BLOCO 3 - QUADRA 08

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“O CHORINHO É LIVRE” Alice Aquino, Amanda Barbosa, Caio César e Giulia Areal

O Centro de Goiânia é marcado por diversos edifícios e atividades, todos que por lá passam, já se depararam com o imponente e rosa Grande Hotel, já fizeram compras na loja de utilidades “JingXiang”, foram no famoso evento conhecido por “Chorinho”, ou viram a icônica ilustração de Jesus na empena em um dos seus edifícios. A Quadra 8 localiza-se no Centro de Goiânia, entre as Avenida Anhanguera, Avenida Goiás, Rua 3 e Rua 7, e abriga essas edificações, atividades e atrações que, de uma forma ou outra, marcaram a história e a cultura goiana. Desde o início da história de Goiânia essa quadra foi marcante, o Grande Hotel teve inclusive papel na decisão final da mudança da capital, além de ser estadia de famosos nos anos 30, 40 e 50, e estava sempre com jornalistas rondando para ver quem dava check-in para colocarem em suas colunas. Além do hotel, o Café Central que ficava na esquina da Avenida Anhanguera com a Rua 7 foi palco de importantes negociações no ramo do gado, do agronegócio e empresarial, era um dos points de Goiânia, além de ser um edifício tipicamente marcado pelo Art Deco goiano. Ao passar atualmente na mesma esquina o que se vê é uma fachada escondida com placas metálicas, pois o ponto foi vendido para uma joalheria, e o café se espremeu para uma pequena porta ao lado, e a imponência e história que aquele edifício contavam foram perdidas, o que serve de exemplo para muitos outros prédios no Centro. O que percebemos é que com o passar dos anos a quadra passou por muitas modificações, mas mesmo assim não perdeu sua importância. Um ótimo exemplo disso é a loja JingXiang, que começou na época das lojas de R$1,99 e hoje ocupa uma quantidade significativa da quadra sendo uma loja de referência para todos os moradores de Goiânia que compram itens das mais diversas variedades. O Grande Hotel também teve sua parcela de modificações, mas não perdeu sua importância, ainda é um dos poucos edifícios que mantém sua fachada Art Deco à mostra e livre de placas. Também é casa para arquivo histórico e para uma movimentação cultural como iremos retratar mais a frente. O Banco Estadual de Goiás também foi locado nessa quadra, nos anos 60, em frente à praça do bandeirante, que foi por muitos anos um banco de grande importância, ainda mais nesta localização que é uma quadra com fortes pontos comerciais e de negociação. Ainda no prédio da ex sede do BEG podemos ver uma ilustração de Jesus na lateral do edifício, que fez parte de uma galeria aberta e uma das poucas obras que restaram da mesma, o que iremos discorrer sobre mais a frente. Muitos dos que ali passam não sabem de toda a história envolvida nessa quadra, mas ainda assim tudo que funciona ali hoje ainda é de grande relevância para a sociedade, economia e cultura goiana.


QUADRA 8


QUADRA 8

A quadra 8 é majoritariamente ocupada por prédios comerciais de 2 ou 3 pavimentos, com exceção de duas edificações mais altas. Outro ponto importante é a viela que atravessa a quadra, assim como acontece em outros pontos do Centro, projetado por Atílio Corrêa Lima. Nessa quadra percebe-se a presença de muitas bancas de revista e vendedores ambulantes, esses últimos se concentram principalmente na esquina da Praça do Bandeirante. Os comércios são bem diversos; agências bancárias, lojas de roupas, lojas de utilidades, joalheria, lanchonete, lan house, agência lotérica, bancas de revistas, loja de equipamentos eletrônicos, sapataria, entre outros. Tudo isso mantém um fluxo de pedestres intenso naquele local, principalmente nos horários comerciais. Além da agência bancária e das lojas citadas na quadra, ainda existe um hotel na Avenida Anhanguera e na Avenida Goiás, o famoso Grande Hotel, que atualmente funciona como museu. Conforme foi dito anteriormente, grande parte dos edifícios apresentam entre 2 e 3 pavimentos, com os comércios ocupando toda a edificação, diferentemente de outras quadras no Centro que apresentam edificações mistas com comércios no térreo e apartamentos a partir do primeiro pavimento. A primeira exceção da Quadra 8 é o antigo prédio Banco do Estado de Goiás, atualmente do Banco Itaú, com projeto do arquiteto Eurico Calixto de Godoi, na esquina da Avenida Anhanguera com a Avenida Goiás, que tem 9 pavimentos, com a agência bancária no pavimento térreo e os demais andares para alugar. O prédio é um marco pela sua referência à arquitetura moderna carioca e feito com materiais nobres para a época. A segunda exceção é o prédio da telefônica Oi, que fica na esquina da Rua 3 com a Rua 7, que é a maior

