Lembrando Joaquim Pinto e Nuno Leonel

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Pedra no Bolso - de Joaquim Pinto FIC, 91’, COR, 1988



Das Tripas Coração - de Joaquim Pinto FIC, 67’, COR, 1992


LINHA DO TEMPO

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Apresentação

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Entrevista

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LONGAS-METRAGENS

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Uma Pedra no Bolso

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Onde Bate o Sol

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Das Tripas Coração

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Fim de Citação

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O Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João

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E Agora? Lembra-me

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Rabo de Peixe

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MÉDIAS E CURTAS

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Santa Maria

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Para Cá dos Montes

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Schizophrenia

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Surfavela

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Com Cuspe e Jeito se bota no cu do Sujeito

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Entrevista com Yvonne Bezerra de Mello

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Porca Miséria

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Sol Menor

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FICHA TÉCNICA

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Uma Pedra no Bolso Onde Bate o Sol Das Tripas Coração Santa Maria Para Cá dos Montes Schizophrenia Surfavela Com Cuspe e Jeito se bota no cu do Sujeito Entrevista com Yvonne Bezerra de Mello Porca Miséria Sol Menor Fim de Citação O Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João E Agora? Lembra-me Rabo de Peixe

LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


1989 1992 1992 1993 1995

T E M P O

1988

1997 1997

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1996

2007 2013 2013 2014 2015

L I N H A

2007

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A P R E S E N T A Ç Ã O


Joaquim Pinto e Nuno Leonel são importantes nomes do cinema português. Ainda pouco conhecidos no Brasil, os cineastas se dedicam a um cinema pouco comercial e de muita inventividade. O trabalho de ambos como autores e técnicos de cinema se esparrama por um grande número de filmes realizados em Portugal desde a década de 1980. Seus nomes começaram a circular entre os cinéfilos brasileiros, sobretudo, depois da estreia do aclamado “E agora? Lembra-me” (2013), filme autobiográfico em que Joaquim relata suas experiências com drogas experimentais que utilizou por um ano. Ele é portador do vírus HIV há 20 anos. O longa esteve presente em festivais importantes e angariou prêmios ao redor do mundo, como o Especial do Júri em Locarno e Melhor Longa no DocLisboa. “Rabo de Peixe”, obra posterior, estreou no Festival de Berlim, passando pelos Cinéma du Réel e Las Palmas. O filme abriu a edição de 2015 do Olhar de Cinema, em Curitiba, com três salas lotadas concomitantemente. O longa trata do período em que a dupla permaneceu na ilha de Açores e filmou a vida dos pescadores da região. Joaquim Pinto trabalhou em grande quantidade de filmes portugueses, pois foi um requisitado produtor e técnico de som. Atuou no som de filmes de Raoul Ruiz, Alain Tanner, Manoel de Oliveira e João César Monteiro, entre outros. De 1988 a 1996 produziu 25 longas, tais como “Recordações da Casa”, de João César Monteiro, “A Idade Maior”, de Teresa Villaverde, e “Zéfiro”, de José Álvaro Morais. Nuno Leonel iniciou sua carreira aos 16 anos, atuando desde então como animador, operador de truca, técnico e montador de som, eletricista, ator, maquinista, diretor de fotografia e realizador.

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Joaquim Pinto estreia como diretor com o “Uma Pedra No Bolso” (1987), considerado como um dos filmes portugueses de maior vigor daquela década. O filme seguinte, “Onde Bate o Sol” (1989), foi também elogiado, seguindo mesmo tipo de produção (com poucos recursos). Seguiram-se ainda “Das Tripas Coração” (1992), feito a convite para a tetralogia “Os Quatro Elementos” e o curta “Para Cá dos Montes” (1993). Como diretor solo, Nuno lançou os curtas “Santa Maria” (1992) e “Schizophrenia” (1995). Voltaria ao formato apenas em 2007 com “Porca Miséria”, mas este já ao lado de Joaquim. Em 1997 eles começam a filmar juntos. Misturando vida amorosa e profissional, Joaquim e Nuno nunca mais fariam filmes indissociáveis um do outro. Nesta nova fase surge uma série de produções realizadas no Brasil unidas em formato e tema: “Surfavela”, “Entrevista com Yvonne Bezerra de Mello” e “Com Cuspe e Jeito se Bota no Cu do Sujeito”. É uma trilogia sobre a miséria, o racismo e as favelas cariocas. “E Agora?...” inicia uma prolífica fase que resultou em quatro longas em três anos. Soma-se ainda os não citados “O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João”, em que o ator Luis Miguel Cintra lê o livro bíblico na íntegra, ao ar livre, e “Fim de Citação”, um filme que é também uma peça de teatro. Quatro dos filmes serão exibidos em película 35mm, são eles: “Das Tripas Coração”, “Onde Bate o Sol”, “Schizophrenia” e “Santa Maria”. A mostra “Lembrando Joaquim Pinto e Nuno Leonel” é um movimento de aproximação necessário a esses filmes que são tão singulares e, além do mais, um ato de justiça a uma dupla de cineastas que precisa ser posta à luz do grande público.

