Boletim Arte na Escola | edição 77

Page 1


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

OFICINA

A magia de uma boa história

Regina Machado não tem dúvida de que o conto de tradição oral contribui para o exercício imaginativo, para a aquisição de repertório e outros recursos de expressão

Raquel Alves Doutora em arte e educação, autora de ficção, Regina Machado se deu conta de sua paixão pelo conto e pela arte de contar histórias quando já era um nome respeitável nos corredores da Universidade de São Paulo. Tocada pelo poder inebriante de uma boa narrativa, ela mergulhou fundo no assunto e lá se vão mais de 30 anos. O resultado do longo e incessante aprendizado é uma ação artística de dar voz e vida a contos, fábulas e lendas, além de um gigantesco acervo de contos imemoriais, garimpados em tradições de todo o mundo. Para ela, o conto de tradição oral pode ser um instrumento de aprendizagem, já que o próprio docente aprende a trabalhar-se como educador a partir das metáforas contidas nas histórias. Regina atribuiu sua familiaridade com a expressão e com as palavras à dedicação de uma vida ao ato de ler e ouvir histórias. Mas, para abraçar essa arte tão antiga quanto as narrativas que pratica, não existe receita. Cada um tem que descobrir o seu próprio jeito de encontrar e


compartilhar boas histórias: "não há como ensinar, isso vem depois de muita leitura e muita experiência. O que vale é a intenção, é preciso aprender a escutar, a perceber, até que a história esteja viva dentro do contador”, diz. Espaço de significações Que as narrativas pessoais e universais têm que estar dentro da escola, disso Regina não tem a menor dúvida: "ter acesso ao conto é uma forma privilegiada de aprendizagem, tão rica para o contato com um repertório de imagens internas quanto para a noção de movimento e ritmo narrativo”. Ela dá até o exemplo de uma de suas alunas que, ao contar a história de um alfaiate que selecionou objetos para vender no mercado, começou a tirar peças de dentro de um baú. "As crianças viram objetos exóticos, muito expressivos, que a contadora procurou com cuidado na sua própria casa. Ao apresentá-los como parte da narração, ela introduziu um exercício de leitura estética", explica. Convidar o aluno a fazer um "passeio" pela história, segundo ela, não é nada mais do que conduzi-lo por uma jornada ao seu espaço de significações. A trama pode conter perguntas, desafios ou simplesmente transportar o ouvinte a um lugar de quietude, possibilitando o contato consigo mesmo. E pode, ainda, estabelecer conexões imediatas com outras disciplinas, como Geografia, História, Matemática, etc. Tudo depende do fundamento que o professor-contador pensou para aquela atividade. "O professor pode escolher uma história que tenha um rico encadeamento de imagens, afinal não existe um processo de conhecimento que não se inicie pela habilidade imaginativa", sugere. Mesmo em tempos de internet, games e aplicativos, não há criança que resista à magia das boas histórias. “Elas carregam uma estrutura simbólica milenar em que os elementos estão todos construídos para permitir uma experiência de conhecimento”, destaca a educadora. “Uma história simbólica de tempos imemoriais não foi escrita por uma pessoa, ela é parte do conhecimento de uma cultura tradicional. ” Para trabalhar com os alunos Regina Machado não tem dúvida de que o conto de tradição oral contribui para o exercício imaginativo, para a aquisição de repertório e outros recursos de expressão. Porém, o educador precisa conhecer esse material profundamente, e isso depende de uma disponibilidade interna de aprender. Para mergulhar nesse universo das histórias, é importante, por exemplo, passar boas horas em uma livraria. "As Mil e uma noites ou os livros de Ricardo Azevedo, autor que vem reescrevendo e ilustrando contos populares, podem despertar possibilidades instigantes”, diz Regina, acrescentando que o professor deve se sentir estimulado a querer saber mais sobre cada história.


O educador pode praticar a narração de histórias em reuniões com outros professores, mantendo-se atento às reações da plateia, tanto para trabalhar com isso ali mesmo, na própria história, como para enriquecer seu repertório.


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

VIVÊNCIA

De Villa-Lobos à cultura popular nordestina

Foco na cultura popular nordestina, mais próxima das raízes dos alunos, contribuiu para que assimilassem os valores culturais da região onde vivem

