BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #77 • AGOSTO / SETEMBRO 2015
ARTISTA
O fantástico mundo do teatro de bonecos
O teatro de bonecos parece uma concepção simplista, mas possui ligação com os mais diversos vieses artísticos
Rosiane Moro Visitar a sede do grupo mineiro Giramundo, formado na década de 1970 pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse, Teresa Veloso e Madu, é como entrar em livro de contos de fadas. Há bonecos para todos os gostos, dos tradicionais Pinóquio, Pedro e o Lobo, Alice e Bela Adormecida até orixás, índios, sacis, criados por meio de um bocado de tecnologia. Tudo começa com um desenho técnico, baseado num estudo rigoroso de articulações. O projeto segue para ser esculpido, pintado, caracterizado e testado, num processo artesanal que pode durar meses. Um espetáculo completo, então, é trabalho para mais de um ano. Além dos bonecos, é preciso criar o texto, roteiro, cenografia, figurino, sonorização e iluminação, selecionar os atores, ensaiar e – ufa! –
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treinar os movimentos dos bonecos. Os movimentos podem ser feitos por um manipulador, mas a maioria dos bonecos de balcão ganha vida graças ao sincronismo de dois marionetistas. “O teatro de bonecos parece uma concepção simplista, mas é um trabalho que possui uma ligação com os mais diversos vieses artísticos. Temos desenho, escultura, pintura, interpretação, design, canto, dança, literatura e muito mais”, conta a designer de moda Endira Drummond, responsável pelo figurino e cenografia dos espetáculos e integrante do Giramundo há 10 anos. Endira também trabalha nas oficinas realizadas em escolas ou na própria sede do grupo, que podem incluir criação de bonecos, de acordo com a idade dos participantes. “Os fantoches, mais fáceis de manusear, são ideais para as crianças. Com adultos e adolescentes fazemos os bonecos de balcão, pois exigem o uso de ferramentas mais pesadas, como serra, prego e estilete”, explica. A formação envolve ainda teoria, com foco na história do teatro de bonecos e suas variáveis, como o teatro de sombras. “O mundo imaginário das crianças é muito maior do que o nosso. Elas têm uma capacidade enorme de inventar histórias e até de representar os papéis”, destaca Endira. As oficinas são momentos muito ricos em termos de aprendizagem, de construção do simbolismo. “Por meio dos bonecos as crianças desenvolvem a criatividade, a oratória, a socialização e raciocínio lógico, fazendo com que elas se sintam empoderadas e fortes”, detalha Endira. Mundo digital Desde 2003, o Giramundo vem incorporando técnicas digitais aos seus espetáculos, como animação e stop motion. “É uma evolução natural, mas o princípio é sempre o mesmo, ou seja, o estudo minucioso do movimento, das articulações. Não tem como fugir disso”, reforça Endira. O grupo também saiu dos palcos e ganhou a televisão com o programa infantil “Dango Balango”, exibido pela TV Brasil e Rede Minas, que mistura bonecos de balcão com animação. O repertório do grupo inclui mais de 35 espetáculos, sendo que 24 deles ainda estão ativos. Para manter viva a trajetória do grupo, a sede do Giramundo, em Belo Horizonte (MG), onde também funciona a escola e o estúdio de animação, abriga um museu com o acervo de bonecos e objetos de cena usados nos espetáculos.
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A coleção de “O Guarani”, uma das maiores do Giramundo, integra o projeto "música & bonecos", conjunto de espetáculos de bonecos com música erudita.
Para trabalhar com os alunos “Contos de luz e sombra” é uma das oficinas que o Giramundo realiza em seu ateliê e em escolas. Aproveite as sugestões! 1) Nossa oficina começa com a história do surgimento do teatro de sombra na China, seu desenvolvimento na Índia e Indonésia e a reflexão sobre o poder das imagens projetadas em rituais ainda mais antigos. Estas referências provocam na criança a reflexão histórica e a imaginação de outros tempos e povos. 2) Em seguida mostramos com nossos bonecos o que é possível fazer dentro do teatro de sombras usando materiais reciclados. Assim, a imaginação da criança se desloca para questões materiais, para a transparência e as possibilidades construtivas, e para o potencial expressivo dos objetos e materiais descartados. 3) Na fase prática, com papel, tesoura, lápis e borracha, a criança cria moldes, tendo como referência espetáculos e personagens do grupo. A criação de moldes acompanha a idade da criança: as menores usam moldes simples do Giramundo como referência e as maiores iniciam o processo de criar os seus. 4) A criança contorna o molde com o lápis, em seguida recorta as partes do boneco. Nós apenas furamos os bonecos e usamos a cola quente para colocar palitos de picolé nos locais onde haverá articulações.
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5) Depois do boneco de sombra pronto e montado, chegamos à quarta etapa da oficina, a criação de cenas. É hora de usar a imaginação para inventar histórias. O Giramundo leva uma tenda de sombra e uma luminária, e as crianças iniciam a encenação de histórias, exercitando sua imaginação na criação de personagens e vozes, e coordenação motora na manipulação das sombras, tudo dentro de um jogo cênico muito emocionante e estimulante para alunos e professores.
O acervo do grupo inclui pequenos espetáculos sobre ecossistemas brasileiros, como o cerrado.
Saiba mais: Giramundo: uma história de títeres e marionetes, da DVDteca Arte na Escola
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