Carlos effori livro 3

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Lazer Você ocupa bem seu tempo livre?

CARLOS ÉFFORI

2014


2014 – Carlos Effori

Capa: Ampulheta – Assim como a Ampulheta mede o tempo, as atividades condignas de lazer preenchem o tempo livre

Diagramação: Eduardo Effori / Bruno Eustáquio Revisão gramatical: Greise Zapella e Bruno Effori E-mail: carlos@desfrutar.com.br Home Page: www.desfrutar.com.br

Todos os direitos reservados ao autor.


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Prefรกcio


Desde minha adolescência, meu sonho não era outro senão ser policial. Imaginava, mas não conhecia as rigorosidades da profissão. Com muita perseverança e a ajuda de Deus, o sonho tornou-se realidade; fiquei policial federal! Não foi fácil, mas o amor e dedicação pelo sonho foram maiores ainda. Muitas foram as experiências vividas; pressão... tensão e stress eram corriqueiros no dia-a-dia, afinal, ser policial federal é mais que uma vocação, é um sacerdócio, pois você tem a nobre missão de proteger, garantir a paz e a ordem, para defender a União; às vezes, indo morar em lugares diferentes, que o seu mapa nem sabe onde fica. Abdicar de horas de convivência com a família, de lazer e de sono, também faz parte da rotina e, esses aspectos, foram para mim o grande entrave, numa busca incessante de momentos para recompor a tensão e o stress do dia-a-dia. Foi difícil, pois a dedicação e o amor a profissão desprezava esses momentos de lazer, até o dia em que tudo quase apagou, quando fui parar numa mesa de cirurgia para colocar duas pontes de safenas e quatro mamárias, foi quando o autor desta obra me presenteou com seu primeiro livro, também sobre lazer. Só então pude perceber a importância de temperar nossas atividades profissionais com alguma atividade de lazer que nos dá prazer. Prazer e honra maior, foi receber o convite para prefaciar este segundo livro. Recebi o rascunho dias antes de ser impresso, o qual li atentamente na rede; não naquela da internet, mas naquela que se balança... de leito suave, flexível e macio, lugar ideal onde degluti numa


só tirada, todo o conteúdo do livro, e, mais uma vez, despertei para o lado ameno da vida, na busca da qualidade de vida através de atividades que preencham nosso tempo livre. Esse é o recado do autor que, numa linguagem simples, não conflitante, sem a preocupação da rígida nomenclatura, aborda um assunto agradável, que a cada dia vem merecendo maiores considerações de todos os segmentos da sociedade, por ser o Lazer um dos alicerces sólido para enfrentar as tensões do mundo moderno, proporcionando bem estar, alegria e satisfação. Portanto, este livro, se cuidadosamente lido, absorvido e meditado, pode ajudar cada um de nós a buscar conforto do corpo e da alma numa atividade de lazer que advém prazer, como preenchimento condigno do tempo livre; este é o lado ameno da vida. José Ercídio Nunes Delegado da Polícia Federal


“DECIDI ESCREVER ESTE LIVRO, JUSTAMENTE NOS MEUS PERÍODOS DE ÓCIO”

A minha querida e amada esposa Sandra e aos nossos queridos filhos Bruno e Eduardo; e aos meus saudosos pais que relembro na figura do meu inesquecível pai, um senhor de educação e cultura às antigas me dava sábios conselhos e que em 1990, Deus chamou para junto de si – mesmo contra minha vontade – deixando um vazio de bondade, amor, amizade e saudáveis brincadeiras na cidade de Salto-SP. “A vida é curta demais; aproveite” dizia ele.


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Índice


1. A Importância do Tempo Livre..................................9 2. Hábitos de Ociosidade.................................................29 3. Trabalho e Lazer............................................................39 4. Lazer e Esporte como expressão social......................59 5. A Teologia do Lazer......................................................73 6. Turismo e lazer..............................................................85 7. O Tempo é Irreversível.................................................89 8. Lazer: A Estrada do Futuro.........................................93 9. Classifique sua atividade de lazer...............................101 10. Precisamos ter amantes................................................104 11. Para Refletir...................................................................107 12. Referências Bibliográficas............................................109 13. Anotações......................................................................113


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A importância do tempo livre

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Dia após dia, o tempo livre ganha importância na vida das pessoas, em especial no seio familiar. Com o passar dos tempos, o tempo livre deixou de ser aquele tempo residual restante das atividades econômicas, ou seja, somente se sobrasse tempo é que as pessoas iriam desfrutar de alguma atividade de lazer. No entanto, nos dias atuais, o tempo livre transformou-se em um objetivo e até mesmo uma necessidade do homem quanto ao seu bem estar social e acima de tudo a preservação da pessoa humana. Estudos comprovam que as pessoas que ocupam condignamente o tempo livre através de alguma atividade que lhe advenha prazer e satisfação, certamente essas pessoas estão recompondo as tensões provocadas pelo trabalho e volta a se reencontrar consigo mesma. Assim pode-se viver melhor, principalmente tendo boas amizades, auto-estima e ausência de estresse. Com esses requisitos, somado a um ambiente calmo e de repouso, nossa vida afetiva fica cada vez melhor, além de nossos estímulos que contribuem para uma perfeita e correta integração social. Na verdade, são esses momentos que tornam a vida humana muito mais rica de sentimentos e idéias criadoras, produzindo e armazenando energias vitais para o cotidiano, preparando na criança e no adolescente um perfil amadurecido e capaz do amanhã. O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre desse sistema globalizante e consumista, e, para ser livre desse sistema, é preciso criar hábitos saudáveis para 10


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preencher o tempo livre e concentrar-se em uma atividade que advenha prazer. Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça, para isso, ele ia ao centro comercial de Atenas e quando os comerciantes e vendedores o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe que não preciso para ser feliz”. Portanto, crie hábitos de também fazer um “passeio socrático”. É justamente nesses momentos livre de descanso e de lazer, que predomina a força da paz e da solidariedade, atingindo indiscriminadamente todas as pessoas, independentemente de seus ramos profissionais e da cor, raça e religião. Baseado nesse processo educativo, acreditamos que o lazer é um eficaz instrumento contra as neuroses que aumenta cada vez mais nas grandes cidades, e, estas cidades, por sua vez, carecem de criação de espaços para o lazer e áreas verdes as quais poderiam enriquecer ainda mais o período de descanso. Pesquisas e estudos comprovam que o recomendado é que exista cerca de 12m2 de área verde por habitante para o seu divertimento. Em são Paulo, por exemplo, existem cerca de 4m2 por habitante (menor que um quarto de empregada) ao passo que no Plano Piloto, como é conhecida a cidade de Brasília - a Capital Federal - existem cerca de 100m2 por cada habitante esbanjarem sua criatividade (uma verdadeira quadra de esportes para cada um). Sem dúvida, os parques, as áreas verdes em especial 11


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um belo gramado, apresentam uma beleza sensual aos olhos de todos, cuja tendência das pessoas é achar um prazer imediato com alguma atividade que ali possam praticar, ou até mesmo o descanso puro e simples, utilizando-se as regras de respeitabilidade com o local e afastando o ânimo predatório (desânimo), que é aquele que conflita com os próprios interesses pessoais nos momentos de descanso. Os hábitos de lazer estão intimamente ligados aos padrões de vida das pessoas, existindo de certa forma, uma dificuldade em quebrar esses padrões já estabelecidos, uma vez que as regras e os hábitos formados dependem das circunstâncias econômicas e sociais de uma classe e seu povo. Podemos até ter mudanças nos aspectos econômicos, financeiros ou, ainda, no regime político de um povo, porém dificilmente mudaremos os hábitos de lazer, pois o lazer é sobretudo uma questão social onde o tempo livre cria-se também valores com o trabalho; é o caso do surgimento de vários grupos organizados em favor de determinados movimentos, como por exemplo o ecológico e o feminista. Porém, o lazer é antes de tudo uma atividade voluntária; segundo o Sociólogo Joffre Dumazedier, o lazer é: um conjunto de ocupações as quais o indivíduo se entrega de livre e espontânea vontade, seja para repousar, divertir ou para desenvolver sua participação social e voluntária, depois de ter-se liberado de suas obrigações profissionais, familiares e religiosas. Em seu modo de pensar, diria que 12


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lazer é um período livre destinado a toda e qualquer atividade que advenha prazer, isso tendo em vista que o lazer é algo em que o indivíduo possa entreter-se, o que é comum alguém dizer “estou ocupado numa atividade de lazer” o que induz que o indivíduo está empregando seu tempo numa atividade que lhe advém prazer. No entanto, lazer não deve ser entendido como um tempo vazio. Esse período livre é fundamental na vida das pessoas, para refazer suas tensões da vida moderna, seja o bate-papo com os amigos, o encontro no botequim, um programa de TV, a música, um passeio, a pesca, o camping, o lazer bricolage que são as atividades rotineiras e caseiras, como por exemplo, lavar e encerar o carro, cuidar da horta, fazer pequenos serviços de marcenaria, pintura, reparos, etc., enfim tudo aquilo que contribua para o engrandecimento do “eu” do indivíduo. A existência de um tempo livre tem sido estratégico na vida das pessoas; é um repouso necessário para compensar o desgaste da vida moderna, onde a automação tem crescido vertiginosamente contribuindo de um lado para a ciência, mas por outro lado, uma desvalorização não declarada - mas patente - do homem como um ser menos produtivo. É o preço do progresso, uma ebulição constante sujeitando os indivíduos a poucos esforços e que pouco a pouco leva-o ao sedentarismo. Trata-se de uma ebulição automatizada em que uma minoria de pessoas utiliza a massa cinzenta para planejar e 13


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produzir essa automação. Até no campo e, principalmente nele, a era das máquinas chegam a todo vapor para substituir o homem e poupá-lo de grandes esforços, até mesmo nos movimentos naturais automáticos que é andar e subir, diante das esteiras e escadas rolantes, etc. É notório dizer que nessa “era” automatizada, aumenta-se a produção e sua qualidade, todavia é muito relativo dizer que há o aumento do emprego, como também, há o outro lado da moeda, ou seja, os artesãos necessitam serem reeducados. É a sociedade de lazer que chega, trabalhando-se menos com a automação e sobrando um maior tempo livre para desfrutá-lo. Daí a importância desse tempo livre e sua condigna ocupação. Não podemos considerar um desperdício de tempo e de dinheiro os períodos e locais destinados ao lazer que, reconhecidamente, ganham espaço em todos os segmentos de todas as classes sociais. Nada mais agradável do que contemplar e ou participar de alguma atividade que advém prazer, criando um clima favorável emocionalmente, estando consciente daquilo que se faz por que gosta e, acima de tudo, foi de livre escolha; é uma espécie de “óleo na maquina”, produzindo um perfeito funcionamento. Há de se distinguir dois aspectos na existência do tempo livre: o primeiro seria do lazer puro e simples através de atividades espontâneas de livre escolha do indivíduo de modo ativo; o segundo aspecto é o lazer de consumo, onde a indústria da diversão obriga o indivíduo a pagar um pre14


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ço para desfrutar do produto que, não obstante, seu divertimento passa a ser manipulado passivamente. Na realidade, ambos os aspectos estão estritamente interligados e fundem-se num só ponto do lazer que é o aspecto voluntário da participação, afinal não há obrigatoriedade na participação de um ou de outro, pois, na verdade, trata-se da livre escolha do indivíduo, e isso ressalta os valores individuais e dominante do indivíduo. Portanto, as atividades desenvolvidas por uma pessoa em seu período livre, estão intimamente ligadas com sua mente. Tomemos como exemplo, uma criança que faz de seu lápis ou caneta, um aviãozinho, um trenzinho ou outro brinquedo qualquer, menos tratar o objeto como ele é na integra. Esse “transfert” também tem sua semelhança nos adultos em outros aspectos, principalmente no lazer passivo que é aquele em que o indivíduo passa a ser um mero expectador. A televisão é um desses inventos que criam em todas as pessoas, seja crianças, jovens, adultos e velhos, esses hábitos de “transferência” que mais predomina. Podemos considerar a televisão, como uma faca de dois gumes. Alguns técnicos e especialistas no assunto defendem que a televisão é um fator alienante nos períodos de ócio, outros a vêem como recreação e outros, que a utilizam somente nos horários da informação. Diante disso, é notável salientar que certos programas educam, informam e, outros, trazem até uma satisfa15


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ção agradável ao assisti-los, depende de como o expectador recebe a informação que nele está sendo transmitida. Conheci pessoas noveleiras e “meio-noveleiras” que são aquelas que nada sabiam do enredo da novela, mas sabiam dos “trejeitos” e linguagem de certos personagens, ou seja, elas tinham o foco da sua atenção dirigida para certos momentos agradáveis do programa assistido. Portanto, acreditamos e não podemos negar, que em todos os casos existem seus valores, pois nem sempre o que certo programa traduz e informa para uma pessoa, não será o mesmo para outra, considerando-se seus níveis intelectuais, afinal a mente humana ainda é um poço de mistérios e informações desconhecidas. E não é novidade que, a cada dia que passa, até mesmo os médicos estão utilizando técnicas com a mente para curar doenças, seja a meditação, visualização, relaxamento etc., e isso fica comprovado que a mente sempre afetou o corpo. Algumas situações embaraçosas podem fazer uma face corar ou, um barulho no meio da noite pode fazer os minúsculos músculos ficarem tensos, e é justamente esse campo da medicina que tem chamado a atenção dos médicos, pois, um stress mental pode terminar em um ataque cardíaco. A “chave” dessa situação pode estar em uma conexão entre o sistema nervoso e o imunológico. É verdade que a química desse intercâmbio continua um mistério, mas, a nosso ver, você pode acionar essa “chave” desde que esteja devidamente equilibrado e atento às suas 16


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próprias condições. É sem dúvida uma tarefa difícil que só se adquire com o constante hábito de cultivar diariamente o relaxamento através de atividades de lazeres. Exemplos disso foram notados no Hospital New England, em Boston, onde a terapia do relaxamento através de uma atividade de lazer/musical, ajudou substancialmente diabéticos a diminuírem a dose de insulina, e mulheres consideradas estéreis a engravidar. Os mais renomados especialistas neurológicos, recomendam a prática da meditação diária por cerca de cinco minutos,e, sem dúvida, esse momento não deixa de ser um momento de lazer. Outras experiências foram relatadas também, proporcionando alívio de sintomas com pacientes do câncer e doenças do coração. O jogador de golfe, Jack Nicklaus, tinha o hábito de, antes de qualquer tacada, penetrar no labirinto da mente e “assistir” a um filme de si próprio fazendo o movimento perfeito. Mais interessante, foi o relato de um paciente do câncer que ao ouvir sua música preferida, imaginava uma fila de pequenos médicos vestidos de branco que, ao som daquela música, aproximavam-se do tumor e cada um cortava um pedacinho do tumor e marchava para bem longe. Essas e muitas outras técnicas relatadas que foram desenvolvidas por médicos e especialistas na área de lazer, comprovam que a importância da ocupação do tempo livre, tem em sua essência, no auxílio da cura e conseqüentemente no seu bem estar psíquico. É verdade que as pessoas não se curam apenas pensando ou 17