1/4


Heleno Araújo * Uma das maiores satisfações de ser professor é perceber como o conhecimento é construído dentro da sala de aula, e que estar atento aos alunos pode resultar em benéficas correções de rota. No início deste ano letivo me deparei com uma situação assim. Tinha previsto focar a obra de Heitor Villa-Lobos nas aulas do primeiro ano do Ensino Médio da Escola de Educação Profissionalizante Pedro de Queiroz Lima, em Beberibe (CE), mas me surpreendi ao notar que os estudantes, além de não conhecerem o músico nem pelo nome, nunca tinham escutado nenhuma de suas composições. Quando apresentei as “Bachianas Brasileiras”, por exemplo, eles acharam engraçado, disseram que aquilo não era música, riam da letra, do coral, de quase tudo. Aos poucos fui descontruindo as melodias e apresentando os diferentes ritmos, os instrumentos usados, as entonações das vozes e explicando como cada parte tinha sido produzida, da utilização da música clássica até o folclore presente na composição. Neste processo, me dei conta de quanto os jovens estão acostumados a consumir apenas o que a mídia tradicional entrega, familiarizados apenas com o que ouvem no rádio ou assistem na televisão. Porém, quando apresentados a outras formas culturais, acabam compreendendo e se interessando também por elas. Assim, resolvi mudar a rota e comecei outro projeto, focado na cultura popular nordestina, mais próxima de suas raízes, para que assimilassem os valores culturais da região onde vivem, conhecessem os diversos artistas anônimos da comunidade local e reconhecessem seus talentos dentro de um projeto artístico. Como o tema é amplo e tenho cerca de 180 alunos, distribuídos em quatro turmas, dividi o projeto em Teatro, Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Literatura, ficando cada grupo responsável por uma delas. Começamos por uma ampla pesquisa de campo, cujo resultado foi compartilhado com os colegas em um seminário. O desconforto inicial dos estudantes com o tema transformou-se aos poucos em confiança, o que atribuo à interatividade do trabalho. Esse processo criativo precisa ser um momento lúdico para os alunos, de liberdade, envolvimento e vazão emocional. Por isso, a minha interferência é mínima em relação ao conteúdo e procuro atuar somente como instigador do pensamento crítico. Para os alunos não se concentrarem apenas na linguagem em que estão trabalhando e perceberem a conexão que existe entre todas elas, procuro começar cada aula com um breve espetáculo produzido por mim para mostrar a nossa rica diversidade cultural. Num dia entro na sala cantando uma música, em outro recito um poema, em outro faço um monólogo ou um repente com o nome deles. Além de atrair a atenção da classe, já que cada início de aula vira um momento especial, essa brincadeira é

2/4


fundamental para quebrar a hierarquia da sala de aula e torná-los mais abertos para a atividade a ser desenvolvida. A pesquisa na prática Em paralelo à pesquisa temática, os grupos estão produzindo alguns trabalhos. Por exemplo, a ideia da turma de Teatro é encenar o cordel encantado, com os alunos cuidando de toda a elaboração do espetáculo, como a criação do figurino, coreografias, música, texto e cenário. Já o grupo de Música está trabalhando com ritmos nordestinos com foco na percussão alternativa. Além da pesquisa musical, o grupo cria os próprios instrumentos com garrafas PET, canos de PVC e madeira. O grupo de Artes Visuais está pesquisando a presença de personagens nordestinos em obras de artistas clássicos, e ao final do projeto, pretende fazer uma exposição com os trabalhos que já vêm desenvolvendo em sala de aula, com pintura em tela, xilogravura e desenho. O grupo responsável por Cinema está selecionando filmes para projeção e debate. Já a turma de Literatura está focada em resgatar a literatura de cordel. Como complemento para as atividades de sala de aula, temos feito trabalhos de observação da comunidade. Os alunos saem pela cidade fotografando cenas cotidianas, desde paisagens até pessoas. A nossa região é repleta de artistas desconhecidos, que trabalham com artesanato e diversos materiais, como areia colorida, bordados e rendas. Meu objetivo com essa atividade é desenvolver o olhar para o entorno e seus personagens, e criar um estímulo para a pesquisa, já que, além de captar imagens, eles precisam entrevistar as pessoas, fazer o registro oral das histórias coletadas e produzir um documento com os relatos. Motivação Percebo que, ao longo do processo, os alunos estão se apoderaram do projeto. Não raro vejo os grupos falando e “se fizéssemos isso, se fizéssemos aquilo”, e o trabalho vai ganhando mais e mais camadas, mais propósitos e tornando-se cada vez mais rico. Por exemplo, a turma que começou pesquisando música já está produzindo os próprios instrumentos. Os alunos que estudam cinema já pensam em fazer um pequeno documentário. O importante é a criatividade fluir e não impor limites. Apesar de não terem aulas regulares de Arte no segundo ano do Ensino Médio, muitos alunos já estão pedindo para continuar o projeto como atividade extracurricular, uma vez que eles estudam em período integral. A área embaixo da escada na escola, antes sem uso, transformou-se em um ponto de encontro do grupo, uma espécie de espaço cultural bastante frequentado fora do horário de aula. Esse contato direto com as mais diversas linguagens também tem revelado alguns talentos e habilidades. É claro que não pretendo formar nenhum artista, mas gosto de deixar essa possibilidade em aberto caso alguém se identifique e queira seguir como profissão.

