Ano 7 • nº1095 Julho/2013 Poço Redondo
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
As idas e vindas de Seu Cícero Borges Poço Redondo é uma cidade que fica no Alto Sertão Sergipano a 241 Km da capital de Sergipe, uma das cidades mais afetadas pela atual seca. A resistência das famílias agricultoras dessa região é uma marca muito forte nessa parte do Semiárido com tão pouca chuva. Povoado por pessoas que valorizam muito a cultura popular, o município se destaca na criação de grupos teatrais como o Teatro Raízes Nordestinas e pelos vários/as artesãos/ãs, além de escritores e historiadores que contam com muito conhecimento de caso a história do Rei do Gangaço.
Seu Cícero e sua esposa Dona Dacilene
A Comunidade Maranduba foi mais um cenário dos grandes enfrentamentos de Lampião com a polícia, o Fogo da Maranduba como ficou conhecido o enfrentamento é um dos mais lembrados pelo povo de Poço Redondo e foi essa comunidade que Seu Cícero Borges, hoje agricultor com 67 anos de idade escolheu para pousar e descansar das suas viagens em busca de trabalho. Nascido em Palmeira dos Índios/AL, quando chegou à mocidade decidiu cair no mundo atrás de oportunidades em grandes capitais como São Paulo, trabalhando sempre em serviço braçal “Não tinha estudo, trabalhei em construção de prédios, firmas de topografia, fábrica de gelo, sempre no trabalho pesado” conta ele. Em uma das suas viagens ele foi viver no Pará, lá foi amansador de cavalo e administrador de gado em uma fazenda “Aprendi a fazer inseminação tão bem que os veterinários me diziam sempre: Seu Cícero pra o senhor só tá faltando o diploma” Mas não foi essa experiência que encantou Seu Cícero, o artifício que lhe chamou a atenção foi a produção de tacas e arreios que ele não perdeu tempo e aprendeu a fazer com os outros funcionários da fazenda. No ano de 1983, seus irmãos compraram um terreno na Comunidade Maranduba e convidaram Seu Cícero para cuidar da fazenda por um tempo, ele veio e conheceu Dona Dacilene uma agricultora sergipana que laçou seu coração viajante.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Sergipe
Só que depois de três anos os irmãos decidiram vender as terras e deram para ele uma moto de presente, para Seu Cícero o melhor mesmo é sempre ver o lado bom das coisas, mas ele não gostava de moto, foi então que o irmão perguntou: Cícero você quer essa moto ou as 04 tarefas de terra onde está a casinha? Ele não pensou duas vezes. Pronto agora para ele estava tudo bem, na sua terra, com sua família, criando seus filhos e tirando do artesanato de arreios o sustento da família, fornecendo A cisterna-calçadão da família para três municípios Itabaiana, Lagarto e Serra Dourada, a família tem uma renda atualmente de mais ou menos trezentos reais por mês com esse trabalho. Mas Seu Cícero não era um simples artesão de arreios, tacas e cordas de laço pra pega de boi, corrida de morão e vaquejada, ele é até hoje o melhor da região, faz um ponto cruzado que é realmente uma arte que ninguém consegue fazer a não ser dona Dacilene que ele tem o maior orgulho em dizer que ensinou. O que Seu Cícero não sabia é que as coisas podiam melhorar com a chegada das cisternas “Era um sofrimento pegar água, caminhava mais de uma légua, foi então que chegou essa primeira cisterna e eu não sei o que é mais carregar água” diz Dona Dacilene, com um sorriso no rosto. Em 2005 a família conquistou a Cisterna-Calçadão ”Foi a multiplicação das coisas, agora tenho horta com pimentão, tomate, couve, milho, sorgo, hortelã, pimenta e essa conversa de veneno não tem aqui, eu uso pimenta do reino e cominho nas plantas para espantar as pragas, fiz o teste e deu certo”. Além da horta ele fala da alegria em participar dos intercâmbios e encontros “ É muito bom, nunca esqueçam de mim. Olhe eu fui visitar a associação de mulheres através da ASA- Articulação Semiárido Brasileiro, conheci muitas experiências e trouxe de lá a fava manteiga, só 06 carocinhos que Dona Cida me deu, plantei aqui e já guardei, quando fui para o EnconAsa em Minas Gerais já troquei por lá, é muito bom” conta ele. Seu Cícero Borges é um homem viajado que sempre lutou para sua sobrevivência, hoje se sente muito feliz por estar fazendo agricultura familiar, em poder fazer suas saladas que tanto gosta “Foi verde e não teve muita amargura, eu como, já fiz até salada de folha de umbu um dia, ficou muito bom” nos fala, rindo.
Produzindo seu artesanato
Realização
E depois de 35 anos de caminhada por grandes capitais, trabalhando pesado e se orgulhando por tudo que conheceu nas suas viagens, se perguntarmos se ele ainda sente vontade de ir tentar a vida em outro lugar, ele responde emocionado “Agora sair daqui só com a ASA, aqui não vai me faltar nada para comer, de verdura, de verde, é aqui meu lugar”.
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