Uma História das Copas do Mundo – futebol e sociedades - Vai ter Copa?

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PARTE INTEGRANTE DO E-BOOK VOLUME 2 DE

VAI TER COPA?


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Copyright ©2016 by Editora Armazém da Cultura Editora Albanisa Lúcia Dummar Pontes Administrativo Veridiana Silva Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica Suzana Paz Assessora de Comunicação Mariana Dummar Pontes Revisão Vessillo Monte (Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, sem prévio consentimento da editora)

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A Copa do Brasil de 2014 e a Sub-sede Fortaleza

O

s meses que antecederam a Copa do Mundo no Brasil foram de desencanto, ansiedade, dúvidas e – por que não? –, medo: as obras ficariam prontas a tempo? Aconteceriam novos protestos, semelhantes aos que haviam se dado em junho de 2013? Ficaria algum legado do Mundial? Como se observa, as questões estavam mais relacionadas aos se passava fora dos gramados – dentro de campo, a Seleção Brasileira, de Luis Felipe Scolari, era apontada como grande favorita, por ter ganho brilhantemente a Copa das Confederações do ano anterior, por ter se saído bem em alguns amistosos, por sediar o Mundial e por ter Neymar, jovem craque, em excelente fase. Mas como o “problema” seria a Copa em si, membros do mundo do futebol não deixaram de opinar. O Ténico Luis Felipe Scollari disse que eventuais protestos na Copa atrapalhariam a Seleção e que não sabia se esta era uma boa hora para protestar1 1. Felipão diz que protesto na Copa pode atrapalhar (e muito) Seleção em campo http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/27/ felipao-diz-que-protesto-na-copa-pode-atrapalhar-e-muito-selecao-emcampo.htm


Pesquisas indicavam que boa parte da população não apoiava a competição. Em muitas cidades, ao contrário de copas passadas, não eram muitas as ruas enfeitadas de verde e amarelo para o “ritual quadrienal de nacionalidade” (embora, com o desenrolar da competição, o número delas tenha aumentado significativamente). Comerciantes e empresas patrocinadoras temiam fazem promoções relacionada à Copa temendo depredações, como acontecera na Copa das Confederações2. Paralelamente, os movimentos sociais questionavam a forma como a Copa estava sendo realizada (?). Em maio de 2014, realizouse em Belo Horizonte o I Encontro dos Atingidos por megaeventos, no qual foi elaborada uma Carta no qual se afirmava que “Duzentos e cinquenta mil pessoas com suas famílias estão sendo desestruturadas, levadas para longe de seus lugares de origem, causando impactos na saúde, na educação, no transporte público, além da violência física e psicológica”3. A imprensa internacional e mesmo governos estrangeiros, não raro com fortes doses de preconceito, cha2. Patrocinadores da Copa temem fazer promoções na rua por protestos http://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2014/01/03/patrocinadoresda-copa-temem-fazer-promocoes-na-rua-por-protestos/

3. Carta do I Encontro dos/das Atingidos/as – http://www.portal populardacopa.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=586:carta-do-i-encontro-dos/das-atingidos/as


mavam a atenção para os problemas que esperavam os selecionados no Brasil. Jornalistas mostravam as gritantes contradições sociais do País e as violências praticadas contra pobres quando da construção das obras. A seis semanas da Copa, o Ministério de Assuntos Exteriores alemão divulgou um relatório oferecendo uma imagem desoladora do Brasil: uma nação onde as leis não são respeitadas e na qual o turista corre o risco de ser vítima de ladrões, sequestradores ou, simplesmente, de se envolver em confrontos entre a polícia e grupos criminosos. “Arrastões e delitos violentos não estão descartados, lamentavelmente, em nenhuma parte do Brasil. Grandes cidades como Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo oferecem altas taxas de criminalidade”, diz o relatório4. Recomendações parecidas foram feitas pelo governo do Estados Unidos e do Reino Unido5. O jornalista dinamarquês Mikkel Jensen desistiu de cobrir Copa, após constatar as profundas contradições sociais do País6. Na imprensa nacional era comum encontrar textos de 4. Brasil, um país de alto risco, segundo a Alemanha http://brasil.elpais.com/ brasil/2014/04/26/internacional/1398542666_440736.html 5. EUA, Reino Unido e Alemanha emitem alerta de segurança para turistas na Copa http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,eua-reino-unido-e -alemanha-emitem-alerta-de-seguranca-para-turistas-na-copa,1162624 6. http://g1.globo.com/ceara/noticia/2014/04/jornalista-dinamarquesdesiste-de-cobrir-copa-e-conta-decepcao-na-web.html