Vista aérea da quadra em análise, Fonte: Guilherme Narciso (2017)

construção em altura da quadra com 22 pavimentos, que tem a loja de telefones no térreo e utiliza algumas salas do edifício para guardar equipamentos, contudo, as demais salas estão abandonadas segundo informações colhidas em visita em loco. A quadra está edificada em quase toda sua totalidade, com exceção do pátio atrás do Grande Hotel, que é utilizado para estacionamento privado do museu e da Previdência, que tem salas tanto no Grande Hotel quanto na edificação ao lado do mesmo, e de outro lote, na Rua 7 ao lado do edifício da Oi, que também é utilizado como estacionamento. Além disso, a Quadra 8 apresenta uma viela cortando seu interior, que tem o fundo das fachadas viradas para ela, todas com portões fechados, a maioria trancados e com barras, e a viela, assim como muitas outras, passou a funcionar apenas como estacionamento e tornou-se um local sujo, depredado e não convidativo. As calçadas da quadra são no geral de boa largura, porém com muitos pedestres e bancas de jornais e revistas que dificultam um pouco a caminhabilidade, também não há a existência de muita vegetação na quadra, como em grade parte do centro, que somada ao tráfego intenso e ao calor de Goiânia torna o caminhar e estar desconfortáveis. Como a maioria dos edifícios na quadra são antigos, eles não cumprem normas atuais de acessibilidade, o que é um empecilho para idosos, cadeirantes, ou qualquer pessoa que tenha ou esteja com uma dificuldade motora. Fora isso, a quantidade de barracas e mesas na rua com produtos tanto de vendedores ambulantes quanto de lojas também atrapalham no quesito da acessibilidade.


Vista superior da Quadra 0

5

10

20

N

N


PAISAGENS

Elevação Avenida Goiás


Rua 7

Avenida Goiás

Avenida Anhanguera

Rua 3

Vista do Grande Hotel, Av. Goiás esquina com Rua 3, Fonte: Guilherme Narciso

Canteiro da Avenida Goiás, Fonte: Guilherme Narciso

Avenida Goiás, próximo à Praça do Bandeirante, Fonte: Guilherme Narciso


Elevação Avenida Anhanguera

FAC


CHADA AV. ANHANGUERA

Rua 7

Avenida Goiás

Avenida Anhanguera

Rua 3

Foto aérea Av. Anhaguera, esquina com Av. Goiás Fonte: Marcos Issa

Esquina da Av. Goiás com a Av. Anhaguera Fonte: Caio César


Elevação Rua 7


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3

Vista da Rua 7 Fonte: Google Earth

Vista da Rua 7 Fonte: Google Earth


Vista da Rua 3, esquina com Rua 7 Fonte: Google Earth

Vista da Rua 3, lateral do Grande Hotel Fonte: Caio César


Rua 7

Avenida Goiás

Avenida Anhanguera

Rua 3

Elevação Rua 3 FACHADA RUA 3


Acesso à viela pela Rua 7 Fonte: Giulia Areal

Acesso à viela pela Rua 7 Fonte: Giulia Areal

Vista A


Avenida Anhanguera

B

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Rua 7

Avenida Goiรกs

A E

D

Rua 3

Vista B


Acesso à viela pela Rua 7 Fonte: Caio César

Acesso à viela pela Rua 7 Fonte: Caio César

Vista C


Avenida Anhanguera

B

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C

Rua 7

Avenida Goiรกs

A E

D

Rua 3

Vista D


Viela (fundo doGrande Hotel) Fonte: Caio César

Viela (fundo dos edifícios com fachada na Av. Goiás) Fonte: Caio César


Avenida Anhanguera

Vista E

C D

Rua 3

Viela (fundo dos edifícios com fachada na Av. Anhaguera) Fonte: Caio César

B

F

Rua 7

Avenida Goiás

A E


Viela (fundo dos edifĂ­cios com fachada na Rua 7) Fonte: Caio CĂŠsar

Vista F


Avenida Anhanguera

E

B

F

C D

Rua 3

Rua 7

Avenida Goiรกs

A


PROTAGONISTAS 5

1

2 3

1

Grande Hotel

2

Loja de utilidades JingXiang

3

Edifício Eurico de Godoi

4

Joalheria (antigo Café Central)

