ANAIS Apresentação Dando continuidade a publicação dos anais da Academia Paraibana de Medicina, a Diretoria e Conselho Científico e Cultural Permanente editam o presente 2º volume. No 1º volume constaram o elogia e saudação dos primeiros 10 acadêmicos que foram empossados. Neste volume constam o elogia e saudação de mais 20 acadêmicos. Faz parte, também, desta publicação a relação das reuniões científico-culturais realizadas desde sua fundação, com os nomes dos palestrantes e os temas abordados.
ComissĂŁo dos Anais Ac. JosĂŠ Eymard Moraes de Medeiros Ac. Maria de Lourdes Britto Pessoa Ac. Osvaldo Travassos de Meeiros
Período: (Dez/2004 a Dez/2006) – Biênio: 2005/2006
Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Vice- Secretário: Tesoureiro: Vice-Tesoureiro: Bibliotecário:
Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Acad. Marco Aurélio de Oliveira Barros Acad. Orlando Álvares Coelho Acad. Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho Acad. Vicente Edmundo Rocco Acad. Mário Toscano de Brito Filho
Conselho Científico e Cultural Permanente - CCCP Titulares: Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Acad. Maria de Lourdes Britto Pessoa Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros Suplentes: Acad. Adahylson da Costa Silva Acad. Delosmar Domingos de Mendonça Acad. Evandro José Pinheiro do Egypto
Conselho Fiscal Permanente– CFP Titulares: Acad. Antônio Carneiro Arnaud Acad. Clóvis Beltrão de Albuquerque Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Suplentes: Acad. Augusto de Almeida Filho Acad. Péricles Vitório Serafim Acad. Wilberto Silva Trigueiro
RELAÇÃO DAS CADEIRAS, PATRONOS E TITULARES DA APMED Cad. Partonos
Titulares
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Gilson Espínola Guedes Ulisses Pinto Brandão Augusto de Almeida Filho Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins Francisco Orniudo Fernandes José Eymard Moraes de Medeiros Delosmar Domingos de Mendonça Clóvis Beltrão de Albuquerque Renaldo Romero Rangel Ricardo Antônio Rosado Maia Péricles Vitório Serafim Adahylson da Costa Silva João Gonçalves de Medeiros Filho Tereza Carvalho de Mendonça Marco Aurélio de Oliveira Barros Orlando Álvares Coêlho Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Gilvandro Assis Herul Holanda de Sá Antônio Nunes Barbosa Osvaldo Travassos de Medeiros Antônio Carneiro Arnaud Jackson Derville Araruna Evandro José Pinheiro do Egypto João Cavalcanti de Albuquerque Aécio Araújo de Morais João de Brito de Athayde Moura José Alberto Gonçalves da Silva José Lavoisier Feitosa Antônio Queiroga Lopes Gutenberg Pessoa Botelho Filho Maria de Lourdes Britto Pessoa João Modesto Filho Mário Toscano de Brito Filho Genival Veloso de França Ivan Lins Modesto Wilberto Silva Trigueiro Geraldez Tomaz Joaquim Monteiro da Franca Filho Francisco Assis dos Anjos
Achiles Ramos Leal Antônio Baptista Santiago Antônio Cruz Cordeiro Sênior Arioswaldo Espínola da Silva Cândido Firmino de Mello Leitão Júnior Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega Chateaubriand Bandeira de Mello Edrise da Costa Villar Elpídio Josué de Almeida Fausto Nominando Meira de Vasconcellos Flávio Ferreira da Silva Maroja Francisco Alves de Lima Filho Francisco Camillo de Hollanda Francisco Chaves Brasileiro Francisco Pinto de Oliveira Francisco Pôrto Genival Soares Londres João Soares da Costa Filho João Toscano Gonçalves de Medeiros Joaquim Gomes Hardman José Bento Monteiro da Franca José de Souza Maciel José Janduhy Vieira Carneiro José Seixas Maia Lauro dos Guimarães Wanderley Luciano Ribeiro de Morais Manoel Carlos de Gouveia Manoel Arruda da Câmara Manoel Velloso Borges Napoleão Rodrigues Laureano Neuza de Andrade Monteiro Newton Nobre de Lacerda Oscar de Oliveira Castro Osório Lopes Abath Octacílio Camillo de Albuquerque Plínio Marques de Andrade Espínola Tito Lopes de Mendonça Vanildo Guedes Pessoa Waldemiro Pires Ferreira Walfredo Guedes Pereira
REUNIÕES SÓCIO-CULTURAIS E CINTÍFICAS – ASSEMBLÉIAS E SESSÕES Realizadas no período de 12/06/1981 a 28/09/2006
Data Reunião Palestrante Tema Local
12/06/1981 Sócio-Cultural e Científica Dr. Adhemar Soares Londres Reminiscência da Medicina Paraibana Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
28/08/1981 Sócio-Cultural e Científica Acad. Amílcar de Souza Leão Atualidades anatomo-patológicas nas doenças mentais Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
25/09/1981 Sócio-Cultural e Científica Dr. Antonio Vieira Queiroga Reação do complemento humano e seu valor semiológico Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/11/1981 Sócio-Cultural e Científica Acad. Attilio Luiz Rotta Poliomielite, enfoques vários Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
26/02/1982 Sócio-Cultural e Científica Prof. Dr. Altino Ventura (Recife) Fatos pitorescos da vida de um médico Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/04/1982 Sócio-Cultural e Científica Acad. Augusto de Almeida Filho Hepatectomia sub-total com conservação do segmento posterior Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/07/1982 Sócio-Cultural e Científica Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Literatura Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/08/1982 Sócio-Cultural e Científica Acad. Genival Veloso de França A Medicina como ciência e como instrumento social Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
24/09/1982 Sócio-Cultural e Científica Acad. Gilson Espínola Guedes O Kalazar no litoral da Paraíba Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/05/1983 Sócio-Cultural e Científica Dr. José Grimberg A criança e a violência nas cidades Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
01/07/1983 Sócio-Cultural e Científica Dr. Dustan Vasconcelos de Morais Conceitos de medicina acupunturística e homeopática Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
11/11/1983 Sócio-Cultural e Científica Acad. Gilvandro Assis Marcadores imunológicos na hepatite a vírus e sua importância clínica e epidemiológica Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
23/12/1983 Sócio-Cultural e Científica Acad. Heronides Alves Coelho Filho Frei Caneca e seu tempo Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
15/06/1984 Sócio-Cultural e Científica Acad. Herul Holanda de Sá A evolução da cirurgia plástica na Paraíba e sua importância psico-social Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
20/12/1984 Sócio-Cultural e Científica Acad. Amílcar de Souza Leão Esperanto - língua artificial internacional Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
26/06/1985 Sócio-Cultural e Científica Acad. Amílcar de Souza Leão Imunopatologia do câncer Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
04/06/1987 Sócio-Cultural e Científica Acad. Amílcar de Souza Leão Imunidade e hipersensibilidade Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
09/09/1987 Sócio-Cultural e Científica Acad. Eugênio de Carvalho Júnior Medicina e poesia Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
25/03/1999 Sócio-Cultural e Científica Acad. Gilson Espínola Guedes Núcleo de apoio à criança com câncer: dois anos de atividade Doceria Sonho Doce
Data Reunião
27/04/1999 Seção Especial – Academia Paraibana de Letras e APMED Homenageado Dr. Oscar de Oliveira Castro Comemoração do Centenário do Dr. Oscar de Castro Tema Sede da APL Local Data Reunião Palestrante Tema Local
29/04/1999 Sócio-Cultural e Científica Prof. João Modesto Filho Tratamento da obesidade Auditório do Hotel Caiçara
Data Reunião Tema Autor Local
11/05/1999 Sessão Especial Lançamento do livro – “Páginas de História” Acad. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins SESC
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/05/1999 Sócio-Cultural e Científica Acad. Evandro Pinheiro do Egypto Anti-inflamatório na prática médica Auditório do Hotel Ouro Branco
Data Reunião Palestrante Tema Local
17/06/1999 Sócio-Cultural e Científica Dr. Marco Antonio Barros Dislipidemias - Avanços terapêuticos Auditório do Hotel Ouro Branco
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/07/1999 Sócio-Cultural e Científica Prof. Hilton Chaves Júnior Avanços no tratamento da hipertensão arterial Auditório do Hotel Ouro Branco
Data Reunião Palestrante Tema Local
26/08/1999 Sócio-Cultural e Científica Prof. João Leonardo Ribeiro Depressão – avanços terapêuticos Auditótio do Hotel Caiçara
Data Reunião
18/12/1999 Sessão Especial conjunta – Sociedade Brasileira de Urologia e APMED Homenageado Prof. Gessé Gomes Meira – Diretor Superintendente do HULW “Benemérito” Título Sócio-Cultural e Científica Reunião Palestrante Acad. Prof. Fernando Pires Vaz Câncer de próstata - mito e realidade Tema Salão Nobre do Hotel Tambaú Local Data Reunião
27/04/2000 Sessão Especial Comemorativa dos 100 anos do Dr. Cassiano Carneiro da C. Nóbrega
Homenageado Dr. Cassiano Carneiro da Cunha Nóbrega
Palestrante Acad. Mário Toscano de Brito Ética e os avanços da genética Tema Auditório do Hotel Littoral Local Data Reunião
27/06/2000 Sessão Especial de entrega do título de “Honra ao Mérito Médico Nacional” Homenageado Acad. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira Sócio-Cultural e Científica Reunião Palestrante Acad. João Cavalcanti de Albuquerque Histórico da APMED e seu papel nos dias atuais Tema Auditório do Hotel Littoral Local Data Reunião Assunto Local
29/07/2000 Assembléia Geral Extraordinária Revisão do Estatuto/Regimento Interno e inauguração da Galeria de Honra dos Ex-Presidentes da APMED Auditório do Hotel Caiçara
Data Reunião Assunto Local
28/09/2000 Assembléia Geral Extraordinária Revisão do Estatuto e Regimento Internos Sede da APMED (Hospital HULW)
Data Reunião Palestrante Tema Local
26/10/2000 Sócio-Cultural e Científica Acad. Gilvandro Assis Medicina, médicos e literatura Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/11/2000 Sócio-Cultural e Científica Prof. Edgar Pessoa de Melo Nova droga para o tratamento da insuficiência coronariana Auditório do Hotel Caiçara
Data Reunião Assunto Local
04/12/2000 Assembléia Geral Ordinária Eleição e posse da nova Diretoria Sede daz APMED (Hospital HULW)
Data Reunião Assunto Local
05/12/2000 Sessão Solene conjunta – UFPB / CCS / HULW / APMED Passagem dos 50 Anos do Ensino Médico na Paraíba CCS / UFPB
Data Reunião Assunto Local
19/12/2000 Assembléia Geral Ordinária Jantar de confraternização dos 20 Anos da APMED Restaurante Amphitrião – Flat Hardman
Data Reunião Assunto Local
29/03/2001 Assembléia Geral Ordinária Aquisição do novo colar e pellerine – Lançamento do Boletim Informativo Auditório do Hotel Caiçara
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/05/2001 Assembléia Geral Ordinária e Sócio-Cultural e Científica Drª Ilma Pires de Sá Espínola Imunologia e vacinação do adulto do 3º milênio Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião
21/06/2001 Assembléia Geral Ordinária e Reunião Sócio-Cultural e Científica - conjunta Sociedade Brasileira de Urologia / APMED / Projeto Geração Saúde Palestrante Dr. Neverton Oliveira Rocha Câncer - DST - AIDS Tema Auditório do Hotel Xênius Local
Data Reunião
03 e 04/08/2001 Simpósio sobre: Avanços no diagnóstico e tratamento em oncologia. Em conjunto: ECOCLÍNICA e APMED Palestrante Prof. Dr. Fernando Pires Vaz (Academia Nacional de Medicina) Câncer da Beziga e Próstata Tema Auditório Sérgio Bernardes do Tropical Hotel Tambaú Local Data Reunião Palestrante Tema Local
31/10/2001 Sócio-Cultural e Científica Dr. Marcelo Antônio Queiroga Lopes Responsabilidade médica Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/11/2001 Sócio-Cultural e Científica Acad. Osvaldo Travassos de Medeiros Considerações sobre afecções oculares mais freqüentes Auditório do Hotel Littoral
19/12/2001 – realizada em 18/12/2001 Sócio-Cultural e Científica – comemorativa dos 21 anos da APMED Em conjunto com a Associação Paraibana de Hospitais Palestrante Prof. Luiz Roberto Londres – homenageado com o prêmio de “Honra ao Mérito” Missão médica Tema Centro de Convenções da Associação Paraibana de Hospitais Local Data Reunião
Data Reunião Assunto Palestrante Tema Local
18/04/2002 Assembléia Geral Extraordinária e Reunião Sócio-Cultural e Científica Homologação dos prêmios de Placa de Honra ao Mérito Dr. Vamberto Augusto Costa Filho Radiologia - presente, passado e futuro Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Palestrante Tema Local
28/05/2002 Sócio-Cultural e Científica Prof. Manoel Jaime Xavier Doença do refluxo gastro-esofágico Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/08/2002 Sócio-Cultural e Científica Prof. Marcelo Fernandes Rangel Aspectos atuais da cirurgia do esôfago e do fígado Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Assunto
26/09/2002 Assembléia Geral Ordinária e Sócio-Cultural e Científica Entendimentos para a instalação do Museu APMED/CRM e aquisição do pellerine acadêmico Palestrante Dr. Augusto de Almeida Júnior Obesidade mórbida - protocolo e indicações de tratamento cirúrgico Tema Auditório do Hotel Littoral Local Data Reunião Palestrante Tema Local
19/12/2002 Sócio-Cultural e Científica
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/03/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. Péricles Vitório Serafim Filho Cirurgia do rejuvenescimento Auditório do Hotel Littoral
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/04/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. Osório Lopes de Abath Filho Afecções prostáticas no idoso Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/05/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. João Batista Simões Filantropia e voluntariado Auditório da AMPB
Prof. João Eugênio Gonçalves de Medeiros Visão atual da oftalmologia Auditório da Associação dos Hospitais da Paraíba
Data Reunião
31/07/2003 Sócio-Cultural e Científica Homenagem Centenário de nascimento do Fundador Emérito Prof. Antônio d`Avila Lins Palestrante Dr. Aucélio Gusmão Cooperativismo Tema Auditório da AMPB Local Data Reunião Palestrante Tema Local
28/08/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. Ivan Lins Modesto História da medicina do trabalho desde a antiguidade aos nossos dias Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/09/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. Marcelo Marcos Eloy Dunda Tratamento da hipertensão no idoso Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
30/10/2003 Sócio-Cultural e Científica Dr. Marcos Aurélio Fonseca Magalhães Tratamento do câncer no século XXI Auditório da AMPB
Data Reunião
27/11/2003 Sócio-Cultural e Científica / entrega de certificado aos vencedores do 1º Concurso Literário de Contos, Poesias e Crônicas Prof. Oscar de Castro, promovido pelo Departamento de Arte e Cultura da AMPB Palestrante Acad. José Alberto Gonçalves da Silva Impressão basilar Tema Auditório da AMPB Local Data Reunião Palestrante Tema Local
01/04/2004 Sócio-Cultural e Científica Acad. Adahylson da Costa Silva Vinho e saúde Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
22/04/2004 Sócio-Cultural e Científica Acad. João Gonçalves de Medeiros Filho Vacinação na terceira idade Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
27/05/2004 Sócio-Cultural e Científica Acad. José Eymard Moraes de Medeiros Evolução da úlcera péptica no século XX – acertos e desacertos Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
29/07/2004 Sócio-Cultural e Científica Acad Aécio Araújo de Morais Distúrbios do sono Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrantes Temas Local
26/08/2004 Sócio-Cultural e Científica Rodolfo Athayde / Prof. Francisco Pereira Júnior Comentário sobre fotografia e pintura / Intrudução à história da arte Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
28/10/2004 Sócio-Cultural e Científica Dr. João Cavalcanti de Albuquerque Filho O Ecocardiograma na prática clínica Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
25/11/2004 Sócio-Cultural e Científica Dr. Marco Antônio Barros Dislipidemias - “Nova abordagem terapêutica Congresso da American Heat Associattion Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
01/04/2005 Sócio-Cultural e Científica Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa História da Psiquiatria na Paraíba Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
02/06/2005 Sócio-Cultural e Científica Dr. Osvaldo Travassos de Medeiros Importância do exame oftalmológico na idade pré-escolar Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
31/08/2005 Sócio-Cultural e Científica Dr. Alberto Martins da Silva Médicos Paraibanos do Passado Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
22/09/2005 Sócio-Cultural e Científica Dr. Luiz Roberto Melo de Oliveira (Belo Horizonte-MG) Atualidades em oftalmologia Auditório da AMPB
Data Reunião
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Impressões sobre o
27/10/2005 Sócio-Cultural e Científica – homenagem à Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição da Paraíba Palestrantes Acad. José Eymard Moraes de Medeiros / Drª Célia Lacerda Jaguaribe História da Sociedade de :Gastroenterologia e Nutrição da Paraíba – Temas homenagem / Lançamento do livro “História e... Remi-niscências” – Dr. Newton Nobre Auditório da AMPB Local
Data Reunião
19/12/2005 Solenidade comemorativa dos 25 Anos de fundação da APMED – Lançamento do 1º volume dos Anais. Palestrante Acad. Prof. Éfren de Aguiar Maranhão – Presidente da FBAM Homenagem Outorga do Certificado de Menção Honrosa ao Dr. Joacil de Brito Pereira(Pres. da APL) e Descerramento da Placa Comemorativa do Jubileu de Prata da APMED Auditório da Associação Paraibana de Hospitais Local Data Reunião Palestrantes Temas Local
30/03/2006 Sócio-Cultural e Científica Dr. José Eymard Moraes de Medeiros Filho Indicações do transplante hepático no paciente idoso Auditório da AMPB
Data Reunião Assunto Local
18/05/2006 Assembléia Geral Ordinária – Assembléia Extraordinária Específica Referendar parecer do Conselho Científico (Dr. Geraldez Tomaz) Sede da APMED
Data Reunião Palestrante Tema Local
25/05/2006 Sócio-Cultural e Científica Prof. Dr. Deusimar Wanderley Guedes Adolescência e drogas Auditório da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
31/08/2006 Sócio-Cultural e Científica / Referendar parecer do CCCP (Dr. Francisco ) Acad. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins O potencial da história da capital paraibana no desenvolvimento do seu turismo cultural Sede da AMPB
Data Reunião Palestrante Tema Local
28/09/2006 Sócio-Cultural e Científica Ac. Mário Toscano de Brito Filho Humanização e Medicina Sede da AMPB
CADEIRA Nº Patrono:
14
Dr. FRANCISCO CHAVES BRASILEIRO
Data de posse: 05/06/1991 Ocupante: Tereza Carvalho de Mendonça Saudação:
Maria de Lourdes Britto Pessoa
05/06/1991
Saudação à: Drª. TEREZA CARVALHO DE MENDONÇA Cadeira nº 14 Por: Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa
Sr. Presidente Dr. Eugênio de Carvalho Júnior Autoridades presentes, Meus senhores, Minhas senhoras, Drª Tereza Carvalho de Mendonça, muito querida Terezinha: No momento em que fui convidada para saudar, um nome da Academia Paraibana de Medicina, Drª Tereza Carvalho de Mendonça, fiquei honrada, agradecida e feliz. Honrada pela escolha; agradecida pela oportunidade de falar em público, sobre uma pessoa muito especial a quem, sinceramente, estimo e admiro; feliz porque numa ocasião como esta, é justamente uma mulher a saudar outra mulher. Além disso, há um fato interessante: a perspectiva de seu agradável convívio. Agora somos duas mulheres e isto é bom. Não desmerecendo, todavia, os demais companheiros, sempre tão solícitos. As pessoas, como todos os seres vivos, nascem, vivem e morrem. Umas passam incólumes pela vida. Não deixam um marco sequer, outras, ao contrário, se destacam, brilha, acontecem. É o caso da Drª Tereza Carvalho de Mendonça. Apresentação, desnecessário se torna, para quem vive há mais de vinte anos, lutando em prol da humanidade. Quem no nosso meio não a conhece? Nascida em Uiraúna, longínquo sertão paraibano, é a filha caçula do Sr. Manoel Francisco da Silva e da Srª Rosa Carvalho da Silva. Estudou em Antenor Navarro, Patos, Campina Grande e formou-se pela então Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, no dia 08 de dezembro de 1961. Sempre distinta e brilhante. Da mesma forma, quando fez pós-graduação pela CAPES, no “Hospital Moncorvo Filho”, no Rio de Janeiro. Conheci Terezinha – não sei chamá-la de outra forma – quando fazia o curso médico nos idos dos anos 50. Reconhecendo seu valor, consegui requisitá-la para trabalhar comigo, no então “Ambulatório de Saúde Mental”, da Divisão Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, na esquina da Av. D. Pedro II, próximo ao Hospital-Colônia Juliano Moreira. Eficiente e dedicada foi se tornando não apenas a aluna esforçada, mas, sobretudo, amiga, tão amiga, que ao partir para residir no Rio de Janeiro, D. Rosinha me recomendou e entregou a filha querida. Daí por diante, passei a sentir uma afeição especial por ela e a comungar de suas alegrias e tristezas, dissipar suas dúvidas, ouvir seus planos e sonhos de jovem inteligente e estabeleceu-se então um forte vínculo entre nós, vínculo que persiste até hoje – As grandes amizades resistem ao tempo e às intempéries. Sinto-me um pouco sua mãe. E daí a forte emoção e alegria que tomam conta de mim, num momento tão importante de sua vida.
Mas falemos de um passado mais distante: Terezinha criança, Terezinha “com medo de boneca”, com “medo de gato”, culta, astuta, alegre, música bom este que herdou do seu pai que tocava vários instrumentos. Possuidora de bela voz adora piano e tocar órgão é seu maior lazer. Teve um irmão, Luiz, e três irmãs, Irene, que atualmente reside em São Paulo e foi o esteio da família após a prematura morte de seu pai; Maria, a doce Mariquinha, já falecida e Antonieta, que mora no Rio de Janeiro e “a ama de todo o seu coração”. Com sua meiguice, Terezinha conquistou a todos que a cercavam parentes e amigos – o que ocorre até hoje. E foi assim que o Dr. Delosmar Domingos de Mendonça, seu colega de turma, não resistiu aos seus encantos e no dia 27 de junho de 1963, casou com ela. Nasceram 3 filhos, Delosmar Júnior, advogado, Francisco Manoel, Médico e Suy Mey, assistente social que lhe deram três netos: Ana Tereza, Raissa e Delosmar Neto que são o seu encanto maior... Sócia fundadora do Serviço de Colpocitologia – SECICOL – a este, ao consultório e demais atividades médicas, dedica grande parte de sua vida profícua. Professora universitária, atualmente na Chefia do Departamento de Medicina MaternoInfantil da Universidade Federal da Paraíba, reeleita por aclamação o que bem fala em favor do enorme conceito e do prestígio que goza entre seus pares. Não vou mais me deter em citar seus inúmeros títulos, trabalhos publicados e outras honrarias. Isto, certamente, tornar-se-á monótono e cansativo. Médica, professora, esposa, mãe e avó, dando o melhor de si, de seus conhecimentos, de seu amor, de sua ternura, ela se faz credora inconteste de mais este laurel. Agora, Dra. Tereza Carvalho de Mendonça, você é imortal. Imortal da Academia Paraibana de Medicina. Seja bem vinda! Nós a recebemos de braços abertos, com a certeza de que com a sua presença meiga, serena e firme ela se engrandecerá.
05/06/1991
Elogio ao Patrono: Dr. FRANCISCO CHAVES BRASILEIRO. Cadeira nº 14 Por: Drª Tereza Carvalho de Mendonça
Ainda pequena, por volta de 1948, ou 49, residindo em Campina Grande, conheci a Casa de Saúde e Maternidade Dr. Francisco Brasileiro, considerada a melhor daquela cidade. Àquela época, nunca poderia eu, estudante pobre do curso primário, antever o dia de hoje, de tanta alegria e emoção, para mim e minha família quando assumo a Cadeira na Academia Paraibana de Medicina, de tão ilustre Patrono Dr. Francisco Chaves Brasileiro. Srs. Acadêmicos, Minhas Senhoras, Meus Senhores. Dr. Francisco Chaves Brasileiro nasceu no Distrito de Boqueirão dos Cochos, município de Piancó, em 23 de novembro de 1902, filho de Firmino Lopes Brasileiro e Maria Argentina Chaves Brasileiro. Fez as primeiras letras na cidade de Piancó. Em seguida, transferiu-se para Cajazeiras, onde estudou o Curso Normal no Colégio Padre Rolim. Realizou os estudos preparatórios no Liceu Paraibano, na capital do Estado – João Pessoa. Em 1924, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia em Salvador, concluindo em dezembro de 1930, quando defendeu a Tese “DA TRAQUELOTOMIA”, tendo como orientador o Professor Aristides Maltez. Como estudante, participou, junto a outros acadêmicos paraibanos, do movimento da Revolução de 1930, sob a orientação de Juraci Magalhães. Entre os seus colegas dessa época, estavam o Dr. Antônio Pereira de Almeida (falecido) e o Dr. Drault Ernany de Melo e Silva. Recém-formado, regressou à Paraíba, clinicando inicialmente na cidade de Piancó. Nomeado médico do então IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, hoje DNOCS), foi prestar serviços em Soledade, onde se iniciava a construção de um grande açude. Ali, como Chefe do Serviço Médico, teve o seu grande desafio: combater e erradicar um perigoso surto de febre tifóide que acometera grande parte dos operários encarregados daquela obra, bem como a seus familiares. Durante o ano de 1932, permaneceu dirigindo os serviços médicos do IFOCS em Soledade, mas viajava com freqüência a Campinas Grande, cidade mais próxima e já em grande desenvolvimento. Casou-se em Salvador, com a Professora Joselita de Almeida Reis, passando a residir em Campina Grande, que oferecia melhores condições, não só para exercício de sua Clínica, como para a vida social e as atividades de sua época. Nesta cidade, viveu e desenvolveu profícua atividade profissional, social e política até os seus últimos dias. Abrindo um consultório em 1933, iniciou vitoriosa atividade em Ginecologia e Obstetrícia. O sucesso profissional levou-o a idealizar a construção de um hospital próprio, destinado, primordialmente a paciente de sua especialidade. A cidade de Campina Grande contava, então, apenas com o Hospital Pedro I, construído pela Maçonaria. Planejou, assim, um Hospital moderno com os requisitos mais avançados da época e que denominou “Casa de Saúde e Maternidade Dr. Francisco Brasileiro”. A construção se iniciou em 1938 e somente foi inaugurada, em 17 de maio de 1947, uma vez que os recursos, para a edificação, dependiam dos rendimentos da clínica do proprietário e de pequenos auxílios de colegas e amigos. Afora as atividades profissionais, Dr. Francisco Brasileiro teve marcada presença na vida social da cidade, filiando-se aos diversos Clubes e participando ativamente de suas campanhas e festividades. Assim, freqüentou
o Campinense Clube e foi sócio fundador e Presidente do Clube do Médico Campestre. Associando-se ao Rotary Clube, nos primórdios da organização no Brasil, foi um membro mais assíduo e empenhado na vida rotariana, tendo participado, com destaque, de campanhas em favor das crianças abandonadas, como a construção do Posto de Piscicultura, às margens do Açude Velho e da Escola Rotariana, na Vila de Santa Terezinha. Exerceu também grande liderança na Classe Médica, tendo sido sócio fundador da Sociedade Médica de Campina Grande, ocorrendo, na sua presidência, a inauguração da atual sede daquela entidade. Foi sócio fundador da Sociedade Mantenedora da Faculdade de Medicina daquela cidade, tendo sido seu Presidente por vários anos quando se construíram os atuais prédios, hoje do Ciclo Básico e nos quais a Escola veio a funcionar em 1969. Sua atividade política foi igualmente participativa a partir da redemocratização do país em 1945. Ligado, por amizade pessoal, ao Dr. Argemiro Figueiredo, filiou-se a UDN, onde permaneceu até sua extinção. Foi candidato a Deputado Estadual pelo Partido Republicano, coligado à UDN em 1950, ficando na 2ª suplência, tendo oportunidade de assumir ainda o cargo. Em 1955, elegeu-se Deputado Estadual pela UDN, exercendo o mandato até 1958, quando foi nomeado Secretário de Saúde do Estado da Paraíba no governo Pedro Moreno Gondim. Após a extinção da UDN, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), assumindo a presidência do Diretório Municipal de Campina Grande por vários anos. Recebeu inúmeras homenagens por sua atuação marcante na vida médica, social e política de Campina Grande e da Paraíba, entre elas, o título de “Cidadão Campinense conferido pela Câmara dos Vereadores”. Faleceu em 22 de novembro de 1972, na cidade de São Paulo, onde se encontrava em tratamento médico. Agradeço aos colegas Dr. Virgílio e Dr. Firmino Brasileiro, sobrinhos do Patrono, que forneceram os dados contidos nesse trabalho, onde espero ter podido delinear as qualidades do grande homem, da ilustre figura, rara em nossos dias, mas tão valiosa para a história da Medicina de Campina Grande e da nossa querida Paraíba.
CADEIRA Nº Patrono:
09
Dr. ELPÍDIO JOSUÉ DE ALMEIDA
Data de posse: 17/10/1991 Ocupante: Renaldo Romero Rangel Saudação:
João Cavalcanti de Albuquerque
17/10/1991
Saudação ao: Dr. RENALDO ROMERO RANGEL Cadeira nº 09 Por:
Dr. João Cavalcanti de Albuquerque
Está a Academia Paraibana de Medicina mais uma vez reunida para dar posse a um novo acadêmico, que ocupará a Cadeira nº 09, anteriormente ocupada pelo saudoso colega Attílio Luiz Rotta, que tem como Patrono o Dr. Elpídio José de Almeida. Aqui, temos como metas cultuar a memória daqueles que prestaram relevantes serviços à medicina paraibana e, homenagear os colegas cujas vidas os vazem merecedores da medalha e da faixa de acadêmico. Vários são os requisitos para o merecimento dessa honraria, requisitos e méritos relacionados às atividades sociais, profissionais e intelectuais dos homenageados. Não exigimos diploma de sapiência ou de super cultura, mas buscamos no seu currículo e na sua trajetória de vida atos que engrandeçam a medicina, pela dedicação e pelo respeito. Hoje, um novo membro titular ingressa nesta Casa e, se o faz, é porque teve o reconhecimento de seus pares. Ronaldo Rangel, o novo acadêmico, teve seu currículo, sua vida profissional analisada, encontrando-se nela aqueles critérios e méritos necessários ao reconhecimento dessa Comenda. Nascido na Cidade do Ingá-PB, de uma família de sete irmãos, veio, como tantos outros jovens interioranos, à Capital em busca de educação cursando o ginasial no Colégio Diocesano Pio X e o colegial no Liceu Paraibano. Em 1957, concluiu o Curso de Medicina, na Faculdade de Medicina da Paraíba, fazendo parte da sua 1ª Turma de Médicos. Como estudante, participou, ativamente, da política estudantil, sendo, por duas vezes, Presidente do Diretório Acadêmico. Especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia. Tendo, nesses 34 anos de profissão se dedicando com amor, não só à missão de curar, como à sublime tarefa de trazer ao mundo novas vidas, dando felicidade e alegria a tantas mães. Sua atividade médica não ficou restrita ao atendimento de pacientes do setor privado ou público. Foi Diretor da Maternidade Cândida Vargas, exercendo a função com eficiência e fazendo parte ao lado de Danilo Luna, Everaldo Soares, Vicente Nogueira, Everaldo Vieira, José Marcolino e tantos outros duma verdadeira Escola, onde estudantes e recém-formados recebiam os ensinamentos de suas experiências. Diretor do Departamento de Saúde do Estado, Secretaria de Saúde Estadual, Superintendente do INAMPS, foram cargos públicos exercidos com austeridade e dedicação à causa pública. Como professor universitário ajudou na formação de jovens, transmitindo os conhecimentos da especialidade. Seu relacionamento com colegas e pacientes é, sempre, pautado no código de ética e a profissão é tida como arte e não como um mercantilismo. Renaldo, que posso eu acrescentar mais, se todos aqui presentes te conhecem tão bem? Resta-me apenas, dizer-te que esta Academia passa a ser, também, a partir deste momento, tua Casa. Teus colegas que a compõem, aqui estão reunidos para, justamente, afirmar isto. Toda vez que acolhermos um novo acadêmico, sentimos a esperança de que nosso ideal se fortalece, pelo congraçamento, pela união de propósitos. Ao receber-te temos, portanto, a certeza de que, pelo teu passado e pelo teu presente, muito contribuirás para a efetivação da finalidade maior desta Casa. Sê bem-vindo Renaldo. Recebe o abraço da Academia Paraibana de Medicina.
17/10/1991
Elogio ao Patrono: Dr. ELPÍDIO JOSUÉ DE ALMEIDA. Cadeira nº 09 Por: Dr. Renaldo Romero Rangel
Hoje, Senhor Presidente, Deus concede-me a graça de aqui estar, para em sessão solene desta Augusta Casa, receber de vossas mãos o título de Membro da Academia Paraibana de Medicina. Sei o que representa este ato para mim. Profissional da medicina, já por mais de três décadas, procurei a todo custo ser fiel a mim e a minha profissão, cumprir com dignidade, o compromisso assumido com a sociedade no dia de minha colação de grau. Ao receber tão honroso convite, confesso, parei e pensei e numa análise retrospectiva encontrei-me com o passado já distante: consultei-o lenta e demoradamente, afastando as falhas naturais que sempre acompanham as grandes decisões, na preocupação constante de não cometer o pecado da vaidade. A decisão de aceitar não tardou, pois as ações e os fatos fazem história. O exercício da medicina é uma constante na vida daqueles que a ela dedicam, se muitas vezes não se consegue a palma dos homens, tem-se por certo a presença de Deus. É, portanto, a profissão que mais aproxima a criação do Criador, e “segurando na mão de Deus” cheguei até aqui e, neste momento poder dizer: “só me faltava isto, para eu cumprisse com o meu ideário”. Um retrospecto faz-se necessário para justificar esta láurea. Assim inspirado nas palavras do mestre Ossiander quando diz: “Quem só conhece o presente, não pode avaliar a originalidade das coisas novas “falo aos senhores agora sobre os caminhos por mim percorridos, e que levaram-me a realidade, as mais diversas, quando glórias e decepções, êxitos ou fracassos, nunca deixaram de ser para mim estímulos e impulsos novos e guiarem-me no campo da luta, fossem quais fossem os odores que exalassem, florais ou venenosos, o importante era continuar, era seguir os passos dos antepassados maiores, era invocar as figuras sagradas de Sorano de Efezo, que se não fôra a fúria incendiária de Omar, ateando fogo na Biblioteca de Alexandria, muita mais teria a humanidade se beneficiado de seus ensinamentos médicos”. Continuar era preciso, a história estava cheia de exemplos, Pasteur. Roberto Kock, Domag, Alexander Fleming, e tantos outros, que na busca incessante de vencer o inimigo invisível, escreveram páginas imortais e benefícios incomensuráveis que ainda. hoje a humanidade agradece e reverencia. O mundo maravilhava-se, as descobertas sucediam-se as técnicas modernizavam-se para delírio de todos. Vidas assim, não poderiam ser esquecidas e muito menos deixarem de ser lembradas, o exemplo está aí, siga-o quem quiser. O advento da anestesia, no século passado, abria perspectivas as mais alvissareiras, a dor a grande inimiga começa a ceder. O atrevimento, a audácia, a coragem e a determinação de Efrain MacDowell, nos Estados Unidos, John Bell, em Edimburgo, Eduardo Porro, em Pádua na Itália, Ambroise Parré, na França, alcançaram vôos e, qual águia audaciosa feriu mortalmente a nuvem negra que amortalhava o mundo, dando-lhe cores vivas e mais verdes em suas esperanças. O século passado dá passos importantes para as ciências médicas. A eclosão de duas grandes guerras no século atual 1914-18, 1939-45, em seu cortejo de morte e desolação, muito contribuíram para o avanço das ciências e da tecnologia, dando forma e definição a propedêutica e terapêutica modernas. O Brasil e a Paraíba acompanhavam esses progressos, as tradicionais Universidades Brasileiras, esforçavam-se no desenvolvimento científico e não tardaram surgir nomes que se imortalizariam com a contribuição que deram ao mundo. Osvaldo Cruz, Vital Brasil, Carlos Chagas, Samuel Pessoa que no campo das pesquisas marcaram para sempre as suas trajetórias luminosas. Francisco de Castro, Aluísio de Castro, Fernando Magalhães, Clementino Fraga, Miguel Couto e tantos outros, que, do alto de suas sabedorias, fizeram história e conquistaram o galardão, na consciência e na gratidão do povo brasileiro. Deixemo-los de fora, e passemos a falar dos nossos conterrâneos. Daqueles que também fizeram história, cujas inteligências legaram-nos um passado que engrandeceu as nossas tradições, alargando assim nossas fronteiras e, conseqüentemente, projetando a Paraíba, situando-a, com destaque no contexto Nacional, das Ciências Médicas.
Elpídio Josué de Almeida, patrono, nesta Casa, da Cadeira nº 09 que hoje passo a ocupar. Paraibano nascido no interior do Estado, na cidade de Areia, que fica encravada no cimo da Serra da Borborema, de clima ameno que servira também de berço a outras ilustres figuras da história da Paraíba. Filho de senhor de engenho, Rufino Augusto de Almeida e Adelaide Joconda Gondim de Almeida. Fez o curso primário na sua terra natal, deslocando-se depois para a Capital do Estado, onde, no Colégio Diocesano Pio X, estudou e concluiu o curso de humanidades. No campo do saber, sua terra exauria sua capacidade, obrigando-o a deslocar-se para Capital do País precisamente para cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano ingressou na Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha. A mudança brusca para a cidade grande, não modificou o seu entusiasmo e obstinação, ajudado por uma inteligência privilegiada, não tardou em conquistar a amizade de seus colegas que, num precoce reconhecimento, lhe fazem a seguinte dedicatória: “Levante-se essa cortina feita de modéstia em que se acha envolto Elpídio. Só assim se poderá ver nele o estudante modelo que é no mais legítimo significado da expressão. Três qualidades, qual mais nobre e honrosa, o caracterizam: Uma inteligência fora do comum, um coração bem formado, uma força de vontade sem limites. Com tais dotes de espírito, que terá dúvidas sobre sua vitória na vida? Que não seja, porém um vencedor desses que só o são porque não naufragaram em meio a jornada. Um pouco menos de modéstia e um pouco mais de audácia... Que desses filhos assim muito exigem a humanidade e a ciência, que os criam e formam para o seu próprio bem”. Elpídio de Almeida foi concluinte laureado ao fazer a defesa de sua tese de doutoramento “Contribuição ao Estudo da Eschistosomose Mansônica”. Concluída esta etapa, volta ao seu Estado. Agora como Inspetor Sanitário Rural, nomeado pelo antigo mestre, então Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública, professor Carlos Chagas. Aqui na Paraíba, o Dr. Elpídio de Almeida recebeu do Governador do Estado a tarefa de reorganizar o Centro de Saúde de Campina Grande, que se encontrava em precárias condições de funcionamento. Naquela Cidade, para onde se transferira definitivamente, contraiu núpcias com uma prima em terceiro grau Dona Adalgisa de Almeida César, tendo do casal nascido quatro filhos: Humberto César de Almeida, Orlando Augusto César de Almeida, Antonio Américo César de Almeida e uma única filha Elza Maria César de Almeida. A função pública não era sua verdadeira vocação. O exercício liberal de medicina, sua paixão maior, levou-o a instalar um consultório médico que o vincularia às atividades hospitalares. O binômio médico-paciente concretiza-se: é a força da profissão. Elpídio tornou-se toda região da Serra da Borborema, seu nome ecoava em todo Estado, sua presença era presença em todas as casas e seu vulto, vulto da esperança. O homem não traça seu destino, a gratidão e confiança de seu povo, obriga-o a desviar a rota, lhe impõem outros caminhos, uma outra forma de servir, o fazem Prefeito de Campina Grande por duas vezes e uma vez Deputado Federal. Administrador de grande fôlego, sua gestão consagrou-se pelas realizações nos campos da Saúde, Educação, sem desprezar a Agricultura, telecomunicação e as atividades sócio-culturais. Dotado de inteligência privilegiada,
Dr. Elpídio de Almeida participou ativamente da vida cultural do Estado. Ora como Conferencista de grande porte, ora como Poeta e Escritor talentoso, deixando um legado literário extraordinário em que se destacam: “Areia e a Abolição da Escravatura”, 1946, publicação comemorativa do Centenário da cidade, “História de Campina Grande”, certamente a obra prima de sua criação literária. O Dr. Elpídio de Almeida foi um homem feliz, feliz porque soube viver, feliz porque soube trazer felicidade a todos que com ele conviveram. No dia 26 de março de 1971, aos setenta e sete anos de idade, a Paraíba consternada, recebeu a notícia infaustosa de seu falecimento.
CADEIRA Nº Patrono:
18
Dr. JOÃO SOARES DA COSTA FILHO
Data de posse: 22/10/1992 Ocupante: Gilvandro Assis Saudação:
José Eymard Moraes de Medeiros
22/10/1992
Saudação ao: Dr. GILVANDR0 ASSIS Cadeira nº 18 Por: Dr. José Eymard Moraes de Medeiros
Senhor Presidente da Academia Paraibana de Medicina Prof. Eugênio de Carvalho Júnior,
Novel Acadêmico Gilvandro Assis “O médico é ao mesmo tempo um santo, um sábio e um louco, pois o exercício de sua profissão exige dele o idealismo generoso dos santos, o douto discernir dos sábios e o arrojo temerário dos loucos”. Profº José Gerônimo Leite. Manhã do dia 04 de setembro de 1924. Na residência do Sr. José Gonçalves de Assis e Sra. Maria da Silva Assis, localizada na antiga de cidade de São José de Piranhas, hoje submersa na bacia do açude de Boqueirão, a correria era geral. Dono DORINHA estava preste a ter mais um filho, o terceiro da sua crescida prole. Seu Zé de Assis já providenciara os 40 frangos e capões, vindos da Fazenda Acauã, que no chiqueiro, aguardavam pacientemente o momento de serem transformados em suculentos remates, para durante o resguardo, alimentarem aquela mãe sertaneja, proporcionando-lhe farto leite-de-peito, responsável pela alimentação do bruguelo prestes a nascer, nos primeiros meses de vida. Ao cair da noite, vinha ao mundo, naquele rincão do sertão nordestino, coberto da fartura de legumes (milho, feijão e arroz) e do bendito ouro branco – o algodão – graças à generosidade do inverno do ano de 1924, considerado ainda hoje pelos mais velhos como o melhor inverno de todo o século, o nosso homenageado: Gilvandro Assis. O menino se desenvolve rapidamente, saudável, graças ao clima sertanejo onde a luminosidade do sol e a brisa trazida pelo Aracati substituem qualquer Vitamina D. Aos 6 anos, já se encontra com seus pais residindo na Cidade de Cajazeiras. É que a SECA, a inseparável companheiro do nordestino, volta a assolar todos os Sertões, tendo aparecido um Ministro do Governo Federal com a idéia de construir grandes açudes, procurando desta maneira reverter o quadro da estiagem. Sendo assim, o rio Piranhas seria barrado em Boqueirão, e a pequenina São José seria afogada em suas águas. Desde cedo Gilvandro demonstra o gosto pelos estudos. Rapidamente aprende a ler ingressando logo a seguir no Colégio Salesiano Padre Rolim, onde faz os estudos de 1º Grau. Espírito introspectivo, sempre ligado nos livros, Gilvandro preocupava-se bastante com as meninas que vinham desenvolver seus folguedos, pulando corda e brincando CADEMIA, nas calçadas de sua casa. Dentre elas destacava-se uma lourinha, filha de Seu Batista que tinha o nome de JANDIRA. Devido à seriedade com que encarava os estudos, associado ao ar carrancudo que aparentava, apesar da pouca idade, as meninas começaram a lhe chamar de “O Velho”, apelido este que mais tarde se generalizou por toda a família. No início da década de 40, deixa Cajazeiras e parte para a capital pernambucana, para dar início aos seus estudos no Pré-Medico, no velho educandário Carneiro Leão. A viagem Cajazeiras/Recife foi uma verdadeira epopéia, tendo que enfrentar as estradas de barro e pedregulho na boléia aberta de um potente Ford Cara branca, marca que seria depois distribuição da loja de seu Zé de Assis nas terras de Cajazeiras e do alto Piranhas. Aprovado com distinção no vestibular para a tradicional Escola de Medicina do Derby, Gilvandro saiu-se brilhantemente na prova escrita, oral e prática, coisa que não foi surpresa, pois durante toda vida estudantil, sempre obteve os primeiros lugares. Na Faculdade do Recife, teve como companheiros de turma, vários expoentes da Medicina nordestina. Vanildo Pessoa, Maria de Lourdes Britto Pessoa e Aluízio Pereira foram colegas seus oriundos da Paraíba. Podemos ainda lembrar os pernambucanos Perseu Lemos, Antonio de Souza Costa (Antônio Proteínas), Luiz Ataíde (Neurologista) Adamastor Lemos e tantos outros. Durante o período na Faculdade, Gilvandro demonstrava grande aptidão para a Clinica Médica freqüentando com assiduidade seus serviços, onde teria a oportunidade de conviver com o iniciante professor Djalma Vasconcelos, que mais tarde viria a ser um marco na formação não só do apresentador como também o apresentado. Nos momentos de folga nas tardes ensolaradas dos
domingos, acompanhava os colegas para no pátio do Quartel do Derby assistir ao jogo de futebol entre as equipes do Shigella e da Sombra formados por estudantes da Faculdade de Medicina. Em 08 de dezembro de 1948, concluiu brilhantemente o Curso de Medicina, com solenidade de colação de grau no Velho Teatro Santa Isabel e baile de formatura no tradicional Clube Internacional do Recife. Na ânsia de ampliar novos horizontes do saber, embarca para São Paulo dirigindo-se à Santa Casa de Misericórdia de santos, para fazer o que hoje denominamos de Residência Médica. Tempos difíceis são enfrentados pelo jovem médico, residindo no próprio Hospital, tendo folga apenas a cada duas semanas, quando se dirigia através do ônibus da Viação Cometa até a cidade de São Paulo, mais precisamente à casa de sua tia DORKAS, casada com Luiz, irmão daquela menina de tranças cor de ouro que conturbava seus estudos, brincando de Cademia. Por coincidência, a menina se fizera moça e quis o destino que, com o falecimento da sua genitora, fosse morar com o seu irmão em São Paulo, para tentar maior chance de trabalho na cidade grande. Jandira havia cursado o normal no Colégio das Dorotéias em Cajazeiras e, chegando em São Paulo, conseguiu emprego de arquivista na Faculdade de Medicina. As vindas de Gilvandro tornaram-se mais freqüentes na casa da tia. A presença da exnormalista procurou quebrar um pouco a solidão do jovem paraibano. Por coincidência naquela época, Nelson Gonçalves lançava um disco, onde numa das faixas do 78 rotações, tinha a música Normalista. Vestida de azul e branco Trazendo um sorriso franco Num rostinho encantador... Minha normalista Rapidamente conquista Meu coração sofredor... Passou a ser um dos solfejos preferidos por Dr. Gilvandro nos corredores da centenária Casa de Misericórdia ou durante a longa viajem subindo a Serra do Mar, em direção à velha cidade de Piratininga. Em 08 de julho de 1952, na Igreja de São Francisco, próximo ao local onde nasceu a cidade, era realizado o casamento, em cerimônia simples, daquele casal de paraibanos que, como milhares de outros no futuro, viriam procurar a grande metrópole. Passando a “lua-de-mel” em Poços de Caldas, retorna a casa da tia Dorkas, na Lins de Vasconcelos, perto do Cambuci, onde vai decidir o rumo da vida a tomar. O compromisso assumido com seus pais de prestar-lhes assistência quando formado e o amor pelo solo nordestino o faz recusar uma proposta do seu cunhado Zeca de dirigir um hospital no interior do Estado de São Paulo e de um consultório montado na Paulicéia. Graças à interferência de Antonio Carvalho, casado com sua tia Lídia, residente no Recife, é convidado pelo então deputado estadual de Pernambuco, Nilo Coelho, a ir dirigir um hospital localizado em Petrolina, ás margens do São Francisco, fronteira com o Estado da Bahia, que é ligada a Juazeiro pela ponte. O convite é aceito, embarcando no porto de Santos no navio ROSA DA FONSECA, em direção ao Recife. Tem início uma nova fase na vida do médico Gilvandro Assis. Por quase 4 anos foi Diretor Chefe de Clínicas do Hospital Regional de Petrolina, com clínica montada tanto nesta cidade como na cidade de Juazeiro. Como médico de interior além da Clínica Médica, teria que desempenhar a Pediatria, a Toco-Ginecologia e até mesmo a Cirurgia. Neste particular, a bem da verdade, é necessário lembrar que Gilvandro desenvolveu bastante os
seus conhecimentos, quase chegando a Gastroenterologia a perder para a cirurgia um dos seus mais ilustres representantes. É que na cidade de Juazeiro existia o único cirurgião abdominal da região, o Dr. MUCINE, casado com Izaura. Gilvandro começa como Auxiliar de Cirurgia, mas logo as aptidões vão aflorando no jovem clínico e o mesmo começa a praticar sozinho, cirurgias de abdome inferior, desde apendicectomias e cesáreas de urgência, chegando às hernioplastias sub-totais eletivas. No entanto, suas preocupação pela clínica e as facilidades encontradas junto ao pessoal da base aérea de Petrolina, deslocava-o anualmente para São Paulo onde realizava cursos de atualização em Clínica Médica e Gastroenterologia, procurando se reciclar. Em 1959, resolve voltar a sua querida Paraíba. A experiência acumulada nos 4 anos de interior e o razoável “pé-de-meia”, sempre controlado pela dedicada Jandira, serviram de base para enfrentar a nova vida na Capital. Fatores outros influíram em tal decisão: o aparecimento das filhas já nascidas no Recife, Maria Lúcia e Tânia Maria e a aspiração de ingressar na recém criada Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba. Tendo chegado a João Pessoa a 13 de junho de 1956, enfrenta de início as dificuldades próprias da falta de ambientação. Ingressa como médico do Estado, indo trabalhar no Posto de Umbuzeiro, próximo à Cruz das Almas e aos sábados – começa a clinicar na cidade de Sapé – aproveitando o dia da feira local. No início do ano de 1958, instala seu consultório no 1º andar do sobrado existente na Peregrino de Carvalho, nº 102, ao lado da Sede do Cabo Branco. Vida Universitária O amor pelos estudos a bagagem de conhecimentos científicos e a vontade de transmiti-los fizeram de Gilvandro um professor nato. Tendo sido convidado para ingressar na Faculdade de Medicina, teve sua indicação aprovada na reunião do C.T.A. de 28/03/1957, para assistente de 1ª Cadeira de Clínica Médica, iniciando suas funções naquela mesma data. No entanto, só através da Portaria nº 7 do Diretor Lauro Wanderley, datada de junho de 1969 é que foi oficializada sua nomeação como 1º assistente da Cadeira de Clínica Médica, o que equivale a dizer que, por mais de 3 anos, serviu à Universidade sem auferir qualquer remuneração. Em 1962, através da Portaria 595 de 07/05/1062 é admitido como Instrutor da mesa disciplina tendo tomado posse à 04/04/1963. Em 11/02/1972, o Reitor Humberto Nóbrega assina a Portaria R/DP/107 para exercer o cargo de Professor Adjunto. O Diretor da Faculdade de Medicina, Professor Antonio Dias o nomeia para presidir a Comissão de Pesquisas do Hospital Universitário (06/04/1972). O Reitor em exercício, Dr. Dias, o nomeia para responder temporariamente pela Chefia do DMI. De 1981 a 1990, responde pela Coordenação da Disciplina de Endocrinologia, tendo sido designado, em 06 de outubro de 1988, por ato do Reitor Antonio Sobrinho Chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário. Em 07/11/1990, o Reitor Antonio Sobrinho, através da Portaria R/DP/1075, aposenta-o do cargo de Professor Adjunto IV T/40 do quadro de pessoal da Universidade Federal da Paraíba. O Educador Afora a parte administrativa, o Prof. Gilvandro Assis fundou a Escola de Gastroenterologia, sendo hoje o decano desta especialidade em nosso meio. É com orgulho que procuramos nos inspirar no seu comportamento, na sua maneira de atender ao paciente, pensando muito mais no doente que na doença. É nele que a Gastroenterologia paraibana tem suas pilastras. O tempo em que convivemos na sala apertada do ambulatório Desembargador Novaes, na Enfermaria Santa Ana do velho Santa Isabel, na salinha de Radiologia, junto ao Seu Venâncio Ló, fazendo esplenoportografias – marcaram em muito a minha formação profissional.
Quero neste momento agradecer de público ao mestre pelos ensinamentos. Aliás, merece ser registrado que foi o Professor Gilvandro quem introduziu em nosso meio a esplenoportografia e a biópsia hepática com agulha, técnicas propedêuticas para aquela época extremamente avançadas. Dezenas de trabalhos científicos foram apresentados pelo Dr. Gilvandro nos Congressos médicos realizados na Paraíba e nos Congressos Nacionais de Gastroenterologia, realizados em Fortaleza, Recife, etc. merece, no entanto, ser lembrado o trabalho apresentado no 1º Congresso Médico da Paraíba, quando da administração do Prof. Vanildo Pessoa, na Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, cujo título “Discinesias Biliares”, tendo sido considerado pela Comissão Organizadora como o melhor trabalho do Congresso. No biênio 1972/1973, o Prof. Gilvandro dirigiu a Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição da Paraíba, na qualidade de presidente. O Chefe de Família Casado com a Sra. Jandira Campos de Assis, tinha como hobby, além do trabalho e do estudo, cuidar dos jardins da sua residência. Pai de 03 filhas Maria Lúcia, Tânia Maria e Kátia Maria e do filho Fernando Antônio, por todos é considerado um pai exemplar, carinhoso a sua maneira, exigente e perfeccionista, principalmente nos estudos. Como avô o Gilvandro Assis Neto, mexe com as cordoalhas do seu coração. Marcelo, Pedro e principalmente Janine e Karine têm no vovô Gilvandro o Pai que todo filho gostaria de ter. Para finalizar, gostaria de fazer minhas as palavras do poeta Khalil Gilvran, falando sobre o mestre: “Nenhum homem poderá revelar-vos nada senão o que já está mio adormecido na aurora do vosso entendimento. O mestre que caminha à sobra do templo, rodeado de discípulos, não dá de sua sabedoria, mas sim de sua fé e de sua ternura. Se ele for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na mansão do seu saber, mas antes vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente. E assim, como qualquer de vós se mantém só no conhecimento de DEUS, assim um de vós deve ter sua própria interpretação das coisas da terra.
José Eymard Moraes de Medeiros Homenagem ao Acadêmico GILVANDRO ASSIS.
22/10/1992
Elogio ao Patrono: Dr. JOÃO SOARES DA COSTA FILHO. Cadeira nº 18 Por: Dr. Gilvandro Assis
Por ocupar a cadeira nº 18 da Academia Paraibana de Medicina, tive a felicidade de ser o responsável pelo elogio ao patrono Dr. João Soares da Costa Filho. Digo feliz, porque Dr. João Soares, como todos o chamavam, passou a ser meu companheiro de conversas, quase diárias, a caminho dos nossos consultórios, que eram quase vizinhos, bem próximos do setor social do Clube Cabo Branco. Viveu nesta cidade o curto período entre 1931 a 1965, quando neste ano veio a falecer. Exatamente em 16-07-1965 ocorre o seu passamento, em sua residência, na Av. D. Pedro-I, aos 61 anos de idade, de um AVC. hemorrágico fatal. Assim, desapareceu, em definitivo do convívio de todos, o nosso admirável patrono. A notícia de sua morte se espalha rapidamente pela cidade provocando um impacto e uma comoção em todas as camadas sociais da cidade – se os ricos e a classe média choravam o seu desaparecimento, mais ainda as classes pobres, as mães carentes e desvalidas, com suas proles numerosas, chegavam ao desespero pela morte do médico e guardião de seus filhos que o tinham como um Pai grande. A cidade ficou de luto e seu sepultamento teve um enorme comparecimento, o maior já registrado, até então, em João Pessoa, só ultrapassado, anos depois, com o funeral do carismático Padre Zé Coutinho, em novembro de 1973. Nasceu em 24-06-1904, na Vila Lagoa de Remígio, hoje cidade de Remígio. Filho de João Soares da Costa, conhecido como Joca Soares, este casado com sua prima Adélia, no primeiro matrimônio, de cuja união nasceram os filhos: Adauto, João, Diomedes, Rita e Aurélio. Do segundo
matrimônio teve 01 filho de nome José. Em Remígio terminou os seus estudos primários. Após, transferiu-se para João Pessoa aonde fez o curso ginasial, no Colégio Pio-X. Após o ginasial, transferiu-se para Salvador-BA, quando então preparou-se para o exame Vestibular. Diferente do que desejavam os seus pais que seguisse medicina, anunciou que prestaria exames para Engenharia Civil, para desgosto de seus familiares. No entanto, após a conclusão desses exames, passou um lacônico telegrama para o seu genitor que havia feito o vestibular para medicina e que tinha sido aprovado. Matriculou-se na Faculdade de Medicina de Salvador-BA. Passou a cursar as suas etapas. Quando fazia o 3º ano, no ano de 1927, recebe a trágica notícia do assassinato do genitor e do seu irmão, Aurélio. Ambos se encontravam dentro do próprio estabelecimento comercial ao lado do outro irmão, o mais velho, Adauto, escapou milagrosamente da chacina realizada por assassinos de aluguel, face a questões políticas. João Soares, ainda muito jovem e influenciado pela cultura da sociedade de sua terra natal, pensou logo em vingança nos termos de “olho por olho, dente por dente”, o que iria inutilizar sua carreira acadêmica. Arquitetou planos, entretanto, fôra aconselhado pelo vigário de sua terra natal. Rendeu-se à esses aconselhamentos e lêra muitas vezes o Salmo 36, 2, que diz “Os mansos possuirão a Terra e nela gozarão de imensa paz”. Assim, esqueceu a vindicta planejada. Terminou o 3º ano em Salvador-BA e transferiu-se para a Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, aonde prosseguiu seus estudos. Passou a ter dificuldades financeiras com a ausência do seu genitor. Com esforço e dedicação foi aos poucos superando-as: plantões em hospitais, em clínicas particulares diversas e estudando com afinco e vontade de vencer. Fez vários cursos de ciências médicas, estágios diversos que lhe deram grande cabedal de conhecimentos, especialmente em Pediatria, pois sempre sentiu-se atraído pela medicina das criancinhas. Finalmente, em 20-12-1930, pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, o Dr. João Soares da Costa Filho, era diplomado médico. Retornou à Paraíba no ano de 1931. Instalou o seu primeiro consultório médico em um edifício do Ponto de Cem Réis, acima do antigo Café Alvear. Casou-se em João Pessoa com a Da. Maria Carmem Beltrão Cantalice, em 19/05/1934. Desse consórcio nasceram 4 filhos: Rejane, Dr. Fernando, Dra. Mariana e Ronaldo, já falecido. Tem um irmão do 2º casamento do seu pai, o Dr. João Soares Júnior, O nosso patrono, aqui instalado, logo formou alto conceito profissional, pela sua competência, sua dedicação às crianças, especialmente àquelas da periferia, as desfavorecidas. “As instituições logo o procuraram, foi acumulando responsabilidades”. Passa a ser médico do Instituto de Assistência e Proteção à Infância, médico da Assistência Municipal, médico legista da Paraíba, médico da Secretaria de Saúde da Paraíba. Recebe a patente de Capitão Honorário da Força Policial da Paraíba. Representa a Paraíba no III Congresso Pan-Americano de Pediatria, em Buenos Ayres – Argentina. Médico da LBA. Vai ao Rio de Janeiro aonde durante alguns meses faz um curso de Puericultura. Retorna a João Pessoa e aqui funda o Centro de Puericultura de Cruz das Armas, que passou a ser o que mais o empolgava, o ícone das suas atividade. Face à dedicação a esse Centro, teve a feliz iniciativa de criar o Banco de Leite Humano, o primeiro de todo o Nordeste brasileiro. Esse Banco passou a servir não só às criancinhas pobres, preferencialmente, mas também às crianças da mais alta sociedade de João Pessoa. Algum tempo depois, funda o “Clube das Mães” e uma “Creche”. Para estimular a doação de leite materno cria um prêmio para a melhor ordenha mensal. Consegue fundos para a construção do Hospital Infantil de Cruz das Armas, em terreno vizinho ao Centro de Puericultura. Por indicação de todos o hospital foi inaugurado com o nome de Hospital Infantil Dr. João Soares. Pouco tempo depois cria no hospital o Centro Cirúrgico Infantil, o 1º existente na Paraíba. Apesar de todas as atividades que exercia ainda reservava tempo para escrever, semanalmente, uma crônica na Imprensa local, com o título de “Carta às Mães”. Eram conselhos práticos de pediatria e puericultura ao alcance do povão.
Tentou participar da vida política partidária da cidade em fins da década de 1950 candidatando-se a vereador pelo PSB. Não obteve sucesso. Nessa época os analfabetos ainda não tinham direito de votar. O João Soares era homem de trato suave, bondoso e muito comunicativo. Recebia os amigos, entre os quais me incluo, com demonstrações de afeto e alegria. Entre os seus amigos mais íntimos destacamos o saudoso Prof. Atíllio Rotta e o Sr. Arnaldo Van Shosten. O primeiro pôs à sua disposição uma sala, para seu consultório, em edifício de sua propriedade, localizado na esquina das ruas Miguel Couto com a Av. Visconde de Pelotas, sem pagamento de aluguel, nem quaisquer taxas. O segundo, Arnaldo Van Shosten, proprietário de uma empresa de turismo, incentivou-o a fazer viagens para a Europa, fazendo as maiores concessões. Foi algumas vezes ao Velho Mundo. Em Lisboa, passou a ser “Pessona Grata” de uma casa de Fados, sempre recebido com palmas. Era um boêmio, no bom sentido, um romântico”nunca se venderia pelo ouro, mas seria capaz de derramar uma lágrima por um olhar suplicante”. Por todos os méritos, por sua vida extraordinariamente produtiva a favor das criancinhas desvalidas, consideramos o Dr. João Soares da Costa Filho um dos maiores pediatras que a capital paraibana teve o privilégio de abrigar. Viveu com mérito.
CADEIRA Nº Patrono:
08
Dr. EDRISE DA COSTA VILLAR
Data de posse: 12/11/1992 Ocupante: Clóvis Beltrão de Albuquerque Saudação:
Orlando Cavalcanti de Farias
12/11/1992
Elogio ao Patrono: Dr. EDRISE DA COSTA VILLAR. Cadeira nº 08 Por: Clóvis Beltrão de Albuquerque
Introdução Ao chegar em João Pessoa em Maio de 1954, jovem e esperançoso, não poderia imaginar que um dia seria honrado com um convite para ser titular da Academia de Medicina da Paraíba. Até hoje, não sei o motivo da minha escolha. Acredito que, talvez, pelo fato de ter sido um dos pioneiros da Anestesiologia na Paraíba, tenha tido oportunidade de atender à maioria das famílias dos médicos desta terra, ou pelas amizades que soube conquistar durante toda a minha vida profissional. Sinto-me feliz e emocionado, nesta noite festiva, sabendo porém, que é difícil cumprir com nas normas da Academia. Até me pergunto, que venho fazer nesta casa? Sabendo que por aqui passaram historiadores famosos da vida médica como Humberto Nóbrega e Maurílio de Almeida. Dentro das minhas limitações, porém, irei tentar mostrar aos presentes, os aspectos positivos deste cirurgião que fez escola em João Pessoa e ainda hoje é lembrado por todos - o Patrono da Cadeira número 8 – Edrise da Costa Villar, cuja memória honra-me falar. Origem Familiar Edrise da Costa Villar era filho do Cel. Do Exército João da Costa Villar e de Maria Amável Souto Villar. Seu pai era Paraibano, nascido na Várzea, na Paraíba, no Engenho Ubim. Era um oficial do Exército brilhante, tendo exercido na sua atividade militar várias funções de chefia de comando no Amazonas, no Ceará, em Pernambuco, onde foi comandante do forte do Paiol da Pólvora no Brum, em Recife, e na Paraíba, comandante da Polícia Militar, e fundador e organizador do Corpo de Bombeiros de João Pessoa.
Sua mãe era Pernambucana nascida na cidade de Olinda. Do casal nasceram quatorze filhos, sendo criados 13. Edrise era o mais velho. A família era pobre devido ao grande número de descendentes e em face do falecimento prematuro do chefe da casa aos 52 anos. Dona Amável era mulher dinâmica e lutadora, assumiu a família e conseguiu educar e orientar todos os filhos. Edrise nasceu no Ceará, em Fortaleza, no dia 19 de outubro de 1896, Cearense por acaso, em razão de o seu pai ser militar, porém viveu toda a sua vida em João Pessoa, era paraibano de coração.
O Estudante Fez curso primário no Colégio Pio X como bolsista, em face do seu pai como militar, orientar o setor de ginástica e esporte daquele educandário. E o ginásio no Liceu Paraibano como brilhantismo. Ao mesmo tempo, trabalhava como empregado no comércio em uma firma de exportação de Júlio Von Sohsten. Sendo muito esforçado aprendeu a falar inglês com Júlio e Oliver Von Sohsten. Com o ordenado que recebia, ajudava seus pais, e, ainda, economizou nove contos de réis. Com este dinheiro tomou um navio de carga no dia 5 de janeiro de 1918 e partiu para o Rio de Janeiro com o ideal de estudar medicina. Lá chegando, pensou várias vezes em voltar. O Rio em relação a João Pessoa era uma enorme cidade, onde não tinha parentes, nem amigos. Nos primeiro dias sentiu muitas saudades dos seus pais, dos irmãos e dos amigos que deixara. Encontrou depois um companheiro que lhe deu a mão, o amparo de que tanto precisava, Cláudio Oscar Soares. Em fevereiro de 1918 enfrentou as bancas examinadoras do vestibular da Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Sendo aprovado, iniciou seus estudos médicos em março daquele ano. No início, tudo era novidades, as aulas de anatomia, os novos colegas..., porém, quando chegou no terceiro ano, para a sua infelicidade e tristeza, o dinheiro que tinha levado acabou. Como era um bom estudante, para a sua salvação, conseguiu ser acadêmico residente no Hospital Muller Rei. Recebia em pagamento comida, dormida e uma pequena gratificação. Precisava porém, de mais algum dinheiro para roupa, passeios e livros. Arranjou uma maneira diferente e engraçada de consegui-lo. Alguns colegas de curso tinham medo de alma, assombração, receio de ficar sozinhos, no necrotério. Edrize dizia que tinha coragem de dormir junto com os cadáveres. Fazia aposta, dormia a noite toda apesar das pedras que os amigos atiravam em cima do anfiteatro. Pela manhã, após acordar descansado e tranqüilo recebia o dinheiro dos amigos medrosos. Foi interno na maternidade das Laranjeiras e do serviço do Professor Brandão Filho a quem muito admirava. Vida Familiar No ano de 1927, João Pessoa, era uma pequena cidade, cujo transporte coletivo mais usado era o bonde. Ainda existia o romantismo, as retretas, e os aspectos poéticos da época. Certa vez, Edrise tomara o bonde das trincheiras e ao passar em frente a uma casa grande de varanda avistou a moça dos seus sonhos. Os dois se entreolharam e daí começou o namoro com Maria do Carmo Maia Vinagre. Carminha era uma moça da alta sociedade, bonita, prendada, bem educada, filha de pais ricos, Leonardo de Maia Vinagre e Maria Elisa Maia Vinagre.
No dia 30 de junho de 1928, a cerimônia do casamento era realizada na residência dos pais da noiva situada à praça Venâncio Neiva número 61 onde, hoje, está edificado o “Fórum Arquimedes Souto Maior”. O enlace matrimonial foi realizado às dezessete horas com todas as pompas e rigores da época. Serviram de testemunhas os doutores: Demócrito de Almeida, Secretário do Estado e sua consorte Maria Amélia Vinagre Almeida, Clemente Rosas Despachante Geral da Alfândega e sua esposa Dona Eutália Souto Maior Rosas, Heitor Gusmão e Marli Villar (sua irmã mais velha, ainda viva), Flávio Maroja e Maria da Purificação Maroja, Samuel Souto Maior e Maria Éster Souto Maior. Os amigos e invejosos da época comentavam ser ele um médico de sorte, recebera uma esposa e uma casa mobiliada com uma dispensa cheia de alimentos para um mês. Esta casa é situada na Rua das Trincheiras 634, em frente à Rua Mateus Záccara. Ali viveu por toda vida. Construíram um lar exemplar, muito unidos, sempre apaixonados, deste casamento nasceram quatro filhos: Hélio Vinagre Villar, casado com Cinele Cavalcante Villar, médico que deu continuidade com brilhantismo aos trabalhos do seu pai em Campina Grande (já falecido), Edrise Vinagre Villar, casado com Marília de Melo Villar, médico anestesiologista, conceituado nesta cidade, Maria Daisy Villar Beltrão, Assistente Social (minha esposa), Maria Germanda Villar Link formada em filosofia, casada com o Engenheiro Gunter Link residente no Equador. Vida Social Apesar do seu temperamento trancado, tinha uma vida social muito ativa na época. Gostava muito de festas caseiras, aniversários, almoços dominicais, carnaval e festas sociais dos clubes. Foi presidente do Clube Cabo Branco, por duas vezes, ainda hoje é comentário nas reuniões da Duque de Caxias, as festas memoráveis realizadas na sede de Jaguaribe com a orquestra Tabajara de Severino Araújo, tocando seus sambas, choros e blues. A honestidade e a moral predominavam na diretoria. O diretor social e toda a diretoria trabalhavam nos bailes, controlando os associados a fim de evitar os exageros no salão com beijos e abraços apertados. Tinha verdadeira adoração pelo clube. Todas as terdes lá estava cercado pelos seus amigos prediletos: Ivo Borges, Ednaldo Pedrosa, Atílio Rotta (galego), Antônio Dias, André Cavalcanti e outros. Após a reunião, ciente de todas as novidades tomava seu café costumeiro e ia para o seu consultório num velho sobrado situado na rua Duque de Caxias, onde hoje se encontra construído o edifício Cinco de Agosto. Já nos últimos anos de vida, fez uma grande amizade com o médico poeta Eugênio de Carvalho presidente desta Academia com quem jogava xadrez no Cabo Branco. Seu divertimento predileto era o cinema. Gostava de todos os gêneros de filmes. Sempre à noite, ia ao Rex, onde tinha o seu lugar separado. Era um grande admirador da dupla cômica “o Gordo e o Magro”. Começava a rir antes da sessão começar. Só em ver o cartaz da fita na sala de espera. Gostava de todos os esportes, principalmente o futebol, era torcedor do Botafogo, apesar de haver criado um clube que disputou um Campeonato Paraibano: o “Brasil Football Club”, cujos jogadores na maioria era formada por soldados da Polícia. Vida Médica Formou-se na turma de 1924, para receber o título de doutor defendeu a tese intitulada: “Tratamento das Úlceras Varicosas”, sendo aprovado com distinção. As primeiras atividades médicas foram exercidas como médico assistente do hospital da Marinha da Capital do Distrito Federa, onde permaneceu por três anos.