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A seguinte entrevista foi realizada exclusivamente para a confecção deste catálogo, por email, com o cineasta Joaquim Pinto. Nela, o realizador fala sobre vida e obra, abrangendo a sua carreira e a do seu parceiro Nuno Leonel. Preferimos por manter a ortografia do português de Portugal nas respostas enviadas.

E Agora? Lembra-me - de Joaquim Pinto FIC, 164’, COR, 2014

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Joaquim Pinto nasceu no Porto, em 1957. Antes de dirigir os próprios filmes, ele trabalhou como técnico e editor de som em mais de 100 filmes, de nomes como Manoel de Oliveira, Raul Ruiz, Werner Schroeter e André Techiné. Ele também atuou fortemente como produtor entre os anos de 1987 e 1996, tendo gerido cerca de 30 títulos, como “Recordações da casa amarela” e “A comédia de Deus”, ambos de João César Monteiro. A estreia na direção veio com “Uma pedra no bolso” (1987). Dirigiu outros diversos filmes até, juntamente com Nuno Leonel, rodar a animação “Porca Miséria” em 2007. Desde então, ambos passam a realizar todas as produções em conjunto. Nuno Leonel nasceu em Lisboa, em 1969, e aos 16 anos já atuava na área. Nuno trabalhou como animador, operador de máquina de trucagem, assistente de décors, técnico e montador de som, eletricista, ator, maquinista, diretor de fotografia e realizador. Como diretor solo, o cineasta criou animações, como “Santa Maria” (1989) e a “Schizophrenia” (1995). Em 2007, com “Porca Miséria”, volta ao formato e passa a realizar filmes ao lado de Joaquim Pinto. Juntos, os cineastas dão ao mundo outros cinco títulos, entre eles os premiados “E Agora? Lembra-me” (2013) e “Rabo de Peixe” (2015).

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Começando pelo princípio, como vocês começaram a realizar filmes? Fale-nos um pouco sobre o início da carreira de vocês. Nunca pensámos numa “carreira” como realizadores. Ambos trabalhávamos no cinema enquanto técnicos. Eu, na captação, montagem e misturas de som, o Nuno, num estúdio de animação, onde para além de intercalador e animador, operava a “truca” (rostrum camera/ banco de animação) e montava. O Nuno também “vadiava” e expressava-se de outras formas, como DJ, no desenho gráfico de posters e capas de CDs, etc… (vadiagem no sentido de Agostinho da Silva; “Uma das formas de poesia é a vadiagem ... Aparece sempre uma motivação se ela tiver de aparecer”). Os primeiros filmes resultaram do desejo de expressar ideias próprias e métodos de produção independentes. No meu caso, produzir e realizar sem apoios oficiais, com uma equipa e meios reduzidos, numa abordagem igualitária - mesmo (pequeno) salário para todos, funções repartidas e sem hierarquias. No caso do Nuno, os responsáveis pelo estúdio de animação abriram-lhe as portas e deixavam-no usar os meios técnicos fora do horário de trabalho, de forma a que pudesse testar as suas ideias. Foi então que lhe sugeri produzir o “Santa Maria”. O Nuno pretendia fazer filmes colectivos e não queria assinar como realizador. Só quando insisti ser necessário esse “título” para procurarmos financiamentos, ele aceitou com relutância.

Joaquim, você viveu ainda adolescente a chamada Revolução dos Cravos, quando Portugal encerrou um longuíssimo período ditatorial. Em que medida o fato de ter presenciado esse

