ARQvertical - vol. 2

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Paisagem vertical 2 Este número 2 da revista ARQvertical estampa novamente o editorial que escrevi para a número 1. A razão é simples e óbvia, o texto é bom e é um importante desabafo, creio que cabe ainda mais agora. Por isso o bis, leiam! Esta revista mostra alguns edifícios finalizados por agora ou em processo, mas mostra mais do que edifícios. Mostra o que têm dentro, mostra o que fizemos por eles. Como foram bem tratados. Não importa se residenciais ou comerciais, é fundamental que se expressem bem, que se comuniquem com seus diversos contingentes. São projetos feito a mão e com coração. PAISAGEM VERTICAL Parece mentira, mas somente hoje, na hora de filosofar sobre esta publicação, é que resolvi contar quantos edifícios com minha assinatura, existem eretos somados na paisagem. Tem quem possa ironizar o uso aqui da palavra paisagem, principalmente sendo a maioria destes projetos erguida em São Paulo, que sempre atrai a polêmica sobre sua fatídica “não paisagem”. Eu não ironizo nem compartilho desta negação do horizonte. Existe sim paisagem, mesmo que vertical, mesmo que cinza, esfumaçada e caótica. Existe um horizonte concreto e tenho que admitir até uma ponta de orgulho, quando me vejo em algum local privilegiado e consigo identificar alguns destes 185 edifícios no horizonte, sempre por lá, se eternos eu não sei, mas todos ainda lá, resistindo heroicamente. Pode parecer delírio, mas creio piamente que estes meus “totens” se destacam sutilmente neste emaranhado, são menos cinzas (mesmo quando são) menos esfumaçados e nada caóticos. A conta que não consigo fazer é do total dos que ficaram somente no ante-projeto, certamente milhares. Vivo falando e escrevendo sobre dignidade em moradias, sobre o espaço de afeto edificado, o abrigo fundamental da cada alma, etc., mas quase nunca paro para justificar, de algum ponto de vista holístico, o conjunto destas torres meio espremidas por aí. Se é que existe este viés, hoje resolvi tentar... Por que? Porque preciso. Resolvi contar quantos são, não pra me gabar vulgarmente da quantidade, mas para tentar assumir esta responsabilidade que não é tão leve. Quando na universidade, a tal piada/ditado era repetida duramente: se um médico se engana, enterra seu erro, um arquiteto se erra, terá de conviver pra sempre com este equívoco, envergonhado diante dos olhos de todo mundo. O erro enterra o profissional. Talvez isso não seja tão verdade, mas juro que me assustou e tenho que admitir que mesmo fora das salas de aula há 35 anos, ainda me preocupo bastante com o tal legado, com o que ficará por aí. Quando garanto que desenho pensando em quem vai morar, que me preocupo bem mais com quem habitará um apartamento, do que com quem me contrata para projetar o edifício, certamente não é demagogia. Talvez por isso meus clientes deste mercado imobiliário (hoje um tanto hostilizado), não sejam tantos assim, mas na minha sincera opinião, vem sendo suficientes e talvez sejam os que também se preocupam com este legado, que igualmente pretendam imprimir uma qualidade conceitual nos projetos e garantir maior bem estar a este, as vezes bem abstrato, ser que vai morar nestas muitas torres espetadas por aí. Hoje, quando parei para contar quantos são (quantos sou), resolvi pensar menos no morador e bem mais no cidadão, o transeunte que se depara com cada obra destas, ou com o aglomerado de obras misturadas e com sua inevitável interferência na paisagem. Não sou dos mais românticos a defender a preservação integral da cidade horizontal, utopias não enchem barrigas e não garantem teto a todos os que precisam, mas claro que agradecendo aos céus por existirem ilhas de habitação horizontal eternizadas na cidade por lei. Sempre acreditei na possibilidade amistosa de convívio entre tipologias, desde que seguindo alguma legislação eficiente e, claro, embasadas em desenho inteligente, elegante e honesto.