Em março de 1927 volta para a Parahyba do Norte, hoje João Pessoa. Aqui chegando foi recebido de braços abertos pelo colega: José de Seixas Maia, José Maciel, Newton Lacerda, Otávio Soares, Oscar de Castro, Lourival Moura e outros. Começou a trabalhar no hospital Santa Isabel levado por Seixas Maia e José Maciel. Devido ao seu espírito de trabalho, dedicação e capacidade, pouco tempo depois passou a chefiar a Clínica Ginecológica daquele nosocômio. Durante toda a sua vida dedicou os seus conhecimentos e trabalhos aos indigentes da enfermaria Santa Rosa, com sacerdócio e amor sempre acompanhado da irmã Benigna. Organizou um serviço exemplar contando com apoio dos colegas, das religiosas da Sagrada Família e da ajuda financeira do comércio, amigos e parentes. Por ali passaram muitos cirurgiões que continuaram o seu trabalho como: Francisco Porto, Aquiles Leal, Orlando Farias, Herul Holanda de Sá, Pedro Palitot e outros. Entrou como membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, apresentado pelo seu grande amigo José Maciel. Foi eleito presidente daquela instituição em 1934. Era assíduo freqüentador das reuniões científicas tomando sempre parte nos debates. Apresentou entre outros os seguintes trabalhos: Estudo das Retites Estenosantes, Seringa Vesical de Guyon tipo Record, Minha Seringa para Transfusão de Sangue e Observação de uma Prenhez após Ligadura de Trompa. Foi o primeiro diretor da maternidade Cândida Vargas. Acompanhou a construção, desde o início dos trabalhos. Diariamente visitava as obras e contribuiu com a sua experiência na solução de problemas que surgiam. Era médico concursado da polícia militar. Foi chefe do serviço médico durante muitos anos. Organizou o hospital da polícia militar que funcionava em um prédio junto ao Hospital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia, onde, hoje funciona a escola de enfermagem Santa Emília de Rodat. Ali teve a oportunidade de trabalhar com excelentes colegas que vieram depois, mediante concurso: Asdrubal de Oliveira, Atílio Rotta, Roberto Granville e o cirurgião dentista Ednaldo Pedrosa. Usava sua grande amizade com o general Ivo da Fonseca Borges, comandante da Polícia Militar por várias vezes, para conseguir verbas estaduais e outras ajudas para manter aquele nosocômio. Trabalhou ali, até os seus últimos dias de vida. Em maio de 1950 na Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, tomou parte na reunião da fundação da Faculdade de Medicina. Apesar de já bastante doente foi convidado para ser professor de técnica cirúrgica. Aceitou o desafio, fundou a disciplina que teve como assistente o doutor Herul Holanda de Sá. Exerceu com eficiência a cátedra até a morte. Pioneirismo Segundo descrição de Humberto Nóbrega em 1930, instalou e dirigiu um banco de sangue para atender aos soldados legalistas no episódio de Princesa. Foi introdutor da seringa Joubé tendo salvado vários pacientes com hemorragia, incluindo entre eles a sua esposa Carminha, numa hemorragia pós-parto em 1945. Era um estudioso, todas as noites costumava ficar em sua cadeira de balanço, no terraço de sua casa, lendo as revistas médicas nacionais e internacionais. Era assinante da revista francesa “La Presse Médicale”. Vivia sempre atualizado. Quando cheguei a João Pessoa, vindo do hospital das Clínicas de São Paulo, na época, o maior centro médico da América do Sul, tinha tomado parte em um trabalho sobre hibernação que era tema do congresso mundial de anestesiologia naquele ano de 1954. Para minha surpresa nos primeiros encontros que tivemos, ele me descreveu as técnicas e as associações medicamentosas utilizadas por Laborit, na França. Meses depois, fazia hibernação no Hospital Santa Isabel em sua Enfermaria Santa Rosa.
No mesmo ano, usou em João Pessoa na maternidade Cândida Vargas, o coquetel de Laborit no tratamento da eclâmpsia, uma novidade na época. Foi o primeiro diretor de hospital a comprar um aparelho americano de anestesia moderno, Hidebrink. Era um entusiasta da anestesiologia e deu-me um grande apoio e ajuda quando cheguei. A doença Em maio de 1938, fazendo uma revisão médica nos soldados da polícia, em Campina Grande, contraiu febre tifóide. Os colegas da cidade se movimentaram para salvar o cirurgião. Edrise não se submeteu aos banhos indicados para baixar a febre. A uréia subiu e o quadro era desesperador. Newton Lacerda, Lourival Moura e o amigo Ernesto Silveira, a uma hora da madrugada colocaram Edrise delirando, dentro de um automóvel e o internaram na colônia Juliano Moreira. Dizia Lourival Moura que o bom amigo Ernesto torcia-se de dor das pancadas que levou, mas agüentava firme o desconforto do carinho. Teve uma convalescença demorada e as seqüelas da doença o acompanharam até a morte. No dia seis de julho de 1956 a cidade amanheceu de luto, o seu grande cirurgião Edrise da Costa Villar, falecera em sua residência na noite do dia cinco, rodeado de amigos, colegas e parentes. Foi sepultado no cemitério Senhor da Boa Sentença com honras militares e Humberto Nóbrega fez o discurso fúnebre em nome dos colegas da Faculdade de Medicina que ajudara fundar. O médico Ninguém descreve melhor Edrise Villar que seus amigos, Atílio Rota, Humberto Nóbrega, Vicente Nogueira Filho e Eugênio de Carvalho. Atílio em seu discurso de paraninfo da turma de 1959 afirmava: “a cirurgia era inegavelmente o seu lema, a sua bandeira de luta, o seu padrão de glória e por isso a escola que fundou distende-se pelo tempo, prossegue ainda hoje em sua trajetória como afirmação mais legítima e autêntica da medicina e da cirurgia da nossa terra”. Humberto Nóbrega no seu livro “As Raízes das Ciências da Saúde na Paraíba” escreve: “Edrise no mundo profissional atingiu o ápice. Fez da medicina, perdoe-nos o lugar comum, um sacerdócio e a exerceu com segurança, proficiência e extrema dedicação”. Vicente Nogueira Filho, um dos médicos mais sérios e dignos da Paraíba o discípulo de que Edrise tanto se orgulhava, relata em seu livro a ser publicado: “Edrise era um homem sério e sisudo, mas que tratava sempre os colegas, dentro dos padrões da mais refinada educação. Portador de uma paciência inesgotável tratava os pacientes não contribuintes do hospital Santa Isabel e da Maternidade Cândida Vargas, com carinho e desvelo de um pai de família. Quem visse o Dr. Edrise, com sua sisudez (exceção dos amigos íntimos) jamais poderia avaliar a grandeza do seu coração e sua abnegação que dedicava aos mais carentes. Comportamento esse que serviu de orientação para os meus passos na especialidade começava. O célebre escritor Francês Honoré de Balsac dizia: “a glória dos cirurgiões assemelha-se à dos atores, que só existe quando vivos e cujo talento não mais é apreciado desde que deixem de existir”. Como o meu Patrono isto não aconteceu, porque seus amigos, seus colegas, seus clientes e seus alunos continuam divulgando o seu valor, os seus exemplos e sua grande contribuição à medicina de nossa terra. Edrise Villar
Eugênio de Carvalho Júnior Foi grande cirurgião paraibano, cujo nome esta terra há de guardar. Ensinou, fez escola, foi humano, tudo o que soube aos outros quis legar. Sua vida foi um labor insano, um eterno e contínuo trabalhar. Quem nasceu pra ser grande, duro engano, só morto poderia descansar! Foi um bom, foi um justo, foi um forte, que enfrentava, sereno, a própria morte que, derrotada, fez correr, eu vi, Quando, dotado de poder divino, fez mudar, muitas vezes, um destino, com golpes firmes do seu bisturi!
CADEIRA Nº Patrono:
26
Dr. LUCIANO RIBEIRO DE MORAIS
Data de posse: 03/12/1992 1º ocupante: José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira Saudação:
Eugênio de Carvalho Júnior
03/12/1992
Saudação ao: Dr. JOSÉ ASDRUBAL MARSÍGLIA DE OLIVEIRA Cadeira nº 26 Por: Acad. Eugênio de Carvalho Júnior
Recebi como uma honra o privilégio de ser o escolhido para salda-lo, em nome da Academia Paraibana de Medicina, no momento em que V. Excia., toma posse na cadeira de nº 26, fazendo o elogio de seu Patrono, o saudoso mestre da Psiquiatria – Professor Luciano de Morais. V. Excia. foi um dos fundadores de nossa Academia e durante três mandatos consecutivos exerceu a Presidência, que só deixou por achar que devia dar chance a outro Acadêmico para dirigila. V. Excia. chega a esta Academia, com a maior justiça, por ser portador de um currículo admirável: Professor de Anatomia, cancerologista, grande cirurgião, médico culto e respeitado, com inestimáveis serviços prestados à Medicina e à sociedade paraibana. Na disciplina de Anatomia, V. Excia. pontificou, como professor insuperável, exercendo as cátedras das Faculdades de Medicina, Odontologia e Enfermagem. De todas as disciplinas do Curso Médico é a Anatomia a que apresenta as maiores dificuldades para ser preenchida. A formação de um bom Anatomista não é fácil e demanda um longo tempo de preparação. Exige muita dedicação, tempo integral para a dissecação de cadáveres, preparação de peças para as aulas e uma memória prodigiosa. A Anatomia que V. Excia. ensinou, durante os longos anos que exerceu as cátedras, não se limitava à simples descrição fria dos elementos físicos, mas, sobretudo, à análise de função que os mesmos exerciam e suas aplicações na prática médica e cirúrgica. Em suma: uma Anatomia dinâmica e funcional. Ainda me recordo que, quando estudante de medicina no 3º ano fiz concurso para monitor da cadeira de Química Fisiológica na Faculdade Nacional de Medicina. Nessa oportunidade, inscreveu-se para Monitor da disciplina de Anatomia Topográfica, um estudante da 5ª série – Mansur Taufic, que, desde o início do seu curso, se dedicava ao estudo da Anatomia. Aprovado com nota 10, no ano seguinte foi fazer curso de especialização na América do Norte. Lá, como aqui, era muito difícil conseguir-se um bom Anatomista. O valor de Mansur Taufic era tão grande que não permitiram que ele voltasse ao Brasil, e ele se radicou, definitivamente, naquele país, onde vive até hoje. Mas falemos agora de V. Excia. que é Asdrubal de Oliveira? Filho de João Valeriano de Oliveira e Maria da Glória Marsíglia de Oliveira nasceu a 28 de fevereiro de 1915, num Município pobre do interior de Alagoas – Coruripe. Iniciou o curso primário em Penedo/Al. E o curso ginasial, iniciado na mesma cidade, no Colégio Anchieta, foi concluído no Liceu Alagoano, em Maceió. Em 1935, ingressou no Curso de Medicina do Recife, hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, onde se diplomou em 8 de dezembro de 1940. Tem um currículo invejável que não pode ser relatado em sua inteireza, porque não cabe numa simples saudação de boas vindas. Dentro da Universidade Federal da Paraíba foi tudo: Prof. Catedrático de 3 Faculdades, chefe de Departamento, chefe do Setor de Pesquisas na área da Anatomia. Examinador em vários concursos. Tem inúmeros Cursos de Especialização em Anatomia, Cancerologia, Tireoidopatias e Tumores da Cabeça e do Pescoço. Diversos trabalhos
publicados em revistas brasileiras, americanas e inglesas. Participou de dezenas de Congressos e Jornadas Médicas realizadas em território nacional. Pertence a inúmeras Sociedades Médicas. Essa a trajetória de um menino pobre, nascido em uma cidade pobre do interior de Alagoas – Coruripe, que atingiu os postos mais elevados na carreira que abraçou – a Medicina, e que é hoje Prof. Emérito da Universidade Federal da Paraíba. Aposentado, cheio de méritos, admirado e respeitado por toda a comunidade médica do Estado, querido pela população paraibana a quem ainda continua a prestar relevantes serviços em seu consultório médico e nas salas de cirurgia. Mas Asdrubal não é só isto. É muito mais. Um homem culto, com sólida formação humanística. Um cidadão circunspeto que mantém uma linha de conduta exemplar. Sério em tudo, até no trajar. Nestes 38 anos em que com ele convivo, nunca o vi, mesmo nos dias mais quentes do ano, que não fosse vestido com terno completo, de palitot e gravata, em nenhuma oportunidade de roupa esporte. Um espírito inquieto, inquiridor, preocupado sempre com os problemas da neurofisiologia, querendo desvendar o mistério das correlações entre as diferentes partes do encéfalo, tendo idéias próprias e originais. É um homem de grande sensibilidade. Ainda me recordo, quando da formatura da 1ª turma de médicos de nossa Faculdade, na festa de despedida da cadeira de Anatomia, da homenagem que V. Excia. prestou ao cadáver desconhecido. Uma festa inesquecível. Todos os cadáveres cobertos com lençóis brancos, sobre os quais os estudantes, desfilando, depositavam uma rosa. E, V. Excia. faz um discurso profundamente tocante, emocionante, de agradecimento e respeito daqueles que contribuíram com seus restos mortais para o aprendizado da medicina. Eu, como poeta, agradeci, em nome do cadáver desconhecido, com um soneto que peço licença, trazendo um pouco de poesia a esta solenidade, para relembrá-lo. Cadáver desconhecido Eu passei pela vida sem viver. Não fiz amigos e não tive amores. A forma eu conheci. Nas minhas dores, nem a fé que conforta eu pude ter. Sem festas eu nasci e fui morrer sem prantos e sem luto, tão sem flores! Não voltarei à terra, de onde horrores de uma existência má quero esquecer. Meu corpo duro, sobre a lousa fria, de um lúgubre salão de Anatomia, um cadáver será, desconhecido. Corta-me todo! Vês? Esta matéria é o despojo que resta da miséria de quem nunca devera ter nascido! Professor Asdrubal de Oliveira, mestre dos mestres, representante máximo de uma geração de professores que, aos poucos, vai desaparecendo. A Academia se engalana para recebê-lo. Permita Deus que ainda por muitos anos tenhamos o prazer de conviver com um professor notável, que é uma glória da medicina paraibana.
Seja bem vindo. A honra é nossa e esta casa é sua. Ilumine-a com o brilho de sua inteligência.
CADEIRA Nº Patrono:
38
Dr. VANILDO GUEDES PESSOA
Data de posse: 18/03/1993 1º ocupante: Pedro Solidônio Palitot Saudação:
03/12/1992
Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros
Saudação ao: Dr. PEDRO SOLIDÔNIO PALITOT Cadeira nº 38 Por: Acad. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros
Meus senhores: Nesta noite memorável, rejubila-se a Academia de Medicina da Paraíba, ao receber o novel Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, fazendo-se assim, penetrar em uma casa idealizada pela sua carreira de médico e professor universitário. Os seus dotes morais e capacidade intelectual caminharam sempre no sentido dos seus alunos, colegas e professores, tudo bem forjado sob a égide de Hipócrates, daí a credencial positiva que concede o direito de entrar nesta Academia. Coube ao Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, ocupar a cadeira nº 38, de nosso Patrono Vanildo Guedes Pessoa, companheiro sempre saudosamente lembrado, ao lado dos demais patronos desta casa, que tanto honraram e orgulharam a sua posteridade, pela intelectualidade e inteligência, dizendo além dos horizontes, que a Paraíba não perderia em confronto, neste campo, com as demais dos Estados da Federação Nacional. Meus Senhores: O Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, apareceu para vida em 06 de abril de 1917, em Bonito de Santa Fé, que à época pertencia ao município de São José de Piranhas. Nesta comuna o nome de próspero fazendeiro e agricultor Baptista Palitot era muito conhecido e respeitado. Casado com Dona Francisca Jácome Arruda Câmara, seus pais, tiveram 14 filhos, sendo (6) homens e (8) mulheres. Morando naquele rincão sertanejo criaram e educaram a prole com muita luta e desprendimento. Entre (2) médicos e (2) advogados, o seu irmão Manoel Batista Leite, doublé de médico e advogado, destacou-se, também, como jornalista e político, tendo conseguido a emancipação de Bonito de Santa Fé, em 1939. Argemiro de Figueiredo, em seguida nomeou-o seu 1º Prefeito, cargo que exerceu apenas por (6) meses, face a pertinaz doença que o acometeu, veio a falecer de febre tifóide, por ocasião de um dos seus deslocamentos à capital do Estado. Das (9) irmãs, (4) diplomadas, (2) faleceram na mais tenra idade, exerceram atividades de ensino, notadamente D. Delfina Batista Palitot, que marcou sua presença em São José de Piranhas, como extraordinária professora primária. Na cidade de Felipe Guerra – RGN – pelos idos de 1950 conheceu uma bela jovem chamada de Maria Necy Diógenes Gurgel, hoje Palitot e, logo em seguida começaram a namorar e tornaram-se marido e mulher, em 1951. Dessa feliz e perene união nasceram Solidônio e Niedja Necy (médicos), Nadja (advogada) e Necy Maria (enfermeira). Mas voltando ao passado, o garoto irrequieto e traquino levou sua 1ª infância igual àqueles criados em fazenda e, na cidade iniciou as primeiras letras sob a orientação dos Professores Emílio Chaves Lindolfo Ramalho, posteriormente, na Escola do Prof. Sabino Nogueira. Cursou parte do Ginasial no Colégio Pio X e, o restante no Liceu Paraibano, em nossa cidade de João Pessoa. Logo após o término desse curso, o jovem promissor sentiu a necessidade de alçar vôo maior, procurando uma metrópole onde pudesse prosseguir os seus estudos e realizar o seu grande sonho: ingressar numa Escola Médica. Assim deslocou-se para o Rio de Janeiro, cursando o correspondente ao Curso Científico, no Colégio Universitário e Jurema. Além disso, cumpriu o serviço militar, na Bateria Quadro do 1º Grupamento de Obuses – Artilharia Motorizada – 7º Reg. Militar da Quinta da Boa Vista. Ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina, em 1941, obtendo o grau de doutor em 1946. Ao lado de Orlando Massa, pela Faculdade de Ciências Médica, foram os únicos paraibanos
concluintes, pela cidade maravilhosa, ainda participou das atividades do serviço de Cirurgia Geral do Prof. Alfredo Monteiro Filho, durante (4) anos. Foi interno residente do Hospital Arthur Bernardes, por 3 anos, com passagem pelo Departamento Nacional da Criança – ginecologia e obstetrícia e serviços de Mário Olinto e César Pernetta. Aprovado no curso para Auxiliar Acadêmico da Prefeitura do Rio de Janeiro foi lotado no Hospital Carlos Chagas – Bairro Marechal Hermes, onde trabalhou na emergência por mais (2) anos. Após a formatura, trabalhou por (6) meses no Rio, oportunidade em que voltou à Paraíba, aceitando o convite para dirigir o Hospital Sá Andrade, em Sapé, porém por (5) meses, em virtude de uma querela com o prefeito do município, motivado pela demissão injusta de um enfermeiro (feita pelo Prefeito) daquele nosocômio. Apesar disso, saiu com o grande lucro e estreita amizade como o nosso acadêmico Vicente Rocco, o mesmo que anos depois, seria um dos grandes incentivadores de minha carreira profissional, além de perfeito anfitrião nas horas vagas, pois em Sapé, também, trabalhei como médico do Ex-Samdu, durante (5) anos. Daí afastou-se para o interior do RGN e, em Pau dos Ferros, estabeleceu-se por (3) anos, na qualidade de médico da prefeitura e do estado. No alto do sertão Potiguar fez vasta clínica e muitos amigos, encontrando tempo para a vilegiatura, visitar sua querida e eterna namorada, D. Necy. Regressou à Paraíba, vindo a morar em João Pessoa, terra que elegeu como a dos seus sonhos. Nesta cidade, inicialmente trabalhou na Santa Casa de Misericórdia do Hospital Santa Izabel, que era o hospital-escola da Faculdade Medicina, no serviço do Prof. Edrise Villar, em companhia de Aquilles Leal, Orlando Farias, Clóvis Beltrão, Francisco Porto, com Orlando Coelho, Dalva Machado, Evaldo Trajano, Severino Góes, Rivadávia Pereira Guedes (residente) e, tantos outros de uma geração mais moça. O Sese, Policlínica dos Pescadores e Previdência Social, foram entidades que contaram com o efetivo trabalho de nosso preclaro Acadêmico Pedro Palitot. Na antiga Faculdade de Medicina da Paraíba, em 1952, veio a ser o 1º Assistente do Prof. José
Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, iniciando sua fulgurante carreira universitária, junto à cátedra de Anatomia Descritiva. Assim, forma os precursores e, a 1ª Turma de Medicina da Paraíba, recebeu comigo o privilégio dos primeiros e profícuos ensinamentos transmitidos pelos renomados mestres. Em 1956, transferiu-se pra a 2ª Clínica Cirúrgica, sob a coordenação do professor Francisco Porto, permanecendo até a sua aposentadoria em 1987. O Acadêmico Pedro Solidônio Palitot teve uma marcante passagem no Departamento de Cirurgia, como orador fluente e sempre atualizado na discussão dos assuntos pertinentes ao Ensino, Pesquisa e Extensão de nossa universidade e, saiu da disciplina 2ª Clínica Cirúrgica, consagrado pelos alunos e colegas como professor dedicado e competente. O Acadêmico Pedro Solidônio Palitot sempre foi assíduo freqüentador de congressos estaduais e nacionais, no campo de cirurgia, especialmente os patrocinados pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Associação Médica da Paraíba. Ensaios e trabalhos de sua lavra na especialidade foram publicados. Nas conversas colegiais ou nos ambientes festivos, costumeiramente, destaca passagens que lembram os contemporâneos, ora reverenciado os que se foram, outra feita aqueles que continuam entre nós, pontificando como homens públicos e grandes amigos, a exemplo de: Celso Furtado, Walter Rabello, Théles e Delson Almeida, Francisco Xavier, Damásio Franca, Geraldo e Sílvio Porto, Jorge Ribeiro Coutinho, Luiz Ribeiro Coutinho, Antônio Brayner, Flávio Ribeiro Coutinho, Aloísio Régis, Jorge Alberto da Silva, José Medeiros Vieira, Quintiliano Mesquita, Antonio Ribeiro Pessoa, Manuel Figueiredo, Cleanto e Celso de Paiva Leite, Vicente Nogueira, Herófilo Maciel, Aristarcho Dias, Giuseppe de Paula Marques, Genival França, Simplício Coelho, Joaquim Magalhães, Antonio e Aristarcho Medeiros, Lucy Jóia e Madalena Guedes Pereira.
Chegou a hora de terminar. Muita coisa poderia dizer mais, todavia, seria necessário escrever outro discurso, exteriorizar todas as impressões sobre sua vida tão rica de ensinamentos e virtudes, em todos os campos de sua benfazeja trajetória. Seja bem vindo à Academia Paraibana de Medicinal. Aqui é o lugar dos imortais.
18/03/1993
Elogio ao Patrono: Dr. VANILDO GUEDES PESSOA. Cadeira nº 38 Por: Dr. Pedro Solidônio Palitot
O Prof. Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros coloca-me nas alturas, como acabastes de ouvir. Temo que pagarei caro por isto, e que a decepção deste auditório seguir-se-á ao escutarme nesta noite. Sabemos, no entanto, que pelo seu pedigree, Jacinto não joga espinhos em ninguém. Ao vê-lo e ao ouvi-lo nos vem à lembrança o nome, de seu progenitor, homem que a Paraíba aprendeu a amar através das crianças e dos adultos, também pela sua vasta clínica e grandeza de coração, consolidando-se em ponderável cultura humanística. Sendo um dos fundadores da Faculdade de Medicina e, posteriormente, reitor da UFPB, implantou sua escola de pediatria que é sem dúvida um dos orgulhos da medicina paraibana. Sou grato ao Prof. Jacinto, às suas pesquisas em torno do meu nome. Jacinto permita-me que, na minha gratidão pelas suas palavras tão carinhosas, eu ofereça a sua esposa, a prendada dama Maria Aparecida Ribeiro Coutinho, uma corbelhe de flores que será entregue pelo meu neto Paulo Rogério, que é cliente de João Medeiros Filho. Recordo e reverencio, Cidinha, a memória de teus ancestrais já falecidos; teu pai, Otávio, e teus avós, Major Ribeirinho e D. Serafina Ribeiro Coutinho, amigos tão nobres e tão caros dos quais guardo grandes saudades e recordações. O elogio que recebo de Jacinto denuncia, Cidinha, tua colaboração. Meu muito obrigado a ambos. Esta solenidade pertence mais à família de Vanildo, pelo que quero oferecer, por intermédio de minha neta, Ana Luísa, uma corbelhe de flores a nossa Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa, viúva do meu Patrono. Senhor Presidente desta Casa. Senhores componentes da mesa. Autoridades. Familiares do meu Patrono: Esposa, Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa, atual secretária e imortal desta Academia Paraibana de Medicina. Filhos Vânia Maria Britto Pessoa de Lucena, Vanildo Guedes Pessoa Filho, Maria Helena Pessoa Toscano de Britto, Sílvio Britto Pessoa e Paulo Luciano Britto Pessoa. Genros, Dr. Évio Barbosa de Lucena, Dr. Mário Toscano de Brito Filho. Noras, Drª Ana Zuleika Cordeiro Pessoa, Tânia Maria Britto Pessoa e Maria da Penha Britto Pessoa. Netos, Évio, Viviane e Valeska; Sílvio, Igor e Vanildo Neto; Manuela e Mariana; Alex e Silvio Júnior; Paulo Luciano, Paula Fernanda e Paula Juliana. Meus familiares aqui presentes: Esposa, Maria Necy Diógenes Gurgel Palitot. Filhos, Solidônio, Niedja, Nadja e Necy Maria. Irmãs, Dália, Dolores, Maria,... Genros, Marconi Timotheo de Souza, Luiz Ricardo de Oliveira Lima. Netos, Ana Cláudia, Ana Carolina, Ana Luíza, Pedro Ricardo, Paulo Rogério e Andrey Henrique. Aqui encontro-me para defender um imortal de nossa ACADEMIA, precisamente o Prof. VANILDO GUEDES PESSOA.
É tarefa espinhosa por ponderáveis motivos. O orador da noite não é literato, um tribuno, um erudito, mas sim um operário militante da medicina, sem graduação maior. Por ser aposentado, não sou recruta, considero-me soldado ou caba na hierarquia militar que pudesse se assemelhar à nossa categoria. O importante mesmo é o Patrono. VANILDO viveu entre nós, pelo que não poderei colocar flores nem espinhos, direi a verdade; alegra-me, no entanto a convicção de que esta será uma verdade simpática, humana, que encanta e agrada. Infância e juventude VANILDO GUEDES PESSOA, filho de Bráulio Espínola Pessoa, nasceu em Recife a 02.08.1919. Seu genitor, além de funcionário público federal, foi também comerciante e, sua mãe, de prendas domésticas. Ambos faleceram em idade avançada, com mais de 80 anos de idade. Seus irmãos: Gilvan Guedes Pessoa, foi funcionário graduado do Banco do Brasil, além de compositor famoso, com músicas premiadas em concursos no Rio de Janeiro; Maria da Penha Pessoa Lins, falecida, foi casada com o advogado Airton Holmes Lins; Gilson Guedes Pessoa, advogado, hoje aposentado da CHESF. VANILDO viveu sua primeira infância em Recife. Tendo seu pai sido transferido para Natal, capital potiguar, lá fez exames de admissão no velho e tradicional Ateneu, onde estudou os primeiros anos de ginásio. Voltando ao Recife, terminou o curso e o científico no Ginásio Pernambucano. Fez vestibular em 1943 para a Faculdade de Medicina de Pernambuco, aprovado com destaque. VANILDO prestou serviço militar em plena 2ª Guerra. Foi convocado, ficando pouco tempo como soldado, pois, logo fez concurso para cabo e depois para sargento. Por ser acadêmico de medicina, foi lotado na unidade de saúde da corporação sediada na 7ª Região Militar, cujo comandante, o General Nilton Cavalcante, era seu cliente, que “quando tinha que tomar injeção chamava o Sargento Vanildo”. Deveria embarcar para a Itália e, em última hora, foi designado para a defesa de nossas costas litorâneas. Em sua vida militar de aproximadamente 5 anos só teve elogios, pela conduta e competência comprovadas. Sua vida acadêmica foi de intensa atividade, sempre obtendo as melhores notas. Aprovado em concurso foi interno da cadeira de Propedêutica Médica do Hospital de Pronto Socorro e do Hospital Português do Recife. Concluiu o curso médico em 08.12.48, vindo para João Pessoa, onde fixou residência. Apaixonado por uma garota de franja, com quem estudava desde os primeiros anos acadêmicos, pois a mesma era sua colega de turma e o namoro só se oficializou após alguns anos. Formaram-se em 1948 e só no início de 1951 vieram a se casar. Atividades médicas Em João Pessoa, VANILDO fez concurso para o Hospital de Pronto Socorro, onde teve atuação exemplar, tendo sido Diretor do mesmo. Foi o primeiro Secretário de Saúde do Município, cuja Secretaria foi por ele implantada. A Câmara de Vereadores, por unanimidade, lhe distinguiu com louvores pela eficiência à frente da saúde do município.
Especialista em cardiologia foi um dos idealizadores e fundadores do primeiro hospital de cardiologia da Paraíba, o Prontocor, onde foi seu diretor administrativo. Sempre ligado à saúde do município, foi médico Presidente da junta examinadora de concurso para médicos do Hospital de Pronto Socorro, de cujo nosocômio foi Diretor Clínico por muito tempo. Médico da LBA; cardiologista da Maternidade Cândida Vargas e assistente do presidente da mesma instituição em João Pessoa por vários anos; médico do IAPETEC e Sindicato dos Bancários; marcou presença efetiva e laboriosa no velho Hospital Santa Isabel, na Enfermaria S. João, onde foi assistente e chefe de clínica, beneficiando os indigentes, à época vindos de três estados. Professor Assistente da 2ª cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina desde o seu início, posteriormente, Chefe de Clínica e Professor Adjunto, já na federalização da Universidade, quando passou a pertencer ao Departamento de Medicina Interna do Centro de Ciências da Saúde; diretor e supervisor do serviço de cardiologia do CCS e professor de Eletro-cardiologia para residentes de Clínica Médica. Fundador e professor de Patologia Geral da Escola de Enfermagem da UFPB. Eleito presidente da Associação Médica da Paraíba, exerceu seu mandato com grande eficiência. Na sua gestão foi realizado o Vº Congresso Médico do Nordeste, projetando o nosso estado; aqui concentraram-se médicos dos estados nordestinos, além de convidados do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e R. G. do Sul. O Professor Vanildo Pessoa freqüentou todos os congressos nacionais da especialidade, apresentando trabalhos, participando de simpósios, mesas redondas, jornadas, além de pronunciar conferência e escrever trabalhos científicos. A revista “Unidade Médica” do Centro de Estudos Achiles Leal dedicou-lhe uma página, concluindo ser o Professor Dr. Vanildo Guedes Pessoa um dos luminares da medicina paraibana. Seus amigos Médicos: Dr. Miranda Freire, com o qual associou-se para formarem clínica médica e cardiologia, Prof. Antônio Dias dos Santos, Francisco de Assis dos Anjos, Lourival Moura, Deputado Aluisio Pereira, Gilvandro Assis, Dr. Jaime Lima, Newton Lacerda, Luciano Morais, Orlando Farias, Francisco Porto, Rodrigo Rangel e muitos outros. Não médicos: Aécio Chacon, Nolo Pereira de Melo, José João de Miranda, Afrânio Branco e Outros.
Sua personalidade. Sua vida familiar. Era um homem de muita sensibilidade, poeta, amante da ecologia e da música. Tocava diariamente seus três prediletos instrumentos, violão, clarinete e piano. Muito religioso, não perdia missa aos domingos. Meus amigos, acudam-me com uma crítica benevolente se eu não defender com justiça o meu patrono. VANILDO viveu entre nós, inevitavelmente temos hoje uma noite de saudade. Pretendo usar a filosofia de Orlando Farias, apontando as virtudes e os defeitos, para aqueles terei um caminho amplo e para estes, uma vereda estreita que certamente dificultará os meus passos. Era o meu Patrono, no meu entender, um homem reservado, tendia mais para personalidade introvertida até que se familiarizasse com o ambiente, quando isto era possível. Guardava distância
das tagarelices triviais e vazias, não perdendo tempo com este tipo de reunião, nem era satisfatoriamente educado para ocultar desprezo às vulgaridades do costumeiro “disse me disse”. Vezes sem conta teria sido taxado de orgulhoso. Creio que estou sendo fiel à filosofia orlandina, muito embora a Drª Lourdinha, depois puxe-me as orelhas. Esculápio dedicado à medicina na sua complexidade de arte e ciência, não se separava dos livros e, até mesmo nos seus deslocamentos para o Hospital, Universidade, consultório ou LBA, trazia sempre um compêndio consigo, certamente a presença do livro impedia que alguém lhe abordasse para assuntos fúteis e banais. Nas reuniões entre colegas não contava anedotas, e só se descontraia, dando risadas, quando o ambiente era muito íntimo e a anedota efetivamente boa. Presença sempre reservada, não era homem de todos os ambientes. Dedicado aos doentes e aos seus alunos, sendo respeitado e admirado por todos. Suas teses eram defendidas com entusiasmo e segurança, jamais, creio, um seu paciente duvidou de seu diagnóstico e de sua terapia. Os estudantes o tinham na conta de um grande preceptor, atualizado, eloqüente e seguro, amante do trabalho e austero com execução das tarefas programadas. Quando chefiava a enfermaria, disciplina ou repartição, o fazia com autoridade e intransigência. Cumpridor impecável dos horários, dava o exemplo para justificar sua conduta. Estas qualidades de VANILDO não permitiam que fosse tido como bonachão, camarada e acessível, pelo que não era de muitos amigos. Suas amizades eram muito selecionadas. Ético como cidadão e como médico, não contemporizava, ninguém se ousasse a solicitar-lhe qualquer favor que pudesse ferir os dogmas da moral, da ética e da lei. Era um justo e de personalidade forte. Onde passou foi sempre querido. Não encontramos semelhança entre ele e outras pessoas. Suas qualidades tinham o sabor de seu temperamento. Era realmente um autêntico, um VANILDO PESSOA. Inocente como uma criança, mas conhecedor como um cientista, inocente para a maldade e despreocupado das coisas intrigantes e fúteis dos homens. Era um filosofo, só entendia e pesquisava o que era construtivo. Sempre preocupado com a medicina, para melhor servir aos seus pacientes. Apaixonado pela ciência hipocrática, vocação sadia do médico no exercício do seu sacerdócio, é exemplo vigoroso para as gerações futuras. Sua vida se constituiu numa página gloriosa da medicina paraibana. Não perambulava em nenhum ambiente se uma tarefa a cumprir. Despreocupado das pequenas coisas, chegava a esquecer o local onde estacionava o carro. Seu desiderato na vida estava acima do trivial e do cotidiano. Bom filho, bom parente, médico de toda família que o procurava a quem atendia com presteza, amor e carinho a qualquer hora do dia ou da noite. Pai e esposo exemplar, seu mundo era seu lar, sua esposa, seus filhos, sua biblioteca. Em casa, seu ambiente predileto era o lado da esposa, na sala de leitura, estudando com ela. Estive em seu gabinete, uma biblioteca enciclopédica, ambiente reservado mesmo à cultura e à ciência. Emocionei-me ao contemplar aquelas prateleiras e os livros, que no silêncio pareciam evocar aquele que os consultou tantas vezes. Estudando o órgão maior, o coração, aprofundava-se em sua anatomia, histologia, fisiologia, patologia, enveredava na feitura do diagnóstico e nem sempre amenizava suas emoções com os prognósticos insondáveis desta arte e desta ciência que nunca se completam. Para VANILDO PESSOA, todo tempo era pouco para estudar o coração, este órgão ligado a todos os departamentos da economia, dirigindo e paradoxalmente recebendo ordens de todos. O pulsar desta bomba aspirante e premente é o sinal da vida. Op sangue enviado aos pulmões volta ao coração purificado, para receber o comando de uma viagem mais longa e mais difícil, indo a todos
os sistemas, cumprindo tarefas heterogêneas, nutrindo órgãos diversos num esforço supremo, obedecendo aos desígnios de Deus, que é manter a vida. O nosso VANILDO PESSOA sempre investigando. Professor de cardiologia, tinha no eletrocardiograma a esperança alvissareira do diagnóstico precoce, e o estudava com profundidade, sendo considerado o maior conhecedor do ECG entre seus pares. E assim, em casa, na sala de leitura, ao lado da esposa, ambos embevecidos com a ciência, a cardiologia para ele, a psiquiatria para ela. Duas especialidades diferentes, ambas complexas, mas acima de tudo havia uma grandeza maior, aquele ambiente de estudo completando e valorizando o lar doce lar, filhos, família, exemplo, trabalho, amor. A Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa, mentalizando os fenômenos do mundo da imaginação, sem perder de vista as emoções afetivas que os uniam no trabalho e no amor matrimonial, cresciam assim culturalmente em duas especialidades; ganhavam a ciência e a medicina, e o amor se eternizava entre eles, num sinergismo que só deus abençoa, pois o binômio foi criação divina, sem o qual não se daria a perpetuação das espécies. A defesa do meu Patrono nos ficará nos arquivos desta casa para as gerações futuras, mas nós que constituímos a Academia de hoje, convivemos com VANILDO e sabemos como sua vida foi tão preciosa. Sua morte prematura, no dia 04.08.1978, deixou entre nós aquela interrogação, em que Higino, escrevendo sobre o inolvidável Francisco Porto, dizia: “Porque Deus leva tão cedo os bons e os justos?”. Os doentes, os cardíacos, os estudantes perderam para sempre o seu médico, seu amigo, seu preceptor. Um VANILDO PESSOA tão útil, tão servidor culto, tão responsável, tão alegre, tão criança; com seus pássaros, com sua música, foi chamado prematuramente. E a saudade de sua esposa, a nossa dileta colega, secretária desta casa. Professora Maria de Lourdes Britto Pessoa, vem resistindo ao tempo e se imortalizando. Ela não o esquece um só instante. Nas suas aulas, a lembrança do esposo querido transbordava, servindo de inspiração ao ensino da psicologia médica, transmitindo aos jovens a grandeza do amor e o milagre da perpetuação deste sentimento, os alunos a ouviam embevecidos e com devoção, fixando seus ensinamentos, os da psicologia médica e os do amor e da saudade, que a ciência não explica, mas respeita e reverencia. Meus amigos, esta é uma noite memorável. Estamos trazendo para os anais da Academia Paraibana de Medicina o perfil de nosso Patrono. É um esboço mínimo do que se poderia dizer deste jovem médico, que exerceu e ensinou a medicina com tanta segurança, amor, desvelo e brilho. Partindo tão cedo, deixou um vazio coletivo para a esposa, filhos, netos, parentes, colega, amigos, pacientes e alunos. E, naquele 4 de agosto de 1978, a Paraíba se enlutou, o Brasil perdeu um cientista, um grande esculápio. Ele se imortalizou. É a sentença soberana e incontestável de nossa Academia Paraibana de Medicina. E assim, esta casa se engrandece nesta noite, perpetuando um de seus maiores. Não é momento de tristeza, mas de alegria, pela oportunidade de homenagearmos dos melhores médicos de nossa comunidade. E eu me envaideço por ser o intérprete dessa consagração.
um
CADEIRA Nยบ
17
Patrono:
Dr. GENIVAL SOARES LONDRES
Data de posse: 20/10/1994 Ocupante: Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros Saudação:
José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira
20/10/1994
Elogio ao Patrono: Dr. GENIVAL SOARES LONDRES. Cadeira nº 17 Por: Dr. Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros
Cumpro, com profunda e natural emoção, a exigência regimental dessa Academia, para fazer o elogio ao Genival Soares Londres, Patrono da Cadeira de nº 17, que passo a ocupar, com a consciência plena de que os seus ensinamentos de vida, tão ricos de sabedoria, são reconhecidos pelas excelsas qualidades como homem, médico, mestre e cientista, engrandecendo e ilustrando, de maneira exponencial, essa egrégia Academia Paraibana de Medicina. Por outro lado, nesta noite memorável, acode-me a idéia de que aqui cheguei pelos trâmites do coração, visto que outras razões não seriam plausíveis, senão as diretamente ligadas à efetividade, que impulsionam os ilustres fundadores desta respeitável Casa em escolher o meu nome para integrar o seu quadro associativo. Porém, a satisfação cresce, ainda mais, na medida em que
me ligo por profundos laços de amizade e parentesco, a diversos antigos Mestres e familiares que, de maneira indelével, tanto marcaram minha existência e que, direta ou indiretamente, pertencem à Academia Paraibana de Medicina. A manifestação expressa na oração do Acadêmico José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, como intérprete dos sentimentos dos nossos ilustres pares, pela importância de seus conceitos, soa como os acordes de suas aulas magistrais à frente da Cadeira de Anatomia Descritiva e Morfológica, nos idos de 1952 a 1953, época em que participei, como seu discípulo, bem como da 1ª Turma da Faculdade de Medicina da Paraíba. O mais demonstrou na apreciação sobre o novel Acadêmico, que as vibrações do seu coração fizeram-no exceder em bondade e amizade, demonstradas sempre através dos tempos, como prova de respeito e admiração recíprocos, nos diversos campos de nossas atividades humanas. Encareço-lhe permissão para estender a todos os fundadores daquele Templo do Saber, mestres, colegas, servidores, e em particular, aos nobres componentes dessa Academia, a partir do nosso presidente Eugênio de Carvalho Júnior, a minha eterna e reconhecida homenagem. E, ainda, ao eminente mestre e amigo Eugênio de Carvalho Júnior, rogo o meu sensibilizado agradecimento pelas calorosas palavras, fluídas pela sua verve de primoroso orador e excepcional poeta, além de tudo pela sua honrosa e significativa presença, nesta solenidade. Genival Soares Londres nasceu em João Pessoa, a 10 de novembro de 1899. Era filho do Farmacêutico Manoel Soares Londres e D. Virgília Soares Londres, casou-se com Stella Garcia Rosa, paulista, em 27 de janeiro de 1937, deste casamento teve três filhos: Maria Stella, Luiz Roberto e Maria Cecília. Os irmãos Adhemar, Manoel, José, Ivan, bem como os cunhados Silvino de Gouveia Nóbrega (Ivonne) e João Toscano Gonçalves de Medeiros (Eunice), quase todos foram médicos, pois somente Manoel Londres Filho seguiu as pegadas do seu progenitor, ficando na área farmacêutica. Genival Londres realizou os seus primeiros estudos com a professora D. Chiquinha Moura e, em seguida, o curso de madureza no Colégio Diocesano e Liceu Paraibano. Iniciou o curso de Medicina em 1916, aos 16 anos, na Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se em 1917, no segundo ano, para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1921, tendo sido Laureado e orador oficial da Turma. Doutorou-se pela mesma faculdade, em 21 de dezembro de 1921, sendo a tese de doutoramento: Semiótica e Semiogênese da Hemoclasia. Quando estudante, foi auxiliar acadêmico da Assistência Pública, por concurso, e interno do Hospital Nacional de Psicopatas, sob a direção de Juliano Moreira, e da 3ª Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Serviço do Professor Miguel Couto. Em 1922, regressando ao seu Estado natal, desenvolveu intensa atividade clínica, inclusive trabalhando intensamente na profilaxia rural em Rio Tinto e, em João Pessoa, na Santa Casa de Misericórdia, voltando ao Rio de Janeiro, em dezembro de 1923. Instalado na cidade do Rio de Janeiro, foi assistente, sucessivamente, da 3ª Cadeira de Clínica Médica, Serviço do Professor Miguel Couto, e da 1ª Cadeira de Clínica Médica do Professor Clementino Fraga. No ano de 1926, foi o introdutor da Eletrocardiografia no Brasil, cujos aparelhos tinham maiores dimensões que os atuais, pois suas linhas condutoras eram colocadas em cada um dos membros dos pacientes. Durante muitos anos, participou das atividades da Fundação Gaffrée-Guinle, ao lado de eminentes figuras, desde sua origem nos serviços de sífilis visceral e nervosa. Em 1929, fez concurso de provas e títulos, para Livre Docência de Clínica Médica, na Praia Vermelha, merecendo distinção e Louvor, defendendo tese sobre “Dextrocardias”, iniciando, a partir daí intensa atividade didática, em cursos equiparados. Com Rolando Monteiro e numerosos outros colegas, colaborou na fundação da Faculdade de Ciências Médicas, onde ocupou a Cátedra de Terapêutica Clínica, que exerceu até sua jubilação. Em 1930 conquistou o prêmio “Costa Alvarenga” na Academia Nacional de Medicina, sobre “Mecanismo de Ação do Método Brasileiro no Tratamento dos Aneurismas”, em colaboração com Helion Póvoa. Em 1933, foi admitido como membro; titular da Academia Nacional de
Medicina, na vaga do Professor Henrique Dias Duque de Estrada, mediante concurso de titular e apresentação de tese original sobre: “Miotomia Atrófica”, contribuições ao estudo anátomo-clínico do coração na doença de Steinerk. Na sessão de 25 de outubro de 1934, o presidente da Academia Nacional de Medicina, após compor a comissão para introduzir o novel Acadêmico Genival Londres no recinto, proferiu as seguintes palavras: “Dr. Genival Londres, armaste-vos em cavaleiro para penetrar em um dos templos idealizados pela vossa carreira de intelectual”. A vossa láurea vem dos bancos acadêmicos. A vossa elegância moral e a vossa formosura intelectual andaram sempre no sentimento dos colegas e dos vossos professores. Fostes educado sob a égide de Miguel Couto. Basta isto para estabelecer a grande credencial positiva que vos dá direito à entrada neste Instituto. Esperamos todos nós que o didata, lógico, preparado, inteligente e que faz da philosophia clínica arma poderosa dos seus cursos e do seu próprio aprendizado, continua uma vida triunfal trazendo sempre o melhor consolo aos vossos colegas, aos vossos antigos mestres e aos vossos discípulos. Espero que ameis a Medicina como o fez Francisco de Castro e ameis à Academia como o amou Miguel Couto. “Cinjo-vos ao peito a medalha simbólica e, ao mesmo tempo, dou-vos o abraço fraternal, para que tenhamos o jovem colega ativo, consciente, formoso nas suas atitudes e triunfante na sua vida intelectual e profissional”. Henrique Duque, no seu discurso de paraninfo, acentuou que suas múltiplas atividades de trabalhos originais e de grande vulto sobre assuntos médico-sociais, ajusta-se-vos o que dos médicos hypocráticos dizia Platão: Eles têm o espírito elegante e cultivado e nas explicações que fornecem aos docentes vão até à philosophia. Feliz do médico que, como vós, possue em requeridas proporções aquela personalidade dual enaltecida por Henrich, ao discorrer sobre a prática do futuro (“the practitioner of the future”); a scientífica para a doença, a humana para o paciente. Na sua brilhante oração de posse, o Acadêmico Genival Londres, enalteceu a personalidade de Henrique Duque, seu iniciador e guia, na feliz oportunidade de ser distinguido com o título máximo dessa respeitável agremiação científica, pois, de membro titular desde 1904, ingressa agora no seu quadro de honra. Ressaltou, também, na oração, de publicamente agradecer a Clementino Fraga, Moreira da Fonseca e Pedro Cunha, três mestres e três amigos pelo muito que havia conseguido, na convivência estreita e habitual, no campo didático e científico. Acrescentou, ainda, que em meio de acontecimentos tão auspiciosos, constava a impossibilidade de ser ouvido por dois vultos incomparáveis a quem quisera significar agora todo o seu reconhecimento; “vencido e amargurado pela ausência irreparável, converto o almejado testemunho de gratidão num sentido preito de saudade à memória de Miguel Couto e de Juliano Moreira”. No seu consultório particular, conseguiu numerosa clínica pelos seus profundos conhecimentos teóricos, reputação brilhante e alto conceito profissional, especialmente por dedicação à profissão e por seu amor ao próximo, prestando assistência a pobres e ricos, eminentes figuras da República, desde os mais altos mandatários do País, aos mais humildes, atendendo-os nas grandes mansões e/ou nas enfermarias do Serviço de Assistência Municipal; à época, diga-se de passagem, os municipais eram os que mais se destacavam em termos de atendimento à população. A propósito disso, em muitas de suas reflexões e no decurso de intenso trabalho na clínica, quando dividia suas atenções entre os doentes pobres, internados em serviços gratuitos e os abastados, a que assistia em suas confortáveis residências, impressionou-o a paradoxal observação de apresentarem os primeiros, mais rápido, mais tranqüilo, mais consistente recuperação, que os últimos.
Sendo o mesmo médico e os medicamentos, a disparidade só podia resultar da disciplina a que se submetiam os pacientes internados, do rigor na administração das drogas, da observância às normas dietéticas, da facilidade na complementação dos exames e da indispensável colaboração da enfermagem. Por que não beneficiarem também dessas vantagens os doentes abastados? Pela inexistência, então, de mentalidade que concebesse a procedência da internação para os casos que não os cirúrgicos, obstétricos e psiquiátricos, e pela razão ainda mais forte de não existirem para eles hospitalização, senão em estabelecimentos gratuitos para indigentes. Assim em 1933, associando-se com o psiquiatra Aluísio C. Marques criou a primeira instituição desse gênero, na cidade do Rio de Janeiro, iniciando salutar mudança no conceito e prática do exercício clínico, fundando a Clínica de Repouso São Vicente, na Rua Marquês de São Vicente, esquina com a Rua Adolfo Lutz. Para concurso de provas e títulos, ingressou no corpo clínico do Serviço Nacional de Assistência a Psicopatas e no da Assistência Municipal, tendo sido aprovado em primeiro lugar no Concurso de Cirurgião, mesmo exercendo especialidade clínica. Logo em seguida, no Hospital do Pronto Socorro, chefiou o Serviço Benício de Abreu, de Clínica Médica. Nessa fase, publicou dezenas de trabalhos, concebeu e planejou um serviço especializado para as doenças cardiovasculares, projeto que mereceu o apoio e a aprovação do Secretário Geral da Saúde e Assistência, Dr. Jesuíno de Albuquerque e do Prefeito Dr. Henrique Dodsworth, do que resultou a criação do Instituto de Cardiologia, cuja inauguração, em 19 de abril de 1944 foi prestigiada com a presença do Presidente Getúlio Vargas, aniversariante naquela data, e incluído este evento, nas comemorações como sincera e justa homenagem à S. Excia. pelo interesse dispensado no seu governo ao importante problema das doenças cardíacas no País. Além de seu fundador, Genival Londres se manteve vários anos como seu diretor. Hoje, o famoso e conceituado Instituto de Cardiologia Aloísio de Castro. Logo em seguida, a Prefeitura de São Paulo, iniciou obra semelhante, criando o Instituto Municipal de Cardiologia. E, ainda pertenceu a diversas sociedades nacionais e internacionais, inclusive a Sociedade Paraibana de Medicina e Cirurgia, que sempre destacava nos registros e escritos. Individualmente, e em colaboração com seus companheiros de trabalho, publicou mais de 80 artigos em revistas nacionais e internacionais. Em 1946, com a colaboração de Puchério Filho, Joaquim Breto, Nelson Cotrin, Roberto Segados e Sylvio Fialho, publicou o livro “Hipertensão Arterial”, volume de 572 páginas, considerado pelos meios médicos, como um dos mais lidos da literatura médica. Também em 1954 editou outro livro sobre “Tratamento do Cardíaco Descompensado”. O professor Pedro Osório, internacionalmente conhecido, cardiologista argentino, após visitar o Instituto de Cardiologia, emitiu as palavras abaixo: “seria interessante selecionar estudos estatísticos similares no Brasil a fim de estabelecer a magnitude do problema social que representam a enfermidade do coração, para que as autoridades organizem a luta correspondente, tal como se procede com outras doenças como tuberculose, sífilis, câncer, etc.”. “Isto é tanto mais conveniente porquanto as próximas conferências pan-americanas da Saúde Pública devem se reunir no Rio de Janeiro e já têm como uma de suas técnicas, as doenças cardiovasculares como problema de Saúde Pública”. O notável médico e escritor Pedro Nava, citado pelo poeta Carlos Drumond de Andrade como um dos melhores memorialistas da língua portuguesa, em seu “bestseller” “O Círio Perfeito”, ocupou várias páginas sobre Genival Londres, ressaltando: “infatigável leitor dos clássicos da língua e bibliófilo. Deixou uma cervantina da maior riqueza e possuía praticamente todas as edições raras, importantes, eruditas e luxuosas de Dom Quixote”. Recentemente, sua extraordinária companheira, Stella Garcia Rosa Londres, reuniu todo o acervo dessa obra, de valor inestimável, e doou à Biblioteca Nacional.
Mais adiante, Pedro Nava asseverou que as primeiras sulfanilamidas, imbatíveis no combate às infecções, foram empregadas pela primeira vez, no Rio de Janeiro, no Serviço Benício de Abreu, pelo mestre Genival Londres, constituindo uma verdadeira reviravolta no campo terapêutico, juntamente com o advento da penicilina. A partir deste momento, verificou-se brilhante reabilitação da clínica, passando, realmente, a curar, ficando em mesmo pé de igualdade com a cirurgia, destacando-se fabuloso avanço no campo das grandes conquistas da Medicina deste século. A época, o Dr. Paulo Niemeyer costurou o coração de um operário atingido por uma punhalada, com enorme repercussão na imprensa. Porém, mais sensacional do que isso foi a proeza do Dr. Joaquim de Britto, registravam os mais importantes órgãos de divulgação do País, que com a colaboração do cardiologista Genival Londres, conseguiram salvar uma menina condenada à morte, com 12 anos, por um mal congênito, pois as duas artérias a aorta e a pulmonar, nasceram-lhe ligadas por um canal arterial, que, por último, culminaram com uma gravíssima infecção – endocardite. O caso era eminentemente cirúrgico com 1% de possibilidade de sobrevivência. Segundo os médicos, havia um grande dilema: se operada, a menina poderia vir a morrer; se não operada, fatalmente morreria. O Dr. Genival Londres tratou de preparar o campo e manter revigorado o coração da criança. Com a aplicação da penicilina, obteve o êxito inicial, básico, fundamental, sem o qual seria impossível a operação. Seguiu-se a vez do bisturi, o canal foi eliminado, com a extração de quase uma costela inteira. Realizada a espetacular intervenção, a menina voltou aos cuidados do clínico-cardiologista. Ambos, posteriormente, festejaram a grande vitória sobre a morte; a garota ficou curada e definitivamente fora de perigo. Esta foi a primeira cirurgia realizada no Brasil, com êxito espetacular para esse tipo de correção de uma anomalia congênita cardíaca. Nos idos de 49, precisamente em 12 de novembro, inaugurou-se a nova Clínica de Repouso São Vicente, casa de saúde tida como modelar, nas encostas verdejantes das vetustas e altaneiras montanhas da Gávea, no dizer de Álvaro Coutinho. A solenidade de inauguração, compareceram o Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, o Prefeito do Distrito Federal, General Ângelo Mendes de Morais, o Ministro Philadelfo de Azevedo, o General Góis Monteiro e muitas outras personalidades do mundo social e político carioca. A Clínica de Repouso São Vicente, então dirigida pelos Drs. Genival Londres, Aluísio Marques e João Borges Filho, constituiu-se num dos mais bem instalados hospitais do País e da América do Sul. E, hoje, sob o comando de Luiz Roberto Londres, seu filho e predestinado seguidor, na Medicina do Rio de Janeiro, mantém com outros vultos de nosso tempo, a categoria desejada de um atualizado e magnífico Centro Médico. Na opinião do Embaixador Macedo Soares, como não se pode viver somente do coração, Genival Londres dividia seu tempo em colecionar edições de Dom Quixote, cuidava de uma bonita fazenda na Baixada Fluminense, que fotografava em todos os ângulos com belos zebus fazendo pose na paisagem tranqüila onde o coração do professor descansou da fadigas de cuidar do coração de sua imensa Clínica. Sempre em contato com pacientes, muitas vezes graves, como católico devotado, procurou o ritual religioso quando era chegada a hora da partida. A fim de amenizar a quebrada resistência psicológica do doente, propôs e obteve aprovação do Concílio,... mudando a expressão “Extrema Unção” para a de “Santa Unção, Sacramento dos Enfermos”. Quis, assim, buscar em uma Epístola do Apóstolo Santiago, o consolo espiritual e a promessa do restabelecimento físico. Teóphilo de Andrade, interpretava dessa forma Genival Londres, como um curador de corpos e de almas. Ao ser escolhido para substituir Dr. Paulo César, pelos altos títulos de clínico e cientista, à frente da benemérita Santa Casa de Misericórdia, na qualidade de Diretor Médico, Genival Londres, declinou de uma homenagem que amigos e admiradores seus lhe queriam prestar. Em carta enviada a seu colega Dr. Roberto Segadas, assim, comunicou-lhe ressaltando o imperioso motivo, pela tragédia do desaparecimento do seu antecessor, acentuando que não teria ânimo de comparecer a
uma reunião festiva. Ao aceitar o honroso convite para preencher a vaga do Dr. Paulo César, um dos principais motivos era o sincero desejo de continuar a grande obra iniciada pelo colega. Por isso, sem solenidade, recebeu o cargo, confiante em prosseguir na meritória tarefa de soerguimento do venerando Hospital da Santa Casa de Misericórdia, da cidade do Rio de Janeiro. O Dr. Genival Londres, além dessas qualidades tão decantadas e reconhecidas pelo mundo médico, acrescidas pela inconfundível individualidade e elegância de atitudes, chegou a ser escolhido como entre um dos 10 mais elegantes homens do Brasil, em concorrido concurso dirigido pelo famoso Cronista Social Ibrahim Sued. Por essas e muitas outras razões é que o saudoso e querido mestre Newton Nobre de Lacerda, seu colega e afeiçoado amigo, costumava chamá-lo de Genial, expressão coincidentemente muitos anos depois repetida por Pedro Nava. Ao registrar seu falecimento em 31 de janeiro de 1977, aos 79 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, a imprensa foi unânime em dizer que o seu nome encontrava-se entre as grandes figuras da medicina brasileira do século, respaldada pelo consenso de seus pares. A Academia Paraibana de Medicina, que sempre primou pelo culto das personalidades mais destacadas no campo da Medicina deste torrão natal, rejubila-se naturalmente, em ver inserida em seus anais, modestamente, a figura extraordinária de Genival Londres. Tenho dito!
CADEIRA Nº Patrono:
35
Dr. OCTACÍLIO CAMILO DE ALBUQUERQUE
Data de posse: 16/02/1995 Ocupante: Genival Veloso de França Saudação:
José Eymard Moraes de Medeiros
16/02/1995
Saudação ao: Dr. GENIVAL VELOSO DE FRANÇA Cadeira nº 35 Por: Acad. José Eymard Moraes de Medeiros
Meus Senhores, Minhas Senhoras, Senhores Acadêmicos Manhã do dia 04 de março de 1933. Pelas ruas do bairro de Jaguaribe, habitado por funcionários públicos e comerciários, localizado no centro da Capital paraibana, o jornaleiro apregoava as manchetes do jornal A UNIÃO. Destacavam-se a guerra entre o Japão e China que assumia proporções alarmantes, e a seca, nossa fiel companheira, que devastava o interior do Estado. Ao passar na Vera Cruz (hoje Aderbal Piragibe), em frente à casa nº 166, pertencente a seu Eufrosino, notou maior movimentação. É que durante a madrugada sua esposa Albertina Veloso de França, graças a ajuda da parteira Da. Anisia Cardoso, dera a luz a um menino que mais tarde seria batizado de GENIVAL, nome comum em nossa região, mas que no caso em particular, devia-se a uma homenagem ao Dr. Genival Londres, afamado médico pessoense, por quem seu Eufrosino Francisco de França, comerciário e pai do rebento, nutria grande admiração. O moleque se desenvolveu rápido, graças não só aos cuidados especiais da sua mãe, como também à abundância de “leite-de-peito” por ela produzido, que dava para fartar não só o Genival como também o magricela Delosmar, filho da sua vizinha e comadre Guiomar Mendonça, que, por intolerância ao leite de gado, fora recomendada pelo Dr. João Medeiros a só tomar leite materno, coisa que sua genitora produzia insuficientemente. Sua infância de menino pobre desenvolveu-se nas ruas do bairro de Jaguaribe, onde o contraste entre a baixa renda da sua população se reverte na grande alegria de viver. Berço de samba, de alegres festas de rua (Carnaval e São João) do tradicional bloco dos Piratas de Jaguaribe, foi lá que nasceu também o maestro José Batista do Nascimento, o popular Zé Pequeno, famoso arranjador e compositor paraibano, a quem a música popular na Paraíba deve bastante. Ainda hoje, por ocasião das festas populares ou da Copa do Mundo, várias ruas do bairro se revestem de bandeirinhas, pinturas nas paredes ou no próprio calçamento, com alusão ao evento. Genival Veloso de França fez seus estudos primários no velho Grupo Santo Antonio, sempre encarando com seriedade seu trabalho. Tanto é assim que em 1943, aos 10 anos, prestava exame de
admissão ou Lyceu Paraibano. Dos colegas da infância, relembra com atenção seu “irmão-de-leite” Delosmar Mendonça, Paulo Rosas e Juarez Guedes. As peladas de rua constituíam sua maior diversão, vindo daí a sua grande paixão pelo futebol,esporte que praticou como amador dos 12 aos 13 anos, chegando a ser Campeão Paraibano de 1956 pelo Estrela do Mar. Em 1957, o Estrela disputa a 1ª Taça Brasil contra o ABC de Natal, tendo Geninho como seu ponteiro-direito. Vale ressaltar que o time potiguar acabou como os sonhos do título, derrotando o Estrela por 2 x 0 e 3 x 1. A crise financeira do pós-guerra se abateu sobre o lar de Eufrosino e Albertina, obrigando o moço Genival a procurar um emprego que pudesse lhes ajudar a custear seus estudos no Lyceu. A falta de mercado de trabalho na nossa Capital, a pouca influência dos seus pais, associado a sua baixa idade, dificultava a obtenção do referido emprego. Tendo seu pai recebido uma promessa do próspero comerciante João Minervino, diretor da firma de estivas Araújo & Cia, que quando o menino completasse 15 anos por lá aparecesse, no dia 04 de março de 1948, às 08:00 horas, entra no escritório um franzino rapazola de calças curtas e se apresenta: “Seu João, estou hoje completando 15 anos! Vim portanto assumir o meu emprego.” O folclórico comerciante, apesar de pouco letrado, era possuidor de um grande coração. Comoveu-se com o desembaraço do rapaz e o contratou como “Office-boy”. Após alguns meses, tendo trabalhado ainda na firma Olliver Von Shosten (despachante), graças ao conhecimento com o Dr. Luiz Galvão, sócio da firma Dias Galvão & Cia (ferragens), passou a trabalhar como balconista da mesma, recebendo um ordenado que na época dava para manter seus estudos no Liceu e ainda dar uma pequena ajuda para as despesas de casa. Tempos bons os vividos no velho Liceu, na época o melhor estabelecimento de ensino da Capital, sobrepujando em muito a outros colégios tradicionais como Pio X e Colégio das Neves. Vale ressaltar que nesta época a escola pública era encarada com seriedade, tanto é assim que os professores do Liceu constituíam uma verdadeira academia, sendo que, dos seus quadros, muitos foram convocados para compor a recém-criada Universidade da Paraíba. Dos seus colegas de Liceu lembra, dentre outros, de Rodrigo Rangel, que costumava vir tirá-lo das salas de aula para ir jogar sinuca no bairro da Torrelândia. O trabalho nos 2 turnos começava a interferir em seus estudos. É que tendo prestado vestibular para o curso de Medicina, havia sido aprovado. O horário das aulas e o rigor das disciplinas, em particular Anatomia, ministrada pelo Prof. Asdrúbal de Oliveira, fizeram-no deixar o emprego. A situação financeira tornou-se cada vez mais difícil, pois além das dificuldades dos livros tinha que pagar a faculdade. Certa tarde, ao passar na Praça João Pessoa, observou longa fila que se estendia pela calçada da Faculdade de Direito até as proximidades do prédio de A UNIÃO. Perguntando a um dos que se encontrava na fila qual o motivo da mesma, veio a saber que era para falar com o Governador. O então Governador, Ministro José Américo de Almeida, dedicava uma das tardes da semana para, em audiência pública, ouvir os problemas sociais e procurar resolvê-los. Genival entra na fila, adentra o salão de despacho no qual o governador atendia e, ao ser perguntado sobre o seu problema, foi logo dizendo assim “Governador, é que eu vou ter de abandonar o 2º ano da Faculdade de Medicina, por não ter um emprego para me manter”. O Governador fez uma pausa e a seguir, com aquela voz seca que lhe era peculiar, ordenou: “Joacil! Resolva daqui para amanhã o problema deste jovem...”. O jovem bacharel Joacil de Brito Pereira, oficial de gabinete do governador, não titubeou em cumprir as ordens do chefe. Tanto é assim que 3 dias após o Diário Oficial do Estado publicava a contratação do acadêmico Genival Veloso de França para exercer a função de Inspetor de Alunos do Liceu, cargo que ocupou do 2º ao 5º ano do curso médico, tendo muitas vezes substituído acadêmicos professores de Biologia (como o Prof. Evaldo Trajano), ministrando aulas na ausência dos mesmos.
No dia 05 de dezembro de 1959, no Teatro Santa Rosa, cola grau em Medicina em cerimônia presidida pelo Prof. Lauro dos Guimarães Wanderley, Diretor da Faculdade. Logo ao concluir o curso, começa a trabalhar 2 dias da semana em Soledade e Juazeirinho, no interior do Estado, como também no Hospital de Pronto Socorro de João Pessoa. Graças ao Governador Pedro Gondim, conseguiu transferir seu emprego do Liceu para o Hospital Clementino Fraga, pertencente a Campanha Nacional de Tuberculose. Em 1960 a 1961, fez curso de Cirurgia Torácica no Hospital Alcides Carneiro do IPASE, localizado em Correias – RJ. Foi médico do IAPI e SAMDU. Ingressou na UFPB em 1963, como assistente de Técnica Operatória, na Disciplina do Prof. Herul Sá. Posteriormente, foi requisitado pela Disciplina de Medicina Legal, cujo titular, o saudoso Prof. Oscar de Castro, consegue-lhe curso no IML do Rio de Janeiro. Em 1970, com o falecimento do Prof. Oscar de Castro, assume a Disciplina de Medicina Legal, na qualidade de Prof. Titular. Bacharelou-se em Direito em 1974, pelo Instituto Paraibano de Educação (IPE), sendo da turma fundadora. Vida acadêmica Professor Titular de Medicina Legal dos Cursos de Medicina e Direito da UFPB; Membro Titular da Academia Internacional de Medicina Legal e Medicina Social, com sede em Roma – 1976.; Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências Médicas e Sociais com sede em São Paulo – por indicação Prof. Hilário Veiga de Carvalho; Membro da Sociedade Paraibana de Escritores Médicos. Obras Publicadas: NOÇÕES DE JURISPRUDÊNCIA MÉDICA – Imprensa Universitária – João Pessoa – 3ª Edição (1982); DIREITO MÉDICO – Fundo Editorial Byk-Procienx – SãoPaulo – 6ª Edição (1995); MEDICINA LEGAL – Editora Guanabara Koogan – Rio de Janeiro – 4ª Edição (1995); FLAGRANTES MÉDICO-LEGAIS (I) – Imprensa Universitária – João Pessoa (1974); FLAGRANTES MÉDICO-LEGAIS (II) Associação Catarinense de Medicina Florianópolis (1982); FLAGRANTES MÉDICO-LEGAIS (III) – Imprensa Universitária – João Pessoa (1985); COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA – Editora Guanabara Koogan – Rio de Janeiro (1994). NO PRELO : PARECERES –
Esclarecimentos sobre Medicina Legal e Direito Médico;
EM PREPARAÇÃO:
Comentários ao Código de Processo Ético-Profissional dos Conselhos de Medicina do Brasil.
O chefe de família Em 1958, por ocasião das férias, quando cursava o 5º ano de Medicina, conseguiu estágio no Hospital Alcides Carneiro, em Correias (RJ). Logo ao chegar lá, chamou-lhe a atenção uma jovem loura que trabalhava na recepção do Hospital. Com a capacidade que tem de levar uma boa
conversa, não lhe foi difícil se aproximar da bela petropolitana. O comparecimento cada vez mais freqüente à recepção terminou em namoro. Mas, eis que chega o início do ano letivo e parte para a longínqua Paraíba. No ano seguinte, novamente se encontram, sendo que desta vez o amor já era mais sólido, tendo prolongado em muito sua permanência em Petrópolis. Na véspera da partida, vai em companhia da Dercy Raposo até um barzinho e, depois de ingerir algumas BOHEMIAS, toma uma carteira vazia de PALL-MALL (cigarro que fumava então) e nas costas rubrica o seguinte acróstico: De todas as flores do mundo, És a mais linda que existe. Recebe estes versos, querida Com a mágoa da partida Indo comigo seu coração... Este coração até hoje lhe pertence. Em 02 de julho de 1961, na Igreja Alto da Serra de Petrópolis, o Frei Leão oficiou a cerimônia religiosa que uniu Derci Raposo Veloso e Genival. Desta união nasceram 6 filho: Fátima (Dentista); Genival Filho (Advogado); Cláudia (Enfermeira); Marcelo (Engenheiro); Adriana (Advogada) e Fernanda (estudante de Nutrição). Nove netos, 3 homens e 6 mulheres, que são os encantos do avô. Sendo bastante caseiro,quando não está na velha máquina Olivetti a escrever algum artigo, seu passatempo em casa é a TV, onde assiste praticamente todos os noticiários, do TJ Brasil ao Jornal da Noite. No passado seu hobby foi o Radioamadorismo, tendo por prefixo PY7 Brasil Califórnia Santiago. O político Já se disse que o homem é um ser eminentemente político. Em Genival, observamos que a política corre em suas veias, fazendo que o mesmo a respire 24 horas por dia. Todos aqueles que tiveram oportunidade de com ele conviver, sabem que ninguém costura melhor uma aliança política, a indicação ou queima de um nome do que o “Professor Genival”. Sua capacidade de fazer opinião, de trabalhar um idéia ficou bem demonstrada em 1983, quando o movimento de Renovação Médica (REME) sacudiu este país, de Norte a Sul, fazendo com que um grupo que havia se apoderado do Conselho Federal de Medicina - CFM por quase 20 anos fosse fragorosamente derrotado em 17 dos 20 Estados brasileiros de então. O grupo capitaneado por Gabriel Oselka – Rafael Rocco – Irene Abramovitch – Herval Pina Ribeiro – Guilherme Robalinho – Adonis Carvalho e outros, tinha no Prof. Genival o articulador político, o mago capaz de, com um bom papo e empregando todos os seus argumentos, conquistar adversários, mudar opiniões e conseguir votos. Sua experiência na política partidária não foi tão feliz, embora tenha conseguido a proeza de como candidato a Deputado Federal pelo PMDB, em 1986, obter 8.500 votos sem gastar um centavo, ficando na 3ª suplência. Em 1990, como candidato a governador do Estado pelo PT. Obteve a votação expressiva de 65.000 sufrágios, ficando em 4º lugar. Na área da política Universitária, merece ser lembrado a disputa pela Reitoria da UFPB em 1988, quando conseguiu atingir o 2º turno em memorável disputa com o candidato da situação, Prof. Antônio Sobrinho, ao qual bateu em todos os Centros, com exceção do CCS. O conservadorismo da categoria prevaleceu sobre o idealismo e os laços de amizade. Vida associativa
Genival dedicou grande parte da sua existência ao Conselho de Medicina, sendo hoje, o mais antigo conselheiro em atividade no país. Eleito Conselheiro suplente em 1968 e 1973, em 1978 foi eleito Conselheiro Efetivo e indicado Vice-Presidente, na gestão que tinha como Presidente o saudoso Prof. Everaldo Soares. Em agosto de 1983, encabeçando a chapa do REME, disputou com a chapa da situação, tendo como líder o Dr. Clócio Beltrão, em renhida campanha que envolveu toda a categoria médica. Tomou posse como Conselheiro Efetivo e eleito Presidente do CRM-PB em 01 de outubro de 1983. Em agosto de 1984, é eleito Conselheiro Federal e escolhido Secretário Geral do CFM, onde teve um papel relevante, tendo sido o coordenador e Conselheiro Relator do Projeto do novo Código de Ética Médica. O compositor Para finalizar, queremos apresentar uma fase da vida do Prof. Genival Veloso, desconhecida por muitos: a do poeta, do letristas, compositor que procura nos versos expressar seus sentimentos, seu amor a Terra, sua ideologia. Vão rezando uma oração, Uma oração quase sem fim, Na esperança, na ilusão De um dia ver mudar, E quem está distante Ainda pode voltar. Será que o céu vai lembrar? Será que o céu vai lembrar? SÓ SAUDADE,
samba canção gravado na voz de Ruy de Assis: Olha que manhã tão linda! Esconde esta tristeza, Minha velha amiga Eu trago esta cantiga Só pra te agradar...
