Sueli Sampaio Damin Custódio
Adriana Iop Bellintani
João Cláudio Bassan de Moraes (ORGANIZADORES)
EMPREENDEDORISMO
Sueli Sampaio Damin Custódio
Adriana Iop Bellintani
João Cláudio Bassan de Moraes (ORGANIZADORES)
EMPREENDEDORISMO
Adriana Iop Bellintani
Caroline Alves dos Santos
Christopher Shneider Cerqueira
Dianne Magalhães Viana
Fernanda de Andrade Pereira
AUTORES
Jenner Eduardo Cardoso Arduino
João Cláudio Bassan de Moraes
Maura Angélica Milfont Shzu
Mônica Mitiko Soares Matsumoto
Natália Jodas
Natasha Mayhassen de Souza
Olivia Cristina Perez
Paula Cristina Gomes Fernandes
Sophia Rodrigues Laranja
Sueli Sampaio Damin Custódio
Belo Horizonte 2024
Álvaro Ricardo de Souza Cruz
André Cordeiro Leal
André Lipp Pinto Basto Lupi
Antônio Márcio da Cunha Guimarães
Antônio Rodrigues de Freitas Junior
Bernardo G. B. Nogueira
Carlos Augusto Canedo G. da Silva
Carlos Bruno Ferreira da Silva
Carlos Henrique Soares
Claudia Rosane Roesler
Clèmerson Merlin Clève
David França Ribeiro de Carvalho
Dhenis Cruz Madeira
Dircêo Torrecillas Ramos
Edson Ricardo Saleme
Eliane M. Octaviano Martins
Emerson Garcia
Felipe Chiarello de Souza Pinto
Florisbal de Souza Del’Olmo
Frederico Barbosa Gomes
Gilberto Bercovici
Gregório Assagra de Almeida
Gustavo Corgosinho
Gustavo Silveira Siqueira
Herta Rani Teles Santos
Jamile Bergamaschine Mata Diz
Janaína Rigo Santin
Jean Carlos Fernandes
João Relvão Caetano - Portugal
Jorge Bacelar Gouveia – Portugal
Jorge M. Lasmar
Jose Antonio Moreno Molina – Espanha
José Luiz Quadros de Magalhães
José Octávio Serra Van-Dúnem - Angola
Kiwonghi Bizawu
Leandro Eustáquio de Matos Monteiro
Luciano Stoller de Faria
Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Luiz Manoel Gomes Júnior
Luiz Moreira
Márcio Luís de Oliveira
Maria de Fátima Freire Sá
Mário Lúcio Quintão Soares
Martonio Mont’Alverne Barreto Lima
Nelson Rosenvald
Paulo Roberto Coimbra Silva
Renato Caram
Roberto Correia da Silva Gomes Caldas
Rodolfo Viana Pereira
Rodrigo Almeida Magalhães
Rogério Filippetto de Oliveira
Rubens Beçak
Sergio André Rocha
Sidney Guerra
Vladmir Oliveira da Silveira
Wagner Menezes
William Eduardo Freire
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil Arraes Editores Ltda., 2024.
Coordenação Editorial:
Fabiana Carvalho
Produção Editorial e Capa: Imagem de Capa:
Revisão:
Danilo Jorge da Silva
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Fabiana Carvalho
338.04092 Empreendedorismo sustentável, direitos humanos e educação em CT&I / [Organizado E55 por] Sueli Sampaio Damin Custódio, Adriana Iop Bellintani [e] João Cláudio 2024 Bassan de Moraes. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2024. 134 p.
ISBN: 978-65-5929-405-3
ISBN: 978-65-5929-407-7 (E-book)
1. Empreendedorismo. 2. Empreendedorismo sustentável. 3. Direitos humanos. 4. Aprendizagem ativa. 5. Educação empreendedora. 6. Desenvolvimento sustentável. 7. Mulheres – Trabalho. I. Custódio, Sueli Sampaio Damin (Org.). II. Bellintani, Adriana Iop (Org.). III. Moraes, João Cláudio Bassan de (Org.). IV. Título.
CDD (23. ed.) – 338.04092
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Belo Horizonte 2024
Em toda minha vida profissional, jamais acreditei em messianismo, estrelismo, concentração do poder e do mérito em um só indivíduo. Sempre trabalhei em equipe. E se algum merecimento tenho, é o de ter sabido despertar em meus companheiros o entusiasmo, delegar-lhes autoridade com responsabilidade, exortá-los ao pleno uso de suas potencialidades e qualidades, em proveito do povo brasileiro.
Casimiro Montenegro Filho
Das pedras
Ajuntei todas as pedras que vieram sobre mim. Levantei uma escada muito alta e no alto subi. Teci um tapete floreado e no sonho me perdi.
Uma estrada, um leito, uma casa, um companheiro. Tudo de pedra.
Entre pedras cresceu a minha poesia. Minha vida… Quebrando pedras e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam levantei a pedra rude dos meus versos.
Cora Coralina
Possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria (1998), graduação em Estudos Sociais pelo Centro Universitário Franciscano (1992), mestrado em História Ibero-Americana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2002), doutorado em História Social pela Universidade de Brasília (2009), Pós-Doutorado pela Universidade de Brasília (2011) e PósDoutorado pela Universidade de Essex na Inglaterra. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: Amazônia, exército, ditadura, subversão e democracia, e na área de relações Internacionais, principalmente em História das Relações Internacionais e Política Internacional. Atualmente, é professora efetiva do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e professora colaboradora no programa de Pós-Graduação e Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3216738054719684
Mestre em Ciência Política (UFPI), Bacharelado em Ciências Sociais (UFPI), Especialização em Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa (UESPI), MBA em Gestão Escolar (FAM), Licenciatura em Letras-Inglês (UESPI). Atuação: Professora bilíngue em escolas púbicas e privadas de Teresina-PI (niveis infantil, fundamental, médio e EJA), educational assistant, instrutora de cursos nas áreas de inteligência emocional e letramento em programação, Preceptora de Inglês (programa de Residência Pedagógica-UFPI), Coordenadora-Formadora de Inglês (Centro de Formação Odilon Nunes-Prefeitura Municipal de Teresina), intérprete e tradutora de Inglês (Assessoria de Assuntos Internacionais e Pró-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação-UFPI). Interesses: Educação autorEs
e Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia): Políticas de Sustentabilidade, Políticas de Educação, currículo e metodologias alternativas de ensino (Montessori, Homeschooling, Unschooling, Waldorf, autodidatismo, etc), Teoria e Filosofia Política, Teoria Social, Sociolinguística, aquisição de segundo idioma, Literatura e Análise do Discurso.
CV: http://lattes.cnpq.br/3122503566143812
Possui graduação em Engenharia da Computação pela Universidade Federal de Itajubá (2010), mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2014) e doutorado em Engenharia e Tecnologia Espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2018). Atualmente é professor adjunto do Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
CV: http://lattes.cnpq.br/6516110599667954
Engenheira Mecânica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro – CEFET/RJ (1988), mestre em Engenharia Mecânica pelo Instituto Militar de Engenharia – IME (1991), doutora em Engenharia Civil pela Coppe/ UFRJ (1998). Professora Associada da Universidade de Brasília. Atuou como Vice-chefe do Departamento de Engenharia Mecânica de 2000 a 2004, Coordenadora do curso de graduação em Engenharia Mecânica nos anos de 2005 e 2006, Coordenadora de Estágio da Faculdade de Tecnologia de 2008 a 2011, membra titular do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Engenharia Mecânica de 2015 a 2019, Coordenadora de Extensão da Faculdade de Tecnologia e membro titular da Câmara de Extensão de 2016 a 2019. Atualmente é professora do curso de Engenharia Mecânica, membra permanente do Programa de Pós-Graduação em Design desde 2013, com atuação na linha de pesquisa Design, Cultura e Materialidade, membra da comissão que coordena o Programa A3M – Aprendizagem para o Terceiro Milênio, membra da Diretoria da ABENGE- Associação Brasileira de Educação em Engenharia desde 2020. Possui experiência em metodologias aplicadas a P&D; metodologias educacionais orientadas por projetos integrando ensino, pesquisa e extensão; metodologias em processos criativos e em pesquisas nas áreas de Design e Engenharia Mecânica nos temas: projeto de máquinas, projeto de produto, educação em STEM, biomimética e sustentabilidade. CV: http://lattes.cnpq.br/3462848897175909
Possui graduação em Matemática pelo Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - UNESP (2008), mestrado em Matemática pela Universidade Estadual
de Campinas (2010) e doutorado em Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (2014) com período sanduíche em Université Paris Diderot - Paris
VII. Atualmente é professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase em Álgebra.
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1995) e Especialização em Design de Interiores no Centro Universitário Senac, SENAC/SP. Atualmente é analista em ciência e tecnologia – Comissão de Obras do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. Atuando principalmente nos seguintes temas: Implantação BIM para os elos de engenharuia da FAB, arquitetura, meio ambiente, chuva, aeroporto e água.
CV: http://lattes.cnpq.br/9011547874597230
Doutor em Ciência de Materiais pela UNESP (2017), com período sanduíche na Universitat Politècnica de València(2015-2016), mestre em Engenharia Civil pela UNESP (2015), e bacharel em Engenharia Civil pela UNESP (2013). Professor de Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Estruturas e Edificações da Divisão de Engenharia Civil do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Chefe do Laboratório de Materiais e Pavimentação. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Desenvolve pesquisa na área de materiais de construção nos seguintes temas: cimento Portland e adições, cimentos ativados alcalinamente e cimentos à base de MgO.
CV: http://lattes.cnpq.br/6905657959784086
Professora da Universidade de Brasília, Faculdade do Gama. Tem sua formação acadêmica em Engenharia Civil pela Universidade de Pernambuco. Especializou-se na modalidade stricto sensu nas áreas de concentração de Estruturas e Construção Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (mestrado) e Universidade de Brasília (doutorado). Atuou na função de engenheira estrutural, no cálculo de edifícios e fundações, na empresa ENGEDATA da cidade do Recife-PE. Atualmente trabalha nas linhas de pesquisas de Modelagem e Análise Estrutural por Elementos Finitos; Otimização e Mecânica dos Sólidos e da fratura. Em parceria com o ensino básico público, trabalha com metodologias ativas e estratégias voltadas para a inserção de meninas nas áreas STEM/STEAM no propósito de contribuir com as ações de promoção da equidade de gênero nestas áreas.
CV lattes: http://lattes.cnpq.br/5322041738657344
Graduada em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e mestre em Engenharia Eletrônica e Computação pelo mesmo Instituto. Concluiu o doutorado em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), programa de Cardiologia. Fez estágio de pós-doutoramento na Universidade da Pensilvânia (UPenn), no Departamento de Radiologia. Desenvolveu algoritmos de processamento de imagens e sinais, simulaç õ es e reconhecimento de padr õ es para imagens médicas, além de um sistema óptico e aplicativo para solução em teste de visão. Atualmente, é professora de Engenharia Biomédica na Divisão de Engenharia Eletrônica do ITA. É membro da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB). Áreas de interesse: engenharia biomédica, processamento de sinais biológicos, processamento de imagens médicas e reconhecimento de padr õ es
CV: http://lattes.cnpq.br/3017844454590417
Professora Adjunta de Direito do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Doutora em Direito Ambiental pela Faculdade de Direito da USP (FDUSP).
Mestre em Direito Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diretora de Comunicação do Instituto “O Direito por um Planeta Verde” (IDPV). Coordenadora de Atividades Científicas da Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil (APRODAB). Desenvolve pesquisa na área de Direito Ambiental, Espaços Protegidos, Pagamento por Serviços Ambientais, Direito e Mudanças Climáticas, Inovações Sustentáveis e Direitos fundamentais e gênero.
CV: http://lattes.cnpq.br/1837664238865270
Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Pampa (2018) e mestrado em Engenharia Aeronâutica e Mecânica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2022). Tem experiência na área de Engenharia Mecânica, com ênfase em Engenharia Mecânica.
CV: http://lattes.cnpq.br/3165513796918017
Doutora em Ciência Política (2010) e mestre em Sociologia (2006) pela USP. Bacharelado e licenciatura plena em Ciências Sociais na UNESP/Araraquara. Tem estágio pós-doutoral (2021-2022) no Programa de Investigación en Ciencias Sociales, Niñez y Juventud (CLACSO, Univ. Manizales/CINDE, FLACSO, UBA, PUC San Pablo, COLEF, CIPS, UNLa). Atualmente
é Professora Adjunta na Universidade Federal do Piauí (UFPI) vinculada aos cursos de bacharelado e mestrado em Ciência Política e ao programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Políticas Públicas. Ministra cursos de redação científica voltados à publicação de artigos em periódicos de estratos superiores. Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPI (de 2017 à 2019 e 2023). Foi Editora Associada da Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS/Anpocs) (2019-2021) e presidente da Regional Nordeste da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) (2019-2021). Coordenou o Fórum dos Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação da área de Ciência Política e Relaç õ es Internacionais durante o ano de 2021. Coordenou junto com outros colegas a sessão “experiências” do Observatorio Latinoamericano y Caribeño en Primera Infancia, Niñez y Juventud (Cinde/Clacso), o Comitê de Pesquisa “Movimentos Sociais” da Sociedade Brasileira de Sociologia e o GT Controles Democráticos (ANPOCS). É representante do Piauí junto à SBPC. Coordena pesquisa sobre coletivos de juventudes (financiamento CNPQ/edital Universal) e sobre juventudes à direita com outros pesquisadores da Clacso. É membro do Grupo de Trabalho Infâncias e Juventudes da Clacso, do Núcleo Democracia e Ação Coletiva (NDAC/CEBRAP) e líder do Grupo de pesquisa Democracia e Marcadores Sociais da Diferença. É associada à Alacip, LASA, Clacso, Anpocs, SBPC, SBS e ABCP. Sua área de pesquisa engloba temas como coletivos, participação social, movimentos sociais, feminismos e juventudes em perspectiva comparada com outros países da América Latina.
Foi bolsista Produtividade em Pesquisa – UFPI (2021) e atualmente é bolsista produtividade do CNPQ.
CV: http://lattes.cnpq.br/0115776710902545
Doutoranda no programa de Engenharia Aeronáutica e Mecânica (EAM) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), desenvolvendo pesquisa na área de biomateriais e engenharia de tecidos, especificamente em biofabricação, através da produção de biotintas híbridas a serem utilizadas em bioimpressão 3D de modelos para regeneração do tecido ósseo. Mestre pelo programa de Engenharia Aeronáutica e Mecânica do ITA (2022), em que atuou no processamento e aplicação de nanomateriais aplicados em catálise da propulsão de foguetes. Possui graduação em Engenharia Mecânica (2019) pela Universidade Paulista (UNIP). Atuou com projetos de pesquisa no setor aeroespacial por meio de iniciação científica no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) (2016-2019) em parceria com o ITA na área de processamento de materiais nanométricos e aplicação na propulsão química de foguetes. Integra, desde de 2020, o projeto de extensão WiSTEM2D (sigla do inglês: Women in Science,
Technology, Engineering, Math, Manufacturing and Design), uma iniciativa que tem como finalidade incentivar mulheres na área de STEM.
CV: http://lattes.cnpq.br/3690841227584168
Bacharel em Geofísica pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente é aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Física do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geofísica, atuando principalmente nos seguintes temas: Ionosfera equatorial, Ionosfera em condições perturbadas, Interações ionosfera/magnetosfera, Campos elétricos, Irregularidades ionosférica.
CV: http://lattes.cnpq.br/5111022142084366
Professora da Graduação e Pós-graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica-ITA. Coordenadora sede ITA do Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação –PROFNIT. Chefe do Laboratório de Inovação do ITA (InovaLab). Desenvolve pesquisa na área de Inovação, Ética e Direitos Especiais, com atual interesse nos seguintes temas: Inovação, Propriedade Intelectual, Novas Tecnologias e seus impactos. Empreendedorismo tecnológico. Política e Direito Espacial. Direitos fundamentais e gênero.
CV: http://lattes.cnpq.br/9219753372630977
CapítulO 1
CapítulO 2
CapítulO 3
CapítulO 4
CapítulO
CapítulO 6
CapítulO 7
PROJETO MULHERES EM STEM²D: OBJETIVO E METODOLOGIA EMPREGADA NA CONSOLIDAÇÃO DA REDE DE MULHERES EM STEM ............................................................ 111
CapítulO 8
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A
DEMOCRATIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES: MULHERES NAS DECISÕES POLÍTICAS ..............................................................................
Este livro reúne oito capítulos, além da Apresentação, e apresenta os resultados dos trabalhos publicados em anais de congressos internacionais e nacionais com a participação de estudantes de graduação, pós-graduação e professores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), além de textos de pesquisadoras da Rede de Mulheres em STEAM da Universidade de Brasília e Universidade Federal do Piauí. Os trabalhos contemplam os registros das realizações e dos resultados dos projetos, no âmbito do programa de suas disciplinas e de outras atividades extensionistas associadas e foram apoiados pela Associação sem fins lucrativos de Ex-Alunos para apoiar o ensino no ITA (ITAEx). Pelo caráter multidisciplinar, os projetos contemplam temas como: aprendizagem ativa, educação empreendedora, educação em CT&I, Mulheres em STEAM e tendências e tecnologias inovadoras no ensino. Esta publicação é resultado das atividades desenvolvidas nos seguintes projetos: Educação em STEAM & Sustentabilidade (PROEXT-PG/ITA 2023), Educação Empreendedora (2023, 2022, 2021); I Congresso Internacional de Mulheres em STEAM – I CIMESTEAM (2022), Innova Trek (2022); Connect Lab (2022); Mulheres em STEM2D (2021) e do grupo de pesquisa Direito Aeronáutico e Espacial (CNPq/ITA).
As ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas nos projetos, com base na tríplice hélice (governo, academia e indústria), estão articuladas em redes científico-tecnológicas internacionais, nacionais e locais, incluindo pesquisadores em diversos campi universitários. Pesquisas têm evidenciado que a aproximação e interação entre os atores do ecossistema de inovação e empreendedorismo têm sido fundamentais para as trajetórias profissionais (ELSEVIER, 2022, IPEA, 2018). Ademais, a experiência adquirida com as atividades e a colaboração com outras instituições possibilitam os participantes
envolvidos mais qualificação na medida em que são introduzidos a novas técnicas e ferramentas de ensino com base em abordagens interdisciplinares, metodologias ativas e princípios ESG.
O livro contemplou três objetivos gerais: (i) contemplar dinâmicas de ensino-aprendizagem que promovessem o engajamento de estudantes para o trabalho em equipes multidisciplinares, e, sobretudo, para a resolução de problemas reais da sociedade brasileira; (ii) ampliar as habilidades e competências profissionais desejáveis à prática da engenharia com dinâmicas sociais e comunitárias; e, por fim, (iii) incentivar meninas e jovens para as áreas de STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics).
Os trabalhos apresentados na primeira parte “Educação Empreendedora & Sustentável”, contemplados nos capítulos 1 a 4, introduzem metodologias inovadoras, promovendo a aprendizagem por meio da investigação e experimentação, voltadas à solução de problemas com práticas com enfoque na interdisciplinaridade e habilidades interpessoais. Os trabalhos priorizaram temas que contemplaram os desafios técnicos, atividades colaborativas e interdisciplinares, estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem, como o aprendizado baseado em problemas (PBL) e o aprendizado baseado em equipes (Team-Based Learning-TBL). Os projetos de ensino, pesquisa e extensão trouxeram métodos ensino-aprendizagem aplicados nos cursos de Graduação, por meio de trabalhos científicos e contribuições pedagógicas produzidas por diferentes universidades e instituições de forma colaborativa e articulada em rede.
Os resultados apresentados na primeira parte visam: i. assessorar instituições governamentais e não governamentais no desenvolvimento e implantação de ações e programas e projetos comunitários cuja concepção se aproxime às áreas de educação empreendedora e sustentabilidade; ii. promover a divulgação científica com dados sobre educação, C&T e sustentabilidade. Os projetos expõem uma articulação em rede de projetos de ensino e extensão associados a grupos de pesquisa (ITA, UFSCar, Embrapa), envolvendo bolsistas de iniciação científica, alunos de pós-graduação além de integrantes de organizações não governamentais e governamentais. Os objetivos específicos visaram promover o ensino, pesquisa e extensão de ciência e tecnologia com uso de metodologias ativas, e auxiliar na implantação da Meta 4.4 ODS
Meta 4.4 ODS – Brasil
Até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham as competências necessárias, sobretudo técnicas e profissionais, para o emprego, trabalho decente e empreendedorismo.
Para atingir os objetivos acima descritos, os projetos estimularam os estudantes a usar metodologias ativas com o intuito de fomentar a implementação
de soluções inovadoras e incorporar a importância da engenharia de sistemas, da educação científica e ambiental para aprimorar a pesquisa e o aprendizado, por meio do enfrentamento de desafios globais como esgotamento da disponibilidade de água e solo agrícola, perda da biodiversidade etc. Houve também o incentivo na redação de trabalhos científicos e colaborações pedagógicas com universidades e instituições parceiras que fazem parte da rede.
Os capítulos da segunda parte “Mulheres em STEM/STEAM: Ensino, Pesquisa, Extensão”, contemplados nos capítulos 5 a 8, permitem refletir sobre as desigualdades no Brasil, especialmente as desigualdades na academia, no mercado de trabalho entre homens e mulheres e a menor representação de jovens e mulheres nas áreas de STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics).
Essas desigualdades se refletem nos cursos de ensino superior e, por conseguinte, nas carreiras. É possível citar muitos exemplos que se dão nos espaços educacionais e, também, em dinâmicas que ocorrem no seio do mercado de trabalho (SIQUEIRA; SILVEIRA 2021). As ocupações nas áreas em STEAM possuem formas próprias de reprodução de desigualdades dessas dinâmicas. Dentre as ocupações de STEAM, é possível mencionar as carreiras de engenharia como um exemplo. Constituída como uma carreira de prestígio social, permanece, ainda, como um espaço de trabalho majoritariamente masculino. Dados apontam que as mulheres constituem 49% do corpo de cientistas e pesquisadoras no âmbito nacional, entretanto apenas 35% dos títulos outorgados são nas áreas de STEAM (NAIDEKA et al., 2020; FARRANHA; DIAS, 2021). No Ensino Superior, a situação é semelhante e, apesar de as mulheres constituírem a maioria das matrículas, quantitativamente são minoria nos cursos de STEAM, com destaque para as áreas da computação onde correspondem a apenas 13% das concluintes (INEP, 2020).
No Brasil, as pesquisas sobre o tema STEAM concentram-se nas regiões Sul e Sudeste do país. No campo das Engenharias, as metodologias ativas mais presentes foram a sala de aula invertida, a aprendizagem baseada em problemas e a aprendizagem baseada em projetos. Dentre estas, consideramos que a metodologia que mais se adequa para os fins propostos é a da aprendizagem baseada em problemas, no qual problemas da vida real são expostos aos estudantes (BOROCHOVICIUS; TORTELLA, 2014) a partir de seu contexto sociocultural e econômico.
As metodologias ativas de ensino e aprendizagem foram definidas como todas aquelas que contemplam alternativas pedagógicas que envolvam diretamente e ativamente o/a estudante durante o processo educacional. Segundo recente revisão sistemática de literatura (REIS; ALVES; WENDLAND, 2022), nas áreas de STEAM as metodologias tradicionais de ensino ainda predominam. Entretanto, desde 2015, observa-se um aumento constante do interesse
pela aprendizagem ativa no ensino de Engenharias, com predominância de estudos americanos e europeus.
A rede de Mulheres em STEM/STEAM apresentada nos capítulos 4 a 8 conta com a participação de várias integrantes e organizações, dentre elas, destacamos o MIT Brazil Program, Unifesp, UFRGS, Prefeitura de São José dos Campos/SP, o Parque de Inovação Tecnológico de São José dos Campos-PIT, a escola Ilum de ensino superior interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (https://ilum.cnpem. br/) criada pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden (MCTI), além da Rede de Mulheres em STEAM, coletivo de pesquisadoras nacionais e internacionais que integra programas e projetos de várias regiões do país (Programa Futuras Cientistas do Centro Estratégico de Tecnologias do Nordeste; projeto Meninas Velozes-UnB; projeto educação em ciências de dados da UFBA, entre outros) e outros países (EUA, Portugal, Espanha etc.). Entre as atividades coordenadas pela rede colaborativa, está prevista a realização do II Congresso Internacional de Mulheres em STEAM (https://congressomulheresemsteam.com. br/), previsto para ser realizado em 26 e 27 de setembro de 2024, no Parque de Inovação Tecnológica de SJC (PIT). Por fim, a rede conta também com o apoio de empresas (Embraer-X, Embraer, Dassault Systèmes e Flex), além do apoio institucional de diversas organizações, centros de pesquisa (Porto Digital, CNPEM, Inova Unicamp, Cetene, ABES, ANPEI, RME, Plug and Play Brazil) e de instituições de ensino (Alpha Lumen, Instituto Embraer, Unicamp, UFPA, UnB, UFSCar, UNESP; IFSP, USP, UFBA, UFRGS entre outras).
Nesse contexto, espera-se, com esta publicação os seguintes resultados: 1. maior conexão entre ambientes educacionais voltados às metodologias de ensino-aprendizagem inovadoras com impacto na sociedade e transformação social; 2. ampliação da participação e representação de alunas, professoras e pesquisadoras nos projetos integradores e iniciativas extensionistas envolvendo as áreas de STEM/ STEAM; e 3. maior divulgação científica e popularização da ciência e tecnologia.
O capítulo 1 “Aprendizagem Ativa e Educação Empreendedora para uma Analândia Sustentável” apresenta a execução do projeto integrador Analândia Sustentável. Esse projeto utilizou o método de ensino “Project-Based Learning” (PBL) com a aplicação dos Objetivos 3 (saúde e bem-estar), 6 (água potável e saneamento) e 12 (consumo e produção responsáveis) de Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Os alunos foram submetidos a conhecer e definir o problema, pesquisar soluções e apresentar a solução dentro do contexto de saneamento básico rural na cidade de Analândia. Como resultado, os alunos escolheram, a partir de fatores técnicos, socioeconômicos e ambientais, a implantação de uma fossa séptica biodigestora em uma propriedade rural na cidade de Analândia.
O capítulo 2 “Aprendizagem Ativa: O Uso e Aplicação de Building Information Modeling (BIM) na Engenharia Civil” apresenta o estudo de caso de aplicação de Building Information Modeling (BIM) no curso de Engenharia Civil com o intuito de orientar a escolha de práticas de gestão de projetos conforme as características do empreendimento e fatores ambientais. Para isso, foi implantada a sistemática de trabalho, denominada “Projeto Integrador”, envolvendo uma integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito e Planejamento e Gerenciamento de Obra no curso de Graduação em Engenharia Civil. O projeto integrador contemplou três objetivos gerais: (i) ampliar as habilidades e atitudes profissionais desejáveis à prática da engenharia; (ii) desenvolver atividades práticas para resolução de problemas complexos com equipes multidisciplinares; e (iii) disseminar a aplicação de BIM na Engenharia Civil. Como resultado, o uso das metodologias ativas empregadas aponta para uma melhor integração de disciplinas nos cursos de graduação de Engenharia Civil e visa atender questões de inovação tecnológica, em consonância com a sustentabilidade, meio ambiente e mercado.
