Tc artes visuais jaine elise gräf

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Jaine Elise Gräf

Eternizo-me, caso me falte a Memória

Canoas, dezembro de 2016.


Jaine Elise Gräf

Eternizo-me, caso me falte a Memória

Trabalho de Curso apresentado como pré-requisito parcial para obtenção de título acadêmico de Licenciada em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil, sob orientação dos professores Dra. Rejane Reckziegel Ledur e Me. Renato Garcia dos Santos.

Canoas, dezembro de 2016.


Dedico este trabalho, a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, sĂŁo dignas de estarem eternizadas em minha MEMĂ“RIA.


Agradeço a todos os professores que participaram da minha formação, possibilitando múltiplas aprendizagens, em especial, agradeço aos professores Me. Renato Garcia dos Santos e Dra. Rejane Reckziegel Ledur pelas valiosas orientações, reflexões e contribuições. Meu singelo agradecimento aos meus pais, Ilário e Angelita Gräf, às minhas irmãs Júlia Elisa Gräf Heineck e Joice Elis Gräf, bem como, ao meu marido Maiquel Jardel Ludwig, pelas sábias palavras que me confortam, incentivam e fortalecem.


“Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos rompidos.”

Jorge Luis Borges (1899-1986)


RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa e aplicação do projeto de ensino “Eternizo-me, caso me falte a memória” envolvendo alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, no município de Lajeado/RS. O projeto se desenvolveu em 9 aulas no primeiro semestre de 2016. O tema da pesquisa se embasou inicialmente nas obras de Pieter Brueghel e Candido Portinari, os quais usaram a infância como principal recurso para representar a memória. De imediato a pesquisa toma rumo na arte contemporânea com os artistas Iberê Camargo e Paulo Gaiad, que proporcionam experiências estéticas em torno de objetos que remetem a lembranças da memória. Francis Alÿs, Lygia Clarck e Mario Garcia Torres abordam as escolhas do ato de caminhar como uma constante determinante do passado. A eternização de momentos é apresentada na poética das obras da artista Brígida Baltar. As obras dos artistas mencionados foram abordadas através de aulas expositivas e dialogadas, leituras de imagens e práticas artísticas, com o objetivo de desenvolver reflexão-crítica sobre as diversas dimensões poéticas da arte contemporânea, tornando-a instrumento de múltiplas possibilidades de experiência estética e ampliando as possibilidades de entendimento da realidade. Ana Mae Barbosa, Gaston Bachelard e Michael Parsons tiveram sua contribuição durante o desenvolvimento do projeto de ensino, possibilitando reflexões mais aprofundadas acerca da formação do professor e leitura de imagem. Resultaram da prática de ensino, diversas aprendizagens que contribuíram no crescimento afetivo com a arte contemporânea, na qual ela passou a ser reconhecida como uma forma de se relacionar com a realidade cotidiana dos alunos. A vivência dessa prática me possibilitou compreender um pouco melhor a arte – educação e a necessidade de constante construção e aperfeiçoamento pessoal do professor para obter excelência na prática docente. Palavras-chaves: Memória. Arte Contemporânea. Experiência estética.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 CAPÍTULO 1 – Reconhecimento do Espaço Escolar ................................................... 13 1.1. Dados Gerais da Escola .......................................................................................... 13 1.2. Observações Silenciosas ......................................................................................... 15 1.3. Análise das Observações Silenciosas ..................................................................... 24 1.4. Análise do Questionário Respondido pela Professora ........................................... 26 1.5. Análise dos Questionários Respondidos pelos Alunos ........................................... 28 1.6. Motivos da Escolha do Tema de Pesquisa em Artes Visuais ................................. 33 CAPÍTULO 2 – Pesquisa sobre o Tema em Artes Visuais ........................................... 35 CAPÍTULO 3 – Projeto de pesquisa e Prática de Ensino em Artes Visuais ..................75 3.1. Dados Gerais da Escola e Turma ............................................................................ 76 3.2. Dados gerais do Projeto de Ensino ......................................................................... 77 3.2.1. Título do Projeto .................................................................................................. 77 3.2.2. Tema do Projeto ................................................................................................... 77 3.2.3. Justificativa .......................................................................................................... 77 3.2.4. Objetivo Geral ..................................................................................................... 77 3.3. Prática de Ensino em Artes Visuais ........................................................................ 78 3.3.1. Primeiro Encontro: Aula 01 e 02 ......................................................................... 78 3.3.2. Segundo Encontro: Aula 03 e 04 ....................................................................... 109 3.3.3. Terceiro Encontro: Aula 05 e 06 ....................................................................... 123 3.3.4. Quarto Encontro: Aula 07 e 08 .......................................................................... 143 3.3.5. Quinto Encontro: Aula 09 e 10 .......................................................................... 151 3.3.6. Sexto Encontro: Aula 11 e 12 ............................................................................ 172 3.3.7. Sétimo Encontro: Aula 13 e 14 .......................................................................... 187 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 202


REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 215 APÊNDICES ............................................................................................................... 119 Apêndice 1 - Questionários respondidos pelos alunos nas observações do 1º ano do Ensino Médio ............................................................................................................... 119 Apêndice 2 - Questionário respondido pela professora nas observações do 1º ano do Ensino Médio ............................................................................................................. 224 Apêndice 3 - Questionário final sobre o projeto.......................................................... 127 Apêndice 4 - Avaliação da professora ........................................................................ 234


INTRODUÇÃO No presente trabalho descreverei as experiências vivenciadas e reflexões realizadas durante os estágios I, II, III e IV do curso de Artes Visuais, que se constituíram a partir da elaboração do Projeto de Ensino “Eternizo-me, caso me falte a memória” com ênfase na memória, lembrança e eternização de momentos. Após a aplicação do Projeto de Ensino nos níveis fundamental e médio, selecionei a aplicação com a turma do 1º ano do Ensino Médio para ser descrito neste Trabalho de Curso, pois percebi maiores peculiaridade e reflexões mais pertinentes neste nível. O trabalho se organiza em três capítulos. O capítulo 1 apresenta o reconhecimento do espaço escolar. O capítulo 2 contém a pesquisa sobre o tema em arte visuais e o capítulo 3 analisa o projeto de pesquisa e prática de ensino em artes visuais. No primeiro capítulo, “Reconhecimento do Espaço Escolar”, apresentarei aspectos da estrutura física e características gerais do funcionamento da escola onde apliquei o Projeto de Ensino, bem como realizei as observações silenciosas. Constam os relatos e analises de seis observações silenciosas na turma do 1º ano do ensino médio e análise dos questionários aplicados para os alunos e professora da turma em questão. As observações silenciosas, instrumentalizadas pelos questionários resultaram em uma análise que subsidiou a escolha da temática e a metodologia adotada para a elaboração e construção do Projeto de Ensino. Neste processo, sondou-se a necessidade de um planejamento mais dinâmico e robusto com enfoque na arte contemporânea, pois ela abrange muitos temas cotidianos. A arte contemporânea é propositora de reflexão e questionamentos, em que nem sempre é necessário buscar uma certeza. Considero a arte contemporânea intimamente ligada as incertezas da fase dos adolescentes, provocando a criticidade, explorando a sensibilidade e atenção, dando-lhes a oportunidade de ver mais do que lhe é dado a ver. O olhar crítico desconfia, reelabora e reconfigura, através do exercício da pesquisa, do conhecimento e análise para o seu entendimento. Durante as observações silenciosas, percebi que os alunos não possuíam diversidade de materiais para manusear como suporte de criação e ocorriam poucos momentos de leituras de imagens durante as aulas, desta forma, minimizando as possibilidades de experiências estéticas. Estas problemáticas impulsionaram a criação dos planos de aula, nos quais tentei apresentar diversos materiais e recursos de criação, bem como muitas reflexões e leituras de imagens. 8


Quero ressaltar, que a turma observada não foi a mesma turma em que realizei a prática do projeto de ensino, pois tive dificuldade de conciliar horários de trabalho com o horário de estágio, porém isso não impactou no desenvolvimento do projeto. No capítulo 2, “Pesquisa sobre o tema em arte visuais”, abordarei o tema escolhido para o embasamento teórico deste trabalho. A seleção dos artistas e conteúdos, foram ao encontro da necessidade da turma observada, porém também tiveram alguns aspectos pessoais que influenciaram para as escolhas. Sempre tive apresso em estudar e compreender fatos da infância que contribuem para a formação ética, moral e da personalidade dos adultos, desta forma a vertente da infância impulsionou a pesquisa. A pesquisa é sutilmente subdividida em quatro modalidades do exercício da memória: A Infância, uma fase fortemente registrada e armazenada pela memória, na qual, dia após dia, podemos recorrer para reviver em nosso interior aspectos do nosso ser criança. Utilizei os artistas Pieter Brueghel e Candido Portinari, que representam em suas obras características da infância de grupos de crianças, contemplando jogos e brincadeiras de diferentes culturas. Os Objetos-lembranças, diz respeito aos objetos que possuem status maiores em nossas lembranças, pois, os mesmos, remetem a fatos, circunstâncias e sentimentos marcantes do tempo passado perpetuados na memória. Dentro desta poética, apresentase as obras dos artistas Iberê Camargo e Paulo Gaiad. Vale dizer que troquei e-mails com o artista Paulo Gaiad, na qual ele me disponibilizou várias imagens de suas obras, com muita satisfação, usei-as no projeto de ensino, porém as imagens não possuíam legenda com nome e ano, novamente tentei entrar em contato com o artista, solicitando estes dados, porém não obtive retorno, desta forma, algumas das obras não serão indicadas pelo nome e ano. A perspectiva de que a nossa vida é uma constante registradora, seja ela intencional ou despropositadamente, do tempo passado, desta forma, abordo o ponto de vista Caminhos, na qual artistas Francis Alÿs, Lygia Clarck e Mario Garcia Torres apresentam performances que conduzem um olhar atento de reflexão para as escolhas que tomamos e suas consequências, determinadas pelas nossas ações no cotidiano. Por fim, abordarei a Eternização de Momentos, uma luta do ser humano de poder perpetuar os sentimentos mais íntimos e especiais. Esta linha de pensamento é

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apresentada pela artista Brígida Baltar, que traduz em sua poética, de forma muito bela, essa concepção de memória. No capítulo 3, “Projeto de pesquisa e Prática de Ensino em Artes Visuais”, apresentarei o planejado e realizado de cada aula. Com uma experiência mais significativa, escolhi somente a turma de 1º ano do Ensino Médio para ser abordada no Trabalho de Curso. No entanto, o projeto de ensino também foi aplicado no Ensino Fundamental. As duas práticas foram desenvolvidas no Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, situada na cidade de Lajeado. Ocorreram sete encontros, de 1h30min de duração, em cada nível. A turma do 9º ano ensino fundamental era composta por 22 alunos, sendo 10 meninas e 12 meninos, todos entre 14 e 17 anos e, na sua maioria, pertencentes à classe econômica baixa. Os alunos apresentavam muitas lacunas e dificuldades em torno do entendimento das artes, não eram muito cooperativos em relação ao grupo, possuíam um vocabulário bem desrespeitoso para com os colegas, e desta forma, ocorreram muitos episódios de confusão e brigas entre eles, nos quais tive que intervir. Os alunos apresentavam-se bem imaturos frente aos conteúdos do Projeto de Ensino, desta forma, em algumas situações não se esforçavam para contribuir com reflexões pertinentes aos temas abordados. A prática de ensino, neste nível, não obteve resultados tão significativos em relação à prática aplicada no ensino médio. A turma do 1º ano do Ensino Médio era representada por 19 alunos, sendo 17 meninas e 2 meninos, o grande número de meninas na turma, deve-se pelo fato de que esta era uma turma preparatória para adentrar no Curso Normal, no ano seguinte. Abordei a arte contemporânea, na sua simplicidade, desde os materiais até a poética envolvida na ação de sentir e ser, tornando-a acessível a todos a partir da experiência estética em que prevalece a experiência de vivenciar a proposta, sem preocupação com o resultado, e sim com o processo de aprendizagem e criação. Um marco importante do projeto de ensino foi o desenvolvimento da experiência “Coletas”, apresentada pela artista Brígida Baltar, explorando a memória e a afetividade geradas no evento, como as lembranças de odores, da temperatura, dos sons e mesmo de sentimentos, como prazer, medo ou melancolia. Apresentei as múltiplas possibilidades da arte contemporânea, com o objetivo de aproximar os alunos e torna-los receptíveis para aprendê-la e vivenciá-la. Foram explorados vários materiais diferenciados e que fossem fáceis de adquirir ou solicitar aos alunos. A turma estava acostumada a ter como exclusivo material de 10


artes a folha de desenho A4 e material de desenho. Desta forma, tinham dificuldade para manusear tinta, pouca habilidade com recorte, colagem, dobradura e montagem. Porém as experiências que estes materiais propuseram, foram muito significativas aos alunos. No final do estágio, observei que a turma amadureceu e que o tema escolhido foi objeto de questionamentos, nas quais os alunos puderam compreender a arte contemporânea, fazendo da leitura de imagem um momento de reflexão entre prática e teoria. A arte passou a ser objeto de conhecimento e estudo, proporcionando criticidade e experiência estética. Como

finalização

deste

trabalho,

farei

algumas

reflexões

relatando

aprendizagens e experiência que reconstruíram o meu “eu”, e como compreendo hoje, que ser professor é nunca estar pronto.

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CAPร TULO 1 Reconhecimento do Espaรงo Escolar

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1.1.

Dados gerais da Escola

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco

O Colégio Estadual Presidente Castelo Branco situa-se no centro da cidade de Lajeado/RS, sendo o maior educandário da rede estadual do Vale do Taquari. A comunidade escolar é oriunda de diversos bairros da cidade, bem como de vários municípios da região, abrangendo uma diversidade socioeconômica, cultural, política, religiosa e étnica. É uma instituição educacional que concentra um grande número de alunos, tem uma infraestrutura satisfatória, sendo composta de 31 salas de aula, 7 laboratórios, 2 laboratórios de informática, 6 salas administrativas, 1 ginásio poliesportivo, 19 banheiros, 1 sala de professores, 1 sala multiuso, 8 depósitos 1 biblioteca, 2 salas para educação física (uma para depósitos de materiais e outra sala com espelhos), 1 cantina, 1 oficina, 1 sala de clube de mães, 1 auditório, 2 mini auditórios, 3 cozinhas (alunos, professores e funcionários) 1 lavanderia, 1 xerox/almoxarifado, 1 sala para os funcionários e 1 sala de depósito de materiais de limpeza, sendo que sua metragem total de área construída é de 7977,58 m². O funcionamento da escola acontece nos três turnos, atendendo o Ensino Fundamental, Ensino Médio, Curso Normal e também no vespertino, com atendimento às aulas de Progressões Parciais. O maior número de alunos do colégio concentra-se no Ensino Médio. A coordenadora ressaltou que o colégio conta com a colaboração e parceria de várias empresas do município e da região para oportunizar situações concretas de prática em trabalhos diversos, que auxiliam os estudantes do Ensino Médio nas suas escolhas e atividades profissionais. O colégio oferece possibilidade de trabalhar com as dificuldades de aprendizagem através de aulas de reforço. Para o aluno que não alcançar os objetivos ao longo do ano obtendo reprovação em uma ou até duas disciplinas no ensino médio e uma disciplina no ensino fundamental séries finais, o mesmo tem a possibilidade de avançar para a série seguinte fazendo, no decorrer do ano seguinte, as progressões parciais das disciplinas pendentes do ano anterior. Estas duas possibilidades acontecem

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no turno inverso ao regular e/ou vespertino. As aulas são ministradas por um professor com carga horária específica para este atendimento. Para garantir a inclusão, os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, procedentes de escolas regulares, recebem atendimento especializado na “Sala de Deficientes Visuais”. Alguns recebem atendimento no turno oposto ao da escola em outra instituição com profissionais qualificados para dar aporte de que necessitam. Para a equipe de professores são organizadas reuniões pedagógicas semanais. A coordenadora disse-me que uma das lutas da escola é poder ampliar a carga horária de reuniões para que possa ser um momento de planejamento coletivo e interdisciplinar. A equipe escolar é composta por uma diretora, três vice-diretoras (uma para cada turno da escola), 97 professores, quatro secretários, cinco orientadoras educacionais, três supervisoras e 1230 alunos matriculados. Na filosofia da escola é ressaltada a luta por uma sociedade mais justa e fraterna, que saiba respeitar e promover a pessoa humana em sua plenitude. Esclarecem que centralizam o processo do conhecimento da realidade, no diálogo como mediação de saberes e de conflitos transformando a realidade pela ação crítica dos próprios sujeitos, desenvolvendo e consolidando a concepção de mundo, de consciência e vivências. Possuem como base uma educação democrática e humanista, partindo da realidade onde está inserido, numa proposta pedagógica que favoreça a construção de aprendizagens significativas, que o educando adquira espírito crítico e participativo, o que torna um cidadão consciente, capaz de interagir na sociedade e no mundo do trabalho.

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1.2.

Observações Silenciosas

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 01 – Data: 21/09/15 Horário: 14h20min às 15h10min

Observação: Primeiro dia

Ao chegar à escola, com 20 minutos de antecedência, me apresentei para uma recepcionista e aguardei sentada na recepção pela chegada da professora. Durante meu aguardo, fiquei observando os alunos que entravam na escola e imaginando quais deles poderiam ser os alunos que eu observaria em seguida. O sinal bateu às 13h30min, porém a professora ainda não havia chegado, passados 10min ela chegou e de imediato veio ao meu encontro para me cumprimentar, em seguida, fomos direto para a sala de artes. Durante o primeiro período de aula, fiquei sentada no fundo da sala para observar a aula da turma do 8º ano, às 14h20min tocou o sinal do término deste período e ocorreu a troca de turmas. Quando a turma do 1º ano do ensino médio chegou, eu já estava sentada no fundo da sala. Algumas meninas me olharam, outras nem me notaram. A turma é composta por 23 alunas, todas meninas, pois é uma turma de ensino médio integrada ao Curso Normal. Apenas 14 alunas compareceram à aula, em virtude da enchente local. A professora cumprimentou as alunas e solicitou para que se sentassem. Assim que todas se acomodaram ela apontou para mim e me apresentou da seguinte maneira: “Como podem perceber, estamos com a presença da Jaine. Ela é estudante de artes e irá nos acompanhar durante algumas aulas fazendo observações. A Jaine já foi minha aluna e agora é minha colega em outra escola. Acho que é isso, né Jaine?, eu sorri e respondi: Boa tarde! Acho que é sim!” A professora foi até um armário e retirou uma pasta de tamanho A3, onde estavam armazenados os trabalhos dos alunos, foi chamando nome a nome e entregando os mesmos. Ela pediu que ainda não continuassem, pois ela gostaria de explicar novamente para deixar algumas coisas mais claras. 15


Em um quadro verde, já estavam desenhados formas geométricas 3D, a professora utilizou estes desenho para mostrar que deveriam escolher uma direção de foco de luz para determinar Luz e Sombra, alertou que não deveriam usar contornos fortes no desenho, mostrando assim, uma embalagem de batata frita na forma de um cilindro, que estava em sua mesa, e perguntou: “Vocês veem algum contorno?” A professora explicou que a luz vinha da direção da janela, portanto a parte mais iluminada era esta e que a mais escura estava no lado oposto, podendo-se notar através da intensidade das cores que nosso olhos percebem. As folhas que a professora entregara eram em tamanhos A4, porém de cores diferentes. Ela solicitou que no verso fizessem uma escala de cores tonais com lápis, preferencialmente com lápis 6B, e, em seguida, poderiam escolher uma forma geométrica para desenhar. A maioria das alunas já havia iniciado a escala na aula anterior. A sala em que as aulas acontecem é um ambiente específico para a disciplina de artes. É ampla, muito bem estruturada e equipada, contendo 35 classes e cadeiras, agrupadas de maneira que formam um semicírculo. Possui três janelas basculantes grandes e 8 lâmpadas, deixando a sala bem iluminada. Há dois quadros, um quadronegro para ser usado com giz e outro branco para ser usado com pincel atômico. Há um mural com informações sobre os Critérios de Avaliação, sendo estes os seguintes: Material; Participação e envolvimento nas atividades; Pontualidade na entrega de trabalhos; Originalidade, capricho e acabamento; Uso correto da técnica; Identificação no verso e assinatura na frente e Respeito. Para armazenar os trabalhos dos alunos há duas prateleiras e dois armários, sendo que não há muitos materiais disponíveis. Dentre eles, há pincéis, réguas e folhas de desenho A4 e A3. A sala possui um projetor fixo no teto para reproduzir conteúdos audiovisuais. Nas paredes estão expostos alguns trabalhos de alunos e alguns cartazes informativos. Há um espaço de aproximadamente quatro metros de comprimento, em que a parede está pintada de preto, onde os alunos podem escrever e desenhar com giz de quadro. Esse espaço estava praticamente todos ocupado com intervenções dos alunos. A professora é dinâmica e a todo tempo incentiva a turma e elogia alguns trabalhos, chama atenção quando necessário e circula regularmente pelas classes orientando as alunas quando sentia necessidade. Em diversas vezes ela ressaltou que 16


não deveriam pressionar muito o lápis sobre a folha. As alunas se mostraram bastante tagarelas, porém participativas. No quadro branco estava escrito questões teóricas sobre o estudo de Luz e Sombra. Perguntei a uma aluna se elas haviam estudado o que ali estava escrito, e ela me disse que na aula anterior a professora tinha explicado este conteúdo usando alguns objetos e uma lanterna.

Fonte: GRÄF, 2015.

Durante o decorrer da aula a professora viu sobre uma mesa um livro didático de uma aluna. Na capa do livro havia um copo transparente e atrás dele o sol. Ela chamou a atenção da turma dizendo que este era um exemplo de luz e sombra muito interessante, pois como o copo era transparente e o sol vinha de trás, a parte mais clara era a central e as duas laterais mais escuras. Ao final da aula a professora solicitou que entregassem os trabalhos para serem guardados na pasta e que reorganizassem a sala para atender a próxima turma. As alunas guardaram seus materiais e devolveram os trabalhos, em seguida saíram da sala.

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Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 02 – Data: 23/09/15 Horário: 14h20min às 15h10min

Observação: Segundo dia

Cheguei à escola às 13h e os portões ainda não estavam abertos, aguardei até as 13h15min do lado de fora. Quando foi aberta, entrei e me sentei na recepção para aguardar o sinal. Quando bateu, a professora ainda não havia chegado. Certifiquei-me com a recepcionista se ela realmente não havia entrado despercebidamente por mim, mas ela confirmou que também não a tinha visto passar. Dentro de 10 minutos, ela chegou, me cumprimentou e fomos direto para a sala. Observei um período da aula do 8º ano e, em seguida, continuei na sala para observar então o 1º ano do ensino médio. As alunas entraram na sala dando gargalhadas em alto tom, pareciam se divertir. Entraram apenas 11 meninas e a professora estava na porta esperando que viesse o restante da turma para por fechá-la. Uma aluna notou a espera da professora e disse: “Pode fechar! Somos apenas nós, acho que as outras não vieram por causa da enchente!” Desta forma a professora fechou a porta e foi buscar a pasta de trabalhos. Abriu a mesma sobre a mesa espalhando as folhas e disse que cada uma poderia buscar o seu para continuar o trabalho de Luz e Sombra da aula anterior. As meninas se levantaram para procurar seus trabalhos e voltaram para seus lugares. Elas haviam se sentado bem próximas umas das outras e conversavam bastante, pude notar que falavam principalmente sobre homens, namorados e ex-namorados. Riram durante quase toda a aula e a professora pediu concentração diversas vezes. Circulei pela sala e pude notar uma serie de cartazes produzidos pela turma de Curso Normal, intitulado e introduzido pela professora da seguinte maneira: “O que fazer quando a criança diz: Não posso desenhar?” Em seguida haviam cartazes produzidos pelos alunos onde mostravam o papel do professor frente a este conflito. As alunas estavam bem inquietas e não renderam muito durante a aula. A professor circulou pela sala e chamou a atenção para o grande grupo, dizendo que deveriam tomar mais cuidado ao pressionar o lápis, pois as alunas estavam forçando o grafite sobre o papel, dificultando o efeito de “degrade” para fazer a sombra e em caso de ocorrer algum erro, ficava marcado no papel o traçado do lápis ao tentar apagar.

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Como estava utilizando papel de desenho colorido para a atividade, ao apagar algum erro a pigmentação da folha era afetada, algumas meninas não ficaram satisfeitas, achando que o desenho havia ficado feio após usar a borracha e pediram uma nova folha para refazer o desenho. Faltando 10 minutos para o término da aula uma aluna falou em alto tom: “Podemos guardar?” A professora olhou para o relógio preso na parede e voltou-se para a aluna: “Em 10 minutos você ainda pode fazer tudo que não fez durante a aula!” Algumas meninas na volta deram risadinhas. A aluna que havia pedido para guardar não tinha feito quase nada durante a aula, além de ficar conversando e dando gargalhadas. Quando o sinal tocou, todas se levantaram e guardaram seus materiais. A professora pediu que devolvessem as folhas da atividade e foram saindo da sala.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 03 – Data: 28/09/15 Horário: 14h20min às 15h10min

Observação: Terceiro dia

Cheguei à escola no momento em que bateu o sinal e aguardei alguns minutos até que a professora saiu da sala dos professores e passou pela recepção onde eu aguardava, para então, acompanhá-la até a sala de artes. Observei um período da aula do 8º ano e, em seguida, continuei na sala para observar então o 1º ano. As alunas foram entrando na sala e tomando lugares aleatórios. Como de costume entraram conversando e rindo, bem agitadas. A professora pediu silêncio e disse para cada uma buscar sua folha de atividade para dar continuidade. Ressaltou que este seria o último dia para concluir esta atividade. As meninas buscaram seus trabalhos e seguiram a orientação da professora. Passados 15 minutos entraram mais 6 alunas que estavam atrasadas. A professora olhou para elas com cara de insatisfeita e perguntou por onde andavam, elas responderam que estava falando com a professora de literatura referente a um assunto de um trabalho e que tinham um aviso para a turma, pois todas deveriam

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entregar o trabalho de literatura até amanhã para receberem nota. Esta notícia gerou tumulto entre a turma, desviando a atenção da aula de artes. A professora retomou a orientação de que deveriam concluir a atividade de Luz e Sombra para as alunas que haviam se atrasado. Durante esta aula a professora não interagiu muito com a turma, pois estava preenchendo alguns dados em vários cadernos de chamada, mas toda vez que alguém a solicitava ela era recíproca atendendo aos questionamentos. Diversas vezes a professora pediu mais concentração e que agilizassem a tarefa. A turma estava bem dividida, um grupo não estava trabalhando muito e conversavam bastante. Já o segundo grupo trocava ideias entre si e davam sugestões umas às outras. Faltando 15minutos para o final da aula, uma menina que havia se concentrado na atividade mostrou seu trabalho para a professora e disse ter terminado. A professora mostrou-se satisfeita e pediu para escrever no verso: Luz e sombra, e em seguida o seu nome completo e turma. A menina fez o que a professora solicitou e ao entregar o trabalho, pediu se poderia ir indo para a aula de educação física, a professora fez que sim. Quando a aluna saiu da sala outras também se levantaram e entregaram o trabalho com as identificações que foram solicitas pela professora, pediram se poderiam sair. Organizaram seus materiais e foram para a próxima aula. Quando o sinal bateu só tinham mais 12 alunas na sala, elas organizaram seus materiais e a professora disse que poderiam concluir em casa, mas sem falta deveriam entregar na próxima aula. Elas ficaram contentes com a notícia e saíram da sala.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 04 – Data: 30/09/15 Horário: 14h20min às 15h10min

Observação: Quarto dia

Cheguei à escola às 13h25min, aguardei na recepção até o sinal bater e a professora descer da sala dos professores. Fomos juntas até a sala, onde os alunos do 20


oitavo ano nos aguardavam. Observei a aula deles para, em seguida, observar o primeiro ano. Assim que o sinal do término do primeiro período tocou, os oitavo ano se retirou da sala e dentro de 5 min. o primeiro ano chegou. As meninas foram entrando e se acomodando. Assim que todas haviam chegado a professora fechou a porta dizendo: “Bom... imagino que todas vocês estejam com o material de artes, como: tesoura, cola, canetões, lápis e também imagino que gostem do dia das crianças!” – a professora fez uma pausa na fala olhando para as alunas fazendo uma careta com o rosto, mostrando-se insatisfeita – “Como de costume nossa turma deverá enfeitar o refeitório para a semana das crianças! Então vamos todas para lá ver o que podemos fazer!” Algumas alunas que não haviam concluído a atividade da aula anterior, entregaram seus trabalhos á professora. Toda a turma pegou os seus materiais e se dirigiram ao refeitório. Lá encheram balões e confeccionaram cartazes comemorativos, parabenizando as crianças e com frases de homenagem. Notei que estavam sem vontade de fazer esta atividade e que se alongaram bastante, utilizando toda a aula para enfeitar o refeitório.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 05 – Data: 05/10/15 Horário: 14h20min às 15h10min

Observação: Quinto dia

Cheguei à escola um pouco antes do início na aula. Aguardei de pé no saguão, pois as cadeiras da recepção estavam todas ocupadas. Assim que o sinal foi dado, a professora veio ao meu encontro e fomos até a sala de artes, onde os alunos do oitavo ano nos esperam. Novamente observei o primeiro período de aula do oitavo ano e, em seguida, permaneci na sala para aguardar as alunas do primeiro ano. As alunas entraram na sala, conversando e dando altas gargalhadas, como de costume. Escolheram um lugar para se sentar e aguardaram a professora falar.

