“OS BANCOS QUE SENTAM NA GOIÁS” Elisa Veri, Fellypi Dorneles, José Eduardo Brito
O trabalho propõe uma profunda investigação sobre o Centro fundador de Goiânia, sua historia, importância e relevância no contexto urbano em que se insere. Attilio Corrêa Lima, seu idealizador, criou uma complexa trama urbana e semântica a partir do projeto da década de 30, e essas territorialidades se expressam até hoje na cidade. Uma das linhas de Attilio são as vielas do centro, tipologia alinhada com o ideário modernista vigente na época, sobre o qual o trabalho se foca. Afinal, qual é o sentido desse percurso e de que forma ele conta e pode vir a contar a história de Goiânia? Exploraremos essa questão na Quadra 6 do Centro
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QUADRA 6
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QUADRA 6 A Quadra 6 do Centro de Goiânia, presente desde os primeiros projetos, está localizada entre a Avenida Goiás, Rua 2, Rua 3 e Rua 7, com os acessos à viela acontecendo na Rua 7 e na Av. Goiás, uma das vias mais importantes não só do centro como também da cidade. É uma das quadras estudadas mais próximas à Praça Cívica, ligada à dinâmica desse espaço e que, partindo-se dela através da Avenida Goiás, se abre o percurso histórico das vielas de Attilio. A viela da quadra 6 tem por característica, em projeto original, a função de via de serviço que passa no interior das quadras, acessando os fundos das lojas para carga/descarga e recolhimento do lixo, de modo que essas atividades não atrapalhariam a Av. Goiás e a Rua 7. Na contemporaneidade, a viela continua com essa conformação de fundo, sendo faceada com os fundos das edificações da quadra. Ainda que
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nos trechos de acesso da viela existam salas comerciais e entradas de edificações voltadas a ela, trazendo vida ao espaço, o interior da viela é bem isolado da dinâmica urbana do Centro, sendo um ambiente quase que inteiramente vedado, sem grande contato cotidiano entre o fundo dos edifícios e a viela, e sem muitos eixos visuais que conectam as vias externas. O espaço se encontra bastante degradado e é geralmente utilizado como estacionamento. A quadra 6 possui poucas edificações térreas, algumas de 2, 3 ou 4 pavimentos, e 3 edifícios em altura (em média 11 pavimentos); além de dois grandes estacionamentos, estando um deles na Av. Goiás e outro na Rua 7. Existem algumas edificações residenciais
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Vista superior da Quadra Escala 1:550
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PAISAGENS
Fonte: José Eduardo Brito
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Fonte: José Eduardo Brito Rua 3
Av. Goiás
Rua 7 N
Rua 2
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Fonte: Google Earth
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Fonte: Elisa Veri
Rua 3
Av. Goiรกs
Rua 7 N
Rua 2
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Fonte: Google Earth
Rua 3
Av. Goiรกs
Rua 7 N
Rua 2
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Fonte: Elisa Veri
Rua 3
Av. Goiรกs
Rua 7 N
Rua 2
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PAISAGENS
Fonte: Elisa Veri Fonte: Elisa Veri B A D
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Fonte: Elisa Veri
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Fonte: Elisa Veri
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Fonte: Elisa Veri B A D
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PROTAGONISTAS 4
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Edifício Crys Magazine
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Edifício Oriente Utilidades
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Edifício Marlene Alvarenga
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Condomínio Edifício Villa Boa
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Casa Rua 7
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PROTAGONISTAS
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EDIFÍCIO CRYS MAGAZINE OO edifício possui um pavimento térreo, utilizado como comércio, e dois pavimentos superiores. A fachada principal possui continuidade entre os pavimentos superiores e o térreo, além de um ritmo A-B-A, com elementos verticais bem presentes na porção central, e um acabamento de decoração geometrizado na platibanda. Há um jogo de planos na volumetria da fachada, com o plano da parte central mais avançado que os demais, e ainda um recuo das janelas em relação ao todo. Existe uma notável ortogonalidade nas linhas, e uma limpeza de adornos, o que o aproxima muito das edificações Art Deco características do Centro Histórico. Atualmente, o edifício possui coloração branca.