O Capítulo 3 “Educação Empreendedora: Um Estudo de Caso no Curso de Engenharia Aeroespacial” expõe os resultados do processo educacional denominado “Projeto Integrador”, que contemplou a integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito, de Engenharia de Sistemas e de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais no curso de Engenharia Aeroespacial (AESP). Apoiado nos quatro pilares da UNESCO que fundamentam a aprendizagem do século XXI (saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver), o estudo de caso da aplicação das metodologias Educação Empreendedora (EE) e Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL) se direciona aos interessados em explorar a transdisciplinaridade e o ensino da inovação e empreendedorismo inseridos no curso de Graduação. A pesquisa envolveu estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação, e os resultados evidenciam a EE e o PBL como ferramentas válidas para o aprimoramento da formação dos estudantes de engenharia, sobretudo no desenvolvimento de competências e habilidades exigidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Engenharia (DCNs). Capítulo 4 “Aprendizagem por Projetos no Ensino de Engenharia Aeroespacial e Aeronáutica” apresenta um estudo de caso de aplicação das metodologias ativas de ensino baseado em projetos e seus desafios no cenário de pandemia nos cursos de Graduação em Engenharia Aeronáutica (AER) e Aeroespacial (AESP). Os estudantes, organizados em subgrupos aprenderam a lidar com diferentes assuntos, tais como Cubesats, Green Aviation, Airship, All Eletric e CityAirbus e tiveram a oportunidade de ter experiências de práticas profissionais, desenvolvimento autônomo para a solução de problemas, e aprimoramento da habilidade de trabalho em grupo. Com a pandemia de COVID-19 em 2020, restrições de interação social demandaram uma mudança
nas atividades programadas, com a transição das apresentações e dos cursos presenciais para o ambiente virtual (e-learning). Como resultado, o uso de metodologias ativas aponta para uma melhor integração de disciplinas nos cursos de graduação de Engenharia Aeroespacial e Aeronáutica.
O Capítulo 5 “Desafios e Estratégias para a Equidade de Gênero em STEM na Universidade de Brasília” contextualiza e discute a importância das ações de promoção da equidade de gênero em STEM realizadas por docentes e discentes da Universidade de Brasília (UnB). As autoras expõem que apesar do ensino superior, no mundo, ser, em média, mais frequentado por mulheres, o desequilíbrio de gênero nas áreas de STEM é bastante heterogêneo, com algumas áreas alcançando equidade e outras apresentando disparidades acentuadas. As influências históricas e culturais que mantêm o cenário social desigual são complexas e moldam as percepções das meninas que, embora apresentem no ensino básico bom desempenho nas disciplinas relacionadas a STEM, se percebem com talentos inferiores aos dos meninos (TOH; WATT, 2022). As autoras finalizam expondo que as estratégias de inserção de mulheres em STEM, exemplificadas pelas ações promovidas pelo Programa Meninas Velozes, uma iniciativa de extensão da Universidade de Brasília, representam medidas que podem ser adotadas por outras universidades do Brasil. O êxito dessas ações é fruto das várias investigações realizadas nesse campo (CORREA et al., 2014; ALMEIDA et al., 2020, 2022; CAMPOS et al., 2023).
O Capítulo 6 “A Articulação de Redes no I Congresso Internacional Mulheres em STEAM” apresenta o estudo de caso do I Congresso Internacional Mulheres em STEAM (I CIMESTEAM). O congresso teve por objetivo ampliar as conexões e integração entre academia, indústria e agentes políticos, a fim de fortalecer a cooperação regional, nacional e internacional para que possam auxiliar na formulação, implementação e avaliação de diretrizes e políticas de CT&I que integrem o panorama atual das mulheres em STEAM (sigla em inglês para designar as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). O Congresso incluiu palestras de mulheres de reconhecida atuação e referência na área, mesas redondas com representantes de projetos de sucesso, sessões técnicas e apresentação de pôsteres com os trabalhos que estão sendo desenvolvidos, além de workshops e plenária para discutir as ações para o futuro. Nesse contexto, a estratégia do I CIMESTEAM foi debater as barreiras sistêmicas que impedem o interesse das jovens e mulheres nas áreas STEAM. Buscou, com isso, entender melhor como transformações em larga escala, como industrialização, globalização, educação e políticas públicas, moldaram as desigualdades de classe, raça e gênero no Brasil na temática do evento. Mais do que uma metodologia, a educação STEAM pode ser utilizada como uma estratégia de desenvolvimento do ensino com foco na aprendizagem ativa e motivação de professores e estudantes.
O Capítulo 7 “Projeto Mulheres em STEM²D: Objetivo e Metodologia Empregada na Consolidação da Rede de Mulheres em STEM” apresenta o projeto de extensão e apoio à diversidade STEM2D, cujo objetivo principal é estimular jovens meninas e mulheres a entrar e permanecer nas áreas de STEM²D: Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Manufatura e Design. Desde a criação, o projeto possui três objetivos principais, sendo estes: i. desenvolver atividades de extensão que despertem o interesse e promovam o engajamento de meninas e jovens nas áreas de STEM; ii. apoiar as alunas de Graduação no desenvolvimento de habilidades técnicas e sociais, a fim de permanecerem na área; iii. desenvolver canais de comunicação com a sociedade, ampliando a rede de mulheres em STEM. O projeto, em 2020/2021, foi estruturado em diferentes atuações, divididas em grupos: oficinas, mentoria, rede, marketing, eventos, curso de programação e projetos técnicos, mas o objetivo deste trabalho é dar destaque às atividades do grupo Rede. Cada grupo ficou responsável pelo desenvolvimento de objetivos específicos autonomamente. O grupo Rede cuidou do relacionamento institucional do projeto com outros grupos e organizações, do engajamento, formalização e integração da Rede Brasileira Mulheres em STEM, bem como da organização das edições do Simpósio Brasileiro de Mulheres em STEM, além de produzir lives, workshops e eventos on-line junto com o grupo de Eventos, transmitidos no canal do projeto do YouTube. Nesse artigo, chamamos a atenção para as diversas formas como a desigualdade de gênero se expressa e como os movimentos em rede estão se articulando para enfrentá-la.
O Capítulo 8 “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Democratização das Instituições: Mulheres nas Decisões Políticas” analisa o item 5.5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê que para o alcance da igualdade de gênero é necessário garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública. As autoras expõem que tal diretriz se coaduna com demandas contemporâneas para a inclusão das mulheres e das diversidades nas esferas decisórias e as relacionam à inclusão de democratização das instituições.
Por fim, conforme expôs Marie Curie: “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos.”
Desejamos uma boa leitura!
OS ORGANIZADORES
capítulo 1
aprEndizagEm ativa E Educação EmprEEndEdora
para uma analândia sustEntávEl1
Sueli Sampaio Damin Custódio João Claudio Bassan de Moraes
RESUMO: O artigo apresenta a execução do Projeto Integrador Analândia Sustentável. Este projeto utilizou o método de ensino “Project-Based Learning” (PBL) com a aplicação dos Objetivos 3 (saúde e bem-estar), 6 (água potável e saneamento) e 12 (consumo e produção responsáveis) de Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Os alunos foram submetidos a conhecer o problema, definir o problema, pesquisar soluções e apresentar a solução dentro do contexto de saneamento básico rural na cidade de Analândia. Como resultado, os alunos escolheram, a partir de fatores técnicos, socioeconômicos e ambientais, a implantação de uma fossa séptica biodigestora em uma propriedade rural na cidade de Analândia. Portanto, conclui-se que a utilização do PBL trouxe benefícios na formação dos alunos e na comunidade de Analândia.
PALAVRAS-chave: Projeto Integrador. Problem-Based Learning. Saneamento básico rural. Tratamento de esgoto rural. Fossa séptica biodigestora. Sustentabilidade.
O município de Analândia, no Estado de São Paulo, com área de 325,93 Km2 e população estimada de 5.115 pessoas em 2021, se localiza em uma área de proteção ambiental (APA), no perímetro de Corumbataí. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2010, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Analândia é de 0,754, dentro da classificação de “alto”, e próximo à média de 0,783 para o estado de São Paulo (ONU, 2010). Considerada estância climática, dispõe de uma área de paisagem notável, com mananciais ainda bem preservados e numerosos cursos d’água (FERNANDES, 1994; FERREIRA, 2005). A região possui um grande potencial de crescimento em relação ao geoturismo. Segundo Valente (2001), a
1 Artigo apresentado no COBENGE, Rio de Janeiro, 2023.
Bacia do Rio Corumbataí tem uma importância regional para o abastecimento de água, em qualidade e quantidade. Além disso, há uma preocupação constante com o nível de desmatamento e com a poluição nas nascentes, sendo um dos fatores que mais afetam a biodiversidade da região.
A partir da compreensão de ecossistemas de empreendedorismo no ensino e estudantes como atores no processo de formação, o projeto Analândia Sustentável aplicou as metodologias Educação Empreendedora (EE) e Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL). Buscou assim introduzir a cultura maker, a transdisciplinaridade e o ensino da inovação e empreendedorismo nos cursos de Graduação em Engenharia Mecânica e Civil (FAYOLLE, 2001).
O projeto introduziu métodos educacionais para estimular os alunos a trabalhar em equipes multidisciplinares, a ter capacidade de aprender, identificar, modelar e resolver problemas (BOULD, FELETTI,1999), ter conhecimento da legislação pertinente e adaptar-se a situações novas e complexas, como, por exemplo, dimensionar e integrar recursos físicos, humanos e financeiros visando melhorias contínuas (ESCRIVÃO FILHO, RIBEIRO, 2009). Além de projetar ou aperfeiçoar sistemas e processos levando em consideração as comunidades envolvidas, teve como fundamento os quatro pilares da UNESCO que fundamentam a aprendizagem do século XXI, saber ser, saber conviver, saber conhecer e saber fazer (DELORS, 2012).
Nesse contexto, o presente trabalho teve por objetivo geral fazer um levantamento preliminar de dados secundários (IBGE, bases cartográficas, produção rural, bacias hidrográficas, especialmente da Bacia do Rio Corumbataí e de suas sub-bacias), enfatizando sua vocação para o ecoturismo, com os seguintes objetivos específicos: i. caracterizar a bacia e de suas sub-bacias por meio de índices de ecologia da paisagem; ii. mapear atrativos geológicos existentes e potenciais da região de modo a orientar o planejamento do ecoturismo na região da alta bacia do rio Corumbataí, além de apoiar a gestão sustentável do geoturismo regional; iii. ampliar as habilidades e atitudes profissionais desejáveis à prática da engenharia; e iv. desenvolver atividades práticas para resolução de problemas complexos com equipes multidisciplinares com os estudantes.
Esta seção expõe um descritivo do Projeto Integrador Analândia Sustentável, seus objetivos, metodologias, os desafios da implantação de soluções, e avaliação dos alunos no ano de 2022, dando destaque às etapas de desenvolvimento do trabalho realizadas no segundo semestre pelos alunos da Engenharia Civil-Aeronáutica. O projeto incorporou conceitos das disciplinas Noções de Direito (HUM-20), Sustentabilidade dos Processos de Fabricação (MTP-46) e
Planejamento e Gerenciamento de Obras (EDI-48) dos cursos de Graduação em Engenharias Mecânica-Aeronáutica (MEC) e Civil-Aeronáutica (CIVIL), cujo objetivo foi integrar conhecimentos de diferentes áreas na resolução de uma situação-problema relacionada à Analândia Sustentável por meio do desafio “Incorporar inovações tecnológicas e sustentáveis como estratégia de desenvolvimento local e reduzir impacto imposto ao meio ambiente”. As soluções se concentraram nos desafios relacionados à água e saneamento e foram norteadas pelos Objetivos 3, 6 e 12 de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), como mostrado na Figura 1. Por fim, o projeto integrou conhecimentos multidisciplinares para traçar estratégias de desenvolvimento local no município de Analândia-SP.
Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável norteadores do projeto
Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU)
2.1. Apresentação do Projeto Integrador
O Projeto integrador “Analândia Sustentável” teve por base o uso de tecnologias aplicadas nas áreas de agricultura sustentável e ecoturismo. O projeto buscou proporcionar uma experiência de aprendizado multidisciplinar e transversal utilizando o município de Analândia/SP como espaço de experimentação e prototipagem. A ideia foi estimular a formação do engenheiro-cidadão, por meio da solução de problemas reais, com a finalidade de multiplicá-la no contexto de um município sustentável.
O Projeto Integrador introduziu, no ano de 2022, o método de ensino conhecido como “Project-Based Learning” (PBL) com a aplicação dos Objetivos 3, 6 e 12 de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O método PBL introduzido proporcionou aos estudantes a compreensão de cenários contextualizados para enfrentar situações que fazem parte do cotidiano e da futura carreira
profissional (ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2009). O projeto contou com 22 alunos da Engenharia Mecânica-Aeronáutica (MEC) e 8 alunos da Engenharia Civil-Aeronáutica (CIVIL), com o gerenciamento de três professores de três diferentes divisões: Ciências Fundamentais, Engenharia Mecânica e Engenharia Civil. O projeto integrador envolveu um mentor, quatro workshops, dois palestrantes e trinta alunos, e se estruturou da seguinte forma: (1) foram organizados seis grupos com no máximo cinco pessoas; (2) foi apresentado o desafio direcionado ao tema de Sustentabilidade; e (3) os grupos estavam matriculados nas mesmas disciplinas com integração parcial de conteúdo. A Tabela 1 apresenta o alcance do Projeto Integrador, que resultou em trinta alunos trabalhando em seis projetos, sendo que cada projeto contou com pelo menos quatro alunos.
Tabela 1
Informações quantitativas sobre o alcance do Projeto
Turma Número de alunos envolvidos Número de Projetos
MEC 22 04
CIVIL 08 02
Fonte: Autores
No primeiro semestre, os alunos da Engenharia Mecânica-Aeronáutica trabalharam com 4 eixos: i. água; ii turismo; iii. produção rural; e iv. educação ambiental levando em conta o gerenciamento de recursos (aproveitamento sustentável), processos sustentáveis direcionados à agricultura ou ecoturismo. Após levantamentos de dados secundários para a manutenção dos atrativos naturais e culturais, observou-se a necessidade de maior empenho com o manejo, conservação e sustentabilidade dos espaços das nascentes e com potencial de exploração de ecoturismo por meio da participação eficaz das comunidades rurais locais com o intuito de aumentar a fonte de renda para a população de Analândia. Além disso, eles deram destaque às deficiências de infraestrutura, como a falta de saneamento básico na zona rural.
No segundo semestre, buscando tratar da questão de melhoria do saneamento básico, os alunos da Engenharia Civil-Aeronáutica e professores definiram como escopo o planejamento ambiental rural e iniciaram o desenvolvimento do projeto em parceria com a prefeitura de Analândia com o intuito de propor soluções técnicas e socioeconômicas de saneamento nessas regiões, especificamente no tema de tratamento de esgoto rural. A me-
todologia incluiu a realização de visitas técnicas, encontros com moradores e com a administração de Analândia, a formação de parcerias com órgãos como a Embrapa, incorporação da solução de tratamento de esgoto rural em uma propriedade rural de Analândia, o desenvolvimento de um questionário aplicado aos moradores da zona rural, e um planejamento para o futuro do projeto. O presente trabalho tem por escopo de análise as soluções encontradas no segundo semestre.
O projeto visou delinear alternativas econômicas, tecnológicas e sustentáveis para o município de Analândia, a partir do aproveitamento dos recursos naturais e histórico-culturais encontrados na região. A ideia foi explorar algumas modalidades de negócio e/ou tecnologias que vão do ecoturismo ao emprego de ferramentas tecnológicas segundo a perspectiva da Bioeconomia/ Biotecnologia e do desenvolvimento sustentável. O Quadro 1 apresenta a descrição das etapas do ciclo de aprendizado realizado no Projeto Integrador, em que os alunos conheceram e definiram o problema, seguindo para pesquisa e apresentação de soluções.
Quadro 1
Descrição das etapas do ciclo de aprendizado
Etapas Objetivo Atividade Exigência
1ª Etapa Conhecer o problema Apresentação dos desafios do município de Analândia (turmas MEC/CIVIL).
2ª Etapa Definir o problema
Identificação dos stakeholders ativos e passivos e estudo de cenários para o saneamento rural.
3ª Etapa Pesquisar soluções Mentorias, workshops e eventos direcionados aos temas do desafio.
Levantamento de dados secundários (IBGE, bases cartográficas, produção rural, bacias hidrográficas, entre outros).
Apresentação do projeto para a comunidade, visitas técnicas, entrevistas com os moradores, prefeito e presidente da câmara.
Definir de requisitos, funções e limitações legais para o planejamento ambiental rural.
4ª Etapa Apresentar a solução
Integração das áreas guiada pelos professores e mentores com ações, parcerias e soluções sustentáveis ao Planejamento Ambiental Rural Trazer solução técnica e/ ou de negócio com a instalação da fossa séptica biodigestora em Analândia.
Fonte: Autores
As atividades em relação ao planejamento ambiental rural, realizadas no segundo semestre, foram efetivadas pelos grupos e divididas em três etapas de trabalho:
i) Contexto socioterritorial do município de Analândia e mapeamento jurídico para a viabilidade do projeto: os grupos identificaram as restriç õ es legais e as normas técnicas aplicáveis ao projeto; definiram o tipo de tratamento de esgoto a partir de dados técnicos da população, região e tecnologia, buscando o caráter sustentável. Os grupos avaliaram formas de implantação do saneamento rural, entrevistaram e participaram de workshops com os representantes da comunidade (Prefeito e Secretários Municipais, moradores do município de Analândia/SP, Secretário de Meio Ambiente de São Carlos/SP, equipe do Consórcio PCJ – O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí);
ii) Detalhamento mínimo de soluç õ es dentro do escopo das disciplinas envolvidas. Os grupos de alunos apresentaram detalhamento técnico de soluç õ es no âmbito de fundação de estação de tratamento de esgoto, como as etapas do tratamento, tecnologias empregadas, local e área estimados de implantação, potencial de tratamento e resíduos gerados. Além disso, os grupos forneceram uma proposta de utilização de resíduos sólidos, líquidos e gasosos durante o tratamento do esgoto;
iii) Implantação da solução de tratamento de esgoto e capacitação dos moradores.
Visando a eficácia e viabilidade das soluções, foram realizados processos de coleta de dados, pesquisa de benchmarking, mentoria e entrevistas com stakeholders locais. Durante o desenvolvimento do projeto, foram identificados 3 problemas principais: as nascentes, a erosão acelerada do solo e o saneamento rural. Por conta das dificuldades e barreiras consideráveis de recursos finan-
ceiros, tipos de esferas que atuam ou podem atuar em cada tipo de problema, o foco dos projetos escolhidos pelos grupos foi o planejamento ambiental rural. A resolução dos problemas abrangeu os temas de tecnologia agrícola, cadeias de valor e sustentabilidade, em conformidade com o Plano Diretor do município de Analândia (BRASIL, 2006). A Figura 2 registra a 1ª visita técnica dos alunos que conheceram e definiram o problema, a partir da reunião com os stakeholders locais.
Figura 2
Foto da 1ª visita técnica à Analândia realizada por alunos e professores do ITA.
Fonte: Arquivo do projeto Educação Empreendedora
2.3. Estudo da solução para tratamento de esgoto rural
Segundo relatório do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR, 2019), o saneamento básico é o conjunto de iniciativas ou ações que visam a assegurar a saúde das pessoas, por meio de sistemas de esgoto sanitário, de abastecimento de água e de destinação do lixo (resíduos sólidos), que evitem a poluição do meio ambiente.
A escolha adequada de um tratamento de esgoto tem como principais fatores técnicos: tipo de esgoto, quantidade de pessoas atendidas, área disponível, legislação vigente, entre outros fatores. As questões sociais, ambientais e econômicas também têm influência na decisão. Portanto, dois grupos foram criados: o primeiro utilizou uma abordagem mais técnica, enquanto o segundo focou em uma abordagem socioeconômica dos impactos dessa solução. Para auxiliar nas questões sociais da implantação da solução, os
alunos apresentaram a solução focada no tratamento de esgoto rural com stakeholders de Analândia. No final de cada uma das duas apresentações, a palavra foi dada aos stakeholders que apresentaram seus respectivos feedbacks, dentre eles destacamos: i. que a aceitação social da solução pelos proprietários rurais depende de investimento externo, dado que eles não têm interesse em investir o capital próprio; ii. a manutenção da solução deve ser simples, para que seja viável e durável; e iii. que os produtores rurais possivelmente aceitariam participar de um protótipo desde que não tivessem custos envolvidos. Após o estudo prévio das questões técnicas e a reunião com os stakeholders, os alunos desenvolveram a proposta de solução nos âmbitos técnico e socioeconômico com o apoio da EMBRAPA, que culminou na implementação do tratamento de esgoto rural em uma propriedade no município de Analândia.
2.4. Processo de avaliação e feedback dos alunos
O processo de avaliação dos alunos consistiu em três etapas obrigatórias: i) apresentação oral no primeiro bimestre; ii) apresentação oral e trabalho escrito no segundo bimestre; iii) apresentação oral e trabalho escrito no exame. No primeiro bimestre, as exigências de conteúdo foram relacionadas ao levantamento de dados relevantes e propostas preliminares de solução para o problema apresentado. Já no segundo bimestre, os alunos tinham como exigência de conteúdo a apresentação de um detalhamento mínimo da solução adotada. Por fim, no exame, os alunos apresentaram o trabalho final após os estudos do semestre. Após cada etapa, os alunos tiveram feedback dos professores e tutores sobre o que foi apresentado no período da avaliação a fim de melhorar continuamente o trabalho realizado.
Em relação aos critérios de avaliação das etapas de apresentação oral, os alunos foram avaliados nos seguintes quesitos: relevância dos tópicos apresentados, conhecimento do que foi apresentado, conexão da apresentação, qualidade das fontes de informação e uso devido do tempo de apresentação. No que diz respeito aos critérios do trabalho escrito, os principais pontos avaliados foram: introdução abordando o panorama geral sobre o tema, definição dos problemas e necessidades, apresentação das soluç õ es técnicas e jurídicas, conclus õ es do trabalho e qualidade referências bibliográficas empregadas.
Após a finalização do semestre, foi realizada uma reunião com os alunos de forma que pudessem avaliar como o Projeto Integrador foi executado por parte dos professores, em que os alunos avaliaram a carga de trabalho, o escopo do trabalho, apoio para desenvolvimento do trabalho e distribuição das atividades.
3.1. Solução proposta e implantada para tratamento de esgoto rural
O levantamento técnico, socioeconômico e ambiental realizados pelos alunos teve como resultado a escolha de uma solução criada pela Embrapa Instrumentação (Embrapa, 2017): a Fossa Séptica Biodigestora. A Fossa Séptica Biodigestora, desenvolvida pela Embrapa Instrumentação (2017), é um sistema de biodigestão anaeróbica que tem como objetivo substituir as fossas rudimentares, potenciais contaminadoras do solo e do lençol freático que são muito utilizadas em propriedades rurais que não têm acesso ao saneamento básico adequado. O sistema tem como vantagens tratar o esgoto sanitário de forma eficiente e com baixo custo para os produtores rurais, além da produção do efluente que pode ser utilizado como fertilizante de alta qualidade na agricultura. A Fossa Séptica Biodigestora trata somente o esgoto do vaso sanitário (fezes e urina humana), não podendo ser incorporado a ele qualquer outro resíduo. As “ á guas negras”, se lan ç adas de forma inadequada, causam impactos ambientais e a dissemina çã o de doen ç as de veicula çã o h í drica.
Após entrevistas com stakeholders, em especial com o Presidente da Câmara Municipal de Analândia, foram escolhidas 5 propriedades candidatas à implementação do sistema de fossa Biodigestora que receberam visitas técnicas. Quatro dessas propriedades falharam em algum requisito técnico ou não foram favoráveis aos critérios de escolha. A propriedade escolhida mostrou-se a melhor frente aos critérios de escolha, que foram discretizados no Quadro 2, elaborado pelo grupo responsável pela abordagem socioeconômica com o apoio do grupo responsável pela parte técnica do projeto.
Quadro 2
Descrição dos critérios adotados para a escolha da propriedade
CRITÉRIOS ADOTADOS CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE ESCOLHIDA
Declividade A propriedade escolhida possui declividade negativa entre o ponto inicial de instalação da fossa séptica e o ponto final. Isso contribui para que o funcionamento seja mais eficiente facilitando a condução dos líquidos entre as caixas e por consequência nos sistemas a jusante.
Efluente para o pomar
Interesse do morador
Os efluentes produzidos pela fossa séptica são inodoros e são passíveis de utilização como fertilizante. Na propriedade em que será implementada a fossa, existe um pomar bastante próximo ao ponto de instalação e, diante disso, visualiza-se que tais efluentes podem ser utilizados na operação de parte do pomar e com isso economizam-se recursos e tempo na gestão.
O proprietário mostrou interesse na realização do projeto da instalação da fossa biodigestora e além disso demonstrou proatividade em ofertar a confecção dos buracos onde serão instaladas as três caixas. Ele está de acordo com os passos necessários para confecção do projeto: captação de recursos, implantação, educação ambiental e necessária manutenção do sistema.
Regulamentação
A propriedade escolhida está em conformidade com todas as obrigações fiscais e regulamentares, eliminando a possibilidade de complicações futuras nesse aspecto.
Fonte: Arquivo do projeto Educação Empreendedora (Grupo 2)
A propriedade escolhida para a implantação da solução foi a propriedade Orquidário Tico e Teco, localizado na Estrada Orlando Tendolini KM 2,5, Analândia – SP, 13550-000. A vista da propriedade está representada na Figura 3.
Figura 3
Visita técnica 18.11.22 na propriedade rural
Fonte: Arquivo do projeto Educação Empreendedora
Definida a localidade e os materiais necessários, a implementação foi separada em etapas, utilizando como referência o Memorial Descritivo: Montagem e operação da fossa séptica biodigestora da Embrapa, conforme mostrado no Quadro 3.
Quadro 3
Fases do projeto de implantação e manutenção
Preparo das caixas
Escavação
Assentamento
Conexão das Caixas
Preparo dos dois módulos de fermentação
Preparo do módulo coletor
Vedação
Proteção da Área da fossa
Com o auxílio de furadeiras e serras copo, realiza-se os furos nas caixas que receberão os canos.
Devem ser escavados 3 buracos de formato circular separados por 50cm.
Os fundos dos buracos devem ser compactados manualmente de modo a assentar as caixas, respeitando uma borda de 10cm acima do nível do solo.
As caixas devem ser conectadas por canos de PVC, que devem ser previamente preparados com o auxílio de uma serra e devem receber vedação e proteção.
Ativação da fossa séptica A primeira caixa deve ser carregada com uma mistura de 20 litros de água com esterco na proporção 1:1. As bactérias contribuem para a biodigestão da matéria orgânica, realizando assim o processo de tratamento do esgoto.
Manutenção
A fossa séptica biodigestora requer manutenção de fácil execução que consiste em abastecimento mensal com uma mistura de 5 litros de esterco bovino e 5 litros de água. Anteriormente à inserção na fossa, é importante a mistura desses itens de forma que a solução fique diluída. A inserção é realizada através da válvula de manutenção sem necessidade de levantamento da tampa da fossa.
Fonte: Embrapa Instrumentação 2017
Após a entrevista inicial como os moradores da propriedade Orquidário Tico e Teco, foi definida uma data para demarcação da vala onde ficaram alocadas as caixas d’água (18/11) e outra para a colocação e instalação da fossa séptica biodigestora (25/11) (Figura 4).
