PAISAGEM VERTICAL Parece mentira, mas somente hoje, na hora de filosofar sobre essa publicação, é que resolvi contar quantos edifícios com minha assinatura, existem eretos somados na paisagem. Tem quem possa ironizar o uso aqui da palavra paisagem, principalmente sendo a maioria desses projetos erguida em São Paulo, que sempre atrai a polêmica sobre sua fatídica “não paisagem”. Eu não ironizo nem compartilho dessa negação do horizonte. Existe sim paisagem, mesmo que vertical, mesmo que cinza, enfumaçada e caótica. Existe um horizonte concreto e tenho que admitir até uma ponta de orgulho quando me vejo em algum local privilegiado e consigo identificar alguns desses 185 edifícios no horizonte. Sempre por lá. Se eternos, eu não sei, mas todos ainda lá, resistindo heroicamente. Pode parecer delírio, mas creio piamente que esses meus “totens” se destacam sutilmente nesse emaranhado, são menos cinzas (mesmo quando são), menos esfumados e nada caóticos. A conta que não consigo fazer é do total dos que ficaram somente no anteprojeto, certamente milhares. Vivo falando e escrevendo sobre dignidade em moradias, sobre o espaço de afeto edificado, o abrigo fundamental da cada alma, etc., mas quase nunca paro para justificar, de algum ponto de vista holístico, o conjunto dessas torres meio espremidas por aí. Se é que existe esse viés, hoje resolvi tentar... Por que? Porque preciso. Resolvi contar quantos são, não pra me gabar vulgarmente da quantidade, mas para tentar assumir essa responsabilidade, que não é tão leve. Quando na universidade, a tal piada/ditado era repetida duramente: “se um médico se engana, enterra seu erro, se um arquiteto erra, terá de conviver pra sempre com esse equívoco, envergonhado diante dos olhos de todo mundo. O erro enterra o profissional.” Talvez isso não seja tão verdade, mas juro que me assustou e tenho que admitir que mesmo fora das salas de aula há 35 anos, ainda me preocupo bastante com o tal legado, com o que ficará por aí. Quando garanto que desenho pensando em quem vai morar, que me preocupo bem mais com quem habitará um apartamento, do que com quem me contrata para projetar o edifício, certamente não é demagogia. Talvez por isso meus clientes desse mercado imobiliário (hoje um tanto hostilizado), não sejam tantos assim, mas na minha sincera opinião, vêm sendo suficientes e talvez sejam os que também se preocupam com esse legado, que igualmente pretendem imprimir uma qualidade conceitual nos projetos e garantir maior bem estar, por vezes bem abstrato, do ser que vai morar nessas muitas torres espetadas por aí. Hoje, quando parei para contar quantos são (quantos sou), resolvi pensar menos no morador e bem mais no cidadão, no transeunte que se depara com cada obra dessas, ou com o aglomerado de obras misturadas e com sua inevitável interferência na paisagem. Não sou dos mais românticos a defender a preservação integral da cidade horizontal, utopias não enchem barrigas e não garantem teto a todos os que precisam, mas claro que agradecendo aos céus por existirem ilhas de habitação horizontal eternizadas na cidade por lei. Sempre acreditei na possibilidade amistosa de convívio entre tipologias, desde que seguindo alguma legislação eficiente e, claro, embasadas em desenho inteligente, elegante e honesto.