5

Edifício Oi

4

5

Antigo Café Central Elaboração: Vídeo Ei! Histórias - Café Central (1958)

1

2

Ilustração da perspectiva do Projeto Ca Fonte: Projeto Cara Limpa (2006)


3

Edifício Eurico de Godoi, Av. Goiás esquina com Av. Anhaguera Fonte: Lucas Jordano (2016)

ara Limpa, de edifícios da Av. Goiás

5

Edifício Oi, Rua 3 esquina com Rua 7 Fonte: Giulia Areal (2020)


PROTAGONISTAS

Grande Hotel na déca Fonte: Acervo MIS|GO

Detalhe fachada Foto: Carla Falcão

Ilustração digital do G Elaboração: Rodolpho


ada de 40 O

Grande Hotel o Furtado

GRANDE HOTEL O Grande Hotel surgiu de uma necessidade de abrigar pessoas na nova capital do Estado de Goiás, e ao mesmo tempo era preciso ser um projeto que transmitisse confiança e solidez para que de fato essa transferência de centro político acontecesse, e de fato cumpriu seu papel. Atílio Corrêa Lima foi o responsável pelo projeto inicial do hotel 1933, mas após se afastar, o edifício foi alterado pelos irmãos Coimbra Bueno e pelo engenheiro urbanista Armando Augusto de Godoy, que foi finalizado em 1936 e inaugurado em 1937. A gestão do Grande Hotel durante os primeiros anos foi concedida a arrendatários, porém após acúmulo de dívidas passou para a Previdência, que o manteve como um hotel até que na metade dos anos 70 realugou para lojistas, e recuperou o imóvel apenas em 1982. Em 1980 acontece seu tombamento pelo Estado de Goiás após longas discussões para se demolir o edifício, em 1991 é tombado pelo município de Goiânia, e em 2003 pelo IPHAN. O hotel passou por diversas descaracterizações ao longo dos anos, desde as alterações de projeto dos irmãos Coimbra Bueno, e talvez, a mais significativa tenha acontecido em 1986, com uma reforma interna realizada pelo ex-ministro da Previdência Jader Barbalho, apenas alguns ladrilhos do piso original e algumas faixas de tacos paulistas sobreviveram aos anos, reformas e depredações. Atualmente no prédio funciona o Centro de Memória e Referência de Goiânia, e na parte do prédio que tem fachada para a Rua 3 funciona o INSS.

Vista Avenida Goiás


PROTAGONISTAS

Vista aérea do Grande Hotel Vive o Choro Fonte: Guilherme Narciso

Grupo musical se apresentando durante uma das edições do evento Fonte: Guilherme Narciso


GRANDE HOTEL CHORINHO Em 2003 surge um projeto cultural intitulado “O Grande Hotel Revive o Choro” que tem por objetivo relembrar os tempos áureos em que o Grande Hotel recebia grandes bailes. Coordenado inicialmente pelo músico professor Oscar Wilde, o evento já foi sediado na Rua do Lazer e na Antiga Estação Ferroviária de Goiânia. Durante mais de uma década o evento teve longos hiatos. Contudo, em 2017, com a gestão do Secretário de Cultura de Goiânia, Kléber Adorno, o Chorinho voltou à calçada do Grande Hotel com o nome “Grande Hotel Vive o Choro”. Foi ali, aos pés do Grande Hotel, que o evento criou raízes na cena cultural goiana, atraindo jovens, adultos, crianças e idosos, e sendo carinhosamente apelidado de “Chorinho”. Acontecendo somente às sextas à noite, o Chorinho se mostra um evento democrático por ser total-

mente gratuito e aberto ao público. E ao receber estilos musicais que vão além do choro, se torna um local importante para a divulgação da cena musical no Estado. O Chorinho caracteriza-se por ser uma heterotopia urbana, um elemento que traz, à uma parte da Avenida Goiás, vida noturna. É como se a vida se esvaísse de dentro das edificações do entorno ao pôr do sol, e vai para as calçadas com o surgir da lua. Ali há espaço pra todos que quiserem, há gostos para todos o sabores. A música traz vida e luz à uma avenida que antes seria considerada pouco segura para um pedestre que passa ali à noite. É, sem sombra de dúvidas, um importante projeto cultural e um elemento urbano capaz de amenizar um dos maiores problemas do Centro de Goiânia hoje: a falta de vida em horários alternativos.

