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ARTECONTINUA
LUCIO SALVATORE PARQUE LAGE
19 may 2017 - 16 jun 2017 curadoria Fernando Cocchiarale may 19th 2017 - jun 16th 2017 curatorship Fernando Cocchiarale
Palazzo Pamphilj, Ambasciata del Brasile Roma 2017
Parque Lage, 2014 Rio de Janeiro
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Fragment Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
FRAGMENT 2015 is the title chosen by Lucio Salvatore to name his latest project. Twelve works (or fragments) produced since 2013 are presented in two sets, imagined not only according to the spaces in which they are installed – the galleries of Centro Cultural Correios and an external circuit to this Cultural Center (works installed in some streets and commercial establishments in Rio de Janeiro) - but also to the subtle conceptual differences tinting each set. For Lucio, what poetically characterizes these two groups of works is: [...] “The games of meanings that take place throughout the life of the artworks, since its creation and relationship with the public, to the possession by the collector. The works raise a question of power among people who participate in them." [...] “The second set of works creates a circuit that is external to the Centro Cultural Correios and consists of works installed in some streets and commercial establishments in Rio de Janeiro city center. These works deal with the legal and political issue of space, situations of occupancy, possession and legal or factual ownership of the land and the urban environment.“ (Lucio Salvatore) These sets obviously intertwine. Legal and politics of space issues (public space/public art; individual/private property), the act of collecting and the selective media role are entirely familiar to the daily life of artists and other agents of the art system and are an inseparable part of their modus operandi. Salvatore poetically rebuilds the expanded field in which contemporary production moves beyond the craft strictu sensu (in an expansion whose fate projected by the artist is often its own profanation). The first modern European painters (second half of the nineteenth century) introduced a new element in the sphere of creation and production of their works when deliberately ignored the academic rules that valued craftmanship, for the sake of representation. Since then, they extended their production activities to research and experiment the possibilities of an essential painting: a goal that historical vanguards commonly restricted to experimentation with new strictly visual languages - formal, chromatic -, resulting therefore of the work of a specialist (the new painter). In the passage from the fifties to the sixties, modern emphasis on formal syntax, that moved the abstract and concrete art for five decades, began to cool when new post-war generations existentially began to incline toward the re-conjunction between art and life, separated since the distinction between art and craft that made possible the autonomy of art, at the end of the eighteenth century.
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FRAGMENTO 2015 foi o título escolhido por Lucio Salvatore para nomear seu projeto mais recente. Doze trabalhos (ou fragmentos) produzidos a partir de 2013 são apresentados em dois conjuntos, pensados não somente em função dos espaços em que estão montados – Galerias do Centro Cultural dos Correios e num circuito externo a este Centro Cultural (obras instaladas em algumas ruas e estabelecimentos comerciais da área central do Rio de Janeiro) − mas também das sutis diferenças conceituais que matizam cada conjunto. Para Lucio, o que caracteriza poeticamente estes dois grupos de trabalhos é:
Fragmento Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
[...] “os jogos de significados que acontecem ao longo da vida da obra de arte, desde a sua criação e relação com o público, até a posse pelo colecionador. As obras levantam uma questão de poder entre as pessoas que participam delas.” [...] “O segundo conjunto de obras cria um circuito externo ao Centro Cultural Correios composto por obras instala-das em algumas ruas e estabelecimentos comerciais do centro do Rio de Janeiro. Estas obras tratam da questão legal e política do espaço, de situações de ocupações, de posse e propriedade legal ou real da terra e do ambiente urbano”(Lucio Salvatore). Tais conjuntos, evidentemente se entrelaçam. Questões legais e aquelas da política do espaço (espaço público/arte pública; propriedade individual/privada), do colecionismo e do papel seletivo da mídia são totalmente familiares ao cotidiano de artistas e demais agentes do sistema de arte e são parte inseparável de seu modus operandi. Salvatore reconstrói, portanto, poeticamente o campo expandido no qual a produção contemporânea se move para além do ofício strictu sensu (expansão cujo destino projetado pelo artista é, frequentemente, o da sua própria profanação). Os primeiros pintores modernos europeus (segunda metade do século XIX) introduziram um dado novo na esfera da criação e produção de suas obras quando deliberadamente ignoraram as normas acadêmicas que valorizavam a proficiência do fazer (ofício), em prol da representação. Estenderam desde então suas atividades produtivas para a pesquisa e a experimentação das possibilidades de uma pintura essencial: objetivo que as vanguardas históricas comumente restringiram à experimentação de novas linguagens, estritamente visuais − formais, cromáticas −, resultantes, por conseguinte, do trabalho de um especialista (o novo pintor). Na passagem entre os anos de 1950 para os 60 a ênfase moderna na sintaxe formal que moveu a arte abstrata e concreta durante cinco décadas começou a arrefecer na medida em que as novas gerações do pós-guerra inclinavam-se existencialmente para a reaproximação entre arte e vida, separadas desde a distinção entre arte e ofício que ao final do século XVIII viabilizou a autonomia da arte.
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Fragment Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
Away from the exclusive focus in the renovation of language (syntax), the first generation of contemporary artists overflowed the modernist self-reference in name of a critical-political engagement. The search for the restoration of a commitment between poetic invention and social reality shifted the new artists from a syntactic context (characterized by exclusive focus on language) to the semantic that found in the image, not in form, the necessary link with the world they intend to semanticize. With this central goal they appropriated other media, materials and objects, to promote the interface of their work with other arts, sciences, politics and ethics. Among this range of possibilities, some of the artists who flourished in the 1970s focused on art issues, even though not focused on inventing languages anymore. They now investigated new semantic-discursive possibilities opened by conceptual poetics and by new media to criticize the logic and functioning of the art system. Lucio Salvatore's Fragment 2015 can be referred both genealogically to these possibilities, and strategically to many other fragments produced by earlier generations of artists - especially those productions observed throughout the twentieth century - who updated the processual thinking resulting from the artistic production. It was mainly in the field of intellectual-experimental production of artists and not in the academic field of theoretical, aesthetic and historical speculation, that arose, for example, modern art, the consummation of the autonomy of art, abstractionisms and constructivism, the vanguards, the duchampian appropriation (ready-made) and the turning from the formal syntax toward the fragmentary sense of contemporaneity. The fragments produced by Lucio analytically dismantle the art system, made up of public and private institutions, publications, experts, public, collectors, repertoires, etc. Its re-articulation becomes the exclusive jurisdiction of the visitor - whose experience as a participant, can even rearrange the disarticulation produced by the artist in the whole system based on: fragments referring to authorship, to making/creating, discursive and contractual fragments decisive for the real experience of the artistic production and for a critical update of the meaning and function of western art, - through “games of meanings that take place throughout the life of the artwork, since its creation and relationship with the public, to the possession by the collector.“
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Afastada do foco exclusivo na renovação de linguagem (sintaxe), a geração inicial de artistas contemporâneos transbordou a autorreferência modernista em nome do engajamento crítico-político.
Fragmento Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
A busca pela restauração do compromisso entre invenção poética e realidade social deslocou os novos artistas do âmbito sintático (caracterizado pelo foco exclusivo na linguagem) para o semântico que encontrava na imagem, não mais na forma, o elo necessário com o mundo que pretendia semantizar. Com esse objetivo central apropriou-se de outras mídias, materiais e objetos, para promover a interface de seu trabalho com outras artes, ciências, política e ética. Dentre tal leque de possibilidades, parte dos artistas que floresceram na década de 1970 manteve o foco em questões da arte, ainda que não mais centrados na invenção de linguagens. Eles investigavam agora novas possibilidades semântico-discursivas abertas pelas poéticas conceituais e por novas mídias para criticar a lógica e o funcionamento do sistema de arte. O FRAGMENTO 2015 de Lucio Salvatore pode ser remetido tanto genealogicamente a essas possibilidades, quanto estrategicamente a muitos outros fragmentos produzidos por gerações anteriores de artistas − sobretudo àquelas realizações observadas ao longo do século XX − que atualizaram, então, o pensamento processual decorrente da produção artística. Foi fundamentalmente no campo da produção intelecto- experimental dos artistas e não no campo acadêmico das especulações teóricas, estéticas e históricas que surgiram, por exemplo, a arte moderna, a consumação da autonomia da arte, os abstracionismos e os construtivismos, as vanguardas, a apropriação duchampiana (readymade) e a virada da sintaxe formal para o sentido fragmentário da contemporaneidade. Os fragmentos produzidos por Lucio desmantelam analiticamente o sistema de arte, integrado por instituições públicas e privadas, publicações, especialistas, público, colecionismo, repertórios, etc. Sua rearticulação torna-se da alçada exclusiva do visitante – cuja experiência, como participador, pode até mesmo reordenar a desarticulação produzida no todo sistêmico pelo artista com base em: fragmentos referentes a autoria, ao fazer/criar, fragmentos discursivos e contratuais decisivos para a experiência real da produção artística e para a atualização crítica do sentido e da função da arte ocidental, autenticidade e da réplica, etc.− por meio de “jogos de significados que acontecem ao longo da vida da obra de arte, desde a sua criação e relação com o público, até a posse pelo colecionador”.