jornalistas e articulistas, em especial os mais conservadores ou opositores radicais ao governo, alardeando que o Brasil passaria “vergonha” perante o mundo, pelos problemas de infraestrutura, transportes, seguranças, etc., os quais ameaçariam o bom andar da competição. O Brasil, definitivamente, não tinha condições de receber um megaevento esportivo internacional como aquele. As obras eram megalomaníacas e havia denúncias de corrupção. Criando mais temores ainda, os conservadores alardeavam a necessidade de o Estado reprimir com rigor os possíveis distúrbios a serem feitos por movimentos sociais de extrema-esquerda, os blacks blocs (na verdade, uma tática de enfrentamento em protestos), evitando o que acontecera em junho de 2013, quando da Copa das Confederações, na qual “criminosos e vândalos”, “bandidos” haviam destruído propriedades privadas e públicas, agredido e até assassinado pessoas. Não poucos diziam que “a Copa já era”. Tais análises, para parte da esquerda moderada e aliados do governo, eram um revigoramento do que foi chamado pelo jornalista Nélson Rodrigues nos anos 1950 de “complexo de vira-latas”, de um país que se via inferior a outras nações e que se imaginava incapaz de fazer nada de grandioso. Por outro lado, setores oposicionistas à esquerda puxavam o movimento “Não Vai Ter Copa”, apontando


as contradições da realização de um megaevento que custava milhões aos cofres públicos, isso num país com enormes carências e problemas. Esses recursos deveriam, sim, serem usados para tirar o “atraso social do País”, para fazer o Brasil “avançar”, criando uma sociedade mais justa. Os movimentos sociais, muitos de extrema -esquerda, desde janeiro realizaram passeatas em várias cidades, como um “aquecimento” para o que aconteceria em julho. Nesses protestos, não raro, ocorriam incidentes entre manifestantes e policiais – e aconteceu mesmo de a torcida corinthiana Gaviões da Fiel se mobilizar para proteger o Estádio de seu time, o Itaquerão (sobre o qual foram feitas várias denúncias de irregularidade), contra manifestantes7. Num das manifestações, um cinegrafista acabou vitimado fatalmente, após ser atingindo por um rojão soltado por um manifestante, o que repercutiu negativamente junto à sociedade e agastou ainda mais a imagem dos manifestantes. Usando as redes sociais e mídias alternativas, esses grupos passariam a Copa denunciando as prisões dos ativistas feitas pelo governo, condenando o sistema judiciário e o Estado brasileiro, enfatizando que o Brasil estava longe de ser uma nação de fato democrática. Curiosamente, seriam condenados 7. Gaviões convoca torcedores para proteger Itaquerão em ato anti-Copa. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1447187-gavioesconvoca-torcedores-para-protegerem-itaquerao-em-ato-anti-copa.shtml


