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POR DENTRO DA ILHA
CAIXA Cultural Rio de Janeiro | 1 a 13 de agosto de 2017
POR DENTRO DA ILHA
É com satisfação que a CAIXA Cultural apresenta a mostra Por Dentro da Ilha - Cinema em Cuba Nos Anos 2000, um panorama das produções filmadas em Cuba nos últimos anos. O evento traz longas de ficção, documentários e curtas, além de uma sessão em homenagem a Nicolás Guillén Landrian, importante documentarista cubano. A curadoria, assinada por Denise Soares, selecionou diversos filmes de diretores cubanos, mas também de estrangeiros que possuem estreita relação com o país. A obra que abre a mostra é Veneza (2014), de Kiki Alvarez, selecionada em festivais em Toronto, Miami e Guadalajara, entre outros. Este é o primeiro filme cubano feito através de crowdfounding, e uma amostra do atual cinema independente em Cuba. Além da exibição dos filmes, o projeto oferece também uma palestra e um debate. O patrocínio da CAIXA à mostra Por Dentro da Ilha - Cinema em Cuba Nos Anos 2000 possibilita ao público ter acesso a produções atuais deste país insular onde o cinema independente ganha cada vez mais força, apesar da dificuldade de acesso a tecnologias e do extremo controle do Estado sobre os meios de produção. Esses novos realizadores encontraram formas de produzir, e se articulam politicamente para aprovar uma nova Lei de Cinema mais democrática. Os projetos que ocupam os espaços da CAIXA Cultural são escolhidos através de seleção pública, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todo o país. Sempre com o intuito de promover a pluralidade de ideias e democratizar o acesso à fruição do bem cultural e a valorização da diversidade cultural, a CAIXA reafirma seu compromisso com a cidadania, a cultura e o desenvolvimento do país, sendo reconhecida como uma das principais patrocinadoras de projetos culturais em todo o território nacional. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ÍNDICE
POR DENTRO DA ILHA
APRESENTAÇÃO - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 08 ENTREVISTAS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 10 Kiki Álvarez - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11 Carlos Quintela - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 13 Marcel Beltrán - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 15 Irene Gutiérrez - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 18 Alejandro Brugués - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 21 Miguel Coyula - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 24 Brasileiros na mostra - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 26 Vicente Ferraz - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 27 Aldemar Matias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 29 Gustavo Vinagre - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 31 Janaína Marques Ribeiro - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 33 HOMENAGEM a Nicolás Guillén Landrián - - - - - - - 35 Entrevista com Manuel Zayas - - - - - - - - - - - - - - - - 36 Exumações de Nicolás Guillén Landrián - - - - - - - - 37 OS FILMES LONGAS - METRAGENS - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 44 Digna Guerra - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 47 Hotel Nueva Isla - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 49 Jirafas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 51 Juan de Los Mortos - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 53 La obra del siglo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 55 La piscina - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 57 Memorias del desarrollo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 59 Soy Cuba, o mamute siberiano - - - - - - - - - - - - - - - 61 Veneza - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 63 MÉDIAS E CURTAS-METRAGENS - - - - - - - - - - - - - - 64 ABECÉ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 67 Cafe con leche - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 69 Coffea Arabiga - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 71 Cuerda al aire - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 73 La carga - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 75 La llamada - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 77 Los anfitriones - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 79 Los del baile - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 81 Los minutos, las horas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 83 Nos quedamos - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 85 O inimigo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 87 Polski - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 89 Sirenas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 91 FICHA TÉCNICA - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 92 7
A ILHA VISTA POR DENTRO Frequentemente Cuba é protagonista das notícias mundiais: reestabelecimento das relações diplomáticas com Estados Unidos em 2014, o retrocesso do processo com Donald Trump, morte de Fidel Castro, são apenas alguns dos exemplos recentes. Com tudo isso aumentam a curiosidade e as expectativas sobre o futuro da Ilha que, apesar de ter mais acesso à internet desde 2015, com a instalação de pontos de wi-fi em praças, segue fechada, e a troca de informações com o resto do mundo, difícil. A curadoria da mostra “Por dentro da Ilha” apenas se torna possível graças ao intercâmbio pessoal entre realizadores e a curadora Denise Kelm, que viveu lá por três anos, estudando na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños (EICTV), fundada por Gabriel Garcia Márquez, Fernando Birri e Julio Spinoza. Cuba é uma ilha com uma história única e complexa, cheia de contradições que mesmo depois de anos de vivência são difíceis de explicar. Nessa história, o cinema ocupou um papel muito presente. Ainda hoje, dezenas de cinemas de rua localizam-se em Havana. Suas salas, com mais de mil, dois mil lugares lotam, principalmente quando as estreias são filmes cubanos. O Festival de Havana é conhecido pela grande participação da população que aguarda ansiosamente os dias das exibições. Imediatamente após a instalação do regime socialista, o Estado passa a investir no cinema. E a exemplo do que ocorreu na União Soviética (vide Einseinstein, Vertóv, etc.), mesmo pensado para ser fonte de propaganda, o fomento revela artistas e verdadeiras obras de arte. Com o fim da URSS, nos anos 1990, Cuba entra no período especial. A falta de comida e recursos também se transfere ao cinema. Porém, nunca se deixou de se fazer cinema na Ilha. Santiago Álvarez, Tomás Gutierrez Alea e Fernando Pérez são exemplos de cineastas reconhecidos. Porém, esta mostra visa novos realizadores, com uma rigorosa seleção dos últimos 15 anos. É interessante notar que o cinema independente cubano tem ganhado cada vez mais força. Todas as produções cinematográficas sempre foram obrigadas a passar pelo ICAIC – o órgão oficial do governo. Mesmo assim, os novos realizadores encontraram formas de produzir à parte e hoje se articulam politicamente para aprovar uma nova Lei de Cinema, mais democrática. “Independente”, “democrática”, são palavras com um peso especial no contexto cubano. POR DENTRO DA ILHA
A mostra se compõe também de coproduções com outros países, do próprio ICAIC e uma seleção de curtas (grande parte apoiada ou produzida dentro da EICTV), por alunos cubanos ou estrangeiros que viveram intensamente o cotidiano da Ilha. A mostra conta ainda com uma sessão dedicada a Nicolás Guillén Landrian. Nicolás é um cineasta ainda desconhecido que produziu documentários na época áurea do ICAIC (anos 1960). Apesar de trabalhar para o Estado, sua produção sempre foi marcada por forte crítica ao regime, o que levou à sua expulsão do órgão e posterior exílio nos Estados Unidos. Mas além disso, sua obra revela uma vanguarda ainda transgressora nos dias de hoje, que influenciou muitos os cineastas cubanos. Um tema transversal à maioria das obras é a imigração, em um país onde um quinto da população vive no estrangeiro. “Memorias del Desarrollo” é a obra mais significativa neste aspecto. O roteiro é baseado no livro homônimo de Edmundo Desnoes, também autor do livro que gerou o clássico “Memórias do Subdesenvolvimento”, de Tomás Gutiérrez Alea. Em um país que sofre até hoje com o bloqueio econômico, pobreza e decadência também são temas recorrentes, como mostra “Hotel Nueva Isla”, sobre um homem que vive em um hotel de luxo em ruínas, resgatando dos escombros objetos de outros tempos. O mais novo filme de Carlos Quintela, “La obra del siglo”, é uma história de ficção que se passa em uma cidade real onde estava projetada a construção de dois reatores nucleares. Hoje a cidade é povoada por diversos especialistas em energia nuclear, esmagados pela sombra de um futuro que não chegou. Talvez baseado neste sentimento de morte em vida, “Juan de los muertos” é um filme de zumbis, com direito a todos os códigos de cinema de terror. A primeira obra do gênero do país, é uma comédia que também revela muito sobre a vivência cubana. Mas além da política e da economia, os cubanos também retratam outros temas. Digna Guerra é um documentário sobre uma musicista, de Marcel Beltrán. Experimentando os limites da forma, também de Carlos Quintela, “La Piscina” retrata um dia de quatro jovens com necessidade especiais em sua aula de natação. A sessão de curtas de ficção conta com “Los Anfitriones” e “Los Minutos, las Horas”, “Ventanas” e “Polski”, entre outros curtas premiados, além dos curtas que apenas estão começando seu circuito em festivais. Ao final da mostra provavelmente os espectadores entendam Cuba menos ainda, por sua complexidade e contradições. Mas esperamos que com essa mostra, através de uma multiplicidade de formas e olhares, pelo menos uma parte do mistério que ronda a Ilha seja desvendado. 9
ENTREVISTAS
POR DENTRO DA ILHA
Kiki Álvarez (Cuba, 1961)
Licenciado em História da Arte pela Universidade de Havana, cursou Teoria da Comunicação e Dramaturgia no Cinema. Suas obras iniciais, “Espectador”, “Amor” e “Dolor” são consideradas os primeiros exemplos de videoarte cubanos. “Jirafas” (2012) ganhou o Spirit Award no Festival de Cinema de Brooklyn em 2013 e as protagonistas de “Venecia” (2014) dividiram o prêmio de Melhor Atriz Iberoamericana no Festival de Cinema de Guadalajara em 2015. “Venecia” foi premiada com cinco Kikito sno Festival de Cinema de Gramado de 2015, outorgados às três atrizes, a melhor fotografia e a melhor diretor. Seu último filme “Sharing Stella” se move entre as fronteiras da ficção e do documentário. Atualmente está trabalhando na pós-produção de “Las Chambelonas”. É chefe do departamento de Direção de Ficção da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños (EICTV). Como você avalia o cinema cubano atual? Qual o papel do cinema cubano hoje no mundo e na própria Ilha? O cinema cubano está em crise, como toda a sociedade cubana. É uma crise estendida, permanente, caracterizada pela convivência de um modelo industrial inoperante, e a irrupção de produções independentes que, por não ter um marco legal de desenvolvimento, atuam de maneira descontinuada. Mas a crise não é só industrial, é também uma crise de conteúdos, de diálogo cultural, de desenvolvimento endógeno. Há um complô institucional contra o Cinema Cubano. Nós, cineastas cubanos, estivemos três 11
