Caderno TGI I_ariane d'andrea

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CONTAMINAÇÕES


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ARIANE PAERO D’ANDREA TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO I INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CONTAMINAÇÕES

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registro do objeto de prĂŠ-tgi


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INQUIETAÇÕES

“Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo, através da prática, vivência ou experiência dos espaços urbanos.” Corpografias Urbanas, Paola Berenstein.


Cidade.corpo.movimento.entre

Esse trabalho surge de um interesse pelo ambiente da metrópole contemporânea, pelas relações entre o espaço urbano e as pessoas e pelas formas de percepção que ele dispara. Assumindo o caminhar enquanto forma elementar de praticar e perceber a cidade, me interessa pensar na escala e na realidade dos gestos, as possibilidades, condicionamentos, restrições e potencialidades aos quais a experiência do corpo se liga a realidade urbana contemporânea. A partir dessa perspectiva, busco ler a cidade a partir daquilo que se move, seus fluxos e ritmos. Encontro então nos espaços entre possibilidades de superar a separação entre os espaços de movimento [vazios] e os espaços sedentários [cheios]. Entendendo o entre como um intervalo, um espaço de intermediação, ao mesmo tempo presente e ausente e sempre aberto ao porvir, onde passam a prevalecer as interseções, constituindo-se um campo fértil as apropriações livres e inusuais do espaço público. Assim, ao contrário de estratégias de negação baseadas em impedimentos, falsos embelezamentos, esvaziamentos e inibições, o que procuro é a potencialização de um espaço-suporte.

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A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com os motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade. Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petóleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do trenzinho da montanha russa de ponta-cabeça, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomeçe. excerto do livro Cidades Invisíveis. CALVINO, I.


imagem da รกrea de projeto

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UNIVERSO PROJETUAL O universo projetual procura registrar referências e interrogações, fornecendo bases para construção dos procedimentos de projeto e chaves de leitura e interpretação da área.


INTERVENÇÕES, APROPRIAÇÕES E SUBVERÇÕES DO ESPAÇO

Na prática cotidiana, a população constantemente propõe outras formas de apropriação dos espaços, que os reconfiguram. Uma via de circulação que tenha o seu tráfego interromido no final de semana se transforma em área de lazer, pista de corrida e ciclismo, seja de forma espontânea ou de maneira regulada pelo poder público. São situações cada vez mais numerosas em São Paulo que muitas vezes ocorrem alguns dos espaços mais inóspitos da cidade, e deles extraem a pulsão de uma vida essencialmente urbana. «Os fenômenos Post-It City conferem relevo à realidade do território urbano como lugar onde, de forma legítima, se sobrepõem distintos usos e situações, em oposição às crescentes pressões para homogeneizar o espaço público. Frente aos ideais da cidade como lugar de consenso e de consumo, as ocupações temporais do espaço resgatam o valor de uso, desvelam distintas necessidades e carências que afetam a determinados coletivos e, inclusive, potencializam a criatividade e o imaginário subjetivo.»

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Academia Cora Garrido, sob o Viaduto do CafÊ. Calçada, do artista Rubens Mano.


O espaço urbano é constantemente posto em questão no trabalho de Rubens Mano. Também em Calçada (São Paulo, 1999), o artista se utiliza de circunstâncias colocadas por este como forma de deslocar o significado do objeto para as situações provocadas por ele. Ao levar dutos de eletricidade até a calçada em frente à Oficina Cultural Oswald de Andrade, Mano inverte as noções usuais do que pertence dentro e o que pertence fora, e essa simples operação muda radicalmente as dinâmicas da rua. Essa operação tática, que assume um caráter quase parasita em relação ao edifício, além de colocar em relação o dentro e o fora ou o institucional e o informal, dentre outras relações aparentemente dicotômicas, vem estabelecer a rua como espaço de alteridade.