Vista Rua 3


PROTAGONISTAS

Vista área da Av. Goiás, aqui é possível ver que a loja ocupava Vista da fac sometente um edifício da Av. Goiás, Fonte: Internet Fonte: Goog


chada da loja JingXiang gle Earth

LOJA DE UTILIDADES Pouco se sabe sobre o contexto histórico acerca do edifício da loja JingXiang, nem seus antigos donos ou em qual ano o comércio chinês começou a ganhar força no Centro de Goiânia. O que conseguimos reparar é que nos registros fotográficos por volta dos anos 60 o edifício já havia sido construído e sempre foi voltado para o comercio. A loja JingXiang ocupa dois edifícios na Avenida Goiás, um com fachada bem extensa, ao lado do Grande Hotel, que inclusive ajuda a formar um conjunto arquitetônico históricamente importante, tendo em vista as características Art Déco de ambos edifícios. Já o outro prédio, também Art Déco tem fachada menor, porém atualmente está totalmente tampada por um banner com a marca da loja, sendo visualmente impossível para os pedestres visualizarem a edifício ou qualquer caráter histórico que elee representa. Essa loja apesar de ser importante para o comércio do Centro passa despercebida na listagem de prédios históricos do IPHAN, e um projeto de recuperação das fachadas do Centro poderia voltar a atenção para esse e outros edifícios que estão escondidos e esquecidos atrás de letreiros, placas e banners.

Vista Avenida Goiás


PROTAGONISTAS

Vista Rua 3


EDIFÍCIO OI O edifício que se encontra na esquina das ruas 7 e 3, é um elemento de impacto na paisagem, apesar de conter apenas 12 pavimentos o pé direto duplo, nos andares, lhe confere o dobro da altura esperada. Pelos registros colhidos, podemos observar uma arquitetura das décadas de 70/80 de cunho comercial, apesar de não termos informações concretas sobre a concepção do edifício. Atualmente ele funciona como sede da operadora de telecomunicações OI, é visível que o prédio não é utilizado em sua totalidade e que apenas o térreo está em funcionamento e aberto ao público. Sua arquitetura e evidenciada por dois volumes prismáticos principais, com predominância de cheios, em relação aos vazios. O há ritmo nas fachadas e ele acontece pela articulação das janelas e elementos verticais que se estende do coroamento a base do prédio. Ainda conseguimos observar o jogo volumétrico entre janelas, vemos planos inclinados executados em concreto que geram uma relação de contrapeso a fachada regular. Já as fachadas voltadas ao “interior” da quadra, são compostas pela vedação em alvenaria sem qualquer abertura.

Vista Rua 7

Fachada do Edifício Oi, Rua 3 Fonte: Giulia Areal (2020)


PROTAGONISTAS

Banco do Estado de Goiás Fonte: acervo Simone B. Camargo de Oliveira (1961)

Edifício Eurico de Godoi, Av. Goiás esquina com Av. Anhaguera Fonte: Desconhecido


EDIFÍCIO EURICO DE GODOI O Edifício construído previamente para ser sede do Banco do Estado de Goiás, desenvolvido pelo arquiteto Eurico de Godoi em parceria com Elder Rocha Lima, foi executado estrategicamente no lote de esquina entre a avenida Goiás e a avenida Anhanguera. Com testada para as duas avenidas. O edifício aproveita sua forma trapezoidal para ampliar sua fachada ao angulo de visão do pedestre. Podemos observar a arquitetura moderna caracterizada pelo estilo da escola carioca, aparente através da forma mais plástica (a composição da fachada em arco nesse caso) e o uso mais amplo de materiais. Apesar da fachada angular temos a composição interna extremamente ortogonal. A obra é datada de 1961, e foi um marco do avanço construtivo e verticalização da capital, da época. O edifício composto de 8 andares, tem o térreo e o subsolo ocupando a área total do lote.