tanto pela direita como pela esquerda, aliada do governo. O governo, por sua vez, tentava passar uma visão positiva do evento, um “megaevento esportivo que daria mais projeção internacional” ao País, afora dividendos econômicos e melhorias da infraestrutura de transporte, telecomunicações, turismo, mobilidade urbana (o que genericamente era chamado de “legado da Copa”). Mostrar-se-ia ao mundo um país “moderno, civilizado, capaz de grandes conquistas e realizações”. A presidenta Dilma dizia que os “pessimistas” se frustrariam e que aquela seria a “Copa das Copas”, expressão que, por sinal, seria bastante usada pelos simpatizantes do governo ao longo da competição. Tal postura, para os opositores à direita ou à esquerda, retomava o discurso ufanista da ditadura militar, do “Brasil ame-o ou deixe-o”, de tentar unir todos pelo futebol e desconsiderar os críticos como se estivessem contra o Brasil. Na abertura da Copa, no jogo entre Brasil e Croácia, em São Paulo, estado onde há uma expressiva oposição à presidenta, Dilma não apenas foi vaiada, mas alvo de palavrões e termos grosseiros. Tais termos provocaram grande polêmica no País e o mal-estar suscitou até certa solidariedade com a Chefe do Executivo, tendo efeito contrário ao esperado pelos mais críticos opositores. Dilma não apareceu nos estádios nas semanas seguintes e surgiram dúvidas se iria ao


jogo final. A intenção era evitar novas vaias e constrangimentos. Como a Copa acabaria não sendo a catástrofe que se imaginava e foi bem avaliada pela população, a presidenta esteve no jogo final, entregando rapidamente a taça ao campeão (e recebendo novas vaias). Por outro lado, o governo deixava claro que não aceitaria protestos violentos. A imprensa noticiava com destaque a quantidade de homens envolvidos na contenção a protestos (mais de 10 mil da Força Nacional8) e a quantidade de armas a serem usadas para “manter a ordem”. Para vários assessores presidenciais se o governo não saísse agastado da Copa seria já um grande êxito, pois, poucos duvidavam que a competição trouxesse algum dividendo eleitoral maior para as eleições de outubro. Novamente, a visão estereotipada do futebol como “pão e circo”, de que o povo era manipulado pelo governo através do futebol, era questionada. Apesar disso, não foram poucos os que acreditavam que um eventual triunfo da Seleção Brasileira no Mundial favorecesse a reeleição da presidenta, e não hesitaram em torcer contra o time nacional, como se percebia nas redes sociais durante a competição. Acreditamos que

8. Força Nacional terá 10 mil agentes para contenção de protestos na Copa http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/01/03/ forca-nacional-tera-tropa-de-choque-com-10-mil-agentes-na-copa-domundo.ht


muitos dos defensores da Copa, caso seu grupo político estivesse na oposição, criticariam a realização do evento, enquanto vários dos críticos, se seus partidos estivessem no comando do Estado, apoiariam a forma como se fazia a Copa... E percebia-se, ainda, um quarto grupo de pessoas, que escapavam à dicotomia apoio-oposição à Copa. A estas, talvez pudesse ser aplicada a noção de “Zona Cinzenta”, da qual fala o historiador Pierra Laborie, em que as pessoas se posicionam entre o apoio e a rejeição, ora assumindo um ora outro e, na maior parte das vezes, assumindo os dois ao mesmo tempo. Condenavam as acusações de superfaturamento das construções, o fato de que muitas obras do “legado” da Copa não seriam mais entregues pela falta de tempo; denunciavam a morte de operários que morriam ante a pressão e o esforço para concluir as obras a tempo, a remoção de milhares de pessoas para a construção de obras e favorecimento à especulação imobiliária. Por outro lado, torceriam pela Seleção, eram apaixonados por futebol e pela Copa, sabiam de como aquela era uma chance preciosa para o Brasil ser hexa (o Brasil era um dos campeões do Mundo que não conseguira um título em casa), condenariam os excessos, fossem da esquerda em seus