anos tentando oxigenar o desenvolvimento da cinematografia cubana e todas as nossas demandas permanecem rejeitadas e ignoradas. Com menos de 10 salas de cinema funcionando e que só oferecem uma sessão ao dia, não se pode esperar nenhuma revitalização. Estamos falando de sobrevivência e nessa condição não se pode aspirar significar nada a uma sociedade em que a falta de ofertas culturais pública tem desenvolvido diversas e engenhosas alternativas de ócio e consumo privado. O cinema cubano que se faz hoje, seja industrial, independente ou alternativo, documentário ou ficção, não está fazendo outra coisa que documentar seu próprio e lento desmoronamento... sua própria morte. Como é fazer cinema independente em Cuba? Não há uma maneira, uma fórmula. Cada projeto cria seu próprio modelo de produção, sua própria rota criativa. “Jirafas” se fez de uma maneira, “Veneza” de outra. Não são produções que respondem a um desenho de produção sistêmico, mas cada uma delas nasceu de um desenho de produção e um dispositivo criativo único. Há filmes cubanos que te inspiram? Quais? Pode ser que exista algum, mas isso não é relevante. Creio que em geral o cinema cubano tem perdido a capacidade de dialogar consigo mesmo. O clima cultural não é propício. Quantos filmes você dirigiu e quais são? Não acho importante enumerar meus filmes. Não creio ter um currículo que seja revelador de uma trajetória artística, mas bem serviria para ser testemunha de minha perseverança, minha tentativa de me reinventar, de voltar a filmar cada vez como se fosse a primeira. Olhar minha trajetória e “seus frutos” só me serve para perguntar por que continuo fazendo cinema e para quê, enquanto continuo fazendo. Em “Venecia” e “Jirafas” se nota um “frescor” na maneira de filmar. Como é seu processo, suas inspirações, buscas e obsessões? Meu processo cada vez mais tem a ver com olhar e escutar o outro e com renunciar ao panteão do meu saber. Para isso meus últimos filmes nascem de diálogos criativos e não de obsessões pessoais. Meu ponto de vista é somente esse, um ponto de vista, e só me interessa desenvolvê-lo quando está interagindo com outros pontos de vista. Isso que você chama de frescor vem da espontaneidade, de tentar registrar sempre o aqui e agora, desde a posição de um interlocutor. Nada pré-fabricado pode ser fresco e muito menos as obsessões. POR DENTRO DA ILHA
Carlos Quintela (Havana, Cuba, 1984) Graduado em Direção pela Faculdade de Meios de Comunicação Audiovisual do Instituto Superior de Artes, em Havana, e em Roteiro pela EICTV. Seu primeiro longa, “La Piscina”, estreou na Berlinale (Panorama) e participou de mais de 20 festivais, entre eles Miami, onde ganhou o Prêmio de Ópera Prima. “La Obra del Siglo” ganhou o Tiger Award em Rotterdam e o Prêmio Especial do Juri em Lima. Quantos filmes você dirigiu e quais são? Três longas: “La Piscina”, “La Obra del Siglo” e “The Wolves of the East”, este último tem título em inglês porque originalmente é em japonês, pois se rodou lá. Se incluímos curtas, poderia somar mais títulos à lista. Como você avalia o cinema cubano atual? O cinema cubano atual continua sendo muito discreto e medroso quanto aos seus temas, é como se o interesse dos burocratas e governantes herdassem os cineastas e te digo isso porque também padeci desse mal. Em geral o cinema fica muito aquém das situações que acontecem na Cuba atual, mas isso simplesmente é minha opinião. Qual é o papel do cinema cubano hoje no mundo e na própria Ilha? O cinema cubano deveria ser a melhor empresa de exportação de imagens sonoras e ideias sobre Cuba, mas infelizmente está longe de ser, assim se completa a primeira resposta que te dei. Para que o cinema cubano volte a ter um lugar de interesse o primeiro impulso deve vir de 13
dentro, da Ilha e seus cineastas e talvez depois de produzir muito cinema este deixará de ser uma simples curiosidade. Dentro da Ilha, apesar de tudo, o cinema cubano tem algo que não se perdeu e é que o povo cubano continua desejando ver temáticas abordadas na grande tela. Em “La Obra del Siglo”, como foi o processo de criação? Sempre digo que foi um grande acidente porque foi um filme que se pensou muito diferente de como finalmente ficou. Do papel à filmagem passaram muitas coisas, entre elas imagens de arquivo. Filmar na Ilha é muito hostil, as coisas mudam constantemente. Em um ponto do processo deixei de resistir e tentar superar as dificuldades e passei a aproveitá-las. Como você conheceu os espaços do filme e como criou os personagens? Quando estudei roteiro na EICTV tive aulas de escritura de cenas com o grupo de Teatro de la Fortaleza, que é da Cidade Nuclear. Depois de idas e vindas eles nos foram dando a possibilidade de nos conhecermos mais. O que não me contaram eu imaginei. Aos três personagens já os conhecia, Leonardo é outro acidente, ele é o vendedor de frutas no mercado sem formação profissional, mas confiei nele e somos criados no mesmo bairro. Com Mario Guerra já havia trabalhado antes e somos bons amigos e graças a ele conheci um dos maiores atores desse país que é Mario Balmaseda. O resto do trabalho foi de encontros que finalmente derivaram no que se vê no filme. Em geral há filme cubanos que te inspiram? “La Primera Carga al Machete” sempre me pareceu muito adiantado à sua época, mas deveria vê-lo outra vez porque só me lembro de detalhes. Também gosto muito de “El Elefante y la Bicicleta” e “La Última Cena”. “La Piscina” e “La Obra del Siglo” têm uma forma muito particular em relação a outros filmes cubanos. Como seus filmes conversam com a cinematografia cubana? “La Piscina” rompe mais que “La Obra del Siglo” e com isso não me refiro que seja um filme melhor ou pior, porém além da ruptura creio que ambos os filmes, de diferentes maneiras, são profundamente políticos e isso tem relação com o legado político do cinema cubano. Há uma vontade de falar e que essas palavras traduzidas em imagens/sons retumbem de alguma forma. Você acredita que há um rompimento ou continuidade em relação ao cinema cubano em suas obras? Creio que nesse ponto estamos sobrevalorizando meus filmes e prefiro que continuem sendo filmes de seus momentos, pedir mais é tratar de fazer o trabalho do tempo. POR DENTRO DA ILHA
Marcel Beltrán (Cuba, 1985) Filho de pintores, se graduou com Diploma de Ouro no Instituto Superior de Arte (Cuba) em 2008, completando seus estudos na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños em 2011. Foi reconhecido em várias ocasiões como Melhor Diretor pela Mostra Jovem do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficas (ICAIC). Seu filme “Cisne Cuello Negro, Cuello Blanco” participou em 2013 na Mostra Documentary Fortnight no MoMA de Nova Iorque. Desde 2011 faz parte da residência de cinema experimental Independent Imaging Retreat (Film Farm). Em 2015 o Festival Internacional de Cinema de Miami realizou uma mostra de sua obra como parte do Cuban Independent Emerging Film/Video Artist. É professor consultor na EICTV.
Em “Digna Guerra”, como foi o processo de criação, o desenvolvimento da forma e a aproximação com a personagem? “Digna Guerra” foi nosso primeiro filme depois de graduados. Roman Lechapelier, Raphaël Barani e eu saímos da EICTV com essa proposta de trabalho, em que o Instituto Cubano de Música através da Produções Colibrí nos solicitava um filme que valesse de homenagem à trajetória de Digna Guerra, diretora do Coro Nacional de Cuba. Ivone Cotorruelo fez o desenho de produção e Bárbara Llanes a música. Foi uma experiência muito alentadora. Rodamos partes do filme em 35mm e logo adicionamos algumas seções mais experimentais em preto e branco com um negativo de alto contraste. Utilizamos alguns materiais em Hi8 que Benjamín Suárez, o 15
esposo de Digna Guerra, havia gravado e que nos davam o olhar familiar. Pensamos em um filme que sustentasse desde as reflexões de sua protagonista e que fosse um retrato psicológico do caráter um tanto paradoxal de seu nome. Em geral, os músicos e artistas cubanos estão acostumados às reportagens em que se pergunta de sua vida, com fotos retocadas com zoom-in/zoom-out digital, e algumas atuações situadas como momentos de esplendor. No primeiro dia de filmagem a maestra Digna perguntou: “onde você quer que eu me sente para e entrevista?”. “Não há entrevistas, maestra”, respondi. Pensávamos em fazer um retrato acompanhado de momentos íntimos nos quais Digna se definia em pequenas decisões. Em instantes em que a cor de sua voz, seu olhar, suas mãos – um diretor de coro expressa sempre com as mãos – e seu estado de ânimo ajudava a compreendê-la desde uma ilusão cinematográfica. Um jogo em que o mutismo do ambiente coral nos aportasse a algo importante para a reflexão: um coro, composto por pessoas, por singularidades, no qual o indivíduo deve deixar de ser um, para fortalecer o todo determinado pelo diretor. Lembro-me das palavras de Fernando Pérez que acompanharam o DVD comercial do filme que se intitulou “Retrato da Artista desde dentro”. Fernando fazia também uma nota sobre isso: o silêncio, os rostos que olham em surdina à câmara, a imagem calada de Digna e sua mudez reflexiva nos fazem pressentir e vislumbrar o mundo interior da protagonista em sua “solidão sonora” e sua “música calada” - como nos cânticos de San Juan de la Cruz. Como acontece frequentemente com todo artista consagrado, as ocupações são muitas e não há tempo. O filme se rodou em cinco dias quando Digna e sua família nos cederam uma semana ao todo. A rodagem andou sem contratempos e logo restava esperar que o negativo fosse processado nos laboratórios da Technicolor em Toronto. Estivemos uns seis meses montando o material e logo finalizamos o filme mixando no estúdio da EICTV. Em todo momento contei com o apoio moral de Digna Guerra que me incentivava a fazer o que eu sentia, o que deixou o processo fosse simples. Começamos a investigação reunindo material sobre sua obra, agrupamos a maior quantidade de fotos possíveis e organizamos uma rota pelos lugares que marcaram sua infância. Com essa informação escrevi uma sinopse argumental que serviu de guia para orientar a rodagem. Foi uma experiência de intercâmbio muito interessante. Em “Cuerda al Aire”, como foi o processo? “Cuerda al Aire” havia sido realizado dois anos antes com a mesma equipe de filmagem. Do ponto de vista do argumento, propúnhamos duas vidas paralelas: Anolan Gonzáles, a mais refinada e expressiva violista cubana, e Gerardo Flores, um camponês que compõe poemas no alto da montanha. Duas vidas que se entrecruzam e que formam parte de um efeito POR DENTRO DA ILHA
comum. Anolan desde a cidade encarna o lado urbano, intelectual, culto entre aspas, e Geraldo o camponês que planta malangas para viver, que se move em um meio natural aparentemente isolado e aprazível. Anolan é a filha que vive só com sua mãe, e Gerardo o pai que vive só com seu filho, pois não se conhecem mais além do filme, onde formam parte de um mecanismo social que os inibe. No início senti que ambos guardavam um segredo, um segredo que não tentamos nunca descobrir a não ser pela percepção. Um segredo que os salvava do cotidiano, desse espaço onde para sobreviver há que sempre ter uma máscara. Um lugar interior onde podiam ser eles mesmos e seguir adiante. Esse último me cativou e com essa sensação tentamos esse relato duplo de duas almas afins. Rodamos o filme em uns dez dias, divididos entre o campo e a cidade. Rodamos o primeiro relato de Anolan e logo viajamos na Serra Maestra onde tivemos o apoio da Televisão Serrada, a maior produtora de documentais em Cuba e um lugar de amigos especiais. Como cineasta, quais são suas fontes de inspiração, suas buscas, suas obsessões? Não sou muito consciente do meu processo de busca e menos ainda do que se costuma chamar “obsessões”. Tento me aproximar da intuição e quando chega um momento de identificação busco a melhor forma para expressar minhas sensações. Mas nunca me fecho em uma tentativa de conscientizar minhas emoções e desejos. Talvez porque não quero simplificá-los, banalizá-los, convertê-los em algo mensurável e estruturado. É infinito o caminho que conduz até a origem de uma motivação que te leva a fazer um filme. Às vezes são várias coisas ao mesmo tempo, e tudo se incorpora em um relato que logo tem suas necessidades próprias e que exigem uma ordem, que te pede para ser generoso, expandir-se e ser fértil. No mesmo sentido, não costumo trabalhar com referências. Cada ideia traz consigo suas associações e nesse sentido as fazemos para poder entender do que se trata. Nunca submeti meus colaboradores a ver este ou outro cineasta ou filme para lhe dizer: o que quero é que façamos exatamente isso...O cinema aprendeu muito fácil a copiar a si mesmo. Se o comparamos com outras artes, com a música, a dança ou a pintura que são milenares, estaremos de acordo que somos os cineastas da pré-história. Às vezes é incrível ler textos sobre uma suposta “morte do cinema”, quando estamos dando os primeiros passos. A morte do cinema implicaria no fim das artes e, portanto, do sentido humanista, e se isso chega a acontecer, claramente será melhor não estar vivo. Portanto, creio que se trata de chegar ao limite de nós mesmos, de saltar-se, de tentar sempre ir mais além das analogias, das racionalizações estéreis e da mistificação. Definitivamente, se trata de compartilhar uma emoção e uma forma.