Em alguns momentos, um tanto asfixiado por discussões mercadológicas (sem muita lógica), por artifícios inventados (ou copiados) para “ glamourizar” cada empreendimento, afrontado por títulos, de certa forma bem à toa... em línguas supostamente mais sofisticadas do que o nosso português, me debatendo nesse redemoinho que pouco coincide com a pureza da cátedra (arquitetura), devo ter conquistado alguns desafetos acidentais. Admito, mas se isso é mesmo um retrospecto honesto, tenho também que argumentar que tanto discurso, tanta fleuma, tanta boa intenção, sempre me nutriram, me fazendo acreditar que esse doce néctar saudável da militância, é o que me preserva. Imagino também ter cativado muita gente com essa visão mais generosa de arquitetura, trazido preocupações relevantes sobre construir, ajudado a buscar saídas contra banalizações baratas, etc.. Talvez, boa parte disso não tenha tido um objetivo somente filantrópico, pois sendo humano, sou também bem vaidoso dos meus feitos e gosto de exibi-los, mas muito do que venho defendendo, não tenho dúvidas, trazem mais dividendos para os outros do que pra mim, e isso é bem gratificante perceber. Cada vez mais, nessas duas últimas décadas, venho compartilhando a autoria dos projetos ARQdonini, com o Chico, e confesso que não é muito fácil fazer isso, mas foi ficando mais evidente, ao longo dos tempos, que o trabalho dele força uma crítica constante. Às vezes, onde vejo somente o macro, ele enxerga o modelo de um parafuso, ou algum desequilíbrio certamente evitável. Nossos projetos melhoraram, mesmo quando o mercado como um todo, piorou qualitativamente. Somos nós dois a Arqdonini com os demais que nos dão suporte. Essa publicação Vertical não é um ato exibicionista como pode parecer, talvez seja o contrário disso. Talvez seja um gesto de humildade necessário para cativar novos empreendedores, dispostos a nos conhecer. Não somos dos que somente choram pelo leite derramado. Não somos dos que perderam a esperança. Acreditamos que o país vai sacudir logo essa poeira e na volta por cima, sabemos que podemos ser úteis a muito mais gente bacana. Gente que nunca buscamos, pois nunca foi preciso, mas hoje é. Não sei quando será essa retomada e nem como se dará, mas mesmo sem ser muito visionário, é fácil imaginar que precisaremos inventar modelos novos e mais adequados de habitação e de trabalho. Se algumas fórmulas se exauriram e consequentemente inflacionaram o mercado de construção, certamente um “mea culpa” deverá ser feito pelos gestores de tantas obras insistentemente iguais, desproporcionais e conceitualmente equivocadas. Se durante o período de super aquecimento de consumo de imóveis isso tudo era menos importante, nessa virada passará a ser fundamental. Por este ângulo é que pretendemos prospectar nossos novos clientes ou parceiros. Lidar com aprovações, decifrar normas, otimizar limitações, negociar com órgãos públicos, etc., nunca foi muito simples, mas também nunca foi empecilho suficiente para comprometer ou inviabilizar nosso desenho ou a qualidade geral de nossas obras. Nessa nova era que vislumbramos, esse árduo aprendizado não só será útil, como também será mais que fundamental para reinterpretar essa cidade, essa paisagem e principalmente essa nova lógica de ocupação, de fato, já alinhavada nas últimas revisões do Plano Diretor e nas próprias reivindicações mais exigentes dos cidadãos, que estão cada vez mais esclarecidos. Tem muita coisa que não sabemos, mas com este número (185) tentamos mostrar pelo menos o tanto que já aprendemos. A ARQvertical é uma publicação independente, um registro de imagens de nossas obras, um relato sobre nossa conduta, um trecho de nossa história... uma busca. Marco Donini