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participando de coisas alegres, mas as evidências mostram que a ocupação condigna do tempo livre, proporcionando prazer, sem duvida reflete na saúde física. Nos anos 70, o escritor e editor Normam Cousins sofria de espondiolise, que é o endurecimento e inflamação crônico e progressivo da coluna vertebral. Pois bem, para se distrair começou assistir filmes dos Irmãos Marx da série “Candid Camera”, eis que, o humor desses filmes, provocava salutares risos no escritor, melhorando substancialmente sua saúde. Desde então, os médicos implantaram atividades lúdicas nos hospitais, sendo que em alguns deles, há sessões de riso. Toda essa preocupação com o estado psíquico e físico das pessoas, pode ainda, ser uma novidade para nós do ocidente, o que não é para os orientais, pois, na China, esses dois componentes nunca estiveram separados. São milhares de anos que lá predomina esse paradigma entre corpo e mente; uma energia sem dúvida cheia de mistérios e que dispensa especial atenção, afinal, a mente pode ajudar a curar o corpo. O grande filósofo Descartes se hoje estivesse vivo, poderia até reformular sua citação para: “Penso, logo estou bem”, ao invés do que disse: “penso,logo existo” Em um dos livros do escritor Og Mandino (O Maior Vendedor do Mundo), uma frase é interessante destacar: “O sucesso ou o fracasso, nada mais é do que o estado de espírito da pessoa”. Portanto, o foco e a visualização no cons18


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ciente de uma pessoa, pode alterar todo seu estado físico e psíquico e, conseqüentemente, influenciar em suas ações e reações. Atletas melhoram freqüentemente seu desempenho visualizando a si mesmos atuando sem falhas; é o caso do jogador de golfe que citamos acima e outros atletas como dançarinos, esquiadores etc. Existem e são milhões de pessoas que nunca refletiram com carinho sobre suas próprias vidas. Comem e dormem, trabalham e reproduzem (e reproduzem-se), estudam e esquecem e, principalmente esquecem-se; buscam viver em segurança, mas acabam encontrando a morte. Sem dúvida esqueceram-se de viver e de buscar nos períodos de lazer, os momentos alegres da vida ,do corpo e da alma. É verdade que, de repente, alguma coisa acontece com as pessoas e a vida as sacodem do seus cotidianos, foi o que aconteceu e a história conta, com o escritor russo do século XIX, Fodor Dostoyevsky. Ele nunca foi um homem cruel, mas foi numa situação de experiência de vida que deu-lhe uma peculiar genialidade. Como um idealista, Dostoevsky acreditava que a revolução política era o seu destino e o caminho que Deus lhe havia traçado. Juntou-se então, a um dos movimentos socialistas militantes que pareciam estar onipresentes na Rússia do século XIX. Entretanto, seu esforço para derrotar o czar malogrou. Foi preso pelo czar e sentenciado a morte. Mas ele não morreu. Aqueles que desafiaram o poder totalitário do czar fo19


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ram submetidos a uma cruel tortura psicológica. Tiveram seus olhos vendados diante de um pelotão de fuzilamento. As ordens de: preparar! apontar! e fogo! foram dadas. O som dos tiros foram ouvidos, mas, nada saia! As balas eram de festim! As vítimas tinham sido submetidas a uma tortura emocional com o objetivo de levá-las à morte psicológica. O processo foi idealizado para destruir a vida emocional das vítimas do czar, mas no caso de Dostoevsky, ironicamente proporcionou uma maneira diferente e inteiramente nova de encarar a vida. Face à morte, teve ele uma percepção realista da vida. Aprendeu a apreciar cada momento como se fosse o último, afinal, se tudo era cruel e ordinário, ele concentrava-se dando uma grande importância nos momentos. Quando fazia sua refeição, seu pensamento estava unicamente no gosto e, a cada mordida e mastigação saboreava como se fosse a ultima refeição de sua vida. Quando andava pelo pátio da prisão, respirava profundamente estufando os pulmões e apreciando o momento como nunca tinha feito antes. O condenado Dostoyevsk, a cada momento e a cada experiência, viveu profundamente com sensibilidade e emoção. Ele estudou o rosto de cada soldado que tinha a tarefa de torturá-lo, porque estava convencido que aquele rosto seria o último que ele veria. Dostoyevsky viveu face 20


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-a-face com a morte. Mais tarde, confessou que viveu muito mais nos momentos que imaginava serem os últimos momentos de sua vida . Havia, pois, aprendido face à morte, viver como a antiga advertência latina: “Carpe Diem”! (aproveite o dia). Se compreendermos de fato e, sobretudo se aprendermos a vasta importância do lazer, no seu aspecto didático, educacional, psicológico, filosófico e sociológico, como um agente fundamental e revigorante, estaríamos a um passo para, pelo menos, contribuir ao processo educativo e social. O ilustre Paisagista, Roberto Burle Marx, contribuiu substancialmente aos poderes públicos para a importância do lazer na vida das pessoas, defendendo que os parques nacionais e reservas florestais deveriam ser considerados “museus vivos” e, como tais, protegidos de qualquer ato de vandalismo, pois o exercício do lazer é o exercício da própria liberdade, materializada no trabalho criativo e nas atividades lúdicas. A falta de lazer robotiza as pessoas e é uma das causas de delinqüência e inadaptabilidade dos jovens nos dias de hoje. As cidades necessitam de uma política de lazer, onde possa haver uma participação ativa das pessoas , levando -as a auto-realização pessoal. Antigamente, nas cidades, a praça era do povo, para onde todos se convergiam, pobres e ricos, velhos e novos, 21


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letrados e incultos, trabalhadores e inativos, onde namorados andavam de mãos entrelaçadas em sonhos e os pais passeavam com seus filhos. Era nesse salutar ambiente que as noticias surgiam e suavemente chegavam a todos os recantos da cidade. Era ali, também, que se erguiam os bustos, esfinges e estátuas de pedra ou de bronze aos nossos heróis e benfeitores, para que todos sempre os mirassem e ficassem contagiados, mesmo subliminarmente, pelos seus exemplos dignificantes. Que saudades! Hoje, ninguém namora nas praças, ninguém passeia nas praças, ninguém conversa nas praças que se transformaram, via de regra, em pontos de pessoas ociosas, e a ociosidade poderá levar às pessoas a certas atitudes não recomendáveis. É preciso, portanto, que as cidades repensem uma política de lazer pensando no bem estar da comunidade, propiciando animação e divertimentos. Quando se fala em lazer, se fala em cultura, costumes, folclore, turismo etc., tudo o mais que possibilite às pessoas que ali vivem, formas e atividades de diversão, aproveitando – o tempo – minuto a minuto. As pessoas de uma cidade que vivem sem o lazer, sempre estão encontrando a angústia e o cansaço, e até mesmo os desentendimentos familiares. Algumas iniciativas governamentais, seja ela municipal, estadual ou federal, poderiam contribuir para aumentar a difusão da ocupação condigna do tempo livre, como 22


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uma campanha permanente de lazer, pois, o lazer está entrando para a lista das exigências vitais do homem, talvez até como a primeira. Descansar, divertir e desenvolver o trabalhador nos dias de folga, de modo que ele seja permanentemente recuperado, tornou-se fundamental para a civilização industrial. Já está comprovado que a prática das atividades de lazer representa aumento da produtividade, além de assegurar promoção social e o bem estar do trabalhador brasileiro. Portanto, Portanto, antes de tudo, essas iniciativas governamentais quando forem discutidas, é preciso pensar no trabalhador e no tempo livre que o mesmo terá, para que, através do lazer se consiga educar o homem para um encontro consigo mesmo, vivendo o seu momento de liberdade e autonomia existencial. Lazer não é modismo, é fruto de uma necessidade real do mundo contemporâneo e altamente mecanizado. Lazer e qualidade de vida estão intrinsecamente coligados nos dias de hoje e já se nota nos grandes centros urbanos, uma discussão e preocupação a respeito do assunto e que acabam comprometendo a prática do lazer, como por exemplo a falta de áreas verdes e livres; as jornadas de trabalho demasiada longa e outros problemas que muitas vezes diminui ainda mais o tempo livre, sem contar com a falta de dinheiro que, inversamente ao ocupar o tempo livre com atividades que lhe advém prazer, o trabalhador irá ocupá-lo com outras atividades que lhe assegure um ganho extra, daí então o tempo livre passa a lhe valer di23


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nheiro. Mesmo nos fins de semana acaba arrumando outro “trabalhinho” para lhe render algum dinheiro extra, assim o tempo livre destinado ao Lazer acaba sendo ignorado e desconhecido. Dinheiro não é fundamental à pratica do lazer, tempo livre sim. E esse tempo tem que ser buscado e exigido. O homem tem que criar hábitos para dedicar-se a si mesmo e tomar consciência em relação à importância do lazer. Isso ocorre em qualquer classe social. Empresários tem uma semana de trabalho muito mais longa que qualquer massa de trabalhadores; são pessoas que tem dinheiro, mas que estão mudando sua visão utilitária do homem, estão se educando e criando hábitos de ocupação condigna do tempo livre, por menor que ele seja. Muitas doenças do homem e da sociedade, estão surgindo com extrema velocidade. Seja a síndrome do pânico, da depressão, da angústia e, todas reunidas, denominamos Stress que é o conjunto de reações do organismo às agressões de ordem física, psíquica e infecciosa. As academias de ginástica têm exercido uma influência na vida das pessoas, as quais estão dando um demasiado culto ao corpo. Não só nas academias, mas, nos programas dos canais de TV, há um exagero e preocupação com a malhação do corpo e do aspecto do emagrecimento nunca visto antes. Não resta dúvida que as pessoas estão mais preocupadas com a cultuação do corpo do que do 24


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espírito. Quem sabe a maioria desses praticantes que estão mais preocupados com o corpo, pensem que quando morrer, os amigos olharão para o caixão e dirão : “que belo corpo malhado, né ? O assunto é demasiado recôndito e sua importância quanto a beleza do corpo ou outros valores não será discutida aqui. Nosso julgamento, na verdade, se molda sobre os interesses mais ponderáveis, que a nosso ver, são os pesos mais altos do processo das atividades do lazer como aspecto educacional na vida das pessoas. A observação sociológica que fazemos dessas academias, é que se tornaram um fenômeno moderno no cotidiano das pessoas. São instituições com máquinas de última geração para proporcionar aos seus freqüentadores um estilo de vida diferente. As academias crescem e se multiplicam, e o hábito em freqüentá-las é tão inspirador tal qual como o futebol. É bom lembrar que cérebro não é músculo , afinal, a “malhação” do cérebro é de maneira diferente e a ocupação condigna do tempo livre reflete diretamente nele. Temos observado que nessas academias, muito embora haja orientações corretas e saudáveis, a grande maioria das pessoas que freqüentam estão ressuscitando o culto do corpo, como naqueles antepassados; para o leitor bem entender, basta relembrar filmes como O Gladiador, Be-nhur, Golias etc. Esquecem-se os praticantes de unir o corpo à alma, ao 25


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relaxamento do próprio corpo, do entrelaçamento social entre as pessoas que ali se dirigem e de todos outros aspectos sociais e esportivos do lazer em prol da saúde, afinal o corpo é o espelho da alma. O Barão Pierre de Courbetein disse : “Mens sana en corpore sano” .Quis dizer o nobre Barão que não há um corpo sadio se a nossa mente também não estiver sadia, e aqui vemos pessoas que apenas pensam no cultivo do corpo, obcecadas em freqüentar academias de ginástica, esquecendo-se de exercitar o cérebro. Se a falta de exercícios físicos reduz lentamente a capacidade dos nossos músculos, como também o nosso sistema cardiorrespiratório, a falta de exercícios do cérebro, reduz lentamente a falta de memória. O professor Ivan Isquierdo, da Universidade do Rio Grande do Sul, defende que o nosso cérebro, “é uma máquina para usar e gastar”, defende também que aqueles que tem uma vida intelectualmente ativa, vive melhor e geralmente tem uma maior longevidade. Na verdade o cérebro que não se exercita e não recebe estímulos, entra em um quadro de desânimo, envelhece precocemente e dá lugar a idéias depreciativas do ócio inútil ou, até mesmo, predatório. Essa busca incessante de só colocar o corpo como instrumento de prazer, pensando que está liberando-o mais “energizado” como uma agência de trabalho, induz as pessoas num jogo ou num combate entre o corpo e a alma, daí o erro em pensar que está no caminho da salvação. A 26


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raiz do problema é muito mais profunda, pois a afinação e a harmonia deve existir entre corpo e mente. Freqüentar academias para espelhar-se naquele que tem músculos fortes e rígidos ou, freqüentar academias para ser servido por uma máquina ou, mais ainda, freqüentar academias para dizer que “pagou o sacrifício dos exercícios” e agora pode se deliciar de todas as quitutes e demais comilanças; não achamos correto! Tudo isso é o lado mercantilista e não produtivo do intelecto e físico do praticante. Os freqüentadores de academias deveriam enxergar o lado social e dos diferentes aspectos de lazeres que elas proporcionam: a compensação do trânsito feroz e causador de neuroses; o entrelaçamento dos freqüentadores através das festas sociais que são promovidas; o fácil contato amigo e desinteressado entre os participantes; a compensação do stress causado por uma rotina estafante de trabalho, e uma série de outros aspectos; assim, se o intuito de freqüentar a academia for esse e dentro desses aspectos, ótimo ! Daí sim você poderá deixar uma máquina servi-lo de maneira moderada e de acordo com a sua natureza, fugindo da vida sedentária e stressante, para ter uma vida de repouso e voltada para o prazer. É a reciprocidade das energias. As normas e regras de aproveitamento do tempo livre e esforço despendido de cada um, seja numa academia ou numa outra atividade de lazer qualquer, cujo objetivo principal é o descanso e satisfação, podemos observar que fica visível nas pessoas um efeito imediato sobre o com27


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portamento, que pode ser mensurado através da alegria do momento, como também, um efeito indireto e remoto sobre outros aspectos comportamentais, por exemplo, a criação e manutenção de hábitos de pensamento sobre a vida e suas “utilidades” e esse assunto tem recebido dos sociólogos e estudiosos do assunto, uma enorme atenção nos dias de hoje. Fomentar hábitos de leitura e de jogos lúdicos como preenchimento do tempo livre de lazer, sem dúvida resultarão em outras e novas histórias de vida e suas utilidades, as quais enriquecerão a comunidade, seja escolar, familiar e, logicamente toda a sociedade.