(balada), UM MINUTO (samba), É TARDE DEMAIS e CHUVA DE CINZA (samba lamento); e marcha rancho CANTO DA ESPERANÇA; PRÁ QUE LEMBRAR (samba), demonstram a alma boêmia do autor e as suas frustrações amorosas: SOLIDÃO
O que passou entre nós, Passou. Não adianta relembrar, Quanto eu sofri. Melhor esquecer, Pra não chorar, Pra que lembrar, Se lembrar é sofrer...
No samba-batuque – DESPACHO DE AMOR – Genival presta uma homenagem às suas origens: Odu Yê, Odu Yê Salve Mãe Iemanjá Saravá! Saravá! No samba CANTO DO AMANHÃ e A LUTA, o autor volta às origens nordestinas, cantando com toda a alma a valentia do sertanejo: Mil bandeiras do Divino, Nos caminhos do Sertão Na frente do Conselheiro, Nos ombros da multidão. Ensinava caminho do céu Céu na terra é Sertão... MEU PECADO,
samba canção apresentado pela primeira vez pelo parceiro Zé Pequeno, na casa de Mororó, por ocasião do seu aniversário, como se fosse dele a autoria. Reconheço, este amor é impossível. Nossa lei, não permite eu bem sei. Os olhos dela Senhor, pediam tanto, Que confesso, num instante eu pequei... A esta altura, D. Eurídice Mororó já de cara feia e Mororó temendo as conseqüências, interrompe dizendo: “Neguim! Esta é daquele nego safado, o Genival”. Merece ser citado ainda a marcha rancho JESUINO BRILHANTE, feita em parceria como o nosso Acadêmico Prof. Osvaldo Travassos de Medeiros. Minhas Senhoras, Meus Senhores, Senhores Acadêmicos. Talvez tenha me tornado cansativo; mas para apresentar tão importante acadêmico, mais tempo talvez tivesse que ser gasto. Quero deixar expresso que a Academia Paraibana de Medicina, há muito aguardava esta oportunidade de ter Genival Veloso entre os seus participantes. Para nós, sentimo-nos extremamente honrados, em ter sido escolhido pelo novel acadêmico para saudá-lo por ocasião de sua investidura na cadeira de nº 35, que tem como patrono o Dr. Lauro Lyra Neyva. Só a amizade de longínquas batalhas, poderá ter influído para que este velho companheiro e admirador, tivesse a honra de participar desta noite festiva. Encerro, fazendo minhas a estrofe final do autor de VIRAVOLTA: Quem ficou a esperar Por certo não perdeu Vai ter no seu sonhar O sonho que não viveu. Dos destroços vou levar Uma flor que ficou,
Da esperança que restou Resistiu e não morreu. MUITO OBRIGADO!
16/02/1995
Elogio ao Patrono: Dr. LAURO LYRA NEIVA. Cadeira nº 35 Por: Dr. Genival Veloso de França
Meus Senhores, Minhas Senhoras, Senhores Acadêmicos. Enfim chego a esta Casa tão acolhedora e calma, como quem realiza um sonho. Nem a mim mesmo perguntei se merecia. Vou me sentando ao lado de velhos e novos companheiros, todos eles tão ilustres e queridos, cujos feitos e obras o recomendaram entrar aqui. Hoje a conversa é muito especial. Vamos recordar a Cadeira 35, de um notável paraibano que permanece lembrado pelo seu talento e pela sua fé. Vamos render um culto à saudade. Não à saudade torturada que permanece no horizonte da dor do sentimento nem às cinzas deixadas à distância de um instante vivido – tal o pó de um cristal ferido, nem a riso que chora em nossa alma. É uma saudade mais pura e mais real: a de quem ainda está presente. Antes, devo dizer que esta confraria não é apenas mais uma entidade médica. Ela pretende ser diferente das outras agremiações que tratam do aprimoramento científico ou das reivindicações puramente materiais. Somos uma instituição de incentivo e apoio, de análise e sugestões a tudo que se deve fazer em favor da cultura e da memória dos nossos maiores. Não quer dizer que somos literatos puros. Como tal, teríamos de dissolver-nos pacificamente. Não há nenhum mal que o médico possa aliar as duas formas de cultura. As letras, segundo Claude Bernard, são irmãs mais velhas da ciência. A lei da evolução intelectual dos povos mostra que tem produzido poetas e filósofos entes de formar cientistas. Seria grave alguém pensar que existem duas ordens de verdades distintas ou contraditórias, umas filosóficas ou metafísicas, outras científicas ou naturais. Acredito que o médico não deve ser apenas um profissional pragmático, a perseguir o efêmero da tecnologia que algumas vezes alcançam apenas o nada. Ou exaltar-se diante da Vida e da Morte, materialmente apresentadas pelo corpo do enfermo, através dos conceitos herméticos da ciência. É necessário que se penetre fundamente no sentido da Vida para saber o quanto ela vale de alegria e de paixão. O humanismo é a lógica mais simples. “De manhã te apresentarei minha oração e ficarei de vigia pelas tuas dores”. - palavras do humanista Girão Barroso. Vivemos uma época singular da história. Toda vez que mergulhamos em nós próprios temos a sensação de algo que nos acusa e de alguma coisa que nos adverte. Existe na alma de todos nós um grito abafado e, entre a intenção e a ação, um abismo. Urge defendermos, a todo custo, o homem que o outro homem está destruindo, uma vez que ele pôs o sentido do tempo distante do destino do seu semelhante, condicionado pelo trágico fosso que a civilização de consumo está cavando. “Este homem enfim, não é um homem, é o homem que o homem destruiu” - palavras do poeta Affonso Romano Sant`Anna.
Criam-se metrópoles de aço e concreto, verticais e desumanas, de árvores cor de chumbo e céu escurecido por uma atmosfera de fumo e pó. Ao atravessar essas ruas de tantas tragédias, notase uma sensação de desespero em cada semblante e um desatinado apelo de socorro em cada boca. Há uma solidão em cada esquina. “Mas eu não tenho tempo para pensar nessas coisas. Estou com pressa. Muita pressa. A manhã já desceu do trigésimo andar Daquele arranha-céu colorido onde moro”. - palavras do poeta Cassiano Ricardo.
Cadeira 35 e seu Patrono A cadeira que passo a ocupar tinha outro patrono. Escolheu-o a comissão organizadora da Academia Paraibana de Medicina em sua sessão de instalação, no dia 19 de dezembro de 1980. Não tinha e não tenho nada contra o ilustre nome antes lembrado. Achava apenas uma injustiça esta Casa não contar com o nome de Lauro Lyra Neiva. Assim, depois de um entendimento fraterno, consegui que ele fosse meu patrono. Sempre tive por este ilustre paraibano, uma profunda admiração pelo seu talento e uma curiosidade incontida pelo seu viver obstinado. O Homem Lauro Lyra Neiva nasceu aqui bem perto, nesta mesma rua das Trincheiras, num simpático e bucólico casarão de número 80, precisamente às 4 horas e 1 minuto do dia 29, de novembro de 1904. Filho de José João Soares Neiva Filho e de dona Maria do Carmo Lyra Neiva, tendo como avós paternos José João Soares Neiva e Emília Olindina de Lucena Neiva e como avós maternos: Cândido de Lyra e Alcyra Gomes de Lyra. Casou-se em 4 de dezembro de 1935, três horas depois de sua formatura, com Alvacoeli de Castro Neiva, para nossa alegria aqui presente e que, no dizer de Carlos Romero que o sucedeu na Academia Paraibana de Letras, “não foi só esposa compreensiva, a companheira dedicada, mas, também, assessora inteligente e eficiente”. Viveu em Santos até 1917, quando seu pai, funcionário da Alfândega, foi transferido para Belém. Ali, fez o curso primário e o de Contador na Escola Prática de Comércio. Viajou para a Paraíba em 1923, a procura de um emprego com seu tio Eugênio Lucena Neiva, que era diretor da Delegacia Fiscal. Entrou como servente e no mesmo dia, por necessidade do serviço, foi elevado a datilógrafo. Em seguida, fez concurso para os Correios e Telégrafo, onde foi aprovado chegando a subcontador seccional. Entre 1923 e 1929 completou os estudos preparatórios no Liceu Paraibano, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro. No Rio, aceitou ser secretário do Contador Geral da República com uma condição de poder continuar seus estudos, o que fez com brilhantismo e dedicação, durante os anos que passou pela Faculdade Nacional de Medicina, até colar grau a 4 de dezembro de 1935. Era um homem muito simples. A vaidade jamais o seduziu, embora cedesse à imortalidade acadêmica, muito mais para dar do que para receber. Tacou a vida num caminho tranqüilo, na naturalidade de quem não tinha pressa. Olhava a vida pelo lado bom e não acreditava na maldade humana, porque no seu coração só existia bondade.
Isso faz-nos lembrar Vieira, no Sermão da Quinta Quarta-feira da Quaresma, quando repetia Aristóteles, ao dizer que as paixões do coração humano são onze, embora possam ser reduzidas a duas capitais: amor e ódio. E afirmava: “Se os olhos vêem com o amor, o corvo é branco, o demônio é formoso, o pigmeu é gigante e o que não é tem de ser. E se os olhos vêem com ódio, o cisne é negro, o anjo é feio, o gigante é pigmeu e o que tem de ser não é nem será jamais”. O Médico Quase saído da Faculdade, Lauro Neiva foi ser assistente voluntário do Prof. Henrique Roxo na cátedra de Psiquiatria da Faculdade Nacional de Medicina. Para dedicar-se mais a sua profissão decidiu pedir demissão do Ministério da Fazenda. No entanto no dia 16 de janeiro de 1936 foi chamado às pressas para socorrer o Dr. Arthur de Souza Costa, então Ministro da Fazenda, acometido de um pré-edema agudo do pulmão, o que fez com grande êxito, valendo-lhe, em seguida, o convite para ser médico contratado e médico do Gabinete do Ministro. Aí ficou até 1961 quando se aposentou, mesmo que por lá tivessem passado muitos outros Ministros. Recusou convite para ser Diretor do Serviço Nacional de Doenças Mentais – seu maior sonho como médico, porque lhe negaram os recursos necessários para uma profunda reforma nos moldes que ele imaginava. Aceitou ser simples diretor de um modesto hospital psiquiátrico, onde recebeu dos seus colegas apoio incondicional, mesmo que mais tarde tenha se demitido diante da intolerância e do preconceito dos diretores gerais contra sua crença e contra seu ideário de mudanças. Atitudes existem que matam tudo, até os sonhos. Assim, resolveu deixar de clinicar. Fechou o consultório. Não aceitou mais nada na vida pública. Recolheu-se à intimidade de suas leituras prediletas e começou a escrever seus livros. É sempre assim: quanto maior a paixão, maior o sofrer. Antes, porém, recebera do Ministro Gastão Vidigal as condições para um estágio de 5 anos nos Estados Unidos, onde aproveitou o tempo para estudar e pesquisar os métodos modernos de tratamento das doenças mentais e a maneira de viver daquele povo do que resultou o livro intitulado: “Reflections and Observations on American Living”. Como era um homem sem ambição material e preocupado apenas com o bem estar do seu semelhante, foi mais apóstolo que um profissional da medicina. Mesmo assim, seu currículo médico é muito amplo: Formado pela Faculdade Nacional de Medicina, Assistente da Disciplina de Psiquiatria da Faculdade Nacional de Medicina, Professor de Ciências, Membro Efetivo da Liga Brasileira de Higiene Mental, Sócio Fundador da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, Membro da Associação Médica do Rio de Janeiro, Sócio do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Sócio Fundador da Associação Internacional de A Outra Medicina, Diretor do Hospital Espírita Pedro Alcântara, Interno do Hospital Pró-Mater e Estágios na Clínica Mayo, no Hospital Psiquiátrico da Universidade de Columbia e no Hospital John Hopkins de Baltimore, durante 5 anos. Mesmo sendo psiquiatra de formação, como médico sempre teve sua preocupação voltada para esse flagelo da humanidade, que é o câncer. Segundo ele próprio, com a ajuda do espírito de outro médico – João Pedro, recebeu a revelação de que aquela cura estaria no leite do aveloz, receitando-o a sua própria genitora, à época portadora do mal e que teve recuperação alentadora. Tudo isto está escrito no livro “Cura do Câncer pelo Aveloz”, cujos relatos impressionaram os grandes institutos de pesquisa do mundo inteiro. Todavia, como sempre acontece com fatos dessa natureza, criou-se, em torno dele e das suas idéias, uma onda de preconceitos e de intolerância que, pouco a pouco, fez com que o Dr. Lauro amargurado e triste, encerrasse sua vida profissional e dissesse em tom melancólico: “Resolvi fechar o meu consultório médico, antes, portanto, que as autoridades mandassem os seus dignos agentes fechá-lo, cumprindo a lei”. Nada a estranhar, pois, os homens de ciência nem sempre têm a
humildade de conviver e respeitar certos fatos, muitas vezes porque não podem explicá-los dentro dos limites herméticos do tecnologismo científico. Infelizmente o progresso não afastou essa tendência.vez por outra estamos voltando à noite dos tempos. O Escritor Sua primeira crônica escrita foi no Jornal “A Folha do Norte” em Belém do Pará com o título “Quem esquece primeiro: o homem ou a mulher?”, disputando um concurso. Como cronista de fato, começou mesmo no “Correio da Manhã”, um jornal que se editava em João Pessoa, de propriedade de Ruy Carneiro. Depois, em “A União”, “Liberdade” e na revista “Era Nova”. Em Belém, na “Folha do Norte”, no “Estado do Pará” e na “Província do Pará”. No Rio de Janeiro escreveu para o “Diário de Notícias”, e também para “O Seminário” e “O Brasil”. Publicou além do já citado “Reflections and Observations on American Living”, os livros “Aconteceu em Outro Mundo”, pela Empresa Gráfica O Cruzeiro, em 1959; “Aveloz, a Planta que mata o Câncer”, pela Gráfica Muniz, em 1966; “O Psiquiatra e o Invisível”, pela Empresa Gráfica O Cruzeiro, em 1968; “Forças do Espírito” em parceria com Luiz da Rocha Lima, pela Artenova em 1972; “Os Mortos Ensinam aos Vivos”, pela Artenova, em 1975, e “Carlos Dias Fernandes – Mensagem Esotérica em Poesia Olímpia da Glória, Cruz e Amor” pela Editora A União, em 1975. Foi eleito em 9 de outubro de 1971 para a Academia Paraibana de Letras, Cadeira 27 – Padre Azevedo e tomou posse no dia 11 de março de 1972, sendo saudado pelo Acadêmico Osias Gomes. O Missionário Há um traço comovente na personalidade de Lauro Neiva: o humanitarismo que se reflete e exalta em toda sua vida. Podem até negar-lhe a condição de genialidade ou o título de cientista, mesmo porque isso nunca o preocupou. No entanto, ninguém lhe negará as qualidades de um anjo iluminado no caminho da ascensão. Fez-se convictamente espiritualista no meio dos incrédulos. E não se contentou ser apenas uma “fé silenciosa”. Lauro Neiva nunca negou que toda sua obra, mesmo como médico, fosse uma extensão de sua mediunidade, enriquecida por revelações de conselhos e advertências vindas do plano espiritual. Como psiquiatra de grande sensibilidade e saber, além da capacidade de vasculhar os esconderijos da pobre alma humana, conhecia as causas das desordens e os fatos que atormentam a proletária tragédia de cada homem e de cada mulher, quase naufragada pela felicidade e pela paixão. Por isso, não foi difícil entregar-se de corpo e alma a esse apostolado, onde o amor e a caridade eram o bálsamo da desgraçada aflição humana. É que no seu entendimento muitas dessas tragédias tinham as raízes fincadas na natureza mística de cada um. Isso não quer dizer que Lauro tenha descartado a Medicina como proposta útil e necessária, ou não tenha reconhecido como patrimônio da humanidade. No seu livro “Forças do Espírito” ele diz de maneira muito refletida “Quando alguém de tua família ou das tuas amizades, apresentar um comportamento esquisito, excêntrico, incompreendido, violento, agressivo, leva-o, primeiramente, a um consultório médico da tua confiança. Se o especialista, usando os métodos mais simples e, mesmo, os mais complicados (como a convulsoterapia), não conseguir curá-lo, fazendo uma tácita confissão de impotência psiquiátrica ou psicanalítica, leva-o a uma tenda espírita. A nossa longa experiência nesses assuntos assim nos permite aconselhar”. O Fatalismo
Lauro Neiva morreu no exato dia do seu aniversário, quando comemorava setenta anos de vida com a família e os amigos. Chamado à porta de sua residência, foi assassinado por assaltantes que lhe invadiram a residência. Era 29 de novembro de 1974. Morreu sem saber por quê. Sem reclamar. Sem uma palavra de ofensa ou recriminação. Morreu na tranqüilidade em que viveu, com o coração aberto numa comovente diástole de perdão. Morreu sem esboçar uma única mágoa, sem lamentar o ocorrido resignado como que salva a consciência. Há coisas que mais parecem um descuido de Deus. Palavras finais Senhores acadêmicos, Não poderia encerrar essas palavras sem antes agradecer à família Neiva, aqui residente em João Pessoa, ao Prof. Carlos Romero que me cedeu material tão valioso para essa saudação e aos ilustres confrades que me acolheram em fraternal convivência. Agradeço a todos que aqui vieram. Agradeço ao acadêmico José Eymard Moraes de Medeiros pelas referências generosas e nem precisa dizer que ele é meu amigo. Agradeço aos meus familiares que me ajudaram e me incentivaram nesta amável tarefa. Agradeço de forma especial e comovida a dona Alvacoeli de Castro Neiva, viúva do homenageado, não só pelo esforço de vencer tantas distâncias, mas pelo encantamento e pela simpatia registrados nessas horas de boa convivência. Os dias que faltam serão poucos para agradecer a tantos. E para encerrar essa conversa, tão significativa e tão sentimental, eu, que me vejo como um homem de pouca fé – pobre de mim, saio deste mundo místico e insondável que maravilhou a vida e a obra de Lauro Lyra Neiva, e retorno ao mundo das minhas dúvidas e das minhas aspirações. Mas saio crente que este homem conseguiu vencer a morte ressuscitada na gratidão e eternizado na memória dos seus. Aos que me acompanharam nesta volta, muito obrigado.
CADEIRA Nยบ
25
Patrono:
Dr. LAURO DOS GUIMARÃES WANDERLEY
Data de posse: 22/03/1995 Ocupante: João Cavalcanti de Albuquerque Saudação:
Orlando Álvares Coêlho
22/03/1995
Saudação ao: Dr. JOÃO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE Cadeira nº 26 Por: Acad. Orlando Álvares Coêlho
João Cavalcanti de Albuquerque, tê-lo como colega, é um privilégio. Tê-lo como médico, uma graça de Deus. Disse o jesuíta E. Friderichs: “Para aquilatarmos o valor de um homem, devemos conhecê-lo não apenas em suas relações com o mundo externo, mas ainda mais no círculo de sua intimidade na vida de sua família. Aqui descobrimos seu valor moral e a virtude régia do domínio próprio”. Esta possibilidade me foi permitida. Embora fôssemos da mesma família, o nosso conhecimento e relacionamento, somente veio a acontecer no ano de 1946, por intermédio do casal Abílio Costa e Judith Lins. A partir daquela data teve início uma amizade fraterna, que permanece até hoje. Filho do proprietário rural e comerciante Elias Cavalcanti de Albuquerque e Tereza Vieira de Albuquerque, uma santa, nasceu João, em São Miguel do Taipú, a época, povoado do Município
de Espírito Santo, na Várzea do Paraíba, em 28 de fevereiro, uma segunda feira de carnaval, em plena folia momesca. Caçula de uma família de 5 irmãos: Heloísa, Clóvis, Carlos e Jayme, foi batizado na Matriz do povoado, tendo como padrinhos o casal João e Alice Falcão, em cerimônia oficializada pelo padre Antônio Trigueiro, hoje na paróquia de N. Senhora de Lourdes, nas Trincheiras. Passou a infância e parte da adolescência respirando a paz e a tranqüilidade do povoado, onde o silêncio era quebrado, apenas pelos apitos do Engenho Oiteiro, em sua época de moagem e o resfolegar da “Maria Fumaça”, transportando cana em seus vagões. As brincadeiras eram idênticas as de todas, ou quase todas as crianças do interior: cavalo de pau e bolas de gude. Face a proximidade do engenho, usufruía do bom caldo de cana e do açúcar mascavo. Fez o curso primário na Escola Elementar Mista, tendo como primeira professora a Sra. Maria José Vinagre de Medeiros. Permaneceu em sua terra natal até o ano de 1942, quando necessitou progredir em seu aprendizado. Veio para João Pessoa. Era o provinciano chegando à Cidade grande, “basbaque em ver casa caiada”. O impacto da mudança foi grande, principalmente por ter deixado seus pais. O remédio eficaz para vencer a saudade, era a vontade de vencer. Matriculou-se no pré-exame de admissão, curso ministrado pelo professor João Vinagre, por coincidência, irmão de sua primeira professora. Em 1942 se submeteu ao exame de admissão no Liceu Paraibano. Naquele ano e no seguinte, foi hóspede de uma tia. Sra. Alcina Falcão, que residia na Avenida 1º de Maio, em Jaguaribe. Em 1944, passou a morar com seus irmãos, funcionários do Banco do Brasil, em uma república, na Rua Diogo Velho. Seus pais permaneceram em São Miguel até o ano de 1944, quando decidiram vir fixar residência em João Pessoa, na mesma casa onde moravam os chamados, naquele tempo, “os meninos do Sr. Elias”. Mudaram de residência, trocando a Diogo Velho, pela Caturité, hoje Profª Alice Azevedo. Em 1945 terminou o Curso Ginasial, tendo sido eleito, orador da turma concluinte, fato que já atestava com veemência seus pendores para a oratória. Em 1946 matriculou-se no 1º ano Científico. Eu cursava o 2º ano. O Liceu Paraibano representava um estabelecimento de ensino considerado como um dos melhores. Ressalve-se aqui, que era uma Escola Pública. Seriedade nos Cursos, gabarito dos professores. Hoje, seria uma Faculdade. E que Faculdade! A evocação destas lembranças é uma justa homenagem àqueles que, tenho convicção, influíram na formação cultural do João Cavalcanti e de muitos dos que aqui se encontram. Emanuel de Miranda Henriques, Dulce Ramalho, José Washington de Carvalho, Gioito Gioia, Oswaldo Montenegro, Aníbal Victor de Lima e Moura, Cônego Nicodemus Neves, Anísio Borges, Celestin Maurius Malzac, Juvenal Coelho, Cônego Matias Freire, Olivina Olívia Carneiro da Cunha, Rita Miranda, Alaíde Chianca, Argentina Pereira Gomes, Kleber Cruz Marques, Geraldo Beltrão, Manoel Cavalcanti, Bernardete Cavalcanti, Walter Rabelo, Olívio Pinto, Afonso Pereira e Otacílio Camêlo de Albuquerque. Se alguém deixou de ser citado que me perdoe o esquecimento, são 48 anos de distância. João Cavalcanti foi discípulo de muitos destes. Absorveu seus ensinamentos científicos e éticos. Aprimorou suas tendências literárias, as quais se evidenciaram quando associando-se a Grêmios Literários, demonstrava seus dotes, na arte de falar e escrever. Era por demais solicitado para ser o interprete de agradecimentos ou saudações. Pertenceu ao Grêmio Pereira da Silva, onde foi Presidente e óbvio, orador. Essa Associação Literária tinha sua Sede na Av: General Osório, onde hoje funciona a Ação Católica. Existiam outros Grêmios. As reuniões eram realizadas aos sábados. Fato curioso era o interesse da turma jovem pela literatura. Sempre auditório com grande presença. Naquele tempo teve como companheiros: Carlos Veloso, Diógenes Sete Sobreira, Galvani Muribeca, Carlos Guerra e José Vitorino.
Apresentou trabalhos sem conta. Entre eles os contos: Veneno da exigência, Noite de São João, a Rã e o pintassilgo e Um sonho que se desfez. Não sei a razão do João Cavalcanti não ser hoje um renomado escritor. Ferramentas ele as possuía. Inteligência e verve. Em 1947, recebi o convite de João para ingressar no comércio, no ramo de estivas, através da aquisição de uma mercearia. Procuramos ponto, pesquisamos mercado. Graças a Deus nossos propósitos não foram além de um sonho. Imaginem os presentes, teríamos perdido este profissional de porte que hoje ele representa. Terminando o Curso Científico, rumou, no anos de 1949, ao Recife a fim de se submeter ao temido exame Vestibular de Medicina na Universidade Federal do Recife, hoje, Universidade Federal de Pernambuco. Bezerra Coutinho, Mário Ramos, José Gonçalves e Álvaro de Figueiredo, um quarteto respeitado e temido por quantos se aventuravam a enfrentá-lo. Em Recife, instalou-se no local onde me encontrava, Rua do Hospício, 194, “Pensão da Da. Tonha”, cognominada “Palácio da Fome”, face ao tratamento “sem” estrelas que era oferecido aos hóspedes, quase todos, estudantes. Aprovado no vestibular, entre os primeiros colocados, retornou a esta Cidade para as devidas comemorações, já com a alcunha de “acadêmico de medicina”. Naquela época era um título, posição de prestígio na sociedade. O tempo passou e apagou. Ao iniciar o Curso Médico foi morar na Rua Conde da Boa Vista, Pensão Belga, tendo como colegas de residência, Carlos Branco, Hélio Vilar, Waldir Bandeira, todos estudantes de Medicina, já no 2º ano. Quando iniciou o 3º ano médico, transferiu-se para a Rua Paissandu, Pensão do Sr. Jayme, face ao nome do proprietário, onde além dos colegas acima citados, teve como companheiro de moradia, Luíz e Diócles Álvares Coelho, José Azevêdo Sobral, Laerte Gusmão e eu. Nesta, aconteceu um fato pitoresco, digno de ser relatado. Os participantes do grupo eram, além de universitários, nas horas vagas, “pescadores de caranguejo”. Na parte posterior da pensão ficava a conhecida ilha do Leite, com manguezais convidativos à pesca do referido crustáceo. Hoje, é um bairro de importância do Recife. Sofríamos pressão do dono da Casa, pois os referidos pescados eram criados no teto da cozinha. Nós morávamos no 1º andar. A proibição foi imediata. Perdemos o credenciamento do nosso criadouro. Neste local, João permaneceu até sua formatura. Suas atividades acadêmicas foram por demais proveitosas. Estagiário do Hospital Agamenon Magalhães, Estagiário do SAMDU e Estagiário da 2ª Clínica Médica, no Hospital Pedro-II. Serviço do Prof. Simões Barbosa, onde Ovídio Montenegro era assistente. Colou grau no dia 8 de dezembro de 1954. Nos formamos juntos. A turma era composta por 139 colegas. Alguns já estão em outra dimensão. Os que ainda estão na batalha da vida, se encontram anualmente. Compromisso sagrado, como uma forma de rever amizades e reviver o passado. Aqui em João Pessoa, são alguns colegas de turma, João Batista Mororó, Luzia Di Lorenzo Marsicano, Inês de Araújo Pereira Monguilhott e Maria Berthilde Barros Lima e Moura. Em Souza, Sinval Vieira Mendes, já falecido e em Patos, Olavo Nóbrega de Souza. Retornando à João Pessoa, iniciou suas atividades clínicas no setor de cardiologia. Em 1955, ingressou no IAPI e no Departamento de Endemias Rurais. Em paralelo, foi admitido como Assistente do Prof. Antônio Dias dos Santos, na 2ª Clínica Médica, quando a mesma estava se instalando para receber a 1ª turma de alunos. A cada dia suas atividades como cardiologista aumentavam, absorvendo quase todo o seu tempo. Tenho a impressão que todos, ou quase todos os corações das famílias Lins, Cavalcanti de Albuquerque, César e Coelho, foram auscultados pelo João Cavalcanti. Os corações reclamavam cada vez mais sua prestimosa assistência. A despeito de seu direcionamento profissional ser no sentido dos portadores de corações doente, rendeu-se sem oferecer resistência ao chamamento de um coração sadio e pleno de amor. Enamorou-se de uma colega de trabalho, também funcionária do Departamento de Endemias
Rurais, Srta. Regina Helena Siqueira Melo, filha do Sr. Aluísio Márcio e da Sra. Niza Siqueira de Melo, com residência na Rua Odon Bezerra. O namoro iniciado em Maio de 1956 caminhou até Dezembro de 1957, quando no dia 28, contraíram núpcias. A cerimônia aconteceu na residência da noiva, tendo como celebrante, o Padre Eusébio Oliveira. Da união, nasceram três filhos. Fernando, João Cavalcanti Filho e Solange, os quais presentearam seus genitores com 5 netos. Em Janeiro de 1969, participou com outros colegas da especialidade, da fundação do Pronto Socorro Cardiológico, primeiro Hospital do Coração de João Pessoa. Nesta sociedade teve e tem atuação destacada em vários setores. Hoje é o seu Diretor Administrativo.
Atividades profissionais exercidas: 1. Professor Assistente da 2ª cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina UFPB. 2. Professor da cadeira de Fundamentos de Clínica Médica da Escola de Enfermagem UFPB. 3. Professor da cadeira de Patologia Geral da Escola de Enfermagem - UFPB. 4. Chefe de Clínica da 2ª cadeira de Clínica Médica do Departamento de Medicina Interna, da Faculdade de Medicina – UFPB. 5. Chefe do Ambulatório Central das Clínicas e Laboratório Central, da Faculdade de Medicina – UFPB. 6. Vice-Diretor da Faculdade de Medicina – UFPB. 7. Diretor substituto do Hospital Universitário Lauro Wanderley – UFPB. 8. Membro da Comissão de Apresentação do Plano de Implantação do Centro de Ciências da Saúde – UFPB. 9. Coordenador Pro-Tempore do Curso de Medicina – CCS – UFPB. 10. Diretor do Centro de Ciências da Saúde – UFPB. 11. Professor Adjunto do Quadro Permanente da UFPB. Participação em Entidades de Classe: 1. Presidente da Associação Médica da Paraíba, durante 3 períodos. 2. Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba. 3. Presidente da Sociedade Paraibana de Cardiologia.
Atividades Científicas Participação efetiva em Cursos, Mesas Redondas, Simpósios e Ciclos de Estudo. Proferiu diversas palestras e Conferências. Entre elas: Esquistossomo Mansoni: forma intestinal. O eletrocardiograma nas sobrecargas ventriculares direitas e outras, como trabalhos: Estudo sumário das verminoses na Paraíba, Avaliação clínico-epidemiológica da esquistossomose na Paraíba, Atrioletrograma: sua importância nos pós operatório de cirurgia cardíaca, e muitos outros, que demostram sua presença efetiva em Eventos Científicos em nosso e em outros Estados. Seu curriculum é profícuo e invejável. Distinta Assembléia. Retidão de caráter, como ponto de honra, sempre compenetrado de suas responsabilidades, prudente na tomada de posições, moderado no falar, manso no
tratar e inflexível na coerência de princípios. Estas são as características do nosso João Cavalcanti. Não escreveu livros, deu exemplos de vida. Jamais colocou cifrões à frente de seus atos médicos. Sua trajetória seja na vida privada ou profissional é um quadro elaborado com matizes vivos e marcantes, sem sobras ou manchas, pintado na tela da vida e permanentemente exposto aos olhares de seus colegas e de nossa Sociedade. Minhas Senhoras, meus Senhores, Srs. Acadêmicos. Tenho certeza que neste momento, o João Cavalcanti considera-se premiado e envaidecido de proferir o elogio do seus patrono, o Dr. Lauro dos Guimarães Wanderley, dando-lhe com este feito, ingresso nesta Academia. Certeza maior, a de que os componentes desta Instituição sentem-se honrados com a admissão desta figura de profissional, que representa uma das relíquias da arte médica do nosso Estado. Seja bem vindo João Cavalcanti de Albuquerque. Orlando Álvares Coêlho.
22/03/1995
Elogio ao Patrono: Dr. LAURO DOS GUIMARÃES WANDERLEY. Cadeira nº 25 Por: Dr. João Cavalcanti de Albuquerque
A história da medicina registra, em suas páginas vultos e fatos que enobrecem a profissão, pelos valores e importância que representaram em suas épocas e a projeção para posteridade. Muitos desses profissionais têm sido homenageados, aqui e ali, de uma maneira ou de outra e, para culminar, tiveram seus nomes colocados como patronos das quarenta cadeiras que compõem a Academia Paraibana de Medicina. Se eles foram, assim, homenageados, honra maior cabe-nos ocupar suas cadeiras. É, portanto, com júbilo que, hoje, tomo posse na cadeira nº 25, cujo patrono é o Prof. Lauro dos Guimarães Wanderley. Pelas normas regimentais da Academia, a posse do Acadêmico dá-se mediante o elogio do Patrono de sua cadeira. Seguindo, então, o regulamento, tentarei dizer alguma coisa, mostrar alguns traços biográficos desse médico, professor, homem público, humanista e, acima de tudo, figura humana que foi o Prof. Lauro Wanderley. Como tantos outros, transformou-se em paraibano de coração, pois, embora não sendo de nascimento, dedicou-se à Paraíba, amando-a como um verdadeiro filho. Tendo como berço a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, onde nasceu a 3 de março de 1900, foi João Pessoa o cenário de toda uma vida profícua e rica de grandes ensinamentos. Um dos 9 filhos do Sr. Carlos Celestino Wanderley, poeta e Juiz Federal e de D. Ana dos Guimarães Wanderley. Muitos dos atributos que encontramos na vida do nosso homenageado tiveram raízes familiares. Seu avô, Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, alem de médico, foi também escritor, político e Governador da Província, em 1886. Figuram, ainda, nesse elenco de intelectuais, a irmã poetisa, Palmira Wanderley, da Academia Norteriograndense de Letras e o tio poeta Segundo Wanderley. Em primeiras núpcias, foi casado com D. Maria Éster de Mendonça Wanderley, tendo os filhos Evaldo Wanderley (falecido), jornalista e cronista esportivo, casado com Maria do Carmo Tavares Wanderley, Lúcio Wanderley, economista, casado com Vera Monteiro Wanderley, Afrânio Wanderley (falecido), publicista e advogado, casado com Terezinha Coutinho Wanderley e Liane Wanderley Chaves, esposa do Prof. Ely Chaves, patologista e professor da UFPB. Casou-se em segundas núpcias, com D. Dagmar Montenegro Wanderley, de cuja união nasceram: Ana Helena Wanderley Meller, casada com o Prof. Vilson Brunel Meller, professor de literatura da UFPB; Rosa Coeli Wanderley e Silva, casada com o médico José Carlos
Falcão e Silva; Lauro dos Guimarães Wanderley Filho, cardiologista, casado com Verângela Lacerda Wanderley, odontóloga e Regina Lúcia Wanderley Castro, casada com o oficial do Exército Paulo Tadeu Coimbra de Castro, professor da Academia Militar das Agulhas Negras. Cursou o 1º e 2º graus no Colégio Santo Antonio, em Natal. Em 1921, concluiu o curso de Farmácia, pela Faculdade Odontologia e Farmácia do Recife. Com seu ideal de prosseguir em sua formação superior, dirigiu-se para Belo Horizonte, para cursar Medicina, conduzido pelo seu amigo pessoal D. Antonio Cabral, bispo de Natal. Ali permaneceu até a quarta série, sendo colega de turma de Juscelino Kubitscheck e do médico escritor Pedro Nava. Transferiu-se, em seguida para a Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, concluindo o curso médico em 1927. Começou, durante o curso, sua especialidade em ginecologia, sendo assistente do Prof. Fernando Magalhães. O médico Como médico, ele mesmo se definiu quando disse: “O médico é o reflexo de Deus na esperança dos que sofrem”, pois sabia exercer a profissão levando aos seus clientes a fé em Deus e passando para eles a esperança de que, através dos seus conhecimentos, seus males seriam curados, vendo, assim, refletidas a força e a vontade Divina. Em 1963, ao ser solicitado pelos Doutorandos para abrir um Livro de Ouro, deixou registrado seu pensamento sobre a Medicina e o Médico, quando escreveu: “O doente deve ser o homem, o próximo, o irmão que sofre, nunca o animal. Dele não exijamos a retribuição acima das suas posses, por maiores que sejam os nossos merecimentos. Não transformem quem quer que seja no filão de ouro que excita a gula dos avarentos. A Medicina é grande por si mesma, mas só é Divina quando irmanada à bondade”. Essa sua lição de desprendimento não era puramente teórica, pois a professava no dia-a-dia, como bem o justifica o fato de, ao dar assistência a uma mãe por ocasião da 1ª gravidez, não sendo ela bem situada economicamente, não cobrava os honorários ou cobrava pouco, alegando que o marido, ainda estava com a carga das despesas do casamento e de arrumação da casa. Foi assim, com carinho e dedicação à medicina que, durante os 40 anos de profissão, norteou suas ações, no amor ao próximo, na caridade, na valorização do ser humano, e o fez em todos os cargos e funções médicas que desempenhou como: cirurgião da Assistência Pública de João Pessoa, cirurgião adjunto do Hospital Santa Izabel (serviço de mulheres), cirurgião do Instituto de Proteção e Assistência à Infância, 2º e 1º Assistente da Maternidade do Estado, chefe da Clínica Ginecológica da Maternidade do Estado, chefe da Clínica Cirúrgica do Hospital Santa Izabel, legista da polícia, cirurgião do ex-Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários. Na medicina privada, firmouse como profissional competente, ético, responsável, formando uma grande clientela que atendia no seu consultório, à rua Visconde de Pelotas, na Casa de Saúde e Maternidade Frei Martinho, fundada por ele, juntamente com os Drs. Newton Lacerda e Luciano Morais e nas residências para onde era chamado, exercendo, muitas vezes, a qualidade de médico da família. Como o proprietário e Diretor da Casa de Saúde Frei Martinho, dedicava-se às suas tarefas com espírito de alta satisfação. Acompanhava os atos administrativos em todos os seus detalhes. Gostava de estar sempre organizando alguma coisa. Gostava de plantas, cultivando no jardim da Casa de Saúde, as de sua preferência, em várias cores, as espirradeiras. No trabalho, era de temperamento reservado, porém, afável, relacionando-se bem com os funcionários e os colegas que ali hospitalizavam seus clientes. Diariamente, visitava os pacientes internados, mesmo não sendo pacientes seus. Tudo isso era feito com a colaboração inestimável da esposa, D. Dagmar, que era também, inspiradora, pois, até na colocação de azulejos e compra de camas, fazia questão da cor azul, cor preferida de D. Dagmar. Seu tirocínio administrativo foi demonstrado em tantas outras atividades exercidas, como Diretor da Maternidade Cândida Vargas, Vice-Presidente e Presidente da LBA, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, presidente da Sociedade Paraibana de Combate ao Câncer. Teve acentuada participação científica em congressos, órgãos
associativos, revistas médicas, destacando-se: representante do Estado nos 1º e 4º Congressos Brasileiros e Americanos de Cirurgia; membro da Sociedade Brasileira de Ginecologia e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, título este alcançado por ter sido o primeiro a realizar a operação de Coffey-Mayo no Nordeste, trabalho apresentado na 5ª Jornada de Obstetrícia e Ginecologia, em Recife, sendo, como afirmara ali, uma continuação de uma comunicação feita em outubro de 1938, à Sociedade Brasileira de Gincecologia do Rio de Janeiro, intitulada “Tratamento das fístulas vesico-vaginais incuráveis, pela anastomose dos ureteres com a alça sigmóide”, com publicação na Revista Anais Brasileiros de Ginecologia, em dezembro de 1938. foi redator da Revista da Associação Médica Brasileira, colaborador da Revista Médica da Paraíba, da Revista Medicina, órgão da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba e da Revista Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro. Era considerado, pelos colegas, como exímio cirurgião ginecológico, o que o colocava no rol dos grandes vultos da ginecologia brasileira. No Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Nordeste, realizado em Salvador, em outubro de 1968, onde deveria participar como relator oficial do tema “Amenorréias secundárias”, foi alvo de homenagem póstuma, na sessão de abertura do conclave, sendo exaltado como um dos expoentes nacionais da especialidade, juntamente com o Prof. Arnaldo Morais, do Rio de Janeiro. Seu trabalho profissional era destaque não só pelo elevado profissionalismo, como também, por ter um teor de nobreza. Relembremos as palavras de Eugênio de Carvalho, à beira de seu túmulo: “Eu aprendi a te admirar e a te querer bem, Lauro, mesmo antes de te conhecer. Há 15 anos passados, num encontro casual destes que o destino arma em nosso caminho para mudar o ritmo de nossa vida, em uma rua do centro do Rio de Janeiro, encontrei nosso saudoso amigo Newton Lacerda conversando na calçada com o paraibano Onildo Leal que, ao me ver passar, chamou-me: Eugênio: quero lhe apresentar o Diretor da Faculdade de Medicina da Paraíba, que veio ao Rio à procura de um professor de bioquímica e nenhum mais indicado que você para ir ensinar na Paraíba. E aquele senhor baixo, afável, simpático e insinuante, começou a acenar-me com as vantagens de minha ida, dizendo: você irá conhecer um povo amigo e hospitaleiro, irá conhecer Tambaú, a mais bela praia do Nordeste e irá conhecer Lauro Wanderley – o príncipe da medicina paraibana”. E Eugênio continuou: “Newton Lacerda tinha razão: você era acima de tudo, um nobre. Nobre de inteligência, de cultura, de sensibilidade”. O político Seu brilho, seu valor intelectual, sua integridade, também se fizeram presentes no campo político. Em 1934, foi eleito deputado estadual pelo Partido Progressista, tendo participado ativamente, na Assembléia Constituinte Estadual, onde, em brilhante oração, comoveu seus pares, defendendo a colocação do nome de Deus, na Constituição do Estado. Foi membro fundador do Partido Democrático Cristão na Paraíba, tendo, em dezembro de 1946, em convenção, defendido o apoio à candidatura do Sr. Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo ao Governo do Estado, evocando os postulados da consciência cristã. Sua última atuação como político, foi a vicepresidência da Arena 2. Em todas essas atividades na política foi, sempre, comedido, pacificador, usando-a como um meio de servir à Paraíba e não em busca de satisfazer interesses particulares. Professor e vida universitária Foi grande sua participação na vida universitária, onde atuou com excepcional brilhantismo, com bravura, com tenacidade, no afã de ver a Paraíba dotada de recursos eficientes para dar à sua mocidade uma formação acadêmica à altura dos grandes centros. Idealizador e um dos fundadores da Faculdade de Medicina, batalhou com entusiasmo, com denodo, para que seu sonho não fosse uma frustração, mas um despertar vitorioso, uma realidade que veio para ficar e projetar-se no futuro. Sua luta, seu empenho pela consolidação da Faculdade, levou ao Gal. Oliveira Leite defini-
lo da seguinte maneira: “Lauro Wanderley foi o pensamento que se fez Escola”. Na cadeira de Ginecologia, da qual era professor catedrático, desenvolveu um trabalho de mestre, cujos frutos foram seus assistentes e auxiliares, moldados numa ética profissional exemplar, vindo a ilustrar o cenário médico paraibano, formação que foi transmitida e assimilada por tantos jovens ávidos de conhecimentos que por lá passaram. Em 1963, era vice-diretor da Faculdade de Medicina, na gestão do Prof. Humberto Nóbrega como Diretor, quando foi deflagrada uma greve dos acadêmicos que pediam a renúncia da Diretoria, apontando irregularidades. Assumiu a Direção por ter o Diretor viajado, encaminhando, em seguida, correspondência ao Ministro da Educação, solicitando abertura de inquérito para apurar as denúncias e afastou-se do cargo. Grande foi a sua decepção no desenrolar dos acontecimentos, extravasando seus sentimentos num artigo publicado no jornal “Correio da Paraíba”, em 20 de abril, intitulado: “Sinal dos Tempos”, onde destacamos os seguintes trechos: “Tendo sido modestamente sonhada e construída para abrir aos pobres, aos que não tinham recursos para freqüentar os centros adiantados de outras capitais, uma oportunidade, e ainda mais, para a elevada missão moral de colher vocações que feneciam na desilusão do inatingível, tirando dos modestos bureaus das repartições públicas, dos balcões enervantes do comércio e da indústria primitiva, onde a vida não tem horizontes e a esperança não tem autoras, a mocidade paraibana, inteligente e sonhadora, para guindá-la às culminâncias do sacerdócio da ciência e da arte de curar. E, assim, lhe infundimos o prestígio da mais santa das profissões. A nossa Faculdade de Medicina é, agora, arrastada à rua da amargura, é ridicularizada, é aviltada pelos seus próprios alunos”. O seu compromisso com o desenvolvimento, com a ascensão da Faculdade no cenário educacional da Paraíba e do País era constante e o demonstrava através de sua atuação, fosse na cátedra da qual era titular, fosse nos cargos administrativos que ocupou, ou no colegiado como Congregação, Conselho Técnico Administrativo e Conselho Universitário, onde sua palavra era ouvida com atenção, dado o elevado conteúdo de suas colocações. Em 12 de agosto de1964, em ato assinado pelo Presidente da República, Mal. Castelo Branco; foi nomeado Diretor para dar continuidade à sua tarefa incansável pelo engrandecimento da Escola que idealizou e criou. Por ocasião do seu sepultamento, o Reitor Prof. Guilardo Martins Alves, proferiu as seguintes palavras: “Na minha luta pelo planejamento do Hospital Universitário, tive em você, sempre, o mais decidido e entusiasta colaborador. Viajando a outros centos universitários brasileiros e estrangeiros, pesquisando e debatendo, na ânsia de dotar a Paraíba de um hospital modelar. Pois bem, aqui fica o compromisso, o Hospital Universitário Lauro Wanderley será construído, como a última homenagem ao mestre cuja maior aspiração era transformar João Pessoa num grande centro de ensino médico”.
O homem Ao analisarmos esses aspectos da vida de Dr. Lauro Wanderley, seja como médico, político ou professor universitário, torna-se fácil deduzir a criatura humana que foi, sua personalidade, sua maneira de ser e de viver, caracterizando-o como um homem católico, caridoso, probo, otimista. Sua convicção religiosa era tão expressiva, que levava seus familiares a considerar sua fé mais acentuada do que a do irmão padre e muitos dos seus colegas a cognominá-lo como “o bispo da
pedra verde”. Esse espírito de religiosidade, de fé, está plenamente inserido naquela oração da Ave Maria, que durante anos sucessivos ouve-se ao soar do Ângelus, através da Rádio Tabajara, também, transmitida pela BBC de Londres, durante a 2ª Guerra Mundial. Ao ouvirmos ou lermos sua prece, sentimos que ela foi elaborada num grande momento de reflexão, no qual toda sua alma foi entregue numa fervorosa esperança,. Esperança de ter os pedidos ali contidos uma acolhida generosa no seio da virgem Mãe dos Homens. Vejamos um trecho: “Ave Maria! Prece que murmuram nossos lábios, num contemplativo recolhimento, implorando bênçãos protetoras sobre a nossa terra e sobre sua gente para que, Senhora, sejamos, no presente, tão dignos da grandeza moral e da bravura cívica dos nossos maiores, como queremos ser exemplo para as gerações provindouras”. Seguem-se pedidos de bênçãos para o Brasil, para o campo, proteção contra a seca, contra as injustiças e pela paz, numa demonstração inequívoca de brasilidade e civismo. Na qualidade de cristão fervoroso, tinha o hábito de antes de entrar na sala de cirurgia, ia à capela da Casa de Saúde Frei Martinho, orar e pedir a intercessão divina para o sucesso da operação que ia realizar. Quanto ao espírito caridoso de que era dotado, ele se fazia presente em muitos atos de sua vida, até mesmo, quando, todos os anos, no dia 3 de agosto, dia consagrado aos estudantes, na Festa das Neves, passava pelo Cine Plaza, trocava dinheiro e ia para o Parque de Diversões distribuir com crianças sem recursos para que pudessem desfrutar, também, dos brinquedos, alegrando-se pela alegria que proporcionava. Sua caridade é lembrada através das palavras de sua filha, Liane Wanderley Chaves, ao dizer: “Sempre considerou prioritária a assistência aos pobres, especialmente os mais necessitados. Segundo ele mesmo deixava transbordar em suas emoções, a maior caridade que se pode fazer ao próximo, era mostrar-lhe respeito, procurando não expô-lo ao ridículo, procurando, sempre, encobrir-lhe suas falhas”. Embora aparentasse ser carrancudo, não comunicável, era, na intimidade, simples, sem ostentações, gostando de, no ambiente familiar, contar piadas e fatos pitorescos, o que fazia com extrema habilidade, dando um cunho de veracidade. Humanista, com reconhecidos dotes poéticos e oratórios. Amante da boa leitura, na qual enquadraram-se obras de filósofos, pensadores, romancistas, cronistas, tendo como escritores brasileiros de sua preferência Machado de Assis, Humberto de Campos, José de Alencar, Afrânio Peixoto. A leitura, seu passatempo predileto, era feita, sempre, ao som de músicas clássicas, principalmente óperas, num enlevo próprio dos grandes românticos. E ele o era. Todos os dias, ao fim do trabalho, chegava ao lar, trazendo uma rosa vermelha, símbolo do amor à sua companheira. Todos os anos, no dia 10 de novembro, comemorava com os familiares e amigos mais íntimos, num jantar ou almoço, o aniversário do casamento, momentos em que transbordavam as mais sinceras provas de carinho e rendia graças pelo feliz lar que construíra. No vigésimo aniversário, mais uma demonstração do seu perfil romântico: acompanhando uma corbeille de rosas, uma mensagem a D. Dagmar, mensagem que ao lê-la, senti que seria egoísmo de minha parte não incluí-la neste trabalho, para o conhecimento dos senhores. Vejamos: “Minha Dagmar! Vinte anos hoje faz que você uniu ao meu o seus destino... Era uma tarde triste e sombria de uma fase sofredora de minha vida. Trazia na alma cicatriz dos desenganos e no coração mortas todas as esperanças... Nenhum motivo humano havia em mim para atraí-la além da piedade por um náufrago e em mim só existia o desinteresse pelas coisas da vida... O seu aparecimento nesta poeirenta estrada não poderia, somente se a força do destino na expressão do acaso. Somente a interferência divina poderia aproximar duas folhas
soltas ao vento, partidas de pontos distantes... Vinte anos se passaram e o crepúsculo se fez aurora e a melancolia das cinzas se transmudou em claridade festiva do dia! Você nasceu assim com o destino de ressurreição e conseguiu que durante 20 anos, a expressão dos meus lábios não fosse somente a alegria de um triunfo mas, sobretudo, uma perene ação de graças a Deus que, do nada da minha vida, construiu novos sonhos, novas ilusões, novas esperanças, que se traduzem neste lar, neste doce lar que você vela com a serenidade de uma perene luz de amor e de beleza! Seu Lauro!”. Que dizer do pai e chefe de família? Nada melhor do que utilizar a definição dada pela sua filha Liane: “Pai extremoso e chefe de família exemplar, nunca deixou de estar ao lado de seus filhos e dos familiares, levando sempre uma sábia palavra de estímulo e minimizando as angústias. Ao morrer, deixou no nosso coração uma lacuna que jamais será preenchida. Desapareceu o pai, o amigo de todas as horas, o conselheiro, o semeador de otimismo. Ficou, contudo, a sua lição de vida, de honradez, de conduta, de probidade sob a forma de um livro de orações que sempre o folheio todas as vezes que o momento é de reflexão e de decisão”. Em junho de 1968, aos 65 anos, foi acometido de infarto agudo do miocárdio, quando, então, fui convidado pelo Prof. Antônio Dias para, junto com ele, prestar-lhe assistência e no dia 28, em sua residência, à Av. Getúlio Vargas, encerrava sua passagem terrena, atendendo ao chamamento D`Aquele que foi seu guia, sua força, sua inspiração maior. Estamos certos de que, naquele dia, véspera da data consagrada pela Igreja Católica a S. Pedro, o “chaveiro do Céu”, recebeu com alegria, ao som dos cânticos dos anjos, aquele que, na Terra, foi exemplo de bondade, de fé, de amor ao próximo. Referências 1 – Arquivo de D. Dagmar, viúva do homenageado. 2 – Depoimento dado por Liane, filha do homenageado. 3 – Informações fornecidas pela família do Dr. Newton Lacerda. 4 – NÓBREGA, Humberto. História da Faculdade de Medicina da Paraíba. 5 – Informações fornecidas por Ana Clementino de Lacerda, ex-enfermeira da Casa de Saúde Frei Martinho. 6 – Informações dadas por Renaldo Romero Rangel, seu Assistente na Cadeira de Ginecologia. 7 – Discurso de Eugênio de Carvalho. 8 – Discurso de Guilardo Martins Alves. Ave Maria Prof. Lauro Wanderley Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco... Rezam contritos nesta hora crepuscular de meditação e de religiosidade os bronzes sagrados das torres místicas da fé. Ave Maria! Prece que murmuram nossos lábios, num contemplativo recolhimento, implorando bênçãos protetoras sobre a nossa terra e sobre sua gente para que, Senhora, sejamos, no presente, tão dignos da grandeza moral e da bravura cívica dos nossos maiores, como queremos ser exemplo para as gerações porvindouras. Ave Maria! Abençoai o Brasil, abençoai os nossos campos, os nossos vales, os nossos sertões, onde o homem forte honradamente fere o seio generoso da terra donde brotará a semente da fartura no milagre da floração para a festa da colheita. Livrai-nos, Senhora do flagelo tremendo
das secas, cuja impenitência reduz a verde esperança dos campos, na mortalha calcinada da devastação e da morte. Inspirai a todos nós, o amor à terra comum e o espírito do generoso sacrifício pela sua grandeza. Uni num só pensamento e numa alma só, todos os brasileiros, para que nessa atmosfera de paz e mútuas compreensões, possamos realizar o trabalho que constrói para a imortalidade. Iluminai o nosso governo, esclarecei a nossa justiça, infundi em todos nós o respeito à ordem, à lei, para que assim possamos ter uma pátria tão grande quanto permitam as nossas energias; tão próspera quanto aspiram as nossas esperanças; tão feliz e tão nobre quanto sonha o nosso ideal, para maior glória do Brasil. Assim seja.
CADEIRA Nº
16
Patrono:
Dr. FRANCISCO PÔRTO
Data de posse: 28/03/1996 Ocupante: Orlando Álvares Coêlho Saudação:
João Cavalcanti de Albuquerque
28/03/1996
Saudação ao: Dr. ORLANDO ÁLVARES COÊLHO Cadeira nº 16 Por: Acad. João Cavalcanti de Albuquerque
Saudar alguém, dar boas vindas, recepcionar. No nosso caso, cabe-nos não só dizer seja bem-vindo a um novo acadêmico, mas também, apresentá-lo configurando seu perfil e, assim, deduzirmos que méritos fizeram com que seus pares o reconhecessem como merecedor dessa insigne homenagem. É esta, Orlando Coêlho minha gratificante tarefa, traduzir os sentimentos dos colegas ao abrirem as portas desta casa para tua entrada e relembrar os valores que compõem tua profícua vida profissional.
Há precisamente um ano, ao tomar posse como acadêmico, fui saudado por Orlando. Naquele momento, pedi aos presentes que considerassem suas palavras uma conseqüência de três fatores: sermos parentes, amigos e colegas de turma. Hoje lanço mão desses mesmos fatores para retratá-lo e o faço porque foi graças a eles que tive a feliz oportunidade de conhecê-lo e de acompanhar seus passos, dando-me os meios de aventurar-me na missão de abordar aspectos de sua vida. Nasceu no Sítio Santo Antônio, pertencente ao Engenho Conceição, no Município de Sapé, em 2 de abril de 1929, sendo o primogênito do casal Antônio da Cunha Coêlho e Carmélia César Coêlho. Aos seis anos de idade veio para a capital, passando três anos como um interno da Escola de Tércia Bonavides, cursando, simultaneamente, a Escola Coriolano de Medeiros. Sua formação ginasial e colegial se deu, respectivamente, no Colégio Pio X e Lyceu Paraibano, concluindo o científico em 1947. Sua vida como jovem e adolescente, foi, ao lado dos irmãos Luiz e Diocles, pautada numa disciplina de elevados valores morais que lhes eram transmitidos não só pelos genitores, como pelo avô João César, homem elegante no trajar, integro nas ações e afável no tratar. Em 1948, foi para o Recife ali conseguindo emprego na Caixa Registradora Nacional. Possivelmente, dada sua personalidade de amante da perfeição, resolveu ser médico e, em 1949, submeteu-se ao vestibular na Faculdade de Medicina do Recife, concluindo o curso em 1954. Quando começou a freqüentar a faculdade foi desligado da Caixa Registradora, conseguindo emprego como datilógrafo da Federação Pernambucana de Futebol, sendo encarregado de preparar as súmulas dos jogos tendo em 1950, sido readmitido na Caixa Registradora como escriturário. Como todo universitário de outros estados, foi hóspede de várias pensões, como o Palácio da Fome na Rua do Hospício e a Pensão Belga na Avenida Conde da Boa Vista, residindo, também, na Casa de Detenção. Ressalte-se não como detento, mas como plantonista, pois, ali, ofereciam aos acadêmicos de medicina, hospedagem em troca de prestação de serviços médicos aos presidiários. Em suas atividades acadêmicas como estagiário na Maternidade Fernandes, no Hospital Centenário. Serviço do Prof. Martiniano Fernandes, no Hospital Centenário, Serviço de Cirurgia Geral do Prof. Arsênio Tavares, no Hospital Getúlio Vargas, no Serviço Médico da Casa de Detenção, na Colônia Ulisses Pernambucano e no SAMDU, destacava-se pelo interesse e dedicação, sendo seu desempenho alvo de reconhecimento pelos seus preceptores. Terminado o curso de médico, passada a euforia da colação de grau, veio a inevitável pergunta: “Que fazer?”, foi quando optou para dar início aos trabalhos da profissão, por um Hospital de Timbaúba, interior pernambucano. Seu pensamento, entretanto, permanecia voltado para Recife, para ali deslocando-se sempre que a saudade apertava, pois havia deixado um elo de uma corrente muito forte – um amor – a bem amada Célia. Conheceram-se quando Célia era uma menina-moça com 12 anos. Aquele encontro deve têlo marcado seriamente, pos três anos depois, lá estava o Orlando na festa de comemoração dos 15 anos da flor que desabrochava e, a partir daí, o desenrolar de namoro, noivado e casamento em 23 de junho de 1956, união que é uma eterna lua-de-mel, tendo dado como frutos os filhos: Flávio, Ângela, Rubens e Virgínia e seis netos. Recém casados, fixaram residência em Timbaúba, mudando-se em fevereiro de 1957 para João Pessoa. E, assim, esta cidade teve a sorte de acolher um paraibano de regresso à sua terra e receber dele todo o carinho através da larga folha de serviços como médico competente, cuidando da mulher ou como professor universitário preparando os jovens para o exercício da medicina. Escolheu a especialidade de ginecologia e obstetrícia, sendo portador dos títulos: Ginecologista e Obstetra pela Federação Brasileira da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia; certificados de qualificação de ginecologista e obstetra pelo Conselho Federal de Medicina, além de inúmeros cursos de especialização. Exerce a profissão com aquele dom que lhe é peculiar – ser cuidadoso e bondoso – lhe valendo homenagens como: placa comemorativa conferida pela Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba, pelo exercício de presidente no período 1968/1977; placa comemorativa oferecida pelo Departamento Materno-Infantil e Hospital Universitário, pelo 35 anos de serviço
como professor, diploma e medalha de honra ao mérito concedidos pelo Capítulo Paraíba do Colégio Brasileiro Cirurgiões. Durante os 41 anos de exercício da medicina participou de jornadas, congressos, mesas, seminários, em muitos deles com trabalhos baseados na experiência do dia-a-dia. Ocupou diversos cargos e funções destacando-se: Diretor do Cento de Saúde da Capital, Diretor da Maternidade Sta. Izabel, Diretor Clínico do Hospital Sta. Izabel, Ginecologista concursado do ex-IAPC. Além de dedicar-se à nobre tarefa de cuidar da saúde da mulher paraibana e de ajudá-la na divina missão de ser mãe, também aplicou seu tempo transmitindo aos jovens seus conhecimentos e suas experiências. Foi professor. Alunos da Escola de Enfermagem Santa Emília de Rodat, da Escola de Enfermagem da UFPB, da Faculdade de Medicina, do Centro de Ciências da Saúde, tiveram sua formação enriquecida com as aulas proferidas nas disciplinas de Ginecologia e 2ª Clínica Cirúrgica, onde exerceu suas atividades como auxiliar de ensino, assistente e adjunto. Em suas atividades universitárias registram-se, também: Membro do Conselho Curador, Coordenador de Residência Médica, Coordenador de Internato, Chefe de Departamento, Coordenador de Disciplina, Diretor do Centro de Ciências da Saúde. É membro das seguintes sociedades científicas e de classe:
Associação Médica Brasileira; Associação Médica da Paraíba; Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia; Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba; Sociedade de Obstetrícia do Nordeste; Sociedade do Bem Estar Familiar do Brasil; Colégio Brasileiro de Cirurgiões; Sociedade Brasileira de Mastologia; Sociedade Brasileira de Reprodução Humana; Sociedade Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia.
Ao lado de todas essas atividades, ainda tem uma paixão, cuidar da Granja dos Coelhos, de sua propriedade no Município de Alhandra, onde se deleita exercendo o trabalho de eletricista, encanador, mecânico. Trabalho que faz não por economia, mas pelo prazer. E o faz com aquela característica que lhe é peculiar, ser detalhista. Orlando, essa tua caminhada vitoriosa tem um brilho especial, ela foi conseguida com teu esforço pessoal. Venceste obstáculos e, com destemor, abnegação, saber e força de vontade alcançaste o triunfo. Não aquele triunfo que deturpa as mentes, que torna as criaturas vaidosas, mas o triunfo da consciência tranqüila por ter colaborado para o bem estar das pessoas, dando-lhes vida, saúde e educação. Acredito que tua satisfação, hoje, ao acrescentar ao teu já brilhante curriculum o de membro titular da Academia Paraibana de Medicina é duplicada, pois tens a oportunidade de fazer o elogio de um colega com quem conviveste, de quem recebeste ensinamentos profissionais e de vida – Dr. Francisco Porto – o Chico Porto da intimidade. Recordo com saudades, aquela convivência fraterna, quando deslocava-me da enfermaria Sta. Ana, no Hospital Santa Izabel, onde funcionava a 2ª Clínica Médica e ia para a enfermaria Sta. Rosa, da 2ª Clínica Cirúrgica, bater papo com você, Pedro Palitot, Evaldo Trajano e o mestre Porto, que ostentava simplicidade e ocultava o saber, época em que era valorizado no ato médico, não o arsenal tecnológico, mas a ciência e a arte de bem examinar o paciente e ter sua conclusão diagnóstica.
Por tudo que vimos nesta tentativa de biografar, estamos convictos da correção do gesto dos teus colegas, pondo-te a ocupar a cadeira de Francisco Porto, vulto de destaque da Medicina Paraibana. Esta homenagem é um reconhecimento dos teus pares pela contribuição que prestaste para o engrandecimento da profissão médica e o teu exemplo será história nesta casa. Sêde bem vindo. PARABÉNS! João Cavalcanti de Albuquerque
28/03/1996
Elogio ao Patrono: Dr. FRANCISCO PÔRTO Cadeira nº 16 Por: Dr. Orlando Álvares Coêlho
Srs. Acadêmicos Minhas Senhoras Meus Senhores Convicção tenho eu, de ser um dos últimos a cumprir disposição regimental desta Casa, proferir o elogio ao patrono. Beijou-me a sorte com a delonga, presenteando-me com a Cadeira de número 16, tendo como patrono, a extraordinária figura do Prof. Francisco Pôrto. Seja este oportuno momento, não somente o ensejo de exteriorizar propósitos de justiça aos seus incontestáveis méritos, mas igualmente a realização particular de, em público, demonstrar gratidão pelos ensinamentos e conselhos a mim transmitidos.