protestos radicais, fossem da direita, como a descortesia de agredir a presidenta com termos de baixo-calão. Apesar de problemas pontuais de organização, de modo geral, a Copa foi boa – e melhor ainda dentro de campo. Os problemas da Copa talvez estivessem materializados melhor antes e depois. Muitas sedes, obras atrasadas, custos elevados, denúncias de corrupção, higienização social e expulsão de pobres em favorecimento ao capital especulativo, chegando ao que fazer com os estádios para não virarem “elefantes brancos”. No mais, questões que afligem há décadas a sociedade brasileira: prostituição infantil e a remoção de pobres das ruas, afora a violência policial – os não muitos manifestantes foram vigiados, cercados, reprimidos e, contrariando qualquer norma de direito de uma democracia digna do nome, preventivamente presos. Um dos questionamentos feitos pelas pessoas é o porquê os poucos protestos durante o Mundial, ao contrário do que se imaginava. Um conjunto de fatores poderia ser apontado. Talvez tenha chamado mais a atenção da população o fato de que agora era a Copa do Mundo – e no Brasil –, a principal competição do futebol mundial, ganha pela seleção verde e amarela cinco vezes, e não um torneio caça-níquel e inexpressivo como a Copa das Confederações. Talvez o temor da repressão


mostrada antes e executada durante a competição tenha assustado muita gente que estava nas ruas em julho de 2013. Talvez muita gente possa ter se desencantado com inconsequência prática dos protestos. A ideia de “revolução permanente” não é algo comum para pessoas (estas podem ter outras prioridades na vida), salvo estágios de colapsos sociais, o que não era o caso do Brasil. Talvez muita gente tenha notado o uso polítiqueiro que se fez dos protestos do ano anterior, para agastar a imagem do governo. Talvez um sentimento nacionalista, de que agora a Copa era “para valer”, e que os brasileiros deveriam receber bem os gringos (e, de fato, os receberam), evitando maiores problemas – muita gente diria que os problemas se resolvem em casa, “entre nós”, e não para manchar a imagem do País no exterior. Talvez as ações mais duras dos manifestantes nos meses que antecederam a Copa, com a destruição de propriedades privadas, agressões e mortes tenham frustrado muita gente, que não concordava com as táticas de anarquistas e grupos semelhantes. Talvez a pressão do governo sobre os movimentos sociais – como, aliás, vem acontecendo desde que o partido no poder assumiu o poder em 2002 – tenha servido para desarticular os protestos. Talvez os setores médios, que protestavam sobre causas difusas – como corrupção, excessos


de impostos e até os programas sociais para os mais pobres –, tenham se assustado com a radicalização popular e com os rumos que os protestos poderiam tomar. “Começa-se uma revolução quando se quer, termina-se quando se pode”. Os setores mais radicais e populares – que também estavam nas ruas em 2013 –, tinham propostas que não agradavam os setores médios e dominantes. Não por acaso, muitos daqueles que tinham protestado em 2013 começaram a dizer que as passeatas eram “baderna”, que não adiantavam nada e que o único modo de mudar a realidade do País seria votando sério nas eleições.


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Fortaleza Como afirmou José Miguel Wisnik, o Mundial de 2014 seria quase uma síntese do Brasil, do seu povo e suas contradições. “A Copa foi um veneno-remédio amargo. Tanto mostrou as mazelas brasileiras, os desequilíbrios, a esclerose, a não-transparência das instituições, como a força espiritual de um povo capaz de acolher, abraçar e alegrar a festa, atitudes preciosas e cada vez mais raras no mundo globalizado”9. Na Sub-sede de Fortaleza não foi diferente. Denotando mais uma vez o prestígio do grupo dos Ferreira Gomes junto ao governo federal, Fortaleza recebeu seis jogos da Copa do Mundo, inclusive, dois da Seleção Brasileira. Multidões se aglomeraram para aplaudir o selecionado no aeroporto Pinto Martins, no hotel em que estava a delegação hospedada (Marina Park), nos locais de treinamentos e, claro, no Castelão10. Repetindo o que tinha acontecido na Copa das Confederações, a torcida fortalezense cantaria o hino à capela no primeiro jogo do selecionado na cidade, um frustrante empate em 9. José Miguel Wisnik e a Copa de 2014. http:/ www.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?codigo_noticia=4652 100 Fortaleza parou para ver a seleção. O Povo, 17/06/2014, pág. 4. 10. Fortaleza parou para ver a seleção. O Povo, 17/06/2014, pág. 4.