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A Organização Mundial da Saúde – OMS, publicou um documento informando que até o ano de 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que câncer e as doenças cardiovasculares, donde se conclui que esse fato será um dos mais importantes problemas de saúde pública que os governos terão que enfrentar em todos os aspectos, seja na cura da doença, nos estudos para elucidar suas causas ou quanto no descobrimento de novos meios de tratamento. Avaliar o sofrimento que uma pessoa depressiva sente é algo extremamente difícil, não raro, alguns depressivos recorrem ao suicídio. É uma das poucas enfermidades humanas em que o sujeito quer se livrar de si mesmo para escapar de tanta dor e sofrimento. A falta de prazer no que se faz e a falta de preencher o tempo livre com atividade que lhe dê prazer, são um dos vários sintomas difusos dessa doença. No capítulo anterior, versamos sobre a importância da ocupação condigna do tempo livre para afastar situações de stresse, a qual pode levar para uma situação de depressão, como também, a ociosidade pode levar a situações de depressão. Mas o quê é ociosidade? O termo ociosidade entende o autor, significa o tempo gasto em atividade não produtiva e de modo não produtivo, diferentemente do ócio, que é o descanso puro e simples. As pessoas ociosas procuram consumir seu tempo longe dos olhos do público, reservando-se (no direito) de prestar conta desse tempo disponível privado para depois mos30


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trar algum resultado desse seu tempo ocioso. Na verdade, não podemos descartar a hipótese de que a ociosidade é uma ocupação, mesmo que ligado a uma vida de façanhas, porém, há que se levar em conta os critérios de decoro de quem está envolvido. É outra verdade também, que essas façanhas não trazem vantagem diretamente à vida humana. Um dos hábitos da ociosidade é deixar as coisas como elas estão, respeitados seus estilos conservadores do ponto de vista do “certo” e do “errado” que aqui é colocado sob a forma incolor. Aparentemente todos aqueles que se integram em um período ocioso costumam aderir a certos hábitos predatórios do meio da comunidade que se vive e que também é ociosa e é onde a proeza individual vai-se deteriorando no seu dia-a-dia. Poderíamos até argumentar o oposto dessa vida ociosa, pois, no século passado, o trabalhador era submetido a uma carga horária extremamente brutal, acima de 4.000 horas anuais, não tinha praticamente tempo para a ociosidade, nem para o ócio, diferente dos dias atuais onde trabalha-se menos da metade desse tempo, tendo com isso um tempo livre ainda maior e necessário as suas aspirações mais íntimas e necessárias. Portanto, ociosidade é diferente de ócio. Recolher-se a uma vida ociosa ou hábitos ociosos, é muito mais simples e cômodo do que demonstrar forças. Nesse aspecto entramos nas normas especificas do comportamento de cada pessoa, e, enquanto essa tese for 31


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verdadeira, podemos estabelecer sem grandes alardes, que o sentimento do ócio embutido na pessoa determina a aprovação ou desaprovação social no meio em que ela vive. A ocupação do tempo livre dos indivíduos de uma comunidade, está relacionada com o seu temperamento, com suas fases culturais e seu hábito de vida. As vezes, certas ocupações são o resultado da pressão por ele sofrida, e, com isso, vai-se criando e desenvolvendo hábitos mentais. Exemplo puro, são as Instituições de Menores espalhadas pelo País. As opiniões sobre o que é bom e certo sobre o processo pedagógico praticado dentro dessas Instituições, são as mais variadas, mas na verdade, esses processos terão que ser redefinidos através de uma política pública da qualidade de vida, pois, o que se vê na maioria dessas Instituições é que são verdadeiras fábricas de criminosos. A ociosidade, assim como o cativeiro e o isolamento afetivo, é a principal causa das perturbações dentro dessas instituições, das creches, prisões e hospitais, que agem sob o nome de neuroses institucionais e que podem ser corrigidas através de atividades de lazeres dirigidos onde ensinem as pessoas a usarem convenientemente o tempo livre. Não podemos negar que os hábitos de uma pessoa são formados pela disciplina da sua vida diária, sendo 32


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certo ainda, que essas características que são “forjadas” diariamente no indivíduo, seguem as regras do meio em que ele vive, ao mesmo tempo em que expressam o valor sócio cultural desse meio. Os traços do nosso sistema educacional atual, difere em muito daqueles de vinte anos atrás. Nosso objetivo não é fazer aqui uma comparação exaustiva dos tempos e seus novos valores, mas não há dúvida de que a tendência é que estamos vendo e vivendo tempos de uma escola livre e, certamente, com um afrouxamento do setor educativo,haja vista os EAD- Ensino a Distância disseminados por todo o país. Com isso há uma predominância da contribuição para indivíduos menos produtivos e mais ociosos. Essa é a marcha dos acontecimentos que estamos presenciando. Daí a necessidade de certos processos que pudessem servir - com uma boa dose de motivação - para promover e impulsionar políticas públicas de hábitos saudáveis de propósitos da vida. Esse seria o indício de que os responsáveis do setor educativo estariam contribuindo, de certo modo, para incentivar as boas maneiras e distanciando-se do ócio predatório. Nosso sistema educacional do presente e do passado recente, possuem evidências naturais que escolas vão se abrindo a “torto e direito”, as vezes sem estrutura e sem levar em conta os propósitos do exemplo tido. Colocam33


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se com um ar de liberdade mais espontânea com o objetivo único do lucro fácil. Podem existir muitas exceções à regra, independente de serem escolas fundadas por religiosas ou consideradas conservadoras, mas a regra geral quanto as escolas da atualidade é uma precária vida escolar, com predominância nas escolas públicas, as quais também existem exceções à regra. É oportuno observar aqui, que mesmo havendo uma maior predominância nas escolas públicas, é justamente onde há também, um forte apoio e preocupação dos pais, num movimento de reversão quanto aos legítimos objetivos da educação. É curioso observar essa coincidência numa época em que assistimos nos meios de comunicação, certas atitudes bárbaras de alunos que adentram escolas com armas de fogo, além dos grupos de alunos – e até alunas – denominados “gangues”. A competência administrativa de uma direção de escola tem que estar acima de qualquer ciência, pois, diante de alunos frágeis e ingênuos é preciso atenção redobrada para serem “forjados” para uma vida de hábitos de dignidade e serem feliz, sem desperdício de tempo. Quando determinados métodos escolares são desenvolvidos e alcançados em eficácia, existirá o progresso e a satisfação adquirida. O aparente “jeito de ser” das pessoas, muitas vezes retrata os hábitos e qualidade de vida do meio em que ela vive. Quem quer e acha que necessita 34


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mudar seu hábito de vida em relação ao seu semelhante, são pessoas que mais prontamente aceitam desafios e novos padrões como uma forma de disciplina e ânimo. A exigência da vida individual está compreendida desde os primeiros dias de vida até a morte. O temperamento desenvolvido nesse intervalo, tem suas características de desenvolvimento hereditários e ou fixados por uma cultura de onde foi repousada sua maior base de vivência. Como já foi dito anteriormente, não afirmamos qual a situação correta ou errada da ocupação do tempo livre, todavia, a propensão para o jogo – e são vários os tipos – não é visto de forma elucidativa e de preenchimento condigno do tempo livre, portanto a sua classificação dentro do campo do lazer é duvidosa, por fugir do temperamento esportivo. O principal fator do hábito de jogar é a crença na sorte, diferentemente sobre o hábito de apostar sobre os resultados de competições que envolvem força e habilidade, onde haja a ascendência de um vencedor do lado favorito, à custa do perdedor. Mesmo assim, quando se expressa uma aposta onde envolve dinheiro, deve levá-la em conta o hábito e o caráter individual como uma necessidade do temperamento do indivíduo. Muitos defendem a instalação de cassinos em regiões turísticas do país, como expressão de grande eficiência econômica na comunidade local, bem como uma atividade de lazer, esquecendo-se dos exames detalhados das conseqüências e crescimento dos hábitos mentais da 35


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comunidade e, conseqüentemente, o aumento de uma classe ociosa, produto de uma sensação de necessidade fortuita da crença na sorte. É o mesmo daqueles esportistas que trazem consigo o amuleto, aos quais atribuem maior ou menor eficácia. É a chamada “forca sobrenatural” que partilha dos atributos da personalidade de cada um, portanto, as desvantagens dessa almejada atividade são mais patentes e suas conseqüências de maior alcance com um considerável aumento de outros hábitos mentais até mesmo os herdados. Não há dúvida que tudo isso , afeta palpavelmente o processo intelectual do indivíduo. Esses hábitos, podemos denominá-lo de hábitos predatórios, uma vez que não concorre para o aprimoramento bio-psico-social do indivíduo. Nessas situações, a fuga do indivíduo para o seu “conforto”, junto a essas atividades, torna-se corriqueiro a ponto de afetar até mesmo o seu lado afetivo e, sem dúvida, o familiar. Na verdade, os efeitos decorrentes desses hábitos da ociosidade geram um descontrole no estado de espírito das pessoas, no estado orgânico e até mesmo no caráter. Desse estágio para outros que incluem bebidas intoxicantes e narcóticos é, como se diz popularmente: “um pulo”, alcançado facilmente pela própria natureza das coisas, sendo na maioria das vezes encarado como status do usuário. A ociosidade está intimamente ligada a certos vícios de desaprovação social e infelizmente esses desvios continuam aberrantes e tendem a ter uma continuidade. Os 36


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jovens de hoje consomem quase que “livremente”, bebidas, drogas, armas, ídolos e outras divindades, pensando estar num conforto e bem estar social. Não sabem eles, ou acabam acordando tarde, que esse processo é o início do fim e que dificilmente tem volta; como é duro largar um vício, não é ? Nesse mundo moderno com altíssimo e crescente avanços tecnológicos, os jovens de hoje deveriam transformar sua vida de ócio num aprendizado constante e árduo, pois a competição acirrada no mundo industrial tem sido desleal e até mesmo bárbara. Essa vida de descanso e da ocupação condigna do tempo livre, se corretamente conduzida e orientada, traz com certeza o aparecimento de boas maneiras e um modo de vida refinado e de respeitabilidade. Todavia, nesse terreno não podemos discutir aqui as diferentes origens e características da natureza humana. Se por um lado existem características psicológicas gritantes, como já enumeramos com o consumo de bebidas, drogas etc., por outro lado existe o culto e o hábito devoto da ocupação do tempo livre, através de atividades enriquecedoras dadas em resposta a educação recebida. É claro e evidente que as transformações que vão ocorrendo no mundo na área tecnológica, tem o sentido de valorizar a vida humana e que essas transformações são realizadas gradualmente assim como os padrões de vida vão se reformulando, deixando seqüelas em toda sua 37


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extensão, surgindo aí os hábitos da ociosidade. O ócio – puro descanso – é um elemento da estrutura social e não significa repugnância ao trabalho ele é de natureza predominantemente individual. O leitor deve reparar que a ociosidade leva o indivíduo ao agravamento de certos distúrbios, e como já relatamos aqui, basta prestarmos atenção nos hospitais, casas de repouso (asilos), prisões e albergues e também a certos outros lugares onde se vê a predominância de neuroses. De extrema importância seria a existência nesses locais de atividades dirigidas o que certamente liberariam certas aspirações incutidas nesses indivíduos, como seria também a descoberta de novos talentos e conseqüentemente a mutação de novos valores ocultos em cada ser.

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Adão foi expulso do Paraíso porque, desobedecendo as ordens de Deus, comeu o fruto proibido da árvore da ciência do Bem e do Mal. A Bíblia registra, no livro Gênesis, a ira de Deus : “Tirarás da terra com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida”; e sentenciou o Senhor: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado”. Certamente vem das Sagradas Escrituras a idéia do trabalho como uma espécie de condenação, ou seja, trabalhar é um castigo! A chamada civilização cristã e ocidental tratou de fortalecer essa idéia ao longo dos séculos. O homem cresce, vive e morre pensando na melhor forma de se livrar do trabalho. As vezes, ensaia umas palavras e diz que “o trabalho enobrece o homem”, mas em geral não passa daí”. Um trabalho sempre será trabalho independente da época e geração, mas se a humanidade, que vive avanços e mudanças tecnológicas numa incrível rapidez, pensar que o trabalho não deve ser encarado como uma condenação, mas um instrumento de realização pessoal, seguramente as sociedades serão mais prósperas e menos desiguais. Deus na verdade, quis aguçar em Adão, sua criatividade e sua autodeterminação, afinal, para se comer, sempre foi necessário o esforço humano, e isso não é diferente nos dias de hoje. Outrora era a caça e a colheita do plantio, mas com o passar dos tempos o homem foi vencendo barreiras, acentuou-se os aprimoramentos técnicos, sem contudo inexistir um esforço para sua dura luta de sobrevivência. Naquela época não havia um tempo livre para a convivência do 40


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homem, o tempo que lhe sobrava era para o repouso puro e simples do corpo exausto e cansado. A palavra “trabalho” deriva do latim “tripalium” que quer dizer instrumento de tortura e tudo o mais que fosse difícil e penoso, e com essa conotação, a “marca” trabalho só poderia ser desprezada ainda mais quando havia a distinção das ocupações do trabalho; uns que exigia a inteligência e o raciocínio, e outros, que exigia apenas força e destreza. Também houve na idade média a evolução em razão do aspecto religioso, deixando os domingos, o dia consagrado ao descanso, como também, não se trabalhava nos dias das festas religiosas. Com o advento da revolução industrial, os operários trabalhavam cerca de 4000 horas anuais e, hoje, em qualquer economia avançada trabalha-se a metade ou até menos, cerca de 2000 horas anuais, onde podemos afirmar que se pode produzir cada vez mais trabalhando cada vez menos. Nota-se que, nessa situação histórica da revolução industrial, o trabalho era super valorizado, sem espaço para o lazer, completamente diferente dos dias de hoje, onde ambos caminham juntos e essa conseqüente diminuição das horas de trabalho, transforma esse período livre em atenção especial dos estudiosos de assuntos sociais. São psicólogos, sociólogos, filósofos e especialistas da área de esporte e lazer que analisam e buscam a riqueza de seus aspectos educativos, o bem estar social do indivíduo e sua qualidade de vida. O trabalho, para muitos, tem um caráter desagradável e até mesmo torna-se um tédio; mas há quem diga que o 41


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trabalho é a realização pessoal. Num ou noutro, a diferença fundamental está na mudança das atitudes, dos fatos e das circunstâncias que a vida oferece e se opera gradualmente. Essas mudanças são inevitáveis, e as razões estão em grande parte no plano tecnológico e econômico que não devemos aqui discuti-las. A história está cheia de apaixonados pelo trabalho em diferentes áreas, citamos, por exemplo, aquelas em que estão mais visíveis aos olhos do público, que são os apresentadores de TV trabalhando aos domingos. Na área musical, temos também inúmeros exemplos, mas o exemplo de Beethoven é sem dúvida de uma enorme grandeza com amor e prazer naquilo que fazia, pois, praticamente surdo, sentado ao piano, com uma haste de metal presa nos dentes – a única forma que encontrou – para sentir a vibração das notas e completar seu trabalho. O que não podemos ignorar é essa motivação pelo trabalho como uma possibilidade humana de descoberta do seu valor interior e pessoal do fazer bem, como expressão de criatividade e capacidade empreendedora; seja o trabalhador um faxineiro, um operário ou um alto executivo. No início do desenvolvimento industrial, onde a competitividade era relativamente pequena, as pessoas tinham pouca motivação para a sua capacidade empreendedora e superação de si mesmos, tornando-as pouco competitivas, diferente dos dias de hoje onde o perfil do trabalhador está mudando radicalmente, exigindo dele um desafio à iniciativa e a criatividade, os quais são elementos indispensáveis 42


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aos que buscam um lugar no competitivo mercado de trabalho. Essa situação provoca e força o indivíduo à uma adaptação de novos hábitos mentais, necessários a corresponder aos novos estímulos. Na verdade, o que vale dizer é que a situação de hoje acaba lapidando o indivíduo e exigindo cada vez mais dele. Portanto, não se trata de ficar sem fazer nada. As pessoas cansadas da sua rotina de trabalho monótono, perdem o interesse pelo mesmo e correm sérios riscos de tentar compensar esse tempo “mal empregado” e procuram refúgio com o consumo de bebidas ou, até mesmo outras drogas e o resultado é o conflito mental gerando uma crise existencial. A predominância do capitalismo e a idéia central do homem em acumular riquezas e a extraordinária valorização do trabalho surgida com o capitalismo, foi natural para levar a cabo o grande crescimento econômico dos dois últimos séculos, e não podemos negar que seria impossível o crescimento econômico se a população não desse o devido valor ao trabalho, sem contudo, descuidar do lazer. Aliás, Karl Max pregava o socialismo para a extraordinária acumulação de riquezas com o capitalismo, contrariamente de seu genro, Paul Lafargue que pregava o direito a preguiça. Talvez essa situação de pontos de vista totalmente diferentes, torna-se difícil entender as razões de dar ao ócio uma importância maior que o trabalho, pois sem o trabalho fica deveras difícil a sobrevivência. 43