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PROTAGONISTAS
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EDIFÍCIO ORIENTE UTILIDADES O edifício possui quatro pavimentos, sendo um térreo (utilizado com comércio), um mezanino e dois superiores. A fachada principal é caracterizada pela simplicidade e ausência de grandes detalhes decorativos, por um ritmo de esquadrias que se soma a um jogo de planos na composição, sendo o plano das janelas das extremidades mais recuado. Há ainda um sobressalto nas extremidades que emoldura os dois pavimentos superiores, detalhe que se repete na porção central, emoldurando as aberturas e marcando elementos verticais. O térreo tem uma formação diferente dos pavimentos superiores, com ritmo formado por pilotis que revelam o ambiente interno. No conjunto é possível identificar, pela soma das características, forte influência modernista. Percebe-se que parte da porção térrea da fachada está recoberta por mármore, ocultando feições originais do edifício. Atualmente, o prédio possui coloração azul-pastel.
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PROTAGONISTAS
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EDIFÍCIO MARLENE ALVARENGA O edifício foi inaugurado em 1968, sob nome original de Edifício Ignácio Goldfeld. Possui 4 pavimentos, conta com estrutura em alvenaria e seus usos são os mesmos desde o princípio: Térreo/mezanino como salões para escritórios/agências e os pavimentos superiores como salas comerciais. O projeto/ execução do edifício ocorreram em etapas. Primeiro foram feitos térreo/mezanino e posteriormente, na década de 70, foram erigidos os outros 3 pavimentos. O salão do térreo/mezanino foi usado primeiramente pela Govesa Brasil Importadora de Veículos, e a partir da década de 90 passou a ser utilizado pelo Banco Banerj, que desocuparam o local no fim dos anos 90. Atualmente é usada pelo Banco BV. A fachada mais significativa é a frontal, que dá para a Av. Goiás. O primeiro plano de fachada é uma espécie de emoldurado de todo o conjunto, em um rosa-pastel mais forte que os outros planos. O segundo plano compreende as aberturas de janelas maiores das salas comerciais, distribuídas em três faixas, uma janela em cada extremidade e uma ao centro. Em terceiro plano tem-se pequenas janelas altas. O emoldurado do 1º plano se estende e se torna um cobogó que protege o mezanino. O térreo tem uma formação diferente dos pavimentos superiores com ritmo formado por pilotis que dividem a fachada em 4 partes, sendo as 3 partes da esquerda aberturas para o salão e a parte da direita uma entrada para os pavimentos superiores. Atualmente, o edifício possui coloração rosa-pastel.
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PROTAGONISTAS
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Vista Av. Goiรกs
COND. EDIFÍCIO VILLA BOA A edificação está na esquina da Av. Goiás com a Rua 2, possui estrutura em concreto armado e 10 pavimentos, com o térreo e o mezanino sendo utilizados como Agência do Banco Itaú, e os pavimentos superiores como salas comerciais. Possui uma conformação de térreo e mezanino diferente do restante dos pavimentos superiores, remetendo à separação modernista entre pódio e corpo. Possui ainda um detalhe de chanfro na esquina apenas no térreo e mezanino, definido por legislação. Possui o corpo sólido e regular, com fachadas também regulares, de ritmo definido pelas aberturas de janelas. A fachada da Rua 2 tem ainda janelas em fita, conferindo maior regularidade a essa face. O edifício foi expandido com o acréscimo de um bloco por detrás do volume principal, se estendendo ao longo dos lotes que faceiam Rua 2. Essa adição ocorreu ainda em cima de um pódio com poucas aberturas, sendo o novo bloco recuado à face desse pódio na viela. Ou seja, a face da edificação original que é vista pela viela não só é seca em si, como também se expande na falta de aberturas e contato com a viela pelo pódio do novo bloco (ainda que o volume adicionado possua aberturas que dão à viela).
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PROTAGONISTAS
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Vista Rua 2
COND. EDIFÍCIO VILLA BOA
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PROTAGONISTAS
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Vista Rua 7
CASA RUA 7
A casa se encontra na Rua 7 e possui 2 pavimentos, com parte do térreo sendo usada como um salão de cabeleireiro. Ela se diferencia das edificações vizinhas na ocupação, que é recuada em relação à calçada e abre espaço para algumas vagas de estacionamento. Possui planta em L e fachada frontal que lembra uma conceituação arquitetônica de Mies (Arquitetura Skin and Bones) onde os pilares, vigas e lajes dividem a fachada em 6 planos, e a as grades finalizam a vedação em 4 desses planos, possibilitando permeabilidade visual para o interior do edifício. Os outros 2 são vedados em alvenaria, sendo um deles ornado com um mosaico. Possui cobertura ocultada por platibanda, e num geral, a edificação apresenta notáveis influências modernistas.