Ao proferir este elogio, sinto-me agraciado com a posição de narrador participante, de uma época, na qual presenciei circunstâncias e vivenciei ocasiões que, hoje, é-me grato rememorar. Mês de fevereiro, Ano de 1957. Retornava da Cidade de Timbaúba, Pernambuco, onde, após o término do curso médico, em 1954, iniciara minhas lides profissionais. Aqui chegando, o Dr. Evandro Vieira César comunicou-me a respeito dos entendimentos com o Dr. Pedro Solidônio Palitot, sobre a possibilidade de agregar-me ao Serviço onde o mesmo exercia suas atividades. Aproveitando a oportunidade, e valendo-me da amizade que desfrutava junto ao Dr. Antonio Dias dos Santos, fui encaminhado, pelo mesmo, à presença do Chefe do Serviço de Cirurgia de Mulheres e Ginecologia e Professor Titular da 2ª Clínica Cirúrgica, de quem solicitou o beneplácito, no sentido de minha admissão no quadro de seus colaboradores. Estatura baixa, cabelos grisalhos, bem aparados, óculos de lentes grossas, risada inconfundível, gravata borboleta e um permanente cacoete de erguer os ombros e arquear os sobrolhos. Estava eu diante do Prof. Francisco Pôrto. Após ouvir atentamente o Prof. Antonio Dias, sem qualquer objeção, aceitou-me. Considere-se como grande trunfo na sua aquiescência, o padrinho que me apresentou. Neste exato momento, tive a absoluta certeza de que os SANTOS haviam me conduzido a um PÔRTO seguro. Tornava-me, eu, membro daquela irmandade da Santa Rosa, um novo acólito daquele sacerdote da Medicina. Primeira recomendação a mim dirigida: Não me Chame de Dr. Pôrto, mas de Porto. Este gesto retratava sua simplicidade, não levando em conta seu posicionamento hierárquico. Esta sua conduta era extensiva a todos. Para os mais íntimos, CHICO PÔRTO. Discorrer sobre a vida do Prof. Francisco Pôrto reveste-se de compromisso assáz custoso, mormente a pluralidade de acontecimentos, em derredor de sua pessoa, e informações copiosas de quantos o conheceram e admiravam. O tempo exíguo obriga-me a condensar relatos, sem distorcêlos, mas, é claro, não deixar no esquecimento detalhes que se tornaram importantes em sua existência. A omissão dos ambientes onde deixou rastos de sua marcante personalidade e de nomes de pessoas com quem conviveu, e, que sem dúvida alguma, fizeram parte integrante do seu Universo, se constituiria em falta imperdoável, pecado, certamente dos mortais. O importante casarão da Praça Caldas Brandão, Hospital Santa Isabel, representava seu segundo lar, com suas inúmeras Enfermarias, especialmente a Santa Terezinha e a Santa Rosa, esta a menina de seus olhos, no dizer popular. O amor e a dedicação que lhe devotava corroboravam a assertiva. Diretor do Hospital, não tinha Gabinete e muito menos bureau, com aquela placa característica e discriminatória, em letras garrafais “DIRETOR”. Sua forma modesta de ver as coisas. Era um maratonista das escadas e dos corredores. Em cada canto, em cada local onde houvesse necessidade de sua presença, instalava a Diretoria. A notória Enfermaria Santa Rosa era o campo de seu pouso certo. Ali estavam instalados os Serviços anteriormente nomeados. Pontificavam neste ambiente, onde a cordialidade era a tônica, na labuta do dia-a-dia, como assistentes, os Profs. Orlando Cavalcanti de Farias, Pedro Solidônio Palitot, Herul Holanda de Sá e Achilles Leal. À época, eram estudantes do Serviço, Maria Dalva Machado, Evaldo Trajano Souza Silva, Severino de Góis Barbosa, Nabôr de Assis, Hamilton Cavalcanti, Rivadávia Pereira Guedes, Rosa Maria Gomes Paiva, Pedro Coutinho de Moura, Marcílio Imbassahy, entre outros. Após a formatura, os quatro primeiros passaram a compor o seu staff. Posteriormente, ingressaram os Drs. Jackson Derville Araruna, João Batista Simões e Edmundo Vasconcelos de Carvalho. O Dr. Danilo Maciel trabalhou com o Prof. Francisco Pôrto durante um período, como proctologista. O Dr. Renaldo Rangel, como Cirurgião do INPS, atuava, atendendo suas paciente, na Enfermaria Santa Terezinha. Como anestesistas, os Profs. Clóvis Beltrão, Jurandyr Coutinho Marques e Ferdinando Bezerra Paraquay. As religiosas Madres Aimée du Bom Pasteur, Saint Remy, Rosa Celina, Maria de Fátima, a atendente Josefa Furtado, responsável pela sala de cirurgia da Enfermaria Santa Rosa e
tantas outras, vivenciaram aquela época, compondo com o desempenho de seus trabalhos, uma parte da história da Instituição. A referência a estas personagens, como anteriormente afirmei, era uma obrigação. Participaram da vida profissional e, porque não dizer afetiva do Prof. Francisco Pôrto. Como Chefe, sempre foi de uma pontualidade britânica. Todos os dias às 7 horas, ingressava na Enfermaria. Nós tínhamos que seguir o bom exemplo, chegávamos antes. No período do inverno, quando, às vezes, nós faltávamos, ele perguntava se éramos solúveis n’água. Às segundas, acontecia um fato deveras interessante. O Prof. Pôrto não costumava utilizar-se de termos chulos em suas conversas, mas nesse dia da semana, ao transpor a porta do Serviço, exclamava: “Hoje estou com o bute”. Era uma forma de extravasar a bile acumulada no fim de semana, no recolhimento da sua residência, longe do trabalho e do convívio dos colegas, tendo como forma de passar o tempo, a leitura. Após alguns minutos, já havia se dissipado o seu mau humor voltando a ser o mesmo Dr. Francisco Pôrto, com sua imutável fidalguia no tratar, assumindo plenamente suas atividades. Jamais perdia da lembrança o que havia prometido, mantendo, inclusive, uma relação com suas obrigações. Ao mesmo tempo, não olvidava o lhe haviam assegurado. Quando esquecíamos algum compromisso, e éramos interrogados com a pergunta: “Fez o que pedi?”. Não havia necessidade de nada mais, isto representava a punição. O serviço que dirigia era uma escola que se destacava pelas suas características de precursora de técnicas modernas em procedimentos cirúrgicos, bem como na atualização de seus meios materiais. Assim é que, sob sua batuta, foi adquirido o primeiro aparelho de anestesia, um FOREGER, americano, instalado na Santa Rosa, realizando-se a primeira anestesia com protóxido de azoto. A primeira raque saci, segundo o Prof. Clóvis Beltrão, que a executou, teve sua aplicação como acontecimento surpreendente. A retirada do baço, através de incisão diversa da tradicional, executada pelo Dr. Achilles Leal representava, à época, uma façanha, proeza admirável, pela sua técnica inovadora. Face, a esta sucessão de ocorrências, tornava-se aquele Centro de Ensino, modelo, no tocante ao aprendizado, fato comprovado pela disputa de vaga pelo alunado. Era o Prof. Francisco Porto de índole mansa, mas raras vezes, turrão. Recordo-me bem, quando tivemos a idéia de dotar o Hospital, de uma maternidade. Fomos solicitar seu aval, como Diretor. Ele de imediato, sem pestanejar, retorquiu: Não, justificando sua negativa. O projeto é inexeqüível, não temos condições financeiras e, ainda, ao meu ver, “vocês são uns loucos”. Continuando com nossa tentativa de persuasão, conseguimos que acenasse com a bandeira verde, concordando com o projeto. Após o êxito do empreendimento, ele novamente nos chamou e falou: “Reafirmo o que disse, vocês, de fato, são uns malucos, mas, com um detalhe; loucos necessários”. Ele ara assim, crítico sincero, mas reconhecido. Comandava a equipe com a força da experiência. Nós obedecíamos com respeito. Respeito aos seus dons como profissional tarimbado. Respeito às suas inigualáveis virtudes como pessoa. Não era médico apenas por ter recebido o diploma que lhe conferia o grau de doutor, mas acima de tudo, pelo saber. Avaliamos e julgamos um profissional, obedecendo às circunstâncias preponderantes do momento, bem como os meios materiais de que dispõe, para consecução impecável de seus atos, atos inerentes ao exercício de sua arte. Naquele tempo, os meios para complementação diagnóstica deixavam muito a desejar. Não havia os subsídios da moderna tecnologia. A ausência da informática, com a precisão do computador na execução de exames laboratoriais, bem como os grandes avanços no setor da imagenologia contemporânea, nos faz, hoje, imaginar nas dificuldades, face a estas lacunas. A Clínica era soberana, e o Prof. Francisco Pôrto a exercia com maestria e segurança. Contava para auxiliá-lo, no seu labor, no Serviço, com um aparelho de Raio X, de resultados limitados, e cujo técnico, diga-se de passagem, experiente, o Sr. Venâncio, as mais das vezes, como um verdadeiro taumaturgo, realizava milagres com sua aparelharem, filmes e reagentes. Exames laboratoriais, parcos, sem a sofisticação dos atuais. O Prof. Francisco Pôrto era o seguidor dos preceitos formulados pelo mestre da clínica inglesa, William Osler. “Aprenda a ver, a ouvir, a sentir, e fique certo de que só pela prática você poderá tornar-se um clínico perfeito. Veja e em seguida raciocine”. O nosso
Mestre nos transmitia segurança e tranqüilidade nos momentos difíceis. Perspicaz, ponderado, meticuloso em seus pareceres, tinha uma excepcional visão clínica dos casos, fato que o conduzia decerto ao diagnóstico exato. Quando estávamos diante de um quadro em que a indicação cirúrgica suscitava dúvidas, com opiniões se contradizendo, ele se aproximava, cruzava os braços, e indagava com ar solene: “Como é Senhores, opera-se ou não opera?”. Representava a instância final na resolução satisfatória de nossos complicados pacientes. Por índole, despojado de vaidade, jamais pretendeu distinguir-se, em detrimento dos demais, embora fosse, pela sua experiência, reconhecendo-se a evidência dos fatos, um DESTAQUE. Procurava de modo sutil, sem alardes, auxiliar a todos, com a prioridade aos mais novos, aos recém admitidos. Favorecia-nos com seu respaldo, em situação às mais diversas, com o fito de nos fazer alto-confiantes. Vezes sem conta, encaminhava pacientes à sala e nos mandava iniciar, ato contínuo, o procedimento cirúrgico, afirmando ter necessidade de examinar um seu paciente. Solicitávamos sua presença e nos tranqüilizava, dizendo que já estava a chegar. No final surgia e exclamava: Sei que já estão na sutura da pele, não preciso entrar no campo. Ressalve-se, não se ausentava um só minuto da sala contígua à nossa. Não havia nenhum paciente a examinar. Era sua engenhosa e singular maneira de nos tornar conscientes de nossas possibilidades em termos de segurança. Certa vez, enviou-me uma paciente. Trazia a apresentação em envelope fechado. Dizia ter sido orientada pelo Dr. Francisco Pôrto no sentido de me ouvir e seguir a devida orientação. Seria como se o próprio a estivesse consultado. Após examiná-la, informei do encontrado e a conduta terapêutica. Satisfeita, confessou: Parece que o senhor estava atrás da porta, quando o Dr. Francisco Pôrto disse-me do meu caso, com as mesmas palavras. Mal sabia ela que, ao abrir o envelope, havia a informação do diagnóstico e a conduta, providencial envelope lacrado. Representava este procedimento, seu permanente compromisso em prestar ajuda. Concorrência não era palavra do seu vocabulário. Tinha consciência, sem demonstrar, do que sabia e era capaz. Minha convivência com o Prof. Francisco Pôrto foi por demais valiosa. Ensinou-me cirurgia. Pôs o bisturi em minhas mãos, revelando-me os segredos e as filigranas das diéreses e suturas. Presenteou-me com livros e instrumental, preciosidades que guardo como relíquias, representando lembranças perenes de um memorável período, de um passado forte, mas quando em vez, tornando-se presente, borrifado pelo orvalho da saudade. Francisco Pôrto. Sua nacionalidade de origem, italiana; sua nacionalidade por opção, brasileira; sua naturalidade de coração, paraibana. Filho do Sr. Nicola Pôrto e da Sra. Petronilla Grillo Pôrto, nascidos e radicados na Cidade de Lauria, província de Potenza. Em 1913 emigraram para o Brasil, aportando nesta Cidade, ainda denominada Parahyba. Traziam um filho de dois anos de idade, o Francisco, nascido a 29 de novembro de 1911, na Cidade natal de seus pais. Foi o mesmo batizado na Igreja de São Jacómo, nosso São Tiago. Este santo teve influência na escolha do nome de seu irmão, Giácomo. Acompanhava o casal o Sr. O casal Dr. Domingos Grillo, irmão da Sra. Petronilla. Aqui chegando, o Sr. Nicola ingressou no comércio, no ramo de sapatos, instalou uma sapataria, na Rua Barão do Triunfo, onde residia com sua família na parte posterior da mesma. O menino Francisco, diariamente, subia a ladeira da Borborema, em direção ao colégio onde estudava, o colégio Pio-X, localizado onde hoje funciona o Pio XII. Naquela época, foi obrigado a aumentar a idade, de nove anos e meio para onze, como item obrigatório, no sentido de se submeter ao exame de admissão. Nos anos seguintes, nasceram José Mário, Vitório, Ida e Giácomo. Obtendo êxito em sua empresa, o Sr. Nicola conseguiu, juntamente com sua esposa e o cunhado, criar e educar os filhos. Os meninos ajudavam nos trabalhos do estabelecimento. O José Mário, com 14 anos assumia a responsabilidade da escrita contábil da firma. Entre os anos de 1938 e 1939, transferiram sua residência para a Av. Epitácio Pessoa. A Sra. Petronilla era de uma formação rígida, conservadora, temperamento forte e excepcional energia para o trabalho, extremamente apegada aos filhos, amor absorvente, tornou-se dificultoso convencê-la a permitir a saída dos mesmos para outras plagas, a fim de continuarem os
estudos. Dois se formaram no Rio e dois no Recife. Terminando suas etapas escolares aqui em João Pessoa, Francisco deslocou-se para o Rio, onde prestou exame vestibular na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Como estudante, foi interno da 2ª Enfermaria de Clínica Médica, Serviço do Prof. Rocha Farias, do Serviço de Cirurgia do Prof. Maritz dos Santos, no Hospital da Cambôa e passou a freqüentar o Serviço de Ginecologia da Pro-Mater. Fez cursos de especialização em doenças do aparelho digestivo com o Prof. Velho da Silva e proctologia no Serviço do Prof. Agnaldo Xavier. Residia nas imediações do Catete, requentando o célebre Café Lamas, ponto de encontro da classe universitária. Admirava as artes, notadamente música, teatro e óperas, herança marcante de sua descendência italiana. Dizem que, como todo estudante, as verbas eram curtas e por vezes, quando isto acontecia, utilizando-se de amizades, conseguia gratuidade, para assistir os espetáculos, tendo como obrigação, fazer parte da claque encarregada de aplaudir o artista que se exibia. São estórias pitorescas contadas a respeito de quase todos os estudantes, e, como não poderia deixar de ser, do nosso caro Francisco. No ano de 1933, concluiu o curso, permanecendo ainda um certo tempo na Cidade Maravilhosa. Retornando à Paraíba, montou consultório, nesta Cidade, a rua Barão do Triunfo, transferiu-se posteriormente, para a Cardoso Vieira. É curioso e oportuno reparar que exercia as especialidades de Ginecologia, Proctologia, Cirurgia Geral e Urologia, com a mesma proficiência, tanto no aspecto clínico, como cirúrgico. Esta sua polivalência faz-se necessário enfatizar, levando-se em conta que hoje, as especialidades estão sendo fragmentadas, criando-se especialidades das especialidades, chegando-se a ouvir motejos de que, no futuro, teremos especialidades para cada unidade dos nossos órgãos pares. Sinais dos tempos. Estamos chegando lá. Sua clínica respeitável. Nobre no tratar com seus semelhantes, devotado no atendimento aos seus pacientes e puro em suas atitudes. Eram estas virtudes, dons inerentes a sua personalidade, como profissional. Mantinha sua atendente, a Analice, orientada no sentido de não receber consultas. Quando fazia era quase uma cobrança simbólica. Quantias irrisórias eram pagas por tratamentos ou cirurgias. Esta forma de agir se estendia a todos, independentemente da condição socioeconômica. Aos menos favorecidos ainda aquinhoava com a importância necessária para aquisição do medicamento. Afirmava com freqüência que se algum paciente devia alguma coisa, não era a ele e sim, a Deus. Assumia dessa forma, a abnegação do outro Francisco, o de Assis, no mister sagrado de ser médico. Esta conduta influenciou a todos nós, no sentido de proceder cobranças. Quando Diretor do Hospital, seus vencimentos eram totalmente destinados a melhoramentos da Instituição. Conta o Dr. Paulo Maia, seu amigo, que, de uma feita, estavam esperando por ele, após o expediente, quando surgiu com um ramalhete nas mãos. Estranharam a atitude. Ele explicou: foi o pagamento de uma cliente, pela consulta. Embora fosse sabido deste seu desprendimento pelo vil metal, comentavam que o dinheiro chegando ao seu bolso, era difícil de sair. Dizia o Prof. Humberto Nóbrega, que o mesmo era econômico, sem ser caracterizada sovinice. Perdoamos quaisquer brincadeiras contadas a seu respeito, levando-se em consideração que estas também são relatadas a respeito de outros santos. No ano de 1935 foi convidado pelo Dr. Edrise Vilar a freqüentar o Serviço de Cirurgia de Mulheres e Ginecologia, por ele dirigido. Após alguns anos de serviços prestados, foi conduzido pela sua eficiência, à primeira assistência. Em 1936, foi nomeado cirurgião da Assistência Pública e do Hospital do Pronto Socorro, sendo seu Diretor durante 11 anos. Neste mesmo ano, no dia 4 de Maio, faleceu seu genitor, Sr. Nicola Porto. Em 1950 foi fundada a Faculdade de Medicina. O Prof. Francisco Pôrto foi um dos que assentaram os alicerces desse estabelecimento de ensino, sendo um dos redatores do seu Regimento Interno. Teve seu nome escolhido para assumir a 2ª Clínica Cirúrgica, como professor titular, reservando-lhe o direito de ser um dos pioneiros do ensino universitário em nosso Estado. Era um professor destituído de pedantismos no falar, transmitindo conhecimentos, vazados em termos práticos e objetivos. O Prof. Arnaldo Marques, titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de
Pernambuco, disse na aula Inaugural do Curso de Propedêutica Clínica, em 1952, que “O professor de uma Escola Superior terá naturalmente de pautar a sua atuação didática, em função dos requisitos de que dispõem os alunos que lhe são entregues”. O Prof. Francisco Pôrto tinha como norma este preceito, procurando facilitar o aprendizado com o seu modo simples de explanação e sua visão criteriosa de como ensinar. Embora fosse detentor de cultura científica e geral reconhecidas, jamais pompeou erudição, quando de suas conversas costumeiras. Notava-se seu respeitável conhecimento de História Geral, em especial, sobre fatos relacionados com a Itália, principalmente sobre a participação da mesma na 2ª Guerra. Tinha uma crença ilimitada na ciência, admirava e exaltava os cientistas em suas pesquisas e descobertas. Não tinha religião definida, segundo alguns de seus amigos. Acreditava em Deus. Embora dominasse as técnicas cirúrgicas, vinha se afastando paulatinamente dos campos operatórios, face a uma progressiva diminuição da acuidade visual, fato que determinava seu pavor de perder a visão. Em 1951, o Desembargador Severino Montenegro, Provedor da Santa Casa de Misericórdia, o nomeou Diretor do Hospital Santa Isabel. Em 1956, com o falecimento do Dr. Edrise Vilar, assumiu a chefia do Serviço. Sem dúvida, era um apologista da Assistência Social. Pertenceu ao quadro de médicos do SESI, como cirurgião, bem como da Policlínica dos Pescadores, foi urologista e proctologista do Sindicato da Indústria de Tecelagem e Fiação de Rio Tinto, da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Serviços Públicos e Oficiais da Paraíba e do IPASE. Fundador e Diretor do Ambulatório do Montepio do Estado. Era membro efetivo de várias entidades científicas. Foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, hoje Associação Médica da Paraíba, membro da Sociedade de Gastroenterologia, membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, membro fundador da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba, entre outras. Srs. Acadêmicos Minhas Senhoras Meus Senhores Não poderia fugir, sob pena de não ser sincero, ao compromisso de tecer alguns comentários a respeito da personalidade do Prof. Francisco Pôrto. Comentários por demais francos, análise pessoal, que embora pareçam de extremada ousadia, beirando talvez a irreverência, pelo respeito que lhe devotava e, ainda, pela complexidade de que não revestidos, mas que tornam-se necessários, sob a minha ótica para complementação do seu perfil. Tudo representa conjecturas. Como dia Machado de Assis. “Que há neste mundo que se possa dizer verdadeiramente verdadeiro?”. Observando-o na convivência diária, parecia-me o Prof. Pôrto uma pessoa com características reservadas, chegando-se a perceber na sua conduta, certas atitudes com traços visíveis de timidez. Timidez, que suponho ser fruto de uma ação coativa de seus genitores, quando jovem, no sentido da preservação absoluta dos preceitos da disciplina e obediência irrestrita às normas rígidas e tradicionais da família. O matriarcado tinha sua relevante importância, como é do conhecimento geral, nos lares italianos. Esta forte influência, deu margem a que reflexos condicionados, anteriormente impregnados, tivessem forte repercussão na idade adulta. O amor filial infundia uma atitude de respeito pleno a sua genitora, amedrontando-o a possibilidade de contrariá-la e por conseguinte, magoá-la. Dessa forma, permanecia em um estado de espírito que o levava a introspecção. Talvez houvesse uma luta íntima entre as alternativas, persistir na situação de dependência afetuosa, ou tomando uma atitude extrema, quebrar os grilhões da demaziada sujeição, alçando vôo para liberdade plena, possibilitando a realização de seus desejos na concretização de suas metas. Os fatos comprovam que não tentou a segunda opção. Ao meu ver, tinha uma vida monástica, sua biblioteca, seu santuário. O trato diário com seus compêndios e revistas científicas se assemelhava a obrigação dos monges, rezar o breviário.
Avesso a quaisquer manifestações que o pusessem em evidência. Particularidades do seu ego. Não comparecia a festas, mesmo a dos seus colaboradores. Lembro-me de ter ido a uma delas, enganado, na casa do Dr. Jurandyr Coutinho Marques. Foram buscá-lo para atender uma urgência. Não possuía carro. Comentava-se que era um acinte à pobreza, fato que nos levava a disputar a oportunidade de conduzi-lo ao consultório, após o expediente da manhã, no Hospital. Era um prêmio para o motorista. Tinha inúmeros amigos, conhecidos, às centenas. De seu agrado era deixar fluir conversa com alguns deles, como o Desembargador Júlio Rique, com seu vozeirão, Antonio Ribeiro Pessoa, Dr. José Odilon Gomes de Mello Lula, com seu inseparável bem casado na lapela, Dr. Luiz Gonzaga Buriti e o Gerente da Varig, o gaúcho José Jorge Indrusiak da Rosa, chamado afetuosamente, por ele de “o galego da Varig”. Esta reunião acontecia no térreo do Edifício pertencente ao antigo IPASE. Era a célebre “Confraria da Varig”. O Prof. Pôrto, sempre de pé, terno impecavelmente engomado, com um livro ou seu inseparável tensiômetro Vaquez Laubri, importado da França, debaixo do braço. Tinha o Prof. Francisco Pôrto grande entusiasmo pela política. Nutria grande afeição pela UDN. Discutia dentro dos parâmetros de uma política de alto nível. Não tinha raiva de ninguém, nem alimentava rancores. Na campanha em que o Brigadeiro Eduardo Gomes foi candidato a Presidência da República, participando da mesma, demonstrava sua grande admiração pelo candidato e pela causa e seus princípios. Em nosso Estado era adepto do Dr. Oswaldo Trigueiro. Seus irmãos, o Dr. José Mário e Dr. Giácomo eram políticos atuantes. O primeiro foi Secretário do Interior e Segurança em dois governos. O Dr. Giácomo exerceu o mandato de Deputado Federal. Embora o Prof. Francisco Pôrto desfrutasse de prestígio, jamais utilizou d’este, para favorecimento ou pleitear cargos. A ética lhe era inata. Em 1957, iniciou um namoro com uma de nossas colegas. Por perfeito. Comportamento altamente discreto e respeitoso. Aplaudimos com muito entusiasmo esta relação afetiva. Entre os irmãos havia uma grande união, e também, uma certa cerimônia, como me foi relatado. Certa vez o Dr. José Mário, o abordou comentando que havia conversado com a Sra. Petronilla a respeito do seu envolvimento amoroso, e que a mesma havia aprovado a sua conduta. Ouviu o comentário e após respondeu: “Quando você foi contrair matrimônio, eu emiti alguma opinião?” encerrou o diálogo. Em 1961, face a não tomar uma posição definida com relação a um possível casamento, a colega após a espera de longos quatro anos, optou pelo término do relacionamento. Continuaram como se nada tivesse acontecido, como bons amigos. Não me conta nenhum outro caso. Suas perspectivas de constituir família não se concretizaram. Não deixou como legado, filho de sangue, mas muitos adotivos, entre eles, nós que o seguíamos. O Dr. José Mário casou-se com a Srta. Yara Guedes Mesquita, o Dr. Giácomo casou-se com a Srta. Iraci Delgado de Alencar. São seus sobrinhos, Sérgio Nicola e José Mário Júnior, filhos do Dr. José Mário e Sra. Iara Pôrto, e Domingos Nicola e Mário Nicola, do Dr. Giácomo e Sra. Iraci Pôrto. Os dois outros, Vitório e Ida, permaneceram solteiros. Dia 25 de maio de 1971. Recebemos a infausta notícia do falecimento do Dr. Francisco Pôrto. O coração não suportou a carga de bondade e amor ao próximo que carregava. Era peso suficiente não para um, mas para vários corações. Havia partido sem despedidas. Talvez querendo poupar seus amigos. O adeus ocasiona traumas mais fortes. Sua parte física foi sepultada, seu espírito ganhou nova dimensão, seus exemplos e suas lembranças ficaram conosco. Vários de seus amigos escreveram necrológicos em nossos periódicos. VIRGINIUS DA GAMA E MELO disse: “Mês de Maio é o mês das flores, nele colhem-se rosas. Anda o Senhor, pelo menos nesta semana, colhendo ou recuperando suas flores. Nesta Paraíba leva um CHICO PÔRTO”. HIGINO BRITO escreveu que, ao comunicar ao Prof. OSIAS GOMES o lutuoso acontecimento, ele exclamou: “Não podia ser, CHICO PÔRTO era um presente de Deus”! O Desembargador AURÉLIO DE ALBUQUERQUE assim se expressou: “Não foi um homem que
morreu. Foi uma época que se extinguiu”. DIAS DE FREITAS ressaltou: “Vida só de trabalho, de afetos puros, de conduta homogênea, num apostolado de benemerência, passa agora à Eternidade, um varão de excelsas virtudes, conduzindo foros de nobreza e brasões de dignidade, num caráter sem jaça. Doutor em medicina e em bondade, chamou-se em vida FRANCISCO PÔRTO”. Torna-se absolutamente impossível enumerar todos os que com seus escritos o homenagearam. O hospital Santa Isabel colocou seu nome no pórtico de entrada do Bloco Cirúrgico. Talvez preito discreto para quem tanto doou de sua vida àquela Instituição. Srs. Acadêmicos Minhas Senhoras Meus Senhores Disse CONFÚCIO: “O homem modesto nas palavras, é excepcional nos atos”. Retrata este conceito a imagem do Prof. Francisso Pôrto que conheci, o Prof. Pôrto de quem ensinamentos recebi, e que hoje, se encontra na morada dos justos, usufruindo da presença de Deus e, com certeza, chefiando algum Serviço de Cirurgia na Eternidade. Ele bem o merece. 28 de março de 1996 Orlando Álvares Coêlho
CADEIRA Nº Patrono:
Dr. JOSÉ JANDUHY VIEIRA CARNEIRO
Data de posse: 20/03/1997 Ocupante: Jackson Derville Araruna Saudação:
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Pedro Solidônio Palitot
20/03/1997
Elogio ao Patrono: Dr. JOSÉ JANDUHY VIEIRA CARNEIRO Cadeira nº 23 Por: Dr. Jackson Derville Araruna
José Janduhy Carneiro, nasceu em 20 de julho de 1903 na cidade de Pombal, Estado da Paraíba. Era filho de João Vieira Carneiro e Maria Carvalho. Iniciou seus estudos na escola pública dirigida pelo professor Newton Pordeus Seixas na cidade de Pombal, fez o curso Secundário no Colégio Padre Rolim, em Cajazeiras, na Paraíba, e nos colégios São Luiz e Castelo em Fortaleza, Ceará, onde terminou este curso. Iniciou o curso médico na Faculdade de Medicina da Bahia, onde fez apenas o primeiro ano, transferindo-se em seguida para a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha da Universidade do Brasil, onde permaneceu até o fim do curso, diplomando-se em Medicina aos 23 anos de idade no ano de 1926. Apresentava grande dedicação ao estudo de Medicina, o que fez como homenagem ser nomeado Interno da Fundação Graffé Guinle, no serviço de Sífilis Nervosa e Doenças Venéreas, sob a direção do Professor Waldomiro Pires. Posteriormente, submeteu-se a um concurso e foi classificado para Internato da Cadeira de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha no Rio de Janeiro, que era dirigida pelo renomado Professor Henrique Roxo. Foi também nesse período nomeado Interno do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro pelo diretor, Dr. Heitor Carrilho. O trabalho naquele serviço proporcionou-lhe condições de se aprofundar nos estudos psicológicos, na atenção, raciocínio e associação de idéias, chegando a criar da matéria, testes, que pela sua importância foram postos em prática na Clínica Psiquiátrica e receberam seu nome como homenagem do Professor Henrique Roxo. “Impulso Epiléptico da Esfera Efetiva” foi também um trabalho realizado com interno da Clínica Psiquiátrica. “Da tensão Superficial”, “Bombas de Alto Vácuo”, foram dois trabalhos de sua autoria, com os quais foi aprovado em concurso para a cadeira de Física do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, então Capital da República, foi aprovado e nomeado nesse concurso, também, para Professor extranumerário de Física e designado examinador em provas finais de ano. Terminado o curso médico, já com elevado conceito no meio que freqüentava no Rio de Janeiro, onde se radicara, vencendo todas as batalhas de pós-graduação. Conhecedor da especialidade e solidificado nas elevadas pretensões pelas quais lutou e venceu, não se esquecia da família e de Pombal, sua cidade natal. Com o falecimento do seu pai, João Vieira Carneiro em 1929, a mãe Maria de Carvalho Carneiro, e as filhas remanescentes ainda solteiras, Dalva, Araci, e Mirthes ficaram como responsáveis pela continuação e apoio geral da família. Frente aos acontecimentos, sentiu a imperiosa necessidade familiar de voltar para Pombal, a fim de assumir a responsabilidade sobre a mãe e as três irmãs. A permanência naquela cidade não se coadunava com o exercício da Psiquiatria, por ser uma especialidade além das condições de desenvolvimento da região. Frente a estas dificuldades, retornou ao Rio de Janeiro onde preparou-se em Ginecologia e Obstetrícia e ampliou os seus conhecimentos médicos em Pediatria e Doenças Infecto-Contagiosas. Tornou-se um generalista.
Foi fácil a sua penetração profissional, o que dominou com elevado conceito. O município de Pombal, por ser de grande extensão, dificultava as visitas médicas a pacientes em residências distantes. E por muitas vezes o Dr. Janduhy tinha de enfrentar as intempéries do tempo: ora o sol causticante, ora chuva tempestuosa. A luz era fornecida por lamparinas e muitas vezes nem mesmo as casas dispunham deste tipo de iluminação. Conta-se, com absoluta veracidade nos pormenores, que o Dr. Janduhy Carneiro foi chamado para atender uma gestante em trabalho de parto. Ao chegar encontrou uma humilde casa de taipa, que não dispunha nem da luz de lamparina para os seus moradores. Frente à necessidade determinada pelo trabalho de parto, o referido médico improvisou a condição básica para trabalhar: demoliu a parede do quarto da frente da casa, fazendo penetrar a luz dos faróis do seu automóvel e assim realizou o parto, salvando a mãe e o filho. Sentindo a pobreza daquele lar, deu a sua bata de médico para o abrigo do recém-nascido. Não dispondo os pais de meio para recompensar seu gesto, deram-lhe o menino para seu afilhado. Como observamos a sua vida médica assim exercida com elevada dedicação e sendo portador de poderoso carisma pessoal, que o qualificava como líder, o Dr. Janduhy Carneiro foi atraído pelo povo e, naturalmente, ingressou na política partidária. Em 1929, a Aliança Liberal candidata João Pessoa à Vice-Presidência da República, oportunidade em que Janduhy Carneiro começou a participar da política. Foi nesta campanha que Janduhy Carneiro orientou o movimento político do seu município, enfrentando fortes cabos eleitorais com ligações com o Coronel José Pereira de Princesa Isabel. Neste pleito a Aliança venceu as eleições. Rebelado com o resultado, o Coronel José Pereira, comandante estadual da Insurreição Armada, decidiu invadir Pombal para expandir seu domínio. Foi Janduhy Carneiro, que junto a amigos, armados, impediram o assalto. A Conspiração se processou até a vitória da Revolução de 1930. Juarez Távora, chefe militar do movimento no Nordeste, tinha como elo com os paraibanos Rui Carneiro, então Diretor do Jornal Correio da Manhã. Janduhy Carneiro foi nomeado Prefeito de Pombal pelo Dr. José Américo de Almeida, Interventor do Estado da Paraíba, sendo nomeado em 05 de outubro de 1930. Exerceu a Prefeitura por um período de quatro anos. Fez obras de importância para o município, como o Grupo Escolar João da Mata, o Matadouro e o Mercado que beneficiou os distritos vizinhos, especialmente Malta. Em 1945, após a situação do Estado Novo, Janduhy Carneiro fundou o Partido Social Democrático juntamente com seu irmão Rui Carneiro e os Srs. Severino Lucena, Odon Bezerra, José Joffily, José Gomes, Ovídio Duarte, João Fernandes de Lima, José Fernandes de Lima e outros. A agremiação homenageou-lhe como Presidente firmada na sua liderança e obras comunitárias. Foi eleito para Deputado Federal por oito mandatos consecutivos, participando das Comissões de Saúde, Orçamento e de Ciências e Tecnologia, ocupando a Presidência e VicePresidência por várias vezes. Destacou-se com brio, ente outros projetos, o da criação da Campanha Nacional contra a Lepra e da Fundação das Pioneiras Sociais. Participou com elevado desempenho para sancionar as leis de criação da Campanha Nacional contra a Tuberculose, Departamento Nacional de Endemias Rurais e como relator do plano SALTE do Setor de Saúde. Como Deputado Federal seus temas prediletos eram a Reforma Agrária, Saúde Pública, defesa dos correligionários e dos amigos das perseguições políticas. Abnegado nos seus objetivos, lutou na Campanha contra o Câncer, conseguindo a dotação de cem milhões de cruzeiros para conclusão das obras do atual Instituto Nacional do Câncer, na Praça da Cruz Vermelha – Rio de Janeiro. Com convicção participou da decisão das leis de criação do Ministério da Saúde, a Campanha Nacional contra a Tuberculose e o Departamento de Endemias Rurais. Sempre sentimental às causas da Paraíba, conseguiu criar a Comissão Executiva do Sisal, que seria a defensora do produto para a economia da Paraíba e Nordeste. Com seu grande conceito, teve condições de ajudar nas construções dos Hospitais Napoleão Laureano em João Pessoa, Ceslau Gadelha em Santa Rita, Hospital Maternidade Sinhá Carneiro em Pombal e uma outra em Santa Luzia, devendo citar outros nas cidades de Conceição, Piancó, Patos e Cajazeiras.
Foi candidato a governador do Estado em 1960, pela coligação PSD-PTB, não conseguindo se eleger, mas cabendo o registro que só seriam candidatos ao governo do Estado, os líderes políticos com grande prestígio eleitoral, relevantes serviços prestados ao Estado e indicados por seu partido. Janduhy Carneiro preenchia com altivez os requisitos e foi candidato. Cabem aqui depoimentos de figuras ilustres sobre Janduhy Carneiro. O Dep. Federal Raymundo Yasbeck Asfora em brilhante depoimento intitulado “Pareceu-me Vivo”, disse: “Por mais de 30 anos dois irmãos, Janduhy Carneiro e Ruy Carneiro, e seu primo Alcides Carneiro, foram ilustríssima trindade na vida pública da Paraíba. Janduhy foi o parlamentar de cadeira cativa, e da luta permanente e silenciosa por obras do Nordeste e verbas para o seu sertão. A auréola de médico para realçar a competência e o prestígio do grande Representante Federal do Estado. Assim o vi e, depois, dolorosamente rolar nas dobras das sombras eternas. Em homenagem na Câmara dos Deputados, Janduhy Carneiro pareceu-me vivo nos seus 80 anos. O velho Deputado voltou de corpo inteiro na sua dimensão exata de médico e homem público, ao nível das verdadeiras personalidades históricas. Veio restituído nas palavras de seu herdeiro político, o Deputado Carneiro Arnaud, em discurso de caráter evocativo e de profundo interesse para a historiografia brasileira”. Opinião de Ernany Sátyro: “Mais dignos componentes, lamentavelmente desaparecidos. O homenageado era também prestigiado líder político, sempre voltado para os interesses do Nordeste, destacadamente da Paraíba da região sertaneja”. Ainda a opinião do Deputado Siqueira Campos: “Janduhy Carneiro era um homem que se relacionava com todos os segmentos desta Instituição onde fez amigos, desde os mais humildes aos mais destacados funcionários e ilustres colegas”. O governador Ivan Bichara também dele falou: “Ninguém mais interessado do que ele na sua ação parlamentar pelas causas e problemas da Paraíba. Quando havia interesse no nosso Estado a defender, Janduhy só tinha um partido e uma legenda: a Paraíba. Deixou em sua longa passagem pela Câmara dos Deputados um exemplo luminoso de trabalho, dedicação, competência profissional, de amor entranhado e forte à sua terra natal. Discreto, suave no trato, tornava-se bravo e ardoroso que o pugnava pela solução de qualquer problema, notadamente os ligados à Saúde Pública e Assembléia Social. A Paraíba respeita o filho que perdeu e saberá guardar o nome entre os que sabem servi-la e amá-la”. Foi Diretor do Departamento da Saúde Pública do Estado da Paraíba, quando construiu o primeiro manicômio Judiciário do Nordeste e instalou o Serviço de Verificação de óbitos, com exames sintoma patológicos onde ninguém era sepultado sem causa mortis definida. Janduhy foi um homem público notável, parlamentar atuante, médico competente, amigo fiel e exemplar pai de família. Deixou uma tradição digna de admiração e elogios. Assim sendo, recebeu várias homenagens significativas e condecorações, citando-se: Medalha de Honra Oswaldo Cruz, Ordem Nacional do Mérito Médico, Comenda no Grau de Cavaleiro da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém, Diploma de Professor Honoris Causa da Faculdade de Ciências Econômicas da Paraíba. Ele deixou uma obra que exigia um continuador e este estava encarnado na pessoa do seu sobrinho Antônio Carneiro Arnaud, que o acompanhava desde a juventude. Carneiro Arnaud esforçou-se e fez na Câmara Federal a continuação da obra do parlamentar Janduhy Carneiro. Distinta platéia, aceite-me mais alguns minutos, quero dar um depoimento pessoal como exemplo complementar do elogio que fiz ao meu Ilustre patrono na Academia Paraibana de Medicina. Médico recém formado, já com dois anos de atividade profissional, resolvi por em prática os meus objetivos, quando ainda acadêmico de Medicina na Faculdade do Recife. Fui para o Rio de Janeiro, Capital da República, levando comigo o ideal de especializar-me em Cirurgia Torácica. Ao chegar àquela cidade, senti o vazio para concretizar o meu ideal. Raciocinei sobre os meios para realizar as minhas pretensões e surgiu na minha memória a figura do Deputado Janduhy Carneiro frente aos paraibanos. Tomei a deliberação de procurá-lo, e assim o fiz na Câmara dos Deputados.
Expus as minhas pretensões no que fui ouvido atentamente. Após a minha exposição, sem arrodeios, fixou o olhar com segurança e disse-me: “Vou resolver a sua pretensão, vou lhe apresentar e fazer a solicitação a um amigo”. De posse da carta de apresentação levei-a ao Dr. Levy Lafetá, médico mineiro que exercia a função de Diretor Superintendente do Instituto Nacional do Câncer. Este médico encaminhou-me para o Conjunto Sanatorial de Curicica H.E., atualmente Conjunto Sanatorial Raphael de Paula Souza H.E., Hospital do Serviço Nacional de Tuberculose. Era um Hospital de 500 leitos para as diversas especialidades. Fui conviver com uma grande equipe médica e vários residentes das especialidades Clínicas e Cirúrgicas. Levando comigo o treino de quando Acadêmico do Hospital Oswaldo Cruz do Recife da equipe do ilustre Professor Joaquim Cavalcante, pioneiro da Cirurgia Torácica no Nordeste. O meu chefe, o Dr. Vital Imassahy de Mello era nome internacional. Participei da equipe cirúrgica Itinerante em companhia do chefe Imbassahy, que levou a todo o Brasil os conhecimentos da Cirurgia Torácica, até então pertencentes aos Estados da Guanabara e São Paulo. Depois de três anos retornei à Paraíba com minha transferência, pois fui nomeado para o Estado da Guanabara logo que terminei a Residência, foi então Janduhy, com sua lanheza no trato e com a sua gentil atenção aos seus conterrâneos, a base da minha especialização, o que me ajudou a vencer na vida profissional. Aceite pois, Dr. Janduhy, os meus agradecimentos. Tenho a grande honra de fazer o elogia à sua pessoa na Cadeira nº. 23, da Academia Paraibana de Medicina, de que muito me orgulho em pertencer junto aos meus pares, meus nobres colegas e amigos. Ao nobre colega Janduhy, as glórias celestiais e que o Nordeste o eleve aos píncaros a sua figura, e a Paraíba que tanto amou seja o sustentáculo infinito de sua obra marmorizada no tempo.
CADEIRA Nº Patrono:
15
Dr. FRANCISCO PINTO DE OLIVEIRA
Data de posse: 24/04/1997 Ocupante: Marco Aurélio de Oliveira Barros Saudação:
Gilvandro Assis
24/04/1997
Saudação ao: Dr. MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA BARROS Cadeira nº 15 Por: Acad. Gilvandro Assis
Minhas Senhoras. Meus Senhores. Srs. Acadêmicos: Creio, oportuno dizer-vos que quando é decidida a programação para o elogio a um dos 40 dignos nomes que formam o quadro de Patronos desta Academia, o local onde é realizado deverá ser considerado o Cenáculo, o Silogeu da Academia Paraibana de Medicina. Ainda não temos a sede própria, por isso, utilizamos as instalações da Associação Médica da Paraíba. A posse de um novo Imortal na Academia Paraibana de Medicina, à semelhança de outras academias, deverá ser realizada com uma sessão solene, uma sessão Magna, com brilho e beleza, de acordo com os nossos Estatutos. O preenchimento de mais uma vaga e, portanto, o elogio a mais um Patrono é o maior e mais importante evento da vida desta Academia, presidida, hoje, no seu segundo mandato pela Drª. Maria de Lourdes Britto Pessoa, a primeira mulher eleita no Brasil para a presidência de uma Academia de Medicina. A Drª. Lourdes carrega nesta altura dois títulos pioneiros no seu Curriculum, o que já vos citei e, também, o de ser a primeira mulher psiquiatra da Paraíba. Com serenidade, sem vaidades, sem individualismo vem administrando com sucesso a Academia Paraibana de Medicina. Meus senhores: Esta noite mais um médico paraibano, dos mais ilustres, o professor Dr. Marco Aurélio de Oliveira Barros, cobrir-se-á com a glória da imortalidade acadêmica e, elevado ao nosso Panteão. Imortalidade, aliás, sonho que o Homem busca há milênios, ao longo de sua limitada existência, pois, nunca há se conformado com a finitude de sua vida terrena e procura perpetuar-se no tempo com uma gama de artifícios, alguma coisa que o faça esquecer o seu destino fatal. A imortalidade conferida por esta Academia, à semelhança de outras, é um magnífico exemplo desse subterfúgio, dessa fuga inútil. Entretanto, através dela se premia o saber, o profissionalismo, a dedicação ao bem comum. Meu caro homenageado: Há mais de 35 anos nos conhecemos e convivemos profissional e socialmente numa relação de mútua estima. O tempo não para, é implacável na marcha ao desconhecido, os “dias rolam sobre os dias”, na feliz expressão de talentoso cronista. O seu convite para homenageá-lo é por demais honroso para mim face esse velho companheirismo e amizade. Meus senhores, meus colegas, Srs. Acadêmicos: O brilho desta reunião de posse, o comparecimento maciço e de qualidade levam-nos a discordar do Prof. Mario Riggato, da UFRGS, quando em artigo seu publicado no Jornal da AMB (Associação Médica Brasileira), intitulado “Século XX: Sucesso da Medicina. Insucesso do Médico”, afirma que “enquanto a medicina nas últimas décadas tem sido um grande sucesso, a ponto de triplicar a duração da vida humana, por outro lado, os médicos perderam o prestígio social de modo irrecuperável, o qual diminuirá ainda mais como o correr dos anos”. Esta noite desmente essa pessimista afirmação do professor gaúcho. O prestígio social do nosso homenageado brilha nesta cerimônia. Mas, talvez, em boa parte, o professor Rigatto tenha razão. Somos de uma geração com mais humanismo em nossa formação médica. Que nos perdoem os mais jovens, a culpa em grande parte é da estrutura assistencial dos novos tempos. Sei, por convivência com alguns pacientes comuns quantas vezes V. Senhoria fôra chamado altas horas da madrugada à residência de pacientes (nesse tempo não havia hospitais com plantão médico) e, com seu E.C.G. tipo “Beck-Lee”, aparelho de tamanho avantajado e ronceiro em relação aos de hoje, fazia a sua consulta, medicava o paciente ou encaminhava-o ao hospital. Na maioria das vezes esses doentes tinham grandes limitações financeiras. Atendia-os com presteza e dedicação. Dr. Marco Aurélio nasceu em Campina Grande-PB, no dia 02/03/35, às 15h30min na Rua Irineu Jófily, 147, filho mais ilustre do Procurador de Justiça, aposentado, Dr. Paulino de Barros,
hoje com quase 90 anos de idade e, mesmo assim, continua a trabalhar como Assessor Jurídico da Procuradoria Geral do Estado-PB. Elabora pareceres em inúmeros processos que lhes chegam às mãos. É um exemplo de vida. Sua genitora, Dona Amélia de Oliveira Barros, já falecida. O Marco Aurélio vem de uma linhagem de 7 irmãos (4 homens e 3 mulheres) sendo o mais velho rebento. Sua alfabetização e seu curso primário os fez em Campina Grande com a professora Dulcinea. O curso ginasial, também, em Campina Grande no colégio Pio XI. Já nesse período demonstrava grande aptidão pelos estudos, pela leitura e também talento para a política estudantil, sendo eleito presidente do Diretório estudantil. Terminado o ginasial matriculou-se no curso Clássico, em Recife-PE. Pretendia bacharelar-se em Direito, ser Advogado. Após o 2º ano clássico surgiu-lhe incontido desejo de ser médico. Transferiu-se para o curso Científico. Perdemos o jurista. Ganhamos o competente seguidor de Hipócrates. Escolheu a medicina que segundo o grande clínico Miguel Couto é a segunda mãe da humanidade. Fez vestibular na Faculdade de Ciências Médicas de Recife sendo aprovado em 1º lugar. Cursou essa Faculdade por três anos. Por considerar que o ensino em Salvador-BA era mais avançado, mais qualificado, transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, onde obteve o Diploma de Médico em 1958. O curriculum vitae do Dr. Marco Aurélio é dos mais ricos. Uma produção científica de fazer inveja a qualquer estudioso de medicina. Obviamente, não os citarei, não se enquadram nesta fala. Basta dizer-vos que tem quarenta trabalhos publicados em Revistas Médicas de Cardiologia e quarenta e oito sobre assuntos médicos diversos, por ser além de cardiologista de primeira linha, um clínico com enorme cabedal de conhecimentos. Tem proferido numerosas palestras sobre medicina em cursos de Atualização, Centros Acadêmicos, Congressos Médicos de Cardiologia e Clínica Médica. Tem exercido também, numerosos cargos e funções. Ainda como estudante de medicina na Bahia, fôra nomeado Oficial de Gabinete do conhecido Reitor Edgar Santos, este depois Ministro da Saúde no governo J.K. Passou dois anos nessa função. Terminado o curso médico fez os seguintes cursos: 1) Médico residente no Hospital das Clínicas da Bahia (U.F.BA); 2) Médico residente no Hospital das Clínicas de São Paulo (USP); 3) Estágios e cursos nas Universidades de Minnesota, Universidade de Yale e no New York Hospital dos Estados Unidos da América do Norte; 4) No Instituto Nacional do México; 5) Concurso para Professor Adjunto do Dpto. de Medicina Interna da U.F.PB; 6) Concurso Livre-Docente do Dpto. da Promoção de Saúde da U.F.PB (concurso de títulos e provas); 7) Editor da Revista C.C.S. (ciência, cultura e saúde) do Centro de Ciências de Saúde da U.F.PB; 8) Fundador e proprietário do conceituado Hospital Samaritano, juntamente com os Drs. Augusto de Almeida Filho e José Lavoisier Feitosa – ambos acadêmicos da Academia Paraibana de Medicina. Finalmente aposentado da U.F.PB em 1994. Seu hobby predileto sempre foi a leitura de publicações médicas. Mesmo depois de aposentado, continua a se reunir em salas de aula, no H.U., com estudantes e médicos residentes, todas as quartas-feiras, sem quaisquer ônus para a UFPB. Faz a leitura dos últimos periódicos, de revistas médicas estrangeiras e nacionais, discute as novidades terapêuticas, os resultados obtidos, os efeitos adversos das novas drogas lançadas pelos laboratórios. Por sua quase obsessão pela leitura e por seus conhecimentos médicos, tem sido apelidado carinhosamente pela estudantada e residentes de “biblioteca ambulante”. Esse esforço do Marco Aurélio valeu a pena? Respondo como o grande poeta e escritor português Fernando Pessoa: “Sim, tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Em 1962, instala seu primeiro consultório na Av. Miguel Couto, nº. 166 e dividia essa casa de aluguel com o professor Dr. João de Brito Moura, já conceituado dermatologista. Ainda como estudante, conheceu e namorou aquela que seria sua primeira esposa, a baiana Margarida De Vivo, funcionária e depois Professora de piano do Departamento de Música da U.F.BA. Depois dos cursos no Brasil e no exterior, contrai núpcias, em 1964, com a baiana do seu coração. Dessa união nasceram os filhos Márcio Aurélio, Marta Lúcia e Marco Antônio, este, hoje, médico dos mais categorizados em cardiologia, fazendo hemodinâmica na especialidade e também já Professor de Cardiologia, por concurso de títulos e provas na UFPB. Está nas pegadas do pai. Após o falecimento de Da. Margarida Barros, cerca de
quatro anos depois, novamente o malicioso Cupido flecha o coração do nosso cardiologista, dessa vez por Da. Lêda Cardoso de Barros, com quem contrai seu segundo matrimônio. “Nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem estar durante sua vida” (Eclesiastes). Nasce dessa união sua filha única Marília Lúcia, hoje com 14 anos de idade. Após esse 2º enlace um novo encantamento e felicidade passou a envolver o nosso homenageado. Mesmo o seu comportamento religioso se reacendeu, de católico por tradição passou a ser católico praticante, indo à missa todos os domingos, às 7h da manhã, na capela do colégio João XXIII e, com freqüência, recebe a Eucaristia e lê a Epistola do dia. Mérito maior de Da. Lêda Barros, católica das mais convictas. Agora é o Eclesiástico que diz: “Feliz o homem que tem uma boa mulher. Pois, se duplicará o número dos seus anos”. Meus senhores, senhores acadêmicos: no final desta nossa fala, que já se prolonga, permiti que preste uma homenagem ao casal Lêda Barros / Marco Aurélio de Barros. É uma belíssima mensagem do grande apóstolo Paulo, o maior do cristianismo, e que dedicamos ao ilustre casal: “Ainda que eu falasse as línguas dos Homens e dos Anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso, ou como címbalo estridente, Ainda que eu tivesse o dom da Profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda ciência; Ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, nada disso adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta, não incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, não regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará”.
24/04/1997
Elogio ao Patrono: Dr. FRANCISCO PINTO DE OLIVEIRA Cadeira nº 15 Por: Dr. Marco Aurélio de Oliveira Barros
O momento em que assumo a minha cadeira nesta academia como titular é, realmente, de muita honra e alegria, não apenas porque me encontro ao lado de familiares, meu pai Paulino Barros, minha esposa Leda, meus filhos Márcio Aurélio, Marco Antônio, Marília Lúcia, minhas
noras Carolina e Amélia, futuro genro Roberto, minhas netas ausentes Marina, Gabriela e Camila, minhas irmãs Glauce, Amelinha e Tereza, meus cunhados Ginaldo, Lineu, Irazé e Amélia, caríssimos sobrinhos, primos e muitos amigos, porém, sobretudo pelo significado deste acontecimento, de grande valor, qual seja, pertencer a esta casa onde se encontram os profissionais mais representativos da Medicina Paraibana. Quando na juventude decidimos ser médico, jamais está como um dos nossos objetivos alcançar a imortalidade pertencendo a uma Academia de Medicina. Na mocidade outros são os pensamentos, ser um bom profissional, alcançar a fama, fazer patrimônio, ser caridoso, exercer magistério, enfrentar as dificuldades da pesquisa, atender os desejos da família, salvar o próximo e tudo mais. Pertencer um dia a uma Academia de Medicina não é, de fato, a razão maior para ser médico. Entretanto, o exercício da profissão, o amadurecimento pessoal, com alguns dos principais objetivos já alcançados, ingressar em uma Academia de Medicina, constitui um desejo que todos almejariam realizar. Ingressar nesta casa realmente tem um grande significado. É o reconhecimento de como exercemos a nossa nobre profissão, da credibilidade que conquistamos, do comportamento que ao longo dos anos tivemos, enfim é estar entre vencedores. Assim, tudo isto justifica a alegria e a honra que temos, como também dos nossos familiares e amigos, por um acontecimento desta natureza. Era criança e analfabeto, quando pela primeira vez na vida, ouvi falar em Dr. Francisco Pinto. Dr. Chico Pinto, como era por muitos chamado, residia em Campina Grande, quando meus pais Paulino e Amélia Barros tiveram a satisfação de hospedar Tércia e Daluz Bonavides, tradicionais educadores em João Pessoa, cunhados do meu primo Agripino Barros, Desembargador, irmão do meu pai. Tércia estava em Campina Grande para se operar com Dr. Francisco Pinto, de catarata, no tradicional Hospital Pedro I, pois este profissional era o de maior renome na Paraíba. Sete dias de internação hospitalar, repouso absoluto, olho vendado, recuperação demorada, óculos com lentes provisórias, depois de algum tempo definitivas, tudo bem diferente de hoje, justificaram que Tércia passasse algum tempo conosco e Daluz, sua irmã, muito me ajudou na alfabetização, principalmente, lembro-me bem, distinguir o E do F, desde então o Dr. Chico Pinto passou a ser uma pessoa conhecida minha e admirada, pois não foram os amigos do interior que se hospedaram em nossa casa para consultar com aquele famoso médico. Naquela época o meio médico era limitado, eram do meu conhecimento apenas os pediatras: Heleno Henriques, Enio Azevedo, o obstetra Adalberto César, os cirurgiões Gilvam Barbosa, Severino Cruz, os clínicos Elpídio de Almeida e Bezerra de Carvalho, o analista Antônio Queiroga, o radiologista Francisco Wanderley e o otorrinolaringologista José Santos. Naquele tempo, o exercício da Medicina era bem diferente. Não havia SUS nem convênios, toda a clientela era particular e metade desta com certeza, de pessoas amigas que nada pagavam. Todos se conheciam, todos se respeitavam. Meu pai Paulino Barros era uma autoridade e assim, também, como uma grande pessoa humana, nenhum médico dele recebia Dr. Francisco Pinto era uma destes. Francisco Pinto de Oliveira nasceu na cidade de Sousa-PB no dia 08 de maio de 1907. Foi criado e educado pela avó materna Joaquina Moreira de Jesus, na Fazenda Macambira, localizada no Município de Alexandria-RN. Contato com a natureza o fez livre como um pássaro e amante de tudo o que o rodeava. Apesar da universidade de suas idéias, projetos e realizações, nunca perdeu o vínculo que o prendia a terra mãe e a família – este cordão umbilical sempre presente em seu espírito através das recordações de sua infância e adolescência. Prova disso que o pequeno trecho do discurso que pronunciou em 18 de julho de 1959 na inauguração do Edifício Macambira de sua propriedade em Campina Grande, verdadeiro hino de louvor à natureza e a sua avó materna. Assim
se referia: “O Macambira reverencia não somente uma bromeliácea, que é o símbolo de resistência e tenacidade deste Nordeste ressequido e ensolarado, com larga aplicação pastoril quando escasseiam em nossos cariris, à mingua de chuvas, as pastagens que alimentam nossos reduzidos rebanhos. Mas, sobretudo, preito de reconhecimento e gratidão a uma pequenina e modesta fazenda, encravada nas terras secas do município de Alexandria no Rio Grande do Norte, que foi em tempos idos, dourada pela fantasia de uma das estações da vida, o cenário encantado e paradisíaco da minha meninice e juventude. O tempo, coisa rara, não fez desaparecer dos meus olhos esses maiores deslumbramentos e lá ainda existe, como existia outrora, em tudo, em todas as coisas, na casinha tosca, na engenhoca rudimentar, no açude amigo, nas árvores, nas pedras, nas curvas dos caminhos, no palco enfim, aonde se movimentou uma doce e santa velhinha, a minha avó materna, uma tal fascinação e um tal sortilégio que tem para mim a beleza da poesia, a perenidade da religião e dos mitos”. Fez estudos no Liceu Paraibano em João Pessoa e cursou Medicina no Rio de Janeiro, onde formou-se na Faculdade Nacional de Medicina em 1930. Na falta de transporte da época, vinha de Sousa a João Pessoa no lombo de cavalo e daí embarcava de navio até o Rio de Janeiro. A viagem de Sousa a João Pessoa durava em torno de uma semana. Uma vez por ano voltava à Fazenda Macambira. Sua avó materna, assim que tinha notícia de sua aproximação, mandava disparar foguetões que expressavam sua alegria, carinho e o mais puro amor pelo homenageado recebido com verdadeira festa. Sua avó trabalhava o ano inteiro, para com suas economias mantê-lo estudando no Rio de Janeiro. Este esforço não foi em vão. Tornou-se um homem culto – devorador de toda literatura que lhe caia nas mãos, era um leitor insaciável de todos os clássicos nacionais e estrangeiros. Como médico adquiriu uma cultura polivalente. Transformou-se em um “rato de enfermaria”, expressão que denominava aqueles que freqüentavam assiduamente as enfermarias da Santa Casa. Com isso adquiriu vastos conhecimentos nas áreas de clínica médica, cardiologia, obstetrícia e ginecologia, pediatria e cirurgia, que, muito lhe ajudaram no futuro na especialidade que definitivamente abraçou – a oftalmologia. Um simples episódio serviria para corrobar esta assertiva. Certo dia, o Dr. Antônio Queiroga, seu colega e dileto amigo de faculdade o procura aflito. Sua esposa passa mal durante o trabalho de parto e assistida por dois ou três obstetras da cidade estava desenganada. Naquela época não se realizavam ainda cesarianas. Já cogitava realizar uma craniotomia para esvaziar a cavidade uterina, extraindo o feto que tinha apresentação de nádegas e procidência de braço. Dr. Pinto, como era simplesmente chamado, pediu escusas ao Dr. Queiroga, pois não queria melindrar ou sensibilizar os colegas obstetras que cuidavam do caso e por outro lado se desculpou alegando já fazer dois ou três anos que não realizava partos. Mas a solicitação do seu colega foi revestida de tal clamor e o apeio à velha amizade falou mais alto. Assim dirigiu-se à residência do Dr. Queiroga. Naquela época a maioria dos partos, mesmo os complicados, eram realizados nas próprias residências. Reduziu a procidência do braço, realizou a versão e com o feto em posição, aplicou os fórceps tão bem que, logo na primeira tentativa teve êxito. Assim nasceu o destacado patologista serrano Dr. Ayrton Queiroga, Phd em Medicina com residência médica nos Estados Unidos e hoje lá residindo em caráter definitivo. Sua experiência em obstetrícia vinha desde a faculdade e estendeu-se pelo tempo que clinicou em Sousa (PB) entre 1931 e 1933. Os partos dos seus cinco primeiros filhos foram por eles realizados, tal a segurança com que executava ditos procedimentos. Ainda hoje vemos excelentes obstetras se negarem a realizar os
partos de suas esposas, pela insegurança que a emoção poderia lhes proporcionar, induzindo acidentes. Em Campina Grande fixou residência a partir de 1934 exercendo as especialidades de oftalmologia e otorrinolaringologia. A de otorrino logo deixou de lado com o aparecimento de colegas que faziam somente esta especialidade, dedicando-se apenas à oftalmologia, especialidade que o consagrou. Casou-se no Rio de Janeiro no dia 02 de fevereiro de 1935 com Maria de Lourdes de Vasconcelos Abrantes na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Se quiséssemos citar em Campina Grande um casal feliz não poderíamos deixar de lembrar entre os primeiros o casa! Francisco Pinto e Dona Lourdes. D. Lourdes, carioca de nascimento, morando em plena e efervescente Ipanema, deixou a capital da República de todas as atrações e facilidades para residir em Campina Grande, cidade que no ano de 1935 se apresentava sem calçamento, com iluminação deficiente e água sem tratamento adequado. Sem queixas ou lamúrias aqui ficou para com o mais puro amor e árduo trabalho edificar o futuro de sua família, falecendo em maio de 1996. Do enlace nasceram oito filhos, todos com educação superior, Roberto foi o seu prossecutor na especialidade e hoje ele já é seguido por dois filhos oftalmologistas: Flávio e Mônica. Amauri - Engenheiro e Economista, Alfredo José Advogado, Francisco Pinto - Engenheiro e Economista, Ronaldo Engenheiro e Economista, Olga Maria – Medicina incompleto, Maria Raquel - Nutricionista, Maria de Lourdes Engenheira. Autodidata era Dr. Pinto como todos do seu tempo. Os congressos médicos eram escassos e a comunicação deficiente. Ainda mais que, raros eram os centros médicos que facilitavam o acesso às informações científicas. Muitos especialistas se isolavam em verdadeiras torres de cristal e o acesso às fontes de informação era áspero e desgastante. Para confirmar essa afirmação veja o que se segue: Dr. Pinto antes de vir para Campina Grande tentou fazer um curso particular, pago do seu próprio bolso, com o titular de oftalmologia da Faculdade Nacional de Medicina naquela época Preço acertado, cinco contos de réis, conseguidos com muito esforço após dois anos de clínica no interior do Estado, volta ao Rio de Janeiro. Para sua grande surpresa o professor se negou a dar o referido curso alegando falta de tempo. Diferentemente de hoje, o avanço médico privilegiava poucas cabeças coroadas que, temiam ser destronadas casos seus conhecimentos passassem adiante. Isto não impediu que se tornasse um dos especialistas mais conhecidos e queridos do Nordeste. Grande clínico e cirurgião, a todos encantava não só pela sua habilidade profissional como pelo largo espírito, humano e carinhoso com seus pacientes. O hospital do IPASE, criado em Campina Grande por Alcides Carneiro era ponto de convergência dos servidores federais. Daqui sua fama alastrou-se com facilidade para os demais estados do Nordeste. Não raro em Campina Grande pousavam os antigos Curtis-Comander do Loyd Aéreo ou os DC-3 da Real Aerovias, com clientes de Recife, Aracaju, Maceió ou Natal, para serem operados de cataratas, glaucoma, estrabismo ou deslocamento da retina. As estatísticas cirúrgicas do hospital do IPASE, atual hospital universitário confirmam que até hoje, nenhum oftalmologista operou tanto quanto ele. Quando faltava material cirúrgico no hospital Alcides Carneiro, levava da sua própria clínica particular, a fim de que a cirurgia não fosse adiada e o tratamento não sofresse solução de continuidade. Na clínica particular durante aproximadamente quinze anos manteve um expediente gratuito para atendimento à indigência. Todas as sextas-feiras, das cinco às oito da manhã, atendia aqueles menos favorecidos economicamente, num ato de caridade e dedicação cristãs. Não somente realizava atendimentos clínicos como cirurgias com internamento, oferecendo gratuitamente tudo que fosse necessário ao paciente
camo hospitalização, medicamentos e até dinheiro para os que não o dispunham para retornar às suas residências. Soube dignificar sua profissão elevando-a à categoria da um culto. Atendia indistintamente o rico e o pobre com a mesma atenção e delicadeza. A mansietude de sua voz e seus gestos, a lhameza do seu trato, a pureza do seu caráter, a humildade e simplicidade de sua conduta sem arrogância e sem vaidades, nos revelam características de uma personalidade ainda hoje rara de se encontrar. Sempre tinha uma palavra de estímulo ao colega novo que chegava à cidade e não foram poucos os que tiveram sua ajuda financeira para ultrapassar dificuldades iniciais. Dizia "plante sua sementinha hoje, um dia ela se reproduzirá”. Diferentemente de hoje onde poucos querem plantar suas sementes para vê-las frutificar. O açodamento e ânsia de vitória rápida e fácil atropelam etapas e estimulam emulações desnecessárias e até prejudiciais. Por isso não foi só o pai extremoso e afetuoso ou profissional competente e dedicado. Foi o amigo leal e sincero, recordado hoje como uma das melhores companhias, dessas que, a experiência como fruto sazonado dos anos nos ensina, dificilmente pode ser reproduzido. Suas repetidas conquistas no campo da medicina, jamais o fizeram perder a serenidade e a humildade. Poderia ter optado peia glória mundana. No entanto recusou posições, cargos e distinções que conflitavam com sua maneira de ser. Cogitada sua candidatura à Prefeitura de Campina Grande, ern várias ocasiões, jamais abraçou essa ideia. Até o dia do seu falecimento, vítima de uma hemorragia cerebral aos 62 anos de idade, percorreu seu itinerário de trabalho e roteiro sentimental de sua vida. Esteve no convívio dos amados colegas do IPASE, em seguida no seu consultório, relicário de recordações do seu entusiasmo pela profissão e sua fina sensibilidade diante do sofrimento alheio e expirou em seu lar, cercado da dedicação da família e amigos inesquecíveis. Dr. Francisco Pinto deixou amigos em todas as categorias sociais. Com a mesma bondade que atendia os economicamente favorecidos, dirigia-se aos humildes nunca deixando casos sem solução. Sua bagagem científica, seu fino trato, sua prestimosidade sem fadiga, atraíram para Campina Grande, clientes de todo o nordeste brasileiro. A medicina paraibana particularmente a campinenss, tem para ele uma profunda dívida de gratidão. Seus colegas de profissão e os incontáveis amigos que adquiriu nos quase quarenta anos de incessante atividade profissional não o esquecerão. Sócio fundador da Sociedade Médica de Campina Grande em 1941, colaborou intensamente na sua construção às margens do Açude Velho. Ocupou vários cargos em sua diretoria sendo um dos seus presidentes. Fundador da Faculdade de Medicina de Campina Grande, entidade respeitável pela qualidade de profissionais que tem lançado no mercado de trabalho. Oftalmologista chefe do Hospital Alcides Carneiro. Fundador do Clube Médico Campestre, entidade diversionista que originariamente agregava somente profissionais da área médica. Hoje com o nome de Clube Campestre é aberta a toda sociedade, ocupando destaque na realização de eventos. Faleceu no dia 24 de dezembro de 1969, aos 62 anos de idade. Deus na sua sabedoria, chamou-o numa véspera de Natal, para no céu, comemorar com os justos e puros de espírito, a data que, na terra se realiza a maior festa da humanidade.
CADEIRA Nยบ
05
Patrono:
Dr. CÂNDIDO FIRMINO DE MELLO LEITÃO
1º Ocupante:
Dr. LUIZ GONZAGA DE MIRANDA FREIRE
Data de posse: 12/06/1997 2º Ocupante: Francisco Orniudo Fernandes Saudação:
José Eymard Moraes de Medeiros
12/06/1997
Saudação ao: Dr. FRANCISCO ORNIUDO FERNANDES Cadeira nº 05 Por: Acad. José Eymard Moraes de Medeiros
Sr. Presidente, Demais membros da mesa, Familiares do Dr. Miranda Freire, Meus colegas Acadêmicos, Minhas senhoras, Meus senhores, Acadêmico Orniudo.
