Cinco da tarde, estou tão concentrado no trabalho que nem vejo a Mara se aproximar da mesa. Levo um susto ao vê-la parada ao lado da minha mesa. -
Já chega por hoje e pela semana
-
Como?
-
É isso mesmo arrume as suas coisas para irmos ao Happy hour
-
Mas não é muito cedo?
-
Que nada. Uma hora a mais ou a menos não irá fazer diferença e olhe em sua volta todos já estão saindo.
Não havia reparado, mas muitas mesas já estavam vazias e as que estavam ocupadas os seus ocupantes já estavam se preparando para sair. -
Um segundo vou acabar este relatório e já vamos
-
Não enrola. Ta com medo?
-
Não é que fica mal deixá-lo inacabado para segunda e retomá-lo pode ser trabalho dobrado.
-
Tá bom, mas não demora.
-
Pode deixar
-
Vou te esperar lá na recepção.
-
Tô indo.
Vê-la indo embora foi uma bela visão. Encerrei o que fazia, desliguei o computador e rumei ao banheiro para me recompor. No caminho noto a empresa quase deserta. No banheiro escovo os dentes, lavo o rosto e dou uma nova carga de desodorante e perfume. Esta noite eu quero impressionar. Será o tudo ou nada. Sinceramente não quero nenhuma coisa nem outra, só quero me dar bem. Seja lá o que for isso. Retorno para a mesa, guardo as minhas coisas, olho para os testes e um remorso bate em meu coração. Não poderia levar este monte de papel e como conseqüência perderia um final de semana para me preparar para os testes. Paciência. Tentarei voltar mais tarde para pegar, ou quem sabe amanhã de manhã. A Mara me aguardava na recepção com uma paciência canina.
-
Demorei?
-
Um pouco.
-
Cadê as outras pessoas?
-
Já foram ou não vão.
-
Então vamos que eu não quero ser o último a chegar.
-
Será tão esperado quanto uma noiva no casamento.
Eu detestava aquelas ironias. Parecia que sempre havia um segundo sentido que eu desconhecia. O bar não era muito longe do escritório. Ficava em uma parte que eu desconhecia, nunca havia andado por aqueles lados. Estava além do meu horizonte diário. No percurso fiz alguns comentários inúteis, coisas como a metereologia, o meu desconhecimento do local, o quanto estava gostando de trabalhar no banco, etc, etc e mais etc. As respostas da Mara foram lacônicas, porém previsíveis. Ao chegarmos ao local reconheci algumas faces. Era um antigo casarão de dois andares. Na parte inferior as paredes originais foram removidas formando um enorme salão, nele encontravam-se algumas poucas mesas formando um desenho caótico. Alcançava-se o andar superior por uma estreita escada de madeira o que impossibilitava que duas pessoas subissem ou descesse ao mesmo tempo. No andar superior o salão era menor, não havia mesa, somente um balcão de bar que ocupava toda a lateral esquerda. Ao chegar fiz uma mesura indicando o caminho para a Mara, queria que ela fosse à minha frente como se estivesse abrindo caminho. Desta forma me mostrava cavalheiro e ao mesmo tempo me escondia atrás dela. A morena com desenvoltura cruzou o andar térreo e foi diretamente para a escada. Eu a seguia fielmente sem se quer olhar para o lado. Ao chegar à escada eu estrategicamente demorei mais do que ela para subir. Desta forma a minha chegada ao pavimento superior seria disfarçada pela dela. Ledo engano. O meu atraso serviu apenas para que ela preparasse o terreno. Fui literalmente assaltado por uma horda de mulheres que emitiam sons incompreensíveis. Reconheci a recepcionista, a loirinha do banheiro, as outras não eram para mim totalmente desconhecidas, mas não sabia seus nomes, eram apenas colegas. Rostos sem nome, sem identificação. -Poxa! Acho que nunca fui tão bem recebido.
Mais uma coletânea de palavras incompreensíveis se seguiu a minha observação. Até que a loirinha do banheiro chegou até o meu ouvido e disse: -
Ta se achando, Né? Você ainda não viu nada.