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A partir da percepção de que nos interstícios das cidades contemporâneas podem nascer atividades sociais imprevistas, as intervenções chamadas de Lotes Vagos procuram dar uso temporário às parcelas expetantes da realidade urbana, envolvendo as populações locais. Os territórios improdutivos podem assim transformar-se em áreas produtivas de contacto e partilha social. A chave de atuação é a conversão intencional do lote privado num provisório espaço público, socialmente ativo e dinâmico. Ativando esses resíduos e ausências dos tecidos urbanos, as intervenções são por isso oportunidades criativas que se abrem coletivamente ao inesperado e imprevisível. A vida comunitária pode acontecer nesses vazios latentes da cidade existente.

Lotes Vagos, dos artistas e arquitetos Breno Silva e Louise Ganz


“Na realidade, diante de uma produção racionalizada, expansionista, centralizada, espetacular e barulhenta, posta-se uma produção do tipo totalmente diverso, qualificada como ‘consumo’, que tem como característica suas astúcias, seu esfarelamento em conformidade com as ocasiões, suas ‘piratarias’, sua clandestinidade, seu murmúrio incansável, em suma, uma quase invisibilidade, pois ela quase não se faz notar por produtos próprios (onde teria o seu lugar?) mas por uma arte de utilizar aqueles que lhe são impostos.” (CERTEAU, 2007)

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AÇÕES Táticas Certeau acredita que, por meio das práticas cotidianas, é possível que se reinvente o real, valendo-se de formas de apropriação e subversão do que é “oferecido”. Assim, nas maneiras de fazer, de consumir, de narrar, construir, dançar, entre outros, existe um potencial de subversão a ser explorado. Com essa perspectiva, os usuários do espaço urbano ganham força propositiva, suas operações táticas possibilitam uma resistência frente às estruturas.


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Intervenção da artista Ana Tavares no Artecidade Zona Leste Conical Intersect, Gordon Matta-Clark


Neste trabalho da artista Ana Tavares a proposta é romper com a sistemática do acesso e da percepção. Trata-se da instalação de um conjunto de passarelas e escadas que interligam as diversas áreas existentes nos andares de um galpão e, através de aberturas feitas nas lajes, os diferentes pisos entre si. Instaurando um dispositivo de circulação inteiramente distinto daquele imposto pela estrutura arquitetônica.

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Em muitos de seus trabalhos Matta Clark trabalha com o corte de edifícios a fim de tornar visíveis suas múltiplas camadas – espaciais e temporais. Com essas operações arquitetônicas negativas (cortar, escavar, desconstruir), Matta Clark rompe com a unidade e continuidade, tensiona a relação entre estrutura e desintegração, forma e decomposição, totalidade e fragmentos, desaparecendo com as diferenças entre planos verticais e horizontais, criando fendas em edifícios, revelando e colocando em destaques as relações não vistas na unidade.


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Man walking down the side of a building, Trisha Brown


Teatro Oficina Cena de peรงa do Teatro da Vertigem

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A cidade de São Paulo foi constituída a partir de processos de justaposições, descontinuidades e fragmentação, num contínuo movimento autofágico. A estruturação de seu espaço urbano se fez especialmente a partir de respostas às urgências de um tardio, mas veloz, processo de industrialização e pode ser compreendida principalmente pelas lógicas de implantação de sua infra-estrutura de transportes, historicamente de tendências rodoviaristas. A metrópole da década de 60, já congestionada, trouxe à cena a defesa das vias expressas, que rasgavam a cidade e permitindo melhor circulação. Novas obras, muitas em desnível, passam a tratar a região central como mero nó de articulação e passagem na estrutura viária da cidade, priorizando a circulação em grande escala em detrimento das áreas atravessadas. O Elevado Costa e Silva, inaugurado em 1971, tanto por sua extensão, como pelo tamanho do impacto ambiental que causou, é considerado um objeto emblemático desse período que reúne todo um conjunto de equívocos presentes também em outros planos traçados para a cidade de São Paulo, antes e depois dele.