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momento moldou a tua carreira de cineasta e o cinema que você realiza? A decadência do regime autoritário e a Revolução dos Cravos, bem como o período que se seguiu, marcou o percurso de toda uma geração, na qual me incluo. Antes da revolução, o movimento de cine-clubes era um foco de resistência e a única forma de vermos e debatermos filmes de autor, mas não pensava ainda em trabalhar nesta área. É necessário algum recuo para nos apercebermos do legado de um acontecimento histórico. 44 anos após o 25 de abril, talvez Portugal tenha aprendido a lidar com as diferenças e a encontrar compromissos viáveis. Prova disso é um país onde a extrema direita quase não tem expressão, onde os emigrantes são aceites e se integram facilmente no tecido social, onde esta “geringonça” improvável (um governo socialista, com o apoio dos comunistas e do bloco de esquerda) gere o país com bom senso e tem o apoio de largos extractos sociais. Mais de 100 anos após a tentativa falhada do nosso último jovem rei D. Manuel II em encontrar pontes com os socialistas nas causas do crescente proletariado urbano, estará o país a redimir-se de muitas décadas de excessos importados? Não é garantido que venha a reencontrar-se com o seu destino. Não imagino o que poderia ter sido a minha vida se o 25 de Abril não tivesse acontecido. Provavelmente seria mobilizado e acabaria envolvido na guerra colonial, ou forçado a abandonar Portugal.

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Onde Bate o Sol - de Joaquim Pinto FIC, 88’, COR, 1989

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Joaquim, teu início foi como técnico de som. Como essa função técnica, exercida em tantos filmes e com tantos cineastas de renome, te transformou como diretor? Colaborar com realizadores tão diversos permitiu-me participar em métodos de trabalho distintos, desde a planificação ao pormenor com o Manoel de Oliveira à capacidade de improvisação e de invenção do Raul Ruiz. No entanto, cada filme foi uma experiência, tão importante como o convívio e a troca de ideias com realizadores originais e alguns técnicos de excepção. Devo no entanto citar um filme que me motivou a realizar pela primeira vez, em moldes distintos da maioria das produções em que tinha trabalhado - “Une Flamme Dans Mon Coeur” (1987), de Alain Tanner. Rodado com equipa coesa e mínima em Paris e no Cairo, onde a maioria das cenas foi filmada à revelia dos censores egípcios. Percebi que era possível realizar uma ficção com meios reduzidos e num ambiente de intimidade.

Une Flamme Dans Mon Coeur - de Alain Tanner FIC, 106’, PB, 1987

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Porca Miséria - de Joaquim Pinto e Nuno Leonel ANI, 4’, COR, 2007

já a carreira de Nuno começou na animação. Há algum intuito em retornar ao gênero? O Nuno é o “animador”, em desenho ou por outros meios. Na animação, parte-se do zero, tal como quem pinta um quadro. Perante a folha branca, tudo é possível. Talvez o cinema que capta (e/ou encena) a realidade seja comparável à fotografia. O Nuno conjuga e molda elementos distintos com a liberdade de quem pinta. Em termos de formação profissional, eu estudei cinema em Lisboa, especializando-me em som, e fiz uma pós graduação europeia em produção. O Nuno fez uma multiplicidade de formações ligadas ao voluntariado, a servir o outro; socorrismo, navegação, mergulho, extinção de incêndios, condutor de ambulância, desencarceramento, agricultura… Quando necessita de usar os conhecimentos que reuniu no cinema de animação, fá-lo em qualquer circunstância, mas respondendo directamente à questão, ele não planeja voltar ao “género”. Não esqueço que, para o “E Agora? Lembra-me”, ele preparou várias sequências em “stop motion”, das quais usámos alguns extractos na montagem final.

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Quando e como vocês dois começam a trabalhar juntos? Conhecemo-nos durante a rodagem de “Uma Pedra no Bolso”, onde o Nuno desenhou e animou os genéricos. O mesmo aconteceu no “Onde Bate o Sol”, onde ele acompanhou a rodagem. Eu produzi os filmes de animação dele, “Santa Maria” e “Schizophrenia”. A partir daí, os nossos projectos e as nossas vidas são inseparáveis. A minha tendência para observar a figura humana foi temperada pelo olhar do Nuno, mais aberto ao mundo, e vice versa. Trabalhámos também em conjunto com outros realizadores. Dessas colaborações, destacamos por exemplo o som directo e montagem de imagem e som de “As Bodas de Deus”, de João César Monteiro, o som directo de “Le Harem de Mme Osmane” de Nadir Moknèche e “Loin” André Téchiné, ou mais recentemente, o desenho e misturas de som de “A Vingança de uma Mulher”, de Rita Azevedo Gomes, a que nos referimos brevemente no “E Agora? Lembra-me”. Na realização, os primeiros filmes a dois surgiram no Brasil... Como a transição da película para o digital alterou o cinema de vocês? A transição da película para o digital trouxe-nos maior liberdade, a possibilidade de filmar sem restrições de tempo e de laboratórios, de controlarmos a cadeia de trabalho e não dependermos de terceiros. Sobretudo, a capacidade de nos abrirmos ao imprevisto, que não é mero acaso. Não cremos que usar o digital simplesmente como forma de registo num suporte distinto da película mude substancialmente o cinema, há