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Irene Gutiérrez (Espanha)
Sundance Institute fellow, Berlinale Talent Campus alumni e artista em residência da McDowell Colony, seus trabalhos como realizadora, roteirista e produtora executiva foram exibidos em diferentes festivais internacionais como Rotterdam, Chicago, Miami, Hong Kong e Moscou, e em museus e centros culturais como MoMA, Glasgow Centre for Contemporary Art e Instituto Cervantes. Seu primeiro longa-metragem “Hotel Nova Ilha” acumula mais de uma dezena de prêmios em festivais nos cinco continentes. Graduada em Documentário pela EICTV e Mestre em Estudos sobre Cinema Espanhol pela Universidade Rey Juan Carlos, trabalha há mais de nove anos como docente. Dirige junto a Lola Mayo o Mestrado em Produção de Cinema Documentário da EICTV e foi responsável durante três anos pelo departamento de Documentário da mesma escola. Agora se encontra prestes a filmar seu segundo longa-metragem, “Hombre Entre Perro y Lobo”, premiado por Tribeca e apoiado pelo Programa Ibermedia.
O que te motivou a filmar em Cuba? Minha relação fílmica com Cuba começa em 2002 quando comecei a estudar no recém-criado departamento de Documentário da EICTV. Com um plano de estudos ainda em formação, muitas vezes nos davam uma câmera e saíamos na rua, cada vez mais longe do perímetro da escola até chegarmos na Tesis (trabalho final) quando filmei uma rail movie sobre o trem. Depois fiquei um ano vivendo em Havana e filmei um documentário POR DENTRO DA ILHA
sobre fotógrafos cubanos que nunca editei. Uma vez de volta a Espanha filmei em minha cidade natal, Ceuta, mas, por exemplo, nunca filmei um só plano em Madri, onde vivi por quatro anos. Em Madri tudo parecia standard, me parece que a europeização das grandes capitais do velho continente homogeneizaram de certa maneira o caráter próprio de cada cidade. No entanto, de volta a Cuba em 2010, desta vez como coordenadora do mesmo departamento em que me formei, foi muito fácil voltar a me encontrar com a alma deste país tão isolado, mas tão aberto e atento ao mundo, tão próximo e tão distante às vezes. Sua energia tão brilhante, facilmente acessível tanto a pé nas ruas como nos lares, é tão diferente do universo doméstico fechado – tão próprio do entorno pequeno burguês europeu – que a gente fica sempre fascinado. Lembra-me profundamente o lugar de onde venho na fronteira Sul da Europa, Ceuta. Uma pequena cidade que, como em grande parte de Andaluzia, vivia de portas abertas, onde as transferências transfronteiriças impregnavam as ruas de um movimento permanente. Mas tanto aí quanto em Cuba, logo se percebe que falta muito tempo para chegar ao fundo das coisas. Debaixo dessa capa de proximidade e acessibilidade há outras capas que são as que oferecem as contradições, os paradoxos, que é o de que afinal se alimenta o cinema. Filmar em Cuba é uma questão de acesso e tempo. Para isso foi fundamental não só meus três anos anteriores na ilha filmando como também o trabalho com Javier Labrador e Claudia Calviño, fotógrafo e produtora respectivamente, ambos cubanos. Para desmembrar a essência da Ilha, a meu juízo, há que se colocar frente a suas múltiplas temporalidades: por um lado uma sensação de transição a alguma coisa que nunca chega a acontecer, por outro lado um tempo curto que é a marca da busca diária pelo sustento, e por último o tempo estático onde tudo ficou estancado em um grande projeto marcado hoje pela imobilidade. Essas três temporalidades em Cuba tem um fator denominador que é onde mora a essência do cinema que eu gosto, e é o conceito de resistência. Talvez aí esteja a resposta a sua pergunta: me motivou filmar em Cuba sua capacidade de resistência. Como você chegou ao personagem de “Hotel Nova Ilha”? Primeiro chegamos ao Hotel, depois a Jorge. Mas foi justamente na filmagem de uns planos de prova durante a investigação quando chegamos à epifania de que Jorge e o Hotel eram a mesma coisa. Nesse plano Jorge, com as costas nuas, sorri apoiado na varanda do hotel. As linhas de suas costelas pronunciadas continuavam exatamente na cadência da forma da varanda, era como se o hotel fosse uma extensão de seu corpo, ou vice-versa. Foi aí que chegamos à epifania de que Jorge e o Hotel eram a mesma coisa. E isso marcou todas as decisões de enquadramento. 19
Como é seu processo, suas inspirações, buscas e obsessões? Susan Sontag afirmava que não tem nada de mal nas obsessões e que, além do mais, um artista deve ser obsessivo. Isso influencia em sua vida inteira, para mim fazer cinema é um sacerdócio cuja finalidade incerta é chegar a entender o mundo, poder apreender de certa maneira a verdade oculta das coisas, apoderar-se de um mistério, executar um ritual muito particular onde cada estágio (investigação, filmagem e edição) conforma um ato de revelação. E isso só é possível fazendo um filme. É uma forma de estar no mundo, de se relacionar com ele, definitivamente, uma forma de conhecimento – isso não é meu, é o que dizia Godard. Se não existe isso, então não me interessa fazer cinema. Como é filmar em Cuba? Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram na criação do filme? Acho que essa questão está respondida na primeira pergunta: em Cuba o acesso e o tempo longo são fundamentais. De outra forma creio que sempre ficaria em um estágio muito superficial. Faz falta tempo para desativar a primeira capa e chegar a contradição profunda das coisas. Às vezes este paradoxo é muito claro, mas às vezes é muito inconsciente e custa desentranhá-lo. No caso de Hotel Nova Ilha foi vital contar com três anos para fazê-la. Quase um ano completo gastamos em poder aceder ao Hotel plenamente e outro ano completo de filmagem. E outro ano para edição e pós-produção. Creio que para encontrar a melhor versão possível de seu filme faz falta, para fechar com a ideia anterior, ser muito obsessiva e ter muito tempo. Existem filmes cubanos que te inspiram? Quais? Tudo de Nicolasito Guillén e tudo de Sara Gómez, sem dúvida. Creio que o conceito de negritude e autoria ainda estão por se explorar na história do cinema cubano. Depois vou de novo aos clássicos: o grande Titón (Tomás Gutiérrez Alea) e Manuel Octávio Cortázar. Dos cineastas presentes creio que Fernando Pérez é grande pelo seu compromisso incondicional com o cinema acima de tudo, por dar alento aos jovens cineastas independentes que trabalham com esforço sem nenhum tipo de ajuda econômica ou governamental, e porque não perdeu a curiosidade e continua explorando além de sua zona de conforto, o que é admirável e exemplar. E entre os cineastas cubanos mais próximos cujo trabalho me interessa e me inspiram profundamente estão Machado Quintela y Abel Arcos, Marcel Beltrán, Rafael de Jesús Ramírez, Alejandro Alonso e Diana Montero. Acho que Marcos Díaz também dará o que falar, todos formados pela EICTV.
POR DENTRO DA ILHA
Alejandro Brugués (Cuba, 1976)
Realizador cubano, graduado pela EICTV, seu primeiro filme foi o longa-metragem “Personal Belongings”. Seu último filme, a comédia de zumbis cubana “Juan de los Muertos”, recebeu 18 prêmios em festivais de cinema internacionais, incluindo o Goya de Melhor Filme Iberoamericano em 2013. Brugues contribuiu com um segmento da antologia de terror “ABC’s of Death 2” e recentemente dirigiu episódios da série “From Dusk Till Dawn” de Robert Rodríguez. O que te motivou a filmar em Cuba? Sou cubano. Morava em Cuba. Tudo o que eu tinha feito em cinema até esse momento era em Cuba. Filmar lá era natural. Nesse momento nem pensei em outra coisa. “Juan de los Muertos” é o primeiro filme de zumbis feito na Ilha. Como foi o processo de criação? Como é sua relação com os gêneros cinematográficos (principalmente terror), são uma constante em suas obras? Sempre fui um grande fã do cinema de gênero, desde que era pequeno. Particularmente de terror. Na época em que estava na escola de cinema, enquanto todos meus companheiros viam os grandes clássicos, eu me dediquei a repassar os filmes que tinham me impressionado quando era criança, porque foram esses os que fizeram com que me apaixonasse pelo cinema. Queria ver se sentia a mesma faísca. E a chama estava ali. Se o cinema de gênero é o que eu gosto, não tinha sentido traí-lo. 21
O processo de criação foi curioso. Nunca tinha pensado em fazer um filme de gênero porque em Cuba não se costumava fazer filmes assim. Nem terror (exceto os curtas de Jorge Molina) nem de ficção científica (exceto os curtas de Jorge Molina). Um dia conversando com Inti Herrera, produtor do meu primeiro filme “Personal Belongings” e em seguida de “Juan de los Muertos”, comentei, vendo pessoas na rua, que elas pareciam zumbis e que poderíamos fazer um filme desse gênero e que não precisaríamos nem de maquiagem e além disso podia chamar-se João dos Mortos. E aí mesmo percebi que esse ia ser o próximo filme: tinha título, um personagem, um gênero, um tom e um subtexto social. A partir desse momento trabalhei durante um ano aproximadamente com o roteiro, vendo todos os filmes de zumbi que podia conseguir (é um dos meus gêneros favoritos), pensando em como funcionariam os lugares comuns do gênero na realidade cubana, e basicamente tratando de encontrar o equilíbrio entre algo que funcionasse como filme de zumbi e sátira social. O terror, quando está bem utilizado, é a melhor ferramenta para falar da realidade. O trabalho com Juan foi tratar de utilizar o melhor possível dessa ferramenta. Em geral, quais são suas fontes de inspiração para a criação? Como é seu processo, suas buscas, suas obsessões? Cada filme é um animal diferente. Mas no geral a fonte de inspiração são os filmes que mais gosto de toda a vida, os cineastas que mais admiro. Mas cada filme é diferente. Primeiro trato de ver filmes parecidos, o que de alguma maneira, estética, temática, etc., tem a ver com o que quero fazer. Para “Juan de los Muertos” vi muitos filmes de zumbi além de outros que para mim tinham conexão temática que iam desde Caçadores de Fantasmas até a Lista de Schindler. Também quis homenagear a clássicos e cineastas que gosto, desde Sergio Leone até Bruce Lee. Então se tem de descobrir como vai filmar esse projeto. No caso de “Juan...” tinha um conceito inicial, que logo por temas de orçamento teve mudou bastante, mas sempre tivemos clara uma estética de certo cinema de terror e ação. Cada filme é uma busca, é descobrir a linguagem com que essa história deve ser contada. Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram a criação do filme? “Juan...” é um filme que só se podia fazer em Cuba, assim que tínhamos POR DENTRO DA ILHA
que lidar com o que havia. O fato de a cidade estar destruída ajudou, porque a partir de um momento do filme se supõe que é uma Havana apocalíptica. A verdade é que Havana, com todo o carinho, tem muitos cantos apocalípticos. Prejudicar, na verdade, nada, mas como nunca se tinha feito algo dessa escala e com esse nível de efeitos práticos e especiais tivemos muitos desafios e foi uma constante aprendizagem. Há filmes cubanos que te inspiram? Quais? Claro. Titón (Tomás Gutiérrez Alea), obviamente. “Memórias do Desenvolvimento”, “A Morte de um Burocrata”. E “Vampiros em Havana”, que é das minhas comédias de terror favoritas, ainda que curiosamente não a visitei nem usei como influência para “Juan...”.