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A professora iniciou dizendo que haviam muitas alunas com pendências de notas e que achava melhor “acordarem”, pois ainda daria tempo de recuperar. Em seguida fez a chamada. A professora entregou uma folha A3 de desenho para cada aluna, mostrou que deveriam dobrar uma pequena margem na parte inferior da folha, utilizando-a na orientação de paisagem, nela deveriam escrever seus nomes ou apelidos com letras “gordas” para que depois pudesse ser recortado de maneira que as letras ficassem presas a base da folha, e pudessem apoiar na margem dobrada parecendo que as letras estivessem de pé sobre a mesa. Ela ainda explicou que está atividade serviria de suporte para a seguinte, onde cada aluna deverá desenhar o seu nome observando a sobra projetada pelas letras. Tornando prático o estudo de Luz e Sombra. As alunas seguiram as orientações da professora, trabalhando tranquilamente, porém conversavam bastante, mas estavam rendendo, a conversa não parecia atrapalhar. Ao realizar a atividade demonstravam estar empolgadas. Algumas sentiram dificuldades na hora de recortar, desfragmentando as letras da margem dobrada, desta forma tiveram que reiniciar a atividade e outras solucionaram utilizando fita crepe. Observei que uma das alunas não estava fazendo nada, simplesmente estava com os braços estendidos sobre a mesa e a cabeça deitada. Em certo momento, a professora se aproximou e perguntou por que ela não estava fazendo nada, ela apenas respondeu que não tinha criatividade, a professora com cara de insatisfeita disse que não era falta de criatividade, mas falta de vontade e preguiça. A aluna concordou com a cabeça, mas mostrou-se indiferente e continuo sem fazer nada. A professora pediu à turma se alguém já havia procurado uma música para a apresentação de Ação de Graças. A menina que não estava fazendo a atividade se levantou, indo na direção da mesa da professora e disse que tinha procurado uma, mas que estava em seu celular, a professora falou que queria ouvir. A música era de estilo gospel com uma letra bem bonita e uma melodia lenta. Algumas meninas ajudaram dando opiniões de como poderiam fazer a coreografia e também sugeriram outras músicas. Faltavam 5 minutos para o término da aula. As alunas entregaram os trabalhos para serem guardados na sala e darem continuidade na próxima aula. A professora solicitou que trouxessem mais ideias de músicas e coreografias para começarem a ensaiar a apresentação em breve. 22


Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Professora: Vanderléia Freitas Dos Santos 1º ano do Ensino Médio Observação aula 06 – Data: 05/10/15 Horário: 14h20min às 15h10min7

Observação: Sexto dia

Chegando à quadra da escola ouvi o sinal tocando, apressei o passo e quando entrei na escola fui direto até a sala, pois imaginei que a professora já tivesse ido até lá. Porém ao chegar em frente a sala, eu cumprimentei os alunos que ainda estavam aguardando a chegada da professora. Quando ela chegou, deu boa tarde a todos enquanto abria a porta. No primeiro período observei a aula do 8º ano para, em seguida, observar o 1º ano do ensino médio. As alunas entraram na sala, sentaram-se em seus lugares, duas já foram perguntar se podiam continuar seus trabalhos. A professora pediu para que sentassem e tivessem calma. Explicou que deveriam selecionar a música para a apresentação de Ação de Graças até o final da aula, pois teriam que preencher uma ficha explicando o que iriam fazer, se iriam cantar ou dançar. Ou seja, descrever a apresentação, para que a direção pudesse organizar a ordem das apresentações de acordo com o estilo e mensagem a ser transmitida. Essa notícia gerou tumulto na turma, pois começaram a falar uma verdadeira explosão de ideias. Algumas alunas não estavam levando a sério, fazendo comentários e dando supostas sugestões debochadas, não contribuindo para uma boa apresentação. Já outro grupo de meninas, mostrava-se realmente empenhado a desenvolver algo de qualidade. Enquanto elas falavam, a professora ia anotando e colaborando com sugestões para complementar as ideias. Essa discussão levou todo o período da aula.

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1.3.

Análise das Observações Silenciosas

A escola é grande, as salas são amplas e estão em boas condições, atendendo as necessidades dos alunos. As pessoas que ali trabalham transmitem uma harmonia, sendo muito receptivos e simpáticos. Percebe-se que a direção e o departamento administrativo são bem organizados, pois me comunicaram em duas situações que eu não poderia ir observar aula, devido programações internas. A professora é bem dinâmica e se mostra apaixonada pela arte e pela profissão de professora, demonstra isso durante as conversas. Sempre muito empolgada, ela mostrava-se orgulhosa em ter conquistado uma sala tão bem estruturada para a disciplina, comparando com a realidade de outras escolas que não valorizam tanto assim. Este aspecto me chamou muito a atenção, pois a estrutura da sala é muito boa, tendo variados materiais e aparelhos para o uso dos alunos e melhor desempenho das aulas, como por exemplo a disponibilidade de um aparelho projetor, um forno para cerâmica, pias para a higienização e tamanho amplo para proporcionar uma boa dinâmica de aula. A todo momento a professora incentivava os alunos a serem criativos e autênticos nos seus trabalhos, porém acredito que ela poderia ter aprofundado mais os conteúdos, utilizado artistas e obras relacionadas de maneira a contextualizar, notando assim, que ela valoriza a produção, deixando que os alunos tenham lacunas nos conhecimentos

teóricos

em

torno dos

conteúdos. Considerando arte como

conhecimento, pontua-se que:

A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (BARBOSA, 2007, p.34).

O ensino de arte contemporâneo enfatiza a importância da contextualização, essa abordagem eu não pude observar nas aulas, no qual dificilmente eram trazidos contextos históricos das artes. Na abordagem triangular, a autora Ana Mae Barbosa aponta sobre a importância do fazer ancorado na análise da imagem, não podendo ser duas tarefas isoladas, mas sim uma concepção em que uma complementa a outra. Ana Mae defende

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a importância do contato com as obras de arte, pela produção, pela leitura e pela contextualização. Observei que na sala estavam expostas duas obras do Portinari, porém elas foram usadas apenas na última aula. E ao lado das obras havia um cartaz dando informações que descreviam a obra antes de fazer uma análise. O cartaz tratava sobre a biografia do artista e ainda questões de leitura de imagem, como as características das linhas, cores, formas, o que a obra está representando, qual a intenção do artista. Estas informações prévias de leitura de imagem, fazem com que os alunos não se esforcem a analisar as imagens, pois torna-se irrelevante as suas opiniões, vendo que, já está dada uma leitura prévia da obra. Acredito que a arte deva estimular o raciocínio e o pensar como fonte de conhecimento:

Se a arte é conhecimento, ela o é no modo próprio e inconfundível que lhe deriva do seu ser arte, de modo que não é que a arte seja, ela própria, conhecimento, ou visão, ou contemplação, porque antes, ela qualifica de modo especial e característico estas suas eventuais funções. Por exemplo, ela revela, frequentemente, um sentido das coisas e faz com que um particular fale de modo novo e inesperado, ensina uma nova maneira de olhar e ver a realidade; e estes olhares são reveladores sobretudo porque são construtivos, como o olho do pintor, cujo ver já é um pintar e para quem contemplar se prolonga no fazer (PAREYSON, 2001, p.24-25).

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1.4.

Análise do Questionário Respondido pela Professora

Segundo o questionário respondido pela professora titular Vanderléia Freitas Dos Santos (43 anos), ela é formada em Educação Artística: Artes Plásticas na UPF e Pós-Graduada em Linguagens Contemporâneas: Arte-Educação pela FEEVALE. Há 20 anos atua na área de Artes. Disse ter o hábito de frequentar exposições e formações no SESC local, Univates, Casa de Cultura da cidade e Bienais em Porto Alegre. Sobre o planejamento, ela diz seguir o plano de trabalho por trimestre apresentado pela escola, criando um roteiro de conteúdos e atividades para ser introduzido durante as aulas, no decorrer do ano. Afirma valorizar o trabalho prático associado à teoria, pois acredita que é importante conhecer a História da Arte para fazer relações com os conteúdos. A professora aponta que o reconhecimento e valorização da disciplina, dentro do ambiente escolar, vêm aumentando de uns tempos para cá. Segundo ela, obteve-se esta maior valorização através de exposições produzidas pelos alunos e reconhecimento da Arte como conhecimento. Para Ernert Boyer (1983, p. 98)

As artes são uma parte essencial da experiência humana. Não são uma frivolidade. Recomendamos que todos os estudantes estudem as artes para descobrir como os seres humanos usam símbolos não verbais e se comunicam não apenas com palavras, mas através da música, dança e das artes visuais.

Questionei-a se são oportunizadas visitas a exposições e museus, ela afirma que sim, mas que encontra dificuldades para poder fazer este tipo de atividade com mais frequência, pois os períodos de artes são muito curtos, dificultando o deslocamento, mas pontua que sempre informa os alunos das exposições que estão ocorrendo na cidade. Ela ainda conclui dizendo que gostaria muito de criar o hábito espontâneo nos alunos de visitarem os locais de arte, pois nas proximidades da escola existem dois museus de arte, o Museu Municipal e o Museu do Sesc, mas mesmo assim eles ignoram tais locais. Segundo David Thistlerwood (2002, p. 147), todos os esforços para inserir os alunos no meio das artes, são válidos: “Sempre haverá uma minoria que se relacionará com a arte de forma autônoma, mas a frequência pública de larga escala requer contínuo incentivo educacional.” 26


A professora diz fundamentar sua prática na arte-educadora Ana Mae Barbosa, Anamelia Bueno Buoro, Howard Gardner, Fernando Hernandez, entre outros. Ela descreve que leva para os alunos propostas que ps desacomodem, utilizando materiais variados para despertar o interesse pelas aulas. É apontado que o material de uso diário em Artes é de responsabilidade dos alunos, porém há falta destes por parte deles, que por vezes não trazem, ou por falta de condições para adquirir apenas por desinteresse. Recursos como projetor, notebook, quadro branco, salas amplas, estrutura física em geral, são ótimos, segundo a professora, mas materiais para uso dos alunos em atividades práticas, são precários devido a falta de verbas para adquiri-los. A avaliação em Artes ocorre através da análise do professor segundo a participação e envolvimento nas atividades propostas. Também é avaliado o uso correto da técnica, acabamento e originalidade nas produções.

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1.5.

Análise dos Questionários Respondidos pelos Alunos

Características da turma:

IDADE 0%

6% 14 ANOS

25% 13%

56%

15 ANOS

FEMININO

16 ANOS

MASCULINO

17 ANOS

100%

Questionário:

1- VOCÊ GOSTA DAS AULA DE ARTES? 13%

SIM

0%

NÃO 87%

MAIS OU MENOS

2- O QUE VOCÊ GOSTARIA DE FAZER NAS AULAS DE ARTES? 7% 13%

19%

14%

15%

8% 3%

13%

8%

0%

PINTURA MÚSICA COLAGEM TEATRO DESENHO FOTOGRAFIA MANGÁ DANÇA ESCULTURA GRAFFITI

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3- VOCÊ FAZ ALGUMA ATIVIDADE ARTÍSTICA FORA DA ESCOLA?

4- VOCÊ CONHECE/OUVIU FALAR DE ALGUM ARTISTA PLÁSTICO?

12% SIM

SIM

25% NÃO

NÃO

88%

75%

5- VOCÊ CONHECE OU JÁ VISITOU ALGUM MUSEU OU EXPOSIÇÃO DE ARTE? 0%

0% 6%

SIM. JÁ FUI COM MINHA FAMÍLIA E AMIGOS SIM. JÁ FUI COM A ESCOLA NÃO. MAS GOSTARIA DE IR NÃO TENHO INTERESSE

94%

6- VOCÊ GOSTARIA DE TER MAIS AULAS DE ARTES NA ESCOLA?

7- VOCÊ CONSIDERA A DISCIPLINA DE ARTES IMPORTANTE NA SUA FORMAÇÃO?

6% SIM

SIM 38%

NÃO

NÃO 62% 94%

0%

MAIS OU MENOS

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8- MARQUE AS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS QUE VOCÊ CONSIDERA QUE SÃO ARTE: 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% Fotografia

Música

História em quadrinhos

Cinema

Instalação

Pichação

Dança

Grafite

Escultura

Desenho

0%

O questionário foi aplicado na 5ª observação, com 17 alunas do primeiro ano do ensino médio, de 14 a 17 anos de idade. A turma é bem homogenia, sendo assim, não possui nenhum aluno do sexo masculino, Essa é uma turma de Ensino Médio acoplado ao Curso Normal, porém a disciplina de artes está dentro do Ensino Médio. A maioria da turma diz gostar das aulas de artes, isso mostra que reconhecem o mérito da disciplina. Esta afirmativa é novamente demonstrada quando a maioria dos alunos responde que gostaria de ter mais aulas de artes. A turma mostrou interesse em várias atividades, tendo mais destaque: pintura, música, fotografia e dança. Também teve ênfase a atividade de colagem, mostrando que a turma reconhece diferentes gêneros como manifestação artística. Poucos alunos dizem participar de alguma atividade artística fora da escola, os que participam citaram realizar aulas de dança e música. Três quartos da turma apresentam conhecer algum artista plástico, porém em todo o questionário são citados apenas dois artistas, Portinari e Picasso. Todos os alunos 30


responderam já ter visitado a uma exposição ou museu, na sua maioria com a escola e, alguns com a família e amigos. Ana Mae Barbosa (1998, p19) debate sobre a necessidade e aproximação da escola com as instituições culturais, no qual, visando metodologias capazes de tratar a arte como conhecimento:

Os museus são lugares ideais para o contato com padrão de avaliação da arte através da sua história, que prepara um consumidor de arte crítico não só para a arte de ontem e de hoje, mas também para as manifestações artísticas do futuro.

Sobre a prática em sala de aula, os alunos apresentaram uma grande gama de atividades que representam a Arte, porém as que mais se destacaram foram escultura, desenho, dança, fotografia e música. Poucos consideraram Instalação como arte. Alguns também assinalaram Pichação como arte, este item estava no questionário para avaliar a terminologia conhecida entre os jovens, porém todos que marcaram Pichação também marcaram Grafite, acredito que reconhecem os dois termos como sinônimos ou tenham ficado em dúvida sobre qual realmente deveriam assinalar e acabaram apontando as duas alternativas. A maioria da turma considera importante a disciplina de artes para a sua formação, mas não deixaram claro o porquê desta opinião. Questionei se era possível ler ou interpretar uma imagem? A maioria respondeu que sim. As justificativas giravam em torno de: Sempre tem algo a dizer. São uma forma de expressão. Se você tiver imaginação para interpretar. Cada arte transmite alguma coisa. Depende do olhar de cada um. Tudo tem uma mensagem, um significado. A última pergunta questionava onde eles viam arte no seu dia-a-dia. Algumas das respostas foram: Nos grafites dos muros e paredes da cidade. Na natureza e na escola. Na rua, na escola e em casa. Nas praças, novelas, filmes... 31


Em tudo. Nos quadros e músicas. Por toda parte. Segundo a última questão, pude sondar que os alunos se encontram em um contexto onde a arte se faz bem presente, a resposta que mais se repetiu foi que veem arte na escola e na rua, mostrando que a escola valoriza o ensino de artes. Morais, citado por Ribeiro (1997, p. 296) comenta que a arte deve ser levada ao contexto em que o homem está inserido, aproximando-se do expectador: É na rua, onde o ‘meio formal’ é mais ativo, que ocorrem as experiências fundamentais do homem. Ou o museu leva à rua suas atividades ‘museológicas’, integrando-se no cotidiano e considerando a cidade (o parque, a praça, os veículos de comunicação de massa) sua extensão, ou será apenas um trambolho.

Hoje, mais do que nunca, a formação cultural de crianças e jovens não está restrita ao ambiente dos museus. A paisagem típica das cidades, os espaços urbano se transformam em museus a céu aberto ao dar visibilidade à arte pública. Praças, ruas, teatros, cinemas, escolas, centros de cultura e espaços virtuais são locais que hospedam e oferecem formas simbólicas geradoras da experiência estética artística e cultural.

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1.6.

Motivos da Escolha do Tema de Pesquisa em Artes Visuais

Quando criança, sempre fui levada, travessa e, assim como a maioria delas, eu era muito curiosa, nunca satisfeita com as respostas preguiçosas dos adultos. Já adulta, continuo não me conformando com a falta de respostas para as perguntas que tumultuam a minha mente. Foi em meio de uma explosão de ideias que aliei as necessidades da turma, sondada a partir das observações silenciosas, a um desejo meu, em estudar como as lembranças da infância contribuem para a formação ética, moral e da personalidade dos adultos. Desta forma, a vertente da infância impulsionou a pesquisa. Durante as aulas observadas, notei pouca leitura de imagem e reflexão das mesmas, assim como exploração das artes no meio contemporâneo. Dentro de uma perspectiva em que acreditamos que ler uma imagem nos faz permear por campos imagéticos, onde estamos vulneráveis para “sonhar” e fazer relações do conteúdo da imagem com o contexto no qual estamos inseridos, é fundamental utilizar a prática de leitura de imagem como conteúdo escolar, uma vez que este exercício, segundo Barbosa:

[...] prepararia os alunos a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na sala de aula, ou no cotidiano, e que torná-los conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-los para compreender e avalizar todo tipo de imagem, conscientizando-os do que estão aprendendo com essas imagens. (1995, p14)

Segundo a autora as crianças se tornam criticamente preparadas para olhar o mundo, a partir deste contato e reflexão de diversificadas imagens. A arte, aliada as necessidades neurológicas de memorizar e guardar imagens da vida, desenvolveu a estratégias de representação da memória na ideia de eternizar momentos, experiências e sensações para não serem apagadas da mente humana. A Arte Contemporânea traz consigo as mais diferentes linguagens e poéticas para interagir nas experiências do meio estético, deixando-nos conduzir e entrar em estado sensível com a memória, cercados de valores e experiências que nos marcam e nos constituem contando nossa história. Sob o pensamento do filósofo John Dewey (2010), afirmamos que para sentir a obra de arte é preciso estar disposto a criar a própria 33


experiência de interpretação, a deixar germinar um entrelaçamento entre as ideias do artista e do apreciador, refletidos nas experiências vividas por cada um. A prática de reflexão crítica e leitura de imagens, se faz necessária nas aulas de artes, já que nas observações e nos questionários respondidos, foi possível perceber a ausência destes momentos geradores de experiência estética e reflexão crítica do mundo. Nos questionários, muitos alunos não souberam citar artistas e obras trabalhadas. Desta forma, a reflexão sensível e poética da arte será o elemento principal nas aulas, que proporcionará aos alunos, uma visão ampla do campo crítico-estético.

34


CAPĂ?TULO 2 Pesquisa sobre o Tema em Artes Visuais

35


2.1. Memória: Passado e presente através da imagem

Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo. José Saramago

Memória se traduz pelas reminiscências vividas no passado, despertadas na consciência no momento presente. A clareza da lembrança da memória tem relação com o nível de importância vivenciado na experiência. O ser humano criou suportes empíricos (voz, música, imagem, textos, etc.) para transmitir, às novas gerações, as sensações, experiências e momentos da memória, que foram captadas a partir dos nossos sentidos (visão, olfato, tato, audição e paladar). Cruz (2011, p. 33-34) menciona que “[...] a memória tem o poder de ativar ou reter as coisas. A memória faz parte da vida, ou seja, somos feitos de certa forma de memória, mas também de lembranças e esquecimentos”. Seguindo a psicóloga Bosi (1983, p.15): “A lembrança é a sobrevivência do passado. O passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembrança.” A memória é a união do passado e presente através das imagens superadas a barreira do tempo. Como diz o filósofo Bachelard (1998, p. 25), o processo de imaginação resulta na construção da memória, onde “[...] memória e imaginação não se deixam dissociar. Ambas trabalham para seu aprofundamento mútuo. Ambas constituem, na ordem dos valores, uma união da lembrança com a imagem”. O passado é uma parte constante do nosso presente, levando em consideração a total disponibilidade da memória sensorial, desta forma pode-se dizer que o presente é continuamente permeado pelo passado no nosso dia-a-dia, visto que, a todo momento, a 36


nossa imaginação cria e recria imagens que fazem referência aos nossos arquivos da memória. Imaginação origina-se do latim imaginari, que significa: formar uma imagem mental de algo, derivado de Imago, imagem, representação. Bachelard (1998, p. 49) diz que a memória está intimamente ligada à imagem, uma vez que “A imaginação grava-as em nossa memória. Elas aprofundam lembranças vividas, deslocam-nas para que se tornem lembranças da imaginação”. A arte faz ressurgir a memória, resgatando das lembranças as imagens do passado, como pode-se notar claramente nas fotografias,

que através da arte são

reinventadas. Os objetos, em relação à memória, são carregados de evidências afetivas que através da arte ressurgem marcados pelo tempo, pois não são mais os mesmos de antigamente. Bosi (1983, p. 17) observa que lembrar é refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. As pessoas, na sua maioria, ao relatar fatos da memória, apresentam ações descontínuas do tempo passado, com falta de linearidade e até mesmo de um encadeamento lógico e racional do tempo cronológico, de forma geral predominam narrativas do tempo de infância.

2.2. Infância

Minha vida, nossas vidas formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas. Carlos Drummond de Andrade

A Infância, é uma fase da vida que a maioria das pessoas tem a oportunidade de vivenciar, alguns de forma abundante e repleta de felicitações, porém há os que não possuem tantas possibilidades de felicidade e vivem de forma mais carente. De forma geral, a infância, remete a brincadeiras, jogos, afeto e delicadeza. Estes aspectos são gravados pela memória, na qual, dia após dia, podemos recorrer para reviver em nosso interior aspectos dessa fase passada. Bachelard sugere que a infância pode ser reimaginada e rememorada, uma vez que, podemos criar imagens dessa primeira etapa de vida: 37


Ao sonhar com a infância, regressamos à morada dos devaneios, aos devaneios que nos abriram o mundo. É esse devaneio que nos faz primeiro habitante do mundo da solidão. E habitamos melhor o mundo quando o habitamos como a criança solitária habita as imagens. Nos devaneios da criança, a imagem prevalece acima de tudo. As experiências só vem depois. (BACHELARD, 2009, p.97).

Pieter Brueghel, na obra “Jogos Infantis” (1560), tratou de representar como era ser criança na época do Renascimento.

Jogos Infantis, 1560. Pieter Brueghel (Fonte: http://www.rupert.id.au/TJ521/bruegel_la.jpg. Acessado em: 04/04/16.)

O cenário representa uma aldeia rural com cerca de 200 pessoas, homens e mulheres, com diferentes idades, praticam ações típicas de jogos e de brincadeiras infantis, pião, boneca de madeira, jogo de bola, perna-de-pau, acrobacias e malabarismos, sete marias, cavalo de pau, corredor polonês, rodas, pula-cabra, cabo de guerra, entre mais de 80 jogos. Adentrando na obra de Brueghel, podemos notar que o artista representa os personagens num papel infantil, porém vestidos como adultos ou adultos em atividades de crianças. Essa dualidade representa o papel social das crianças na época, que eram vistas como pequenos adultos. 38


Estão representados diversos brinquedos da época. Muitas destas brincadeiras ainda são contempladas na infância contemporânea, sendo facilmente identificadas. O sentimento lúdico do brincar exige do leitor o uso da memória em busca de um sentimento semelhante vivenciado no passado. Pouco se sabe da vida de Pieter Brueghel, nem ao menos se sabe ao certo quanto ao seu sobrenome: Brueghel, Breughel ou Bruegel. Pintor flamengo que viveu no século XVI, porém não há precisão quanto a sua data de nascimento. Viveu parte de sua vida na região hoje compreendida pela Holanda. Brueghel retratava a vida e costumes dos camponeses, sua terra, uma vívida descrição dos rituais da aldeia, da vida, incluindo agricultura, caça, refeições, festas, danças e jogos. [...] o que de mais seguro se pode dizer da arte de Pieter Brueghel é que ela constitui o derradeiro – e magnífico – testemunho de um mundo em vias de desaparecimento. Um testemunho que concilia o real e o fantástico, o cotidiano vivido e o imaginário temido. (GÊNIOS, 1969, prancha II/III).

Hagen e Hagen (1995) ressaltam que os pintores europeus do século de Brueghel inspiravam-se, muitas vezes, em temas religiosos, antigos em cenas bíblicas, fatos com heróis e deuses greco-romanos, com atenção especial à beleza do corpo humano. Os pintores flamengos, porém, não pintaram os ricos e poderosos, mas as pessoas anônimas, os camponeses, os trabalhadores rurais, os artesãos, suas moradias e suas aldeias. Dentro dessa linearidade, Candido Portinari também representou, em suas obras, o povo de sua origem. Nascido em 30 de dezembro de 1903, em uma fazenda de café na cidade de Brodowski, interior de São Paulo. Foi o segundo dos doze filhos de um casal de imigrantes italianos que veio para o Brasil como mão-de-obra para a lavoura cafeeira.

Cresceu convivendo com trabalhadores do campo, imigrantes como seus pais. Por isso algumas imagens jamais se apagaram da sua memória: a terra roxa e vermelha, os campos de futebol, missas, casamentos, festas caipiras, jogos infantis, os meninos na gangorra, as bandas de música, os retirantes, a inocência, a fome, o sofrimento e o trabalho (BALBI, 2003).

Esses temas vividos e fixados na memória desde a infância foram retratados em 39


vários trabalhos de Portinari marcando sua vida e obra, que demonstrava uma simpatia pelo homem do povo, pelo trabalhador braçal e pela cidadezinha caipira. Entre 1906 e 1918, seus pais deixaram a fazenda para se estabelecerem em Brodowski como comerciantes. Portinari passou então a frequentar a escola, mas não foi além do terceiro ano primário. Em 1918, um grupo itinerante, de pintores e escultores italianos, foi até a igreja de Brodowski para decorar seu interior e convidaram Portinari para ajudar. A função de Candido seria pintar as estrelas na abóbada da igreja. Segundo Pedrosa (1981), o artista chegou a dizer que aquela seria a estrela de seu destino, começando a manusear com pincéis pela primeira vez, e tendo a revelação da vocação para a pintura. O modernismo brasileiro defendia o retorno ao nacional, às origens, e em 1933, Portinari faz isso de uma maneira bem pessoal, revelando ao seu público o que fez parte do seu passado, o que lhe atravessou os olhos e moldou seu caráter. O artista também tinha a intenção de despertar a arte para seu povo, tornando-a acessível e entendível.

Nós devemos no Brasil acabar com o orgulho de fazer uma arte para meia dúzia. O artista deve educar o povo mostrando-se acessível a esse público que tem medo da arte pela ignorância, pela ausência de uma informação artística que deve começar nos cursos primários. Os nossos artistas precisam deixar suas torres de marfim, devem exercer uma forte ação social, interessando-se pela educação do povo brasileiro. Todos os homens de espírito do Brasil vivem isoladamente sem sentimento de coletividade, por isso são eles os que têm menos força (PORTINARI apud BALBI, 2003, p. 28).

Jogo de Futebol em Brodowski, 1933. Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

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Portinari demostra que pintar o Brasil não significa apenas transpor para a tela temas brasileiros. Para que se possa exprimir fielmente a visão de sua terra e sua gente ele busca unir num gesto expressivo o temático e o formal. Nas obras de suas lembranças de Brodósqui e reminiscências da infância o artista evidencia tons marrons mesclados de vermelho, desta forma, destacando a terra percorrida pelos seus paços no passado. Nessa série, certas cores, principalmente o marrom – a terra roxa de Brodósqui – têm o seu quê de simbólico, bem como os céus turvos desse período. É uma espécie de libertação do passado, uma transcrição para o quadro das suas reminiscências infantis, a vida de sua meninice em Brodósqui. Aliás, isso coincidiu com o chamado primitivismo da poesia moderna brasileira de então, caracterizada pela volta ao sentimentalismo provinciano dos poetas românticos, choramingas do século passado ou pela insistência sobre temas populares ingênuos, por reação antiintelectual e antimoral. (PEDROSA, 1981, p.10).

Gangorra e Amarelinha, 1937 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

Roda Infantil, 1932 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

Nestas obras, o artista revive cenas do cotidiano de Brodowski. Nelas recorda as suas raízes, as tradições, as brincadeiras e os momentos que deram vida à sua infância. Nos anos finais de vida Candido começou a escrever versos relacionados às lembranças de sua terra, infância e juventude. Em vários poemas, é possível notar a relação dos versos escritos com as imagens pintadas nas telas do artista, expressando e traduzindo em palavras os seus sentimentos anteriormente pintados.

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Crianças Brincando, 1940 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

(Fonte: PORTINARI. Poemas. Projeto Portinari, 1999, p. 29.)

Suas alusões a brinquedos marcam a trajetória de um artista pleno de recordações da mente criativa quando criança. Portinari dizia que o artista era diferente, e que “o artista presta atenção a coisas que fazem os outros rirem. Ele é o homem que mais guarda da criança” (CALLADO, 2003, p.53). 42


Sendo assim, para Portinari a infância é presente no homem adulto e modifica a forma como este vê o mundo. Callado (2003), fala da relação do artista com a infância, de suas saudades e lembranças da vida em Brodowski:

Não que pudesse ter sido particularmente feliz sua infância de menino pobre, não se tratava disso. Era a infância como estado, quase diria como substância que fascinava apaixonadamente Portinari. Creio que não o vi uma única vez em que não houvesse alguma menção de Brodowski armando arapucas. E seu mais belo texto de prosa foi uma carta que, jovem ainda, o bolsista em Paris escreveu para um amigo evocando um tipo popular de Brodowski, O Palaninho: ...Só tem um dente. Usa umas calças brancas feitas de saco de farinha de trigo cheias de remendos escuros de pano listrado; ainda se nota o carimbo da marca da farinha [...]. [...] A paisagem onde a gente brincou a primeira vez e a gente com quem a gente conversou a primeira vez não sai mais da gente e quando eu voltar vou ver se consigo fazer a minha terra. Eu uso sapatos de verniz, calça larga e colarinho baixo e discuto Wilde, mas no fundo eu ando vestido como o Palaninho e não compreendo Wilde. Tenho medo da polícia, ando com os papéis sempre em dia e tenho medo de gente que tem emprego vitalício. Tenho saudades de Brodowski – pequenininha, duzentas casas brancas de um andar, no alto de um morro espiando para todos os lugares....com a igreja sem estilo, com uma torre no centro e duas pequenas dos lados, com o altar que eu fiz... (CALLADO, 2003, p.188, grifo do autor).

Meninos soltando pipas, 1938 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

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(Fonte: PORTINARI. Poemas. Projeto Portinari, 1999, p.69.)

Portinari, demonstra, de certa forma, arrependimento por ter deixado de soltar papagaios, destacando a simplicidade e maravilhas do modo de ver o mundo quando era criança. Quando retomamos a memória, as percepções e sentimentos com a sena passada podem mudar, de acordo com a relação que temos com o presente em que vivemos, desta forma, o passado pode ser uma experiência melhor ou pior com a que estamos vivendo no momento. Para Ricouer (2007) “O ato de se lembrar produz-se quando transcorreu um tempo. E é esse intervalo de tempo, entre a impressão original e seu retorno, que a recordação percorre.” (p.37). O artista contemporâneo Francis Alÿs, faz o registro peculiar de jogos infantis das cidades do México, porém as brincadeiras vividas no México são as mesmas que permeiam diversos locais do mundo e até mesmo que sobreviveram os anos de Pieter Brueghel e Candido Portinari. Francis Alÿs nasceu em 1959 na Antuérpia, Bélgica, e atualmente reside na Cidade do México, capital federal dos Estados Unidos do México. Na série “Jogos das crianças” (nome original: “Children´s Game”), de Francis Alÿs, o artista observa e registra, através de vídeos, jogos de crianças da Cidade do México. Referente ao jogo “Pedra, papel ou tesoura”, Francis (blog pessoal, 2013) escreve:

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Neste filme, não vemos as próprias mãos, mas suas sombras em um fundo esbranquiçado. Os dois adversários jogam com essa tremenda habilidade que só as crianças podem reunir em que parece impossível movimento rápido; O punho cerrado de "rocha", os dois dedos abertos de "tesoura", e a mão plana de "papel". "Arte conceitual", você diz, o tipo que você poderia assistir por horas, as mãos como sinédoque não do corpo, mas dos dois corpos em um frenesi controlado de elegante interação e dissolução. (Disponível em: http://francisalys.com/. Acessado em: 15/09/2016.)

