhos: Nabor Meira de Vasconcelos (Farmacêutico), Leopoldo Meira (Funcionário Público), Margarida Meira de Vasconcelos, Nestor Meira (Desembargador de Justiça no Rio de Janeiro), Cândida Meira de Vasconcelos, Paulo Meira de Vasconcelos (Comerciante e Fazendeiro), José Meira de Vasconcelos (General de Exercito) , Isabel Meira de Vasconcelos, Virgínia Meira de Vasconcelos e Octaviano Meira de Vasconcelos (Cirurgião Dentista). O Exercício profissional: Concluído o curso médico retornou a Paraíba indo exercer a profissão no alto sertão centrando as suas atividades na Cidade de Souza. Em 1863 foi nomeado pelo Imperador D. Pedro II, Capitão e Cirurgião Mor do Comando Superior da Guarda Nacional para Souza, Pombal, Catolé do Rocha, Patos e Piancó. Sabiamente percebeu que as águas de uma fonte existente em São João do Rio do Peixe, hoje Antenor Navarro, na localidade denominada Brejo das Freiras apresentava propriedades medicinais. Através do Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, então Ministro do Império, conseguiu técnicos especializados em fontes minerais para examinar as águas. Ruy Bueno de Arruda Camargo em publicação que trata de Águas Minerais Brasileiras informa a composição química das águas de Brejo das Freiras e das indicações terapêuticas. Notabilizou-se como médico eficiente e consta em documentos da época (1862) que a epidemia de cólera que assolou o sertão paraibano não teve a dimensão em Souza como em outros municípios. Dr. Meira e o Dr. Luiz Correia de Sá atuaram de forma eficiente no combate a epidemia que tantas vidas ceifou. Wilson Seixas, o maior historiador do sertão, em os Pordeus do Rio do Peixe, registra que até o dia 22 de março de 1862 na localidade de Lagoa Tapada haviam falecido 33 pessoas e que a 31 de março já se encontrava praticamente extinta a epidemia em Souza. Pelo que sabemos hoje e foi possível verificar nas Instruções Sanitárias Populares de autoria do Dr. Antônio da Cruz Cordeiro, publicada em 1862, a noção médica sobre a cólera morbus era empírica. Vejamos algumas das prescrições: [...jAguardente camphorada mmoniaco liquido Tintura de canttarídas Misture para fricções Infusão de chá da índia ou tília

2 onças 2 oitavas 2 oitavas 1 libra


Álcool 3 onças Sumo de limão azed o1/é onça Assucar 3 onças Misture para administrar uma cálix pequeno de meia em meia hora Agua de canella ou hotelan pimenta 4 onças Acetato de ammoniaco V2 onça Laudano Liquido de Sydenham 20 gotas Xarope de ether Xarope de flor de laranja ãa Yz onça Misture para tomar 1 a 2 colheres por hora Ainda sobre SANGRIAS para tratamento da cólera, registrou: Dizem muitos práticos notáveis, porque desembaraça a opressão da circulação então concentrada, tornando dessa forma mais rápida e mais activa; por isso que diminui a massa do sangue nas veias, onde o êxtase sanguíneo se estabelece, e facilita ao mesmo tempo a força da ação vital do coração. Se tirando o sangue, dizem elles, se não combate a causa primária da doença, ataca-se ao menos a causa immediata da morte.[...] Em que pese o juízo crítico que nos dias de hoje possamos fazer dessas recomendações de um tempo em que a medicina valorizava miasmas e desconhecia a idéia de fomites, podemos supor que Dr. Meira como apologista de hidroterapia possa intuitivamente ter incluído em suas recomendações médicas, maior cuidado com as águas de beber, daí o seu sucesso diante da epidemia de cólera e não a interferência divina através do milagre das hóstias, episódio que a história de Souza registra. Dos desafios enfrentados por Dr. Meira podemos evocar os problemas médicos decorrentes da sêca de 1877, a maior calamidade que o nordeste já teve. Registros da História do Rio Grande do Norte e do Ceará dão conta de quando configurada a sêca, as águas tornaram-se escassas, os pastos esfumaram-se ao sol inclemente, os tropeiros não tinham animais que suportasse as cargas, a desnutrição e doenças relacionadas às águas de má qualidade ceifavam vidas. A solução era os mais fortes se dirigirem para os portos de Mossoró e Aracati, aonde algum alimento chegava por mar. Câmara Cascudo registra em História de Mossoró, que uma epidemia de varíola e cólera tirou tantas vidas que se sepultava os mortos em valas coletivas. Em Souza a calamidade não deve ter sido diferente. O Político: Dr. Meira iniciou a vida política como Intendente de Souza pelo partido Liberal. Poucas informações dessa fase da vida de Dr. Meira foi possível colher, apenas um fato registrado por Wilson Seixas. Em 1862, chegava a Sousa o Padre Mestre Herculano, conhecido como Frei Herculano, porque pregava missões e realizava obras de caridade por onde passava, à maneira do Padre Ibiapina. O Padre Hermenegildo Herculano Vieira, era oriundo dos pastos da Quixaba, celeiro de muitos sacerdotes, e pertencia à paróquia de Sousa. Aí, encontrando a Igreja