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Miguel Coyula (Cuba, 1977) É graduado pela EICTV e membro da UNEAC (União Nacional de Escritores e Artistas) da AHS (Associação Hermanos Saíz) e do Movimento Nacional de Vídeo. Sua obra-prima “Cucaracha Rojas” recebeu vários prêmios internacionais. Para seu segunda longa-metragem “Memórias del Desarrollo”, Coyula obteve a bolsa Guggenheim. Estreado no Festival de Sundance o filme ganhou vários prêmios internacionais e foi eleito pelo Guia Internacional de Cinema como o melhor filme cubano de 2010.
Qual sua relação com Cuba? É o país onde moro, mas para mim essa Ilha é uma bolha de família e amigos. Você sai dessa bolha e é um desastre. É preciso tomar distância para criar. Como você avalia o cinema cubano atual? Qual o papel do cinema cubano hoje no mundo e na própria Ilha? Não me sinto com a autoridade de determinar isso. Eu só faço o cinema que gosto de fazer. Em “Memorias del Desarrollo” como foi o processo de criação? A princípio fiz uma adaptação bastante fiel do romance. Logo comecei a filmar em ordem cronológica por cinco anos com uma equipe em que éramos o produtor, o ator protagonista e eu. Um orçamento muito pequeno que permitiu um modo de trabalho muito similar ao de um escritor: POR DENTRO DA ILHA
se você tem uma ideia, imediatamente a filma. Tratava-se de converter a câmera em uma extensão do braço. Filmei sem autorizações e logo acudi a pós-produção para somar e tirar elementos nas cenas. Gradualmente o roteiro foi mudando, pois utilizava tudo o que acontecia ao meu redor para formar a narrativa. A ideia era criar uma narrativa aberta que fosse um fluxo de consciência. Como cineasta quais são suas buscas, suas obsessões? Sempre me interessaram os personagens inadaptados, pois são um termômetro ideal para ver a sociedade com olhos críticos. A liberdade para criar tem que ser absoluta, para correr os riscos e voar. Nada pode ser sagrado. Pelo menos é assim que vejo o cinema. Nunca me interessei por formar parte do jogo da política, da religião, da sociedade de consumo, das drogas. Trato de tomar distância de tudo para poder criticar de maneira crua. Não pode existir compromissos com ninguém. É a única forma de fazer um filme independente, não apenas do ponto de vista de seu financiamento, mas independente tanto no conteúdo quanto na forma. Há filmes cubanos que te inspiram? Quais? “Memórias do Desenvolvimento” (1968), “Now” (1965), “Desde la Habana” (1969), “Suite Habana” (2003) e recentemente “La Obra del Siglo” (2015).
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BRASILEIROS NA MOSTRA
POR DENTRO DA ILHA
Vicente Ferraz (Rio de Janeiro, 1965)
Seu primeiro longa-metragem, “Soy Cuba, o Mamute Siberiano” (2005), foi premiado nos Festivais de Gramado e esteve na seleção oficial de Sundance, Locarno e IDFA. Em 2007, dirigiu um dos episódios do longa “O Estado do Mundo”, que participou da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Em 2010 participou do festival É Tudo Verdade com “Arquitetos do Poder” (2010) e finalizou o longa de ficção “O Último Comandante”. Este filme esteve na seleção oficial dos festivais de Chicago, Beijin e Trieste. Em 2015 lançou “A Estrada 47”, coprodução entre Brasil, Itália e Portugal. Premiado como melhor filme nos festivais de Gramado, Fortaleza e Havana. O filme foi comercializado para mais de mais 15 países. Atualmente desenvolve o projeto do longa-metragem “Bastardos”. Qual é sua relação com Cuba, o que te motivou a filmar lá? Nos anos 1980 fui estudar cinema em Cuba. Nessa época me envolvi muito com o país, sua cultura e história. Durante todos esses trinta anos procurei manter contato com os amigos que fiz lá. São laços afetivos e profissionais que acabaram se transformando em filmes. Como você chegou à história do filme? Como foi o processo de criação? Nos anos 1980, ainda como estudante, me interessava muito pelo cinema do Leste Europeu e principalmente pela época do “degelo”, do pós-Stalinismo na URSS, em particular pela obra de Mikhail Kalatosov. Certa vez, vendo o dicionário de cineastas descobri que ele tinha realizado um filme em Cuba. Quando eu vi o filme naquela época, em uma moviola do Icaic, 27
fiquei completamente desconcertado. Anos depois, quando regressei para mesma escola de cinema para dar aulas, tive a oportunidade de resgatar essa história. Sabia que vários amigos e pessoas queridas tinham trabalhado no filme e foi uma maneira de eu também me reencontrar com um momento importante da minha vida. Como foi filmar em Cuba? Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram a criação do filme? A história do filme é muito particular para os cineastas cubanos. Acho que foi o momento certo, quando o filme tinha sido redescoberto nos EUA e eles ainda não sabiam da notícia, inclusive foi durante a filmagem que eles ficaram sabendo dessa redescoberta. Inclusive está em uma das cenas do documentário. Em resumo: todos colaboraram muito, desde Alfredo Guevara e o Júlio Garcia Espinosa, que facilitaram o acesso aos arquivos, até os técnicos que trabalharam no filme e abriram suas memórias para contar essa história. Não posso deixar de destacar a ajuda inestimável do meu querido amigo Enrique Pineda Barnet que foi o corroteirista do “Soy Cuba” junto a Yevgeny Yevtucheko. Além de abrir seu coração, fez a ponte com todos os remanescentes daquela aventura. Filmes cubanos te inspiram? Quais? Vou chover um pouco no molhado, mas sem esses filmes eu seria outro diretor de cinema: “Memórias do Subdesenvolvimento”, “La Pele Cubana Contra los Demonios”, “La muerte de um Burócrata”, “Los Sobreviventes”, “De Cierta Manera”, “La Primera Carga al Machete”, “Lucia”, “Nosotros y la Música”, “Los Hombres de Mal Tiempo”, “Por Primera Vez”, “David”, “Nuevitas”, todos os documentários do Santiago Alvarez e os “Noticieros del Icaic”. Eram cinejornais, naquela época ainda existiam nos cinemas com o complemento antes dos longas-metragens. E também o documentário de Jorge Dalton sobre os Zafiros me inspirou muito para realizar o documentário “Herido de Sombras”. Como esse filme conversa com suas outras obras? Como cineasta, quais são suas buscas, suas obsessões? Eu me interesso pela memória afetiva e em particular pelas histórias perdidas do nosso continente. Acho que foi por isso que acabei filmando em tantos países da América Latina. Meu próximo filme é sobre a escravidão no século XIX e tenho revisto a “La Última Carga al Machete” que, além de ser um filme inovador, dialoga bastante com o tema que quero desenvolver. POR DENTRO DA ILHA
Aldemar Matias (Manaus, 1985)
Diretor graduado na Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba (EICTV) e participante do Berlinale Talents, ganhador de várias menções internacionais, incluindo os Prêmios do Júri em San Sebastián e Documenta Madrid. “Parente” (2011), seu documentário sobre testes de HIV realizados em comunidades Yanomami da Amazônia, foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e adquirido pelo Ministério da Saúde do Brasil. “When I Get Home” (2014) recebeu os prêmios de Filme do Ano e Melhor Documentário no Watersprite Film Festival, em Cambridge. “El Enemigo” (2015), seu último curta filmado em Havana, estreou no Visions du Réel, na Suíça, e foi selecionado em Biarritz, Dok Leipzig, Tel Aviv, Doc Buenos Aires, True/False, Filmer a Tout Prix, Rencontres de Toulouse, entre outros.
Qual é sua relação com Cuba, o que te motivou a filmar lá? O filme é meu trabalho de conclusão de curso da EICTV. Busquei essa escola porque é uma exceção num meio bem elitista que é o mundo acadêmico do cinema. Existe uma diversidade real de pessoas, do Saara à Austrália, com bagagens de vida totalmente diferentes, reunidas no mesmo espaço pra produzir filme juntas. Além disso, tenho uma grande afinidade com o temperamento do caribe. Não sinto nenhuma atração por filmar num entorno nórdico, por exemplo. Gosto de ruído, de desordem, e de encontrar os planos/silêncios no meio desse caos.
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Como você chegou aos personagens de “El Enemigo”? Queria filmar num distrito de fumigação e passei a visitar vários pela cidade de Havana. Foram oito no total. Todos têm um regimento quase militar. Por isso, ou me tratavam como um espião e não davam informação nenhuma, ou faziam uma Disney do escritório deles e discursavam como se fosse o trabalho mais feliz do mundo. No Conselho de Sitios, onde filmamos, Marbelis e Mayelin (as protagonistas) foram bem autênticas comigo desde o primeiro minuto: “Oye chico, qué lo que tu quiere aquí?”. Eu sabia que o filme tinha que ser rodado lá. Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram a criação do filme? A burocracia (que inclusive está bem presente no filme) foi um problema enorme durante a pesquisa. Conseguir uma autorização para filmar num instituto de saúde foi uma missão quase impossível. Estive a ponto de desistir. Mas, durante as filmagens, a falta de preocupação cubana com a privacidade fez tudo fluir com muita naturalidade. Dificilmente conseguiria registrar momentos tão tensos em outro lugar. Foram muito generosos. Filmes cubanos te inspiram? Quais? Tem um filme da EICTV de 2008… “Ode a la Piña”, do Laimir Fano Villaescusa. Esse curta me fez querer de fato entrar na escola de Cuba. É a história de uma dançarina de cabaré que perdeu o rebolado. O filme é bem-humorado, camp, sensível e tem leituras potentes sobre a sociedade cubana. Por exemplo, é um retrato da mulher de Havana que não quer (ou não consegue) seguir o clichê designado para ela de “mulata saborosa”. Peliculón!