Em alguns momentos, um tanto asfixiado por discussões mercadológicas (sem muita lógica), por artifícios inventados (ou copiados) para “ glamourizar” cada empreendimento, afrontado por títulos, de certa forma bem á toa... em línguas supostamente mais sofisticadas do que o nosso português... me debatendo neste redemoinho que pouco coincide com a pureza da cátedra (arquitetura), devo ter conquistado alguns desafetos acidentais... admito... mas se isso é mesmo um retrospecto honesto, tenho também que argumentar que tanto discurso, tanta fleuma, tanta boa intenção, sempre me nutriram, me fazendo acreditar que este doce néctar saudável da militância, é o que me preserva. Imagino também ter cativado muita gente com esta visão mais generosa de arquitetura, trazido preocupações relevantes sobre construir, ajudado a buscar saídas contra banalizações baratas, etc.. Talvez, boa parte disso não tenha tido um objetivo somente filantrópico, pois sendo humano, sou também bem vaidoso dos meus feitos e gosto de exibilos, mas muito do que venho defendendo, não tenho dúvidas, trazem mais dividendos para os outros do que pra mim e isso é bem gratificante perceber. Cada vez mais, nestas duas últimas décadas, venho compartilhando a autoria dos projetos ARQdonini com o Chico e confesso que não é muito fácil fazer isso, mas foi ficando mais evidente ao longo dos tempos que o trabalho dele força uma crítica constante ao meu e onde as vezes vejo somente o macro, ele enxerga o modelo de um parafuso, ou algum desequilíbrio certamente evitável. Nossos projetos melhoraram, mesmo quando o mercado como um todo piorou qualitativamente. Somos os dois a ARQdonini e os demais que nos dão suporte. Esta publicação Vertical não é um ato exibicionista como pode parecer, talvez seja o contrário disto, seja um gesto de humildade necessário para cativar novos empreendedores, dispostos a nos conhecer. Não somos dos que somente choram pelo leite derramado, não somos dos que perderam a esperança, acreditamos que o país vai sacudir logo esta poeira e nesta volta por cima, sabemos que podemos ser úteis a muito mais gente bacana. Gente que nunca buscamos, pois nunca foi preciso e hoje é. Não sei quando será esta retomada e nem como se dará, mas mesmo sem ser muito visionário, é fácil imaginar que precisaremos inventar modelos novos e mais adequados de habitação e de trabalho. Se algumas fórmulas se exauriram e consequentemente inflacionaram o mercado de construção, certamente um “mea culpa” deverá ser feito pelos gestores de tantas obras insistentemente iguais, desproporcionais e conceitualmente equivocadas. Se durante o período de super aquecimento de consumo de imóveis isso tudo era menos importante, nesta virada passará a ser fundamental. Por este angulo é que pretendemos prospectar nossos novos clientes ou parceiros. Lidar com aprovações, decifrar normas, otimizar limitações, negociar com órgãos públicos, etc., nunca foi muito simples, mas também nunca foi empecilho suficiente para comprometer ou inviabilizar nosso desenho ou qualidade geral de nossas obras. Nesta nova era que vislumbramos, este árduo aprendizado não só será útil como também será mais que fundamental para reinterpretar esta cidade, esta paisagem e principalmente esta nova lógica de ocupação, de fato, já alinhavada nas ultimas revisões do Plano Diretor e nas próprias reivindicações mais exigentes dos cidadãos, cada vez mais esclarecidos. Tem muita coisa que não sabemos, mas com este número (185) tentamos mostrar pelo menos o tanto que já aprendemos. A ARQvertical é uma publicação independente, um registro de imagens de nossas obras, um relato sobre nossa conduta, um trecho de nossa história... uma busca. Marco Donini


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ED. LINCOLN OFFICES

R. LINCOLN ALBUQUERQUE,259 SÃO PAULO NISS INC. e PART. / FELLER ENGENHARIA 2017

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ED. AM

R. AMÂNCIO de CARVALHO, 183, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2018


PLANTA 1¼ ao 4¼



PLANTA 1¼ ao 4¼


PLANTA TRIPLEX SUP.

PLANTA 6¼ ao 9¼

PLANTA TRIPLEX INTER.

PLANTA TRIPLEX INF.

PLANTA 5¼

PLANTA 6¼ ao 9¼





ED. ATRIUN

R. HEITOR PENTEADO, 1997, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / CONX CONSTR. E INC. 2018




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BANCO

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ED. CASA ATOR

R. CASA DO ATOR, 228, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2017

















ESTUDO ED. COMERCIAL TURIASSÚ R. TURIASSÚ, 1340, SÃO PAULO 2017



ED. NEAR

R. TURIASSÚ, 446, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / CONX CONSTR. E INC. 2016






CALÇAD 102.0


55 11 3887 7866

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