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OGÊNESIS POR SEBASTIÃO SALGAD
impõe a todos uma única forma de cultura, um gosto legitimado, menosprezando outras formas e segmentos sociais. A violência simbólica para Bourdieu tem suas ramificações no gosto cultural que resulta da diferença entre os indivíduos e classifica o que é de bom ou mau gosto, hierarquizando assim o campo da cultura. Os estudos culturais de Pierre Bourdieu são importantes para compreender as contradições e tensões existentes entre cultura popular e cultura erudita e a relação de dominação e de subordinação entre elas. Já para o filósofo Mikhail Bakhtin, os estudos culturais estão relacionados à cultura popular que é uma concepção de mundo baseada na vida cotidiana e, só adquire sentido nas manifestações e tradições populares e não no conceito de civilização e da arte cristalizada. A cultura para Bakhtin não é homogênea, assim como os povos também não o são. É mais do que isso. É um modo de vida, porém não idêntico a ela. São atitudes, valores e formas simbólicas compartilhadas. O filósofo aborda o caráter polifônico em que o diálogo nunca se conclui, porque há diversas linguagens interagindo e absorvendo diversas características culturais, signos e significados de cada povo que para alguns pensadores é denominado de hibridismo cultural ou multiculturalismo.
A origem e o sentido da realidade como cultura para Bakhtin estão nas relações dos homens com a natureza e ocorrem pelo desejo, pelo trabalho e pela linguagem. Assim, Bakhtin constrói sua teoria de cultura a partir da teoria literária, em que ressalta as mais diversas manifestações sociais, das tradições eruditas a festas populares que aconteciam nas ruas e praças públicas na Europa desde o período medieval. Em suma, os estudos culturais apontados por Bourdieu e Bakhtin nos faz referenciar os elementos que Hélio Oiticica demonstrou em seus projetos e experimentos artísticos como no reconhecimento que espaços culturais é privilégio da elite. Assim propõe abolir a arte figurativa e contemplativa e cria uma arte que interaja com todos, como no projeto Éden, em que a proposta é a quebra das instâncias simbólicas de exclusão social, estabelecendo um diálogo polifônico, enfatizando o modo de ser e viver de grupos e indivíduos e não suas diferenças. As obras de Oiticica trazem à tona reflexão e crítica sobre os caminhos e descaminhos que a desigualdade social e desmerecimento da cultura popular integram uma proposta hegemônica e de soberania as classes que não possuem capital material e cultural. Sua arte contempla uma gama de experiências e vivenciais artísticas inspiradas no cotidiano, no sensorial, na cultura
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popular, no corpo e na [...] ação comportamental como uma força criativa. (OITICICA, 1969) A arte para Oiticica é inusitada por excelência. Uma arte que deve ser experienciada e usufruída e ganha sentido somente quando o homem estabelece uma relação de proximidade entre a obra e sua existência. Enfim, a arte de Oiticica [...] está no mundo, assim como o mundo está na sua arte. (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2020)
Referências bibliográficas: BAKTIN, M. Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. Ed. Hucitec. 1999. BOURDIEU, P. O Amor Pela Arte. Ed. Edusp. São Paulo, 2003. O Poder Simbólico. Ed. Perspectiva. 1989. BRAGA, P. Fios Soltos: a arte de Hélio Oiticica. Ed. Perspectiva. 2011. Enciclopédia Itaú Cultural. Hélio Oiticica. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa48/helio-oiticica. Acesso:19/11/20 FAVARETO, C. Ainvenção de Hélio Oiticica. Ed. Edusp. São Paulo, 1992. JACQUES, B. P. Estética da Ginga. Ed. Casa da Palavra. 2011. OITICICA, H. Aspiro ao grande labirinto. Ed. Rocco. 1986. OITICICA, H. The Senses Pointing Towards a New Transformation. 22/12/1969 Programa HO. #tombo 0486/69. SETTON, M. G. J. A Produção da Crença. Ed. Zouk. São Paulo, 2002.
GÊNESIS POR SEBASTIÃO SALGADO
Gênesis do grego: origem, nascimento, criação. É o primeiro livro da Bíblia da tradição Judaico-Cristã sobre a origem do mundo. Gênesis também é o projeto do fotógrafo Sebastião Salgado que buscou capturar pelas imagens esse princípio que corresponde a dimensão da força da natureza em várias regiões do planeta. Entre2004 e2012, Salgadovisitou 32 regiões do mundo -África, Ásia, Américas, Oceania e Antártica - na busca dessa natureza primal e a relação do homem com o meio. O próprio Sebastião Salgado explica que para ele Gênesis trata dos [...] primórdios, sobre um planeta intocado, suas partes mais puras, e um modo de vida tradicional que convive em harmonia com a natureza. Quero que as pessoas enxerguem o nosso planeta de outra forma, sintam-se comovidas e se aproximem mais dele”.(SALGADO, 2013) O projeto Gênesis é a carta de amor do fotógrafoao planeta e resultou na publicação de um livro com mais de 245 fotos em preto e brancoeensaios-reportagens, exposição em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Europa, e também, no filme documentário Sal da Terra, assinado pelo cineasta alemão Wim Wenders e por Juliano Salgado. A ideiade Gênesis surgiu a partir do projeto ambiental Instituto Terra que Salgado e sua esposa desenvolvem há mais de uma década na propriedade da família, região do Vale do Rio Doce, onde o Sebastião Salgadonasceu. Na propriedade da família que antes abrigava uma floresta rica em diversidade de espécies da flora de Mata Atlântica com o passar dos anos foram se extinguindo e a iniciativa do casal e de parceiros fundaram em 1998, a organização ambiental dedicada ao desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce em que mais de 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica já foram produzidas em viveiros para abastecer o plantio na região. Hoje a região voltou a florescer inclusive com espécies da fauna brasileira em risco de extinção. Salgado conseguiu retornar no tempo e trazer a imagem da doce lembrança e vivência de sua infância com a natureza num novo princípio que a palavra Gênesis significa.