Jogo das crianças 14 / Pedra, papel ou tesoura (Cidade do México 2013). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 12 / Cadeiras (Oaxaca, México 2012). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

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Jogo das crianças 8 / Bolinha de Gude (Amman , Jordânia de 2010). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 4 / Elástico (Paris , França de 2008). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

São vários os artistas que trazem, em suas obras, a fascinação pelo tema da infância, que exerce no artista ou no homem a retomada da memória, na qual pode-se resgatar elementos sentimentais e emocionais resultantes de uma potência poética. O ser da infância, que encontra-se no domínio do passado, é impregnado de imaginação. Bachelard afirma que:

A memória é um campo de ruínas psicológicas, um amontoado de recordações. Toda a nossa infância está por ser reimaginada. Ao reimaginá-la, temos a possibilidade de reencontrá-la na própria vida dos nossos devaneios de criança solitária. (BACHELARD, 1988, p.94)

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2.3. Memória: Objetos-lembranças

A imaginação é a memória que enlouqueceu. Mário Quintana

Os Objetos-lembranças, dizem respeito aos objetos que possuem status maiores em nossas lembranças, pois, os mesmos remetem a fatos, circunstâncias e sentimentos marcantes do tempo passado perpetuados na memória. Esses objetos realçam experiências muito ricas em relação ao estado sensível da memória. Desta forma, podese dizer que as experiências podem construir memórias. Iberê Camargo é um dos grandes nomes da arte brasileira do século 20. Autor de uma obra extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e gravuras, Iberê Camargo nasceu em Restinga Seca, interior do Rio Grande do Sul, Brasil, em 1914. Um dos temas mais recorrentes em sua pintura foram os Carretéis. Foi este objeto utilizado como brinquedo de sua infância que o levaram, mais tarde, à abstração, e que estiveram presentes em sua obra até a fase final. Segundo Jacques Leenhardt (2015, pg. 52): Aquilo que chamamos, de forma precipitada, de virada abstrata de usa obra no momento em que ele passa a pintar unicamente carretéis, na verdade encobre a vontade do pintor de tirar dele mesmo, com toda a dor que comporta a renúncia ao mundo exterior, os elementos significativos de seu trabalho. Como sabemos, a memória e a infância tomarão um espaço preponderante.

Iberê Camargo fotografado por Carlos Kerr no ateliê da rua das Palmeiras, 1961. (Fonte: Catálogo Iberê Camargo: O Carretel "Meu Personagem", 2014)

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Em 1957, ao escrever uma carta para seu velho amigo Mario Carneiro, Iberê fala sobre a construção do artista como ser carregado de bagagem desde o princípio de sua vida: "Você sabe, amigo, que uma obra de arte se desenvolve lentamente no seio do artista, talvez desde o começo de sua vida, talvez ocultamente, amadurecendo, se estruturando, até aparecer como aparecem as coisas que brotam do ventre da terra." (ASBURY, 2014). Iberê Camargo, levou por quase 30 anos o objeto "Carretel" introduzido em suas pinturas e gravuras. Este objeto deriva de um resgate da própria infância. Nessa série de trabalhos o artista se libertou do cavalete e de sair para a rua a procura de belas paisagens, pois estava impossibilitado desta atividade em função de uma hérnia de disco. Desta forma, passou a experimentar suas naturezas-mortas, com garrafas e outros objetos geometricamente organizados sobre mesas.

Garrafas (homenagem a Santa Rosa), 1957. Iberê Camargo (FONTE: Catálogo Iberê Camargo: O Carretel "Meu Personagem", 2014)

Sucessivamente as naturezas-mortas tradicionais foram se extinguindo dos trabalhos de Iberê, assim, contaminados pelo objeto da lembrança de infância, tensionando o equilíbrio formal desses arranjos. Depois, eles se multiplicaram, equilibrando-se sozinhos sobre a mesa. A seguir, passaram a se movimentar no espaço e, por fim, retomaram certa ordem. Iberê explica esta transição dizendo:

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Mas acontece que eu, em certo momento da minha vida, da minha obra, tomei como modelo o carretel, que é uma forma por si geométrica. Eu colocava o carretel sobre uma mesa assim como faz um pintor de naturezas-mortas, que colocava antes umas laranjinhas, frutinhas, uns bules, umas coisas, objetos, tudo aquilo que tinha no ateliê. Em dado momento eu incorporei esse carretel e depois apenas o carretel passou a ser modelo. Aí então tinha a mesa. Depois a mesa desapareceu e o último resquício da mesa era apenas a linha horizontal. E finalmente desapareceram os carretéis. Perderam a intensidade, o peso, um certo realismo e levitaram. (CAMARGO, in: COCCHIARALE, 2014, p. 181182.)

Carretéis, 1958. Iberê Camargo (FONTE: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio, 2014) Mesa azul com carretéis, 1959 Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio, 2014)

Seguido pelo abandono da perspectiva, os carretéis são colocados próximos ao expectador, da superfície da tela, a mesa torna-se apenas uma linha, um rumo, um horizonte.

É nessa transformações, estética dos carretéis, que Iberê toma ruma à

abstração da forma, para uma passagem informal do objeto-lembrança. Ao longo de sua carreira, Iberê explorou diferentes suportes e técnicas pesquisando representações pictóricas a partir da forma do carretel.

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Serigrafia, Carretéis 4, 1959. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Gravura Carretéis 1, 1959 Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

No período entre os anos 60 e 70, Camargo se dedica a uma pesquisa formal que o leva a sintetizar a figura e a explorar a matéria da pintura. Essa característica também aparece nas gravuras realizadas nessa época, que trazem objetos esquemáticos organizados em estruturas. A imagem do carretel é trabalhada ao longo de muitos anos da vida do artista, originado de um pequeno objeto utilizado para enrolar a linha, que se transforma em brinquedo, fonte íntima da memória para inspiração, mas que por fim deixa de ser um 50


brinquedo da infância para tornar-se o elemento chave com o qual o artista explora a abstração. Inicialmente reconhecíveis, os carretéis dispostos sobre a mesa ou equilibrados sobre uma linha de base, cedem espaço à planaridade.

Gravura Carretéis em Tensão, 1960. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.

Gravura Dinâmica de Carretéis, 1960 Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

A pintura de Iberê torna-se fortemente gestual, na qual a forma do objeto perde importância, dando espaço para a materialidade, “Assim, abre-se um capítulo novo na pintura de Iberê que se libera pouco a pouco dos limites dos objetos para dar maior importância ao impulso do próprio gesto de pintar.” (LEENHARDT, 2010, p.32). Expressa de forma frenética, extremamente pastosa e informal, enfim, Iberê chega à síntese de sua forma, na qual a figura característica do carretel é quase irreconhecível. 51


Fiada de Carretéis 4, 1961. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Carretel branco, 1967. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014))

A memória está presente em cada um de nós, desde o início da vida, e nos acompanha formando e fortalecendo nosso modo de ser, agir e pensar, construindo-nos quanto pessoa. Iberê, considerado solitário, pessimista, sobrecarregado pela dor da vida, melancólico e deprimido, expressa sua condição existencial através da arte, na qual abstrai da memória o seu modo de representar o seu ser, agir e pensar.

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Sem título, 1975. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014))

Carretel azul, 1981. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014))

Assim como Iberê Camargo se apropriou de um objeto significativo de sua infância, para dar-lhe poética na arte, Paulo Renato Gaiad ressignifica, a todo momento, materiais que pressupõem tempo, passado, presente e futuro, na retomada da memória. Paulo Renato Gaiad nasceu em 1953, na cidade de Piracicaba, São Paulo, porém vive atualmente em Florianópolis. Suas obras transitam entre a pintura, o desenho, a fotografia, a instalação e a literatura. Suas séries trabalham a memória, o tempo, a perda, a dor. Mas também falam da repetição, do movimento, espelhamento, imagens cambiantes. 53


Segundo Luciane Garcez, crítica de arte, Gaiad trabalha com os dois contrapontos da memória, um que quer a todo momento fazer-se presente e, o outro, que quer ser esquecido: “Seu jogo é o da memória que quer ser revelada e esquecida ao mesmo tempo, são as lembranças que Gaiad carrega consigo e traduz em imagens” (revista on-line, 2004). Os trabalhos de Paulo se interligam uns aos outros, formando um conjunto, pelas questões propostas, pelas técnicas, porém sem limites e regras que possam barrar até mesmo intervenções do meio. No caso da série: “Páginas ao Vento – Escritos da dor” (1997), que se transforma através da ferrugem que consome aos poucos a matéria.

Páginas ao Vento – Escritos da dor, 1997 Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234, Acessado em: 02/05/2016.)

Nesta série, o artista desconstrói seus diários, escritos particulares que contém suas memórias, cola-as em lâminas de metal, interfere nestas páginas com aquarela, cria imagens, rabiscos, escritos. No momento em que a aquarela e a cola entram em contato 54


com o metal imediatamente a ferrugem começa a agir, fragilizando o trabalho e impedindo que as palavras continuem legíveis. As lâminas são perfuradas e um arame em forma de espiral monta o caderno. Um total aproximado de duzentas páginas ao todo, montadas em diversos cadernos em três tamanhos. As páginas contêm a memória, mas esta não pode ser decifrada, somente percebida. Garcez (2004) diz que “Gaiad dá a ferramenta, mas não ensina a usá-la.”. Apesar da solidez, aparente da obra, ela é efêmera, um trabalho denso, emocional, tratando da perda da matéria, na qual a ferrugem vai acabar por consumir o trabalho, é preciso aproveitar enquanto ele está ali. “É lembrança e apagamento, preenchimento e vazio.” (GARCEZ, 2004). Na série “Cicatrizes” (1998), Gaiad corta e dobra folhas de papel, aproximadamente três mil e quinhentas folhas, monta pequenos blocos, encharca-os com água, os envolve com arame. Este quando em contato com o papel molhado enferruja e pinta o papel. Estes blocos são postos para secar, quando a secagem se completa o papel endurece, quase que empedrado, com as marcas do arame, utilizado para amarrar, e da ferrugem, estes blocos são envolvidos por uma capa de metal, um chumbo mole que se molda em contato com o papel, formando pequenos cadernos que não podem ser lidos, nem folheados, que trabalham com paradoxos. Segundo Deleuze:

a força dos paradoxos reside em que eles não são contraditórios, mas nos fazem assistir à gênese da contradição. O princípio de contradição se aplica ao real e ao possível, mas não ao impossível do qual deriva, isto é, aos paradoxos ou antes ao que representam os paradoxos (2007, p.77).

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Cicatrizes, 1988. Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234, Acessado em: 02/05/2016.)

Neste caso, há uma diferenciação de percepção da matéria, pois o papel é o elemento duro e o metal é maleável. As cicatrizes são deixadas pelos vestígios do arrame que amarou o papel, a cicatriz está exposta na medida em que os arrames são retirados. Garcez (2004) comenta que não existe uma cura para estas cicatrizes, apenas superação e seguir em frente, considera este trabalho ressignificações da memória. Cicatrizes ecoa memória, memórias de dor e a transição para a superação do corte, a ação do acaso produzindo seu fechamento, no caso do ser humano, a restituição da pele e da vida. Um espaço de sutilezas, fazendo-nos pensar sobre os sentidos que movem a vida humana, repletos de cicatrizes que não sangram, mas afetam. Gaiad possui uma produção vasta e complexa, a série “Impressões de Viagem”, é composta por obras a partir das memórias de viagens que realizou sozinho em cidades alemãs. As obras são acompanhadas por textos sobre a relação do artista com as cidades, uma síntese significativa da essência de tudo que ele percebe e capta. Na memória sobre Dresden, Gaiad escreve:

Fui enfeitiçado por esse lugar onde vivi intensamente e me transformei profundamente, sem possibilidade de volta. Algumas coisas se quebraram dentro de mim, outras se juntaram, ainda não sei o quê resultou, sei que aqui eu mudei. (GAIAD, dossiê on-line, 1999.)

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Paisagem a caminho de Dresden, 1995. Paulo Gaiad (Fonte: http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/. Acessado em: 28/05/16.)

A paisagem nas obras de Paulo Gaiad, não tratam de um registro geográfico, transmitem um olhar questionador, de responsabilidade sobre o mundo que vê, sobre a relação com estes lugares que nos cercam e nos afetam. “A evocação da memória pessoal, em Gaiad, passa a ser a bandeira de resistência, demarcação de individualidade, impressões digitais que se contrapõem teimosamente em um mundo que tende a gradualmente anular noções de privacidade.” (MAKOWIECKY, 2012, p. 318).

Heidelberg, 1994 Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234, Acessado em: 02/05/2016.)

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Novamente relacionando memória e autobiografia, na obra “Receptáculo da Memória” (2002), Paulo Gaiad usa da memória de outros para construir o seu trabalho, compondo uma obra compartilhada. O artista pede a algumas pessoas, por e-mail, que lhe enviem objetos de significado especial na vida de cada um, que contenham valor sentimental, um fragmento de sua história, uma recordação. O artista pega esses objetos e os reinterpreta, agregando a eles outros objetos e materiais diversos. Miriam Chnaiderman cita Paulo Gaiad, que explica a concepção de memória que permeia sua obra:

No decorrer dos anos, através da visão, do tato ou da audição, recebemos estímulos que vão compor a essência da nossa vida. Os mais importantes ou os mais peculiares ficarão gravados de forma mais clara em nossa memória. Desses, alguns outros estarão relacionados a objetos, que ao entrarmos em contato com os mesmos, seremos arremetidos a um ponto exato. A estes eu chamo de receptáculos da memória. (GAIAD apud CHNAIDERMAN, 2004, p.24)

Gaiad construiu caixas de metal com um vidro por cima protegendo o interior, onde coloca as lembranças, como se estivessem expostos em vitrines, mas não são para serem exibidos, são caixas mais como cofres, caixas de joias, que protegem e guardam. O metal simbolizando a força que retém o momento, o tempo que escapa a memória. Objetos especiais e caros aos seus donos: a colher infantil que servia para dosar os remédios, o chapéu do pai recém-falecido, bolinhas de gude do menino tornado homem, o livro de histórias que evoca lembranças da infância que há muito já se foi, o travesseiro que usava quando era ainda um bebê, macarrão e temperos que trazem de volta a lembrança da comida da mãe. Para a pesquisa da série “Receptáculo da Memória”, entrei em contato por email com o artista, pois haviam poucas imagens das obras disponíveis na internet, porém ao me responder o e-mail, o artista enviou várias imagens sem anexar o respectivo nome e ano, desta forma alguns dos receptáculos não contém tais informações, mas achei relevante apresenta-las aos alunos para inspirar a proposta sequente. “Receptáculo da memória de Bianka Tomie”, criado a partir de uma colher enviada por Bianka Tomie. A colher era usada pela colaboradora de Gaiad quando criança, para tomar remédios, este é um símbolo de sua infância.

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Receptáculo da Memória de Bianka Tomie, 2002. Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234, Acessado em: 03/05/16.)

Muitos objetos pessoais foram enviados ao artista, todos únicos e insubstituíveis em seu valor simbólico. Gaiad expõe esses objetos a partir de sua percepção e os imortaliza em caixas lacradas.

Receptáculo da memória de Guto Lacaz, 2002. Paulo Gaiad. (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2178, Acessado em: 03/05/16.)

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Receptรกculo da Memรณria de Renato Tapado, 2002. Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234, Acessado em: 03/05/16.)

Imagens de Receptรกculos da Memรณria enviadas pelo artista por e-mail. Paulo Gaiad. (Fonte: E-mail enviado em 11/01/2016.)

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Nessa mesma série o artista, além de compartilhar memórias alheias, também doa o seu Receptáculo da Memória. Gaiad divide com o público parte de si. Em “Receptáculos da memória póstuma de meu pai”, Gaiad coloca em uma caixa de aço, carvão, cinzas e o barbeador que seu falecido pai usava. O artista cria a partir de um objeto pessoal, símbolo de seu pai, fragmentos de dor, morte e saudade.

A morte e meu pai – Retrato póstumo, 2002. Paulo Gaiad. (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2178, Acessado em: 03/05/16.)

Os objetos, materializam a memória, nas obras de Paulo Gaiad, no qual a essência da vida provém da memória. O conjunto da obra, torna-se uma história. A história do artista. Gaiad conta esta história a partir de diferentes séries, trabalhos que apesar de singulares relacionam-se entre si, para formar um grande todo. Os temas recorrentes nas séries se retomam, como as questões que tratam de memória, dor, morte, família, cidade, porém sempre abordadas de maneiras diferentes, por vezes mais explícitos, outras vezes sutil e simples. A questão biográfica é muito forte para Gaiad, na qual podemos perceber que mesmo nas obras em que se utiliza da memória de outros, ela se faz presente. O artista apropria-se do outro para imprimir algo particular, “De modo que sua própria subjetividade é perpassada pela subjetividade dos outros” (TAPADO, 2001).

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2.4. Trajetos

Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que triste os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! Mario Quintana

Francis Alÿs, um artista que já foi apresentado no início desta pesquisa, realiza caminhadas na Cidade do México, como forma de interação com o meio. Registra através de vídeos e fotografias. Alÿs é um artista que não se cansa de caminhar. Suas obras permeiam críticas em torno dos conceitos da arte, da sociedade e economia. Segundo Ferguson (2007), Alÿs tenta compreender, em suas obras, como a sociedade funciona como um todo, Alÿs se interessou em observar como as pessoas inventavam formas de existência que justificassem sua presença na vida da cidade. Uma das fascinações de Alÿs, são ações que às vezes enormemente prolongadas, não produzem resultados identificáveis. O paradoxo da “Praxis 1” (1997) é o registro de uma ação realizada sob a rubrica de "às vezes fazer algo levar a nada" (nome original: “sometimes making something leads to nothing.”), na qual, por mais de nove horas, Alÿs empurrou um bloco de gelo pelas ruas da Cidade do México até estar completamente derretido. Em um nível, isto era, como Alÿs (2002, p.147) explicou, "um ajuste de contas com a escultura minimalista".

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Trechos do vídeo da obra: Às vezes Fazendo Algo não leva a nada, 1997. Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/sometimes-making-something-leads-to-nothing. Acessado em 11/05/16.)

Alÿs apresenta a necessidade de trabalhar o seu caminho através do poderoso legado do movimento de arte dominante da geração anterior. E assim por horas e horas ele lutou com o bloco retangular minimamente mínimo até que finalmente foi reduzido a um cubo de gelo adequado para um uísque, tão pequeno que ele poderia casualmente chutar ao longo da rua. Suas horas de trabalho foram reduzidas em um vídeo de apenas cinco minutos de duração. Pode-se analisar esta obra, como um exemplo dos rituais da vida cotidiana em uma reflexão sobre a luta contra as pressões da produtividade, na qual, muitas vezes corremos contra o tempo para alcançar os objetivos impostos pela sociedade, porém se retomarmos nossa memória, não levamos nada dessa experiência banal de satisfazer os outros. As ações do ato caminhar, do artista, se tornam uma metodologia, às vezes resultam em algo tangível e às vezes não, porém, independentemente do resultado, os gestos do artista repercutem em críticas de ordem social, política, econômica ou mesmo estética. Todas as obras, impregnadas de sentido poético que elaboram uma perspectiva de retrospectiva das marcas deixadas pela ação, sendo elas temporais, atemporais, efêmeras ou físicas. Em 2002, Alÿs desenvolveu a obra “A fé move montanhas” (nome original: “Faith Moves Mountains”), nos arredores de Lima, Peru. 500 voluntários, munidos com pás, deslocam alguns centímetros uma duna enorme de areia. Novamente, o esforço é enorme, e não resulta em uma mudança significativa na paisagem, mas a o gesto vive por meio de alegoria sobre a possibilidade de mudança, por mínima que ela seja.

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Trechos da obra: Faith Moves Mountains, 2002. Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/when-faith-moves-mountains/. Acessado em: 16/10/2016.)

A obra “The Leak” (2003) se trata do registro de Francis vagando por Paris com uma lata aberta de tinta. Seu caminho começa no Museu de Arte Moderna de Ville de Paris, e termina onde começou, pendurando a lata de tinta na parede da galeria. Aqui o artista transforma "nada” em algo.

Trechos da obra The Leak (2003) Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/?s=The+Leak+. Acessado em: 14/10/2016.)

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O vazamento de tinta transforma o ato de caminhar em algo concreto, mas o vazio de tinta, como outro vestígio da ação se torna uma obra de arte para exibição. Francis Alÿs repete, ao longo de inúmeras obras, o ato de caminhar. Sempre em um contexto, perspectiva e poética diferente, porém sempre com o intuito de mudança, no meio físico e até psicológica dos envolvidos na ação e nos espectadores. O lugar nunca é mais o mesmo após a passagem de Alÿs por ele, algumas vezes mudanças mais bruscas e definidas, outras vezes, mudanças interiores e quase que imperceptíveis, porém sempre banais, banais de pensamento e coragem no ato de fazer o que muitos pensam, porém não possuem tal audácia e coragem. Segundo Laurentiis (2014), Francis Alÿs chama a atenção pela forma que “encontra de criar signos a partir de sua experiência, possibilitando reflexões críticas sobre aspectos das cidades contemporâneas, que parecem se tornar cada vez mais controladas.” Francis Alÿs se torna um reflexo das realidades políticas, ressaltando as memórias das cidades e locais pelo qual caminha, na intenção de provocar olhares críticos e receptíveis à mudança. A artista Lygia Clark, também propõem um diálogo entre espectador e obra, na qual a artista abrange à dimensão da experiência. Da mesma forma que Alÿs, Clark também retoma o olhar do meio físico, ao passado em relação ao presente. Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte em 1920 e faleceu no Rio de Janeiro em 1988. A artista trabalhou com instalações e body art. A obra “Caminhando” (1963) foi o marco de suas obras, pois sua investigação passa a se concentrar no espectador, migrando do ato, ao gesto, ao corpo, às relações, para dirigir-se a subjetividade.

Caminhando, 1963. Lygia Clark. (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

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A obra “Caminhado” (1963), consiste em oferecer um objeto, a fita de Moebius, acompanhado de uma tesoura. Lygia transfere para o espectador o ato de cortar o papel. A obra consiste simplesmente em oferecer ao espectador esses dois objetos, com a instrução de escolher um ponto qualquer da tira para iniciar o corte, evitando incidir sobre o mesmo ponto a cada vez que se completa uma volta na superfície. A tira vai se afinando e encompridando, até que a tesoura não pode mais evitar o ponto inicial. Nesse momento, a tira separa-se em duas, readquire avesso e direito e a obra se encerra. A participação do espectador, na obra “Caminhando”, não se limita à recepção, mas alcança a realização. O ato de criar se transforma em obra, trabalho em processo, como, no caso, a vida. Segundo Lygia (1983, p.151), “O Caminhando tem todas as possibilidades ligadas à ação em si: ele permite a escolha, o imprevisível, a transformação de uma virtualidade em um empreendimento concreto”.

Caminhando, 1964. Lygia Clarck (Fonte: Catálogo da exposição “Liberdade em movimento”. Fundação Iberê Camargo, 2014.)

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Podemos verificar uma analogia entre a fita de Moebius e nossas vidas, onde vamos caminhando sempre em frente, tudo o que experimentamos é único e não se repete, não se pode voltar atrás. As marcas das nossas atitudes, as consequências das nossas escolhas ficam registradas ali para sempre, transformam o papel de um jeito que ele jamais será o mesmo novamente. A fita de Moebius passa a ser a prova física da memória. O sentido do objeto passa a depender inteiramente de experimentação. A proposta da artista só se dá a partir do contato experimental do espectador, caso contrário não faz sentido. Como escreve Lygia (1963-4):

Não é mais o problema de sentir a poética através de uma forma. A estrutura aí só existe como um suporte para o gesto expressivo, corte, e depois de concluído não tem nada a ver com a obra de arte tradicional. É o estado da ‘arte sem arte’ pois o importante é o fazer que nada tem a ver com o artista, e tudo a ver com o espectador. O artista aí dando esse tipo de idéia dá na realidade esse ‘vazio-pleno’ em que todas as potencialidades da opção que vem através do ato tem lugar. [...] O ato traz ao homem contemporâneo a consciência de que a poética não está fora dele, mas sim no seu interior e que ele sempre a projetou através do objeto chamado arte.

A experiência proposta por Lygia Clark, passa a prender o espectador ao objeto de arte, que já não é redutível à sua visibilidade, nem passível de existir isolado de quem o realiza. Essa mesma relação de espectador e objeto de arte se faz presente na obra “December” (2007), de Mario Garcia Torres. O artista Mario Garcia Torres, nascido no ano de 1978, na cidade de Monclova, México, procura através do seu trabalho, desvendar as narrativas da história da arte e da cultura. Cada projeto desenvolvido, assume uma natureza peculiar, onde o meio de apresentação e desenvolvimento – filmes, instalações ou projeções – exploram as diferentes estruturas da arte, possibilitando narrativas e interpretações muito pessoais, partilhando a própria experiência com o público. Por vezes melancólico, mas ainda assim como uma brincadeira procura boatos, histórias secretas ou banais como ponto de partida para o desenvolvimento de suas obras. Mario Garcia Torres eterniza o período de um mês em sua obra “December” (2007), composta por um único slide, completamente branco, que o artista carregou em seu bolso todos os dias ao longo de um mês. Naturalmente, durante este tempo, o slide acabou por riscar-se, estes riscos são os rastros do movimento do artista que contam uma trajetória de um período determinado pelo artista. Tudo o que se mantém são rastos 67


involuntários.

December 2007 (2007) Mario Garcia Torres (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

Reproduzida através de um projetor em uma parede lisa, a rasura se torna, ela própria o único testemunho de um momento vivido e ali perpetuado, uma forma de registro produzido por sinais de um corpo disperso, traduzido nas palavras de Ficacci “um trilho de presença humana e traços de memória e acontecimentos passados, como um caracol deixa a sua marca” (BACON apud FICACCI, 2010, p. 56).

2.5. Eternização de Momentos

Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida. Carlos Drummond de Andrade

Vivemos o dia de hoje preocupados em como poderemos viver amanhã e lembrarmo-nos do que vivemos hoje. O ser humano vive nesta constante luta de poder perpetuar os sentimentos mais íntimos e especiais. As câmeras e diversas tecnologias já nos presenteiam com o universo tangível das imagens, porém os cheiros, sentimentos, toques e percepções ainda são inalcançáveis para muitos.

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A artista Brígida Baltar, busca, em suas obras, o registro e impressões de sentidos pessoais que enaltecem os desejos de ressentir, reviver e reexperiênciar. Brígida Baltar nasceu em 1959 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Desenvolve em sua obra uma investigação sobre o tempo e dimensões do efêmero por meio de pequenos gestos poéticos. A artista começou a desenvolver sua obra na década de 1990 na sua casa-ateliê em Botafogo, um bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Durante um período de quase dez anos, a artista abordou a temática da memória e do espaço íntimo a partir de elementos retirados da própria casa, colecionando materiais da vida doméstica, como poeira dos tijolos de barro das paredes ou a água de goteiras escorrendo de pequenas rachaduras no telhado. Em “Abrigo” (1996), a artista esculpiu sua própria silhueta em uma parede de sua residência, de forma a acolher seu corpo e, ao entrar nesse casulo, Brígida torna-se parte da casa na qual habitava. O resultado é uma série de fotografias que questiona temas como acolhimento, proteção e os limites entre o físico e o emocional. Desde então, Baltar tem construído diversos trabalhos entre desenhos, instalações e esculturas.

Abrigo, 1996 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado e 16/03/16)

Em 2005, antes de se mudar de casa, Baltar juntou e levou consigo grandes quantidades de poeira fina coletada a partir de escavações das paredes e de tijolos raspados. A poeira, esse material impregnado da paciência do ato de ir transformando tijolo em pó, foi usado em trabalhos posteriores, resultando em desenhos que revelam a delicadeza daquilo que é mais profundo, como uma das superfícies que constitui a espessura da realidade. Desta forma, a artista deu origem a pinturas com pó na 69


superfície de paredes, representando florestas, montanhas e relevos irregulares, pelo fato de terem sido feitos com a poeira da casa na qual morava, é a afirmação do conceito de morada, e não descrições precisa de uma paisagem. Baltar, sugere um espaço íntimo entre matéria natural e memória afetiva, partindo da ideia de que o pó dos tijolos traz a lembrança do local onde a artista viveu durante um período de sua vida, relacionando a natureza e a paisagem do espaço em que habitou, desta forma, em cada criação a casa se expande, se tornando, aos poucos, parte desse ambiente externo. Marcio Doctors (2012) interpreta que Brígida faz revelar na superfície da realidade, camadas da profundidade, criando uma comunicação subterrânea do seu imaginário.

Canto brocado (detalhe), 2007 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado e 16/03/16)

A casa tem a potencialidade de integralizar pensamentos, sentimentos, sonhos e lembranças. Segundo este raciocínio o filósofo Bachelard (1993, p.22) apresenta a “casa como nosso canto do mundo” e ainda acrescenta que “as lembranças do mundo exterior nunca terão a mesma tonalidade das lembranças da casa.” (p.23). Em várias obras, Brígida conecta a casa à relação de proteção, abrigo e segurança. No vídeo: Brígida Baltar, 2008 - Enciclopédia Itaú Cultural, a artista dá o depoimento do processo de construção da obra Casa de Abelha, apresentada na 25ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2002.

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Trechos do vídeo: Brígida Baltar, 2008 - Enciclopédia Itaú Cultural (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/. Acessado em 04/04/16)

Brígida Baltar, em depoimento para Marcio Doctors (2010), relata a casa como sendo o centro gerador de afetividade:

Na casa que eu morava em Botafogo, havia madeira por toda parte. E as construções eram meio tortas. Não era um lugar muito luminoso. Às vezes parecia uma caverna. E eu adorava isso. Era como viver dentro das árvores. Eu logo fiz a relação com a colmeia e com os lugares que as abelhas escolhem para viver. (DOCTORS, 2010)

A obra é composta por fotos tiradas dentro da casa e na natureza, na qual a artista veste um vestido bordado em ponto “casa-de-abelha”. O vídeo mostra uma grande quantidade de mel escorrendo nos degraus da escadaria de madeira de sua casa e os desenhos representam personagens na figura feminina com uma roupa de favos. Luisa Duarte (2003), comentou sobre abelhas como uma das espécies responsáveis por adoçar o mundo, e disse ser o mel, o afeto. Relacionou também a casa como um centro produtor de afetividades.