Matriz de N. Sra. dos Remédios, com as obras iniciadas em 1825 e suspensas há muitos anos, convocou a população para dar continuidade à construção. Formou uma espécie de mutirão, que envolveu a sociedade sousense e comunidade em geral. Eis que, certo dia, um dos beatos que acompanhavam o Frei criou uma confusão que resultou em prisão. Frei Herculano dirigiu-se ao Dr. Fausto, então Prefeito da cidade, solicitando-lhe a soltura do apenado. Dr. Fausto, todavia, não atendeu ao apelo do Missionário. Este, que era um tanto irascivo, encerrou os trabalhos da Matriz, já bastante adiantados, e retirou-se imediatamente de Sousa, dirigindo-se para a região do Brejo paraibano, aonde veio a falecer em 1885, na Serra de Pontina, município de Ingá do Bacamarte, sendo sepultado em uma capela nos fundos do cemitério da cidade de Ingá, onde ainda hoje se encontra o seu túmulo. Anos depois Dr. Meira volta a atividade política quando foi Deputado Provincial na 23a e 24a legislatura, respectivamente em 1880 a 1881 e 1882 a 1883, tendo exercido a Presidência da Assembleia no ano de 1883. Na primeira legislatura foi eleito por 16 votos para a Comissão de Proposta às Representações das Câmaras Municipais juntamente com Valdevino Lobo Ferreira Maia. Foi eleito também membro da Comissão de Instrução Pública, Catequese e Civilização Indígena. Com o falecimento do Pe. José Antonio Marques da Silva Guimarães em 28 de outubro de 1888 o legado político é transferido para Antônio Marques da Silva Mariz, cunhado de Dr. Meira, que na 28ª Legislatura se elege deputado Provincial. Por razões que não encontramos registro, retira-se para Catolé do Rocha e vem a falecer em 25 de outubro de 1899. Meus caros Confrades, meus Colegas, meus Senhores e minhas Senhoras, se nos dias de hoje o médico se defronta com dificuldades enormes para programar medidas sanitárias e curativas, na região Nordeste, imaginemos como era difícil, na última metade do século ante-passado: poucos médicos, uma população crescente, dispersa e rural em uma região pobre, meios de transporte precários, sem instalações sanitárias, águas colhidas nas cacimbas e poucas opções terapêuticas realmente eficazes. Este foi o cenário em que Fausto Meira trabalhou e o ambiente em que exercitou uma medicina que foi reconhecida como eficiente. Essa foi a vida de um grande homem. Vida que deve ser lembrada na atualidade e posteridade. Pesquisar a vida de Fausto Meira foi um desafio que valeu a pena e nesse momento solene tenho orgulho de ser nordestino e fico envaidecido em ocupar a cadeira nº 10 cujo patrono foi um grande homem, que não se curvou diante das dificuldades e permaneceu na Xerolandia (terminologia Terciana) até o final dos seus dias, fiel a missão social da sua profissão. Muito obrigado Ricardo Antônio Rosado Maia


POSSES DOS PRESIDENTES - DISCURSOS Período: 2004 a 2007


DISCURSO DA AC. MARIA DE LOURDES BRITTO PESSOA POR OCASIÃO DA POSSE NA PRESIDÊNCIA DA APMED. Biênios: 1994/1996 e 1996/1998 - Em: 19/12/1994 -

Autoridades presentes, Minhas Senhoras, Meus Senhores, Queridos Colegas:

Esta é uma ocasião que jamais sonhei: ser Presidente da Academia Paraibana de Medicina. Permitam-me falar um pouco de mim para que conheçam melhor a nova Presidente. O meu sonho verdadeiro era o de ser Médica desde os 10 anos de idade. A presença solene do Dr. Octávio Soares, na minha infância em Forte Velho – de gratas recordações a ternura e sabedoria do Dr. Lourival Moura, sua dedicação com minha tia portadora de tuberculose pulmonar, doença incurável na época, verdadeira condenação ao isolamento e ao ostracismo, era a sua presença verdadeiro bálsamo e sem que percebêssemos um estímulo novo a cada visita, ao meu desejo de ser Médica. Na ocasião nem mesmo eu percebia... mas, foi se concretizando e o meu contato, alguns anos depois, com o Dr. Luiz Gonzaga de Miranda Freire, meu médico na adolescência, vítima de febre tifóide, solidificou o meu desejo. Coisa rara na época e, antes dos dezesseis anos de idade, para gáudio de meu pai e desgosto de minha mãe, segui viajem à Cidade do Recife para fazer o “Curso Científico”, em preparação ao vestibular de medicina. Hoje parece incrível fazer viajem ao Recife quando a locomoção é rápida e fácil. Naquele tempo muitas vezes dormíamos na estrada quando caía uma barreira na época das chuvas. Sofri muito a saudade dos meus pais e familiares; até do cachorrinho e do galo eu sentia falta. Chorei muito. Choro amenizado pelas cartas diárias do meu Pai, que ainda hoje conservo comigo carinhosamente, velhinhas poidas pelo tempo. Entrei no “Colégio Oswaldo Cruz” e tive grandes professores, valendo salientar sobre todos eles o Dr. Valdemar de Oliveira responsável pelas aulas de Biologia. Depois, fui sua aluna na então Faculdade de Medicina do Recife e solidifiquei a afirmativa que foi o maior de todos os meus professores, todos tão brilhantes. Em 1943 fiz vestibular e até que enfim entrei na tão sonhada Faculdade de Medicina! Foi, para mim, verdadeiro encantamento. Era o primeiro degrau a subir e eu pisava firme... No primeiro dia de aula de anatomia, naquele anfiteatro solene aconteceu um fato que jamais esqueci: estendido em duas pedras haviam dois cadáveres masculinos. Fiquei apavorada, com medo de ver “dois homens nús”. Como diziam as freiras do meu colégio. Fixei o olhar no professor Dr. Ruy Baptista sem dele me afastar. Tinha muito medo; era como se fosse macular minha inocência... mas quando tive coragem e oportunidade de vêlos... que surpresa! Depilados, inerme sem cor de gente, me pareciam bonecos de cera... e ainda mais o odor do formol o cheiro de carne putrefata afastavam totalmente a impressão de seres vivos. Interessante, mesmo com tudo isto, jamais pensei em deixar o curso. O meu ideal era ser Médica.