Fiquei meio atônito com aquela recepção e com as palavras da loira. Desvencilhei-me do grupo e fui direto para o Bar. Precisa um pouco de ar e de uma bebida para tomar coragem. Pedi logo uma dose de Whisky, Johny Walker red label, só para começar. Peguei o copo, virei-me, ficando de costas para o bar e de frente para o salão. Fiquei olhando as pessoas conversando, fiz um reconhecimento do terreno, as mulheres que fizeram o alvoroço na minha chegada já tinham se dispersado e estavam cada uma em um canto. Não sabia por onde começar o processo de integração, na verdade não sabia se quer se ficaria ali por muito tempo. Fica ali por pouco tempo. Sem que eu percebesse uma morena de estatura média chegou perto de mim e disse: -
Ficou assustado?
Nunca havia percebido a sua presença no banco, não sabia se era funcionária do banco ou estava acompanhando algum colega. -
Um pouco. Não esperava esta recepção.
-
Esta mulherada é louca.
-
Percebi
-
Você conhece o pessoal do banco?
-
Não, sou novo.
-
É novo, quieto, e não se mistura.
-
Não é bem assim. Sou meio tímido
-
Percebemos. Deixa eu te apresentar o pessoal.
-
Ótimo, vou adorar. Mas primeiro queria lhe conhecer.
-
Ó desculpe, deixe-me apresentar. Sou a Lara sou uma Sênior Account Manager. Cuido da conta de alguns clientes especiais do banco .Algumas operações dos meus clientes já passaram pelas suas mãos.
-
Muito prazer o meu nome é... Fui bruscamente interrompido.
-
Eu já sei, ou melhor, quem não conhece.
-
Não sabia que era tão famoso.
Tornar-me uma celebridade tão depressa começava a me incomodar. A Lara pegou-me pelo braço e começou a me apresentar a todas as pessoas que encontrava. Era uma sucessão de nomes e cargos que no começo me esforcei em prestar atenção e a decorar, mas depois da vigésima pessoa relaxei. Era impossível registrar tanta informação. A parte boa do ritual foi que comecei a conhecer os homens que trabalham no banco. Sim, por incrível que pareça também trabalham homens nesta empresa, entretanto eles não pareciam tão animados em me conhecer. Findo o ritual chegamos na parte de trás da sala que dava para uma varanda. Aproveitei a oportunidade e emendei: -
Vamos tomar um pouco de ar?
-
Vamos.
Rapidamente segui para o lado de fora. A vista do local não tinha nada de espetacular. O terreno da casa era em desnível de forma que o fundo da casa formava mais um andar. Havia também um jardim com uma fonte no meio e uma construção que circundava o terreno, colado ao muro. Toda a decoração em um Art Deco meio extemporâneo. Era interessante, mas não devia ser popular, pois não havia ninguém lá. -
Gostou?
-
É a casa parece ser bem legal
-
Você nunca tinha vindo aqui?
-
Não
-
Ninguém do banco nunca tinha lhe convidado para vir aqui?
-
Não
-
Estranho. Aqui funciona quase que como uma filial do banco. Muitos negócios e estratégias são travados aqui.
-
Esta é a minha primeira vez e como você sabe a primeira vez a gente nunca esquece.
Trocamos alguns sorrisos amarelos, desta vez a ironia é minha. Para quebrar a animosidade emendei.
-
Brincadeira
-
Tudo bem
-
Gostei daqui, parece bem agradável e a construção é bem bonita. E lá embaixo o que é?
-
Você não sabe?
-
Não
-
Então saberá, mas só poderá ir se for convidado.
O que será aquilo? Um clube para iniciados. Será que fazem cerimônias para um Deus pagão qualquer, com sacrifícios de animais ou coisas do gênero. Bobagem. Deve ser um clube como há tantos que existem na Europa e nos Estados Unidos. Um lugar cheio de poltronas onde se fuma charuto ou cachimbo e se discute um monte de bobagens, formulando teorias para salvar o mundo. -
Espero ser convidado em breve.
-
Pelo visto será. Antes mesmo que imagina
-
Nossa! Quanto mistério. Será que vai doer?
-
Não sei, pode ser. Afinal de contas o amor e a dor estão muito próximos.
Caramba o que será isto? Quanto mistério. Não sei se estou impressionado e aumento as coisas, mas esta empresa tem muitas coisas estranhas. -
Não fala assim que eu me assusto.
-
Bobinho, quando chegar a sua hora saberá.