mdonini@arqdonini.com.br
ED. ATRIUN
R. HEITOR PENTEADO, 1997, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / CONX CONSTR. E INC. 2015
ED. REA
R. REALENGO, 129, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2013
ED. AM
R. AMÂNCIO de CARVALHO, 183, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2014
ED. AT
R. CASA do ATOR, 228, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2013
ED. AP
R. APIACÁS, 813, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2013
ED. ARY BARROSO
R. JUDITH, 57, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2013
ED. DORIVAL CAYMMI
R. JUDITH, 79, SÃO PA CONSTR. E INC. ATLÂNT 2013
I
AULO TICA Ltda / CIBRACON
ED. VINICIUS DE MORAIS
R. JUDITH, 101, SÃO PAULO CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2011
ED. LET’S PERDIZES
R. AIMBERÊ, 2048, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / THINK ENGENHARIA 2011
STAND de VENDAS
ED. LET’S PERDIZES
APARTAMENTO DECORADO
ED. LET’S PERDIZES
ED. TREE TOP
R. AMÉRICO BRASILIENSE, 1025, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / GRUPO FELLER 2010
ED. NAMARC
R. CEL. OSCAR PORTO, 691, SÃO PAULO MAJER ENGENHARIA 2008
ED. PV
R. PASCOAL VITA, 396 CONSTR. E INC. ATLÂNTICA Ltda / CIBRACON 2013
ED. WELL BROOKLIN
R. NEBRASKA, 467, SÃO PAULO NISS INC. e PART. / THINK ENGENHARIA 2008
ED. MOB
R. UBATUBA, 123, TAUBATÉ TEIXEIRA PINTO ENG. e CONSTR. Ltda 2008
ED.PERSONALLE
R. BARÃO DO TRIUNFO, 801, SÃO PAULO EVEN 2003
RESIDENCIAL JABUTICABEIRAS
R. M. ARTHUR DA COSTA E SILVA, TAUBATÉ TEIXEIRA PINTO ENG. e CONSTR. Ltda 2005
ED. PARQUE VILLA LOBOS IV
AV. PROF. FONSECA RODRIGUES, SÃO PAULO CONSTRUTORA MACHADO FREIRE Ltda 2003
ED. NOLITTA
R. BRIGADEIRO GALVÃO, 123, SÃO PAULO MAJER ENGENHARIA Ltda 2002
ED. FRANÇA PINTO R. FRANÇA PINTO x R. TEREPINS e KALILI EN ABC CONSTR. E INC. L MOISÉS NIGRI Ltda. 2000
. ÁUREA, SÃO PAULO NG. e CONSTR. Ltda CONSTR.
ED. TERRAZA OESTE
R. DOS MORÁS, 558-562, SÃO PAULO TEREPINS e KALILI ENG. e CONSTR. Ltda 2000
ED. COMERCIAL GENERAL JARDIM
R. GENERAL JARDIM, 808, SÃO PAULO TEREPINS E KALILI ENG. e CONSTR. Ltda 1999
ED. PARQUE VILLA LOBOS III
AV. PROF. FONSECA RODRIGUES, SÃO PAULO CONSTRUTORA MACHADO FREIRE Ltda 2001
ED. PARQUE VIL
AV. PROF. FONSEC CONSTRUTORA MACH 2000
LLA LOBOS II
CA RODRIGUES, SÃO PAULO HADO FREIRE Ltda
ED. PARQUE VILLA LOBOS I
AV. PROF. FONSECA RODRIGUES,SÃO PAULO CONSTRUTORA MACHADO FREIRE Ltda 1998
ED. BROOKLIN VILLAGE
R. NEBRASKA, 217 SÃO PAULO TEREPINS E KALILI ENG. e CONSTR. Ltda 1998
ED. JBG OFFICES
R. JOAQUIM NABUCO, 47, SÃO PAULO MAJER ENGENHARIA Ltda 1997
ED. PALAZZO DUCALE
R. PEIXOTO GOMIDE X R. PROF. AZEVEDO AMARAL SKR ENG. Ltda e BBZ EMPREEND. IMOB. Ltda 1997
ED. ANGÉLICA TIME
AV. ANGÉLICA, 1761, SÃO PAULO BTD ENG. CONSTR. Ltda 1995
ED. WEST SIDE PARK
R. ITAPICURU, 530, SÃO PAULO TEREPINS e KALILI ENG. E CONSTR. L 1995
Ltda
ED. SAINT THOMAS
R. CONSELHEIRO BROTERO,1057, SÃO PAULO BTD ENG. CONSTR. Ltda 1995
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