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PROBLEMAS Três lotes subutilizados chamam à atenção, são espaços que servem somente ao uso privado como estacionamentos. Como consequência, os usos são estremamente limitados. Com três bancos privados, dois edifícios residênciais, um voltado para serviço e os demais comerciais. Porém os comércios presentes são de variedades, ou itens de vestuário e nenhum cobre a função do comércio vicinal que poderia ser de grande proveito para a micro-região de forma a movimentar e serem movimentados pela demanda vinda dos edifícios residenciais. Ademais, percebe-se na quadra uma área verde de qualidade bem inferior visto a potencialidade da área e sua conexão com a Av. Goiás.
PLANTA DE USOS
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Escala 1:550
Vista superior da Quadra
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N
LEGENDA
1
Bancos e instituições
Residencial
Comércio e serviços não vicinais
Estacionamento
DEGRADAÇÃO DA VIELAPOLUIÇÃO VISUAL
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ESTACIONAMENTOS
POTENCIAIS Dentro das potencialidades, se observa uma boa variação de gabaritos, somada ao lotes subutilizados os quais se tornaram o foco para um projeto que atraia usos e movimente a quadra. Tais usos ganham direção a partir do momento em que se nota o patrimônio histórico presente na quadra, como os edíficos art decó e os modernos tardios. Dessa forma, é intencionado a partir dessa movimentação aproveitar do grande fluxo de pedestres, sobretudo o fluxo um tanto quanto perdido presente na Av. Goiás. Esses fatores, somados com o adensamento causado pelos edifícios residencias e áreas verdes de qualidade podem dar vida ativa a quadra em estudo.
PLANTA DE ESTUDOS DOS POTENCIAIS
LEGENDA
Novos usos de áreas construídas Novos usos de áreas a céu aberto
3
Novos fluxos
VIDA NA VIELA
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USO RESIDENCIAL
VARIAÇÃO DE GABAR
DIRETRIZES E SIMULAÇÕES Após a fase de diagnóstico, foram notadas, portanto, uma série de problemáticas e potencialidades no perímetro e dentro da quadra 8. Essas foram avaliadas e levaram às diretrizes a guiarem o partido e projeto. Ao se estudar os usos da quadra, fica nítido a supremacia dos usos privados, tanto no tocante aos próprios lotes privados, quanto na apropriação dos espaços públicos. Portanto, as diretrizes que nortearão o projeto a ser proposto têm o intuito de diluir as barreiras que hoje delimitam as dinâmicas da quadra e sua viela e que a destinam puramente para interesses que relegam os usuários do centro ao único espaço que ainda não pode ser rivatizado, as calçadas. Nosso intuito é tornar esses espaçoss subutilizados em espaços de respiro da rotina rápida e árida do centro. é convidar os transeunts a descobrir novos caminhos e informar sobre a história que o espaço urbano do centro representa, porém não conta. Queremos contar essa história e permitir que muitas outras sejam compartilhadas em espaços que resgatem as pessoas da lógica de consumo, inserindo-as em uma nova, de contemplação e de troca.
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QUADRA 6 Quanto às diretrizes pontua-se: Requalificação dos usos: Usar dos lotes subutilizados para o projeto de um pavilhão que renove a apropriação do espaço. Foco no fluxo pedonal: Garantir ao pedestre domínio sobre o fluxo, por meio do desenho urbano. Educação e tratamento patrimonial: Implantar um eixo com totens informativos e Tratar as fachadas decadentes Fluxos Pedonais
Edifícios Subutilizados
Eixo Informativo Proposto
Área Verde Proposta
Requalificar as áreas verdes: Retrabalho paisagístico
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FACHADA À VISTA
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FACHADA À VISTA
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FACHADA À VISTA
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FACHADA À VISTA
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FACHADA À VISTA
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PROPOSTAS INICIAIS
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PROPOSTAS INICIAIS
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PROPOSTAS INICIAIS
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PROPOSTAS INICIAIS
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PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO Junto com as primeiras proposições de novos usos na viela e restauros na fachada, vindas de um estudo sobre a dinâmica da quadra em estudo, soma a intenção de ocupação dos lotes subutilizados. Esse ocupação seria proporcionada por dois Pavilhões que se completam ao produzir e visibilizar as vivências no Setor Central.