-
Minha hora? Deste jeito você me assusta. Acho melhor ir embora.
-
Se estiver com medo é melhor ir embora, mas se for será de vez. Nunca mais volte ao banco.
O tom de ameaça definitivamente me assustou não sei até que ponto isto era verdade, ou só queria me assustar. -
Deste jeito você me assusta
-
Não se assuste, mas tenha em mente uma coisa se começar tem que ir até o fim
-
Ta bom se não doer estou dentro.
-
Não se assuste.
-
Vamos mudar de assunto
-
Você que sabe
Que coisa esquisita. Não sei traduzir o que sentia. Era um misto de apreensão pelo o que ela tinha falado e ao mesmo tempo me sentia confiante pelos atos que faria nos momentos a seguir. Sabia que não decepcionaria, nem faria nada que não gostasse ou violentasse a minha moral. A conversa prosseguiu de maneira amena. Discutimos vários assuntos fúteis que foram desde música, livros e etc. e chegaram até economia e política. Bebíamos e conversávamos. Foram uma, duas, três...
Seis doses de Whisk. Conversávamos tão
animadamente que esqueci que estava em uma festa. Sentia –me tão bem que parecia que eu e ela estávamos sozinhos no universo. Parecia até que os planetas giravam ao nosso redor, mas isto poderia ser efeito da bebida. Definitivamente sentia-me bem. Não sei quanto tempo durou esta conversa, mas chegou uma hora que a conversa tinha se esgotado. Miou o papo. Fiquei olhando diretamente para seu rosto, foram alguns segundos e tomei a iniciativa. Dei-lhe um beijo naquela maravilhosa boca e ela correspondeu-me e com muito prazer. Foi um beijo maravilhoso, sentia-me nas estrelas. -
Nossa como pude viver até hoje sem este beijo?
-
Você é difícil, hein?
-
Como assim?
-
Pensei que ficaríamos conversando a noite inteira, até amanhecer
-
A é? Então vem cá.
Agarrei-a e dei novamente um beijo. Desta vez abracei-a e fiquei roçando o meu corpo contra o dela. Lentamente fui levando-a para um canto da varanda onde poderíamos ser mais discretos, sem que outras pessoas nos vissem. Ao colocá-la contra a parede encaixei a minha cintura com a dela e coloquei a minha coxa entre as suas pernas. Conforme a beijava rebolava um pouco. Sua reação era maravilhosa. Estávamos atingindo o êxtase sexual. Se só com um beijo era assim imagino quando partirmos para o que interessa. -
Calma assim você me mata
-
Mas é isto que eu quero. Vou te matar de tesão
-
Imagino.
-
Vamos deixar este pessoal, vamos para um outro lugar. Podemos ficar mais sossegados.
-
Deixar? Pra que sair se temos tudo aqui.
Mal a deixei acabara a frase e já voltei a beija-la. Nem tinha prestado atenção no que ela falava. -
Vamos?
-
Pra onde?
-
Para um lugar mais sossegado...
-
Pra quê?
-
Ora aqui tem muita gente.
-
Você não sabe de nada mesmo
-
Como assim?
-
Você não percebeu nada né?
-
Não
Sem pensar muito ela pega o meu braço e me puxa para dentro do salão. Muitas pessoas já tinham ido embora. O salão de cima estava parcialmente vazio. O mesmo não acontecia com a parte de baixo que estava lotada, mas não era com o pessoal do banco. Cruzamos toda a extensão praticamente sem as pessoas
perceberem. Ao chegarmos no alto da escada vemos que o pessoal da casa começa a liberar o salão de cima para o resto do pessoal. Este deixava de ser um território exclusivo. Descemos as escadas tão rápido que parecia que desabamos por ela .No salão de baixo continuei sendo puxado. Fui rude várias vezes empurrando pisando nos pés das pessoas. O martírio acabou quando chegamos do lado de fora da casa. Saímos pela porta lateral. Chegamos a um corredor que circundava a casa. O terreno como já dissera era em desnível e neste ponto iniciava o terceiro piso da casa, era uma espécie de porão que havia sido reformado e transformava-se em outro ambiente. Descemos aquele declive como dois bonecos de mola desengonçados e cambaleantes. Poucos passos depois encontro um portão com dois enormes seguranças com seus ternos e óculos escuros. Levei um grande susto, o que fez a bebedeira passar por um tempo. Dali onde estava pouco dava para ver apesar do portão ser formado por um alambrado . -Olá! Minha amiga parecia conhecida dos seguranças. -
E você aonde vai?