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Fragment Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
FRAGMENT 2015, therefore, proposes us a game of games inherent to the art system. “The transition from the sacred to the profane can also happen through a totally incongruous use (or better, a reuse) of the sacred. "It is about the Game. (...) In examining the relationship between game and ritual, Émile Benveniste showed that the game not only comes from the sacred sphere, but also, in some way, represents its inversion. The power of the sacred act - he writes - lies in the combination of the myth that tells the story with the rite that reproduces and puts it into play. [...] If the sacred can be defined through the consubstantial unity between myth and rite, we could say that there is a game only when half of the sacred operation is performed, translating only the myth into words and only the rite into actions.” This means that the game frees and diverts mankind from the sacred sphere, but without simply abolishing it. “(Giorgio Agamben in Profanações. São Paulo, Boitempo, 2007. PP.66 / 67) Among the cracks of this freedom that does not set free, language games impose up, the family resemblances (Ludwig Wittgenstein, Philosophical Investigations) and the semantic load of the commitment to reality starting from the fruition of the open work (Umberto Eco). The artist’s intention is not primarily discursive, there is no message here, but unveilings that hang from points of view different from those ones upon which we were institutionally fixed - artist/audience/participant. Salvatore’s fragments impede their appropriation as texts about the art system and market mechanisms. We are left with the rites emptied of discursive myths that proliferate with the purpose of self-legitimation of the art system. From the catalog of the exhibition Fragmento (2015), Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
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FRAGMENTO 2015 propõe-nos, portanto, um jogo de jogos inerentes ao sistema de arte. “A passagem do sagrado para o profano pode acontecer também por meio de um uso (ou melhor, de um reuso) totalmente incongruente do sagrado. Trata-se do Jogo. (...) Ao analisar a relação entre jogo e rito, Émile Benveniste mostrou que o jogo não só provém da esfera do sagrado, mas também, de algum modo, representa a sua inversão. A potência do ato sagrado – escreve ele – reside na conjugação do mito que narra a história com o rito que a reproduz e a põe em cena. [...] Se o sagrado pode ser definido através da unidade consubstancial entre o mito e o rito, poderíamos dizer que há jogo quando apenas metade da operação sagrada é realizada, traduzindo só o mito em palavras e só o rito em ações. Isso significa que o jogo libera e desvia a humanidade da esfera do sagrado, mas sem a abolir simplesmente.” (Giorgio Agamben in Profanações. São Paulo, Boitempo, 2007. PP.66 /67)
Fragmento Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
Entre as frestas dessa liberação que não liberta, impõem-se os jogos de linguagem, os ares de família (Ludwig Wittgenstein, Investigações losó cas) e a carga semântica do compromisso com a realidade a partir da fruição da obra aberta (Umberto Eco). A intenção do artista não é prioritariamente discursiva, não há aqui qualquer mensagem, mas desvelamentos que pendem de pontos de vista diversos daqueles únicos em que fomos institucionalmente fixados – artista/ público/participador. Os fragmentos de Salvatore dificultam sua apropriação como texto sobre o sistema de arte e os mecanismos do mercado. Sobram-nos os ritos esvaziados dos mitos discursivos que proliferam com o objetivo de autolegitimação do sistema de arte. Extrato da exposição Fragmento (2015), Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
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Palazzo Pamphilj, 2017 Roma
Parque Lage Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
Lucio Salvatore exhibition Parque Lage in Palazzo Pamphilj’s Candido Portinari Gallery, the Brazilian Embassy in Rome, is, according to the artist's statement: “A mini-retrospective of works developed over the last few years in Rio de Janeiro and presented in five individual exhibitions and two groups shows in Brazil, in Rio de Janeiro and São Paulo. [...] The works have never been exhibited outside Brazil and the exhibition at the Brazilian Embassy takes on a very important meaning for me, born in Italy but considered a carioca artist” (from Parque Lage exhibition's project). Although seemingly far from the explicit poetic focus of his work, with strong conceptual influence, such an affirmation is so essential to the artist that has led him to design and organize this exhibition as a sign of his identity inscription in the art world, such as "a carioca artist". Openeness to the cultural other and the consequent democratic respect for different identities - religious, racial, sexual and gender, among others - have become, in recent decades, positive evaluation criteria for cultural production and both political and micro-political actions. Proposed by post-structuralist thinkers, such as Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, François Lyotard, Roland Barthes, these productions and actions have subsequently been assimilated by the multicultural and postcolonial turning promoted by the "third world" intellectuals, such as Stuart Hall, Homi Bhaba, Gayatri Spivak and Anibal Quijano. Driven by the criticism of the supposed universality of knowledge that has legitimized practices of European colonial domination, these intellectuals opposed their local identities to globalized Euro-universalism. We must therefore investigate the paths on which these identity traits are often constructed and established on the basis of intuitive synthesis with a local emblematiccritical vocation. For many, the best answer to this survey would be provided by intellectual researchers, from which specific skills may be required to: 1) propose and coordinate scrupulous investigations into the textual and iconic documentation of the topics sought; 2) formulate a theoretically articulated interpretation (reading) of these traits. Already common sense, whose responses are usually based mainly on the experiences articulated in the daily-empirical spheres of opinion, is, therefore, permeable to infiltration of prejudices. But this lived instance also condenses identity synthesis of collective appeal, affectively filtered, as they assimilate not only discourses but also flavors, sounds, languages, images and local sensations. Such impregnation of such heterogeneous elements has art as a privileged field and artists as principal actors, their essential practical and discursive formulators.
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A exposição Parque Lage, de Lucio Salvatore, na Galeria Candido Portinari e na Sala Cortona no Palazzo Pamphilj, sede da Embaixada Brasileira em Roma, é, de acordo com declaração do próprio artista:
Parque Lage Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
“uma minirretrospectiva de trabalhos desenvolvidos nos últimos anos no Rio de Janeiro e apresentados em cinco individuais e duas coletivas no Brasil, na capital fluminense e em São Paulo. [...] As obras nunca foram exibidas fora do Brasil e a exposição na Embaixada Brasileira ganha um significado muito importante para mim nascido na Itália, mas considerado um artista carioca.” (in projeto da exposição Parque Lage) Ainda que aparentemente distante do foco poético explícito de sua obra, de forte influência conceitual, tal declaração é tão essencial para o artista que o levou a conceber e organizar esta mostra como marco de sua inscrição identitária, no mundo da arte, como “um artista carioca”. A disponibilidade para com o outro cultural e o consequente respeito democrático por suas diferentes identidades − religiosas, raciais, sexuais e de gênero, entre outras −, tornaram-se, ao longo das últimas décadas, critérios positivos de valoração tanto da produção cultural, quanto de ações políticas e micropolíticas. Propostas por pensadores pós-estruturalistas − como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, François Lyotard, Roland Barthes, por exemplo –, tais produções e ações foram posteriormente assimiladas pela virada multicultural e pós-colonial promovida por intelectuais do “terceiro mundo” como Stuart Hall, Homi Bhaba, Gayatri Spivak e Anibal Quijano. Movidos pela crítica à suposta universalidade dos conhecimentos que legitimaram práticas de dominação colonial europeias, estes intelectuais opuseram suas identidades locais ao euro-universalismo globalizado. Devemos, portanto, nos indagar sobre as vias em que esses traços identitários são frequentemente construídos e estabelecidos, com base em sínteses intuitivas de apelo emblemático-crítico local. Para muitos essa indagação seria melhor respondida por intelectuais pesquisadores, dos quais se pode exigir capacitação especfica para: 1) propor e coordenar levantamentos criteriosos da documentação textual e icônica sobre os assuntos pesquisados; 2) formular uma interpretação (uma leitura), teoricamente articulada desses traços. Já o senso comum, cujas respostas costumam ser baseadas, prioritariamente, em vivências articuladas nas esferas empírico-cotidianas da opinião é, portanto, permeável a infiltrações de preconceitos. Mas essa instância vivida condensa também sínteses identitárias de apelo coletivo, filtradas afetivamente, já que assimilam não somente discursos, mas também sabores, sons, linguagens, imagens e sentimentos locais. Tal impregnação entre elementos tão heterogêneos tem por campo privilegiado as artes e por principais agentes os artistas, seus formuladores práticos e discursivos essenciais.