PARTIDO ARQUITETÔNICO
Primeiramente, em termos espaciais impulsiona-se os fluxos térreos pelos convites aos passeios realizados entremeio as formas e reentrâncias, afim de revitalizar a vida interna na viela e garantir novos usos abrigados pelos pavilhões. Adiante a são oferecidos espaços de permanência ou a continuação do passeio pelos novos usos, cotemplando exposições ou demais atividades oferecidas.
USOS
No que tange ao conteúdo oferecido, encontram-se no Pavilhão da Rua 7 atividades educativas em termos históricos e estéticos, as quais vão de espaços para leitura a salas para oficinas, palestras e aulas. Já de forma complementar, o Pavilhão da Av. Goiás trás exposições sobre as vivências no centro, essas vão de fotografia e documentos às expressões de artes plástica e urbanas cada qual com sua área destinadas em um dos pavimentos que seram apresentados a seguir.
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Logo, visto seus usos e suas localidas, os pavilhões serão entitulados na apresentação como: 1.Pavilhão Expositivo; 2. Pavilhão Educativo.
ATITUDE FRENTE AO CONTEXTO
PAVILHÃO EDUCATIVO - RUA 7
PAVILHÃO EXPOSITIVO - AV. GOIÁS Ao partir de estudos e análises sobre o Setor Central de Goiânia se torna evidente a carga patrimonial histórica a ser considerada nas proposições projetuais. Assim, entra a contribuição de Francisco De Gracia sobre contruir frente ao construído. Sob a metodologia proposta por De Gracia, o projeto a ser apresentado interfere no contexto urbano local, marcando sua presença em um imediação próxima, logo atua na modificação do locus. Além desse aspecto, ambos os pavilhões entram como uma Arquitetura Contextual, na busca por respeitar e se integrar na pré-existencia sem usar de um mero mimetismo, da Art-Decó ou das expressões modernas da época.
Já quanto aos padrões de atuações houveram diferentes estratégias. Ao ser alocado na Rua 7 o Pavilhão Educativo entra em uma paisagem consolidada por expressões de um modernismo tardio, dessa forma se define formalmente em uma arquitetura de planos e caixas, de acordo com um gabarito de dois pavimentos. O Pavilhão Expositivo da Avenida Goiás, é inserido em uma paisagem não só moderna de época como também com forte presença das formas e cores Art Decó, assim ele se insere respeitando o gabarito dos edifícios com 3 pavimentos, mas em questões formais recúa a expressividade para os blocos em concreto aparente com aberturas pontuais e proporcionais.
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PAVILHÃO EXPOSITIVO - AV. GOIÁS
EXPOSIÇÃO PARTICIPATIVA Arte Urbana
0,0
TÉRREO
VIELA
AV. GOIÁS
SANITÁRIOS
0,0
0,0
SANITÁRIOS
PLANTA TÉRREO
DML 5,0
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA Viver o Centro: Contemporâneo
SANITÁRIOS 5,0
SANITÁRIOS
5,0
ATELIÊ/ DEPÓSITO 4,2
EXPOSIÇÃO FIXA
Viver o Centro: História 4,2
PLANTA 1º PAVIMENTO
3
ADMIN. 4,2
VIELA
AV. GOIÁS
5,0
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA Tema livre à curadoria
TERRAÇO 5,0
VIELA
AV. GOIÁS
10,4
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA Tema livre à curadoria 9,6
TERRAÇO 4,2
VIELA
AV. GOIÁS
PLANTA 2º PAVIMENTO
PLANTA COBERTURA
ESCALA 1:250
N
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PAVILHÃO EXPOSITIVO - AV. GOIÁS
5
CORTE AA
ESCALA 1:250
CORTE BB
ESCALA 1:250
FACHADA AV. GOIÁS
ESCALA 1:250
FACHADA VIELA
ESCALA 1:250
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PAVILHÃO EXPOSITIVO - AV. GOIÁS
7
8
PAVILHÃO EDUCATIVO - RUA 7
RUA 7
VIELA
Área de decanso/convivência
Sala de aula/oficina
Sala de aula/oficina
Banheiros
Sala de aula/oficina
PLANTA TÉRREO
Sala de aula/oficina
ESCALA 1:250
N
Sala de estudos
VIELA
RUA 7
Varanda
Biblioteca
Biblioteca
Banheiros
PLANTA 1º PAVIMENTO
9
ESCALA 1:250
N
CORTE AA
ESCALA 1:250
CORTE BB
ESCALA 1:250
10
PAVILHÃO EDUCATIVO - RUA 7
11
FACHADA RUA 7
ESCALA 1:250
FACHADA VIELA
ESCALA 1:250
VISTA B
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