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Gustavo Vinagre (Rio de Janeiro, 1985)
É formado em Letras na USP e em cinema na EICTV. É diretor dos curtas-metragens “Filme para Poeta Cego”, “Nova Dubai”, “Chutes”, “Os Cuidados que Se Tem com o Cuidado que os Outros Devem Ter Consigo Mesmos”, “Mãos que Curam”, “Cachorro” e “Filme-Catástrofe”
Qual é sua relação com Cuba, o que te motivou a filmar lá? Estudei no curso regular da EICTV, durante três anos. Nessa época, me apaixonei profundamente pelo país. Existe uma força que só pode ser encontrada quando as pessoas são de fato expostas a uma escassez física, material. Em Cuba, tudo se transforma. Os objetos, quando quebram, ou são consertados ou então encontram uma outra utilidade. Nada é descartável. Tento levar muito disso para a minha maneira de filmar, e acho que, por tudo isso, quis filmar lá. Claro, também pela relação que já tinha estabelecido com o personagem, Lázaro, nos anos que vivi lá. “La llamada” é um filme bastante diferente de “Nova Dubai” ou “Filme para Poeta Cego”. Como cineasta, quais são suas buscas, suas obsessões? Acho que minhas obsessões são amplas e variadas, e por isso meus filmes são bem diferentes entre si, e acho que ainda vão continuar variando bastante. Mas entre “Filme para Poeta Cego” e “La llamada” posso identificar muitas coisas em comum: são filmes sobre homens, mais velhos, muito conscientes de suas crenças políticas e que sabem articular sobre isso. 31
Tanto Glauco como Lázaro são seres políticos, que estão dispostos a colocar em risco muitas coisas – no caso de Lázaro, sua relação com o filho; já Glauco, sua relação com o mundo todo – por aquilo em que acreditam. Ambos os filmes estabelecem relações trianguladas (eu, Akira e Glauco – ou Lázaro, eu, e seu filho postiço). Ambos são filmes sobre os desejos dos personagens, e são parte de uma investigação documental que me interessa muito, e que é na verdade a minha razão de fazer documentário: poder registrar o sonho dos personagens. No caso de Glauco, queria documentar seu desejo, seu delírio poético. Com Lázaro, era a vontade de filmar seu desejo escondido de falar com o filho. Por exemplo, quando Pacolo, seu filho postiço, fala “ele é como se fosse meu pai. Quando meu filho vem aqui, diz “vou dar um beijo no meu avô”... É esse momento que eu busco, quando no documentário os personagens se permitem se transformar naquilo que desejam: ele começa dizendo que ele não é seu pai, para na mesma frase concluir que é; afinal, é avô de seu filho. Isso, pra mim, é o sonho documentado. Como é sua relação com o personagem? Minha relação com Lázaro foi permeada pelo ato de filmar desde o princípio. Saí com a câmera na mão, com o objetivo de filmar a primeira pessoa que encontrasse. Esse foi um desafio autoimposto. E encontrei Lázaro, que é uma pessoa muito doce e me acolheu desde o princípio, convidando-me de imediato a entrar em sua loja. Investiguei e filmei durante meses, e só depois voltei para fazer o filme de fato. Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram a criação do filme? Acho que nada me prejudicou. A boa vontade das pessoas em participar do filme facilitou muito. E, como disse, a escassez material, que poderia ser um problema, foi sempre abraçada por mim e me ensinou muito. Isso me ensinou a pensar cinema de uma maneira simples, com poucos elementos, decupando muito antes para ser certeiro e filmar pouco. Filmes cubanos te inspiram? Quais? “Madagascar”, de Fernando Pérez. “Lucía”, Humberto Solás.
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Janaina Marques (Brasília) Diretora e roteirista, é graduada em Direção de Cinema e TV pela Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV-Cuba) e em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), alé de pós-graduada em Gestão da Indústria Cinematográfica pela Universidade Carlos III, na Espanha. Em Fortaleza, estudou Realização Audiovisual, Teatro e Crítica Cinematográfica. Na EICTV produziu o curta “Los Minutos, Las Horas”. Qual é sua relação com Cuba, o que te motivou a filmar lá? Estudei cinema na EICTV, em Cuba, entre 2006 e 2009. Daí, o curta nasce desse processo de estudo, de experiência de vida, de descoberta. Cuba é uma espécie de presente. Um encontro desses que a gente nunca espera e te marca por toda a vida. Tenho a melhor relação possível com esse lugar. Me sinto muito em casa quando estou por lá. O filme se trata de um evento “simples” e íntimo. Seus outros trabalhos também vão nessa linha? Como cineasta, quais são suas buscas e obsessões? O filme fala de solidão. Busquei encontrar um fragmento de vida que abordasse esse sentimento. Nunca sei muito bem o que eu busco com os filmes que faço. Começa sempre com o desejo enorme de contar certas histórias e só vou me dando conta do que estou querendo falar, da questão temática, da história cifrada, durante o processo. O que eu percebo é que geralmente são filmes com personagens mulheres que por dentro estão gritando e que por fora estão em silêncio. Mas ultimamente já quero fazer filmes de mulheres que gritam por dentro e por fora. Algo mais escandaloso até. 33
O filme estreou em Cinefondátion, Cannes. Como foi a recepção do público nesse e em outros festivais? Foi surpreendente. É um filme muito barato. Recebemos 250 dólares e todos os equipamentos para realizá-lo. Foi feito, na época, com uma equipe de amigos e estudantes de cinema, filmado em três dias, no coração do centro Havana, numa rua chamada Soledad (solidão em espanhol), por pura coincidência. Foi tudo muito rápido e saboroso. Aprendemos muito juntos, vivemos da melhor maneira possível esse processo. Do nada, o filme foi selecionado em Cannes e bum. Foi exibido em 60 países, em cerca de 160 festivais e mostras, pelo mundo todo, circulou intensamente por 4 anos. Ganhou prêmio em Cannes, Clermont Ferrand, San Sebastian... Foram 27 prêmios internacionais. A solidão é algo universal e acho que a história tocou muita gente mundo afora. Você acredita que existe “histórias para mulheres” ou uma “sensibilidade mais feminina” na hora de realizar filmes? Pensar em fazer filmes para mulheres acho que é uma forma reducionista de ver o mundo. Mas acredito em filmes feitos por pessoas com olhares femininos ou com essa sensibilidade feminina. É possível reconhecer um olhar feminino e isso não significa que seja necessariamente uma mulher que esteja filmando. Almodóvar tem um olhar bastante feminino, por exemplo. Mas esses olhares femininos tendem a vir de mulheres, claro. Por isso, faço parte da luta por mais mulheres no mercado, por mais histórias escritas, realizadas e protagonizadas por mulheres. Sou suspeita, mas acho o universo feminino mais potente de desejos. E desejo sempre é o motor de um bom personagem. Como foi filmar em Cuba? Quais particularidades presentes na Ilha ajudaram ou prejudicaram a criação do filme? Filmar em Cuba foi um sonho. Foi marcante, intenso, cheio de energia, cor, sabor, suor, emoção. Foi muito prazeroso. Tudo saiu bem, não teve nada que prejudicasse a filmagem. Cuba é um país carregado de história, com o povo mais solidário e hospitaleiro que já conheci. Todos que moravam perto contribuíram para que tudo saísse bem. Filmes cubanos te inspiram? Quais? “Memórias do Subdesenvolvimento” é um filmaço, Tomás Gutiérrez Alea marca qualquer pessoa que passa pela EICTV. Os documentários de Santiago Alvarez são impressionantes, mas também adoro filmes de egressos da Escola, todos os filmes de Armando Capó, por exemplo, e “La Obra del Siglo”, do Carlos Quintela, são bem especiais. POR DENTRO DA ILHA
HOMENAGEM A NICOLÁS GUILLÉN LANDRIÁN
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Manuel Zayas (Cuba, 1975) Estudou Comunicação Social na Universidade de Havana e Direção de Documentários na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños (Cuba) e na Filmakademie Baden-Württemberg (Alemanha). É diretor e roteirista, tendo realizado os filmes “Seres extravagantes” e “Cafe com leche”, documentário sobre Nicolás Guillén Landrián. Qual sua relação com Cuba? De amor e ódio, pois nasci debaixo de uma ditadura. Como você descobriu Nicolás Guillén Landrián? Como sua obra te influencia? DescobriNicolás Guillén Landrián em meados dos anos 1990, quando estudava jornalismo. Bom, descobri “Coffea Arabiga” e isso foi todo um acontecimento. Logo que vi e fiz cópias do ICAIC de seus filmes, lhe dediquei meu trabalho final da EICTV. Ele foi durante quatro décadas a ovelha negra do cinema cubano, praticamente todo seu cinema foi censurado, como se não existisse. Seu olhar sobre a realidade cubana é um grito de rebeldia, de busca, de liberdade. Nisso quis segui-lo. Para o documentário “Cafe com leche” como foi o processo de criação? Como foi o encontro com Nicolás Guillén Landrián? Imagine que o diretor da EICTV quando fiz esse documentário foi Julio Garcia Espinosa, que antes tinha sido vice-presidente do ICAIC e o principal censor da obra de Nicolás Guillén Landrián. Tive que enfrentar algumas travas burocráticas e insistir durante meses para poder tirar as cópias dos documentários de Nicolasito do instituto de cinema. O processo de realização foi difícil e fascinante ao mesmo tempo, pois Nicolasito vivia em Miami e através de alguns colaboradores consegui ter a entrevista mais completa sobre sua obra. Pouco tempo depois, antes que eu terminasse o documentário ele faleceu. Câncer. Depois que ele morreu é que me deram as cópias. Julio disse que era preciso resgatar esse cinema. Claro, Nicolasito já havia passado a ser um morto e os mortos sempre são úteis. Como cineasta quais são suas buscas, suas obsessões? Como ser humano me interessa manter minha voz, isso antes que tudo, POR DENTRO DA ILHA
mais além das consequências. Isso é cada dia mais difícil no mundo dominado pela mediocridade e pelo grêmio cinematográfico, que vai se convertendo em uma máfia. Talvez sempre foi assim e eu não havia percebido até agora. Além de “Nicolasito”, há filmes cubanos que inspiram? Quais? Sim. “Memorias do subdesenvolvimento”, “Gente en la Playa”, “Vaqueros del Cauto”, “Un Día de Noviembre”, os documentários de Sara Gómez e esse clássico em miniatura chamado “PM”.