Considerando a época em que vivi a minha adolescência fui diferente, muito diferente mesmo das outras meninas desde criança. Antes dos 10 anos organizei a minha primeira biblioteca. Os livros que recebera de presente foram enfileirados em uma pequena estante e catalogados. E lá no alto, escrevera pomposamente “Biblioteca Orestes Britto” em homenagem ao meu avô. Sem ônus, eram os livros emprestados às coleguinhas com uma única condição de serem comentados entre nós alguns dias depois sob os cuidados da minha tia, com a finalidade de estimular o gosto pela leitura, pelo saber. Na época era eu a representante do “Gury” suplemento do “Diário de Pernambuco” chegavam às quartas-feiras e do “Suplemento Infantil” do “Jornal do Comércio do Recife”, aos domingos. Era uma festa, um prazer para todos nós ver os nossos trabalhos publicados e as correspondências trocadas. Foi o meu primeiro passo nas atividades intelectuais, sem esquecer os versinhos feitos e guardados em casa. Freqüentei o Curso Médico juntamente com Aroldo Cruz de Campina Grande, Gilvandro Assis, Aloísio Pereira. Não posso falar em Aloísio sem falar no Coronel José Pereira de Princesa em torno de quem havia verdadeira aura de coragem e bravura. Ele compareceu orgulhoso à formatura do filho e então tivemos a oportunidade conhece-lo. Esperava eu encontrar um velho coronel do Sertão de botas e chapéu de couro e qual não foi a nossa surpresa ao deparar com um senhor elegante bem vestido de linho branco irlandês bem calçado, um “Gentil homem” de gravata e boas conversas passando rasteira em todos nós, ciosos doutores. Foi uma bela surpresa conhecer o Cel. José Pereira de Princesa Isabel. Logo no início quando entrei da faculdade senti-me diferente: no bonde recebíamos uma senha que dava direito a ida e volta, um verdadeiro privilégio para jovens que um dia seriam médicos. Chegou a hora: o Teatro Santa Isabel em toda sua plenitude e beleza abriu suas portas para a festa de formatura dos médicos “Turma 1948 - dia 11 de dezembro”. Toda de verde feliz e encantada apoiada no braço de meu pai conseguira realizar o meu sonho de criança foi um momento mágico na minha vida que compartilhei com Vanildo que viria depois a ser meu marido, meu amigo, meu amado. Voltei à minha terra. Na época toda moça que se formava em medicina era Pediatra ou Ginecologista e Obstetra. Optei pela primeira. Aqui já mourejavam a Drª Eudézia Vieira e Drª Neusa Andrade pelas quais sentia verdadeira admiração. A Drª Antonieta Paiva Granville viria depois acompanha-las, porém, na pediatria como eu que fiquei apenas durante 5 anos no Serviço Social do Comércio. Com a interferência do Dr. Luciano Ribeiro de Moraes junto ao Dr. Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega consegui uma bolsa de estudos no Departamento Nacional de Saúde do então Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Curso de Especialização em Psiquiatria e Higiene Mental na Divisão Nacional de Saúde Mental sob a presidência do Prof. Adauto Botelho, de quem me tornei amiga com muito orgulho e prazer. Figura notável de tanta sabedoria... curso pesado que me deu a oportunidade de estudar nos livros do Dr. Luciano Ribeiro de Moraes, livros que ainda hoje, pela benevolência de Carminha, sua esposa, guardo carinhosamente. Fui nomeada Inspetora Federal da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM) e trabalhei no Ambulatório de Saúde Mental durante 30 anos até quando me aposentei. Vários os chefes, vários os amigos. Depois, veio a Faculdade de Medicina da UFPB, como Auxiliar de Ensino de Psiquiatria. Depois, com a criação da Disciplina de Psicologia Médica passei a ministrá-la por mais de trinta anos. Durante este período fui Chefe do Departamento de Psiquiatria e Psicologia. Fui aposentada compulsoriamente, o que me deixou muito triste. Durante este


tempo pronunciei várias aulas da saudade das quais possuo apenas 5. Com a criação da Academia tive a honra de ser convidada pelos Drs. Amílcar de Souza Leão, Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, Eugênio de Carvalho Júnior, Antônio Dias dos Santos, entre outros, e no dia 26/03/1987 tomei posse no velho casarão na Rua das Trincheiras para nossa grande festa, minha e de meus familiares, além dos confrades e amigos que me honraram com sua presença. Fui também a primeira Coordenadora de Psiquiatria do Estado sob a direção do Dr. Propício Caldas – grande figura! Gosto muito de ler e de escrever mas, o meu hobby preferido é ser Médica, atender aos meus pacientes. Tudo isto passei, mas não esperava vir a ser a primeira psiquiatra da Paraíba, primeira Presidente de nossa Academia. Rogo ao Senhor que me dê forças para, com amor, como tudo o que faço, não decepcionar os caros confrades. Tinha que contar esta história para justificar tamanha honra que ora me concedem. Sensibilizada agradeço. Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa


DISCURSO DO AC. JACINTO LONDRES GONÇALVES DE MEDEIROS POR OCASIÃO DA POSSE NA PRESIDÊNCIA DA APMED. Biênios: 1998/2000 e 2000/2002 - Em: 18/12/1998 -