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Casa de Abelha, 2002 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado em: 16/03/16.)

Após as ações domésticas, a artista expande para o espaço da rua, abrangendo a tarefa de captar o intangível, originando assim, obras tais como: Colettas, Orvalho e Água do mar evaporada. A artista realizou ready mades, onde coletou elementos naturais, transitórios e efêmeros como neblina, orvalho, maresia e depositou dentro de pequenos receptáculos, registrados através de fotos e vídeos.

A coleta da neblina, 2002 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado e 16/03/16)

A coleta da Maresia, 2001 Brígida Baltar (Fonte: http://lounge. obviousmag.org. Acessado em:16/03/16)

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A Coleta do Orvalho, 2001 Brígida Baltar (Fonte: http://www.revistab.com.br. Acessado em: 16/03/16)

Marcio Doctor (2010), ao entrevistar Baltar, coloca seu questionamento em torno dos momentos que se repetem, que podem ser iguais entre si, mas vividos de formas diferentes: “As possibilidades são múltiplas, e é impossível dar conta de todas as variáveis, mas todas estão sendo vivenciadas por alguém de uma forma específica” (DOCTOR, 2010, p3). Doctor destaca que é na arte, na ciência e na filosofia que podemos tornar o tempo singular, congelando momentos, na ânsia de dar conta de uma totalidade da presença, que é a tentativa de atravessar o tempo paralisando-o e tornando o mesmo eterno dentro de outros tempos. Desta forma, Baltar transforma o comum em raro, valorizando pequenos instantes na busca de eternizá-los, ainda que pareçam banais. A questão se trata em parar e sentir o arranjo do momento dando-lhe significado. A artista vem interrogar e atribuir novos valores a esse ato e aos signos, ao se apropriar e interrogar a arte contemporânea propondo o estranhamento ou o questionamento da linguagem da qual se utiliza. Ao perseguir a neblina, por exemplo, ela brinca com as fronteiras entre a materialidade e a imaterialidade. Para o crítico Moacir dos Anjos (2003), nessas coletas a artista explora a memória e a afetividade existente no momento da coleta, registrando rastros sensoriais precisos de temperatura, sons e cheiros de um lugar, assim como, impressões de estado de sentimentos de prazer, medo ou melancolia, os quais são impossíveis de compartilhar fielmente com mais alguém que não tenha vivenciado. Sendo assim, a forma de exibir este momento aos que não conheceram vividamente, é apenas como imagem, assemelhando-se a estes espectadores, como ações descarnadas e retiradas de um tempo espaço já não mais inatingível, como num adentrar de um sonho. Das matérias coletadas 73


surge uma poética peculiar, feminina, oscilante, traduzida nas palavras de Moacir dos Anjos:

As coletas de umidade se inscrevem, ademais, em temporalidades poéticas distintas. A coleta da neblina – feita em meio à névoa cerrada – parece ocorrer num tempo suspenso e imóvel. A coleta do orvalho, por sua vez, sugere – pelas roupas que veste a artista e pelos estranhos objetos coletores que usa – ter sido realizada num instante por vir ainda. A coleta da maresia, por fim, evoca sutilmente o passado: não somente as roupas das coletoras lembram trajes de banho que estiveram em voga faz várias décadas, mas também a tênue luz azulada de fotografias e filme – reflexos do oceano e do céu aberto que o encobre – funciona quase como um filtro nostálgico. (ANJOS. 2003.)

A pesquisa para a elaboração do projeto de ensino em artes visuais, baseou-se nas concepções do filósofo Gaston Bachelard, uma vez que trata da memória dentro da singularidade da condição de sonhar, de imaginar, e de ter devaneios em solidão, de alçar voos. Sintetizando as imagens da memória como devaneios que ao “reexaminar com um olhar novo as imagens fielmente amadas, tão solidamente fixadas na minha memória que já não sei se estou a recordar ou imaginar quando as reencontro em meus devaneios.” (BACHELARD, 2009, p. 2). Desta forma, deixe-se levar pela poética do devaneio, resgatando sua infância, seus objetos, caminhos percorridos para estar aqui e o que você está fazendo com o que não volta mais.

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CAPร TULO 3 Projeto de pesquisa e Prรกtica de Ensino em Artes Visuais

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3.1. Dados Gerais da Escola e Turma

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco Cidade: Lajeado/RS Turma: 1N1/1º ano do Ensino Médio

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco (Fonte: GRÄF, 2016)

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3.2. Dados gerais do Projeto de Ensino 3.2.1. Título do Projeto Eternizo-me, caso me falte a memória

3.2.2. Tema do Projeto O Tema de Pesquisa dentro da Arte Contemporânea, diz respeito a aproximação entre imagem e experiência que vão de encontro a memória, na intenção de, através dos suportes da arte, eternizá-las. Considerando-se que o passado é uma parte constante do nosso presente, por meio da disponibilidade da memória sensorial, desta forma pode-se dizer que o presente é continuamente permeado pelo passado no nosso dia-a-dia, visto que, a todo momento a nossa imaginação cria e recria imagens que fazem referência aos nossos arquivos da memória.

3.2.3. Justificativa Durante as aulas observadas, notei pouca leitura de imagem e reflexão das mesmas, assim como exploração das artes no meio contemporâneo.

Considerei

fundamental utilizar a prática de leitura de imagem como conteúdo escolar, dentro de uma perspectiva em que ler uma imagem perpassa o campo imagético, de forma a contribuir e aprimorar o pensamento reflexivo, mobilizando para novas concepções estéticas, de construção de conhecimento crítico sobre a realidade.

3.2.4. Objetivo Geral Desenvolver um olhar sensível e crítico para proposta de arte contemporânea, que explorem recursos expressivos da memória e suportes para a eternização de momentos, relacionando a poética das obras com o nosso cotidiano.

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3.3. Prática de Ensino em Artes Visuais Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 01 e 02 – Data: 25/04/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.1. Primeiro Encontro Tema da aula: Lembrança de Infância

Objetivos: - Conhecer algumas obras de Pieter Brueghel e de Candido Portinari, analisando e percebendo detalhes em relação ao tema que são comuns nas obras; - Perceber na série Carretéis do artista Iberê Camargo, como a arte pode retratar ou remeter a lembranças de infância; - Representar uma lembrança significativa da infância.

Conteúdos: - As obras dos artistas Pieter Brueghel e Candido Portinari; - Os Carretéis de Iberê Camargo; - Representação da lembrança de infância.

Lista de atividades: - Apresentação das obras de Pieter Brueghel e Candido Portinari; - Leitura de Imagem com ênfase no tema representado; - Reconhecimento das brincadeiras de infâncias apresentadas nas obras; - Apresentação da série dos Carretéis de Iberê Camargo; - Realizar a prática artística de desenhar um objeto que remeta a uma lembrança significativa de infâncias; - Apresentação do tema do projeto de estágio.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; - Leitura de imagem; 78


- Atividade prática.

Materiais: - Power Poit; - Folha de desenho tamanho A4; - Materiais de desenho: lápis de escrever e lápis de cor.

Avaliação: Será considerado o interesse e participação dos alunos nas atividades de leitura de imagem e na prática artística.

Planejado: Vou entrar na sala, cumprimentar os alunos, me apresentar, dizer meu nome, que estudo na Ulbra, que estou realizando a disciplina de estágio obrigatória para a formação em Artes Visuais e por isso preciso realizar sete aulas com a turma. Mostrarei através de apresentação de PowerPoint, a reprodução da obra “Jogos Infantis” (1560), de Pieter Brueghel e questionarei o que a obra está representando. Acredito que de imediato os alunos falarão a respeito das brincadeiras, desta forma, irei explicar a intenção do artista ao representar a vida e costumes dos camponeses.

Slide da obra apresentado no PowerPoint.

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Questionarei também se alguns destes jogos e brincadeiras, apresentados na obra, fizeram parte da infância dos alunos e quais seriam eles. Logo em seguida, apresentarei a obra “Jogo de futebol em Brodowski” (1933), “Gangorra e Amarelinha” (1937), “Roda Infantil” (1932), “Crianças Brincando” (1940) e “Meninos soltando pipas” (1938), de Candido Portinari fazendo relação com a temática de memória infantil apresentada na obra de Pieter Brueghel.

Slides das obras apresentadas no PowerPoint.

Para cada obra será questionado o que se pode ver e qual a temática representada. 80


A leitura de imagem será focada nas questões da infância, retomando a memória infantil, assim como Portinari revive em suas obras cenas do cotidiano de Brodowski, sua cidade de origem, recordando as suas raízes, as tradições, as brincadeiras e os momentos que deram vida à sua infância. Desta forma, solicitarei que os alunos analisem o que há em comum entre as obras de Portinari e irei propor a seguinte situação: “Imagine você retratando em uma pintura suas lembranças de infância. Como ela seria?”

Slide das obras apresentadas no PowerPoint.

Deixarei que os alunos relatem suas opiniões em torno dos questionamentos. Solicitarei a um aluno voluntário para ler o poema: “O Menino e o Povoado Não Tínhamos nenhum brinquedo”, de Portinari.

Slide do poema apresentado no PowerPoint.

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Questionarei a qual obra Portinari faz referência no poema. Solicitarei mais um aluno para ler o próximo verso de Portinari.

Slide do poema apresentado no PowerPoint.

Novamente questionarei a qual obra Portinari está se referindo no verso lido. Apresentarei a natureza-morta “Garrafas (homenagem a Santa Rosa)” (1957), de Iberê Camargo, explicando que nesta série de trabalhos o artista se libertou do cavalete e de sair para a rua a procura de belas paisagens, pois estava impossibilitado desta atividade em função de uma hérnia de disco. Desta forma, passou a experimentar suas naturezas-mortas, com garrafas e outros objetos geometricamente organizados sobre mesas.

Slide da obra apresentado no PowerPoint.

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Em seguida será mostrada a transição do artista com a obra: “Serigrafia– Carretéis 4” (1959). Ao inserir o objeto carretel, suas naturezas-mortas tradicionais foram se extinguindo dos trabalhos e, assim, contaminados pelo objeto da lembrança intimamente ligado as suas memórias de infância, tencionando o equilíbrio formal desses arranjos.

Slide da obra apresentado no PowerPoint.

Mostrarei um slide comparativo da natureza-morta tradicional em “Garrafas” (1957), e com a inserção do objeto carretel em “Carretéis” (1958):

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

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Solicitarei que atentem às obras e digam o que há em comum. Mostrarei outro slide comparativo entre as obras “Garrafas” (1957) e com a inserção do objeto carretel em “Carretéis” (1958), “Serigrafia–Carretéis 4” (1959) e “Mesa azul com carretéis” (1959). Quero que os alunos percebam a disposição característica dos elementos na natureza-morta.

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

Também mostrarei os diferentes suportes trabalhados por Iberê em suas Gravuras: “Gravura Carretéis 1” (1959), “Gravura Carretéis em Tensão” (1960) e “Gravura Dinâmica de Carretéis” (1960). Chamarei atenção para a disposição dos objetos e o início do desapego com a forma fiel do objeto indo ao encontro da abstração.

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

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Passando à fase mais abstrata do artista com a desconstrução da forma nas obras “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967), pedirei aos alunos o que podem ver nas obras. Após um momento de bate-papo revelarei que também se tratam de carretéis. Estes carretéis são puramente sentimento, a forma não mais retrata o sentido, agora é a textura das pinceladas, as cores, a direção.

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

Ao final de sua vida, Iberê retoma a forma dos objetos, mas não abandona o sentimento e expressão. Mostrarei as obras “Sem título” (1975) e “Carretel azul” (1981) para exemplificar esta transição.

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

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Para finalizar a apresentação de slides, farei a seguinte indagação: “Qual a sua melhor lembrança de infância?”

Slide apresentado no PowerPoint.

A partir deste questionamento, distribuirei folhas de desenho A4 para cada aluno, nesta folha terão que desenhar o objeto que traduza a melhor lembrança de infância. No verso da folha do desenho solicitarei que façam um pequeno poema que explique o sentimento pela lembrança escolhida. Para finalizar a aula, falarei a respeito da minha proposta de estágio que abordará questionamentos em torno da memória e eternização de momentos.

Realizado: Cheguei às 13h30min, pois a professora titular havia combinado comigo este horário para que pudéssemos conversar a respeito da proposta que eu apresentaria nas aulas. A professora pareceu contente com a proposta, porém lamentou por não ter me passado os conteúdos da turma, mas compreendeu que agora era inviável eu trocar meus planos para inserir seus conteúdos. Gostou do fato de que a maioria do meu trabalho contemplaria arte contemporânea. Conversamos até às 14h17min, quando bateu o sinal, e iniciei meu estágio no ensino fundamental, em seguida, às 16h10min, após o recreio, a aula começou. 86


A turma entrou na sala e os alunos se acomodaram em lugares aleatórios. A professora me apresentou à turma, pois a turma em que eu havia previsto fazer o estágio e tinha observado no semestre passado, trocou de professora. Sendo assim, a turma em que eu vou aplicar o estágio é outra. A professora explicou que eu estava fazendo estágio para a faculdade de Artes Visuais e que este era um processo obrigatório para eu poder me formar. Ela falou que a avaliação seria efetuada da mesma maneira que nas aulas dela, desta forma as atividades e participação das minhas aulas fariam parte da nota do boletim dos alunos. Também disse que espera um bom comportamento e respeito, pois eu estava ali fazendo um trabalho muito sério. Em seguida, ela passou a palavra para mim. Apresentei-me dizendo que era aluna da Ulbra do curso de Artes Visuais. Falei que gostaria da colaboração de todos durante as aulas, que era necessário participação e que poderiam fazer suas colocações e questionar quando necessário, pois dentro do possível eu responderia ou buscaria por respostas. Apresentei através do PowerPoint, obras que representassem lembranças de infância. Iniciei com a obra "Jogos Infantis" (1560), de Pieter Brueghel, pedindo que observassem atentamente e me relatassem o que era possível ver na obra.

Jogos Infantis, 1560. PieterBrueghel (Fonte: http://www.rupert.id.au/TJ521/bruegel_la.jpg. Acessado em: 04/04/16.)

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Algumas das respostas foram as seguintes: - Pessoas correndo. - Tem gente brigando e outros brincando. - Têm crianças, velhos e adultos, todos estão brincando. - Lutando. - Crianças brincando. Tem uns brincando com bambolê, lá em cima tem tipo um trepa-trepa, no lado tem uma roda de crianças. - Parece que é num bairro, um ponto de encontro entre as pessoas para se divertirem. - Pode ser um dia de festa, tipo um feriado e os pais saíram para brincar com seus filhos. - Devem ser brincadeiras, porque o título diz: "Jogos Infantis". Depois que relacionaram a obra ao título os alunos passaram a enxergar as brincadeiras e começaram a citar as que conseguiam identificar.

Prossegui

perguntando: "Alguns destes jogos e brincadeiras, apresentados na obra, fizeram parte da infância de vocês? Quais?". Citaram: "Bambolês, rodas, garupa, pega-pega, trepatrepa, entre outros.". Resgatei a resposta que um aluno havia dado no questionamento inicial, referente aos personagens parecerem adultos e velhos, para esclarecer que o artista representa os personagens num papel infantil, porém vestidos como adultos ou velhos em atividades de crianças. Essa dualidade representa o papel social das crianças na época, que eram vistas como pequenos adultos. Avancei a aula para as obras: "Jogo de Futebol em Brodowski" (1933), "Gangorra e Amarelinha" (1937), "Roda Infantil" (1932), "Crianças Brincando" (1940) e "Meninos soltando pipas" (1938), todas do artista Candido Portinari. Primeiramente apresentei as obras separadas, sendo uma obra por slide, e questionei o que podíamos ver, sempre remetendo o diálogo para a percepção do tema da obra.

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Jogo de Futebol em Brodowski, 1933. Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

Quando pedi o que viam na obra, responderam: “Crianças brincando em um campo de chão batido, que parece nos fundos de uma igreja porque tem uma cruz e um cemitério no fundo. O chão é cheio de pedras e tocos de madeira. Tem uma cerca que limita o campo de um pomar.” Em seguida, apresentei a obra “Gangorra e Amarelinha” e deixei que fizessem suas colocações.

Gangorra e Amarelinha, 1937 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

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Os alunos fizeram as seguintes considerações: “As crianças tem os rostos sérios, mas parece que estão animadas pelos gestos. Estão brincando de amarelinha e de gangorra. Tem duas crianças esperando a vez para entrar na brincadeira. Estranho que a menina que está brincando de amarelinha é bem pequena.” Quando perguntei se gostavam da obra, a maioria disse que sim, mas que seria melhor se fosse colorido. Prossegui com a obra “Roda Infantil”:

Roda Infantil, 1932 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

Após observar a obra “Roda Infantil”, a turma comentou: “É uma roda de crianças. Tem um menino do lado de fora, ele está esperando para entrar na brincadeira ou é uma brincadeira tipo “Pato-pato ganso” e “Ovo choco”, onde um precisa ficar fora. Estão brincado na rua de chão batido de uma cidade.” Mostrei a obra “Crianças Brincando”:

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Crianças Brincando, 1940 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

Em relação a obras “Crianças Brincando”, um aluno disse: “É de novo em uma gangorra e, de novo, tem um menino sentado do lado e outro de braços abertos em cima da gangorra. Parece que estão se divertindo.” Outro aluno continuou: “É parecido com a obra de antes, mas agora é noite.” Uma menina complementou: “As pessoas que o artista pinta, são sempre do mesmo jeito, com as mesmas formas.” Pedi o que achavam da obra e responderam que esse quadro era mais bonito em relação àquele que era em preto e branco, estavam se referindo a obra: “Gangorra e Amarelinha”.

Meninos soltando pipas, 1938 Candido Portinari (Fonte: Acervo Digital do Projeto Portinari. Acessado em: 30/03/16.)

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A obra “Meninos soltando pipas”, foi a última obra apresentada do artista Candido Portinari. Os alunos observaram que: “Essa obra é bem mais colorida. É a mais bonita de todas. Parecem bem mais alegres, mesmo que não podemos entender os rostos. São quatro crianças soltando pipas e uma sentada no canto, acho que está concertando a sua pipa. É um dia bonito e estão em um potreiro.” Após este momento de leitura de imagem individual das obras, coloquei todas elas lado a lado, em um único slide, fazendo a seguinte interrogação: "O que há em comum nas obras?". Os alunos responderam: "Crianças, felicidade, brincadeiras, jogos, o jeito como o artista pinta, infância, lembranças e diversão." Eu continuei perguntando: "E se tivéssemos que escolher apenas um título/tema para todas as obras, qual seria?". A turma chegou à resposta comum: "Brincadeiras de infância." Apresentei um fragmento do poema: "O Menino e o Povoado - Não Tínhamos nenhum brinquedo", de Portinari e pedi que um aluno se voluntariasse para lê-lo à turma.

O Menino e o Povoado - Não Tínhamos nenhum brinquedo (...) Não tínhamos nenhum brinquedo Comprado. Fabricamos Nossos papagaios, piões, Diabolô. A noite de mãos livres e pés ligeiros era: pique, barramanteiga, cruzado. Certas noites de céu estrelado E lua, ficávamos deitados na Grama da igreja de olhos presos Por fios luminosos vindos do céu era jogo de Encantamento. No silêncio podíamos Perceber o menor ruído Hora do deslocamento dos Pequenos lumes... Onde andam Aqueles meninos, e aquele Céu luminoso e de festa? Os medos desapareciam Sem nada dizer nos recolhíamos Tranquilos...

(PORTINARI. Poemas. Projeto Portinari, 1999, p. 29.)

Expliquei que nos anos finais de vida, Candido começou a escrever versos relacionados às lembranças de sua terra, infância e juventude. Os versos escritos fazem 92


relação com as imagens pintadas nas telas do artista, expressando e traduzindo em palavras os seus sentimentos anteriormente pintados. Pedi a qual obra podíamos relacionar o poema lido. A maioria constatou que o poema se relacionava a obra "Crianças Brincando" (1940), pois ele falava de noites estreladas. Solicitei outro aluno voluntário para ler o poema a seguir:

(...) Poucos são aqueles a quem falo E muitos me procuram por nada Se tivesse continuado a soltar papagaio Seria livre como as andorinhas Não entenderia os homens Teria pena deles e de mim Saberia a vida do vento E a época dos vaga-lumes Com as suas lanterninhas. Saberia as idades Das nuvens e os dias de arco-íris

(PORTINARI. Poemas. Projeto Portinari, 1999, p.69.)

Novamente questionei a qual obra o poema se relacionava e imediatamente indicaram a obra: "Meninos soltando pipas" (1938), pois o poema falava sobre soltar papagaio. Prossegui com obras de Iberê Camargo. A primeira apresentada foi a naturezamorta: “Garrafas”:

Garrafas (homenagem a Santa Rosa), 1957. Iberê Camargo (Fonte: Catálogo Iberê Camargo: O Carretel "Meu Personagem" (2014). Acessado em 23/03/16.)

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Perguntei o que eles estavam vendo. De imediato a turma em conjunto deu as características visíveis na obra, como: “Tem garrafas no fundo e algumas na frente. Tem duas jarras ou bules. Uns copos e potes. As coisas redondas parecem frutas. Tudo está sobre uma mesa. Aparecem cores bem fortes.” Disseram também, que era uma pintura bem fácil de se fazer. Perguntei se sabiam o que significava o termo Natureza-morta. Como imaginei, a maioria respondeu que não sabia, alguns arriscaram dizer que era o desmatamento e destruição da natureza. Vendo que realmente não sabia o que era Natureza-morta dentro do contexto de Artes, eu expliquei de forma bem sucinta e prática a definição do termo. Disse que é a incorporação de objetos inanimados como: mesas com comidas e bebidas, louças, flores, frutas, instrumentos musicais, livros, ferramentas e outro. Objetos que não tem vida, não tem alma e todos referidos ao âmbito privado e à esfera doméstica, às vocações e aos hobbies, à decoração e ao convívio no interior da casa. Perguntei se haviam entendido. Disseram-me que sim e então perguntei: “Por que a obra “Garrafas”, de Iberê era uma natureza-morta?” Ninguém se pronunciou a falar, então incentivei pedindo que atentassem à obra e repeti a pergunta. Um menino respondeu: Porque tem garrafas, jarras, frutas e copos em cima de uma mesa. Outro colega complementou: E todas essas coisas não tem vida. Concordei com as respostas e prossegui a aula. Expliquei que em virtude de problemas de saúde, Iberê teve que deixar de pintar na rua ao ar livre para trabalhar em seu ateliê experimentando, assim, suas naturezasmortas. Em seguida, apresentei a serigrafia: "Carretéis 4" (1959):

Serigrafia, Carretéis 4, 1959. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16..)

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Pedi o que podiam me dizer a respeito da obra e o que estava ali representado. A turma apresentou já conhecer a obra, pois haviam visitado uma exposição do Iberê que ocorrera no Sesc. De imediato disseram que eram carretéis. Apresentei em um mesmo slide a obra: “Carretéis” (1958) juntamente com a obra: “Garrafas”, de Iberê Camargo e pedi o que podiam notar em comum. Uma menina muito atenta à aula, apontou a mão dizendo: “O jeito como elas estão colocadas, parece que os carretéis estão imitando as garrafas e tem dois círculos parecidos com as frutas.”

Carretéis, 1958. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

Eu me animei com a resposta da menina, que até então não havia participado, e prossegui explicando que a colocação estava corretíssima, pois o artista se deslocou das naturezas-mortas tradicionais para inserir seu objeto da lembrança de infância, tensionando o equilíbrio formal desses arranjos. Mostrei as obras: “Garrafas”, “Carretéis”, “Carretéis 4” e “Mesa azul com carretéis” em um mesmo slide para que fosse mais fácil comparar as mesmas e analisálas.

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Mesa azul com carretéis, 1959 Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

Novamente questionei o que havia em comum nas obras colocadas lado-a-lado. Já estando a par do contexto, responderam: “A posição dos objetos e muitos carretéis.” Em outro slide comparativo, apresentei as gravuras: “Gravura Carretéis 1” (1959), “Gravura Carretéis em Tensão” (1960) e “Gravura Dinâmica de Carretéis” (1960).

Gravura Carretéis 1, 1959 Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

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Gravura Carretéis em Tensão, 1960. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Gravura Dinâmica de Carretéis, 1960 Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Questionei: “O que estão vendo?” Uma menina disse que eram carretéis em preto e branco. Que primeiro estavam empilhados e bem bonitos, mas que depois estão soltos e mal pintados, “Nem parece direito carretel, mas eu acho que são.”. Expliquei que são fases dos trabalhos de Iberê, onde passou a multiplicar o objeto de lembrança de infância, equilibrando-se sozinhos sobre a mesa. A seguir, passaram a se movimentar no espaço perderam a forma original. 97


Mostrei as obras: “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967). Pedi o que viam e o que achavam. Responderam que viam quadrados e outras formas abstratas. Fiquei empolgada ao ver que se referiam ao termo Abstrato. Disseram também que um quadro tinha cores escuras e o outro cores claras, que era uma pintura feia e todas as pinturas abstratas eram assim. Disseram também que isso era muito fácil fazer. Houve um momento de agitação em torno desta obra, e todos reclamavam que ela era feia. Precisei pedir que voltassem a se concentrar, custou um pouco até que retornassem as suas classes e parassem de falar em voz alta.

Fiada de Carretéis 4, 1961. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Carretel branco, 1967. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

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Expliquei novamente que isso era uma trajetória do artista. Mostrei ainda as obras: “Sem título” (1975) e “Carretel azul” (1981) para exemplificar esta transição.

Sem título, 1975. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

e Carretel azul, 1981. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

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Questionei sobre o que estavam vendo nas obras. Disseram que esta obra era melhor que as do slide anterior, parece que o Iberê está voltando a pintar carretéis, mas ainda pintando com pouco capricho e cores quaisquer. Falei que Iberê retoma a forma dos objetos, ao final de sua vida, mas não abandona o sentimento e a expressão representada pelas pinceladas, texturas e cores utilizadas.

Momento de leitura de imagem com as apresentações das imagens em PowerPoint. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Para finalizar a apresentação em PowerPoint, solicitei que, assim como Iberê Camargo resgatou da própria infância um objeto para se apropriar, cada aluno deveria retomar suas lembranças de infância e desenhar o objeto que melhor representasse esta fase de suas vidas. No verso da folha solicitei que, como Candido Portinari, deveriam criar um poema de no mínimo três versos traduzindo seus sentimentos para com o objeto desenhado. Entreguei uma folha de desenho A4 para cada aluno e começaram a desenhar. Demoraram um pouco para iniciarem os desenhos, pois estavam indecisos no que desenhar. Nos poemas, os alunos retrataram valores sentimentais em relação ao objeto da memória de infância. 100


Os objetos que mais se repetiram nos desenhados para representar as lembranças de infância, foram brinquedos, fato este que marca a infância como o momento de muita diversão preenchido pela fase das brincadeiras.

Desenho e poema da aluna Andrieli. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho e poema da aluna Melissa. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Desenho do aluno Willian. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho e poema da aluna Leandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho e poema da aluna Michele. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Desenho e poema da aluna Vitória. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho e poema da aluna Eduarda. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Alguns alunos resgataram personagens de desenhos e jogos de sua infância, elemento este, que caracteriza uma atividade bastante vivenciada pelas crianças que moram nas cidades, estas passam longos períodos de tempo dentro de suas casas, sendo a televisão um eletrônico muito presente das gerações atuais.

Desenho da aluna Larissa. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho da aluna Juandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Alguns alunos sintetizaram a lembrança de infância em objetos que não remetem somente ao brincar e se divertir, mas a outros objetos do cotidiano da infância como a chupeta, tênis, mamadeira, colher e armário.

Desenho da aluna Ana. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho e poema da aluna Elisandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Desenho do aluno Valter. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho da aluna Brenda. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Desenho da aluna Jeniffer. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Vários alunos não fizeram o poema explicando a relação do objeto com a lembrança de infância, a maioria disse que não sabia ou não era bom com poemas. Incentivei para que fizessem a atividade, mesmo assim vários não escreveram. Faltando vinte minutos para o término da aula eu os avisei para que concluíssem os trabalhos e a medida que terminassem deveriam me entregar. A cada aula dois alunos ficam responsáveis para limpar a sala, desta forma os alunos da rodada foram se encaminhando para a limpeza. Nos últimos cinco minutos de aula eu pedi a atenção de todos e fiz o seguinte questionamento: “Se pudéssemos dar um nome para a nossa aula, qual seria este?” 106


Alguns responderam lembrança de infância, outros responderam memória, infância e momentos de infância. A partir das respostas eu expliquei que a minha Prática de Ensino estaria voltado para o tema “Memória” e mais adiante abrangeria a “Eternização de momentos”. Falei que as aulas seriam mescladas por teoria e que todas as práticas teriam a intenção de coletar experiências em contato com a arte, desta forma não gostaria de chamar de “trabalhos”. Dado o sinal todos me entregaram os materiais que foram disponibilizados por mim, nos despedimos e fomos embora.

Análise da aula: No início eu estava um pouco nervosa, mas com o decorrer da aula me acalmei. Notei que, devido ao nervosismo, eu estava falando rápido deixando-me ofegante. Assim que a professora titular me apresentou e deu início à aula ela se retirou da sala, fato este que também me deixou um pouco mais tranquila e calma. A turma foi bem receptiva e no primeiro momento estavam bem quietos. Pareciam tímidos, pois não estavam muito participativos, desta forma poucos alunos contribuíram nas leituras de imagens iniciais. Acredito que ao longo das aulas eles se sintam mais a vontade para participar. A apresentação de várias obras em uma mesma aula deixou os alunos surpreendidos, pois me disseram estarem habituados a estudarem uma mesma obra durante várias semanas, porém empolgaram-se nas leituras de imagens demostrando satisfação. Foi durante este momento que fui ganhando a confiança deles, incentivando e encorajando-os a se expressarem. Fiquei maravilhada com a participação dos alunos nas leituras de imagens, apresentando suas percepções e opiniões, porém sempre foi necessário que eu fizesse indagações para que eles respondessem. Durante a tarefa de representar em um desenho, a melhor lembrança de infância, notei inseguranças, pois diziam que não sabiam desenhar, e tive que incentivar bastante para que se encorajassem a desenhar algum objeto. Pareciam atentos ao que eu dizia, mostrando interesse nos conteúdos abordados. Colaboraram nos debates de leitura de imagem dando suas opiniões a cerca do que viam. Geralmente os alunos diziam o que achavam da obra de acordo com aspectos realistas e o que julgavam como belo, não tendo interesse nos artistas que avaliavam sem técnica ou habilidade. Assim, pode-se dizer, segundo Parsons (1992, pg.39), que os 107


alunos se encontram no segundo estágio onde “um quadro será tanto melhor quanto mais cativante for o tema e mais realista a representação”. Este estágio foi fortemente notado com o descontentamento pelas obras de Iberê Camargo. Ainda durante as leituras de imagem, notei que não estavam habituados a utilizar termos e conceitos do vocabulário nas Artes Visuais, e quando eu questionava-os se conheciam determinado conceito, na maioria das vezes respondiam que não, desta forma, percebi que seria necessário apresentar, de forma contextualizada, conceitos e termos para facilitar o entendimento em torno das artes. Pretendo rever uma forma prática para inserir o uso de conceito e termos dentro do vocabulário das artes, para que fiquem mais à vontade com os mesmos. Pretendo descontruir a ideia de belo que os alunos possuem como única possibilidade de entender a arte, pois apresentaram descontentamento com algumas imagens de obras de Iberê em função de considerarem a obra do artista como “abstrata” e mal pintada. Existe uma mania, na turma, de aceitar como verdadeira a primeira opinião que é colocada, desta forma o grupo não assume posicionamentos diferentes uns dos outros e não adentram nas peculiaridades da obra, fazendo uma leitura superficial. Porém Cassirer (1960, p. 287), pontua sobre a sensibilidade do olhar:

A profundidade da experiência humana (...) depende do fato de sermos capazes de variar nossos modos de ver, de podermos alterar as nossas visões da realidade. Isso porque o nosso olhar artístico não é um olhar passivo que recebe e registra a impressão das coisas. É um olhar construtivo.