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Parque Lage Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
But Salvatore’s carioca artistic identity does not have the same nature as those derived from common sense. Economist, interested in philosophy, Lucio, after graduating, began to study photography and art as tools for the manifestation of thinking. Perhaps that is why his work shows us no iconic consecrated trace as a local feature of Rio de Janeiro. On the contrary, he has a universal (conceptual) breath that does not explicitly reveal his trans-carioca identity. In clarifying the rules set by the artist for his work, 13 manipulations, propositions that others will complete, Salvatore does not leave us any doubts: “This art work is part of the series of works that deal with the power relationship between the artist who creates a field of meaning and the users of the work that manipulate it, in this case gluing black squares into a grid drawn by him. The artist offers users a platform for creativity that is universal because of its language and possibilities that are accessible and equal for everybody participating in it“ (from Parque Lage and Fragment exhibitions' projects). His projects do not have as visual evidence, formal and chromatic images of a presumed carioca brazilianess. Instead, they bring to light, from a poetic point of view, common problems in the art system, its public and private institutions, publications, experts, artworks authorship, public, collecting, the repertoires of taste ... We are brought on these issues through the schematic use of this game of games that reveals what lies under the surface of the art system and market: [...] "the games of meaning" that happen during the life of the work of art, from its creation and relationship with the public to the possession by the collector. Works raise a question of power among the people who participate in them.“(from the Fragment exhibition project). Lucio Salvatore's modus operandi therefore indicates another identity pattern. Being conscious of this model occurred in Rio de Janeiro, more precisely in the years when he attended the Parque Lage visual arts school. According to the artist, “The title is a tribute to EAV Parque Lage, a school and a place that has been fundamental to the growth of my thinking and work. [...] The experimental, open, transcultural environment of the school, the energy generated by the architecture of the palace immersed in the forest, were fundamental for my art and the words Parque Lage symbolize perfectly its brazilianness” (from Parque Lage exhibition's project).
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Mas a identidade artística carioca de Salvatore não possui a mesma natureza daquelas resultantes do senso comum. Economista, interessado em filosofia, Lucio, depois de formado, começou a estudar fotografia e arte como instrumentos de manifestação de pensamentos. Talvez por isso seu trabalho não nos mostre qualquer traço icônico consagrado como característica local do Rio de Janeiro. Possui, ao contrário,um ar universal (conceitual) que não nos revela explicitamente sua identidade trans-carioca. Num esclarecimento sobre as regras estabelecidas pelo artista para seu trabalho13 manipulações, proposições para terceiros concluírem, Salvatore não nos deixa dúvidas:
Parque Lage Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
“Esta obra é parte da série de trabalhos que tratam da relação de poder entre o artista que cria um campo de significados e os utilizadores da obra que a manipulam, neste caso colando quadrados pretos dentro de uma grade desenhada por ele. O artista oferece aos usuários é universal pela sua linguagem e possibilidades que são acessíveis e iguais para todos que participam dela.” (in projetos das exposições Parque Lage e Fragmentos). Seus projetos não possuem evidências imagéticas, formais ou cromáticas de uma suposta brasilidade carioca. Ao contrário, eles trazem à tona, de um ponto de vista poético, questões comuns ao sistema de arte, suas instituições públicas e privadas, publicações, especialistas, a atribuição de autoria, público, colecionismo, repertórios do gosto... Somos levados a tais assuntos por meio da utilização esquemática desse jogo de jogos que nos desvela a superfície do sistema e do mercado de arte: “[...] ‘os jogos de signficados’ que acontecem ao longo da vida da obra de arte, desde a sua criação e relação com o público, até a posse pelo colecionador. As obras levantam uma questão de poder entre as pessoas que participam delas”. (in projeto da exposição Fragmentos). O modus operandi de Lucio Salvatore, portanto, aponta-nos para um outro padrão de identidade. A posse consciente desse padrão ocorreu no Rio de Janeiro, mais especificamente nos anos em que cursou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Segundo o artista, “O titulo é uma homenagem à EAV Parque Lage, uma escola e um lugar que foram determinantes no crescimento da minha obra e do meu pensamento artistico. [...] O ambiente experimental, aberto, transcultural da escola, e o astral da arquitetura do palacete imerso na mata atlântica, foi fundamental para minha arte e as palavras Parque Lage simbolizam perfeitamente sua brasilidade.” (in projeto da exposição Parque Lage)
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Parque Lage Fernando Cocchiarale curator of the Museum of Modern Art Rio de Janeiro
The artist's statement is as uncommon as it reverses the usual flow of relations of his Euro-American colleagues with the precarious Brazilian art system, marked by ideas and attitudes that still show the old colonial rule. From this point of view, Lucio Salvatore’s carioca artistic identity passes away from that flow. Perhaps the conceptual content of his work has kept him from the expectations commonly sought by the foreign look: icons of tropical exoticism in which Brazilian art and culture are often confined. However, we cannot place his projects in the opposite pole - universalist. Salvatore's brazilianness is the result of the poetic synthesis between intellectual freedom and thinking extracted from his carioca experience.
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A declaração do artista é no mínimo incomum, posto que inverte o fluxo habitual das relações de seus pares euro-americanos com o precário sistema de artes brasileiro, marcado por idéias e atitudes que ainda hoje manifestam a velha dominação colonial. Desse ponto de vista, a identidade artística carioca de Lucio Salvatore passa ao largo de tal fluxo. O teor conceitual de sua obra talvez o tenha preservado das expectativas comumente buscadas pelo olhar estrangeiro: ícones do exotismo tropical em que a arte e a cultura brasileiras são frequentemente cofinadas.
Parque Lage Fernando Cocchiarale curador do Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro
Não podemos, contudo, situar seus projetos no pólo oposto − universalista. A brasilidade de Salvatore resulta da síntese poética entre licença e reflexão intelectual extraída de sua experiência carioca.