EXUMAÇÕES DE NICOLÁS GUILLÉN LANDRIÁN Por Dean Luis Reyes
Originalmente publicado na revista chilena La Fuga
Não posso conter as ânsias de contar uma anedota. Afinal, a teoria nasce na experiência. Naquela tarde, o cinema Charles Chaplin em Havana estava cheio de gente; os tumultos de anos recentes eram na verdade estranhos durante as primeiras Mostras de Novos Realizadores . O programa desse dia incluía cinco curtas de Nicolás Guillén Landrián. Mas quando começou a se exibir “Desde La Habana ¡1969! Recordar” (1969) houve uma comoção. A violência de seu estilo de montagem, a complexidade de sua estrutura para propor uma leitura transversal da história cubana, mais a sutil imprecação aos dogmas aplicados à valorização da experiência do presente, significou pouco menos que um choque. A sensação geral acabou sendo que a história do cinema cubano havia sido mal contada. Era 22 de fevereiro de 2003. Desde 2000, cada edição da Mostra de Novos Realizadores vinha apresentando essas e outras obras desconhecidas para a maioria dos realizadores jovens que aí se reuniam. O ICAIC da década de 2000 exumava, alheio a antigas e quase esquecidas anedotas, parte de seus arquivos proibidos ou subvalorizados. Sem grandes gestos historiográficos nem celebrações, as telas viam a reaparição de obras frequentemente ausentes de biofilmografias, isso quando não se tratava de estreias absolutas. Mas o caso de Landrián foi o mais ressoante. O impacto de seus filmes 37
expandiu a uma velocidade inaudita. A crítica começou a valorizá-lo à altura de Santiago Álvarez – para o horror de muitas posturas acomodadas aos cânones vigentes – e para além da maioria dos de outrora bem legitimados realizadores da não ficção cubana. Para celebrar em 2009 o meio século de fundação do ICAIC, uma votação da FIPRESCI (Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica) local elegeu “Ociel del Toa” (1965) e “Coffea Arábiga” (1968) entre as dez produções mais destacadas da não ficção cinematográfica nacional. No mesmo 2003, o estudante da EICTV Manuel Zayas contou a história de Landrián em sua tesis de graduação “Café com Leche” (2003). Zayas deixou na videoteca da escola as cópias de seus filmes que mais foram circuladas. Outro estudante cubano se ocupou de digitalizar as fitas VHS, de editar dois DVDs com um menu extra incluindo o curta de Zayas, e de pôr para circular uma cópia que, a essas alturas, e em ausência de interesse pelo ICAIC de editar uma de qualidade profissional, circula profusamente. A mesma cópia que os professores estrangeiros visitantes usam em suas universidades e os críticos cubanos estudamos sem se ater à sua qualidade infame. A disseminação teve caráter viral. O útil dessa metáfora é que elude uma lógica linear e discernível do processo. Um vírus é um fator caótico e sua travessia só pode obedecer a uma geometria fractal. O efeito sobre o presente desse repertório pertence a um período histórico longínquo da cinematografia cubana, não tem semelhante dentro das práticas culturais locais. Talvez só seja comparável, na história recente, à recuperação do legado do grupo “Origens” que atravessou a década de 1980 e impactou tanto os estudos literários como algumas das tendências criativas – sobretudo na poesia – da segunda metade desse decênio, até a entrada dos 1990. O impacto provocado pela exibição da obra de Landrián responde exemplarmente ao ideal do rizoma deleuziano: um tronco subterrâneo que aguarda seu momento para brotar. Exploremos as consequências dessa germinação. A primeira delas é detectável na dimensão formal da não ficção cubana atual. Juan Carlos Cremata exibe seu conhecimento enciclopédico do cinema nacional dos anos sessenta em uma peça de montagem que inaugura a transgressão do estilo histórico regente do documentário cubano do ICAIC, quando realiza “La Época, el Encanto y Fin de Siglo” (1999). Mais informado pelo cinema experimental da tradição nova-iorquina, pelas vanguardas europeias dos anos vinte e pela sua experiência como estudante da EICTV no final dos anos 80 – quando, sob a tutoria de Fernando Birri, a investigação sobre as vanguardas históricas, o cinema de Norman Mclaren e a montagem dialética davam lugar a uma corrente transgressora dos discursos tutelares do POR DENTRO DA ILHA
cinema latino-americano de esquerda, em um ato antiacademicista que se apagou logo – , Cremata propõe uma elegia à fragmentação da experiência do presente como único método digno para dar conta da perda de certezas que rondavam o final do século em Cuba. O instinto lúdico que já era consubstancial a “Oscuros Rinocerontes Enjaulados (muy a la moda)” (1990), o filme de graduação de Cremata na EICTV, ressurge agora dentro de um tecido obediente mais à aventura de sentido de cinema estrutural que à busca de uma verdade referencial. “A Época...” é uma peça em que prospera a montagem associativa, o método de colagem e a atitude ensaística, inclusive autorreferencial. Cremata faz um manifesto em torno à evanescente noção insular, sentindo dor e rindo de si mesmo através da despreocupada e ao mesmo tempo ingênua atitude com que as pessoas ao seu redor assumem a transformação da paisagem urbana e afetiva. Uma meditação sobre a ação do tempo sobre o discernimento humano em torno da experiência histórica é um traço que dota a “La Época...” de uma sintonia curiosa com “Desde La Habana...” Mas, o elemento mais assimilável ao cinema de Landrián nessa peça é sua fina ironia, sua evasão de solenidade habitual do documentário cubano do ICAIC, para sugerir leituras pendulares e inclusive contraditórias dos acontecimentos mais sérios. A montagem é precisamente o procedimento de construção de sentido que estimula constantes encontros e deslizamentos que eludem essa tendência habitual no documentário institucional – diga-se a grande tradição da não ficção cinematográfica como ferramenta dos “discursos de sobriedade”, segundo indica Bill Nichols (1997) – até evitar a proliferação de sentidos com que se manifesta a realidade. A estratégia proliferante lança mão à montagem como meio criador de sentidos em uma direção menos linear que a habitual dentro do documentário cubano clássico. Mais além do propósito agitador e estimulador de choques dialéticos, próprios da obra de Santiago Álvarez, da ambição criadora através da mise-en-scéne, presente em Oscar Valdéz, mas sobretudo o estímulo ao documentário como registro, rastro, documento, que rege a maioria das peças produzidas dentro do ICAIC, esta corrente usa a montagem para propor ligações que vinculam à não ficção menos com a tarefa de dar conta da estrutura do visível que com um marcado interesse por figurar o imaterial. Por exemplo, Gustavo Pérez, um realizador que deu lugar em meados da década de 1990 a um grupo de obras documentais muito diverso sobre Camagüey, estado do oriente cubano que goza de uma cultura cinematográfica incomparável a outra cidade do país fora de Havana, reconhece 39
que Landrián foi a pedra de toque de seu estilo nos 2000. “Sola (2003)” e “Despertando a Quan Tri” (2004) respondem ao desejo por explorar o espaço social onde outrora habitou a utopia. No primeiro caso, deixando a câmera navegar nas ruínas de moradas estudantis localizadas em remotos campos cubanos, hoje abandonados, o segundo, visitando um povoado de trabalhadores agrícolas nascidos nos anos sessenta sob a vontade de industrializar a agricultura e batizado em homenagem a uma aldeia mártir do assédio imperialista ao Vietnã. Essas peças renunciam à voz de Deus. Preferem, ao invés disso, um perene estilo observacional, tirar partido das concatenações de sentido induzidas pela manipulação do assincronismo sonoro-visual e uma mise-en-scéne muito calculada, a câmera fixa, o plano estático. Adquirem um ritmo sinfônico, uma qualidade lírica não forçada e uma vocação plástica próxima ao trabalho de representação do retrato. Susana Barriga constrói a fábula privada de um adolescente da Serra Maestra que não sabe se permanece no seu lar ou sai atrás de fortuna, em “Pátria” (2007). O que aparentaria obedecer à lógica da peça de câmara tradicional, acaba funcionando como um dispositivo próximo à abstração, em que se exibe uma meditação sobre os arraigamentos. A mise-en-scéne de “Pátria” tende a justificar a seu personagem muito próximo à borda do plano, potencializando uma composição inarmônica, que sublinha a tensão entre o fora e o dentro, entre o ir e o permanecer. O filme transcorre sem uma entrevista ou declaração em off , oferece nada mais que uma certa frase solta da mãe, quem comenta como de passagem sua angústia pela possibilidade de perder a companhia do filho. Essa corrente de ambição abstrata desconfia dos procedimentos expressivos típicos do documentário, que costumam estabelecer uma relação automática entre o registro factual e a experiência do mundo. No entanto, o documentário cubano recente em geral desconfia das verdades definitivas. Ele tem motivado, inclusive, a violação do pacto naturalista próprio da operação testemunhal, ao excluir uma fonte de objetividade referencial tão decisiva como é a voz humana. Boa parte da não ficção cubana recente opta por uma elaboração não naturalista do som: as paisagens humanas acontecem alheias a qualquer classe de discurso verbal, excluindo inclusive a entrevistas. Uma obra tão destacada do cinema cubano do ICAIC dos anos dois mil como foi “Suite Habana” (Fernando Pérez, 2003) – o longa-metragem mais apreciado e mais bem recebido pelo público cubano na história do cinema nacional – leva esse tipo de manipulação a sua máxima expressão, transformando-a no eixo de sua mise-en-scéne. Pérez escolhe deixar pouPOR DENTRO DA ILHA
sar seus personagens em instantes de pausa ou introversão. Durante uma hora e meia não se pronuncia nenhuma palavra. O definitivo peso icônico de semelhante encenação reforça a qualidade simbólica, o gesto metafórico e a qualidade reflexiva da obra resultante. Realizadores como Rigoberto Jiménez, formado dentro do projeto de televisão comunitária da Serra Maestra, denominado Televisão Serrana – um dos centros revitalizadores da produção de documentários no país das últimas décadas - evoluiu de um estilo mais próximo ao método de reportagem a outro onde a elaboração do material referencial é profunda. Em “Los ecos y la niebla (2004), o retrato de um campesino isolado do resto da civilização é recreado a partir da construção de uma profundidade de campo sonora que evoca a respiração secreta das montanhas. Em “Como aves del monte” (2005), a convivência difícil de um casal de idosos também isolado e sobrevivendo em um ambiente precário traça uma meditação sobre o tempo com um ensaio de outra maneira de elaborar o pacto de solidariedade do documentarista com seus personagens. Para isso, Jiménez constrói um canal de diálogo entre os anciões usando entretítulos em primeira pessoa, que se assemelham a uma conversação quase inexistente na vida cotidiana de ambos. Tais operações obedecem a uma questão de fundo: a negociação do retorno do sujeito popular ao centro das preocupações do documentário cubano. A obra documental do ICAIC dos anos setenta em diante se ocupou na maioria de sujeitos exemplares ou de conter o povo como um conceito amorfo e sem maiores contradições. Mas, o tratamento do sujeito popular encontra um olhar complexo no cinema de Landrián. Provavelmente seja esta a demanda que sintoniza sua reemergência com as necessidades secretas da cultura audiovisual cubana dos anos 2000. Talvez o impacto real de seu revival só se pode entender dentro da agenda negadora da não ficção local frente a sua tradição. O cinema de Landrián põe em evidencia uma rebelião contra a hegemonia do mediador intelectual autoritário do documentário cubano. Rebelião que tem lugar na época em que era tecido o olhar de um cinema fundado em valores de classe média intelectual, de maioria branca e urbana, a qual porta uma verdade que busca disseminar. O documentário do ICAIC se perfilou por norma geral em torno da construção da hegemonia dos valores da revolução socialista, sem propor contradições ou indagar o que ultrapassa a aparência. A demanda de se transformar em propaganda fictícia a serviço da sociedade em construção deixou de lado boa parte do repertório indagador consubstancial às vanguardas da não ficção e optou 41