3/4


Esse projeto me ensinou que ao ouvir os alunos, é possível criar um trabalho bem mais envolvente, maduro e com melhores resultados. Não posso dizer que o projeto “Cultura Popular Nordestina” tocou todos os 180 alunos da mesma maneira, porém quando vejo o espaço cultural, que antes era uma área vazia e sem utilidade, ocupado por eles, percebo que se o professor tomar a iniciativa, se dar por inteiro e mostrar que realmente ama o que faz, que está aberto a propostas e sabe ouvir o que eles têm a dizer, os alunos vão se apropriando da escola e percebem que o aprender pode ser algo realmente prazeroso. *Heleno Araújo é professor de artes na EEEP Pedro de Queiroz Lima Beberibe (CE). Graduado em pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará e pós- graduando em artes (Música) na Faculdade Darcy Ribeiro (Graduale). Participa do grupo de estudo em cultura popular na UECE e desenvolve diversas atividades em artes em escolas com música, desenho e pintura, teatro de bonecos.

4/4


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

ARTIGO

É só cantar e tocar?

Vivências sonoras e estímulos musicais na infância contribuem para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social

Sandra Rhoden * Refletir, abordar e pensar em outras possibilidades de inserção de práticas pedagógico-musicais no contexto da Educação Infantil atual se faz urgente e necessário. Cantar e tocar instrumentos de percussão são atividades muito importantes, mas o que mais podemos fazer? Que outras possibilidades podem ser pensadas e planejadas neste universo? Desde a concepção até o nascimento, a criança absorve e estabelece relações com a música. As vivências sonoras e estímulos musicais recebidos na infância muito contribuem para o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.


Cantar, ouvir música, sonorizar histórias, interagir com instrumentos musicais, criar objetos sonoros e instrumentos de percussão, perceber os sons do ambiente interno e externo do seu contexto, expressar-se corporalmente a partir de gêneros musicais diversos, inclusive cantigas de roda, desenvolver o senso rítmico, conhecer as músicas do mundo, utilizar o corpo como suporte, entre outras atividades, são formas de musicalizar. Para conceituar e ampliar o termo musicalização, trago Penna (2008), que contribui ao dizer que: A musicalização é um processo educacional orientado que, visando promover uma participação mais ampla na cultura socialmente produzida, efetua o desenvolvimento dos instrumentos de percepção, expressão e pensamento necessários à apreensão da linguagem musical, de modo que o indivíduo se torne capaz de apropriar-se criticamente das várias manifestações musicais disponíveis no ambiente – o que vale dizer: inserir-se em seu meio sócio-cultural de modo crítico e participante. (PENNA, 2008, p. 47). De acordo com a autora, é importante que as atividades pedagógico-musicais propostas à criança tenham objetivos que propiciem a vivência, a pesquisa e a interação com a música. Além disso, é fundamental que façam sentido e tenham significado, contribuindo assim para o desenvolvimento integral desta faixa etária.

Expressar-se corporalmente faz parte da musicalização


A criança vem para a escola para aprender música? Levando em conta que a criança estabelece relações com a música antes de entrar na escola, os contatos com outras possibilidades e vivências musicais se ampliam gradualmente, de acordo com as práticas pedagógico-musicais propostas e pensadas pelo educador com o objetivo de expandir esse conhecimento. Ao escolher uma música ou uma atividade para desenvolver o fazer musical, é de suma importância que o educador ouça, conheça e reconheça o repertório musical prévio das crianças e se questione: “Que interesses musicais devo levar em conta? Que novos conhecimentos posso oportunizar? Que práticas e conhecimentos musicais pretendo proporcionar? ” Com relação aos repertórios musicais das crianças, ao buscar formas de ouvi-las e escutá-las, explorando suas múltiplas linguagens, valorizamos aspectos relacionados à sua autonomia e possibilidades de cooperação. A criança é ativa e participativa ao revelar a sua condição de sujeito, ao produzir e reproduzir sentidos e significações a tudo o que pensa e realiza. Para Ilari (2013, p. 114), “ainda hoje tem gente que pensa que criança não ouve direito, não tem opinião e que pouco importa o repertório musical que apresentamos a elas”. É importante permitir a inserção e apreciação dos repertórios musicais das crianças antes de ensinar somente músicas que nós, educadores, acreditamos ser melhores e mais adequadas para elas. A partir do reconhecimento dessa bagagem, devemos seguir com um planejamento que seja próximo do seu contexto, para depois pensar na expansão para outras esferas. Para realizar atividades pedagógico-musicais preciso de silêncio? É desafiador conseguir a atenção das crianças ao propor uma atividade, ainda que dinâmicas e lúdicas. Nesse sentido, procuro incorporar práticas pedagógico-musicais relativas ao som e ao silêncio. O silêncio é o pronunciamento do que ouço, pois ao silenciar me concentro e me foco no que está sendo proposto. Por meio da capacidade de fazer silêncio, consigo apreender profundamente os sons do ambiente, interno e externo, no qual estou inserido. Nesse sentido, é importante propor atividades em que as crianças silenciem por alguns momentos, sendo imprescindível escutar o que elas têm a nos dizer e, após o processo de escuta, conhecer as suas concepções em torno do que ouviram. Para estimular a percepção sonora, podemos incentivar a criança a nomear e classificar o que ouviu: “Quais foram os sons? ”, “De onde eles vieram? ”, “São fortes