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Galeria Cortona, Palazzo Pamhilj Vista da exposição Cortona gallery, Palazzo Pamphilj Exhibition view
Il Peso del Pane, 2017 PĂŁes com pedras dentro, mesa Il Peso del Pane, 2017 Bread loaves with stones inside, table 1000 x 90 x 76 cm
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Lucio Salvatore Galleria Cortona, Palazzo Pamphilj Roma, 2017
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Il Peso del Pane, 2017 PĂŁes com pedras dentro, mesa Il Peso del Pane, 2017 Bread loaves with stones inside, table 1000 x 90 x 76 cm
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Il Peso del Pane , 2016 PĂŁo com pedra dentro, base de madeira Il Peso del Pane , 2016 Bread with stone inside, wooden base
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Il Peso del Pane , 2017 Pรฃo com pedra dentro, balanรงa Il Peso del Pane , 2017 Bread with stone inside, scale
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Galeria Candido Portinari, Palazzo Pamhilj Vista da exposição Candido Portinari gallery Palazzo Pamphilj Exhibition view
Dal Monacato, 2016 Terra, farinha e cinzas ensacados em intestino de animal Dal Monacato, 2016 Earth, flour and ashes bagged in animal gut 200 x 180 x 6 cm
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Price Fields, 2016 Vista da exposicĂŁo Arte Capital Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Price Fields, 2016 Arte Capital exhibition's view Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
Galeria Candido Portinari, Palazzo Pamhilj Vista da exposição Candido Portinari gallery, Palazzo Pamphilj Exhibition view
Prรณximas pรกginas Next pages On Purple, 2016 Tinta รณleo e processo de amadurecimento de frutas vermelhas sobre tela On Purple, 2016 Oil and berries ripening on canvas 60 x 60 x 3,5 cm
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On Purple, Valore Attivo, 2016 2018 Etiquetas Tinta รณleode e processo preรงo sobre de amadurecimento papel algodรฃo de frutas vermelhas sobre tela Active Value, 2018 PricePurple, On tags on2016 cotton paper Oil and berries ripening on canvas 42 x 32 x 3,5 cm 360 x 240 x 3,5 cm
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Valore Attivo, 2018 Etiquetas de preço sobre papel algodão Active Value, 2018 Price tags on cotton paper 42 x 32 x 3,5 cm
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Ormai solo un Salvatore ci può salvare, 2015 Três livros embalados e lacrados em vidro acrílico Ormai solo un Salvatore ci può salvare, 2015 Three books packed and sealed in acrylic glass 10 x 21 x 13,5 cm
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Galeria Candido Portinari, Palazzo Pamhilj Vista da exposição Candido Portinari gallery, Palazzo Pamphilj Exhibition view
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Galeria Candido Portinari, Palazzo Pamhilj Vista da exposição Candido Portinari gallery, Palazzo Pamphilj Exhibition view
SomeTítulo, Sem Other2014 Race, 2009-2017 Fitaclassificações 22 de alumínio, de nota sangue de 5 dólares humanodobrada de acordo sobre um canto de parede com a renda dos doadores Dimensões variáveis Some Other Race, 2009-2017 Untitled, 22 classifications 2014 of human blood according to the donors’ Aluminum tape, 5 dollar bill bent of a wall corner income Variable dimensions 22 x 35 x 3,5 cm
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Próxima página Next page Chão, 2016 Um tapete feito de doláres colocado na entrada da exposição Arte Capital, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Ground, 2016 A rug made of dollars placed at the only entrance of Arte Capital exhibition, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
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Price Fields, $ 4.862 and $ 4.660, Etiquetas de preço sobre papel algodão Exposição Parque Lage, Palazzo Pamphilj, 2017 Price Fields $ 4.862 and $ 4.660, Price tags on cotton paper Exhibition Parque Lage, Palazzo Pamphilj, 2017 144 x 144 x 3,5 cm
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POST-AR | MAM Spostamento di 37.975 cm3 di Aria del Rinascimento da Firenze a Rio de Janeiro. Mittente dell’aria: Lucio Salvatore che l’ha raccolta a Piazza della Signoria, Firenze. Destinatario dell’aria: Prof. Fernando Cocchiarale, curatore del MAM, Museo d’Arte Moderna di Rio de Janeiro, Brasile. Sono stati fatti 4 tentativi di spostamento d’aria nei giorni 04.07.2016, 16.08.2016, 22.09.2016 e 28.10.2016 utilizzando ad ogni tentativo una scatola di cartone di 50x35x21,7 cm, contenente 37.975 cm3 d’aria. Lo spostamento ha utilizzato le Poste Italiane con la sua la rete logistica e di controllo. Il costo per l’uso del sistema è stato di € 36,50 per ogni scatola spedita. Le 4 scatole d’aria hanno tutte fatto scalo a Milano, luogo in cui si sono svolte 4 interrogazioni rivolte dalle autorità al mittente riguardanti i dubbi sulla presenza effettiva nella scatola dell’aria oppure, in assenza d’aria, del vuoto, che il regolamento avrebbe impedito di trasportare. Una volta chiarita la questione sulla legalità della spedizione, le scatole sono state autorizzate ad attraversare l’oceano Atlantico ed arrivare in Brasile. Arrivata a Rio de Janeiro e superati, dopo varie segnalazioni, i problemi ai controlli doganali, la prima scatola è stata violata dal personale delle poste brasiliane e con la giustificativa di essere stata violata è stata rispedita e consegnata al mittente il 29.07.2016. La seconda e la terza scatola sono state aperte per il controllo del loro contenuto, l’aria, che, in seguito all’apertura, è stato giudicato inesistente. Considerate entrambe scatole vuote, prive di contenuto, anche esse sono state rinviate al mittente e riconsegnate rispettivamente il 20.09.2016 ed il 26.10.2016. La quarta ed ultima scatola ad essere spedita è stata consegnata il giorno 11.11.2016 al prof. Cocchiarale il quale, nel momento del ricevimento,istintivamente l’ha aperta con un taglierino sentendosi ‘come se stessi rompendo l’ampolla dell’Ar de Paris di Duchamp’ rendendo l’aria di Firenze libera di diffondersi a Rio de Janeiro. In Brasile l’aria italiana è diventata aria brasiliana. Lucio Salvatore
Post-Ar, 2016 Deslocamento de ar de Firenze para o Rio de Janeiro Galeria Candido Portinari, Palazzo Pamphilj, Roma Post-Air, 2016 Air displacement from Florence to Rio de Janeiro Candido Portinari gallery, Palazzo Pamphilj, Rome
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Página anterior Previous page Por Um Centavo, 2016 Um centavo, sala escura, torcha elétrica Centro Cultural Correios Rio de Janeiro For One Cent, 2016 One cent, dark room, electric torch Centro Cultural Correios Rio de Janeiro
Por Um Centavo, 2016 Um centavo, torcha elétrica Palazzo Pamphilj Roma For One Cent, 2016 One cent, electric torch Palazzo Pamphilj Roma
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Por Um Centavo, 2016 Um centavo, sala escura, torcha elĂŠtrica Centro Cultural Correios Rio de Janeiro For One Cent, 2016 One cent, dark room, electric torch Centro Cultural Correios Rio de Janeiro
ANY MARGIN Any Margin is a project where central is the meditation on the meaning of margin and frontier.
Margem Indiferente é um projeto em que central é a meditação sobre o significado de margem e fronteira.
On May 5, 2015 during the opening-day of the 56th Venice Art Biennale, the artist wrote the word marginal (450x110cm) on the ground at the entrance of Biennale’s Giardini, using the same typography of the artwork 'Seja Marginal Seja Herói' by Hélio Oiticica.
No dia 5 de maio de 2015 durante o primeiro dia de abertura da 56a Bienal de Arte de Veneza, o artista escreveu a palavra marginal (450x110cm) na entrada dos Giardini, usando a mesma tipografia da obra 'Seja Marginal Seja Herói' de Hélio Oiticica.
The word was canceled by the passage of the visitors invited to the Biennale opening-day. The artist appropriation of the art community's flow lasted the 8 hours of the preview, the duration of the collective performance.
Lucio Salvatore Any Margin, Giardini della Biennale Venezia, 2017
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A mesma palavra foi cancelada pela passagem do público convidado para estreia da Bienal. A apropriação do artista do fluxo da comunidade da arte durou as 8 horas de abertura do evento, o tempo da performance coletiva.
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Margem Indiferente, 2015 Detalhe Any Margin, 2015 Detail
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Margem Indiferente, 2015 Uma das 512 imagens do fluxo de pĂşblico Any Margin, 2015 One of the selection of 512 images of the public flow
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Margem Indiferente, 2015 2 fotos, livro com uma seleção de 512 imagens do fluxo de público Any Margin, 2015 2 pictures, book containing a selection of 512 images of the public flow
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AUTOESQUEMAS
1115 Manipulações, Parque Lage, 2015 Participação do Tunga Tunga's participation
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Autoesquemas is an open and ongoing series of relational artworks inspired by the Brazilian neo-concrete art.
Autoesquemas é uma série aberta de obras de arte relacionais inspiradas pela arte neoconcreta.
Autoesquemas are self-portraits of people invited to create artworks by building their personal compositions of squares: Salvatore offers the participants sheets of paper with drawn grids and colored adhesive paper, the squares, that have to be glued onto the grids, the rule of the game.
Os autoesquemas são auto-retratos de pessoas convidadas a criar obras construindo composições pessoais de quadrados: Salvatore oferece aos participantes folhas de papel com grades desenhadas e papel adesivo colorido, os quadrados, que devem ser colados nas grades de acordo com a regra do jogo do artista.
Salvatore’s platform for creativity is universal because of its language and possibilities that are accessible and equal for everybody participating in it.
A plataforma de criatividade de Salvatore é universal pela sua linguagem e possibilidades que são acessíveis e iguais para todos que participam dela.
With the Autoesquemas Salvatore deconfigures in a synthetic way art categories and relations such as producer/consumer, artist/public, authorship/labor.
Com os Autoesquemas Salvatore desconfigura de maneira sintética categorias e relações da arte tal como produtor/consumidor, artista/público, trabalho/autoria.