0 x 0 com o México11. Antes do jogo, um protesto com cerca de 350 manifestantes na Avenida Alberto Craveiro entrou em confronto com a polícia, havendo 35 detidos. Mais uma vez, os manifestantes reclamaram da truculência das forças de segurança12. Como na Copa das Confederações, houve restrições e modificações no cotidiano das pessoas. Temendo problemas de mobilidade urbana, as tradicionais férias estudantis do meio do ano acabaram antecipadas para junho e foram decretados feriados ou meio-expediente nos dias das partidas. Moradores das imediações do Castelão tinham que se cadastrar e só podiam circular até seis horas antes dos jogos13. Antes de a competição iniciar-se, casas de prostituição foram fechadas na cidade14– mas a prática da prostituição continuaria amplamente pelas ruas, onde estavam os turistas. Em matéria na imprensa, prostitutas relatariam ao final da Copa a 11. Não contávamos com aquela astúcia. O que o goleiro mexicano Ochoa fez ontem à tarde. No Castelão, não estava no roteiro imaginado pela torcida brasileira. O Povo, 18/06/2014, pág. 1.

12. Protesto termina com confronto e 35 detidos. O Povo, 18/06/2014, pág. 12.

13. Veiculos serão credenciados. O Povo, 5/05/2014, pág. 4. O Povo, 16/05/2014, pág. 8. 14. MPE fecha 8 prostíbulos e prende dez pessoas. Diário do Nordeste, 5/06/2014, pág. 10.


falta de clientes, pois os homens estariam mais interessados em futebol e bebida do que em sexo15... Uma preocupação das autoridades era a exploração sexual de menores e adolescentes16. O comércio popular foi reprimido – várias camisas “pirata” das seleções foram apreendidas pelos agentes de segurança17. Apesar disso, eram facilmente encontradas no comércio ambulante da cidade18. Nos pontos tradicionais do turismo de Fortaleza e no entorno do Castelão, os bares ficaram lotados antes e durante as partidas, principalmente de torcedores estrangeiros19. Também era intensa a presença de ambulantes nas imediações do estádio, vendendo todo tipo de produto, e não aqueles oficialmente liberados pela FIFA, como as au15. Copa do Mundo. Prostitutas relatam falta de clientes. O Povo, 8/07/2014, pág. 5. 16.Tolerância zero na luta contra a exploração sexual. O Povo, 15/06/2014, pág. 10.

17. DDF apreende 8 mil camisas falsas. Diário do Nordeste, 5/06/2014, pág. 10. 18. Comércio ilegal. De onde vêm as camisas piratas da seleção. O Povo, 27/06/2014, pág. 26.

19. Entorno do Castelão: com ou sem ingresso, o que vale é a festa. O Povo, 18/06/2014, pág. 24. Bares e restaurantes esperam faturamento 50% maior. O Povo, 18/06/2014, pág. 17.


toridades tinham alertado antes da Copa20. Não raro, os preços cobrados para os “gringos” eram maiores que para os brasileiros21. Apesar de proibidos, cambistas negociavam ingressos quase abertamente22. Multidões compareceram à chamada fan fest no aterro da Praia de Iracema, para acompanhar os jogos em telões e assistir a apresentações de músicos e bandas23. Em vários pontos da cidade, houve clima de carnaval24. Uma das questões que mais preocupavam era o fato de poucos brasileiros e cearenses falarem inglês – isso, porém, não foi obstáculo maior para as pessoas se 20. Tem de tudo no acesso ao Castelão. O Povo, 24/06/2014, pág. 10. Moradores do Castelão faturam renda extra com a Copa. O Povo, 5/07/2014, pág. 3. 21. Preço para estrangeiros é mais salgado. O Povo, 24/06/2014, pág. 10