Desta forma acredito que ao longo dos nossos encontros eles amadureçam e desenvolvam um olhar mais sensibilizado para as obras de arte. Quando apresentei resumidamente a minha proposta de ensino, a turma mostrouse motivada e animada para contribuir com a mesma, pois disseram nunca ter visto algo assim e que deveria ser interessante. Fiquei feliz e me senti confiante quando a professora titular mostrou satisfação com o meu tema, que perpassa pelos campos contemporâneos, mas fiquei um pouco surpresa quando ela me disse que a turma nunca havia trabalho nada a respeito da arte contemporânea. Este primeiro momento foi destinado a criar confiança e entrosamento entre Aluno e Professor, e percebi que isso demandará mais aulas para que possamos nos conhecer melhor, porém já houve bastante sintonia entre nosso grupo. 108


Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 03 e 04 – Data: 02/05/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.2. Segundo Encontro Tema da aula: Desconstrução do objeto de Lembrança de Infância.

Objetivos: - Observar a desconstrução da forma nas obras: “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967), de Iberê Camargo; - Desconstruir a representação inicial do objeto da infância na composição artística; - Perceber a temática da infância representada nos vídeos de Francis Alÿs.

Conteúdos: - Os Carretéis, de Iberê Camargo; - Desconstrução da forma; - Jogos das crianças, de Francis Alÿs.

Lista de atividades: - Apresentação das obras: “Fiada de Carretéis 4” (196)1 e “Carretel branco” (1967), de Iberê Camargo; - Leitura de Imagem, observando a desconstrução da forma; - Realização de prática artística: fazer uma pintura de desconstrução da forma do objeto da lembrança de infância representado na aula passada; - Apresentação dos vídeos da série: “Os Jogos das Crianças”, de Francis Alÿs.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; - Leitura de imagem; - Atividade prática.

Materiais: - PowerPoint; 109


- Folhas de desenho tamanho A3; - Materiais de pintura: Tintas, pincéis, jornal para forrar as mesas, toalha, potes para água; - Vídeos.

Avaliação: Será considerado o interesse e participação dos alunos nas atividades de leitura de imagem e na prática artística, levando em consideração o objetivo de desconstrução da forma.

Planejado: Deixarei preparado a reprodução das obras: “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967), de Iberê Camargo para que, ao adentrar na sala, os alunos já notem a exposição das mesmas. Vou propor a leitura de imagem das obras expostas, sem lembrar que são as mesmas apresentadas na aula passada, visando perceber a desconstrução da forma nas pinturas de Iberê Camargo.

Slide das obras apresentado no PowerPoint.

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Após a discussão em torno das obras de Iberê os alunos deverão, a partir do desenho produzido na aula passada, fazer uma pintura baseada no artista Iberê Camargo. A pintura abordará a desconstrução da forma, dando maior relevância ao significado sentimental da lembrança de infância. Este trabalho deverá resultar em uma pintura impregnada de sentimentos expressados através da tinta, textura, cor, pinceladas e formas. Vou circular pela sala para acompanhar o trabalho dos alunos e estar prestativa para dar qualquer suporte. Um pouco antes do término da aula solicitarei que finalizem os trabalhos, reorganizem as classes e cadeiras, guardem as tintas e limpem os pincéis. Recolherei todos os trabalhos. No tempo restante apresentarei brevemente o artista Francis Alÿs, mostrando a forma contemporânea de representar lembranças de infância. Mostrarei alguns dos vídeos da série Jogo das crianças, de Francis Aly.

Jogo das crianças 14 / Pedra, papel ou tesoura (Cidade do México 2013). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 12 / Cadeiras (Oaxaca, México 2012). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

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Jogo das crianças 8 / Bolinha de Gude (Amman , Jordânia de 2010). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 4 / Elástico (Paris , França de 2008). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

No final da aula solicitarei que para a próxima aula providenciem e tragam uma caixa de sapatos.

Realizado: Cheguei à escola às 14h para aplicar primeiramente o estágio com a turma do 9º ano. Durante o intervalo que separa as duas aulas, reorganizei a sala para deixar a apresentação de PowerPoint pronta para quando a turma do 1º ano chegasse.

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Hás 16h10min bateu o sinal e todos os alunos entraram na sala. Cumprimentei a turma e esperei que se acomodassem. Pedi silêncio e atenção. Colaboraram, fazendo silêncio logo em seguida. Retomei as obras: “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967), de Iberê Camargo, ambas apresentadas na aula anterior, porém não falei nada, para ver se a turma recordava por conta própria.

Fiada de Carretéis 4, 1961. Iberê Camargo (Fonte: Acervo Digital da Fundação Iberê Camargo. Acessado em: 11/04/16.)

Carretel branco, 1967. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014) )

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Pedi que atentassem para a obra e dissessem o que estavam vendo. Ao longo das respostas fui instigando para que me dissessem quais as formas e cores apresentadas. As respostas foram: “Na primeira imagem tem quadrados colocados de forma mais organizada”. “É uma obra escura só com marrom e outras cores misturadas como o azul, verde, branco e amarelo”. “O segundo quadro é mais bagunçado, pintado de qualquer jeito. Tem dois quadrados e outras formas que são abstratas”. “As cores usadas no segundo são: branco, azul e preto.”. Prossegui perguntando: “O que vocês acharam das obras?”. Os alunos tiveram diferentes percepções. Alguns disseram que não eram muito bonitas, pois não dava para entender o que o artista queria. Disseram que as cores do primeiro passavam tristeza e medo, a o segundo parecia um pouco mais alegre. Outro grupo de alunos disse que achavam ser bons quadros. Solicitei uma justificativa. Disseram que os fazia pensar. Perguntei no que fazia pensar? Um menino respondeu que assim podiam inventar o que pensar sem ser o que o artista queria no momento. Uma menina falou que não gostou muito de nenhum, mas se tivesse que tirar uma coisa legal nos dois achava que o primeiro quadro era mais “certinho”, já o segundo lhe parecia qualquer coisa, mas que tinha cores mais bonitas. No geral a turma gostou mais do segundo, em virtude das cores. Pedi se já conheciam essas obras. Alguns disseram que não. Uma menina disse que parecia que já tinha visto, mas não sabia aonde. Outra menina disse que eu havia mostrado a eles na aula passada. Dei um sorriso confirmando a afirmação da menina. Nessa hora todos fizeram que lembravam. Pedi, que retomando o que havíamos conversado na aula passada, tentassem lembrar qual era o objeto que Iberê reproduziu muitas vezes, em diversos suportes e com as mais variadas formas. Não demorou muito para recordarem-se que se tratava dos carretéis e logo relacionaram com as obras: “Fiada de Carretéis 4” (1961) e “Carretel branco” (1967). Retomei o processo de pintura de Iberê, onde o artista passa por diferentes fases, sendo que uma delas é a desapropriação da forma, trabalhando próximo do abstrato, dando grande valor sentimental as suas obras. Solicitei que cada aluno retomasse ao objeto representado na aula anterior para dar valor sentimental, utilizando recursos de

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textura, pinceladas, cores, ou da forma que achassem mais adequado para traduzir os sentimentos existentes no objeto. Falei que deveriam unir o objeto ao sentimento apresentado nos poemas, pois o desenho por si só não traduz de forma clara esse valor. Deveriam unir os dois pontos de vista e transformar em uma pintura em folha A3. Pedi que juntassem as mesas formando grupos para facilitar a distribuição das tintas, desta forma usaram-nas de forma coletiva. Distribuí jornais para que forrassem as mesas para não sujá-las. Uma aluna ofereceu ajuda para distribuir os jornais, deixei que ajudasse. Dividi as tintas e os pincéis nos grupos, em seguida entreguei uma folha de desenho A3 para cada aluno, potes com água e toalhas para a limpeza dos pincéis. Primeiramente solicitei que escrevessem os dados de identificação no verso da folha, e em seguida poderiam começar essa experiência.

Alunos iniciando a experiência. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A turma parecia muito empolgada com os materiais que distribui. Ficaram admirados quando entreguei as folhas de tamanho A3 e me disseram que nunca haviam usado tinta. Pude perceber que se sentiram atrapalhados no início, pois não tinham o hábito de manusear estes materiais. Orientei que arregaçassem as mangas e tomassem cuidado para não manchar as roupas. Fiquei circulando pela sala para observar o andamento da atividade.

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Os alunos se concentraram na proposta. Conversaram bastante, mas em bom tom e de forma que não atrapalhou o andamento da aula. A maioria das obras ficaram bem expressivas com tons de cores bem vibrantes. O aluno Valter, conseguiu transmitir a alegria da sua infância através das cores e do tênis “gasto” de tanto brincar.

Pintura do aluno Valter. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Aluna Vitória com seu trabalho. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Pintura da aluna Michele. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Pintura da aluna Melissa. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A aluna Elisandra apresentava-se introvertida e participava pouco durante as leituras de imagens, podemos notar características de sua personalidade no uso de cores dessaturadas.

Pintura da aluna Elisandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

As alunas Brenda e Larissa fizeram a repetição do objeto, assim como Iberê fez com os Carretéis.

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Pintura da aluna Brenda. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Pintura da aluna Larissa. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Vários alunos desconstruíram totalmente a forma do objeto original. Conseguindo assim, se desapropriar da forma inicial.

Pintura do aluno Willian. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Aluna Ana Júlia pintando. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A turma se dedicou na atividade proposta, tendo ótimo desempenho. Faltando 30 minutos para o término da aula, pedi que limpassem os pincéis, organizassem os materiais de pintura, colocassem os jornais no lixo e reorganizassem as mesas, deixando a sala em ordem. Os alunos responsáveis pela limpeza do dia pegaram as vassouras e varreram. Colocamos os trabalhos no chão da sala, próximo à parede para que pudesse secar. Um aluno se voluntariou para passar no dia seguinte e recolher para guardá-los no armário. Pedi atenção da turma e solicitei que para a próxima aula todos deviam providenciar uma caixa de sapatos. Faltando ainda 20min para o término da aula, falei brevemente sobre o artista Francis Alÿs e a forma contemporânea que ele adotou para representar brincadeiras de infância da Cidade do México. Mostrei no projetor os vídeos: “Pedra, papel ou tesoura”, “Cadeiras”, “Bolinha de Gude” e “Elástico”, todos pertencentes da série “Jogo das crianças”, de Francis Alÿs.

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Jogo das crianças 14 / Pedra, papel ou tesoura (Cidade do México 2013). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 12 / Cadeiras (Oaxaca, México 2012). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

Jogo das crianças 8 / Bolinha de Gude (Amman , Jordânia de 2010). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

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Jogo das crianças 4 / Elástico (Paris , França de 2008). Francis Alÿs (Fonte: http://francisalys.com/. Acessado em 25/04/16.)

A turma ficou bem atenta para ver e ouvir os vídeos. Fizeram relação das brincadeiras apresentadas com as brincadeiras que foram brincadas por eles mesmos, porém sofrendo pequenas modificações como no caso da brincadeira elástico, bolinha de gude e pedra papel ou tesoura. Quando o sinal bateu, estávamos assistindo ao último vídeo: “Elástico”, eu disse que quem precisava sair para pegar o transporte escolar poderia sair, alguns ficaram ali comigo para terminar de assistir, outros se despediram e saíram.

Análise da aula:

Foi uma aula muito boa. No início estavam calmos, porém ao longo da aula, mais especificamente durante o momento prático, os alunos ficaram agitados. Imaginei que de imediato os alunos associariam a obra apresentada com a obra mostrada na aula anterior, porém demorou um pouco até que se dessem conta de que se tratava de uma obra já vista anteriormente. Novamente a maioria dos alunos não gostou das obras de Iberê, entretanto me chamou a atenção que alguns alunos que na aula anterior não haviam gostado das obras, dessa vez mudaram de opinião dizendo que a obra fazia-os pensar. Os alunos não eram habituados a utilizar materiais diferentes de folhas A4 e lápis, dessa forma quando eu entreguei as tintas e folhas no tamanho A3, eles 121


estranharam e tiveram um pouco de dificuldade para manusear tais materiais, tive que dar algumas orientações básicas sobre a limpeza dos pinceis e cuidados com a tinta para não manchar as roupas. Notei que deveria ter passado essas orientações antes de distribuir os materiais, especialmente as tintas, assim a proposta teria iniciado de forma mais ágil e organizada. Mostraram bastante empolgação, acredito que em virtude de estarem vivenciando uma proposta diferenciada do ponto de vista do que do cenário em que estavam habituados. A sala é bem estruturada fisicamente, porém carece de recursos palpáveis aos alunos para realizar trabalhos diferenciados. Segundo o PCN de Arte:

A educação em artes visuais requer trabalho continuamente informado sobre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às técnicas e às formas visuais de diversos momentos da história, inclusive contemporâneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. (BRASIL, 1997, p.45)

Porém a professora alegou-me várias vezes que o estado não mandava verba para a compra de materiais. Em outro parágrafo do Parâmetro Curricular de Arte (1997, pg. 46), é citado uma gama de recursos que deveria estar presente nas aulas de artes, fazendo parte dos conteúdos: “Experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísticas (pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila, goivas) e outros meios (máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de reprografia).” O resultado final das pinturas foi muito positivo. Mostraram-se bastante empolgados com o desafio e demostraram mais dedicação e capricho do que no desenho da aula passada. Isso resultou em pinturas criativas e bem apresentadas, na qual cada aluno mostrou um pouco da sua personalidade de acordo com o modo como manuseou os materiais e escolheu o rumo das pinceladas. Pude notar que alguns alunos inverteram o objetivo da aula, tentando fazer trabalhos que pudessem ser usados de decoração para as suas casas, desta forma fizeram acabamentos que não se adequavam a proposta, mas sim que se enquadrassem na parede de suas casas. Acredito que este é outro reflexo da modalidade de aulas que a turma estava habituada. Os alunos gostaram dos vídeos de Francis Alÿs, infelizmente não planejei bem o tempo, desta forma, apenas alguns alunos, que não dependiam de ônibus para voltar para casa, puderam assistir o término do último vídeo. Devido a falta de tempo, o debate sobre a proposta de Francis Alÿs não pôde se estender muito, ficando superficial, porém 122


irei reforçar a proposta do artista em uma aula mais à frente, pois pretendo utilizar mais obras de Francis Alÿs neste projeto de ensino.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 05 e 06 – Data: 09/05/2016 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.3. Terceiro Encontro Tema da aula: Receptáculo da Memória

Objetivos: - Conhecer a obra “Receptáculo da Memória” de Paulo Gaiad; - Compreender a proposta de apropriação de objetos de Paulo Gaiad, em “Receptáculo da Memória”.

Conteúdos: -Obra “Receptáculo da Memória”, de Paulo Gaiad; - Assemblage e instalação; - Apropriação de objeto de arte.

Lista de atividades: - Exposição e debate dos trabalhos produzidos nas duas primeiras aulas; - Apresentação da obra “Receptáculo da Memória”, de Paulo Gaiad; - Diálogo sobre a proposta de apropriação de Paulo Gaiad; - Seleção de um objeto significativo da sua memória para ser doado a um colega que irá apropriar-se para fazer a composição, do mesmo, em um Receptáculo da Memória; - Preparação das caixas para o Receptáculo da Memória.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; - Leitura de imagem;

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- Atividade prática.

Materiais: - PowerPoint; - Materiais de desenho; - Caixas de sapato; - Tinta preta; - Esponjas para pintura; - Folhas A4.

Avaliação: Será avaliada a participação durante a apresentação do artista e na leitura de imagem, bem como o aluno que se comprometeu a trazer a caixa de sapato solicitado na aula passada e a participação durante a atividade prática.

Planejado: Irei, antecipadamente à chegada dos alunos, expor na sala os dois trabalhos realizados nas duas primeiras aulas. Começarei a aula comentando sobre as produções realizadas nos encontros anteriores, seu desenvolvimento ao transitar pelas diferentes experiências. Farei uma análise informal, apenas oralmente sobre: “O que acharam da experiência? E do resultado? Foi fácil? Difícil se desapropriar da forma e expressar sentimentos sobre o objeto através da pintura?” Em seguida apresentarei, através de slides exibidos no projetor, um pouco sobre a trajetória do artista Paulo Gaiad para que entendam a construção de seus trabalhos. Mostrarei o processo de produção de Paulo Gaiad que transita entre a pintura, o desenho, a fotografia, a instalação e a literatura. Pretendo propor uma leitura de imagem das obras antes de apresentá-la para ir acostumando os alunos a examinarem o objeto artístico, aprenderem a se relacionar com as imagens e os códigos visuais. Os alunos precisam exercitar os seus sentidos para captar a arte de uma maneira mais aberta e espontânea.

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Slides das obras apresentadas no PowerPoint.

A cada slide será indagado aos alunos que comentem o que podem ver e perceber nas obras apresentadas. Irei falar sobre os conceitos contemporâneos de “Instalação” e “Assemblage”, para que assim, possam entender a produção do artista. Gaiad atua com consciência de que a imagem fotográfica não possui poder suficiente para exprimir, de forma eficaz, o que se quer. Quero que os alunos percebam que a arte perpassa a moldura de um quadro, que a arte está na simbolização sentimental colocada na matéria.

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Slide apresentado no PowerPoint.

Para exemplificar o conceito de instalação irei mostrar a obra: “Cicatrizes” (1988), de Paulo Gaiad.

Slide da obra apresentado no PowerPoint.

Slide apresentado no PowerPoint.

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Mostrarei a fotografia da obra: “Receptáculo da Memória de Bianka Tomie” em um slide sem a descrição do nome da obra para que os alunos não sejam induzidos na leitura de imagem. Solicitarei que me digam o que veem na obra. Questionarei qual conceito contemporâneo a obra representa, retomando os slides anteriores.

Slide da obra apresentada no PowerPoint.

Prosseguirei apresentando as obras: “Receptáculo da Memória de Renato Tapado” e “Receptáculo da memória de Guto Lacaz” conduzindo com os mesmos questionamentos, porém relacionando uma obra a outra para chegar a elementos comuns.

Slides das obras apresentadas no PowerPoint.

Após este momento de debate esclarecerei a proposta de Paulo Gaiad em Receptáculo da Memória, de 2002.

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Em seguida a este momento teรณrico, irei solicitar que cada aluno preencha a seguinte folha, onde serรก sintetizado o objeto de uma lembranรงa significativa do tempo passado de cada aluno:

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Após o preenchimento da ficha, as folhas serão dobradas e depositadas dentro de uma caixa para realizar o sorteio, das mesmas, entre os alunos da turma. Cada aluno deverá acolher o objeto da memória do colega (determinado a partir do sorteio), acrescentando a ele elementos adicionais para expressar sua percepção e sentimento. Durante esta aula será feito apenas um exercício de elaboração dos elementos, pois os mesmos, deverão ser trazidos pelos alunos na próxima aula, na qual serão criados os Receptáculos da Memória da turma. Durante o tempo que restar desta aula, os alunos deverão pintar de preto a caixa de sapatos que trouxeram para preparar a construção do receptáculo da aula que vem. Quem tiver tempo já poderá esquematizar, no verso da folha preenchida, como será a sua intervenção no objeto que o colega trouxer. Solicitarei que pensem e tragam para a próxima aula, todo o material necessário para compor o Receptáculo da Memória. Deverão trazer também, o objeto que irão doar para o colega acolher em seu Receptáculo da Memória. Darei orientações sobre o cuidado com este objeto, por exemplo: Se algum aluno escolheu um anel, ele deverá providenciar um anel de brinquedo para entregar ao colega. A turma deverá reorganizar os materiais usados para a pintura das caixas, bem como as classes e cadeiras. Em seguida poderão se dirigir para o recreio.

Realizado: Cheguei à escola às 14h para aplicar o estágio com a turma do nono ano primeiramente. Durante o intervalo que separa as duas aulas, reorganizei a sala e distribuí pelas mesas os desenhos do objeto de memória de infância, realizados na primeira aula e as pinturas da aula passada. Também deixei preparada a apresentação de PowerPoint, para que estivesse pronta para ser usada. Às 16h10min bateu o sinal e todos os alunos entraram na sala. Muitos deles estavam com as caixas que eu havia solicitado. Cumprimentei a turma e esperei que se acomodassem. De imediato se atentaram para a exposição das experiências de resgatar a lembrança de infância através de desenhos e pinturas. Eu disse que podiam circular

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pelas classes e ver os resultados das experiências. Os alunos pareciam gostar do que viam. Passados alguns minutos solicitei que tomassem os seus lugares. Quando todos estavam sentados, pedi suas opiniões quanto ao que tinham visto. Disseram ter gostado, que ficou bonito e interessante. Perguntei: “Qual dos dois gostaram mais? Do desenho ou da pintura?” De forma unânime responderam que gostaram mais de trabalhar com tinta. Analisamos em conjunto quais os aspectos que se repetem nas obras. Para uma melhor análise, a turma, inconscientemente criou categorias de características em comum onde, por exemplo, citaram os seguintes aspectos: “Alguns são mais abstratos e se não relacionarmos ao desenho de origem, não saberemos o que significa.” Uma menina que se incluía nesta característica, defendeu-se explicando que como era pra representar o sentimento, tinha ficado daquele jeito. Perceberam que alguns alunos reproduziram repetidamente o objeto. Outros fragmentaram o objeto. Destacaram também os objetos que se repetiram em diferentes obras, significando que estes objetos fazem parte da memória de diversas pessoas. Para finalizar a análise, perguntei: “O que acharam da experiência? Como foi se desapropriar da forma e expressar sentimentos sobre o objeto através da pintura?” Um aluno, que durante as aulas sempre estava participando de forma muito positiva falou que achou difícil pensar em como expressar o sentimento na pintura, mas que depois que eu havia distribuído os materiais e ele havia iniciado, começaram a surgir ideias, mas que ele não tinha certeza se estava fazendo certo. Disse não ter achado fácil, mas mesmo assim tinha sido legal. Os colegas concordaram. Percebi que gostaram de usar tinta e trabalhar em uma folha de tamanho maior do que estavam habituados. Em seguida ao debate, apresentei os slides que preparei referentes às obras de Paulo Renato Gaiad. Iniciei dando uma breve contextualização da trajetória do artista que nasceu em 1953, na cidade de Piracicaba, São Paulo. Mostrei a obra “Paisagem a caminho de Dresden” (1995) para exemplificar a dinamicidade de Paulo Gaiad ao transitar em diferentes suportes e materiais artísticos. Neste exploramos, de forma sucinta, a pintura e desenho.

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Paisagem a caminho de Dresden, 1995. Paulo Gaiad (Fonte: http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/. Acessado em: 28/05/16.)

Os alunos disseram que não gostaram muito da obra, que tinha pouca cor em relação as obras de Iberê Camargo. Um aluno falou que parecia que o artista não havia terminado de pintar porque tinham espaços em branco na lateral da pintura. Perceberam que Gaiad desenhou uma ruela com casas e uma ponte ao final da mesma. Uma menina que nunca havia se manifestado durante os momentos de debate levantou a mão para falar: “É um desenho muito fácil, com pouca tinta e linhas, é bem sem graça.” A turma estava fazendo relação com as obras de Iberê que eram com cores bem marcantes e podiam perceber, através da textura, que o artista levara muitos dias para construir a obra. Já a obra de Paulo Gaiad, segundo suas percepções, era simples de mais, não gostaram das cores nem do desenho representado. Retomando a fala do aluno que dissera ser uma ruela, questionei se sabiam o que significava o nome da obra. Responderam que não. Expliquei que se tratava de uma cidade, na qual Gaiad havia visitado anos atrás. Desta forma, a obra representava a memórias da viagem que realizou sozinho em cidades alemãs. Passei para a obra “Heidelberg” (1994): 131


Heidelberg, 1994 Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 02/05/2016.)

De imediato relacionaram com a obra “Paisagem a caminho de Dresden” (1995) mostrada anteriormente. Encontraram nela a cidade pintada e desenhada anteriormente, porém vista de outro ângulo. Disseram que desta vez o artista estava olhando de frente para a ponte com a cidade aparecendo atrás. Falaram ter gostavam mais da cor amarela ao invés do azul e do cinza, mas que ainda era bem fácil de fazer essa pintura e este desenho. Questionei se realmente achavam que Gaiad estava representando o mesmo lugar, porém em um ângulo diferente. Voltamos à imagem anterior para analisar melhor. Ficar na dúvida até que uma menina disse que os nomes das obras eram diferentes, logo os lugares também eram diferentes. Confirmei estando correta a conclusão da aluna. A turma estava muito participativa nas leituras de imagem. Pedi a ele se era possível notar algum elemento artístico além do desenho e da pintura. Demoraram um pouco, analisaram, até que uma menina se manifestou dizendo que tinham folhas de jornal atrás da pintura. Outra menina disse que significava que nas páginas deste jornal estava falando sobre a cidade que o artista representou. Mostrei a obra “Páginas ao Vento – Escritos da dor” (1997):

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Páginas ao Vento – Escritos da dor, 1997 Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 02/05/2016.)

Questionei: “O que é isto?” Responderam que eram livros. Uma menina levantou e falou que era o diário do artista. No primeiro momento não se deram conta de que se tratava de lâminas de metal. Quando apresentei o título e descrição da obra, eles ficaram admirados e outra aluna completou: Deve ser em lâminas de metal para que nunca mais se apague o que foi escrito nelas. Fiquei surpresa com a conclusão imediata de que era o diário do artista, porém a aluna me disse que disse só o que pensou, pois não conhecia a obra nem o artista antes dessa aula. Questionei quais as reações do metal, após ser exposto ao tempo. Demoraram para responder. Refiz a pergunta e chamei atenção para as partes marrons das páginas. Concluíram que o metal enferruja. Desta forma perguntei: “Será que as páginas do diário resistirão por muito tempo?” Ficaram meio confusos, mas entenderam que o

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artista não tinha a intenção de guardar as histórias vividas neste diário, e sim na memória. Apresentei ainda a obra: “Cicatrizes” (1988).

Cicatrizes, 1988. Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 02/05/2016.)

Inicialmente acharam que eram livros. Em seguida, alguns falaram serem pedras com rachaduras. Expliquei que na série “Cicatrizes” (1998), Gaiad corta e dobra folhas de papel, aproximadamente três mil e quinhentas folhas, monta pequenos blocos, encharca-os com água, os envolve com arame. Este quando em contato com o papel molhado enferruja e pinta o papel. Estes blocos são postos para secar, quando a secagem se completa o papel endurece, quase que empedrado, com as marcas do arame, utilizado para amarrar, e da ferrugem, estes blocos são envolvidos por uma capa de metal, um chumbo mole que se molda em contato com o papel, formando pequenos cadernos que não podem ser lidos, nem folheados. Os alunos ficaram contentes que tinham praticamente acertado os materiais envolvidos.

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Perguntei qual a intenção do artista com esta obra. Disseram que as cicatrizes representavam as marcas de uma ação do passado. Para deixar mais claro os trabalhos de Paulo Gaiad, apresentei os conceitos contemporâneos de “Instalação” e “Assemblage”, para que assim, pudessem entender a produção do artista. Falei que Gaiad atua com consciência de que a imagem fotográfica não possui poder suficiente para exprimir, de forma eficaz, o que se quer, desta forma utiliza diferentes suportes de materiais para traduzir os valores sentimentais. Apresentei o slide referente ao conceito de “Instalação”:

Slide apresentado no PowerPoint.

Indaguei os alunos, para que citassem qual das obras de Gaiad representava uma instalação. Após pensarem um pouco, uma menina respondeu que a última obra que mostrei poderia ser uma instalação. A aluna respondeu a pergunta com insegurança, mas quando respondi que estava correta ela se empolgou. Expliquei que as instalações mudam assim que o espaço muda, pois o artista não consegue fazer exatamente a mesma instalação a partir do momento que mudam de espaço, desta forma, as instalações são obras temporais, pois duram apenas o tempo da exposição. Em seguida apresentei o significado do conceito de “Assemblage”:

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Slide apresentado no PowerPoint.

Novamente pedi que relacionassem o termo com uma das obras de Gaiad. Não sabiam o nome das obras, mas foram dando características das obras: “Heidelberg” e “Paisagem a caminho de Dresden”. Falando de assemblage, mostrei a obra: “Receptáculo da Memória de Bianka Tomie”, sem a descrição do título para não influenciar na leitura de imagem inicial. Instiguei que dissessem o que viam.

Receptáculo da Memória de Bianka Tomie. Paulo Gaid (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 03/05/16.)

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Sem demoras os alunos falaram: Uma caixa preta com uma colher dentro. A colher está suja com um suco vermelho. “Alguém consegue ver algo mais? Algum significado singular?” Questionei. “Pode ser uma colher importante”, falou uma aluna. “Importante por quê? ” Continuei. “Uma pessoa comeu coisas boas com ela, parece gelatina de morango ou framboesa. As crianças gostam de gelatina”, outra aluna respondeu. Instiguei mais um pouco, mas a turma não conseguia encontrar muito significado nessa colher. Desta forma prossegui para a obra: “Receptáculo da Memória de Renato Tapado”, novamente sem mostrar o título da obra para não intervir na leitura de imagem.

Receptáculo da Memória de Renato Tapado. Paulo Gaiad (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 03/05/16.)