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Autoesquema, IPUB, 2015 13 quadrados pretos colados em folhas de papel pelos usuários do hospital psiquiátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 11 participações Autoesquema, IPUB, 2015 13 black squares glued on paper sheets by the users of the psychiatric hospital of Rio de Janeiro Federal University. 11 participations 70 x 70 cm 60
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Autoesquema, IPUB, 2015 Sala Autoesquema, IPUB, 2015 Room
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Anna Bella Geiger and Lucio Salvatore Anna Bella Geiger Studio Rio de Janeiro, 2015
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Autoesquema, Anna Bella Geiger, 2015 100 quadrados pretos colados sobre papel por Anna Bella Geiger Autoesquema, Anna Bella Geiger, 2015 100 black squares glued on paper by Anna Bella Geiger 142 x 142 x 3,5 cm
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1115 Manipulações, Parque Lage, 2015 1115 quadrados pretos, papel de algodão, regra de obra. Composição de quadrados criada pelo público da exposição Quinta Mostra, Parque Lage 1115 Manipulations, Parque Lage, 2015 1115 black squares, cotton paper, artwork rule. Square composition created by the public of the exhibition Quinta Mostra, Parque Lage 600 x 420 cm 66
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1115 Manipulações, Parque Lage, 2015 Participações 1115 Manipulations, Parque Lage, 2015 Participations
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1182 Manipulações, 2015 1182 quadrados pretos, papel de algodão, regra de obra. Composição de quadrados criada pelo público da exposição Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro 1182 Manipulations, 2015 1182 black squares, cotton paper, artwork rule. Square composition created by the public of the exhibition Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro 1000 x 280 cm 70
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The work of art as a system of manipulations Lucio Salvatore catalog, Quinta Mostra, Parque Lage Rio de Janeiro
Heidegger said that every physics is based on metaphysics, that scientist’s critical eye on reality is inevitably grounded in his beliefs. They are formed in the sociocultural context (1) that together with his character (2) forms the ethics of the individual. Matter exists before man, but physics is unthinkable without him, just as realities without the corresponding metaphysical forms are unthinkable. Metaphysics and its unconscious determine the nature of the interpretations (3) of the information (4) found in the world, which are manipulated from the moment one acts in them, in the situations of life. These manipulations of information are both physical and theoretical, and have, as their foundation, as a line of resistance (5), everything that preexists metaphysics itself. From it, all reality is created as a set of open systems of manipulations formed by manipulations of manipulations of manipulations ... that result in human constructions, products of creative processes. The will to power (6) is the causa finalis (7) of the aggregation and disaggregation movements of these systems. These, as centers of manipulation of information, are also centers of power structured in hierarchies, macro and micro systems that form the organic body of multi reality. The individual is the unit of matter of the system, the power, the force that moves it. The domination of one system of power over the other happens through conflicts where the prevailing one manages to establish its rules with the imposition of its own legal system, architected with the political mediation. The potential for disruption within a system is the measure of its state of health. The work of art is also a center of manipulative power manipulated by artists, consumers (8) and judges of the work. In creating it, the artist constructs a form that is the rule of the field of possible manipulations, the line of resistance of the reality of the work. The set of rules of works is the artist’s poetics, through which his intentions, his constitution, are manifested. The poetics of the artist and the language of the work are influenced by the ideologies of the system, by its conventions that generate common repertories that change depending on the place and time of creation.
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Heidegger disse que toda física se baseia numa metafísica, que o olhar crítico do cientista sobre a realidade é inevitavelmente fundado em suas crenças. Elas se formam no contexto sociocultural (1) que junto ao seu caráter (2) forma a ética do indivíduo. A matéria existe antes do homem, mas a física é impensável sem ele, assim como são impensáveis as realidades sem as formas metafísicas correspondentes.
A obra de arte como sistema de manipulações Lucio Salvatore Catálogo da Quinta Mostra, Parque Lage Rio de Janeiro
A metafísica e o seu inconsciente determinam a natureza das interpretações (3) das informações (4) encontradas no mundo, que são manipuladas desde o momento em que se age nelas, nas situações de vida. Estas manipulações de informações são ao mesmo tempo físicas e teóricas, e tem, como seu fundamento, como linha de resistência (5), tudo que preexiste à própria metafísica. A partir dela, toda a realidade é criada como conjunto de sistemas abertos de manipulações formados por manipulações de manipulações de manipulações... que resultam em construções humanas, produtos de processos criativos. A vontade de poder (6) é a causa finalis (7) dos movimentos de agregação e desagregação destes sistemas. Estes, enquanto centros de manipulação de informações, são também centros de poder estruturados em hierarquias, macro e micro sistemas que formam o corpo orgânico da multi realidade. O indivíduo é a unidade de matéria do sistema, o poder, a força que o move. O domínio de um sistema de poder sobre o outro acontece através de conflitos onde quem prevalece consegue estabelecer suas regras com a imposição de um próprio sistema legal, arquitetado com a mediação política. O potencial de ruptura dentro de um sistema é a medida do seu estado de saúde. A obra de arte também é um centro de poder manipulador e manipulável pelos artistas, pelos consumidores (8) e juízes da obra. Ao criá-la o artista constrói uma forma que é a regra do campo de manipulações possíveis, a linha de resistência da realidade da obra. O conjunto de regras das obras é a poética do artista, através da qual se manifestam suas intenções, sua constituição. A poética do artista e a linguagem da obra são influenciados pelas ideologias do sistema, pelas suas convenções que geram repertórios comuns que mudam dependendo do lugar e do tempo da criação.
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The work of art as a system of manipulations Lucio Salvatore catalog, Quinta Mostra, Parque Lage Rio de Janeiro
The work of art formed according to conservative principles always converges with the rules of the dominant power center, and is capable of producing only an illusion of power that in reality has no political influence at all, as it can only be politically influenced. This typology of works of art typically embodies political activism, mysticism, manipulates, plagiarizes history, adopts principles in fashion and all alternative byproducts of the system, in some cases even manifestly expresses critical positions to the system, with the only result of guaranteeing and strengthening the survival of this system. On the contrary, the work of art is capable of creating new possibilities and of expanding its area of legal and political influence over other centers of power, when it questions the legitimacy (9) of the dominant system and does it starting from questioning its own origin, deconstructing its own foundations, starting with selfcriticism, of the very system of art. The distruptive work of art has no immediate political eficacy, its form is necessarily precarious, but with the increasing probability of its survival to the dominant order, it also increases its chances of colliding with other disruptive systems, creating disorder, new realities, new alchemies, antidotes to the dominant ideology, possibilities of rupture and creation of new systems of knowledge, manipulable and manipulators to be disrupted. The power of the work of art lies in its disruptive potential. The power of the work of art is Healing (10). Text written by Lucio Salvatore for the catalog of the exhibition Quinta Mostra, Parque Lage (2015)
(1) Karl Marx, O Capital (2) Heráclito de Éfeso, Fragmento (3) Michel Foucault, As Palavras e as Coisas (4) Gregory Bateson, Uma Ecologia da Mente (5) Umberto Eco, em entrevista (6) Friedrich Nietzsche, Vontade de Potência (7) Aristóteles, Metafísica (8) Umberto Eco, Obra Aberta (9) Giorgio Agamben, Profanações (10) Martin Heidegger, Being and Time
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A obra de arte formada segundo princípios conservadores converge sempre com as regras do centro de poder dominante, e é capaz de produzir somente uma ilusão de poder que na realidade não tem influência política alguma e que, ao contrário, só pode ser politicamente influenciável.