ou fracos? ”, “São curtos ou longos? ”, “São graves, médios ou agudos? ”, “Estão longe ou perto? ”, “Podemos reproduzir estes sons? De que forma? ”, entre outras possibilidades. Assim, estaremos colaborando para mantê-la absorvida pelo que escuta no seu cotidiano e exercitando a atenção e concentração. Considerações finais Oferecer e desenvolver práticas pedagógico-musicais na Educação Infantil é um compromisso do educador, no entanto é necessário buscar mais conhecimentos para propor práticas que promovam a musicalização. Cursos de curta duração e leituras sobre o tema possivelmente serão necessárias e o auxiliarão a conhecer, refletir e planejar práticas musicais que possam ser desenvolvidas com crianças além de cantar e tocar. Referências bibliográficas: ILARI, Beatriz. Música na infância e adolescência: um livro para pais, professores e aficionados. Curitiba: InterSaberes, 2013. PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008. * Sandra Rhoden é Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; Licenciada em Música pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS e Graduanda em Artes Visuais pela mesma Universidade. É professora na Fundação Municipal de Artes de Montenegro – FUNDARTE desde 1994, atuando nas áreas de música e artes visuais, com ênfase em musicalização infantil, pedagogia do piano, artes visuais, formação de professores e projetos integrados. Coordenadora do Polo FUNDARTE Arte na Escola e professora convidada no Curso de Especialização em Educação Musical pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS.


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

25

Inspiração e proposição

No ambiente de troca dos polos, os conteúdos ganham significado, contexto e efeito multiplicador

Raquel Alves Testada e aprovada por professores de arte de todo o Brasil, a Midiateca Arte na Escola contribui para a formação dos docentes e fomenta debates enriquecedores. A série Todo o passado dentro do presente já está disponível na íntegra em nosso site, e 31 dos 162 documentários sobre artistas brasileiros e contemporâneos da DVDteca Arte na Escola podem ser assistidos no próprio site, que disponibiliza também material educativo para apoio do professor. O arte br é uma fonte rica para proposições de leitura de imagem, e o Eco Art possibilita experiências interdisciplinares que abordam arte e meio ambiente. Viajando com Eckhout: roteiros para viajantes-professores e Apontamentos sobre o prêmio completam o acervo. No ambiente de troca dos polos da Rede Arte na Escola os conteúdos ganham significado, contexto e efeito multiplicador. Para Dilma Klem, coordenadora do polo da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes/MG), mergulhar no oceano de possibilidades da Midiateca é uma experiência cotidiana desde 2009. "Tenho usado a


DVDteca e o Eco Art nas oficinas desenvolvidas com professores e alunos das licenciaturas de Artes e Pedagogia. Para trabalhar a arte e cultura popular, por exemplo, realizamos recentemente um ciclo de debates a partir dos documentários As fábulas de Antonio Poteiro, A tapeçaria de Norberto Nicola e Waldomiro de Deus: o naïf brasileiro. A apresentação de cada vídeo foi mediada por um grupo de acadêmicos, que conduziu as discussões, abarcando o processo de criação do artista, sua produção, como temáticas, técnicas, pensamentos e sentidos intrínsecos nas imagens." Com professores de Educação Infantil foi realizada a proposição Laboratório de poéticas, que utilizou toda reflexão e prática artística a partir de diversos documentários, como Gravuras de Maria Bonomi, O artista e eu e Som do barro (Nado de Olinda, por exemplo. “Em outra etapa, assessoramos o planejamento dos docentes associando o tema do projeto de arte aos vídeos”, continua Dilma, que também utiliza os documentários do Prêmio Arte na Escola Cidadã e o próprio Boletim Arte na Escola como disparadores de discussões e reflexões. Para ela, é essencial um estudo prévio profundo do conteúdo: "só assim é possível adequar as abordagens, com proposições novas e instigantes", reforça. Escuta atenta Silemar Maria Medeiros, coordenadora do polo na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), também potencializa as atividades dos grupos a partir dos materiais da Midiateca. "Procuramos ouvir os professores sobre suas reais necessidades e, sempre que possível, incluímos títulos da DVDteca e documentários do Prêmio Arte na Escola Cidadã". Um exemplo recente do uso desses conteúdos teve o meio ambiente como inspiração: partiu dos documentários Impressões de Carlos Vergara e A bordadura nas artes visuais, do XV Prêmio Arte na Escola Cidadã, para sensibilizar os professores, que desenvolveram uma produção artística em conjunto. A inspiração veio também do florido geométrico de Beatriz Milhazes, disponível no Eco Art, que inspirou a produção de tiras de tecido pintadas e bordadas, que intervém nos espaços do polo Unesc. "Usando as palavras do pesquisador Arlindo Machado, no livro Arte e Mídia, costumo dizer que a arte é produzida com os recursos do seu tempo. O celular e a máquina fotográfica digital estão aí e temos que fomentar o uso dessa ferramenta. Os DVDs do Arte na Escola nos inspiram também para criarmos novos documentários, falam de arte e suas diferentes linguagens como fotografia, performance, desenho, pintura, entre outras", completa Silemar. Provocações No polo Fundação Novo Milênio (ES), Maria da Penha Fonseca busca na Midiateca referências sob medida para os professores da rede pública e dos grupos de estudos. "Os materiais educativos do Arte na Escola possuem uma concepção metodológica muito boa. Apresentam orientações e possibilidades de utilização, de acordo com o objetivo. Considerando o número de docentes não habilitados em arte, o material disponibilizado na Midiateca forma e aproxima os professores da arte contemporânea brasileira”, finaliza a educadora.