Vista Av. Goiás

Com a estrutura independente da vedação, característica da arquitetura moderna, conseguimos observar o recuo na fachada a partir do 5º andar e um recuo geral no 8° andar. A setorização do edifício acontece através dos pavimentos, o térreo voltado exclusivamente para atendimento do publico tendo acesso para o segundo pavimento numa espécie de mezanino. Já os pavimentos superiores temos uso geral para administração do banco, sendo o 8º e último pavimento, atribuído a função de salão de festas, orquestra, chapelaria, usos direcionado ao lazer. Sobre sua fachada, ainda podemos resaltar o ritmo e harmonia obtido pela articulação das janelas e dos brises soleils, evidenciando a geometrização da obra. Atualmente o edificio é sede do Itaú Unibanco S.A. no pavimento térreo e não sofreu alterações significativas, já os demais pavimentos estão para alugar e estão em um estado um pouco depredado.


PROTAGONISTAS

Empena do edifício Eurico de Godoi, foto tiranada na Av. Goiás Fonte: Guilherme Narciso (2017)

Vista Av. Anhnanguera


EDIFÍCIO EURICO DE GODOI GALERIA ABERTA Em 1987, os goianos passaram pelo maior acidente radiológico do ocidente, o Césio 137. A região do centro em quarentena, grandes intervenções para conter o alastramento da radiação, dezenas de pessoas contaminadas. Sendo todos esses aspectos noticiados a nível internacional, impactando negativamente a imagem de Goiânia e do próprio estado. O estado então, criou iniciativas para melhorar a imagem da capital, uma delas foi o movimento artístico Galeria Aberta, no qual, a obra de Osmar Souto nomeada “Basta” e a obra de Mauro Ribeiro “Madona com os Pássaros”, fazem partem e estampam ambas as empenas do antigo edifício do BEG. O Movimento perdurou entre os anos de 1987 a 1991, tendo como responsável, o artista plástico PX Silveira, com o apoio do secretário Estadual de Cultura da época, Kleber Adorno. Estas obras, são umas das poucas do projeto que ainda resistem, apesar do descaso. Ela sofre da mesma problemática que muitos elementos culturais e históricos em Goiânia, a população não se reconhece nela, portanto ela não desperta o sentimento de pertencimento e consequentemente o interesse do capital de mantê-los. Esse fato não pode ser associado a obra diretamente, pois se compararmos com os painéis da via sacra (em Trindade) também de autoria de Osmar Souto, vemos que a população usufrui dos painéis dispostos ao longo do percurso de 16km da Romaria. Já a obra “Basta”, exposta numa região saturada de poluição visual, sem manutenção ou tentativa de reafirmar a identidade goiana, vem se tornando um marco em decadência.

Empena do edifício Eurico de Godoi, foto tiranada na Av. Goiás Fonte: Giulia Areal (2020)


PROTAGONISTAS

Antigo Café Central Elaboração: Vídeo Ei! Histórias - Café Central (1958)

Atual joalheria, esquina da Av. Anhaguera com Rua 7 Fonte: Google Earth

Vista Av. Anhnanguera


ANTIGO CAFÉ CENTRAL Quem morou em Goiânia nos 60, 70 e 80 se lembra da importância do Café Central, era o café mais movimentado da cidade, um dos points, que reunia pessoas que iam para confraternizar, se divertir ou para fazer reuniões de negócios. O Café que ficava na esquina da Rua 7 com a Avenida Anhanguera atraia muitos consumidores e era conhecido por ser local de encontro de negociantes da área do gado, do agronegócio e empresarial, muitos negócios eram fechados naquele Café, o que ajudava inclusive a movimentar o comércio da quadra. Apesar de ser movimentado e atrair muita gente o Café Central não conseguiu se manter naquele aluguel e teve que ceder o ponto e passar o café para a loja ao lado, e se adaptoupara receber um público mais jovem colocando também uma lan house. Porém a nova loja escondeu a fachada do prédio atrás de estruturas metálicas, faazendo o prédio perder sua idetidade, e muitos dos que ali passam não sabem nem dizer o ano daquela construção e nem sabem toda a história e importância daquele ponto para a história goiana.


PROBLEMAS E PONTENCIALI Acessos e Conexões

Conforto Imagem

Viela

• Acessos estreitos; • Falta de conexão dos edifícios com a viela; • Pouco atrativo para pedestres; • Bom acesso para veículos.

• Sensação de ins ça; • Mau odor; • Pouca iluminação • Nenhuma área ve

Entorno da quadra

• Acessos estreitos em pontos específicos; • Alto fluxo de veículos e pedestres; • Boa estrutura para PNE; • Estação corredor Norte/Sul.

• Sensação de se somente quando o cio está ativo; • Ambiente árido; • Fachadas degrad • Comércios impor • Calçadas predom mente limpas.