A obra de arte como sistema de manipulações Lucio Salvatore Catálogo da Quinta Mostra, Parque Lage Rio de Janeiro
Esta tipologia de obra de arte se apropria tipicamente das questões do ativismo político, do misticismo, manipula, plagia a história, adota princípios da moda e todos os subprodutos alternativos do sistema, em alguns casos até manifesta declaradamente posições críticas ao sistema, com o único resultado de garantir e fortalecer a sobrevivência deste sistema. Ao contrário, a obra de arte é capaz de criar novas possiblidades e de expandir sua área de influência legal e política sobre outros centros de poder quando questiona a legitimidade (9) do sistema dominante e o faz a partir do questionamento da sua própria origem, desconstruindo suas fundações, começando, autocriticamente, a partir do próprio sistema da arte. A obra de arte de ruptura não tem eficácia política alguma no imediato, sua forma é necessariamente precária, mas, com o aumento da probabilidade de sua sobrevivência à ordem dominante, aumenta também suas probabilidades de colidir com outros sistemas de ruptura, criando desordem, novas realidades, novas alquimias, antídotos à ideologia dominante, possibilidades de ruptura e criação de novos sistemas de conhecimento, manipuláveis e manipuladores a serem rompidos. O poder da obra de arte está em seu potencial de ruptura. O poder da obra de arte é Cura (10). Texto escrito por Lucio Salvatore para o catálogo da exposição Quinta Mostra, Parque Lage (2015)
(1) Karl Marx, O Capital (2) Heráclito de Éfeso, Fragmento (3) Michel Foucault, As Palavras e as Coisas (4) Gregory Bateson, Uma Ecologia da Mente (5) Umberto Eco, em entrevista (6) Friedrich Nietzsche, Vontade de Potência (7) Aristóteles, Metafísica (8) Umberto Eco, Obra Aberta (9) Giorgio Agamben, Profanações (10) Martin Heidegger, Being and Time
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Autoesquemas, 2015-present Quadrados Coloridos, papel de algodão, regra de obra. Composição de quadrados criada por pessoas convidadas a participar da obra Autoesquema, 2015-present Colored squares, cotton paper, artwork rule. Square composition created by people invited to participate in the creation of the artwork 76 x 56 cm
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Price Field, 2016 Etiquetas de preço sobre papel algodão Price Field, 2016 Price tags on cotton paper 142 x 142 x 3,5 cm
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ART GAMES
O Jogo da Forma #7, 2015 A regra do jogo The Form Game #7, 2015 The game's rule
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The Form Game is part of a series of games, participative artworks, created by Salvatore that require the participation of people to perform actions that manifest the artist’s thought. Salvatore created rules, often very strict, that are the essence of his artworks. The Form Game consists in a box with a set of stones, an image of a cairn, a sculpture made by the artist with these stones, and the rules of the game that invite the participants to recreate a cairn equal to the one created by the artist, represented in the image. On Collecting is a project about 'the work of art as an image of a work of art’. The artist created a series of sticker albums with different subjects and curatorial themes, artworks that are collections of images of other artworks that can be possessed and traded. One example is the album Quinta Mostra (February 2015) presented in occasion of the group show Quinta Mostra in EAV Parque Lage when the exhibiting artists traded stickers with images of their own artworks. Another example is the sticker album #richardprince4 (June 2014) where Salvatore appropriated himself of Instagram people's pictures that American artist Richard Prince reposted in his Instagram profile (Salvatore intended to create as what he called 'an appropriation of an appropriation'). Lucio turned these images into figurines for the album that were distributed and traded among friends. In Tempo Riflesso the artist invites the exhibition visitors to write the date of their visit on a sheet of paper that must be read on the mirror. The artwork therefore puts the participant in a mental and physical challenge to “deconstruct the way he sees and commands (Lucio Salvatore)”, the artist’s game purpose.
The Form Game é uma série de jogos, obras de arte participativas, criadas por Salvatore, que exigem a participação de pessoas para realizar ações que manifestem o pensamento do artista. Salvatore criou regras, as vezes muito rigorosas, que são a essência de suas obras de arte. O Jogo da Forma consiste numa caixa com um conjunto de pedras, uma imagem de uma escultura feita pelo artista com estas pedras e as regras do jogo que convidam os participantes a recriar uma escultura igual á criada pelo artista, representada na imagem. On Collecting é um projeto sobre "a obra de arte como imagem de uma obra de arte". O artista criou uma série de álbuns de figurinhas com diferentes sujeitos e temas curatoriais, obras de arte que são coleções de imagens de outras obras de arte que podem ser possuídas e comercializadas. Um exemplo é o álbum Quinta Mostra (fevereiro de 2015) apresentado na ocasião da mostra coletiva Quinta Mostra no EAV Parque Lage, quando os artistas exibidos trocaram adesivos com imagens de suas próprias obras de arte. Outro exemplo é o álbum de figurinhas #richardprince4 (junho de 2014) em que Salvatore se apropriou das fotos de pessoas do Instagram que o artista americano Richard Prince repostou em seu perfil (Salvatore quis criar o que ele definiu 'uma apropriação de uma apropriação'). Lucio transformou essas imagens em figurinhas para o álbum que foram distribuídas e trocadas entre amigos. Em Tempo Riflesso, o artista convida os visitantes da exposição a escrever em uma folha de papel a data de sua visita que deve ser lida no espelho. A obra coloca o participante em um desafio mental e físico para “desconstruir a maneira como ele vê e age (Lucio Salvatore)”, o objetivo da obra do artista.
O JOGO DA FORMA #7 A impossível conquista da idéia e suas infinitas possibilidades de manifestação.
Instruções: O objetivo do jogo é a reprodução da escultura do artista que aparece na imagem. Coloque as cinco pedras no centro da placa de vidro, uma em cima da outra seguindo a ordem da escultura. A ação pode ser repetida até a perfeita reprodução da escultura original.
O Jogo da Forma #7, 2015 Um conjunto de pedras, um espelho, uma placa com as regras do jogo, 42 fotos das esculturas criadas pelos alunos da Escola Municipal Marechal Esperidião Rosas Exposição Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro The Form Game #7, 2015 A set of stones, a mirror, a plate with the rules of the game, 42 photos of the sculptures created by the students of Escola Municipal Marechal Esperidião Rosas Fragmento Exhibition, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro 540 x 170 cm 80
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O Jogo da Forma #7, 2015 Alunos da Escola Municipal Marechal Esperidião Rosas Cajú, Rio de Janeiro The Form Game #7, 2015 Students of Escola Municipal Marechal Esperidião Rosas Cajú, Rio de Janeiro
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O Jogo da Forma #7, 2015 Exposição Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Detalhe The Form Game #7, 2015 Exhibition Fragment, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Detail
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O Jogo da Forma #3, 2014 Um conjunto de pedras, um espelho, uma placa com as regras do jogo The Form Game #3, 2014 A set of stones, a mirror, a plate with the rules of the game 540 x 170 cm
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LS3, 2013-present A LS3 é uma performance que aconteceu durante o coquetel de inauguração da exposição Parque Lage em 18 de maio de 2017. O mordomo da embaixada Leandro ofereceu pílulas de arte aos convidados em uma bandeja de prata com água. Essas pílulas foram oferecidas como drogas desenvolvidas pelo artista para melhorar a capacidade de perceber os significados das obras expostas. As pílulas não continham princípios ativos. LS3, 2013-present LS3 is a performance that happened during the cocktail for the inauguration of the exhibition Parque Lage on May 18th 2017. The embassy butler Leandro offered artpills to the guests on a silver tray with water. These pills were offered as drugs developed by the artist to improve the capacity to perceive the meanings of the artworks exhibited. The pills contained no active ingredients. 86
Próxima Página Next page Tempo Riflesso, 2013 Kit para escrever palavras que devem ser lídas no espelho Tempo Riflesso, 2013 Kit to write words that must be read on the mirror
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On Collecting, #richardprince4, 2014 Ă lbum de figurinhas On Collecting, #richardprince4, 2014 Sticker Album 77 x 57 x 3,5 cm
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On Collecting, Quinta Mostra, 2015 Ă lbum de figurinhas On Collecting, Quinta Mostra, 2015 Sticker Album 77 x 57 x 3,5 cm
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SINCE WE MET Participants Two people engaged in a relationship Set One image of the couple This image is printed b/w twice, one for each player Each print is divided in 100 squares by a grid drawn with pencil The same image is color printed on adhesive paper and cut in 100 squares Game Each player chooses a colored square, a fragment of the image, and sticks it on the corresponding image on the b/w print Both players will go on alternatively picking and gluing until each one will have glued 50 colored squares on their b/w prints Lucio Salvatore
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Since We Met, 2014 Performance de Constanรงa Basto e Lucio Salvatore Since We Met, 2014 Constanรงa Basto and Lucio Salvatore performance 135 x 60 x 3,5 cm
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Psíco-Coleção Constança, 2014 Estudantes fazendo a curadoria da coleção Constança Constança's Psycho Collection, 2014 Students curating Constança's collection
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Psico-Coleção Constança, 2014 40 Obras selecionadas pela designer e colecionadora de arte brasileira Constança Basto todas montadas em acrílico. Lista de obras de arte e texto de apresentação da coleção são montados em PVC Constança's Psycho Collection, 2014 40 Artworks selected by brazilian designer and art Collector Constança Basto all mounted on methacrilate. List of artworks and collection presentation text both are mounted on PVC
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Autofagía #2, 2015 Foto dos visitantes da exposição colecionando fragmentos das escultúras de Salvatore Fragmento 2015, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Autofagía #2, 2015 Picture of rhe exhibition visitors collecting pieces of Salvatore’s artworks Fragment 2015, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
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Próxima página Next page Autofagía #3, 2015 uma foto da exposição Fragmento (CCCRJ, 2015), dividida em 49 cartões postais, cada um carimbado e assinado pelo artista com seu selo Art Be Be Away. Durante a última hora do dia de encerramento da exposição, os visitantes puderam pegar os cartões postais e levá-los embora. Foram recolhidos 15 postais enquanto os restantes 39 postais compoem a imagem fragmentada da exposição. Autofagía #3, 2015 one photograph of the exhibition Fragmento (CCCRJ, 2015), divided into 49 postcards, each stamped and signed by the artist with his seal Art Will Be Taken Away. During the last hour of the closing day of the exhibition the visitors could pick up the postcards and take them away. 15 postcards were collected while the remaining 39 postcards compose the fragmented picture of the exhibition. 97
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Fragmento, 2015 Vista da exposicĂŁo Fragmento Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro Fragment, 2015 Fragment exhibition's view Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro
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FOR HERE TOO THERE IS SPACE FOR ART
This work is part of an ongoing project initiated by Salvatore in 2014, which questions the use of public space for private purposes.