por não problematizar a constituição do sujeito popular que se representava. Afinal, o cinema do ICAIC se manifestava em teoria sempre a favor do povo, sob o propósito essencial de informar, instruir, orientar. O descobrimento desse elétron livre, cuja sorte não podia haver sido outra que ser expulso do projeto desse tipo de documentário – modalidade patente na zona final de sua obra: “Nosotros en el Cuyaguateje”, “Para construir una casa” y “Un reportaje sobre el puerto pesquero”, todos de 1972 – tinha que ser fonte de transtornos maiúsculos. O efeito de fundo na reelaboração de seu legado é o giro até procedimentos que buscam o espectador como cocriador de sentido. Os realizadores cubanos de hoje privilegiam a observação não tanto como um procedimento de tomada de distância, senão como um modo de negociar seu vínculo com o sujeito retratado. Ou seja, em vez de somente usar a história alheia como veículo do cineasta, tomar como centro da representação o trabalho com a integridade desse outro. Ariana Fajardo elabora em “El círculo” (2011) uma aproximação voluntariamente circunspecta à convivência de um matrimônio cuja tarefa cotidiana mais árdua é cuidar de suas mães em estado quase vegetativo. Aqui a aproximação a sujeitos em situação precária não se acolhe à “pornô miséria” – ou seja, à exibição da esfera íntima em forma de espetáculo – senão a uma indagação nas manifestações de humanidade mais além da dor e da degradação. Não há sublinhados desse tipo narrativo ou sugestões de ânimo moral, senão um presenciar sem ênfases. Igualmente, Armando Capó propõe em “La Marea” (2009) e “Nos quedamos” (2011) um pacto com seus personagens que não é amável. No primeiro, deixa a mise-en-scéne obedecer à relação seca e externa com um ermitão do qual pouco saberemos – talvez com uma certa dívida a “La libertad” (Lisandro Alonso, 2001) – ; no segundo, constrói a partir da montagem e a manipulação sonora uma meditação em torno a persistência humana como inércia, não como gesto heroico. Em todos, as chaves de sentido permanecem submergidas no estímulo ao desejo do espectador, a seu trabalho de exploração e reconhecimento de uma paisagem simbólica que parte do real concreto para construir um deslocamento ambíguo. Essa reiteração do desejo pela história, o corpo, os gestos do outro, mostram o impacto mais definitivo de Landrián entre nós. Seu cinema põe em evidência a necessidade de estabelecer um novo pacto ético para o trabalho do documentarista. Não basta sentir dor pelo subalterno social, nem a motivação política que impele a mostrar aquilo que a sociedade ignora ou oculta. Daí que essa rebelião tenha um fundo ideológico, pois POR DENTRO DA ILHA
questiona o pacto conformista de uma tradição documentária que escatimou a aproximação complexa ao sujeito social. A não ficção cubana do presente persegue a revitalização do compromisso com a imagem do outro, abrindo-se à exploração da forma documentária com um gesto reflexivo. No caso cubano, tal reflexividade se dirige a colocar em questão a postura que obstrui a participação do espectador na construção de sentido ao privilegiar a persuasão por sobre a reflexão. A não ficção atual tende a construir formas dialógicas, que pressupõe tomar parte em uma experiência compartilhada. Inclusive casos como os de Jorge de León, que em “La niña mala” (2011) e “La felicidad” (2012) rende aberta homenagem ao modo Landrián de enfrentar a imagem do outro, existe uma luta com o enigma de aquele cuja imagem tomo a minha responsabilidade, enigma que acaba por não ser respondido. No primeiro, León inclui uma sequência final que se assemelha àquela conclusiva de “Reportaje” (1966). Mais que uma citação consciente e cinéfila, o objetivo dela é trazer ao presente as perguntas não respondidas pelo cinema documentário do ICAIC em torno aos rostos dos campesinos filmados por Landrián. A reflexividade também é patente em “Usufructo” (Eliecer Jiménez, 2011). Seu realizador invoca o recurso dos entretítulos em primeira pessoa – a maneira de “Ociel del Toa” – para fazer falar a um velho campesino que acolheu às formas de propriedade de terra recém-implementadas em Cuba para relançar a agricultura. Um dos tais textos reitera: “É bom que isso vejam em Havana...”. A citação intencional, assim utilizada, ativa tanto a persistência de um legado fílmico passado com muitos dizeres aos cineastas de hoje, com a demanda ética ao fundo da tarefa do documentarista: olhar mais além da superfície. Nichols, B. (1997). La representación de la realidad. Barcelona: Paidós.
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LONGAS-METRAGENS
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Digna Guerra
57’, DOC, 2013 Direção: Marcel Beltrán SINOPSE: Cenas da vida de uma relevante regente de corais se juntam aos pensamentos mais íntimos de uma mulher que viu os acontecimentos mais importantes da vida política e da cena cultural em Cuba após o triunfo da revolução.
Direção de Fotografia: Roman Lechapelier | Montagem: Marcel Beltrán | Produção Executiva: Ivonne Cotorruelo | Elenco: Digna Guerra
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POR DENTRO DA ILHA
Hotel Nueva Isla
71’, DOC, 2014 Direção: Irene Gutiérrez SINOPSE: Apesar da iminência do desmoronamento do edifício em que está, o último morador de um hotel, que um dia foi luxuoso, recusa-se a partir.
Roteiro: Irene Gutiérrez, Javier Labrador Deulofeu e Lorenzo Salazar | Produção: José Ángel Alayón | Direção de Fotografia: Javier Labrador Deulofeu | Montagem: Manuel Muñoz Rivas e Lorenzo Salazar | Som: Carlos Esteban García Florez, Carlos García e Irene Gutiérrez | Elenco: Vivian Pacheco, Josefina Patterson, Waldo Muñoz Hernández e Jorge de Los Ríos Vega
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POR DENTRO DA ILHA
Foto: Nicolás Ordóñez Carrillo
Jirafas
90’, FIC, 2013 Direção: Kiki Álvarez SINOPSE: Um casal, Lia e Manuel, arbitrariamente decidem ocupar a casa de Tania, que, por sua vez, não vive lá de forma legal. Inicialmente, tornam-se antagonistas, mas se unem com a possibilidade real de serem expulsos por um inspetor.
Roteiro: Claudia Muñiz | Direção de Fotografia: Nicolás Ordóñez Carrillo | Montagem: Johanna Montero | Direção de Arte: Roberto Ramos Mori | Produção Executiva: Kiki Álvarez, Ivonne Cotorruelo, Nicolás Ordóñez C., Gina Villafañe | Música: Abel Omar Pérez | Som: Gina Villafañe e Sergio Fernández Borrás | Elenco: Yasmani Guerrero, Olivia Manrufo e Claudia Muñiz
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Juan de Los Mortos
92’, FIC, 2012 Direção: Alejandro Brugués SINOPSE: Um grupo de malandros enfrentam um exército de zumbis. O governo cubano e a mídia afirmam que os mortos-vivos são dissidentes se revoltando contra o governo.
Roteiro: Alejandro Brugués | Produtor Executivo: Claudia Calviño, Inti Herrera e Gervasio Iglesias | Música: Julio de la Rosa | Direção de Fotografia: Carles Gusi | Montagem: Mercedes Cantero e Pablo Rojo | Direção de Arte: Derubín Jácome | Figurino: Esther Vaquero | Maquiagem: Catalina Montero | Som: José A. Manovel e Daniel de Zayas | Elenco: Alexis Díaz de Villegas, Jorge Molina, Andros Perugorría, Andrea Duro, Jazz Vilá, Eliecer Ramírez, Blanca Rosa Blanco, Susana Pous, Antonio Dechent, Eslinda Núñez, Elsa Camp e Pablo Alexandro González Ramy
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La obra del siglo
100’, FIC, 2015 Direção: Carlos Quintela SINOPSE: Três homens de uma mesma família são obrigados a viver sobre o mesmo teto na Cidade Eletro-Nuclear, um empreendimento cubano e soviético ambicioso feito para construir a primeira usina nuclear, que ainda não foi concluída devido ao fim da União Soviética. Otto está obcecado com suas poucas posses materiais; já Rafael, seu filho, está desempregado e sem qualquer perspectiva de trabalho desde a interrupção da construção da estação de energia. Por fim o neto Leo só voltou para casa porque terminou com a namorada.
Roteiro: Abel Arcos Soto e Carlos Quintela | Produção: Natacha Cervi, Pablo Chernov e Hernán Musaluppi | Direção de Fotografia: Marcos Attila | Montagem: Natalia Labake e Yan Vega | Cenografia: Edel Figueredo | Figurino: Alicia Arteaga Ramírez | Maquiagem: Magaly Pompa | Som: Ariel Novo Curiel, Roberto Migone, Ezequiel Saralegui e Rubén Valdes | Elenco: Mario Balmaseda, Mario Guerra, Leonardo Gascón, Jorge Molina, Manuel Porto e Damarys Gutiérrez
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La piscina
65’, FIC, 2011 Direção: Carlos Quintela SINOPSE: Durante o verão em Havana, nas férias escolares, quatro adolescentes deficientes passam o dia em uma piscina com seu apático instrutor.
Roteiro: Abel Arcos Soto | Produção: Sebastián Barriuso | Direção de Fotografia: Raúl Rodríguez | Montagem: Alfredo Hueck | Direção de Arte: Carlos Urdanivia | Maquiagem: Aymara Cisneros | Som: Aymara Cisneros | Elenco: Raúl Capote, Mónica Molinet, Carlos Javier Martinez, Felipe García, Marcos Costa, Francisco García, Marlén Rivero, Fernando Hechevarria e Mario Guerra
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Memorias del desarrollo
113’, FIC, 2010 Direção: Miguel Coyula
SINOPSE: Um intelectual cubano abandona a revolução e o “subdesenvolvimento” apenas para descobrir que não cabe em sua nova vida o “desenvolvimento”. Um estudo de um personagem solitário, sem política nem ideologia definidas, enfrentando o envelhecimento, o desejo e a impossibilidade do indivíduo de pertencer a qualquer sociedade. A narrativa do filme é uma colagem de lembranças, sonhos, compostos de ficção, animação, e elementos documentais. Baseado em um romance de Edmundo Desnoes, mesmo autor de “Memórias do Subdesenvolvimento”.
Roteiro, Direção de Fotografia e Montagem: Miguel Coyula | Produção: David W. Leitner | Música: Miguel Coyula, Dika Durbuzovic e Hayes Greenfield | Som: Ron Blair, Drew Cappotto, Miguel Coyula, Chris Grehan e David W. Leitner | Elenco: Bill Clinton, Fidel Castro, Abraham Amkpa, Anna Biani, Trent Harris, Carlos Quintela, Jorge Molina, Jeff Pucillo, Kate Hudson, David W. Leitner, Ed Slattery e Reb Fleming
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Soy Cuba, o mamute siberiano
90’, DOC, 2005 Direção: Vicente Ferráz
SINOPSE: No início dos anos 1960 o diretor soviético Mikhail Kalatozov, mais uma equipe de 200 pessoas, rodou em Cuba a superprodução “Soy Cuba”. A intenção original era que o filme fosse uma poderosa arma de divulgação da revolução cubana, mas acabou sendo ignorado após sua estreia em Havana e em Moscou. O filme ficou então desconhecido para o ocidente até a década de 1990, quando foi descoberto pelos diretores Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. O documentário apresenta depoimentos dos atores e técnicos sobreviventes de “Soy Cuba”, mostrando o contraste entre as culturas cubana e eslava.