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

CARREIRA

Mais longa, mais prática Raquel Alves O Ministério da Educação homologou, em julho, uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) que, entre outras determinações, altera a carga horária dos cursos de licenciatura de três para quatro anos, contabilizando 3.200 horas de formação. Para docentes em segunda licenciatura, a carga horária pode variar de 800 a 1.200 horas. A ampliação é justificada pela intensificação de conteúdos voltados à prática na sala de aula, o emprego das novas tecnologias e a educação inclusiva. Com prazo de implantação de dois anos em todas as instituições de ensino do país, a medida deve contribuir para a aproximação dos professores com a realidade das escolas. É essa a expectativa de gestores e especialistas em educação que se debruçaram sobre os currículos e ajudaram a estabelecer as novas bases para os cursos de licenciaturas. Um desses grupos de trabalho teve a coordenação de Maria Margarida Machado, presidente da ANPEd (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), que participou ativamente dos debates e audiências públicas. Para ela, o principal avanço está diretamente ligado à qualificação do professor. "Precisamos de educadores mais bem preparados para enfrentar os desafios de uma sociedade que está mudando. A produção do conhecimento não é como há 10, 20 anos – até por isso em muitas universidades públicas a carga horária já era de 3.200 horas. Se o médico, que lida com a vida, precisa de pelos menos seis anos para concluir sua formação, por que o professor, que lida com a formação de um cidadão, precisa de menos?" pergunta. Para Margarida, especialista em políticas públicas e doutora em Educação, a mediação pedagógica tem sido apontada como um dos grandes problemas no contexto da educação, de forma que investir mais no professor vai beneficiar a categoria como um todo: "A Resolução traz a oportunidade de uma formação mais sólida. Hoje sobram vagas nos cursos públicos por causa da baixa valorização do profissional de educação", compara. Bernadete Gatti é outra defensora do aprofundamento do conteúdo na preparação do professor. "Não dá para ter na sala de aula, um profissional sem noções básicas da


história da educação, de políticas e fundamentos educacionais", afirma a pesquisadora sênior e coordenadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas. Gatti estudou o assunto a fundo e acredita que principalmente o professor de Arte será beneficiado com a melhoria no currículo: "é importante que a criança, já no Ensino Básico, possa conversar com a arte, o que ainda não está acontecendo. Com uma licenciatura mais atualizada poderemos melhorar, afinal estamos falando de 'pessoinhas' em formação". A fragilidade da formação no aspecto pedagógico é também uma preocupação de Roberta Rocha, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Unicamp (NEPP) e diretora da Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho, de Jundiaí (SP). "Nós recebemos excelentes especialistas em matemática, artes e outras disciplinas, mas falta a eles conhecimento de pedagogia. Eles não estão preparados para pensar o conteúdo dentro de um contexto mais amplo, e nem para articular com outras disciplinas. Entender os processos cognitivos, saber como a criança ou o adolescente aprende é parte importante do ofício e os cursos de licenciatura estavam falhando muito nesse ponto", analisa. O documento também determina novas regras para a formação continuada: os cursos de atualização, incluindo atividades de extensão, aperfeiçoamento, especialização e pós-graduação, devem ter carga horária entre 20 e 80 horas. E como a ênfase das mudanças recai principalmente sobre o aspecto prático, o estágio obrigatório passa de 300 para 400 horas. "O novo modelo incorpora a preocupação com a formação continuada. Estimula as instituições a pensarem além da licenciatura, mas também no lato sensu, na extensão e na valorização do currículo do profissional de educação", elogia Maria Margarida. Além do foco em conteúdos práticos, a nova resolução acerta o passo com a inclusão educativa e deve preparar o futuro professor para trabalhar a diversidade no ambiente escolar, desde a questão de gênero até os alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e também as comunidades indígenas e quilombolas.