O feriado da Proclamação da República na casa de Francisco Euclides Fernandes naquele ano de 1946 prometia ser diferente da rotina diária. É que dona Ana amanhecera o dia "amurrinhada", sentindo dores nas cadeiras e, como estava no 9° mês de gestação foi logo lembrando ao marido: "Chico Euclides tu vai ter que dar uma carreira na casa do Dr. Cascudo, pois de hoje não passa a hora de se ver a cara do "bruguelo"! A experiência da dona Ana do Socorro Fernandes, adquirida no curso de 14 gestações era bastante valiosa. Todas as providências já haviam sido tomadas nas últimas semanas. Já estavam trancafiados no chiqueiro, os 40 frangos que iriam preparar o "remate" para servir de repasto durante o resguardo. As camisas de pagão, coeiros, toucas, luvas e os sapatos feitos de tricot com cara de gato já estavam engomados e acomodados na valise amarelo-queimado com listas pretas que tinha vindo da CASA SÃO FRANCISCO, o maior empório da região do Rio do Peixe, de propriedade do seu Chico. Com a chegada do Dr. Cascudo e as doses de ÁGUA INGLÊSA GRANADO tomadas no copinho de vidro que acompanhava a garrafa, o trabalho de parto se processou rápido, uma vez que a bolsa já se rompera antes. Não eram 03 horas quando ecoa no quarto o choro forte de um menino taludo, de olhos fechados e uma vasta cabeleira preta recobrindo a cabecinha, exceto na região occipital, a semelhança de uma tonsura, prenúncio da calvície que iria lhe acompanhar no futuro. Chico Euclides ao ver o pirralho disse para esposa: este menino tem todos os sinais que vai dar um vigário dos bons; Deus queira que não chegue até a Bispo... A escolha da profissão do recém nascido se justificava não só pela religiosidade do casal, como também pelo fàtor "hereditário", pois na família existiam 24 padres, destacando-se entre eles o Monsenhor ORIEL FERNANDES, na época, vigário de Pombal, hoje seu túmulo é venerado na matriz daquela cidade; o Padre GERVASIO FERNANDES, atual consultor jurídico da CNBB; o saudoso Cónego Manoel Vieira, educador, político e um dos maiores oradores sacros do clero paraibano e tantos outros que deixaremos de enumerar, para não se tornar enfadonho. Batizado na Igreja Matriz da Sagrada Família em Uiraúna, tendo como padrinhos tios Nozinho e Francisca.. Dido cresceu rápido graças à abundância do leite de peito da sua genitora complementado a partir do 6° mês com mingau de araruta e Arrozina, feitos com o leite da vaca preta Estrelinha, cuidadosamente separada do rebanho por seu Chico. Nas brincadeiras junto aos irmãos José Orlando, Orcina e Orgenaldo e os primos, Dido se destacava pela capacidade de iniciativa e liderança. Tendo sido desarmado em casa por sua mãe, a qual lhe repassou a Carta de ABC e o Caderno de Caligrafia da Editora Melhoramentos. Em 1953 ingressa no Grupo Escolar JOVINA GOMES, em Uiraúna, concluindo o Curso Primário em 1956. Ao iniciar-se o ano de 1957, Chico Euclides querendo cumprir o que prometera no passado, consegue junto ao tio Monsenhor Oriel, uma vaga no Seminário Nossa Senhora da Assunção, em Cajazeiras, onde Orniudo cursaria o Ginasial e iniciaria o embasamento teológico, para quem sabe, em breve ir para Roma, onde no Colégio Pio Brasileiro concluiria seus estudos e por lá se ordenaria como Servo de Deus. Maria Cândida, sua irmã, e madrinha Josefa começam os preparativos do enxoval do futuro seminarista. É chegado o dia aprazado, início de Fevereiro. Os céus começaram a interferir na vocação do futuro Acadêmico. É que após 4 anos de seca, que como de costume, periodicamente se abate sobre os baixios do vale do Rio do Peixe, desde a procissão de São Sebastião, vinha caindo no alto sertão, fortes chuvas, prenuncio de um bom inverno. Os campos, até então com sua vegetação esturricada, à semelhança de um deserto, começavam a ser recobertos do manto verde formado pelo capim panaço, malva e grama de burro, exalando no ar o cheiro adocicado da folhagem dos marmeleiros, que começavam a brotar. O velho Rio do Peixe, de barreira a barreira há mais de uma semana, não permitindo a passagem de carros de Uiraúna a Cajazeiras. A solução encontrada por seu Chico Fernandes para levar o menino até o Seminário, teria de ser ir a cavalo até Antenor Navarro numa longa caminhada de quase 8 horas, de onde pegaria a “maria fumaça” até a cidade de Cajazeiras. Bons tempos aqueles, onde não se dispunha de estradas de rodagem asfaltadas, mas tínhamos o velho trem,
sacolejando nos trilhos, mas nos dando um transporte popular, barato e que desempenhava um papel de integração econômica e regional. Não foi longo o tempo de permanência no seminário. O rigor do claustro; a falta de vocação e a saudade das brincadeiras com os irmãos e primos que ficaram na "longínqua" Uiraúna, começaram a povoar a mente do jovem Orniudo. Um plano de fuga começou a ser arquitetado. Quis o destino que num final de semana, o relógio carrilhão do seminário, apresentasse um defeito na corda. O padre diretor manda chamar em Uiraúna, Zeu Fernandes, mecânico famoso, do Piranhas aos cariris do Ceará, formado na universidade da vida, mas que de engrenagem de relógio, era doutor, pois fora o construtor do relógio da torre da igreja matriz de Uiraúna, ao qual prestava assistência técnica ainda noje funcionando com uma pontualidade britânica, que não faz inveja do famoso Big Ben. Aproveitando um descuido do reitor, Padre Gualberto, Orniudo junta o matulão e escondido na traseira do jipe Willys de Zeu, retorna triunfante a casa paterna. A alegria que ele transbordava é neutralizada pelo desgosto e decepção do seu pai, que via o báculo e a mitra esfumaçarem e num momento impensado o proíbe de continuar os estudos, ameaçando-o de colocar em suas mãos um cabo de enxada. Graças a interferência do Dr. Gentil Cunha Franca, primeiro Juiz de Direito de Uiraúna, amigo da família, se matricula no Ginásio Afonso Pereira em Uiraúna, onde cursa todo o ginasial, tendo concluído em 1962. Em 1963 vai para Campina Grande onde ingressa no Colégio Estadual da Prata, transferindose em 1965 para o Colégio Estadual Atheneu Norte Rio Grandense, em Natal, onde conclui o curso científico. Em 1966 é aprovado no vestibular, ingressando na faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Começam as aulas de anatomia e Histologia; primeiro contato com o cadáver desconhecido, nas dissecações das peças anatômicas. Madrugadas são vencidas, debruçado no velho TESTUT. A dedicação aos estudos e o bom relacionamento com os colegas, associado a capacidade de liderança vindos desde a infância, credenciam ao fera paraibano ingressar na política universitária. É eleito Vice-Presidente do Diretório Acadêmico JANUÁRIO CICCO, para o biênio 1967/68. Tempos difíceis aqueles para se fazer política universitária. A implantação do regime militar de 31 de março de 1964, desestruturou o movimento estudantil, cerceando a liberdade de expressão e destruindo lideranças emergentes. Tem início a caça as bruxas, a todos aqueles que pensam diferente ao regime. Vivíamos a ditadura do governo do General Costa e Silva. Os prenúncios do AI-5 começavam a ser costurados no Planalto. Tendo o presidente do CA, Laire Rosado Maia sido "aconselhado" por familiares a renunciar ao cargo, Orniudo assume o comando na qualidade de representante legal. Em 1968, manifesta solidariedade ao movimento estudantil de Natal, que luta contra a repressão militar. Escreve editorial no jornal do C. A - AVANTE ESTUDANTE, sob o título "PARA ONDE VÃO OS CAMPONESES". De um momento para outro, se ver indiciado em inquérito policial militar, sendo submetido a juri na Junta Militar do Quartel General da 7° Região Militar, em Recife, juntamente com vários companheiros universitários natalenses. Foram defendidos no julgamento pelo Prof. VARELA BARCA, famoso causídico natalense, partidário da luta em defesa dos Direitos Humanos, o qual ofereceu os seus serviços profissionais a todos aqueles jovens, que não podiam pagar honorários advogatícios. A contestação feita pelo causídico, durante o julgamento em defesa daquele grupo de jovens idealistas, resultou na absolvição de Orniudo, embora que, vários companheiros tenham sido considerado culpados, indo amargar a prisão nas celas do Forte do Brum e até na ilha de Fernando Noronha. Afora os problemas de ordem política ocorridos durante o ano de 1968, fatores de ordem financeira e familiar também foram enfrentados pelo jovem acadêmico, que quase o levaram a abandonar o curso médico. Sem a mesada paterna, que quase o levaram a abandonar o curso médico. Sem a mesada paterna, mesmo conseguindo algum recurso financeiro com as aulas de Física e Biologia ministradas no Colégio Estadual WINSTON CHURCHILL em Natal, não eram suficientes
para a sua subsistência na capital Potiguar. O decisivo apoio do casal António Marinho da Rocha e sua esposa Edite, que muito o ajudaram naquele momento difícil, como também o seu tio Monsenhor Oriel, os quais lhes serão eternamente gratos. Em 16 de dezembro de 1971, colou grau em Medicina no pátio da antiga Faculdade de Farmácia em Natal. Necessita viajar para São Paulo para submeter-se ao concurso na Residência de Infectologia do hospital EMÍLIO RIBAS, um dos serviços mais credenciados em todo o País, até nos dias de hoje. A crise financeira que já vinha enfrentando há anos, se torna cada vez mais difícil, agora que é doutor. Nem as fotos da solenidade de formatura conseguiu ir saldar. Com o primo CHICO NUNES residente em Natal, consegue dinheiro emprestado, para se deslocar a Uiraúna para tomar a benção ao pai e de lá, pegar a Gaivota até João Pessoa, onde tomaria o ônibus da São Geraldo para levá-lo até SAMPA. As dívidas não foram esquecidas. Só no 2° ano da Residência Médica, com o dinheiro recebido da bolsa e o que percebia da docência como auxiliar de Ensino da Faculdade de Medicina de Sorocaba, São Paulo, é que retorna a Natal para efetuar o pagamento ao primo Chico Nunes, o qual não aceitou o pagamento e além do mais lhe ofereceu uma festa em sua residência. Quanto ao fotógrafo, foi tomado de surpresa com a presença do doutor, 2 anos após as fotos, tanto que dispensou a cobrança dos juros e correcão monetária que fazia jus e que Orniudo insistia em pagar. Títulos Médcos: l - Curso Médico - Faculdade de Medicina da UFRN - Natal 1966/71 2 - Residência em Doenças Infecciosas e Parasitárias - Hospital Emílio Ribas - São Paulo - 1972/75. 3 - Concurso para Auxiliar de Ensino do Departamento de Promoção da Saúde UFPB; aprovado em terceiro lugar. Cargos Exercidos:
Vice Presidente do Diretório Acadêmico "JANUÁRIO CICCO" - 1967/68; assumindo a presidência até o término do mandato. Médico contratado da SUDELPA para prestar serviços nas cidades de: SETE BARRAS - SP, CANANÉIA - SP e PERUÍBE – SP Médico do Pronto-Med - São Paulo - 1972/76 Médico do Hospital Emílio Ribas - São Paulo - 1972/76 Diretor do Hospital Guedes Pereira - Jan. 78/Mai 79 Chefe do Serviço de Doenças Infecciosas do HULW/UFPB - 81/83 1° Secretário da Associação Médica da Paraíba - biênio 1983/85 Vice-Presidente da Associação Médica da Paraíba - biênio 1985/87 Presidente da Sociedade de Infectologia da Paraíba, 1980/86 Subchefe do Departamento de Promoção da Saúde CCS/UFPB Chefe do Departamento de Promoção da Saúde do CCS/UFPB - 1987/89 Membro titular da comissão de reforma do estatuto da AMPB – 1986 Presidente da Associação Médica da Paraíba - biênio 1987/88 Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia - biênio 1986/87 Professor Assistente da Faculdade de Medicina de Taubaté – SP Assessor da diretoria técnica do Hospital Universitário da UFPB. Professor Adjunto III do DPOS/UFPB
Membro efetivo do CRM-PB eleito para o qüinqüênio 1993/98 Atividades Científica:
O novel acadêmico apresenta uma fecunda atividade científica, sendo autor de mais de 50 trabalhos científicos publicados na imprensa médica nacional ou em mesas redondas, palestras e conferências, em Congressos médicos da SBI - AMPB - Soc. Brasileira de Parasitologia e Sociedade de Medicina Tropical, versando sobre temas de Leptospirose - Raiva - Febre Tifóide Tétano - Toxoplasmose - Meningite - Difteria -Neurocisticeercose - Hepatites - Malária - AIDS Infecções oportunistas, etc. A nova edição do livro de Doenças Infecciosas do Veronesi, o capítulo sobre Ancilostomíase é de sua autoria. É também co-autor do livro, Rotinas em Obstetrícia, onde é responsável pelo capítulo sobre: Infecção e Gravidez. Fez em Washington D.C. e no estado de Connecticut estágio específico em sua área no ano de 1992. O chefe de família: Pai de família exemplar, esposo caseiro, tem na sua ex-aluna a médica Romilda Telino de Abreu Fernandes, a companheira ideal, capaz de entender todos os seus problemas e achaques. O namoro começou nos corredores do Hospital Universitário Lauro Wanderley, quando Romilda, na época de namoro firme, cursava a Disciplina de DIC, tendo como professor o novel acadêmico. Numa tarde ensolarada, na sala de aulas da DIC, no 4° andar do HU, Romilda chegando atrasada, adentra a sala de aulas vestindo blusa branca, a qual tinha sobre o bolso uma aplicação de um pato amarelo. O mestre, talvez querendo repreender a aluna faltosa ou o que é mais provável despertarlhe seus sentimentos amorosos, interpela: Doutora este pintinho faz piu-piu? Imediatamente recebe a resposta com voz incisiva: "Professor isto não é um pinto e sim um pato!" Como nas histórias do trancoso, "entrou por perna de pinto e saiu por perna de pato", o fato é que no dia 2 de janeiro de 1982, na matriz de Nossa Senhora de Fátima, no Miramar, Romilda subia os altares para receber como seu legítimo esposo, o Dr. Orniudo, sendo as bodas celebradas pelo seu parente, padre Leônidas, futuro pároco do Miramar. Da feliz união nasceram George (13 anos), Orniudo Filho (12 anos) e Anna Paula (8 anos), os quais juntamente com Rodrigo (18 anos) fruto de uma aventura passada, constituem a prole do novel acadêmico. O amigo: Para nós é um momento de grande emoção, estarmos hoje fazendo a saudação académica a um amigo e companheiro de tantas jornadas, não só ao nível da Universidade, quando junto a outros sonhadores como o saudoso Hugo Abath, Muribeca, Modesto, Jaime, Joaquim Martins, Luiz Pedro e tantos outros, companheiros procuramos mudar o perfil do profissional formado por nosso CCS, procurando adaptá-lo as necessidades do modelo assistencial que começava a ser implantado no serviço público (as Ações Integradas de Saúde), precursoras do SUS de nossos dias. Forças ocultas, bastante por nós conhecidas, interferiram impedindo que o coordenador do curso médico de então, pudesse levar a frente a implantação de uma reforma curricular. Juntos estivemos na vida associativa desde 1983 na gestão do Galvani Muribeca quando você, secretário e eu vice-presidente da AMPB, procuramos soerguer a entidade, realizando cursos e congressos estaduais que ficaram gravados na lembrança de todos os colegas da época, posteriormente na qualidade de meu Vice-Presidente demos continuidade ao programa de
interiorização da AMPB, iniciada pelo Muri, com a seccional de Patos, fomos plantando sementes em Guarabira, Souza e Cajazeiras, as quais ainda hoje constituem postos avançados na luta por uma medicina mais humana, dentro dos princípios da universalidade, equidade e resolutividade, princípios básicos que tanto defendemos ao nível do SUS. Para finalizar gostaria de fazer minha as palavras do poeta GIBRAN KHALIL GIBRAN, quando assim se expressou sobre a amizade: "Vosso amigo é a satisfação de vossas necessidades. Ele é o campo que semeais com carinho e ceifais com agradecimento... Quando vosso amigo manifesta seu pensamento, não temeis o "não" de vossa própria opinião nem prendeis o "sim". E quando ele se cala, vosso coração continua a ouvir o seu coração. Porque na amizade todos os desejos, ideais, esperanças nascem e são partilhados sem palavras, numa alegria silenciosa." Orniudo amigo, seja bem vindo. A casa é vossa. Que Deus o ilumine. Parabéns!
José Eymard Moraes de Medeiros
12/06/1997
Elogio ao 1º ocupante: Dr. LUIZ GONZAGA DE MIRANDA FREIRE Cadeira nº 15 Por: Dr. Francisco Orniudo Fernandes
Minhas Senhoras, meus Senhores. Esta é uma noite muito especial em minha vida profissional, ao assumir como titular, uma cadeira nesta Casa, anteriormente ocupada pela figura ilustre do Dr. Luiz Gonzaga de Miranda Freire. Minha emoção é muito grande, porque este é um momento de reflexão que me traz grandes recordações, desde o período de minha infância. Fui convidado para ser candidato a membro desta Academia por um ex-presidente, o Dr. Eugênio de Carvalho Júnior, já falecido, figura querida por todos nós paraibanos, a quem neste instante, presto minha homenagem como uma das grandes personalidades médicas com quem tive a felicidade de conviver; extensivo também ao meu grande incentivador e amigo Dr. José Eymard Moraes de Medeiros. Creio que a minha aprovação para integrar esta importante Entidade de nossa classe teve como objetivo premiar o meu passado e o meu presente que, embora modestos, são caracterizados, sobretudo, pelo respeito ao ser humano e pelo grande amor e dedicação a tão sublime profissão, que passa atualmente por momentos turbulentos devido à falência do ensino, no nosso caso particular, da Universidade que pouco transmite os conhecimentos necessários ao bom
desempenho dos profissionais; bem como ao total desrespeito e descaso das autoridades de nosso país para com a saúde do povo. Tenho a certeza de que, durante os 25 anos do exercício continuado da medicina sempre procurei exercê-la com desprendimento e obediência aos princípios hipocráticos. Após concluir o período de pós-graduação no Hospital Emílio Ribas em São Paulo, regressei à Paraíba em 1976, tendo me submetido no mesmo ano ao concurso para professor auxiliar do Departamento de Promoção da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. Na Universidade passei a conhecer o Dr. Luiz Gonzaga de Miranda Freire, que àquela época exercia a função de professor titular de cardiologia. Nas oportunidades em que tive de conversar com ele sobre assuntos diversos, sempre demonstrou firmeza em suas opiniões, sobretudo quando o tema abordado era na área médica. A partir de então, passei a admirá-lo pelas suas experientes abordagens científicas. Pouco a pouco, fui acumulando informações sobre esse tão conceituado e respeitado profissional da medicina, Dr. Miranda Freire, como era mais conhecido por todos. Descrever sua vida, não é tarefa fácil, porque construiu uma obra missionária deixando a marca de seu fecundo trabalho em todas as atividades que abraçou, como verdadeiro sacerdócio. Minhas senhoras e meus senhores, Dr. Luiz Gonzaga de Miranda Freire, nasceu no engenho Ribeiro Grande no município de Alagoa Grande-PB, no dia 26 de novembro de 1911 e faleceu na cidade de João Pessoa a 18 de junho de 1994, sendo os seus pais, Sindolfo Barbosa Pereira Freire e Josefa Guedes Pereira de Miranda Freire. Era o primogênito dos oito filhos do casal. São seus irmãos: Lourival (falecido), Leopoldino, residente no Recife; Lourenço; José João, e, as senhoras Laura, Luzia e Terezinha, todos residentes em João Pessoa. Luiz Gonzaga de Miranda Freire iniciou os estudos de primeiras letras com sua genitora em Alagoa Grande, dando continuidade, no ano de 1922, em João Pessoa, para onde veio morar, no engenho da Graça, pertencente ao seu tio Godofredo de Miranda Freire, local em que funciona atualmente, a fábrica de cimento Zebu. Cursou o primário na Escola de Dona Quezinha em Cruz das Armas de 1923 a 1926, matriculando-se depois, no Liceu Paraibano, onde fez o curso secundário no período de 1926 a 1930. Partiu para o Recife para realizar o seu grande sonho, de conquistar uma vaga na Faculdade de Medicina, nela ingressando em 1931. Formou-se no dia 08 de outubro de 1936. Neste mesmo ano, defendeu tese de doutor em medicina. Como passava uma fase de dificuldades financeiras, fez concurso para médico interno do Hospital Pedro II, da capital pernambucana, onde permaneceu durante o ano de 1937. De Recife, prosseguiu para o Rio de Janeiro, onde fez curso de aperfeiçoamento de curta duração em clínica médica, retornando à Paraíba para fixar definitivamente residência. Casou-se duas vezes, a primeira com Iolanda Pires, com quem viveu 25 anos. Desquitou-se. Após três anos de solidão que o deixou muito abatido, contraiu núpcias com Dorivan Sá, união que durou mais de 30 anos. Não houve filhos dos dois casamentos. Em 1938, instalou seu primeiro consultório, iniciando as atividades profissionais com seu amigo fraterno, Dr. Vanildo Pessoa, no prédio alugado onde funcionou o posto Osório Abath na Praça 1817. Logo depois, adquiriu consultório próprio no Edifício 05 de agosto. Homem simples, calmo e humilde, Dr. Miranda Freire atendia com distinção a todos que o procuravam, sendo aclamado pela população como, o médico dos pobres. Para ressaltar esta abnegação pela classe mais humilde, rememoro uma passagem de sua vida. Certa vez encontrava-se na residência de sua mãe, refugio e conforto para suas mágoas e tristezas e, quando já estava dormindo, acordou com palmas no terraço. Era um senhor pobre, aflito, a solicitar socorro para uma velhinha que padecia em Cruz das Armas. Contrariando o apelo de sua genitora para não atendê-lo, temendo uma traição arquitetada, pois o seu filho era então candidato a prefeito da capital, levantou-se e colocou o desconhecido em seu carro, seguindo para cumprir sua missão de médico. Era um médico a toda
prova, nunca condicionando o atendimento profissional a situações econômico-financeiras de seus pacientes. Falava manso e educadamente, conquistando com sua maneira de ser, a simpatia e a confiança da população, principalmente dos menos favorecidos, tornando-se posteriormente um grande líder. Além de médico competente, Dr. Miranda Freire era homem culto, amante dos livros, misto de professor, poeta, escritor e político, alcançando sucesso em todas estas áreas. Certa ocasião, segundo informações de sua irmã, senhora Terezinha Miranda, o ministro José Américo de Almeida comentou: “Miranda Freire é um homem capaz de abraçar com desenvoltura qualquer profissão.”. No exercício de sua profissão, foi clínico e cardiologista de renome, chegando a ocupar inúmeros cargos públicos e privados. Dedicou sua vida intensamente às causas populares, devotando-se por convicção ao trabalho, sempre demonstrando responsabilidade e honestidade em todos os cargos que ocupou. No período de 1937 a 1943, foi médico do Hospital de Pronto Socorro, um dos mais importantes centros de saúde do nosso Estado. Foi diretor médico efetivo do IAPFESP de 1943 a 1970, quando se aposentou. Como o Dr. Miranda Freire desfrutava de grande penetração no meio médico, elegeu-se presidente da Sociedade de Medicina da Paraíba para o período de 1949 a 1951. Foi na sua gestão, que um grupo de abnegados médicos, liderado pelo Dr. Humberto Nóbrega, em reunião no dia 25 de março de 1950, na sede desta Entidade Médica, realizou a primeira sessão para a fundação da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba. Tomaram parte da mesa os Drs. Humberto Nóbrega, que presidiu os trabalhos, Miranda Freire, Lauro Wanderley e Everaldo Soares. Naquela época existiam em todo o Estado, 169 cultores da ciência hipocrática. Nesta reunião, leu-se a relação dos candidatos apontados, que comporiam o corpo docente da nova Faculdade, nela constando o Dr. Miranda Freire como catedrático da 1° clínica médica. Foi indicado e aprovado em 1951, para professor titular da cadeira de clínica médica e posteriormente, cardiologia, cargo que desempenhou durante os anos de 1952 a 1982. Dr. Miranda Freire participou da banca examinadora do primeiro vestibular. Como professor-fundador da Faculdade, foi escolhido para o Primeiro Conselho Técnico Administrativo e, pela segunda vez, eleito para um período de dois anos. Costumava repetir que gostava muito desta missão de ensinar, pois, o colocava permanentemente junto com a juventude. Designado como primeiro diretor do Hospital Universitário no período de 1972 a 1974, deslocou-se em 1973 para o Rio de Janeiro, a fim de participar de cursos de Administração Hospitalar, e de Administração de Empresa, com o objetivo de aprimorar os seus conhecimentos administrativos nestas áreas e aplicá-los na implementação do Hospital Universitário. Através de portaria da reitoria, compôs a comissão encarregada de elaborar o regimento interno da Faculdade. Como poeta demonstra a sua grande sensibilidade no seu livro "Marcas que a vida deixou"; e como escritor, foram vários os seus trabalhos científicos, destacando-se o que foi exposto no Congresso Brasileiro de Cardiologia, no Distrito Federal, sobre '"Levantamento sobre a pressão arterial". A inclinação política do Dr. Miranda Freire começou através de seu avô, Joaquim de Miranda Freire, o primeiro prefeito de sua terra natal, Alagoa Grande. Devido a sua grande capacidade de liderança, foi convocado pelo Governador do Estado, Dr. Pedro Moreno Gondim, para assumir a Secretaria Estadual de Saúde, em que se destacou de 1958 a 1959, centralizando sua atuação na melhoria do atendimento das populações menos assistidas, com melhoramentos e construção de centros e postos de saúde. A sua arrancada política aconteceu na campanha para a prefeitura da capital em 1959, tendo ele como opositor, a grande figura humana, do desembargador João Santa Cruz de Oliveira, um declarado comunista. Como nota curiosa dessa sua passagem pela vida, merece destaque a neutralidade da igreja católica, já que era católico, esperava uma posição claramente favorável a sua candidatura, tendo em vista a posição ideológica do outro candidato, o
que não se verificou pela condição de desquitado do Dr. Miranda Freire, que mesmo assim, saiu vitorioso do pleito. Sobre esse momento político, o historiador José Octávio de Arruda Mello, assim se expressa "Sólido na classe médica onde seu conceito rivalizava com o de Santa Cruz, Miranda beneficiou-se do anticomunismo dos bairros conservadores e do prestígio do seu candidato à viceprefeito Robson Espínola, que obteve votação superior ao companheiro de chapa; além do apoio na campanha, do governador do Estado, Dr. Pedro Moreno Gondim". Durante o período administrativo, como prefeito constitucional de João Pessoa, no período de 1959 a 1963, elegeu como metas prioritárias a atualização do pagamento do funcionalismo público, em bastante atraso; a estruturação das secretarias; a aquisição do prédio onde funciona a atual prefeitura; a recuperação de postos de saúde na periferia. Como marca de sua administração construiu os centros de saúde de Oitizeiro e Ilha do Bispo, os mercados públicos dos bairros de Cruz das Armas e Torre, executou a recuperação da Avenida Tambiá e a via expressa Gouveia Nóbrega. Dois episódios relevantes caracterizaram a personalidade firme e corajosa do Dr. Miranda Freire. Após expediente, o então prefeito se dirigia em seu automóvel, no trajeto da Avenida Guedes Pereira até chegar ao Ponto de Cem Réis, quando deparou-se com uma multidão de estudantes em greve que cercou o carro e passou a esmurrá-lo. Com a calma que o caracterizava ordenou ao motorista que parasse e, saindo do veículo dirigiu-se aos manifestantes em tão persuasivo discurso, deles arrancando aplausos e aprovação final à tese que defendia. Por ocasião da greve dos médicos e estudantes de medicina no Pronto Socorro Municipal, liderada por Jarbas Maribondo Vinagre em 1962, que iria acontecer em defesa da melhoria salarial da classe, os grevistas foram surpreendidos com a presença do Dr. Miranda Freire, acompanhado dos Drs. Oscar de Castro, Vanildo Pessoa, Higino Brito e Marinésio Moreno que a partir daquele instante, assumiram o posto de plantonista, para que a população não ficasse prejudicada sem assistência. Este homem público mais uma vez deu testemunho de seu compromisso de fidelidade aos princípios ético-profissionais. Apesar de todas as suas qualidades morais que lhe dignificaram a vida, Dr. Miranda Freire experimentou situação amarga de constrangimento quando prefeito, impedido que foi, certo momento, de ter acesso ao Esporte Clube Cabo Branco, na primeira gestão do Sr. Damásio Franca, devido à sua condição social de desquitado. Era uma época em que a sociedade e a igreja não aceitavam no homem este estado civil. Somente por força judicial, assegurou o seu direito de participar das atividades sociais do Clube. Com o término do seu mandato, permaneceu três anos sem atuar politicamente. Outra vez, foi consagrado nas urnas, quando se candidatou pela oposição, para deputado estadual, exercendo o mandato por quatro anos, de 1966 a 1970. Constituiu-se no único deputado eleito com a votação de João Pessoa e, o mais assíduo, não faltando a nenhuma das sessões na Assembléia Legislativa, segundo afirma o historiador José Octávio de Arruda Mello. Segundo o historiador Wellington Aguiar, "caracterizou-se por ser um deputado dos mais atuantes, que constantemente ocupava a tribuna da Assembléia, sempre cumprindo o dever parlamentar, na defesa dos que confiaram na sua atuação. Falava sempre de improviso. Foi um dos que resistiram pelas vias legais, ao regime militar implantado no país em abril de 1964". Os seus pronunciamentos e projetos sempre se voltavam para os mais humildes, sem, contudo deixar de atender a todos os segmentos da população, quando necessitavam de seu apoio. Tratou do problema do abastecimento d'água de João Pessoa com muita habilidade, demonstrando inclusive conhecer a parte técnica do assunto. Demonstrava com seriedade, preocupação com o meio ambiente, quando disse claramente que o ser humano deveria se preocupar mais com a natureza, revelando se um político moderno e sintonizado com a consciência ecológica de nossos dias. Era um opositor intransigente da prática do aborto, dizendo que tinha jurado defender a vida e, não concordava em ajudar a tirá-la, embora se colocasse favorável a um controlado planejamento familiar.
Segundo ainda o historiador Wellington Aguiar "Foi um lutador contra o imperialismo; a favor dos excedentes no vestibular; contra as eleições indiretas; contra a quebra da autonomia dos Estados; em defesa do menor excepcional; contra a censura e a violação de correspondência e pela liberdade". Defendeu o homem do campo na sua inclusão como beneficiário da Previdência Social. Outras atuações que registramos: sócio proprietário e fundador do Prontocor (Pronto Socorro Cardiológico da Paraíba), presidente do Aeroclube da Paraíba e do Botafogo Futebol Clube. Estes os traços e o perfil mais significativo do homem, Patrono da cadeira que passo a ocupar, ainda não suficientemente lembrado pela memória dos seus contemporâneos para a preservação das grandes lições de vida que ele foi capaz de construir. Quero agradecer a todos, familiares e amigos presentes a esta solenidade.
CADEIRA Nº Patrono:
Dr. WALFREDO GUEDES PEREIRA
Data de posse: 31/07/1997 Ocupante: Vicente Edmundo Rocco Saudação:
40
Pedro Solidônio Palitot
31/07/1997 Saudação ao: Dr. VICENTE EDMUNDO ROCCO Cadeira nº 40 Por: Pedro Solidônio Palitot
Minhas senhoras, Meus senhores. Digníssimos membros da mesa Digníssima Presidente da Casa, Profª. Maria de Lourdes Britto Pessoa
A solenidade desta festa tem, para nós, uma grata, uma profunda significação. É que estamos recebendo o Dr. VICENTE EDMUNDO ROCCO, um dos fundadores desta casa, que defenderá o seu patrono, quando então será titular da imortalidade - norma de nossa instituição cultural, científica e histórica. Na fundação da Academia, há alguns anos, contou-se com o Dr. VICENTE ROCCO, pelos seus méritos de conceituada envergadura moral, conhecedor e executor de uma medicina ética, humana e atualizada. A Academia cumpre sua missão, deixando nos seus anais, para os pósteros outros e para a história da medicina o registro do imortal de hoje. É para mim, motivo de alegria, distinguido que fui para saudar e apresentar o homem, o amigo, o colega Vicente Rocco. Não neguei-me à missão e, envaidecido, aqui estou. Por mais de meio século o Dr. Vicente Rocco praticou uma medicina com arte, disposição, energia e muita paciência para suportar as carências do meio e atender uma população de quase 100 mil habitantes, envolvendo os municípios de Sapé, Marí, Caldas Brandão, Cajá, Espírito Santo, Gurinhém, Guarabira e outros. Mais de 50 anos salvando vidas, curando, aliviando, tranqüilizando verdadeira multidão de pacientes. Vamos então investigar suas origens, sua família, sua vida. Isto faz parte dos Arquivos da Casa. VICENTE nasceu em Cabedelo no dia 30 de novembro de 1916, numa casa confrontando com a foz do Rio Paraíba. Filho do Sr. Antônio Francisco Rocco e de Dona Maria Di Pace Rocco, caçula, sendo o 13° filho e o único vivo. Seu pai nasceu na Áustria em 1856, a qual foi anexada à Itália na Primeira Guerra Mundial, quando então passou a ser cidadão italiano. Emigrou para a
Inglaterra (Liverpool) onde viveu 10 anos. Veio para o Brasil com engenheiros ingleses, tomando parte ativa na construção da estrada de ferro Conde d`Eu, posteriormente Great Western, onde trabalhou quase 40 anos. Fixou-se em Cabedelo. Em 1895 casou-se com Dona Maria Di Pace, brasileira, filha de mãe italiana. Teve vida intensa e laboriosa na implantação de nossa ferrovia. Aposentado com salário insuficiente para manter a família, veio residir em João Pessoa em 1924. Dona Maria Di Pace Rocco resolveu fazer um curso de parteira, tendo como preceptores os Drs. José Maciel, Jaime Lima, Joaquim Hardman e outros. O curso prático foi feito na Maternidade implantada num velho casarão à Rua Visconde de Pelotas, pelo Dr. Walfredo Guedes Pereira. Dona Mariquinha, como era chamada, tornou-se famosa, em pouco tempo, exercendo, com segurança e habilidade, a. profissão de parteira. Seu pai faleceu em. 1940. Nesse mesmo ano, VICENTE se formava em Recife. Sua mãe, viúva, ainda teve de lutar muito, vindo a falecer em 1965. Os irmãos do Dr. VICENTE ROCCO, Francisco e José, chegaram ao ofícialato da Marinha, João, foi negociante por longo tempo; Rita e Marié, de prendas domésticas. Os outros faleceram na primeira infância. Dona Marié Rocco deixou 3 filhos: Zélia, viúva do procurador Juarez Brindeiro, Francisca Rocco Wanderley, professora aposentada, e Agenor Rocco Vasconcelos, advogado. Sua família, sua segunda religião. Esposa, Dona Francisca das Chagas Catão, nascida no Estado do Acre, mas de tradicional família campinense; Bela moça, virtuosa dama, que soube transmitir às filhas, convicção religiosa e sadia educação. Dona Francisca Catão sempre sonhou que seu matrimônio seria celebrado na Igreja Matriz da Glória, no Rio de Janeiro; e assim aconteceu no dia 26 de junho. Eu a felicito pelo bom gosto. Aproveitando a oportunidade, ofereço-lhe uma corbeilhe de flores, parabenizando-a pela festa de hoje. Esta corbeilhe lhe será entregue pelo meu neto Paulo Rogério. A nossa Presidente é, também, merecedora de idêntica homenagem. Peço, pois, à minha filha Niedja que lhe entregue, igualmente, uma corbeilhe de flores. As filhas do casal: Mônica, primogênita, médica-ginecologista e obstetra, com clínica em João Pessoa e Sapé, onde goza de bom conceito, absorveu do pai competência e habilidade. Casada com o Sr. Áureo da Nóbrega Menezes. Dois filhos: Vicente Netto, 11 anos e Taiza, 7 anos. A Débora é a caçula. Cirurgiã Dentista com especialidade em Dentística Reparadora, casada com o seu colega Walter Barros Farias, especialista em Endodontia, ambos com clínica em João Pessoa e Sapé. A primeira, infância de VICENTE foi em Cabedelo, até os oito anos. Menino ativo e rebelde, sempre que conseguia fugir da guarda rigorosa de Dona Mariquinha, ia brincar no Porto, à sombra das gameleiras, saltando entre fardos de algodão da firma Anderson Clayton, ou pescando siri ou nadando nas águas da baía ou da praia de Ponta de Mato. Aqui lembramos o grande Casimiro de Abreu: “Ó que saudades que tenho da aurora da minha vida, de minha infância querida que os anos não trazem mais”. Chegando em João Pessoa em 1924, Vicente freqüentou a Escola Modelo e a Escola de Francisco Moura, gabada preceptora de muitas gerações. Fez exame de admissão no Liceu Paraibano, sendo aprovado e logo depois foi transferido para o Colégio Diocesano Pio X, dos irmãos Maristas, que tinham fama de bons professores e de cuidar com rigor dos alunos. Ao chegar ao terceiro ano, voltou para o Liceu onde terminou o ginásio. Em fevereiro de 1935 fez vestibular para Medicina, em Recife, tendo terminado o curso em 1940. Vida acadêmica
Interno da Maternidade do Derby, sem direito a comida nem dormida, lanchava pão com goiabada e dormia num depósito de móveis quebrados. Em cima de uma velha maca tirava soneca nas folgas dos plantões. Depois, interno de clínica médica, no vetusto Hospital Pedro II, por indicação do professor João Amorim. Por fim, já no quinto ano, fez concurso para o Hospital de Pronto Socorro do Recife. Segundo lugar, nomeado como auxiliar acadêmico, permaneceu até o fim do curso. Muito trabalho, muito aprendizado, é então quando se decide pela especialidade cirúrgica. Teve orientação dos professores Albérico Câmara, João Alfredo, Rômulo Lapa e Jorge Bittencourt. Entre os seus colegas de turma destacamos José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, Herbert de Miranda Henriques, Roberto Granville e José Onofre. Formado veio para João Pessoa, sem condições econômicas de montar consultório. A medicina cirúrgica era exercida por três grupos eqüidistantes, de comprovada competência, porém impenetráveis. Permitam-me citar os nomes, não para criticá-los, mas para homenageá-los. Tratava-se dos afamados cirurgiões, de saudosa memória, os professores Edrise Vilar, Antônio d`Avila Lins, Lauro Guimarães Wanderley. Foi então que um amigo lembrou-lhe Sapé. O Prefeito era Osvaldo Pessoa, que à época estava construindo um hospital que seria a obra maior de sua administração e a recomendação para o seu próximo passo: a Prefeitura de João Pessoa, o que aconteceu. VICENTE chegou em Sapé no dia 19 de Março de 1941. Corajosamente, abriu modesto consultório. Em pouco tempo estava com uma clínica apreciável. O primeiro ano foi penoso, sem ambiente hospitalar. Atendia nas fazendas, sítios e distritos, viajando às vezes, a cavalo e até de canoa, para atender urgências de todo tipo: ginecológicas, obstétricas e cirúrgicas. Certa vez teve que mandar abrir a parede de uma casa para com o farol do carro ter condições de estancar hemorragia uterina, através de uma curetagem. Em 19 de abril de 1942 foi inaugurado Hospital Sá Andrade. Um novo mundo se abria para o jovem médico. O primeiro diretor foi o Dr. Alceu Colaço, único médico da cidade, além do Dr. Vicente Rocco. Em tempos mais remotos, clinicaram em Sapé os doutores Eliazar Machado e Manoel Caetano, que se tornaram professores na Faculdade de Medicina de Pernambuco. Lazer Boa música, só de câmara à clássica ligeira, a “quiet music”, a orquestrada ou sinfônica. Aprecia o samba de breque, ritmado com caixa de fósforos, resquício da boemia por tão longo celibato. Lê os bons livros de Júlio Verne, Jorge Amado, Humberto de Campos, José Lins do Rêgo e outros. A televisão, só os programas com documentários históricos e ecológicos, além dos jornais. Aguarda experimentar a Internet. Beber socialmente um bom vinho. Como religião crê em Deus, firmemente. Prega os bons costumes, faz o bem sem saber a quem. Não é um extrovertido, todavia carismático e de muitos amigos. Seu maior “hoby” é a geografia, com seus mapas, em que localiza os lugares de suas andanças pelo Brasil todo, pela América (México e Canadá) e paises europeus, especialmente a Itália, berço de seus ancestrais. Freqüentou vários Congressos, aproveitando os anais para atualizar-se. Assina várias revistas, cataloga assuntos para lhe facilitar a consulta. Estudioso, fez sua cultura médica nos compêndios nacionais, franceses e alemães. Periodicamente vai ao Rio ou São Paulo para participar de cursos de atualização. Compostura de autodidata como bem sentenciou o saudoso Vicente Nogueira em sua notável caderneta de anotações e ainda fazendo referência à inteligência e habilidade do grande cirurgião e obstetra.
O hospital tinha sua presença nos três expedientes. Preparou o nosocômio para grandes investidas. Deu curso de enfermagem a atendentes, transformando-as em competentes auxiliares e instrumentadoras. Tiveram sua orientação, além de outros, os auxiliares de enfermagem Adalberto e Zefinha, que se notabilizaram. Esta última, posteriormente, emigrou para Gurinhém sendo verdadeira Enfermeira Chefe e administradora hospitalar quando, sabe-se que seus conhecimentos vêm da Universidade do Dr. VICENTE ROCCO. Ela, sempre grata ao grande mestre, o felicita nesta solenidade, por meu intermédio. Apesar de não ser político, os mandões o julgavam adversário. Certa vez criaram uma ação administrativa forjada contra Vicente, a qual abortou no nascedouro, pois nenhum funcionário, do mais alto posto ao gari de rua, aceitou presidir o inquérito. Inaugurado o posto do SANDU, em Sapé em 1962, foi seu primeiro chefe. Em 1964, com a Revolução, sofreu perseguições e respondeu vários inquéritos, inclusive militares. Foi absolvido em todos e, em vez de penalidades, recebeu elogios. No Hospital Sá Andrade executava todo tipo de cirurgia. Teve a colaboração dos anestesistas Almir Lopes, José Moura, Ferdinando Paraguay, Clovis e Clócio Beltrão. No início operava com anestesia local, raque ou geral, com máscara de Ombredane. O Progresso e a evolução física do Hospital Sá Andrade, através dos melhoramentos de infra-estrutura ou materiais eram conseguidos à "saca rolha", e em pouco tempo, o Sá Andrade, ganhou fama graças à dedicação Drs. Vicente Rocco e Alceu Colaço. Em Sapé viveu intensamente, fazendo desta cidade, lugar do trabalho e do lazer. O trabalho exercido através da medicina e o lazer na condição de fazendeiro, chegando a possuir vasta e organizada gleba de terra, lugar de seu refúgio. Em fevereiro de 1983, o Colégio Brasileiro de Cirurgia conferiu ao Dr. VICENTE EDMUNDO ROCCO, diploma de Honra ao Mérito pelos serviços prestados à Cirurgia Paraibana. Foi saudado, na ocasião, como o homem que fundou a Meca da Cirurgia de grande porte entre nós. Com 56 anos de atividade profissional, realizado financeiramente, e bem, residindo em João Pessoa, não desprezou seu Sapé querido, onde mantém uma clínica e comparece três vezes por semana. Ele e suas filhas assistem pacientes e ainda opera pequenas e médias cirurgias. Realmente, é difícil sacar de VICENTE o bisturi, o bisturi que o rejuvenesce. E por falar em juventude, ROCHEFOCAULD famoso pensador francês sobre isto asseverou: "Deus dá a juventude àquele que sabe sorrir. O tempo passa e a juventude foge com ele. No entanto, se o sorriso se mantiver, Deus permitirá que continue jovem”. VICENTE se enquadra nessa filosofia de vida. Para concluir, vale a lembrança e citação de Anatole France: “Creio que jamais conseguiremos saber por que motivo uma coisa é bela”. Eu respondo perante esta assembléia. Foi e continua sendo bela a vida do Dr. VICENTE EDMUNDO ROCCO. João Pessoa, 31 de julho de 1997. Pedro Solidônio Palitot
31/07/1997
Elogio ao Patrono: Dr. WALFREDO GUEDES PEREIRA Cadeira nº 40 Por: Dr. Vicente Edmundo Rocco
WALFREDO GUEDES PEREIRA - Médico e Administrador Walfredo Guedes Pereira nasceu no brejo paraibano, no Engenho Gamela, município de Bananeiras, de propriedade de seus pais Segismundo Guedes Pereira e Joana Americana Guedes Pereira, a 30 de outubro de 1882. Foi batizado no dia 30 de setembro de 1883, sendo seus padrinhos os tios Cleodon Guedes Pereira e Santumina Luiza Guedes Pereira. Alfabetizou-se e fez o início do curso primário no “Colégio Borborema", em Bananeiras, sob a orientação do Prof. Sisenando Miranda Henriques. Veio para a Capital do estado, onde concluiu o curso primário com professores particulares, fez o curso secundário no velho Liceu Paraibano, hoje Colégio Estadual seguindo para o Rio de Janeiro, ali matriculou-se na Faculdade de Medicina, terminando o curso em 1907. No ano seguinte, defendeu tese, abordando o tema “Psudoparaísia de Parrot", da disciplina de Pediatria, sendo aprovado com distinção. Desde estudante nutria especial carinho para as crianças e decidindo-se pela Pediatria, freqüentou o Ambulatório da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Foi interno da Clínica Médica do Prof. Paes Lemos e interno do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, sob a orientação do Prof. Moncorvo Filho. Freqüentou, também, o Hospital da Marinha; terminando o curso, renunciou a todas as vantagens que lhe foram oferecidas e, movido pela vocação atávica de todo nordestino, voltou à terra natal, em 1908. Seu desempenho no Hospital da Marinha valeu-lhe a nomeação para a Escola de Aprendizes Marinheiros sediada na Paraíba, com o soldo de 20 mil réis mensais, onde serviu durante doze anos. Na volta à Paraíba, encontrou o mesmo lugar que deixara antes um burgo atrasado, letárgico, precisando de tudo, um terreno fértil, todavia para germinar a semente das idéias que trazia. Naquele tempo, a medicina era exercida por cirurgiões, parteiros e clínicos, estes valiam-se de meios empíricos, usando três sentidos o Tato para apalpação dos órgãos abdominais; a Audição, para as dos aparelhos respiratórios e circulatórios; e a Vista, para as doenças da pele. Segundo praxe da época, estabeleceu seu consultório na Farmácia Rabelo, à Rua das Convertidas, n° 44 (hoje Rua Maciel Pinheiro) e lá instalou o primeiro Laboratório de Análises Clínicas e Microscópicas da Paraíba, em 1912. Foi pioneiro nessa área. Anunciou pelos jornais e atendia principalmente crianças, fundando, assim, essa especialização médica na Paraíba. Desenvolveu vasta clientela graças à sua competência e credibilidade. Quando pensou em constituir família, casou-se, a 2 de outubro de 1908, com D. Maria Emília Neiva de Figueiredo. Desde logo o casal mostrou-se um modelo de harmonia e dignidade
conjugal: ela, exemplo de mãe dedicada; ele por trás daquela austeridade, era toda ternura para com mulher e os quatros filhos: Hermano, Viberto, Aluízio e Altair, os quais foram educados dentro dos velhos padrões do Engenho Gamela, onde o patriarca Segismundo exigia dedicação ao trabalho, honradez e disciplina, legados herdados pelos numerosos descendentes da família Guedes Pereira. Walfredo Guedes Pereira clinicou de 1908 a 1920, quando foi chamado para exercer função pública. Desde estudante, quando interno do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, idealizara criar um serviço congênere na sua terra. Fez da criança uma legenda, símbolo maior de sua bandeira de luta. Reuniu um grupo de amigos, entre eles Francisco Coutinho de Lima e Moura, e fundou, em 1° de novembro de 1912 o Instituto de Proteção e Assistência à Infância, Apesar das críticas de elementos inescrupulosos, instalou-o, solenemente, em 7 de janeiro de 1913, nos baixos do prédio 413 da Rua Duque de Caxias. É oportuno assinalar a que ponto chegou o escárnio do anonimato atrevido e invejoso que tingiu com uma cruz negra a fachada do prédio na noite de sua inauguração. Dali o Instituto foi transferido para Rua do Carmo, n° 30 e depois para Rua Visconde de Pelotas, onde existia um velho sobrado colonial fronteiro ao atual prédio da Telpa. Também funcionava ali o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, antes de sua transferência para Cruz do Peixe e, segundo pavimento, um abrigo maternal de 14 leitos instalado pelo Dr. Guedes Pereira. Do vetusto casarão o Instituto transferido, definitivamente, para sua sede própria na Av. João Machado, quando foi inaugurada , em 9 de outubro de 1927. Como suporte financeiro, em terreno anexo foi construída a Casa de Saúde São Vicente de Paulo. O idealizador do Instituto foi, durante 27 anos, seu Diretor e Presidente. Em 1938, o interventor Argemiro de Figueiredo fez doação de dinheiro do jogo do Bicho para aplicação em obras sociais, a critério do Dr. Guedes Pereira, tendo ele construído o Abrigo de Menores Abandonados, hoje Abrigo de Jesus de Nazaré. Nomeado Prefeito da Capital, em 1920, pelo seu amigo e conterrâneo Presidente Solon de Lucena, abandonou a clínica privada para desenvolver uma administração dinâmica, chegando a ser considerado o Pereira Passos do Nordeste. A cidade deve-lhe a primeira planta urbana. Rasgou ruas e avenidas, criou majestosos parques, logradouros e praças, entre elas António Pessoa, Vidal de Negreiros, o Parque Solon de Lucena, que teve início com a drenagem de um charco infecto, paraíso de sapos, mosquitos e vagabundos, tornando-se, com melhoramentos sucessivos, o atual Cartão de Visita da Cidade. Pode-se dizer que a Capital deve ao prefeito Guedes Pereira a condição de segunda "cidade mais verde do mundo" pela arborização de parques, avenidas, ruas e lugares aprazíveis com árvores frondosas, principalmente mangueiras que, além da sombra acolhedora dão frutos para alegria da criançada. Com o novo traçado da cidade, até bairros novos surgiram, como o do Montepio como administrador da cidade, Guedes Pereira tem sido comparado com Beaurepaire Rohan, o idealizador das primeiras transformações da Paraíba. A Praça da Independência construída para comemorar a data magna da nossa emancipação política, teve no centro monólito de dez metros de altura e uma edificação para exposição e desfiles. Num gesto magnânimo, Guedes Pereira doou, para a construção dessa praça e de outras ruas, mais de 70 mil metros quadrados do seu patrimônio particular. Sensível aos encantos da natureza, olhava com especial carinho para um pedaço remanescente da Mata Atlântica encravada no centro da cidade, a Bica do Tambiá, cujo nome, segundo uma lenda, provê de um guerreiro que se apaixonara por uma índia de feroz tribo inimiga que, para acabar o romance, matou Tambiá. Aipré - era o nome da índia - chorou quarenta luas sobre a sepultura do amado e de suas lágrimas brotaram as águas das fontes.
Guedes Pereira, numa de suas viagens ao Sul, visitou um parque em São Paulo. Inspirado no que viu e - quem sabe - na lenda do Tambiá, procedeu melhoramentos, construiu banheiros públicos, plantou uma muda de Pau Brasil, que guardou durante oito anos para aquele fim, e deu ao recanto o nome de Arruda Câmara, em homenagem ao grande naturalista paraibano. Em 8 de fevereiro de 1923, com o Decreto n° 49, criou a Assistência Municipal, posteriormente ampliado e melhorado até transformar-se, hoje, no Hospital de Pronto Socorro. A Paraíba deve-lhe os movimentos pioneiros da profilaxia urbana da cidade e do interior. A tuberculinização do gado leiteiro do cinturão verde da Capital despertou violenta reação dos donos dos estábulos. O Prefeito resistiu e a campanha continuou com a fiscalização e o sacrifício dos animais doentes, A profilaxia da raiva teve início com o recolhimento dos cães vadios em carrocinhas. Os falsos protetores dos animais, aproveitando o sentimentalismo da população pouco esclarecida desencadeou um festival de críticas ferinas em prosa, versos, panfletos e caricaturas com repercussão na imprensa do Rio de Janeiro. O grande dirigente, com decisão e arrojo era insensível à campanha. Um episódio acontecido naquela fase define o caráter e a envergadura moral do Prefeito. O cão de estimação de um amigo foi preso. Se não fosse procurado seria sacrificado. O Dr. Guedes Pereira manda pagar as multas e libera o animal. O amigo, mesmo beneficiado, verbara violentamente contra a atitude discriminatória do Prefeito que, numa resposta muda, manda apresentar-lhe os comprovantes dos pagamentos feitos do próprio bolso. Assim era o Dr. Guedes. Se na vida privada encontrava o aconchego da família unida na casa imensa e o descanso à sombra do mangueiral que tanto amava, sua trajetória como administrador, todavia, não foi tranqüila pela incompreensão, pela hostilidade, pela inveja de elementos sem escrúpulos e até dos próprios companheiros do mundo oficial. Deixando a Prefeitura; foi eleito Vice-Presidente do Estado, em 1924, em junho de 1925, foi chamado para chefiar o Serviço de Saneamento Rural e o Departamento de Saúde Pública, cargos que exerceu por dez anos. O grande administrador impressionava pela polivalência de suas atividades, chefiando ao mesmo tempo vários Departamentos, mantendo um serviço burocrático perfeito, comunicando-se com as altas autoridades, quando não diretamente, enfrentando viagens longas e demoradas nos navios da época. Durante uma visita de inspeção do Dr. Belisário Pena, Diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, a atuação do Dr. Guedes Pereira a frente dos Serviços de Saúde foi classificada como segundo lugar em eficiência no País. Na área de Educação foi Fiscal Federal do Colégio Pio X. Supervisor de uma legião de funcionários tratava a todos com urbanidade; exigindo, contudo, resultados e princípios. Além de fazer da medicina um apóstolo, foi um grande higienista, competente sanitarista, orientando-se pelo lema herdado de "Oswaldo Cruz" “Não podendo fazer o que se quer, faça-se o que se pode". Indiscutivelmente, foi dirigente de maior sensibilidade social e de maior visão que a Paraíba conheceu; um contraste com a lamentável escassez de homens públicos desta sofrida Nação, palco de grupos sem escrúpulos que abastardam a cidadania, agridem os princípios morais da nacionalidade e quando agarrados - por acaso - com as mentes e mãos a serviço da rapina, enfrenta suaves vexames transitórios, escapam solertes e impunemente para afronta e escárnio à dignidade dos homens de bem deste país, Guedes Pereira como administrador de grande visão, deixou realizações que não foram escritas nas areias sujeitas aos ventos do deserto. Ficaram gravadas - sim - no granito do gigantesco monumento que é o Instituto de Assistência e Proteção à infância. Impressionante que tudo o que
fez, tanto no setor físico como no âmbito da assistência médico-sócio-cultural, tenha, resistido ao esquecimento ou à inclemência do tempo, mantendo-se firmes, inalteradas e atualizadas. Guedes Pereira era uma pessoa que contrastava aparência física com o mundo interior, numa consonância com que já se dizia Júlio Diniz "Há aparências de dureza que ocultam tesouros de sensibilidade e afeto". Elegante, esteta, fisionomia fechada, sisudo, escondia atrás daquela austeridade afabilidade, lhaneza no tratamento à sua vida particular, corno médico e administrador. Homem de abalizada formação humanística, acreditava no sobrenatural, porém não era um católico praticante. Respeitava o clero, não discutia nem interferia em assuntos religiosos, era amigo particular de D. Adauto de Miranda Henriques, arcebispo Metropolitano. Vítima de pertinaz doença que reconheceu incurável, pediu aos colegas para suspender toda medicação. Reconciliou-se com a Igreja, acolheu, humilde a visita de N. S. de Fátima, recebeu os últimos sacramentos e teve os momentos finais como verdadeiro cristão. Faleceu a 29 de março de 1954, aos 72 anos de idade. Guedes Pereira muito antes de honrar, como imortal, as galerias desta Academia, já estava imortalizado na memória dos seus conterrâneos. Avesso por índole a elogios, tangenciava quaisquer referências ao muito que fez, dizendo sempre “fiz o que pude sem olhar amigos, inimigos ou indiferentes, preocupado em fazer o bem, praticando a justiça, restando-me apenas a satisfação do dever cumprido diante da realidade da vida, tudo isto nada vale". Mas, como isto nada vale? Perdoa o protesto contido na reverência do povo agradecido da sua, da nossa encantadora cidade, protesto também traduzido no sorriso daquelas crianças da Av, João Machado. Sua vida, Patrono, se nos a figura como a luta do bandeirante intemerato e audaz a vergar e empurrar para longe as Tordesilhas da ignorância e da doença, ou comparada ainda à saga do Garimpeiro no desafio às adversidades, estóico, pertinaz, forte na decisão, forte na esperança de encontrar aos raios do fim do dia cintilar da esmeralda sonhada. Epopéia dos destemidos, saga de garimpeiro, bem traduzida na pequena estrofe de Guilherme de Almeida. Mexe, remexe, agita Lava, escorre a arreia E afinal na bateia Surge brilhando a papita.
CADEIRA Nº Patrono:
Dr. NAPOLEÃO RODRIGUES LAUREANO
Data de posse: 21/08/1997 Ocupante: Antônio Queiroga Lopes Saudação:
Antônio Carneiro Arnaud
21/08/1997
30
Saudação ao: Dr. ANTÔNIO QUEIROGA LOPES Cadeira nº 30 Por: Antônio Carneiro Arnaud
Sra Presidenta da Academia e desta Solenidade , Srs Acadêmicos . Digníssimas Autoridades componentes da Mesa . Minhas Senhoras e Meus Senhores: Sr. Acadêmico Prof. Antônio Queiroga Lopes: Posso afirmar, que até agora , sempre consegui as cousas . obter vitórias e alcançar qualquer êxito, com muito esforço e sacrifício. Posso garantir que nada me veio como uma generosa doação. Em assim sendo, fiquei surpreso quando há poucos dias, o Dr. Antônio Queiroga Lopes me contatou, por telefone e foi logo dizendo: Quero lhe pedir um sacrifício, quero lhe convidar para uma missão espinhosa. Sinceramente, Sra. Presidenta e meus Nobres Colegas Acadêmicos, pensei rapidamente: Meu Deus , lá vem mais um óbice na minha vida. Acostumado a lutar, a combater o bom combate, não esmoreci e perguntei: que sacrifício desejava o meu querido e fraterno amigo? Qual não foi a minha feliz surpresa, quando recebi a notícia de que o meu modesto nome fora escolhido para fazer esta saudação por ocasião de sua posse na nossa Academia Paraibana de Medicina. Agora, pela primeira vez na minha vida, Antônio Queiroga Lopes estava me dando algo que me chegava como um presente caído do céu. Fazer a saudação, neste momento, ao novo Acadêmico Antonio Queiroga Lopes, é uma tarefa honrosa, gratiílcante e que muito me alegra. Veio para mm sem qualquer esforço e sacrifício. Veio através das cordas do seu coração. Antônio Queiroga Lopes é um dos filhos de João Murilo Leite e Maria Cavalcanti Leite. Nascido como eu, nos sertões da Paraíba. na longínqua cidade de Piancó. Na cidade que tem como Padroeiro o glorioso Santo Antônio, a cuja festa , neste ano de 1997 , completei 23 anos seguidos que lá compareço para assistir, pela manhã, a Santa Missa e, a tarde, acompanhar a procissão, ajudando a carregar o andor. Aliás, assim procedo, seguindo a tradição de devoção do meu saudoso tio Ruy Carneiro, que em vida , por 27 anos ininterruptos foi orar para o Padroeiro de Piancó, no dia 13 de junho. Vejam, Meus Senhores e Minhas Senhoras, que feliz oportunidade na minha vida, saudar um amigo querido, que nasceu em Piancó, cidade localizada no querido solo sertanejo e que tem Santo Antônio, como Padroeiro. As nossas genitoras eram católicas e devotas do santo milagreiro, por isto mesmo deram a mim e a ele o nome de Antônio. Conheci Tony, quando, coincidentemente, fomos passar uns dias de férias, com os nossos primos, na moagem da Várzea Comprida, imóvel rural, localizado no município de Pombal, pertencente ao casal Avelino Queiroga Cavalcanti e Adalgiza Carneiro Cavalcanti, esta, inmã da minha mãe, Dalva Carneiro Arnaud e, aquele primo da mãe de Tony, D. Maria Cavalcanti Leite. Recordo-me, com imensa saudade, dos bons dias vividos naquela fazenda, ao lado dos nossos primos Waldir, Maria José, Alcides e Antônio. Este último também conhecido por Tony, que para distinguir um do outro, eram chamados Tony de Murilo e Tony de Avelino. Ah Como a vida seria ótima e gratificante, se pudéssemos voltar àquelas férias! Que tal assim desejar, meu caro amigo? No ano seguinte, em 1946, fiz o exame de admissão ao ginásio na cidade de Patos, e no educandário dirigido pelo Cônego Manoel Vieira, voltei a me encontrar com Tony de Murilo. Um ano depois, fui transferido para o Ginásio Pio X, em João Pessoa.. Depois , para fazer o Curso Científico, matriculei-me no Liceu Paraibano e foi neste conceituado e tradicional Colégio Estadual que Antônio Queiroga Lope, e eu voltamos a estudar juntos, fazendo parte da Turma C .
Nesta turma, estudavam vários Antônios: Antônio Nunes Barbosa, médico e membro da nossa Academia, Antônio Andrade, odontólogo,em Patos, próspera cidade do sertão paraibano, Antônio de Araújo Medeiros, General de Divisão do Exército Brasileiro, Antônio Queiroga Lopes e eu. E ainda dizem que na Paraíba tem muito Zé, mas pelo visto, a Paraíba tem muito é Antônio. Outros acontecimentos estreitaram e fortificaram os nossos laços de amizade. Escolhemos a mesma profissão. Antônio Queiroga Lopes ingressou na Faculdade de Medicina da Paraíba, tendo se formado en 1959 e eu na Faculdade de Medicina do Derby , em Recife. Em Fevereiro de 1962, foi inaugurado, em nossa Capital, o Hospital de Câncer Napoleão Laureano. Na qualidade de seu Diretor, procurei organizar uma equipe de bons profissionais médicos, todos dedicados a lutar contra o terrível mal. Na equipe pioneira, estavam alguns colegas que agora fazem parte da nossa Academia de Medicina. Posso citar José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, Antônio Batista Ramos e, agora, Antônio Queiroga Lopes. Pelo seu trabalho no Hospital Napoleão Laureano e também no seu consultório particular, Antônio Queiroga Lopes adquiriu grande conceito profissional, sempre muito estimado pelos clientes e respeitado pelos colegas. De aluno passou a Professor da Faculdade de Medicina da Paraíba, como assistente do inesquecível mestre Antônio Dias dos Santos. Teve o reconhecimento dos alunos pela sua dedicação ao ensino, demonstrando ser um grande didata. Antônio Queiroga Lopes foi, além de bom médico e professor, uma pessoa empreendedora, e não mediu esforços para com outros ilustres profissionais criarem o primeiro hospital de Cardiologia do Estado - o Prontocor. Não satisfeito com este grande empreendimento, foi também um dos fundadores do Hospital 13 de Maio, hoje, um dos melhores da nossa cidade. Casou-se com sua prima Valmira Queiroga Cartaxo, que tem sido sua leal e dedicada companheira, estimulando a sua caminhada e dando-lhe todo apoio para obter muitas vitórias. De sua união com Valmirinha, como é mais conhecida, nasceram três lindas e robustas crianças que na pia batismal, receberam os nomes de Marcelo, Márcio e Marco Antônio. Todos já vitoriosos nas profissões que abraçaram. Os dois primeiros seguiram os passos do pai e são conceituados cardiologistas e o último, é formado em Direito, já tendo incursionado pela atividade política como vereador da Câmara Municipal de João Pessoa. Gostaria, ilustre Acadêmico Antônio Queiroga Lopes, de relembrar ainda um acontecimento, para demonstrar mais uma vez o seu espírito empreendedor - a construção do Edifício Pasteur, localizado na Rua Rodrigues de Aquino, ex-Rua da Palmeira, no centro de nossa cidade, destinado a instalação de consultórios de profissionais da área da saúde. Neste empreendimento, estive ao seu lado e formávamos um grupo de 12 (doze) profissionais, entre os quais, 8 (oito) se tornaram membros da nossa Academia de Medicina, eram eles: Eugênio de Carvalho Júnior, Pedro Solidônio Palitot, Augusto de Almeida Filho, Alberto Fernandes Cartaxo, Orlando Cavalcanti de Farias, Gilson Espínola Guedes, Antônio Queiroga Lopes e eu. Sra. Presidenta, minhas Senhoras e meus Senhores, como todos ouviram, neste relato, logo se conclui, como foi fácil e muito honrosa esta tarefa que Tony Queiroga me deu, quando me convidou para lhe saudar, nesta noite tão bonita. Além de ser meu grande amigo, desde a infância, inúmeras ocorrências de fatos aconteceram nas nossas vidas, e existe um outro motivo para me alegrar pela honrosa tarefa que recebi, quando se sabe que Antônio Queiroga Lopes vai fazer hoje o elogio ao Patrono da Cadeira número 30, Dr. Napoleão Rodrigues Laureano, a quem me sinto ligado, por ter sido Diretor durante 20 anos, do Hospital que tem o seu nome, e agora, estou na Presidência da Fundação Laureano, que é a entidade mantenedora do Hospital. Sobre a extraordinária figura que foi Napoleão Laureano, nada direi, porque tenho certeza, o Prof. Antônio Queiroga Lopes nos trará um excelente trabalho, que vai enriquecer a história dos Patronos da nossa Academia.
Antonio Queiroga Lopes, ao lhe fazer esta saudação, apresento em meu nome, da Sra. Presidenta e de todos que fazem a Academia Paraibana de Medicina, os votos de boas vindas e de muito êxito no novo e honroso titulo que acaba de conquistar, e manifesto a nossa certeza de que o seiu ingresso dará cada vez mais realce e prestígio a esta querida instituição. Seja bem vindo e parabéns.
21/08/1997
Elogio ao Patrono: Dr. NAPOLEÃO RODRIGUES LAUREANO Cadeira nº 40 Por: Dr. Antônio Queiroga Lopes
O pacto firmado entre os homens, despontado ideologicamente no Contrato Social de Jean Jacques Rousseau, garantiu a preservação dos grupos sociais, por ter encontrado acolhida
nas mentes luminares do seu século e dos séculos subseqüentes. A doutrina do mestre francês traz ínsita em seu bojo a exigência de o homem renunciar a uma parcela de sua liberdade em beneficio da liberdade de todos. Uns cumprem o pacto, outros rebelam-se contra ele, e alguns o cumprem e vão mais além: dedicam-se ao próximo e aos mais necessitados. Aos que de forma abnegada e altruista se voltam para a causa do bem-comum, a comunidade dos povos sempre presta a sua homenagem, o seu tributo. Ao receber a convocação da Academia para ocupar a cadeira que tem como patrono o inovidável Napoleão Laureano, emocionado, indaguei a mim mesmo se merecia tamanha reverência. Esse primeiro impacto quedou-se ante a generosa imposição do convite. Não posso, porém, deixar de revelar neste momento sublime, que a lembrança e homenagem depositadas em minhas mãos deixaram-me, ao mesmo tempo, envaidecido e preocupado. Envaidecido, por terem os meus colegas de profissão me contemplado com tributo tão grande; preocupado, por sentir-me, ante o peso da comenda, compromissado com uma participação efetiva na concreção dos objetivos traçados no estatuto da Academia que faz desta um veículo de implantação e difusão dos ideários de Hipócrates. Nasci numa região de gente brava e destemida, a do alto sertão paraibano, na cidade de Piancó. Os meus pais, João Murilo Leite e Maria Cavalcanti Leite, fizeram de mim o terceiro filho de uma prole de sete irmãos. A vocação para a medicina ensaiava os seus primeiros passos na minha vida de adolescente, quando, para socorrer as necessidades de saúde da minha mãe, aprendi a aplicar injeção. Hoje, nos caminhos de Marcel Proust vou, também, em busca do tempo perdido, e decifro os atos determinados de Dondon, como assim chamávamos a nossa genitora, como planos devidamente arquitetados para garantir o futuro dos seus descendentes. Queria-me médico; advinhara, com os seus olhos postos nos meus, o desejo do terceiro filho de salvar vidas. Lutou contra as dificuldades do seu tempo, contra as distâncias, contra o atraso dos meios de transportes e comunicação e fez-me seguir para a capital do Estado da Paraíba, João Pessoa, berço dos meus estudos médicos. Em 1959, graduei-me em medicina pela antiga Faculdade de Medicina da Paraíba. Com o diploma na mão, sonhei mais alto e, como o condor de Castro Alves, voei em busca de um sonho voltado à elevação dos meus conhecimentos e parti para Salvador, onde fiz o curso de PósGraduação. Nesse Estado, estudei muito, devorei os livros, vi o início das noites e o clarão das madrugadas debruçado no leito dos enfermos do Hospital das Clínicas. Fui Professor de Clínica Médica da Faculdade da Bahia. A saudade e o dever de assistir os meus pais e os meus trouxeram-me de volta ao estado natal. Em 1962, galguei o cargo de Assistente na cadeira de Clínica Médica, na Universidade Federal da Paraíba, e posteriormente, fui titular da cadeira de Cardiologia. Ocupei o cargo de Diretor Clínico do Hospital Napoleão Laureano, durante dez (10) anos. A partir de 1967, optei pela medicina empresarial, sem contudo afastar-me do doente que me procurava como médico. A formação religiosa e humanística que recebi não me permitem colocar a empresa acima do ser humano, do paciente moribundo que suplica com as últimas réstias de luz do seu olhar, um sopro de vida. De outros fatos e acontecimentos da minha vida falarei mais adiante, para entrecuzá-los com o caminho do meu Patrono, Dr. Napoleão Laureano, em coincidências não muito difíceis de esmerilhar, mas que só Deus sabe explicar. Feitas essas considerações preliminares, passo a destacar os aspectos da poderosa personalidade do meu Patrono. Muitos aqui o conheceram. Conviveram de perto com o amigo, com a sua inteligência, com os reflexos de sua cerebração. Sentiram a sua disposição de luta, conheceram o seu espírito nobre, humano e idealista.
Eu, entretanto dele me aproximei em ocasião rara, ou quando o seu nome instalou-se na placa do meu destino como marca de um sortilégio insondável. Napoleão Laureano - Um médico humano e idealista Dados biográficos No dia 22 de agosto de 1914, os céus da fazenda Riacho de Natuba, do distrito do mesmo nome, pertencente, à época, a cidade de Umbuzeiro brilhavam mais. A cidade serrana, cujos picos elevados pareciam querer tocar uma das pontas da estrela cintilante que se destacava das demais, recebi em seu seio mais uma criança. O choro forte, o agitar das pernas e braços, os olhos bem abertos eram prenúncios de que o novo ser já chegava decidido a cumprir a missão que o Senhor lhe reservara aqui na terra. A Paraíba cobria com o manto sagrado de Nossa Senhora o menino Napoleão Rodrigues Laureano. Filho do Sr. Floriano Rodrigues Laureano e de Dona Teófíla Bezerra da Silva, integra com mais três irmãos, Isaac, Fernando e Abigail, o clã dos Laureanos. Os estudos preliminares Napoleão Laureano, como assim ficou conhecido, iniciou-os em Natuba, com a Professora Maria do Egito. Posteriormente, cursou o ginásio em Recife, íniciando-o no Colégio Padre Félix de Araújo, em 1930. As operações a que se submeteu, a de amígdalas, na 3a série ginasial, e a de apendicite na quinta série, adicionadas ao assalto sofrido por seu pai, na fazenda em Natuba, obrigaram-no a retornar à João Pessoa, Paraíba. Regressando, extemporarearnente, ao período de matrículas no Liceu Paraibano, Napoleão Laureano continuou os seus estudos com professores particulares: os Padres Nicolau Nicanor Neves, José Coutinho e Pedro Anísio. Em 1934, realizou o seu grande sonho de estudar no Liceu Paraibano, onde fez a quinta série ginasial, obtendo as melhores notas da turma. O Pré-médico cursou-o em Recife, embora dispensado de fazê-lo por amparo de lei federal que isentava de tal exigência os alunos que houvessem iniciado o curso ginasial antes de 1930. Nesta hipótese enquadrava-se Napoleão Laureano, contudo, o aluno brilhante, colecionador já de trinta e duas (32) medalhas - de honra ao mérito, por ter sido aprovado em todas as séries, com distinção, fez questão de ingressar no Curso sob a alegação de que não almejava apenas o diploma de Medicina, mas que pretendia aprender medicina. Aos 24 anos de idade ingressou na Faculdade de Medicina do Recife. Formou-se em 1944, com especialidade concentrada em Clínica Geral, com distinção e medalhas ao mérito. Casou-se com Dona Marcina Sampaio Laureano, nascida, em Pernambuco, nascendo desta união uma única filha, Maria do Socorro Sampaio que lhe deu três netos; Patrícia Crisitina, Carloía e Roberto Laureano.
Um Homem Bom e Humano Napoleão Laureano fez da carreira que abraçou, a Medicina, a sua profissão de fé. Olhava o paciente não como um fator de lucro, mas como um ser humano que precisava de ajuda. Atendia a todos indistintamente, quer fossem abastados, quer fossem de parcas rendas; importavalhe, acima de tudo, a cura do doente, o alívio do mal que a este fazia sofrer. No consultório de Napoleão Laureano, a atendente acostumara-se a encaminhar pessoas humildes aos seus cuidados e não mais se surpreendia com a alarmante estatística de atendimento gratuito a oitenta por cento (80%) dos pacientes.