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que explorar as possibilidades e potencialidades do novo meio. O digital abriu as portas à expressão de um grupo mais alargado de pessoas e tornou o cinema mais diverso e emocionante. Entre 2013 e 2015, vocês lançaram quatro longas-metragens (“Fim de Citação”, “O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João”, “E Agora? Lembra-me” e “Rabo de Peixe”). O que culminou ali na vida de vocês para resultar em uma produção tão grande? O acolhimento inesperado do “E Agora? Lembra-me” deu-nos o impulso necessário para terminarmos outros projectos que tínhamos em mão; o registo do “Fim de Citação” e “O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João”. Finalmente remontámos sem constrangimentos o material rodado nos Açores entre 2000 e 2002, dando origem a “Rabo de Peixe”. Havia também algum sentido de urgência, pensando que a nossa prioridade é cuidar e o tempo é limitado.

Fim de Citação - de Joaquim Pinto e Nuno Leonel FIC, 89’, COR, 2013

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Analisando os seus filmes em uma linha de tempo, há um grande hiato entre os anos de 1997 e 2007. Por que tanto tempo sem se dedicar à direção de filmes? Se nos focarmos nos longas-metragens, então, há um lapso ainda maior. Voltando atrás, se tive algum percurso sem pausas e de certa forma seguindo um plano, foi na produção, a partir de 1988. Ao realizar e produzir os dois primeiros filmes, tornou-se urgente concretizar projectos de outros realizadores, que pela sua originalidade eram difíceis de levar avante. Concentrei-me quase exclusivamente na produção, e desse empenhamento resultaram mais de 30 filmes. Teve momentos gratificantes, como o Leão em Veneza e a distribuição internacional de “Recordações da Casa Amarela”, de João César Monteiro. Permitiu que jovens realizassem os seus primeiros filmes e trouxe de volta realizadores talentosos mas marginalizados como José Álvaro de Morais e António Campos. Teve momentos felizes, como a produção do “Santa Maria”. A certo ponto, à pressão dos imprevistos financeiros juntou-se o falhanço do meu corpo. Esse ciclo chegou ao fim, por decisão própria, em 1995, com a produção de “A Comédia de Deus”. Voltámos a trabalhar em som e montagem até nos apercebermos que já não reunia as condições físicas para aguentar longas jornadas de trabalho. Foi então que, estando nos Açores para rodar com pescadores artesanais, decidimos ficar como forma de resistência a uma vida formatada, num quotidiano ligado a um espaço telúrico e vital. Guardamos memórias inesquecíveis. Não temos dúvidas que essa decisão nos permitiu atrasar a degradação causada pelo avanço da hepatite C e pelos tratamentos ineficazes.

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Partilhávamos algum desencanto em relação ao cinema comercial que se fazia, mas não ficámos inactivos, usámos a câmara e o som para ajudar as comunidades de pesca artesanal a expressarem preocupações próprias, em filmes de carácter educativo ou de registo de artes de pesca em vias de extinção. Esses pequenos filmes não constam do nosso CV, pois foram projectos colectivos com propósitos definidos; serviram para exprimir preocupações e afirmar identidades. Regressámos ao continente em 2007, por necessidade de estarmos mais próximos dos novos tratamentos para o VHC (vírus da hepatite C). O filme “O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João” traz a leitura na íntegra do livro bíblico. Por que vocês escolheram este livro? E por que não qualquer outro já produzido na história humana? De volta ao continente, iniciámos mais um projecto; editámos música de bandas com quem tínhamos afinidades e quisemos dar nova voz a textos do período clássico ao barroco, em colaboração com Luis Miguel Cintra, um amigo próximo e um dos actores e encenadores portugueses mais marcantes das últimas décadas. Gravámos e editámos livros acompanhados por CDs, ditos por ele - “Dez Canções” de Luís de Camões, o “Sermão de Quarta-feira de Cinza” de António Vieira e o “Apocalipse ou Revelação do Apóstolo S. João”, na sua primeira tradução na nossa língua, a partir do grego, por João Ferreira Annes d’Almeida.