Os alunos disseram que era outra caixa preta, desta vez mais rasa. Dentro dela, um livro aberto e sopa de letrinhas despejada sobre as páginas. Deduziram que as letrinhas de sopa que estavam sobre as páginas eram exatamente as mesmas letras que estavam escritas nas páginas expostas. Achei interessante a colocação. Questionei o que poderia significar isto. Disseram ser duas maneiras de representar a mesma coisa. Voltei à obra anterior, “Receptáculo da Memória de Bianka Tomi”, agora revelando o título da obra. Expliquei a proposta de Gaiad em “Receptáculo da Memória”.

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O artista pede a algumas pessoas por e-mail, que lhe enviem algo que seja um fragmento de sua história, uma recordação. Com este objeto Paulo constrói os trabalhos da série, cada lembrança um trabalho. Gaiad construiu caixas de metal com um vidro por cima protegendo o interior, onde coloca as lembranças, como se estivessem expostos em vitrines, mas não são para serem exibidos, são caixas mais como cofres, caixas de joias, que protegem e guardam. O metal simbolizando a força que retém o momento, o tempo que escapa, a memória. Objetos especiais e caros aos seus donos: a colher infantil que servia para dosar os remédios, o chapéu do pai recém-falecido, bolinhas de gude do menino tornado homem, o livro de histórias que evoca lembranças da infância que há muito já se foi, o travesseiro que usava quando era ainda um bebê, macarrão e temperos que trazem de volta a lembrança da comida da mãe. Um trabalho que demandou confiança em ambos os lados, artista e convidados, uma troca de confidências que pressupõe uma intimidade que não se consolida. A série se torna um arsenal de memórias, tesouros que trazem um tempo que só vive na lembrança daquele que conhece, mas que evoca a memória do outro. Mostrei ainda o “Receptáculo da memória de Guto Lacaz”:

Receptáculo da memória de Guto Lacaz, 2002. Paulo Gaiad. (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2178. Acessado em: 03/05/16.)

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Imagens de Receptรกculos da Memรณria enviadas pelo artista por e-mail. Paulo Gaiad. (Fonte: E-mail enviado pelo artista para GRร F em 11/01/2016.)

Os alunos mostraram contentamento com a proposta da obra. Ficaram admirados. Entreguei um pequeno formulรกrio para cada aluno preencher:

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Dei quinze minutos para que pudessem pensar no objeto, explicar a escolha e fazer um desenho do mesmo.

Alunos preenchendo os formulĂĄrios. (Fonte: GRĂ„F, 2016.)

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Em seguida, pedi que dobrassem o formulário e me entregassem. Coloquei todos dentro de uma caixa. Falei que iríamos reproduzir a proposta de Paulo Gaiad acolhendo os objetos da memória dos nossos colegas. Para determinar o objeto a ser acolhido, será feito um sorteio das fichas. A turma gostou! Expliquei que na próxima aula cada um deverá trazer o objeto descrito na ficha para doar ao colega que irá sorteá-lo, para que assim, ele possa acolhê-lo. Também deverão trazer objetos e materiais para compor o receptáculo do colega, dando sentido ao objeto acolhido. Cada aluno sorteou uma ficha. Pedi que dissessem em voz alta qual o objeto que irão acolher fazendo referência ao doador. No restante da aula, distribuí folhas de jornal, pincéis e tinta preta para que os alunos pintassem as caixas que trouxeram de casa. Deixamos as caixas em um espaço livre no fundo da sala para que pudessem secar. Vários alunos não trouxeram as caixas, porém eu havia providenciado muitas caixas reservas que coletei com meus familiares e amigos, pois imaginei que isso pudesse ocorrer. Desta forma, nenhum aluno ficou sem caixa.

Alunos pintando as caixas. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Faltando dez minutos para o término da aula, solicitei que guardassem as tintas, lavassem os pincéis e reorganizassem a sala. Os dois alunos responsáveis pela limpeza da sala varreram. 141


Lembrei da importância de trazer o objeto que será doado ao colega que o acolherá e também os materiais para compor o “Receptáculo da Memória.” Dado o sinal, nos despedimos e todos foram para casa.

Análise da aula: Foi uma aula boa. Os alunos colaboraram nas leituras de imagem, fazendo com que construíssemos um longo período de debate durante a aula. Novamente os alunos criaram uma classificação das obras pelo “belo”, levando em consideração o realismo e o fácil entendimento das obras, desta forma não gostaram muito das primeiras obras que apresentei referente ao artista Paulo Gaiad. Vejo que os alunos buscam sentido imediato no que veem, porém a arte contemporânea está consolidada no conhecimento. Por hora, acredito que os alunos ainda não possuam olhar crítico e sensibilizado para acolher as obras, não compreendem as manifestações da arte contemporânea, o que os leva a duvidar da sua validade enquanto arte. “Mas por quê? Será que a arte de hoje não consegue sensibilizar o público? Ou será que é ele que não está suficientemente aberto ou preparado para lidar com essa produção?” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 14). Esse estranhamento, de sensação duvidosa, do que é arte já vem sendo apresentado em outros tempos:

Engana-se quem pensa que este estranhamento é privilégio dos dias atuais. A história da arte é marcada por incompreensões. Van Gogh vendeu um único quadro em toda a sua vida. Proust teve sua obraprima recusada por várias editoras. Cézanne foi rechaçado pela própria família [...] (ALBUQUERQUE, 2005, p. 15).

Acredito que com o esclarecimento de termos da linguagem da arte, como os conceitos de Instalação e Assemblage, contribuirá para o melhor entendimento de elementos da arte contemporânea, assim como, maiores contextualizações das manifestações, pois pretendo construir uma trajetória de conhecimentos que anteceda a aula em que darei foco à Arte Contemporânea. Os alunos gostaram da obra “Receptáculo da Memória”, de Paulo Gaiad. Percebi que o que fez eles criarem admiração pela obra, foi a dinâmica que envolvia a doação por parte de um convidado e, em seguida, apropriação do artista. Quando lancei a proposta dos Receptáculos da Memória na turma, criou-se alvoroço. Ficaram empolgados com a proposta. Porém fiquei um pouco desapontada 142


com o pequeno número de alunos que havia trazido caixas para serem pintadas, por sorte eu havia levado várias sobressalentes, caso isso ocorresse.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 07 e 08 – Data: 16/05/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.4. Quarto Encontro Tema da aula: Receptáculo da Memória

Objetivos: - Vivenciar a experiência de apropriação de objeto de Paulo Gaiad, através da criação do “Receptáculo da Memória”.

Conteúdos: - Apropriação de objeto/lembrança; - Construção de receptáculos da memória.

Lista de atividades: - Criar um Receptáculo da Memória a partir da memória do colega; - Entregar ¼ de folha A4 para que acompanhe os alunos durante uma semana.

Metodologia: - Atividade prática.

Materiais: - Materiais diversificados (tintas, pincéis, tecidos, papéis coloridos, entre outros); - Caixas de sapato pintadas de preto; - Fita; - Cola quente; - Rolo de Filme de PVC para embalar os Receptáculos da Memória.

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Avaliação: Será avaliado o comprometimento dos alunos que trouxeram o objeto da lembrança e os materiais solicitados, bem como, o empenho e criatividade durante a criação dos Receptáculos da Memória.

Planejado: Levarei alguns materiais para serem agregados nos trabalhos, caso alguns alunos não trouxerem os materiais solicitados. Vou dispor estes materiais sobre uma mesa. Irei acolher a turma e retomar algumas orientações na criação do Receptáculo da Memória. Os alunos deverão acolher o objeto doado pelo colega e dar-lhe valor sentimental, associando-o aos elementos que trouxeram de casa. Dentro da caixa que foi pintada de preto na aula anterior, os alunos deverão criar o seu Receptáculo da Memória. No lado mais estreito da caixa deverão colar a seguinte identificação:

Etiqueta de identificação dos receptáculos.

Para concluir os trabalhos cada aluno deverá embalar seu Receptáculo da Memória em Filme PVC, utilizando fita adesiva para colar as extremidades. A medida em que os alunos forem concluindo os seus trabalhos, iremos colocálos lado a lado, sobre as mesas da sala. Pedirei que se posicionem em torno dos Receptáculos da memória para que possam visualizar os trabalhos dos colegas e dar

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suas opiniões perante essa experiência de acolher a memória do colega. Vamos comparar o sentimento do doador do objeto com o sentimento agregado pelo acolhedor. Antes do término da aula distribuirei para cada aluno ¼ de folha de desenho A4. Orientarei que deverão levar consigo este pedaço de papel em todos os lugares que frequentarão até o nosso próximo encontro. Vamos reorganizar a sala e solicitarei que cada aluno pegue o seu trabalho para levarmos até a recepção da escola, formando uma exposição.

Realizado: Cheguei à escola às 14h 10min para aplicar o estágio com a turma do 9º ano primeiramente, durante o intervalo que separa as duas aulas, reorganizei a sala e dispus sobre duas mesas diversos materiais como: tintas, pincéis, tecidos, papéis coloridos, fita, cola quente, entre outros. Levei estes materiais para evitar que algum aluno deixasse de fazer a proposta devido falta de materiais. Quando tocou o sinal das 16h10min, todos os alunos entraram na sala. Estavam bem agitados. Alguns logo me mostraram o objeto que haviam trazido e outros vieram com desculpas para justificar porque não haviam trazido o objeto. Pedi que se acalmassem e tomassem seus lugares. Retomei algumas orientações para a criação dos Receptáculos da Memória como: cada um deverá acolher o objeto doado pelo colega e dar-lhe valor sentimental associando-o aos elementos que trouxeram de casa. Pedi que cada um pegasse a sua caixa, pintada na aula passada, e trocassem os objetos entre si, de acordo com o sorteio da aula anterior. Três alunos não trouxeram o objeto, desta forma, fiz alguns ajustes de trocas entre eles, para que os que trouxeram objetos a serem acolhidos não ficassem sem nenhum para acolher. Feito estes ajustes, os alunos que não trouxeram seu objeto, consequentemente não receberam nenhum objeto para acolher, desta forma, solicitei que deixassem um espaço no Receptáculos da Memória para adicionar o objeto no dia seguinte.

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Alunas criando os Receptáculos da Memória. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A maioria dos alunos trouxe materiais de casa para complementar o valor do objeto. Os que não trouxeram usaram os que eu havia disponibilizado e/ou pediram emprestado dos colegas. Para a identificação dos receptáculos, cada aluno teve que preencher a seguinte ficha e colá-lo no lado mais estreito da caixa:

Etiqueta de identificação dos receptáculos.

Durante a realização da proposta, eu circulei pela sala observando como lidavam com o desafio e disponibilizando ajuda. Na medida em que iam terminando, orientei e mostrei como usar o Filme de PVC para embalar os Receptáculos da Memória. Depois de finalizados, dispomos os Receptáculos da Memória lado a lado sobre as mesas. Pedi que se posicionassem em volta das mesas para que pudessem visualizar os receptáculos. Instiguei que compartilhassem suas opiniões e percepções perante esta experiência de acolher a memória do colega.

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A aluna Marchelly, ao ver o receptáculo criado para o seu vestido usado quando era bebê, disse que ficou fofo e meigo, bem como eram os bebês. Dando risadas ela ainda complementou: “Bem lindo o receptáculo, lindo como eu!” As colegas riram e disseram que ela se “Achava”.

Receptáculo da Memória da Marchelly, feito pela colega Ana Júlia. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Taiana olhou para seu receptáculo e fez cara de nojo. Disse que escolheu os curativos e Bandeides porque viva machucada, mas que não era pra tanto! Achou que a colega Michele havia exagerado no sangue, que parecia uma coisa ruim.

Receptáculo da Memória de Taiana, feito pela colega Michele. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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A aluna Juandra disse que a Natyeli havia sido muito criativa, que gostou dos picotes de folha de caderno que estavam na volta da caixa. Falou que os picotes intensificaram as anotações que ela fazia no seu diário, mostrando que ela escrevia bastante e que errava também, pois os picotes são folhas arrancadas do diário. A Natyeli complementou que era bom mesmo ela gostar, pois tinha dado muito trabalho colar os picotes.

Receptáculo da Memória da Juandra, feito pela colega Natyeli. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A Karine falou que o receptáculo dela era bem simples, mas que o Willian tinha dado o sentido exato, que era escrever, desenhar e estudar.

Receptáculo da Memória da Karine, feito pelo colega Willian. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Faltando 10min para o término da aula, entreguei para cada aluno ¼ de folha de desenho A4. Orientarei que deveriam levar consigo este pedaço de papel em todos os lugares que frequentarão até o nosso próximo encontro. Os alunos ficaram curiosos em torno do motivo desta experiência, porém não dei maiores detalhes. Como a apreciação, em torno dos Receptáculos da Memória, perdurou mais tempo do que eu imaginava, não houve tempo para que me ajudassem a levá-los até a recepção onde montaríamos a exposição, desta forma fui até a escola no dia seguinte (17/05/2016) para organizar a exposição.

Exposição dos Receptáculos da Memória na recepção da escola. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Eu havia levado tecidos de TNTs nas cores branco e preto, para forrar as mesas e colocar os receptáculos em cima, porém a professora titular me encontrou montando a exposição e trouxe tecidos de chita floreados. Insisti para usar os meus TNTs, mas ela fez questão que eu usasse os tecidos dela. Para não criar atritos, eu cedi e usei os que ela me deu.

Análise da aula: Foi uma aula bastante agitada. Logo de início, os alunos já estavam eufóricos, alguns em virtude de terem esquecido o seu objeto, outros preocupados que o colega não trouxe o objeto que ele acolheria e alguns querendo mostrar o que trouxeram. Alguns alunos não levaram os materiais solicitados, porém eu já havia previsto que isso poderia acontecer, desta forma, levei vários materiais alternativos para que ninguém ficasse sem realizar a proposta. Os trabalhos realizados pelos alunos que utilizaram os materiais que eu havia levado, ficaram com características muito semelhantes uns dos outros. Creio que a proposta não atingiu totalmente o objetivo para esses alunos, pois os materiais e objetos não foram pensados por eles e sim usados de forma alternativa, pois eram sua única opção. Os alunos trabalharam de forma bem amigável, emprestando-se os materiais que trouxeram de casa para complementar o receptáculo do colega. Pude perceber a união entre eles, nesse gesto de compartilhamento. Quando todos já haviam terminado, colocamos os Receptáculos da Memória, produzidos, no centro da sala, de maneira a serem visualizados por todos. Pedi que comentassem sobre a experiência. A maioria gostou da forma como o seu objeto da memória foi acolhido, porém houveram aqueles que fizeram relações diferentes, de acordo com a sensação e vivência que o acolhedor da memória possui do objeto doado. Desta forma, assim como Gaiad, a maioria dos alunos acolheu o objeto, reinterpretando e reiterando sentidos neles, conferindo novos significados a eles. “O sentido não é nunca princípio ou origem, ele é produzido. Ele não é algo a ser descoberto, restaurado ou re-empregado, mas algo a produzir por meio de maquinações.” (DELEUZE, 2007, p.74).

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Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 09 e 10 – Data: 23/05/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.5. Quinto Encontro Tema da aula: Arte Contemporânea e suas experiências

Objetivos: - Refletir sobre o questionamento: “O que é Arte Contemporânea?”; - Conhecer algumas obras que lidam com a experiência de trajetórias; - Vivenciar a obra “Caminhando”, de Lygia Clarck.

Conteúdos: - O que é Arte Contemporânea; - Obra: “Às vezes Fazendo Algo não leva a nada” (1997), de Francis Alÿs; - Obra: “Caminhando” (1964), de Lygia Clarck; - Obra: “December 2007” (2007), de Mario Garcia Torres.

Lista de atividades: - Assistir aos vídeos: “Isto é arte?”, do Instituto Itaú Cultural e “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014”, da Nova Escola; - Confeccionar um cartaz com palavras destacadas dos vídeos que traduzam o significado de Arte Contemporânea; - Apresentar o vídeo do registro da obra: “Às vezes Fazendo Algo não leva a nada” (1997), de Francis Alÿs; - Confecção da fita de Moebius para passar pela experiência proposta por Lygia Clarck na obra “Caminhando” (1964); - Apresentação

da obra “December 2007” (2007), de Mario Garcia Torres;

- Atividade de prática artística relacionado com o pedaço de papel que os alunos levaram consigo, durante a semana.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; 151


- Leitura de imagem; - Atividade prática.

Materiais: - PowerPoint; - Vídeos e documentários; - Fitas de papel (5cm X 29cm); - Cola e tesoura; - Tiras de papel (7cm X 29cm); - Material de escrita.

Avaliação: Será avaliada a participação durante as leituras de imagens, a colaboração durante as experiências e a criatividade durante a prática artística.

Planejado: Iniciarei a aula entregando cinco pedaços de papéis coloridos para cada aluno. Nestes pedaços de papel cada aluno deverá escrever cinco palavras-chaves que achar significativas a partir dos documentários que serão assistidos. Estas palavras deverão traduzir o significado de Arte Contemporânea. Após dada as orientações, os alunos, assistirão ao documentário: “Isto é arte?”, produzido pelo Instituto Itaú Cultural, que trata de um trecho da palestra gravada em julho de 1999 com Celso Favaretto. O documentário traz conceito de Arte Contemporânea, artistas e obras que a compõem.

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Trechos do vídeo: “Isto é arte?” (1999) (Fonte: Instituto Itaú Cultural.)

Em seguida mostrarei ainda o vídeo: “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014”, produzido pela Nova Escola. Este vídeo transita pelas obras expostas na Bienal trazendo os seguintes questionamentos: - Como a arte se apropria do mundo? - Quais os espaços da memória? - Onde começa uma forma? - O que é arte Contemporânea?

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Trechos do vídeo: “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014” Nova Escola. (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8-XltLNkOhs. Acessado em 08/04/16)

Solicitarei que os alunos compartilhem as palavras escritas nos papéis para que possam ser debatidas pela turma. As palavras serão coladas em um cartaz com a seguinte indagação: “ISTO É ARTE?” Após o debate mostrarei alguns slides dos artistas que serão abordados durante a aula. Primeiramente o artista Francis Alÿs, que já foi visto em uma aula anterior. Mostrarei especificamente o vídeo que registra a obra: “Às vezes Fazendo Algo não leva a nada” (1997), que é o registro de uma ação que perdurou mais de nove horas, Alÿs empurrou um bloco de gelo pelas ruas da Cidade do México até ser completamente derretido. E assim, por hora após hora, ele lutou com o bloco retangular até que finalmente foi reduzido para não mais do que um cubo de gelo, tão pequeno que ele poderia casualmente chutá-la ao longo da rua.

Slide sobre o artista Francis Alÿs.

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Trechos do vídeo da obra: Às vezes Fazendo Algo não leva a nada, 1997. Francis Alÿs (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PWAMGVnFTAg. Acessado em 11/05/16.)

Farei o seguinte questionamento: “O que é arte na obra de Francis Alÿs? O vídeo ou a ação/experiência?”. Oportunizarei um momento de debate entorno do assunto. Apresentarei alguns aspectos da trajetória artística da artista Lygia Clarck, dando maior atenção à obra “Caminhando” (1964).

Slide sobre a artista Lygia Clark.

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Solicitarei que todos os alunos peguem sua tesoura e cola, em seguida, pedirei para que sentem-se de maneira acomodada. Distribuirei uma fita de papel (5cm X 29cm) para cada aluno e mostrarei como confeccionar a fita de Moebius. Quando todos tiverem confeccionado sua fita de Moebius, solicitarei que em silêncio e concentração, tomem suas tesouras, enfiem uma ponta na superfície do papel e cortem continuamente no sentido do comprimento. Orientarei para tomarem cuidado para não caírem na parte já cortada, para não separar a fita em dois. Quando tiver dado a volta na fita de Moebius, deverão escolher entre cortar à direita ou à esquerda do corte já feito.

Caminhando, 1964. Lygia Clarck (Fonte: Catálogo da exposição “Liberdade em movimento”. Fundação Iberê Camargo, 2014.)

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Quando todos os alunos tiverem passado por esta experiência vou deixar que comparem o resultado da fita uns com os outros. Farei os seguintes questionamentos: “As fitas ficaram iguais?” Supondo que respondam terem ficado diferentes perguntarei: “Por que ficaram diferentes? Nesta obra, o que é arte?” Novamente oportunizarei um momento de debate para que cheguem a seguinte conclusão: “A obra é o seu ato” (CLARK, 1964, p. 2). Em seguida apresentarei a obra “December 2007” (2007), de Mario Garcia Torres. Perguntarei: O que podem ver?

December 2007 (2007) Mario Garcia Torres (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

Deixarei que tirem suas próprias conclusões para, em seguida, explicar que Mario Garcia Torres eterniza o período de um mês em sua obra: “December 2007” (2007), composta por um único slide, completamente branco, que o artista carregou em seu bolso todos os dias ao longo de um mês. Naturalmente, durante este tempo, o slide acabou por riscar-se. Questionarei: O que estes riscos, ranhuras e marcas significam? Acredito que os alunos concluirão que estes riscos são os rastros do movimento do artista que contam uma trajetória de um período determinado pelo artista. Caso essa conclusão não seja obtida pelos alunos, retomarei os temas abordados durante a aula para fazer relação com a obra “December 2007”.

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Solicitarei que peguem os pedaços de papéis que distribuídos no final da aula anterior para que possamos criar um debate em torno do significado atribuído a esse pedaço de papel. Deixarei que os alunos contem o que esse papel passou a significar e qual a trajetória pelo qual ele passou durante a semana. Distribuirei tiras de papel, para que nele, listem todas as coisas que lembram ter passado durante a semana em que estiveram com o papel. Poderão colar tantas tiras de papéis quanto necessário, de acordo com a quantidade de coisas que conseguirem recordar. Para finalizar a aula, deverão colar as tiras de papel, com a lista da memória da trajetória da semana, no pedaço de papel contendo as marcas desta trajetória, em seguida, colocaremos todos os trabalhos em um mural da sala. Terminarei a aula com os seguintes questionamentos: “Onde está representado fielmente a trajetória da semana: no pedaço de papel ou na tira com a lista? Nesta obra, o que é arte?” Após este momento de discussão, a aula será finalizada.

Realizado: Cheguei à escola às 14h para aplicar o estágio com a turma do 9º ano primeiramente. Durante o recreio, que separa as duas aulas, organizei os materiais e o projetor para a apresentação de PowerPoint e vídeos. Quando deu o sinal do final do recreio e o início da nossa aula, às 16h10min, a turma entrou. Vários alunos entraram com o ¼ de folha de desenho branco na mão e queriam me entregar. Falei que eram para permanecer com a folha, pois no momento adequado eu solicitaria que entregassem a mesma. Assim que a turma se acomodou, distribuí cinco pedaços de papéis coloridos para cada aluno. Expliquei que nestes pedaços de papel cada aluno deveria escrever cinco palavras-chaves que achassem significativos a partir dos documentários que serão assistidos. Estas palavras deverão traduzir o significado de Arte Contemporânea. Apresentei no projetor o documentário: “Isto é arte?”, produzido pelo Instituto Itaú Cultural. Trata-se de um trecho da palestra gravada em julho de 1999 com Celso

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Favaretto. O documentário traz conceito de Arte Contemporânea, artistas e obras que a compõem.

Alunos assistindo ao documentário. (Fonte: GRÄF, 2016.)

O volume do áudio era baixo, desta forma, a turma teve que fazer bastante silêncio para ouvir. Os alunos mostraram-se bem atentos e interessados. Logo em seguida ao documentário produzido pelo Itaú Cultural, sem muitos comentários apresentei o segundo vídeo: “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014”, produzido pela Nova Escola. Este vídeo transita pelas obras expostas na Bienal. Novamente os alunos colaboraram fazendo silêncio e prestando atenção para assistir e compreender o vídeo. O vídeo: “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014” trouxe vários questionamentos que aproveitei para dialogar com a turma: Como a arte se apropria do mundo? Os alunos tiveram dificuldade para explicar o significado de se “apropriar”, porém se esforçaram e disseram que arte se apropria do mundo a partir do momento que coloca nas obras elementos da sociedade, da natureza e do cotidiano em geral. Quais os espaços da memória? Uma aluna disse: “Depende do tipo de memória e de quem é essa memória, não deve existir um lugar fixo, depende do artista e o que ele quer fazer com a memória.” Onde começa uma forma?

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Disseram que “A forma começa no primeiro pontinho que o lápis faz no papel quando se faz um desenho, mas na obra que aparece no vídeo, onde tinha um emaranhado de arames, não tem como se saber onde é o começo nem o fim.” Uma menina arriscou a dizer: “Acho que na Arte Contemporânea não precisa ter começo.” A turma mostrou concordar com ela. O que é arte Contemporânea? Para esta questão pedi que compartilhassem as palavras escritas nos pedaços de papéis que eu havia entregado no início da aula. As palavras para a definição de Arte Contemporânea foram:

Palavras escritas uma única vez:

Palavras que foram escritas várias vezes:

- Cultura;

- Sentimento;

- Significativa;

- Mudança;

- Pintura;

- Instalação;

- Ver;

- Cores;

- Delicadeza;

- Formas;

- Ensinamento;

- Sentir;

- Conhecimento;

- Abstrato;

- Diversidade;

- Percepção;

- Intenção;

- Objeto;

- Explicação;

- Transformação

- Expressão;

- Liberdade;

- Polemicas;

- Não precisa ser bonito;

- Trazer sentido;

- Crítica

- Inteligência; Quadro das palavras escritas pelos alunos a partir dos vídeos exibidos.

Pude notar que os alunos realmente prestaram atenção nos vídeos, pois as palavras destacadas haviam sido apresentadas do decorrer da apresentação. Fiquei bem satisfeita com o debate dos alunos, principalmente com indagações em que disseram que a Arte Contemporânea transpassa o olhar contemplativo, deixando de ser uma apreciação do belo, para passar a questionar, transformar o meio, com uso de novos suportes e tecnologias, trazendo novos elementos para o debate sobre o fazer artístico. 160


A turma reproduziu com suas palavras, a fala da Coordenadora Daniela Azevedo, onde ela relaciona a palavra: Contemporâneo como o que se vive atualmente, no presente, da produção artística que acontece hoje. Desta forma, é preciso parar diante uma obra, observar, olhar e estabelecer um contato a partir do que se está vendo, para assim, relacionar com o cotidiano e contexto atual. Falaram também que o sentido da obra pode se diferir de acordo com o ponto de vista do observador. Fernando Cocchiarale (2006, p. 20) crítico de arte e curador da exposição: “É HOJE na arte brasileira contemporânea”, pontua que a grande parte do público leigo avalia a arte contemporânea como algo de difícil compreensão, esperando a explicação verbal de entendidos de arte, como se seus significados só pudessem ser compreendido por meio da palavra:

A crença absoluta no poder esclarecedor da palavra, quando se manifesta no campo da visualidade, cria frequentemente uma inversão: o público ao invés de procurar o significado da obra nela própria (a partir do que vê), espera da palavra alheia do especialista uma explicação de seu sentido poético.

Todas as palavras que permearam o debate, a partir dos vídeos, foram coladas em um cartaz trazendo a seguinte intitulação no centro: ISTO É ARTE? Mostrei o vídeo de registro da obra “Às vezes Fazendo Algo não leva a nada” (1997). A turma estava bem agitada nesse momento, desta forma, tive que pausar o vídeo e pedir atenção, quando os alunos finalmente fizeram silêncio, continuei com a apresentação.

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Trechos do vídeo da obra: Às vezes Fazendo Algo não leva a nada, 1997. Francis Alÿs (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=PWAMGVnFTAg. Acessado em 11/05/16.)

Ao finalizar, expliquei que a ação do artista perdurou por mais de nove horas, onde Alÿs empurrou um bloco de gelo pelas ruas da Cidade do México até ser completamente derretido. E assim, hora após hora, ele lutou com o bloco retangular até que finalmente foi reduzido para, não mais do que, um cubo de gelo, tão pequeno que ele poderia casualmente chutá-lo ao longo da rua. Questionei à turma, o que essa ação representava. Eles basicamente descreveram a ação efetuada pelo artista. Instiguei para que tentassem, a partir de suas percepções, encontrar uma explicação poética nesta ação. Notei dificuldade para abstrair o oculto, porém uma aluna se encorajou a falar: “O gelo vai descongelando e o tempo vai passando, quanto menor o gelo maior a lembrança.” Achei muito interessante a colocação da aluna. Incentivei para que os demais alunos também se expressassem, para isto, retomando o debate anterior em torno da arte contemporânea, onde foi dito que o sentido da obra pode se diferir de acordo com o ponto de vista do observador. Solicitei que me dessem mais pontos de vista. Uma menina falou: “A marca da água que molha o chão pode significar a marca da lembrança, a marca do que aconteceu. Mas como é água, logo vai ser evaporada então somente a memória para guardar.”. Segui questionando: “O que é arte na obra de Francis Alÿs?”. A turma ficou pensando e disseram não saber. Complementei: “O vídeo ou a ação/experiência?”. A maioria da turma respondeu que era o vídeo. Questionei por quê? Disseram que como não era uma pintura não poderia estar em um quadro, desta forma estava em um vídeo. Então perguntei: Em uma pintura, a arte é o que está ali pintado/representado 162


ou a tela/moldura? Responderam que era o que estava pintado/representado. Perguntei novamente: “O que é arte na obra de Francis Alÿs, o vídeo ou a ação/experiência?” Novamente demoraram para responder. Eu os incentivei e disse: “Vamos, me respondam!” Responderam que a ação/experiência do artista era a arte, mas não sabiam justificar. Esclareci à turma que o vídeo é o suporte, a maneira que o artista encontrou para registrar a ação de experiência, pois o vídeo é um dispositivo crítico-poético na linguagem artística. Dei exemplos de efêmero e performances. Luiz Cláudio da Costa (2008, p. 393), comenta sobre o uso da tecnologia na arte ao transferir de um suporte para outro, tornam-se índices de um tempo passado e abertura simultânea para um tempo futuro indeterminado:

São ocorrências artísticas independentes, mas que se relacionam e se implicam nas transferências de um material produzido num suporte (o corpo, o ambiente social, por exemplo) para outro suporte (o vídeo, a fotografia), editando, manipulando e articulando “impressões” (impressos e escrituras eletro-eletrônicas de sensações experimentadas) para produzir uma obra a partir do arquivo.

Dando continuidade à aula, pedi que se acomodassem em suas cadeiras e pegassem suas colas e tesouras. Mostrei a obra “Caminhando”, de Lygia Clark.

Caminhando, 1963. Lygia Clark. (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

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Entreguei uma fita de papel (5cm X 29cm) para cada aluno e mostrarei como confeccionar a fita de Moebius. Quando todos haviam confeccionado a sua fita de Moebius, solicitei que, em silêncio e concentração, tomassem suas tesouras, enfiassem uma ponta na superfície do papel para cortar continuamente no sentido do comprimento. Orientei para que tomassem cuidado para não cortar sobre o corte já feito na fita, evitando que fosse separada em dois pedaços. Expliquei que ao darem a volta na fita de Moebius, deveriam escolher entre cortar à direita ou à esquerda do corte já feito. Mostrei o registro fotográfico da obra de Clark.