Minhas senhoras, Meus senhores: Assumimos nesta hora, tocado pelo sentimento da mais profunda humildade a presidência da Academia Paraibana de Medicina. Obedecemos os ditames de nosso chamamento como um desafio que me impõem sem qualquer veleidade de merecimento ou vaidade própria. Não estamos aqui por imposição e, sim, para indeclinável dever de obediência às normas Estatutárias e à capitulação sentimental aos apelos da confiança e da amizade, tão generosas da grande maioria dos componentes desta Casa, que nos elegeu democraticamente em pleito realizado precisamente há 1 mês. Achamos, que tudo isso foi uma promoção em decorrência da teimosia de termos exercido – modestamente – quase todos os cargos de sua Diretoria, desde a época da fundação. Mas, meus senhores e minhas senhoras, antes disso chegamos à APM, vencidos pela alta condescendência daqueles que nos foram buscar na labuta dos afazeres provincianos, pelas mãos benfazejas dos Acadêmicos Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, Eugênio de Carvalho Júnior e José Asdrubal Marsíglia de Oliveira que entre outros foram os verdadeiros baluartes na construção dos primeiros pilares desta Instituição e, que tanto trabalharam pela sua consolidação, notadamente para que atingíssemos os primeiros estágios de desenvolvimento. Ao reverenciarmos a memória daqueles que mais recentemente deixaram o nosso convívio e que fazem parte da galeria de honra da APM, estendemos nossa homenagem efusiva às destacadas personalidades que muito contribuíram e continuam contribuindo para o êxito e conceito da Entidade e, que na sua maioria se encontram presentes neste recinto. Agora, permitam-nos fazer uma homenagem especial e sincera à figura a quem temos a honra de substituir. Referimo-nos a pessoa da Acadêmica Maria de Lourdes Britto Pessoa, que à frente da APM, dedicou-se integralmente com competência e devotamento, permitindo, assim, pelo seu denamismo uma reforma administrativa ampla e moderna, a par de Ter colocado nossa Academia em destacada posição entre as congêneres do País. Ocupar o lugar deixado pela Acadêmica Maria de Lourdes Britto Pessoa não é uma tarefa fácil. É uma trajetória árdua, contudo estamos seguros de que não nos faltarão ânimo, disposição e apoio dos companheiros para o cumprimento desse desiderato. Senhores Acadêmicos: Às portas do novo século, devemos assegurar que a estrutura da APM corresponda a seu desenvolvimento e às necessidades de seus membros. Além disso, na passagem do próximo milênio estaremos comemorando 20 anos de existência. O País vive um clima de expectativa, diante dos tumultos financeiros e ideológicos. Em tudo o universo é chegada a hora da reflexão, de uma revisão de valores, de um levantamento dos resultados e nos não podemos fazer a este momento. Senão vejamos, quando assistimos perplexos o Serviço Público e a Universidade viverem a mais perversa, onde inexistem verbas para o


atendimento de suas reais necessidades e o afastamento de grandes valores de seus quadros em decorrência das precárias condições de trabalho e salários aviltantes. Verificamos que, ao final de tantos anos de labuta, os profissionais aposentados em sua grande maioria recebem pela inexedível dedicação à causa pública, como prêmio a ameaça de um redutor salarial e tantas outras restrições. O nosso ilustre e grande homenageado deste dia, Reitor Jader Nunes, tem sido um batalhador incansável para reverter essa situação, de maneira a tornar a nossa UFPB mais forte e soberana. Portanto, a responsabilidade e o papel de nossa APM cresce na medida em que – solidariamente – possamos lutar e responder de forma altaneira e firme esses desafios. Ocorrem-nos, agora o desejo de planejarmos, discutirmos e aprovarmos alguns projetos e metas, com pontos a estabelecermos para Academia, produto de nossa própria inquietude e tantos outros inspirados na sábia experiência de nossos colaboradores, com os quais haveremos de compartilhar trabalho e amizade. Para obtermos esses resultados, seremos práticos, objetivos e realistas, esperando dessarte que a nossa gestão consolide conquistas já alcançadas. Acreditamos ser fundamental perseguirmos os seguintes pontos: 1º - Revisarmos os Estatuto, modificando o necessário para que continuem sendo mais ágil e dinâmico; 2º - Integrarmos à luta em defesa da classe médica como o CRM-AMP e Sindmed; 3º - Buscarmos nossa participação nos fóruns debatendo sobre à saúde do povo da Capital de demais municípios do Estado; 4º - Solicitarmos da empresa privada, especialmente das Indústrias Farmacêuticas, o apoio para desenvolvimento de projetos; 5º - Publicarmos em revistas e jornais artigos sobre a história da Academia de maneira que seja preservada sua memória; 6º - Criarmos os mecanismos para divulgação dos trabalhos e atividades dos Acadêmicos; 7º - Estendermos outras atribuições aos Conselhos Científico e Fiscal e, caso aprovada a reforma estatutária, instituirmos o Conselho de Assessoria cujos membros natos serão os Exs. Presidentes; 8º - Tornarmos mais estreito o relacionamento com a UFPB para troca de experiências no campo científico e promoção de eventos que visem à melhoria do ensino; 9º - Ampliarmos o projeto de instalações e comunicação de secretarias; 10º - Continuarmos a luta pela instalação definitiva da Academia. Minhas senhoras, Meus senhores, Senhores Acadêmicos: Finalmente, ao agradecermos o comparecimento de tantas pessoas gradas a esta solenidade, manifestamos o desejo firme e inabalável de continuarmos honrando a tradição de uma longa estirpe de criaturas de bem, que alto dignificaram as letras médicas da Paraíba, não desmerecendo a confiança que nos estão agora sendo dispensados ou venham a deslustrar os propósitos desta notável AMP. Sejam todos muito felizes e, boas festas!