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A sugestão de gravarmos o Evangelho segundo João partiu do Luis Miguel. “O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João”, filmado durante a rodagem do “E Agora? Lembra-me”, surgiu na sequência das gravações anteriores. O nosso propósito era alargar e radicalizar essas experiências. Assim, desafiámos o Luis Miguel Cintra a ler esse texto ao ar livre, no campo, em continuidade e sem pausas. O filme resulta do encontro entre o texto, a voz e a interpretação visual, quase táctil, desse “tour de force” pela câmara do Nuno. O próprio Luis Miguel, totalmente absorvido pela interpretação, quase não se deu conta do que se estava a filmar. Ficou rendido pela força das imagens. Os vários textos que dão testemunho da vida de Jesus eram lidos e interpretados em voz alta nas primeiras comunidades de cristãos. Foram escritos para serem ouvidos. Nós próprios descobrimos, num texto que nos era familiar, camadas adicionais de sentidos (e sentimentos) acessíveis através da sua materialização em voz e imagem.

O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João - de Joaquim Pinto e Nuno Leonel DOC, 129’, COR, 2013

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Nos anos de 1996 e 1997, vocês realizaram três médias-metragens no Rio de Janeiro. O que lhes trouxe ao Brasil e como vocês escolheram aqueles assuntos em específico? O final do ciclo de produção em 1995 e o meu “descalabro” físico aproximou-nos mais. O bulício do meio e da “actividade” cinematográfica era um eco distante, a maioria dos conhecidos de circunstância tinha-se afastado de um dia para o outro (estávamos em 1995, não havia tratamentos eficazes para o VIH e qualquer sugestão de infecção viral era motivo para se ser ostracizado). O Nuno permaneceu e cuidou de mim. Levei vários meses a recuperar. Diria que nos reinventámos numa espécie de “química” mútua na qual o trabalho e a vida são indissociáveis. O Brasil aconteceu de forma imprevista. Phillip Brooks, um produtor nosso amigo, estava a preparar para a ARTE vários filmes sobre surf. Falámos-lhe de um artigo publicado no “Der Spiegel” sobre alguém que, na favela do Cantagalo, trabalhava na recuperação de crianças e jovens em risco através do surf. Convidou-nos a realizar um documentário sobre esse projecto. Quando chegámos ao Rio, não tínhamos ainda conseguido estabelecer contactos. O “Surfavela” resultou desse encontro. Na estadia de duas semanas no Rio, deparámo-nos com a realidade mais dura de outros jovens que viviam nas ruas. Regressámos no ano seguinte com a intenção de rodar mais um documentário. Conhecemos Yvonne Bezerra de Melo e desse encontro resultaram duas médias metragens. O plano original foi interrompido, a minha saúde deteriorou-se novamente, muito subitamente. No dia seguinte, regressámos. De volta a Portugal, diagnóstico de sida (AIDS) e início de tratamentos com os primeiros antiretrovirais, ainda em fase de ensaios clínicos.

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Entrevista com Yvonne Bezerra de Mello - de Joaquim Pinto e Nuno Leonel DOC, 33’, COR, 1997

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Em “E Agora? Lembra-me”, você se expõe de forma dura, o que resulta em um dos filmes mais corajosos que já assisti. Por que filmar desse modo? Era o único jeito? O filme nasceu de um imperativo quase militante, o silêncio que se tinha instalado nos media e na opinião pública em torno do VIH e da falta de tratamentos eficazes para o VHC. E da discriminação que continua a existir. Inicialmente tínhamos projectado fazer um documentário mais convencional, integrando entrevistas com investigadores e contando com o apoio duma pequena equipa. Rapidamente percebemos que a exposição da nossa vida era a forma mais eficaz de abordar globalmente essas temáticas. Desistimos de ter uma equipa e as entrevistas foram excluídas da montagem. Recusámos construir o filme com uma estrutura convencional, num crescendo de “suspense”. No “E Agora? Lembra-me”, o programa é abertamente declarado no início - vão ver dois homens que partilham a vida e os desafios. Estamos convictos de que o filme teve um papel na sociedade portuguesa. Deu maior abertura em relação a temas incómodos e “fracturantes”, abriu caminho a que outros se expusessem sem receios. Alguns meses depois da estreia, no momento mais duro da crise económica e da intervenção externa no país, os pacientes que necessitavam de tratamentos para o VHC organizaram-se, deram a cara, manifestaram-se na Assembleia da República, apareceram nos noticiários das televisões e em última instância forçaram o governo a negociar com os laboratórios internacionais um programa de acesso a tratamentos inovadores para todos os portugueses infectados pelo VHC, tendo como objectivo a erradicação da doença no país.