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

ARTISTA

O fantástico mundo do teatro de bonecos

O teatro de bonecos parece uma concepção simplista, mas possui ligação com os mais diversos vieses artísticos

Rosiane Moro Visitar a sede do grupo mineiro Giramundo, formado na década de 1970 pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse, Teresa Veloso e Madu, é como entrar em livro de contos de fadas. Há bonecos para todos os gostos, dos tradicionais Pinóquio, Pedro e o Lobo, Alice e Bela Adormecida até orixás, índios, sacis, criados por meio de um bocado de tecnologia. Tudo começa com um desenho técnico, baseado num estudo rigoroso de articulações. O projeto segue para ser esculpido, pintado, caracterizado e testado, num processo artesanal que pode durar meses. Um espetáculo completo, então, é trabalho para mais de um ano. Além dos bonecos, é preciso criar o texto, roteiro, cenografia, figurino, sonorização e iluminação, selecionar os atores, ensaiar e – ufa! –

1/4


treinar os movimentos dos bonecos. Os movimentos podem ser feitos por um manipulador, mas a maioria dos bonecos de balcão ganha vida graças ao sincronismo de dois marionetistas. “O teatro de bonecos parece uma concepção simplista, mas é um trabalho que possui uma ligação com os mais diversos vieses artísticos. Temos desenho, escultura, pintura, interpretação, design, canto, dança, literatura e muito mais”, conta a designer de moda Endira Drummond, responsável pelo figurino e cenografia dos espetáculos e integrante do Giramundo há 10 anos. Endira também trabalha nas oficinas realizadas em escolas ou na própria sede do grupo, que podem incluir criação de bonecos, de acordo com a idade dos participantes. “Os fantoches, mais fáceis de manusear, são ideais para as crianças. Com adultos e adolescentes fazemos os bonecos de balcão, pois exigem o uso de ferramentas mais pesadas, como serra, prego e estilete”, explica. A formação envolve ainda teoria, com foco na história do teatro de bonecos e suas variáveis, como o teatro de sombras. “O mundo imaginário das crianças é muito maior do que o nosso. Elas têm uma capacidade enorme de inventar histórias e até de representar os papéis”, destaca Endira. As oficinas são momentos muito ricos em termos de aprendizagem, de construção do simbolismo. “Por meio dos bonecos as crianças desenvolvem a criatividade, a oratória, a socialização e raciocínio lógico, fazendo com que elas se sintam empoderadas e fortes”, detalha Endira. Mundo digital Desde 2003, o Giramundo vem incorporando técnicas digitais aos seus espetáculos, como animação e stop motion. “É uma evolução natural, mas o princípio é sempre o mesmo, ou seja, o estudo minucioso do movimento, das articulações. Não tem como fugir disso”, reforça Endira. O grupo também saiu dos palcos e ganhou a televisão com o programa infantil “Dango Balango”, exibido pela TV Brasil e Rede Minas, que mistura bonecos de balcão com animação. O repertório do grupo inclui mais de 35 espetáculos, sendo que 24 deles ainda estão ativos. Para manter viva a trajetória do grupo, a sede do Giramundo, em Belo Horizonte (MG), onde também funciona a escola e o estúdio de animação, abriga um museu com o acervo de bonecos e objetos de cena usados nos espetáculos.

2/4


A coleção de “O Guarani”, uma das maiores do Giramundo, integra o projeto "música & bonecos", conjunto de espetáculos de bonecos com música erudita.

Para trabalhar com os alunos “Contos de luz e sombra” é uma das oficinas que o Giramundo realiza em seu ateliê e em escolas. Aproveite as sugestões! 1) Nossa oficina começa com a história do surgimento do teatro de sombra na China, seu desenvolvimento na Índia e Indonésia e a reflexão sobre o poder das imagens projetadas em rituais ainda mais antigos. Estas referências provocam na criança a reflexão histórica e a imaginação de outros tempos e povos. 2) Em seguida mostramos com nossos bonecos o que é possível fazer dentro do teatro de sombras usando materiais reciclados. Assim, a imaginação da criança se desloca para questões materiais, para a transparência e as possibilidades construtivas, e para o potencial expressivo dos objetos e materiais descartados. 3) Na fase prática, com papel, tesoura, lápis e borracha, a criança cria moldes, tendo como referência espetáculos e personagens do grupo. A criação de moldes acompanha a idade da criança: as menores usam moldes simples do Giramundo como referência e as maiores iniciam o processo de criar os seus. 4) A criança contorna o molde com o lápis, em seguida recorta as partes do boneco. Nós apenas furamos os bonecos e usamos a cola quente para colocar palitos de picolé nos locais onde haverá articulações.