SãO PAULO

Como parte do sistema viário estrutural, o Elevado Costa e Silva é somatória de duas vias radiais (Avenidas General Olímpio da Silveira e São João) e um trecho da segunda perimetral (R. Amaral Gurgel). Estendendo-se a Leste através da Liberdade e Glicério, chega até a Av. Alcantara Machado constituindo a primeira conexão diametral expressa entre as zonas Leste e Oeste, caracterizando-se por contornar o centro e o perímetro de irradiação do plano de Avenidas de Prestes Maia, concebido em 1930.

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«O elevado é uma duplicação. Uma via sobre a outra multiplicando a capacidade viária. Encravado entre prédios, é um alargamento para cima, um túnel no ar.» Candido Malta Campos Acusado por alguns como um dos responsáveis pela rápida deterioração do centro da cidade a partir dos anos 70, o elevado pode certamente ser indicado como culpado pela deterioração do entorno imediato, que, graças a sua grande extensão, significa uma considerável área urbanizada e consolidada. Habitações de classe média e comércio nunca mais se recuperaram dessa incisiva intervenção urbana.

«minhocão»

Numa primeira aproximação, assim como para uma compreensão mais ampla de toda sua extensão, foi realizada uma breve análise de certos trechos mais relevantes. Buscou-se perceber reincidências e também diferenças nas relações estabelecidas entre o elevado e o entorno, de forma que fossem revelados indícios tanto físicos quanto simbólicos do processo de transformação urbana desse trecho da cidade.

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A. Neste trecho é forte a descontinuidade espacial gerada pelas três vias que

não mantêm relações em nível: a Av. Pacaembu submerge (no sentido transversal) sob a Av. São João, enquanto o elevado permanece completamente descolado, sobre ela.

B. A Praça Marechal Deodoro, praça bastante tradicional nessa região, no cru-

zamento das avenidas São João e Angélica, foi praticamente engolida pelas sombras perdendo quase completamente suas características e sua vitalidade.

C. O momento em que o Elevado sofre uma inflexão deixando de estar sobre a Av. São João para ir alinhar-se com a R. Amaral Gurgel é onde se percebem os maiores impactos fisícos da sua implantação. É também onde ocorre o maior contato entre ele e o nível do solo. D. O trecho no qual ele mergulha sob a Praça Roosevelt, ramificando-se em diversas vias de distribuição do fluxo, é completamente inóspito aos pedestres. É certamente o trecho mais degradado.


C

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Interpretações


O Elevado opera um corte radical na paisagem, no tecido urbano e na própria continuidade dos traçados locais, constrói uma multiplicidade de camadas, mergulhando e emergindo. Costuma ser apreendido de maneira fragmentada. Por cima, por baixo, ou como segmento de algo do qual não se vislumbra começo nem fim.

O ELEVADO E SUAS AMBIGUIDADES

É caracterizado por uma série de ambigüidades, na forma de coexistências ou sobreposições, possibilitando interpretações que podem ter seus sinais invertidos dependendo de como se olha. A mais evidente delas é a maneira como resolve uma ligação na escala do território, enquanto estabelece uma forte descontinuidade com a localidade. Além disso, ele cria uma zona de sombras, um mundo semienterrado, em que térreos e primeiros andares se perdem num longo subsolo. Mas cria também, quando se está em cima, um espaço de certa maneira privilegiado para se olhar a cidade, um percurso em semisuspensão, que nos permite uma outra apreensão do ambiente urbano. Representa o grau máximo de tudo que é incômodo, ofensivo e barulhento na vida dos paulistanos. Mas que, aos finais de semana, se torna um espaço público, uma praia urbana, de uso e apropriações intensas. A drástica desvalorização do entorno imediato, de um modo geral vista de forma negativa, acabou operando uma espécie de «gentrificação às avessas» ao “expulsar” a população local majoritariamente de classe média possibilitando a uma população de menor renda morar numa região do centro da cidade amplamente servida de serviços públicos, configurando um novo perfil e outro dinamismo para a região.