Este trabalho faz parte de um projeto em andamento iniciado por Salvatore em 2014, que trata do uso do espaço público para fins particulares.
It consists of arbitrary occupations of public spaces. One example is the occupation that the artist performed in December 2014, which divided Rio’s iconic Plaza de Cinelândia in two with a barrier created with nets, the same ones that are normally used to delimit construction sites.
Consiste em ocupações arbitrárias de espaços públicos. Um exemplo é a ocupação que o artista realizou em dezembro de 2014, que dividiu em dois a icônica Praça da Cinelândia, do Rio de Janeiro, com uma barreira de redes, as mesmas que são normalmente usadas para delimitar canteiros de obras.
These occupations are created to test the attitudes of people to adapt to spatial limitations without questioning the nature and possible reasons for these kinds of limitations.
Essas ocupações foram criadas para testar a atitude das pessoas a se adaptarem às limitações espaciais sem questionar a natureza e as eventuais razões para esses tipos de limitações.
During the exhibition Fragmento (2015), the artist temporarily occupied random areas in Rio de Janeiro city center, without revealing the locations to the public, in order to strategically confuse the art occupations with other forms of public spaces occupations very common in the area.
Durante a exposição Fragmento (2015), o artista ocupou temporariamente com redes áreas aleatórias do centro da cidade do Rio de Janeiro, em torno do corredor cultural, sem revelar ao público os locais, para confundir estrategicamente as ocupações da arte com as outras formas de ocupação de espaços públicos muito comuns na área.
Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2015 Ocupação de uma semana do lugar mais disputados pelos turístas do Parque Lage. Exposição Quinta Mostra, Rio de Janeiro For Here Too There is Space For Art, 2015 One week occupation of the place that is most disputed among Parque Lage's tourists. Exhibition Quinta Mostra, Rio de Janeiro
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Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2014 Ocupação Ramos, Rio de Janeiro For Here Too There is Space For Art, 2014 Ramos's occupation, Rio de Janeiro
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Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2014 Placa usada em algumas ocupações For Here Too There is Space For Art, 2014 Plate used in some occupations
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Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2014 Ocupação Cinelândia, Rio de Janeiro
Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2014 Ocupações na Gâvea, Rocinha e Copacabana, Rio de Janeiro
For Here Too There is Space For Art, 2014 Cinelândia's occupation, Rio de Janeiro
For Here Too There is Space For Art, 2014 Occupations in Gâvea, Rocinha and Copacabana, Rio de Janeiro
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Aqui Também Tem Espaço Para Arte, 2015 Ocupação de uma semana do lugar mais disputados pelos turístas do Parque Lage Exposição Quinta Mostra, Rio de Janeiro For Here Too There is Space For Art, 2015 One week occupation of the place that is most disputed among Parque Lage's tourists. Exhibition Quinta Mostra, Rio de Janeiro
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OPINIÃO 14
He replaced the covers and back-covers with white pages on which he rewrote all their texts, both news and publicity, unformatted and with no images.
Em 2014, durante a campanha eleitoral presidencial brasileira, Salvatore adquiriu, em base semanal, uma série de revistas políticas. Ele substituiu as capas e contracapas com páginas brancas sobre as quais reescreveu todos os textos, tanto de notícias quanto de publicidade, sem formatação e sem nenhuma imagem.
Salvatore then put the magazines back in circulation in the stands where they were purchased.
Salvatore então colocou as revistas de volta em circulação nas bancas onde foram adquiridas.
In 2015, during the exhibition Fragment, on a weekly basis, Salvatore filled the windows of the iconic Piauí newsstand in Rio de Janeiro with the manipulated magazines (Opinião 15).
Em 2015, durante a exposição Fragmento, Salvatore preencheu semanalmente, com uma série de revistas manipuladas, as vitrines da icônica banca de jornal Piauí, no Leblon, no Rio de Janeiro (Opinião 15).
In 2014, during the Brazilian presidential elections campaign, Salvatore purchased, on a weekly basis, a series of political magazines.
Opinião 14, 2014 Banca de jornal, Rio de Janeiro Opinião 14, 2014 Newsstand, Rio de Janeiro
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Brasil O país caminha para dois anos de retração do PIB China Godzilla tropeça e alimenta incertezas no resto do mundo Entrevista Os cinco maiores vilões brasileiros, por Paulo Henrique Amorim. +Qi Audrey Ainda um ícone de elegância Pág.57 Carta Capital Editora Confiança cartacapital.com.br Cunha no Aperto As consequências da denúncia Contra o presidente da Câmara
Opinião 15, 2015 Revista Carta Capital (Detalhe texto) Opinião 15, 2015 Carta Capital magazine (Text detail)
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Opinião 15, 2015 Banca de jornal Piauí, Leblon, Rio de Janeiro Opinião 15, 2015 Piauí newsstand, Leblon, Rio de Janeiro
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Especial água Porque a escassez vai ser um fantasma permanente no Brasil e no mundo 20 páginas Editora Abril Edição 2397 – ano 47 nº 44 29 de outubro de 2014 Veja www.veja.com 02397> 9 770100 712004 R$ 11,90 Issn 0100-7122 Petrolão O doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção na Petrobras, revelou à Polícia Federal e ao Ministério Público, na terça-feira passada, que Lula e Dilma Rousseff tinham conhecimento das tenebrosas transações na estatal Eles sabiam de tudo
Opinião 14, 2014 Revista Veja (Detalhe texto) Opinião 14, 2014 Veja magazine (Text detail)
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Opinião 14, 2014 Banca de jornal, Rio de Janeiro Opinião 14, 2014 Newsstand, Rio de Janeiro
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BLACK SQUARE The Black Square is a series of artworks developed in stone quarries and, as often happens in Salvatore’s artworks, it is a combination of process appropriation, performance, sculpture and painting. The artist painted a black square on the walls of a quarry and then excavated this wall with a caterpillar, reducing it in hundreds of rock fragments that carry the black marks of the square. Subsequently Salvatore sewn these fragments on canvas on which he had imprinted through rubbing the form of the wall before it was excavated. The black square, although reduced to thousand pieces by an industrial process, continues to exist in the fragments that manifest the dialectic tension between unity and multiplicity, matter and immateriality.
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O Quadrado Preto é uma série de obras desenvolvidas em pedreiras e, como acontece com frequência nas obras de Salvatore, é uma combinação de apropriação de processos, performance, escultura e pintura. O artista pintou um quadrado preto nas paredes de uma pedreira e escavou essa parede com uma lagarta, reduzindo-a em centenas de fragmentos de rocha com as marcas pretas do quadrado. Posteriormente, Salvatore costurou esses fragmentos em uma tela sobre a qual ele havia impresso através de um processo de frottage a forma da parede antes de ser escavada. O quadrado preto, apesar de ser reduzido em mil partes pelo processo industrial, continua existindo nos fragmentos que manifestam a tensão dialética entre unidade e multiplicidade, materialidade e immaterialidade.