Figura 4
Instalação da fossa séptica biodigestora
Fonte: Arquivo do projeto Educação Empreendedora
3.2. Avaliação e feedback dos alunos
Durante as etapas de avaliação obrigatórias, em relação à apresentação oral, notou-se principalmente uma evolução dos alunos na abordagem da importância do tema apresentado, definição do problema e detalhamento das soluções apresentadas. Essa evolução foi atingida pelos alunos devido ao método do PBL, pois os alunos tinham grande interesse e motivação na forma de aplicação do método ao tratar de problemas reais, e também acesso a feedbacks dos professores e tutores com reuniões regulares, e, através das observações, buscaram uma abordagem mais aprofundada dos temas levantados nas reuniões. No que diz respeito à apresentação escrita, a evolução observada foi de forma similar ao ocorrido nas apresentações orais, destacando, principalmente, a importância do tema e definição do problema. Como feedback, os alunos relataram estar extremamente satisfeitos com o PBL. O método e a condução dos trabalhos permitiram que os alunos observassem questões pouco exploradas em outros métodos de sala de aula, como a importância socioeconômica
39 e ambiental, além da técnica, para elaboração de soluções. Como pontos de melhoria, os alunos apresentaram uma dificuldade na definição do escopo inicial do trabalho, adequar distribuição das atividades e correlação com o conteúdo de cada disciplina, e adequação do suporte de professores e tutores. Essas questões observadas pelos alunos são de grande importância para melhor adequação das atividades com o método PBL nos próximos anos.
O Projeto Integrador Analândia Sustentável trouxe benefícios para os alunos e para o município de Analândia. Os alunos passaram por uma participação ativa no próprio aprendizado através do método de ensino “Project-Based Learning” (PBL) com a aplicação dos Objetivos 3, 6 e 12 de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em que essa participação trouxe conhecimentos de questões técnicas, socioeconômicas e ambientais através da resolução problemas reais. O município de Analândia teve como principal benefício a implantação de uma solução sustentável, a fossa séptica biodigestora, no tratamento de esgoto rural de uma residência, de forma que foi dado relevante para uma cidade mais sustentável.
Agradecemos aos integrantes do projeto Educação Empreendedora: servidoras, alunas e alunos de graduação da Engenharia Mecânica-Aeronáutica e Civil-Aeronáutica pela contribuição nas atividades desenvolvidas. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura, à Prefeitura, à Câmara Municipal e aos moradores do município de Analândia por possibilitarem a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, à ITAEx pelo suporte financeiro para a realização do projeto.
ANALÂNDIA. Lei Municipal nº 1795, de 17 de fevereiro de 2014. Município de Analândia,SP: [s.n.], 2014. BRASIL. A MESA DA CÂMARA MUNICIPAL DA ESTÂNCIA CLIMÁTICA DE ANALÂNDIA. Plano diretor de Analândia. Analândia, SP, 2006.
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João Claudio Bassan de Moraes
Jenner Eduardo Cardoso Arduino
RESUMO: Este artigo apresenta o estudo de caso de aplicação de Building Information Modeling (BIM) no curso de Engenharia Civil com o intuito de orientar a escolha de práticas de gestão de projetos conforme as características do empreendimento e fatores ambientais. Para isso, foi implantada a sistemática de trabalho, denominada “Projeto Integrador”, envolvendo uma integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito e Planejamento e Gerenciamento de Obra no curso de Graduação em Engenharia Civil. O Projeto Integrador contemplou três objetivos gerais: (i) ampliar as habilidades e atitudes profissionais desejáveis à prática da engenharia; (ii) desenvolver atividades práticas para resolução de problemas complexos com equipes multidisciplinares; e (iii) disseminar a aplicação de BIM na Engenharia Civil. Como resultado, o uso das metodologias ativas empregadas aponta para uma melhor integração de disciplinas nos cursos de graduação de Engenharia Civil e visa atender questões de inovação tecnológica, em consonância com a sustentabilidade, meio ambiente e mercado.
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem Baseada em Projetos. BIM. Métodos de Ensino. Trabalho em Equipe.
Embasado nos quatro pilares da UNESCO (DELORS, 2012) que fundamentam a aprendizagem do século XXI – saber ser, saber conviver, saber conhecer e saber fazer –, o presente artigo trata do Projeto Integrador, envolvendo a integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito e Gerenciamento de Obras, bem como a aplicação da aprendizagem baseada em Problem-Based Learning (PBL) empregando o conceito do Building Information Modeling (BIM) no curso de Engenharia Civil.
1 Artigo apresentado no COBENGE, 2022.
Cada vez mais se observa a exigência de novas competências e habilidades do profissional de engenharia (KRUEGER, CARSRUD,1993; CASALE, 2011, 2013). Segundo Boahin e Hofman (2014), as empresas e as organizações buscam profissionais que sejam capazes de combinar habilidades e competências de forma inovadora para lidar com os desafios do século XXI. A própria regulamentação, instituída em 2019, das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de engenharia aponta para um egresso com formação humanista, crítica e reflexiva, na qual permita os profissionais se adaptarem às rápidas transformações sociais, tecnológicas, econômicas e ambientais. É com base nesse contexto que a experiência do projeto integrador se insere, ou seja, do reconhecimento do papel das instituições de ensino superior (IES) na criação de um ambiente acadêmico que seja capaz de contribuir para a inovação e o empreendedorismo no ensino de engenharia (BITTENCOURT, 2019). Esse estudo se direciona aos interessados em explorar a transdisciplinaridade, a inovação no ensino e o empreendedorismo educacional (FAYOLLE, 2007).
Outro ponto que tem se intensificado no ensino de engenharia civil é a aplicação de ferramentas digitais para os sistemas de gestão e integração de dados, assim como a necessidade de se desenvolver soluções de gestão capazes de conciliar criatividade e flexibilidade para adaptação às mudanças, junto com documentos e níveis de controle adequados. Wortmann (2016) expõe que “o conceito de usar modelos digitais e especificações para simulações está firmemente enraizado em diversas indústrias que exigem metodologias mensuráveis e repetíveis”. Aghion, Dewatripont e Stein (2008) enfatizam a dificuldade de gerenciar projetos que envolvam pesquisadores de diversas áreas de conhecimento, trabalhando em equipe, com autonomia e ao mesmo tempo criatividade. Nessa medida, os gestores deparam-se com a necessidade de equipes multidisciplinares para criar sistemas de controle e relatórios de projetos para atender os diversos stakeholders e às demandas das agências financiadoras de pesquisas.
Nesse contexto, o Building Information Modeling (BIM), proposto por G.A van Nederveen e F. Tolman (1992), tornou-se a opção dos professores envolvidos para coordenar as necessidades do projeto integrador definido para o semestre letivo. Primeiro porque o BIM permite reunir as informações sobre o projeto, sendo elas físicas e funcionais da parte de edificação, que ficam armazenadas em um mesmo espaço digital, como um banco de informações do ciclo de vida da construção. Além disso, traz o conceito 3D, sendo uma excelente ferramenta de planejamento e projeção para o mercado de construção civil. Conforme Eastman et al. (2008, p.13), BIM é “uma tecnologia de modelagem e um grupo associado de processos para produção, comunicação e análise do modelo de construção”.
Pelo entendimento dos pesquisadores envolvidos, as tecnologias de informação podem dar suporte, transparência e qualidade para a gestão dos processos, assim como para a melhor sistematização das informações de obras e serviços de engenharia como também para as demais etapas da existência de edificações e infraestrutura. De fato, o uso de modelagem como o de BIM deve ser compreendido como o conjunto de protocolos, padrões e metodologia desenvolvidos para a aplicação da tecnologia da informação na construção civil. Essa modelagem permite um tratamento integrado das informações na construção, uma vez que consolida as informações de cada aspecto/informação do projeto que é dada por cada agente envolvido de modo independente, permitindo o gerenciamento e controle das interações políticas, processos e tecnologias envolvidas nos projetos de construção.
Este artigo apresenta o estudo de caso de aplicação de BIM para o gerenciamento de projeto integrador no curso de Engenharia Civil com o intuito de orientar a escolha de práticas de gestão de projetos conforme as características do empreendimento e fatores ambientais. O presente estudo relata o uso desta modelagem, cuja abordagem permite o gerenciamento de um projeto, estruturando uma proposta de modelo de gestão de projetos, de forma a contribuir e ajudar os profissionais da área a aprimorarem o processo de gestão de seus projetos. Nesse contexto, foi implantada uma sistemática de trabalho, denominada Projeto Integrador, envolvendo uma integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito e Planejamento e Gerenciamento de Obra no curso de Graduação em Engenharia Civil.
O Projeto Integrador contemplou três objetivos gerais: (i) ampliar as habilidades e atitudes profissionais desejáveis à prática da engenharia; (ii) desenvolver atividades práticas para resolução de problemas complexos com equipes multidisciplinares e (iii) disseminar a aplicação de BIM na Engenharia Civil. Os objetivos específicos do Projeto Integrador foram: i. trazer uma visão de contexto, ou seja, expor a percepção do meio em que estará inserido o edifício ou empreendimento, incluindo as questões sociais e culturais, considerando a visão do projeto no mercado imobiliário e ii. explorar soluções na construção, entendendo o projeto integrador como uma ponte para pensar soluções que satisfaçam as questões de inovação tecnológica, em consonância com a sustentabilidade, meio ambiente e mercado. Portanto, este artigo expõe os resultados da aplicação da metodologia do Problem-Based Learning (PBL) com aplicação de BIM com o intuito de propor soluções para desafios no curso de Engenharia Civil. Buscou-se como isso, que ao final do projeto, os alunos fossem capazes de identificar e validar correlações entre a classe do edifício e os parâmetros legais de direito urbanístico, de custos operacionais, de gestão e de sustentabilidade, tendo em vista a tecnologia empregada, a partir de soluções mais sustentáveis a serem embutidas na execução do empreendimento.
2.1. Apresentação do projeto integrador
O Projeto Integrador introduziu, no segundo semestre de 2021, o método de ensino conhecido como “Project-Based Learning” (PBL) com a aplicação de Building Information Modeling (BIM) no ensino de Engenharia para a turma do segundo semestre do 5º ano do curso de Engenharia Civil-Aeronáutica. O método PBL introduzido proporcionou aos estudantes a compreensão de cenários contextualizados para enfrentar situações que fazem parte do cotidiano e da futura carreira profissional (ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2009; BOULD, FELETTI, 1999) e tratou do seguinte desafio: “Incorporar inovações tecnológicas e sustentáveis no gerenciamento de obras e reduzir o ônus da construção civil imposta ao meio ambiente.” O Quadro 1 apresenta a descrição das etapas do ciclo de aprendizado esperado no Projeto Integrador, em que os alunos conheceram e definiram o problema, seguindo para pesquisa e apresentação de soluções.
Descrição das etapas do ciclo de aprendizado esperado
Etapas Objetivo Atividade Exigência
1ª Etapa Conhecer o problema Apresentação do desafio pelos professores e divisão dos grupos.
2ª Etapa Definir o problema Orientação guiada pelos mentores e professores sobre o cenário (stakeholders).
3ª Etapa Pesquisar soluções Integração dos componentes das disciplinas envolvidas.
Mapear o contexto e efetuar pesquisa preliminar de dados secundários.
Identificar os stakeholders ativos e passivos e estudo de cenários.
Definir de requisitos, funções e limitações legais.
4ª Etapa Apresentar a solução Integração dos componentes guiada pelos professores e mentores. Trazer solução técnica e/ou de negócio.
Fonte: Autores
O Projeto Integrador incorporou conceitos das disciplinas Noções de Direito (HUM-20) e Planejamento e Gerenciamento de Obras (EDI-48), cujo objetivo foi integrar conhecimentos de diferentes áreas na resolução de uma situação-problema relacionada à construção civil em um trabalho em grupo. O tema norteador para a elaboração do projeto foi Habitação de Interesse Social (HIS) no município de São José dos Campos/SP (SJC). A Figura 1 apresenta a planta de arquitetura da HIS (a) e uma vista isométrica do modelo (b). A HIS apresenta uma área construída de 63m², em que é composta por uma sala de estar conjugada com sala de jantar, uma cozinha americana, dois quartos, um banheiro e uma área de serviço. Os modelos estudados no Projeto Integrador foram arquitetônico, estrutural, elétrico e hidrossanitário. As soluções adotadas pelos grupos incorporaram inovações tecnológicas na execução de obras na construção civil, dentro do âmbito de gerenciamento de recursos e acompanhamento da obra, empregando o conceito do BIM e com caráter sustentável, em que verificaram a conformidade com o Plano Diretor e zoneamento do município de SJC.
Figura 1
Planta de arquitetura da HIS (a) e vista isométrica dos modelos compatibilizados de arquitetura, estrutura, instalações elétricas e hidrossanitárias (b)
O projeto integrador envolveu dois professores, um mentor, quatro palestrantes e dez alunos e se estruturou da seguinte forma: (1) foram organizados dois
grupos com cinco pessoas; (2) foi apresentado o desafio direcionado ao tema de Sustentabilidade e (3) os grupos estavam matriculados nas mesmas disciplinas com integração parcial de conteúdo. A Tabela 1 apresenta o alcance do Projeto Integrador, que resultou em dez alunos trabalhando em dois projetos, sendo que cada projeto contou com cinco alunos.
Tabela 1
Informações quantitativas sobre o alcance do Projeto
Turma Número de alunos envolvidos Número de Projetos
CIVIL 10 02
Fonte: Autores
2.2. Responsabilidades das Disciplinas HUM-20 e EDI-48 no Projeto Integrador
Cada disciplina definiu objetivos e aprendizados específicos dentro do Projeto Integrador. A disciplina “HUM-20: Noções de Direito” ficou responsável em trazer os marcos jurídicos e regulatórios para a viabilidade do projeto, assim como os conceitos de zoneamento e plano diretor do município de SJC, além das competências e atitudes desejáveis ao gerenciamento do projeto (AJZEN, 1987; 1991). A disciplina “EDI-48: Planejamento e Gerenciamento de Obras” teve como objetivo estudar e desenvolver práticas de planejamento, projeto, orçamento e gerenciamento de edificações. Durante a disciplina, os alunos trabalharam desde a identificação das atividades de uma obra até a geração do cronograma físico, dentro da questão de planejamento e projeto de edificações; seguindo para a parte de orçamentação, em que os alunos levantaram informações de custos e calcularam o preço de venda de uma edificação; e finalizando com o conteúdo de gerenciamento de obra, que os alunos estudaram técnicas e ferramentas para administrar corretamente a construção da edificação. A metodologia BIM tem atuado como um dos processos de modernização da construção civil. Portanto, empregar esse conceito e aplicá-lo na disciplina de EDI-48 é um passo importante para a atualização de ferramentas ensinadas em sala de aula e que serão empregadas na carreira profissional do estudante. O trabalho buscou integrar softwares de planejamento, gerenciamento e orçamentação de edificações de forma que o aluno trabalhasse com compatibilidade de projeto e cronograma físico-financeiro de uma obra a fim de aplicar esses conceitos em um dos mais modernos conceitos da construção
civil. Nessa medida, os softwares para aplicação em BIM dão suporte e recursos para a execução das diferentes disciplinas técnicas que compõem o conjunto de documentos necessários para um empreendimento de forma colaborativa e simultânea, assim cada grupo ajustou seu projeto simultaneamente a cada troca de informação no desenvolvimento com as outras disciplinas e informações do projeto. Portanto, a disciplina EDI-48 ficou responsável em avaliar as soluções dos alunos no que diz respeito ao gerenciamento da obra estudada.
Esta seção expõe um descritivo do projeto integrador, seus objetivos, metodologias, e, principalmente, os desafios sobre a adaptação para o formato virtual no ano de 2021, dando destaque às etapas de desenvolvimento do trabalho.
As atividades foram realizadas pelos grupos e divididas em três etapas de trabalho:
i) Contexto socioterritorial do município de SJC e mapeamento jurídico e técnico para a viabilidade do projeto: o grupo de alunos identificou as restrições legais de direito urbanístico e as normas técnicas aplicáveis ao projeto. Nesta etapa, houve a apresentação dos modelos de arquitetura, estrutura, elétrica e hidrossanitário de uma habitação de interesse social (HIS); compatibilidade dos modelos para verificar interferência entre as disciplinas (arquitetura, estrutura, elétrica e hidrossanitário) empregando software de análise de projetos e conteúdo teórico e sua aplicação a partir dos modelos nos softwares de planejamento e projeto de obras para geração do cronograma físico empregando o conceito BIM. Além disso, foi iniciada a integração com HUM-20 para definição do escopo da solução dentro do âmbito de gerenciamento de obras para a HIS com monitorias quinzenais. Os grupos apresentaram empreendimentos de uma Habitação de Interesse Social em São José dos Campos – São Paulo, dando destaque aos aspectos jurídicos para escolha do local com análises do plano diretor e das definições de zoneamento local. A definição de localização do empreendimento se deu por via de geoprocessamento e análise de viabilidade com aspectos de médio e longo prazo sobre o empreendimento. ii) Detalhamento mínimo de soluções dentro do escopo da disciplina EDI-48 e HUM-20: Os alunos apresentaram detalhamento de soluções no âmbito de gerenciamento de recursos (aproveitamento sustentável dos materiais, etc.) e acompanhamento da obra (monitoramento sustentável). Nesta etapa, foi apresentado o conteúdo teórico de orçamentação e sua aplicação no orçamento empregando o conceito BIM; conteúdo teórico de gerenciamento de obras; detalhamento da integração com HUM-20
com a solução dentro do âmbito de gerenciamento de obras para a HIS com mentorias semanais;
iii) Apresentação dos resultados por meio de apresentação oral e redação de um Artigo Acadêmico. As avaliações consistiram em entregas de cronograma físico e orçamentação; apresentações parciais e finais; artigo e Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Na apresentação final, os alunos expuseram as análises jurídicas e técnicas para implantação da HIS na cidade de São José dos Campos/SP e apresentação o detalhamento de uma solução sustentável no contexto de gerenciamento de obras, sendo gerenciamento de recursos ou acompanhamento da obra. Os modelos BIM desenvolvidos durante o curso foram empregados de forma a embasar e auxiliar na proposta das soluções.
2.4. Conteúdo e gerenciamento de informações do BIM
Os modelos da HIS utilizados pelos alunos eram compostos por arquitetura, estrutura, elétrica e hidrossanitário. Nestes modelos, os elementos continham informações relevantes para a etapa de planejamento e gerenciamento de obras, como medidas lineares (altura, largura e comprimento), áreas, volume, massa específica, entre outras. Esses modelos foram exportados para softwares de planejamento e projeto de obras com estas informações. Além disso, foram adicionadas novas informações nesses softwares, como as composições de elementos e atividades da obra. Nesses softwares e com essas informações, foi possível realizar o levantamento de atividades, extração de quantitativos, cálculo de durações das atividades, precedência para gerar o cronograma físico da HIS. Com um levantamento de preços em bases de dados, os alunos produziram o orçamento da HIS, empregando as informações obtidas no cronograma físico. Com as informações obtidas nos modelos da HIS, com a incorporação de bases de dados de composições e preços, os alunos conseguiram trabalhar com o cronograma físico e orçamento da obra para realizar simulações de acordo com as soluções adotadas pelos alunos no projeto integrador.
3.1. Apresentação das soluções dos alunos
A apresentação dos alunos foi dividida em duas partes: i) análise jurídica e técnica para implantação da HIS; e ii) apresentação de uma solução sustentável no contexto de gerenciamento de obras. Em relação às análises para implantação da HIS, os alunos buscaram informações dentro do contexto jurídico a respeito de ordenamento territorial, zonas especiais de interesse
49 social e macrozoneamento instituído a partir de leis vigentes e principalmente utilizando o Plano Diretor de São José dos Campos. Além dessas diretrizes jurídicas, os alunos também empregaram alguns critérios técnicos, como proximidade de ambientes públicos (escolas, restaurantes, etc.), acesso a transporte público (pontos de ônibus) e financeiro (valor do m² do terreno). Como resultado, os alunos chegaram a diferentes localizações para implantação da HIS. A Figura 2 apresenta a localização da HIS para o Grupo 1 (Fig. 2a) e Grupo 2 (Fig. 2b). Dentro dos critérios escolhidos pelos alunos, o Grupo 1 elegeu o endereço Rua do Serrote (Recanto do Vale) como local de implantação da HIS, enquanto o Grupo 2 considerou o endereço Rua Kenkiti Shimomoto (Vila Zizinha) como local adequado para a HIS. Esses locais se adequam tanto nos critérios jurídicos no que diz respeito ao zoneamento, quanto aos critérios técnicos de pontos de interesse próximos ao local escolhido e valor do terreno.
Figura 2
Localização da HIS elegida pelo Grupo 1 (a) e Grupo 2 (b)
Na segunda parte, os alunos apresentaram soluções sustentáveis para gerenciamento de recursos (Grupo 1) e acompanhamento de obras (Grupo 2). Em relação ao primeiro tema, o gerenciamento de recursos, o Grupo 1 realizou um levantamento na bibliografia e concluiu que um adequado gerenciamento de recursos para a realidade da HIS tem como objetivo a redução de perdas de materiais e aumento de produtividade da mão de obra. Portanto, o grupo elaborou um procedimento de treinamento para funcionários específicos da obra a fim de atingir esses objetivos. Como resultado, o grupo relatou que houve uma diminuição de custos a longo prazo e melhor formação de recursos humanos. No que diz respeito ao segundo tema, o acompanhamento
de obras, o Grupo 2 propôs uma metodologia SCRUM, em que essa metodologia se trata em dividir o projeto principal em atividades de pequena duração com o intuito de gerenciá-los de maneira mais ágil e eficiente. A partir dessa metodologia, é possível dividir as etapas da obra em atividades menores a fim de melhorar a capacidade de acompanhamento. Ao empregar a metodologia em etapas específicas da obra, os alunos relataram a possibilidade de aumentar a produtividade e motivação da mão de obra.
O conceito BIM auxiliou nas soluções dos alunos porque as informações de planejamento e orçamento de obras estavam facilmente acessíveis e interligadas. Com essas vantagens, foi possível apresentar simulações das soluções apresentadas pelos alunos com um adequado embasamento. Portanto, houve um melhor aproveitamento do estudo das soluções e melhor apresentação dos alunos devido a essa metodologia.
3.2. Impacto na formação dos alunos
Dos 10 estudantes que participaram da implementação do projeto integrador, 8 deram feedback por e-mail ou no encerramento do curso sobre a experiência do semestre. Destes, 4 apontaram problemas como: (i) planejamento e concentração de conteúdos no segundo bimestre; (ii) tempo reduzido para apresentação de soluções, bem como a carga de trabalho e do tempo de dedicação extraclasse.
As questões apresentadas pelos estudantes foram agrupadas em organização didático-pedagógica e ferramentas digitais empregadas.
Os desafios de organização didático-pedagógica exigiram uma abordagem transdisciplinar, de modo a despertar nos estudantes o interesse em conectar componentes curriculares, contextualizando-os. Essa dinâmica impulsionou as equipes a acessarem conteúdos multidisciplinares, ferramentas digitais ligadas à gestão do projeto e a vivenciarem problemas do mundo real. Os docentes desempenharam o papel de facilitadores do trabalho desenvolvido pelos grupos, criando ambientes de aprendizagem e dando ênfase à interação dos grupos, escuta ativa e introduzindo técnicas de questionamento, de modo a estabelecer uma comunicação informal e o estímulo de competências relacionadas às atitudes como protagonismo e comprometimento com os usuários.
O primeiro desafio foi o alinhamento, entre os docentes, do que seria possível integrar, levando-se em conta as respectivas ementas e o intervalo temporal de um semestre para viabilizar o projeto no cenário de COVID. Decidiu-se que a integração seria parcial e ocorreria no meio do semestre, após a introdução dos componentes fundamentais de cada área. A decisão decorreu de dois aspectos levantados: (i) a necessidade de introduzir minimamente dos componentes
51 curriculares das disciplinas envolvidas; e (ii) o dimensionamento da complexidade da aplicação da modelagem BIM diante do prazo estabelecido.
O ponto de maior reclamação dos estudantes foi a carga de atividades propostas e de organização de conteúdo, sendo que, por exemplo, um estudante expôs como sugestão “a distribuição dos conteúdos ao longo do semestre e não concentração no segundo bimestre”. Cabe destacar que durante o 2º semestre de 2021 por conta do cenário da pandemia, professores e estudantes foram inseridos no Google Workspace for Education, com acesso a um conjunto de ferramentas e serviços adaptados ao ensino remoto.
O segundo desafio foi a escolha do emprego de ferramentas digitais no desenvolvimento de atividades hands-on por meio de dinâmicas de grupos, com a finalidade de promover o engajamento e o bom desenvolvimento do projeto. Nesse ambiente, os docentes e mentores apresentaram os conceitos teóricos necessários, sempre com linguagem acessível, e, na sequência, orientaram os estudantes a realizar algum experimento em que os conceitos estudados eram aplicados. Estudos (RIBEIRO, 2009; ESCRIVÃO; RIBEIRO, 2008) apontam que esse tipo de aprendizagem é aperfeiçoado pela interação social.
A despeito dos problemas descritos, a avaliação geral dos estudantes sobre a adaptação ao ensino remoto e a execução das mentorias, no segundo bimestre, foi positiva. Dos que se manifestaram, 7 gostaram da experiência do aprendizado por PBL e informaram que a modelagem BIM foi um diferencial importante para otimização do trabalho da equipe e para a gestão de conhecimento do empreendimento; destacaram também a importância da orientação guiada por problemas reais. Abaixo seguem descritos os principais impactos indicados pelos estudantes:
Quadro 2
Descrição dos impactos
Impactos Positivos
1. melhor entendimento de projeto, planejamento, orçamento e gerenciamento de obra;
2. importância do conceito BIM na construção civil;
3. integração com outras disciplinas e entendimento do papel da integração.
Impactos Negativos
1. ajuste da carga e administração de trabalhos;
2. definição dos temas;
3. interoperabilidade
Fonte: Autores
Percebe-se no quadro acima que a proposta implementada impulsionou não apenas a compreensão de problemas técnicos, mas também as restrições legais do empreendimento. Os feedbacks aos professores envolvidos foram positivos, com destaque para a capacidade de tomar decisões tendo um entendimento maior sobre os riscos e cenários. Nessa medida, a proposta parece ter propiciado aos estudantes uma experiência próxima da realidade de áreas mais complexas de gerenciamento de obras.
Este artigo tratou da aplicação de aprendizagem ativa aplicando BIM no curso de Engenharia Civil e seus desafios, entre eles: (i) planejamento de atividades com a necessidade dos docentes se apropriarem das ementas das disciplinas envolvidas e, sobretudo, das metodologias empregadas em cada disciplina; (ii) design dos desafios com o dimensionamento da complexidade diante do prazo estabelecido; e (iii) a adaptação das dinâmicas e do ensino presencial para o ensino remoto. A experiência da aplicação trouxe um aprendizado significativo para os professores e impulsionou uma nova modelagem do design dos desafios para um cenário de médio e longo prazos (pós-pandêmico), envolvendo estratégias de desenvolvimento regional e local a partir do conceito de desenvolvimento sustentável.
Os estudantes envolvidos foram ouvidos e as percepções registradas evidenciaram o alto grau de interesse pela aprendizagem ativa, especialmente pelo desenvolvimento de atividades hands-on por meio de dinâmicas de grupos, com a finalidade de promover o engajamento e o acesso a novas tecnologias disponíveis para a área. Os resultados obtidos apontaram para o efeito positivo da aplicação de BIM. Nessa medida, o aprendizado por PBL, viabilizado pela integração parcial das disciplinas de Direito e Gerenciamento de Obras, pode ser um dos caminhos a ser adotado pela IES para inserir a trilha de inovação em suas propostas curriculares e cumprir as exigências das DCNs para os cursos de Engenharia.
Ressalta-se, contudo, que os resultados não podem ser generalizados, uma vez que foram obtidos por aplicação restrita a uma turma de engenharia, além de ter ocorrido em período que foge à normalidade, ou seja, o ano de 2021 afetado pela pandemia de COVID. Com o propósito de ampliar a base de dados colhidos, os professores optaram por continuar com o projeto em 2022, envolvendo novos desafios associados à Agenda 2030 e ao Desenvolvimento Sustentável.
Agradecemos aos integrantes do projeto Educação Empreendedora: servidores, alunas e alunos de graduação da Engenharia Civil pela contribuição
nas atividades desenvolvidas. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura e por possibilitar a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, à ITAEx pelo suporte financeiro para a realização do projeto.