QUADRA 5

IDADES

oe m

seguran-

o; erde.

egurança o comér-

dadas; rtantes; minante-

Usos e Atividades

Sociabilidade

• Desvio de uso (garagem); • Uso somente durante o dia, em horário comercial; • Nenhuma variedade de uso.

• Nenhum tipo de socialização nessa área

• Edifícios inutilizados; • Uso predominantemente em horário comercial; • Eventos Culturais; • Comércio intenso.

Devido à pandemia, não houve coleta de dados suficiente, dessa forma, esta análise torna-se inconclusiva.


DIRETRIZES



QUADRA 5

Mirante

O mirante é uma ótima para admirar o traçado do alto, nesse lugar tam pode ser estabelecido u taurante.

Propostas iniciais

Área aberta Priorizando um clareira urbana no miolo da quadra, remanejaremos toda essa área para dar um uso mais efetivo para o local.

Realocar banca de revista para miolo da quadra Desta forma, há um melhor uso do miolo da quadra, e um melhor fluxo de pedestres.


a opção do Atílio mbém um res-

Realocar lanchonete para miolo da quadra Desta forma, há um melhor uso do miolo da quadra, e um melhor fluxo de pedestres.


QUADRA 5 Propostas iniciais

Espaço para eventos culturais Como o Grande Hotel já é estadia de um grande evento cultural, essa região possui grande potencial para abrigar outros eventos que já existem, como o Encontro de Brechós, Feira das Minas, entre outros.


Comércios realocados Rua completa Buscando tornar o local mais propício para o comércio, faz-se necessário deixar esta via mais agradável para os pedestres, um meio de tornar isso realidade é implementar o conceito de “rua completa”.

Instituições empresariais que antes estavam no miolo da quadra, serão realocadas para o edifício da Oi


QUADRA 5 Propostas iniciais

Estrutura de apoio para eventos noturnos Banheiros e bebedouros públicos são ferramentas importantes para trazer estes eventos.

Comércios noturnos O restaurante e o Café Central seria mantido dentro do miolo de quadra, além de outros comércios voltados para a área de lazer, que estimulem a vida noturna dentro da quadra.


Fachadas ativas dentro das vielas Para estimular a circulação dentro da quadra, se faz necessário que todos os edifícios “se abram” para a viela, com entradas e saídas voltadas para o miolo da quadra.