A minha amiga já havia passado. Eu fiquei um pouco para trás e o segurança me barrou. -
Ele está comigo, tudo bem.
Acho que agora estou entrando para o seleto clube dos funcionários deste banco. O corredor dava para o jardim que vira lá de cima. Havia algumas pessoas sentadas nos bancos de cimento do jardim. Alguns eu conhecia outros não. Havia outra sala que de cima não dava para ver, pois ficava bem embaixo no corpo da casa. Era a menor das salas, tinha piso de cerâmica branca, tinha um bar no canto, iluminação típica de uma pista de dança, tocava uma música que do lado de fora não se ouvia e poucas pessoas dançando, mas dançando animadamente. - Gostoso aqui -
Vai ficar melhor
-
Parece-me que sim
-
Preste bem atenção você está prestes a entrar em um clube seleto. Poucas pessoas entraram aqui. Preste muita atenção e isto é para o seu próprio bem. O que verá aqui, aqui deverá ser esquecido. Esta é a regra de ouro. Se você não a seguir as conseqüências poderão ser muito desagradáveis.
-
Deste jeito você me assusta.
-
É uma coisa muito, mas muito séria mesmo e você parece estar preparado.
-
Obrigado
-
Se não estivesse não estaria aqui. Não me decepcione.
-
Pode deixar.
Ela virou e me deu mais um beijo na boca. -
Delícia
-
Você também, mas acho que preferira ir para um lugar mais sossegado, nós dois, tranqüilos.
-
Um dia iremos...
Um dia? Fodeu. Será que com toda esta preparação nós não vamos transar, nem um pouco de sexo. Que porcaria. Uma mina gostosa desta e não tenho a capacidade de levá-la para a cama. -
Não me sacaneia.
Tentei uma solução desesperada. Abracei-a e falei no seu ouvido. -
Vamos, to louco de tesão por você, to louco pra te matar de tanto tesão.
-
Calma vem cá que não se arrependerá.
Caramba! Não quero ir para um clube padrão inglês com um monte de gente pernóstica fumando cachimbo, ou pior fumando charuto. Definitivamente não era o que eu queria naquele momento. Bom! Podia ser pior, poderiam ser praticantes de uma seita exótica que sacrifica animais enquanto fica todo mundo dançando pelado, tomando sangue do bicho morto. Seja o que for será algo diferente, algo que nunca vi na minha vida. -
Venha logo conhecer o lado bom da vida.
Ela disse isto e me puxou em direção a porta da primeira sala da construção que circundava o muro na parte inferior. Respirei fundo e me preparei para o desconhecido.
Entramos em uma sala escura, iluminada apenas por um par de luzes vermelhas que conferia ao ambiente um ar sombrio. No canto direito da sala havia um sofá com almofadas brancas que se sobressaíam por causa da iluminação. Neste sofá pude identificar duas mulheres, sabia que eram mulheres pelo modo de se vestir, mas conseguia ver seu rosto. No ambiente havia outras pessoas, não muitas, mas conseguia perceber a sua presença. Apesar de fechado quase que hermeticamente o ar não era abafado, provavelmente graças a um eficiente sistema de ar condicionado. O que possibilitava inclusive que algumas pessoas fumassem. Sou recebido pelas mulheres que estavam no sofá com um entusiasmado:
-
Este é o famoso? Até que enfim ele veio. Vamos ver se ele agüenta.
-
Calma aí que o privilégio é meu
-
Ta bom. Aproveitem
Eu não entendi aquele dialogo. Entretanto não falei nada, só dei um riso amarelado que aposto não foi visto por ninguém. -
Vamos querido, não vamos perder tempo.
Continuei a não entender e me deixei levar pela minha guia. Passamos por uma porta larga no lado esquerdo, fechada por uma espécie de porta feita de várias tiras verticais de tecido que bloqueavam parcialmente a luz dos ambientes. Ao chegar do outro lado minha guia explica: -
Aqui é a sala de leitura. Está vazia porque a esta altura ninguém se interessaria em ler. Não é verdade?