AGHION, Philippe; DEWATRIPONT, Mathias; STEIN, Jeremy. Academic freedom, private-sector focus, and the process of innovation. The RAND Journal of Economics, v. 39, n. 3, p. 617-635, 2008.
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Educação
um Estudo dE caso no curso dE EngEnHaria aEroEspacial1
Sueli Sampaio Damin Custódio Christopher Shneider Cerqueira
RESUMO: Este artigo expõe os resultados do processo educacional denominado “Projeto Integrador”, que contemplou a integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito, de Engenharia de Sistemas e de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais no curso de Engenharia Aeroespacial (AESP). Apoiado nos quatro pilares da UNESCO que fundamentam a aprendizagem do século XXI (saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver), o estudo de caso da aplicação das metodologias Educação Empreendedora (EE) e Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL) se direciona aos interessados em explorar a transdisciplinaridade e o ensino da inovação e empreendedorismo inseridos no curso de Graduação. A pesquisa envolveu estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação, e os resultados evidenciam a EE e o PBL como ferramentas válidas para o aprimoramento da formação dos estudantes de engenharia, sobretudo no desenvolvimento de competências e habilidades exigidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Engenharia (DCNs).
PALAVRAS-CHAVE: Educação empreendedora. Inovação no ensino. Aprendizado baseado em projetos. Engenharia aeroespacial.
Com a transformação digital das organizações, emergem questionamentos sobre as mudanças, o uso e as aplicações de tecnologias e as relações que se desenvolvem e impulsionam a inserção de novas competências e habilidades do profissional de engenharia. As mudanças se estendem para além do mundo do trabalho e trazem impactos não só no modo de produção e manufatura, mas também na maneira com a qual a formação do engenheiro se estabelece. Há exigências de um novo profissional, flexível, atento às mudanças de seu
1 Artigo apresentado no 13º Congresso Brasileiro de Inovação e Gestão de Desenvolvimento do Produto, São Carlos, 2021.
tempo, ou seja, conectado aos desafios do séc. XXI e aos ecossistemas de inovação conforme expõe Bittencourt (2019).
Apoiado nos quatro pilares da UNESCO (DELORS, 2012) que fundamentam a aprendizagem do século XXI – saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver –, o presente trabalho se direciona tanto para aqueles que já lidam com o processo educativo, quanto para os que estão interessados em explorar a transdisciplinaridade, o ensino da inovação e o empreendedorismo educacional (FAYOLLE, 2007) inseridos no curso de Gradução de Engenharia, mais especificamente na Engenharia Aeroespacial conforme Sillitto et al. (2018). Nessa medida, o presente artigo expõe a sistemática de trabalho denominada “Projeto Integrador”, que contemplou a integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito, Engenharia de Sistemas e de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais no curso de Graduação em Engenharia Aeroespacial (AESP).
O Projeto Integrador introduziu, nos primeiros semestres de 2020 e 2021, os métodos conhecidos como Educação Empreendedora (EE) e Project-Based Learning (PBL) para as turmas dos primeiros semestres do 3º ano do curso da AESP. Envolveu 3 professores, 2 mentoras, 8 palestrantes e 40 alunos. Esse Projeto Acadêmico contemplou três objetivos gerais: (i) desenvolver atividades práticas que promovessem o engajamento dos estudantes para o trabalho em equipes, e, sobretudo, para a resolução de problemas e projetos complexos; (ii) ampliar as habilidades e competências profissionais desejáveis à prática da engenharia; e (iii) identificar formas de se melhorar a educação superior em empreendedorismo e inovação (BITTENCOURT, 2019; LIÑÁN, 2007).
Considerando a aplicação das metodologias EE (FRAGOSO; ROCHA-JUNIOR; XAVIER, 2019) e PBL (CASALE, 2013; CASALE et al., 2011; FAUST; PAULSON, 1998) no curso de Graduação, é esperado que os resultados deste trabalho possam contribuir para a melhoria da educação do ensino superior e ao mesmo tempo evidenciar a EE e o PBL como ferramentas úteis para a formação dos estudantes de engenharia. Para fins de orientação ao leitor, o trabalho está seccionado em: (1) Introdução; (2) Referenciais Teóricos adotados no Projeto Integrador implementado; (3) Metodologia proposta; (4) Análise e discussão dos resultados parciais obtidos; e (5) Conclusões acompanhadas das limitações do estudo e das reflexões para trabalhos futuros.
Segundo Boahin e Hofman (2014), as empresas e as organizações públicas cada vez mais buscam engenheiros que sejam capazes de combinar habilidades e competências de forma inovadora para lidar com os desafios de um ambiente globalizado. É com base nesse contexto que a experiência do projeto integrador se insere, ou seja, do reconhecimento do papel das instituições de
57 ensino superior (IES) na criação de um ambiente acadêmico que seja capaz de contribuir para o ecossistema de inovação.
Os desafios apresentados estimularam os estudantes a apreender conceitos, conhecimentos e técnicas que os ajudassem a resolver problemas do dia a dia da missão proposta, com os quais eles terão de lidar na vida profissional no setor aeroespacial, ou seja, descrever as necessidades, mapear os stakeholders e entender o contexto da missão. Buscou-se, com isso, formar profissionais que soubessem planejar, buscar informações e interações, estabelecer metas e indicadores, e que fossem criativos, autônomos e tivessem uma visão sistêmica da missão.
A partir da compreensão dos estudantes como atores no processo de formação, o projeto integrador introduziu métodos educacionais para estimular os alunos a trabalhar em equipes multidisciplinares, a ter capacidade de aprender, identificar, modelar e resolver problemas, ter conhecimento da legislação pertinente à missão e adaptar-se a situações novas e complexas como, por exemplo, dimensionar e integrar recursos físicos, humanos e financeiros visando melhorias contínuas, projetar ou aperfeiçoar sistemas e processos levando em consideração as comunidades envolvidas.
A base teórica da Educação Empreendedora, mais especificamente os 4 Pilares da Educação baseados no Relatório da UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Delors (2012), ocupou posição estratégica no planejamento, definição de objetivos e ações no processo educacional implementado conforme tabela abaixo:
Tabela 1
Informações sobre o projeto integrador
4 Pilares da Educação –Unesco
Aprender a fazer
Objetivos
Implementar projetos integradores no curso de Eng. Aeroespacial.
Aprender a viver com os outros Criar um ativo de networking com os Ex-alunos e instituições no setor aeroespacial.
Ações
Integração parcial das disciplinas de Direito, Engenharia de Sistemas e Projeto de Sistemas Espaciais com o intuito de introduzir habilidades que pudessem colocar o conhecimento em prática.
Debates abertos à comunidade para tratar de temas voltados à carreira e às trajetórias profissionais, destacando a importância da empatia e liderança.
Aprender a conhecer Criar um ciclo de eventos com a apresentação da área de Inovação e Empreendedorismo.
Aprender a ser
Criar um ciclo de debates sobre Direito e Política Espacial.
Fonte: Os autores
Apresentação de desafios e problemas para incentivar a tomada de decisão, o estímulo à pesquisa e compreensão de cenários.
Debates abertos para incentivar a autonomia, o pensamento crítico, a cidadania e a responsabilidade ética do engenheiro.
Os métodos introduzidos com base na EE proporcionaram aos estudantes a compreensão de cenários contextualizados para enfrentar situações que fazem parte do cotidiano e da futura carreira profissional (BOUD; FELETTI, 1999). Esses métodos inserem a perspectiva de uma visão humanística e holística conforme prescrevem os artigos 3º e 4º das Diretrizes Curriculares da Engenharias (DCNs), além de integrarem a noção de empresa-escola, e de valorizarem a transdisciplinaridade por meio da ênfase a atividades orientadas por projetos.
Nos primeiros semestres de 2020 e 2021, a integração de disciplinas se deu por meio de projetos associados ao setor aeroespacial com base em Ackoff (1994) e Wertz, Everett e Puschell (2011). Em 2020, foram quatro desafios relacionados a serviços espaciais e direcionados a temas como meteorologia, coleta de dados, observação da terra e telecomunicações. Em 2021, os projetos estiveram associados ao Programa Artemis, desenvolvido pela Nasa, que conta com parceiros comerciais e internacionais para a exploração do sistema solar. As missões lunares levarão a primeira mulher à superfície lunar e contemplam objetivos estratégicos com a criação da Plataforma Orbital Lunar Gateway que servirá de centro de comunicações movido a energia solar e ao mesmo tempo servirá de módulo de habitação e laboratório de ciências para a exploração do Sistema Solar. Cada disciplina definiu objetivos e aprendizados específicos. Esta seção expõe um breve descritivo do projeto integrador, seus objetivos, metodologias, e, principalmente, os desafios sobre a adaptação para o formato virtual nos anos de 2020 e 2021, dando destaque aos desafios de 2021.
Tabela 2
Informações quantitativas sobre o alcance do projeto
Fonte: Os autores
O propósito geral da integração consistiu em desenvolver ações voltadas à inserção de metodologias ativas na Graduação (ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2009). Para tanto, o projeto se estruturou da seguinte forma: (1) foram organizados 4 grupos de cerca de 5 pessoas; (2) foram apresentados desafios direcionados ao Programa Artemis; e (3) os grupos estavam matriculados nas mesmas disciplinas com integração parcial de conteúdo.
As disciplinas técnicas introduziram os desafios envolvendo Engenharia de Sistemas e Projeto e Construção de Sistemas Espaciais. A primeira apresentou o processo no qual o engenheiro aeroespacial vai, a partir da coleta de necessidades, organizar e direcionar o desenvolvimento de alternativas de soluções que atendam as métricas apontadas pela coleta das necessidades e, nesse ínterim, derivar arquiteturas funcionais e físicas, descrever os conceitos de operação, estruturar o fluxo temporal de atividades que o sistema deve realizar, de forma que possam ser levantados o máximo de informações nas primeiras fases de concepção, antecipando demandas futuras. A segunda apresentou o domínio de um problema com o qual o engenheiro aeroespacial deve lidar, as motivações para o desenvolvimento de um sistema espacial, as características dos serviços derivados de sistemas espaciais, a definição de uma missão espacial e sua decomposição ao nível dos componentes e equipamentos utilizados para a construção do sistema.
Nas edições que foram realizadas as integrações, os alunos usaram o conteúdo de uma disciplina para complementar a outra (FORTESCUE; STARK; SWINERD, 2011; INTERNATIONAL COUNCIL ON SYSTEMS ENGINNERING – INCOSE, 2015). Da disciplina de Projeto e Construção de Sistemas Espaciais, os termos e elementos específicos de uma missão espacial eram usados como vocabulário para as alternativas de soluções que eram dadas em Engenharia de Sistemas (SIS), e da disciplina de SIS, o processo de iterativamente desdobrando os níveis da complexidade do sistema. Os temas dos projetos dos alunos foram previamente acordados para a realização do alinhamento
dos tópicos semanais e do direcionamento dos exercícios de exploração da temática espacial por meio do processo da Engenharia de Sistemas.
Em 2021, foram tratados quatro projetos baseados no padrão CubeSat, com as missões a serem realizadas ao redor da Lua e relacionadas com o Programa Artemis, sendo eles: (i) demonstração tecnológica de capacidade de locomoção para o ponto lagrangiano a partir da Lua; (ii) utilização de constelação de coleta de dados de Internet das Coisas para roteamento de informação e apoio aos astronautas; (iii) coleta de dados do clima espacial lunar; e (iv) experimentação de crescimento de microrganismos na lua. Nesta edição, os alunos receberam missões mais específicas.
No primeiro projeto, o CubeSat deveria deslocar-se de um ponto da órbita da lua para o ponto lagrangiano, e para isso o grupo precisou explorar as tecnologias de propulsão e as funcionalidades necessárias para o controle da trajetória até a posição desejada.
No segundo projeto, um grupo de CubeSats deveria coletar informações de equipamentos do tipo internet das coisas que poderiam estar distribuídos no solo lunar, dando apoio aos astronautas para retransmissão de mensagens de emergência, e na própria interação com as “coisas” distribuídas pelo solo lunar. Para isso, o grupo precisou explorar arranjos de constelações ao redor da Lua, mecanismos de manutenção de órbita devido aos diferentes gradientes de gravidade lunar, e estratégias de roteamento de informação entre satélites.
No terceiro projeto, o CubeSat deveria coletar dados do clima espacial lunar de forma a iniciar a criação de um mapa de condições espaciais nas regiões de baixa órbita lunar. Para realizar essa missão, o grupo também precisou estudar mecanismos de manutenção de órbita, e os sensores utilizados para cumprir as funções de coleta das informações desejadas pelos cientistas.
No quarto projeto, o CubeSat deveria manter as condições de um experimento de crescimento de microrganismos que seriam colocados em solo lunar, de forma a monitorar a possível proliferação dos microrganismos. Para isso, o grupo precisou explorar estratégias de pouso em solo lunar, alternativas para manter o condicionamento ambiental para realização do experimento e formas de mensurar os indicadores da evolução do experimento. Cada um dos grupos partiu de uma missão espacial geral com quatro segmentos: (i) lançador, responsável por levar o artefato até seu local de operação; (ii) espacial, responsável por realizar a operação no espaço; (iii) solo, responsável por se comunicar com os elementos do segmento espacial; e (iv) usuário, responsável por interagir com os clientes da missão.
Em todas as missões foram realizadas três macroatividades do ciclo de vida: (i) entendimento do Problema; (ii) concepção de Alternativas Conceituais; e (iii) proposta de Arquitetura Concretizada. No Entendimento do Problema, foi abordado o tipo espacial e a arquitetura de referência conhecida por
61 meio do entendimento do que era demandado pelos interessados e impactados pela missão. Após a identificação dos stakeholders, identificou-se também os requisitos legais para o cumprimento da missão e estabeleceu-se a integração com a disciplina de Direito (BITTENCOURT NETO, 2011).
Na Concepção de Alternativas conceituais, foram levantadas as principais funções do sistema e a dinâmica do comportamento dos possíveis arranjos conceituais. Na Proposta de Arquitetura Concretizada, foram apresentados os desdobramentos tecnológicos, e seus comportamentos, para que fossem escolhidas opções para realizar a arquitetura conceitual conservada por meio das análises da engenharia de sistemas, bem como por meio do entendimento da Arquitetura Jurídico-Institucional. O propósito foi gerenciar a viabilidade da missão, bem como identificar as restrições legais da missão, o risco de impactos e danos a partir da compreensão da cadeia de responsabilidade e atores envolvidos (PEREIRA, 2000).
O Estudo GUESSS/Brasil (Global University Entrepreneurial Spirit Students’ Survey), aplicado em 2013/2014, apresentou estudos comparativos de instituições de ensino superior (IES) no mundo todo. Esse estudo apontou os interesses e motivações dos estudantes pelas carreiras escolhidas, bem como o aumento de universidades que têm integrado o programa de empreendedorismo às suas propostas curriculares e criado um ambiente acadêmico propício ao surgimento de startups e empreendimentos por parte dos estudantes. O estudo contemplou 12.561 estudantes e mais de 60 instituições brasileiras de ensino superior e, ao final, apresentou orientações e recomendações. Destaca-se a orientação para a integração de diferentes disciplinas dos cursos a partir de uma perspectiva transversal de EE, por meio da inserção da área da inovação, a identificação e exploração de oportunidades e a avaliação de riscos.
Há também estudos que usam a Teoria do Comportamento Planejado (TCP), desenvolvida por Ajzen (1987, 1991), para analisar o impacto da EE sobre a escolha de carreira dos estudantes, e se o tipo de curso impacta a intenção empreendedora e potenciais empreendedores no grupo de estudantes (FAYOLLE, 2007). Esses estudos têm ganhado relevância nas últimas décadas e têm mapeado problemas nos processos educativos, sobretudo em relação às competências, habilidades e ao perfil do egresso desejado.
Buscando identificar o impacto da EE sobre a intenção empreendedora dos estudantes (AJZEN, 1991), bem como o interesse por atividades e disciplinas na área de inovação e empreendedorismo, foi encaminhado questionário para os estudantes com a colaboração do Centro Acadêmico (CASD). A IES em que foi realizado o estudo de caso tem 647 estudantes matriculados
nos cursos de Graduação de Engenharia, sendo que 88 responderam, ou seja, 13,6% do universo desses estudantes. Desse percentual, 18,2%, no momento do estudo, tem previsão de formatura em 2021 (T.21), 6,7% tem previsão de formatura em 2022 (T22), 25% em 2023 (T.23), 19,3% em 2024 (T.24) e 31,8% em 2025 (T.25). A amostra analisada remete aos 88 estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação que receberam formulários online visando mensurar qual ou quais fatores foram considerados relevantes no momento da escolha pela carreira em engenharia, além de mensurar o interesse pelas áreas de inovação e empreendedorismo.
Considerando o distanciamento social devido à pandemia de COVID-19, optou-se por encaminhar o link do questionário online aos estudantes. A amostra não foi obtida randomicamente, pois o questionário foi respondido pelos estudantes que se interessaram pelo convite. Entretanto, a amostra aponta aspectos relevantes para a proposta de melhoria da EE nos cursos de Engenharia, sobretudo para atender o interesse dos estudantes por atividades e conteúdos voltados à criação de Programa de Educação Empreendedora (Educational Entrepreneurship Program – EEP).
Tabela 3
Distribuição por curso
Cursos Número de
Fonte: Dados da Pesquisa/CASD (2021)
Segundo as respostas obtidas, há demanda por educação em empreendedorismo. A pesquisa mostrou que 11% se interessam pela área do empreendedorismo, 10% têm interesse em criar uma startup, e 6% em atuar em Fintechs (startups que trabalham para inovar e otimizar serviços no sistema financeiro). Em outras palavras, 27% se interessam pela área (Figuras 1 e 2). Os resultados mostram também a intenção dos estudantes em empreender. Dos 88 que responderam, 9,1% informam que já estão empreendendo, 28,4% indicam que
planejam empreender no futuro próximo e 39,8% expõem que, embora não tenham interesse em empreender, têm interesse em conhecer e participar de atividades associadas à educação empreendedora. Apenas 14% indicam interesse em atuar na área de Engenharia, excluindo a área de Computação.
Figura 1 Expectativa de atuação dos Respondentes.
Fonte: Dados da Pesquisa/CASD (2021)
Quando se analisou as respostas dos estudantes da AESP, observou-se pouca variação, mas um maior interesse em empreender. A pesquisa mostrou que 14% se interessam pela área do empreendedorismo, 11% têm interesse em criar uma startup, e 9% em atuar em Fintech, ou seja, 34% se interessam pela área (Figuras 2).
Figura 2
Expectativa de atuação dos alunos Eng. AESP.
Fonte: Dados da Pesquisa/CASD (2021)
O resultado parcial do projeto sugere que a proposta implementada impulsionou não apenas a compreensão de problemas técnicos, mas também as restrições legais da missão. Os feedbacks aos professores envolvidos foram positivos tanto em 2020 quanto em 2021, com destaque para a capacidade de tomar decisões tendo um entendimento maior sobre os riscos. Nessa medida, a proposta parece ter propiciado aos estudantes uma experiência próxima da realidade de áreas mais complexas e de gerenciamento de riscos da Engenharia. Contudo, as dinâmicas presenciais foram impactadas por conta do cenário da COVI-19. A instituição optou por adotar o Google Workspace for Education, com acesso a um conjunto de ferramentas e serviços adaptados ao ensino remoto. Desde então, foram produzidos e carregados eventos, videoaulas e atividades em grupo na plataforma Google for education com o intuito de garantir aos estudantes acesso amplo durante todo o período de realização do projeto, além de plataformas, softwares e métodos específicos direcionados ao setor aeroespacial, como Data flow concept operations (CONOPS).
Este artigo tratou da aplicação de metodologias ativas e educação empreendedora no curso de Engenharia Espacial e seus desafios, entre eles, o que seria possível integrar, levando-se em conta as respectivas ementas, o intervalo temporal de um semestre para executar o projeto e o cenário da COVID. As limitações identificadas na aplicação foram de três ordens: (i) planejamento de
atividades com a necessidade dos docentes se apropriarem minimamente dos componentes curriculares das disciplinas envolvidas e sobretudo, das metodologias de aprendizagem utilizadas em cada disciplina; (ii) design dos desafios com o dimensionamento da complexidade diante do prazo estabelecido; e (iii) a adaptação das dinâmicas e do ensino presencial para o ensino remoto. A experiência da aplicação trouxe um aprendizado significativo para os professores e impulsionou uma nova modelagem do design dos desafios para um cenário de médio e longo prazos (pós-pandêmico), envolvendo stakeholders do ecossistema de inovação no setor aeroespacial, com a parceria estratégica da Nasa.
Os estudantes envolvidos foram ouvidos e as percepções registradas na pesquisa evidenciaram o alto grau de interesse pelas áreas de inovação e empreendedorismo, especialmente pelo desenvolvimento de atividades hands-on por meio de dinâmicas de grupos, com a finalidade de promover o engajamento, o conhecimento e a descoberta. Os resultados obtidos apontaram para o efeito positivo da EE sobre a intenção empreendedora dos estudantes. Nessa medida, o aprendizado por PBL, viabilizado pela integração parcial das disciplinas de Direito, Engenharia de Sistemas e Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais, pode ser um dos caminhos a ser adotado pela IES para inserir a cultura da inovação em suas propostas curriculares e cumprir as exigências das DCNs para os cursos de Engenharia.
Ressalta-se, contudo, que os resultados não podem ser generalizados, uma vez que foram obtidos por aplicação restrita a duas turmas de engenharia, além de ter ocorrido em período que foge à normalidade, ou seja, os anos de 2020 e 2021 afetados pela pandemia de COVID. Com o propósito de ampliar a base de dados colhidos, os professores optaram por continuar com o projeto em 2022, envolvendo novos desafios associados ao Programa Artemis.
Agradecemos aos integrantes dos projetos integradores do Programa Complementar de Inovação (PFC-I) e do projeto Educação Empreendedora: servidores, alunas e alunos de graduação da Engenharia Aerosespacial pela contribuição nas atividades desenvolvidas. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura e por possibilitar a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, à ITAEx pelo suporte financeiro para a realização do projeto.
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aprEndizagEm por projEtos no Ensino dE
EngEnHaria aEroEspacial E aEronáutica1
Sueli Sampaio Damin Custódio Christopher Shneider Cerqueira
RESUMO: O artigo apresenta um estudo de caso de aplicação das metodologias ativas de Ensino Baseado em Projetos e seus desafios no cenário de pandemia nos cursos de Graduação em Engenharia Aeronáutica (AER) e Aeroespacial (AESP). Os estudantes, organizados em subgrupos, aprenderam a lidar com diferentes assuntos, tais como Cubesats, Green Aviation, Airship, All Eletric e CityAirbus e tiveram a oportunidade de ter experiências de práticas profissionais, desenvolvimento autônomo para a solução de problemas, e aprimoramento da habilidade de trabalho em grupo. Com a pandemia de COVID-19 em 2020, restrições de interação social demandaram uma mudança nas atividades programadas, com a transição das apresentações e dos cursos presenciais para o ambiente virtual (e-learning). Como resultado, o uso de metodologias ativas aponta para uma melhor integração de disciplinas nos cursos de graduação de Engenharia Aeroespacial e Aeronáutica.
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizado Baseado em Projetos. Ensino de Engenharia. Métodos de Ensino. Trabalho em Equipe.
Transformações tecnológicas, econômicas e sociais impulsionam novas formas de organização do trabalho, de produção, e sobretudo de formação profissional. Cada vez mais exige-se dos profissionais recém-formados o devido preparo, com capacidade para tomar decisões, resolver problemas, trabalhar em equipe, comunicar-se efetivamente, aprender de maneira autônoma de modo a enfrentar desafios e situações do cotidiano social e profissional. Por conta disso, foi implantada uma sistemática de trabalho, denominada “Projeto Integrador”, envolvendo uma integração parcial entre as disciplinas obrigatórias de Direito, Engenharia de Sistemas e de Projeto e Construção de Sistemas
1 Artigo apresentado no “XLIX Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia”, Cobenge, 2022.
Aeroespaciais nos cursos de Graduação em Engenharia Aeronáutica (AER) e Aeroespacial (AESP).
O Projeto Integrador introduziu, no primeiro semestre de 2020, o método de ensino conhecido como “Project-Based Learning” (PBL) no ensino de Engenharia para as turmas do primeiro semestre do 3º ano dos cursos da AER e da AESP. Envolveu 3 professores, 3 mentores, 5 palestrantes e 40 alunos. O método PBL introduzido proporcionou aos estudantes a compreensão de cenários contextualizados para enfrentar situações que fazem parte do cotidiano e da futura carreira profissional (BOUD; FELETTI, 1999).
Além disso, conforme expõem Escrivão Filho e Ribeiro (2009), as pesquisas e estudos sobre o modelo de formação profissional vigente, baseado no modelo tradicional de ensino, que privilegia a transmissão de conteúdos e a recepção de conhecimentos, evidenciam as deficiências no preparo do egresso para a complexa atuação profissional do séc. XXI.
O Projeto Integrador contemplou três objetivos gerais: (i) ampliar as habilidades e atitudes profissionais desejáveis à prática da engenharia; (ii) desenvolver atividades práticas que despertem a curiosidade e promovam o engajamento dos estudantes com o trabalho em grupo, a comunicação oral e escrita adequada e, sobretudo, a resolução de problemas complexos; (iii) desenvolver canais segmentados de comunicação com a sociedade e a indústria do setor aeroespacial.
Este artigo expõe os resultados da aplicação da metodologia do PBL e seus desafios no cenário de pandemia nos cursos de Graduação em Engenharia Aeronáutica (AER) e Aeroespacial (AESP). O artigo está organizado da seguinte forma: na seção 2, apresenta-se o método PBL e o Projeto Integrador implementado; na seção 3 apresenta-se os desafios, as metodologias, e a adaptação para uma nova configuração, após cenário de pandemia; na última seção, apresenta-se considerações finais sobre a implementação do Projeto e ações futuras.
O propósito geral do Projeto Integrador consistiu em desenvolver diversas ações voltadas à inserção de metodologias ativas no curso de engenharia. Para tanto, o projeto se estruturou da seguinte forma: (1) foram organizados grupos de cerca de 5 pessoas nos cursos de Engenharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial (vide Tabela 1); (2) foram apresentados desafios na disciplina de Engenharia de Sistemas; (3) os grupos foram os mesmos nas disciplinas de Direito, Engenharia de Sistemas e Projeto de Sistemas Espaciais, e a integração parcial contemplou conteúdos das disciplinas citadas (vide Tabela 2 e Figura 1); (4) foram introduzidas estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem, como a abordagem CDIO (Conceive, Design, Implement and Operate), com o aprendizado baseado em problemas (PBL) e o aprendizado baseado em equipes (Team-Based Learning – TBL).
Tabela 1
Informações quantitativas sobre o alcance do Projeto
Turmas Número de alunos envolvidos Número de Projetos
21 04
04
Fonte: Autores
Tabela 2
Descrição das etapas do ciclo de aprendizado esperado
Etapas Objetivo Atividade Exigência Avaliação
1ª Etapa Conhecer o problema Apresentação dos desafios pelos professores e divisão dos grupos. Mapear o contexto e efetuar pesquisa preliminar.
2ª Etapa Definir o problema Orientação guiada pelos mentores e professores sobre o cenário (stakeholders). Identificar os stakeholders ativos e passivos.
3ª Etapa Pesquisar soluções Integração inicial dos componentes das disciplinas envolvidas. Definir de requisitos e funções.
4ª etapa Apresentar a solução Integração dos componentes guiada pelos professores e mentores. Trazer solução técnica e/ou de negócio.
Fonte: Autores
1ª apresentação aos professores e mentores expondo o mapeamento realizado.