DISCURSO DO AC. JOÃO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE POR OCASIÃO DA POSSE NA PRESIDÊNCIA DA APMED. Biênios: 2002/2004 e 2004/2006 - Em: 19/12/2002 -

Quando a Academia Paraibana de Medicina comemora os 22 anos de fundação, cabe-nos fazer uma reflexão sobre o papel das academias de medicina na época atual. Além de referenciar os vultos da profissão pelo que realizaram para o desenvolvimento da ciência médica, mantendo viva a memória histórica, outras metas fazem parte de seu elenco de atividades. Consta de sua programação o acompanhamento dos avanços científicos que estão, a cada instante, se processando na área médica, relacionados ao diagnóstico e tratamento das diversas patologias, analisando seus aspectos éticos, questionando, quando necessário, ou reconhecendo e difundindo seus benefícios a favor do ser humano. Daí constou de seu trabalho a realização de reuniões científíco-culturais, onde acadêmicos ou convidados discorrem sobre temas atuais, visando uma educação continuada. Saliente-se, ainda, a preocupação com o ensino médico, não só com a qualificação das escolas médicas, bem como com os currículos que devem ter um conteúdo programático visando uma formação profissional destinada à valorização da vida humana em todos os seus aspectos. Embora importantes e necessários os avanços tecnológicos, não pode o médico esquecer a importância do seu relacionamento com o cliente que está, muitas vezes, a necessitar de um amparo, de uma atenção, em alguns casos, mais útil do que um procedimento puramente baseado em aparelhos. A ciência e a tecnologia precisam ser utilizadas a serviço da vida humana, desde que se sejam respeitados a dignidade e os direitos fundamentais das pessoas. Outra participação é o acompanhamento da Política Nacional de Saúde, oferecendo aos poderes públicos subsídios que contribuam para um programa eficaz da saúde pública preventiva e assistencial. As academias estabelecem parceria com os Conselhos de Medicina, as Associações Médicas, as Sociedades de especialidade, ou sindicatos médicos, direcionada no posicionamento a favor da dignidade da classe, hoje tão aviltada, mal remunerada e sem boas condições de desempenho do seu trabalho. A história da medicina tem de ser cultuada, pois através dela, temos sempre presente a memória dos grandes feitos que impulsionaram a ciência e a arte médica. Com este intúito, estamos em parceria com o CRM e Associação Médica da Paraíba, trabalhando para implantar, o mais rápido possível, o Memorial da Medicina da Paraíba. Com a implantação, deveremos estimular pesquisas e estudos sobre a história da medicina na Paraíba, para isso, procuraremos incentivar Universidades, Faculdades, Instituições públicas e particulares. Apelaremos para médicos e familiares de médicos afim de doarem objetos e publicações que retratem as diversas épocas da vida médica de nosso Estado. Em obediência às disposições estatutárias, realizou-se a escolha da Diretoria que regerá os destinos desta Casa, no período 2002/2004, tendo os colegas acadêmicos, num gesto de confiança, escolhido-me para Presidente, o acadêmico Marco Aurélio de Oliveira Barros para Vicepresidente e os acadêmicos Antônio Carneiro Arnaud, Augusto de Almeida Filho, Clóvis Beltrão de Albuquerque, Gilson Espínola Guedes, Orlando Álvares Coêlho e Ulisses Pinto


