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Como está o desenvolvimento das normas brasileiras para cabeamento estruturado? Elas são atualizadas e seguem padrões internacionais? Quais são as normas que compõem o conjunto de normas brasileiras para cabeamento estruturado? Parte 3

Nesta edição de Interface continuo a discussão iniciada na RTI junho sobre as normas brasileiras para cabeamento estruturado. Como lembrete, discutimos nas duas edições anteriores os escopos e principais características das normas NBR 14565:2019 - Cabeamento estruturado para edifícios comerciais, NBR 16415:2021 - Caminhos e espaços para cabeamento estruturado, NBR 16665:2019 –Cabeamento estruturado para data centers e NBR 16264:2016 –Cabeamento estruturado residencial.

NBR 16521 – Cabeamento estruturado industrial

A NBR 16521 especifica um cabeamento estruturado que suporta uma extensa gama de serviços de telecomunicações, como automação, controle e aplicações de monitoramento para uso em instalações ou áreas industriais dentro de outros tipos de edificações, compreendendo um ou múltiplos edifícios em um campus. Assim como todas as normas de cabeamento estruturado, ela se limita ao ambiente de rede de campus (CAN) e utiliza como base os requisitos da NBR 14565.

Além dos requisitos da NBR 14565, a NBR 16521 especifica: • Uma estrutura modificada e configuração para cabeamento genérico dentro de instalações industriais nas quais aplicações de tecnologia da informação são

utilizadas para suporte ao processo de monitoramento e funções de controle. • Opções de implementação. • Requisitos adicionais que refletem a gama de ambientes operacionais em instalações industriais.

A NBR 16521 especifica os seguintes elementos funcionais e interfaces para o cabeamento estruturado em instalações industriais: • Cabeamento de chão de fábrica. • Distribuidor intermediário (ID). • Cabeamento intermediário. • Tomada de telecomunicações (TO). • Interface de rede (NI).

Conforme mostrado na figura 1, um distribuidor intermediário é capaz de atender a tomadas de telecomunicações em partes separadas de um equipamento industrial, ou diversas tomadas em uma única parte do dispositivo (painel, quadro de comando, ilha de automação, etc.).

Esquemas de cabeamento estruturado para instalações

industriais podem conter até quatro tipos de subsistemas: backbones de campus e edifício, subsistema de cabeamentos de chão de fábrica e intermediário. Além disso, um cabeamento é necessário para conectar telecomunicações, controle de processos e equipamentos de monitoramento ao sistema de cabeamento estruturado, sendo este de aplicação específica e, portanto, não coberto pela NBR 16521. A figura 2

Esta seção se propõe a analisar tópicos de cabeamento estruturado, incluindo normas, produtos, aspectos de projeto e execução. Os leitores podem enviar suas dúvidas para Redação de RTI, e-mail: inforti@arandanet.com.br. Fig. 1 – Configurações de elementos funcionais de equipamentos em ambiente industrial conforme a NBR 16521

Fig. 2 – Topologia de cabeamento estruturado industrial conforme a NBR 16521

mostra a topologia de distribuição de cabeamento estruturado industrial.

Os distribuidores fornecem os meios para configurar o cabeamento capaz de suportar diferentes topologias, tais como barramento, estrela e anel. Distribuidores de campus, de edifício e de piso também podem fazer parte do cabeamento, de acordo com a NBR 14565.

A quantidade e tipo de subsistemas incluídos em uma implementação de cabeamento estruturado dependem das características e da estrutura do campus, da edificação e da abordagem de projeto. Os seguintes subsistemas de cabeamento são especificados na NBR 16521: • Backbone de campus. • Backbone de edifícios. • Chão de fábrica. • Intermediário.

Conexões entre os subsistemas de cabeamento podem ser ativas, utilizando equipamentos de aplicação específica, ou passivas. A conexão com equipamentos de aplicação específica adota o modelo de interconexão ou conexão cruzada em conformidade com a NBR 14565. Conexões passivas

entre os subsistemas de cabeamento devem ser realizadas com o uso de conexões cruzadas, por meio de patch cords ou jumpers. No cabeamento industrial, seus elementos funcionais e subsistemas são interconectados para formar uma estrutura hierárquica de distribuição (figura 3).

Em certas circunstâncias, por segurança ou confiabilidade da infraestrutura para aplicações críticas, a redundância pode ser considerada em um projeto de cabeamento industrial. A figura 4 mostra um esquema, entre várias opções possíveis, de conexões entre os elementos funcionais no sistema de cabeamento estruturado industrial.

Para finalizar a apresentação da NBR 16521, é importante destacar que um dos seus aspectos de maior destaque é a classificação ambiental das localidades de instalação do cabeamento, ou seja, de acordo com essa classificação, cabos e hardware de conexão podem ser especificados de forma mais efetiva e segura. Essa classificação é conhecida como MICE, que traz os critérios primários usados para classificar um ambiente por suas características: • Mecânicas (M). • De proteção contra ingressos de contaminantes (I). • Climáticas e/ou químicas (C). • Eletromagnéticas (E).

Fig. 3 – Estrutura hierárquica de distribuição de cabeamento estruturado industrial conforme a NBR 16521

Fig. 4 – Inter-relação dos elementos funcionais em uma topologia com redundância conforme a NBR 16521

Cada um dos quatro critérios ambientais primários é ainda especificado em níveis. A classificação MICE para uma localidade é definida como M a Ib C c Ed, onde a, b, c e d são subclassificações para cada um dos critérios MICE.