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A intenção não é propor uma solução para o elevado em si, mas pensá-lo como elemento estruturador, que por sua força na paisagem, configura e dota de características específicas os lugares por onde atravessa.


O trecho em que o elevado sofre a inflexão cria uma série de especifidades nessa região próxima ao largo de Sta Cecília. Talvez por ser o lugar onde causou maior impacto ao literalmente atropelar as quadras, assim como também é onde as camadas mais se tocam, ou seja, onde sua presença gerou o maior número de transformações físicas. Essa situção específica somada as dinâmicas presentes nessa área despertaram um maior interesse mostrando-se campo fértil para as explorações projetuais buscadas.

Recorte

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conformaçao das quadras antes da construção do Elevado


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conformaçao das quadras após a construção do Elevado


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barreiras resultantes da incis達o


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OLHARES Ao assumir as camadas temporais e fluxos presentes na área como pré-existências para o projeto, se torna imprescindível olhar de maneira mais atenta e perceber a infinitude de trajetórias, narrativas, ritmos e imagens da cidade, que são construídas cotidianamente naquele lugar.


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CARTOGRAFIAS Cartografias são sempre imprecisas. Mesmo sobrepondo formas de ver o lugar, só mostra fragmentos de um mosaico incompleto. Histórias que se entrelaçam contando dias e noites particulares ou genéricos, fatos e dados inúteis ou inusitados, casos e coisas viscerais ou desnecessárias. Procuro então, a partir da impossibilidade de mostrar num mapa tudo sobre um lugar, propor pontos-de-vista sobre espaços.

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painel sĂ­ntese de leituras da ĂĄrea


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PELA JANELA «A janela é mesmo pra ter o lazer, ter um ventinho...quando eu to aqui pensando na vida, eu vejo o pessoal conversando debaixo do ponto do ônibus , debaixo do viaduto...olho os ônibus, na hora que sai, na hora que chega, quem entra, quem desce...é um passatempo meu...»

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*cena do documentário Elevado 3.5


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FEIRA-LIVRE Eu tava na feira...você sabe, a feira que tem aqui de domingo...quando uma moça veio me perguntar se podia me fotografar... Na semana seguinte vi minha foto no jornal, eu não sabia que ia sair no jornal... Meu vizinho, ele viu a foto e veio na minha casa pra mostrar o jornal, eu já tinha visto né, mas não falei pra ele...ele tava todo contente

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ESTAÇÃO STA. CECÍLIA Capacidade: 20.000 passageiros/hora/pico Área Construída: 10.680 m² Inauguração: 10/12/1983


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SUBSOLO «Eu não fui nenhum santo não viu, eu tenho pecados aí que não acaba mais nunca, mas Deus sabe que eu fui gente, Deus sabe que eu num tenho nada a pagar e sabe que inclusive eu hoje em dia to preferindo ir pro inferno, essa história de ir pro céu não é o meu ramo, eu quero ir pro inferno! Lá tem maconha, tem cocaína, fogo, cachaça, mulher, bacanal...O inferno não é muito mais divertido?»

*cena do documentário Elevado 3.5


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RODA DE SAMBA Alô São Paulo Dá licença que eu quero sambar Aqui na rua, a luz da lua A batucada não pode parar Santa Cecília, é alegria Nossa família azul e branco é harmonia A gente samba A cidade se encanta Por que nos somos os Filhos da Santa A gente samba A cidade se encanta Por que nos somos os Filhos da Santa


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A NOIVA DO VENTO Felipe Morozini, fot贸grafo, 36 anos, registra o que v锚 da janela de seu apartamento


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AV. SÃO JOÃO, 250 No dia 27 de setembro de 1969, Luiz Solazzi comprou a Ótica Regina após ter sido funcionário por 15 anos. No dia 15 de novembro do mesmo ano, o Prefeito Paulo Maluf lança a pedra fundamental da construção do elevado.