Caminhando, 1963. Lygia Clark (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

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Alunos passando pela experiência proposta por Lygia Clark, em sua obra “Caminhando”. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Pedi silêncio à turma, pois queria que se concentrassem no ato de “caminhar”, nas escolhas dos trajetos e rumos escolhidos. Alguns alunos se concentraram, outra parte da turma estava agitada e falando muito. Alguns não conseguiram confeccionar a fita de Moebius, desta forma, retomei a explicação para os que precisaram. Notei que ao final da experiência, as conversas laterais cessaram, os alunos se concentraram no recorte para não romper com a fita. Quando todos estavam satisfeitos com os recortes. Pedi que comparassem os resultados uns com os outros.

Alunas comparando as experiências. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Questionei a turma da seguinte forma: “As fitas ficaram iguais?” Todos responderam que não haviam ficado iguais. Continuei: “Por que ficaram diferentes?” Uma menina que havia feito um recorte minucioso, deixando a fita extremamente fina respondeu: “Ficaram diferentes porque depende de como cada um corta, se é mais calmo ou se quis acabar logo. Depende qual lado escolheu para continuar o recorte.”. Outra aluna disse: “Se cortou mais, a fita ficou maior, mais comprida, mas a quantidade de papel é sempre a mesma.” Achei interessante essa colocação, pois eu mesma não havia chegado a essa linha de pensamento. Perguntei a essa menina se ela podia extrair um significado para essa comparação. Ela ficou pensando e não respondeu nada. Um menino continuou: “Pode ser assim: Como se cada um ganha a mesma quantidade tempo de vida, mas tem uns que conseguem aproveitar mais, fazer mais coisas, andar mais.”. Continuei ainda: “Vamos todos adotar a ideia do colega. Então se todos esse papéis significarem as nossas vidas, o que determinou para que ficassem diferentes?” De imediato uma aluna respondeu: “O caminho que cada um escolheu.” Com essa conclusão da turma, apresentei brevemente a analogia entre a fita de Moebiuse as nossas vidas, onde vamos caminhando sempre em frente, tudo o que experimentamos é único e não se repete, não se pode voltar atrás. As marcas das nossas atitudes, as consequências das nossas escolhas ficam registradas ali para sempre, transformam o papel de um jeito que ele jamais será o mesmo novamente. Pedi: “Na obra Caminhando, o que é a exatamente a obra?”. Os poucos que responderam, responderam que a obra era a experiência. Continuei: “E qual é a experiência?” Uma menina respondeu que a experiência era cortar. Instiguei, a partir do que já havíamos debatido, qual o significado de recortar? Responderam: “Andar e caminhar.” Fiz minhas as palavras de Lygia Clark (1964): “A obra é o seu ato.” Sem introduzir e falar a respeito, reproduzi a obra: “December 2007” (2007), de Mario Garcia Torres.

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December 2007, 2007. Mario Garcia Torres (Fonte: Catálogo Fundação Iberê Camargo. Liberdade em Movimento, 2014.)

Oportunizei um momento de leitura de imagem, deixando que tirassem suas próprias conclusões a partir da obra. Inicialmente não sabiam do que se tratava a obra. Disseram ser uma parede suja. Viram rachaduras. Pedi que tentassem extrair um lado poético na obra. Falaram que as rachaduras eram as consequências da ação do tempo. Disseram-me não saber muito o que dizer e pediram se eu poderia falar o nome da obra. Então revelei: “December 2007” (2007), de Mario Garcia Torres. Instiguei: “Alguma colocação a partir do título da obra?” Não falaram nada. Um trio de meninas estava, durante todo o momento de leitura de imagem, conversando e dando risadinhas. Indiquei a elas dizendo: “E vocês? O que me dizem?” Ficaram um pouco sem jeito, mas não responderam nada, apenas param de conversar. Retomei a colocação, onde relacionaram as rachaduras com a ação do tempo. Falei que ao invés de uma parede, se tratava de uma lâmina reproduzida por um retro projetor. Tive que explicar o que era uma lâmina de retro projetor. Pedi se enxergavam algo diferente agora? Disseram que, desta forma, não eram rachaduras, e sim dobras. “E como essa dobras podem ter sido feitas?” questionei. Disseram ser uma lâmina velha. Parecia que esta obra não estava fazendo muito sentido a eles.

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Não desisti: “Se ela é velha, o que aconteceu com ela que causaram as dobras?” Disseram que amassou de ter ficado atirado por aí. “Por aí aonde?” perguntei. Aleatoriamente foram dizendo: “Em uma caixa. No meio de papeladas. Junto com outros objetos. Dentro de um livro.” Expliquei que o artista Mario Garcia Torres carregou em seu bolso, todos os dias ao longo de um mês, esse slide completamente branco. Pude ouvir um coral de “Aaaaaaaaa” como se tudo fizesse sentido com este esclarecimento. Logo relacionaram com a folha que eu havia entregado na aula passada. Continuei questionando: “E agora, o que significam essas dobras?” Uma aluna levantou a mão para falar. Deixei que falasse. “As dobras são as marcas de todos os lugares que o artista foi nesse mês.” Prossegui: “E como ficou a folha de vocês?” Todos procuraram as suas folhas para mostrar. Os que não haviam trazido, deram desculpas justificando o esquecimento ou relatando o que aconteceu com a folha. Algumas folhas estavam bem amassadas, cheias de marcas e até rasgadas. Outras estavam com poucas marcas, praticamente lisas e brancas. Cada qual com um aspecto particular, uma história diferente. Começou uma explosão de histórias, mas mesmo em meio a agitação podia-se entender os relatos. Uma das alunas disse ter perdido no ônibus, mas que conseguiu recuperar. Outra aluna, que estava com a folha quase intacta, disse que deixou-a dentro do caderno que ficava na mochila que levava por toda a parte que ia. Deixei que compartilhassem as histórias, porém estava fugindo um pouco do controle, foi então que solicitei silêncio, que falassem mais baixo. Custou um pouco até que retornassem a atenção a mim. Fiz uma interrogação final: “Depois de todas essas histórias sobre as folhas de vocês, o que significam as dobras ali impressas?” Novamente, de forma bem bagunçada, saíram despejando as palavras e falaram que as dobras eram as marcas do que haviam feito e vivido durante uma semana. Perguntei: “De que tempo se tratava a semana que passou?” Não entenderam a minha pergunta. Então refiz da seguinte maneira: “Vocês disseram que no papel estão as marcas da semana. Então, ele representa que parte da vida de você?” Um aluno respondeu: “É o passado. A semana que passou.” Continuei: “De que outra forma podemos representar a semana que passou?” Responderam: “Fotos e vídeos”. 168


Entreguei tiras de papel, para que nelas, listassem todas as coisas que lembrassem ter passado durante a semana em que estiveram com o papel. Disponibilizei tantas tiras de papéis quanto necessário, de acordo com a quantidade de coisas que conseguiram recordar. Faltando alguns minutos para o final da aula, pedi que juntassem as tiras de papel, com a lista da memória da trajetória da semana ao pedaço de papel contendo as marcas desta trajetória, em seguida, colocamos todos os trabalhos em um mural da sala.

Mural com as memórias da semana. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Olhei para o mural e pedi para a turma: “Onde está a arte?” Alguns responderam que estava nos papéis com as marcas e nas listas, outros disseram estar nas experiências vividas na semana. Eu realmente queria que eles ficassem instigados e intrigados na singularidade da obra de Torres. A aula estava nos seus minutos finais, não oportunizando maiores debates.

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Os responsáveis pela limpeza varreram a sala e os demais ajudaram na organização das mesas e cadeiras. Dado o sinal, nos despedimos e todos foram para casa.

Análise da aula:

Foi uma aula bastante cansativa para os alunos, pois não estavam habituados a muita teoria. Fiquei contente com a colaboração da turma ao fazer silêncio durante a apresentação dos vídeos, pois a qualidade não estava boa devido defeitos nas caixas de som, porém com a contribuição dos alunos foi possível entender a todos os vídeos. Após assistirmos, tivemos um momento de bate-papo, em que mediei por meio de questionamentos. As respostas dos alunos iam ao encontro ao que havia sido apresentado nos vídeos, fato este, que comprova a atenção dedicada ao assisti-los. O último questionamento que propus foi: O que é Arte Contemporânea? Para responder, pedi que compartilhassem as palavras registradas nos papeizinhos que distribui anteriormente. Entre as palavras as que mais se repetiram, estão: mudança, transformação, liberdade, não precisa ser bonito e crítica. As palavras destacadas demonstram uma síntese do que é arte contemporânea e juntamente esclareceram as concepções de arte contemporânea, contribuindo para a formatação do ponto de vista anterior, em que a turma apontava a arte como algo somente contemplativo e belo. Segundo Bordini (1995, p.12):

Para usufruir plenamente de uma obra de arte, o espectador não pode ficar no nível ingênuo da mera contemplação. Esta aciona a sua percepção das formas e nada mais. Para que ele prossiga, faz-se necessário uma educação dos sentidos, a fim de que reconheçam convenções de representação ou de expressão, de modo a que historicizem o ato perceptivo.

A arte contemporânea procura novos limites, interiores e exteriores, nos diferentes espaços, tempos, materiais, suportes, tecnologias e linguagens. A Arte deixa de ser sustentada apenas por gostos pessoais, necessitando de estudo e reflexão, estimulando o espectador a pensar e interagir com as obras.

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Acredito que os vídeos foram fundamentais para o melhor entendimento de conceitos contemporâneos e interferiram positivamente nos debates seguintes, em relação as obras de Francis Alÿs e Lygia Clark. Os alunos pareciam mais sensibilizados a refletir e passaram a julgar a obra apenas após analisarem seu contexto. Outro ponto forte dessa aula, foi a proposta de passar pela experiência apresentada na obra “Caminhando”, de Lygia Clarck. Neste momento os alunos se concentraram e vivenciaram de forma íntegra, tornaram-se autores do caminho. A partir dessa experiência posso afirmar que os alunos passaram a pensar a arte não apenas como produto final, mas sim como processo e trajeto, proporcionado pelo prazer no ato da experimentação. Caminhando é o nome que dei à minha última proposição. A partir daí, atribuo uma importância absoluta ao ato imanente realizado pelo participante. O Caminhando tem todas as possibilidades ligadas à ação em si: ele permite escolhas, o imprevisível, a transformação de uma virtualidade em um empreendimento concreto. (CLARK, 1980, p.25)

Acredito que também podemos pensar a obra “Caminhando”, como uma passagem literal do espaço bidimensional para o tridimensional, por que se parte de uma estrutura plana (a folha de papel) e se produz uma estrutura que possui um volume. Essa experiência enfatizou o olhar contemporâneo, no qual a arte pode ser experiência viva, já sensibilizando os alunos para as atividades futuras. Durante todas as leituras de imagens, os alunos colaboraram e fizeram reflexões consistentes, segundo meu ponto de vista, foram as melhores leituras desde o início do estágio. A obra de “December 2007”, de Mario Garcia Torres, também foi muito bem aceita pela turma, devido a relação com a proposta que eu havia lançado na aula passada. O momento de socialização das trajetórias, perpetuadas nas marcas do pedaço de papel, foi bem empolgante, desta forma, a aula pôde ser finalizada de maneira mais descontraída após um longo período de teoria.

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Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 11 e 12 – Data: 06/06/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.6. Sexto Encontro Tema da aula: Eternização de Momento

Objetivos: - Conhecer as obras: “Casa de Abelha” (2002), “Abrigo” (1996), “A coleta da neblina” (2002), “A coleta da Maresia” (2001) e “A Coleta do Orvalho” (2001), de Brígida Baltar; - Compreender os conceitos de Efêmero e Ready Made, a partir da observação destas propostas na Arte Contemporânea;

Conteúdos: - Obras: “Casa de Abelha” (2002), “Abrigo” (1996), “A coleta da neblina” (2002), “A coleta da Maresia” (2001) e “A Coleta do Orvalho” (2001), de Brígida Baltar; - Conceitos Efêmero e Ready Made.

Lista de atividades: - Apresentação de slides com leitura de imagem referentes as obras de Brígida Baltar; - Assistir ao vídeo em que Brígida Baltar explica sua proposta na exposição da 25ª Bienal Internacional de São Paulo (2002). – Vídeo produzido pela Enciclopédia Itaú Cultural (2008). - Lançar a proposta de coletar captar o intangível. Registra através de fotos ou vídeo; - Prática Artística em grupo de expressar o significado do conceito “Abrigo” nas suas vidas.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; - Leitura de imagem; - Atividade prática em grupo.

Materiais: - Projetor; 172


- Papel pardo; - Material para desenho; - Garrafinhas plásticas.

Avaliação: Será avaliada a participação durante as leituras de imagens e a criatividade durante a prática artística.

Planejado: Chegarei na escola com 15min de antecedência para organizar o material que será exposto no projetor. Assim que a turma entrar na sala, deixarei que se organizem em suas mesas e prestem atenção para que eu possa mostrar a apresentação de slides referente às obras da artista Brígida Baltar.

Slide de contextualização da artista Brígida Baltar.

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Explicarei qual a proposta da artista e, desta forma, darei o significado do conceito Efêmero na arte contemporânea, para que fique mais claro o trabalho realizado por ela.

Slide do conceito Efêmero.

Mostrarei a obra: “Abrigo” (1996), de Baltar, porém mostrarei cada foto da obra separadamente, sem o nome da mesma, desta forma quero instigar a turma a fazer a leitura de imagem sem que sejam induzidos pelo título. Após cada imagem que mostrarei, darei um tempo para tirarem suas conclusões em torno da obra, pedindo que digam o que podem ver, perceber, sentir? Segundo suas percepções, qual a intenção da artista? Quando já tivermos feito a leitura de imagem das quatro fotos, mostrarei as mesmas, lado a lado, desvendando o nome intitulado pela artista.

Slide apresentação da obra de Brígida Baltar.

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Questionarei: “E agora, qual a percepção de vocês?” Deixarei que a turma se expresse, para em seguida, explicar qual a intenção da artista na realização desta obra. Apresentarei a obra: “Casa de Abelha” (2002), de Brígida Baltar, e solicitarei que digam o que conseguem ver, perceber e sentir. Novamente mostrarei o nome da obra apenas após a leitura de imagem.

Slide apresentação da obra de Brígida Baltar.

Para que possam compreender a intenção da artista em torno das obras que remetem a abrigo, acolhida e aconchego, mostrarei o vídeo produzido pela Enciclopédia Itaú Cultural, onde a artista fala sobre as obras expostas na 25ª Bienal Internacional de São Paulo (2002).

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Trechos do vídeo: Brígida Baltar, 2008 - Enciclopédia Itaú Cultural (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/. Acessado em 04/04/16)

Após assistir ao vídeo farei os seguintes questionamentos: - Qual a relação entre Abelha e Casa? Qual o significado do mel nesta obra? - Quais os elementos da casa, que Brígida usa nas suas obras? Vou questionar à turma para que cheguem a conclusão das abelhas como uma das espécies responsáveis por adoçar o mundo, e o mel, afeto, relacionando assim, a casa como um centro produtor de afetividades. Em seguida, mostrarei as obras de ready mades realizadas pela artista ao coletar elementos naturais, transitórios e efêmeros como neblina, orvalho, maresia e depositando dentro de pequenos receptáculos. Falarei sobre o significado do conceito: Ready Made, para tornar mais claro o trabalho de Brígida.

Slide do conceito Ready Made.

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Mostrarei apenas as fotos dos ready mades, sem apresentar os títulos das obras, para que novamente possam dar suas opiniões em torno da obra sem serem influenciados.

Slides das obras de Brígida Baltar.

Após as leituras de imagens apresentarei os nomes das obras e explicarei a intenção e proposta da artista ao captar o inatingível. Lançarei a proposta de capturar uma sensação. Pedirei que escolham uma sensação ou um momento que gostaria de guardar para sempre. Este momento ou sensação deverá ser coletado e armazenado dentro de um recipiente de plástico no formato de garrafinhas que distribuirei. Para registrar este ready made, deverão tirar no mínimo uma sequência de três fotos ou um vídeo de 1minuto e entregar juntamente com o recipiente na aula que vem.

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Recipiente para a coleta. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Após lançada esta proposta, explicarei a tarefa a ser realizada durante o tempo restante da aula. Deverão formar grupos de cinco alunos, cada grupo receberá um pedaço de papel pardo, no qual, um dos integrantes do grupo deverá deitar-se sobre e traçar o contorno do corpo. Dentro do espaço do contorno do corpo, o grupo deverá representar, a partir de desenhos e escrita, o significado de abrigo. Orientarei para que pensem nas suas vidas e no cotidiano, para que assim possam encontrar onde é este lugar que traz aconchego, acolhimento e abrigo. Quando o tempo da aula estiver se esgotando distribuirei as embalagens para a realização do ready made de coleta e solicitarei que guardem os materiais, entreguem os trabalhos em grupo e reorganizem a sala.

Realizado: Cheguei à escola às 14h05min para aplicar o estágio com a turma do 9º ano primeiramente. Ás 16h10min bateu o sinal do final do recreio e todos os alunos entraram na sala. Entraram de forma bem agitada, como de costume, mas quando pedi colaboração, educadamente se acomodaram e fizeram silêncio. 178


Inicialmente apresentei a artista Brígida Baltar e fiz um breve comentário para contextualização da artista.

Artista Brígida Baltar. (Fonte: http://lulacerda.ig.com.br/. Acessado em 12/03/16.)

Para dar continuidade a apresentação das obras de Brígida, considerei importante explicar o significado de Efêmero:

Slide conceito de Efêmero. (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/#!q=efemero. Acessado em 12/03/16.)

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Mostrei a obra “Abrigo” (1996), de Baltar. Cada foto da obra separadamente, sem o nome da mesma, para, desta forma, instigar a turma a fazer a leitura de imagem sem que fossem induzidos a partir do título.

Abrigo, 1996 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado e 16/03/16)

Quando mostrei a primeira foto, a turma disse que parecia uma mulher tímida, que estava sobre um pedaço de madeira em frente a uma parede. Uma menina falou do tom de preto da roupa da artista, fazendo referência ao estado de luto. Na segunda foto, falaram que a mulher havia cavado a parede para se esconder. Comentaram que a mulher estava olhando para fora de uma janela visualizando o mundo e, assim, se escondendo do mesmo. Acredito que ao longo das inúmeras leituras de imagem, a turma começou a captar as mensagens crítico-poético das obras, pois estavam mais participativos e envolvidos nesta prática. Após apresentar a terceira imagem, a turma continuou com a mesma percepção já exposta na fotografia anterior. Estavam relacionando a obra como um esconderijo do mundo turbulento. Passando para a quarta e última fotografia, não sabiam mais o que dizer. Instiguei que me dessem mais características do local. Falaram que era um lugar bem iluminado, a parede estava pintada de branco com uma faixa acinzentada na parte mais baixa. Os tijolos eram uma mistura de marrom e vermelho. Continuei questionando: “Que lugar é este?” Responderam que deveria ser a casa da mulher. Apresentei as quatro fotografias, lado a lado, da mesma forma que estão dispostas acima. Pedi se, desta forma, mudavam a percepção. Continuaram com a mesma opinião já formada. 180


Revelei o nome da obra. A turma confirmou sua percepção, onde relacionaram o termo abrigo como esconderijo. Revelei a real intenção da artista na obra “Abrigo” (1996), onde Brígida Baltar esculpiu sua própria silhueta em uma parede de sua residência, de forma, a acolher seu corpo e, ao entrar nesse casulo, torna-se parte da casa na qual habitava. O resultado é uma série de fotografias que questiona temas como acolhimento, proteção e os limites entre o físico e o emocional. Apresentei a obra: “Casa de Abelha” (2002), de Brígida Baltar, e solicitei que dissessem o que viam e sentiam. Novamente não revelei o nome da obra.

Casa de Abelha, 2002 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado em: 12/03/16.)

A turma disse que a artista estava em meio a natureza com uma roupa amarela e estranha. Questionei por que parecia estranha? Falaram que era um tecido que fazia ondas. Uma menina relacionou a uma técnica de costurar tapetes artesanais que a avó dela usava. Mostrei o nome da obra. Logo associaram a cor amarela a colmeia das abelhas e ao mel. Disseram que ela estava vestida de abelha e estava entre as flores para recolher o pólen. Para explicar os trabalhos da artista e suas poéticas abordadas, apresentei o vídeo produzido pela Enciclopédia Itaú Cultural, onde a artista fala sobre as obras expostas na 25ª Bienal Internacional de São Paulo (2002).

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Trechos do vídeo: Brígida Baltar, 2008 - Enciclopédia Itaú Cultural (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/. Acessado em 04/04/16)

Pedi que fizessem bastante silêncio, pois o volume era bem baixo. Também solicitei que se aproximassem das caixas de som que eu havia levado para facilitar o entendimento. No início da apresentação a turma estava conversando um pouco, mas logo em seguida, mostraram-se bem atentos. Após terem assistido ao vídeo fiz algumas perguntas aos alunos. “Qual a relação entre Abelha e Casa? Qual o significado do mel nesta obra?” A turma logo trouxe para as suas respostas questões que foram ditas pela artista no vídeo. Uma menina disse: “A casa é como uma colmeia. O mel é doce e significa que a casa é um lugar de carinho e amor.” Outra menina falou: “A artista falou que a casa é um lugar que produz coisas boas.”. “Quais os elementos da casa, que Brígida usa nas suas obras?” Questionei. Citaram os tijolos, o pó, a reprodução do desenho do piso e, por fim referiram-se aos sentimentos. Perguntei: “Como assim, os sentimentos?” Um aluno respondeu: “Porque ela inventa um jeito de mostrar nas obras o carinho, amor, segurança e conforto que ela encontra na casa.”.

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Em seguida apresentei as imagens fotográficas das obras de ready mades realizadas pela artista ao coletar elementos naturais, transitórios e efêmeros como neblina, orvalho, maresia e depositando dentro de pequenos receptáculos. Perguntei se sabiam o que era Ready Mades? Como eu imaginara, responderam que não. Apresentei um slide com a definição do termo para facilitar o entendimento:

Slide do conceito Ready Made.

Após ter esclarecido o conceito, mostrei as obras de coletas da série “Umidades”, de Brígida Baltar, a seguir, porém não dei uma explicação prévia nem mostrei os nomes das obras.

A coleta da neblina, 2002 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado em: 16/03/16.)

Disseram que era uma mulher com um colete cheio de vidros. Pedi que me dissessem o que ela estava fazendo com os vidros. Responderam que ela estava pegando o ar. Falei o nome da obra. Esperava que eles ficassem admirados, mas não reagiram 183


desta forma. Pedi se encontravam um dos conceitos que eu havia acabado de explicar nesta obra? Não se lembraram o nome, mas responderam que podia ser o conceito que falava do objeto, pois a artista estava usando garrafas de vidro. Concordei. Passei para a próxima obra de Baltar:

A coleta da Maresia, 2001 Brígida Baltar (Fonte: http://lounge. obviousmag.org. Acessado em: 16/03/16.)

Pedi aos alunos qual a percepção que podiam ter a partir do que viam. Já tendo conhecimento do trabalho da artista, responderam: “A artista está pegando o ar do mar ou as ondas do mar.” Apresentei a última obra:

A Coleta do Orvalho, 2001 Brígida Baltar (Fonte: http://www.revistab.com.br. Acessado em: 16/03/16.)

De imediato disseram que estava coletando a mesma coisa da primeira obra apresentada da série “Umidades”. Uma menina atentou e disse que não era a mesma coisa porque a artista não estava usando o colete com os vidros. Mas não chegaram a conclusões precisas. Apresentei o nome da obra e, desta forma, revelando a coleta representada. Terminado este momento de leitura de imagens, lancei a proposta de capturar uma sensação. Pedi que escolhessem uma sensação ou um momento que gostariam de guardar para sempre. Expliquei que este momento ou sensação deverá ser coletado e 184


armazenado dentro do recipiente de plástico, no formato de garrafinhas que distribui. Deixei claro que para registrar este ready made, deverão tirar no mínimo uma sequência de três fotos ou um vídeo de 1minuto e entregar juntamente com o recipiente na aula seguinte.

Recipiente para a coleta. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Após lançada esta proposta expliquei, que no tempo restante da aula, deveriam formar grupos de cinco alunos, entreguei um pedaço de papel pardo onde, um dos integrantes do grupo teve que deitar sobre e traçar o contorno do corpo. Dentro do espaço do contorno do corpo, o grupo teve que representar, a partir de desenhos e escrita, o significado de abrigo, fazendo referencia a obra “Abrigo” (1996), de Baltar. Orientarei que pensassem nas suas vidas e no cotidiano, para que assim pudessem encontrar onde é este lugar que traz aconchego, acolhimento e abrigo.

Alunos na representação de Abrigo. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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A turma demorou para organizar-se nos grupos, tive que chamar atenção de alguns alunos que estavam fazendo atividades de outras disciplinas e não queriam participar da proposta. Faltando 15min para o término da aula, pedi que guardassem os materiais e reorganizassem a sala para que pudéssemos fazer um breve compartilhamento das ideias apresentadas nos cartazes. Devido ao curto tempo até o termino da aula, o debate em torno do significado de “Abrigo” não pôde ser extenso. Desta forma pedi que compartilhassem de forma sucinta, o sentido que deram ao termo abrigo. Os significados se repetiram nos grupos e os de maior relevância foram a relação da casa com segurança, carinho, união, amor, família e oração. Penduramos os cartazes na parede externa da sala. Dado o sinal nos despedimos e todos foram embora.

Análise da aula:

Novamente a aula foi bastante teórica trazendo vários conceitos. Vejo que a turma já se adaptou melhor à metodologia, pois estão mais receptivos em relação às imagens e artistas apresentados. Durante as leituras de imagens das obras da artista Brígida Baltar, pude notar que os alunos estão mais reflexivos e críticos, deixando de valorizar o belo somente, explorando aspectos expressivos e tentando desvendar a intenção do artista. Segundo Parsons (1992, p.41), os alunos se encontrariam no terceiro estágio, que “(...) constitui um avanço porque nos permite perceber a irrelevância da beleza do tema, do realismo estilístico, e da habilidade artística.” Quando apresentei as obras de “Coleta”, de Baltar, percebi que a turma estava um pouco cansada e menos participativa, acredito que isto também impactou na pouca dedicação que os grupos tiveram na atividade em que tiveram que representar o significado de Abrigo. Também percebo que eu deveria ter apresentado a proposta de forma diferente, pois solicitei que representassem de forma coletiva, porém os grupos demoraram para chegar em um acordo do significado de Abrigo. Caso eu tivesse solicitado para que

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representassem de forma individual, porém em um suporte menor, acredito que a proposta teria alcançado melhor os seus objetivos.

Colégio Estadual Presidente Castelo Branco 1º ano do Ensino Médio Plano de aula 13 e 14 – Data13/06/16 Horário: 16h10min às 17h43min

3.3.7. Sétimo Encontro Tema da aula: Aula Final – Eternização de Momento/Sensação.

Objetivos: - Compartilhar as performances e ready mades produzidas pelos alunos; - Responder um questionário avaliativo do estágio.

Conteúdos: - Ready made.

Lista de atividades: - Responder ao questionário de avaliação das aulas realizadas no estágio. - Conversar sobre o projeto de ensino realizado; - Apresentação das performances gravadas e ready mades produzidas pelos alunos a partir das obras de Brígida Baltar; - Responder a um questionário de avaliação das aulas realizadas no estágio.

Metodologia: - Aula expositiva e dialogada; - Aplicação de questionário individual;

Materiais: - Projetor; - Questionários; 187


- Obras dos alunos; - Questionário individual.

Avaliação: Será avaliado o interesse no debate, concentração durante o preenchimento do questionário, comprometimento e criatividade na realização do ready made e performance da coleta.

Planejado: Recepcionarei os alunos na sala de artes. Pedirei que se sentem e acomodem-se nos seus lugares. Será a última aula do projeto e o objetivo será realizar uma síntese do que os alunos aprenderam com as aulas. Vou solicitar que respondam um questionário com apenas cinco questões: Distribuirei os questionários para serem respondidos individualmente, mas antes que os alunos o façam, pretendo conversar um pouco sobre as perguntas do questionário para esclarecer as dúvidas. Enquanto os alunos estiverem respondendo ao questionário, eu recolherei os vídeos e fotos trazidos em formatos virtuais referentes a aula anterior, desta forma salvarei os mesmos em meu computador para em seguida poder reproduzi-los à turma. Quando os alunos tiverem concluído o questionário, solicitarei que afastem as classes e cadeiras para que se sentem em roda no chão da sala. Cada aluno deverá ter em mãos o seu Ready Made de coleta.

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Questionário individual

Cada aluno terá a sua vez de explicar a sensação da experiência de coleta do intangível, o que coletou e qual o motivo da escolha. Após a explicação do aluno, mostrarei o vídeo ou foto referente ao seu ready made. Próximo do fim da aula, espero conseguir realizar uma conversa final sobre as opiniões a respeito do projeto. Vou agradecer pela participação da turma nas propostas do projeto de ensino e pelo espaço cedido pela professora titular. 189


Realizado: Cheguei à escola às 14h para aplicar o estágio com a turma do 9º ano. Durante o recreio que separa as duas aulas, a professora titular veio me avisar que após o sinal eu deveria ir até a sala da turma 1N1, pois a vice-diretora iria precisar conversar com os alunos. Hás 16h10min tocou o sinal e eu me dirigi até a sala de aula da turma 1N1. Tentei abrir a porta e, a mesma estava trancada, então bati. Um menino abriu a porta e espiou, ficando espantado ao me ver. Abriu a porta e ligou as luzes. Quando entrei, a turma estava me esperando com uma confraternização para comemorar e agradecer pela minha prática.

Turma 1N1 na confraternização. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Uma aluna leu uma mensagem de agradecimento, em nome de toda a turma. Me emocionei muito com a surpresa, pois não estava esperando. Fiquei extremamente feliz, porque pude perceber que os alunos gostaram das aulas e, que de uma forma ou de outra, foram significativas para as suas vidas.