Os índices para os quatro parâmetros primários ambientais podem ser 1, 2 ou 3. Por exemplo, o ambiente menos hostil é descrito como M1 I 1 C1 E1, enquanto o ambiente mais severo no escopo da NBR 16521 é definido como M 3 I C3 E33 . São possíveis, entretanto, outras configurações, como, por exemplo, M1 I 3 C1 E2. Tal ambiente teria requisitos muito críticos quanto à proteção contra o ingresso de contaminantes (I3) e interferência eletromagnética (E2), porém com requisitos menos restritivos para vibração mecânica (M1) e características climáticas (C1).

NBR 16869 – Cabeamento estruturado – Parte 1: requisitos para planejamento

A série de normas NBR 16869 de cabeamento estruturado, composta por duas partes publicadas e uma em desenvolvimento, reúne um grupo de normas de planejamento do cabeamento estruturado e testes do cabeamento instalado. A NBR 16869-1 especifica os requisitos para o planejamento do cabeamento e infraestruturas de cabeamento (incluindo o cabeamento, caminhos, espaços, aterramento e equipotencialização) em suporte às normas de cabeamento estruturado e outros documentos.

Os seguintes aspectos são abordados: • Práticas de instalação. • Planejamento de instalação. • Documentação. • Administração. • Ensaios. • Inspeção.

A norma é estruturada em 10 seções e não possui anexos. O principal objetivo é oferecer ao projetista especificações e recomendações quanto aos aspectos a seguir apresentados resumidamente.

Tab. I – Nível de complexidade operacional

Número de portas gerenciadas 2 a 100 101 a 5000 + de 5000

Comercial Nível 1 Nível 2 Nível 3 Industrial Residencial Nível 1 Nível 1

Residencial (multiusuários) Nível 2 Nível 3 Data centers Nível 2 Nível 3 Especificação da instalação

A especificação da instalação deve ser elaborada pelo contratante e entregue ao instalador e deve abranger especificações técnicas, escopo do trabalho, plano de qualidade, outros serviços do edifício (além de telecomunicações), sistemas de gestão do edifício, de segurança, de climatização, especificações ambientais, entre outros fatores. Aspectos como legislações, pessoas de contato, padrões e políticas também estão no escopo da NBR 16869-1.

Planejamento da qualidade

Um plano de qualidade que especifica os requisitos da instalação deve ser elaborado pelo instalador e acordado com o contratante antes do início da instalação. Esse plano deve apresentar com clareza as medidas e procedimentos a serem adotados para demonstrar conformidade com os requisitos da NBR 16869-1, do projeto de cabeamento e com a especificação da instalação.

No plano de qualidade devem ser detalhados procedimentos para a transferência de responsabilidades entre o instalador e o contratante, para aceitação dos componentes do cabeamento (incluindo especificações físicas, mecânicas, ópticas, etc.), para

verificar a compatibilidade entre os componentes do cabeamento a serem usados na instalação, para garantir a seleção de patch cords adequados para uso no cabeamento, entre outros.

Ainda no que diz respeito ao planejamento da qualidade, a NBR 16869-1 traz requisitos sobre a amostragem dos testes do cabeamento instalado, com uma recomendação do tamanho da amostra para testes que incluem o alien crosstalk. Ela detalha os parâmetros de transmissão que devem ser verificados, os modelos de testes de certificação do cabeamento de cobre (em conformidade com a NBR 14565), os procedimentos de testes do cabeamento óptico, tratamento dos resultados dos testes, etc.

Práticas de instalação

A NBR 16869-1 estabelece que a instalação seja executada em conformidade com as práticas adequadas, definidas na própria norma e também pelos fabricantes dos cabos e componentes. Ela especifica aspectos relacionados à segurança, condições ambientais para armazenamento de materiais, requisitos para inspeção e ensaios, etc. Ainda, no que diz respeito às práticas de instalação, requisitos para caminhos e espaços do cabeamento (internos e externos) são também cobertos pela norma.

Documentação e gerenciamento

A norma especifica que símbolos e desenhos devem sempre estar acompanhados de descrições e que os símbolos para o gerenciamento do cabeamento sejam diferentes daqueles usados em documentos de outros serviços do edifício. No entanto, a NBR 16869-1 não especifica os símbolos propriamente ditos, ficando isso a critério do projetista e/ou contratante.

Ela traz especificações e recomendações para o gerenciamento da infraestrutura de cabeamento e define sua complexidade operacional, ou seja, o nível de complexidade com base no tipo de infraestrutura (comercial, residencial, etc.) e na quantidade de portas (de patch panels, distribuidores ópticos, etc.) gerenciadas, e deve ser determinado de acordo com a tabela I.

A NBR 16869-1 traz os requisitos para identificadores, marcação por etiquetas (de cabos, componentes, caminhos e espaços) e registros para cada nível de complexidade. Métodos de gerenciamento baseados em software também são abordados na norma.

Para finalizar, adaptadores e interfaces de testes, métodos de calibração, proteção do equipamento de teste, etc., assim como a inspeção da instalação após sua conclusão e a devida documentação, fazem parte do escopo da NBR 16869-1.

Na próxima edição de Interface continuarei a discussão sobre as normas brasileiras que compõem o conjunto de nossas normas para cabeamento estruturado.

Paulo Marin é engenheiro eletricista, mestre em propagação de sinais e doutor em interferência eletromagnética aplicada à infraestrutura de TI. Marin trabalha como consultor independente, é palestrante internacional e ministra treinamentos técnicos e acadêmicos. Autor de vários livros técnicos e coordenador de grupos de normalização no Brasil e EUA. Site: www.paulomarin.com.

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