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CRISE HÍDRICA E RISCO DE ESCASSEZ ENERGÉTICA
PEDRO AL SHARA
Vinte anos após a maior crise de racionamento de energia do País, episódio até hoje apelidado como o "apagão de 2001" por seus blecautes programados, o Brasil se depara com uma crise hídrica que pode tomar as mesmas proporções, ameaçando o fornecimento de energia ainda neste segundo semestre de 2021. Com o período de estiagem na maior parte do País, os reservatórios de água que concentram algumas das
principais hidrelétricas sofrem esvaziamento, o que torna a produção energética mais difícil e onerosa.
E essa é uma pauta que requer atenção, já que a iminência de uma redução desregular no consumo de energia impactará diretamente os setores produtivos, sobretudo as indústrias, além dos próprios consumidores que já lidam com o aumento das bandeiras tarifárias todo mês. Uma péssima notícia para o atual contexto da retomada econômica do País, que tem expectativas de dar sinais de recuperação proximamente, com o avanço da vacinação contra a Covid-19.
Vale observar um relatório, divulgado em maio pela corretora XP Investimentos, que concluiu que o novo regime de chuva “pode ser um limitador ao crescimento potencial do Brasil” e que a situação “é claramente um risco para a inflação”. Já o Banco Central acaba de subir de 4,6% para 4,7% sua estimativa para o crescimento da economia neste ano. Porém, vem alertando em seus relatórios que a crise hídrica é um dos fatores que geram incerteza e que limitam a alta das atividades econômicas em 2021.
Nesse “Novo Normal” na vida dos brasileiros, o temor da chamada “Escassez Energética” bateu à porta e começou a preocupar os fabricantes e fornecedores de toda a cadeia produtiva de serviços essenciais. Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado em agosto mostra que 9 em cada 10 empresários estão preocupados e
que o grande medo é que o custo da energia aumente. A maior parte das empresas ouvidas também se preocupa com racionamento e instabilidade no fornecimento de energia elétrica.
Se antes o setor já se preparava para enfrentar os desafios considerados críticos, porém conhecidos e esperados, como a falta de energia em períodos sazonais, provocada pelo excesso ou escassez de chuvas, hoje o cenário é de instabilidade pelo que está por vir. Essa ocorrência é facilmente percebida por sinais pouco agradáveis: luzes que “enfraquecem”, aparelhos que param de funcionar e, nos casos mais graves, a queima de dispositivos e equipamentos que podem causar prejuízo para o nosso bolso.
Novas fontes energéticas – A crise de 2021 ameaça repetir a de 2001, mas ainda sim, é válido mostrar que o setor energético teve avanços consideráveis nesses 20 anos. Naquele período, o Brasil se encontrava despreparado em meio às soluções para a crise, por conta da falta de planejamento de distribuição de energia em casos adversos como esse. O que nos diferencia hoje é que o sistema tem mais versatilidade: agora temos a geração eólica e a termelétrica, que devem conferir maior flexibilidade na gestão da crise. Segundo o Ministério de Minas e Energia, em 20 anos, o uso de fontes limpas e renováveis, assim como o aumento da produção energética em usinas termelétricas, reduziu a dependência de hidrelétricas de 85% para 61%.
Outro fator positivo, apesar das adversidades apresentadas no atual cenário político e econômico, é o aumento nos investimentos em infraestrutura e indústria no Brasil. De acordo com o estudo realizado pela empresa de big data analytics Neoway, os investimentos devem totalizar R$ 71,2 bilhões entre 2021 e 2026 ― um crescimento estimado em 24,7% se comparado ao período de 2020 a 2025. A alta desses números é puxada pelo setor de Transportes e Vias Urbanas e pelo setor de Energia, que respondem, respectivamente, por 40% e 30% do montante. As obras de parques eólicos, termoelétricas, metrôs e rodovias concentram a maioria desses investimentos.
Diante desse cenário, e independentemente das perspectivas de retomada da economia pós-pandemia, ainda temos um longo caminho para evitar um verdadeiro curto-circuito no setor elétrico brasileiro. Seja qual for o nosso futuro, o alerta foi dado e devemos em todas as instâncias da sociedade investir em infraestrutura para lidar com essa situação e garantir que o mesmo erro não se repita, conferindo assim condições sustentáveis para a preservação e manutenção das atividades econômicas.