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Por outro lado fica fácil de entender, afinal o desenvolvimento tecnológico tornou o homem mais ou menos liberado de uma excessiva jornada de trabalho, ficando liberado para o seu preenchimento do tempo livre, através de alguma atividade de lazer, mesmo que seja aquele lazer de consumo e não à preguiça do não fazer nada. E essa situação de “não fazer nada” chegou a tal ponto, que esse tempo disponível hoje já está se tornando um problema, conforme vimos no capítulo: Hábitos da Ociosidade. A questão passou, inclusive, a preocupar até mesmo os psicólogos, pois, a ociosidade é, na verdade, um isolamento afetivo que é a principal causa das perturbações acontecidas nas creches, nos hospitais, nas prisões, e, a esses fatos dá-se o nome de neurose institucional. Como então, corrigir essas anomalias senão através de uma ocupação condigna do tempo livre? O lazer e suas atividades dirigidas respondem de per si, pois, o homem deve encontrar nas atividades de lazer, tais satisfações sociais, afastando a ociosidade permanente e duradoura que é altamente nociva. Assim, as energias que o homem gasta no trabalho e na agitação competitiva da vida moderna, deve recuperá-las através de uma atividade que lhe advém prazer, seja no convívio com os outros, seja em atividades esportivas, artísticas, culturais, e de lazer bricolage (que é aquele em que dedica aos pequenos trabalhos domésticos, atividades de campo, etc.). Enfim, toda e qualquer atividade de desenvolvimento individual ou comunitário, serve para aguçar as manifestações, desenvolver a criatividade e fomentar 44


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sentimentos de solidariedade e cooperação humana. É importante assinalar que pessoas que estão intimamente ligadas e “mergulhadas” em seu trabalho, dizem que dispensam o lazer. É certo que essa experiência faz parte de um pequeno e reduzido número de pessoas. São aquelas em que confundem seu trabalho com o lazer, pois, considera-o criativo, dinâmico e altamente compensador, realizando-se plenamente na execução do mesmo. Muitos técnicos da área de lazer, incluindo aqui os psicólogos e os sociólogos principalmente, acham que as cidades devem se preocupar com seus habitantes de modo a tornar a vida deles mais saudável e menos difícil. Nesse raciocínio, o paisagista Burle Marx salientava o papel do espaço físico nos grandes centros, pois na medida em que as cidades crescem em extensão, vão perdendo em muito sua dimensão significativa. É certo que, as pessoas que vivem numa situação dessas nos grandes centros, ficam confinadas ou marginalizadas, podendo até mesmo comprometer sua força mental, deixando-a reduzida pela falta de uma atividade de lazer, seja esportiva ou cultural, e para atenuar esse processo que podemos chamar de solidão e marginalização que a pessoa é conduzida, é preciso desenvolver políticas de lazer, a qual, sem dúvida nenhuma, é um recurso da maior eficiência. A solidão e a marginalização não escolhem idade, muito embora, haja uma predominância maior após o “acidente” mais lamentável que acontece na vida de uma pessoa, que é a aposentadoria. Acreditamos que todos se preparam para 45


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o advento da aposentadoria e para o próprio envelhecimento, cultivando hábitos sobre os quais seja possível a pessoa se replanejar a partir de determinada etapa da vida. Esses hábitos podem ser traduzidos pelo exercício da ocupação condigna do tempo livre. Trabalho e sobrevivência estão intimamente ligados, por serem necessidade primeira da vida humana, desde os mais humildes trabalhadores até aos mais altos executivos. Sem dúvida nenhuma a revolução industrial trouxe ao contemporâneo uma economia de tempo alcançada como vimos anteriormente, ou seja, as 4.000 horas anuais de trabalho de um operário estão reduzidas nos dias atuais pela metade, ou seja, em cerca de 2.000 horas, com isso, sobra muito mais tempo livre para o trabalhador e conseqüentemente dando uma importância maior a esse tempo livre, que é fruto de uma sociedade industrial. O trabalho aqui descrito pode ser governamental, religioso, esportivo ou qualquer outra forma diferenciada de trabalho que o leitor conceituar. Entretanto, seja qual for a forma de trabalho e suas diferentes funções e ocupações rigorosamente distintas, não deixa de ser um trabalho diário de subsistência e que domina o esquema de vida e dos costumes de uma comunidade. É necessário estabelecer uma distinção no que diz respeito a disciplina das ocupações. Se nas comunidades antigas as tarefas suaves eram destinadas as mulheres e as mais rigorosas aos homens, hoje em dia elas caminham a passos largos e conjuntamente, numa proporção sempre crescente 46


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com os homens, e, com isso, o estilo competitivo de explorar ou ultrapassar o competidor aumenta progressivamente, como também aumenta o desgaste. É bem verdade que uma parcela da população trabalhadora não participa desse processo emulativo, todavia, nessa caminhada da classe trabalhadora, no meio de pressões e tensões divididas com outros indivíduos de temperamento pacífico, há a necessidade do equilíbrio mental e a procura constante de atividade esportiva e de lazer para compensar o desgaste individual. Alguns defendem a contínua busca do aprimoramento da carreira profissional, outros defendem a conciliação da carreira com a busca diária de desfrutar o tempo livre, enaltecendo sua qualidade de vida. Em ambos os casos, a reflexão um dia vem. Aqueles que defenderam a contínua busca na carreira profissional, lamentam a falta do tempo em que deixaram de viver com sua família e alguns fatos comprovam que inúmeros empresários, que viveram unicamente para seus empreendimentos, acabaram tendo um fim triste e melancólico, mesmo com fortuna nas mãos. Sem dúvida, caminhamos cada vez mais para a modernidade, esquecendo-se da nossa felicidade e da qualidade de vida familiar. As pessoas, queiram ou não, terão que se adaptar nesta sociedade tecnológica e mecânica, sem esquecer-se de estabelecer uma estreita ligação entre o trabalho e o lazer. Assim como se cria o hábito do trabalho e administra-o, deve-se também, criar o hábito do lazer, da ocupação condigna do tempo livre. Não existe uma fórmula mágica de encontrá 47


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-lo, basta apenas buscá-lo e encontrá-lo em atividades que proporcionem satisfação e felicidade íntima. O Sociólogo Francês, Jofre Dumazedier preceitua que os valores do lazer estão na concepção do equilíbrio ético pessoal e ético social. As tensões sociais conseqüentes da exaustão humana, fruto dos problemas das grandes cidades, já são fatos indiscutíveis. Buscar o tempo perdido começa a ser tão importante como viver. Em todo o mundo surgem medidas racionalizadoras dos horários de trabalho e que provocam a ampliação do tempo livre, dando margem a possibilidade de lazer. Esses direitos tendem a se alargarem em forma de conquistas, sejam naturais ou através de pressões. Na Alemanha, surgiu o horário móvel ou flutuante, onde o trabalhador, por esse sistema fica livre para escolher seu horário em função de seus interesses pessoais. Se ele está sujeito ao regime de oito horas de trabalho, poderá determinar de que modo dará este seu tempo à empresa empregadora - se todo pela manhã, ou à tarde, ou à noite ou, ainda, em horário corrido. Este sistema vem sendo usado em vários países da Europa e pesquisas comprovaram a eficiência do sistema na vida pessoal do indivíduo, pois, entre os acidentes de trânsito ocorridos, 1,6 por cento eram com funcionários de empresas que mantinham horário tradicional, enquanto os sujeitos ao horário flutuante contribuíram com apenas 0,3 por cento dos acidentes. Esquemas rígidos de vida como todos trabalhando ao mesmo tempo, com horário para comer, andar, fazer compras etc. acabam provocando enormes confusões e principalmente congestionamentos; e é exatamente o que temos presenciado nos grandes centros urbanos. 48


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A situação da redução do horário de trabalho, dos diferentes turnos e outros meios que sejam adotados numa política trabalhista, soa esquisito num mundo que caminha velozmente e que diariamente apresenta novas tecnologias, onde homens estão sendo substituídos por máquinas, todavia esses avanços em nada alterará o sistema, pois, a diferença é que a rapidez com que isso vem acontecendo, torna-se um problema maior, diminuindo a necessidade da contratação de trabalhadores. Tentar colocar um catalisador nesse imenso avanço tecnológico e científico, seria retroceder no tempo, o objetivo não é esse. Teremos que encontrar alternativas que revigorem o mercado de trabalho, sem pensar numa sociedade de desempregados e os males que o tempo livre de um pai de família certamente encontrará pela frente, com aflição e desespero, tornando-o um tempo direcionado para hábitos da ociosidade e atividades predatórias, extremamente inverso da ocupação condigna do tempo livre de um trabalhador. Uma das maiores revistas em circulação, trouxe há algum tempo, uma reportagem intitulada “Revolução Silenciosa”, onde relata que o “Mercado de trabalho mais enxuto leva o Primeiro Mundo a pensar numa sociedade de desempregados”. Mesmo que essa teoria venha a se vingar, terá também, o Primeiro Mundo, que pensar na necessidade do lazer do indivíduo, pois, o tempo livre é um dever social, sem confundi-lo com preguiça ou vagabundagem. Só assim, o indivíduo estará capacitado para uma vida digna, com conteúdo, com sentido, com responsabilidade e equilíbrio, caso contrário, com certeza o Estado terá que bancar 49


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as despesas necessárias para um programa vultuoso dessa sociedade de desempregados. Executivos e profissionais de todas as áreas e as pessoas de um modo geral, estão procurando evitar que as pressões diárias, sejam elas profissionais ou pessoais, as leve à beira de um ataque de nervos. Muitos, também, estão descobrindo por meio de conselhos médicos ou pela própria curiosidade e interesse, técnicas alternativas de combate ao stress. Ginásticas, esportes e tantas outras atividades de lazer tem sido as opções encontradas por essas pessoas, até mesmo as donas de casa também têm procurado uma atividade compensatória. É indiscutível que o equilíbrio do corpo e da mente estão totalmente ligados e, com isso, torna-se necessário aprender a utilizar melhor a energia pessoal, no trabalho e no cotidiano, atingindo uma melhor qualidade de vida. A preocupação com essa qualidade de vida, tem sido ponto fundamental e está chegando com vigor junto as empresas, as quais tem criado programas dos mais variados para seus funcionários, para detectar os agentes internos e nocivos a saúde do trabalhador , tais como as tensões, ansiedade, etc., como também tem a preocupação dos agentes externos, tais como a poluição, violência, trânsito, etc.. tanto em um como em outro caso, são causadores do stress. Algumas empresas tem, inclusive, sala de descanso para após o almoço, muito embora, é aconselhado que as pessoas a saiam de seu local de trabalho para uma voltinha e contato com outras coisas e, também, com outras pessoas. 50


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A política das empresas é sábia, afinal o trabalhador descansado, contente e alegre, produz muito mais e certamente mais barato. Muitos leitores poderão indagar o porquê, incluí nesse rol de profissionais, as donas-de-casa. A razão é simples e lógica, pois elas enfrentam uma labuta quase eterna. Cuidar da casa, das roupas, cozinhar, costurar, criar filhos, etc. Isso é uma tremenda labuta que, aliás, acho que o resultado desse esforço é melhor quanto mais imaginação e talento se coloca nele. Da mulher do campo então, nem se fala, sua tarefa é dobrada. Apesar de a labuta ser intensa de uma ou de outra, acho que a mulher da cidade leva uma pequena vantagem, pois, o conforto da vida moderna lhe apresenta um tempinho para ser desfrutado em alguma atividade que advenha prazer. Árdua labuta? Sim. Apesar de quanto pior e, também, melhor para toda a família, pois só assim elas tem mais de si para oferecer a seus maridos e filhos durante o período livre; algo criativo, inteligente, brotando da imaginação. A vida, que não importa como contamos seus dias, é lamentavelmente curta, curtíssima! Portanto, aquele fim de semana mais prolongado, além de comer, beber e dormir, existe muito mais que isso no seio familiar. Entre os aspectos mais interessantes de qualquer teoria, está a idéia óbvia de que as pessoas buscam o prazer e evitam o desconforto. Por outro lado, é importante saber como o processo da motivação no trabalho se inicia, se mantém e termina. São aspectos indispensáveis referentes a recompensas e necessidades. A maioria das empresas tem adotado essa linha de 51


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ação, entrevistando as pessoas para saber os fatores motivadores de satisfação e de insatisfação no trabalho, as quais informam se as pessoas estavam se sentindo bem ou mal no trabalho. Especialistas Ph.D de Relações Industriais, chegaram a conclusão que a maior atenção dos entrevistados, voltava-se para a “necessidade de realização” no trabalho, pois, a pessoa que atinge esse grau de satisfação, estaria melhor consigo mesma e conseqüentemente com menos fadiga física e mental. Outro aspecto mais otimista a respeito da evidência notada, foi que as atitudes positivas no trabalho são favoráveis a maior produtividade, e isso justifica o desempenho do trabalhador. Quando um trabalhador diz que está satisfeito com o seu trabalho, de fato está dizendo que suas necessidades estão satisfeitas como resultado de ter tal trabalho. É a teoria meio-fim onde o indivíduo satisfeito é motivado a ir para o trabalho que é o local onde suas necessidades importantes são satisfeitas. Satisfação e desempenho, apesar de serem coisas distintas, elas se relacionam e estão intimamente ligadas às recompensas que, por sua vez, conduzem à satisfação. Esta conexão fica difícil de ser mensurada a medida que co-relacionamos as satisfações de ordem intrínseca e extrínseca e do que a pessoa considera ser justo ou não como recompensa. As de ordem intrínseca são dadas pela própria pessoa e predomina aquele sentimento de ter realizado algo que valeu a pena. As satisfações de ordem extrínseca são inúmeros os fatores de influências que podem estar relacionados ao 52


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bom desempenho (salários, condições de trabalho e avaliação pelo seu superior, etc.) e que tais situações tem que ser dadas por alguém e, por isso, apresentam uma relação deficiente entre seu recebimento e o desempenho. Desta forma, as medidas de satisfação das necessidades dos trabalhadores (recompensas intrínsecas e extrínsecas) servem claramente para ilustrar a importância que se tem de incluir medidas de satisfação aos trabalhadores, de acordo com suas necessidades previamente levantadas através de pesquisas. Infelizmente, a grande maioria das pessoas não podem escolher o trabalho que gostariam de realizar, que é aquele em que possa expandir a sua personalidade e sujeitam-se aos trabalhos que lhe dão o seu sustento e o da sua família e, com isso, o acúmulo das frustrações aumentam. Há também, outro sentimento de frustração do homem moderno, ante os apelos ao consumo que lhes são feitos e aos quais ele não pode satisfazer por falta de recursos. Acrescente-se a tudo isso, o artificialismo da vida moderna. Um lazer intelectual, moderno, de consumo, extremamente silencioso e perigoso já invadiu a maioria dos lares das famílias; é a Internet. Internautas de todas as idades chegam a permanecer horas e horas na frente do monitor. O “papa” dos computadores, Mrs. Bill Gates, certa vez em entrevista exclusiva para a Revista “Veja”, disse que um dos objetivos de sua empresa era colocar “um computador em cada mesa e em cada casa” e a revista acrescenta que o Sr Bill tem o propósito de convencer o leitor de que, sem computador, a vida não vale a pena ser vivida. A colocação foi 53