2ª apresentação expondo oportunidades e tendências de negócios (mercado e players).
3ª apresentação expondo os marcos legais e regulatórios e tendo 8 encontros semanais com os mentores.
4ª apresentação e entrega de relatório expondo a solução desenvolvida pelo grupo.
Figura 1
Cronograma das atividades de integração e da avaliação
Fonte: Autores
No curso de aeroespacial foram apresentados quatro desafios, nos quais dever-se-ia estruturar serviços espaciais relacionados com meteorologia, coleta de dados, observação da terra e telecomunicações. Em todas as missões foram realizadas três macroatividades do ciclo de vida: (i) Entendimento do Problema; (ii) Concepção de Alternativas Conceituais; (iii) Proposta de Arquitetura Concretizada.
No Entendimento do Problema tratou-se do tipo espacial, que possui uma arquitetura de referência conhecida, através do entendimento do que era pedido pelos interessados e impactados ( stakeholders ) pela missão. Procurou-se, dessa forma, identificar os requisitos legais para o cumprimento da missão.
Na Concepção de Alternativas conceituais foram levantadas as principais funções do sistema e a dinâmica do comportamento dos possíveis arranjos conceituais. Procurou-se, ademais, a identificação de marcos legais e regulatórios internacionais e nacionais para a viabilidade da missão. Na Proposta de Arquitetura Concretizada foram apresentados os desdobramentos tecnológicos, e seus comportamentos, para que fossem escolhidas opções para realizar a arquitetura conceitual conservada por meio das análises da engenharia de sistemas, bem como por meio do entendimento da Arquitetura Jurídico-Institucional. O propósito era gerenciar o risco identificando as restrições legais da missão e da cadeia de responsabilidade envolvida.
No curso de aeronáutica foram apresentados quatro desafios relacionados com: Green Aviation, Airship, All Electric e CityAirbus. Em todas as missões foram realizadas três macro atividades do ciclo de vida: (i) Entendimento do Problema; (ii) Concepção de Alternativas Conceituais; (iii) Proposta de Arquitetura Concretizada.
Buscou-se, com os desafios apresentados acima, tornar os estudantes prontos para “engenheirar”, o que foi feito por meio da operacionalização do conceito de CDIO, incluindo os processos do ciclo de vida. Nessa medida, quatro atividades foram contempladas: (i) a Concepção (Conceive), ou seja, o entendimento das necessidades, considerando tecnologias, estratégias e planejamentos que possam servir de base para a construção de um modelo conceitual que possa descrever o domínio do problema e os planos para as transformações para o domínio da solução; (ii) o Desenvolvimento (Design), entendido como a criação do corpo de informações que permitam a concretização do projeto, incluindo, planos, diagramas, modelos, algoritmos e outras informações que descrevem o artefato a ser construído; (iii) a Implementação (Implement), ou seja, a condução da concretização de um projeto, incluindo seus processos, manufaturas, testes e preparação para disponibilização, de forma que possa entrar na fase de operação; (iv) a Operação (Operation), a fase final na qual o artefato é entregue e utilizado até o descarte. O CDIO advoga que para a implementação das 4 fases, é necessária uma integração curricular que enfatize os objetivos de aprendizados para preparar os alunos para as práticas de engenharia. Essa integração transdisciplinar permite que os conhecimentos das disciplinas sejam entendidos e expressados por meio da criação de artefatos de engenharia. Os focos de atuação das disciplinas foram divididos da seguinte maneira:
Tabela 3
Descrição das etapas do ciclo de vida proposto
Ciclo de vida proposto
Entendimento do Problema
Concepção de Alternativas Conceituais Proposta de Arquitetura Concretizada
Projeto Tipos de Problemas que demandam um Sistema Espacial. Arquitetura Geral de uma missão espacial. Dinâmica dos elementos no nível de uma missão espacial.
Tecnologia dos Sistemas Aeroespaciais. Dinâmica dos elementos dentro dos sistemas.
Engenharia de Sistemas
Identificação de Stakeholders. Descrição das Necessidades, Desejos e Objetivos. Requisitos da Missão. Arquitetura Conceitual
Direito Requisitos legais da Missão e normas técnicas de segurança e qualidade.
Arquitetura Funcional Requisitos de Sistema. Arquitetura instanciada. Especificações. Árvore de Produto e Estrutura Analítica de Projeto.
Marcos legais e regulatórios ampliados para a viabilidade da missão.
Fonte: Autores
Arquitetura Jurídico-Institucional. Restrições legais da missão.
Responsabilidade jurídica do engenheiro.
A Engenharia de Sistemas ficou responsável pelo processo que instrumenta a arquitetura e os elementos apresentados em Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais, sempre sob o respaldo do entendimento das restrições oriundas da análise do processo pela disciplina de Noções de Direito. Nota-se que a Engenharia Aeronáutica não compartilha de uma disciplina similar à do Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais, motivo pelo qual optou-se por convidar profissionais da indústria aeronáutica para a apresentação de tópicos relativos aos sistemas aeronáuticos. Os artefatos trocados são apresentados a seguir (vide Figura 2), onde se observa que são integrados elementos de arquitetura, restrições legais e o próprio sistema para avaliação.
Figura 2
Descrição das Etapas do ciclo de aprendizado esperado
Fonte: Autores
A aprendizagem baseada em problema é utilizada com a finalidade de proporcionar aos futuros profissionais não apenas as habilidades relacionadas ao conteúdo técnico fornecido na graduação, mas também o desenvolvimento de outros atributos profissionais complementares, relevantes para a formação profissional, além da interação com mentores experientes (CASALE, 2011 e 2013; ANGELO et al., 2014; ESCRIVÃO FILHO, RIBEIRO, 2009; MARTINS, 2002).
A seguir, detalha-se as atividades desenvolvidas pelos grupos, bem como seus impactos, eficácia e repercussões relacionadas à transição de um trabalho essencialmente presencial para o ensino remoto.
O ensino em cursos superiores de engenharia tem ampliado gradativamente o aprendizado ativo (FAUST,1998), ou seja, formas de aproximar os alunos aos desafios que enfrentarão nas suas carreiras. As implementações de aprendizagem ativa, como o aprendizado baseado em projetos, trazem temas estruturantes para adaptar o processo individual de aprendizado, incentivando o engajamento dos alunos a instrumentalizar e apropriar-se do conhecimento e das ferramentas apresentadas. Da mesma forma, a estruturação curricular baseada no CDIO (Conceive,Design, Implement and Operate) do MIT utiliza-se de projetos que atravessam os domínios das disciplinas e integram os currículos (CRAWLEY, 2014).
Nos cursos de Engenharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial avaliados foram exploradas, em duas ocasiões, a integração de disciplinas por meio de projetos, cada disciplina dispondo de objetivos de aprendizados específicos desdobrados dos objetivos de aprendizados gerais de uma visão holística. Esta seção expõe um breve descritivo do projeto integrador, seus objetivos, metodologias, e, principalmente, os desafios sobre a adaptação para o formato virtual no ano de 2020.
O aprendizado baseado em projetos preconiza que o próprio ambiente seja preparado para as questões apresentadas aos alunos, e o professor seja apenas mediador e facilitador do projeto. Os alunos exploram o projeto por meio dos processos e ferramentas que aprendem nas disciplinas envolvidas. Enquanto desenvolvem soluções para o problema, os alunos se engajam a usar e procurar tecnologias que os auxiliem no processo. Os artefatos criados nas alternativas de solução externalizam o conhecimento construído e evidenciam modelos e processos mentais, não lineares, e perfis individuais de aprendizado. As disciplinas de Direito, Engenharia de Sistema e de Projeto fazem parte do currículo do 1º semestre do 3º ano dos cursos de Graduação da AER e AESP e, por conta disso, foram escolhidas para a aplicação do conceito de PBL. Abaixo são descritas (Vide figura 3) as etapas definidas pelos docentes:
Figura 3
Etapas do ciclo de aprendizado esperado
Fonte: Baseado em Ribeiro e Escrivão Filho (2011, p. 30)
3.1. Objetivos Específicos e Metodologia Empregada
Cada disciplina ficou responsável pelo desenvolvimento de objetivos específicos e interdependentes, a saber:
3.1.1. Os objetivos de Aprendizagem Específicos da Disciplina de Engenharia de Sistemas
A disciplina de Engenharia de Sistema usa o Pensamento Sistêmico (ACKOFF, 1994) como ferramenta de engenharia (INCOSE, 2015), apresentando princípios, abordagens, métodos e instrumentos para entender o domínio do problema e o domínio da solução (SILLITTO et al., 2018). São propostos 4 objetivos de aprendizagem específicos para a disciplina de Engenharia de Sistemas: (1) Capacidade de entender a complexidade de sistemas. (Bloom nível 2); (2) Capacidade de escolher instrumentos de análise de complexidade. (Bloom nível 3); (3) Capacidade de empregar a abordagem sistêmica (Bloom nível 5); (4) Capacidade de propor uma arquitetura de sistema complexo (Bloom nível 6).
Ressalta-se que essa disciplina já pertence à trilha de Engenharia de Sistemas da grade curricular da Engenharia Aeronáutica e da Engenharia Aeroespacial. Em ambas as engenharias, a arquitetura e os requisitos resultantes são utilizados como entrada para a disciplina de Gestão de Projetos, e, apenas na Engenharia Aeroespacial, são entradas para a disciplina de Verificação e Qualidade de Sistemas Aeroespaciais.
3.1.2. Objetivos de Aprendizagem Específicos da Disciplina de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais
A disciplina de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais apresenta a Engenharia de Missões Espaciais (WERTZ et al., 2011) para os alunos, que trata de sistemas aeroespaciais, arquiteturas de missões e tecnologias de satélites, foguetes e antenas (FORTESCUE, 2011). São propostos seis objetivos de aprendizagem específicos para a disciplina de Projeto e Construção de
Sistemas Aeroespaciais: (1) Capacidade de identificar a arquitetura das missões aeroespaciais (Bloom nível 1); (2) Capacidade de lembrar dos componentes que fazem parte de uma missão espacial (Bloom nível 1); (3) Capacidade de lembrar das funções de uma missão aeroespacial (Bloom nível 1); (4) Capacidade de identificar as fases do ciclo de vida de uma missão aeroespacial (Bloom nível 1); (5) Capacidade de construir o conceito de operações de uma missão aeroespacial (Bloom nível 3); e (6) Capacidade de escrever os requisitos de missão e de sistemas aeroespaciais (Bloom nível 3).
A disciplina de Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais também pertence à trilha de apresentação dos sistemas que compõem uma missão espacial. Essa disciplina é ministrada apenas para o curso de Engenharia Aeroespacial, e dá subsídios para as disciplinas: (i) Projeto Conceitual de Sistemas Espaciais; (ii) Sistemas Espaciais; e (iii) Projeto Avançado de Sistemas Espaciais.
3.1.3. Os objetivos de Aprendizagem Específicos da Disciplina de Direito
A disciplina de Direito estimulou a parceria entre estudantes, professores, mentores e convidados de modo a intensificar a prática e o desenvolvimento de habilidades comunicativas e sociais. Os estudantes foram estimulados a respeitar opiniões diversas e a construir consensos. Os professores, mentores e os estudantes trabalharam juntos em grupo e foram estimulados a trocar informações e experiências.
A integração da área de Direito para a turma da AESP exigiu que ao final do projeto o aluno fosse capaz de: (1) Compreender o conceito de Direito Espacial e sua composição (Tratados e Convenções Internacionais e principais regulações); (2) Aplicar o Tratado do Espaço e a Convenção sobre Responsabilidade; (3) Classificar o tipo de satélite e descrever os possíveis impactos/ danos (poluição perene, prejuízo de inutilização de um objeto útil em órbita, prejuízo ou interferência em atividades no espaço e/ou solo etc.); (4) Aplicar as diretrizes do IADC ou COPUOS, os protocolos de qualidade e segurança e atender às normas reguladoras de operações para o fim do ciclo de vida do objeto espacial; e (5) Compreender a teoria do risco levando em conta a poluição ambiental espacial.
A integração da área de Direito para a turma da AER exigiu que ao final do projeto o aluno fosse capaz de: (1) Compreender o conceito de Direito Aeronáutico e sua composição (CBA, Acordos, Tratados e Convenções Internacionais e principais regulações); (2) Compreender o Sistema de Aviação Civil Internacional e Nacional: ICAO e ANAC; (3) Identificar a Autoridade Civil e Aeronáutica e suas atuações; (4) Aplicar os Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil – RBAC; e (5) Escolher e aplicar pelo menos 1 tutela jurídica específica (Direito Ambiental, Direito de Propriedade Intelectual, Direito Civil etc.).
3.2. Desafios no cenário COVID-19 e resultados da implementação do PBL
Dos 40 estudantes que participaram da implementação de aprendizado por PBL, 14 deram feedback por e-mail e/ou por enquete no Google Forms sobre a experiência do semestre. Destes, 10 da turma da AER e 4 da turma da AESP. Desse grupo, 50% apontaram dificuldades de cunho pessoal para acompanhar/estudar no formato virtual, 25% indicaram problemas de infraestrutura (ambiente familiar barulhento ou problemas de internet) e 25% informaram que não tiveram problemas de acompanhar as atividades (aulas síncronas, lives e videoaulas). Em relação às reuniões orientadas com a presença de convidados, 66,7% informaram que incrementaram a capacidade de reflexão crítica e 33,3% informaram que incrementaram a capacidade de elaboração de resposta e da redação do relatório final. Alguns alunos, por e-mail, manifestaram-se favoravelmente às palestras e destacaram a atualização dos temas abordados. Entretanto, os estudantes apontaram problemas como: (i) planejamento da integração e organização de conteúdos na plataforma digital; (ii) complexidade dos desafios propostos e tempo para apresentação de soluções, bem como a carga de trabalho e do tempo de dedicação extraclasse.
As questões apresentadas pelos estudantes foram agrupadas em desafios de concepção e prática docente, e desafios decorrentes da pandemia.
O de concepção e prática docente exigiu uma atitude interdisciplinar e sistêmica, de modo a despertar nos estudantes o interesse em conectar componentes curriculares, contextualizando-os e não os percebendo como fragmentados e descontextualizados. Se, por um lado, essa dinâmica impulsionou conhecimentos pedagógicos ligados às técnicas de aprendizagem que compreendem as competências pedagógicas para o ensino por meio de problemas a serem resolvidos no mundo real, por outro, exigiram do docente o papel de facilitador do trabalho desenvolvido pelos grupos. Trata-se de facilitação ativa, na qual é esperado que o docente crie ambientes de aprendizagem e que, por meio da observação, interação com grupos e escuta ativa, introduza técnicas de questionamento, de modo a estabelecer uma comunicação informal e o estímulo de competências relacionadas às atitudes como empatia e protagonismo.
A dificuldade dessa fase foi de convergência, entre os docentes, do que seria possível integrar, levando-se em conta as respectivas ementas e o intervalo temporal de um semestre para viabilizar o projeto. Decidiu-se que a integração seria parcial e ocorreria no meio do semestre, após a introdução dos componentes fundamentais de cada área. A decisão decorreu de dois aspectos levantados: (i) a necessidade dos docentes se apropriarem minimamente dos componentes curriculares das disciplinas envolvidas e, sobretudo, das metodologias de aprendizagem utilizadas em cada disciplina; (ii) o dimensionamento
da complexidade diante do prazo estabelecido; e (iii) as agendas dos profissionais da indústria e mentores convidados.
O ponto de maior reclamação dos estudantes foi a carga de atividades propostas e de organização de conteúdo, sendo que, por exemplo, um estudante expôs como sugestão “a redução da carga de atividades proposta, por meio de um filtro mais fino de conteúdos importantes, com indicações em separado de conteúdo “obrigatório” de outros materiais para o aprofundamento dos alunos em assuntos de interesse”.
Os estudantes também abordaram a necessidade de maior integração entre os professores envolvidos. Em resposta aberta no Google Forms, o estudante destacou acreditar que “a integração foi uma ótima ideia e com mais experiência por parte dos professores, aliada a uma maior organização da instituição para o ano que vem (já que este ano, todos foram pegos de surpresa pela pandemia), a turma seguinte tem muito a ganhar”.
Cabe destacar que durante o 1º semestre de 2020 houve a suspensão das atividades acadêmicas por 1 mês para que os professores e estudantes tivessem condições de migrar para o ensino remoto, por conta do cenário da pandemia com o coronavírus (SARS-CoV2). Essa suspensão das atividades impactou no calendário da integração, sobretudo porque os convidados e profissionais da indústria aeronáutica não conseguiram participar conforme o planejamento inicial. Professores e estudantes foram inseridos no Google Workspace for Education, com acesso a um conjunto de ferramentas e serviços adaptados ao ensino remoto e, desde então, são produzidos e carregados eventos, videoaulas e atividades em grupo na plataforma Google Classroom com o intuito de garantir aos estudantes acesso amplo durante todo o período letivo.
O segundo desafio decorrente do cenário da pandemia impactou o desenvolvimento de atividades hands-on por meio de dinâmicas de grupos, com a finalidade de promover o engajamento, o conhecimento e a descoberta. Nesse ambiente, os docentes e mentores apresentam os conceitos teóricos necessários, sempre com linguagem acessível, e, na sequência, orientam os grupos a realizar algum experimento em que os conceitos estudados são aplicados. Estudos (RIBEIRO, 2009; ESCRIVÃO; RIBEIRO, 2008) apontam que esse tipo de aprendizagem é aperfeiçoada pela interação social. Contudo, com a migração para o ensino remoto e a adoção da plataforma Google for education, os professores que tinham experiências e familiaridade distintas com as ferramentas digitais tiveram ritmos e frequência diferentes nas postagens e organização dos conteúdos no ambiente virtual.
A despeito dos problemas descritos, a avaliação geral dos estudantes sobre a adaptação ao ensino remoto e a execução das mentorias, no segundo bimestre, foi positiva. Dos que responderam a enquete e deram feedback , 80% gostaram da experiência do aprendizado por PBL, sendo que destacaram
muito a orientação guiada por problemas reais. Em uma resposta aberta do Google Forms , por exemplo, um estudante destacou que “o segundo bimestre, quando ocorre, de fato, a integração, pode ser dado como foi: as turmas trabalharam com conteúdos diferentes de acordo com suas áreas de interesse”.
O presente trabalho teve o propósito de apresentar o relato da implementação do aprendizado por PBL no estudo de caso do projeto de integração parcial das disciplinas de Direito, Engenharia de Sistemas e Projeto e Construção de Sistemas Aeroespaciais, expondo os principais desafios dessa implementação, especialmente os decorrentes da pandemia da Covid-19. Com a chegada da pandemia ao Brasil, as dinâmicas presenciais foram adaptadas, de forma a possibilitar a execução do projeto. A instituição optou por adotar o Google Workspace for Education, com acesso a um conjunto de ferramentas e serviços adaptados ao ensino remoto. Desde então, foram produzidos e carregados eventos, videoaulas e atividades em grupo na plataforma Google for education com o intuito de garantir aos estudantes acesso amplo durante todo o período de realização do projeto.
Como pôde ser evidenciado, a maior parte das atividades projetadas para 2020, antes do cenário da pandemia com o coronavírus (SARS-CoV2), foi realizada, mesmo em meio ao processo de adaptação de procedimentos e reformulações específicas do escopo do Projeto Integrador. Além disso, novas reflexões sobre o planejamento das atividades e do design dos desafios puderam ser projetadas para um cenário de médio e longo prazos (pós-pandêmico), como é o caso de parcerias estratégicas com o PPE-Embraer e a Nasa. Os resultados demonstraram viabilidade na proposição de uso do PBL de forma parcial e aplicado para as disciplinas indicadas acima, método no qual a aprendizagem se dá a partir da resolução de problemas propostos ou existentes e que insere a perspectiva de uma visão humanística e holística conforme prescrevem os artigos 3º e 4º das Diretrizes Curriculares da Engenharias (DCNs). Ressalta-se, contudo, que os resultados não podem ser generalizados, uma vez que foram obtidos por aplicação restrita a duas turmas de engenharia, além de ter ocorrido em período que foge à normalidade, ou seja, o ano de 2020 afetado pela pandemia de COVID. Com o propósito de ampliar a base de dados colhidos, os professores optaram por continuar com o projeto em 2021 envolvendo agora novos stakeholders e desafios.
Agradecemos aos integrantes do projeto Educação Empreendedora: servidores, alunas e alunos de graduação da Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial
79 pela contribuição nas atividades desenvolvidas. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura e por possibilitar a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, à ITAEx pelo suporte financeiro para a realização do projeto.
ANGELO, M. F.; LOULA, ANGELO C.; BERTONI, F. C.; SANTOS, J. A. M. Aplicação e avaliação do método PBL em um componente curricular integrado de programação de computadores. Revista de Ensino de Engenharia, v. 33, n. 2, p. 31-43, 2014.
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dEsaFios E Estratégias para a EQuidadE dE
gÊnEro Em stEm na univErsidadE dE Brasília1
Maura Angélica Milfont Shzu
Dianne Magalhães Viana
RESUMO: O perfil dos ingressos no ensino superior tem sofrido transformações em todas as partes do mundo e, atualmente, evidencia uma maioria feminina, não obstante em áreas importantes para o fomento de uma economia competitiva, como são as áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), em que elas são minorias. Esse panorama se repete na Universidade de Brasília sugerindo a importância de mapear e identificar as lacunas de gênero nos cursos que ela oferece. Os dados foram obtidos através da coleta de dados disponíveis nos relatórios internos anuais. Para complementar o entendimento a respeito da problemática de gênero que atinge Brasília foram revelados alguns dados disponibilizados por organizações internacionais. A partir dessas informações destaca-se as instituições superiores como peça fundamental para a promoção de um ensino sensível a gênero junto à rede pública de ensino básico e apresenta alguns dos investimentos conduzidos pela universidade de Brasília para a superação das barreiras de gênero nos campos de STEM, dando destaque ao projeto Meninas Velozes. Assim, pretende-se que as discussões dos desafios e estratégias aplicadas possam se apresentar como um canal de reflexão e direcionamento para que outras instituições consigam alcançar melhores ou semelhantes resultados.
PALAVRAS-CHAVES: Equidade de Gênero, Inclusão de Mulheres em STEM, Abordagens em STEM, Universidade de Brasília.
O panorama do ensino superior no Brasil passou por transformações significativas ao longo do tempo, impactando tanto as estruturas curriculares quanto o perfil dos ingressantes. Em meio a uma população majoritariamente desprovida de educação em seu nível mais básico, o ensino superior durante muito tempo foi acessível apenas a uma privilegiada classe social de perfil masculino e branco. De forma que, ao final do século XIX, 85,2% dos brasileiros acima de 15 anos eram analfabetos (IBGE, 2020). A necessidade do Brasil se
1 Programa Meninas Velozes Unb/Brasília e Grupo Mulheres em STEAM.
firmar como uma nação e investir em seu desenvolvimento levou à expansão da educação reduzindo a taxa de analfabetismo para 37,2% no ano de 1920 (IBGE, 2020). Essa tendência de queda se manteve até que em 2022 se registrou um percentual de 5,6% (IBGE, 2023).
A Universidade de Brasília (UnB) surgiu no início da década de 1960 com um compromisso com a ciência como agente transformador, impulsionador do desenvolvimento econômico do país. Adotando um modelo inovador, a UnB prometia desafiar o status quo e mudar a característica elitista das universidades brasileiras, expandir o ensino superior, promover a difusão do conhecimento além de seus limites físicos, facilitar a modernização do país e construir uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, seu surgimento ocorreu em meio a uma crise política levando a uma interrupção desse projeto por ao menos três décadas (MIGLIEVICH-RIBEIRO, 2017). Apesar da retomada do progresso na educação superior, o Brasil ainda enfrenta uma estrutura de discriminação racial e de gênero, em que negros, pardos e mulheres ainda são sobrerrepresentados em cursos de formação e ocupações de menor prestígio social.
Reconhecendo avanços na inclusão de grupos historicamente marginalizados em espaços decisivos para economia do país, o Brasil enfrenta diversos desafios, incluindo uma elevada desigualdade de renda em comparação com o cenário global (DIAS et al., 2023). Essas desigualdades são agravadas por impactos ambientais, que aumentam os riscos para a saúde e o bem-estar. Os avanços das tecnologias digitais, que em ritmo acelerado vêm redefinindo comportamentos, padrões de trabalho e comunicação, introduzem barreiras adicionais à inclusão de grupos que ainda não alcançaram uma participação plena na sociedade (OECD (a), 2023). Novas formas de mercado e serviços têm surgido impulsionados pela tecnologia, principalmente nas áreas de STEM (acrônimo do inglês para Science, Tecnology, Engineering and Mathematics), em que as mulheres são minoria.
Apesar do ensino superior, no mundo, ser, em média, mais frequentado por mulheres, o desequilíbrio de gênero nas áreas de STEM é bastante heterogêneo, com algumas áreas alcançando equidade e outras apresentando disparidades acentuadas. A começar, a UNESCO destaca que as mulheres representam apenas 36,6% dos estudantes matriculados em STEM, (WORLD ECONOMIC FORUM, 2023). Apesar desses números, as mulheres enfrentam inúmeros obstáculos ao longo de seu desenvolvimento profissional que as impedem de acessar cargos de poder e prestígio. Em 2020, a OCDE relatou que, entre os países membros, apenas 36,6% das mulheres ocupavam cargos sênior na administração pública e apontou também um declínio nas taxas de contratação de mulheres para cargos de liderança na indústria desde meados de 2022 (WORLD ECONOMIC FORUM, 2023). Além disso, as diferenças salarias persistem, com as mulheres ganhando, em média, 12% a menos que os homens (OECD (a), 2023).
No Brasil, Machado et al. (2021) destacaram que, embora quase metade dos trabalhadores formais sejam mulheres, elas representam 26% das ocupaç õ es em STEM. Disparidades raciais também são evidentes nessas áreas, onde 70% dos indivíduos se identificam como brancos. Dias et al., (2023) por meio de uma análise estatística descritiva de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), constataram que os maiores rendimentos estavam concentrados entre homens brancos e de maior idade. Nos cursos com perspectiva de melhores salários, como os de engenharia, manufatura e construção, e os de tecnologia da informação e comunicação, as mulheres representam 35,1% e 15,3% dos egressos, respectivamente (INEP, 2023).
As influências históricas e culturais que mantêm esse cenário social desigual são complexas e moldam as percepções das meninas que, embora apresentem no ensino básico bom desempenho nas disciplinas relacionadas à STEM, se percebem com talentos inferiores aos dos meninos (TOH; WATT, 2022). O sentimento de não pertencimento representa uma das barreiras que restringe o acesso delas ao ensino superior nas áreas de STEM, contribuindo para a lacuna de gênero dentro e fora das universidades. Enfrentar o preconceito de gênero em um ambiente profundamente desigual torna ainda mais desafiador o desenvolvimento das mulheres nessa área.
A busca pela equidade de gênero é uma meta que requer esforços conjuntos por meio da difusão do conhecimento e do empoderamento feminino. O objetivo deste texto consiste em apresentar dados que descrevam um quadro atual das áreas de STEM e estimulem reflexões acerca das estratégias para a promoção da equidade de gênero nessas áreas. Nesse contexto, busca-se avaliar o perfil dos cursos ofertados pela Universidade de Brasília, a partir dos dados disponibilizados pela instituição no ano de 2023, e lançar reflexões que possam explicar o cenário atual e apontar soluções eficazes para inserir meninas e mulheres nessas áreas.