22. Tem ingresso no paralelo. O Povo, 16/05/2014, pág. 1 (Esportes). Cambistas lucram até 400% sobre bilhete. O Povo, 23/06/2014, pág. 4 23. Aquecimento para a festa – Fan fest de Fortaleza é palco hoje do primeiro evento oficial da Copa do Mundo. O Povo, 08/06/2014, pág. 1. 24. Bye bye tristeza para Los Ticos. A fan fest foi o destino do sábado para fortalezenses e turistas que apostaram nos diferenciais do evento para ir à Praia de Iracema. O Povo, 15/06/2014, pág. 4. Caldeirão cultural na fan fest. Torcedores lotaram a Praia de Iracema para acompanhar a partida entre Alemanha e Gana. Evento foi marcado pelo equilíbrio das torcidas. Polícia Militar estima presença de 5 mil pessoas na festa. O Povo, 18/06/2014, pág. 7.


entenderem minimamente através de gestos25. Os organizadores do evento enfatizaram a necessidade de a população receber bem os turistas e estrangeiros. As opiniões elogiosas destes sobre a cidade e suas ações cordiais ou de proximidade com a população ganhavam espaços nos meios de comunicação26. Aconteceram, porém, problemas de relacionamento também, fosse por choques culturais, excessos de bebida, etc.27. 25. O comerciante Renam Harlen de Souza, 23 anos, não tem dúvidas de que é assim que vai faturar pelo menos 30% a mais do que o habitual nos próximos 30 dias. “Fazendo ‘mungango’ todo mundo se entende”, brinca. Sem falar idiomas, feiriantes apelam à mímica para se comunicar. O Povo, 11/06/2014, pág. 2. Já com quando do jogo entre Alemanha 2 x 2 Gana, os problemas de comunicação foram maiores. Invasão alemã em Fortaleza. Sprechen sie deutsch? Com o jogo entre Alemanha e Gana, visitantes-torcedores se fizeram presentes nos pontos turísticos da cidade. Comunicação ficou mais complicada para quem presta serviços, já que quase nenhum vendedor fala alemão. O Povo, 21/06/2014, pág. 4. Sobra boa vontade no fortalezense. Repórteres do O Povo viveram dias de turistas estrangeiras em Fortaleza. Falando inglês, encontraram no idioma maior obstáculo para a população interagir. Mas fortalezense mostra que sabe lidar com visitantes. O Povo, 23/06/2014, pág. 4. 26. Turismo. O que os estrangeiros levariam de Fortaleza? Na lista, apareceram e repetiram as praias, as pessoas e o clima. O Povo, 30/06/2014, pág. 4.

27. Mexicanos são condenados por desacato [estariam causando tumulto e impedindo os demais torcedores de assistir ao jogo – um dos mexicanos jogou um copo de cerveja o rosto de um delegado]. O Povo, 21/06/2014, pág. 10. Um outro incidente, de mais repercussão na mídia, foi a prisão de mexicanos após agredirem advogados – os estrangeiros teriam assediados as esposas dos advogados. O Povo, 1/07/2014, pág. 3.


Como a seleção mexicana atuaria duas vezes na Capital cearense, seus torcedores chamaram bastante a atenção da imprensa, com chapelões, roupas coloridas e jeito vibrante de torcer28 . A chegada a cidade de um luxuoso transatlântico, no porto do Mucuripe, não passou despercebida. As fotos mostrando o contraste do colossal navio e os casebres do bairro Vicente Pinzõn circularam nas redes sociais29. Em geral, os mexicanos passavam o tempo todo dos jogos gritando e cantando, enquanto a torcida brasileira muitas vezes silenciava30. Analistas de futebol diziam que muitos dos brasileiros presentes à Copa não eram os torcedores “clássicos”, aqueles que acompanham os clubes e campeonatos domésticos. De melhor condição econômica, os brasileiros seriam criticados por sua torcida apática, por terem apenas uma canção de incentivo e por, muitas vezes, estarem mais preocupados em “desfilarem bem vestidos nos estádios”, beber e bater foto do que em 28. Ritmo mexicano no calçadão. O Povo, 17/06/2014, pág. 6.