A bondade do médico, o seu espírito humanitário, traços característicos de sua personalidade, revelaram-se no seu dia-a-dia e atingiram o seu ponto culminante nos momentos mais difíceis de sua vida, quando surpreendido o foi com o mal que o acometera, relacionado à área em que se especializara, o câncer. Ao longo do exercício da profissão médica, tratava os doentes de câncer com dedicação e desvelo. Sentia com eles o galopar do mal, sentia-se impotente em não poder conter o avanço de tamanha chaga mortífera, sofria com as dores lancinantes que os faziam chorar, gritar e enlouquecer. Não imaginara nunca Napoleão Laureano que as cenas vistas e vividas seriam, também, por ele vivenciadas. O Seu amor ao próximo sublimou-se, quando, já canceroso, lutou com forças acima de suas condições físicas, encetando a campanha de combate e prevenção do câncer. O prestigio desfrutado por Napoleão Laureano nos meios sociais da Paraíba deve-se à sua luta em prol das classes menos favorecidas e à sua dedicação à causa do câncer. A nível nacional, computam-se esses prestígios e respeito às suas pesquisas e campanhas, à sua participação em encontros e simpósios ligados à causa da Saúde Pública e do Bem-Estar Social. Dessa batalha grandiosa de Napoleão Laureano contra o câncer voltaremos a falar mais adiante. O Político O Pendor político geralmente é inerente aos que fazem do bem comum um apanágio de suas intenções. O polítivo em Napoleão Laureano não teve outro objetivo a não ser ajudar a coletividade, a sociedade como um todo. O ingresso na política, como sói acontecer com muitos, longe de constituir um envaidecimento pessoal era, antes sim, um caminho aberto a concreção dos seus ideais humanitários. Eleito o foi, pela primeira vez, em 12 de outubro de 1947, vereador na capital, com 959 votos, sendo o segundo mais votado na legenda que o acolheu, a União Democrática Nacional, a célebre UDN. Na primeira Mesa-Diretora da Câmara Municipal, ocupou o cargo de Vice-Presidente, sendo alçado à Presidência, vinte e quatro horas após a eleição, em face do afastamento do Presidente eleito, Miguel Bastos Lisboa. Por esta razão, foi considerado pelos pósteros, na prática, como o primeiro Presidente daquela Casa Legislativa. Reeleito ainda o foi por mais quatro vezes: Para Presidente da 2 a Mesa, no dia 12.06.1948 à 12.03.1949; para Presidente da 3 a Mesa no dia 12.03.1949 à 13.03.1950; para Presidente da 4 a Mesa no dia 13.03.1950 à 05.03.1951; para Presidente da 5 a Mesa no dia 12.03.1951 à 05.06.1951. Em 1947 e em 1951 durante o comando de Napoleão Laureano à frente da Câmara, dois fatos distintos merecem ser mencionados: o primeiro ocorreu na tumultuada reunião de 25 de outubro daquele ano, quando o insigne Presidente renunciou, sendo, contudo, reconduzido ao cargo pelo Plenário; o segundo ocorreu em 1951 quando, em plena atividade médica e política, embarca, às pressas, para Recife, onde se submete a tratamento de saúde, sendo, mesmo ausente, reeleito por seus pares que, no dia seguinte, rumam à capital pernambucana a fim de assistir ao seu embarque para o Rio de Janeiro. O câncer instalara-se em um novo organismo, o de Napoleão Laureano. O médico e a doença: a batalha de combate ao câncer A luta de Napoleão Rodrigues Laureano contra o câncer começou, realmente, naquele dia 15 de fevereiro de 1951, quando viaja a Recife para submeter-se a tratamento. Em março do
mesmo ano, a batalha pela vida levou-o ao Rio de Janeiro, meio de maiores recursos, para iniciar um tratamento avançado que freasse o terrível mal: o câncer. No Rio de Janeiro, foi recebido pelo presidente da República, Getúlio Vargas, que lhe deu todo o apoio necessário ao combate do mal que o carcomia. Trataram-no com desvelo os competentes profissionais da Medicina, o Presidente do Serviço Nacional do Câncer, Mário Kroeff, além das maiores autoridades na doença no país, como Viveiros de Castro, Alberto Coutinho, Jorge de Massilac e Amadeu Fialho. A moléstia, contudo, para ser debelada ou, pelo menos, aliviada, exigia a dosagem de medicamentos específicos, alguns vindos do exterior, de Chicago, a exemplo da droga Crebiozem, cuja remessa para o Brasil deve-se à campanha encetada pelo diretor do jorna! "A Imprensa", do Rio de Janeiro, Pompeu de Sousa, Carlos Lacerda, João Neves da Fontoura, embaixador e Ministro do Exterior do Brasil. O Câncer, porém, caminhava de forma inexorável e a Cidade Maravilhosa esgotara as condições técnicas e médicas de atendimento ao ilustre paciente. A América poderia ser a salvação e, em 16 de abril de 1951, Napoleão Laureano viaja para os Estados Unidos. Esquálido, sofrido e quase morto, o médico humano e idealista retorna ao seus país. O fato de ter sido desenganado pelos médicos do Memorial Hospital não abate o forte espírito de Napoleão que acreditava em Deus, na medicina e no homem. Como ser humano, como profissional é Napoleão um grande exemplo, mormente para os que abraçaram a Medicina. Como médico, é o protótipo do mártir, pela bravura e idealismo com que lutou até os seus últimos fios de vida. Por acreditar num ser superior, na profissão que abraçara e no homem, foi que o levou a fazer da doença uma arma, um instrumento de luta contra a própria doença. Não se isola, não esmorece, não se acama, não se entrega e, reunindo as poucas forças de que dispõe, começa a grande campanha contra o câncer. Essa disposição de luta, Napoleão Laureano, já revelaria ao irmão Isaac, em Recife, quando voltou dos Estados Unidos. Estupefato com a disposição do irmão e com a sua revelação de que estava muito feliz, Isaac diz-lhe: - Mas neste estado, irmão? - Por que não, mano? Há felicidade maior que fazer o bem sem olhar a quem? A mesma energia espiritual revela na entrevista que concedeu à Rádio Mayrink Veiga, ao jornalista Pompeu de Souza (Primeiro Presidente da Fundação Laureano), quando este, preliminarmente, pergunta-lhe: - Como se sente? - Napoleão responde: - Quanto à saúde não posso dizer que vou bem, porque sou portador de uma moléstia para a qual a ciência ainda não encontrou meios para curar. E acrescenta com a marca da esperança e crença que lhe são peculiares: - Moralmente, põem, encontro-me fortalecido por este ambiente de cientistas e de homens que se integram, agora, numa campanha muito elevada: a de trazer aos que sofrem de câncer, ao menos o conforto regular quando não é possível a cura. Napoleão Laureano sentia que a vida esvazia-se-lhe, mas resoluto compreendera que precisava dedicar as suas últimas energias à campanha para minorar a situação dos cancerosos do Brasil e para o combate do câncer. A campanha de Combate ao Câncer imbuída estava de três grandes objetivos: 1) a clientela específica a ser atendida pelo benefício do movimente, os milhares de brasileiros interioranos atingidos pelo grande mal; 2) a aquisição de material eficiente que garantisse o diagnóstico precoce da doença e o tratamento adequado; 3) e a criação de centros de pesquisa que garantissem o avanço nos estudos da moléstia.
Napoleão Laureano bate às portas dos representantes do povo para pedir-lhes ajuda na concreção do seu desiderato. Ganha a adesão dos honens públicos, da imprensa, dos homens de bem e do próprio povo na caminhada que culminou com a criação da Fundação Napoleão Laureano. A Fundacão Napoleão Laureano Napoleão Laureano sabia que pouco tempo de vida restava-lhe. O maior desejo seu antes de partir definitivamente para o mundo dos justos era morrer tranqüilo e isto para ele só era possível se fizesse algo, pelo menos na Paraíba, contra o câncer. Como portador de câncer, toma o seu caso para focalizar, objetivamente, o problema, e para mostrar a todos que a doença era curável, desde que tratada no tempo devido. Para isto, era necessário que houvesse um Centro de Combate ao Câncer. Nasce assim a ideia de criação da Fundação Napoleão Laureano, em João Pessoa, na Paraíba. A campanha desencadeada no Brasil inteiro por este homem bravo e sonhador obteve grande repercussão em todo o país e teve o apoio dos Diários Associados, na figura de Assis Chateaubriand, do Diário Carioca e de toda a imprensa que não mediram esforços em recepcionar a ideia, em divuigá-la. Na Paraíba, todas as classes atenderam ao seu apelo, contribuindo com recursos materiais e apoio logístico à grande campanha. Destaque merece a colaboração das rádios Tabajara e Arapuan que realizavam festivais, com seus artistas, voltados à arrecadação de numerário e a participação da Sul América Capitalização; da Secretaria do Tribunal de Justiça; da Capitania dos Portos; da Delegacia do Trabalho Marítimo; do Des. Severino Montenegro e do seu braço direito, Prof. José de Melo. A realização de uma obra de combate ao câncer fomentava ao mesmo tempo um processo esclarecedor na população, educativo e de advertência, ligado ao velho axioma de que mais vale prevenir do que remediar; é mais razoável evitar o câncer do que tratá-lo. A Fundação Napoleão Laureano foi criada em junho de 1951, sendo a primeira Diretoria assim constituída: Pompeu de Sousa – Presidente, Darcy Vargas, Carlos Lacerda, Mário Kroeff, Jorge Marzillac e Ruy Carneiro. O eminente homem público da Paraíba, o Deputado Janduhy Carneiro, apresentou na Câmara Federal Projeto reconhecendo de utilidade pública a Fundação Napoleão Laureano, conseguindo, tembém, na mesma sessão, a abertura de crédito de 100.000,00, com destinação de 60.000,00 para o INCA e de 12.000,00 para a Fundação Napoleão Laureano. O adeus Napoleão Laureano, único responsável ideológico pela construção do Hospital do Câncer, em João Pessoa, Paraíba, elevou, até os seus últimos instantes de vida, a voz em favor dos portadores da doença. Frágil e moribundo, fez do leito de morte um motim altruísta. No dia 31 de maio de 1951, às vinte horas e vinte minutos, após receber os últimos sacramentos, ministrados pelo padre Luiz Siqueira Campos, vigário de Barra Funda, no Rio de Janeiro, parte para o etéreo o médico humano e idealista, Napoleão Rodrigues Laureano. Velado na Igreja da Candelária, em câmara ardente, o corpo do Napoleão Laureano foi trasladado, depois, para a Paraíba, em avião da FAB. O Brasil e a Paraíba assistiram, com emoção, o desfecho do drama de heroísmo e resignação, de devotamento à causa da ciência e do bem ao próximo, encarnados na figura de Napoleão.
A Câmara Municipal de João Pessoa, em nota Oficial, dá conhecimento ao povo da Paraíba da morte do seu Presidente, Dr. Napoleão Rodrigues Laureano, ao mesmo tempo em que decreta luto oficial, conclama o comércio a cerrar suas portas e convida a todos os paraibanos para assistirem às homenagens que serão prestadas ao ilustre médico, por ocasião dos seus funerais. Em 02 (dois) de junho de 1951 chega à Paraíba o corpo do Dr. Napoleão Laureano. A multidão em lágrimas, em soluços, aguardava nas ruas o filho bem-querido de sua terra natal. A cidade reverenciava o homem, o mito, um símbolo, o idealismo, a fraternidade e espírito público da figura imperecível do batalhador, do idealista, do imortal, por seus feitos em vida, por seu legado aos homens e à Paraíba. O cemitério Senhor da Boa Sentença recebeu o seu corpo e o que era pó ao pó retornou. Cortejo e multidão incalculáveis acompanharam-no à sua última morada, numa avaliação estatística de mais de dois terços da população. O filho ilustre repousava, enfim, do sofrimento e da dor, mas feliz por ter conseguido dar vida, num esforço ingente, à Fundação que garantiria aos paraibanos a prevenção, o combate e a pesquisa em torno de um mal que até hoje e, mais ainda hoje, aterroriza a todos. Encontros com Napoleão Laureano Há caminhos que se cruzam, que se entrelaçam. Há vidas que se aproximam ou por laços familiares, ou por amizade, ou por fios invisíveis que só a natureza sabe explicar. A cadeira que a partir deste momento ocuparei, por deferência dos meus ilustres colegas e amigos, é a de Napoleão Rodrigues Laureano. É mais um encontro da minha vida com a vida do insigne vulto. Abraçou Napoleão Laureano a Medicina. Abracei-a também. Receitava a todos indistintamente, preocupado mais com a cura do paciente que com o inflar do seu bolso. No meu antigo oonsultório do Edifício Pasteur, o sertanejo sabia que ali encontraria um médico comungando com os ensinamentos de Hipócrates. atendia-os sem remuneração, pois, sabia-os grandes de coração e de alma, mas desprovidos de recursos. Sentia-me feliz por eles me procurarem e de tudo fazia para recuperar-lhes a saúde. De Napoleão Laureano sempre fui um admirador, admirador de sua maneira de exercitar a medicina, admirador de sua obra , a sua coragem, do seu exemplo. Viu-o, apenas, uma única vez, quando estudante do Liceu Paraibano entrei juntamente com outros colegas, no Teatro Santa Rosa. A casa de dramaturgia estava cheia; era a convenção da UDN, partido de Napoleão Laureano. Convocado para fazer parte da mesa dos trabalhos, contemplei-o, elegante e decidido levantar-se e dirigir-se ao palco. Recordo-me, como se fosse hoje, do ilustre homem público desfilando entre as cadeiras da plateia, ovacionado pelos presentes, e retribuindo aos que o aplaudiam com o aceno de mão, a confirmar o líder inconteste que ele era. O Centro Acadêmico da nossa recém fundada Faculdade de Medicina, por decisão unâmime dos seus membros passa a denominar-se Napoleão Rodrigues Laureano. Por eleição, fui também escolhido um dos seus Presidentes. O encontro repetiu-se, desta feita, quando fui monitor, na Faculdade de Medicina, da cadeira de Histologia, cadeira esta, coincidentemente fundada pelo Professor Napoleão Laureano, embora não chegasse a ministrá-la, em face de sua morte prematura. Novo encontro o destino marcava entre nós, na conclusão do meu Curso de Medicina. A época era praxe conceder-se um prêmio ao melhor aluno da turma. O registro que ora faço, não é para vangloriar-me do laurel que recebi, mas para demonstrar as afinidades existentes entre duas vidas. Recebi então o prêmio como melhor aluno do Curso de Medicina, o Prêmio Napoleão Laureano.
Outras coincidências referidas o foram, na introdução desta minha peroração. Estávamos, novamente, lado a lado: eu assumindo o cargo de Diretor Clínico da Fundação Napoleão Laureano, combatendo o câncer, socorrendo os portadores da doença, como o fez o meu Patrono. Vem-me à lembrança os muitos óbitos que assinei, mas também inúmeras foram as curas que presenciei. Como médico fundador daquele Hospital, integro, também a categoria de Sócio Benemérito. Não bastassem os encontros referidos, um outro aguardava-me, em 1992, na Casa do povo: a Câmara Municipal de João Pessoa. O meu filho caçula, Marco António Cartaxo Queiroga, elegia-se Vereador, assumindo uma cadeira na Casa de Napoleão Laureano, pautando, para orgulho nosso, a sua conduta no respeito e no amor ao próximo. O encontro de hoje, porém, é tão grande que temo sucumbir ante a emoção que domina o meu corpo que me invade a alma. E sabem por que meus amigos, meus colegas de profissão, seleta plateia e todos que me ouvem? É porque nobre e séria é a missão que me confiaram; valioso e incomensurável é o prémio que me concederam. Napoleão Laureano notabilizou-se pela grandeza do seu caráter e pela imensidão do seu interior. Fez pelas vítimas do câncer o que não pôde fazer por ele mesmo. Honrou e dignificou a Paraíba. Juro, por meu Deus, por meus pais, por minha esposa, grande responsável pelas vitórias que atingi na minha vida, juro por meus filhos, meus netos e noras, tesouros que o Pai me deu, dignificarei o galhardão com que estou sendo agraciado. A minha santa mãe Maria Cavalcanti Leite, nossa Dondon, entrego, no lugar em que estiver, este título de Acadêmico.
CADEIRA Nº
02
Patrono:
Dr. ANTÔNIO BATISTA SANTIAGO
Data de posse: 23/07/1998 Ocupante: Ulisses Pinto Brandão Saudação:
Antônio Carneiro Arnaud
23/07/1998
Saudação ao: Dr. ULISSES PINTO BRANDÃO Cadeira nº 02 Por: Antônio Carneiro Arnaud
Exma. Srª. Acadêmica Maria de Lourdes Britto Pessoa, digna Presidente da Academia Paraibana de Medicina, autoridades, Srs. Acadêmicos e seus familiares, minhas senhoras e meus senhores. Sr. Acadêmico Ulisses Pinto Há poucos dias, desta tribuna, tive o prazer e a imensa alegria de cumprir esta honrosa missão, qual seja a de saudar o ilustre acadêmico Antônio Queiroga Lopes, por ocasião de sua investura e posse, na Academia Paraibana de Medicina. Foi realmente um momento de grande emoção e satisfação para mim, esta incumbência a que me foi conferida por esta Casa para saudá-lo. Hoje, novamente, estou aqui, para, em nome da Academia Paraibana de Medicina, trazer a nossa saudação e os votos de Boas Vindas ao mais novo companheiro pelo seu ingresso a esta casa, sob os aplausos unânimes de todos os componentes da
Academia Paraibana de Medicina. Trata-se do respeitável e não menos ilustre Acadêmico, Ulisses Pinto, de quern somos amigos fraternos desde longa data e embuídos da mesma sensibilidade, de homem nascido e formado numa região castigada pela inclemência da sêca. Filho primogênito do distinto casal Delmiro Pinto Brandão e Antonia Pinto de Sousa. Deste matrimônio nasceram seus irmãos: Francisco, Maria Lenice, Sinval, Maria do Socorro, Luzia, Maria Valdeci, António, Terezinha e José, além de mais dois irmãos que faleceram com poucos dias de vida. Casou-se o Acadêmico Ulisses Pinto com Dona Mariza Leal Pinto Brandão, pessoa bonissíma e pertencente a tradicional família paraibana. Nascimento do Acadêmico Ulisses Pinto Nasceu o Acadêmico Ulisses Pinto, no então município de Misericórdia, atualmente conhecido pelo nome de Itaporanga, município que é berço natal também de minhas avós materna e paterna. Foi na Cidade de Itaporanga que o meu saudoso genitor, Chateaubriand de Sousa Arnaud, logo após contrair matrimónio, fixou residência, passando, em seguida, a clinicar na sua profissão de Cirurgião Dentista. Foi lá que nasceu a minha primeira irmã Zélia, que continua insistindo que nasceu em Misericórdia, não aceitando a atual denominação de itaporanga, palavra, aliás, indígena, que, segundo os entendidos no assunto, significa - Pedra Bonita. Os laços de amizade Os meus laços de amizade com Ulisses Pinto, vêm desde a minha infância, os quais foram consolidados e reforçados cada vez mais, com o passar dos anos. O novo Acadêmico fez os seus primeiros estudos em escolas da zona rural e na própria Cidade de Itaporanga. O exame de admissão ao ginásio prestou-o no Colégio Diocesano Pio XI, na Cidade de Campina Grande. Em seguida, passou a estudar no Lyceu Paraibano, em João Pessoa e depois no Colégio Joaquim Nabuco, em Recife. Em 1948, submeteu-se ao exame vestibular, quanto então ingressou na tradicional Faculdade de Medicina do Derby, na Capital do Estado de Pernambuco, concluindo o curso médico em 08 de dezembro de 1953, cuja solenidade de formatura ocorreu no tradicional Teatro Santa Isabel. Ainda um pouco do passado Ainda muito jovem, nos períodos de férias, acompanhava o meu genitor Chateaubriand quando o mesmo, como fiscal do Banco do Brasil, Agência de Patos, se deslocava para os municípios do Vale do Piancó. Em sua camihoneta, muitas vezes, naquele período de férias, conduzia os estudantes do Ginásio Diocesano de Patos, deixando-os em suas respectivas cidades. Relembro-me de Felizardo Teotônio Dantas, Judivan Cabral, Wilson Braga, Walter Braga, Francisco Leite Chaves, Wanduy Leite, José Gomes Sobrinho, José Soares Madruga e tantos outros. Em Itaporanga, meu pai fazia sua pousada na pensão de Dona Quitéria, e, enquanto se deslocava para o seu trabalho, nas visitas aos mutuários do Banco do Brasil, eu ficava na cidade, passando a conviver com os jovens estudantes da mesma cidade. Desde daquela época, é que, conheci Ulisses Pinto. Anos depois, fui estudar em Recife e, novamente, me encontrava com ele. Em 1953, eu iniciava o curso médico e ele já era doutorando de medicina, freqüentando os Serviços de Otorrino do Hospital Santo Amaro, bem como os do Hospital da Aeronáutica, chefiados por José de Andrade Medíci e Antônio Bertino Filho, respectivamente. Após sua formatura, ele foi aprimorar os conhecimentos na especialidade que abraçara no HSE, (Hospital dos Servidores do Estado) no Rio de Janeiro, recebendo os ensinamentos dos
Professores Ermiro Estevam de Lima e João Cruz Guimarães. Coincidentemente, em 1958, quando concluí meu curso médico, também fui para o mesmo Hospital e recebi os ensinamentos dos mesmos mestres já citados. Trilhava assim os caminhos já percorridos por Ulisses Pinto, a quem aprendi admirar e respeitar como bom médico, ótimo especialista em otorrinolaringologia e, sobretudo, grande figura humana. O novo Acadêmico e a sua grande afinidade com a sua especialidade médica O novo Acadêmico tem realmente uma grande afinidade com a sua especialidade médica. O seu irmão José Pinto Brandão, bem como, o seu sobrinho Belmiro Pinto Brandão e sua filha Lélia Pinto, são também competentes especialistas. Sendo que o primeiro é renomado otorrinolaringologista em Campina Grande. Tenho certeza que todos se miraram na vitoriosa carreira médica de Ulisses Pinto. Além de Lélia, sua filha, são também seus filhos Sérgio e Liana, sendo esta última médica endocrinologista. O prof. Ermiro Lima o convidou a ficar fazendo parte do staff do HSE. O convite foi formulado por ter o prof. Ermiro observado a sua conduta moral e o seu desempenho profissional à frente do Serviço, chegando facilmente a conclusão de que faria uma grande e excelente escolha. Convite, aliás, também lhe foi formulado para exercer o Serviço Médico da Câmara dos Deputados, em Brasília, bem como para o ÍPASE, em João Pessoa. Mesmo assim, a despeito destas excelentes oportunidades, Ulisses Pinto, preferiu fixar residência em Campina Grande, que o fazia em atenção a seus pais e pela proximidade com sua terra natal.
O Acadêmico Ulisses Pinto na Rainha da Borborema Em 1955, na Rainha da Borborema, começou Ulisses Pinto a trabalhar como médico no Centro de Saúde do Estado e, igualmente, no seu consultório particular. Depois, exerceu atividades no Hospital de Pronto Socorro Municipal, no Hospital Pedro I, na Casa de Saúde Dr. Brasileiro e no Hospital Alcides Carneiro, no qual foi também seu Diretor. Durante mais de 4 décadas de atividade profissional, Ulisses Pinto mostrou uma destacada atuação, tendo sido eleito Segundo Secretário, Secretário Geral, Vice-Presidente e Presidente da Sociedade Médica de Campina Grande. Em Assembleia Geral Extraordinária realizada pela Sociedade, recebeu o título de Sócio Honorário. Foi fundador ainda da Faculdade de Medicina local, onde se destacou como Professor da Disciplina de Otorrinolaringologia, tendo inclusive o privilégio de ter sido o primeiro Professor a proferir aulas desta disciplina em Campina Grande, num curso de graduação em Medicina. Foi igualmente criador da Clínica Santa Clara e também da Clínica São Lucas. Um incentivador Ulisses Pinto sempre foi um incentivador das boas causas. Recordo-me bem, quando ao criarmos a Associação Paraibana de Hospitais, chegou ele, logo depois, trazendo um grande e valoroso grupo de Diretores de Hospitais e de Clinicas de Campina Grande, para apoiar e reforçar a nossa luta em prol da rede hospitalar paraibana. Naquela ocasião, também chegava ali para nos ajudar, o Dr. Antônio Batista Santiago, na qualidade de Diretor do Hospital São Vicente de Paulo, da Cidade de Itabaiana, o qual é Patrono da Academia Paraibana de Medicina e cujo elogio será feito sobre sua marcante personalidade pelo novo Académico, com eficiência e o brilho de sua inteligência e cultura.
Merecedor do título Quando convidei os médicos especialistas em otorrinolaringologia, não faltou o concurso e a colaboração do Acadêmico Ulisses Pinto, comparecendo com outros colegas de Campina Grande e fundamos aqui então, em João Pessoa, a Sociedade Paraibana de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia, da qual foi ele o seu primeiro Presidente. Assim, Ulisses Pinto adquiriu logo um invejável conceito no seio de seus amigos e colegas de especialidades, não somente na Paraíba mais em todo Brasil. Sempre participou dos Congressos Médicos da especialidade e ao lado de Nelson Caldas, Pedro Luiz, Mangabeira Albernaz e outros fundaram a Sociedade Brasileira de Otologia, da qual foi Vice-Presideníe. Dinâmico e competente foi eleito Vice-Presidente da Associação Médica da Paraíba. Foi fundador do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, secção de Campina Grande. É cooperado fundador da UNIMED de Campina Grande. Por sua excelente qualidade de Professor, foi convidado para participar como membro da Banca Examinadora de Concurso Público da Universidade Federal de Pernambuco (3 vezes), na Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa, (2 vezes) e em Campina Grande (3 vezes). Pelo prestígio que desfruta entre os Otorrinos, conseguiu promover em Campina Grande vários cursos e conferências trazendo para ali os mais renomados especialistas do País. Mesmo gozando de largo prestígio e conceito na Sociedade Campinense e sendo muito respeitado pelos seus inúmeros clientes, Ulisses Pinto, continuava querendo aprender mais e por isto foi à Madri na Espanha e durante vários meses fez estágio no Serviço do Prof. Dr. Don Antoli Candeia. Atualmeníe, Ulisses Pinto Brandão, além de Diretor da Clínica São Lucas, é Presidente da Fundação Assistencial da Paraíba, Entidade que através de seu Hospital, tem prestado os melhores serviços médicos e hospitalares, não somente aos campinenses, mas, em geral aos diversos habitantes da Paraíba, principalmente os que procedem dos municípios mais próximos de Campina Grande. Não sendo homem de se acomodar, mas pelo contrário se agiganta cada vez mais diante das dificuldades, agora está ele empenhado na consolidação do Serviço de Câncer do Hospital da FAP. Como Presidente da Fundação Laureano já estive ao lado do Dr. João Batista Simões, Diretor do Hospital Napoleão Laureano, conhecendo o projeto, e pessoalmente visitei as obras que estão adiantadas para consolidação de tão importante empreendimento. Será mais uma realização em favor da medicina campinense e porque não dizer da medicina paraibana que Ulisses vai prestar. Para encerrar quero dizer que Ulisses Pinto Brandão, que ora se empossa na Academia Paraibana de Medicina, é por demais merecedor do título que acaba de conquistar, engrandecendo o quadro desta Academia Paraibana de Medicina, por ser detentor de um admirável curriculum vitae, além de suas qualidades morais e de excelente profissional da medicina da nossa terra. Seja bem vindo Acadêmico Ulisses Pinto Brandão a nossa Casa e receba os nossos parabéns.
23/07/1998
Elogio ao Patrono: Dr. ANTÔNIO BATISTA SANTIAGO Cadeira nº 02 Por: Dr. Ulisses Pinto Brandão
Introdução A vida sócio-cultural de um povo exige, desse mesmo povo, obrigações e deveres que lhe são impostos naturalmente. É assim na Paraíba, na maioria das unidades estaduais que constituem a República Federativa do Brasil. Os distintos grupos de atividades desses Estados, para reivindicar, prestar serviços ou mesmo propiciar um ambiente de lazer e cultura, formam entidades identificadas com a prática ou a profissão desses grupos. Em João Pessoa, Capital do Estado da Paraíba, em 1979, um grupo de médicos formado por Amílcar de Sousa Leão, José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, Eugênio Carvalho Júnior e Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, foram os idealizadores da Academia Paraibana de Medicina, ideal que se concretizou com a instalação da mesma Academia, em 19 de dezembro de 1980, tendo como seu primeiro Presidente o Dr. José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira. A Academia é constituída de 40 cadeiras, cada uma com um patrono, representada por vultos que se destacaram no exercício e na prática da profissão de Hipócrates no Estado da Paraíba. E, nós que estamos chegando à Academia Paraibana de Medicina, após mais de quarenta anos exercendo a profissão de médico otorrinolaringologista, na cidade de Campina Grande, com clientela da região polarizada pela Rainha da Borborema, do exame do nosso Curriculum Vitae, da
nossa vida profissional, por uma Comissão de Membros dessa Casa, formada por Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, Orlando Cavalcante de Farias e Maurílio Augusto de Almeida; aos dois primeiros, velhos amigos, bons colegas, os meus agradecimentos pela paciência em ler interessadamente aquilo que constituí um pouco das passagens da nossa vida; e ao último, companheiro de vida acadêmica, inteligente, trabalhador - gostava de colher material de seus clientes ao amanhecer. Pertenceu a várias Instituições Culturais. E com seu passamento lamentamos a sua ausência, externamos os nossos sentimentos e prestamos também as nossas homenagens. E agora, elevado à condição de Membro Titular, da Cadeira n.° 2, que tem como Patrono o Dr. Antônio Batista Santiago. E para que nos tornemos plenamente Membro Titular dessa Cadeira, regimentalmente somos obrigados a fazer o elogio do nosso Patrono que, no nosso caso, por coincidência, estaremos elogiando um personagem que teve uma vida, um passado assemelhado ao nosso que também somos do Sertão Paraibano. O personagem Antônio Batista Santiago, sertanejo do Brejo do Cruz, Estado da Paraíba, viveu até os 18 anos de idade, na região do Catolé do Rocha - Brejo do Cruz, berço também das poderosas e tradicionais famílias - Maia e Suassuna - ambas com passagem pelo Governo do Estado, por meio de seus representantes João Suassuna, Governador na década de 20, e João Agripino Filho, Governador na década de 60, famílias que igualmente tiveram influência em outros Estados, os Suassunas, em Pernambuco, onde ainda hoje ocupa a Secretaria de Cultura do Governo Miguel Arraes, o teatrólogo Ariano Suassuna. Os Maias, no Rio Grande do Norte, aonde Tarcísio Maia, de Secretário de Educação do Governador Dinarte Mariz, chegou ao Governo daquele Estado, e deixa uma liderança jovem, representada em seu filho, o Senador José Agripino Maia, que também já passou pelo Governo daquele Estado, por duas vezes. Antônio Batista Santiago nasceu no dia 10 de abril de 1899, na virada do século, na Fazenda Arapuá, situada no atual Município de São José do Brejo do Cruz, de uma família de cinco irmãos. Era filho de Eloy Felipe Santiago e de Ana Batista Santiago, conhecida na família como Donana. São seus irmãos Francisco, João, Vitória e Maria Santiago. Eram seus primos Elesbão Santiago, telegrafista em Bonito de Santa Fé e Brejo do Cruz, neste Estado, Nelson Santiago, Diretor do Correio Geral do Estado, no Governo Jânio Quadros, e o Mons. Emídio Cardoso que foi Pároco em várias cidades do interior da Paraíba. Na pia batismal, teve como padrinho Antônio Gomes de Arruda Barreto, e como madrinha Custódia Felipe Santiago. Como padrinho de Crisma, o Pe. Tertuliano Fernandes. Sua primeira professora foi sua tia Custódia que lecionava alfabetização na fazenda. Viveu na zona rural alguns anos e seu futuro seria tornar-se também um pequeno agricultor ou criador, como eram seus pais. Decisão corajosa Entretanto, o jovem Santiago tinha outros sonhos, pensava em estudar e trabalhar noutros lugares, onde pudesse levar vida melhor, bem diferente daquela das pessoas que trabalhavam na roça. O tempo vai passando, quando Santiago, trabalhando com a enxada, ao limpar o mato, deparase com uma cobra venenosa que quase o pica na perna, causando-lhe um grande susto. Nesse momento, o jovem Antônio Batista Santiago toma uma decisão extrema, a de deixar a roça e procurar um lugar onde pudesse trabalhar e estudar. Nessa época, já tinha freqüentado escolas primárias na cidade de Catolé do Rocha. Decide então deixar a Paraíba e procurar a cidade do Rio de Janeiro, por volta de 1918. Entretanto, faltavam-lhe duas coisas importantes: primeiro, o conhecimento e consentimento dos pais; segundo, recursos para o custeio da viagem; então, se lembra de apelar para o seu tio Venâncio Santiago, Tabelião Público em Catolé do Rocha, na
esperança de o mesmo poder conseguir o consentimento do irmão e da cunhada. Alcançada a primeira parte por intermédio do tio, vem-lhe a dificuldade de conseguir o dinheiro para a viagem. Conseguiu, com a venda de algumas cabeças de gado e a ajuda espontânea de alguns amigos e familiares. Parte, então, para o Rio de Janeiro, o jovem Santiago que, chegando à Capital Federal, na época, apesar de ter alguns familiares morando no Rio, procurou levar a vida independentemente da ajuda de outros. Arranjou emprego e começou a estudar, enfrentando vida de muita dureza, pois trabalhou até de vigilante noturno, expondo a riscos a saúde e a própria vida. Conseguiu matrícula no famoso Colégio Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios, ingressando, em 1925, na Faculdade Nacional de Medicina, da Praia Vermelha, do Rio de Janeiro, matriculando-se, também, no Curso de Farmácia, curso que abandonou posteriormente, vindo a colar grau em Medicina no ano de 1930, defendendo a tese "Tuberculose e Gravidez", sendo aprovado com distinção. Durante os seus estudos, trabalhou noutros serviços, como o Pronto Socorro do Rio de Janeiro, Cruz Vermelha, e ainda freqüentou a Enfermaria de Cirurgia do Prof. Brandão Filho, a de Clínica Obstétrica do Prof. Fernando Magalhães, e a de Clínica Médica do Dr. Antônio Austregésilo. Foram seus colegas de turma, do Rio Grande do Norte, Raimundo de Brito, Ex-Ministro da Saúde, e de Pernambuco, Bezerra Coutinho, Catedrático da Faculdade de Medicina do Recife. O retorno à Paraíba Após a sua colação de grau em 10 de outubro de 1930, o já médico Antônio Santiago ficou no Rio de Janeiro, auscultando e examinando as propostas de trabalho que vinha recebendo. Uma de bolsa de estudos na Alemanha, por 4 anos, que, no regresso, seria elevado à condição de Professor. Outra para ser médico em Goiás. Estando ele nesse jogo de confusões e incertezas, chega ao Rio de Janeiro o Governador da Paraíba Antenor Navarro, e lhe faz um convite para vir dirigir, em João Pessoa, uma maternidade recém-construída, com o apoio também do Prefeito da Capital, Dr. Guedes Pereira. Aceita o convite, deixa tudo que está planejando no Rio e volta à Paraíba em 1931, pois assim ficaria também perto de seus familiares do Catolé do Rocha. Em João Pessoa, começa a trabalhar como médico e, um certo dia, apareceu uma paciente em trabalho de parto, complicado com indicação de uma operação cesariana, intervenção temível naquela época, face ao perigo de infecção puerperal ou peritonite. Santiago dispõe-se a topar a parada, opera a paciente de cesariana pela técnica de Kraening, tendo como auxiliar o Dr. Lauro Wanderley, cirurgia essa que obteve pleno êxito, e hoje essa intervenção feita pelo Dr. Santiago, é considerada como a primeira cesariana realizada na Paraíba, em agosto de 1931. Todo recém-formado tem aqueles momentos de indecisão e incerteza. O Dr. Santiago pensou até em voltar para o Rio de Janeiro. O destino - Itabaiana Acometido de uma infecção alimentar grave que o deprimiu muito fisicamente, quando foi aconselhado pelos parentes e amigos: Dr. José Frutuoso Dantas e Empresário Abílio Dantas, a procurar a cidade de Itabaiana que oferecia boas condições para a sua recuperação. Chegando a Itabaiana, cidade do Vale do Paraíba, distante de João Pessoa 60 km, com a população de 28.000 hab., cuja riqueza advém da pecuária e da agricultura, berço das famílias Borges, Maroja, Silveira, Almeida e Melo. Itabaiana que já teve tudo, até teatro e jornal falado. É a terra de Severino da Silva Andrade, o poeta Zé da Luz, autor dos livros Brasil Caboclo e Sertão de Carne e Osso, e de Severino Rangel, o Ratinho da dupla Jararaca e Ratinho, famosa na época do Rádio, de Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, sanfoneiro e músico de renome internacional. Na política, seu destaque maior é João Florêncio Meira de Vasconcelos que, após ser senador pela Paraíba, foi Ministro da
Marinha na época do Império e também Governador do Estado de Minas Gerais. Terra dos irmãos Jurema, Aderbal de Araújo Jurema, Educador no Recife, com o Ginásio da Madalena, e posteriormente Deputado Federal, e Senador da República; Abelardo de Araújo Jurema, Prefeito de Itabaiana e de João Pessoa, Secretário de Estado da Paraíba, Deputado Federal, Senador e Ministro da Justiça. Dr. Santiago, recuperado, começa a atender aos amigos e aos pacientes que o procuravam em Itabaiana, num consultório situado à Rua João Pessoa, no primeiro andar, junto à Farmácia São Paulo, de propriedade do Sr. Luís Saraiva de Araújo. Até aí, não pensava em ficar em Itabaiana. Entretanto, o Dr. Fernando Pessoa, Prefeito Municipal, tomando conhecimento da atividade médica do Dr. Antônio Batista Santiago, mandou um emissário ao Consultório pedir para que o Dr. Santiago comparecesse à Edilidade, a fim de tirar a devida licença, o alvará, para clinicar. O Dr. Santiago, educadamente, responde que sua estada na cidade é transitória e, se estava atendendo a alguns doentes, tratava-se de pessoas amigas e outros pacientes que necessitavam de sua assistência, pois a função do médico é atender a quem o procura como doente. Mas o fiscal voltava sempre, até que, certa vez, houve uma troca de palavras em termos descorteses; não suportando o atrevimento do fiscal da Prefeitura, o Dr. Santiago, na qualidade de sertanejo, determinado e corajoso, não hesitou em reprimir os insultos recebidos e o pôs para fora do Consultório, fazendo o fiscal descer as escadarias na marra. Após esse episódio, o Dr. Santiago desfez seus compromissos em João Pessoa, onde passou muito pouco tempo, e resolveu permanecer definitivamente em Itabaiana, fica, porém, rompido com o Prefeito. Posteriormente, tirou a licença da Prefeitura para clinicar. Tempos depois, estando doente o Sr. Fernando Pessoa, a conselho da família, chama o Dr. Santiago para assisti-lo. O Doutor fez o atendimento, cura o paciente e, também, acaba a intriga. Êxito profissional Em Itabaiana, onde viveu o resto de sua vida, Dr. Santiago, sendo um médico generalista, inteligente e trabalhador, naquela época, sobretudo o Clínico Geral dispunha, para se chegar a um bom diagnóstico, da história clínica e dos meios semióticos constituídos pela inspeção, palpação, percussão e auscultação. Nada de laboratórios, Raios X, CT ou Ressonância, valia o olho clínico e o saber aplicados inteligentemente. E foi assim que Dr. Santiago, dentro de pouco tempo, atingiu, com seu conceito profissional, toda a região polarizada por Itabaiana, as cidades de Macaparana, Aliança e Timbaúba, em Pernambuco, chegando ao ponto que, para a população daquela região, era considerado como um deus e era comum se ouvir dizer: "Abaixo de Deus, só o Dr. Santiago para salvar vidas". Como parteiro, atendia a todas as pacientes que o procuravam. Certa vez, fez um parto de quadrigêmeos e, para salvar essas crianças, teve que mantê-las no Hospital por muito tempo, com assistência sua, permanentemente, mas saiu vitorioso, salvou a todas. O Dr. Santiago era um homem sisudo, cara fechada, temperamental, mas tinha um coração humano e generoso. A realização de um sonho O Dr. Antônio Batista Santiago, em Itabaiana, abraçou uma causa nobre, considerada como "menina dos seus olhos". Trata-se do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, de Itabaiana, entidade filantrópica de caráter privado, que tem atualmente como Presidente da Mantenedora o Sr. Eráclito Fonseca de Morais, e como Diretor-Técnico o médico Dr. Lúcio Flávio Araújo Costa. Este Hospital teve início, praticamente, em 5 de janeiro de 1933, com a formação da Sociedade Mantenedora do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, em reunião no salão principal do Itabaiana Clube, daquela cidade, sendo eleito presidente da Mantenedora, por aclamação, o Dr. Antônio Baptista Santiago. Daí por diante, trataram de conseguir os recursos por meio de
campanhas realizadas em Itabaiana e cidades vizinhas, junto aos fazendeiros, que doavam gado, buscavam-se doações em dinheiro, rifas, leilões, tudo que gerasse meios financeiros para a construção do Hospital. Depois, outra campanha, para aquisição dos equipamentos, utensílios e móveis para o funcionamento, conseguindo, inclusive, um aparelho de Raios X. Finalmente, em 19 de março de 1948, com a presença do então Governador da Paraíba, Dr. Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, foi inaugurado o Hospital, tendo o seu idealizador e fundador, o Dr. Antônio Batista Santiago, afirmado em seu discurso, naquela ocasião, cheio de júbilo e satisfação pela vitória alcançada, depois de tantos anos e luta árdua: "Aqui está o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, marco simbólico do esforço construtivo e espírito humanitário do povo de Itabaiana". Os salões do Hospital serviram ainda para a recepção-almoço, oferecida pelo Governo do Estado à Duquesa de la Rochefoucauld, trazida por Assis Chateaubriand para conhecer uma vaquejada em Itabaiana, que, nas suas palavras finais de agradecimento da homenagem, assim se expressou: "Viva a Paraíba e seus amáveis habitantes, suas graciosas moças e seus intrépidos vaqueiros" - Duquesa de La Rochefoucauld. A família Em 1935, o Dr. Antônio Batista Santiago contraiu núpcias com a Sra. Olga Campos Santiago, da cidade do Canindé, do Estado do Ceará, irmã da esposa do Dr. Josa Magalhães, médico otorrino que clinicou em João Pessoa por algum tempo e, posteriormente, em Fortaleza. Deixa uma filha, Dra. Eucares Santiago Moraes, médica endocrinologista no Recife, onde mora também D. Olga, após a viuvez. O político – O administrador Dr. Antônio Batista Santiago teve destacada atuação política em nosso Estado e, particularmente, em Itabaiana. Em 1947, pela UDN, foi eleito Deputado Estadual, seu segundo mandato de deputado veio em 1959, disputou ainda uma eleição a Deputado Federal, tendo assumido como suplente algumas vezes uma cadeira na Câmara Federal. Foi Prefeito de Itabaiana por duas vezes, a primeira, nomeado pelo então Interventor Federal Argemiro Figueiredo, ficando no cargo de Prefeito de 8 de fevereiro de 1938 a 31 de julho de 1940. O seu segundo mandato foi conquistado nas urnas em 1972, pela Arena, e se prolongaria até 31 de janeiro de 1977, porém veio a falecer, tendo morrido no exercício do mandato de Prefeito de Itabaiana, a cidade que ele tanto amou e a que tanto se dedicou. Com a sua morte, assumiu a Prefeitura o Sr. José Bandeira Júnior, Vice-Prefeito eleito. Ao falecer, Dr. Antônio Baptista Santiago deixou eleito o seu sucessor, o Dr. Aglay Silva, grande amigo e correligionário do Dr. Santiago, que já é falecido e foi casado com a Sra. Eurídice Moreira da Silva - Deputada Dona Dida. Sua administração, com grandes realizações, como o Colégio de 2º Grau de Itabaiana, teve ainda um rígido controle financeiro. O Dr. Antônio Batista Santiago foi médico da Rede Ferroviária Nacional e político da UDN e da Arena junto com João Agripino, seu grande amigo. Representando a Assembléia Legislativa da Paraíba, saudou o Ministro José Américo de Almeida, quando este recebeu o fardão de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967. É o patrono da Câmara Municipal de Itabaiana - Casa Dr. Antônio Santiago. Freqüentava o Itabaiana Clube, usava trajes sóbrios, sobretudo o branco, fazia uso do chapéu, fumava charuto, jogava gamão e gostava de um bom bate-papo com os amigos. O adeus ao líder Antônio Batista Santiago faleceu no Hospital Português do Recife, em 22 de novembro de 1976, vítima de um quadro de abdômen agudo ocasionado por apendicite estrangulada,
complicações essas fruto de tolerância e adiamento em procurar socorro médico, daquele que salvou tantas vidas que passaram por suas mãos benfazejas, com quadro clínico semelhante ao seu. Hoje, o dia 22 de novembro é feriado municipal em Itabaiana, homenagem da Cidade ao seu grande benfeitor. 14 anos depois de sua morte, Tereza Queiroga, sua secretária, escreveu uma crônica com o título "São 14 anos de ausência" na qual diz: "Há 14 anos não mais se escutam os passos fortes daquele homem ecoando em nossas ruas ou nos longos corredores do Hospital São Vicente de Paulo, a sua obra maior, erguida pelas suas mãos, através de anos de apreensão, de esperanças, de lutas e alegrias". O Dr. Antônio Batista Santiago fez muito e honrou a sua profissão de médico, a sua atuação política e como cidadão, servindo com devoção e amor à sua querida cidade de Itabaiana, à Paraíba e ao Brasil.
CADEIRA Nº
34
Patrono:
Dr. OSÓRIO LOPES ABATH
1º ocupante:
DR. MÚCIO DE CARVALHO BAPTISTA
Data de posse: 27/08/1998 2º ocupante: Mário Toscano de Brito Filho Saudação:
Osvaldo Travassos de Medeiros
27/08/1998
Saudação ao: Dr. MÁRIO TOSCANO DE BRITO FILHO Cadeira nº 34 Por: Osvaldo Travassos de Medeiros
Digníssima presidente da Academia Paraibana de Medicina Drª Maria de Lourdes Britto Pessoa. Autoridades presentes à mesa Prezados acadêmicos Meus senhores minhas senhoras. É sempre motivo de alegria quando esta Academia Paraibana de Medicina se reúne tendo como objetivo a apresentação e ingresso de mais um membro. O seu crescimento significa a preocupação constante no exemplo, na dignidade e no elevado padrão do exercício médico. A nobre presidente, Drª Lourdes, tem sido uma mola propulsora constante nos elevados propósitos desta Academia e nesta noite, em sua gestão, mais um médico, professor universitário, pessoa amiga e admirada por todos que com ele convivem. Ingressa nesta Academia e apresenta-lo e traçar seu perfil constitui privilégio e honra: trata-se do Dr. Mário Toscano de Brito Filho. O Dr. Mário Toscano de Brito Filho é filho do Sr. Mário Toscano de Brito e da Srª Hilda Dias Toscano de Brito. Nasceu em João Pessoa em 26 de julho de 1953, é casado com a Srª Maria Helena Pessoa de Brito filha do casal médico Vanildo e Maria de Lourdes Britto Pessoa: tem os filhos Manuela, Mariana e Rodrigo, aqui presentes. Apesar de jovem, é portador de um vasto currículo, permitindo o tempo desta solenidade que faça apenas algumas considerações: ingressou na Faculdade de Medicina aos 17 anos de idade, esta precocidade já dava sinais de uma trajetória vitoriosa, vislumbrando desde o primeiro instante esplendor de cultura, sabedoria e de um futuro cientista respeitado. Diplomou-se em Medicina em 29 de dezembro de 1976e sua pós-graduação enriqueceu seu currículo principalmente na área de cardiologia tendo se especializado pela Associação Médica Brasileira em 1991. Sua inquietude intelectual, como ele mesmo define, não ficou só nesta área, se estendeu à matemática, à filosofia e na Engenharia Biomédica chegou a defender tese sobre assunto físico relacionado à cardiologia. Seu doutorado em cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com tese intitulada “Avaliação do Movimento Segmentar de Parede do Ventrículo Esquerdo após Reconstrução Geométrica”, defendida em 23 de agosto de 1991 não só tornou-se um marco para a
cardiologia paraibana pela representação de seu trabalho, como também sua presença amiga entre seus professores naquela Universidade muito contribuíu para estreitar os laços científicos entre as duas Universidades – a Paraibana e a Paulista. Sua especialização em Administração hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto tem sido de muita valia em nosso meio. Membro Titular de diversas instituições médicas entre elas a do Departamento de Hemodinâmica, com autorização para a realização de angioplastias, não só é importante na sua formação, mas de grande benefício para a coletividade. Deve ser lembrada sua participação pioneira na angioplastia coronariana realizada no Hospital Universitário da UFPB em 1991 juntamente com membros do Instituto do Coração de São Paulo. É membro de diversas atividades associativas: Sociedade Paraibana de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, Sociedade Brasileira de Bioética. São muitos os seus estágios, “Complementação Especializada em Hemodinâmica, no Serviço de Hemodinâmica do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de 6 de fevereiro de 1988 a 6 de fevereiro de 1990 através de seleção em concurso público. Fez estágios sobre angioplastia coronariana também no Instituto do Coração em São Paulo tendo sido marcante sua atuação em discussões, intervenção e controle de diversos pacientes. Muitos foram os cursos freqüentados pelo Dr. Mário Toscano de Brito Filho: Curso Intensivo de Administração Hospitalar, Curso de Psicologia Médica – Visão Sócio Psicossomática, Curso de Atualização da Divisão de Cirurgia Cardíaca, cursos esses em sua grande maioria realizados em São Paulo além de curso sobre temas de psicanálise. Sob o tema de Funções ocupadas, o Dr. Mário foi médico plantonista do Hospital de Pronto Socorro Cardiológico em João Pessoa, Oficial subalterno do serviço médico do 15º Batalhão de Infantaria Motorizada, hemodinamicista do Serviço de Hemodinâmica do Hopital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia de João Pessoa, bem como do serviço de hemodinâmica do Hospital Universitário da UFPB, sendo que, desde 1996, chefia aquele serviço. Membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança do Ministério da Ciência e Tecnologia por nomeação do presidente da república como suplente do representante do Ministério da Educação e dos Desportos desde março de 1997. São marcantes suas atividades docentes: Professor do Departamento de Cirurgia do Cento de Ciências da Saúde da UFPB, Coordenador do Núcleo de Estudos e Tecnologia em Engenharia Biomédica, Coordenador do Curso de Especialização em Engenharia Clínica do Hospital Universitário-UFPB e do Núcleo de Estudos e Tecnologia em Engenharia Biomédica, compôs a lista sextupla para o cargo de Vice Reitor da UFPB e tem tido participação em orientação de teses de banca examinadoras. Participou da elaboração do Projeto de Apoio à Pesquisa Básica e Aplicada às Atividades de Pós-Graduação no item intitulado “Análise de Sinais e Instrumentação”, e na sua execução, Coordenador para o Nordeste do Projeto de Cooperação Técnica em Engenharia Biomédica, proposta pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica; e, entre outras participações, deve ser destacada sua atuação como coordenador do Projeto 47/80 do Acordo CAPES/COFECUB, com a Université de Technologie de Compíège/França, de julho de 1982 a julho de 1986 constituindo-se numa destacada missão no exterior. Muitas foram e têem sido suas participações em eventos médicos, principalmente na sua área de atuação, a cardiologia. Diversos trabalhos publicados, e na sua formação cultural tem certificado prático de lingua francesa expedido pela Université de Nancy II França em 1983 bem como outros certificados emitidos pela Aliança Francesa do Brasil.
Sobre o Dr. Mário, além do que discorremos, resumidamente, sobre seu lado científico gostaria de evidenciar o seu gosto pela música clássica, foi cantor do coral universitário, chegou a gravar um disco, fez curso na Escola de Cadetes da Aeronáutica, e curso de Pliloto Privado em Aviação. Aqui pode ser aplicado o que no dizer do filósofo Young constitui: viver com perfeição e excepcional intensidade. Sua obra intensa, seu trabalho profícuo, suas realizações e seriedade apostolar com que exerce suas atividades torna-o admirado por todos. Por somar qualidades que não se improvisam chegou ao que é. Mais uma vez muito honrado em poder retratá-lo na grandeza de suas virtudes e de sua personalidade. Lidamos com os olhos que analisamos quanto a beleza de sua estrutura, mas também há outra representação, a do olhar, que já retrata o espírito, da vossa área há o coração que bate, reflete a vida, mas também há o coração do sentimento. Aqui nesta Academia os olhos vêm e o coração sente. Desejo que continue em sua permanente e frutuosa dedicação aos assuntos de interesse médico bem como ao das esferas do ensino e das atividades associativas; seja bem vindo à Academia Paraibana de Medicina. Muito obrigado.
Osvaldo Travassos de Medeiros.
27/08/1998
Elogio ao 1º ocupante: Dr. MÚCIO DE CARVALHO BAPTISTA Cadeira º 34 Por: Dr. Mário Toscano de Brito Filho
Magnífico Reitor da Universidade Federal da Paraíba - Professor Jader Nunes de Oliveira, Excelentíssimo Secretário de Saúde do Município - Acadêmico José Eymard de Medeiros, Digníssima Presidenta da Academia Paraibana de Medicina – Acadêmica Maria de Lourdes Britto Pessoa, Digníssimo Presidente do Conselho Regional de Medicina – Doutor Humberto Gouveia, Digníssimo Vice-Presidente da Associação Médica da Paraíba – Professor Wilberto Trigueiro, Digníssima Diretora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba Professora Zoraide Margaret Bezerra Lins, Digníssimo Diretor Médico-Assistencial do Hospital Universitário Lauro Wanderley - Professor João Flávio Paiva, Digníssimo Representante da Família do Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista - Doutor Álvaro de Mesquita Baptista, Minhas Senhoras, Meus Senhores, Ilustres Acadêmicos. Esta noite de 27 de agosto, quando assumo com muita honra a cadeira de número 34 da Academia Paraibana de Medicina, tendo como patrono o Professor Osório Lopes Abath e fundador o Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista, meu primeiro professor do ciclo profissional do curso de Medicina e mestre a quem farei o elogio estatutário com o prazer do discípulo, tem a marca da emoção, desde o momento da escolha da data da posse. É hoje véspera do aniversário de nascimento de meu pai, Mário Toscano de Brito, pernambucano que se encantou pelas terras tabajaras, fazendo de nosso estado sua pátria e seu lar, onde constituiu família, criou seus filhos e netos e amanhã faria noventa anos de idade, se o Criador em seus desígnios insondáveis, não tivesse achado melhor levá-lo há cinco anos, no dia 23 de abril, para trabalhar a Seu lado, na construção dos mundos. Que na dimensão atual da espiritualidade, meu pai tome a escolha deste dia, como uma homenagem do filho que o teve e tem, desde os primeiros vislumbres da razão, como um exemplo a seguir e como um ombro amigo onde sempre buscou e recebeu apoio e afago, para recuperar as forças e seguir adiante no bom combate. Apesar de ter sido engenheiro eletricista, formado na turma de 1936 da famosa Escola de Engenharia de Itajubá, em Minas Gerais, de onde saiu com o título de Doutor em Ciências Físicas e Matemáticas, e de ter sido um pioneiro na eletrificação de cidades na Paraíba e no Rio Grande do
Norte, meu pai tinha um lado humanista, moldado pela leitura de escritores clássicos e de poetas da estirpe de um Augusto dos Anjos, cujas poesias recitava para nós, seus filhos. E outro lado de profunda espiritualidade que o fazia praticar sempre com muito prazer a caridade de ouvir e aconselhar as pessoas necessitadas, de todos os estratos sociais que o procuravam. Aquele enlevo em servir ao outro, em buscar, muitas vezes apenas com palavras de carinho, mitigar o sofrimento do irmão ou da irmã, como ele chamava indistintamente quem vinha com ele dividir a sua dor, foi pouco a pouco, desde a minha mais tenra idade, moldando os meus interesses intelectuais, humanos e espirituais, para fazê-los desaguar na escolha da arte de Hipócrates como profissão na qual me realizo em todas as dimensões. Além de meu pai, de minha mãe Hilda e de meus irmãos Hilda Lúcia e Marcus Magnus esta família desde sempre amalgamada pelo amor entre seus membros - recebi ajuda de muitas pessoas e de diferentes formas, durante toda minha vida. Tenho repetido com freqüência que Deus me tem concedido em conta maior do que me julgo merecedor. Fui aluno da Escola Preparatória de Cadetes-do-Ar, em Barbacena, Minas Gerais, nos idos de 1968, onde cursei como aluno-militar, os dois primeiros anos do curso científico, atual segundo grau. Ao concluir o período, desliguei-me da escola e fui para o Rio de Janeiro preparar-me para o vestibular de medicina, cursando o terceiro ano científico no Colégio Souza Marques, da Fundação do mesmo nome, em cuja Escola de Engenharia estudava o meu tio-afim Itamar Soares Alvarenga, militar da reserva e de saudosa memória, casado com minha querida tia Neuza, que me receberam em casa, durante um ano, tornando-se o casal e meus primos Gina Suelly e Plutarco, também já despido do corpo material, a minha segunda família. Já no curso de medicina, entre tantas atenções que recebi de professores, médicos com quem estagiei nos diversos hospitais da cidade, colegas e funcionários da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), de quem passei a ser devedor, reservo especial preito de gratidão a dois professores, orientadores, amigos, verdadeiros pais intelectuais e espirituais. O primeiro foi o Acadêmico Maurílio Augusto de Almeida, com quem trabalhei em seu laboratório de análises clínicas, a partir de minha aprovação, em maio de 1974, na disciplina de Anatomia Patológica, da qual era ele Titular, até quando já formado, fui aprovado no concurso para o Mestrado em Engenharia Biomédica, cuja primeira fase era no Centro de Ciências Tecnológicas, em Campina Grande. Com ele aprendi o rigor científico e o apego à precisão nos resultados de seus exames. Dessas referências maiores, com o segundo, Patrono da cadeira de número 38 desta Academia, Professor Vanildo Guedes Pessoa, cadeira atualmente ocupada pelo Acadêmico Pedro Solidônio Palitot, tive uma relação ainda mais próxima, tal que além de me haver descortinado toda a beleza da Cardiologia, especialidade que abracei, e me ensinado os mistérios da Eletrocardiografia, método complementar de que era o grande mestre na Paraíba, concedeu-me a mão de sua filha Maria Helena, amada companheira que tenho a meu lado em todas as horas e mãe exemplar de nossas filhas queridas Manuela e Mariana e tendo como nosso o querido filho Rodrigo. Maurílio e Vanildo foram levados aos céus por asas de anjos, este último ainda jovem, no ano de 1978 e o primeiro recentemente. A dor desses acontecimentos que me faz ter sempre presente nos momentos de oração, o pedido ao Pai Celestial para que eu me mantenha sempre atento e na observância dos ensinamentos que estes dois instrutores de medicina e de vida me ofereceram. No dia da comemoração do aniversário de sexto ano de meu casamento, em maio de 1983, quiseram as Parcas que um grande acidente de motocicleta me ocorresse, deixando-me gravemente ferido, com fraturas em todos os ossos da cabeça. A classe médica e as de outros profissionais de saúde de João Pessoa colocaram à minha disposição todos os recursos necessários à recuperação de minha saúde. A cada um agradeço comovido e mais uma vez dois anjos velaram por mim de forma especial.
Pela natureza dos ferimentos, o primeiro foi o Acadêmico José Alberto Gonçalves da Silva, que me tratou desde o momento de minha chegada em seu serviço, no Hospital São Vicente de Paula, com tal dedicação, competência e carinho que logo me fizeram confiar plenamente no meu pronto re-estabelecimento. Curioso como estamos todos ligados, de uma forma ou de outra, no curso da história da medicina em nossa terra. Ao colher dados sobre a vida de Doutor Múcio, informou-me Doutor José Alberto que ele foi um dos incentivadores de sua ida para o exterior, para realização de pós-graduação. Passado o período de risco de vida, após aquele acidente, o segundo anjo protetor foi o Acadêmico Oswaldo Travassos de Medeiros, posto que tendo eu sofrido seção do ramo esquerdo do nervo óptico, decorrente das fraturas dos ossos da cabeça, tratou-me do ponto de vista técnico com a competência que é de todos conhecida, mas destacou-se pela sensibilidade em me convidar ao seu consultório para me estimular a dar continuidade à minha formação acadêmica e programar-me para realizar um curso de Doutorado, não me deixando abater pela limitação da visão do olho esquerdo. Também em resposta ao incentivo desses dois professores, submeti um projeto de tese à Coordenação de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para a realização do Doutorado em Medicina, na área de Cardiologia, aceito em meados de 1986, sob a orientação do Professor Doutor Giovanni Mauro Bellotti, Diretor da Área Clínica do Instituto do Coração. Fui liberado pela Universidade Federal da Paraíba para realizar este curso, pelo período regulamentar, inclusive com uma prorrogação de um ano. No entanto, durante este período, como além de minha tese de doutorado, coordenava cinco outros projetos de pesquisa, ao final do período, tinha todos os dados de minha tese colhidos, mas o texto final não estava ainda concluído. No início de 1991, a bolsa de estudos que recebia de agência financiadora, também esgotara o prazo de concessão e me vi na perspectiva de não ter como passar mais um ano em São Paulo, nem de defender minha tese de doutorado. Pedi a Deus mais uma vez a Sua intercessão, para que uma solução fosse encontrada. Ele não só materializou uma fórmula através de dois de seus enviados, como me concedeu tê-los como amigos até os dias de hoje. Em São Paulo, o Doutor Giovanni Bellotti e em João Pessoa, Doutor Newton de Araújo Leite, então Diretor Superintendente do Hospital Universitário Lauro Wanderley, se prontificaram a assinar um convênio de cooperação técnica entre as duas instituições, para que não só a minha tese, como os outros cinco projetos de pesquisa fossem concluídos, tendo sido os custos daquele convênio rateado entre os dois hospitais. Durante todo o ano de 1991, passava metade de cada mês em São Paulo e a outra metade em João Pessoa. A esses dois homens públicos que desinteressadamente tanto me ajudaram, só tenho a oferecer minha amizade e a minha lealdade. Meu primeiro contato de trabalho com a Academia Paraibana de Medicina de grande projeção entre suas congêneres no país, foi quando o saudoso Acadêmico e Presidente Eugênio de Carvalho Júnior recebeu a incumbência de organizar a participação desta Academia no V Conclave da Federação das Academias de Medicina, ocorrido em São Paulo, em maio de 1994. Convocou-me então com a missão de preparar o tema "Descompasso entre Tecnologia e Saúde do Povo", a ser discutido em uma mesa-redonda. Certamente pesou o fato da minha formação de Mestre em Ciências em Engenharia Biomédica, para que tivesse a distinção de ser guindado a uma posição de discorrer sobre o tema para tão ilustre platéia de eminentes professores, lado a lado das maiores autoridades do Brasil, sobre o assunto daquela mesa-redonda, sendo eu apenas colaborador desta academia. Verifiquei naquele evento realizado em plena Avenida Paulista, a importância das academias de medicina na discussão das grandes questões nacionais pertinentes à saúde de nosso povo, tanto pela experiência de cada um de seus membros, quanto da inserção dos mesmos nos mais altos escalões de poder dos estados da federação e da própria República, tornando-se, portanto cada academia e seus conclaves, foros privilegiados de discussão e encaminhamento de propostas do
mais alto nível técnico e de interesse público. Além, evidentemente de servir tal instituição como escoadouro de todos os esforços de preservação da história de nossa profissão, de seu ensino e de seu exercício. Com tal visão que me foi dada ter, aspirei desde aquele momento efetivar a minha vinculação a esta Academia, com o desejo de oferecer minha humilde contribuição, todo o meu empenho e o meu trabalho, para a realização de suas disposições estatutárias. Atendi prontamente ao edital publicado na imprensa paraibana e tive o prazer de receber das mãos da Acadêmica Maria de Lourdes Britto Pessoa, sua digníssima presidenta, a quem muito admiro, entre outras coisas pela sua imensa capacidade de trabalho, o relatório de avaliação de meu currículo feito pelo Acadêmico Orlando Cavalcanti de Farias, recomendando o meu nome para ser membro da Academia Paraibana de Medicina, o que teve o endosso unânime de toda a Diretoria, a quem me declaro tocado por tamanha distinção. Patrono Osório Lopes Abath Repito que me coube a honra de vir a ocupar a cadeira de número 34, fundada pelo Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista que elogiou o seu Patrono Osório Lopes Abath, pai de meu amigo Professor Osório Abath Filho, médico de confiança de minha família, tendo mesmo tratado clínica e cirurgicamente meu pai em 1988, com muito sucesso, de doença das vias urinárias. Doutor Osório Lopes Abath, casado com Dona Nazareth, tendo além de Osorinho mais uma filha de nome Rosa Maria, teve seu perfil traçado com elegância e precisão pelo Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista, no elogio composto por ocasião de sua posse, em 19 de maio de 1989. Nascido a 2 de dezembro de 1907, em Mamanguape, estudou Medicina em Salvador, formando-se com louvor em 1930. Voltando à Paraíba, trabalhou nas usinas São João e Santa Helena e no Pronto Socorro da Capital. Foi fundador da Faculdade de Medicina da Paraíba e veio a falecer a 28 de julho de 1963, vítima de infarto agudo do miocárdio. Tinha excelente relacionamento pessoal com seus colegas de profissão, mas era reservado com as pessoas com quem não mantinha relações de estreita amizade. Um aspecto interessante de sua vida é o fato de que aquele cirurgião de uma habilidade extraordinária, além de ter vastos conhecimentos de Semiologia, moldados nos longos anos de trabalho no Pronto Socorro da Capital, foi um dos precursores da Urologia no nosso estado, tendo, como é relatada no elogio já citado, uma relação de amizade quase paternal, com a primeira geração de urologistas, representada por Domilson Maul de Andrade e Jacinto Londres de Medeiros. Seu filho integrou com destaque a geração seguinte. Fundador Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista Dados Pessoais O Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista nasceu em João Pessoa, a 14 de outubro de 1914, filho de João José Baptista Júnior, Professor de Contabilidade, homem austero, culto, sério e extremamente educado e de Dona Mariana de Carvalho Baptista. Era o único filho varão da família e tinha três irmãs: Júlia Baptista Pinto Coelho, a mais velha, Glória Maria Baptista Pimenta (a mais jovem e mãe de meus bons amigos Elizabeth e Luís Alberto) e Lúcia Baptista Dias, já falecida. Contraiu núpcias em João Pessoa, a 11 de fevereiro de 1939, aos 24 anos, com a jovem prima Maria José de Mesquita Batista e tiveram dois filhos: Roberta Maria Batista de Almeida, paraibana, do lar, residente em João Pessoa, casada com o Senhor Gilberto Afrânio de Almeida, químico industrial, aposentado da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), e por sua vez tiveram duas filhas, Germana Lúcia e Denise Maria, ambas também já
casadas, sendo a primeira advogada e residente em Guarabira e a segunda fisioterapeuta e residente em Recife. Elas são mães das bisnetas de Doutor Múcio Baptista (que chegou a conhecê-las), Aline e Júlia, respectivamente. Recentemente nasceu Gabriel, filho de Denise Maria. Álvaro de Mesquita Batista, seu outro filho, é paraense, engenheiro civil, funcionário público federal lotado na Universidade Federal da Paraíba, residente em nossa cidade, casado com a Senhora Maria de Fátima Barbosa de Mesquita Batista, professora universitária lotada no Departamento de Línguas Clássicas e Vernáculas do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB. Eles tiveram dois filhos: Gustavo, que é advogado e dedicado ao estudo da macro criminalidade, e Raquel, que aos 19 anos, cursa Psicologia. Esposo e pai exemplar, extremamente dedicado aos seus familiares, Doutor Múcio Baptista tinha esta característica reconhecida tanto por eles, quanto por seus assistentes que com ele tiveram longa convivência. Roberta, sua filha mais velha, afirma com convicção: "Ele foi o mais meigo e o mais carinhoso dos pais. Eu nunca vi meu pai levantar a voz, nem com mamãe, nem com a gente. Se ele tinha que repreender um filho ou corrigi-lo, ele não falava na vista de ninguém, para não humilhar aquela pessoa. Ele chamava o filho à parte e com toda delicadeza, mostrava que não tinha gostado desta ou daquela atitude. Muitas vezes bastava mostrar a cara de quem não tinha gostado e a afirmativa: Não gostei disso! Já era uma repreensão formidável”. A delicadeza de Doutor Múcio e aquela sua característica de saber ouvir o outro, dotaram-no de uma capacidade singular de entender e educar os filhos. Roberta em sua infância, tinha medo de tomar injeção endovenosa e ele não a forçava, apenas dizia: "Você é uma menina forte como a peroba e livre como o vento. Vem tomar esta injeção". E ela, embevecida, estendia o bracinho e tomava tranqüila a injeção porque ele tinha dito aquilo, por causa da confiança que ele lhe inspirava. Ele a chamava de "Flor dos Alpes". E por que "Flor de Alpes"? E ele dizia, "Porque era uma flor muito bonita que brotava nos locais mais inacessíveis das montanhas dos Alpes e quando alguém queria demonstrar seu amor ao ente amado, com muita dificuldade colhia e ofertava-lhe uma daquelas flores. E você é minha Flor dos Alpes, porque você é preciosa para mim". Aos 15 anos Roberta queria ser freira e ele achava que era só entusiasmo, por ela estudar em colégio religioso e que na verdade não tinha vocação para a vida reclusa. Colocou-a em seu automóvel e foi com ela passear pela praia. Foi-lhe pouco a pouco explicando, com palavras em tom suave, porque achava que ela não deveria ser freira. Retornando a casa, mesmo achando que o pai tinha razão, Roberta insistia no desejo de ser freira. Com toda calma, ele propôs um trato em que Roberta freqüentaria jantares dançantes, festas, cinemas e outras diversões próprias de sua idade, até os 18 anos, e aí tomaria a decisão. Se mantivesse o propósito de ser freira, mesmo a contragosto ele a apoiaria, porque sendo sua vocação, ele a queria feliz. E Doutor Múcio era o seu companheiro de cinema indo frequentemente com ela ao antigo cinema Plaza. Também nos jantares dançantes, era o seu par mais constante, pois ele dançava muito bem, sobretudo valsa. Os 18 anos de Roberta chegaram, mas já a encontraram amando profundamente Gilberto com quem é casada hoje e já tem filhas e netos. Álvaro tem outras belas recordações de seu pai. Desde a mais tenra infância acompanhava-o nas freqüentes pescarias de arremesso que faziam nas praias paraibanas. Tanto que passou a cultivar também este prazer na idade adulta. Outro programa freqüente de Doutor Múcio aos sábados ou domingos, era combinar com um grupo de amigos, providenciarem uma grande porção de amendoim cozido feito em casa, preparar-se com Álvaro, colocando o boné na cabeça e uma almofada quadriculada de preto e branco debaixo do braço e ir aos estádios de futebol da cidade, para torcer pelo time do Botafogo de João Pessoa. Era desses torcedores que voltavam tristes para casa quando o seu querido Botafogo perdia uma partida de futebol. Podia até perder a partida, mas em seu coração continuava a ser o melhor time da Paraíba.