-
Acho que sim
Este foi o primeiro momento de descontração. A referida sala de leitura era um pouco estranha. Mantinha a mesma iluminação da anterior, mas tinha algumas poltronas vazias e uma ampla televisão desligada em uma das paredes. Achei tudo isto muito estranho, mas estava relaxando afinal de contas não parecia que ali fizessem sacrifícios de animais, nem ritos de uma religião exótica.
-
Prepare-se para o melhor da festa.
-
Obaaa!!!
Saímos desta estranha sala de leitura passando por uma daquelas portas do tipo saloon, são aquelas que possuem duas folhas e tem uma mola que se prestarmos atenção ela nos pega. A nova sala ficava no canto do terreno, formando um cotovelo. Era mais uma pista de dança, só que bem menor do que as outras, mas estava lotada, muito lotada. A musica tocava muito alta e as pessoas dançavam animadamente. Com esta cena aliviei de vez. Não havia mistério aquilo ali era somente um local para poucos se reunirem, conversar e se divertir. O receio era uma grande bobagem minha. Ensaiei uns passes de dança e brinquei com a minha guia. -
Legal aqui, é mais reservado.
-
Legal mesmo, mas ainda vai ficar melhor.
Reconheci algumas pessoas do banco, que eram maioria. Cumprimentei-os efusivamente, agora já tinha quebrado o gelo, e eles também me respondiam animadamente. Dançávamos e lentamente nos dirigíamos para a outra porta. Ao chegarmos do outro lado ela me disse: -
Agora você realmente vai conhecer o clube.
Havia uma porta dupla de madeira. Ia do chão até mais ou menos o meio da parede. Tinha molas e era outra que parecia com aquele de saloon de filme western americano. A diferença da primeira é que ela era pintada de preto o que dificultava sua percepção. Esta porta nos levava a um corredor ligeiramente estreito, pude perceber que nas laterais havia treliças de madeira, mas o ambiente era muito escuro e me demorei a acostumar a vista e os barulhos do som da pista de dança não me deixavam entender o que lá acontecia. Lentamente procedi para o fim do corredor. O fim era um local mais amplo que aquele corredor. O que comecei a perceber é que ali deveria ter algumas pessoas, não sei quantas, nem quem eram. Nas treliças havia, pelo lado de dentro cortinas e algumas havia uma luz tênue nas cores vermelha, branca ou roxa. De vez em quando ouvia gemidos e interjeições todos ininteligíveis. Caminhava lentamente para o fim daquele corredor e lentamente os meus sentidos iam se acostumando a esta nova realidade.
No fim do corredor um susto. O fim do corredor levava a uma ampla sala. Em cada lado havia uma parede pintada de branco com luzes nas laterais do teto. Eram de várias cores: azul, vermelha, lilás, preta e outras escuras. Isto gerava uma iluminação indireta, mas pouco efetiva por que a penumbra se mantinha. A diferença é que ali era um pouco mais iluminada do que o corredor. De cada parede lateral saia um enorme colchão com aproximadamente 4 metros de largura por cinco de profundidade. Eles eram de cor vermelha o que os mantinha praticamente camuflados no ambiente. A grande surpresa estava sobre o colchão. Orgia é algo difícil de ser explicado, mas era isto o que estava acontecendo em cima daqueles colchões. Do lado direito pude reconhecer entre os corpos nus o de Marisa. Era uma visão que me chocava, pois estava acostumada a ver aquela mulher somente pelo lado profissional. Sua sisudez profissional a transformava em uma fortaleza intransponível em termos sexuais. Aquela cena me atraia e não conseguia tirar os olhos. A Marisa estava de quatro, nua e circundada por pelo menos outros seis homens. Do seu lado esquerdo pude reconhecer a Leandra do departamento de contabilidade, O Zé Carlos do departamento de analise de crédito, o Marco, a Alice e... Não sei quem mais todos ali eram funcionários do banco, estavam nus e transavam entre si. Era um filme pornográfico ao vivo. Intimamente não desaprovava aquilo, estou longe de ser um moralista. O que me espantava era o ineditismo do negócio, só havia visto aquilo em filme pornográfico e nos considerados hardcore. Fiquei olhando para aquela cena o que me pareceu ser uma eternidade. -
Cuidado não vai babar
-
Eu? Não
-
Assustado
-
Não, só não esperava isto.