29. Navio com 3.600 mexicanos atraca em Fortaleza para acompanhar jogo - http://g1.globo.com/ceara/ noticia/2014/06/navio-com-3600-mexicanos-atraca-em-fortaleza-para-acompanhar-jogo.html

30. Quando a visita domina a festa em casa. Mexicanos não se intimidaram com a maioria brasileira e entoaram, com força, seus cânticos tradicionais em incentivos à sua seleção. A animação deixou sem reação a geral brasileira presente ao estádio. O Povo, 18/06/2014, pág. 12.


estimular a apoiar a seleção nacional31. As mesmas redes sociais, que serviram para articular os protestos de 2013, se mobilizaram em 2014 para criar gritos de guerra e organizar a distribuição de panfletos nos estádios com novas músicas32. Ao contrário do turismo regular, os estrangeiros não viriam a Fortaleza pelos atrativos da cidade em si, mas para acompanhar os jogos de suas seleções. Ante o mostrado pelas propagandas oficiais, claramente notavam as diferenças sociais da capital cearense33. Outras vezes, percebiam a diferença em relação aos estereótipos sobre o povo brasileiro ou de Fortaleza34 ou o temor de confrontos durante a Copa ou com a insegurança propagados no exterior nos meses anteriores35. Muitos se preocuparam em conhecer 31. torcida brasileira é ridícula. A seleção precisa se acostumar - http://esportefino.cartacapital.com. br/torcida-brasileira-brasil-copa-do-mundo/

32. Como se faz o grito da galera? O Povo, 4/07/2014, pág. 2.

33. “Na praia do Meireles, o argentino Estebam Mendes, há três dias em Fortaleza, conta que percebeu de cara que ‘há duas cidades. Aqui, a parte turística, de mais desenvolvimento. Seis quadras atrás, se vê outra totalmente diferente”. O Povo, 11/06/2014, pág. 1.

34. “Javier Barbeito, uruguaio de Montevidéu, sabia que encontraria as características de um grande centro, “mas outra coisa é sentir na pele”, diz. O jovem ficou surpreso com “o tamanho da cidade” e com o trânsito muito intenso”. O Povo, 11/06/2014, pág. 1 35. Sucesso da Copa surpreende o mundo. O Povo, 30/06/2014, pág. 6.


melhor a história da cidade e do futebol local36. Quando do jogo entre Holanda 2 x 1 México, pelas oitava de final, jornalistas destacaram que a capital cearense se formara em torno de um forte holandês, lembrando que séculos depois, a cidade sofria uma nova invasão holandesa, de seus torcedores para ver o Mundial. Não faltaram, porém, críticas ao desleixo e falta de zelo para com a conservação do patrimônio arquitetônico da cidade37. A hospitalidade local e a informalidade das pessoas seriam bastante elogiadas pelos estrangeiros. Apesar da barreira do idioma, cearenses e visitantes se aproximaram, dançaram, beberam e torceram juntos, num clima de festa. Amizades surgiram. Paqueras, namoros e sexo aconteceram. A presença no Ceará de estrangeiros, especialmente europeus e norte-americanos, representantes do ideal de beleza ocidental e da “superioridade cultural”, com muito dinheiro para gastar, representou uma “série concorrência” amorosa para os homens da terra. Não por acaso, alguns brasileiros se passaram por estrangeiros 36. Um outro olhar sobre Fortaleza: profissionais de vários países aproveitaram a Copa do Mundo para descobrir histórias sobre a cidade. O Povo, 22/06/2014, pág. 8.