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Há novos projetos em andamento? Sim, estamos a trabalhar numa longa metragem que segue os percursos improváveis de várias personagens femininas, abordando o eu, o nada e o devir, o renegar o exercício do poder, as limitações e convenções de género, bem como a guerra através da história. A montagem financeira e pré-produção foi demorada e passou por diversos acidentes e percalços, mas neste momento a rodagem está quase concluída.

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E Agora? Lembra-me - de Joaquim Pinto FIC, 164’, COR, 2014

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Pedra no Bolso - de Joaquim Pinto FIC, 91’, COR, 1988

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L O N G A S - M E T R A G E N S


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Uma Pedra no Bolso Direção: Joaquim Pinto FIC, 91’, COR, 1988, Portugal

Elenco: Inês de Medeiros, Isabel de Castro, Bruno Leite, Manuel Lobão, Eduarda Chiotte, Luís Miguel Cintra, João Pedro Bénard e Pedro Hestnes | Roteiro: Eduarda Chiotte e Joaquim Pinto | Produção: João Pedro Bénard | Direção de fotografia: Joaquim Pinto | Montagem: Joaquim Pinto | Som: Francisco Veloso | Mixagem: Hans Künzi e Joaquim Pinto | Empresa produtora: G.E.R. (Grupo de Estudos e Realizações) Uma história de iniciação e embate com a idade adulta: em férias na estalagem de uma tia à beira mar, Miguel encontra Luísa, o pescador João e o Dr. Fernando, três personagens que marcarão a entrada da sua primeira “pedra no bolso”. Foi filmado sem subsídios e uma reduzida equipa, uma exceção no cinema português nos anos oitenta.

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Onde Bate o Sol

Direção: Joaquim Pinto FIC, 88’, COR, 1989, Portugal Elenco: Luís Miguel Cintra, Inês de Medeiros, Maria de Medeiros, Manuel Lobão, Laura Morante, Francisco Nascimento, Maria Ortega, António Pedro Figueiredo, António Ricardo, Arnaldo Saraiva, Marcello Urgeghe e Joaquim Vicente | Roteiro: Joaquim Pinto | Produção: João Pedro Bénard | Direção de fotografia: Joaquim Pinto | Montagem: Claudio Martinez | Som: Francisco Veloso | Empresa produtora: G.E.R. (Grupo de Estudos e Realizações) Passada no interior rural durante um verão quente, pode ser referida como uma história do encontro de dois irmãos em momentos emocionalmente convulsos.

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Das Tripas Coração

Direção: Joaquim Pinto FIC, 67’, COR, 1992, Portugal/França Elenco: Elsa Batalha, Manuel Wiborg, Leonor Silveira, Armando Cortez, Cecília Guimarães, Márcia Breia e António Pires | Roteiro: Jeanne Waltz | Produção: Paulo Branco | Música: Jorge Arriagada | Direção de fotografia: Sophie Maintigneux | Montagem: Claudio Martinez | Direção de arte: Ana Vaz da Silva | Mixagem: Hans Künzi | Som: Francisco Veloso | Empresas produtoras: La Sept Cinéma, Madragoa Filmes e Radiotelevisão Portuguesa (RTP) Contribuição de Joaquim Pinto para a série “Os Quatro Elementos” em que lhe coube filmar o Fogo, ao lado de João César Monteiro (a Água: “O Último Mergulho”), João Mário Grilo (a Terra: “O Fim do Mundo”) e João Botelho (o Ar: “No Dia dos Meus Anos”). Com argumento de Jeanne Waltz, conta a história de dois irmãos gêmeos de vinte anos, ruivos, um rapaz e uma rapariga que cumprem o sonho de se tornarem bombeiros, descobrem a crepitação do fogo e o poder curativo dos beijos.

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Fim de Citação

DOC, 89’, COR, 2013, Portugal Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel Elenco: Diniz Gomes, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra e Sofia Marques | Fotografia, som e Montagem: Joaquim Pinto e Nuno Leonel | Realização: Joaquim Pinto e Nuno Leonel a partir de uma peça de Luis Miguel Cintra | Empresa produtora: Presente Fim de Citação foi um espectáculo criado pela Cornucópia, em 2010, quando começou a sentir-se na pele, pelos enormes cortes no financiamento dos teatros, que o “estado do mundo” não deixava que o teatro continuasse a ser trabalho artístico e tinha de passar a ser “indústria cultural”.