-
Não gostou?
-
Adorei
-
Sabia, eu tinha certeza disto.
-
Quer participar?
-
Posso?
-
Claro
-
É pra já
-
Mas antes é melhor você conhecer a casa inteira
-
Tem Mais?
-
Tem e muito
-
Ótimo, vamos lá
Ela pegou na minha mão e me levou pela lateral da cama onde estava a Marisa e sua corte sexual. Ela estava tão excitada que mal percebeu a minha passagem ao seu lado. O mesmo não aconteceu com a Alice que me mandou um beijo. Entramos por um corredor estreito e paralelo à aquele pelo qual chegamos na sala. Era igualmente escuro e também tinha treliças, mas deste lado havia portas. Notei que aquilo seriam quartos, contei três. -
Aqui são quartos para quem quer um pouco de privacidade.
-
Que legal
-
Quem não quer ser visto entra aqui e fecha a cortina, mas se quiser ser visto pode deixar a cortina aberta.
-
Diferente
Empolgado pelo clima passei o meu braço pela sua cintura e a puxei para dentro de um quarto que parecia estar vazio. Queria traça-la ali naquele momento. -
Calma. Não seja afobado
-
Eu? Pra que resistir. Vai me dizer que não quer?
-
Claro que quero, mas espere para conhecer a casa.
-
Ta bom. Não sei se vou agüentar
-
Güenta, você güenta.
-
Vamos lá.
Dei uma risada meio amarela e estiquei o braço em direção ao fim do corredor como se estivesse indicando o caminho. Voltamos para a sala onde havia as camas. Encontramos uma nova cena. Algumas pessoas haviam trocado de cama, outros de posição, uns não estavam mais ali e outros tinham aparecido. Passamos por entre as camas e seguimos em direção ao outro fim da sala. Nela havia uma passagem sem portas para uma espécie de antesala. Era um pequeno cômodo com espelhos em toda a sua volta, inclusive no teto. Do lado esquerdo havia uma outra porta com uma placa dizendo “Vestiário” bem no centro, em volta várias palavras disposta de um modo caótico. Pude perceber que era a palavra em várias línguas, deve ser para atender os vários estrangeiros que ali freqüentam. Do outro lado desta ante-sala encontrei uma escada que levava para um andar de baixo. Enquanto olhava extasiado para os espelhos, que produzia um efeito desconcertante, um grupo de aproximadamente seis pessoas, entre homens e mulheres, cruza por nós saindo do vestiário e seguindo para a escada. Reconheci algumas caras do banco, mas não sabia os seus nomes. -
Pra que lado vamos?
Falei isto ansiando para entrar no vestiário. -
Vamos por aqui.
Ela me indicou as escadas. O que poderia ter no andar de baixo? Já estava ficando impaciente. A escada era em caracol o que dificultava os meus movimentos e me impedia de ver o que acontecia lá. De imediato senti o vapor e o cheiro de cloro. Deve ser de uma sauna ou de uma piscina. Que loucura! Um monte de gente pelada nadando e transando. Ao chegar no andar de baixo a visão é maravilhosa. Uma enorme piscina ocupa a área central. Nas laterais encontramos cadeiras espreguiçadeiras, sauna, ducha, no teto havia uma pintura simulando um céu azul com algumas nuvens e do outro lado umas quatro enormes janelas de vidro. Como já estava experiente no assunto já sabia que aquilo deveriam ser mais quartos para Vouyers ou exibicionistas e tarados de plantão. Era como se fosse um clube, só que todos estavam pelados e a maioria transava. Havia de tudo, alguns casais, alguns grupos de pessoas formando o que depois fiquei conhecendo como almôndegas. Todas as combinações possíveis de uma pessoa fazer sexo encontrava lá, havia até relacionamentos homossexuais femininos, alguns, e masculino, raros, e alguns solitários se masturbando.
-
Isto aqui é uma maravilha.
-
Gostou?
-
Adorei, parece um quadro de Bosch ao vivo.
-
Quem?
-
Deixa pra lá. È o inferno de Dante
-
Inferno? Não isto aqui é o paraíso.