As estratégias de inserção de mulheres em STEM, exemplificadas pelas ações promovidas pelo Programa Meninas Velozes, uma iniciativa de extensão da Universidade de Brasília, representam medidas que podem ser adotadas por outras universidades do Brasil. O êxito dessas ações é fruto das várias investigações realizadas nesse campo (CORREA et al., 2014; ALMEIDA et al., 2020, 2022; CAMPOS et al., 2023). Por meio de atividades que abrangem as cinco áreas que formam o acrônimo STEAM (Ciências, Tecnologias, Engenharia, Artes e Matemática), o programa tem gerado resultados que justificam a sua continuidade como agente contribuinte para a equidade de gênero. Esse texto também abordará brevemente a dinâmica de trabalho do programa, bem como aspectos que poderiam amplificar os benefícios gerados tanto dentro quanto fora do ensino superior.
Este estudo consiste em uma pesquisa exploratória e documental e parte do pressuposto que a Universidade de Brasília (UnB) é um ente representativo no cenário educacional mundial e nacional para fins de análise. Em 2022, a UnB ofereceu 147 cursos de graduação e 171 de pós-graduação e a presente investigação envolveu o mapeamento dos cursos oferecidos na graduação, com ênfase especial na proporção de matrículas por gênero nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Os dados foram coletados a partir de relatórios internos anuais da universidade e complementados por informações de relatórios de organizações internacionais. Esses dados forneceram um parâmetro comparativo para aprofundar o entendimento sobre as questões de gênero que afetam tanto Brasília quanto o contexto global.
Além disso, são destacadas as iniciativas da Universidade de Brasília voltadas para a promoção de uma consciência crítica sobre questões de gênero e facilitar a inserção de mulheres nas áreas de STEM. Um exemplo é o Programa Estratégico “Mulheres e Meninas na Ciência: O Futuro é Agora”, de 2023, gerida conjuntamente pelo Decanato de Extensão, Decanato de Pesquisa e Inovação, e Secretaria de Direitos Humanos. Outro exemplo é o Programa Meninas Velozes, iniciativa da Faculdade de Tecnologia, que agrega projetos da Faculdade de Educação e da Faculdade do Gama.
O estudo conclui com uma leitura dos desafios enfrentados e uma reflexão sobre possíveis soluções, visando fomentar uma sociedade com participação mais ativa e equitativa.
PERFIL
A Universidade de Brasília destaca-se como uma instituição pública de ensino superior brasileira que desempenha um papel importante na transformação social em busca da justiça social. Ao longo das últimas décadas, a universidade tem implementado diversas ações afirmativas para combater a discriminação com base em gênero, raça e classe econômica (FRANCIS; TANNURI-PIANTO, 2012), facilitando o acesso e promovendo a diversidade em seu ambiente acadêmico.
A estruturação dessas ações baseou-se em investigações e debates, superando resistências e provando ser eficaz na reconfiguração de um perfil universitário mais diversificado e representativo do país. O comprometimento da Universidade de Brasília com a equidade reflete-se em sua retórica e em suas práticas tangíveis.
A preocupação com a equidade de gênero nas áreas de STEM passou a ganhar destaque no Brasil após o ano de 2014 quando começaram os incenti-
87 vos governamentais para enfrentar esse problema. Para ilustrar a evolução desse interesse, realizou-se uma pesquisa nas bases de dados Web of Science e Scopus, utilizando como strings de busca os termos em inglês “science”, “technology”, “engineering*” e “women”, com conectores “AND” para o título, resumo e palavras-chaves, no período de 2001 e 2023 (Figura 1).
A presença da Universidade de Brasília nesse contexto é evidenciada, materializando-se através de publicações científicas e ações que envolvem toda a comunidade do entorno. Essa participação indica o compromisso da UnB com a promoção da igualdade de gênero e contribui para moldar um ambiente acadêmico mais inclusivo e representativo.
Figura 1
Número de publicações nas bases WoS e Scopus entre 2001-2023
FONTE: Portal Capes
No ano de 2022, a UnB contava com 50.361 alunos matriculados em cursos de graduação e pós-graduação durante o segundo semestre. Ao analisar o perfil dos ingressantes nesse ano, observou-se que 53,3% eram mulheres, enquanto 46,7% eram homens. Embora as mulheres representassem a maioria dos estudantes, essa tendência não se refletia da mesma maneira nos cursos das áreas de STEM.
As áreas de STEM são formadas por diversos campos profissionalizantes. Dentre os cursos ofertados pela UnB, identificou-se os cursos com base
na Classificação Internacional Normalizada da Educação desenvolvida pela UNESCO e adaptada para o Brasil. Ela estabelece como campos de STEM as áreas das Ciências Naturais, Matemática e Estatística, Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação, e Engenharia, Produção e Construção (INEP, 2020).
No contexto nacional, observa-se uma vantagem feminina apenas nas áreas das Ciências Naturais, onde as mulheres correspondem a 53,1% dos ingressos no ensino superior. Contudo, essa tendência se inverte ao analisar a participação feminina nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, bem como Engenharia, Manufatura e Construção, onde representam 35,1% e 15,3% dos ingressos, respectivamente (INEP, 2023). Esses números evidenciam disparidades significativas de gênero nessas áreas específicas, indicando a necessidade contínua de esforços para promover a igualdade e incentivar a participação feminina em campos tradicionalmente sub-representados. Segundo o Anuário da Universidade de Brasília (UNB, 2023), no ano de 2022, dentre todos os estudantes regulares ativos e com trancamento geral nas áreas de STEM, as mulheres correspondiam a 31,90%. Nas áreas de Matemática e Estatística (ME) elas representaram em média 33,45% dos estudantes, por outro lado, nas áreas de Ciências Naturais elas apresentaram uma distribuição equitativa, com 50,38% do total de estudantes. No entanto, o curso de Física registrou apenas 24,57% de estudantes do gênero feminino, Figura 3.
Figura 2
Percentual de alunos ativos e com trancamento/gênero, 2022. UnB – Matemática e Estatística.
Fonte: UnB. Avaliação Interna. 2023
Figura 3
Percentual de alunos ativos e com trancamento /gênero, 2022. UnB – Ciências Naturais.
UnB. Avaliação Interna. 2023
É entre as engenharias, atualmente, na UnB, que encontramos um desequilíbrio de gênero mais acentuado. A grande área apresentou 27,66% de mulheres, abaixo da média dos países da OCDE, em 2020, 31,11% (OECD (b), 2021, p. 193). Enquanto no curso de Gestão Ambiental elas representaram a maioria, 58,39%, a Engenharia Automotiva foi o curso com a maior predominância masculina, elas representaram 9,66% dos estudantes regulares e com trancamento no ano de 2022, seguida da Engenharia Elétrica, com 14,84%. Dessa forma, a Universidade de Brasília se configura um recorte muito semelhante ao que se apresenta no mundo, demonstrando que o desbalanceamento de gênero nas áreas de STEM é um problema de todos e todas. A lacuna de gênero no ambiente acadêmico contribui para reforçar o preconceito contra as mulheres nessas áreas que muitas vezes se veem mais penalizadas ao adentrarem no mercado de trabalho.
Figura 4
Percentual de alunos ativos e com trancamento /gênero, 2022. UnB – Engenharia, Produção e Construção.
Fonte: UnB. Avaliação Interna. 2023
Nas áreas da Tecnologia de Informação e Comunicação, e nas Engenharias, as oportunidades na fase do desenvolvimento profissional não acontecem de forma igual, é o que afirma o relatório da OECD, (OECD (a), 2023). Embora nessas áreas se absorve perto de 90% da força de trabalho no mundo, mais de 91% dos homens são empregados comparados com apenas 81% das mulheres. Na América Latina estima-se que, para cada 4 homens, 1 mulher consegue se colocar no mercado de trabalho em STEM (UNESCO, 2022).
Na Universidade de Brasília, as áreas de Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) apresentaram 14,03% de mulheres, semelhante também à média dos países da OCDE, em 2020, 12,69% (OECD (b), 2021, p. 193), Figura 5.
Figura 5
Percentual de alunos ativos e com trancamento /gênero, 2022. UnB – Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação.
Fonte: UnB. Avaliação Interna. 2023
Observa-se que a Universidade de Brasília reflete um contexto bastante similar ao que ocorre globalmente. Considerando a academia como um ambiente propício para a promoção da diversidade de pensamentos, senso crítico e inovação, esse cenário permite pensar e planejar estratégias que favoreçam a participação equitativa de gênero no mercado de trabalho. A estrutura universitária concebida por Darcy Ribeiro proporciona à instituição uma interação efetiva com a comunidade externa, visando, por meio do conhecimento, incentivar a participação de mulheres nas áreas de STEM. Dessa forma, busca-se romper com os estigmas que historicamente têm excluído as mulheres dos espaços mais privilegiados da sociedade.
A lacuna de gênero nas áreas de STEM é um reflexo cultural e estrutural de uma sociedade. Ainda no ambiente familiar, o comportamento de crianças costuma ser pautado por padrões preestabelecidos e assimilados através da interação com o outro e com o ambiente. A delicadeza e suavidade são atributos das meninas, a brutalidade e força são características masculinas. Todos esses estereótipos são reforçados por crenças, pela segregação de gênero e por uma comunicação que obstaculiza qualquer ação que busque a participação equitativa de homens e mulheres em favor do desenvolvimento de produtos e serviços que promovam o bem-estar de todos.
Trabalhar para a equidade de gênero significa romper com uma comunicação que está presente em todas as fases da vida em sociedade. As instituições acadêmicas têm uma responsabilidade e um potencial grande na reconstrução de um novo design social. São nesses ambientes onde a autoestima e a autopercepção são também moldadas, bem como as atitudes e expectativas são fortemente influenciadas.
Estudos revelam que apesar das meninas apresentarem melhores rendimento em matemática, elas não se percebem capazes (OECD (c), 2023). A falta da representação feminina em espaços predominantemente masculinos, especialmente nas áreas STEM, torna-se também um desestímulo para a inserção das meninas, que ainda são vítimas de uma autopercepção destorcida em virtude de sua condição de gênero. Seu bom rendimento nas áreas das exatas, quando no ensino básico, não é mais forte no direcionamento de suas escolhas quanto às mensagens, diretas ou indiretas, que reafirmam os padrões vocacionais estabelecidos.
No Brasil, a representação de mulheres em cargos de liderança na área de Ciência e Tecnologia está entre 0% e 2% (UNESCO, 2022, p. 8). Isso revela que as estratégias para a equidade de gênero devem ser reavaliadas e reforçadas com urgência. As mudanças advindas do avanço tecnológico estão cada vez mais aceleradas, exigindo, assim, que as tomadas de decisões sejam assertivas e eficientes na promoção da igualdade de gênero.
As universidades, como espaços de debates e de divulgação científica, têm um papel fundamental na meta de inserir meninas nas áreas STEM, tanto através do contato direto com estudantes como na capacitação de professores dos diversos níveis de ensino. Levar uma abordagem que reconheça a importância do trabalho das meninas em áreas como as das Engenharias ou as da Tecnologias da Informação e Comunicação, que são majoritariamente masculinas, é trabalhar o empoderamento de suas futuras capacidades intelectuais. A Universidade de Brasília tem investido em ações de promoção a equidade de gênero nas últimas décadas. Atualmente, a universidade coordena 588 entre mais de 2.182 ações. Em 2022, foram formalizados 13 projetos de extensão com enfoque de gênero direcionados às áreas de Ciências Exatas e Engenharias (UNB, 2023).
Os projetos de extensão da Universidade de Brasília que envolvem o seu entorno para a promoção da equidade de gênero estão sob duas perspectivas: (i) atividades científicas associadas a práticas de reflexões sobre o papel da mulher na sociedade; e (ii) atividades voltadas para despertar o interesse pela experimentação científica no ensino fundamental. Dentro do primeiro escopo cita-se os projetos: Meninas.comp; Meninas Velozes: Ensino Médio CEMEB; Meninas Velozes CEM-404; Meninas vamos falar de Estatística?; EureKa Meninas na Física; Meninas Pandoras na Engenharia; Atraindo meninas e jovens mulheres do DF para a carreira em Física: A consolidação do tema Estudos de gênero em Física como linha de pesquisa junto ao IF-UnB; Elas na Engenharia. No segundo caso, tem-se o projeto Meninas Acelerando no Fundamental. Tendo em vista o compromisso com a promoção de uma consciência crítica sobre questões de gênero, em 2023, foi criado o Programa Estratégico “Mulheres e Meninas na Ciência: O Futuro é Agora”, uma iniciativa gerida
pelo Decanato de Extensão, Decanato de Pesquisa e Inovação, e Secretaria de Direitos Humanos, alinhada à política de extensão da Universidade (UNB, 2000), buscando integrar ações de extensão, ensino e pesquisa.
O programa estratégico articulou mais de 20 projetos desenvolvidos por professores, técnicos e estudantes da UnB, promovendo o diálogo entre a universidade e a sociedade. Ao fomentar métodos e estratégias baseadas no trabalho coletivo e em problemas reais, o programa forma indivíduos preocupados com as necessidades de uma sociedade ética, justa, democrática, diversa e sustentável. Identificando demandas de comunidades e consolidando parcerias, o programa fortalece ações compartilhadas, promovendo diálogo com a Secretaria de Educação do Distrito Federal, setores governamentais e não governamentais (UNB, 2023).
Na Faculdade de Tecnologia, destaca-se o Programa Meninas Velozes, uma iniciativa que, em 2023, reuniu cinco projetos de extensão e um projeto de pesquisa, envolvendo a colaboração de diversas unidades acadêmicas, como a Faculdade de Educação, a Faculdade do Gama e o Instituto de Artes. Esse programa possui duas vertentes, uma destinada a apoiar alunas de escolas de Ensino Médio (ALMEIDA et al., 2022) e outra a apoiar alunas de escolas de Ensino Fundamental (ROCHA et al., 2022).
Como forma de reforçar os princípios de sororidade e conscientizar sobre a urgência da inclusão de mulheres nas áreas de STEM, o Programa Meninas Velozes tem buscado internacionalizar suas ações. Em parceria com o Projeto W-STEM da Universidade de Salamanca, atua para promover a inserção de meninas em instituições Latino-Americanas (GARCÍA-HOLGADO; GARCÍA-PEÑALVO, 2022). Há também a colaboração com a Université Sorbonne Paris Nord – França, e com a Sociedade Portuguesa para Educação em Engenharia – SPEE, por meio da Rede de Boas Práticas para a Captação de Alunas para a Engenharia. Trabalha-se fortemente na busca de outras parcerias internacionais. Os projetos adotam a abordagem da pesquisa-ação, na qual cada ação resulta de uma pesquisa prévia, cujos resultados, por sua vez, instigam uma nova investigação, influenciando o desenvolvimento de estratégias subsequentes (SHI e FOEN, 2022). Dessa maneira, as atividades promovidas seguem um ciclo composto por planejamento, execução, monitoramento, descrição dos efeitos da ação e avaliação dos resultados.
O planejamento das atividades conta com a participação ativa das estudantes de graduação e a implementação utiliza métodos e estratégias de aprendizagem ativa e significativa para o ensino básico sob o monitoramento de professores das instituições envolvidas. O grupo planeja oficinas e visitas técnicas, palestras e cinedebates integrando ao menos 2 áreas do acrônimo STEAM. O detalhamento das ações e organização dos projetos de extensão são apresentados por Correa et al. (2014) e Shzu et al. (2023).
Percebe-se que as jovens aprendizes se envolvem e reagem de maneira positiva nas atividades dos projetos, especialmente naquelas em que trabalham de forma ativa. Os resultados, colhidos por instrumentos digitais, demonstram satisfação na execução e participação das atividades por parte de toda a equipe, despertando interesse sobre os temas abordados (SHZU et al., 2023).
A elaboração de estratégias para facilitar o acesso e a permanência de meninas e mulheres em áreas de STEM é essencial. Embora as estatísticas gerais mostrem uma presença feminina significativa na universidade, observa-se a disparidade de gênero nos cursos das áreas de STEM, onde as mulheres ainda enfrentam sub-representação. Tal fato destaca a necessidade contínua de promover a igualdade de gênero e incentivar a participação feminina em campos tradicionalmente dominados por homens.
Instituiç õ es globalmente reconhecidas estão se mobilizando nessa direção. A Universidade de Brasília, por exemplo, tem adotado políticas de promoção à equidade de gênero, empregando projetos de extensão, visando ampliar a representatividade feminina em campos tradicionalmente dominados por homens. O Programa Meninas Velozes emerge como um caso de sucesso nesse aspecto, contribuindo para a equidade de gênero nas áreas de STEM.
No entanto, o contexto de Brasília e o cenário global demandam um compromisso mais robusto, requerendo a participação ativa de todas as instituições educacionais e do setor produtivo. É fundamental que esses esforços acompanhem o ritmo das transformações tecnológicas contemporâneas, visando uma sociedade mais justa e igualitária em termos de oportunidades de gênero.
Ao DPI/UnB, ao CNPq e à Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, FAP – DF pelos apoios institucional e financeiro.
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capítulo 6 a articulação dE rEdEs no i congrEsso intErnacional mulHErEs Em stEam1
Sampaio Damin Custódio Adriana Iop Bellintani
Monica Mitiko Soares Matsumoto
RESUMO: Este artigo apresenta o estudo de caso do I Congresso Internacional Mulheres em STEAM (I CIMESTEAM). O congresso teve por objetivo ampliar as conexões e integração entre academia, indústria e agentes políticos, a fim de fortalecer a cooperação regional, nacional e internacional para que possam auxiliar na formulação, implementação e avaliação de diretrizes e políticas de CT&I que integrem o panorama atual das Mulheres em STEAM (sigla em inglês para designar as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). O Congresso incluiu palestras de mulheres de reconhecida atuação e referência na área, mesas redondas com representantes de projetos de sucesso, sessões técnicas e apresentação de pôsteres com os trabalhos que estão sendo desenvolvidos, além de workshops e plenária para discutir as ações para o futuro. Nesse contexto, a estratégia do I CIMESTEAM foi debater as barreiras sistêmicas que impedem o interesse das jovens e mulheres nas áreas STEAM. Buscou com isso, entender melhor como transformações em larga escala, como industrialização, globalização, educação e políticas públicas, moldaram as desigualdades de classe, raça e gênero no Brasil na temática do evento. Mais do que uma metodologia, a educação STEAM pode ser utilizada como uma estratégia de desenvolvimento do ensino com foco na aprendizagem ativa e motivação de professores e estudantes.
PALAVRAS-CHAVE: Rede de cientistas, Mulheres em STEAM, Academia, governo e indústria.
Em que pese o Brasil dispor de estruturas e organizações voltadas para a formação e capacitação de profissionais da área de educação, ele não tem conseguido bons resultados no desempenho de seus estudantes. A necessidade de atrair estudantes talentosos e profissionais no meio acadêmico e industrial tem motivado e impulsionado o aprofundamento da investigação sobre questões
1 Artigo apresentado no COBENGE, 2023. O I CIMESTEAM é resultado do projeto Educação em STEAM do InovaLab/ITA.
relacionadas com o ensino básico, ensino superior e a formação continuada, em particular nas áreas STEAM (Ortiz-Revilla, 2018). STEAM é um acrônimo para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática. Estudos críticos indicam como a tecnologia, usada intencionalmente, pode contribuir para o aprendizado efetivo dos alunos e melhorar a diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas organizações (ELSEVIER, 2022; WEF, 2021).
De acordo com a Global Parity Alliance (2021), o mercado para DEI foi estimado em US$7,5 bilhões e está projetado para mais do que dobrar para US$15,4 bilhões até 2026 (Global Industry Analysts, 2021). De fato, o mercado global de DEI aumentará nos próximos anos. Segundo o relatório da Mckinsey and Co (2019), lidar com a sub-representação existente pode impulsionar o crescimento tecnológico e a inovação regionais, além de ser uma necessidade econômica. A Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e Tecnologias Digitais (Brasscom) aponta que até 2025 o Brasil terá um déficit de dezenas de milhares de profissionais nas áreas STEAM, o que pode dificultar o maior desenvolvimento da economia nacional (BRASSCOM, 2022).
Nesse contexto, a estratégia do I Congresso Internacional Mulheres em STEAM (I CIMESTEAM) foi debater as barreiras sistêmicas que impedem o interesse das jovens e mulheres nas áreas STEAM. Buscou, com isso, entender melhor como transformações em larga escala, como industrialização, globalização, educação e políticas públicas, moldaram as desigualdades de classe, raça e gênero no Brasil na temática do evento. Mais do que uma metodologia, a educação STEAM pode ser utilizada como uma estratégia de desenvolvimento do ensino com foco na aprendizagem ativa e motivação de professores e estudantes (UNESCO, 2018; IPEA, 2018).
O presente trabalho tem como propósito apresentar o relato das atividades extensionistas desenvolvidas no I CIMESTEAM, expondo os principais desafios dessa implementação, especialmente os decorrentes da pós-pandemia da Covid-19. Várias pesquisas têm evidenciado que o tempo gasto em cuidados não remunerados e trabalho doméstico durante a pandemia do COVID-19 tornou a situação ainda mais desafiadora para as meninas e mulheres no Brasil (TATAGIBA, CUSTÓDIO, 2022; BARROSO, 2020). De fato, o mundo continua a lidar com a pandemia e outras questões críticas, e, nessa medida, a participação igualitária e a liderança de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática (STEAM) são mais importantes do que nunca.
Este artigo apresenta o estudo de caso do I CIMESTEAM e foi estruturado com o intuito de apresentar, nas seções 1 e 2, a introdução e o contexto do congresso, apresentando a parceria da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) com o Laboratório de Inovação do ITA, mais especificamente com as pesquisadoras do projeto Educação em STEAM. Na seção 3 serão apresentadas
a metodologia e as atividades desenvolvidas no I CIMESTEAM. Em seguida, na seção 4, serão apresentadas as considerações finais.
O I CIMESTEAM foi uma iniciativa de pesquisadoras do InovaLab em colaboração com as pesquisadoras da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC). O congresso teve como foco disseminar os princípios ESG (Environmental, Social and Governance) e estimular alunas de graduação, pós-graduação e profissionais a permanecerem nas áreas de STEAM. O evento ocorreu nos dias 21 e 22 de outubro de 2022, no Parque Tecnológico de São José dos Campos/ SP, e contou com o apoio de diversas universidades, organismos não governamentais, empresas, dentre elas destacam-se a Embraer, Dassault Systèmes, EmbraerX, Flex, entre outras.
Desde 2020, as pesquisadoras do InovaLab trazem como eixo transversal de suas atividades extensionistas a discussão sobre diversidade, inclusão e equidade, de modo a destacar as contribuições plurais de iniciativas e dos grupos convidados das diferentes regiões do país. O compartilhamento de experiências e realidades tem sido fundamental para uma reflexão crítica sobre a atuação dos projetos de extensão, a ampliação de seu escopo e atuação em estratégias de desenvolvimento regional.
A RBMC é um movimento social de professoras e pesquisadoras criado durante a crise de saúde global da Covid-19, em 2020. Atualmente, a RBMC conta com 4.000 integrantes em diversas áreas do conhecimento. A Rede estabeleceu temas estratégicos para os próximos anos: i. Saúde; ii. Violência; iii. Educação; iv. Assistência Social e Segurança Alimentar; v. Trabalho e Emprego; vi. Habitação e Mobilidade. Esses temas estratégicos subsidiaram o planejamento do I CIMESTEAM. Primeiro porque as atividades da Rede atuam em projetos que inserem a importância da diversidade de trabalhadores disponíveis para STEAM. Segundo porque várias pesquisadoras da RBMC atuam nas escolas públicas e universidades dando capacitação e treinamento profissional para mulheres em áreas pobres do Brasil que não têm acesso à educação de qualidade. As atividades do congresso foram planejadas de modo a divulgar projetos e iniciativas de ensino e extensão nas áreas STEAM, por meio de painéis, mesas redondas, workshops, materiais didáticos e de canais de comunicação com uso de tecnologias educacionais e de informação (redes sociais), e aproximar empresas – com ênfase nas abordagens de educação empreendedora e metodologias transversais. O congresso contemplou dois eixos estruturantes a saber:
EIXO 1: Igualdade, Diversidade e Inclusão . Neste eixo os objetivos foram: i. mapear os programas de desenvolvimento de competências
técnicas e transversais para atrair e reter melhor o talento técnico feminino do país; ii. apoiar arranjos produtivos locais articulados com institutos e centros vocacionais tecnológicos com o intuito de geração de renda e emprego; iii. valorizar e apoiar populações historicamente sub-representadas no ecossistema de inovação e empreendedorismo.
EIXO 2: Ingresso e apoio à Progressão da Carreira Feminina nas áreas STEAM. Este eixo consistiu em apresentar pesquisas aos participantes trazendo dados sobre o mercado de trabalho com recorte de gênero e raça. Os objetivos deste eixo foram: i. estimular o acesso às carreiras nas áreas STEAM; ii. apoiar as mulheres na compreensão do planejamento e desenvolvimento da carreira por meio de atividades com parceiros nacionais e estrangeiros; iii. dar visibilidade às atividades de mulheres pesquisadoras, professoras, estudantes do ensino médio e pós-graduandas para apoiar o desenvolvimento e progressão na carreira em STEAM; iv. facilitar a troca de experiências e o apoio mútuo.
Para alcançar os objetivos definidos nos eixos estruturantes acima foram realizadas diversas atividades. A Tabela 1 apresenta o resumo das atividades do I CIMESTEAM.
Tabela 1
Resumo das atividades do I CIMESTEAM
Apresentação de Trabalho Oral 39
Apresentação de Pôsteres 38
Plenária de Ações Futuras 1
Fonte: Arquivo do projeto Educação em STEAM- InovaLab
Pesquisas têm evidenciado que a aproximação e interação entre os atores do ecossistema de inovação e empreendedorismo têm sido fundamentais para as trajetórias profissionais das mulheres (ELSEVIER, 2022, IPEA, 2018). Além disso, a experiência adquirida com as atividades e a colaboração com outras instituições possibilitaram às participantes envolvidas mais qualificação na me-
101 dida em que foram introduzidas a novas técnicas e ferramentas de ensino com base em abordagens interdisciplinares, metodologias ativas e princípios ESG.
Esta seção expõe um descritivo do I Congresso Internacional Mulheres em STEAM, seus objetivos, metodologias, e, principalmente, os desafios da implantação da rede de projetos de extensão nas áreas de STEAM, dando destaque às etapas de planejamento e desenvolvimento do I CIMESTEAM.
O propósito geral do congresso consistiu em desenvolver diversas ações voltadas a buscar uma maior inserção de meninas e mulheres nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática. Para tanto, o evento foi estruturado em distintas atuações, subdivididas em: gestão organizacional, articulação de redes, marketing, eventos, produção de textos para imprensa, painéis, workshops, oficinas, sessões técnicas e sessões de pôsteres. Cada frente foi responsável pelo desenvolvimento de objetivos específicos e interdependentes. A Gestão Organizacional esteve voltada a operacionalizar um planejamento amplo e desenvolver atividades de integração entre os próprios membros da comissão organizadora. O congresso buscou criar um ambiente que estimulasse uma educação de qualidade e inovação de aprendizagem ativa nas áreas STEAM, dando destaque aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável números 3, 4, 5 e 11. Primeiro, abordando a igualdade de gênero e capacitando mulheres e jovens (Objetivo 5). Em segundo lugar, buscando destacar o trabalho decente e estratégias de desenvolvimento econômico (Objetivo 10). O evento estimulou a cooperação interdisciplinar entre várias universidades, institutos e organizações que atuam nas áreas STEAM para melhorar a diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas organizações.
Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável norteadores do congresso
As atividades propiciaram diversas interações entre instituições, gestores, professores e estudantes, empresas e parques tecnológicos do país. Nesse
Sampaio D. CuStóDio / aDriana iop Bellintani / João CláuDio B. De moraeS (orgS.)