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extremamente perigosa; prefiro defender a tese de que ninguém viverá sem o auxilio do mesmo, assim como aconteceu com outros grandes feitos da história, por exemplo, há mais de 500 anos, os livros eram copiados à mão, quando depois surgiu a primeira prensa, por volta do ano de 1450, na Alemanha, com uma forma mais aprimorada de imprimir um livro. Hoje temos as impressoras a laser e as impressoras em terceira dimensão, além de encontrarmos os livros na rede virtual. É o mundo! E os avanços tecnológicos caminham com extrema velocidade nesse campo que, equipamentos fabricados há um ano, já estão sendo considerados velharia. Visitar museus, vizinhos, mostrar fotos para pessoas distantes, e outros entretenimentos sem sair da nossa casa ou mesa de trabalho ou, até mesmo andando com um equipamento desses portáteis à mão, já virou rotina. É o lazer de alta definição, também necessário ao homem do mundo moderno. Assim como os monges que copiavam os livros à mão e não podiam imaginar os dias de hoje, nós também, não podemos prever como será daqui para frente. A verdade, é que diante de tantas efervescências tecnológicas, precisamos de práticas de lazer compensatórias que nos desintoxiquem para dar-nos o equilíbrio necessário a uma vida normal. Ninguém duvida que seja preciso ter mais oferta de trabalho, mas é deveras difícil convencer que, também, seja necessário aumentar as oportunidades de lazer, principalmente nos dias de hoje onde essa idéia passa a 54


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ser uma espécie de heresia, pois se falta trabalho, falta dinheiro para vestir, educar e comer, e, mesmo nessa dura realidade de escassez de trabalho, afirmamos a necessidade e importância do lazer, ainda mais nesses momentos de escassez que trabalha-se por que é preciso e trabalha-se no que aparecer, com isso, as pessoas buscam ao final de cada expediente de trabalho um tempo e espaço para o descanso, principalmente o descanso mental. Se a grande massa trabalhadora descobre soluções para sua sobrevivência no trabalho formal ou informal, essa mesma massa trabalhadora encontra e inventa soluções para sua sobrevivência cultural, e o que importa é que o lazer é buscado de uma maneira de ser e de viver das pessoas e seus grupos, assimilando as informações de acordo com a identidade cultural de cada um, sejam pelas barreiras econômicas ou pela assimilação diferenciada, uma festa popular, o carnaval e um esporte popular que é o futebol, tudo isso são os pontos em comum da homogeneização. Tanto no carnaval como no futebol, há outro aspecto interessante a destacar, que são os expectadores que, inúmeras vezes, se sobrepõem em importância e emoção. É por isso que, diferentemente dos preços dos ingressos para esses eventos, muita gente proclame: “Eu quero a geral!” Nesse contexto, lembramos que as pessoas, a cada dia que passa, mais consciente ficam em relação de que além da necessidade de viver para trabalhar, maior ainda é a necessidade de trabalhar para viver. Existem pessoas dotadas de um talento para a área 55


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técnica na execução do trabalho esportivo e recreativo e outras para o talento teórico, administrativo e de planejamento do trabalho esportivo e recreativo. Em ambas as situações, as aptidões exigidas por cada pessoa diferem-se, todavia, o objetivo é um só, ou seja, seguir o principio e o caminho para se alcançar o bom êxito. O trabalho administrativo segue os processos e tarefas mecânicas do ambiente em que o indivíduo vive, sob uma coordenação de seqüências manuais de rotina. A situação é diferente quando se trata das pessoas ocupadas na execução do trabalho esportivo e de lazeres, pois vivem no atendimento dos outros e para a coordenação de atividades para outros, com hábitos e propósitos da vida coletiva, o que leva a concluir que o que é trabalho para um é lazer para outro. Nosso objetivo aqui, não é aprofundar nas diferenças existentes nas classes de empregos e suas aptidões, mas estabelecer e frisar que todas as pessoas envolvidas - independentemente da diferenciação dos trabalhos e talentos aqui estabelecidos - estão sob tensões do esforço despendido no trabalho, e os seus desejos e gostos pelas atividades de lazer é indefinido. Em outras palavras, o meio em que a pessoa vive, determina seu padrão de vida e sua atividade de lazer. Cabe a cada um, determinar o seu ideal de gosto a ser conquistado. O lazer tem essas diferentes implicações, sem contudo esquecer as regras da boa convivência social. O lazer é uma necessidade natural das pessoas e, até mesmo por questões médicas, tem sido a cada dia, necessário no padrão de vida 56


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de qualquer comunidade e de qualquer classe, e, hoje, está amplamente difundido nos condomínios residenciais fechado, seja um condomínio vertical ou horizontal. Poderíamos afirmar, que de todos os lugares, a praia é o único local em que a amplitude da imaginação e das classes sociais se iguala. A cadeia de estímulos gerada pelas atividades de lazer em relação a uma melhor qualidade de vida mais saudável e tranqüila, tem provocado a formação de novos hábitos nas pessoas, com tendências e características completamente diferentes do “ontem” e do “hoje” que nossos avós nunca iriam entender. Por outro lado, sempre que há um avanço na sociedade (em todos os aspectos) , as antigas teorias servem como balizadoras para determinar as direções e isso é natural em todos as áreas. Na área de esporte e lazer, duas entidades pioneiras, o SESI- Serviço Social da Industria e o SESC- Serviço Social do Comercio, têm uma vasta experiência e tem contribuído cada vez mais com os avanços, proporcionando aos seus usuários, atividades de lazer enriquecedoras para as mais diferentes idades. Por causa do trabalho ou, principalmente em função dele, as pessoas adquirem certos problemas, os quais preocupam a Medicina do Trabalho. Doenças novas que surgiram e que são frutos da evolução e avanços tecnológicos, como por exemplo a LER- Lesão do Esforço Repetitivo, considerada comum no meio daquelas pessoas que ficam horas e horas sentadas diante de um teclado de computador. Isso 57


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com certeza, é cansativo e extenuante. E essa preocupação da Medicina do Trabalho é uma questão de sobrevivência, pois, quem move as máquinas que leva o Brasil para frente são as pessoas, daí a importância que se dá ao trabalhador e a preocupação dos dirigentes empresariais e governantes durante a jornada de trabalho, ao repouso remunerado, ao lazer e ao período de férias. Quanto maior a empresa, maior está sendo o interesse da própria direção da empresa, em proporcionar aos seus trabalhadores momentos que retemperem seu dia-a-dia, pois, é certo que a fadiga é resultante de certos produtos depositados nos músculos e no fluxo sangüíneo, os quais reduzem a capacidade da ação muscular e a conseqüente diminuição na produtividade. Dentro dessa ótica, o interesse das grandes empresas têm aumentado consideravelmente no sentido de oferecer atividades de lazer aos seus empregados, a ginástica laboral no próprio ambiente de trabalho, e muitas outras atividades no plano social através de seus clubes recreativos com instalações adequadas e modernas para melhor servir o trabalhador, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, garantindo seu bem-estar físico e social, extensivo também aos seus dependentes.

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Lazer e Esporte como Expressão Social

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Em uma matéria jornalística sobre um tema cultural, onde uma pesquisa apontava sobre o costume da leitura do povo, li que tempos atrás numa cidade do interior de São Paulo, existia seis livrarias e uma academia de ginástica. Hoje, nessa mesma cidade existem sessenta academias e três livrarias. Vê-se que a situação inverteu assustadoramente. Enfim, em todo o planeta, existe entre as pessoas uma imensa inclinação para essas atividades e os esportes. É uma espécie de comunhão espiritual em constante alta. Essa evidência e inclinação para os esportes, têm suas manifestações que podem ser classificadas como “proezas” onde todos os esportes e suas modalidades tem um mesmo caráter geral, que é o do temperamento juvenil emocional equilibrado. Parece complicado, mas não é. Lembremo-nos da nossa meninice autêntica e a passagem para a varonil idade adulta, trata-se da transposição que o jovem ingressa na vida adulta passando de um hábito de vida para outro mais assentado. O espírito de luta e desafio no esporte sempre persistirá, basta alimentá-lo. Os esportes não causam perturbações à paz, muito pelo contrário, ele traz à tona o amor e a necessidade de recreação como passatempos favoritos e aguça as regras da boa educação, até mesmo de classes ociosas, por isso é a única forma mundial de atividade a receber uma sanção honorífica. Jamais, a nosso ver, essa norma será transgredida. Aqueles que se entregam aos esportes ou os que admiram, são honoríficos, moralmente educados e de sen60


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sibilidade delicada, pois os esportes são o melhor meio disponível de recreação existente. As atividades esportivas e as de lazer são um instrumento valioso de desenvolvimento e expressão social, além de melhorarem o físico do praticante, promove um espírito varonil, até mesmo nos expectadores. O futebol, ah! o futebol, é a primeira atividade atlética que vem a mente de qualquer pessoa da comunidade quando suscita o assunto sobre esportes. No meio juvenil ocioso e delinqüente eu diria que é uma das principais atividades como meio de salvação física e moral. Portanto, esse típico esporte atlético, pode servir como exemplo para ilustrar o comportamento do caráter e do físico do praticante. Mas não é tão simples assim, pois, para atingirmos essa plenitude, requer um “adestramento” assíduo e educacional quanto à disciplina e cuidadosa orientação para acentuar as aptidões de valor e moral que estão embutidas no praticante e até mesmo em alguma parcela dos expectadores (torcidas organizadas). Elas são natas, mas devem ser reforçadas, pois ninguém nasce com o desejo e hábitos mentais bárbaros, principalmente do corpo. Estimular a auto conservação do indivíduo e fazer com que ele atinja a plenitude da vida é um dos grandes objetivos social do esporte, além do inegável valor físico adquirido que, sem dúvida, é deveras vantajoso para o praticante e para a coletividade. Perante a idéia popular, a vida esportiva produz ao 61


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praticante uma autoconfiança e uma camaradagem; vou muito mais longe do que simplesmente denominá-las de “másculas” e de “solidariedade”, diria que a vida esportiva influencia nos contornos do caráter humano e das atividades que promovem o seu crescimento, isso influencia também, àqueles que apenas são meros expectadores e tem predileção pelos esportes e demais atividades de lazer. Um exemplo de milhões e milhões de expectadores interessados na atividade esportiva, física e de lazer é a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas, onde em ambas vemos exemplos de rigidez física e inquebrantável vontade moral, com proporções espantosas pelo seu valor e que essas atividades tem demonstrado e provado através do tempo e das civilizações, que pode atuar como poderoso estímulo à conquista universal pacífica. O lazer e o esporte ou, o esporte como lazer estão arraigados na nossa cultura popular, e na medida em que se define claramente estas funções, a linha de demarcação passa quase que imaginaria, e essas funções passam a contribuir para o aspecto bio-psico-social do praticante. Este caráter produtivo é tão óbvio que a disciplina de educação física, está presente em todos os níveis de ensino. Portanto trata-se de um caráter produtivo que inicia nos primeiros anos de vida das pessoas, e temos a certeza de que a cada dia, essa “escala cultural” será de uma eficácia e excelência rotineira sem desprestigio. 62


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Entre os exemplos dessa cultura popular, citamos nas nossas origens, os índios e suas atividades de lazer e esporte na comunidade onde viviam, aliás, ainda hoje existem comunidades indígenas que zelam pela prática do esporte. Podem ser comunidades de grupos pequenos, e até mesmo de estrutura arcaica, mas mesmo assim, ali predomina a cultura popular com suas atividades esportivas de lazer. Encarar estes fatos analisados de um ponto de vista diferente ou valorizá-los para outro fim, seria discriminar um fato de um fundamento, e aqui seria irrelevante, pois, sabemos que ali nas comunidades indígenas, também é indispensável o salutar hábito do divertimento. É claro, portanto, que os fundamentos e os fatos mudam à medida que a cultura evolui. Essas mudanças são graduais, assim como aquelas da nossa infância onde vivíamos num “mundo animado” com um elenco de atividades completamente diferente dos dias de hoje, que podemos denominá-lo de “mundo vivo”. Essas variantes e circunstâncias da vida, moldaram a natureza humana de tal modo que aquelas pequenas, ingênuas e inofensivas atividades do “mundo animado”, foram industrializadas e transformadas em atividades de entretenimento de consumo. Mas, nem por isso, elas perdem seu valor de expressão social. A natureza humana está sofrendo um processo de redefinição em termos de hábitos de vida. As exigências 63


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especiais da vida moderna, demonstra que esses hábitos estão se tornando “bárbaros” e buscando uma sobrevivência a qualquer custo entre indivíduos do mesmo grupo; é a competição acirrada, só mesmo as atividades esportivas e de lazer propiciam e amenizam essa rivalidade, fazendo com que a frase que citamos anteriormente de Og Mandino não seja desprezada:” o sucesso ou o fracasso, nada mais é que o estado de espírito da pessoa”. Os hábitos de vida direcionados ao esporte e lazer, formados sob a orientação de professores de educação física, pedagogos, psicólogos e sociólogos, inquestionavelmente tem um grande valor moral que lapida a índole do indivíduo, contrariamente dos hábitos mentais formados sem nenhuma orientação pela disciplina na vida diária. Um exemplo, seria o pretenso lutador de boxe que busca sozinho a sua luta, estando sujeito a criar hábitos predatórios, violentos e destruidores, daquele que busca a Escola e orientação adequada. Nossa pretensão não é fazer uma relação exaustiva de comparações e dados que possam mostrar os benefícios das atividades como expressão social, mas sim que tais aspectos possam contribuir e servir a estudos e propósitos dos estudiosos no assunto, tal como existe nos esportes de competição, ou seja, testes de laboratório mostram claramente o efeito positivo do esforço físico sobre as atividades mentais, sobretudo aquelas que exigem uma fiscalização de atenção, onde o exercício muscular exige do executante um nível contínuo e intenso para rápidas tomadas de decisão. 64


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Estudos e pesquisas desse tipo foram realizadas com sucesso em Lyon-França, pela médica Liliane Peyrin, comprovando que o exercício muscular é um excelente estimulante da atividade adrenossimpática e especialmente da secreção da adrenalina. Esse método – não traumático – de exploração funcional do cérebro, veio em muito contribuir e demonstrar que o exercício esportivo estimula a atividade mental, afinal, o interesse fundamental para a fisiologia do esporte e seus resultados, enfatizam o lado intelectual e físico do praticante, repercutindo no âmbito educativo e social. Os esportes de um modo geral, tem sido uma alternativa muito adotada para preenchimento do tempo livre, aliás, um número cada vez maior de pessoas estão aderindo a prática esportiva, pois, além do entretenimento social, tem sido uma técnica que evita as tensões, e, nesse aspecto, a função do lazer é, sem dúvida nenhuma, terapêutica. O importante é o indivíduo descobrir, pela sua própria curiosidade, uma atividade esportiva que melhor lhe agrade, seja ela qual for, com isso, o equilíbrio do corpo e da mente estarão totalmente ligados. Só assim se consegue uma boa qualidade de vida e energia para agüentar as pressões do dia-a-dia, todavia, é preciso ter em mente que essa atividade esportiva têm o fim único de entretenimento e lazer puro e simples. Muito dizem que o trabalhador japonês quando está 65