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DESVIOS «Para a opressão de viver em apartamentos minúsculos existe uma saída. Uma rota de fuga. Ilegal, como toda rota de fuga. Em clara desobediência às normas de planejamento urbano abrem-se minúsculas, irregulares e irresponsáveis janelas que permitem que alguns milagrosos raios de luz iluminem a escuridão em que vivemos.» *transcrição de trecho do filme «Medianeiras»


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COM VISTA PARA O MAR Vista do sétimo andar de um edifício na esquina da Av. São João com a R. Helvétia

*cena do documentário Elevado 3.5


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SALA DE ESTAR

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ROLINHAS x POMBAS Desde que me aposentei venho dar comida pra elas todo dia, três vezes por dia, às 6h às 13h e às 18h...


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fluxos de veĂ­culos, em cinza, e pessoas, em amarelo, nos dias de semana


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fluxos de veĂ­culos, em cinza, e pessoas, em amarelo, nos finais de semana


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ritmos

A primeira situação que chama atenção aos ritmos desse lugar é exatamente a alternância entre fluxos de pedestres e veículos no Elevado. Em seguida, foi se fazendo perceber a presença de outros ritmos. Esses ritmos mostram a capacidade do lugar de se reconfigurar cotidianamente. Além desses «eventos previsíveis», nota-se a presença de situações mais pontuais, efêmeras e esporádicas que também vem ocupar o espaço e modificá-lo, mesmo que por um curto espaço de tempo.

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apropriações temporárias

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circulação de veículos no elevado

samba filhos da santa 77

circulação de pedrestres no elevado

comércio

feira livre de sta cecícilia


Busco a partir dos diagramas seguintes construir e explicitar alguns desenhos de relacões - sejam elas diretas, indiretas ou mesmo temporárias - entre lugares, usos e fluxos que contribuíram para a compreensão maior de algumas dinâmicas da área.

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Sistemas de mobilidade e a diversidade produtiva

A estação de metrô e o Terminal Amaral Gurgel funcionam como grandes concentradores e dissipadores de fluxo nessa região. Sendo os principais vetores desse fluxo as ruas Ana Cintra, Dna. Veridiana [trecho entre a Santa Casa e o Lgo. Sta. Cecília] e Palmeiras. Como consequência essas ruas possuem uma atividade comercial bastante intensa, em sua maioria de lojas de caráter mais popular como pequenos mercados, bares, lanchonetes, brechós e salões de cabelereiros, localizadas no térreo dos edifícios habitacionais, além de um grande número de vendedores ambulantes e uma série de pequenas lojinhas informais em portas e escadas de acesso de cortiços [nas proximidades do elevado].


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O Largo e a Feira-livre

A feira em Sta. Cecília acontece aos domingos na R. das Palmeiras e, assim como a maioria das feiras, ocupa (mesmo que só por um período de tempo) os espaços públicos, ruas e praças, subvertendo o esquema usual de distribuição dos programas comerciais dentro do tecido urbano. A feira se espalha também pelo largo, um dos únicos espaços livres de uso público na região (se considerarmos os períodos em que o elevado está fechado para pedestres), que aos finais de semana assume um caráter diferente daquele dos dias de semana, se tornando uma espaço mais de permanência do que de passagem. A presença da igreja também alimenta essas dinâmicas de caráter mais local.


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Centros culturais e coletivos de arte

Está presente na região um número significativo de coletivos de arte, grupos de teatro e música, além de alguns centros culturais, como a Funarte. Os grupos com atuação mais constante na região, são o Filhos da Santa e o Galpão do Folias. As atividades desenvolvidas pelos artistas e coletivos mantém uma forte relação com o espaço público. Eventualmente esses grupos estabelecem relações entre si.


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O objetivo de identificar essas relações não é para que se possa em seguida desenhá-las, ligando umas coisas as outras e acabar por fixá-las no tempo e no espaço, mas criar uma nova camada, que dialogue com as pré-existências e ao mesmo tempo que as coloque em relação entre si, revelando tensões e possibilitando que elas se fortaleçam, se atritem, tornem-se outras...