102 contexto, foram apresentadas diversas metodologias, dentre elas se destacaram as metodologias ágeis e a cultura maker por envolver aspectos culturais, técnicos, científicos voltados a soluções inovadoras e com alto potencial de replicação e multiplicação para as redes públicas de ensino fundamental e médio. O evento criou ambientes de estímulos que tinham atuação direta nas comunidades escolares escolhidas, de modo a impactar diretamente as relações de ensino-aprendizagem no ensino médio e fundamental público. Desde 2021, o I CIMESTEAM começou a ser definido e planejado por uma comissão organizadora nacional. Algumas pesquisadoras que participaram da organização do I Simpósio de Mulheres em STEM, no ITA, fizeram um levantamento de interesses por temas, realizado via formulário (google forms) enviado às participantes do simpósio, os temas classificados como “muito relevantes” são apresentados na Tabela 2, em ordem de interesse.
Tabela 2
Descrição de temas de maior interesse para o I CIMSTEAM
Eixo temático
Mulheres e mercado de trabalho
Percentual
79,6%
Novas metodologias de ensino, pesquisa e extensão voltadas ao incentivo de meninas e mulheres na área de STEM 59,2%
Lideranças femininas no setor privado 57,1%
Violência, violações e direitos de gênero 57,7%
Fonte: Arquivo das autoras
A partir das análises e tendências observadas, foi possível alinhar os temas e estratégias de aprendizagens que seriam abordados no congresso, além dos melhores horários e dias para o engajamento, público-alvo, trazendo subsídios para o melhor planejamento de ações do evento e maior articulação de redes que atuam em atividades extensionistas.
3.1. Atuação em rede e articulação de redes
O principal objetivo do evento foi criar oportunidades para jovens e mulheres se inspirarem nas carreiras STEAM de modo a identificar os desafios e necessidades do mercado de trabalho na área. Além disso, os empregadores tiveram acesso a um canal de talentos diversificado para atender às suas necessidades de recrutamento e ajudá-los a divulgar suas vagas. Ao promover uma
103 abordagem multidisciplinar e integrada, a ênfase buscou fornecer às participantes experiências de aprendizagem STEAM interdisciplinares de qualidade para resolver problemas do mundo contemporâneo. No Brasil, conforme Censo de Educação Superior (2017), 36% das mulheres se casam antes dos 18 anos. O estudo sinaliza a correlação direta entre casamento infantil e abandono escolar e, consequentemente, impacto na renda na vida adulta dessas mulheres, além de aumentar o risco de violência doméstica e mortalidade materna e infantil. Atualmente, menos meninas concluem o ensino médio em comparação aos meninos. Por conta desse cenário, a comissão organizadora do CIMESTEAM articulou diversas ações com o intuito de estimular a inserção de mulheres nas ciências de modo a fomentar a implementação de soluções inovadoras que contribuíssem para aprimorar o ensino e o aprendizado de ciências; além de incentivar o uso de novas tecnologias educacionais e novos métodos de ensino de ciências de modo a ampliar o acesso à formação e fortalecer a interação entre escolas de educação básica, instituições de ensino superior, espaços de ciência e outras instituições. Para atingir os objetivos acima descritos nos eixos temáticos, o congresso adotou algumas ações integradas e articuladas em rede.
Nesse contexto, contar com a participação das pesquisadoras da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) foi essencial para que as instituições compreendessem seus desafios de implantação de ESG, e considerassem a necessidade de incentivar pessoas com características protegidas, como gênero e raça, gravidez e maternidade, a participarem do mercado de trabalho ou de outras atividades em que sua participação é baixa. De fato, a parceria da RBMC permitiu que o evento conectasse redes nacionais e internacionais para criar novos modelos e metodologias a partir do trabalho colaborativo com representantes dos setores administrativo, industrial, educacional e tecnológico. Nessa medida, a estratégia do planejamento do evento envolveu primeiro reunir grupos de mulheres pesquisadoras do Brasil e direcionar seus trabalhos para aplicações práticas dentro dos eixos temáticos do evento e depois conectar com redes internacionais como foi o caso do Workshop Women in computer Science and engineering: from bits to gigabytes com a participação da Universidade de Essex, no Reino Unido, e com a apoio do Conselho Britânico.
Atividades realizadas no I Congresso Internacional Mulheres em STEAM
O evento estabeleceu um design no qual identificou e incorporou fatores externos (aspectos e recursos socioeconômicos e culturais da escola e da localidade) e internos (infraestrutura, projeto pedagógico, ferramentas de gestão, formação de professores, trajetória escolar e interesses dos alunos). Embora
o contexto familiar ou socioeconômico contribuam para reduzir o acesso às oportunidades aos estudantes carentes, eles não foram priorizados nos debates e atividades do congresso.
As discuss õ es dos painéis trataram de oportunidades de trabalho e negócios, abordando iniciativas e boas práticas para a universaliza çã o do acesso aos bens gerados pelo desenvolvimento cient í fico e tecnol ó gico nas áreas STEAM. Além disso, debateram a formação de carreira e capacitação de mão de obra para dotar o perfil do egresso de conhecimentos e habilidades para atender às demandas da sociedade por profissionais altamente qualificados nessas áreas.
Painel Ecossistema de inovação e empreendedorismo
Foram organizados 4 workshops a saber: i. Workshop Educação em STEAM; ii. Workshop Engenharia do futuro; iii. Workshop Women in computer Science and engineering: from bits to gigabytes; iv. Autoconhecimento é Empoderamento! Medindo e gerenciando a inteligência emocional.
O objetivo das atividades realizadas nos workshops foi apresentar soluções inovadoras que contribuíssem para o aprimoramento do ensino e do aprendizado de ciências. Essas atividades foram desenvolvidas em colaboração com os docentes das escolas e seus gestores, introduzindo novas formas contextualizadas para desenvolver o ensino de ciências nesses ambientes de ensino. Assim, o uso de novas tecnologias educacionais e novos métodos de ensino de ciências permitiram um melhor aprendizado por parte das participantes.
O workshop Educação em STEAM foi realizado nos dois dias e teve a preocupação com o letramento científico e a defesa e difusão da ciência e seus métodos. Foram apresentados os trabalhos de estudantes do ensino médio dos Colégios Alpha Lumen, Embraer, projetos de extensão de tecnologias sociais e
105 assistivas produzidos por estudantes de graduação de vários estados, destacando os trabalhos do Estado da Bahia e Rio de Janeiro. No primeiro dia do workshop Educação em STEAM, contamos com a participação de cem (100) estudantes do ensino médio e as alunas do Colégio Embraer apresentaram trabalhos de divulgação da ciência e robótica.
Figura 3
Workshop Educação em STEAM
Arquivo do projeto Educação em STEAM – InovaLab
O estande Alpha Lumen criou um ambiente de imersão em tecnologia com o robô #1860 e outros temas de robótica. Foi apresentado também o projeto Meninas na Tecnologia.
Figura 4
Workshop Educação em STEAM
Fonte: Arquivo do projeto Educação em STEAM- InovaLab.
Os espaços criados estimularam o desenvolvimento de habilidades técnicas e sociais das alunas do ensino médio, e desenvolveram canais de comunicação com a sociedade para estimular o aumento de ingresso de mulheres nas áreas de STEAM, divulgando os materiais didáticos, redes sociais de popularização, disseminação das ciências produzidos pelas instituições participantes e, sobretudo, dando destaque às áreas e formação esperada das profissionais do futuro.
As Figuras acima mostram exemplos da estratégia “STEAM em ambientes educacionais”, além de práticas pedagógicas de aprendizagem ativa “STEAM com replicação nas escolas”, onde oficinas foram executadas para evidenciar como as escolas podem aplicar o ensino tecnológico em um espaço maker para engenheiras, tecnólogas e profissionais preparados para a nova realidade digital. Com esses espaços, as estudantes puderam aplicar teorias e tecnologias aprendidas em projetos de ciências, consolidando o conhecimento com a prática e aprimorando suas habilidades de ciências e tecnologia.
Resultados e discussão sobre o I Congresso Internacional Mulheres em STEAM
A comissão organizadora buscou o engajamento do público-alvo nas redes sociais, com a produção de conteúdo digital, levantamento de assuntos relacionados aos interesses do evento com o intuito de maior integração da Rede Brasileira Mulheres em STEAM. Visou com isso, definir estratégias de comunicação, de âmbito nacional e regional, além de produzir lives, workshops e eventos on-line, abertos a todos os públicos, transmitidos no canal do YouTube de canais parceiros.
O congresso contou com um número considerável de participantes. Com o intuito de evidenciar o alcance das atividades, a Tabela 3 mostra a quantidade de participantes de diferentes regiões do país, no qual permite constatar um significativo alcance que as atividades do congresso tiveram, o que implica afirmar que esse formato tem se mostrado relevante para as atividades presenciais. A Tabela 3 apresenta o resumo das participações no congresso.
Tabela 3
Resumo das participações no I CIMESTEAM.
Trabalhos
Universidades, institutos e centros de pesquisa
Fonte: Arquivo do projeto Educação em STEAM – InovaLab
Os painéis, mesas redondas, workshops juntamente com as sessões técnicas e sessões de pôsteres debateram sobre a importância da ciência para formulação, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas para a área de C&T.
Figura 6
Workshop Women in computer Science and engineering: from bits to gigabytes
Fonte: Arquivo do projeto Educação em STEAM – InovaLab
O grupo da produção de textos cuidou, propriamente, da organização de trabalhos científicos orais e pôsteres, além de subsidiar a assessoria de imprensa com notas a serem publicadas em outros eventos acadêmicos e outros meios de difusão internacionais e nacionais, contribuindo para que as ações do evento fossem difundidas em diferentes áreas do conhecimento e regiões.
Organizado por professoras do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), por pesquisadoras da RBMC e pelo PqTec, o evento contou com o patrocínio das empresas (Embraer-X, Embraer, Dassault Systèmes e Flex), e apoio institucional de diversas organizações (MIT Brazil, Porto Digital, CNPEM, Inova Unicamp, CETENE, ABES, ANPEI, RME, Plug and Play Brazil) e instituições de ensino (Alpha Lumen, Instituto Embraer, Unicamp, UFPA, UnB, UFSCar, UNESP; IFSP, USP, UFBA, UFRGS entre outras).
O impacto do evento foi muito positivo com ampla divulgação em diferentes regiões no país como site da FAPESP, site do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), site do programa de pós-graduação em Engenharia Industrial da Universidade Federal da Bahia – PEI UFBA, Portal Trânsito Aberto, jornal O Vale, jornal Dia a Dia, divulgação no portal SP Rio+, entrevista veiculada no portal SP Rio, CBN e canais abertos de rádio e TV regionais, entre outras.
A partir de um panorama geral acerca das atuações específicas e interdependentes dos subgrupos organizados no âmbito do I CIMESTEAM, o presente trabalho teve o propósito de apresentar os principais desafios vivenciados pela comissão organizadora do evento. A escolha da apresentação do congresso como estudo de caso deveu-se, sobretudo, pela participação de um grande número de redes extensionistas integradas em ações que afetam, em maior grau, empresas, instituições de ensino médio e instituições do ensino superior envolvidas no congresso, como organizadoras ou participantes.
Como evidenciado, as diversas atividades no congresso tiveram como objetivo desenvolver atividades práticas, por meio de workshops e oficinas, de modo a fomentar o interesse e curiosidade de jovens meninas para essas áreas. A atuação das oficinas e workshops ocorreram mediante o desenvolvimento de quatro estratégias metodológicas presenciais, quais sejam, “STEAM e lideranças femininas”, que consistiu no recebimento de palestrantes de reconhecida trajetória nas áreas do evento; “STEAM em ambientes educacionais”, voltado à imersão de experiências científicas e práticas para pessoas que visitaram os espaços do congresso no PqTec de São José dos Campos; “STEAM e disseminação das ciências”, com apresentação de atividades extensionistas relacionadas aos temas do congresso a fim de implementar atividades de ofi-
109 cinas e possibilitar sua posterior replicação pelo corpo docente da instituição de ensino; e “STEAM e políticas públicas” com debates sobre a importância da ciência para formulação, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas para a área de C&T.
O Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec) foi o local ideal para a realização do evento, que não era apenas acadêmico, mas também voltado para a inovação tecnológica nas empresas. Além disso, a grande concentração de pessoas nos ambientes urbanos, somada a questões ambientais, econômicas e sociais, trouxe à tona a necessidade de compor uma agenda voltada à implementação de políticas de sustentabilidade, ensejando tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, sendo um dos grandes desafios da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
No evento foi possível compartilhar experiências, criar uma rede de relacionamento entre os projetos e iniciativas, conhecer os programas em andamento, analisar o panorama atual das Mulheres em STEAM, ampliando as conexões e integração entre os grupos, a fim de fortalecer a cooperação regional, nacional e internacional para que seja possível formular, implementar, avaliar e propor diretrizes e políticas de CT&I para as áreas.
Por fim, pode-se afirmar que uma parte considerável das atividades projetadas pela comissão organizadora do I CIMESTEAM foi possível de ser realizada mesmo em meio ao desafio de conectar academia, governo e indústria. Os desdobramentos e as novas atividades que podem ser criadas têm a perspectiva de se tornarem permanentes desde que haja uma maior articulação e presença das redes extensionistas, mas sobretudo com a retomada de investimentos na área de C&TI.
Agradecemos aos integrantes do projeto Educação em STEAM: servidoras, alunas e alunos de graduação e pós-graduação pela contribuição nas atividades desenvolvidas, às professoras e pesquisadoras associadas ao InovaLab e à Rede Brasileira de Mulheres em STEAM. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura e por possibilitar a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, às empresas e organizações que deram suporte financeiro para a realização do I CIMESTEAM, em especial à ITAEx.
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110
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oBjEtivo
consolidação
rEdE
Paula Cristina Gomes Fernandes
Natasha Mayhassen de Souza
Sophia Rodrigues Laranja
Natália Jodas
Fernanda de Andrade Pereira
Monica Mitiko Soares Matsumoto
Sueli Sampaio Damin Custódio
RESUMO: Este artigo apresenta o projeto de extensão e apoio à diversidade STEM2D, cujo objetivo principal é estimular jovens meninas e mulheres a entrar e permanecer nas áreas de STEM²D: Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Manufatura e Design. Desde a criação, o projeto possui três objetivos principais, sendo estes: i. desenvolver atividades de extensão que despertem o interesse e promovam o engajamento de meninas e jovens nas áreas de STEM; ii. apoiar as alunas de Graduação no desenvolvimento de habilidades técnicas e sociais, a fim de permanecerem na área; iii. desenvolver canais de comunicação com a sociedade, ampliando a rede de mulheres em STEM. O projeto está estruturado em diferentes atuações, divididas em grupos: oficinas, mentoria, rede, marketing, eventos, curso de programação e projetos técnicos, mas o objetivo deste trabalho é dar destaque às atividades do grupo Rede. Cada grupo é responsável pelo desenvolvimento de objetivos específicos autonomamente. O grupo Rede cuida do relacionamento institucional do projeto com outros grupos e organizações, do engajamento, formalização e integração da Rede Brasileira Mulheres em STEM, bem como da organização das edições do Simpósio Brasileiro de Mulheres em STEM, além de produzir lives, workshops e eventos on-line junto com o grupo de Eventos, transmitidos no canal do projeto do YouTube. Nesse artigo, chamamos a atenção para as diversas formas como a desigualdade de gênero se expressa e como os movimentos em rede estão se articulando para enfrentá-las.
PALAVRAS-CHAVE: Rede de Mulheres em C&T. Mulheres em STEM. Educação em STEM.
Criado em 2016, o projeto Mulheres em STEM²D nasceu a partir de uma parceria entre o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a empresa
1 Artigo apresentado no evento “A arte da formação em engenharia para os desafios do desenvolvimento sustentável”, Cobenge, 2022.
Johnson & Johnson como um projeto de extensão e apoio à diversidade, cujo objetivo principal é estimular jovens meninas e mulheres a entrar e permanecer nas áreas de STEM²D: Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Manufatura e Design.
O projeto é conduzido por professoras e pesquisadoras em colaboração com alunas e alunos de graduação e pós-graduação. Além do objetivo principal, o projeto busca, ainda, impulsionar seus integrantes e alunas a desenvolverem habilidades técnicas e sociais por meio de atuações interdisciplinares em diferentes grupos.
As atividades desenvolvidas pelo projeto incluem desde a realização de oficinas em escolas de ensino fundamental e no parque da cidade de São José dos Campos; atividades de mentoria para meninas do ensino fundamental e médio; cursos de programação gratuitos, organização de palestras e eventos; organização e gestão de redes sociais na busca de ampliar a visibilidade e alcance do projeto, até debates temáticos com recortes de equidade de gênero (ONU-MULHERES, 2020; IPEA, 2021). Conforme exposto, o projeto é estruturado em diversas frentes de atuação, mas o objetivo deste trabalho é dar destaque às atividades do grupo Rede.
Em 2018, o grupo Rede foi concebido com o intuito de levar o projeto às outras universidades, a fim de auxiliá-las na implementação de projetos similares, dando ênfase à popularização da ciência. Após a criação do grupo Rede, as integrantes do projeto Mulheres em STEM²D visitaram outras universidades para apresentar as atividades desenvolvidas. A partir das primeiras visitas, alunas do Instituto Militar de Engenharia (IME) tiveram suporte para a criação do projeto “STEM IME” – projeto com objetivos semelhantes que atua na realização de palestras e ações sociais e educacionais, como a aplicação de oficinas em escolas públicas na região do Rio de Janeiro.
Em 2019, o grupo promoveu o “I Encontro Rede Mulheres em STEM²D” para que alunas de outras instituições apresentassem e compartilhassem informações e as atividades desenvolvidas por elas em outros projetos. O encontro contou com a participação de 6 grupos e cerca de 20 participantes e possibilitou o fortalecimento das relações e integração entre as participantes. Em 2020, com a organização do I Simpósio de Mulheres em STEM, somando 350 participantes, o grupo Rede do projeto STEM²D incorporou outros objetivos em seu escopo de atuação, tais como o de destacar a importância da divulgação científica, das políticas públicas orientadas pelo gênero, por acreditar que o avanço da democracia e da justiça social está intrinsecamente relacionado à promoção da equidade.
Este artigo foi estruturado com vistas a apresentar os objetivos, as metodologias utilizadas e os impactos do grupo Rede do projeto mulheres em STEM²D desde sua criação. Na seção 2 serão apresentadas as atuações do
113 grupo Rede dentro e fora do projeto. Em seguida, na seção 3, será apresentada a metodologia empregada antes e durante o período da pandemia do COVID-19. Por fim, nas considerações finais da seção 4, serão abordados os principais resultados obtidos pelo grupo Rede do projeto.
O projeto STEM2D está estruturado em diferentes atuações, subdivididas em grupos: oficinas, mentoria, rede, marketing, eventos, curso de programação e projetos técnicos. Cada grupo é responsável pelo desenvolvimento de objetivos específicos autonomamente. O grupo Rede cuida do relacionamento institucional do projeto com outros grupos e organizações, engajamento nas redes sociais, produção de conteúdo digital, levantamento de eixo-temáticos relacionados aos interesses do projeto, formalização e integração da Rede Brasileira Mulheres em STEM e da organização das edições do Simpósio Brasileiro de Mulheres em STEM, além de produzir lives, workshops e eventos on-line junto com o grupo de Eventos, transmitidos no canal do projeto no YouTube. Conforme Scherer-Warren (2005), os movimentos sociais foram diretamente impactados com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação. Cada vez mais se estabelecem redes virtuais de mobilização, que englobam demandas e objetivos semelhantes e compartilhados entre os atores e favorecem a atuação em favor de causas coletivas. Nesse contexto, duas dimensões para a atuação em Rede serão abordadas: i. espacialidade – com o surgimento de novos espaços ou territórios (virtuais e reais), bem como suas interações; e ii. sociabilidade, a partir da apresentação de novas formas de relações sociais, de seu alcance e conectividade, com dimensões da esfera pública.
Devido à pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2), mudanças significativas ocorreram e as atividades que eram realizadas de forma presencial nas escolas e em outras instituições tiveram de ser adaptadas ao formato on-line. Nesse período, o grupo Rede atuou conjuntamente com outros grupos do projeto em diversas frentes, com ênfase na criação do canal no Youtube do projeto Mulheres em STEM2D, na intensificação do uso de redes sociais e no planejamento, análise das métricas e estatísticas do canal, que refletem o impacto e o alcance das atividades desenvolvidas pelo projeto.
Desde a criação, o projeto possui três objetivos principais, sendo estes: i. desenvolver atividades de extensão que despertem o interesse e promovam o engajamento de meninas e jovens nas áreas de STEM; ii. apoiar as alunas de Graduação no desenvolvimento de habilidades técnicas e sociais, a fim de permanecerem na área; iii. desenvolver canais de comunicação com a sociedade, ampliando a rede de mulheres em STEM. No cenário de pandemia, o grupo Rede deu destaque aos seguintes objetivos específicos:
1. Democratizar o conhecimento e popularizar a ciência com enfoque na justiça social;
2. Intensificar a qualificação de professoras e professores de Educação Básica para o ensino de ciências, dando atenção especial para a diversidade e inclusão;
3. Incentivar a maior participação feminina em cargos de liderança, observando-se aspectos institucionais, econômicos, sociais, técnicos e culturais, com articulações em rede;
4. Impulsionar a equidade de gênero como diretriz nas políticas públicas brasileiras;
5. Promover o debate de equidade de gênero no âmbito do ensino, pesquisa e extensão.
A escolha dos objetivos específicos acima foi feita porque as carreiras em ciência, engenharia, tecnologia e áreas correlatas são, fundamentalmente, dominadas pelo gênero masculino (UNESCO, 2018, p. 11). Ademais, há de se ter atenção a aspectos que impactam e restringem as possibilidades de desenvolvimento profissional das mulheres em todas as áreas e, mais especialmente, nas áreas de STEM.
Desde 2020, o grupo Rede tem a preocupação de trazer como eixo transversal de suas atividades a discussão sobre diversidade, inclusão e equidade, de modo a destacar as contribuições plurais de iniciativas e dos grupos convidados das diferentes regiões do país. O compartilhamento de experiências e realidades foi fundamental para uma reflexão crítica sobre a atuação do projeto e ampliação de seu escopo. Na presente seção, o item 3.1 retrata a atuação do grupo Rede antes da pandemia, enquanto que os itens 3.2 e 3.3 centram-se nas ferramentas e adaptações efetuadas no contexto pandêmico. O item 3.4, por sua vez, relata a projeção do grupo no presente e frente à retomada das atividades presenciais.
Pouco antes do decreto da pandemia do novo Coronavírus (Sars-Cov-2), em março de 2020, o projeto realizou o “I Simpósio Mulheres em STEM”, evento de grande porte, que reuniu 350 participantes com projetos e iniciativas de todo o País, Figura 1.
Fonte: Arquivo do projeto Mulheres em STEM2D
O Simpósio contemplou 7 atividades, sendo 2 palestras de mulheres de reconhecida atuação, 2 mesas redondas com representantes de projetos de sucesso e referência na área, 6 workshops, 6 sessões de apresentações orais, 2 sessões de pôsteres com os trabalhos desenvolvidos pelas participantes, além de 2 rodas de conversa e uma plenária sobre ações para o futuro.
Tabela 1
Fonte: Autoras
Dos resumos recebidos, 145 trabalhos foram publicados nos anais do evento. A Tabela 1 sumariza e quantifica a amplitude das participações. Na Figura 2, foram selecionadas imagens de apresentação de pôster (esquerda) e apresentação oral de trabalho (direita).
Tabela 2
Trabalhos recebidos e apresentados no I SMSTEM
Trabalhos
Recebidos
Publicados nos anais do evento
Total
182
145
Selecionados para apresentação oral 32
Aceitos para apresentação em pôster 113
Fonte: Arquivo do projeto Mulheres em STEM²D
Figura 2
Participantes do I SMSTEM apresentando trabalhos no formato de pôster (esquerda) e apresentação oral (direita)
Além de atrair jovens profissionais e estudantes das áreas de STEM, o evento teve também o objetivo de promover a divulgação científica, por meio da exposição de trabalhos e atividades realizadas em todo o território brasileiro. O conceito do evento pautou-se na ideia de que a qualidade da educação na escola pública pode ser o termômetro que define o tipo de cidadania que o país está formando ou que pretende formar. Mais do que
117 uma metodologia, a educação STEM ( Science, Technology, Engineering and Mathematics ) pode ser utilizada como uma estratégia de desenvolvimento do ensino com foco na aprendizagem e motivação de professores e estudantes (ADAMUTI-TRACHE; SWEET, 2014; IPEA, 2018). Nesse contexto, um grande destaque do evento foi o workshop “Inovação em ensino STEM para aplicar em escolas da rede pública” com mais de 100 participantes, conforme demonstrado na Figura 3. O workshop teve o escopo de compartilhar as estratégias utilizadas pelo projeto na aplicação de oficinas em escolas públicas – objetivo alinhado aos interesses do grupo Rede em divulgar e auxiliar na realização de iniciativas semelhantes.
O evento causou um grande impacto entre as participantes e, na plenária final, ficou estabelecida a ocorrência da segunda edição do Simpósio, a partir do envolvimento de instituições oriundas de várias regiões do país na sua organização. Foi acordada a periodicidade de 2 (dois) anos para a realização de um novo simpósio de abrangência nacional e/ou internacional.
A plenária final deliberou também a criação de uma Rede, integrada por representantes das diversas instituições participantes, com a finalidade de estreitar parcerias e buscar apoios institucionais para a promoção da temática do evento.
Conjuntamente, foram aprovadas as “Ações para o Futuro”, isto é, diretrizes gerais a serem buscadas pela Rede. Foram indicadas, entre outras, a elaboração de uma Carta do I Simpósio Brasileiro Mulheres em STEM, a partir do mapeamento e consolidação dos dados referentes aos projetos apresentados durante o evento; a necessidade de que o eixo temático da violência de gênero esteja presente nas próximas discussões; a recomendação de que as profissionais, pesquisadoras, professoras de outras áreas do conhecimento (Sociologia, Filosofia, Direito, psicologia, entre outras) acompanhem a formação da rede e de seus eventos e construções, para auxiliar nos processos de problematização de gênero, uma vez que o debate de gênero existe há muito tempo nas ciências humanas e que interdisciplinaridade é um caminho frutífero para a qualidade dos debates. Por fim, a plenária do evento deliberou e confirmou a importância da consolidação da rede Mulheres em STEAM, formada por representantes de instituições participantes, com o objetivo de aprofundar parcerias e promover o tema.
Atualmente, as realizações do grupo Rede incluem reuniões estratégicas visando ao apoio e colaboração; realização de eventos online (cenário pandemia); controle e análise das métricas de impacto e alcance dos vídeos no canal do Youtube do projeto.
3.2. Canal do Youtube “Mulheres em STEM2D”
Em 2020, no cenário de distanciamento social e de trabalho remoto, o projeto precisou reinventar suas abordagens para que o trabalho não fosse descontinuado. As oficinas então começaram a ser produzidas no formato de vídeos publicados no canal do Youtube do projeto Mulheres em STEM2D –criado no mesmo ano. Além das oficinas, foram publicados vídeos de curiosidades sobre as áreas de STEM2D; mulheres que impactaram a ciência ao longo dos anos e suas realizações: conteúdo produzido pelos grupos de oficina e marketing, gerenciados pelo grupo da Rede.
O aumento nas proporções de reuniões e encontros transmitidos ao vivo, durante os primeiros meses da pandemia, movimentou os grupos Rede e Eventos a organizar debates e encontros no formato virtual. Na Tabela 2 estão dispostos os temas debatidos em cada um dos eventos realizados pelo grupo Rede e suas visualizações, e, na Figura 4, algumas das artes desenvolvidas para divulgação dos eventos.