3/4


5) Depois do boneco de sombra pronto e montado, chegamos à quarta etapa da oficina, a criação de cenas. É hora de usar a imaginação para inventar histórias. O Giramundo leva uma tenda de sombra e uma luminária, e as crianças iniciam a encenação de histórias, exercitando sua imaginação na criação de personagens e vozes, e coordenação motora na manipulação das sombras, tudo dentro de um jogo cênico muito emocionante e estimulante para alunos e professores.

O acervo do grupo inclui pequenos espetáculos sobre ecossistemas brasileiros, como o cerrado.

Saiba mais: Giramundo: uma história de títeres e marionetes, da DVDteca Arte na Escola

4/4


30/09/2015

O X da questão • Boletim Arte na Escola • Edição #77 • Agosto / Setembro 2015 • Boletim • Instituto Arte na Escola

BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

POLÊMICA

O X da questão Raquel Alves Para alguns docentes, apostilas ou materiais prontos para aplicação em sala de aula roubam a liberdade e a autonomia. Outros avaliam que conteúdos estruturados dão mais segurança ao educador, aprimoram sua metodologia e contribuem para o melhor aprendizado do aluno. O Boletim Arte na Escola entrevistou professores de várias regiões para ouvir suas opiniões, confira e participe. Valéria Batista Pereira Gomes, professora do Ensino Fundamental da Rede Municipal em Tupã, SP. “Na minha cidade, desde 2013, as apostilas são propostas à rede estadual. Nós, da rede municipal, passamos a utilizá-las por opção, fazendo adequações. Mas trabalhar com este tipo de material só é viável e eficiente quando o professor cria situações de aprendizagem para que suas aulas sejam significativas para seus alunos. ”

Alan Livan, professor do Ensino Médio, Ensino Fundamental II e EJA na Rede Estadual em São Paulo, SP. “Os Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno, materiais normativos integrantes do novo currículo do Estado de São Paulo, foram adotados de forma impositiva, com obrigatoriedade na sua aplicação. Mas realizei uma experiência de três anos com o material no Ensino Médio, e aponto em minha dissertação de Mestrado a possibilidade de apropriação e ressignificação deste material não só por parte dos professores, mas também dos estudantes. Deparei-me com algumas proposições das artes contemporâneas que podem impulsionar o arte-educador atento a realizar ações de deslocamentos e ressignificações."


Sayonara Ramos Abreu Soares, professora de Ensino Médio na Rede Municipal em Cariacica, ES. "Eu nunca usei apostilas, acho que engessam o trabalho do professor. Eu me baseio no Currículo Básico da Rede Estadual (ES) e busco referências em livros, revistas, sites, filmes, catálogos de exposições, etc. Minha escola é optante do programa PNLD e recebemos o material referente ao Ensino Médio, mas para mim o livro didático é apenas um suporte."

Milena Moisés de Lucena , professora no Ensino Fundamental II Rede Municipal em Patos, PB. "No início da minha carreira tive de usar apostilas arcaicas que enfatizavam a prática de pintura em datas comemorativas, mas também me apoiei em conteúdos e metodologias que pesquisei, inclusive no site do Instituto Arte na Escola. Os professores do município trabalhavam individualmente e com os materiais que encontravam, até que conseguimos instituir com a Secretaria de Educação os planejamentos por área de ensino. Hoje não existe material didático ou apostilas de aplicação obrigatória em nosso município: temos liberdade para estabelecer nossos próprios percursos, mas organizamos o conteúdo programático para ser desenvolvido de maneira comum em todas as escolas."

Carolina Cortinove, professora do Ensino Fundamental II na Rede Municipal em São Paulo, SP. "Sou a favor da criação pedagógica, pois entendo que o educador é o único capaz de ter uma escuta atenta aos desejos e necessidades dos estudantes e de seu contexto, informações preciosas que o sistema de apostilamento não leva em conta, pois trabalha com um contexto e alunos ideais. Além disso, só a partir dessa coleta de informações é possível ao educador elaborar, com suas próprias ferramentas metodológicas e didáticas, uma maneira única de compartilhar o conhecimento para que faça sentido àqueles que aprendem."


BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015

PELO MUNDO

Reggio Emilia, educação em forma de arte

Nas escolas e creches que integram a rede Reggio Emilia, crianças são constantemente estimuladas a tomarem decisões com o claro objetivo de desenvolver todas as suas potencialidades Rosiane Moro

Reggio Emilia, no norte da Itália, não faz sucesso por seus prédios históricos, o suntuoso teatro municipal, ou pelos inúmeros festivais de música. Por ali, o maior interesse está nos inúmeros desenhos coloridos que decoram lojas, restaurantes, bares e ruas da cidade. A vasta coleção não é assinada por nenhum artista renomado, mas pelos alunos da rede de ensino infantil Reggio Children, criada há mais de 50 anos pelo professor Loris Malaguzzi e pela própria comunidade para oferecer um ensino focado no desenvolvimento intelectual, moral, social e emocional das crianças por meio da representação simbólica. A abordagem reggiana, considerada um dos melhores modelos pedagógicos do mundo, nasceu de uma mistura de várias teorias educacionais, como Piaget, Montessori, Dewey e Vigotsky com a visão bem peculiar de Malaguzzi de que a


criança possui múltiplas linguagens e deve usar todas no processo de aprendizagem. Conhecido como “As Cem Linguagens da Criança”, o modelo utiliza a arte como principal veículo de formação do conhecimento. “Em Reggio Emilia não se aprende da forma tradicional: eu digo isso e você faz aquilo. Aqui a aprendizagem é a construção de significados feita em conjunto”, conta a educadora italiana Paola Struzzi, pedagogista das creches e escolas de educação infantil de Reggio Emilia, que esteve no Brasil em agosto para uma formação de professores.

Em Reggio Emilia não se aprende da forma tradicional: a aprendizagem é a construção de significados feita em conjunto

O tempo e o espaço Nas 21 escolas e 13 creches que integram a rede Reggio Emilia, crianças de zero a 6 anos são constantemente estimuladas a tomarem decisões com o claro objetivo de desenvolver todas as suas potencialidades. Para isso, as salas de aulas foram transformadas em amplos ateliês, com a oferta de vasta gama de materiais de trabalho. Uma professora e uma atelierista trabalham em conjunto, incentivando a reflexão e a experimentação. “Gostamos de fugir da folha branca para instigar as crianças à pesquisa, oferecendo diferentes suportes como papel ondulado, uma folha transparente ou preta, o plástico, a parede”, explica Paola. As atividades são sempre complementadas por narrativas das próprias crianças, que vão criando em conjunto e construindo linhas de raciocínio, relações com o trabalho do colega, novos olhares. “O aprendizado é uma nutrição recíproca, por isso é importante utilizar a transversalidade da linguagem. A narração é uma espécie de imagem mental e não está isolada do desenho no papel ou da palavra escrita. Tudo tem uma relação”, esclarece a educadora.


As atividades também não têm hora para terminar e ao final do dia todos os trabalhos permanecem no lugar em que estão sendo realizados. “Dessa forma as crianças aprendem que uma obra precisa de tempo para ser construída, não necessariamente apenas um dia. Essa relação pacífica com o tempo contribui para a formação do pensamento analítico, crítico e até para descontruir tudo e começar de novo, se for o caso”, pontua Paola. A educadora é terminantemente contra processos que só valorizam desenhos figurativos. “As crianças constroem o conhecimento de forma diferente. Precisam de um contexto de qualidade, de oportunidades para pensar. Quando pedimos que desenhem uma casa, que operações cognitivas, narrativas e emocionais elas estão realmente trabalhando? Que tal desenhar o vento? ”, sugere. Atualmente, a Reggio Children vem trabalhando na documentação da aprendizagem das crianças que saem da rede e vão para a escola tradicional, ou seja, no período de 6 a 12 anos. A ideia não é mensurar o aprendizado quantitativo, por exemplo, se sabem contar ou escrever, e sim as contribuições das experiências trazidas do ensino infantil no seu aprendizado futuro. “Por enquanto, o que constatamos é que as nossas crianças são muito curiosas, bem mais disponíveis para experimentar e bastante acolhedoras, inclusive em relação às crianças com necessidades especiais. Também são questionadoras, discutem as várias propostas em sala de aula. Mas o melhor de tudo é que elas são crianças dispostas a aprender e a trabalhar em grupo”, analisa a educadora. Mensagens planetárias Outro ponto importante da filosofia Reggio Emilia é a participação dos pais e da comunidade nas proposições. É muito comum encontrar eventos de contação de histórias, exposições e apresentações de música pelas ruas da cidade. Os pais frequentam constantemente as escolas e também participam dos projetos com os alunos. Mas os educadores querem fazer dessa experiência algo maior. Foi assim que nasceu o projeto “Mensagens Planetárias”, que começou com indagações, pensamentos e desejos que as crianças gostariam de passar para o mundo. O trabalho foi registrado em vídeo e exibido em um telão no centro da cidade italiana na época do Natal.


O resultado foi tão surpreendente que a experiência virou global. A rede Reggio Children abriu o projeto para outras localidades e está concentrando as mensagens de crianças de várias partes do mundo em um único site.

Para que as crianças entendam que uma obra precisa de tempo para ser construída, as atividades não têm hora para acabar

Fotos:

Preschools and Infant-toddler Centers – Istituzione of the Municipality of

Reggio Emilia


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.