Em sua rotina familiar, era muito metódico: às 05h00min horas da manhã, o desjejum, às 11h00min horas, o almoço e às 05h00min horas da tarde, o jantar. Era tão rígido nesses horários que a vizinhança da rua já tinha sua chegada para o almoço como referência para registro das horas. Os horários das refeições eram para Doutor Múcio momentos para cultivar o hábito de conversar e aconselhar os filhos. Uma das histórias que ele contava era a do ponta-pé heróico: um comandante e sua tropa, num intervalo entre os combates, famintos, prepararam um suculento e cheiroso caldeirão de sopa de verdura, para recomporem as forças para a luta. Ao ficar pronta a iguaria, chegou também a informação de que o inimigo estava na iminência de atacá-los e que não haveria tempo para a refeição. Os homens famintos hesitaram. Foi então que o comandante, também faminto, deu um ponta-pé e derrubou o caldeirão de sopa, apagou a fogueira e todos conseguiram se salvar, por causa do ponta-pé heróico do comandante. Através de uma parábola ele mostrava que às vezes era necessário se afastar de algo que daria prazer, caso isso viesse a trazer prejuízo para a pessoa. As bodas de ouro matrimoniais de Doutor Múcio e Dona Maria José foram comemoradas no dia 11 de fevereiro de 1989, por filhos, netos, demais familiares e amigos mais próximos. Quiseram os desígnios divinos que fosse levada deste plano material a Senhora Maria José Mesquita Batista, após 53 anos de feliz e harmoniosa convivência conjugal, deixando enlutada toda a família. Após sua passagem, lenta e dolorosamente a família foi retomando a lida diária, construindo o amanhã e preparando o terreno para a chegada da geração dos bisnetos que Dona Maria José não chegou a conhecer. Pouco a pouco, os raios do sol da bondade de Deus passaram a aquecer os nichos de esperança nos corações doloridos e a vida retomou o seu ritmo no seio da família. Doutor Múcio, homem extremamente afeito à vida familiar, sentiu de sobremaneira a falta de sua companheira de mais de 50 anos de convivência e passou a estar muito só, em suas atividades domésticas tais como ler, escutar música ou assistir programas de televisão. Uma bênção divina o fez encontrar em seu ambiente de trabalho, no Hospital Universitário Lauro Wanderley, a Enfermeira Maria das Graças Brito Lira, cuja empatia lhe fez desejar começar nova vida matrimonial. Procurou cada membro da família, contou de sua solidão e pediu opinião acerca da possibilidade de casar-se brevemente. Todos se posicionaram favoravelmente àquela intenção e ele casou com a Enfermeira Graça, tendo o matrimonia sido seu alento em seus dois últimos anos de vida. Veio a falecer a 17 de dezembro de 1994, dois meses após completar 80 anos de idade, numa festa de aniversário muito comemorada por seus familiares, por ter ele sempre comentado que lhe daria muito prazer completar aquela idade. Vida escolar Estudou em vários estabelecimentos de ensino, durante o curso primário, entre eles o Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, a Escola Normal e o Colégio Pio X. Contam em sua família uma história que bem ilustra a formação recebida por Múcio Baptista de seu pai, José João, que era professor de Contabilidade, plenamente realizado com a profissão e leitor ávido, o que lhe dava grande embasamento cultural. Numa das escolas freqüentadas pelo menino Múcio, o professor estava tomando a lição de tabuada e tinha o hábito de bater nos alunos. Quando chegou a vez de Múcio responder, ele o fez corretamente. Foi então que o professor lhe pediu para perguntar a um seu colega e aquele não soube dar a resposta certa. O professor então ordenou a Múcio que castigasse seu colega com a palmatória e Múcio recusou-se a fazê-lo, porque não via esse tipo de atitude em sua casa. O professor insistiu e nova recusa. O professor pegou a palmatória e aplicou o castigo... Em Múcio. Ele nada disse, foi para casa e contou a seu pai. O professor José João, indignado, foi direto à escola, admoestou severamente o professor
e o denunciou à Secretaria de Educação, redundando em graves conseqüências para aquele (des)educador. O curso secundário, ele fez no Liceu Paraibano tendo como colegas Humberto Nóbrega, Durval Pinto, Hercílio Rodrigues, José Clementino de Oliveira Júnior e Hermes Pessoa. Aos 17 anos, fez vestibular para a Faculdade de Medicina do Recife, tendo sido aprovado. Lá cursou o primeiro e o segundo anos, transferindo-se no terceiro para a Faculdade de Medicina da Bahia, onde concluiu o curso, ao lado de Humberto Nóbrega, Durval Pinto, Luciano Pedroza, Osmar Mendonça, entre outros. Foi morar sozinho em Recife, na mais tenra idade, e não se desviou de seu caminho. Tinha excelente formação familiar. Admirava o pai a ponto de, às vésperas da morte dele, ter dito à sua irmã mais nova: "Eu quero ser um homem bom". Pois ele achava que o pai era um homem bom, sem mácula, perfeito e que não mentia. Doutor Múcio era moldado no mesmo bronze. Em 15 de dezembro de 1937, formava-se médico aos 23 anos de idade. Vida profissional e familiar Veio então para a Paraíba, indo trabalhar como médico clínico na fábrica de tecidos de Rio Tinto, em março de 1938, onde permaneceu por dois anos. No ano seguinte, no dia 11 de fevereiro, casou-se aos 24 anos com sua prima Maria José, depois de um namoro com muitas idas e vindas, sempre cuidado por Dona Mariana, sua mãe, que gostava muito de sua sobrinha e futura nora Maria José, a quem a família chamava de Zequinha. Múcio e Maria José eram primos e a diferença de idade entre eles era de 6 meses. Começaram a namorar aos 14 anos de idade. Aos 17, Múcio passou no vestibular em Recife. Mais adiante, com o namoro acabado, Maria José começou a namorar outro rapaz, apesar de já ter várias peças de seu enxoval de casamento com as letras M.B. Isto era motivo de brincadeira de Dona Mariana que fazia gosto no namoro de Múcio com a sobrinha e futura nora. Elas se adoravam. “Quando finalmente Maria José acabou aquele namoro de curta duração, Dona Mariana telegrafou a Múcio as palavras ‘Venha urgente”. Quando Múcio chegou, sua mãe lhe disse: "O noivado de Zequinha está acabado. Pronto, agora façam as pazes e me esqueçam". Mas continuou paparicando do mesmo jeito aquele namoro, porque ela sabia que aquele amor era verdadeiro, o que o comprovou o casamento de mais de 50 anos. Á elegância sóbria de Doutor Múcio Baptista, seus cabelos sempre bem cortados e penteados, serviam de mote para as brincadeiras de Doutor Maurílio de Almeida, que tinha intimidade bastante com Dona Mariana, mãe de Doutor Múcio, para lhe perguntar: "Oh! Dona Mariana, Múcio Penteado Baptista já passou por aqui?", ao que ela respondia não conhecer cidadão assim denominado. Retornou Doutor Múcio de Rio Tinto para João Pessoa em 1940, montando consultório à Avenida Guedes Pereira, próximo ao consultório de Doutor Humberto Nóbrega. Mas pouco durou aquela permanência. Foi contratado pelo Serviço Especial de Saúde Pública (Fundação SESP), em 1943, para trabalhar em Belém do Pará, onde realizou um curso de Saúde Pública. Chefiou o Distrito Sanitário de Breves durante dois anos. Este distrito cobria uma área de 100.000 quilômetros quadrados, abrangendo os municípios de Breves, Portei, Oeiras e Curralinho. De 1943 a 1945, Doutor Múcio era o único médico numa vasta região daquele estado e sua diversão era a caça e a pesca. Naquele período, final da Segunda Grande Guerra Mundial, um avião fez um pouso forçado em sua região e muitos dos passageiros, todos americanos, se feriram naquele episódio. Doutor Múcio atendeu a todos e os tratou, nas dependências da Fundação SESP e foi tão bem sucedido no tratamento estabelecido para os doentes, tendo-os atendido com tanta presteza, que após a alta, o comandante do avião o procurou, para entregar-lhe um envelope recheado de cédulas de dinheiro
norte-americano. Doutor Múcio sequer chegou, a saber, o montante da soma oferecida, porque recusou-se a receber pagamento de particular, enquanto funcionário da Fundação SESP. O comandante ainda insistiu que recebesse como um presente de todos que receberam seus cuidados, mas ele ainda assim recusou-se polidamente a receber. Mas, Doutor Múcio amava João Pessoa. Ele dizia que era como a mulher amada. Podia ter seus defeitos, mas o amor não seria menor por isso e não gostava que ninguém falasse de sua cidade amada, de sua terra amada, de sua pátria amada. A cidade de João Pessoa lhe parecia uma dessas mocinhas, pequenininhas, mas bem bonitinhas! Finalmente rendido pela saudade de sua terra natal, voltou para João Pessoa em 1945, desempregado, para reiniciar a vida. Aceitou convite de Doutor Severino Ismael, Prefeito da cidade de Caiçara, em nosso estado, para integrar a equipe do Serviço de Saúde da Prefeitura, onde ficou de 1946 a 1948. A diversão da pesca ele manteve ao longo dos anos, mesmo quando de seu retorno à Paraíba. No entanto, a caça ele abandonou, inclusive com grande remorso posteriormente por ter abatido aqueles pequenos animais e aves, e um dos motivos era porque já após o seu retomo à Paraíba, para a cidade de Caiçara, em 1946, sua filha Roberta já aos quatro anos de idade, perguntava-lhe: "Papai, porque matas os passarinhos tão lindos?" E mais, pegava o passarinho morto, colocava-o em caixa de boneca, cobria-o de flores e o enterrava. Isso deixava Doutor Múcio arrasado, fazendo com que ele viesse a abandonar a prática desse esporte e causando-lhe profundo remorso. A paixão pela pesca, porém, mantinha-se no mesmo patamar. Inicialmente pescava em alto mar, nos locais chamados Alísios e Queimados, nomes de navios ali afundados, a uma distância entre 40 e 50 quilômetros da costa de João Pessoa. Certa vez, ali estando em companhia de um pescador de larga experiência, a bordo de um barco a motor, foi colhido por uma tempestade e eles se apressaram em retornar à praia. Contudo, o motor do barco falhou e eles ficaram praticamente à deriva, porque a vela existente a bordo era muito pequena para a dimensão do barco e para a força do vento. A experiência do piloto os salvou, porque eles vieram se aproximando lentamente da praia fazendo um percurso em ziguezague, indo, porém aportar na Praia de Lucena. Para quem era metódico com seus horários como Doutor Múcio, apenas a l:00 hora da madrugada do dia seguinte, eles conseguiram chegar em terra firme, para aliviar a tensão e a angústia de toda a família. Naquele dia, passado o susto, ele prometeu a sua família que jamais voltaria a pescar em alto mar. Como era de seu feitio, de fato ele cumpriu a promessa. Passou então à pesca de arremesso nas costas paraibanas. Seus lugares preferidos eram: Intermares, Barra de Gramame e Bessa, principalmente em um ponto que os pescadores dessa modalidade apelidaram de Freiras, por situar-se defronte a uma casa de veraneio das freiras da Ordem de São Francisco. Já tinha o cuidado com o meio ambiente, tão comum hoje em dia, devolvendo ao mar os peixes miúdos que pescava. Certa vez, pescou uma arraia de aproximadamente 15 quilos. Ao chegar à beira-mar, a arraia deu cria. Carinhosamente ele devolveu aquela cria ao mar. Ficou observando ela movimentar-se, até que desaparecesse sob as ondas. Outro susto relacionado com o prazer da pescaria, foi o acidente que sofreu, resultando numa marca de afundamento discreto do osso frontal, motivo de interrogação e discussão entre todos que foram seus alunos. Lembra Álvaro, seu filho e companheiro de pescarias, que pescavam com freqüência numa região hoje de Intermares, próximo ao Maceió, que à época era chamada de Cinta de Alto Jorge. Não existia acesso pela beira-mar e a entrada para o local era na estrada para Cabedelo, caminho de areia, entre os coqueirais. Eles se distraíram pescando de arremesso, na praia e passaram do horário estipulado para retornar. Sendo Doutor Múcio era muito rígido com seus horários de refeições, para compensar o atraso, acelerou um pouco mais o seu carro, no intuito de ganhar tempo. Porém perdeu a direção e chocou-se contra um coqueiro, tendo sofrido uma contusão na testa, decorrente do impacto com o espelho retrovisor.
Quando Doutor Humberto Nóbrega assumiu a direção do Departamento de Saúde do Estado, futura Secretaria de Saúde, convidou Doutor Múcio para ser o Diretor do Centro de Saúde de João Pessoa. Aceitando-o, permaneceu Doutor Múcio durante três anos no cargo, sem, no entanto abandonar suas atividades clínicas que exercia no consultório que Doutor Humberto gentilmente lhe cedia. A Faculdade de Medicina da Paraíba Médicos da envergadura de Múcio Baptista, Humberto Nóbrega, Lauro Wanderley, António Dias e tantos outros que se esmeravam em oferecer os melhores serviços médicos à população paraibana, passaram a se ocupar também com repasse do conhecimento médico e com a preparação de sua juventude para assumirem as responsabilidades dos cuidados com a saúde em nosso estado. Tiveram então a ousadia de se empenharem no projeto de criação da Faculdade de Medicina da Paraíba, fundada em 25 de março de 1950, às 15h30min horas, numa reunião dos médicos que integrariam o seu futuro corpo docente, na Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, à Rua das Trincheiras, nesta Capital. Fui buscar o registro preciso da trajetória de Doutor Múcio Baptista na Faculdade de Medicina, nos quatro volumes da coleção "História da Faculdade de Medicina da Paraíba" de Doutor Humberto Nóbrega. Esta história e a de vida profissional de Doutor Múcio de Carvalho Baptista passaram a se confundir, pois naquele dia começava uma nova e frutífera fase na vida do memorável professor que ensinou Propedêutica Clínica, Iniciação ao Exame Clínico ou Semiologia Médica, nome que variou ao sabor das reformas universitárias, a várias gerações de médicos paraibanos, desde a turma pioneira concluinte em 1957, até a sua aposentadoria em 1976. Seguiu os passos de seu pai que foi professor plenamente realizado na profissão. A faceta de professor das novas gerações médicas que Doutor Múcio desenvolveu, revelou-se uma das mais ricas de seu imenso legado profissional. A reunião para a fundação de nossa faculdade foi realizada sem notícias no jornal, apenas através de convites e convocações pessoais. Para assistir à solenidade, houve apenas um convidado especial: General José de Oliveira Leite, inspirador da implantação do ensino de terceiro grau em nossa terra. Permitam-me os senhores que registre a emoção de encontrar em pesquisas históricas de nossa terra, referências a alguém que trago guardado junto às minhas mais caras recordações da infância, o General Leite, amigo fraterno de meu pai que me tratava como neto em seu coração, da mesma forma que ele era o avô que conheci, posto que de meus avós, só tive a graça de conhecer Dona Leopoldina, avó materna. Nossa família residiu durante algum tempo na casa pertencente ao General Leite, à Avenida Epitácio Pessoa, onde hoje é a residência oficial do Capitão-dos-Portos da Paraíba e lá recebíamos as visitas freqüentes do velho General, de Dona Penhinha sempre muito elegante e risonha e de Joãozinho já quase adolescente. Na época o General residia à beira-mar, em Tambaú, em casa de dois pavimentos onde hoje funciona um hotel. Lembro-me com muito carinho de uma imponente adaga de cabo cor de vinho e lâmina prateada que ele me deu de presente de Natal e do enfeite de Papai Noel que eu quebrei no curso de uma brincadeira em sua casa, fato este que ele escondeu de meus pais por muitos anos, com receio que eles me castigassem. Lembro-me finalmente de seu automóvel branco, de quatro portas, de fabricação inglesa, de marca Vauxhall, que tinha um grande volante em tom marfim, com um aro de buzina prateado a acompanhar todo seu círculo. General Leite respondia-me todas as perguntas sobre o automóvel e me permitia andar no banco da frente, ao lado dele e eu ia todo o trajeto a observar-lhe os movimentos incessantes das mãos sobre o volante.
Fecho aqui o parêntese deste devaneio. Alguns integrantes do futuro corpo docente não se encontravam em João Pessoa e outros nem mesmo sabiam que seriam convocados para a missão. Doutor Múcio Baptista achava-se em Rio Tinto, a serviços profissionais, só vindo a saber do movimento ao finai da manhã em que se realizaria a sessão. O Governador do Estado da Paraíba, à época da fundação, era o Ministro Oswaldo Trigueiro que deu todo apoio à iniciativa, assim como o Desembargador Severino Montenegro, provedor da Santa Casa de Misericórdia da Paraíba que colocou à disposição da Faculdade que se fundava, o Hospital Santa Isabel para desempenhar o papel de Hospital de Clínica. Eram Ministro da Educação e Saúde o Deputado Clemente Mariani e Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. Assim, a ata da reunião da fundação da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba reza que "Presidiu a referida reunião, que teve início às 15h30min horas o Doutor Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, tendo ainda comparecido os Doutores Lauro Wanderley, Oscar de Castro, Newton Lacerda, João Gonçalves de Medeiros, Miranda Freire, António Dias, Danilo Luna, Múcio Baptista, Luciano Morais, Aryoswaldo Espínola, Edrise Vilar, Roberto Granville, Asdrúbal de Oliveira, Napoleão Laureano, Everaldo Soares, Hélio Fonseca e Orlando Farias e o General José de Oliveira Leite e excelentíssima esposa.”. Mais adiante a aludida ata traz a relação dos candidatos apontados para o corpo docente da Faculdade, tendo sido aclamado para catedrático, entre outros o Doutor Múcio Baptista para a disciplina de Parasitologia. Esta era, porém uma iniciativa particular de abnegados médicos de elevado espírito científico que se dispuseram a criar e a subscrever os estatutos da Sociedade Mantenedora da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba, em que cada médico entraria com uma contribuição de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) para fazer frente às despesas iniciais do empreendimento. Tal contribuição só foi integralizada em dezembro de 1951, por meio de um empréstimo naquele valor, contraído por cada professor na Caixa Econômica Federal, agência Gama e Melo, descontada em folha e resgatáveis em três anos. O Tesoureiro da Sociedade, Doutor Luciano Morais encarregou-se da transação bancária. Doutor Humberto Nóbrega, em seu livro "História da Faculdade de Medicina", Volume l, de 1980, acrescenta que "além daquela contribuição inicial, comprometeram-se eles, os professores instituidores da Escola, que à primeira turma lecionariam sem percepção de qualquer vantagem financeira. E o compromisso foi fielmente cumprido. A turma pioneira formada pela Faculdade de Medicina da Paraíba, de 1952 a 1957, recebeu todas as aulas ministradas pelos mestres locais, sem que estes auferissem a menor remuneração. E mais ainda: os professores que contratávamos na Europa e no sul, percebiam mensalmente Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros), enquanto que os fundadores ganhavam apenas Cr$ 1.500,00 (um mil e quinhentos cruzeiros) e isto mesmo após um ano todo ensinando gratuitamente. Os assistentes recebiam Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) por mês. Assim, como se vê, a chamada 'prata da casa' tinha um salário praticamente simbólico." Invadiu-me a esta altura, onda de profundo respeito e admiração por aqueles fundadores, que tiraram dinheiro do próprio bolso para cumprir o ideal de servir ao estado da Paraíba e a toda sua gente. A 22 de novembro de 1950, a Congregação de professores da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia se reuniu, dentre outros assuntos para deliberar sobre a criação de mais três cadeiras: uma de Clínica Médica, outra de Clínica Cirúrgica e, finalmente a terceira, com o fim de adaptar a distribuição das disciplinas aos dispositivos legais que disciplinam o currículo médico, conforme a sugestão do Doutor Silvino Nóbrega, à época procurador da Sociedade Mantenedora da Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba perante o Ministério da Educação e Saúde, com a missão precípua de verificar, junto aos órgãos competentes se as cátedras constantes do projeto enviado satisfaziam as exigências daquele ministério.
Neste sentido, aprovada preliminarmente a ampliação do quadro docente, ocorreram as modificações que resultaram na transferência do Doutor Múcio Baptista da cátedra de Parasitologia para a de Propedêutica Clínica, onde clinicou até a sua aposentadoria. Durante o restante do ano de 1950 e praticamente todo o ano de 1951, os estóicos fundadores lutaram junto ao Conselho Nacional de Educação para obter um parecer favorável ao processo em tramitação solicitando autorização para o funcionamento do curso médico da Faculdade de Medicina da Paraíba. Finalmente, a 22 de outubro de 1951 o Conselho Nacional de Educação aprovou o parecer favorável do relator do processo e a 27 de novembro do mesmo ano, o decreto presidencial n30.212, com a chancela do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Getúlio Vargas, concedia a autorização para o funcionamento do curso médico da Faculdade de Medicina da Paraíba, com sede na Capital desse Estado, a ser mantido pela sociedade civil "Faculdade de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba". Reuniram-se os professores integrantes do corpo docente da Faculdade de Medicina, no dia 28 de dezembro de 1951, com a finalidade de elegerem o Conselho Técnico Administrativo (CTA) da faculdade. Participaram dessa reunião, realizada no prédio da Faculdade de Direito, os Doutores João Medeiros, Ávila Lins, Lauro Wanderley, Miranda Freire, António Dias, Edrise Vilar, Luciano Morais, Orlando Farias, Francisco Porto, Mendonça Filho, Múcio Baptista, Roberto Granville, Osmar Mendonça, Attílio Rota, Arnaldo Tavares e Asdrúbal de Oliveira. Para o conselho foram eleitos por aclamação os Doutores Humberto Nóbrega, Lauro Wanderley, Miranda Freire, António Dias e Asdrúbal de Oliveira. Ainda visando a estruturação da escola, foi criado seu quadro administrativo. Assim constituído: Doutor Cláudio Vergara Mendonça, secretário; Robson Duarte Espínola, escriturário; Ênio Guimarães Coelho, tesoureiro; José Soares Natal, contador Severino Januário da Silva, bedel, e Manoel Batista de Santana, servente. Os dois últimos passaram a trabalhar a 17 de março, quando a escola entrou em funcionamento e o primeiro exonerou-se seis dias antes, isto é, no dia 11. Outra vez a história toca minhas lembranças pessoais. Robson Duarte Espínola, escriturário da Faculdade de Medicina e logo após seu secretário, integrou o primeiro escalão do Governo de Doutor Pedro Moreno Gondim, como Secretário de Viação e Obras Públicas, com quem meu pai trabalhou, à época em que foi Diretor do Departamento de Serviços Elétricos da Capital. Nossas famílias estreitaram amizade e era freqüente nos reunirmos aos domingos em sua granja, próxima à Fazenda Cuia, nesta capital. Eleito o CTA, a 15 de janeiro de 1952 ocorreu a sua instalação, quando ficou estabelecido o horário e as bancas examinadoras do primeiro concurso vestibular para a Faculdade de Medicina da Paraíba. Baseado nas deliberações do CTA. o Diretor da Faculdade de Medicina, Doutor Newton Lacerda baixou a Portaria n- l da história da faculdade, e dentre os membros das Comissões Examinadoras figurava o nome do Doutor Múcio de Carvalho Baptista, ao lado dos nomes do Doutor Humberto Nóbrega e do Doutor Afonso Pereira, para compor a Comissão Examinadora da disciplina de Português. A Faculdade de Medicina recebeu a primeira turma de alunos, da qual faziam parte Galvani Marinho Muribeca e Rodrigo Romero Rangel, que após a formatura tornaram assistentes do Doutor Múcio Baptista, Professor Titular da Disciplina de Propedêutica Médica. Antes disso, o primeiro assistente do Professor Múcio foi o Doutor Lavoisier Feitosa, que pela sua esmerada formação especializada, foi requisitado para cardiologia. Em março de 1958, Doutor Galvani Muribeca iniciou sua carreira docente como assistente, na disciplina. Nos dois primeiros anos, ensinou de graça (sem salário). E, em 1963 passou a receber Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros) por mês. Tendo sido confirmado na disciplina por exigência de
Doutor Múcio Baptista, tendo em vista que a Direção da Faculdade havia recebido a indicação de um médico com grande respaldo político para o seu lugar. O segundo assistente de Doutor Múcio Baptista a ser admitido na disciplina foi Doutor Rodrigo Romero Rangel. Conta Doutor Galvani Muribeca que Doutor Múcio, no início da Faculdade, dava sempre aula de paletó e gravata e transpirava acentuadamente acima do lábio superior e na testa, provavelmente devido a seu alto senso de responsabilidade. Supõe aquele ex-assistente que para Doutor Múcio, assim como para os outros fundadores, estando eles em suas clínicas, consultórios em salas de cirurgias, sem nunca terem tido atividade didática, foi um esforço muitas vezes maior sistematizarem as leituras médicas para o ensino do que para outros, inclusive o próprio que saíra dos bancos escolares para ensinar. Continua Doutor Galvani: "Múcio me ajudou muito. Gostaria eu de estar fazendo uma homenagem a ele, pelo que ele me ajudou. Ele era honesto, seguro, tranqüilo. Houve uma ocasião em que eu passei um ano fazendo endoscopia com Doutor Djalma em Recife, aí depois disso fui fazer o curso de endoscopia no Rio de Janeiro, com Doutor Pinto de Castro que era o supra-sumo de Endoscopia no Brasil na época. Quando terminei o curso, Doutor Pinto de Castro me propôs ficar com ele, como assistente dele, para ministrar o curso também. Era o ano de 1962. Porém, quando fui a Doutor Múcio pedir sua autorização, ele disse não e eu fiquei na Paraíba". Mesmo não tendo conseguido fazer endoscopia em João Pessoa, Doutor Galvani Muribeca foi o grande estimulador de todos os colegas que fizeram treinamento fora e que implantaram a endoscopia em nosso estado. Dizia ele que gostava mais das aulas de Doutor Múcio do que das de Doutor Lavoisier porque o primeiro ensinava a propedêutica enquanto o último dava aula de clínica médica. Era uma das exceções, pois as primeiras eram aulas de como argüir o doente, palpar, auscultar, bem mais áridas do que as discussões de casos clínicos que Doutor Lavoisier conduzia de forma brilhante. Doutor Múcio Baptista sempre foi muito rigoroso com a questão dos horários. Quando chegava ao hospital, ficava conversando com seus assistentes, mas às 07h15min horas, invariavelmente dizia: "Meninos, ao trabalho!". Esta característica lhe poupou dissabores na época do regime militar, quando havia gente infiltrada nas escolas para denunciar seus integrantes às autoridades, tendo sido vários professores denunciados por não cumprirem o horário. Doutor Múcio e os professores da disciplina passaram incólumes pelo período, pois era essa a rotina deles. Outro episódio, relativo aos desdobramentos do movimento militar de 1964. Ocorreu quando uma autoridade fardada solicitou-lhe a relação de professores, alunos ou funcionários subversivos que de alguma maneira tivessem contato com os domínios da disciplina. Doutor Múcio resolveu então enviar a relação de todo o corpo docente, inclusive o próprio nome, discente e de funcionários, dizendo que se existisse algum subversivo, certamente estaria naquela listagem de nomes. A 2 de agosto de 1971 a Congregação de Professores foi para indicar listas sêxtuplas para o provimento dos cargos de diretor e vice-diretor da Faculdade de Medicina, a serem nomeados pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República. Segundo o registro do Doutor Humberto Nóbrega em seu livro "História da Faculdade de Medicina - Volume 4", o pleito fora disputado. "Os professores titulares constituíam minoria no colégio eleitoral diante das demais categorias docentes. Das démarches surgiu um acordo de cavalheiro: a direção ficava com os titulares e a vice seria dos professores adjuntos e assistentes." E assim foi feito, sendo eleitos para a lista sêxtupla de diretor: Alberto Fernandes Cartaxo, Efígênio Barbosa da Silva, Antônio Dias dos Santos, Isaías Silva, Herul de Holanda Sá e Múcio Baptista. Para a lista sêxtupla de vice-diretor, foram eleitos: João Cavalcante de Albuquerque, António Batista Ramos, Eugênio de Carvalho Júnior, Orlando Álvares Coelho, Evaldo Trajano de Souza Silva e Vanildo Guedes Pessoa.
Foram escolhidos e nomeados os Doutores Antônio Dias dos Santos e João Cavalcanti de Albuquerque para os cargos de Diretor e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina, respectivamente. Tomaram posse em reunião formal da Congregação de Professores, no dia 13 de novembro de 1971, estando nesta data na direção eventual da faculdade o Doutor Múcio Baptista e era o Reitor, recentemente nomeado (6 de outubro daquele ano) e empossado, o Doutor Humberto Nóbrega. Muitos anos depois, em 1977, foi contratado Doutor Hugo Toscano, por indicação de Doutor Antônio Dias. Sua formação era em gastroenterologia, porém Doutor Antônio Dias não podia naquele momento receber Doutor Hugo, pois recentemente a disciplina tinha absorvido, através de contratação, os Doutores Luís Pedro e José Eymard. Doutor Múcio aceitou prontamente a indicação, vinculado ao compromisso de Doutor Antônio Dias em contratar Doutor Renato Campeio no ano seguinte, como de fato aconteceu. Tal fato comprava o compromisso de Doutor Múcio com Doutor Renato. Doutor Renato Campeio se orgulhava e se orgulha em dizer que deve a sua formação médica a Doutor Múcio Baptista, assim como este se envaidecia em dizer que tinha feito o médico Renato Campeio. Doutor Renato cursou a disciplina em 1973 e na época a disciplina era feita em l ano, com prova parcial no final do primeiro semestre. Ele logrou obter nota 10 (dez) nesta prova e diz que não foi um feito muito fantástico, porque foi fruto da freqüência diária dele na enfermaria desde o primeiro dia, por ter aprendido a amar a disciplina, desde o primeiro momento. Após o término da disciplina, observando a dedicação do estudante Renato, Doutor Múcio o chamou e disse: "Renato, tome a chave deste armário. Você vai ser meu monitor, até o dia que você merecer". Ele dava amor adicto, mas exigia respeito, dedicação ao ensino e respeito ao doente. Doutor Renato mantém esta chave e o armário até hoje, no 5° andar do Hospital Universitário Lauro Wanderley. Este armário ainda tem as marcas das fitas adesivas que afixaram cartazes com os nomes de Doutor Renato, Professor Múcio Baptista, Doutor Rodrigo, Doutor Muribeca e Doutor Hugo. Além destes, foi também seu assistente o Doutor Aderson Diniz, que sempre deu aulas no período da tarde. Numa frase, Doutor Renato Campeio avalia que Professor Múcio de Carvalho Baptista foi um mestre que foi feito por si próprio, um autodidata. Se ele morasse no sul-sudeste, seria alguém assim da estatura nacional de um Miguel Couto. Ele era o nosso Miguel Couto. O daqui, da Paraíba. A já tão decantada paixão pela pesca, Doutor Múcio levava para dentro do Hospital Santa Isabel, onde era vizinho de enfermaria de Doutor Alberto Cartaxo. Mal chegavam ao hospital, amanhecia o dia soltando pilhérias, um com o outro, de coisas de pescaria, de como quem tinha pescado o peixe maior ou outras histórias de pescador. Ele era um homem extremamente simples e sem ambições políticas universitárias e se galgou postos na administração, foi para atender a pedido de seu amigo pessoal Professor Antônio Dias, a exemplo de quando foi chefe do Departamento de Medicina Interna. Aposentou-se no ano de 1976, e na homenagem que lhe foi prestada quando de sua última participação em reunião departamental, foi saudado pelo Professor José Eymard Moraes de Medeiros. Neste mesmo ano, foi convidado pelo Professor Newton de Araújo Leite, então Diretor Superintendente do Hospital Universitário Lauro Wanderley, para ser o chefe de seu Ambulatório de Clínicas, cargo que aceitou e exerceu com todo equilíbrio, competência e dignidade que a Paraíba já conhecia, durante quatro anos. Minhas filhas Manuela e Mariana estudaram no Colégio Pinochio entre 1985 e 1988 e muitas vezes eu ia buscá-las à saída das aulas. Chegava sempre um pouco mais cedo e com freqüência encontrava o Professor Múcio Baptista que também esperava sua neta Raquel, filha de Álvaro, "Pinga-fogo ou Abelhuda", como ele carinhosamente a chamava. Entabulávamos sempre uma conversa e era um prazer ouvir o querido mestre discorrer sobre os mais variados temas, sempre com propriedade e atualização, o que me fez pensar por todos esses anos que ele era um
homem extremamente viajado e que conhecia o mundo inteiro. Soube agora que ele não gostava de viajar e não o fazia com freqüência, sendo sua inquietude intelectual que o levava a percorrer outros países e outras culturas, pois lia com avidez até quando a saúde o permitiu. Por opção pessoal, não amealhou fortuna, apesar da vastidão de sua cultura médica, o que é condizente com algumas frases que repetia amiúde: "Fiz medicina por vocação. Para mim, a medicina é um sacerdócio." "O paciente merece todo nosso respeito e carinho. Tudo o que ele disser deve ser levado em conta.”. Saibam, portanto, minhas Senhoras e meus Senhores e ilustres Acadêmicos que ouvem este elogio ao Acadêmico Múcio de Carvalho Baptista, que estamos diante de um paraibano que deixou uma marca em sua terra e em seu tempo, sendo sua vida um legado amplo e complexo para a posteridade, a ponto de vários aspectos não terem sido sequer tocados, enquanto outros o foram apenas superficialmente nestas páginas. Justa é a homenagem a este sacerdote de Asclépio, que soube se manter vivo nos corações de cada um de seus familiares, de seus pares, de seus assistentes e de seus discípulos.
CADEIRA Nº Patrono:
Dr. FLÁVIO FERREIRA DA SILVA MAROJA
Data de posse: 22/10/1998 Ocupante: Péricles Vitório Serafim Saudação:
11
Genival Veloso de França
22/10/1998
Saudação ao: Dr. PÉRICLES VITÓRIO SERAFIM Cadeira nº 11 Por: Genival Veloso de França
Meus eminentes Confrades: Esta Casa, sempre tão acolhedora e calma, recebe hoje um dos mais ilustres membros da classe médica paraibana, pelos seus feitos e obras memoráveis. Gostaria de fugir do ritual das saudações protocolares e dar a esta conversa um tom mais ameno que a intimidade permite. Mas não posso. Vou respeitar o manual acadêmico e seguir o roteiro recomendado. Péricles Vitório Serafim nasceu na fazenda Cantinhos, em Lagoa do Remígio, distrito de Areia, até 1957, situado na soleira agreste da Serra da Borborema, na Paraíba Filho de Pedro Serafim dos Santos e Sisínia Cabral Vitório Serafim. São seus irmãos: Pedrina, Petrônio, Pérsia, Persilda, Petrise, Pedro e Perialvo. Seus avós maternos foram Manoel Vitório Barbosa Torres e Júlia Barbosa Torres e avós paternos Manoel Serafim de Araújo e Felismina Serafim do Espírito Santo. E casado com Suely da Cunha Paiva Serafim, de cuja união nasceram Péricles Filho, Cristiana, Ana Suely e Gianna, herdeiros de justo orgulho e de tantas alegrias. Concluiu o curso primário na sua cidade natal e os cursos secundário e científico no Colégio Pio X de João Pessoa. Formou-se médico pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba em 1964, tendo sido orador de sua turma através de um disputado concurso de oratória entre os formandos de todos os cursos de sua Universidade. É também Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia e Letras do Instituto Nossa Senhora de Lourdes de João Pessoa. Depois de formado em Medicina, teve oportunidade de freqüentar os centros especializados de maior renome e percorrer os caminhos do mundo como um peregrino insaciável do saber. Esteve em Brasília no serviço de Cunha Camões; em Porto Alegre com o mestre Carlos Baena Cagnani;
com Aziz Lazmar no Rio de Janeiro; com Geraldo Sá em Recife Esteve com o Prof. Renato Segre em Buenos Aires e no renomado serviço do Prof. José Prades Piá em Barcelona. Nos anos 73 e 74 freqüentou o Curso de Super-Especialização Clínica e Cirúrgica em Otorrinolaringologia do famoso mestre Antoli Candeia da cidade de Madrid. Também nesta cidade, durante dezoito meses, esteve com o Prof. Júlio Sanjuan Juaristi no seu magnífico e respeitado Centro de Investigações Estato-Acústicas de Madrid. Durante os anos letivos de 1973 e 1974 freqüentou a Carreira de Doutorado pela Universidade Complutense de Madrid. Fora da sua especialidade, fez curso de Capacitação em Planejamento de Saúde pela Organização Pan-americana de Saúde e Sudene, em Recife; Curso de Higiene e Segurança do Trabalho em Madrid; Curso de Administração em Saúde Pública pelo Departamento de Agência Estatal para o Desenvolvimento Internacional, nos Estados Unidos; e Curso de Jornalismo Industrial pela Universidade Católica de Pernambuco. Participou e colaborou em ciclos de conferências da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra do Brasil. Além disso, meu apresentado tem participação ativa e freqüente em quase todos os congressos nacionais e internacionais de sua especialidade e em outros assuntos que são do interesse direto ou indireto de suas atividades profissionais. E mais: tem uma respeitável produção de trabalhos científicos que, ao longo de sua vida profissional, teve oportunidade de apresentá-los. É médico aprovado em 1° lugar por concurso público do ex-inamps; credenciado do Instituto de Previdência do Estado, do Hospital do Pronto Socorro de João Pessoa, do Hospital General Edson Ramalho, da Clínica Dom Paiva — onde foi seu diretor clínico até 1973 e da Associação dos Servidores Públicos do Estado da Paraíba. Dentre outras participações em entidades médicas foi Presidente da Sociedade Paraibana de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia, Secretário Geral e depois Presidente da Associação Médica da Paraíba, sócio co-responsável da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia, Delegado da AMPB junto à Associação Médica Brasileira, sócio-efetivo da Sociedade Brasileira de Otologia e membro da Associação Pan-americana de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia. Foi ainda diretor do Programa Integrado de Nutrição Aplicada (em convênio com a FAO e a OMS), Diretor-Geral de Saúde Pública e, logo após, Secretário de Estado eventual dos Negócios da Saúde da Paraíba. Teve diversas participações em atividades docentes, destacando-se os cursos para auxiliares de administração hospitalar, professor convidado da Faculdade de Medicina de Campina Grande. Ministrou cursos para professores de deficientes de áudio-comunicação e proferiu aulas no Hospital da Cruz Vermelha de Barcelona. No que diz respeito as suas atividades literárias, destacam-se: título de acadêmico da Arcádia Pio X, ocupando a cadeira n° 4, cujo patrono é Antônio de Castro Alves. Colaborador com um capítulo no livro do Prof. José Arthur de Carvalho Kós sobre o interessante tema "Primórdios da Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia no Brasil" e de um trabalho bibliográfico sobre a vida de Pedro Américo de Figueiredo e Melo. É autor do livro "Remígio - Brejos e Carrascais". Sobre essa interessante obra, disse Maurílio de Almeida, quando o apresentou na posse da Cadeira 47 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. "Trouxestes fatos novos, encontrastes a verdade buscada. Partistes do nada, chegastes ao fim. Fizeste a pesquisa sem pressa, fostes aos arquivos públicos e particulares, aos assentamentos de igrejas, cartórios, bibliotecas, onde pudésseis encontrar o fato." Lamento, numa rápida saudação e com o cuidado de não tomar um tempo que não é meu, não poder passar uma impressão mais profunda daquela obra, que além da beleza literária e das curiosas revelações, resgata a memória da sua gente num comovente itinerário de saudades e corrige enganos cometidos, dando ao seu município motivos para uma exata percepção do seu passado e à Paraíba uma contribuição significativa para sua memória.
A vida necessita dos serviços da História e o historiador não é outra coisa senão o analista dos acontecimentos, valorizando as ocorrências mais peculiares na vida dos povos, em particular, e da vida da humanidade, em geral. E não é só realçar o fato e a época do fato, mas, também, todo um processo intelectual inserido na continuidade da convivência humana, antes e depois, e, principalmente, uma judiciosa análise às conseqüências do presente, desde a proletária tragédia de cada homem e de cada mulher, até os insondáveis caminhos do amanhã. Este é o médico e o intelectual Péricles Vitório Serafim. Meu primeiro contato com o novel acadêmico foi em nossa adolescência, sendo eu mais velho, na pequenina e tão lembrada Remígio, durante as férias escolares de fim de ano, quando no convívio de meus parentes próximos. Foi precisamente numa das sessões agitadas do "Clube 13 de Maio", uma espécie de confraria ateniense, onde os jovens estudantes em recesso escolar praticavam a oratória e liam seus últimos versos. Recordo-me com detalhes desse encontro, da imagem distinta e recatada de um moço elegante que me foi apresentado por um amigo comum, e logo se encolheu sem manifestar nenhuma intimidade, sem permitir nenhuma aproximação. Não poderia ser diferente. Pertencia eu a outro grupo, menos nobre e fidalgo, dos que jogavam "pelada" em frente à igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, sob a censura veemente do padre Ruy; dos que tomavam banho de açude na "Baixa da Égua" e no riacho do Palma; dos que freqüentavam o "Beco do Jacaré" e os bailes de fim de semana organizados por um certo sanfoneiro de nome Pórfiro. Confesso que nossas relações não eram as melhores, principalmente durante as festividades da padroeira, quando um ou outro tinha o controle da redação de um malicioso e irreverente jornalzinho chamado "O Papagaio", de cujas páginas pululavam as razões de nossas rixas e divergências. Passamos muito tempo sem nos ver. Minhas férias de fim de ano foram substituídas pelos estágios hospitalares. Voltamos a nos encontrar, desta vez, diariamente, quando trabalhávamos no mesmo ambulatório, quase na mesma sala, e aí sim, nasceu uma amizade que o tempo só faz aumentar. Não é apenas um sentimento de coleguismo. Mas uma profunda admiração pelo empenho, pela seriedade e pela humana compreensão como sempre tratou seus pacientes. Observava as crianças humildes, muito pobres, trazerem no final do tratamento pequenas lembranças que, certamente, para elas tinham o sentido de quem paga uma promessa; e para seu benfeitor o significado de um bem afetivo. Hoje proclamo com orgulho que Péricles é meu amigo, meu admirável colega e médico extremado de minha família, inclusive muito querido dos meus netos, para os quais eu rogo sempre não prescrever injeções. Fui membro do Conselho Regional de Medicina do nosso Estado durante 35 anos e nunca presenciei uma única queixa ou reclamação de paciente ou familiar contra um ato ou gesto seu, mesmo levando-se em conta o risco de sua especialidade e uma época onde as opções instrumentais em sua área ainda eram muito precárias. Meu egrégio amigo Péricles Serafim. Esta Academia não é apenas uma instituição médica. Ela pretende ser diferente das outras associações de classes que tratam do aprimoramento científico ou das reivindicações puramente pragmáticas e imediatistas. Somos um órgão de incentivo e apoio, de análise e sugestões a tudo que se deve fazer em favor da cultura e do humanismo. Não quer dizer que somos literatos puros. Como tal, teríamos de dissolver-nos pacificamente: não ficaria um só.
Não há mal que o médico possa aliar essas duas formas de cultura. As letras, segundo Claude Bernard, são irmãs mais velhas da ciência. A lei da evolução intelectual dos povos mostra que tem produzido poetas e filósofos, antes de formar cientistas. Seria grave erro pensar que existem duas ordens de verdades distintas ou contraditórias, umas filosóficas ou metafísicas, outras científicas ou naturais. Acredito também que o médico não deve ser apenas um profissional nietzschiano, a perseguir o efêmero da tecnologia para alcançar simplesmente um resultado. Ou exaltar-se diante da Vida e da Morte, materialmente representadas pelo corpo enfermo, através dos conceitos herméticos da Ciência Médica. É necessário que ele mergulhe, fundamente no sentido da Vida para saber quanto ela vale de amor e de esperança. O humanismo é a lógica mais simples. Vivemos uma época singular da história da Humanidade. A rapidez das transformações cava um fosso trágico e medonho ante a evasão materialista e apressada para o utilitarismo. Toda vez que nos aprofundamos em nós próprios vêm-nos a certeza de algo que acusa e adverte. "Este homem, enfim, não é um homem é o homem que o homem destruiu." Palavras do poeta Afonso Romano Sant`Anna. Este homem a quem o poeta se refere está desfigurando o humano que existe nele. E um homem que se desgasta, desgasta o mundo. "Mal sabe a criança dizer 'mãe' e a propaganda lhe destrói a consciência.” Palavras de um poeta cujo nome não me lembro. Criam-se metrópoles de aço e concreto, verticais e desumanas, de árvores cor de chumbo e de céu escurecido por uma atmosfera de fumo e pó. São cidades mortas, sem esperanças e sem ilusões, cidades de homens taciturnos e solitários, apressados no andar como se tivessem um destino. São dramáticos seres perdidos na noite, com suas luzes frias de néon, frias noites sem sentido e sem solução. Ao atravessar essas ruas de mil e uma tragédias, nota-se uma sensação de desespero em cada semblante e um sufocado grito de socorro em cada boca. Há uma angústia e uma solidão em cada esquina. "Mas eu não tenho tempo para pensar nessas coisas, Estou com pressa. Muita pressa. A manhã já desceu do trigésimo andar Daquele arranha-céu colorido onde moro. " Palavras do poeta Cassiano Ricardo. Tenho medo. Não sei, com a visão provinciana de modesto mestre-escola na Paraíba, o que se poderá fazer em termos tecnológicos nesses tempos vindouros de tantas dúvidas e de tanto tumulto. Sei apenas que já iniciamos a era dos grandes conflitos, provocadores e confusos, no exato
instante em que o sentimento agoniza nas mãos da tecnocracia e o desânimo parece ter tomado conta do mundo. Digo tudo isso porque as Academias, em geral, pela sua inclinação irresistível para o humanismo, terão no futuro um papel muito significativo no último e assustador confronto. E desse resultado teremos dois destinos: o de simples coisa inexpressivamente jogada ou nada; ou o resgate do caminho de volta a nós próprios; em espírito e liberdade.
Meu estimado amigo Péricles: Aqui estão para lhe saudar pela minha voz e festejar com a própria emoção, seus velhos amigos e companheiros que há muito tempo aguardavam sua presença. Acredito que esse tempo de espera não foi em vão. Esperar não é apenas uma arte; é também uma forma de luta. Em nome da Academia Paraibana de Medicina, que aceitou a indicação desta apresentação, desejo toda sorte e estimo que continue cultuando cada vez mais a imaginação e a pesquisa. Eu, de minha parte lhe agradeço, querido confrade, pela homenagem em paraninfar sua entrada nesta Casa. Entendi o gesto. Ao eleger seu menor colega, você prestigiou a própria simplicidade. Mesmo depois do silêncio, guardarei a emoção desses imperecedouros instantes. Nossa vida, afinal, é assim, feita só de momentos. Mesmo depois, cada lembrança será uma ressurreição. A hora é sua. Eu acompanharei seus passos com a alegria de quem vai alcançar o céu com as suas asas.
22/10/1998
Elogio ao Patrono: Dr. FLÁVIO FERREIRA DA SILVA MAROJA Cadeira nº 11 Por: Dr. Péricles Vitório Serafim
Flávio Maroja Aspectos de sua vida
Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer... (Eclesiastes 3, 1-2) Entro agora nesta Casa, com a emoção de quem está começando tudo de novo. O princípio de todas as coisas em que nos apoiamos para a vida, me traz revelações e encantamentos, que me reportam à juventude, num estado d'alma, num estado de graça. A pequena glória das pessoas é feita de sonhos passageiros, marcados, páginas por páginas, na precariedade do passado, onde a riqueza de nossas lembranças é o Baú de Ossos de que nos falava Pedro Nava. Tenho a sensação de quem se ergue para a vida atual, diante das recordações claras do que havia visto antes, volutas de fumaça, construindo o desenho da minha vida e a sensação de quem recorda pecados inéditos, como diria Ascendino Leite. Pois é assim meus senhores, aqui estou, sobretudo, entre historiadores para falar do passado, e eis que me é dado apreciar e ver o velho passado e o presente, darem-se às mãos numa preciosa comunhão de sentimentos. O estudo da sabedoria do passado, onde estão guardados os inventários, os cartulários e as bibliotecas conduzem ao saber de ontem e de hoje, no aprofundamento do conhecimento universal e no garimpo das preciosidades onde o homem recolhe as canções do passado e as músicas dos tempos novos. As vivências antigas são o fermento do processo histórico, acalentado por homens como Heródoto e Platão, sábios que afirmam e confirmam que a glória dos antigos é a conseqüência de terem assimilado as suas artes e as suas ciências como se fora um presente dos deuses. A história é uma força viva, um casarão sem portas, o salão dos artistas celestiais a estudar e a discutir o problema da concordância dos tempos. E, assim como nossos antepassados sentiram desfazer-se as estruturas fundamentais da vida, nós também iremos desmontar os esteios em que nos apoiamos para escrever a nossa biografia.
Meus senhores, pretendo agora recuperar a trajetória de nossas vidas profissionais, povoadas de acontecimentos e de almas, de heroísmos e de fracassos, no dizer de Oscar de Castro. A Medicina, através da arte e da ciência, na construção da sociedade, no elevado propósito ético, se constituiu na grande obra da humanidade. Através dos séculos passados e, mesmo nos primórdios deste, o mundo viveu uma verdadeira convulsão no sentido político, social e científico. Oscar de Castro cita o conceito de DELORE: "A medicina está em evolução permanente, a instabilidade de suas teorias, o prova. Ciência e arte ao mesmo tempo, ela está em relação estreita com o progresso das outras ciências, com as transformações das condições da vida social e com os grandes movimentos do pensamento.” Por caminhos diferentes, na dança das idéias e dos conceitos, não é possível desprezar as velhas teorias, muitas delas carregadas de sabedoria cujos valores éticos e científicos prevalecem até hoje, e, sem dúvida, vão continuar na base, na infra-estrutura do vertiginoso progresso da ciência médica. É um conceito lapidar de que "o pensamento dos grandes espíritos sobrevive através dos séculos, encarnando-se de geração em geração". Como que saudando o pensamento médico brasileiro do passado histórico na sua mais pura forma literária e artística, no maravilhoso torneio das imagens e na expressão mais vigorosa e bela, é no conteúdo fascinante da história onde caminhamos e escrevemos a vida dos homens do passado. Muitos deles dedicaram-se ao sacrifício, vitimados por surtos epidêmicos: que grassaram na segunda metade do século XIX e nos primórdios deste quarto de século, foram desbravadores que romperam os caminhos, hoje atravessados; por uma montanha de obstáculos, todos superados pela Ciência. Meus senhores, já que estamos numa casa de médicos, onde a grandeza da alma humana está presente na sua maior afirmação, é justo que atravessando o luminoso tempo das idades, lembrar o nome das grandes figuras do mundo científico, político e social, e, sobretudo, gravar o registro de figuras apostolares que passaram e se perderam através da noite dos séculos, abençoados em sua memória É impossível viver e escrever a vida de homens como Flávio Maroja sem comentar a participação dos ilustres colegas com quem conviveu e distribuiu as sementes da sua poderosa personalidade. E, quando ele cresceu, nós todos crescemos com ele. Na primeira metade do século XIX, ao despertar das primeiras universidades, tem início a primeira fase da saúde pública, com a implantação dos serviços de saneamento básico. Já no final do século, segundo o professor Humberto Nóbrega, teve início a fase epidemiológica, bacteriana, e é por aí, quando se desenvolveram os primeiros trabalhos, de forma racional e científica, onde se fixaram as bases dos primeiros soros e vacinas, sob a inspiração divina de Pasteur, o grande benfeitor da humanidade. A partir daí, começamos a falar em medicina preventiva, já no controle das epidemias. Os serviços de saúde tornaram-se objetos de preocupação e progresso, apoiados pelo controle de doenças, pelos cuidados materno-infantis e pela fiscalização das chamadas doenças sociais. No contexto do processo civilizatório do primeiro quartel do século XX, a pessoa de Flávio Maroja esteve presente de forma significativa na Paraíba. A história é mãe e filha — arco estrutural em que se assentam todos os conhecimentos do mundo, desde o pensamento mítico das vertentes olímpicas, até a mais sofisticada tecnologia. É assim a história, um movimento messiânico de massas, um infinito e profundo oceano de sabedoria. Castiglioni, grande historiador da medicina, afirma que ela faz parte essencial e fundamental da civilização moderna, sua conquista é o indicador fiel do progresso social. O mesmo progresso de que somos vítimas e que hoje nos está impondo a redução do tamanho do estado, apoiado na assistência médica e na previdência que tem sofrido o impacto da chamada globalização, e o
resultado é o desemprego, é a problemática da educação, da segurança e da saúde. Por outro lado, as mudanças motivadas pelos "novos tempos democráticos", fizeram com que o homem conquistasse o direito de decidir sobre ele mesmo, "embora, na prática, os médicos deixam de sobreviver do seu trabalho, de forma autônoma e liberal, e passam a assinar contratos e credenciamentos que exigem menores preços e mais serviços." Foram muitos os médicos e heróis que lutaram, envolvidos com a saúde pública na Paraíba, desde 1848, quando foi criada a Inspetoria de Higiene. Sucessivamente, ocuparam com muita honra, os nomes de: José Inocência Poggi, António da Cruz Cordeiro, Abdon Fe Unto Milanez, José Evaristo da Cruz Gouveia, José d'Ávila Lins e João Batista de Sá Andrade. A partir de 1911, o Presidente João Lopes Machado, médico que muito promoveu a saúde pública no Estado, criou a Repartição de Higiene Pública que, mais tarde, transformou-se no Departamento Geral de Saúde Pública do Estado, cargo que tive a honra de ocupar nos anos de 1966 e 1967, no grande governo de João Agripino. Meus senhores, Flávio Maroja participou de todas as lutas da vida social, médica e profissional do último quarto de século que passou. Viveu durante mais de cinqüenta anos as circunstâncias e o cenário de sua época, uma vida em ritmo de pensamento e trabalho, nas artes, na ciência, na poesia e na política. A faustosa convivência com Flávio Maroja nos leva a ver, ouvir e a escrever sobre a vida de seus colegas, e também com os intelectuais e, sobretudo com seus historiadores que, na verdade, são o alimento da pesquisa e da curiosidade. Flávio Maroja Sua vida A primeira imagem que gravamos em nosso pensamento, é a idéia de uma personalidade formal, um misto de autoridade e bondade, a expressão legítima e serena, e essa é a característica da pessoa de Flávio Maroja — o médico. Médico que nasceu médico, pela sua própria natureza, uma explosão de vida, cheia de riquezas, como se fora um estuário de grandezas, uma consciência universal do bem e do amor, a todas as coisas. Filho de Manuel Ferreira da Silva Maroja e de Dona Francisca Leocádia, nasceu Flávio Ferreira da Silva Maroja, no dia primeiro de setembro de 1864, na Fazenda Chaves, no então município de Pilar, hoje Gurinhém - Paraíba. Toda a sua infância foi passada e vivida na Fazenda dos pais, e, como toda criança dos sítios, sempre teve um apego natural aos pássaros e aos animais, vivendo na vastidão dos campos e no carinho da família. Foi alfabetizado em casa, pela irmã mais velha, Dona Ana Ferreira de Castro, casada com o coronel João Ribeiro Coutinho. Já o curso primário foi realizado no município de Pedras de Fogo, escola de primeiro grau, que naquele tempo tinha como professor, o seu cunhado Dr. João Ferreira da Silva, Juiz Municipal da Comarca. Depois dos estudos preparatórios, o chamado Curso de Humanidades, no Liceu Paraibano, em 6 de março de 1883, ingressou na Faculdade de Medicina, na Bahia, o portal solene por onde passaram e ultrapassaram, na acolhedora conquista de um mundo novo. E, foi adiante, quatro anos depois, num projeto diferente de vida, mudou-se para a Corte, no Rio de Janeiro, o templo maior para a cristalização da cultura médica. Passados os dois últimos anos, apresentou e defendeu a tese, assim exposta: A TALHA HIPOGÂSTRICA PODERÁ DIMINUIR AS INDICAÇÕES DA LITOTRÍCIA E DAS DIFERENTES ESPÉCIES DE TALHAS PERINEAIS? Em dezembro de 1888 recebeu o diploma de médico, das mãos de sua Majestade, o Imperador D. Pedro II. Recém formado e regressando à terra natal, foi indicado pelo então Presidente da Província Silvino Carneiro da Cunha, o Barão do Abiahí, para prestar serviço no Batalhão de Segurança na Paraíba. Já sentindo os vapores da atividade política, elegeu-se como membro da primeira
Assembléia Constituinte de 1891. Em seguida, voltou ao Rio de Janeiro, onde submeteu-se a um concurso para médico do Corpo de Saúde do Exército, tendo sido aprovado com distinção, e logo em seguida, foi destacado para servir numa guarnição, aquartelada na Província de Goiás. Aceitou a missão com grandeza de espírito e atirou-se na profundidade da vida, onde o destino era um ponto quase no infinito. Depois de viajar até o conforto onde o trem permitia, estacionou em Uberaba, a partir daí foi uma longa e penosa viagem de seiscentos quilômetros a cavalo, durante trinta dias. Tudo como se fora um exílio nos confins do mundo, uma vida de militar e médico, onde a Ciência ainda estava se arrastando, por entre a farmacopéia das sanguessugas e o ritual dos pajés. Depois de um ou dois anos, voltou para o reencontro com o seu destino, deixando a patente de capitão com as honras do dever cumprido. Montou consultório, dedicado à profissão médica, tornando-se um abnegado, um dedicado e fervoroso profissional da medicina, nos melhores padrões da ética e da moral, quando esses padrões eram melhormente preservados. Aos 35 anos de idade, não resistindo aos caprichos do amor, onde era grande o número de moças casadoiras, candidatas ao jovem mancebo, finalmente ele entregou-se ao grande episódio sentimental de sua vida. Foi numa das festas, no Teatro Santa Rosa, em que Flávio Maroja conheceu a bonita jovem — Maria da Purificação Carneiro da Cunha, que estava no camarote de honra do tio ilustre, o Barão do Abiahi. Nasceu Maria da Purificação em fevereiro de 1875, e casou-se com Flávio Maroja em julho de 1889, sendo ela filha de Salustino Ephigênio Carneiro da Cunha com Francisca da Silva Coelho, e seu nome ficou conhecido como Licota Maroja. A família Maroja transformou-se em tronco vigoroso de expressiva descendência familiar. Do casal nasceram cinco filhos que, agora, passaremos a enumerar: Maria Carmelita, Flávio Filho, Maria Camerina, Maria do Carmo e Arnóbio. Maria Carmelita a mais velha da irmandade, foi casada com Francisco Xavier Pedrosa, que descende de família com largo prestígio na sociedade. São seus filhos: Maria Flávia, Pompeu Emílio Maroja Pedrosa, casado com Zélia Maia, Sebastião, já falecido, foi casado com Maria das Dores, empresária da rede de restaurantes e casa de lanches Tia Nila, e, Paulo, também falecido que, durante alguns anos, movimentou a crônica social da cidade com o nome de Pablo. O segundo filho de Flávio Maroja com Licota tem o mesmo nome do pai, Flávio Ferreira da Silva Maroja Filho. Flávio Ferreira da Silva Maroja Filho, nasceu a 25 de maio no ano de 1901, marcado para ser médico, viveu ao longo da juventude e à sombra do pai ilustre. Aos 26 anos de idade, colou grau na Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Nos últimos anos da faculdade, foi interno da Clínica Pediátrica do Professor Moncorvo Filho, como também atuou em hospitais de pronto socorro, no Rio. Porém, com o prestigio do nome ilustre do pai, higienista conceituado no sul do país, com o apoio familiar, seguiu para São Paulo, onde cursou por dois anos no famoso Instituto Paulista de Higiene, ao tempo em que freqüentava regularmente o Butantã. Ainda recém formado, voltando para casa, seguindo os caprichos do destino, parou um pouco, na localidade de Carnaúba dos Dantas, no Rio Grande do Norte, e, por ali mesmo, ficou durante cinco (5) anos, onde prestou grandes serviços à comunidade. Voltando para a capital, no trabalho, como médico, foi diminuindo as atividades, de forma gradativa, ao tempo em que se voltou para as atividades agropecuárias e à política, ligado aos municípios de Mari e Santa Rita, onde por duas vezes foi Prefeito Municipal. Em 8 de dezembro de 1930 casou com a prima Celeida de Lourdes Ribeiro, que nasceu no ano de 1912 e faleceu em 1986. A família composta por cinco moças, notáveis pela beleza de que eram dotadas, e casadas com: Ninosa com Waldete Ribeiro e tem um filho médico, o Dr. Pedro
Flávio; outra irmã é Tinane, casada com Gastão Almeida; Helena com José Waldomiro Ribeiro Coutinho; Celeida casada com Cláudio Ávila Lins e Ana Maria, casada com José Moacir Porto. Flávio Maroja Filho foi um homem de gestos nobres e atitudes corretas. A bondade e o desprendimento eram uma característica em sua vida. Profundamente dedicado à família, faleceu em 16 de setembro de 1981. A terceira filha de Flávio com Licota Maroja foi Maria Camerina, religiosa consagrada às Irmãs Beneditinas, com o nome de Madre Flaviana. Outra filha de Flávio com Licota foi Maria do Carmo, que casou a primeira vez com Rafael Garro, teve um filho Flávio Manoel, e a segunda vez com Gentil Cavalcanti. Teve três filhos: João Bosco, Carmelita e Maria da Purificação. Filho de Flávio com Licota Maroja foi Arnóbio, o último da irmandade, que nasceu em 24 de março de 1905 e faleceu em 21 de novembro de 1996. Casou-se com Antônia Câmara Simões, bacharela em Direito; hoje com 89 anos de idade, lúcida e conselheira, é uma legítima matriarca. A grande família é formada por 14 filhos, 64 netos, 74-bisnetos e 5 tetranetos. Os filhos de Arnóbio com Dona Antônia são: Licota, Flávio Neto, Ana Flávia, Francisca Eveline, Pedro, Maria Camerina, Severino, Renato (médico), Albino, Ana Clara, Arnóbio Filho, Maria Flávia, Otaviana e José Luiz, médico que chefiou a FUSEP na Paraíba. Nessa ilustre família, temos a ressaltar os nomes de: Maria Camerina, casada com José Enéias, uma mulher de grandes virtudes que atualmente chefia o complexo da Maternidade Frei Damião Também convém que citemos Francisca Eveline, casada com Luís Limeira. O trabalho dela merece muitos louvores pelo muito que tem feito em torno das Associações de Pais e Deficientes — APAE. O nome de Eveline é uma legenda marcante em sua luta em favor das crianças e dos jovens excepcionais. O seu trabalho faz lembrar o de Flávio Maroja, em prol da educação e da higiene. Também, filho de Arnóbio com Dona Antônia, é Severino, empresário da agroindústria e líder de grande conceito popular na região. Hoje, ocupa o cargo de Prefeito Municipal de Santa Rita. Casado com Estefânia, deputada estadual, considerada a mãe da pobreza na região da várzea de Santa Rita. Flávio Maroja sempre foi um sentimental. A família de que acabamos de falar, era como se fosse um ninho de amor e de respeito, uma comunhão de sentimentos bons. Os filhos se estenderam por muitos caminhos, distribuindo a semente generosa, no calor de muitas vidas. Os frutos continuam pelo mundo afora, na perpetuidade de uma rica descendência familiar. Flávio Maroja História e vida Tudo começou na volta à Corte, mundo de pensamentos, planos, idéias, uma vontade imensa de construir a vida. Quase dez dias no mar, onde o caminho é feito de águas, mas não vai apagar as marcas da lembrança. A chegada ao porto para os abraços, vestido de croazê e cartola, no porto de Jacaré, um ancoradouro primitivo, movido a navios de roda, em Cabedelo. E, como disse Flávio Maroja Filho: "Meu pai se apegou como a ostra, ao rochedo.” Exerceu vários cargos, entre eles, ocupou a chefia da Saúde dos Portos, por muitos anos. Membro de várias comissões federais. Na verdade, era um higienista pela própria natureza. Foi organizador e chefe do Serviço de propaganda e Educação Sanitária. Ele mesmo criou no ano de 1913, o Instituto Vacinogênico, onde, nessa época, se alastrava uma epidemia de varíola na capital. Dirigiu o Hospital de Santa Casa, por quase 50 anos, e, nesse período de tempo, promoveu a transferência para o Hospital Santa Isabel, que, inicialmente existia na Rua da Cadeia Velha, que depois se
chamou Visconde de Pelotas. A transferência para o Hospital Santa Isabel se constituiu numa página marcante de que toda a cidade participou. Foi precisamente Flávio Maroja quem chefiou a mudança, na tarde de 13 de novembro de 1914. Eram pessoas profundamente pobres e doentes que foram conduzidas em bondes, carroças e carros de boi. Um verdadeiro desfile, misto de alegorias e artes populares. A propósito das lutas para a preservação do Santa Isabel, "recordam as crônicas da cidade que, certo dia, fora cortado o fornecimento de pão para o hospital, em virtude do acúmulo da dívida. O Dr. Maroja, muito preocupado, foi ao fornecedor e disse-lhe, suspenda a medida, porque eu lhe dou em garantia da dívida do Hospital, minha casa de residência, a única que possuo, no valor 50 contos de réis". O tempora, o mores! Exclamação de Cícero, na primeira catilinária contra a corrupção de seus contemporâneos. Flávio Maroja que não fazia atividade cirúrgica, porém trabalhava como anestesiador, um precursor da anestesia. O anestésico usado para os grandes atos cirúrgicos era o clorofórmio, que foi descoberto em 1832. Aplicava-se gota a gota, com um funil de papelão, embebido em algodão, à cabeceira do paciente. O pulso controlava tudo e, ao lado, um frasco de amoníaco para a hipótese de síncopes. Isso, sobretudo, a partir dos anos vinte. Em setembro de 1921, o Governador do Estado, Solon de Lucena, convidou o grande higienista brasileiro Acácio Pires. De imediato, o grande técnico chamou para compor a equipe, Flávio Maroja, Genival e Ademar Londres, Otávio de Oliveira, Elpídio de Almeida e Plínio Espínola, já na administração de Acácio Pires. Em 21 de abril de 1922 foi inaugurado o Hospital Osvaldo Cruz, com 60 leitos, sob a direção de Flávio Maroja e, tendo como colaboradores, Genival Londres, Elpídio de Almeida e Newton Lacerda. Como chefe do Serviço de Propaganda de Saneamento Rural, Flávio Maroja publicou nos jornais da terra, "um plano definitivo contra o impaludismo e a ancilostomíase, estudou Esquistossomose e combateu os planorbídeos e os hospedeiros aparentemente os inofensivos, lolôs e aruás de nossas lagoas. Fez um projeto para o saneamento do Vale do Gramame, "tinha observações próprias sobre várias questões de higiene e por isso era citado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro pelo professor Auzier Bentes; escreveu vários trabalhos e fez um combate sistemático à peste bubônica". "Incansável, ia pela rua à fora, acompanhando o guarda, à luz da lanterna, para descobrir o anofelino e destruí-lo". Como jornalista, escreveu durante 40 anos, sobretudo, artigos médicos e orientação dos costumes e conduta de higiene das pessoas. Como cronista, mantinha no jornal de Artur Aquiles — O Comércio — uma coluna intitulada — "Salão Vermelho" — com o pseudônimo de Gil. Era uma coluna de atualidades, às vezes com acidez e gozações. Havia de tudo, texto literário, trovas e poesias, como esta: "Salão vermelho, que gôsto! Que lembrança! One idéia! O seu autor bem merece Um poema, uma epopéia. Mas, tudo ali, diz-se é belo E não se corre outro risco Além de ver-se aos cantos As armas de São Francisco. " O estilo era leve, gracioso e sentimental, como as quadras seguintes:
O meu Galo de Campina "Tive um Galo de Campina, Saltitante, cantador, Toda gente apreciava A sua voz de tenor. Um vizinho de maus olhos, Desejando possuí-lo Certa vez ofereceu-me De ouro de lei um quilo. A dona da casa um dia Notou-lhe muito tristonho: Não comia, não cantava, Seu viver já era um sonho. Um mandingueiro que o viu Disse muito admirado: Sinhá dona, seu passinho Tá doente de oiado. Dito isto, o meu tenor Abriu o bico e morreu, Deixando muitas saudades A quem bem o conheceu. Senti, chorei, inda choro, Lamentando a triste sina De ter morrido de olhado O meu Galo de Campina. " Na política, sempre foi moderado e conciliador, solidário com o governo Venâncio Neiva. Participou da Primeira Assembléia Constituinte Legislativa da República, na Paraíba. O mandato era de 1891 a 1894, foi extinto e a assembléia dissolvida por decreto da Junta Governativa, a 13 de janeiro de 1892. Com a ascensão do Epitacismo, a partir de 1915, Flávio Maroja voltou às atividades políticas, ao lado do seu colega e amigo, o Presidente Francisco Camilo de Holanda, e elegeu-se deputado para o período de 1916-1920, em seguida reeleito para o quatriênio de 19201924, quando assumiu a Primeira Vice-Presidência do Estado, no Governo Solon de Lucena. Na verdade, Flávio Maroja nunca teve ambições políticas. A política para ele, sempre foi um instrumento de serviço e o esteio fundamental, onde podia distribuir as benesses. No bolso, sempre tinha um cartão, no qual se lia: "Em mim não vejam um homem político, mas, o paraibano que desde o início de sua vida pública, que data de 1889, tem sabido amar a sua terra, e, procurado bem servi-la ". Visitava com freqüência as instituições assistenciais, como o Asilo Carneiro da Cunha, o Orfanato Dom Ulrico, o Instituto de Proteção à Infância e a todos levava palavras de carinho e conforto e até distribuía brinquedos e guloseimas. A Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, ao lado do Hospital Santa Isabel e do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, foram as grandes motivações de sua vida. A Sociedade,
hoje Associação Médica da Paraíba, instalada a 3 de maio de 1924, foi um grande momento da vida médico-científica e social da cidade naqueles remotos anos. Foram: Lourival Moura e José de Seixas Maia, os grandes condutores do empreendimento. A Sociedade continua viva e forte, como se fora uma semente plantada no coração e na cabeça desses estafetas, no passo das mãos. A Associação Médica é o santuário onde guardamos e cultivamos a imagem dos presidentes que por aqui passaram. Flávio Maroja foi o segundo presidente, e, para honra nossa, fomos o vigésimo nono que hoje tem como trigésimo oitavo, o doutor João Modesto Filho. Meus senhores, que me perdoem o tempo e o enfado, por vos falar ainda de Flávio Maroja, agora, na Casa Grande do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde exerceu a presidência de 1907 a 1931, por vinte e dois anos ininterruptos, de muita abnegação e perseverança. Assistia às sessões com plena assiduidade, convocando os companheiros, como se fora um pastor a buscá-los no aprisco, os que estavam desgarrados do conjunto. Os primeiros anos foram difíceis, como escreveu o historiador Luís Hugo Guimarães, atual Presidente do Instituto, aos poucos foram se afastando muitas daquelas importantes figuras que não tinham vocação para a História. Porém, o acervo histórico e cultural do Instituto como um fermento, foi crescendo e se multiplicando de forma fantástica. O historiador Luís Hugo Guimarães, divide os trabalhos do Instituto em três décadas: A primeira de 1905 a 1915, foi um período de grande dificuldade, marcada sobretudo, pela ausência dos sócios. Ao mesmo tempo, a criatividade das obras, e, a faustosa erudição dos intelectuais naqueles anos, se transformou no cristal precioso de suas produções. A década seguinte, de 1915 a 1925, foi marcada por um acontecimento histórico de muita repercussão, o primeiro centenário da Revolução de 1817, e onde Flávio Maroja esteve presente na coordenação dos trabalhos. O ponto culminante da solenidade, foi a presença do Presidente Francisco Camilo de Holanda em grande festa cívica, onde o historiador e ministro Oliveira Lima, falou sobre os fatos da Revolução de 1817. Convém registrar o chocante episódio em que o herói paraibano, José Peregrino Xavier de Carvalho foi enforcado em 21 de agosto de 1817. A Paraíba também teve o privilégio de sediar o VII Congresso Brasileiro de Geografia, na época, um empreendimento de grandes dimensões, e para isso, contou com a direção de Flávio Maroja no ano de 1922. Flávio Maroja ainda foi grande entusiasta das festas em comemorações ao centenário da Independência em 1922 e da Confederação do Equador em 1924. Em abril de 1931, passou a Presidência do Instituto para as mãos do Cônego Florentino Barbosa. Flávio Maroja foi aclamado por unanimidade, Presidente de Honra - in perpetuo. Continuou a freqüentar a Casa, porém os seus encantos já não eram os mesmos. Em maio de 1932, na Sessão Magna do Instituto, fez a exaltação à memória de Antenor Navarro, com eloqüência e brilho, a partir daí, emudeceu e, em 18 de junho de 1933, não mais voltou para a Casa que tanto amava. Continuou o conselheiro e medianeiro de todas as graças, e disse um recado para todos nós médicos, a frase lapidar: "Meu filho, dos meus colegas, dos nossos colegas, ou dizer bem ou nada dizer." João Ribeiro da Veiga Pessoa, seu companheiro no Instituto, traçou esse perfil de rara beleza:
"Ameno no trato, hábil conhecedor da vaidade do próximo, a sua mão de cavalheiro, apertava com igual força a mão do gênio ou da mediocridade. Apurado no trajar, consideraria um atentado à decência se fosse compelido a usar um colarinho sem o polimento do engomado. Em sua pessoa era marcante esse cuidado, essa distinção, essa fidalguia que punha em todas as coisas. " Flávio Maroja, depois de usufruir dos privilégios que a vida lhe permitiu, assumindo a quietude de seu recolhimento, sofreu um golpe profundo. Em 1937, após uma cirurgia de catarata, ficou cego. Foi uma catástrofe! Como descreveu o Cônego Francisco Lima em belíssima oração: “Foi uma catástrofe. Cegara como Afonso Domingues, o arquiteto construtor de mosteiro da Batalha. Cegara como Monte Alverne, o grande pregador dos áureos tempos do Império. Cegara como Camilo Castelo Branco, o gênio literário que traçou as páginas imortais do "Amor de Perdição”. Maroja, porém, não sofrera o desprestígio em conseqüência da cegueira. . Nem chorava as posições de relevo de que a cegueira o arrancara. Nem dele, por causa da cegueira, se afastaram os amigos. Fora a própria cegueira, solidão do corpo e do espírito, que o subtraíra ao convívio dos amigos do Instituto, dos amigos da Sociedade de Medicina, dos amigos do Hospital Santa Isabel, dos amigos enfileirados nas estantes de sua biblioteca, os livros que lia para solidificar a cultura, para atualizar-. se. Esta cruz, cujo peso a família procurava carinhosamente suavizar, levou ele até o dia 15 de fevereiro de 1940, quando acabou de morrer... " Agora, meus colegas e meus amigos, terminamos a última página. Agradecemos a tolerância com que me escutaram, cumprimentamos a ilustre Mesa dos trabalhos na pessoa da Doutora Maria de Lourdes Brito Pessoa, Presidente desta Academia; saudamos a nobre família Maroja e agradecemos as palavras generosas do professor e escritor Genival Veloso de França, que recolhemos com muito carinho e muita amizade e a quem tributamos o reconhecimento de sua inteligência privilegiada. Meus senhores, o Doutor Jarbas Porto, atual Presidente da Academia Nacional de Medicina, afirmou que a Academia era a "Casa do reconhecimento, o templo do saber, a igreja do mérito, a fonte da inspiração e da renovação profissional. Nela se ingressa para não mais deixá-la, senão para a imortalidade.'" João Pessoa/PB, outubro/98.