Tipo
Tabela 3
Eventos transmitidos ao vivo pelo Youtube
Tema debatido
Alcance (Visualizações)
Bate-Papo Desafios no ambiente de trabalho 121
Bate-Papo Soft skills 161
Mesa redonda Carreira e maternidade 362
Bate-Papo Engajamento de liderança 156
Mesa redonda Mulheres na engenharia 130
Mesa redonda Trabalho remoto e seus impactos 147
Mesa redonda Ciência de dados na educação pública 88
Mesa redonda Rede brasileira de mulheres cientistas 77
Fonte: Analisador de métricas do canal do Youtube “Mulheres em STEM2D”
Nesse período, o grupo Rede buscou apresentar a mobilização civil organizada em diferentes regi õ es em redes sociais virtuais, expondo os múltiplos tipos de atuaç õ es e aç õ es coletivas voltadas para a inserção de meninas e jovens nas áreas de STEAM. Buscou-se, com isso, explorar a diversidade identitária dos atores envolvidos, a transversalidade nas demandas por direitos, as diferentes formas de ativismo e de empoderamento, por meio de articulaç õ es em rede e, finalmente, a participação política dos movimentos em rede que pesquisam e desenvolvem atividades com recorte de gênero (UNESCO, 2021). Esses espaços virtuais, estruturados na internet, têm permitido novos formatos de organização social e a criação, estabelecimento e repercussão de movimentos sociais em várias partes do mundo a partir de comunicação segmentada e agenda de direitos direcionada às mulheres. No Brasil, vários estudos têm demonstrado que a desigualdade social tem rosto de mulher (BARROSO, GAMA, 2020). Em situaç õ es de crise, como a vivenciada pela pandemia da COVID-19, são sempre as mulheres as mais atingidas (REIS et al. , 2020).
Figura 4
Fonte: Redes sociais do projeto Mulheres em STEM²D
Outro importante papel do grupo foi desempenhado pela análise das métricas e estatísticas do canal que refletem o impacto e o alcance das atividades desenvolvidas pelo projeto. Na Tabela 3 estão organizados os números mais relevantes nessa análise e que demonstram a tendência do crescimento do canal e do seu alcance.
Tabela 4
Quantificação do impacto e métricas do canal.
Fonte: Analisador de métricas do canal do Youtube “Mulheres em STEM2D”. *Impressões: número de vezes que os vídeos aparecem nas pesquisas de usuários do Youtube
A partir das análises e tendências observadas, foi possível alinhar, por exemplo, o tempo de duração das “lives” com a retenção do público, os melhores
121 horários e dias para o engajamento, publicações e até indicativos de interesses, trazendo subsídios para o melhor planejamento de ações do projeto. Na tabela 3 evidencia-se o aumento expressivo de visualizações e o maior impacto das ações em 2021 quando comparados ao ano de 2020.
Além da gravação das oficinas em vídeos, a produção de um material didático foi iniciada no intuito de documentar didaticamente as atividades com instruções e fundamentação teórica. A produção do e-book vai auxiliar, ainda, no processo de mentoria para o estabelecimento de outros projetos similares ao Mulheres em STEM²D, realizado no começo do grupo de Rede e que deve ser retomado agora com as atividades presenciais.
A identidade visual do e-book foi desenvolvida pelo grupo de Marketing, mantendo as cores padronizadas para cada uma das áreas do STEM2D, conforme demonstrado na Figura 5
Cada oficina é composta por classificação de público-alvo, tempo estimado e grau de complexidade; lista de materiais necessários para a atividade; instruções prévias; atividade proposta a ser desenvolvida e conceituação teórica ou curiosidades sobre o tema da oficina. Espera-se que esse formato de construção do material aborde, de forma clara, os objetivos a serem atingidos pela atividade.
Pelo menos 23 oficinas, dispostas nas áreas de STEM²D, serão formatadas para finalização do material didático contendo, inclusive, acesso direto ao vídeo da oficina publicado no canal do Youtube.
Com o retorno das atividades presenciais e a redução da necessidade de medidas restritivas extremas, desde 2021 o II SMSTEM começou a ser definido e planejado com uma comissão organizadora nacional. Em análise preliminar dos interesses para eixos temáticos, realizada via formulário (google forms) enviado aos integrantes do projeto, os temas classificados como “muito relevantes” são apresentados na Tabela 4, em ordem de interesse.
Tabela 5
Eixos temáticos de maior interesse para o II SMSTEM
Eixo temático
Mulheres e mercado de trabalho
Novas metodologias de ensino, pesquisa e extensão voltadas ao incentivo de meninas e mulheres na área de STEM
Lideranças femininas no setor privado
Violência, violações e direitos de gênero
Fonte: Arquivo Mulheres em STEM²D
Percentual
79,6%
59,2%
57,1%
57,7%
Uma forma de promover a cidadania e a justiça social pode ser encontrada na criação e ampliação dos espaços que fomentam maiores possibilidades de interação e conectividade entre grupos, de modo que estes participem de discussões e ações para o alcance de objetivos, anseios e demandas coletivas. Nessa medida, as redes sociais virtuais parecem ser importantes instâncias nas
123 quais as demandas de ensino em áreas de STEM, com recorte de gênero, podem ser identificadas e reconhecidas como coletivas.
O presente trabalho teve o propósito de apresentar o relato das atividades desenvolvidas pelo grupo Rede, expondo os principais desafios dessa implementação, especialmente os decorrentes da pandemia da Covid-19. Com o início da pandemia, as dinâmicas presenciais foram adaptadas, de forma a possibilitar a melhor execução do projeto. Como pôde ser evidenciado, a maior parte das atividades projetadas para 2020 e 2021, antes do cenário da pandemia do coronavírus (SARS-CoV2), foi realizada em formato virtual e alcançou resultados expressivos, mesmo em meio ao processo de adaptação de procedimentos e reformulações do escopo inicial da criação do grupo Rede. Optou-se pela realização presencial do II Simpósio Mulheres em STEM no ano de 2022. Observou-se, a partir do levantamento de estatísticas, que as plataformas e ferramentas digitais constituem-se veículos importantes para a divulgação científica, bem como para o engajamento de meninas e mulheres nas áreas de STEM.
Além disso, novas reflexões sobre o planejamento das atividades e desafios puderam ser debatidas pelas integrantes do grupo. Os resultados demonstraram viabilidade do uso das redes sociais virtuais para divulgação científica e articulação em rede. Por fim, as atividades de extensão desempenhadas pelo grupo Rede em busca do fortalecimento de parcerias e da ampliação da visibilidade do projeto vêm exercendo um papel fundamental na disseminação da ciência e seus métodos, assim como do conteúdo produzido e aplicado pelo projeto Mulheres em STEM²D, bem como na agenda de reivindicações de direitos.
Agradecemos aos integrantes do projeto Mulheres em STEM²D: alunas e alunos de graduação e pós-graduação e todos os voluntários pela contribuição nas atividades desenvolvidas, e às professoras e pesquisadoras pela orientação e coordenação ao longo desses anos. Agradecemos ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica pela infraestrutura e por possibilitar a implementação do projeto. Agradecemos, de forma especial, à empresa Johnson & Johnson pelo apoio financeiro.
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capítulo 8
oBjEtivos dE dEsEnvolvimEnto sustEntávEl
E a dEmocratização das instituiçõEs:
mulHErEs nas dEcisõEs políticas
Olivia Cristina Perez Caroline Alves dos Santos
RESUMO: No presente texto analisamos o item 5.5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê que para o alcance da igualdade de gênero é necessário garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública. Argumentamos que tal diretriz se coaduna com demandas contemporâneas para a inclusão das mulheres e das diversidades nas esferas decisórias. Nomeamos essas demandas relacionadas à inclusão de democratização das instituições.
PALAVRAS-CHAVES: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Gênero, Democratização das instituições.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram formulados para orientar e fortalecer os esforços de todas as nações nas esferas econômica, social e ambiental na direção da paz e a prosperidade. O compromisso mundial firmado por meio da Agenda 2030 foi pactuado na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em setembro de 2015, pelos 193 países presentes na Assembleia (UNITED NATIONS, 2023). A Agenda 2030 exige que os ODS sejam alcançados “por todas as nações e pessoas e por todos os segmentos da sociedade” (UNITED NATIONS, 2019, p. 195). No compromisso firmado por todos os Estados-membros das Nações Unidas, os países se comprometeram a empreender ações para acabar com a pobreza e outras privações por meio de estratégias que melhorem a saúde e a educação, reduzam a desigualdade e estimulem o crescimento econômico, ao mesmo tempo que combatem as alterações climáticas e trabalham para preservar os oceanos e florestas (UNITED NATIONS, 2023). Para tanto, a
Agenda 2030 apresenta uma visão integrada de como alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sistematizando os temas supramencionados em 17 ODS e 169 metas (UNITED NATIONS, 2023).
Dentro todos os ODS, destacamos o Objetivo de número 5 que consiste em “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” (ONU, 2015, p. 22). O propósito desse ODS é de implementar uma reparação histórica para com todas as meninas e mulheres em nível mundial, que cresceram em sociedades machistas com dificuldades de acesso a direitos e mesmo de (sobre)viver. Para tanto, ele propõe equiparação de oportunidades e de garantias de vidas sem violência ou discriminação em quaisquer ambientes para todas (UNITED NATIONS, 2017).
Mais detalhadamente, conforme estipulado pela Agenda 2030 para o ODS 5, os governos devem buscar alcançar as seguintes metas: acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas; eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, assim como práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas; reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado; garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública; assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e aos direitos reprodutivos; realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, aumentar uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres e adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis (UNITED NATIONS, 2017).
No presente texto nos concentramos no item 5.5 do ODS, que prevê que para o alcance da igualdade de gênero é necessário garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública. Quanto aos indicadores de resultados referentes a esse Objetivo, a proposta relaciona-se a aumentar a proporção de assentos ocupados por mulheres em parlamentos nacionais e governos locais, assim como a proporção de mulheres em cargos gerenciais (UNITED NATIONS, 2017).
Argumentamos que a diretriz que prevê a garantia da participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão (meta 5.5 do ODS 5) se coaduna com demandas contemporâneas para a inclusão das mulheres nas esferas decisórias. Nomeamos essas demandas relacionadas à inclusão de democratização das instituições.
A democratização das instituições seria um passo além da democracia formal alcançada por muitas sociedades contemporâneas. As sociedades contemporâneas entendem a democracia como a possibilidade da escolha dos governantes por meio do voto da população. No entanto, conforme demandas de movimentos sociais contemporâneos, essa seria uma ideia limitada, já que os ocupantes dos cargos decisórios – mesmo que tenham sido escolhidos pela população – teriam um perfil específico: homens, velhos, brancos e pertencentes a classes sociais privilegiadas. Esse perfil seria muito distante da maioria da população; que no caso do Brasil é diversa e composta por mulheres, negros, jovens e moradores de periferias.
A democratização das instituições possibilitaria que a diversidade da população participasse das decisões coletivas e importantes. O que se espera com essa ampliação da democracia é que as mulheres, por exemplo, estejam presentes nas decisões que dizem respeito às suas próprias vidas; e não que homens que pouco entendem do seu universo decidam por elas. Logo, a democratização das instituições significa a abertura delas para a inclusão da diversidade brasileira. Contudo, não se espera que a diversidade da população seja incluída apenas nos cargos de obediência a ordens superiores: seria necessário a ocupação de cargos centrais dos processos decisórios.
No presente texto, mostramos que essas demandas por inclusão foram construídas por movimentos sociais, principalmente pelos feminismos negros. As feministas negras também ensinaram a importância da interseccionalidade, ou seja, de se considerar diversos marcadores envolvidos nas opressões sociais. Como resultado da disseminação dessa construção, há uma demanda por democratização das instituições que incluam as mulheres nas esferas decisórias assim como outros grupos mais sujeitos a opressões sociais, tais como negros, população LGBTQIA+1, jovens e moradores de periferias.
Consideramos que explorar a importância das mobilizações sociais na construção de concepções sobre desigualdades de gênero converge com a necessidade de democratização das instituições. Entendemos que tal convergência favorece a luta por uma sociedade mais justa porque proporciona o entendimento do compromisso com a garantia de participação das mulheres e a igualdade de oportunidades de liderança defendidas pela Agenda 2030 na meta 5.5 do quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que é comprometido com a igualdade de gênero.
De forma mais ampla, queremos chamar a atenção para a importância da igualdade de gênero e como alcançá-la. Apesar da percepção de que as
1 LGBTQIA+ é a sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e o mais, que serve para abranger a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero.
128 mulheres têm mais dificuldades de acesso a direitos e mesmo de sobreviver, as formas de opressão machistas resistem. Conforme o mais recente relatório por meio do qual as Nações Unidas verificaram o progresso global em direção à concretização dos 17 ODS, o “ The Sustainable Development Goals Report 2022 ”, praticamente todos os ODS estão em defasagem (UNITED NATIONS, 2022). Em relação ao ODS 5, o Relatório conclui que
O mundo não está no bom caminho para alcançar a igualdade de gênero até 2030 e as consequências sociais e económicas da pandemia fizeram com que a situação ficasse ainda mais sombria. O progresso está ficando para trás em muitas áreas, tais como o tempo gasto nos cuidados não remunerados e no trabalho doméstico, a tomada de decisões em questões sexuais, reprodutivas e orçamentárias sensíveis ao gênero. Os serviços de saúde das mulheres, já mal financiados, enfrentaram grandes interrupções. A violência contra as mulheres continua endêmica. E, apesar da liderança das mulheres na resposta à COVID-19, elas ainda estão atrás dos homens na garantia dos cargos de tomada de decisão que merecem. (UNITED NATIONS, 2022, p. 38, tradução nossa).
Ou seja, ainda que a ideia de democratização das instituições esteja presente em documentos que orientam políticas governamentais, as mulheres ainda sofrem com diversos mecanismos que dificultam o acesso delas aos direitos básicos e mais ainda ao direito de poder se expressar e decidir sobre suas próprias vidas. Daí a importância de explorar o significado dessas diretrizes e conscientizar sobre algumas ações que podem contribuir para a igualdade de gênero.
Aqui jogamos luz sobre a democratização das instituições por meio da inclusão das mulheres e de grupos mais sujeitos a opressões sociais nas decisões públicas. Acreditamos que essa seria uma das estratégias centrais para o alcance da igualdade de gênero, a meta 5 dos ODS.
As reflexões apresentadas neste texto são derivadas de pesquisas acadêmicas sobre os coletivos, as quais vêm sendo desenvolvidas desde 2017 por um grupo da Universidade Federal do Piauí que estuda democracia e marcadores sociais da diferença com foco nas demandas de movimentos sociais de juventudes, feministas, antirracista e a favor dos direitos LGBTQIA+ e como eles nos ensinam sobre o aprimoramento da democracia (Perez, 2019, Perez; Souza, 2020; Perez; 2023).
A concepção sobre as desigualdades sociais tem se alterado contemporaneamente por conta das construções coletivas elaboradas pelos movimentos
129 sociais. Principalmente os movimentos sociais feministas negros vêm contribuindo com esse debate e demonstrando que as desigualdades têm relação com a classe social, mas não só: outras clivagens como gênero, raça/cor/etnia, sexualidade, faixa etária e região estariam também relacionadas com as dificuldades de determinados grupos ao campo dos direitos. Para reunir as diversas clivagens sociais que levam a mais opressões sociais e a dificuldade de acesso aos direitos, tem se usado o termo e a ideia de “interseccionalidade”.
A autora feminista negra mais importante para a disseminação do termo “interseccionalidade” é a estado-unidense Kimberlé Crenshaw (2002). Ela ensina que as desigualdades relacionadas à classe, gênero ou raça simplesmente não são passíveis de hierarquização: é a interação dessas categorias que atua na produção e na manutenção das desigualdades. Isso faz com que, por exemplo, a experiência de uma mulher negra seja mais opressora do que a de um homem branco e diferente de uma mulher branca. Conforme Crenshaw (2002, p. 177),
a interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras (CRENSHAW, 2002, p. 177).
Embora o termo “interseccionalidade” tenha ganhado popularidade, principalmente, a partir da obra de Kimberlé Crenshaw (2002), a análise e a militância articulada em torno de clivagens sociais como raça, classe e gênero não é novidade no debate acadêmico, tampouco é um traço raro de se encontrar entre as bandeiras dos movimentos sociais. Ao longo do século XX, feministas e militantes negras como Angela Davis, Lélia Gonzalez, bell hooks e Patrícia Collins já apontavam para o modo como gênero, raça e classe social se traduziam em desigualdades. É importante ressaltar que o debate sobre a interseccionalidade não é feito apenas pelas feministas negras norte-americanas. No Brasil, em meados dos anos de 1980, a professora e ativista Lélia Gonzalez já discutia o entrelaçamento de diferentes clivagens sociais (como gênero e raça).
Por conta da relação entre militância e universidade, a interseccionalidade hoje também é um conceito acadêmico, presente principalmente nos estudos sobre gênero e feminismos. Todavia, é importante assinalar que a ideia e a importância da interseccionalidade como modo de conceber as injustiças socais foi construída pelos movimentos sociais, em especial pelos feminismos negros. A própria luta desses movimentos contribuiu para que pesquisadoras/ ativistas adentrassem no universo acadêmico, ajudando a construir e a difundir o conceito como lente analítica para a compreensão das desigualdades sociais, em especial àquelas envolvidas na vivência de mulheres negras.
Uma importante intelectual brasileira que vem difundindo contemporaneamente os feminismos negros é a filósofa Djamila Ribeiro (2017). Conforme ela, as mulheres negras não pensam as opressões estruturais de modo isolado, daí a importância do olhar interseccional dentro dessas reflexões. Ou seja, as mulheres negras têm mais dificuldade de acesso a direitos por conta do gênero, raça e classe social. Daí a riqueza do pensamento delas no sentido de contribuir para que possamos olhar as desigualdades sociais de modo interseccional. É dessa construção que derivam muitas defesas contemporâneas de que a inclusão deve levar para o campo dos direitos e para as instâncias decisórias tanto as mulheres, como as negras, a população LGBTQIA+ e as moradoras de periferias.
Outra contribuição importante das feministas negras é que elas não se restringiram a pensar em si somente como teóricas, mas como ativistas (RIBEIRO, 2017). Isso significa que não basta construir reflexões sobre as desigualdades sociais, mas sim atuar nelas e com a presença dessas próprias mulheres. O que essas feministas defendem é que as decisões sobre os corpos, vidas e vivências das mulheres negras que moram em periferias, por exemplo, devem ser pensadas por essas próprias mulheres. Para essa reflexão não é eficaz e nem legítimo que homens brancos e privilegiados decidam sobre a vida de grupos tão distantes da experiência deles. Seria necessário então uma ampliação da democracia no sentido da democratização das instituições para que incluam a diversidade da população brasileira no campo decisório. Só assim se alcançaria realmente a inclusão da população no campo dos direitos.
É necessário atentar para o fato de que a maior parte da população brasileira é constituída por mulheres, negras, pobres e moradoras de periferias. No entanto, essa maioria ainda é considerada uma minoria e excluída das arenas em que se decidem políticas coletivas.
É justamente essa ideia de inclusão das mulheres no campo decisório, denominada aqui de “democratização das instituições”, que está contida na meta 5.5 do Objetivo de Desenvolvimento 5, aqui em análise. Por isso a importância de retomar os ensinamentos dos movimentos sociais, em especial dos feminismos negros, que vêm construindo o debate e disseminando a ideia de que a maioria da população brasileira, que é diversa, deve estar incluída nas decisões coletivas.
3. COMO OS COLETIVOS CONTRIBUEM PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
Os movimentos sociais contemporâneos têm se autodenominado “coletivos” (Perez, 2019, Perez; Souza, 2020; Perez; 2023). Coletivos são organizações políticas que, em geral, defendem direitos e inclusão para grupos percebidos como mais sujeitos a opressões sociais, tais como jovens, mulheres, negros e
empreenDeDoriSmo
131 população LGBTQIA+. Além de atuarem em prol de direitos para grupos com mais dificuldade de acesso a eles, os coletivos consideram que essa população deve estar presente nas decisões das organizações. Ou seja, eles atuam em prol de direitos e praticam a inclusão no campo político. Para seus membros não basta que o Estado concretize direitos (embora isso seja fundamental). Ampliando a concepção de inclusão, os coletivos defendem que grupos alijados das decisões públicas devem praticá-las em todas as organizações, inclusive nos coletivos dos quais fazem parte.
Defendemos aqui que essas características dos coletivos têm relação com a construção dos movimentos sociais, em especial dos feminismos negros, demonstradas na sessão anterior. Se postas em prática, tais ideias levariam à democratização das instituições, ideia presente na meta 5.5 do Objetivo de Desenvolvimento.
O exame dos coletivos mostra ainda que não se trata somente de ideais: a democratização das instituições já vem sendo posta em prática pelas mobilizações sociais contemporâneas.
Examinando mais minuciosamente as propostas dos coletivos, ainda que não seja possível estabelecer uma definição que abarque todos os tipos de organizações políticas que se definem dessa forma, os coletivos são considerados mais horizontais, sem lideranças e autônomos quando comparados com organizações mais tradicionais – a exemplo de movimentos sociais consolidados ou de partidos políticos (Perez; Souza, 2020). Por vezes são tidos como uma novidade dentro do campo movimentalista. Não entraremos aqui no debate sobre se os coletivos têm ou não essas características, mas sim no significado delas e na sua conexão com diretrizes relacionadas à igualdade de gênero contidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Uma das características entendidas como próprias dos coletivos é a sua horizontalidade, que, embora possa não existir na prática, é defendida como um ideal a ser alcançado. A ênfase na horizontalidade indica que uma das preocupações dos coletivos é com o estabelecimento de relações mais igualitárias entre seus membros. Conforme esse ideal, todos os membros de um coletivo devem poder opinar e decidir sobre os rumos da organização. Eles também destacam a horizontalidade como uma forma de se diferenciarem de organizações consideradas hierárquicas, pois nestas as decisões não envolvem os membros e excluem particularmente os grupos mais sujeitos a opressões sociais (PEREZ, 2019).
Outra característica atribuída aos coletivos seria a ausência das lideranças, ou seja, todos do grupo decidiriam de forma igualitária. Consideramos que a ausência de liderança tem ao menos dois significados. Em primeiro lugar, não ter líderes possibilita que grupos mais alijados do campo dos direitos possam também decidir as questões importantes da organização. Em segundo
132
lugar, a ausência de lideranças exclui dos postos-chave da organização aqueles que já são considerados privilegiados. Como resultado, dentro dos coletivos, os grupos mais sujeitos a opressões sociais teriam igual direito de participar das decisões das organizações.
Logo, os coletivos têm uma tónica na inclusão dos seus membros em todas as decisões. Essa inclusão proporcionaria a participação efetiva de grupos que historicamente foram alijados das decisões públicas, a saber: mulheres, negras/ os, LGBTQIA+, jovens e moradores de periferia. Nesse sentido os coletivos são a forma de organização política que possibilita e estimula o crescimento e a visibilidade dessas demandas relacionadas à democratização das instituições.
Por fim, os coletivos são considerados mais autônomos do que organizações políticas tradicionais. A autonomia, por vezes citada pelos coletivos como uma de suas características, também faz sentido nessa chave de interpretação, como uma afirmação por parte dos coletivos de que os grupos mais sujeitos a opressões sociais podem e devem decidir sem interferência externa. Assim como apontado por Perez e Souza (2020), ser autônomo não significa ausência de contatos com outras organizações, ou mesmo com o poder público, e sim independência em relação às decisões tomadas por outras organizações, geralmente comandadas por grupos mais privilegiados.
No mesmo sentido, a novidade atribuída aos coletivos não se deve apenas ao fato de serem organizações recentes. A ênfase na novidade serve para diferenciar os coletivos das organizações consideradas velhas – aquelas mais estruturadas, hierárquicas e que já atuam politicamente (Perez; Souza, 2020). Tais organizações consideradas tradicionais não incluiriam grupos mais sujeitos a opressões sociais, especialmente nas suas decisões. Já os coletivos promoveriam essa inclusão – daí a novidade deles. Entretanto, a inclusão não seria apenas no campo dos direitos, mas nas esferas decisórias da organização.
Estas características atribuídas aos coletivos, novidade, horizontalidade, ausência de lideranças e autonomia, possibilitam que os coletivos defendam e pratiquem a democratização das instituições. É justamente isso que prevê o item 5.5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para que se alcance a igualdade de gênero: a garantia de participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública (United Nations, 2017).
Há uma exigência entre as mobilizações políticas contemporâneas para que as estruturas organizativas permitam a inclusão de grupos alijados das decisões políticas, e essas exigências não são apenas discursivas. Os próprios coletivos são criados para permitir a participação desses grupos de forma coletiva e horizontal. Nesse sentido, os coletivos são a forma de organização política que possibilita e estimula o crescimento e a visibilidade dessas demandas. No entanto, é justamente a demanda de que todos podem e devem participar que
estimula a criação dos coletivos – em geral pequenas organizações políticas que tentam ser mais inclusivas e mais horizontais.
Os coletivos, então, reivindicam mais do que a inclusão da maior parte da população no campo dos direitos sociais, eles querem a inclusão dela em todas as decisões coletivas – e por isso são os primeiros a proporcionarem essa inclusão em direção à democratização das instituições.
Por isso, consideramos que os coletivos têm um recado importante a respeito da origem das desigualdades sociais e de como solucioná-las. Para eles, as desigualdades têm relação com o fato de que a maioria da população – considerando que mulheres, negras/os, LGBTQIA+, jovens e moradores de periferia não são minorias – não está incluída nas principais decisões que dizem respeito ao coletivo. Com o argumento de lugar de fala, esses jovens vêm forçando as gerações mais velhas a se abrirem para novas formas de agir e de pensar que pedem a democratização de todos os espaços de poder.
Os movimentos sociais, em especial os feminismos negros, têm construído e disseminado a ideia de que as desigualdades sociais são múltiplas e estão relacionadas. Por isso a importância que se considere além da classe social, o gênero, a raça, a sexualidade e a região das pessoas na análise das dificuldades de acesso a direitos e de como construir uma sociedade mais justa. Contudo, é preciso que as desigualdades sociais sejam resolvidas na prática. Nesse sentido, os movimentos sociais, principalmente os feminismos negros, têm defendido a inclusão da diversidade brasileira no campo dos direitos. Essa inclusão no campo dos direitos só se faria com a democratização das instituições, ou seja, a abertura para que a diversidade brasileira participasse das principais decisões coletivas. Não se admite mais que, por exemplo, a vida das mulheres seja regrada por homens que pouco entendem das suas vivências. Isso se aplica a outros grupos alijados das instâncias decisórias como a população negra, LGBTQIA+, jovens e moradores de periferia.
É justamente essa concepção que está no item 5.5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ao determinar que para a igualdade de gênero é necessário a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
O desafio é justamente essa inclusão, que passa pela concepção de que ela é importante e de que deve ser praticada. Sugerimos que para avançar nesse embate as organizações devem ser mais inclusivas e horizontais. Isso requer que aqueles que ocupam os cargos de decisão se abram para grupos com os quais eles não estão acostumados a partilhar. Essa não é uma tarefa fácil. É preciso
Sampaio D. CuStóDio / aDriana iop Bellintani / João CláuDio B. De moraeS (orgS.)
134 primeiro uma postura de abertura diante do que as jovens militantes de movimentos sociais, a exemplo dos movimentos feministas negros e dos coletivos, têm a ensinar. Ou seja, ao invés de questionar a legitimidade desses grupos em suas propostas, é preciso silenciar e ouvir o que eles estão tentando dizer. Todavia, é preciso também uma transformação na prática, incluindo aqueles que até agora estão excluídos dos debates e das decisões coletivas. Quem conseguir de fato essa inclusão e mudança na forma como as decisões são tomadas estará em sintonia com o espírito dos tempos – agora mais coletivo.
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