FACHADA À VISTA

Elevação Avenida Anhanguera


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


Elevação Avenida Goiás


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


FACHADA À VISTA

Elevação Rua 3


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


FACHADA À VISTA

Elevação Rua 7


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


FACHADA À VISTA

Vista A


Avenida Anhanguera

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Rua 7

Avenida Goiรกs

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Rua 3

Vista D


FACHADA À VISTA


Avenida Anhanguera

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Rua 3

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Rua 7

Avenida Goiรกs

A


POSSIBILIDADES Avenida Anhanguera


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


POSSIBILIDADES Avenida Goiรกs


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


POSSIBILIDADES Esquina da Rua 3 com Rua 7


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


POSSIBILIDADES Rua 7


Rua 7

Avenida Goiรกs

Avenida Anhanguera

Rua 3


POSSIBILIDADES Vista interior da Viela

21


Avenida Anhanguera

E

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Rua 3

Rua 7

Avenida Goiรกs

A


POSSIBILIDADES Vista interior da Viela


Avenida Anhanguera

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B

F

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Rua 3

Rua 7

Avenida Goiรกs

A


TEMA E HISTÓRIA Reflexões sobre o passado e o presente Ao longo do processo de análise e estudos, foi possível identificar a Arte como elemento conector entre o passado e o presente nesta área do Setor Central. Atualmente, a Quadra 8 recebe semanalmente, na sua calçada, um evento musical alternativo que une diferentes grupos às sextas-feiras, e além disso, há diversas intervenções artísticas em seus muros e nas empenas do seus edifícios, há também um cinema ao ar livre. E voltando algumas décadas atrás, esse mesmo local que hoje abriga as mais diversas manifestações culturais, hospedava nos quartos do Grande Hotel grandes artistas da música, do cinema e da televisão. Possuía um Café que era um importante ponto de encontro da elite goiana na época, e ao longo das décadas, recebeu importantíssimos marcos arquitetônicos que perduram até hoje. Para homenagear e evidenciar todo esse processo cultural que a Quadra 8 percorreu, propõe-se um pavilhão que tem como proposta expositiva falar sobre Música. A música é algo atemporal, que nos conecta e nos traz fortes sentimentos. Ela se sente, mas não fisicamente, não é de tato, de cheiro, de olho. Fisicamente, a música se trata do vazio, mas mesmo assim nos dá experiências inesquecíveis, unem grupos, incitam revoluções, nos move como sociedade. “Desde tempos imemoráveis, a música foi uma constante na vida humana, sendo tão antiga quanto a humanidade, (...). Seja na educação do indivíduo, na religião, na medicina, no lazer ou qualquer outro tipo de atividade, ela sempre foi uma constante na vida do homem, quase inseparável. Isso possibilita afirmar que a música é necessária ao ser humano, pois está presente na natureza e no próprio indivíduo.” - Bernadete Zagonel Essa é a principal proposta para o pavilhão: a predominância do não-físico, da delimitação vazio, da experiência. Bruno Zevi afirma que o espaço é o protagonista do chamado “fato arquitetônico”, e que ele, aliado à vivência do mesmo, concretiza a arquitetura. “A experiência espacial própria da arquitetura prolonga-se na cidade, nas ruas, nas praças, nos becos e parques, nos estádios e jardins, onde quer que a obra do homem haja limitando “vazios”, isto é, tenha criado espaços fechados.” - Bruno Zevi


Canteiro da Avenida Goiás durante uma edição do Chorinho, Fonte: Guilherme Narciso (2017)


MATERIALIDADE Referências sob o Pavilhão da Humanidade2012 Um bom exemplo de arquitetura que se compõe em seus vazios é o pavilhão da Humanidade2012, da arquiteta carioca Carla Juaçaba. Esse pavilhão foi edificado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro em 2012, evento popularmente conhecido como Rio +20. Ele surgiu do convite da artista Beatriz Lessa para adequar arquitetonicamente o espaço de exposição disponibilizado à ela às temáticas debatidas na Rio +20. Inicialmente, esse espaço compunha-se por uma estrutura em andaimes sob uma grande tenda branca, climatizada artificialmente, localizado aos fundos do Forte de Copacabana. Esse local já é bastante conhecido por receber eventos, sempre utilizando uma estrutura de andaimes, que não gera impacto no solo, não gera resíduos, e que pode ser reutilizado diversas vezes de diversas formas. Analisando tudo isso, a Juaçaba decide construir uma grande estrutura em andaimes de 170 metros de comprimento e 25 metros de altura sem utilizar uma fundação propriamente dita, “somente” 7 mil pontos de apoio. Ela procura também, ao utilizar essa estrutura, receber todos eventos climáticos que eram tão marcantes nesse local: o vento, a maresia, a chuva, o sol, tudo isso compõe a arquitetura através dos vazios criados pelos andaimes. Essa estrutura permite dentro dela tudo o que acontece ao seu redor, pois sua arquitetura acontece somente na vivência daquele espaço. A fluidez arquitetônica criou um ambiente onde o espaço possibilitava a posse e apropriação de todos, criando usos flexíveis que mudavam de acordo com o grupo de pessoas que ocupava aquele local. Permite também uma transparência de dentro para fora. A sustentabilidade ali havia tomado um viés além do material, era social, comunitário. E assim como a música, este pavilhão não gera um impacto físico no lugar em que ele está, ele é fluído, leve, reutilizável, permeável. O impacto do pavilhão Humanidades é muito mais social, procura fazer refletir e sentir (o vento, a chuva) e baseado nisso é possível fazer um paralelo com a música, que também nos faz refletir, sentir, e não cria barreiras físicas. E é essa ideia que queremos adotar no nosso projeto.

Pavilhão da Humanidade2012 em construção Acesso em <http://estudiochao.com/Pavilhao-Humanidade-Rio-20>

Sistema de apoio Pavilhão da Humanidade2012 Foto retirada da palestra Arquitetura Brasileira em Debate: Carla Juaçaba

Auditório Pavilhão da Humanidade2012 Acesso em <http://estudiochao.com/Pavilhao-Humanidade-Rio-20>


Pavilhão da Humanidade2012 finalizado Acesso em <https://www.archdaily.com.br/br/01-166107/pavilhao-humanidade2012-slash-carla-juacaba-plus-bia-lessa>

Estrutura antecedente ao Pavilhão da Humanidade2012 Acesso em <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/20.237/7643>