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de folga, sonha com o trabalho, coisa comum entre os orientais que têm a obsessão pelo trabalho e que normalmente seus períodos de férias não ultrapassam uma semana por ano. Estudos nesse sentido, comprovam que a relação do japonês com o trabalho não acontece por um dever moral ou responsabilidade excessiva; nada disso. O que na verdade acontece, é que lá eles gostam do que fazem. A relação entre trabalho e lazer, ou seja, dever e prazer, é extremamente diferente da nossa cultura. Penso e acredito que trabalho por aqui, é incutido na mente da pessoa como uma condenação. O ilustre poeta Ascêncio Ferreira “filosofou”: “Hora de comer...comer! Hora de dormir...dormir! Hora de vadiar...vadiar! Hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro!” Portanto, o que na verdade se descobre diante dessas motivações pelo trabalho, é que o mesmo não é somente um privilégio de arte de uma minoria ou de muitos do mundo oriental. Na verdade é acima de tudo, uma possibilidade humana de descoberta. De descobrir o valor interior e pessoal de realização profissional e pessoal pelo que faz. Existe uma chave interruptora dentro de cada pes66


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soa; basta que ela mesmo dê um “clic” e acione aquele dispositivo do bem viver, da bem-querança, se libertando e atingindo a felicidade plena. Estudos comprovam que a estrutura cerebral é a mesma para todos, a diferença está na maneira que a usamos, como pensamos e agimos sobre nós mesmos; enfim, se quisermos, nossa mente cria um reino para nós, afinal é preciso manter nossa criatividade viva e produtiva; compreendê-la, alimentá-la e canalizá-la para atividades positivas e construtivas. O vento sopra para todos os lados e o tempo é o agora! vivendo cada momento em sua plenitude, dando ênfase a qualidade de vida vivida em harmonia, paz e serenidade. Nem sempre é possível ter todas essas coisas todos os dias, imaginem toda hora, mas é preciso primeiramente se conscientizar do valor e dos benefícios que um momento agradável e condignamente preenchido traz à alma, e, por extensão, cria um clima harmonioso a todos que nos cercam. Aprender a cultivar essas qualidades, refletir sobre nossas vidas e aprender a apreciar cada momento como se fosse o último, é o primeiro passo. A celebre frase: “viver para trabalhar, trabalhar para viver”, sempre existiu e sempre existirá. Portanto, o adeus ao trabalho é uma situação muito remota e difícil de ser imaginada. No entanto, numa era robótica e informatizada em que vivemos, a carga de trabalho tem diminuído substancialmente. Se no século passado as pessoas trabalhavam quinze horas por dias; depois passaram a traba67


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lhar oito, tudo indica que num futuro breve passaremos a trabalhar poucas horas por dia, em conseqüência do ritmo desta era em que caminhamos. Realmente, entramos no corredor do futuro. De um modo ou de outro, tudo e todos serão adaptados às mudanças. Novas formas de trabalho irão surgir, menos monótonos e exigindo muito, mas muito mais qualificação do profissional. Por isso, não se poderá dar adeus ao trabalho; ele continuará fazendo parte de nossa vida. Diminuindo-se a jornada de trabalho, conseqüentemente sobrará mais tempo livre para o lazer, que será tão importante quanto a alimentação, pois terá a função da recuperação psicossomática, todavia, é preciso cuidado, pois, a escolha do que fazer, do preenchimento desse tempo livre, pode se transformar em prazer ou angústia. Eu diria que as pessoas devem “escutar” o seu íntimo e em curtos momentos, praticar o ócio (ficar à toa sem fazer nada mesmo), talvez seja a “voz” do íntimo que deve ser seguido. Muitas das pessoas só atentam para esse detalhe de ouvir seu íntimo quando estão programando para as férias anuais, esquecem elas que os períodos livres podem e devem ser conquistados no dia-a-dia, na semana e no mês. É possível descobrir, que mesmo sem dinheiro, vive-se bem e feliz dentro do aspecto sociológico do lazer. Quando se fala em divertimento, as pessoas logo associam a idéia à indústria do lazer. Não é bem assim. Na verdade, 68


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essas pessoas estão armando uma arapuca para elas, pois o lazer é o contraponto da jornada de trabalho. Ninguém pode contestar que o lazer e suas atividades, bem como o esporte e suas modalidades também são educação, ou melhor, é o desenvolvimento pela educação. Todos os segmentos, até mesmo a Igreja, se interessam cada vez mais por essas atividades de cunho social e sua valiosa contribuição para a formação do homem moderno num processo total de formação da personalidade. Experimentar a vida nos períodos de ócio é, Experimentar a vida nos períodos de ócio é, antes de tudo, não esquecer de si mesmo, e além do mais, tem o aspecto fisiológico que contribui para o pleno desenvolvimento do indivíduo, pois, são através dessas atividades que o indivíduo tem a oportunidade de atingir seus objetivos e potencialidades, qualquer que seja seu nível social A expressão e a contribuição do esporte para a humanidade, inclusive nas mais antigas - inspiradas na visão do Barão de Pierre de Coubertin - lograram a dar um lugar de especial destaque, contribuindo de forma substancial para a felicidade da humanidade, como também contribuem para as habilidades e destrezas do indivíduo, do entrelaçamento dos laços familiares e também na preservação da natureza, além de muitas outras novas perspectivas que se revelam com a participação do corpo, da inteligência e da vontade. 69


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Nosso enfoque nesta simples obra literária é salientar a força dos esportes como uma atividade de “natureza” predominantemente recreativa em favor da saúde e como um passatempo favorito do participante voluntário, diferente daquela atividade de natureza encarada como trabalho remunerado pelo esportista. É justamente nesse passatempo favorito do participante voluntário, que se busca como produto primeiro a conservação da saúde com uma perfeita circulação sangüínea. Aos poucos, os adeptos dos esportes - como fim social - sentem que a disposição, o vigor, a ponderação e a vontade de vencer os obstáculos rotineiros que o cotidiano lhes apresenta, traduzem num relacionamento perfeito do indivíduo com a sociedade. Os esportes, como expressão social, é um elemento relevante na cultura de um País, principalmente como preenchimento adequado nos períodos de lazer, influindo no bem estar geral e felicidade da população, sem contar também, com seu significado econômico, criando empregos e promovendo o intercâmbio internacional como fator de solidariedade e prestígio político. O lazer cultural não deve ser esquecido; seja nos programas familiares, escolares e nos programas das empresas. A criação do hábito do lazer cultural aprimora e aperfeiçoa o aprendizado, refletindo certamente num futuro melhor. As regras para esses programas culturais de lazer, devem basear-se nas circunstâncias das tradições e 70


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no grau de maturidade do grupo que se propõe atingir. É evidente que essas regras têm muita importância e grande influência quando o grupo a ser atingido são as crianças, pois nada melhor que nessa fase, direcionar as atividades de lazer cultural para moldar e incutir bons hábitos de vida. Quanto aos demais grupos, deve prevalecer o nível social e cultural e outras exigências que certamente os responsáveis pelo programa saberão identificá-los. No meio dos adultos, em especial aos idosos ou, como são comumente denominados da “melhor idade”, quebrar um hábito formado e já arraigado nos seus costumes, é um processo que se desdobrará vagarosamente, até que a expressão nele contida (o que chamamos de hábito) seja direcionada para o fim proposto, isto quer dizer que não podemos implantar de uma hora para outra, o hábito de leitura num grupo de adultos que trabalha numa linha de montagem de uma grande empresa, afinal, falar-lhes desse hábito de leitura como preenchimento desse tempo seria, com certeza, “nadar contra a correnteza”. As atividades de lazer nos dias de hoje, são uma necessidade vital e necessária à manutenção da vida e a vigilância é maior para não tomar o caminho de outros hábitos predatórios, daí a importância do trabalho dirigido provocando a influência sobre o bem-estar do indivíduo através de atividades de lazer como sua expressão no meio social e de trabalho em que ele vive. 71


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Quanto mais tempo se demora em desenvolver um trabalho dirigido, maior é a relutância em abandoná-los, pois os participantes estão intimamente ligados a sua historia da vida, sem falar das características de temperamento. As vezes até a auto-estima torna-se vulnerável e conseqüentemente a capacidade produtiva individual decai. Foi constatado que, com o advento de programas de lazeres nas empresas, tornou-se agradável e indispensável ao conforto pessoal e ao sucesso na vida. É a famosa negociação ganha-a-ganha. Todos ganham. Ganha o industrial, o executivo, o trabalhador e sua família, pois fica visível que sua vida doméstica fica coroada de hábitos saudáveis e da boa conduta.

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A Teologia do Lazer

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O lazer mobiliza duas potencialidades humana que atinge o auge: a autonomia e a criatividade. Essas características alcançam todas as pessoas que se predispõe a praticar alguma atividade, pois é um conjunto de atividades e ocupações que a pessoa pode entregar-se de livre e espontânea vontade, seja para repousar, entreter-se e desenvolver sua formação (pessoal e profissional). A participação deve ser voluntária e independente de raça, credo e profissão, aliás, aqui abro aspas para narrar uma história de lazer: “A Teologia do Lazer do Padre Paulo”. Uma historia que começou na década de setenta, onde Padre Paulo Hourneaux de Moura tinha acabado de assumir a responsabilidade pela paróquia do bairro do Estuário, situada na zona dos cais do município paulista de Santos, cidade à beira-mar. Na época, o bairro contava com uma população difícil e mal-afamada em toda a cidade. Certo dia – e não era a primeira vez – durante a missa, um grupo de jovens se pôs a batucar em frente à igreja, atrapalhando o culto. Ao terminar o culto, o Padre aproximou-se deles e perguntou se não queriam formar um bloco carnavalesco. Assustados e desconfiados da proposta do padre, disseram: ‘dá um tempo’. A noite, alguns dos batuqueiros procuraram aquele Padre de atitudes desconcertantes, que tempos antes guardara de recordação, a pedra que fora atirada contra ele pelos mal-educados meninos do bairro, e, com uma resposta também desafiadora, pensando que o padre iria recuar disseram: “O bloco tá formado e vai se 74


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chamar Padre Paulo”. Padre Paulo não gostou e protestou. Disse que não ficaria bem, que os paroquianos e a Diocese não permitiria e pediu que fosse escolhido outro nome. Os batuqueiros do Estuário não quiseram conversa: “Ou se chama Padre Paulo, ou não tem bloco”. Foi assim que começou o “bloco do Padre Paulo”. A intuição do padre Paulo estava certa, pois, a princípio escandalizou os meios religiosos da região e depois, toda a cidade. Um grande artista carnavalesco com uma vasta experiência em outra Escola de Samba conhecidíssima na cidade, juntou-se ao Padre Paulo e acabou transformando o Bloco do Padre em Escola de Samba; nascia a Mocidade Independente. O escândalo triplicou na cidade: “como pode um Padre ter uma escola de samba, conviver com um ritual pagão como o carnaval ?, perguntavam os católicos tradicionais da cidade. Padre Paulo não tinha explicações a dar, apenas sorria. Desde o dia em que convidou aqueles rapazes batuqueiros para que formassem um bloco, ele só tinha um objetivo: a união da comunidade. O padre via o carnaval como uma autêntica festa popular, expressão legítima e espontânea do nosso povo. A união daquela comunidade difícil poderia ser feita pela incorporação dessa manifestação. Esse era o caminho que ele via e tinha a certeza que foi um bom caminho, podendo ser chamada de “Teologia do Lazer”. Para Padre Paulo ou, Pepe do Estuário como acabou sendo chamado carinhosamente, a “Teologia do Lazer” é 75


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uma grande e ampla proposta de reaproximação da Igreja católica com o povo. Dizia sempre que sua paixão por Cristo é o termo comum de tudo que faz, sempre procurando colocar a presença DELE em todas as coisas, achando que mostrar a alegria é privilégio daqueles que têm paz na consciência. Padre Paulo sempre achou que não só o carnaval deve ser incorporado aos esforços da Igreja na união comunitária, mas todas as manifestações populares. É preciso também, dizia Padre Paulo, que se valorize a cultura desse povo, seu trabalho, e todas as formas de expressar alegria, habilidades, criatividade, sempre com o grande objetivo de uní-lo e dar-lhe confiança. Nesse aspecto, o carnaval é um, entre tantos acontecimentos que podem e devem ser programados por todo o ano dentro da Igreja, aliás, movimentos salutares e expressivos como também aconteceu em Brasília, na Igreja Dom Bosco, com o movimento “Afro”. Foi assim que padre Paulo criou a Teologia do Lazer puro e simples, que tem sua base na alegria do povo. Muitos se escandalizavam, afirmando que as fantasias da escola do Padre Paulo eram avançadas, e, sabiamente, Padre Paulo respondia que quando via essas fantasias, tinha olhos semelhantes ao do artista que no museu olha quadros de personagens despidos como existem no Vaticano. E como a maldade está na intenção de quem vê, ele substituía a intenção pela atenção. Teologia do Lazer era pregada por Padre Paulo de modo que tudo que se faça, deve nascer de boa inten76


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ção e se procure uma real felicidade. Essa é a verdadeira filosofia do lazer. Como se vê, a preocupação inicial do Padre Paulo era muito mais profunda, como por exemplo, a delinqüência e a inadaptabilidade dos jovens, e, sem dúvida nenhuma, o padre queria contribuir na formação de uma geração mais saudável, e, ainda, mostrar às autoridades locais que um dos caminhos seria a formulação de uma política de lazer, iniciando-se no planejamento urbano adequado, até as atividades propriamente ditas, respeitando a capacidade e potencialidade criadora de cada indivíduo. Sem dúvida, achamos que este é um dos caminhos, afinal, a falta de lazer robotiza o homem, nesta sociedade altamente informatizada em que vivemos. Só assim, através de um planejamento e uma reformulação nas políticas públicas de lazer, o homem poderá recuperar-se de suas angústias e neuroses, com isso, surgirá uma nova geração saudável. É hora e momento de se descobrir no Brasil, que Lazer é muito mais qualidade de vida do que: “estava à toa na vida... prá ver a banda passar”. E se a banda não passasse? perderia a oportunidade de praticar um lazer passivo como mero expectador. Portanto, é preciso repensar as formas de lazer urbano, sobretudo nos grandes centros. As instituições públicas de menores e cadeias e presídios públicos, vivem em absoluta decadência e merecem 77


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um profundo estudo e interpretação dos fenômenos e hábitos predatórios ali predominantes, pois, parece que os métodos ali utilizados são arcaicos e em nada contribuem para o aspecto educacional e preenchimento condigno do tempo ocioso dentro da instituição. O efeito dessa transformação contribui para que o Governo entenda e tome para si a liderança de programas prioritários na área de esporte e lazer como expressão nacional. A cada dia que passa, cresce a indústria do lazer de consumo. São formas de lazer superficiais e anestésicas, quando não, uma armadilha. São os jogos eletrônicos dentro dos Shoppings Center e, também, os eletrônicos virtuais que , mesmo dentro do seu lar, apresentam uma armadilha maior ainda em termos de desembolso financeiro , e tantos outros que o leitor sabe bem diferenciá -los. Infelizmente são ocupações cara, fútil, mas que muitos podem considerá-los agradáveis. As vezes, para “fazer” lazer, é preciso deixar fluir o sonho de cada um e encontrar na cidade espaços para as necessidades do lazer. Espaço para ter e fazer companhia, espaço para a vida intelectual: teatro, variedades, música; espaço para a convivência espontânea, parques calmos onde pessoas idosas possam passear, e as crianças brincar, os jovens percorrer locais com bicicletas; espaço que permita a prática de atividades físicas, competições esportivas, caminhadas, muito verde, muita água; espaços para o encontro nos fins de tarde e nos finais de semana, 78