-
Sem dúvida
Pelo que vi minha amiga não era muito culta e não estava na hora para discutir arte, mas que parecia uma obra de Bosch parecia.
Garden of Earthly Delights (Ecclesia's paradise) -
Nós vamos ficar só vendo ou eu também poderei participar?
-
Claro que pode. Vamos subir e tirar estas roupas
-
É pra já
Meu coração disparou. Começava a me sentir estranho de roupa quando todo mundo estava pelado na minha volta. O caminho até o vestiário me pareceu uma eternidade. De tão nervoso bati a cabeça no alto da escada, quase desmaiei e fui motivo de muitas risadas. Isto ajudou a me desestressar.
No vestiário foi muito engraçado. Logo ao entrar há uma recepcionista vestida - o que deve ser estranho em um local em que todos ficam sem roupa - a função dela é distribuir a chave dos armários onde as roupas poderão ficar guardadas e fornecer toalhas, sabonetes e coisas para banho. Peguei a minha chave, número 25, e a minha amiga a dela, 27. De início confesso que fiquei constrangido. Estava acostumado com o vestiário de clubes e escolas onde há uma separação entre os sexos. Como já era tarde os nossos armários ficavam lá no fundo. Os melhores ficavam perto da entrada e ao lado da porta de entrada para as duchas. Minha amiga já desinibida foi direto ao armário, o abriu e começou a se despir. A cena daquela mulher maravilhosa tirando a roupa me deixou ao mesmo tempo excitado e anestesiado. Como em todo o lugar a luz não era muita e as sombras naquele corpo formavam uma imagem inesquecível. Aquele monumento ao erotismo vira para mim e pergunta: -
Ué? Desistiu? Tira logo esta roupa.
-
Ahn? Desculpa
Abri o armário que cabia a mim e tirei a minha roupa o mais rápido que pude. Nu não sabia como me portar. Estava extremamente excitado e louco para pular em cima daquela mulher e ter a melhor noite de sexo selvagem que um ser humano pode ter. A surpresa deixava as minhas reações um pouco lentas. Poderia agarrar aquela mulher ali mesmo, havia uma série de casais fazendo isto dentro do vestiário e das duchas. Resisti um pouco os meus extintos e segui minha guia ao mundo dos prazeres carnais. Saímos do vestiário. A sensação foi um pouco estranha porque estava visivelmente excitado, o que para um homem poderia ser facilmente traduzido como “estava de pinto duro”. A primeira pessoa que encontro é a Marisa. Aquela executiva super competente e durona estava lá na minha frente pelada. -
Olá!!! Finalmente te encontrei aqui.
-
Oi
Sem nenhum receio a Marisa chegou perto, me deu um beijo no pescoço ( acredito que tenha mirado na boca, mas devido a diferença de altura não alcançou) e sem nenhuma cerimônia agarrou no meu pinto e disse: -
Delícia
Acho que a minha amiga ficou com um pouco de ciúmes e fala: -
Calma que quem vai batizá-lo sou eu
Ela disse isto e agarrou um lado da minha bunda. -
Calmas meninas têm pra todas
Agora me sentia o recheio de um delicioso sanduíche. A Marisa nem deu bola, puxou-me para a cama enorme. Fiquei lá deitado de barriga para cima e ela começou a chupar maravilhosamente o meu pinto. Não podia imaginar eu um mero funcionário do departamento de câmbio tendo o pinto sendo chupado pela chefona máxima do banco. Ela parecia insaciável, mas ao mesmo tempo era extremamente delicada. Quando menos esperava a Lara se junto a Marisa e também chupa o meu pau. Aquilo era a glória. Duas bocas maravilhosas. Não pude conter por muito tempo e gozei, gozei fartamente, era com se um vulcão explodisse dentro de mim e produzisse um Tsunami de esperma. As duas travaram uma breve competição quem sugava mais esperma. Levemente levantei a cabeça e pude ver que um homem já comia por trás a Lara que se contorcia de prazer sem largar o meu pinto. Era algo estranho que não conhecia e começava a gostar. Depois de tanto prazer o meu pinto voltava a ficar mole. Só que as duas não desistiam e rapidamente ele voltou a ficar duro. Com poucos movimentos a Marisa esticou o braço para uma vasilha na lateral da cama que eu não havia percebido e continha dezenas de pacote de camisinhas. Com uma habilidade singular ela abriu o envelope e colocou a camisinha. Em segundos ela estava em cima de mim. Lentamente eu penetrava a executiva mais gostosa do Brasil. Lara, talvez com um pouco de ciúmes, veio para a altura da minha cabeça. Sem inibição sentou em minha cabeça colocando sua boceta em minha boca. Não me fiz de rogado e imediatamente comecei a beijá-la e lamber e sugar seu clitóris. Acho que estava sendo bem eficiente, pois a mulher se contorcia e gemia de prazer. Fiz uma breve parada e pude ver que as duas mulheres se beijavam e acariciavam os seios uma da outra. Uma cena maravilhosa que eu só tinha visto em filmes pornográficos. Gozamos todos juntos. Foi uma enxurrada de prazer.