Brandão para o Conselho Fiscal Permanente. Temos, neste momento em que somos empossados um compromisso: mantermos a Academia viva e ativa, desenvolvendo suas atividades sempre na busca da realização de metas e programação direcionada à ascensão dos padrões éticos, científicos e técnicos da medicina. Já é, razoavelmente , longa a caminhada em que os timoneiros Humberto Nóbrega, José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, Eugênio de Carvalho Júnior, Maria de Lourdes Britto Pessoa e mais recente Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros conduziram os passos desta Entidade com denodada abnegação, tendo como destino o êxito, a realização vitoriosa de um sonho. Acabamos de ouvir o relatório da Diretoria que, hoje, termina seu mandato, sob a presidência do Acadêmico Jacinto Medeiros que, durante esses quatro anos dedicou-se com amor, porque não dizer com paixão, no afã de manter a Academia ativa, atuante no cumprimento das diretrizes da academia moderna, reformou estatutos, estabeleceu parcerias, esteve ao lado das reivindicações da classe, realizou reuniões sócio-culturais, preencheu cadeiras vagas, deu andamento as demarches para implantação do Museu da Medicina Paraibana enfim, foi incansável, podendo estar de consciência tranqüila ao poder entregar aos seus sucessores uma Instituição solidificada e em condições de alçar vôos mais altos. Estamos tendo a feliz oportunidade iniciar nosso mandato com uma homenagem a um médico que fez história na medicina paraibana. Pela passagem do seu centenário de nascimento, o Prof. João Toscano Gonçalves de Medeiros, patrono da Cadeira 19, recebe nesta data, o reconhecimento pelo que fez durante os anos de atividade profissional, atuando numa época em que sendo escassos os recursos tecnológicos usou, largamente, seu tinocínio clínico para, com amor e dedicação, amenizar sofrimentos e salvar vidas. Médico, humanista, educador, teve uma vida dedicada ao bem, exemplo para os que com ele conviveram e para os pósteros, razão maior de sua presença na galeria dos patronos desta Academia. A D. Eunice e demais familiares nosso pleito de gratidão pelo que nos legou Dr. João Medeiros. Colegas acadêmicos é momento de agradecermos o gesto de confiança ao escolher-nos para dirigir os destinos de nossa casa no biênio 2002/2004. Além de agradecimentos é momento, também de conclamar os colegas para nos unirmos e, juntos, trabalharmos, cada vez mais, pelo soerguimento da Academia. Muito obrigado! Ac. João Cavalcanti de Albuquerque


DISCURSO DO AC. MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA BARROS POR OCASIÃO DA POSSE NA PRESIDÊNCIA DA APMED. Biênio: 2006/2008 - Em: 19/12/2006 -