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O Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João DOC, 129’, COR, 2013, Portugal Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel

Elenco: Luís Miguel Cintra | Produção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel | Direção de fotografia: Nuno Leonel | Montagem: Joaquim Pinto e Nuno Leonel | Som: Joaquim Pinto | Empresa produtora: Presente Registro de um dia de leitura por Luís Miguel Cintra de Evangelho Segundo S. João ao ar livre, no campo, a partir de O Novo Testamento de Jesus Cristo Segundo João, traduzido em português, da Vulgata latina, por António Pereira de Figueiredo (1725-1797). Feito de sobreposições de imagens e sons, da respiração do ator, da câmera e microfones. Palavras e luz entre o meio dia e o entardecer.

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E Agora? Lembra-me DOC, 164’, COR, 2014, Portugal Direção: Joaquim Pinto

Roteiro: Joaquim Pinto | Elenco: Joaquim Pinto, Nuno Leonel, Serge Daney e Raoul Ruiz | Direção de Fotografia: Nuno Leonel e Joaquim Pinto | Montagem: Nuno Leonel e Joaquim Pinto | Som: Olivier Dô Hùu, Nuno Leonel e Joaquim Pinto | Produção: Joana Ferreira Portador do HIV há 20 anos, o cineasta Joaquim Pinto testa drogas clandestinas durante um ano e relata sua experiência cinematograficamente. Um filme sobre memória, perda, globalização, epidemia, esperança e vida.

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Rabo de Peixe

DOC, 103’, COR, 2015, Portugal Direção: Nuno Leonel e Joaquim Pinto Direção de fotografia, Som e Montagem: Nuno Leonel e Joaquim Pinto | Empresa produtora: Presente Rabo de Peixe é uma vila em Açores que abriga a maior coleção de pesca artesanal de todo o arquipélago. O documentário segue o dia a dia de Pedro, um jovem pescador do qual os cineastas ficaram amigos, e onde os diversos temas da vila surgem discretamente.

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M É D I A S

E

C U R T A S



Santa Maria

Direção: Nuno Leonel ANI, 7’, COR, 1992, Portugal Vozes: Michael Gois, Joseph Ernst, Nuno Leonel e Joaquim Pinto | Animação e Intercalação: Nuno Leonel | Cenários: Nuno Leonel e Nuno Fonseca | Som: Joaquim Pinto e Rafael Toral | Mixagem: Joaquim Pinto e Hans Kunzi | Montagem: Joaquim Pinto e Vasco Pimentel | Produção: Joaquim Pinto Santa Maria é o ato de violência máxima, imediatamente anterior a fazeres dos teus miolos um fogo de artifício com uma espingarda de canos serrados. É o estado final de coma, das relações estabelecidas com montanhas de informação completamente inútil, fragmentada a um extremo em que tu próprio és mais um fator oco, dentro de um espaço e de um tempo que se enquadram noutro, e noutro... Como dois espelhos que se refletem, nada existe para refletir.

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Para Cá dos Montes Direção: Joaquim Pinto FIC, 24’, COR, 1993, Portugal

Elenco: Rita Blanco, Angela Cerveira, Filipe De Sousa Duque, Roberto Duque da Cruz, Humberto Duque Martins, Nuno Duque Martins, João Alexandre Duque, Joaquim Pinto, José de Jesus Santos, Vasco Sequeira e Tiago José Torrão Pires | Roteiro: José Pedro Penha | Direção de fotografia: João Guerra | Montagem: Pedro Duarte e Vítor Moreira | Direção de arte: Sérgio Costa | Som: Vasco Pimentel, Joaquim Pinto e Francisco Veloso | Empresa produtora: G.E.R. (Grupo de Estudos e Realizações) Retrata a aldeia transmotana da Seara Velha, onde Sant’lago é padroeiro, nos anos noventa e durante as Invasões Francesas.

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LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


Schizophrenia

Direção: Nuno Leonel ANI, 16’, PB, 1995, Portugal Vozes: Ann Guedes, Daniel Ernst, Miguel Lourtie e Michael Lloyd | Roteiro: Pierre Hogdson e J. Pedro Moura | Desenhos: Nuno Leonel, Mário Valente, Artur Correia e Ricardo Neto | Rostrum Camera: Armando Ferreira e Nuno Leonel | Música: J. Pedro Moura, Carlos Fortes e Sapo | Som e Edição: Joaquim Pinto e Vasco Pimentel | Produção: Joaquim Pinto Schizophrenia é um filme de más relações. Body / soul consciente / inconsciente religioso / profano love / hate black / white (América) liberdade / pena de morte c’est la vie; c’est la mort e um rapaz com alguns problemas de instabilidade emocional natural / normal must do it / can’t do it do it, or I will punish you / do not do it, or I will punish you Uma cultura ‘double bind’ que perdura, indicando caminhos para um futuro hipócrita de contradição humana, largely unaware of the exact nature of its paradoxical situation.