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onde as pessoas possam se reunir. Sonhar é inerente ao ser humano, pois, a alma tem suas próprias necessidades. O homem é mais que um ser que come, dorme e trabalha. É um ser que sonha e tem energias. É claro que para isso, é fundamental a presença do Estado, todavia, é preciso também a participação ativa do indivíduo, afinal são estes que se organizam e influenciam de maneira preponderante na tomada de decisões governamentais., pois, democracia é, antes de mais nada, sociedade, não é governo. O político passa e as sociedades permanecem. Uma vez cumprida essa etapa é preciso dar-lhe vida, conduzindo as pessoas a participar, independente de sua faixa etária. Realmente seria esse um primeiro passo revolucionário do lazer. É inquestionável a assertiva de que a tranqüilidade ajuda o homem a produzir melhor, como também, para fazer lazer é preciso fundamentalmente que exista tempo livre, o que nos dias atuais, está ficando cada vez mais escasso. Nos grandes centros urbanos, as grandes distâncias percorridas no trânsito, somados aos seus problemas, podem reduzir em até quatro horas o período livre do trabalhador. A essa falta de tempo, some-se a falta de dinheiro tão comum aos assalariados que se vê diante de um lazer de consumo cada vez mais diversificado e presente em todos os locais. Encontrar o tempo perdido é tão importante quanto 79


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viver. Pesquisas comprovam que muitas doenças do homem e da sociedade, surgem devido a ociosidade, seja de ordem física quanto mental do indivíduo. E isto ocorre em qualquer classe social. Infelizmente o ser humano não é treinado para encontrar-se consigo próprio. Algumas empresas na Europa e nos Estados Unidos, diminuíram sua carga horária de trabalho para seis horas, sem entretanto diminuir os salários, numa tentativa de valorizar o trabalhador e sua família, concedendo-lhes a oportunidade de um preenchimento condigno de seu tempo livre. No entanto, pesquisas posteriores, indicavam que grande parte desses trabalhadores arrumaram um segundo emprego - às vezes sem necessitar dessa complementação de renda - apenas demonstrando serem dependentes do consumo. É preciso, pois, modificar tal mentalidade. O fundamental à prática do lazer é o tempo livre. E esse tempo tem que ser exigido, pois o lazer é fruto de uma situação real dos centros urbanos, para que aumente a qualidade de vida de seus habitantes. É muito importante a participação das pessoas nos problemas de sua comunidade, saindo da solidão e do sedentarismo que a vida lhes impõe. Lazer é uma necessidade vital ao homem do mundo moderno; é um encontro consigo mesmo, para viver seu momento de liberdade e de autonomia existencial só conseguida através do lazer. Se por um lado as pesquisas mostraram que pessoas procuraram um segundo emprego no seu tempo livre, 80


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outras – e trata-se da grande maioria - já sabem o que fazer quando não estão trabalhando e, cada vez mais, reclamam de um período livre maior e isto comprova a importância que dão ao seu tempo livre. Até mesmo a mulher que trabalha fora e carrega aquele antigo fardo das tarefas domesticas - além da educação dos filhos - ela cria o seu momento, o seu período de lazer que, a bem da verdade, passa a ser um momento estratégico na vida dela, através de alguma atividade que é uma expressão de si mesma, seja ficar sentada fazendo crochê ou pintando um quadro, enfim, seja o que for, esse momento livre não deve ser desprezado. O trabalho, não resta dúvida, é a primeira necessidade humana, e o lazer é fruto do trabalho. Devemos pois, ter o prazer de usar o nosso tempo livre de forma inteligente de uma vida que, não importa como contamos os dias, é lamentavelmente curta. O lazer tem influenciado na mudança político-cultural, libertando certas aspirações antes reprimidas. Vejamos os movimentos ecológicos, os movimentos feminista, as organizações de pessoas idosas (o chamado movimento da “terceira idade”); e tudo o mais estão nas ruas reivindicando mudanças de certos comportamentos. De todos os hábitos comportamentais de lazer, um predomina com maior freqüência e intensidade em todos os meios, é a televisão. É esse fenomenal aparelho levando 81


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informação e diversão desde as favelas até as casas mais chiques dos locais mais sofisticados do mundo. É lógico que a mensagem é recebida de acordo com os hábitos das camadas sociais, mas isso não faz a diferença no aspecto do entretenimento e ocupação condigna do tempo livre. Algumas pessoas até questionam o porquê o vizinho da direita pratica natação todas as manhãs e, o da esquerda faz caminhadas (?). Ora, porque eles gostam. Mas, até atingir esse hábito, houve um esforço e autodisciplina individual, a qual iniciou com intenção, vontade e partiu para a prática. Repare que você, tem prometido à você mesmo, quando muito aos amigos, que iniciará aquele desejo seu, seja uma simples sessão de esporte diário ou aquele curso tão sonhado (um instrumento, pintura, etc.) e olhe que você chegou até a “ensaiar” um início “naquele dia”, mas tudo não passou do simples telefonema ou o preenchimento de um simples formulário. Faça uma forcinha, pois o tempo é irreversível. A ocupação condigna do tempo livre faz bem à alma e ao corpo. Observe, também, que as pessoas que desenvolveram o hábito de praticar alguma atividade, são mais entusiastas, criativas, flexíveis e mais alegres. Um aspecto importante a salientar, é a psicologia do lazer na prevenção da saúde mental. Numa casa em que ninguém tem nada para falar, a televisão fala para todos e por todos. É preciso estimular a capacidade de desfrutar e criar o tempo livre familiar, afinal é importante o desen82


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volvimento da capacidade criadora de cada um. O papel do pai, da mãe, dos filhos, do neto, etc. deve ter o cultivo de tarefas próprias e a busca da originalidade própria. Os filhos gostam de saber sobre seus pais; sua profissão, suas opiniões; tudo isso cria no seio familiar o hábito sadio da expressão, diferente de ser, num futuro, um expectador confortavelmente alienado. Não tenho dúvida de que a boa convivência no lar, cria tradição e fortalece valores existenciais, bem diferente da ociosidade que é uma das principais causas de toda espécie de marginalidade. A falta de lazer contribui para a falta de identidade e principalmente a falta de coesão social. A propósito, esses elementos interligados, contribuem para a harmonia do seu desenvolvimento global, principalmente a libertação do superego. A pedagogia do lazer conduz o indivíduo a ser dono de sua liberdade, calçada numa consciência capaz de assumir e discernir o que é um lazer utilitário, gratuito, desinteressado, espontâneo e preciso. Toda influência pedagógica do tempo livre, sobre o indivíduo, deve deixá-lo por sua própria iniciativa e decisão, ou melhor: incitar sem obrigar; guiar sem impor; oferecer sem coagir; e apoiar sem eliminar a independência. A bem da verdade, a cada dia que passa o lazer vai adquirindo um “status” cientifico junto a maioria dos so83


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ciólogos do mundo inteiro, os quais defendem que o lazer é uma qualidade de vida e não uma moda! Diga-me qual é o teu lazer e eu te direi qual é tua cultura. Lazer e cultura estão intimamente relacionados, pois são resultados de um processo de industrialização do tempo liberado e não do tempo desocupado. A velocidade gerada pela informatização das máquinas é como uma faca de dois gumes. Se por um lado enriquece o conhecimento, por outro é a responsável destruidora do EU, onde predomina a aceleração desenfreada da técnica, que infelizmente o homem se subordina a esse ritmo acelerado e destruidor, na busca incessante de viver o INSTANTE , tornando-o o grande alvo de enfermidades mentais, as quais também caminham em igual velocidade.

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Turismo e Lazer

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A definição de turismo segundo a OMT- Organização Mundial de Turismo, é o deslocamento de pessoas de seu domicílio quotidiano por no mínimo 24 horas, com a finalidade de retorno. Trata-se portanto, de uma viagem onde, na maioria das vezes, os “viajantes” tem como objetivo entrar em contato com outros costumes, culturas, conhecer a culinária, as maneiras de viver de outros povos e conhecer a diversidade arquitetônica do local ou, ainda, apenas para contemplar novos lugares e paisagens; donde se conclui que turismo é a busca pelo novo, seja cultural ou natural. Essas viagens, podemos classificá-las de duas maneiras, primeiro a de fazer turismo puro e simples como uma atividade de lazer; segundo, como uma necessidade inerente de manter distância das grandes metrópoles onde o trânsito é stressante e complicado, assim, as pessoas se distanciam de seu cotidiano e das neuroses urbanas em busca de um local tranqüilo onde possam recarregar suas energias. Independente das características das viagens, vale observar que o turismo está cada vez mais promissor e de fácil acesso às pessoas, cumprindo o seu papel de levar o bem estar à sociedade; é a globalização da mídia que incentiva a atividade turística, tendo um papel motivador, facilitador e propulsor do desenvolvimento econômico do local a ser visitado. 86


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Não resta dúvida portanto, que o homem procura o turismo para divertir-se como relaxamento, afinal, viajar influi no imaginário das pessoas e desperta o interesse do ser humano em busca de atividade compensatória mental e físico. Para ilustrar o que já foi dito, tomemos como exemplo um grande centro como a cidade de São Paulo, onde as pessoas estão constantemente sob o stress do dia-a-dia gerado pela própria situação daquela cidade, devido aos gigantescos congestionamentos do trânsito, quer você esteja dirigindo seu próprio veículo ou dentro de uma condução coletiva. Diante desse aspecto, sem citar outros, o cidadão tem a necessidade de buscar um elemento compensatório, ou seja, sair da cidade na primeira oportunidade que tiver de folga, e viajar em busca da satisfação para melhorar sua qualidade de vida que, sem dúvida, repercute na família. O trabalho é a essência da vida, porém não se deve viver para o trabalho em busca incessante do fator financeiro e relegar o lazer como fator supérfluo, assim sendo, as viagens de lazer são, sem dúvida, agradáveis, pois os “viajantes” tem a oportunidade de realizar e participar de algo que não seja usual, combinando o descanso mental e físico e divertir-se de uma maneira diferente. As oportunidades do lazer turístico, possibilita re87


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carregar as pilhas, as quais são absorvidas pelo cotidiano. Mas há aquelas pessoas que, pelas condições financeiras que possuem, viajam pelo puro prazer. Portanto, estão excluídas das preocupações, pois realizam o lazer turístico puro e simples.

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O Tempo é Irreversível

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Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. trancados em seu quarto, as pessoas debruçam em suas máquinas e passam horas a fio numa posição quase que estática, “conversando” com outras pessoas virtualmente , podendo ter uma amiga íntima do outro lado do mundo que sequer conhece, por outro lado não tem a preocupação de conhecer o seu vizinho de rua ou de apartamento. Trata-se de um tempo gasto inutilmente quando extrapola os limites do uso da virtualidade nas redes sociais. A maioria dessas pessoas que passam horas na frente do computador, pelas redes sociais, confundem a ocupação de “tempo livre” pela condigna e verdadeira ocupação do tempo livre, assim quando encontra um tempo livre pela frente, não conseguem “enxergar” a preciosidade daquele momento, talvez porque seu foco está direcionado somente na busca de novas amizades virtuais , esquecendo-se do essencial que é: viver aquele momento de reflexão pessoal, ou conjugal ou familiar, buscando nos períodos de lazer, os momentos alegres da vida do corpo e da alma. Viver ou viver plenamente, requer um esforço até mesmo com alto grau de persistência numa busca incessante de resultados, fazendo com que essas pessoas fiquem contaminadas neste mundo moderno e de consumo, e se a palavra contaminação por si só não é boa, as conseqüências que ela traz são ainda piores. É preciso controlar essas emoções e os impulsos, os quais sufocam a vida esvaziando-a de belos sentidos. A família do mundo moderno, por exemplo, está contaminada pelo meio social, dando um excessivo valor para as 90


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aparências, com isso, procuram manter seus filhos constantemente ocupados, colocando-os além das aulas curriculares normais, em outros cursos extracurriculares, por exemplo: aulas de línguas, academias de ginástica e outras atividades que, certamente irão sobrecarregar seus filhos, esquecendose que as conseqüências e os males serão inevitáveis. Se o objetivo da família é o de mostrar socialmente uma ocupação conspícua das crianças – a qualquer custo – retirando-as do tempo ocioso, talvez o “tiro” saia pela culatra, pois, é extremamente prejudicial às crianças a fazerem determinadas atividades somente porque a família tem predileção por aquela atividade. O resultado disso tudo virá à tona no futuro da criança onde, suas frustrações encobertas, certamente terá um trágico fim. Se por um lado não é bom deixar as crianças ao estilo “fique a vontade e faça o que bem quer e quando quer”, por outro lado, também não é bom forçar para que façam determinadas e incessantes atividades. Então, o que seria bom? O bom seria manter um equilíbrio entre os estudos e as atividades extracurriculares de modo que o tempo livre seja condignamente ocupado para uma realização pessoal e saudável, contribuindo para seu auto desenvolvimento. Bem, e aos pais ? Aos pais fica o conselho para VIVER, o tempo não volta atrás, por isso querer reconquistar o tempo perdido, seria um retrocesso e o preço a ser pago será demais elevado. As leis da natureza são implacáveis. Infelizmente vemos homens maduros (e muitos os da terceira idade) afoitos para melhorar sua qualidade de vida através de um bisturi na busca de uma mocidade eterna...na busca de 91


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prazeres sutis e secretos; tudo isso se transforma numa dor que não tem cura, que é a dor da alma. É preciso aceitar que o tempo é irreversível e a qualidade de vida é conquistada em muitos outros meios, como na alimentação e atividades específicas para cada faixa etária. Aproveitar a disponibilidade de tempo e desfrutá-lo é celebrar a vida e, aquela velha máxima continua atual como nunca: “quem tem muito dentro precisa ter pouco fora”, esse é o segredo de uma boa qualidade de vida, por isso: Arrume tempo para ter paz. É fundamental que você ouça uma boa música. Arrume tempo para uma viagem. Pode ser uma viagem curta, ou longa, tudo depende de sua disposição, tempo e dinheiro... Arrume tempo para ler um livro e viajar com os personagens, onde a emoção puder te levar. Arrume tempo para organizar-se. É fundamental ter tempo para organizar as suas coisas... organizar as suas idéias, seus desejos e reciclar os sonhos. Arrume tempo para a família. É fundamental criar filhos, namorar (sempre... em qualquer idade), bater papo com os pais, com os amigos mais próximos... Arrume tempo para DEUS. É fundamental contar com Deus. Seja qual for a sua crença, seja qual for a sua religião, sem Deus é impossível ser plenamente feliz Enfim, arrume tempo para ser feliz, pois o tempo é irreversível. 92


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Lazer - A Estrada do Futuro

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Quando se tem diante dos olhos a visão dos avanços do mundo moderno, suas conquistas e tecnologias, vislumbra-se um tempo anunciador que muitos já proclamam ser a era do lazer como um fenômeno social; é a chamada explosão divertida. É um mundo com novas formas de entretenimento e mais tempo livre para desfrutá-lo; Basta não estar trabalhando ou dormindo. O entretenimento está em alta no mundo todo e passa do turismo até a arte, englobando a culinária. É o lazer de consumo diferente daquele aparelho de som que o indivíduo comprou e levou para poder ouvir as músicas em casa; são coisas diferentes que estão fazendo as pessoas se divertir como nunca. Hotéis fazenda, parques temáticos e de diversões, modernas e sofisticadas danceterias, restaurantes e praças de alimentação nos shoppings, enfim, uma invasão de novos tipos de entretenimento os quais vendem produtos que não podem ser pesados e nem medidos como automóveis ou outros equipamentos. São na verdade, lazeres de consumo que podem ser desfrutados junto com os amigos ou família. É a indústria do lazer de consumo que está entrando no tempo livre das pessoas, transformando-as consumidoras em potencial. E o resultado é que, quanto mais oferta de lazer de consumo houver, mais afoitas ficam as pessoas em querer desfrutá-lo, na busca da novidade e entretenimento. As pessoas encontrarão no lazer, o caminho/estrada que lhe convém, sempre lembrando que ele poderá ser construtivo ou destrutivo. Mister Stanley Parker preceitua que uma sociedade com lazer é muito mais importante do que uma sociedade de lazer. 94