Depois disto descemos para a piscina. Tomamos um banho para refrescar, tomamos uma cerveja - havia um bar ao lado da piscina – e rimos bastante da minha inexperiência. Nesta noite transei com várias pessoas e vi coisas que nunca imaginaria ser possível. Por volta das três manhã encontrei Mr. Habber. Ele estava em uma espreguiçadeira bem perto da piscina. Estava deitado e sua enorme barriga dava a impressão de ser uma enorme geléia humana. É engraçado vê-lo assim fora do banco e pelado. Olhando-o atentamente pude ver um rapaz de pouco mais de vinte anos debruçado por sobre a cintura do gringo. Ele chupava com muita atenção o pinto do cara. -
Olá sente-se aqui.
A minha cara deve ter entregado o meu susto. E Mr Habber insistiu -
Ora sente-se aqui e fique sossegado. Não vou querer te comer.
Aquela frase me pareceu honesta e me sentei na cadeira ao lado. -
have you ...
-
Oh sorry... but… Quando bebo a little é difícil falar português, principalmente com tesão.
-
I understand. Respondi marotamente.
-
Você … gostar daqui?
-
Sim , muito. É diferente.
-
Depende. It depends on ...
-
Do que?
-
Your point of view.
Depois desta frase o dialogo ficou inviável. Repentinamente o homem começa a urrar e percebo que é o gozo que se aproxima. Poucos segundos após a ejaculação ele desfalece por alguns minutos. O rapaz que o chupava levanta sem cerimônias, limpa a sua face com as toalhas que estavam na lateral da cadeira e segue em direção a piscina para um mergulho. Fiquei ali sentado na espreguiçadeira olhando para o teto e tentando filosofar um pouco sobre o local, as pessoas e o pior: Como seria na segunda encarar todas estas pessoas.
O rapaz volta da piscina com um copo de caipirinha, ele oferece para mim, mas de cara recuso. Ele insiste e eu pego. Assim que coloco a mão no copo ele volta para direção que venho e uns poucos metros depois abraça uma mulher e começa beija-la, ficam tão animados com o beijo que começam a transar. Acho que ainda não estava acostumado com o ambiente. Mr Haber começa a acordar e volta a falar em um português perfeito, apesar do sotaque. Inexplicavelmente iniciamos um dialogo muito amistoso. Primeiro falamos sobre as mulheres, de como são misteriosas e as vezes inexpugnáveis. Ele me disse que não era Gay, só gostava de variar de vez em quando é algo que ele denominou com sendo pansexual, mas na minha terra se chama gilete, a que corta dos dois lados. Do sexo e das mulheres a conversa descambou para o banco, eu mantive a minha neutralidade e não comentei nada sobre o que havia em comum entre aquele lugar e a empresa. E virou totalmente para economia internacional e política brasileira. Que destino eu pelado, ao lado de um gordo pelado, no meio de orgia no subterrâneo de um barzinho em São Paulo, do Brasil, na América Latina discutindo futebol? Mulher? Não. Discutiamos a influência das reservas chinesas em Dólar no fluxo de mercadorias do comércio internacional. Mais do que surreal, dadaísta. A conversa mole, a bebida, os exercícios do sexo foi me nocauteando. Quando percebi estava sendo acordado por um funcionário da casa. Eram oito horas da manhã e, apesar do horário, ainda se encontravam algumas pessoas. Não havia ninguém conhecido, levantei e fui para o vestiário, me troquei e fui embora de ônibus, como sempre.