Roteiro: Vicente Ferraz | Produção Executiva: Isabel Martínez | Produção: Tito Almejeira, Clélia Bessa, Francisco Cano, Humberto Jiménez, Hilton Kauffmann, Begoña Pedraza, Mireya Pila e Iracema Supeleto | Música: Jenny Padrón | Direção de Fotografia: Tareq Daoud e Vicente Ferraz | Montagem: Dull Janiel e Mair Tavares | Som: César Fernández Borrás e Francisco Slade | Pesquisador: Luciano Castillo | Elenco: Othon Bastos, Alexander Calzatti, Fidel Castro, Luz María Collazo, Sergio Corrieri, Maurício do Valle, Evgeniy Evtushenko, Vicente Ferraz, Raúl García, Jean-Luc Godard, Alfredo Guevara, Tomás Gutiérrez Alea, Mikhail Kalatozov, Enrique Pineda Barnet e Glauber Rocha
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Foto: Nicolás Ordóñez Carrillo
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Veneza
Venecia 74’, FIC, 2013 Direção: Kiki Álvares SINOPSE: Havana, verão de 2012. Mayelín, Mónica e Violeta são três amigas que trabalham em um salão de beleza. No dia de pagamento, elas saem à noite, juntas. Elas compartilham um sonho em comum: Veneza.
Roteiro: Claudia Muñiz | Produção: Kiki Álvarez, Ivonne Cotorruelo, Ivette Liang e Nicolas Ordoñez | Direção de Fotografia: Nicolas Ordoñez | Som: Rubén Valdes | Elenco: Claudia Muñiz, Maribel Garcia Garzón, Marianela Pupo e Jazz Vilá
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MÉDIAS E CURTAS-METRAGENS
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ABECÉ
15’, DOC, 2013 Direção: Diana Montero SINOPSE: Leoneidi, uma menina de doze anos da Sierra Maestra, passa seus dias realizando o trabalho de esposa e mãe como se fosse uma brincadeira. Suas palavras inocentes e cândidas e as imagens tranquilas do filme oferecem comentários incisivos sobre os problemas sociais que se escondem sob a superfície.
Direção de Fotografia, Montagem e Produção: Diana Montero | Roteiro: Diana Montero e Alán González | Som: Jayisha Patel | Desenho de Som: Gastón Saenz | Assistência de Produção: Pablo García | Elenco: Leoneidi Acosta, Leonardo Acosta, Maykel Rosales e Jesús Maykel Rosales
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Cafe con leche
28’, DOC, 2003 Direção: Manuel Zayas SINOPSE: Recorrendo a arquivos do passado, através de imagens que Nicolás Guillén Landrián registrou há mais de quatro décadas, o próprio documentarista explica, em primeira pessoa, seus conflitos com sua época, que não o soube compreender.
Roteiro: Joel Prieto e Manuel Zayas | Direção de Fotografia: Arnold Díaz e Daniela Sagone | Montagem: Joel Prieto | Som: Manuel Zayas | Produção: Magdiel Aspillaga | Elenco: Nicolás Guillén Landrián
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Coffea Arabiga
18’, DOC, 1968 Direção: Nicolás Guillén Landrián SINOPSE: De uma forma totalmente inovadora e com uma montagem experimental, o filme aborda o desenvolvimento das técnicas de cultivo do café, desde seu processo agrário até o industrial, servindo de dispositivo para questionamentos históricos e sociais.
Roteiro: Nicolás Guillén Landrián | Direção de Fotografia: Luis García Mesa, Lupercio López | Montagem: Iván Arocha, Justo Vega | Produção: José Rouco
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Cuerda al aire
33’, DOC, 2011 Direção: Marcel Beltrán SINOPSE: Anolan vive em Havana, toca violão desde criança e dedica seu tempo e amor ao instrumento. Gerardo vive em Sierra Maestra e se dedica à agricultura, sempre acompanhado de seu filho para quem transmite seus conhecimentos com otimismo. Anolan e Gerardo são distintos à primeira vista, mas igualmente cubanos. Eles enfrentam o temor de ver seus esforços não os levarem a alcançar suas metas.
Produção: Victoria Paz Álvarez | Direção de Fotografia: Román Lechapelier | Montagem: Sergio Caraballo | Som: Raphäel Barani
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La carga
24’, DOC, 2015 Direção: Víctor Alexis Guerrero Stoliar SINOPSE: “La carga” é um olhar ao microcosmo de um trem que em teoria não deve se deter nunca, mas que passa grande parte de seu tempo parado. Esse road-stop movie retrata as relações de convivência entre os trabalhadores do trem e suas reações diante das diferentes contingências durante a viagem.
Direção de Fotografia: Saurabh Monga | Produção: Marco Olmos | Montagem: Gilberto Amado | Som: José Luis Bravo
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La llamada
19’, HIB, 2014 Direção: Gustavo Vinagre SINOPSE: Lázaro Escarze, um cubano revolucionário de 87 anos, vive num pequeno povoado e terá seu telefone instalado pela primeira vez na vida. Para quem ele vai ligar?
Roteiro: Gustavo Vinagre | Produção: Clemilson Farias | Direção de Fotografia: Giovanna Pezzo | Empresa Produtora: Avoa Filmes | Direção de Produção: Clemilson Farias | Produção Executiva: Max Eluard | Montagem: Juanjo Cid | Elenco: Alexei (Pacolo) Hernández, Gustavo Vinagre e Lázaro Escarze
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Los anfitriones
16’, FIC, 2011 Direção: Miguel Ángel Moulet SINOPSE: Felix, 65, cuida dos porcos em um chiqueiro da aldeia. Josefina, sua esposa, está no hospital para fazer exames.
Roteiro: Miguel Ángel Moulet | Direção de Fotografia: Camilo Soratti | Montagem: Adamo Pedro Bronzoni | Elenco: Félix Diaz e Josefina Morales
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Los del baile
6’, DOC, 1965 Direção: Nicolás Guillén Landrián SINOPSE: O documentário Los del Baile é um ensaio sobre a dança popular em contraposição ao mundo subjetivo de seus bailarinos.
Produção: Eduardo Valdés | Direção de Fotografia: Luis García | Montagem: Justo Vega, María Esther Valdés | Música: Pedro Izquierdo Pello el Afrokán | Som: Raúl García
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Los minutos, las horas
11’, FIC, 2009 Direção: Janaína Marqués
SINOPSE: Yoli sempre morou com sua mãe num bairro humilde de Havana. Até que um dia um rapaz lhe convida a sair e Yoli decide esperá-lo, tentando mudar sua rotina, mesmo que seja por um dia.
Coprodução: Johanne Gómez | Direção de Fotografia: Julio Costantini | Roteiro: Janaína Marqués Ribeiro e Pablo Arellano Tintó | Montagem: Raynier Hinojosa | Direção de Arte: Erick Grass | Edição de som: Raynier Hinojosa | Produção Executiva: Tanya Valette | Montagem: Ariel Escalante
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Nos quedamos
14’, DOC, 2009 Direção: Armando Capó SINOPSE: Uma tentativa de sintetizar um futuro incerto, um presente decadente e propor um vento de mudança que derrube tudo para voltar a construir. O futuro de Cuba visto através dos olhos dos cegos, seus sonhos e visões. Uma família deve conviver com várias colmeias de abelhas, sua casa cai aos pedaços enquanto o ciclone Paloma se aproxima ameaçador.
Direção de fotografia: German Peters | Produção: Alberto Valhondo | Montagem: Pedro Dulci | Som: Miguel Caroli | Música original: Miguel Caroli
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O inimigo
El enemigo 26’, DOC, 2015 Direção: Aldemar Matias SINOPSE: Em um centro de fumigação em Havana, Mayelin tem a ingrata tarefa de distribuir multas para os cidadãos que têm mosquito da dengue em suas casas. Com um chefe exigente e trabalhadores conflituosos, Mayelin terá de impor sua autoridade para ganhar respeito.
Roteiro: Alberto Santana e Aldemar Matias | Direção de fotografia: Tininiska Simpson | Produção Executiva: Denisse Casado | Som Direto e Pós-produção de Som: Matheus Massa | Montagem: Emmanuel Peña | Produção de Campo: Mario Acosta
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Polski
20’, FIC, 2015 Dir. Rubén R. Cuauhtemoc SINOPSE: Jorge herda de seu pai um velho “polaquito”. Em um país onde ter carro é um luxo, ele luta a todo custo para arrumar uma engrenagem que já não funciona mais.
Roteiro: Rubén R. Cuauhtemoc | Produção: Alexandra Cedeño | Direção de Fotografia: Elias Martín del Campo | Montagem: Livia Uchoa | Som: Lucas Coelho | Música: Toña | Distribuição: Jorge Ballard, Elena Garay, Pedro Grandales, Reinier Morales e Félix Odelyn | Animação: Martín del Campo, Elias | Direção de Arte: José Reyes
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Sirenas
20’, FIC, 2015 Direção: Maryulis Alfonso SINOPSE: As pequenas Clara e Zoe são irmãs e vivem com a mãe Felicia em uma velha casa de madeira. Depois que descobriram uma invasão de formigas no armário das meninas, um fumigador aparece na casa. Ao perceber a atração entre sua mãe e o homem, Zoe tenta afugentá-lo de suas vidas fazendo sua irmã Clara acreditar que ele quer transformar a mãe em uma sereia dando a ela veneno de formigas para beber. Clara com medo de perder sua mãe também tentará se transformar em sereia.
Roteiro: Maryulis Alfonso | Fotografia: Adrián Peter | Produção: Rocco Vargas | Edição: Ahmed Omar | Som: Cesar Centeno Yuari | Elenco: Jany Oliva, Laura Molina, Dania Splinter, Carlos Melian Moreno
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FICHA TÉCNICA Produção Haver Filmes
Revisão de textos Vanessa C. Rodrigues
Curadoria Denise Kelm
Programação Visual e Webdesigner Aristeu Araújo
Produção Executiva Christiane Spode
Vinheta Aristeu Araújo
Coordenação de Produção Aristeu Araújo
Tradução de legendas 4 Estações Janaina Moraes Manuel Guerrero
Produção de cópias Denise Kelm Produtora Gráfica Janaina Spode Produção Local – Rio de Janeiro Geo Abreu Organização do Catálogo Denise Kelm Diagramação do Catálogo Aristeu Araújo
Legendagem 4 Estações Em Quadro Projeção Digital Lucas de Paula Thiago Barbosa Projeção Digital Em Quadro Projeção Digital Assessoria de Imprensa Kamille Viola
Entrevistas Denise Kelm
Impressão Gráfica (catálogo, folders e postais) Nacional Gráfica
Texto Nicolás WWGuillén Landrián Dean Luis Reyes
Impressão Gráfica (Banners) GR Sign
Traduções de textos Denise Kelm
Impressão Gráfica (Ingressos) Infinity Graphic
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Alvará de Funcionamento da CAIXA Cultural RJ: nº 041667, de 31/03/2009, sem vencimento
ISBN: 978-85-68521-01-4
1 a 13 de agosto de 2017 Cinema 1
Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia) Av. Almirante Barroso, 25 - Centro Tel.: 21 3980-3815 haverfilmes.com.br/pordentrodailha
www.caixacultural.gov.br Baixe o Aplicativo CAIXA Cultural facebook.com/CaixaCulturalRiodeJaneiro
produção
patrocínio
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