Senhores Acadêmicos Meus Senhores Minhas Senhoras Meus Familiares

Sinto-me muito honrado e feliz em assumir a presidência da Academia Paraibana de Medicina, juntamente com o Ac. Orlando Álvares Coêlho, Vice-Presidente e demais membros da Diretoria, do Conselho Fiscal, da Comissão Científica e Cultural, da Comissão Editorial dos Anais da Academia e do Editor do nosso Boletim Informativo, respectivamente, Antônio Carneiro Arnaud, Ivan Lins Modesto, Adahylson da Costa Silva, Joaquim Monteiro da Franca Filho, Maria de Lourdes Britto Pessoa, Antonio Nunes Barbosa, Clóvis Beltrão de Albuquerque, José Eymard Morais de Medeiros, Guilherme Gomes da Silveira d`Ávila Lins, Evandro José Pinheiro do Egypto, João Cavalcanti de Albuquerque, Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, Francisco Orniudo Fernandes, Gilvandro Assis, Gilson Espínola Guedes, Wilberto Silva Trigueiro, Delosmar Domingos de Mendonça, Osvaldo Travassos de Medeiros, Péricles Vitório Serafim e João Gonçalves de Medeiros Filho. Além da honra e da felicidade em assumir este cargo, me emociona também o fato de estar no mesmo lugar daqueles que me antecederam ao longo destes 26 anos, implantaram e fizeram a Academia Paraibana de Medicina crescer e atingir a maturidade e tomar-se respeitada como hoje se encontra. Assim, nunca poderemos esquecer o trabalho desenvolvido nesta Casa por: José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, Eugênio de Carvalho Júnior, Maria de Lourdes Britto Pessoa, Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros e por último João Cavalcanti de Albuquerque. Todos eles ao longo destes anos ofereceram o máximo dos seus esforços, ao lado dos demais acadêmicos que integraram suas Diretorias, em beneficio da Academia Paraibana de Medicina. As vitórias não foram conquistadas facilmente. Exigiram muita luta e dedicação, nesta mais de duas décadas. Porém, é justo ressaltar que fomos apoiados neste crescimento por várias Instituições: Pela Universidade Federal da Paraíba que nos abriga até o presente, em uma área nobre localizada no Hospital Universitário Lauro Wanderley, onde realizamos nossas reuniões de Diretoria, se encontra o nosso acervo bibliográfico e a história da nossa Academia. A Associação Médica da Paraíba tem nos apoiado igualmente cedendo seu auditório para a realização de nossas reuniões científicas, culturais e sociais. O Governo do Estado da Paraíba através do apoio para que tem dado a Academia Paraibana para que estivesse sempre presente aos conclaves da Federação Brasileira de Academias de Medicina. O Conselho Regional de Medicina que além do apoio a todas as nossas solicitações decidiu reservar um espaço em sua nova sede, recentemente inaugurada, para o funcionamento da nossa Academia.


A UNIMED João Pessoa também nos ofereceu um valioso apoio através da edição dos dois primeiros volumes dos anais e dos boletins informativos editados até hoje. O sucesso da nossa gestão à frente da Academia Paraibana de Medicina neste biénio 2006-2008 dependerá também de muitos, principalmente, dos nossos familiares que além do estímulo que nos darão, compreenderão as ausências decorrentes da participação em eventos onde se fizerem necessárias a nossa presença. Não serão poucos estes momentos, porém, tenho certeza, que serão gratificantes para todos nós, acadêmicos, que desejamos permanentemente, uma instituição cada vez mais forte. As Academias não são e nunca serão instituições ricas. Aqui tudo é feito com amor, dedicação e responsabilidade. Por tradição as Academias somente podem ter 40 titulares. Nelas ninguém nada percebe, nós colaboramos um pouco para ajudá-la a sobreviver com dignidade o que torna a nossa atuação nobre e despojada de outros interesses. Haveremos de encontrar recursos oriundos de outras fontes, afim de que possamos patrocinar iniciativas em defesa de nossas posições diante dos problemas atuais da medicina. Todas estas conquistas têm de ser mantidas, porém o progresso da medicina e o exercício da nossa profissão de médico estará cada vez mais exigindo que as Academias de Medicina permaneçam unidas com as demais instituições, como a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina, a Universidade, as instituições governamentais, com o objetivo de colaborarem com as decisões que se fizerem necessárias relacionadas com a saúde, a medicina e o médico. A atenção com a saúde de nossa população tem de continuar sempre crescente, através do aporte de mais recursos afim de que medidas preventivas e curativas, em todos as cidades, possam ser feitas com mais rapidez e qualidade. O imposto há anos criado para ser aplicado na saúde tem de voltar para a saúde. A medicina com seu progresso incessante estará sempre a exigir atitudes de todas as instituições no momento relacionadas com novas formas de sobrevivência através da utilização de células tronco e também com a dignidade da morte, como a ortotanásia. O ensino médico necessita de permanente avaliação, não apenas em função da sua qualidade como também da definição da quantidade de médicos que a nação necessita para que haja uma assistência adequada a toda população. O médico, nos dias de hoje está necessitado também do apoio de todas as instituições e principalmente das Academias de Medicina, que pela experiência de seus membros poderão opinar e lutar por melhores condições para o exercício desta nobre profissão. Assim, entendo que nos próximos dois anos, teremos muito que fazer, não apenas pelo que ela, representa na comunidade, mas também, para honrar os que no passado muito fizeram por ela. E nada poderá ser concretizado sem que haja participação de toda a Diretoria e dos demais acadêmicos, especialmente nas nossas reuniões científicas, culturais e sociais. A união sempre fez e fará a força e continuará sendo assim em nossa Academia Paraibana de Medicina. Ac. Marco Aurélio de Oliveira Barros


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.