CADEIRA Nº
04
Patrono:
Dr. ARIOSWALDO ESPÍNOLA DA SILVA
1º ocupante:
Dr. ANTÔNIO DIAS DOS SANTOS
Data de posse: 26/11/1998 2º ocupante: Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins Saudação:
José Asdrubal Marsíglia de Oliveira
26/11/1998
Saudação ao: Dr. GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D`AVILA LINS
Cadeira nº 04 Por: José Asdrubal Marsíglia de Oliveira
Exma. Sra. Dra. e Profa. Maria de Lourdes Britto Pessoa, digníssima Presidente desta Academia Paraibana de Medicina, Exmos. Srs. Membros componentes da mesa. Prof. Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins candidato a membro da mesma. Exmos. Srs. Membros desta Academia aqui presentes. Minhas senhoras meus senhores.
Honrado que fui com convite pessoal do Dr. Guilherme Gomes da Silveira d' Avila Lins para saudá-lo nesta cerimônia de posse, é obrigação e dever de minha parte manifestar minha extrema satisfação e gratidão em atender à tão gratificante e desvanecedor convite, que me honra sobremaneira. Não sei por que fui distinguido por tão evidente honra, uma vez que, os demais colegas desta augusta Academia apresentam predicados culturais e científicos muito maiores que os meus para desempenhar tão augusta honraria. Dados biográficos Temos o prazer de apresentar ao público aqui presente à cerimônia de posse do Acadêmico Dr. Guilherme Gomes da Silveira d' Avila Lins para a cadeira n° 4 desta Academia cujo Patrono é o Dr. Arioswaldo Espínola da Silva, saudado prioritariamente pelo já falecido primeiro ocupante e fundador Dr. Antônio Dias dos Santos. Os pais do Dr. Guilherme são o Professor Dr. Antônio d`Avila Lins (falecido) e Dona. Helena da Silveira d'Avila Lins, nascido a 26 de novembro de 1941 em João Pessoa, de nacionalidade brasileira, casado, médico e professor universitário, da Universidade Federal da Paraíba. Títulos acadêmicos Mestre em medicina (área de concentração em gastroenterologia) e com curso de doutorado em medicina também em área de concentração em gastroenterologia. Formação educacional Vida pré-universitária: Estudo primário na escola da professora Dona Carmerina Bezerra Cavalcanti e depois com a professora Dona. Francisca de Ascensão Cunha. Em 1952 matriculou-se no Colégio Pio X (marista) onde cursou o 5° ano primário seguido do exame de admissão. Prestou curso ginasial (1° grau) no colégio Pio X (marista) de 1953 a 1956 em João Pessoa. O curso colegial científico (2° grau) foi prestado no Liceu Paraibano em 1957 (1° ano), sendo transferido para o Colégio Pedro II (internato) em 1958, obtendo em 1959 o grau Bacharel em Ciências e Letras.
Matriculou-se em 1953 na Aliança Francesa e Casa do Calvário onde cursou inglês e francês, respectivamente. Cursou também inglês com o Prof. Dr. Allan Douglas Bennet em 1954. Fez o curso médico no Recife na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, com aprovação no vestibular de 1963, tendo colado grau em 8 de dezembro de 1968. A formação educacional e profissional do Dr. Prof. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins apreciada pelo estudo cuidadoso do seu Curriculum Vitae honra sobremaneira o seu representante, e, é motivo de elogio desvanecedor de minha parte. A Academia Paraibana de Medicina sente-se honrada com a participação do novel acadêmico aos seus quadros. Li com cuidadosa atenção o seu Curriculum Vitae onde pude concluir que o Prof. Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins não pretendia titular-se somente em medicina para adquirir créditos e conceitos que o tornasse merecedor do titulo e da capacidade profissional em medicina. Para obter esta posição houve necessidade de um esforço insano, um estudo cuidadoso e obstinado que o levou à leitura e pesquisas extremamente fatigantes somente possíveis à pessoa física de saúde e robustez perfeitas; passíveis de aqui ser introduzida a velha expressão latina "mens sana in corpore sano" pois medicina é profissão que exige para o devido alcance condições físicas bastante satisfatórias. Posso avaliar quantas horas de lazer foram sacrificadas por V. S. em favor da obtenção dos títulos obtidos. Curriculum Vitae É norma de todas as academias, analisarem o Curriculum Vitae dos seus candidatos, pois esse é o resumo das suas atividades cientificas e culturais no decorrer do seu curso. Sou obrigado a fazer uma analise geral, pois, trata-se de uma peça que evidencia o valor científico do candidato como pesquisador, estudioso, pedagogo, com rara capacidade de investigação. Se fosse norma da Academia o obrigaria a valorizar os currículos através de nota e teria o maior prazer de premia-lo nota dez e mais louvor. Limito-me a analisar sob o ponto de vista geral ressaltando os aspectos culturais extremamente valiosos ao candidato pelo que podemos destacar em seu Curriculum Vitae durante a sua vida universitária os seguintes itens: 1° Cursos de pós-graduação "lato sensu" a nível de especialização. 2° Cursos de pós-graduação "lato sensu" a nível de aperfeiçoamento. 3° Cursos de pós-graduação "stricto sensu" a nível de mestrado em medicina - área de gastroenterologia. Com tese de mestrado em medicina. 4° Curso de pós-graduação "stricto sensu" a nível de doutorado em medicina - área de concentração em gastroenterologia clínica. Dados bibliográficos Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins, nasceu em João Pessoa a 26 -11-1941, tendo se casado com a Rita Maria Cury d'Ávila Lins em 10-03-1979. A sua esposa é médica psiquiatra e psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psycanalitic Association. Filhos - tem um só filho por nome de Eduardo de Cury d'Ávila Lins, nascido em 12-02-79 e cursa atualmente a Universidade de São Paulo, no 2° período do curso de Sociologia e a Universidade Anhembi - Morumbi (São Paulo) no curso de Comunicação Social.
Não é propósito meu cansar os ouvintes a análise técnico-científíca do Curriculum Vitae apresentado para julgamento, entretanto, é responsabilidade dos membros da Academia dar parecer sobre a capacidade cultural e técnico-científica dos candidatos à sócios da mesma. Contudo devo ressaltar que o seu currículo é bastante vasto, erudito, científico e valioso, merecendo ser acatado por qualquer acadêmico de medicina como prova de capacidade cultural. Permitam-me destacar a título de demonstração da variada condição do Dr. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins, que eu cite aqui alguns títulos que o recomendam: 1° Participação em periódicos da área da medicina como relator, editor científico, membro do conselho editorial. 2° Participação na elaboração de projetos na área da Saúde. 3° Fundação de Centro de Estudos Médicos. 4° Criação de atividades de Cultura Geral. 5° Participação em atividades profissionais universitárias de natureza didática, pedagógica e administrativa. 6° participação em outras atividades universitárias comuns à graduação e a pósgraduação médicas na UFPB. 7° Participação em atividades profissionais médicas (privadas e públicas) 8° Filiação às Associações médicas e docentes (nacionais e estrangeiras). 9° Filiação à Associações de História e suas disciplinas auxiliares. 10° Participação em concursos públicos realizados (relativos ao magistério superior). 11° Bolsas de estudo obtidas durante a vida pré-universitária (de entidades públicas e privadas). 12° Prêmios obtidos: (durante a vida pré-universitária e universitária). Caríssimo Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila Lins. A obtenção do mestrado e curso de doutorado em Medicina são títulos de difícil obtenção e que dignificam altamente a capacidade cultural daqueles que os obtêm, porém exigem, parodiando os ingleses na segunda guerra mundial, "sangue suor e lágrimas". Quanto de esforço, noites mal dormidas, pesquisas de assuntos científicos V. Sá. deve ter enfrentado para a realização deste sonho que coroasse a sua carreira médica em ambiente estranho, por vezes hostil da grande cidade de São Paulo para ser médico. Permita-me que aqui eu lembre trechos de uma súmula de aula de Anatomia proferida pelo grande Prof. Locchi aos seus alunos de anatomia na Escola Paulista de Medicina: "medicina é provação, renúncia, serenidade, humanidade, tolerância, compreensão, respeito à vida humana física e espiritual, competência, honestidade, mas requer, ainda, sensibilidade moral e sensibilidade social. Semanticamente a profissão envolve "físico (natureza a conhecer); o médico (medicar, curar) e o doutor (ensinar)". Aqui encerro esta singela oração. Esta Academia de braços abertos e com muita honra recebe seu novel acadêmico certo de que o mesmo emprestará o fulgor de sua inteligência para divulgar a todo o nosso país a capacidade, cultura e ciência da medicina paraibana. Tenho dito.
26/11/1998
Elogio ao 1º ocupante: Dr. ANTÔNIO DIAS DOS SANTOS Cadeira nº 04 Por: Dr. Guilherme Gomes da Silveira d`Avila Lins
Excelentíssima senhora Professora Doutora Maria de Lourdes Britto Pessoa, Muito Digna Presidente da Academia Paraibana de Medicina; Excelentíssimos senhores, demais autoridades componentes desta Mesa de Honra; Excelentíssimo senhor Professor Doutor José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, a quem devo a indelével alegria decorrente de ter ele se disposto a aceitar a tarefa da minha saudação, proferindo palavras tão generosas a meu respeito neste intróito ad altare nostntm, excelentíssimos senhores, demais membros desta muito respeitável Academia Paraibana de Medicina; excelentíssimos senhores, muito prezados membros da família do saudoso Professor Doutor Antônio Dias dos Santos, razão fundamental destas palavras de homenagem a ele; excelentíssimos senhores, diletos convidados para participar desta sessão solene, dentre os quais se encontram tantos parentes meus, cujas presenças a valorizam e iluminam; rainha querida esposa Rita Maria, síntese de afeto, estímulo, paciência e desafio; meu querido filho Eduardo, uma idealização de posteridade imediata transformada em realidade; minha cara D. Betty, amiga e sogra.
Antes de proceder ao merecido e necessário elogio do meu antecessor na Cadeira N° 04 da Academia Paraibana de Medicina, conforme preceitua o Art. 5° do Regimento Interno desta Casa, antes de dar cumprimento a este rito de iniciação que muito me honra e muito me deixa obrigado, peço a tolerância dos presentes para tecer aqui algumas rápidas e prévias considerações adicionais que julgo oportunas e pertinentes. Permitam-me, pois, minhas senhoras e meus senhores, fazer aqui uma interpretação muito pessoal desta minha investidura na Academia Paraibana de Medicina. Na minha fantasia interpretativa sinto que, de alguma forma, aqui e agora, em boa medida; está sendo também levada em consideração uma dedicação universitária que, devo admitir, tem marcado profundamente minha vida profissional. Embora nos últimos anos a dedicação universitária venha perdendo a sua relevância nas Instituições de Ensino Superior deste País (e, aí inseridos, os Cursos de Medicina), especialmente nas Instituições Públicas e mais particularmente nas Universidades Federais, tudo isto em função da situação calamitosa a que, pouco a pouco, foram elas fadadas a se reduzir, principalmente a partir da famigerada Reforma Universitária do final dos anos sessenta, o fato é que, em que pese a triste decadência que as acometeu e que venho assistindo nas últimas quase quatro décadas, a dedicação universitária, a que me referi e que com orgulho identifico em mim mesmo, não constitui em absoluto particularidade exclusivamente minha. Deo Gratias. Ela transcende em muito a minha pessoa e, malgrado a gravidade da enfermidade crônica que acomete o'"Sistema Imunitário" do nosso Ensino Superior; a chama daquela dedicação universitária, felizmente, ainda pode ser observada em muitos dos nossos pares, daqui e desses muitos "Brasis" desta Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, no dizer de Gândavo, algo bem mais contundente que Os Dois Brasis de Jacques Lambert. De todo modo, a referida dedicação universitária — porventura
ainda resistente ao "vírus" da levianamente denominada "Democracia Universitária", a qual, onde grassa tem destruído os multicentenários fundamentos da hierarquia universitária existentes desde a Idade Média — só pode ser observada se utilizar a adequada lupa para que, de fato, possam ser percebidos esses derradeiros guerreiros descendentes da tribo tupi, como diria Gonçalves Dias, É que atualmente, reservadas as honrosas exceções e por razões nem sempre muito evidentes, esses obreiros abnegados costumam ser virtualmente desconhecidos do grande público, até mesmo intramuros da própria Universidade pois trabalham sem trombetas nem arautos, mas é inegável que eles se forjaram nos dignificantes exemplos de seus antigos Mestres — entre tantos neste País, gente da envergadura do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, alvo aqui das minhas mais sinceras homenagens — e que, apesar de aviltados hoje na sua valorização intelectual e material, nivelada por baixo, e apesar da falta de perspectiva a se descortinar para o futuro, eles ainda continuam transitando nas nossas Universidades, desencantados, é claro, porém pertinazes descendentes e representantes de uma ancestral e heróica estirpe em extinção. É exatamente dentro deste contexto que me sinto no dever de compartilhar o galardão que hoje recebo entre aqueles outros obreiros que, como eu ou até mais do que eu, têm devotado o melhor de si à boa formação do profissional da Medicina, movidos apenas pelo interesse elementar de, na parte que lhes toca, melhorar a qualidade desta mão de obra especializada da nossa sociedade. Além disso, como não existe binômio com apenas um termo, também não posso deixar de volver aqui o pensamento para meus alunos de todos as épocas, daqui ou d'alhures, partindo do segundo grau até a pós-graduação, os quais, por certo, muito contribuíram para o aprimoramento da minha qualificação como Professor de Medicina e como Educador. Existe, dessa maneira, uma quota parte nada negligenciável desses alunos e antigos alunos no meu próprio processo formativo global até os dias de hoje. Minhas senhoras e meus senhores, ainda dentro desta mesma quadra de considerações preliminares, devo dizer que vivencio agora um dos eventos mais marcantes da minha existência pois — embora eu espere que ele ainda esteja razoavelmente longe de dar por encerrada a presente fase da minha trajetória profissional — este momento contribui significativamente para dissipar alguns daqueles episódicos questionamentos existenciais que, em certa altura da longa e árdua caminhada, costumam assolar os pobres mortais fazendo-os refletir acerca do rumo, por vezes tão espinhoso, que resolveram seguir nas suas vidas profissionais. Mais do que isto, este momento sinaliza alentadoramente para o fato de que, ao que tudo indica, devo ter escolhido com acerto aquele caminho a ser trilhado, levando em conta o acolhimento que ora recebo desta Academia, mercê das mui respeitáveis e experientes personalidades que a constituem no ramo da Medicina na Paraíba, muitos dos quais verdadeiros ícones da sua própria História. Aliás, falando de experiência, de minha parte, já vivi o suficiente para perceber com clareza que, do ponto de vista formativo e educacional a experiência vivenciada e acumulada ao longo da estrada da vida é, pelo menos, tão transcendental quanto às informações obtidas nos compêndios especializados, como já ensinava Sir William Osler. Na verdade, aprendi muito cedo a respeitar as opiniões coadas no exercício da experiência acumulada e, diante do julgamento segundo o qual posso hoje figurar entre os pares desta Academia, devo no mínimo pedir a todos eles que ajudem este neófito a continuar merecedor deste julgamento. Ainda no que concerne a estas considerações preliminares dirijo também, neste momento, meus pensamentos à memória imperecedoura do meu pai, Prof. Dr. Antônio d'Ávila Lins, no meu entender, um dos mais representativos profissionais da Medicina desta terra neste Século e um dos fundadores do Ensino Médico na Paraíba, a quem dedico, de uma forma muito especial, a honra que hoje recebo, na convicção de que esta conquista que agora se oficializa seria guardada com muita alegria no seu coração. Para concluir estas já extensas considerações preliminares cumpre acrescentar que, do ponto de vista profissional, se não devo afirmar que sou um homem realizado, sou, por assim dizer, um
homem realizando, pois na semana que antecede as comemorações dos trinta anos de formatura da minha turma logro entrar para a Academia Paraibana de Medicina, sob a Presidência desta muito cara Profa. Drª. Maria de Lourdes Britto Pessoa, com o Parecer favorável do decano da Gastroenterologia paraibana, Prof. Dr. Gilvandro Assis, Parecer este corroborado pelos demais Membros do Conselho Científico (ilustríssimos Professores Doutores Antônio Nunes Barbosa, Jacinto Londres Gonçalves de Medeiros, João Cavalcanti de Albuquerque, José Asdrubal Marsíglia de Oliveira e Orlando Cavalcante de Farias), além deter sido generosamente saudado há pouco por este nobilíssimo Prof. Dr. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira (a quem já disse, certa vez, que entre as muitas falhas do meu currículo destaca-se a de não ter sido seu aluno, o que não me impede de ser sempre um discípulo seu) e, enfim, transponho hoje os umbrais desta Casa com o gratíssimo dever regimental de homenagear o saudoso Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, com quem tive o privilégio de ensinar a mesma Disciplina que ensino até hoje, a Gastroenterologia. Que mais eu posso aspirar em termos profissionais? Esta é, portanto, a realização de um dos meus sonhos impossíveis e, por falar em sonho impossível, peço ainda a tolerância de todos os presentes para ler aqui alguns versos sobre este específico tema, cujo autor, pode até estar neste momento sendo tomado de muita surpresa, mas, certamente irá perdoar o seu pai que, sem seu conhecimento, conseguiu este "furo"de comunicação social com implicações literárias, sociológicas e filosóficas: Sonho impossível Ah ... se meu travesseiro falasse, e dos meus sonhos e devaneios contasse o que penso sob os lençóis que me fazem passar calor. Mas não, não é a temperatura, é tensão, introspecção pura, que toma os pensamentos e me mostra alguns momentos. E é então que sei que neles gostaria de estar por todos os passos que dei, e por aqueles que ainda hei de dar. Não há nada de errado em sonhar acordado, e tampouco sonhar o sonho impossível, traçado pelo cavaleiro invencível que há dentro de cada um de nós. Pois sem ele não há magia, e seria a mais pura agonia vivermos num mundo de "nãos" enquanto só o que precisamos fazer é dar um passo à frente, ou então estendermos as mãos. Eduardo Cury d'Ávila Lins - São Paulo, 22/7/1998. Professor Doutor Antônio Dias dos Santos Um dos grandes paraibanos nascidos fora da Paraíba
Ao longo do tempo, o pequeno Estado de Sergipe, pequeno como a própria Paraíba o é em relação a este grande Brasil, tem produzido uma constelação de figuras ilustres no cenário local, regional e nacional. Esta afirmativa pode facilmente ser comprovada ao compulsarmos o ramoso e hoje já bastante escasso Diccionario Bio-bibliographico Sergipano de Armindo Guaraná. Acresce ainda que aquele grande celeiro de celebridades, que é Sergipe, tem também a caprichosa peculiaridade de ser igualmente dadivoso em relevante paraibanidade. Para se confirmar isto basta citar aqui apenas dois exemplos: o Desembargador Gonçalo de Aguiar Botto de Menezes, desde fins do século passado até 1930, e o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, a partir de 1940 até bem poucos anos. Acerca deste último ocuparei doravante toda a minha atenção sem, entretanto, aspirar pretenciosamente traçar-lhe aqui uma abrangente biografia, algo que não só transcende em muito a minha capacidade como também, certamente, transcenderia as naturais limitações do razoável espaço de tempo disponível para estas palavras. Foi na segunda década deste já agonizante Século XX que nasceu o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos na Cidade de Aracajú, Capital do Estado de Sergipe, no dia 11 de junho de 1914. Seu destino residencial haveria de ser a Paraíba mas seu destino histórico foi, sem dúvida, o respeito que ele veio a receber dos que viveram o seu tempo e o que também haverá de receber de todos os seus pósteros, enquanto estiver viva a Memória desta terra, seja no que tange ao exercício da Medicina, seja no que toca ao Ensino da Medicina, mercê da marcante contribuição e basilar influência deste extraordinário homem de conduta modesta, de hábitos simples e morigerados, de voz mansa e cordial. O Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos era filho do Sr. Francisco Deodato Dias dos Santos e de D. Elvira de Lima Santos. Nosso homenageado teve cinco irmãos. São eles Carmélía, Cacilda, Pedro, Julieta e Marieta. Fez seus estudos primários e secundários na Cidade de Aracaju, tendo inicialmente estudado no Colégio Salesiano, educandário onde, além da instrução de boa qualidade, recebeu sólida formação religiosa. Posteriormente transferiu-se para o tradicional Atheneu Sergipense. Terminando o segundo grau, assim atualmente denominado, viajou para a Cidade do Salvador, onde ingressou em 1933 na famosa e pioneira Faculdade de Medicina da Bahia, obtendo aí uma das melhores colocações no exame vestibular. Durante o Curso de Medicina sempre se destacou na sua turma como um dos melhores alunos, tendo colado grau de Médico em 1938. Após a formatura o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos retornou a Aracaju, onde trabalhou com o competente médico local Dr. Augusto Leite, de quem recebeu grandes ensinamentos, o qual havia sido seu padrinho de formatura. Nesta estada em sua terra natal, entretanto, não se demorou muito, pois, pouco depois seguiu para o Rio de Janeiro, objetivando dar continuidade à sua formação médica. Aí freqüentou o já então famoso Serviço do Prof. Genival Londres, ilustre médico paraibano radicado em terras cariocas. Do Rio de Janeiro, em meados de 1940, veio para a Paraíba atendendo a um convite feito por Aristarcho Pessoa. Já clinicando na Cidade de João Pessoa, mas sempre pretendendo aprimorar sua formação profissional, resolveu viajar para os Estados Unidos onde permaneceu um ano, especializando-se em Cardiologia. Registre-se aqui o fato de que, naquele tempo, era ainda bastante inusitado esta atitude de procurar pós-graduacão no Exterior. Tendo regressado à Cidade de João Pessoa, certo dia conheceu na Ação Católica uma jovem paraibana, participante também da Juventude Feminina Católica, de nome Domênica Lianza, e com ela veio a convolar núpcias no dia 17 de fevereiro de 1949, passando então a se chamar D. Domênica Lianza Dias, a qual se encontra aqui presente para honra e alegria de todos nós e a quem também rendo, neste momento, minha respeitosa homenagem agradecendo-lhe sensibilizado as valiosas informações que me concedeu como subsídio fundamental para estas minhas palavras. Da sólida e feliz união entre o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos e D Domênica Lianza dos Santos nasceram quatro filhos: Selma Maria Lianza Dias (hoje senhora Dr. Klércio Holanda), Elvira Maria
Lianza Dias, Fernando Lianza Dias (casado com Ana Maria Lianza Dias), também Médico e Cardiologista de escol na Capital Paraibana, que inclusive foi meu aluno nos tempos da Graduação e, finalmente, Carmen Maria Lianza Dias (hoje senhora Francisco Alberto Pires de Moura). Todos os filhos do ilustre casal têm nível superior de instrução. Pela preciosidade do depoimento que se segue, não ousei modificar uma só palavra de D. Domênica ao esboçar este tocante perfil do seu marido, o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos: "Dedicado ao lar, foi um esposo e pai exemplar. Voltado para a vida familiar, quando não estava no seu gabinete entregue aos estudos da sua profissão, sempre cioso de mais aprender, gostava de cultivar a música, sendo o piano seu instrumento predileto. Seu gosto pela música era tanto que colocou os seus quatro filhos para estudarem no Conservatório, pois queria despertar neles o gosto pela música. As meninas adoravam piano e o menino queria que estudasse violino, chegando até a comprar este instrumento. Mas esse sonho não se realizou". Vale dizer que, quanto a este último detalhe, parece bem claro que o nosso caro Dr. Fernando José Lianza Dias, acima implicitamente assinalado por sua genitora, atualmente Médico Cardiologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), além de Médico e Membro da Diretoria do PRONTOCOR — o HOSPITAL DO CORAÇÃO nesta Cidade de João Pessoa e também Presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia (1996-1998), ao ter que se decidir, naquela época, entre a proficiente qualificação médica e o esmerado gosto artístico do seu pai, preferiu dedicar-se mais às cordoalhas tendíneas do coração do que às cordas do violino. Mas, prossigamos com aquele depoimento da D. Domênica sobre o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos: “Com seus dotes artísticos, era a música a [manifestação de Arte] que mais o sensibilizava”. Ouvia muitas músicas clássicas, mas também tinha grande interesse pelas músicas americanas. Assim, sentava-se ao piano nas horas vagas, sempre à noite e nos feriados, tocando tanto por partituras como de ouvido. Todos em casa ficavam a ouvi-lo e esquecia-se do tempo. Chegou até a compor algumas músicas, inclusive uma valsa intitulada 'Domênica' que compôs antes do seu noivado. Realizava saraus para a sua família, trazendo sempre para a sua casa o conjunto Aryoswaldo Espínola [o Patrono desta mesma Cadeira N° 04, da qual tomo hoje posse], cujos componentes era seus amigos Desembargador Paulo Bezerril, Aguimar Dias Pinto, Lázaro e Rivaldo (Rivinho) Serrano. Em certas ocasiões Luzia Simões e Gerardo Parente vinham também participar dessas horas agradáveis, tendo até trazido, certa vez, uma cantora lírica de renome. Carmela Mattozo. Trazia parte dos Amigos da Música [uma saudosa Sociedade Civil desta terra, sem fins lucrativos, cultivadora da música de boa qualidade], não perdendo os concertos no Teatro Santa Roza e na antiga Reitoria [atual sede do Escritório de Representação do Ministério da Saúde na Paraíba], cujo prédio localizava-se na Lagoa [nome tradicional do Parque Solon de Lucena]. O Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, como já se deduz do que até agora ficou dito, falava fluentemente o inglês e muitas vezes serviu de intérprete aos estrangeiros de língua inglesa que aqui arribavam numa época em que não eram muitos os que dominavam este idioma. Como membro atuante da Ação Católica o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos chegou inclusive a fundar o Ambulatório São Camilo de Lélis a fim de prestar assistência médica aos mais necessitados. Aí teve como colaboradores vários outros médicos também membros da Ação Católica, entre eles o Prof. Dr. Orlando Cavalcante de Farias, igualmente digno membro desta Academia Paraibana de Medicina. Na sua longa atuação profissional na clínica privada — graças a uma invejável e abrangente formação médica, que cada vez mais se vê menos nos dias de hoje, aliada a um temperamento afável e acolhedor, coroada por um embasamento humanístico também próprio da sua geração — o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos veio a granjear a confiança dos que o procuravam na doença e na dor, e passo a passo edificou uma vastíssima clientela, tomando-se um dos mais importantes médicos de família desta terra. E que falta fazem hoje aqueles médicos de família. Muitos de meus
parentes foram fiéis e duradouros clientes do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos. Com o passar dos anos ele iria transformar em realidade, apoiado por excelentes colaboradores associados, o que é hoje um dos mais destacados estabelecimentos hospitalares deste Estado. Refiro-me ao já citado PRONTOCOR — O HOSPITAL DO CORAÇÃO. Foi também Presidente da Sociedade Paraibana de Cardiologia. Além disso, o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos foi fundador do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba, ao qual muito se dedicou e inclusive se orgulhava de ter a inscrição de n° 01 nesta entidade de classe, tendo sido seu Presidente durante mais de dois lustros. No que diz respeito ao Ensino da Medicina e aos aspectos educacionais, incluindo os administrativos não é menos o que se pode dizer em homenagem ao Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, embora eu precise estar atento para não abusar da paciência desta seleta audiência com meus limitados dotes panegíricos. A este respeito pode-se dizer que o final da primeira metade deste Século começou efervescente na Capital do Estado da Paraíba. A 25 de março de 1950, vários intrépidos e respeitáveis profissionais da Medicina desta terra, os quais poderiam ser chamados de os Novos Cavaleiros da Távola Redonda reuniram-se em assembléia para conceber é posteriormente dar à luz as Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia da Paraíba, um verdadeiro "parto trigêmeo", como assim já foi denominado. Na ata daquela reunião inolvidável lê-se o nome do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos como um dos participantes e fundadores deste princípio de uma nova era da História local. Nesta mesma reunião o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos foi, a princípio, indicado e aclamado para assumir a Cadeira de Clinica Propedêutica Médica. Já na ata da segunda sessão da Congreção, a 01 de abril de 1950, o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos era escolhido para ser o Bibliotecário da Faculdade de Medicina da Paraíba. Na ata da terceira sessão da Congregação, ainda em 1950, verifica--se que, com o objetivo de se atender a orientações da Diretoria do Ensino Superior do então denominado Ministério da Educação e Saúde foi criada a 2ª Cadeira de Clínica Médica ficando ela a cargo do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos que, assim, deixava vaga a Cadeira de Clínica Propedêutica Médica, a qual veio a ser ocupada nesta ocasião pelo Prof. Dr. José Clementino de Oliveira Júnior e, a seguir, ainda na fase de estruturação organizacional desta Faculdade, passou à responsabilidade do Prof. Dr. Múcio de Carvalho Baptista, meu saudoso primo, recente e devidamente homenageado aqui pelo nobre Acadêmico Prof. Dr. Mário Toscano de Brito Filho. Naquele remanejamento organizacional o Prof. Dr. José Clementino de Oliveira Júnior ficou com a Cadeira de tisiologia. Nas laboriosas lides que mediaram a criação da Faculdade de Medicina da Paraíba em 1950 e o seu efetivo funcionamento em 1952 muitos esforços/foram despendidos para levar a cabo e a contento tão corajosa empreitada. Finalmente, no dia 15 de março de 1952 ocorreu a instalação solene da Faculdade de Medicina da Paraíba no Teatro Santa Roza, cuja documentação fotográfica mostra o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos na segunda fila, tendo ao lado, por coincidência, o Prof. Dr. Antônio d' Ávila Lins, pai deste que vos ala. Também não custa lembrar aqui que o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos figurou como membro do Primeiro Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Faculdade de Medicina da Paraíba, juntamente com o Prof. Dr. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira que é, por assim dizer, meu padrinho de apresentação nesta Casa, além dos saudosos Professores Doutores Luiz Gonzaga de Miranda Freire, Newton Nobre de Lacerda, Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega e Lauro dos Guimarães Wanderley, e ainda o senhor Robson Duarte Espínola na qualidade de Secretário. É digna de registro a mais do que destacada participação e correspondente contribuição do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos — sempre muito atento para o desenvolvimento do nível de qualidade do Ensino Médico deste Estado — na vida acadêmica e administrativa da nossa antiga e muito honorável Faculdade de Medicina (melancolicamente rebaixada mais tarde à condição de mero Curso de Medicina do Centro de Ciências da Saúde, entre os demais que o constituem).
Graças à sua dedicada atuação como Professor e à sua natural liderança, seu nome estava sendo sempre lembrado para os cargos de maior realce daquela arrojada Instituição de Ensino Superior. Tanto é assim que, ainda no dia 23 de julho de 1964 a Egrégia Congregação da ainda então denominada Faculdade de Medicina, presidida pelo Magnífico Reitor Prof. Dr. Guilardo Martins Alves, reuniu-se para compor uma lista tríplice objetivando a escolha do novo Diretor desta Faculdade pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República, bem como para escolher, em eleição direta, o novo Vice-Diretor da mesma entidade educacional. Para o primeiro cargo coube a escolha ao Prof. Dr. Lauro dos Guimarães Wanderley e para o segundo cargo a indicação recaiu na pessoa do Prof. Dr. António Dias dos Santos que, após a posse no dia 05 de setembro de 1964, teve logo que assumir a direção desta Faculdade por motivo de viagem do novo Diretor. Ao longo daquele período o nome do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos apareceu inúmeras vezes nos anais da mencionada Faculdade de Medicina em função de suas valiosas contribuições para o aprimoramento da estrutura curricular, tais como a proposta para a criação de mais uma matéria de transcendental importância, a Psicologia Médica. Esta proposta, quero crer, se inspirava na então recente aprovação unânime de uma moção recomendando a mesma iniciativa em todas as Escolas Médicas do País, apresentada originalmente na Cidade do Salvador por ocasião do encontro nacional da Associação Brasileira das Escolas Médicas (ABEM), a que o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos esteve presente representando a Faculdade de Medicina da Paraíba, e proposta naquela ocasião pelo meu dileto Mestre Prof. Dr. José Fernandes Pontes, Membro da Academia Nacional de Medicina e um dos Pais da Gastroenterologia Brasileira como especialidade médica independente. Além disso, propunha o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, naquele seu estudo curricular, o desmembramento da Bioestatística, que era ministrada no currículo da Higiene, como matéria independente, acrescentando até propostas no que tangia à Anatomia. Na ocasião a Congregação aprovou sem reparos as sugestões do nosso homenageado. Não ficou por aí as oportunas e bem embasadas contribuições do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos na área da Educação Médica deste Estado. Muito mais poderia ainda ser dito aqui neste sentido, mas continuemos com algumas breves notícias sobre a sua brilhante trajetória administrativa naquela mesma Faculdade. Embora não tivesse sido o escolhido para o cargo de Diretor da mesma Faculdade de Medicina por ocasião da composição da lista tríplice elaborada pela sua Congregação no dia 26 de julho de 1967, todavia, o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, foi o mais votado dos três Professores indicados naquela lista. Alguns anos mais tarde, entretanto, a 13 de novembro de 1971 o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos veio a tomar posse como o novo Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, juntamente com o Vice-Diretor, o meu caro Prof. Dr. João Cavalcante de Albuquerque, igualmente respeitável membro desta Academia Paraibana de Medicina. Com o advento da chamada Reforma "Cêntrica", que tantos malefícios trouxe para o Ensino Superior deste País, particularmente nas Universidades Federais e especialmente quando associada à chamada "Democracia Universitária", o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos, mercê da sua vasta experiência, veio a ser escolhido a 02 de abril de 1974 o primeiro Diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Entre os anos de 1974 e 1975 o nosso homenageado, na condição de Professor Titular mais antigo da Universidade (ex-Professor Catedrático) veio a assumir interinamente, por três vezes, a Reitoria da UFPB, sendo duas delas em 1974 e uma em 1975. No início dos anos oitenta o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos foi escolhido, por duas vezes consecutivas, o Chefe do Departamento de Medicina Interna do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, cargo que, cerca de uma década mais tarde, também tive a honra de ocupar, igualmente durante duas gestões consecutivas. De uma forma muito carinhosa e agradecida registro aqui novamente que tive o privilégio de ser colega do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos como membro do Corpo Docente da Disciplina de
Gastroenterologia que ele coordenou durante muito tempo com a sua sólida formação médica de abrangência geral, promovendo o seu desenvolvimento de forma bastante eficiente e dedicada. Por coincidência, com muita honra ocupo hoje, já há mais de uma década, o mesmo cargo na mesma Disciplina de Gastroenterologia. Sou também testemunha viva da sua postura magnânima e exemplar na nossa Disciplina, pois, parece que às vezes ele até se esquecia da sua condição de chefe incontestável e líder experiente como poucos e submetia sua opinião ao parecer dos colegas a ele subordinados, quase todos antigos alunos seus, todos bem mais jovens e menos experimentados que ele. Nunca o vi assumir a postura do Magister dixit. Foi um dos mais liberais Catedráticos que conheci e me credencio para assim falar porque eu sou do tempo das Cátedras, bem como não tenho receio de dizer em alto e bom som que, apesar dos seus tão decantados defeitos, na realidade bem menores que os da vigente estrutura universitária, sinto muita falta delas. Falei a pouco da magnanimidade do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos e, permitam-me, meus senhores e minhas senhoras, que eu apresente aqui uma pequena ilustração desta sua característica. Tive em mãos, há poucos dias, o ofício n° 08 com data de 27 de fevereiro de 1980, enviado pelo então Diretor Técnico do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB, Dr. Ricardo Antônio Rosado Ma ia, agradecendo ao referido Professor "a doação de 92 volumes de livros textos de medicina, vários instrumentos médicos e uma grande quantidade de periódicos de procedência nacional e de vários países". O ano de 1984 marcou a aposentadoria do Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos. Como não poderia deixar de ser, a sociedade paraibana começou então, de uma maneira mais destacada, por todos os motivos imagináveis, a retribuir a um dos seus filhos alóctones mais ilustres, os benefícios dele auferidos durante toda uma existência devotada ao engrandecimento desta terra. Assim, a 21 de dezembro de 1984 o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos veio a receber da Universidade Federal da Paraíba o altamente significativo título de Professor Emérito para júbilo de todos que o conheceram ou com ele trabalharam. Ademais recebeu, com toda a justiça, os títulos de Cidadão Pessoense e Cidadão Paraibano, uma confirmação de direito de fatos já públicos e notórios. Com o seu falecimento no dia 31 de agosto de 1992 a Universidade Federal da Paraíba e, mais especificamente, o Hospital Universitário Lauro Wanderley desta Universidade lhe fez mais uma carinhosa homenagem dando ao enorme bloco de assistência médica ambulatórial, anexo a este mesmo Hospital, a denominação de "Ambulatório Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos". Enfim, no dia 11 de dezembro de 1981, nesta Academia Paraibana de Medicina, sob a Presidência do muito caro Prof. Dr. José Asdrubal Marsíglia de Oliveira, o Prof. Dr. Antônio Dias dos Santos tomou posse como o primeiro Acadêmico Titular da Cadeira N° 04, de que é Patrono o Dr. Aryoswaldo Espínola da Silva, Cadeira esta da qual também tomo posse hoje e este específico evento constitui certamente a terceira encruzilhada comum da sua e da minha vida, encruzilhadas estas que o Destino, cumprindo os seus desígnios insondáveis, caprichosamente escolheu e desenhou tal qual medalhas que honorificamente haverei de portar com vaidade justa até o final dos meus dias. Tenho dito.
CADEIRA Nº
13
Patrono:
Dr. FRANCISCO CAMILLO DE HOLLANDA
1º ocupante:
Dr. EUGÊNIO DE CARVALHO JÚNIOR
Data de posse: 08/04/1999
2º ocupante:
João Gonçalves de Medeiros Filho
Saudação:
Marco Aurélio de Oliveira Barros
08/04/1999
Saudação ao: Dr. JOÃO GONÇALVES DE MEDEIROS FILHO Cadeira nº 13 Por: Marco Aurélio de Oliveira Barros
Meus Senhores Minhas Senhoras Conheci João Gonçalves de Medeiros Filho, adolescente, sempre ao lado dos seus pais João Toscano Gonçalves de Medeiros e Maria Eunice Londres de Medeiros, do seu irmão Jacinto Medeiros nas diversas atividades sociais. Testemunhei seu ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba. Acompanhei sua vida acadêmica e participei dela em alguns momentos. Segui sua longa e brilhante pós-graduação no Sul do País. Observei o início de suas atividades como docente e Médico em nosso meio, desde o princípio, com sucesso. Assim, meus senhores e minhas senhoras, não poderia negar o quanto me honro e me alegro neste instante, em ter sido a pessoa convidada para saudá-lo, como o mais novo Titular da Academia Paraibana de Medicina. E ainda mais, numa circunstância histórica muito feliz, muito difícil de ser repetida, qual seja a do seu pai, Professor João Toscano Gonçalves de Medeiros, ser um dos nossos Patronos e seu irmão Jacinto Medeiros, um dos nossos académicos titulares fundadores e, atualmente, o nobre presidente desta casa. Para ingressar numa academia de Medicina, conquistar a imortalidade, é necessário ser médico, porém não basta isto, é indispensável que tenha sido ao longo da vida, desde a juventude, um ser humano reconhecido por outras qualidades, como foram os nossos patronos, os acadêmicos fundadores, os
novos acadêmicos que aqui chegaram e, certamente, os que vierem no futuro. Médicos e pessoas de bem, que não honram apenas a profissão mas são exemplos para aqueles que com eles convivem. É por isto, meus senhores e minhas senhoras, que quando saudamos um novo acadêmico, registramos além do MÉDICO, o HOMEM. O médico João Medeiros iniciou seus estudos, o curso primário, no Externato Diocesano S. José e ali estudou de 1955 a 1959. Graças à sua dedicação ao estudo, antecipou o exame de admissão, na época um verdadeiro vestibular, ingressando no GINÁSIO ARQUIDIOCESANO PIO XII, em 1960, onde concluiu o curso Ginasial em 1963. Os dois primeiros anos do Curso Científico foram realizados no Liceu Paraibano, 1964/1965, considerado uma das melhores instituições de ensino em nossa capital. O 3° ano Cursou no Colégio Universitário, uma experiência de ensino apoiada pela Universidade Federal da Paraíba e que, infelizmente, não teve continuidade. A qualidade do aprendizado que teve no curso ginasial e científico, ao lado da sua permanente dedicação ao estudo, permitiu que em 1967, João Medeiros Filho fosse aprovado em 1° lugar no vestibular para ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade da Paraíba. Na Faculdade de Medicina, além de ter sido um aluno extremamente dedicado para com suas obrigações académicas, nas diversas disciplinas do curso médico, João Medeiros procurou aprimorar sua formação, adquirindo desde cedo, experiência na prática da Medicina. Foi aprovado em 1° lugar no concurso para Monitor de Fisiologia, no INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UFPB e, também, no concurso para acadêmico plantonista do Banco de Sangue da Maternidade da Legião Brasileira de Assistência - LBA. Além destas atividades, durante o curso médico, estagiou em várias outras instituições, tais como, Maternidade Flávio Ribeiro Coutinho, Instituto da Medicina da Criança, Serviço do Professor João Medeiros, Pronto Socorro Municipal, Hospital Samaritano, AMIP, Hospital EDSON Ramalho e no último ano, no internato, estagiou no SAINT FRANGIS Hospital, em HARTFORD, Estado de CONNECTICUT, nos Estados Unidos, através do programa de intercâmbio patrocinado pelos companheiros das AMÉRICAS. PARAÍBA-CONNECTICUT. Durante o curso médico, João Medeiros Filho teve a oportunidade de participar de inúmeros cursos de extensão universitária, realizados aqui na Paraíba, nos outros Estados do Nordeste e no Sul do País. Esta intensa atividade médica, teórica e prática, possibilitou que João Gonçalves de Medeiros Filho concluísse o curso médico em 29 de Dezembro de 1972, classificado em 1° lugar. A Pós-Graduação de João Medeiros foi longa e também brilhante, de 1973 a 1979. Teve início como médico residente de Pediatria do Hospital dos Servidores do Estado - IPASE, no Rio de Janeiro, na época a mais famosa instituição médica brasileira. A residência foi concluída em Dezembro de 1974 e durante este período João Medeiros fez o curso de especialização em Pediatria pela Escola de Graduação Médica Carlos Chagas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1975, dando continuidade à sua formação, iniciou o curso de pós-graduação a nível de mestrado na Universidade de São Paulo, concluído em 1977, com a aprovação de sua tese: Balanços de Sódio, Potássio, Magnésio e Nitrogénio, em recém-nascidos a termo, nos primeiros dias de vida. Logo em seguida, após a conquista do TÍTULO DE MESTRE, matriculou-se no curso de Pós-Graduação, a nível de Doutorado na Universidade de São Paulo, concluído em 1979, com a
aprovação da tese "Contribuição ao estudo do METABOLISMO HIDRO-SALINO em recém-nascido pré-termo, na segunda semana de vida. Doutor em Medicina, João Gonçalves de Medeiros Filho, retornou a João Pessoa, onde desenvolve até o presente, uma intensa atividade universitária e também como profissional liberal. Na Universidade Federal da Paraíba João Medeiros já atingiu o nível de Professor Adjunto IV e, certamente, em breve, o de Professor Titular de Pediatria quando houver a abertura do respectivo concurso, nos próximos anos. João Medeiros foi chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Universitário Lauro Wanderley, do Serviço de Neonatologia e Presidente da Comissão de Residência Médica. Nos últimos anos orientou oito teses de mestrado e participou de 26 Bancas Examinadoras. Integrou neste período inúmeras comissões constituídas com o objetivo de melhorar o funcionamento do curso médico, da nossa Pós-Graduação e do Hospital Universitário Lauro Wanderley. Neste período, João Medeiros publicou 26 artigos em periódicos e livros, tendo também apresentado 37 trabalhos em Congressos Médicos. Ao lado desta intensa atividade Acadêmica, João Medeiros conseguiu também exercer, com sucesso, a profissão de Médico, tendo sido o primeiro Pediatra com formação especializada em Neonatologia de João Pessoa.
O homem João Medeiros nasceu no dia de hoje, 08 de Abril, às 18:00h de uma sexta-feira santa, na Maternidade São Vicente de Paula, sob os cuidados dos Doutores ANTÔNIO D'ÁVILA LINS e OSÓRIO ABATH, Patronos da nossa Academia e grandes médicos naquela época. O parto foi através de uma cesariana, com anestesia local, provavelmente a primeira na Paraíba nesta condição, com a aquiescência do Professor João Medeiros e em função da situação clínica de D. Eunice. Apesar das dificuldades do parto de Joãozinho Medeiros, a sua infância foi de uma criança sadia. Um dia, quando já havia completado o seu 1° ano de vida, o Professor João Medeiros convocou Jacinto, 15 anos mais velho, ao seu gabinete, o que sempre fazia nos momentos mais sérios, principalmente na ocasião das reprimendas e dos aconselhamentos. Jacinto, disse seriamente: -Desejo lhe fazer um convite, irrecusável. Quero que você seja meu compadre. Sou uma pessoa muito ocupada, como médico e professor, quero que você me ajude e a Eunice tomar conta do Joãozinho. O convite, realmente era quase uma ordem e assim Jacinto e sua tia, Terezinha Medeiros tornaram-se padrinhos de batismo do garoto Joãozinho. Na realidade, os cuidados de Jacinto nunca foram muito necessários, nem naquela época, nem na adolescência, nem como académico e nem como jovem médico. Joãozinho Medeiros sempre foi bem comportado e estudioso e graças a isto, de acordo com o Prof. João Medeiros e D. Eunice, conseguiu antecipar a data do exame de admissão, permitindo com isto, que no curso médico, no seu último ano, tivesse como Professor de Pediatria, o seu ilustre Pai, nas vésperas da aposentadoria compulsória. Como adolescente e universitário, participou das atividades sociais, dos aniversários, dos assustados, das festas no Clube Universitário, dos passeios na Lagoa, dos bate-papos na BAMBU, acompanhado de amigos como Carlos Coelho, Éwerton Holanda, Sérgio Porto e outros. O "Ron Montilla" era sua bebida predileta, em quantidade moderada e sempre chagava cedo em casa. Não tinha carro, Jacinto era sempre seu motorista fiel e amigo. Muitas paqueras, rapaz estudioso, boa família, falando inglês, francês e um pouco de alemão.
Em outubro de 1974, a vida começou a mudar, quando após um ano como residente do Hospital do IPASE, iniciou o seu namoro com Maria Lúcia, uma médica de Alagoas. Casaram-se em janeiro de 1984, na cidade de Maceió, na Igreja Santa Rita, com a presença de uma grande comitiva de paraibanos. A lua de mel aconteceu em Miami. Matheus e Lucas são os dois filhos que alegram, em todas as horas, o lar de Joãozinho e Lúcia, com suas peraltices, seus interesses pelo estudo e suas companhias nos fins de semana na fazenda ou na praia, próximo à Lucena. João e Lúcia Medeiros fazem parte do movimento religioso ECC. Encontro de Casais com Cristo e semanalmente os vejo, acompanhados de Mateus, Lucas e D. Eunice, na Missa da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes. João Medeiros e Lúcia exercem suas atividades no mesmo local, num consultório na rua Odon Bezerra, com ética, dedicação, competência e honestidade. Os ensinamentos e exemplos recebidos de seu pai, João Toscano Gonçalves de Medeiros, a presença marcante e sempre cuidadosa de sua mãe, D. Eunice, a fraternidade permanente de Jacinto, a sincera amizade de Aparecida e do sobrinho João Manoel, o amor de Lúcia, Matheus e Lucas, o respeito dos colegas, o carinho dos amigos, a admiração dos alunos, e o reconhecimento dos clientes, nos dizem quanto é grande o HOMEM e o MÉDICO que estamos recebendo hoje na Academia Paraibana de Medicina. Parabéns João Medeiros, seja Bem-Vindo à nossa casa.
08/04/1999
Elogio ao 1º ocupante: Dr. EUGÊNIO DE CARVALHO JÚNIOR Cadeira nº 13 Por: Dr. João Gonçalves de Medeiros Filho
Meus senhores: Ao transpor o pórtico desta Academia, nesta noite inesquecível de 8 de abril de 1999, ao vislumbrar o início do salutar convívio de tão ilustres pares, que doravante haverei de ter a honra de desfrutar, sinto-me tolhido por profunda emoção. É que para mim, este momento representa marco indelével na minha trajetória profissional, no exato dia em que completo meio século de existência. Percebo, por outro lado, a magnitude da responsabilidade e do compromisso que ora assumo, de não desmerecer o crédito de confiança que me foi outorgado pela egrégia comissão julgadora que aprovou minha modesta produção científica, permitindo-me ascender ao patamar deste seleto e limitado grupo de companheiros. E, neste sentido, haverei de guardar na lembrança o parecer do eminente acadêmico José Asdrúbal Marsíglia de Oliveira, anatomista dos mais respeitados e certamente o mais rígido de todos mestres com quem tive o privilégio de conviver, nos primórdios de minha formação médica. Chego, portanto, a esta Academia, embotado pela timidez e, como teria dito João Medeiros:.... "premiado e acolhido em vossa companhia pela indulgência que cativa e a amizade que, cega de nascença, tudo explica e per doa". Meus senhores: Permitam-me que eu faça algumas digressões preliminares, antes de proceder ao elogio do meu antecessor, o acadêmico Eugênio Carvalho Júnior, objetivo maior desta sessão. Transcorridos hoje, 50 anos, sou instintivamente conduzido a uma reflexão sobre o caminho percorrido e, ao mesmo tempo, compelido a reverenciar aqueles que rne ajudaram a cumprir essa trajetória. Nascido e criado nesta pequenina, porém, encantadora cidade, tive a felicidade de contar com o apoio e a dedicação diuturnos de meus pais, desde a mais tenra idade. Minha mãe,cuja presença neste recinto muito me comove, através do carinho e da abnegação ainda hoje, graças a Deus, na lucidez de seus quase 90 anos, constitui abrigo para as minhas inquietações. Meu saudoso pai, homem austero e detentor de sólida formação profissional e humanística mas, antes de tudo, de elevada sensibilidade e dedicação ao próximo, através de seu exemplo e de sua aguçada visão, procurou apontar-me o caminho, nos meandros dessa conturbada vida hodierna. Permitam-me a imodéstia de afirmar que seu nome merece estar inscrito na nossa História, como o professor e médico de alto espírito altruísta e batalhador incansável em prol da criança. E nesse contexto, sua postura nos faz lembrar os versos, do gênio da pintura e da escultura, Miguel Angelo: "Nem Deus se mostra em qualquer outra parte mais claramente que em sublimes figuras humanas; e estas amo, porque n 'Ele se espelham."
Encontrei também em meu único irmão Jacinto, grande apoio e incentivo, durante toda minha vida acadêmica, esforçando-se sempre para preencher a lacuna deixada com a perda prematura de meu pai, quando, recém-graduado, ainda cursava residência médica. Casei-me com uma alagoana de Quebrangulo, também médica que tive a felicidade de conhecer, nas minhas andanças pelo Rio de Janeiro. Mãe e esposa dedicada, tem sido meu esteio na criação de nossos adoráveis filhos, Matheus e Lucas, a quem temos nos empenhado em transmitir a noção do real sentido e dos valores da vida. Abracei a Pediatria, especialidade das mais complexas, pela fragilidade da criança, pela grandeza de suas implicações médico-sociais e por sua visão eminentemente preventiva. Seduziu-me aquele olhar meigo e belo da criança sadia e bem nutrida, tanto quanto me sensibilizou a agonia daquela desamparada e moribunda. Passados quase trinta anos de exercício da Medicina, devo entretanto, confessar, neste instante, o meu desapontamento: apesar dos grandes avanços que marcaram o progresso da humanidade, nas últimas décadas, da conquista da lua à erradicação da varíola e da paralisia infantil, do milagre das telecomunicações - a internet - à clonização de embriões,ainda amargamos taxas inaceitáveis de morbimortalidade infantil e de miséria. Velhas doenças, já escanteadas dos compêndios médicos - o cólera, a dengue, ressurgem com toda sua pujança, caracterizando grave patologia social. As maravilhas da tecnologia não conseguiram infelizmente, decifrar o segredo da paridade entre os homens. Embora tenha envidado esforços no sentido de realizar o melhor, procurando seguir critérios os mais corretos e os mais éticos, dentro de minhas limitações, reconheço que ainda há muito a ser feito. Por isso, devo reafirmar, aqui e agora, minha disposição de continuar batalhando pela criança, qualquer que seja sua condição social. Certamente, a oportunidade de ingressar nesta Augusta Academia haverá de constituir um forte alento para este modesto médico pediatra. Ao finalizar estas colocações iniciais, quero expressar o meu sensibilizado agradecimento ao Acadêmico Marco Aurélio de Oliveira Barros, profissional da melhor estirpe, de quem muito aprendi, nos bancos escolares e que me propiciou a oportunidade de realizar o internato nos Estados Unidos, quando presidia a entidade Companheiros da Americas na Paraíba, em 1972, pelas referências elogiosas à minha pessoa. Estou convencido de que a condescendência de suas palavras somente poderia ser justificada pelos laços de amizade que nos aproximam; suas considerações, decerto, emanam da alma e não da razão. Seu brilho nesta solenidade haverá de compensar o apagamento da minha irrelevância. Meus senhores: Irei proceder agora, com muita satisfação e, conforme preceituam as normas regimentais desta Academia, ao elogio ao meu antecessor, o Ac. Eugênio Carvalho Júnior.
Eugênio Carvalho Júnior: O Médico e o Poeta. Encontrava-se o saudoso mestre, um dos eminentes fundadores e, à época, Diretor da Faculdade de Medicina da Paraíba, Dr. Newton Nobre de Lacerda, numa de suas perigrinações pela antiga capital federal, à cata de notórias inteligências para integrar o corpo docente da Escola que então se implantava. Caminhava, certo dia, na rua México, ao lado de outro paraibano, Dr. Onildo Leal, chefe do Departamento Médico do antigo IAPC, quando, casualmente, avistaram Eugênio Carvalho, que seguia distraidamente pela mesma artéria. "Eugênio, você caiu do céu," interpelou Dr. Onildo. "Este senhor é o Prof. Newton Lacerda, da Faculdade de Medicina de João Pessoa, que veio ao Rio à procura de um professor de Bioquímica, e ninguém melhor do que você para ir ensinar na minha terra".
A partir desse instante, dessa feliz coincidência, travou-se uma amizade e formalizou-se o convite que culminaria com sua transferência, em caráter definitivo para a Paraíba. Foi assim que Eugênio Carvalho chegou à terra tabajara, naquela noite de 4 de agosto de 1953, movido pela força do destino, segundo suas próprias palavras no discurso de posse na Academia Paraibana de Letras: "Natural do Estado da Guanabara, jamais passara pela minha mente que algum dia pudesse deixar a minha cidade maravilhosa, meu ambiente, minha família e meus amigos, para viver em outras plagas. Mas o destino tece a sua trama, faz-nos de joguete, põe por terra nossos planos e somos arrastados na correnteza dos acontecimentos, como frágil folha levada ao sabor da corrente". Aliou-se, então a uma plêiade de professores idealistas, de intrépidos desbravadores, entre outros, Humberto Nóbrega, Antônio Dias, João Medeiros, Asdrúbal Oliveira, Lauro Wanderley, Newton Lacerda, Antônio d'Ávila Lins, Danilo Luna, Atílio Rotta que lançaram as raízes da Faculdade de Medicina da Paraíba. Nasceu Eugênio Carvalho Júnior em Vila Isabel, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1914. Era filho de Eugênio Carvalho e Eulina Gomes de Carvalho. Do primeiro casamento deixou as filhas Rosa Marília e Tália Marilia. Pouco mais de um ano após sua chegada na Paraíba, em 11 de dezembro de 1954, contraía núpcias com Ofélia Gondim, bacharel em Direito e atuante professora universitária, de cuja sólida e feliz união, que persistiu até seus últimos dias de vida, nasceram os filhos: Maria Eulina, Eugênio Neto, Edson e Elson. Tratava como filhas, suas noras - Adriana, Rossana e Diana -, tal o carinho que lhes dedicava. Do matrimônio dos filhos, deixou os netos: Rafaela, Elson , Igor, Daniel, Valentin, Maíra, Débora, Daína e Eugênio, muitos dos quais tive a satisfação de prestar assistência, graças à confiança depositada no modesto pediatra, pelos pais e pelo velho mestre, inclusive em momentos os mais cruciais. Sempre bem humorado e com o otimismo daqueles que não se curvam às intempéries da vida, era de uma dedicação ímpar aos filhos e netos e à amada esposa. Seu amor e carinho com a família foram amplamente externados através de belos sonetos dedicados a cada um deles. Sobre seu filho Edson, por exemplo, escreveu: " Ao alvorecer da vida, meu filhinho, Quem te fala é, teu pai, teu grande amigo, Que em tuas dores sofrerá contigo, Sem que derrames lágrimas sozinho. Se eu puder, terás flores no caminho, Estrada diferente da que sigo; Nada espero da vida, mas bendigo A graça de gozar do teu carinho. Sê bom, sê justo, sê condescendente, Não te julgues dos outros diferente, Embora a sorte te bafeje mais. Na humildade te faças respeitado: Um homem vale pelo seu passado - Segue o exemplo da vida de teus pais!”“ Homem simples, esbelto, de gestos comedidos, quando o conheci já tinha cabelos encanecidos. No dia-a-dia, misturava-se com os filhos e, mais tarde, com os netos, com grande apego, ao lado se sua inseparável esposa. Sempre afeito à leitura, costumava realizar serviços caseiros, quando lhe adveio a aposentadoria.
Consta que, durante a mocidade, foi jogador do time juvenil do América do Rio de Janeiro sendo, até os últimos dias, um dos raros sofredores de sua torcida, aqui na Paraíba, ao lado de Francisco Leocádio. Talvez, por essa razão, tenha sido um grande incentivador dos filhos, em relação à prática de esportes. Um deles, o Eugênio Neto, foi talentoso jogador da seleção do Cabo Branco e do Santos. Enxadrista, freqüentava com regularidade o Clube Cabo Branco, chegando, inclusive, a ocupar sua diretoria social. Formado pela Faculdade Nacional de Medicina, em 1941, desde logo iniciou profícua carreira universitária, na qualidade de assistente efetivo de Química Fisiológica da famosa Escola da Praia Vermelha. Diplomou-se também em Química Orgânica pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil e, como nutrólogo, através de Curso de Nutrição do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), classificando-se em 1° lugar. Tornou-se, subseqüentemente, docente dos cursos de Nutrólogo e Nutricionista do mesmo serviço. Lecionou como assistente e, mais adiante, na condição de Professor Catedrático, a disciplina de Química Orgânica e Biológica da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Rio de Janeiro, tendo sido, também, docente de Química da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, em Niterói. Foi Médico Metabologista do ex-IAPC do Rio de Janeiro, classificando-se em 1° lugar, no concurso de admissão. Contratado em 1953, pela Faculdade de Medicina da Paraíba, para lecionar a cadeira de Química Fisiológica. Exerceu ainda, as funções de Professor de Nutrição e Dietética e Dietoterapia da Escola de Enfermagem da Paraíba. Na Universidade Federal da Paraíba, foi assistente de clínica médica e professor-Adjunto e Regente da Disciplina de Nefrologia, tendo como assistente um outro apóstolo da Medicina - Hugo Montenegro Abath, precocemente arrebatado do nosso convívio. Recordo-me com clareza, quando passei pela Disciplina de Terapêutica, nos idos de 1971, da postura do saudoso mestre: sua calma, sua fluência, sua didática simples, porém, prática e persuasiva. Causava-me espécie a facilidade com que descrevia fórmulas quilométricas de fármacos no quadro negro, sem recorrer a apontamentos, sem usar recursos áudio-visuais sofisticados. Hoje, ao analisar o seu farto currículo, entendo a razão de tamanha familiaridade com a profissão e a docência. Participou de diversas bancas examinadoras de Química em exames vestibulares de Medicina e de Odontologia, no Rio de Janeiro e em concursos para farmacêutico do ex-IAPC, em diversas capitais brasileiras. Em 1967, realizou o curso "Nutrición em Salud Publica" no Instituto de Nutrición de CentroAmerica Y Panamá (INCAP),na Guatemala, como bolsista da OMS. Desenvolveu diversas atividades administrativas e ocupou inúmeros cargos de chefia. Coordenou o Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Universitário Lauro Wanderley e o setor de Pós-Graduação e Pesquisa na Área da Saúde da UFPB. Chefiou os laboratórios clínicos do HULW - UFPB, o ambulatório médico do ex-IAPC de João Pessoa e foi Diretor do Departamento de Assistência Hospitalar da Paraíba e dos Cursos de Nutrição do SAPS, no Rio de Janeiro. Ocupou, interinamente, o cargo de Secretário Estadual de Saúde, durante o governo de Pedro Gondim. Proferiu inúmeras conferências, foi debatedor de mesas-redondas, coordenou simpósios e trabalhos de pesquisa, sempre voltados para temas relacionados com alimentação e nutrição e, portanto, dotados de forte conotação médico-social. Neste particular, vale salientar a coordenação do trabalho, do IV SIBAN, "Peso das crianças Paraibanas aos 3,6, 9 e 12 meses e seus hábitos alimentares". Recebeu muitos títulos honoríficos e comendas e era membro de diversas sociedades: Cidadão Pessoense, Sócio fundador da Sociedade Brasileira de Nutrição, da Federação Brasileira das
Academias de Medicina, tendo sido seu 3° vice-presidente, em 1992, da União Brasileira de Trovadores, da qual também foi presidente. Em 16 de setembro de 1972, tomou posse na Academia Paraibana de Letras, passando a ocupar a cadeira n° 2, tendo como antecessor o Ac. Oscar de Castro, figura extraordinária de médico e humanista, e cujo patrono era outro paraibano ilustre, Manoel Arruda Câmara, médico, político e cientista de grande envergadura. No seu discurso de posse, muito modesto em suas colocações, afirmava: "nunca pensei, porém, que a generosidade dos paraibanos chegasse a ponto de conceder-me tamanha honra e tão alto prêmio: fazer parte da Academia Paraibana de Letras". E, mais adiante sentenciava: "A Medicina e a Poesia casam-se bem e, talvez por essa razão, Apolo era Deus da Medicina e da Literatura". Dr. Higino Brito, também um misto de médico e homem de letras, na saudação de posse do novel acadêmico, parodiando Matias Freire, que, em notável soneto, afirmara sobre si próprio... "Padre e poeta, archanjo e passarinho"..., definiu Eugênio Carvalho como "Médico e poeta, esteta e professor”. Entre os títulos honoríficos recebidos, merecem destaque: - Medalha comemorativa dos 40 anos de fundação dos Cursos de Nutrição, no Brasil; - Comenda do Mérito Médico, pelos relevantes serviços prestados à Medicina e ao povo da Paraíba, conferida pela Associação Médica da Paraíba; - Título de Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba, concedido pelo egrégio Conselho Universitário, em 1987; - Certificado de Sócio Jubilado da Associação Médica Brasileira, em 1989; - Elogio do Centro de Ciências da Saúde, pelo empenho na implantação e fundação do Curso de Graduação em Nutrição, em 1991; - Diploma de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados, na qualidade de fundador do Curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da UFPB, em 1994; - Diploma de Homenagem Especial, por sua importante contribuição ao Departamento de Promoção da Saúde do CCS-UFPB, na passagem de seu Jubileu de Prata. O desafio parecia exercer grande fascínio sobre Eugênio Carvalho. Participou de diversos concursos na sua especialidade, sempre se destacando entre os primeiros; como poeta e trovador esteve presente em grande número de certames, nos mais longínquos rincões deste país, sempre alcançando posição de destaque. Como fundador e presidente da União Brasileira de Trovadores deu grande incentivo aos trovadores paraibanos, criando oportunidade para que se classificassem em Concursos de Trovas e Jogos Florais por esse Brasil afora. Sempre assíduo às contendas, colecionou uma infinidade de diplomas, trofeus e medalhas. Em 1986, venceu concurso instituído pelo Detran para selecionar "slogan " educativo, alusivo à semana nacional do trânsito, com os dizeres: " Não transforme em Vermelho o sinal Verde da vida". Obteve prêmios importantes em Concursos de Poesias, devendo-se destacar, entre as laureadas: Terra Seca e Soneto a meu Filho, ambas em eventos realizados na casa do poeta Lampião de Gás, em São Paulo, e Desencanto, na Academia Internacional de Letras, situada no Rio de Janeiro. Sua linguagem era simples; além das trovas, usava as quadrinhas e os sonetos como forma de comunicação, ora recheados de senso de humor, ternura, ora demonstrando elevada sensibilidade pelos problemas mais aflitivos da conjuntura nacional. Valia-se da poesia para divulgar ensinamentos relevantes, numa linguagem coloquial e acessível.
Foi assim que publicou diversos livros aqui e alhures. O primeiro deles, editado pela Comissão Nacional de Alimentação, em 1966 e intitulado História das Vitaminas, foi dedicado pelo autor "Para Crianças Que Já Saibam Ler e Adultos Que Precisem Conhecer". Com clareza, boa dose de humor e respaldo científico, expõe conhecimentos básicos sobre tema relevante em nutrição,ao alcance de escolares,propiciando dessarte, ampla divulgação. Vejam-se, por exemplo, alguns trechos sobre Vitamina A: "Vamos então começar Pela vitamina A, Dizendo para que serve E também onde ela está! Um óleo que é muito rico E de gosto não é mau, É o óleo feito do fígado De um peixe: o bacalhau. Os vegetais e as frutas De cor verde ou amarela, Contêm vitamina A, Pois todos são ricos nela! Seguiram-se na mesma linha, outras publicações: História das Proteínas, História dos Minerais, Conselhos de Alimentação e Educação Alimentar; este último, representado pela fusão dos quatro livros anteriores, num só volume, contando com quatro edições: uma da Comissão Nacional de Alimentação e três, da Imprensa Universitária da UFPB, sendo também publicado em Portugal, em fascículos populares (DIESE - Lisboa) e pela editora ITAU, com tiragem de 10.000 exemplares para serem distribuídos em todos os países de Língua Portuguesa. Ao prefaciá-lo, Júlio Roberto afirmava "Pôr em versos o ensino da alimentação - questão social, política , econômica - é como fazer rimar a Natureza; erva com a flor, a areia com a praia, o sol com o mar . E mais do que rimas, a graça, o pitoresco, o sentido da subtileza e da doçura que ele tem porque o é assim na vida pessoal - fica essa lição magistral de que o ensino não é inevitavelmente fonte de sofrimento ou de esforço." Escreveu, subseqüentemente, Medicina e Poesia, que teve duas edições, abordando temas atuais e de importância médico-social. Adotando o estilo de quadrinhas jocosas e de cunho educativo, discorreu sobre: Aleitamento Materno,Campanha de Vacinação, Ajude a Combater o Câncer e Poemas Médicos. Sem ser pediatra, Eugênio Carvalho sempre demonstrava grande preocupação com a criancinha pobre e desamparada e via na educação e na prevenção, armas poderosas para os mais graves problemas médicos que afligem as populações do 3° mundo. Parece tão óbvio, mas infelizmente, à beira do 3° milênio, muitas crianças ainda padecem de desnutrição energéticoprotéica e morrem em decorrência de doenças preveníveis. Publicou, ainda, na série Medicina e Saúde, da Editora Universitária, diversas monografias de cunho didático: Valor Médico, Econômico e Social da Alimentação; Leis da Alimentação Valor Calórico da Dieta; Glicídios; Arteriosclerose; Vitaminas; Minerais; Obesidade; Diabetes mellitus; Protídeos; Lipídios. No livro Desfolhando a Margarida, editado em 1986, reuniu poemas e sonetos, alguns externando emoções pessoais, outros dedicados aos familiares e a amigos.
A obra de Eugênio não se encerra aí; sem ser dotado de qualquer formação musical, compôs mais de 90 letras para sambas, marchas de carnaval, músicas juninas, folclóricas, militares, etc.. Recebeu a medalha acadêmica desta Augusta Casa, em março de 1988, fazendo o elogio ao Dr. Francisco Camilo de Holanda, patrono da cadeira n° 13, a qual, com muita honra, ouso ocupar. No seu discurso de posse fez uma análise minuciosa da vida desse ilustre médico, administrador e político. Não resistindo à verve de poeta, sintetizou num soneto a obra do eminente paraibano: Camilo de Holanda. "Foi militar, foi médico, e mostrou ao governar a terra em que nasceu, perpetuado nos marcos que deixou, que não morre quem para os seus viveu! Um homem nobre que se projetou pela lisura e amor com que exerceu todos os cargos, em que demonstrou que no trabalho nunca esmoreceu. Muito tempo passou e passará, mas o que fez jamais permitirá que o seu valor aos pósteros se esconda. Pelo exemplo que deu ao governar, a Paraíba sempre há de lembrar de Francisco Camilo de Holanda!" Na Academia Paraibana de Medicina realizou trabalho profícuo, tendo ocupado sua presidência por 3 mandatos. Em 1994, participou, como conferencista, do V Conclave da Federação Brasileira de Academias de Medicina, em São Paulo, discorrendo sobre o tema Medicina e Poesia, publicado em 1995, no livro da FEBRAM, O Mal da Saúde no Brasil, pela Editora Maitiry. Mesmo acometido de grave enfermidade que o arrebatou do nosso convívio em 1995, procurou manter-se sereno, enfrentando a adversidade com grande dignidade e notável bravura. Participou das atividades da Academia até quando suas forças o permitiram. Partiu Eugênio de Carvalho. Foi-se o médico, o poeta, o professor, o educador e, sobretudo aquela formidável figura humana. Ficou sua obra... Que a aura de imortalidade desta Casa preserve suas lições e ensinamentos para a posteridade. Tenho dito!