37. Holanda refaz fortaleza para não ser expulsa do Ceará outra vez http://www.gazetaesportiva.net/ noticia/2014/06/holanda/holanda-refaz-fortaleza-para-nao-ser-expulsa-do-ceara-outra-vez.html


para se saírem melhor no cortejo às mulheres38. Antes da Copa, tradicionais apostadores da Praça do Ferreira viam a Alemanha como favorita para levantar a Taça FIFA, como acabou acontecendo39. Um dos episódios mais lamentáveis, dentro de campo, do Mundial, deu-se no último jogo no Castelão, com a contusão do jogador Neymar, após uma entrada dura do zagueiro Zúñiga, no jogo Brasil 2 x 1 Colômbia. Imagens do celular do jogador chegando ao hospital, divulgadas pela internet, custariam o emprego de uma enfermeira40. No jogo seguinte, em Minas Gerais, o Brasil sofreria a histórica goleada por 7 x 1 para a Alemanha, sendo eliminado. Segundo as autoridades, um total de 363 mil turistas teriam visitado o Ceará durante a Copa, movimentando R$ 1,6 bilhão – os mexicanos foram o público mais presente, com 25,49% do total de estrangeiros41.

38. A amizade é um legado. O Povo, 29/06/2014, pág. 26.

39. Alemanha disparada na Praça do Ferreira, O Povo, 29/05/2014, pág. 3. 40. Ganhou, mas perdeu. O Povo, 5/07/2014, pág. 1.

41. Copa 2014. 363 mil turistas movimentaram R$ 1,6 bi no Ceará. O Povo, 18/07/2014, pág. 28.


José Aírton de Farias nasceu em Santana do Acaraú-CE, em 1973. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), é também Mestre em História Social pela mesma UFC. Exerce a profissão de professor há 21 anos, ministrando aula em diversos colégios e faculdades do estado. Já escreveu livros sobre os mais diversos temas, abrangendo biografias, história e futebol.

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O texto, em mais de mil páginas, aborda a

contextualização política do mundo pré-Copa, de 1930, ano da primeira Copa, até hoje, quando chegamos à vigésima; insere e relaciona o espor-

te mais popular do planeta na vida e na políti-

ca, com grandes fatos e processos históricos do final do século XIX, XX e início do XXI. É uma apaixonante história política e social desde os

primórdios do esporte. Como atesta Juca Kfouri, um dos mais respeitados nomes da imprensa es-

portiva nacional: “o que você tem nas mãos é uma obra portentosa. Nem mais nem menos”.

Uma obra fantástica sobre o futebol, desde os primórdios do esporte até se tornar o maior espetáculo da terra. traz abordagens do esporte e da sociedade, das influências que um obteve sobre o outro em cada período desde a criação do esporte até hoje. o que escrevo aqui não é nem de perto um resumo sobre esta obra inigualável sobre futebol. Geovanne C. Marchezoni

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Uma história das copas do mundo futebol e sociedade

Airton de Farias | 160 x 225 mm VOLUME 01 - 548 páginas | ISBN: 978-85-63171-92-4 VOLUME 02 - 588 páginas | SBN: 978-85-63171-93-1

Para conhecer o futebol. Para conhecer a História. Para conhecer o mundo. Em Uma História das Copas do Mundo – futebol e sociedades, Airton de Farias faz uma apaixonante análise da trajetória do esporte mais popular do planeta e suas conexões com diversas sociedades e processos históricos.

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“... futebol é como carnaval, um agente de confraternidade. Liga os homens no amor e no ódio. Faz com que eles gritem as mesmas palavras e exaltem os mesmos heróis. Quando me jogo numa arquibancada, nos apertões de um estádio cheio, ponho-me a observar, a ver, a escutar. E vejo e escuto muita coisa viva, vejo e escuto o povo em plena criação” José Lins do Rêgo, Fôlego de classe

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