BLACK SQUARE, 2014 Rub the surface of a rock wall with acrylic paint on natural canvas Paint a black square of approximately 90 centimetres side on the rock wall Remove the black square from the wall by digging the rock Sew the fragments of the stone excavated on the rubbed canvas Lucio Salvatore
Black Square, 2014 Instruções Black Square, 2014 Instructions
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O Fim do Quadrado Preto, 2015 Vídeo, 1’59’’ The End of The Black Square, 2015 Video, 1’59’’
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Quadrado Preto, 2014-2017 Processo, frottage Black Square, 2014-2017 Process, rubbing
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Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 100 x 100 x 3,5 cm
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Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 100 x 100 x 3,5 cm
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Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 100 x 100 x 3,5 cm
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Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 100 x 100 x 3,5 cm
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Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 40 x 40 x 3,5 cm
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Prรณximas Pรกginas Next pages Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas
Quadrado Preto, 2014-2017 Fragmentos de um quadrado preto pintado em uma parede de pedra e sucessivamente escavado, costurados sobre tela Black Square, 2014-2017 Fragments of a black square painted on a stone wall and excavated, sewn on canvas 40 x 40 x 3,5 cm
33 x 33 x 3,5 cm 127
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Ilhado, 2014-2017 Vídeo, 8’23’’ Isled, 2014-2017 Video, 8’23’’
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Lavra, 2014 Vídeo, 1’33’’ Mining, 2014 Video, 1’33’’
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Lavra, 2014 Performance Mining, 2014 Performance
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20 Metri di Fronte Cava, 2014 Processo 20 Metri di fronte Cava, 2014 Process
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20 Metri di Fronte Cava, 2014 5 pedras contendo monotipĂas de 20 metros de uma parede de pedra prĂłxima a ser escavada 20 Metri di fronte Cava, 2014 5 stones containing monotypes of 20 meters of a stone wall that is going to be excavated
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MetafĂsica, 2013-2016 Performance: andar e ler trechos de livros abertos cobertos por pedras Metafisica, 2013-2016 Performance: walking through and reading parts of open books covered by stones
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Dirty Water 1. Pick a large stone that can be carried with your own hands. 2. Cut the stone in two. 3. Carve a deep hole in the stone with your own hands and a tool. of your choice 4. When you have finished carving, wash your hands with water that must fall inside the hole.
Agua Suja, 2014 O artista extraiu uma pedra em uma pedreira, trouxe para seu ateliê, cortou e exculpiu um buraco dentro. Acabado o burraco lavou as mãos de toda sujeira do processo de trabalho dentro do burraco antes de selár a pedra e trazê-la à sua forma original Dirty Water, 2014 The artist extracted a stone in a quarry, brought to his studio, cut and carved it inside. Once finished he washed his hands of all the dirt result of the work process inside the stone and sealed it, bringing it to its original form
5. Seal the dirty water inside the stone by gluing the two halves. 137
David, 2013 Detalhe David, 2013 Detail
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Prรณximas pรกginas Next pages 60 m3/h, 2006-2014 Pigmento natural sobre papel, moldura de madeira 60 m3/h, 2006-2014 Natural pigment on paper, wooden frame
David, 2013 Barra de marmore carrara, grรฃo de pedra, espelho David, 2013 carrara marble bar, grit, mirror 100 x 12 x 3 cm
150 x 100 x 3,5 cm
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bre papel algodĂŁo
aper
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about the artist Lucio Salvatore
Lucio Salvatore (1975) is an Italian born Brazilian multidisciplinary artist who works in photography, text, painting, sculpture, performance and appropriation of processes. Salvatore lives and works in Rio de Janeiro and in Sant’Elia Fiumerapido (Italy). Educated in classical studies, Salvatore graduated in economics from the Bocconi University of Milan; he also studied philosophy in Milan, photography in New York and art at the EAV Parque Lage visual arts school in Rio de Janeiro. Salvatore's main solo exhibitions to this day are: Parque Lage, Palazzo Pamphilj, Galleria Cortona and Galleria Portinari, Rome (2017); Arte Capital, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2016); Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2015); Redução Espacial, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2014); Some Other Race, Brazilian Sculpture Museum MuBE, São Paulo (2011); Untitled, Superstudio, Milan (2008), Untitled, Jardim Botânico, Rio de Janeiro (2008); Untitled, Grant Gallery, New York (2007); Untitled, SBH, St Barthelemy (2006); Untitled, Potzdamer Platz, Berlin (2005).
about the curator Fernando Cocchiarale
Fernando Cocchiarale is the curator of the Museum of Modern Art (MAM) Rio de Janeiro. Art critic, curator and professor of philosophy of art in the Department of Philosophy at PUC-RJ, he is also a professor at the School of Visual Arts of Parque Lage. Author of articles, texts and reviews published in books, catalogs, newspapers and magazines of art in Brazil and abroad. He was curator and coordinator of Itaú Cultural program of Visual Arts, coordinator of Visual Arts in Funarte, member of numerous juries and selection committees for shows and salons in Brazil. He is an independent curator, accountable for exhibitions in MAM-RJ, Itaú Cultural (SP), Santander Cultural (RS), Oi Futuro, (RJ), Paço Imperial (RJ), Casa França-Brasil (RJ), Museu Nacional do Centro Cultural da República (DF). He holds a doctorate in Technologies of Communication and Aesthetics at the School of Communication at the Federal University of Rio de Janeiro.
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Lucio Salvatore (1975) é um artista multidisciplinar nascido na Itália que trabalha com fotografia, texto, pintura, escultura, performance e apropriação de processos. Salvatore vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Sant’Elia Fiumerapido, Itália.
sobre o artista Lucio Salvatore
Educado em estudos clássicos, Salvatore se formou em economia na Universidade Bocconi de Milão, estudou filosofia também em Milão, fotografia em Nova York e arte na escola de artes visuais EAV Parque Lage no Rio de Janeiro. As principais exposições-solo de Salvatore até hoje foram: Parque Lage, Palazzo Pamphilj, Galleria Cortona e Galleria Portinari, Roma (2017); Arte Capital, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2016); Fragmento, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2015); Redução Espacial, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro (2014); Some Other Race, Museu Brasileiro de escultura MuBE, São Paulo (2011); Untitled, Superstudio, Milão (2008); Untitled, Jardim Botânico, Rio de Janeiro (2008); Untitled, Grant Gallery, New York (2007); Untitled, SBH, St Barthelemy (2006); Untitled, Potzdamer Platz, Berlin (2005).
Fernando Cocchiarale é curador do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Crítico de arte, curador e professor de filosofia da arte no Departamento de Filosofia da PUC-RJ, é também professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
sobre o curador Fernando Cocchiarale
Autor de artigos, textos e resenhas publicados em livros, catálogos, jornais e revistas de arte no Brasil e no exterior. Foi curador e coordenador do programa Itaú Cultural de Artes Visuais, coordenador de Artes Visuais da Funarte, membro de inúmeros jurados e comitês de seleção para shows e salões no Brasil. Ele é um curador independente, responsável por exposições no MAM-RJ, Itaú Cultural (SP), Santander Cultural (RS), Oi Futuro (RJ), Paço Imperial (RJ), Casa França-Brasil (RJ), Museu Nacional do Centro Cultural da República (DF). Possui doutorado em Tecnologias da Comunicação e Estética na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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ARTECONTINUA
Copyrights das fotos @Lucio Salvatore Copyrights das obras @Lucio Salvatore Copyrights da publicação @Lucio Salvatore Publicado por Arte Continua Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser impressa ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópias e gravação sem permissão por escrito do editor. Impresso na Itália Primeira edição 2018 ISBN 978 88 943 6144 5 Copyrights of the photos @Lucio Salvatore Copyrights of the artwrorks @Lucio Salvatore Copyrights of the publication @Lucio Salvatore Published by Arte Continua All rights reserved. No part of this publication may be printed or used in any form or by any means, including photocopying or recording without permission in writing of the publisher. Printed in Italy First edition 2018
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