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Cartão presenteado pelos alunos. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Também aproveitei o momento para demonstrar minha gratidão em poder realizar minha prática de estágio com esta turma. Agradeci pela colaboração de todos. Pedi desculpas por eventuais descontentamentos e imprevistos. Se tratando de uma turma de Curso Normal, que futuramente também deverão passar por uma prática semelhante, desejei que todos pudessem alcançar suas realizações profissional e pessoal, pois ser professor é acreditar no futuro. Disse-lhes que deveriam ter em mente, que ser professor é ser pesquisador para o resto da vida e, mesmo tendo o maior conhecimento e experiência do mundo, as coisas nunca saem exatamente como planejadas. Cada aluno havia levado um lanche para compartilhar. Comemos e nos divertimos. Visto que todos estavam parando de comer, sugeri que guardássemos as coisas para que eu pudesse finalizar a prática de estágio. Recolhemos as coisas e fomos para a sala de artes. Expliquei que deveriam responder algumas questões, a fim de poder visualizar de forma sistemática do entendimento da turma em torno dos conhecimentos abordados na prática. Li todas as questões e expliquei-as brevemente. Enquanto os alunos respondiam ao questionário, eu recolhi os vídeos e fotos trazidos em formatos virtuais que foram solicitados na aula anterior, desta forma salvei os mesmos em meu computador. Infelizmente não deu tempo de apresentá-los a turma, apenas pedi que, de forma sucinta, compartilhassem com os colegas a experiência de coletar o inatingível. 191


Foi um bate-papo bem rápido, pois a aula já estava chegando fim. Comentaram que havia sido estranho fazer esta coleta, mas que ao mesmo tempo foi legal, pois nunca haviam passado por algo assim. Um aluno falou: “Me senti um louco!” A turma deu risada do comentário. Pude notar que foi difícil para os alunos, coletar algo sem que ele fosse visual, pois a maioria da turma teve a necessidade de colocar alguma coisa física dentro do recipiente. Porém as coletas

foram bem diferenciadas e trouxeram elementos

carregados de afetividade e admiração. Dos 21 alunos, 6 trouxeram as coletas e o registro em foto da mesma:

Coleta do perfume e pétalas de rosa da aluna Andrieli. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

Coleta do Momento de Arrumação da Casa da aluna Leandra. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

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Coleta da Maior paixão da aluna Brenda. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

Coleta de mecha capilar da aluna Ana Júlia. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

Coleta da Infância da aluna Vitória. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

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Coleta do Amor da aluna Juandra. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

A aluna Ana Maria, registrou em vídeo a Coleta do Momento em família:

Trechos do vídeo da Coleta do Momento em família da aluna Ana Maria. (Fonte: ALUNA, 2016.)

Cinco alunos não trouxeram nenhuma forma de registro da coleta, apenas o recipiente e nove alunos não fizeram a coleta:

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Coleta de amor e carinho da aluna Tainá. (Fonte: GRÄF, 2016)

Coleta das Notas Músicas da aluna Elisandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Coleta de Perfume da aluna Karine. (Fonte: GRÄF, 2016)

Coleta da Vida natural, do aluno Willian. (Fonte: GRÄF,2016.)

Coleta de Sorriso, união e felicidade da aluna Marchelly. (Fonte: GRÄF, 2016)

Armazenamos todas as coletas dentro de um vidro e expomos no saguão de entrada do colégio.

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Coletas da turma. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A sala não precisou ser limpa, pois não havíamos usados materiais que sujasse-a, desta forma, apenas organizamos. Novamente agradeci a oportunidade e me despedi da turma.

Abraços finais da aula. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Segundo a avaliação final do estágio, no qual os alunos puderam escrever suas percepções e opiniões gerais do projeto de ensino, pude notar que o tema escolhido foi realmente pertinente, pois todos os alunos escreveram que as experiências vivenciadas no projeto foram positivas e significativas na vida deles.

Resposta do aluno Valter. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Karine. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Na questão “2” da avaliação, foi solicitado que escolhessem um momento do projeto de ensino para eternizar. As respostas foram bem diferentes, desta forma, praticamente todas as experiências foram contempladas, significando que o projeto foi ao encontro das necessidades e interesses da turma, no entanto os momentos mais citados para eternizar, foram: coleta, receptáculo da memória, eternização de uma semana em um pedaço de papel e desconstrução do objeto de infância.

Resposta da aluna Leandra. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Resposta da aluna Eduarda. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Andriele. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Vitória. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Quando questionei qual dos artistas teria chamado mais a atenção, os artistas mais mencionados foram Iberê Camargo, Paulo Gaiad e Brígida Baltar.

Resposta da aluna Emanuelle. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Resposta da aluna Suelen. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Ana Júlia. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Na quarta questão, direcionei para uma análise mais formal do conteúdo apresentado durante as práticas, na qual solicitei que escolhessem um dos termos apresentados, para que descrevessem seu significado. Pude notar que os alunos assimilaram as explicações dadas em aula e souberam identificá-los nas obras apresentadas.

Resposta da aluna Luíza. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Resposta da aluna Gabriela. (Fonte: GRÄF, 2016.)

A última questão, foi um espaço para que pudessem dar suas considerações sobre as aulas. As respostas foram bem satisfatórias, pois os alunos elogiaram a proposta realizada. Fiquei emocionada ao ler as opiniões dos alunos sobre as aulas.

Resposta da aluna Andriele. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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Resposta da aluna Marchely. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Vitória. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta do aluno Willian. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Resposta da aluna Bruna. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Análise da aula:

Fui surpreendida com uma confraternização preparada entre os alunos para comemorar o estágio. Fiquei lisonjeada com a surpresa através deste ato de carinho. Após a confraternização os alunos responderam ao questionário que permeou temáticas, conteúdos e assuntos trabalhados durante o estágio.

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Durante o tempo que os alunos respondiam ao questionamento, eu fiz as cópias das imagens e vídeos do registro da coleta. Quando todos haviam terminado de responder as questões, pedi que cada aluno falasse a respeito da experiência de coletar algo, até então inatingível. Infelizmente, apenas 7 alunos fizeram o registro, em foto ou vídeo, da coleta, porém outros cinco alunos fizeram a coleta e trouxeram apenas o recipiente. A maioria dos alunos teve a necessidade de colocar algum elemento físico dentro do recipiente, apesar de não ter sido proposto. Foi possível notar poéticas pessoais, pois as coletas estavam carregadas de sentimentos íntimos de afetividade e admiração. Desta forma acredito que a essência do objetivo proposto foi alcançado, pois segundo Baltar, em entrevista para Katia Canton (2009, p.68):

Qual o sentido desta coleta? Está num lugar mais existencial do que estético; um lugar de desmaterialização, que transforma algo que é efêmero, imaterial, não coletável, na ideia de contemplação, de subjetividade.

A arte contemporânea propõe experiências que ultrapassem a mera experimentação artística, enfatizando o processo e não o resultado, articulando o questionamento, a descoberta, a investigação e a continuidade. Acredito que as propostas desenvolvidas no estágio contribuíram para que os alunos tivessem um melhor entendimento a respeito da arte contemporânea, podendo notar maior valorização em relação a importância da disciplina.

O que a arte na escola principalmente pretende é formar o conhecedor, fruidor, decodificador da obra de arte. Uma sociedade só é artisticamente desenvolvida quando ao lado de uma produção artística de alta qualidade há também uma alta capacidade de entendimento desta produção pelo público (BARBOSA, 2005, p32).

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CONCLUSÃO Neste trabalho relato a prática de ensino aplicada na turma de 1º ano do Ensino Médio, no qual abordei a arte no contexto contemporâneo inserida na perspectiva da memória, lembrança e eternização de momentos. Esta prática de ensino faz parte da grade curricular do curso de Artes Visuais da Ulbra, estando contextualizada dentro de três etapas. No primeiro momento, observei e sondei os interesses e necessidades dos alunos de duas turmas, uma do Ensino Fundamental e outra do Ensino Médio. Em seguida, apliquei e registrei a prática de ensino nos mesmo níveis observados anteriormente e, na última etapa, escolhi a prática de ensino que suscitou maiores peculiaridades para analisar e desenvolver o trabalho descrito no presente momento, no caso o Ensino Médio. Dentro da linearidade da proposta do curso, me esforcei para cumprir com ética, responsabilidade e competência o meu dever de aluna estagiária, desta forma, do momento da elaboração até a finalização deste projeto, fui embasada, inspirada e instigada por colegas, amigos, alunos de estágio, familiares, professores e orientadores muito competentes. Em um olhar retrospectivo da minha memória, posso ressaltar alguns pontos que foram fundamentais na construção e caminhada deste trabalho, iniciando-se na primeira etapa de observação e sondagem da turma de 1º ano do Ensino Médio no ano de 2015, no qual notei que os alunos não davam devida importância para a disciplina de artes, pois segundo o questionário que apliquei, uma parcela considerável de alunos, respondeu que achavam as aulas de artes “mais ou menos” importantes. Durante as observações, a partir de diálogos que fiz com alguns alunos, eles não sabiam dizer quais os artistas que já haviam trabalhado, porém no questionário responderam que faziam visitas a museus com a escola, desta forma demonstra que as visitas provavelmente deveriam ser descontextualizadas dos conteúdos trabalhados em sala. Durante todo o período em que observei a turma, estavam trabalhando “Luz e Sombra”, porém em todas as observações não foi citado nenhum artista, pareciam que estavam simplesmente trabalhando uma técnica de desenho.

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Segundo meu ponto de vista, observei que uma mesma atividade se estendia por um período muito longo de aulas, desta forma, os alunos que haviam concluído suas atividades ficavam ociosos e, na maioria das vezes, faziam bagunça. Dentro destas problemáticas me senti motivada a mostrar a importância da arte e fazê-los entender que ela está além de técnicas de desenho, de obras expostas nos museus e destinada a pessoas habilidosas, que possuam algum “dom artístico”. Percebo que a arte contemporânea aborda muitos temas cotidianos, com os quais existem maiores possibilidades de identificação do público adolescente com estes assuntos. Vejo que a arte ora se aproxima, ora se distancia do público, de acordo com o nível de envolvimento e entendimento da obra. Porém vejo na arte contemporânea maior interação entre artista, obra e expectador, desta forma tornando-a mais significativa e marcante na memória. Escolhi o tema relacionado a arte contemporânea, pois considero-a fundamental para a construção de um olhar crítico que permite ver além do óbvio, instigando a busca pelo sentido e reflexão, incluindo a sensibilidade e atenção. É dar ao aluno a oportunidade de ver mais do que lhe é dado a ver. O olhar crítico desconfia, reelabora e reconfigura, através do exercício da pesquisa, do conhecimento e análise para o seu entendimento. Neste sentido Ana Mae (2012, p. 33) afirma que a epistemologia da arte se organiza inter-relacionando o fazer artístico, a apreciação da arte e a história da arte, uma vez que “O conhecimento em artes se dá na interseção da experimentação, da decodificação e da informação”. Após a escolha do tema, necessitei selecionar uma vertente a ser discutida. Desta forma recorri a minha bagagem pessoal e me lembrei de uma visita muito marcante à Fundação Iberê Camargo no dia 31 de maio de 2014. Neste dia participei da formação de professores para a abertura da exposição “Liberdade em movimento”, com a curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. A exposição apresentava as obras no contexto de consolidação do ato de caminhar a deriva como uma prática artística. Interpretei e analisei que estes caminhos, traçados pelo ato de caminhar, deixavam um passado indestrutível na percepção da memória. Tudo que contamos, sabemos, lembramos, faz referência a uma lembrança da memória do que ouvimos, lemos, estudamos no nosso passado. O presente é passado! Não podemos negar que levamos em nossa memória fatos determinantes para construir o dia de hoje. Nossas escolhas atuais dependem intimamente de decisões do passado,

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desta forma, relaciono o Caminho à Memória, em que um depende do outro. O caminho de hoje será a memória de amanhã. A memória de hoje destinará o caminho de amanhã. Com a poética da arte, faço as palavras memória e caminho estarem intimamente ligadas por um elo de conexão entre passado e presente. A exposição visitada, na Fundação Iberê, contemplou os artistas Francis Alÿs, Lygia Clarck e Mario Garcia Torres, e a partir destes artistas este projeto de ensino foi impulsionado. Nas aulas iniciais, em especial na primeira aula, os alunos não se sentiam totalmente à vontade comigo, pois não interagiam e participavam pouco durante as leituras de imagens. Ao longo dos encontros a turma passou a depositar mais confiança em mim e a aula passou a tomar um rumo muito mais significativo, pois passei a ter certeza de que o que eu falava fazia sentido a eles. Passaram a responder com mais segurança e determinação, e suas falas passaram a se relacionar com aulas e conteúdos anteriores. Demonstravam mais maturidade e propriedade para se expressarem frente ao grupo, demonstrando maior domínio em torno da arte. Tive alguns momentos de angústia durante o início do estágio, pensando que não conseguiria dar conta de todo o conteúdo, ou que os alunos não compreendessem minhas palavras. De forma muito flexível precisei adaptar alguns planos de aula, para se encaixar dentro do perfil da turma. Necessitei acrescentar ao planejamento, conceitos da linguagem da arte, pois a turma possuía pouco entendimento dos termos que eu utilizava, desta forma, julguei importante apresentar, em pequenas doses, conceitos que seriam relevantes e básicos para o entendimento de alguns vídeos que mostrei nos encontros finais. Os conceitos abordados foram: Instalação, Assemblage, Ready Made, Efêmero e Performance. Foi muito positivo perceber que estes conceitos seriam importantes para o entendimento futuro dos conteúdos que seriam abordados. Pode-se notar tal contribuição durante a análise do documentário, apresentado no quinto encontro, produzido pela Nova Escola: “O que é Arte Contemporânea – O exemplo da Bienal 2014”, um dos alunos fez referência ao termo instalação, dizendo: “A forma começa no primeiro pontinho que o lápis faz no papel quando se faz um desenho, mas na obra que aparece no vídeo, onde tinha um emaranhado de arames formando uma instalação, não tem como saber onde é o começo nem o fim.” Em outra situação de análise das obras de Brígida Baltar, no sexto encontro, um aluno relacionou as ações da artista ao conceito performance: “ela inventa um jeito de 205


mostrar através de performances o carinho, amor, segurança e conforto que ela encontra na casa.” De fato, este olhar futuro, contribuiu fortemente para a compreensão e contextualização da arte contemporânea. O segundo encontro foi muito descontraído, contribuindo para diminuir a tensão e fortalecer nossos laços. Disponibilizei tinta para que fizessem a desconstrução da forma do objeto de infância que diz respeito aos objetos que possuem status maiores em nossas lembranças, pois, os mesmos, remetem a fatos, circunstâncias e sentimentos marcantes do tempo passado perpetuados na memória. Solicitei que dessem ênfase ao sentido, espaço e importância que o objeto ocupava na memória de cada um. Deveriam desconstruir o estereótipo da forma dando espaço para a poética do objeto escolhido, deixando-se conduzir pela relação existente entre eles e o objeto. Durante essa proposta os alunos se libertaram da formalidade do lápis, podendo se expressar e demostrar a criatividade através da arte. Enquanto os alunos realizavam a proposta, eu circulava pela sala para conversar e conhecer melhor cada um deles, questionava em torno do que estavam pintando para sondar as escolhas que faziam na pintura. Pude compreender um pouco melhor a realidade em que cada um estava inserido, pois a releitura de desconstrução do objeto da lembrança de infância contava um pouco da história de cada um. Como no exemplo abaixo, em que o aluno representa o tênis, já muito calejado em virtude de todas as experiências vividas com o mesmo, em especial as brincadeiras e a vivacidade da infância, notadas pelas cores vibrantes. Os traços representam as andanças percorridas com o tênis.

Pintura do aluno Valter. (Fonte: GRÄF, 2016.)

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A medida que os encontros passavam, percebi que a turma amadurecia suas reflexões e percepções acerca das obras dos artistas, fazendo relações entre a teoria e a prática. Essas reflexões mais pertinentes, se deram aproximadamente a partir do terceiro encontro, no qual relacionaram espontaneamente as obras de Paulo Gaiad com as obras de Iberê Camargo, fazendo comparativos no uso das cores, e consideraram Iberê mais expressivo, pois utilizava mais cores em relação a Gaiad.

Paisagem a caminho de Dresden, 1995. Paulo Gaiad (Fonte: http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/. Acessado em: 28/05/16.)

Carretel azul, 1981. Iberê Camargo (Fonte: Cem Anos de Iberê, por Luiz Camillo Osorio (2014). Acessado em 23/03/16.)

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Percebi que tomavam as obras de Iberê como referência para analisar algumas obras sequentes, provavelmente porque era o único artista que já conheciam, pois havia sido trabalhado com a professora titular ou porque foi o ponto de partida para a primeira atividade que desenvolveram no projeto de ensino. O terceiro encontro foi muito importante para mostrar que a arte contemporânea revela sua potencialidade através da simplicidade da exploração de diversos materiais e suportes, tornando-a acessível a todos a partir da experiência estética em que prevalece a experiência de vivenciar a proposta, sem preocupação com o resultado, e sim com o processo de aprendizagem e criação. As imagens de Paulo Gaiad, em especial a série “Receptáculos da memória”, chamaram muito a atenção da turma, incialmente porque mostravam obras que possuíam três dimensões, diferente do que eles estavam habituados, que eram imagens de obras bidimensionais. A obra “Receptáculos da memória”, de Paulo Gaiad, articula vários elementos até a sua concretização. Inicialmente o artista pede a algumas pessoas, por e-mail, que lhe enviem algum objeto que represente um fragmento de sua história, uma recordação. Com este objeto, Paulo constrói os trabalhos da série, para cada lembrança um novo trabalho. Gaiad construiu caixas de metal com um vidro por cima protegendo o interior, onde coloca as lembranças, como se estivessem expostos em vitrines, não para serem exibidos, mas mais como cofres, caixas de joias, que protegem e guardam. O metal simbolizando a força que retém o momento, o tempo que escapa, a memória. Objetos especiais e caros aos seus donos: a colher infantil que servia para dosar os remédios, o chapéu do pai recém-falecido, bolinhas de gude do menino tornado homem, o livro de histórias que evoca lembranças da infância que há muito já se foi, o travesseiro que usava quando era ainda um bebê, macarrão e temperos que trazem de volta a lembrança da comida da mãe. Um trabalho que demandou confiança em ambos os lados, artista e convidados. Uma troca de confidências que pressupõe uma intimidade. A série se torna um arsenal de memórias, tesouros que trazem um tempo que só vive na lembrança daquele que conhece, mas que evoca a memória do outro. Os alunos ficaram verdadeiramente admirados e empolgados para criar os receptáculos da memória da turma.

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Receptáculo da Memória de Bianka Tomie. Paulo Gaid (Fonte: http://www.punctum.ufsc.br/?p=2234. Acessado em: 03/05/16.)

O quinto encontro foi uma das aulas exponenciais do projeto. Nas reflexões, após os vídeos relacionados a Arte Contemporânea, os alunos trouxeram vários exemplos relacionado as práticas e conteúdos que havíamos trabalhado nas quatro aulas anteriores. O diferencial deste encontro foi propor as múltiplas possibilidades da arte contemporânea, de se explorar reflexões semelhantes, passando por diferentes experiências, sem ficar preso ao resultado perfeito, o que sugere possibilidades de significado que nunca se completam por inteiro, engajando irremediavelmente o espectador na tarefa de decifrá-los. A Proposta Triangular, elaborada por Ana Mae Barbosa (1998, p. 37), visa o ensino de arte como abordagem voltada à construção de conhecimentos sobre arte e à apreciação artística, com ênfase no estudo do contexto histórico de produção da obra, onde o fazer artístico não é mais o centro da prática pedagógica das artes nas escolas. Apresentei o vídeo da obra “Às vezes Fazendo Algo não leva a nada” (1997), de Francis Alÿs, que é o registro de uma ação que perdurou por mais de nove horas. Alÿs empurrou um bloco de gelo pelas ruas da Cidade do México até ser completamente derretido, e assim, hora após hora, ele lutou com o bloco retangular até que finalmente foi reduzido para não mais do que um cubo de gelo, tão pequeno que ele poderia casualmente chutá-lo ao longo da rua. O artista modificou o meio ao caminhar. A rua não era mais a mesma, estava molhada pelo gelo que também não era mais o mesmo, até que o gelo virou memória e a rua, já seca, também virou memória. Os alunos confeccionaram a fita de Moebius, e em seguida passaram pela experiência proposta na obra “Caminhando” (1964), de Lygia Clarck, onde em silêncio 209


e concentração, enfiaram uma ponta da tesoura na superfície do papel e cortaram continuamente no sentido do comprimento. Tiveram que tomar cuidado para não caírem na parte já cortada, para não separar a fita em dois. Quando haviam dado a volta na fita de Moebius, tiveram que escolher entre cortar à direita ou à esquerda do corte já feito. Os alunos escolheram quando o caminho estava concluído e o que restou foi o resultado do passado, concluído em caminhos individuais determinados pela decisão de cada um. O que resta do passado? Apenas a memória do caminho inicial.

Alunos passando pela experiência proposta por Lygia Clark, em sua obra “Caminhando”. (Fonte: GRÄF, 2016.)

Mário Garcia Torres, em sua obra “December 2007” (2007), eterniza o período de um mês em uma lâmina de retro projetor, que carregou em seu bolso todos os dias ao longo de um mês. Na aula anterior, eu havia entregue ¼ de uma folha A4 de desenho para cada aluno e propus que levassem consigo durante a semana e trouxessem no nosso próximo encontro. Os alunos concluíram que as marcas da lâmina da obra e obtidas nas folhas que entreguei significavam os caminhos e ações realizados no período que carregaram o papel, sendo um registro vivo da memória. Estas experiências, mostraram aos alunos a proximidade da arte em relação a eles, basta que estejam receptíveis para aprendê-la e vivenciá-la. Fiquei frustrada no 6º encontro com a proposta de representar em grupo o significado de Abrigo, baseado nas obras de Brígida Baltar, no qual a artista projeta a forma do seu corpo escavada na parede de sua casa-ateliê. 210


Abrigo, 1996 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado e 16/03/16)

Eu deveria ter feito uma abordagem diferente, talvez algo mais dinâmico ou concreto. Se eu pudesse voltar atrás repensaria a forma de apresentar e representar este conceito. Percebi que não fez sentido para os alunos e também não se empenharam muito na realização dos cartazes. A aula havia sido muito boa, fizemos explorações de imagem com debate bem consistente, havia potencial para algo muito melhor. Eu poderia ter proposto algo mais intensivo em torno da tarefa de coletar uma sensação, baseada no projeto “Umidade” (1994 e 2001), em que Brígida coleta, em recipientes de vidro, elementos naturais, transitórios e efêmeros, como a neblina, o orvalho e a maresia. Nessas coletas a artista explora a memória e a afetividade geradas no evento, como as lembranças de odores, da temperatura, dos sons e mesmo de sentimentos, como prazer, medo ou melancolia.

A coleta da neblina, 2002 Brígida Baltar (Fonte: http://www.nararoesler.com.br/artists/34-brgida-baltar/. Acessado em: 16/03/16.)

Apesar do descontentamento do sexto encontro, o sétimo foi recheado de encantamentos. Os alunos adentraram na proposta da coleta com muito entusiasmo. Pude notar que foi difícil para os alunos, coletar algo sem que ele fosse visual, pois a maioria da turma teve a necessidade de colocar alguma coisa física dentro do 211


recipiente. Porém as coletas foram bem diferenciadas e trouxeram elementos carregados de afetividade e admiração. Cada recipiente carregava consigo uma simbologia de afinidade pessoal e íntima em relação ao aluno.

Coleta de alguns alunos. (Fonte: ALUNA e GRÄF, 2016.)

Durante toda a prática, explorei vários materiais diferenciados e que fossem fáceis de adquirir ou solicitar aos alunos. A turma estava acostumada a ter como exclusivo material de artes a folha de desenho A4 e material de desenho. Desta forma, tinham dificuldade para manusear com tinta, pouca habilidade com recorte, colagem, dobradura e montagem. Na maioria das vezes em que apresentei o material que seria utilizado, os alunos precisavam de aproximadamente 10min para se organizar e se familiarizar com os materiais. No encontro em que disponibilizei tintas, tive que interromper a atividade para passar orientações básicas do uso da mesma, para evitar que manchassem suas roupas. A sala de artes da escola possuía ótima estrutura física, porém era muito carente de materiais, basicamente apenas revistas para recorte. As folhas de desenho e demais materiais eram de responsabilidade dos alunos, motivo este, segundo a professora titular, que os alunos não realizavam muitas das atividades que ela solicitava. Os alunos ficavam encantados com as propostas diferenciadas, porém elas só foram possíveis com o investimento que fiz para poder comprar as tintas, pinceis, fita adesiva, canetões, cola quente, rolo de filme de PVC, entre outros materiais. Com o propósito de alcançar os objetivos que tracei para o projeto de ensino, me senti obrigada a fazer tais investimentos, porém colocando-me na situação de professora titular 212


acredito ser inviável investir com materiais para as aulas. Deveria ser reestruturada uma maneira de adquirir e prover infraestrutura adequada para as aulas de artes, uma vez que o PCN de Artes Visuais (BRASIL, 1997, p.46) assinala como conteúdo a “Experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísticas (pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila, goivas) e outros meios (máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de reprografia).” Alcancei a maioria dos objetivos traçados para os alunos, porém não conquistei alguns objetivos pessoais. Senti-me muito incomodada com conversas laterais ou quando notava que algum aluno conversava enquanto estava explicando. Posso estar errada quanto a isto, talvez eu devesse deixá-los mais livres. Infelizmente isso me irritava, e quase que constantemente tive que ficar pedindo silêncio e atenção. Conversei com a professora, em relação a isso. Ela me disse que não havia o que fazer, pois os alunos eram assim e ela já havia desistido. Disse que eu não deveria me incomodar com isso, e que achava que eles estavam se comportando muito bem nas minhas aulas. Pretendi criar uma outra forma de ver e fazer arte, em relação as práticas que os alunos estavam habituados, em que mais valia a reflexão do que a simples admiração da técnica e beleza, com o fazer artístico valendo como experiência, conhecimento e vivência. Tentei fazer com que os alunos passassem a questionar antes de responder e que as resposta não fossem afirmações concretas, indestrutíveis, pois a arte contemporânea se consolida sobre questionamentos e argumentos, que nem sempre necessitam de respostas. Houveram muitos momentos de leitura de imagem, onde o principal objetivo era a reflexão sobre a arte, desta forma, tornando-se instrumento para novos temas e conteúdos do cotidiano. Uma aluna disse que conheceu mais artistas nos nossos sete encontros do que em todas as aulas que já havia tido. Provavelmente, os alunos não saibam dizer o sobrenome, a idade e o nome das obras que apresentei, levando em consideração que foram realmente muitas, porém tenho certeza que a arte não possui mais a mesma insignificância e distanciamento que possuía antes do primeiro encontro. A arte passou a ser objeto de conhecimento e estudo, proporcionando criticidade e experiência estética. Enfatizamos a importância de construir-se formal, sistemática e sequencialmente um sentido estético e um ambiente sensível com os quais possamos perceber os objetos de arte. Um relacionamento inteligente com uma obra de arte pressupõe a combinação de diversos fatores, mas, acima de tudo, de um sentido estético e um conhecimento histórico da arte. (BARBOSA, 2002, p.104).

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Além disso, o conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente como ação crítica-reflexiva. Durante a prática de ensino, pude perceber que o tema escolhido foi objeto de questionamentos e caminho para a construção de metodologias e práticas, nas quais os alunos puderam compreender a arte contemporânea e algumas de suas modalidades, fazendo da leitura de imagem um momento de reflexão entre prática e teoria, construindo relações entre as obras dos artistas, antes desconhecidos, com seus trabalhos realizados em aula. São os desafios, as dificuldades, dúvidas e anseios durante as aulas que impulsionam a mudança e adaptação do planejamento. É primordial, para uma boa aula, que o professor possua um planejamento engajado e propositor, porém é necessário estar aberto a adaptações e transformações, pois o planejamento deve ser flexível para acolher todos os “fenômenos” inesperados que ocorrem diariamente em sala de aula. Após redigir todos estes aspectos da minha memória da prática de ensino, gostaria de abrir um espaço para apontar questões pertinentes ao meu “novo Eu”, que acaba de ser incorporado, tendo em vista que tudo que aprendemos, lemos, vemos, tocamos e vivenciamos, torna-nos diferentes, melhores ou piores, mais completos, mas nunca iguais, sempre diferentes, novos e mais “Eu”. Um “Eu” agora, mas já não mais quando você ler isto. Tornei-me mais sensível às imagens, vejo detalhes e nuances que não via antes. Tenho mais propriedade para entrar em um debate relacionado a arte. Apaixonei-me por artistas que nem mesmo sabem que existo, porém daria os céus para que pudesse posar para uma foto ao lado deles, ou até mesmo acenar de longe e registrar em minha memória. Preciso aprender a lidar com a imaturidade, postura e conduta característica dos adolescentes. Acredito que as aulas sejam uma espécie de contrato entre aluno e professor, na qual um deve contribuir com o outro na soma de conhecimento, porém muitos dos alunos não contribuíram para criar esta relação de respeito tanto com os colegas quanto com o meu trabalho, especialmente no Projeto de ensino aplicado no ensino fundamental. Desta forma, devo deixar de me responsabilizar por tais frustrações características desta faixa etária e da educação construída dentro dos núcleos familiares.

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Imaginei que sanaria minhas dúvidas, porém atordoo-me em meio as minhas insanas interrogações, que nem mesmo sei se as respostas me calariam ou me mergulhariam em outro mar de coisas que não sei. Estou mais aberta para captar, em lugares quaisquer, experiências estéticas que antes passavam despercebidas por mim. Desenvolvi um olhar mais crítico em relação as múltiplas interpretações da arte contemporânea. Sempre fui uma pessoa muito ansiosa e a arte traz consigo a necessidade de parar e observar, pois um olhar distraído e apressado corre o risco de perder detalhes fundamentais para a interpretação e compreensão das obras. Bem como, tive que exercitar a arte da escuta, na qual dentro de sala de aula é primordial saber ouvir os alunos, afinal, a arte contemporânea não se dá nas respostas. Acredito que nunca estamos totalmente “prontos”, sábios suficientes para responder a tudo e a todos, pois na posição de educadores devemos ser contínuos pesquisadores para cada vez mais entendermos a arte como um todo. Segundo Anamélia Bueno Buoro (2002, p. 25):

Cabe a nós, educadores, adotar a mesma postura inquieta de pensadores e pesquisadores permanentes, devendo para isso buscar formação contínua e investimento em novos conhecimentos, uma vez que só podemos ensinar, aquilo que efetivamente sabemos.

Da mesma forma tenho a certeza de que este trabalho também não está pronto, pois a cada novo dia que o folheio, encontro novas lacunas, interpretações, reflexões e conhecimentos a serem adicionados, bem como trechos a serem retirados ou adaptados. A cada novo encontro, com este trabalho, uma nova perspectiva, na qual o que está aqui escrito é apenas vestígio concreto da memória de um período grandioso na minha formação profissional, pessoal e social.

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APÊNDICE 1 Questionários respondidos pelos alunos nas observações do 1º ano do Ensino Médio

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APÊNDICE 2 Questionário respondido pela professora nas observações do 1º ano do Ensino Médio

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APร NDICE 3 Questionรกrio final sobre o projeto

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APÊNDICE 4 Avaliação da professora

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