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Surfavela

Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel DOC, 39’, COR, 1996, Portugal Direção de fotografia: Joaquim Pinto | Som: Nuno Leonel | Montagem: Claudio Martinez | Edição de som: Joaquim Pinto e Nuno Leonel | Assistência de realização: Renalta Baldi e Paulo Duarte | Assistência de produção: Dina de Freitas e Laurent Bocahut | Produção: Antonia Seabra e Philip Brooks Produzido para a ARTE para uma noite temática sobre surf e rodado nas favelas do Cantagalo e da Rocinha, no Rio de Janeiro, aborda o “projeto Surfavela”, que se centra na resistência ao racismo e à existência precária dos jovens dessas favelas através do surf.

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Com Cuspe e Jeito se bota no cu do Sujeito DOC, 21’, COR, 1997, Portugal Direção: Joaquim Pinto, Nuno Leonel e António Seabra Elenco: Gilson “Xica da Silva” O trabalho politico de Yvonne Bezerra de Mello estende-se à proteção de testemunhas da violência extra-judicial. Em “Com Cuspe e Jeito”, um invulgar “documentário de culinária”, Gilson “Xica da Silva” demonstra a confecção de uma feijoada à brasileira enquanto evoca com “sentido de humor” o trajeto da sua vida até uma das mais miseráveis favelas do subúrbio onde se ocultam alguns desses sobreviventes.

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LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


Entrevista com Yvonne Bezerra de Mello Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel DOC, 33’, COR, 1997, Portugal

A artista plástica Yvonne Bezerra de Mello que, no regresso ao Brasil depois de vários anos a viver na Europa, se confrontou com a situação de violência sobre as crianças, foi uma figura central na denúncia do massacre de menores na Igreja da Candelária (1993). Esta é uma lúcida e crua entrevista intercalada com imagens de rua, convivendo com a realidade das crianças abandonadas pelos subúrbios do Rio de Janeiro.

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Porca Miséria

ANI, 4’, COR, 2007, Portugal Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel Voz: Filipe Figueireido | Empresa produtora: Filmebase Era uma vez... um porquinho de porcelana de origem francesa, mais concretamente da região de Sèvres, e de nobre ascendência. Tinha sido moldado à mão por um ancião de barbas brancas, não como um qualquer porco mealheiro feito sem amor numa forma mecânica. E pintado com florzinhas primaveris por um jovem artista. Servira famílias abastadas. Mas o gosto dos humanos é imprevisível, e os anos 50 tinham trazido uma leva de porquinhos espaciais com motivos geométricos. Começou então a sua trajetória descendente na escala porcina. Felizmente encontrava agora sossego em mãos pobres mas amigas, e melhor que tudo, ERA AMADO! Esta história conta os seus últimos dias antes de voltar à terra.

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LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


Sol Menor

EXP, 6’, COR, 2007, Portugal Direção: Joaquim Pinto e Nuno Leonel Poema: Mario Cesariny Os ciclos solares duram aproximadamente 11 anos. Cada ciclo consiste num máximo solar caracterizado por grandes tempestades solares seguido por um mínimo solar. Entre 1996 e 2007 completou-se um ciclo solar. Por coincidência, neste período os cineastas iniciam e concluem uma série de diferentes projetos que os permitiram viajar por diferentes pontos do globo, tendo como base os Açores. Imagens registradas entre o final de 2006 e 2007 na ilha de Santa Maria, quando a atividade e radiação do Sol era menor. Um projeto sem “assunto”, que poderia ser um arrepio na tarde, ou um cão atropelado na estrada por um bruto que se julga um deus de arrabalde. Coincidências reunidas entre sensações de frio e repulsa de um ciclo que se encerra, e que marcam o nosso regresso a casa.

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Produção Haver Filmes Curadoria e Concepção Aristeu Araújo Coordenação e Produção executiva Christiane Spode Produção de cópias Denise Kelm Produção gráfica Janaina Spode Produção local - Rio de Janeiro Manuelle Rosa Assessoria de imprensa Alexandre Aquino Organização de catálogo, textos e edição Aristeu Araújo Programação visual e webdesign Aristeu Araújo Vinheta Aristeu Araújo Foto da capa do catálogo e da identidade gráfica Rui Galdêncio Projeção digital Em Quadro Projeção Digital Gerenciamento de mídias sociais Janaina Spode Impressão Gráfica Nacional Gráfica LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


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F I C H A

T É C N I C A




LEMBRANDO JOAQUIM PINTO E NUNO LEONEL


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