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sobreposição de todas as relações anteriores


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Ações projetuais enquanto ações táticas


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O projeto não busca acrescentar nessa área repleta de construções fragmentárias e intensa circulação de pessoas e veículos um novo objeto arquitetônico que pretenda unidade e completude em oposição ao caos circundante. Essa equação urbana não leva tampouco a um projeto «contextual» que procure articular e costurar essas pré-existências, na busca de um significado histórico ou arquitetônico que remeta a uma memória de uma cidade que tenha existido alguma vez. A estratégia do projeto não é amenizar o caos de seu entorno, mas extrair daí sua forma de expressão. Asssim, as ações projetuais surgem na forma de pequenas subversões, ações mínimas no espaço, mas capazes de disparar e explicitar as tensões e ambiguidades presentes naquele lugar, com o intuito de provocar um novo desequilíbrio, assim como fora a construção do próprio Elevado. Entretanto não mais de fora para dentro numa ação brutal que pousa um grande elemento sobre o território , mas num movimento de dentro para fora, gerar um “desequilíbrio produtivo”, uma instabilidade potencial que abra espaço para o surgimento do “outro”.


Assume-se o Elevado como principal elemento de estruturação do projeto, no entanto, seria contraditório pensá-lo enquanto elemento alheio a localidade e operar apenas a partir das lógicas instauradas por ele ao longo de sua extensão. Buscando então subverter seu eixo longitudinal são propostos fluxos transversais a ele de forma a criar um número maior de pontos de contato e possibilidade de entrelaçamento entre as dinâmincas e camadas do lugar, tanto físicas quanto simbólicas, tornando-o menos descolado de seu entorno.

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OPERAÇões

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SUBTRAÇÃO: perfurações.escavações.infiltrações

A intensao não é a de abrir respiros em meio a congestão daquele lugar, num sentido higienistas que vem com a intensão de organizar, mas «cavar buracos», abrir clareiras, pra que outras possibilidades de apropriação do espaço possam emergir

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ADIÇÃO: superfícies habitáveis.dispositivos de movimento/conectores

A adições não vem para preencher os vazios criados ou as brechas existentes, saturando-as de significados, mas sim se configurar como espaços-suporte


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oPErAÇÕES dE SUBTrAÇão

1. _demolição de estacionamento – criação de ligação entre a R. Frederico Steidel e a Av. São João; _abertura da rua sem saída – possibilitando um novo acesso ao terminal Amaral Gurgel; _abertura de área atualmente cercada junto à entrada do terminal; _redesenho do acesso ao metrô – maior relação com o nível da praça aproveitando os jardins/respiros existentes; _abertura e redesenho da praça sobre a estação de metrô, hoje cercada e sem uso; 2. _demolição de mecânica de automóveis lcalizada na fenda entre duas empenas cegas; _Abertura de terreno desocupado, atualmente murado, na esquina da R. Ana Cintra com a rua de acesso ao terminal; _Infiltração em edifício pré-existente - possibilitando travessia através do térreo comercial e ligação com Rua Helvétia; _demolição de galpão comercial - criação de acesso à R. das Palmeiras e Lgo. Sta. Cecília; 3. _infiltração em edifício desocupado [subutilizado] na Av. São João – criação de articulação vertical [acesso elevado]; _demolição de estacionamento na esquina da Av. São João com a Rua Helvétia; _infiltração em edifício desapropriado ocupado – possibilitando travessia através do térreo;


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UMA OUTRA LÓGICA DE CIRCULAÇÃO ENTRE O VAZIO E O EDIFICADO O resultado dessas operações é a criação de uma nova lógica de cirulacao, ou seja, uma outra lógica de movimento na cidade, menos funcional, mais porosa e que potencialize contaminações inusuais.


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À função de circulação serão acrescentas outras, não nomeáveis, associadas à permanência e ao encontro, isto é, ao desfrute da sua espacialidade intrinsecamente porosa, aberta,


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nível do elevado nível do solo nivél do metrô

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nível do elevado nível do solo nivél do metrô


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