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Professores de Educação Física que tem predileção pelo assunto, principalmente os sociólogos, e outros especialistas e estudiosos da área, sabem que o fenômeno Lazer (qualidade de vida) já faz parte do cotidiano das pessoas e tem sido a “chave” da duração e prolongamento da vida. As empresas, de um modo geral, estão investindo na área, proporcionando um bem estar aos seus empregados e familiares, principalmente durante o expediente normal de trabalho, seja com ginástica laboral (compensatória), com atividades lúdicas e ou palestras de auto-ajuda, sempre dando ênfase ao descanso do corpo e da mente. A diminuição da jornada de trabalho não implica na redução da produção, muito pelo contrario, pois a globalização e sua conseqüente aceleração científica e tecnológica, tem aumentado a produção. Não há dúvida que nesse caminho do futuro, o homem e a máquina caminharão estritamente em conjunto, chegando até mesmo a se confundirem. Se a Internet, as TVs a cabo, as parabólicas e outras engenhocas já mudaram muita coisa no cotidiano, não está longe o dia em que a nossa cultura será transformada radicalmente, e isso refletirá na área do lazer. A evolução e a estrutura social, são processos em constantes ebulição que vem mudando progressivamente o meio onde o homem vive, e o fácil acesso as informações, a cultura e ao lazer tem beneficiado a todos indistintamente, coisa que, outrora, esse acesso era restrito à uma camada social rica. Nunca se falou tanto em qualidade de vida como agora; e ela tem sido uma força modeladora do desenvolvimento 95


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da vida humana, é uma estrada que, a cada dia, mais adeptos se engajam no mesmo trajeto e atalhos para a busca do revigoramento físico e mental. É esse o fato com que faz as instituições mudarem e corresponderem aos estímulos da sociedade. A situação de hoje, certamente vai modelar as instituições de amanhã, o que vale dizer que, os hábitos de lazeres de hoje, herdados de um passado não muito distante, estão sendo adaptados com as exigências do presente. Com efeito, quanto mais crescem e se agigantam nossas cidades, perdem também em dimensão humana, como diz Burle Marx:” o processo de urbanização da maioria das cidades brasileiras deteriora a qualidade de vida das populações”. Uma política de manutenção e reposição das áreas verdes tem uma importância fundamental no moderno conceito urbanismo, afinal as áreas verdes tem uma função saneada do ambiente e embelezamento da paisagem, permitindo às pessoas da cidade um contato direto com a natureza, que nada mais é do que o lazer contemplativo. O refugio para outros lugares, às vezes torna-se demasiado stressante, uma vez que as estradas que dão acesso a locais agradáveis, apresentam um enorme congestionamento, ocasionando com isso, alguns acidentes. No entanto, a grande massa trabalhadora, sem meios próprios para buscar e enfrentar alternativas de divertimento, espera dos governantes a solução, aplicando uma política de lazer condizente. Substituir o verde do campo pelo barro vermelho das terraplanagens requer profundo estudo envolvendo técnicos especialistas não só da área da construção. 96


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É claro que, para isso acontecer, é necessário a presença do Estado , mas em nenhum pais do mundo, o governo resolve tudo sozinho. É preciso a iniciativa do cidadão que se organiza em grupos, influindo de maneira preponderante na tomada de decisões. As entidades do terceiro setor (ONGs , OSCIPs e outras,tem apresentado propostas aos governos federal, estadual e municipal, sabendo que esses investimentos terão um retorno garantido do aspecto de vista social, com o objetivo de propiciar ao homem a satisfação em suas necessidades sociais, bem como, ampliando as chances do lazer contemplativo. Portanto, um planejamento urbano adequado, combinado com uma educação que respeite a potencialidade e a capacidade criadora das pessoas, são pontos que técnicos e especialistas recomendam, pois só assim surgirá uma nova geração mais saudável. Preocupar com o futuro de nossas gerações, é justo, como também deve-se preocupar agora com o aspecto da solidão e marginalização depois dos 60 anos de idade. Por isso consideramos o lazer como um recurso da maior eficiência. Vejamos por exemplo, o magnífico e eficiente trabalho do Serviço Social do Comércio- SESC, com atividades direcionadas para a terceira idade. Jamais deve-se confundir esse trabalho com aquele piedoso e de assistência, mas sim um trabalho diferente, aproveitando a capacidade criadora e de produção das pessoas, somado com sua experiência, tentando impedir o absurdo que é deixá-los fora do jogo social. Infelizmente, nossos padrões culturais nos levam a 97


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atribuir conotações negativas a velhice, É muito difícil para qualquer um de nós aceitar a idade, o que leva a tentativa de disfarçá-la nos menores vestígios : quer seja no uso de roupas “ditas” de jovens, ou na tentativa de comportamentos “ditos” joviais. As pessoas da terceira idade são tão capazes de aprender, produzir e evoluir, bastando para tanto que ele o deseje e que mantenha vivo seu processo de aprendizagem. Todo e qualquer ser humano, de qualquer faixa etária, se confinado e marginalizado da vida ativa terá, com certeza, uma redução na sua força mental e na sua capacidade criadora. Em nosso cérebro funcionam os circuitos cerebrais. Quanto mais ligações neurológicas houver, maior será a possibilidade de absorvermos uma enorme quantidade de ligações diferentes, ampliando nossa rede cerebral a fim de que sejamos mais capazes e alcancemos uma boa dose de sucesso e qualidade e vida. As redes são individuais e cada um tece a sua própria ligação, de acordo com o que a pessoa quer naquele momento. Sabemos que todos procuram tecer suas redes na base de almejar o sucesso e a felicidade, no entanto,se transpusermos essa teoria para o lazer, veremos que a cada dia, todos estão procurando conectar sua rede para as coisas que lhe tragam uma melhor qualidade de vida, combinando com isso, os fatores intrínsecos e extrínsecos de cada um. Escolher uma atividade, um local para essa atividade, e até mesmo as companhias que participarão, serão detalhes importantíssimos para atingir o sucesso da empreitada e do agradável momento. Tudo isso são os seus circuitos neurológicos interligando-se. Para entender melhor, faça uma ex98


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periência buscando, por exemplo, alguma coisa no passado que sua “rede” registrou com alegria e satisfação. No futuro, características individuais como: paciência, confiança, coragem, capacidade de liderança, equilíbrio emocional e espiritual serão qualidades imprescindíveis para as pessoas e, essas qualidades, só serão encontradas se houver um equilíbrio entre o trabalho e a ocupação condigna do tempo livre com alguma atividade de lazer, buscando o prazer e a felicidade. Está comprovado que as atividades de lazer promove o reencontro desinteressado entre gerações com absoluta cordialidade, proporcionando uma enorme abertura no processo de desenvolvimento social, numa demonstração cabal de que concorre de maneira efetiva para o bem-estar das pessoas e para tornar menos dura e hostil a vida. O ilustre psiquiatra Jorge Alberto Costa e Silva, diz que este século (XXI) será das doenças do cérebro, devido ao esforço descomunal do ser humano para acompanhar a rápida evolução social e tecnológica, e, quando se fala em doenças do cérebro, logo pensamos em depressão, pois, as doenças físicas estão cada vez mais sob o controle da medicina que avança vertiginosamente nas suas pesquisas. Todos são vulneráveis a depressão, pois ela não faz distinção de faixas etárias, daí a importância de uma preocupação maior e melhor com a qualidade de vida das pessoas. O acidente mais lamentável na vida de uma pessoa idosa é a aposentadoria. Todos acreditam estar preparados para o advento da aposentadoria, aliás, alguns chegam até 99


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a pronunciar: “quando eu me aposentar...” , assunto que veremos adiante no capítulo: Para Refletir. A prática para as atividades de lazer é o ponto crucial também, para a criação de bons hábitos e a preparação para a chegada do envelhecimento, fazendo com que a pessoa se replaneje a partir de determinada etapa de sua vida. Essa etapa da vida de uma pessoa, como se “arrancasse -a” do meio em que ela viveu a maior parte de sua vida, para o campo da aposentadoria, pode provocar um desajuste, fazendo com que aquilo que deveria se constituir em mérito e coroamento, assuma características de estigma. Não é de hoje que a questão preocupa os especialistas e estudiosos no assunto, que incansavelmente estudam em busca de soluções para atender um grande contingente de pessoas nessa situação. Todos são unânimes em apontar a necessidade do lazer nos dias atuais na vida das pessoas, aliás, é a razão desta obra, independente do homem que vive no campo ou daquele que vive na cidade, pior ainda são aqueles que saíram da natureza e vieram povoar as cidades, esses sim é que necessitam do sagrado período de descanso, combinado com atividades que lhe dêem satisfação. Os Sociólogos vêem no lazer uma forma de revitalização da sociedade, da mesma forma que os pedagogos vêem no lazer um papel preponderante dentro da escola. Nesse sentido, a política do esporte e do lazer deveria se situar como uma das preocupações prioritárias do governo.

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Com as inúmeras atividades que você conhece, procure tornar uma realidade um gosto seu, partindo da teoria e das boas intenções para a prática, tornando-a algo agradável para você e quiçá para toda a família. Concentre-se na busca de uma plena realização pessoal e da felicidade. As pessoas bem sucedidas de todos os tempos, geralmente temperam suas atividades profissionais com alguma atividade de lazer. Quando a vida apresenta largamente uma competição entre indivíduos, os hábitos das pessoas vão-se adaptando a novas exigências, desdobrando-se as energias, com novos estímulos e respostas individuais, resultando em stress. Tudo isso requer uma compensação que reponha sua energia interior e revigore os propósitos e metas de vida. O segredo para atingir essa plenitude, está no íntimo de cada um; às vezes escondido, mas quem sabe você poderá despertá-lo numa simples leitura. O fluxograma a seguir, estabelece e relaciona a estratificação das atividades de lazer, portanto, nem todas as atividades estão aqui relacionadas. O leitor poderá encaixar a atividade de sua predileção em um dos segmentos aqui exemplificados.

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Precisamos ter Amantes

“Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são essas últimas as que vêm ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores. Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram de dizer que estão simplesmente perdendo a esperança. Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: “Depressão”, além da inevitável receita do antidepressivo do momento. Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de nenhum antidepressivo. Digo-lhes que elas precisam de um AMANTE! É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu veredito.Há as que pensam: “Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?!“Há 104


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também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais. Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas com o meu conselho, eu explico o seguinte: AMANTE é “aquilo que nos apaixona”. É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso AMANTE é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta.É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.Às vezes encontramos o nosso “AMANTE” em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro mas que nos desperta as maiores paixões e sensações indescritíveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto...Enfim, é “alguém” ou “algo” que nos faz “namorar a vida” e nos afasta do triste destino de “ir levando”. E o que é “ir levando”?Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo contentar-se com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã. Por favor, não se contente com “ir levando”. Procure um amante, seja também um amante e um protagonista ... DA SUA VIDA! Acredite:

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O trágico não é morrer, afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é não se animar a viver. Por isso, e sem mais delongas, procure um amante... A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental: “PARA ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, É PRECISO NAMORAR A VIDA, SER AMANTE DA VIDA.” Texto do Dr. Jorge Bucay - Psicólogo e escritor Tradução do original : Hay que buscarse un amante

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Para Refletir

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1) ...................................................................................... Como é estranha a nossa procissão da vida! A criança diz: quando me tornar moço. O moço diz: quando me formar. Uma vez formado, diz: quando me casar. Após o casamento, e na plena luta pela vida, o pensamento muda: quando me aposentar. E, então, o aposentado olha para traz e contempla o panorama percorrido. Um vento glacial sopra em toda parte. O homem se dá conta de que ele nada aproveitou, e agora está tudo acabado. A vida - aprendemos tarde demaisnão consiste em esperar pelo futuro, mas em viver plenamente cada dia e cada hora presentes. (Stephen Leacock). 2) ...................................................................................... Numa certa manhã de sábado ensolarado e agradável, um homem estava cuidando do gramado e das flores do seu jardim, quando um conhecido que passava pela rua cumpri mentou-o e disse: “trabalhando um pouco?” Ele respondeu que não, que estava apenas descansando, praticando um Lazer Bricolage. No dia seguinte, o mesmo vizinho o viu na varanda de sua casa, deitado numa rede e, saudando-o como na véspera, argumentou: “descansando um pouco?”. Eis que o outro respondeu: “Engano seu de novo. Agora estou trabalhando”. Na verdade era um empresário que ali estava deitado e imaginando soluções e criando alternativas para os problemas de sua empresa. Apesar das aparências, nas duas situações a resposta estava correta.

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Referências Bibliográficas

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VEBLEN, THORSTEIN – A Teoria da Classe Ociosa- 1965. PUBLICAÇÕES do ME - Esporte Com Identidade Cultural Coletânea - Ministério dos Esportes Instituto de Desenvolvimento do Desporto-1996 LEITE, CELSO BARROSO - O Século do Lazer LTR Editora - SP-1995 TEIXEIRA, MAURO S. - Fundamentos Filosóficos da Educação Física Obelisco - São Paulo 1970 PED-PLANO DE ED.FISICA E DESPORTO Ministério da Educação e Cultura Departamento de Educação .Física e Desportos Brasília- Setembro de 1971 CADERNO CULTURAL Nº 01 Ministério da Educação e Cultura DED- Brasília 1973 PETRIE, SIDNEY e STONE, ROBERTO Ginástica Mental Record - São Paulo - 1967 ROSAS, HÉLIO - O Cérebro Abandonado - Cered - 1993

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SESI EM ACAO - Revista nº 06 - ano IV 1978 REVISTAS PESCA E COMPANHIA REQUIXA, RENATO - As Dimensões do Lazer - 1973 EDITORA ABRIL, REVISTAS VEJA ESPAÇO PARA LAZER - Fundação Gaúcha do Lazer e Recreação, FUNLAR - Secretaria do Trabalho - RS ESPORTE SOLIDARIO - Revista - Ano I, nº 01 REVISTA BRASIL ROTARIO ANAIS DO 1 ENCONTRO NACIONAL SOBRE O LAZER Assessoria de Divulgação do SESC JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO Painel de Negócios CADERNO DE IMÓVEIS – 05 novembro/1995 ALTERNATIVAS DE LAZER - pag. 29 de janeiro/1982 pag. 44 de 26 setembro/1976 JORNAL DO BRASIL E JORNAL CORREIO DO POVO Mergulhando no Sono e Enriquecimento do tempo livre

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FOLHA PAULISTANA – Centros Comunitários Scalabrini, Liane Recreação na Industria- UFRGS REVISTA O CRUZEIRO – Descanso do Trabalhador JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO – Cotidiano REVISTA INOVAÇÃO EMPRESARIAL - Ano III n. 32 Ticket Serviços REVISTA EXAME - Uma Pressão Mortal LOBOS, JÚLIO - Teorias Sobre A Motivação No Trabalho REVISTA CIPA - Atividade Física Estimula Atividade Mental –nº 55 COSTA E SILVA, JORGE ALBERTO - O Mal do Século XX Revista Isto É LIMA CAMARGO, LUIZ OCTAVIO - Sociólogo O Lazer é um perigo - Revista Veja – JORNAL DA TARDE - Teologia do Lazer -

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