PROJETO Implantação e Pavilhão

É a partir desse desejo de se criar algo sustentável, que dê benefícios aos usuários locais e que remete a toda a história e importância da Quadra 8 que se dá o ponto de partida do projeto. A conexão com a música e a transformação que a mesma traz, nos deu não apenas um partido mas um conceito ao Pavilhão, que contará a história da música goiana, remetendo a todas as personalidades e eventos importantes ligados, não só à Goiás, mas à Quadra em si, uma vez que o Grande Hotel nos anos de sua inauguração foi hospedagem de grandes músicos e também palco de shows e de uma vida cultural. Além disso, toda a transformação que a música traz para esse local, atualmente pode ser visto durante o Chorinho, que recupera um ponto histórico da cidade que estava esquecido pela sociedade, nossa intervenção vem no sentido de impulsionar esse ato e dar espaço e voz a ele. Para solucionar problemas que foram levantados durante o estudo da quadra a implantação proposta abraça o miolo de quadra, re-caracterizando um lugar antes visto como

sujo, perigoso e pouco atrativo para um local agradável, convidativo e adequado para abrigar um ponto cultural. O partido de andaimes foi adotado para trazer uma maior permeabilidade visual, além de favorecer a passagem de ventos e iluminação natural, um dos pontos que consideramos cruciais para se criar um espaço de lazer e cultura. Além disso, trabalhamos com as fachadas em vidro e com cores mais neutras para não apagar o protagonismo dos prédios históricos e importantes já existentes na quadra. A estrutura de andaimes é toda modulada, de 2,5 em 2,5 metros de distância entre cada pilar, o que nos permitiu uma criação de mais baixo custo e com menos desperdício de materiais, a montagem com peças leves também é um fator relevante, uma vez que pode ser construída em tempo hábil e por uma equipe menor. A materialidade é uma combinação entre estrutura metálica, fechamentos em Concept Wall e vidro, foram criados também guarda-corpos de metal para ficarem em congruência com a estrutura do pavilhão.


O programa foi pensado para funcionar como o Museu da música goiana, mas também como apoio para eventos culturais abertos, como o Chorinho e Cinema a céu aberto que já acontecem no local, e outros eventos que existem na cidade porém não tem lugar fixo, como feiras de food trucks, feira das minas, feira de brechós, entre outros. Além disso, o programa inclui também espaço para os comércios que foram desalocados dessa quadra para dar espaço ao pavilhão, tendo previsto espaço para restaurante e lojas no térreo, mantendo e incentivando o fluxo de clientes no local. Para finalizar, juntamente com o museu foram projetadas uma biblioteca e uma sala de estudos para abrigar estudos relativos à temática do museu e outras gerais e para atender a população local no dia-a-dia. O fluxo do térreo foi projetado para atender de forma fluída os pedestres, convidando-os para o miolo de quadra, as fachadas das lojas e do restaurante e bar funcionam também como chamariz uma vez que suas entradas não estão voltadas para a rua e sim para o centro da quadra. Foi pensado também

uuma estrutura de apoio para o Chorinho e outros eventos culturais, um teatro de arena foi colocado junto ao pavilhão e houve um tratamento ao redor da viela, valorizando o traçado de Atílio e fazendo uma interligação com o antigo estacionamento do Grande Hotel, criando um fluxo entre este e o miolo de quadra que poderão receber o Chorinho e também feiras de pequeno porte, podendo funcionar também como praça seca no dia-a-dia. Já no segundo e terceiro pavimentos acontecerá o espaço do museu, com salas de exposições dispostas de forma a contar a história da música goiana de forma cronológica, desde as primeiras personalidades importantes, passando pela construção de Goiânia e do Grande Hotel e a influência que isso teve no cenário musical, até chegar nos tempos atuais com as celebridades, estilos musicais e eventos, com uma atenção especial aos eventos como o Chorinho, que resgatam a memória da cidade de Goiânia e da cultura de eventos culturais na rua.


PLANTA DE IMPLANTAÇÃO

10m


PLANTA TÉRREO B

A

A

B

5m


PLANTA 1ยบ PAV SOBE

5m


PLANTA 2ยบ PAV

DESCE

5m


CORTE AA

5m


DIAGRAMA MÓDULOS


CORTE BB

5m


FECHAMENTO EM CONCEPT WALL ESQUADRIAS DE VIDRO

3m 5m 5m

PISO DE MADEIRA


CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m



CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m



CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m



CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m



CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m



CORTE BB

PERSPECTIVAS

5m




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